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A nova geografia do consumo brasileiro Luiz Goes ([email protected] ), sócio-sênior da GS&MD Gouvêa de Souza Com novos dados divulgados pelo IBGE e referentes ao PIB dos municípios, é possível traçar uma visão interessante sobre os rumos da economia e dos recursos financeiros no Brasil e, consequentemente, do consumo. A leitura das informações de forma regionalizada permite perceber que o Brasil, entre 2005 e 2009, teve o valor nominal de seu PIB aumentado em 50,9%. Por outro lado, o PIB nordestino cresceu 56,0%; contra 47,6% do Sudeste; 53,3% do Norte; 50,4% do Sul; e surpreendentes 63,4% do Centro-Oeste. Em relação a este último, é importante ressaltar que o desempenho mais impressionante ficou por conta do Mato Grosso do Sul, com 68,0%; e Goiás, com 69,4%, o que demonstra a pujança do setor agrícola nessa região do país. Observando apenas o crescimento de 2009 em relação a 2008, os rumos do dinheiro no país ficam ainda mais evidenciados. Contra um crescimento nominal de 6,8% para o Brasil, o Nordeste cresceu 10,1% e o Centro-Oeste 11,2%, consolidando a percepção de que a nova geografia de consumo brasileira passa obrigatoriamente pelo reconhecimento dessas duas regiões, sem desconsiderar o significado das regiões Sul e Sudeste, pelo volume que representam no total de riquezas do país. O Sudeste responde por 55,3% do total do PIB nacional e o Sul, por 16,6%. Em 2005, essas regiões representavam, respectivamente, 56,5% e 16,6% do total. Essa numerologia toda nos permite identificar que o rumo da riqueza no país ainda passa por Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, mas também se espraia por Pernambuco, Bahia e Goiás. Obviamente, os potenciais de consumo variam em função do tipo de produtos e serviços, porém, por outro lado, fica claro que todos os processos ligados à expansão das cadeias de consumo devem considerar esses aspectos para estabelecer suas diretrizes. Essa visão vale tanto para a implantação de indústrias que, devido aos custos logísticos, instalam-se perto do consumidor final, como vale para o varejo e para o atacado no planejamento da expansão de seus pontos de venda e de seus centros de distribuição. Outra avaliação interessante que emerge dessas conclusões passa pela necessidade de conhecer, cada vez mais e mais profundamente, as características socioambientais e culturais das populações que habitam essas regiões. Hoje em dia o Nordeste é bastante investigado por meio de pesquisas de mercado, o que raramente acontecia há cerca de cinco ou seis anos. Da mesma forma, o Centro-Oeste começa a compor as amostras de pesquisas. Algumas indústrias, especialmente aquelas voltadas à produção alimentícia, já disponibilizam centros de desenvolvimento de produtos focados apenas em uma região, especialmente no Nordeste. Outros varejistas já desenvolvem campanhas de comunicação específicas, respeitando as peculiaridades culturais locais. Em São Paulo, não existe o menor sentido em divulgar

A nova geografia do consumo brasileiro

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A nova geografia do consumo brasileiro

Luiz Goes ([email protected]), sócio-sênior da GS&MD – Gouvêa de Souza

Com novos dados divulgados pelo IBGE e referentes ao PIB dos municípios, é possível traçar

uma visão interessante sobre os rumos da economia e dos recursos financeiros no Brasil e,

consequentemente, do consumo.

A leitura das informações de forma regionalizada permite perceber que o Brasil, entre 2005 e

2009, teve o valor nominal de seu PIB aumentado em 50,9%. Por outro lado, o PIB nordestino

cresceu 56,0%; contra 47,6% do Sudeste; 53,3% do Norte; 50,4% do Sul; e surpreendentes

63,4% do Centro-Oeste. Em relação a este último, é importante ressaltar que o desempenho

mais impressionante ficou por conta do Mato Grosso do Sul, com 68,0%; e Goiás, com 69,4%, o

que demonstra a pujança do setor agrícola nessa região do país.

Observando apenas o crescimento de 2009 em relação a 2008, os rumos do dinheiro no país

ficam ainda mais evidenciados. Contra um crescimento nominal de 6,8% para o Brasil, o

Nordeste cresceu 10,1% e o Centro-Oeste 11,2%, consolidando a percepção de que a nova

geografia de consumo brasileira passa obrigatoriamente pelo reconhecimento dessas duas

regiões, sem desconsiderar o significado das regiões Sul e Sudeste, pelo volume que

representam no total de riquezas do país. O Sudeste responde por 55,3% do total do PIB

nacional e o Sul, por 16,6%. Em 2005, essas regiões representavam, respectivamente, 56,5% e

16,6% do total.

Essa numerologia toda nos permite identificar que o rumo da riqueza no país ainda passa por

Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, mas também se espraia por

Pernambuco, Bahia e Goiás.

Obviamente, os potenciais de consumo variam em função do tipo de produtos e serviços,

porém, por outro lado, fica claro que todos os processos ligados à expansão das cadeias de

consumo devem considerar esses aspectos para estabelecer suas diretrizes. Essa visão vale

tanto para a implantação de indústrias que, devido aos custos logísticos, instalam-se perto do

consumidor final, como vale para o varejo e para o atacado no planejamento da expansão deseus pontos de venda e de seus centros de distribuição.

Outra avaliação interessante que emerge dessas conclusões passa pela necessidade de

conhecer, cada vez mais e mais profundamente, as características socioambientais e culturais

das populações que habitam essas regiões. Hoje em dia o Nordeste é bastante investigado por

meio de pesquisas de mercado, o que raramente acontecia há cerca de cinco ou seis anos. Da

mesma forma, o Centro-Oeste começa a compor as amostras de pesquisas. Algumas

indústrias, especialmente aquelas voltadas à produção alimentícia, já disponibilizam centros

de desenvolvimento de produtos focados apenas em uma região, especialmente no Nordeste.

Outros varejistas já desenvolvem campanhas de comunicação específicas, respeitando aspeculiaridades culturais locais. Em São Paulo, não existe o menor sentido em divulgar

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8/3/2019 A nova geografia do consumo brasileiro

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promoções de roupas, por exemplo, com base nas festas de São João. O mesmo não se pode

dizer em Recife, que, por sua vez, recebe atenção toda especial no mês de junho a cada ano.

O Brasil muda de forma consistente em diversos aspectos. São mudanças no comportamento

de compra motivadas pelo aumento de renda e pela farta oferta de crédito, assim como na

composição das famílias, no número de filhos, etc, etc.

Definitivamente o Brasil deixa para trás em sua história a visão de que apenas São Paulo e Rio

de Janeiro (e talvez Porto Alegre e Belo Horizonte) sejam praças que mereçam receber lojas;

ou então que o Nordeste é uma região fadada à fome e à pobreza da maioria. Fica para trás a

distância da região Norte em relação ao eixo do litoral atlântico onde se concentra a maior

parte da riqueza, pois, com o advento do e-commerce, parte dessas dificuldades desaparece.

São Paulo, com 12%; e Rio, com 10,9%, ainda permanecem como os municípios que mais

contribuem para a formação da riqueza brasileira, mas será que todos sabem que o interior

paulista representa 21,5% do total do PIB brasileiro?

Os caminhos estão traçados e desconhecê-los, no ambiente competitivo no qual mergulha a

economia brasileira, é lançar-se de forma aventureira e sem preparo para o crescimento. É

preciso assumir os novos sotaques do consumo brasileiro. Está na hora de começar a imaginar

o seu produto e a sua loja ao som de moda de viola ou em meio ao foguetório de São João.