A nova Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional2

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    A nova Lei das Diretrizes e Bases da EducaoNacional

    (LEI 9.394/96):DESTAQUES, AVANOS E PROBLEMAS

    A nova LDB: destaques, avanos e problemas. Salvador: Revista deEducao CEAP, ano 5, no. 17, junho de 1997, p. 05 -Andrea Cecilia Ramal

    "Esta lei procura libertar os educadores brasileirospara ousarem experimentar e inovar."(Darcy Ribeiro)

    A Lei 9.394/96 contm as Diretrizes e Bases que vo

    orientar a educao nacional nos prximos anos. Seus 92

    artigos representam um novo momento do ensino

    brasileiro; neles vemos refletidos muitos dos desafios e

    esperanas que movem o trabalho de tantos educadores

    numa nao de realidades to diversas.

    Este artigo se prope destacar alguns dos aspectos

    mais significativos envolvidos nas mudanas que a Lei

    apresenta. Em seguida, analisamos os elementos que nos

    parecem constituir avanos com relao ao contexto

    educacional do momento, aos quais contrapomos tambm

    algumas questes que so ou que podem vir a se tornar

    problemticas, em funo do modo como o texto for

    interpretado ou da maneira como for conduzida a

    implementao de certas mudanas.

    Breve histrico da Lei 9.394/96

    Em 1988 j corria no Congresso Nacional o processo

    de tramitao da nova Lei de Diretrizes e Bases da

    Educao Nacional (LDB). Tratava-se ento do projeto

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    apresentado pelo Deputado Federal Otvio Elzio

    (PSDB/MG); o relator era Jorge Hage (PDT/BA).

    O texto seria aprovado na Cmara dos Deputados em

    13 de setembro de 1993, depois de receber 1.263

    emendas. O projeto original, modificado em longas

    negociaes na correlao das foras polticas e populares,

    ia para a avaliao do Senado reduzido, contendo 298

    artigos.

    O relator no Senado Federal, Cid Sabia (PMDB/CE), d

    seu parecer e a Comisso de Educao do Senado aprova oento Projeto de Lei 101/93 no dia 20 de novembro de

    1994.

    Um dado novo atropela o processo: o senador Darcy

    Ribeiro apresenta um substitutivo do projeto, alegando

    inconstitucionalidade de vrios artigos[1]. Por requerimento

    do senador Beni Veras (PSDB/CE), o PL 101/93 - que jestava no Plenrio do Senado - retirado. O Presidente do

    Senado, Jos Sarney, decide retomar a tramitao dos trs

    projetos: o antigo PL 101/93 da Cmara, o parecer de Cid

    Sabia aprovado pela Comisso de Educao e o

    substitutivo Darcy Ribeiro. Este ltimo designado para

    atuar como relator. Ao apreciar as emendas do PL 101/93,Ribeiro notoriamente toma como referncia seu prprio

    projeto e as suas concepes de

    Educao.

    Contando com uma espcie de consenso entre os

    senadores, o substitutivo Darcy Ribeiro, que contm apenas

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    91 artigos, colocado em evidncia, considerado mais

    enxuto e no detalhista.

    No dia 14 de fevereiro de 1996 aprovado no plenrio

    do Senado o Parecer n 30/96, de Darcy Ribeiro. Esta

    deciso no s tira o projeto inicial da LDB de cena, como

    tambm, de certo modo,

    nega o processo democrtico estabelecido anteriormente

    na Cmara e em diversos setores da populao ligados

    Educao[2].

    A Lei 9.394/96 promulgada pelo Congresso Nacionale sancionada pelo Presidente da Repblicacom data de 20

    de dezembro de 1996, e publicada no Dirio Oficial em 23

    de dezembro de 1996.

    1a. parte: Diretrizes e Bases para a Educao Nacional -

    alguns destaques

    1. O currculo

    Os currculos do ensino fundamental e mdio

    passam a compreender uma base nacional comum que

    deve ser complementada por uma parte diversificada, de

    acordo com as caractersticas regionais (art. 26).

    Fica sugerida uma flexibilizao dos currculos, na

    medida em que se admite a incorporao de disciplinas quepodem ser escolhidas levando em conta o contexto e a

    clientela. No ensino nas

    zonas rurais, admitida inclusive a possibilidade de um

    currculo apropriado s reais necessidades e interesses

    [desses] alunos (art. 28, inciso I).

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    A LDB determina que a Educao Artstica seja

    componente curricular obrigatrio no Ensino Bsico (pr-

    escolar, 1 e 2 graus; art. 26, 2). O objetivo promover

    o desenvolvimento cultural dos alunos.

    Continua a exigncia de uma lngua estrangeira

    moderna a partir da 5 srie, e pedem-se duas lnguas (uma

    opcional, de acordo com as possibilidades da Instituio) no

    ensino mdio.

    Entre os saberes que o educando dever dominar aps

    o ensino mdio esto os conhecimentos de filosofia e desociologia necessrios ao exerccio da cidadania (art.36,

    1); contudo, a Lei no exige que tais disciplinas sejam

    incorporadas ao currculo.

    O Ensino Religioso passa a ser disciplina de oferta

    obrigatria nas escolas pblicas, com matrcula facultativa

    e sem nus para os cofres pblicos (Art. 33).

    2. A avaliao

    Termina a exclusividade do exame vestibular para

    ingresso no Ensino Superior (art. 44, inciso II). A LDB fala de

    uma classificao mediante processo seletivo, semespecificar. Podemos entender, por exemplo, as notas do 2

    grau, ou uma prova aplicada pelo MEC[3].

    A LDB cria o processo de avaliao das instituies de

    educao superior, assim como do rendimento escolar dos

    alunos do ensino bsico e superior.

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    No ensino superior, o MEC pode, mediante anlise dos

    resultados da avaliao, descredenciar cursos, intervir na

    instituio, suspender temporariamente a autonomia,

    rebaix-la a Centro Universitrio (centros sem a exigncia

    de trabalho de pesquisa), ou mesmo descredenci-la. Passa

    a ser solicitado, alm disso, o recredenciamento das

    universidades a cada cinco anos.

    Quanto avaliao dos alunos do ensino bsico por

    parte do governo, no h maiores especificaes.

    A classificao dos alunos nas sries iniciais passa apoder ocorrer por promoo. Este termo (diferente de

    aprovao) identificado tambm no texto com a

    "progresso continuada" ou a "progresso parcial" e com a

    "progresso regular por srie". Consiste na aprovao

    automtica de alunos da 1 at a 5 srie, pressupondo um

    acompanhamento personalizado, com o fim de evitar aevaso escolar e a repetncia nos primeiros anos de

    estudo. Esse sistema no uma inovao da LDB, mas fica

    por ela legitimado (art.24; art.32, inciso 2).

    Isso abre a possibilidade de uma nova concepo de

    srie. O artigo 23 rege que a educao bsica poder ser

    organizada tanto em sries anuais como em perodossemestrais, ciclos, alternncia regular de perodos de

    estudos, grupos no seriados, com base na idade, na

    competncia e em outros critrios, sempre que o interesse

    do processo de aprendizagem assim o recomendar.

    Nos termos da lei, a verificao do rendimento escolar

    deve ser contnua e cumulativa, e a recuperao deve dar-

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    se, de preferncia, paralelamente ao perodo letivo (art.

    24). Continua a exigncia do mnimo de 75% de freqncia,

    exceto para os sistemas de ensino no presenciais

    (educao distncia).

    3. Papel e formao dos professores

    A nova LDB d ateno especfica questo dos

    professores e procura valorizar o magistrio, estabelecendo

    critrios de ingresso e falando da necessidade do plano de

    carreira nas instituies (art. 67). Na descrio das funes

    dos docentes, afirma que eles: "participam da elaboraoda proposta pedaggica das escolas"; "elaboram e

    cumprem planos de trabalho"; "zelam pela aprendizagem

    dos alunos"; estabelecem estratgias de recuperao";

    "ministram os dias letivos estabelecidos e participam

    integralmente do planejamento/ avaliao"; "articulam

    escola/famlia/comunidade" (art.13).O texto explicita que seja assegurado ao profissional

    da educao: "o aperfeioamento continuado, inclusive com

    licenciamento peridico remunerado"; um "piso salarial

    profissional"; a "progresso funcional baseada na titulao

    ou habilitao, e na avaliao do desempenho"; um

    "perodo reservado a estudos, planejamento e avaliaoincludo na carga [horria]"; e "condies

    adequadas de trabalho" (art. 67).

    So criados os Institutos Superiores de Educao, para

    preparao de docentes em nvel superior (curso de

    licenciatura, graduao plena) como formao mnima para

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    o exerccio do magistrio na educao infantil e nas quatro

    primeiras sries do ensino fundamental (art. 62).

    No artigo 63 lemos que tais Institutos Superiores

    mantero:

    a) cursos formadores de profissionais para a educao

    bsica, inclusive para o curso normal superior;

    b) programas de formao pedaggica para portadores de

    diploma de educao superior que queiram se dedicar

    educao bsica[4];

    c) programas de educao continuada para os profissionaisda educao.

    A LDB rege ainda que a formao docente, exceto

    para a educao superior, inclua prtica de ensino de, no

    mnimo, 300 horas (art. 65).

    4. Ensino Distncia

    Os programas de educao distncia soincentivados pela nova LDB (art. 80, 4o.) em todos os

    nveis e modalidades do ensino, desde que as Instituies a

    oferec-los estejam devidamente credenciadas. Nesse tipo

    de ensino esto compreendidos desde os cursos como o

    que certas universidades oferecem em convnio com

    Centros Pedaggicos ou escolas, por exemplo, tendo comoinstrumentos de trabalho materiais escritos e livros, at as

    transmisses de informaes por canais especiais de

    televiso e a conexo Internet.

    5. Outros destaques

    A denominao dada aos nveis escolares : Educao

    Bsica (compreende a educao infantil, o ensino

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    fundamental (anteriormente 1o. grau) e o ensino mdio,

    anterior 2o. grau); e Educao Superior.

    O Ensino Fundamental (8 anos) aparece sempre como

    prioridade. Sendo dever do Estado, qualquer cidado ou

    entidade de classe pode acionar o Poder Pblico para exigi-

    lo (art. 4/5).

    A carga horria mnima anual da educao bsica de

    800 horas em 200 dias letivos, sem contar os exames

    finais. A jornada escolar no ensino fundamental inclui pelo

    menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula,mas o artigo 34 prev que o perodo de permanncia na

    escola seja progressivamente ampliado.

    A educao profissionalizante passa a constituir um curso

    independente do Ensino Mdio.

    A LDB chama a ateno para a necessidade de se alcanar

    relao adequada entre o nmero de alunos e o professor,acenando para uma reduo do nmero de alunos em cada

    sala de aula, porm sem especificar (art. 25).

    A rede pblica de ensino dever ampliar seu atendimento

    aos alunos com necessidades especiais de aprendizagem

    (art. 60 - pargrafo nico).

    A LDB rege que os recursos financeiros destinados Educao sejam, do oramento da Unio, nunca menos de

    18%; dos Estados e Municpios, nunca menos de 25%. Abre-

    se a possibilidade, sem muita clareza de critrios, de que

    tais recursos possam ser dirigidos tambm a escolas

    comunitrias, confessionais ou filantrpicas (art. 69 e

    art.77), inclusive para bolsas de estudo para a educao

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    bsica se no houver vagas na rede pblica de domiclio do

    educando, comprovando se a insuficincia de recursos.

    As universidades pblicas so obrigadas a oferecer ensino

    noturno com a mesma qualidade e estrutura material

    disponvel dos cursos diurnos; o poder pblico (Unio,

    Estados e Municpios) deve oferecer ensino supletivo

    gratuito.

    A LDB exige o mnimo de um tero de professores com

    titulao de Mestrado ou Doutorado para que as instituies

    sejam reconhecidas como Universidades. Estas tero oitoanos a partir da data em que a Lei entrou em vigor para se

    adequarem.

    Classificao das instituies de ensino (art.20): podero

    ser enquadradas nas categorias privada, comunitria,

    confessional e filantrpica. A escola confessional deve

    poder continuar acumulando, em casos especficos e naforma da lei, as funes e atribuies da filantrpica.

    As atribuies dos diferentes sistemas ficam assim

    determinadas:

    Sistema Federal de Ensino

    Sistema Estadual de Ensino

    Sistema Municipal de Ensino Escolas mantidas pela Unio

    Ensino Superior privado

    rgos federais de Educao

    Escolas mantidas pelo Estado

    Ensino superior mantido pelo Municpio

    Ensino fundamental e mdio privado

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    rgos de educao estaduais

    Escolas municipais

    Educao infantil privada

    rgos municipais de Educao

    Fica instituda a Dcada da Educao, a iniciar-se um ano

    depois da data de publicao da LDB.

    A Unio tem um ano para encaminhar ao Congresso

    Nacional o Plano Nacional de Educao. O ano de 1997 o

    perodo para adaptao das legislaes educacionais e de

    ensino da Unio, dos Estados e dos Municpios sdisposies da 9.394/96. As instituies escolares devem

    ainda receber destas instncias os seus prazos de

    adaptao.

    Institui-se o Conselho Nacional de Educao (art. 9, 1),

    herdeiro do antigo Conselho Federal de Educao (1962 -

    1994). Ter funes de normatizao e assessoramento,com uma inovao: seus membros podem ser indicados

    pela sociedade (Lei 9.131/95), o que pretende evitar a

    interferncia da poltica partidria neste processo.

    2a. parte Avanos e Problemas

    AVANOS

    A Lei 9.394/96 representa um passo frente no mbitoda descentralizao do processo educativo, dando certa

    autonomia s escolas e flexibilizando tambm a gesto dos

    centros de ensino superior. Embora sujeitas a avaliao e

    at passveis de descredenciamento pela Unio, as

    universidades podem: deliberar sobre critrios e normas de

    seleo e admisso de estudantes a seus cursos (art. 51);

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    criar, organizar e extinguir cursos e programas de educao

    superior; fixar os currculos de seus programas, dentro das

    diretrizes gerais; elaborar e reformar seus prprios

    estatutos e regimentos; administrar os rendimentos (art.

    53); decidir sobre ampliao e diminuio de vagas (art. 53,

    nico); propor o seu quadro de pessoal docente e seu

    plano de cargos e salrios (art. 54, 1), entre outras

    atribuies que lhes so conferidas. Nesses termos, a

    tendncia para o MEC deve ser de no atuar mais como um

    regulador, mas sim como coordenador ou articulador dogrande projeto nacional, concedendo a autonomia

    imprescindvel a um espao que se prope desenvolver

    trabalhos de pesquisa e investigao cientfica. Ao mesmo

    tempo, o crescimento da autonomia se transforma em

    exigncia de inovao para as universidades: no h

    sentido na repetio de velhas prticas se, a partir deagora, possvel comear a empreender mudanas.

    A LDB demonstra preocupao clara com as principais

    questes da educao brasileira, tais como:

    Funcionamento e durao da educao bsica,

    determinando claramente perodos a serem cumpridos e

    estabelecendo diretrizes bsicas de organizao do ensino(a Lei abre ainda a possibilidade de que cada escola elabore

    seus calendrios escolares, o que pode representar um

    melhor atendimento s especificidades de cada clientela);

    A necessidade de o aluno permanecer mais tempo de seu

    dia no espao escolar, e menos tempo de sua vida na

    escola (principalmente pelo trmino da repetncia nas

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    primeiras sries). A previso de ampliao do nmero de

    horas do aluno na escola prevista no artigo 34 no tem

    prazo definido, mas uma proposta que est em sintonia

    com as tendncias dos mais modernos mtodos

    pedaggicos.

    possvel que Darcy Ribeiro estivesse propondo, com

    este projeto, um modelo de escola semelhante ao dos

    CIEPs, centros integrados que criou no Rio de Janeiro, com

    provvel inspirao nas teorias do ensino compensatrio, j

    muito criticadas e inclusive descartadas enquantopossibilidade de superao das desigualdades

    educacionais. Mesmo assim, esta idia tem pontos

    positivos, na medida em que estimula a presena e a

    participao na vida da comunidade escolar, alm de

    propiciar aos alunos de classes de baixa renda a

    possibilidade de trabalhar no prprio estudo num ambientemuitas vezes mais adequado do que o de suas casas.

    Tal prtica deve implicar uma reestruturao paulatina

    dos centros de ensino, no sentido de se adaptarem s

    necessidades que o regime de semi-internato envolve

    (maior nmero de docentes

    na escola ou aumento do perodo de permanncia dosprofessores no espao escolar, destinao ou construo de

    locais apropriados para o estudo do aluno, ampliao das

    propostas da escola a outros setores da formao humana,

    como prticas esportivas, cursos de msica e outras artes,

    etc.)

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    A insero da transdisciplinaridade nos novos

    currculos, sugerida no momento em que se admite uma

    parte diversificada para completar a base nacional

    curricular comum. A educao da era da informao no

    pode mais se fechar num nico parmetro curricular. Novas

    propostas de ensino, baseadas na busca coletiva do saber e

    na possibilidade do aluno fazer a prpria construo do

    conhecimento, devem aliar o saber local e o global,

    voltando-se para a abrangncia e a flexibilidade de

    contedos. Isso no significa necessariamente entrar nosmoldes da globalizao, e sim buscar o universalismo.

    Alm disso, muitos educadores vem a nova lei com

    bastante esperana na possibilidade de ir transformando o

    currculo em funo de enfoques educativos mais voltados

    para a formao humana, como tambm de ir adequando

    os contedos s necessidades dos seus alunos. Sendo oBrasil um pas de realidades to diversas, inevitvel que

    tenha tambm escolas muito diferentes e mesmo classes

    muito heterogneas numa mesma escola. No esforo de

    tornar cada uma destas instituies um espao escolar de

    qualidade, a redefinio dos parmetros curriculares ser

    fundamental.A urgncia de se revalorizar a profisso do magistrio. A

    LDB promulgada num momento decisivo para o professor,

    considerando o dado da progressiva introduo do

    computador e da televiso na escola. H muitos docentes

    que vem essa nova realidade como uma ameaa: o

    computador seria seu substituto definitivo. Nesse mbito, o

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    texto muito feliz, pois reconhece e estimula as

    possibilidades de um ensino distncia e de um ensino

    presencial moderno e renovado, que supem

    evidentemente o emprego das tecnologias; e, ao mesmo

    tempo, destaca o amplo papel do professor, caracterizando-

    o no como mero docente, mas como zelador da

    aprendizagem (art. 13, III), colaborador na articulao entre

    escola e comunidade (art. 13, VI)[5].

    Nova concepo de avaliao na escola. O sistema de

    promoo continuada tem o aspecto positivo de sefundamentar na personalizao do ensino, visando a

    atender aos mltiplos ritmos de

    aprendizagem e s diversas capacidades individuais dos

    alunos. A filosofia subjacente a essa prtica a de que a

    diferena no seja mais vista como um desvio a ser

    condenado e reprovado, mas como uma riqueza de cadapersonalidade, a ser descoberta e valorizada. Alm disso, o

    novo conceito de srie, que tanto admite perodos anuais

    como semestrais, ou ainda ciclos e grupos no seriados,

    conforme a maior convenincia do processo de

    aprendizagem, uma verdadeira inovao no ensino

    brasileiro. Desde j est implicada a uma novaconfigurao da escola que dever gerar inmeros

    benefcios, desde que essa estrutura mais flexvel seja

    implantada com a devida seriedade e a necessria

    organizao.

    Viso abrangente do conceito de educao, sem limit-

    la ao mundo escolar. O artigo 1 expressa que a educao

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    "atinge os processos formativos que se desenvolvem na

    vida familiar, na convivncia humana, no trabalho, nas

    instituies de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e

    organizaes da sociedade civil e nas manifestaes

    culturais". Entre os princpios da educao

    nacional ficam assumidos a "liberdade de

    aprender/ensinar/pesquisar", o "pluralismo de concepes

    pedaggicas", a "tolerncia" (art. 3). Isso refora a idia de

    um ensino descentralizado, em que cada escola assume

    seus prprios objetivos de ensino, e constri seu projetopedaggico prprio. Esta idia reforada em outras partes

    da LDB (art. 12).

    Estmulo educao distncia. Esta disposio bem

    relevante, considerando as dificuldades de acesso escola

    por parte das populaes de diversas cidades do interior,

    bem como anecessidade de uma melhor qualificao para o mercado de

    trabalho por parte dos profissionais que no tm tempo de

    freqentar cursos regulares, e a urgncia de um

    aprimoramento profissional dos corpos docentes das

    diversas instituies de ensino do Brasil.

    PROBLEMASEmbora reconheamos significativos avanos na Lei

    9.394/96, no podemos deixar de apontar

    tambm alguns problemas:

    Conceito de Educao Bsica A Lei 5.692/71 estabelecia

    como bsico o ensino de 1o. grau. A

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    nova Lei amplia esse conceito, considerando como bsica

    para um cidado a formao que

    engloba o ensino fundamental e o ensino mdio. Isso

    positivo idealmente falando, mas preocupa

    quando confrontado com a realidade de nosso pas, em que

    poucos tm acesso s sries

    superiores. Esperemos que esse conceito no acentue a j

    grande discriminao dos saberes dos

    no-escolarizados.

    Base nacional comum no currculo Apesar de que severifique certa liberdade na complementao

    dos currculos, a base nacional continua sendo nica e

    definida por instncias exteriores s

    escolas. Ficam as questes quanto adequao da relao

    entre disciplinas e cargas horrias a

    elas destinadas, e quanto ao equilbrio na dosagem entrematrias que priorizam a formao dos

    aspectos humanos e matrias mais voltadas para o campo

    do cientfico-tecnolgico.

    As funes do professor Quando a Lei fala dos profissionais

    da educao bsica, restringe suas

    funes a: administrao, planejamento, inspeo,superviso e orientao educacional. No est

    prevista, portanto, a categoria de pesquisador. Isso

    mantm a distncia dos centros de ensino

    bsico da pesquisa universitria, limita o registro e a troca

    das experincias pedaggicas bem

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    sucedidas, e no abre ao profissional da escola a

    possibilidade de se debruar sobre sua prpria

    prtica como objeto de estudo, pesquisa e transformao.

    Nmero de alunos em sala Muitas questes de interesse

    dos docentes que tm experincia no

    trabalho pedaggico ficam esquecidas ou no so

    claramente explicitadas, como por exemplo a

    real necessidade de se diminuir o nmero de alunos em

    sala de aula. Este , inclusive, um

    exemplo para ilustrar a crtica que tem sido feita novaLDB: por ter pretendido ser to enxuta,

    peca muitas vezes pela falta de definies mais claras e

    especficas. Vrias diretrizes so deixadas

    para o Plano Nacional de Educao, o que acaba no

    permitindo que se avalie desde j o grau de

    muitas das mudanas propostas.Critrios de ingresso universidade A abolio do sistema

    de vestibular como nica forma de

    ingresso s universidades no parece garantir a priori que o

    ensino superior se torne mais

    democratizado ou que a qualidade acadmica dos que

    ingressam melhore substantivamente. Almde no ficar definido o processo a ser implementado, so

    vrias as questes que surgem diante

    das idias j levantadas: Caso seja pelo sistema de

    comparao de notas do 2 grau, como sero

    avaliados alunos de escolas com nveis diferentes de

    exigncia? Se for estabelecido um exame

    17

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    nacional nico: quem o elaborar? sob que critrios? no

    ser um outro modo de dizer

    "vestibular"? os alunos hoje excludos por falta de

    condies tero mais acesso ao ensino

    superior?

    Avaliao das instituies de ensino Um dos aspectos mais

    problemticos da Lei 9.394/96 o da

    avaliao das instituies de ensino, comeando pelas

    universidades, a despeito da autonomia

    concedida a elas em muitos aspectos. Esse processo nodeixa de ser uma forma encontrada pelo

    Poder Pblico de exercer um maior controle sobre a

    produo docente e discente, buscando

    padres cada vez mais adequados a um modelo de

    universidade pr-definido e em concrdia com

    o sistema. Algumas questes problemticas se relacionamcom a dvida quanto aos critrios de

    avaliao, quanto s concepes pedaggico-

    administrativas dos avaliadores, ou quanto aos

    critrios de diferenciao entre quantidade e qualidade da

    produo acadmica.

    Todos sabemos dos poderes envolvidos num simplesprocesso de avaliao de um grupo de

    alunos - que dizer de todo um centro acadmico. Avaliar ,

    inevitavelmente, exercer um controle

    sobre os avaliados e, no caso de instituies, corre-se o

    risco de um comprometimento da

    18

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    autonomia necessria ao gerenciamento dos processos

    educacionais.

    Alm disso, h pesquisas que demonstram que os

    aprovados no vestibular no so

    necessariamente os alunos mais preparados para o ensino

    universitrio, assim como,

    analogamente, os reprovados no so necessariamente os

    menos aptos. Pode haver ocorrido um

    processo de treinamento para a resoluo de tipos de

    questes que garante resultados queocultam o verdadeiro estado intelectual e afetivo daquele

    que examinado. Graas a essa

    possibilidade disseminaram-se os cursinhos preparatrios

    em diversas capitais do pas,

    especializados em treinar para a aprovao nas principais

    universidades, sem maiorespreocupaes com o processo educativo globalmente

    entendido. Com a avaliao que o governo

    prev, seja das escolas ou das universidades, um dos riscos

    justamente o da multiplicao de

    cursos especializados no treinamento de alunos para o tipo

    de exame a ser aplicado, frustrando osobjetivos do teste. Ao mesmo tempo, dependendo do tipo

    de prova, sabe-se que no

    necessariamente os que estiverem melhor classificados

    sero os mais capazes para exercer as

    respectivas profisses. Aspectos qualitativos e subjetivos

    no podem ser medidos em poucas

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    horas de um exame escrito, mas sim na avaliao

    permanente realizada pelos professores que

    acompanham o processo de ensino-aprendizagem desses

    estudantes.

    Os poderes atribudos a esse instrumento de avaliao so

    grandes. No caso das universidades, o

    resultado do Exame Nacional de Cursos (ou do Provo,

    como pejorativamente tambm

    chamado) um dos critrios decisivos para a idia que se

    faz do estado de um curso e para aavaliao de seu (des)credenciamento. Ora, quando se

    aplica um teste a um aluno no final de sua

    passagem pelo ensino superior, na verdade est se

    avaliando apenas o produto, e no o processo.

    A j teramos outra concepo discutvel: a de que a

    qualidade do produto revela a qualidade doprocesso.

    Outro aspecto problemtico diz respeito interpretao dos

    dados obtidos na avaliao. As

    deficincias das instituies educacionais brasileiras

    (especialmente a escola) se relacionam, mais

    do que com elementos como a adequao de currculos, adistribuio de materiais didticos, a

    pertinncia das metodologias empregadas ou mesmo

    eficincia ou ineficincia dos recursos

    humanos e das administraes escolares, com questes

    que dizem respeito s desigualdades

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    profundas de ordem scio-cultural entre as classes. Os

    problemas educacionais brasileiros so,

    antes de tudo, questes polticas e sociais, e no podem ser

    transformados em questes

    tcnicas[6].

    Essa linha de interpretao que prioriza o tcnico sobre o

    poltico-social uma das que encontram

    na GQT (Gesto da Qualidade Total) o caminho para as

    melhorias nos nveis educacionais.

    Entretanto, essa retrica da qualidade pode estar, muitasvezes, revestindo concepes

    ideolgicas de reforo do sistema vigente e manuteno

    dos poderes j estabelecidos. At o

    momento, as teorias que defendem a implantao da

    qualidade nos sistemas educacionais no

    conseguiram dissipar as dvidas sobre este programa, tocriticado por estabelecer critrios de

    diferenciao baseados nas possibilidades de poucos, e por

    se fundamentar na excluso e

    afastamento dos menos aptos.

    Na verdade, a idia de avaliar as instituies desse modo

    no nova: j na dcada de 60 Hans Thias e Martin Carnoy realizavam seu estudo sobre um

    conjunto de escolas do Qunia, aplicando

    testes aos alunos. Sem ir to longe, projetos semelhantes

    ao do Brasil aparecem nos governos do

    Chile e da Argentina. Em Mendoza, por exemplo, implantou-

    se em 1993 o Sistema Provincial de

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    Avaliao da Qualidade da Educao, programa que avaliou

    os alunos que terminavam a escola

    primria e secundria atravs da aplicao de provas de

    Lngua e de Matemtica. Com os

    resultados obtidos elaborou-se um ranking das escolas.

    claro que avaliar-se continuamente uma postura

    imprescindvel para todo aquele que participa

    de um processo educativo, mas os instrumentos e as

    formas de avaliao devem ser mais

    discutidos, assim como o que fazer com os resultados. Arankingmania de que sofrem muitos

    pases se identifica com o que Pablo Gentili chama de

    pedagogias fast food[7], numa comparao

    com a cadeia McDonalds, reproduzindo sua noo de

    mrito, a funo exemplificadora do quadro

    de honra e a filosofia do voc pertence ao quadro doscampees - num julgamento em que os

    critrios so estabelecidos unicamente pelo avaliador, e

    premiam a adequao s suas

    expectativas.

    O simples fato de medir a qualidade no significa, por

    inerncia, melhorar a qualidade; nemmesmo podemos afirmar que a qualidade de um trabalho

    educativo possa ser medida (apenas)

    atravs de provas de contedos especficos[8]; indo mais

    longe, nem sequer podemos afirmar com

    certeza, na verdade, se a qualidade algo mensurvel.

    Instaurar um processo massivo de

    22

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    avaliao pode significar aperfeioamento e excelncia,

    mas pode ser tambm uma forma de

    controle poltico-ideolgico. Cabe sociedade posicionar-se

    ativamente frente a estas questes,

    por exemplo atravs de seus representantes no Conselho

    Nacional de Educao, rgo que

    certamente ter incidncia sobre esse processo.

    Os entraves do contexto Algumas das determinaes da

    nova LDB encontram entraves no prprio

    contexto scio-econmico do pas ou na vontade polticados mesmos governantes que a

    aprovaram. A educao fundamental se tornar,

    efetivamente, uma realidade para todos os

    cidados brasileiros? O profissional da educao ser

    revalorizado em todas as formas que a Lei

    prope? Caso os recursos financeiros destinados educao atendam aos valores prestabelecidos,

    chegaro a seu destino ltimo, a escola? Esses

    questionamentos fazem chegar

    necessidade de que seja estabelecido um programa de

    apoio para que a Lei seja realmente

    cumprida e as novas diretrizes sejam implantadas[9].Sistema de promoo continuada O sistema de promoes

    continuadas que substituem a

    reprovao/aprovao no ensino fundamental

    problemtico, pois exige que se faa uma

    educao personalizada, atenta aos processos individuais

    de aprendizagem. Considerando o nvel

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    de formao de muitos professores da escola pblica, as

    baixas remuneraes e o nmero

    excessivo de alunos em sala de aula, esta prtica aparece

    como, no mnimo, desafiadora.

    Educao distncia que realmente supere as distncias A

    educao distncia outro

    componente de importncia crucial na definio da

    qualidade do ensino brasileiro. Esperamos que

    seja implantada com a devida seriedade e o necessrio

    rigor acadmico, para que o processotenha como resultado o real crescimento dos alunos por ela

    beneficiados. O ensino distncia foi

    concebido justamente para que as distncias sejam

    vencidas. O modo de articular os meios

    tecnolgicos com a mediao dos professores ser decisivo

    nesse aspecto.O pblico e o privado A questo dos setores pblico e

    privado no ensino ainda no fica totalmente

    definida na Lei 9.394/96. Ora o texto afirma que as verbas

    pblicas se destinam ao ensino pblico

    (art. 7o., III; art. 69), ora abre essa possibilidade para as

    instituies privadas (art. 70, VI; art. 77). Aidia de liberdade de ensino fica localizada apenas na

    possibilidade da existncia de ensino

    privado, mas no garante ao cidado comum a liberdade de

    escolher a escola de acordo com suas

    crenas (o que implicaria num dever do Estado de financiar

    por igual tanto escolas pblicas de

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    gesto estatal como escolas pblicas de gesto privada).

    Ensino Religioso Na incorporao do Ensino Religioso rede

    pblica, como matria de

    oferecimento obrigatrio e matrcula opcional,

    consideramos trs aspectos problemticos:

    a) este processo dever ocorrer sem nus para o Poder

    Pblico, mas no definido quem arcar

    com tais custos - por exemplo, as parquias, ou a Igreja...

    Alm disso, considerando que para tal

    ensino est previsto tanto o carter confessional como ointerconfessional, aumenta o nmero dos

    possveis financiadores, no havendo clareza sobre que

    critrios sero utilizados nas decises a

    esse respeito.

    b) tanto o carter confessional como o interconfessional

    tm a proposta de uma educao religiosa(catlica ou crist) partindo do princpio de que as crianas

    j sejam catlicas ou crists. Portanto,

    em ambos os processos se empreende uma educao da f

    na perspectiva das igreja, seja

    Catlica, seja das demais instituies crists. Seria mais

    prprio ter pensado num ensino pblicosob o carter da religiosidade, partindo do pressuposto de

    que provavelmente nem todas as

    crianas j sejam religiosas do ponto de vista das religies,

    e nem todas j tenham identidade

    religiosa definida. Falaramos, ento, de uma educao da

    religiosidade voltada para a

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    possibilidade do educando dar uma resposta de f na

    perspectiva de uma antropologia aberta ao

    Transcendente[10].

    c) A matrcula facultativa coloca o problema da motivao

    para o aluno. comum que um aluno

    inicialmente no motivado para uma matria acabe

    descobrindo nela aspectos interessantes e at

    deseje continuar pesquisando sobre o assunto para alm

    das aulas. Abrir de antemo a

    possibilidade de recusa freqncia a estas aulas noensino pblico, apesar do elemento positivo

    da liberdade de escolha dada ao estudante, pode vir a

    impedir que muitas crianas, jovens e

    adultos no despertem para uma religiosidade que

    elemento constitutivo de toda essncia

    humana; pode ocasionar ainda que, mais tarde, estesmesmos alunos busquem o transcendente

    de modo desordenado, influenciados pelas mltiplas e

    confusas formas de acesso ao plano

    superior que vemos misturar-se no esprito do homem da

    ps-modernidade, criando falsos deuses,

    vendo poderes mgicos em elementos imanentes, etc.Concluses

    Uma lei no uma diretriz infalvel e abstrata a partir da

    qual todo o contexto real vai ser ordenado.

    Se, por um lado, ela reflete os usos e costumes da

    sociedade que a produziu, e ordena a prtica

    26

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    social no sentido de possibilitar seu controle e sua

    regulao, por outro ela se prope assumir a

    condio de orientadora dessa prtica, acenando para

    modos de agir e de conviver que se

    distanciam dessa mesma prtica, procurando trazer o ideal

    para o real[11]. Alm disso, toda

    legislao tambm fruto das tenses de interesses,

    acordos e alianas envolvidos no seu

    processo de elaborao.

    Por tudo isso, deve-se evitar um sentimento ingnuo deque, uma vez promulgada a nova LDB,

    todas as reformas propostas sero realizadas, assim como

    todas as prticas pedaggicas

    sugeridas sero cumpridas. Isso no ocorreu com a lei

    anterior (5.692/71), e provavelmente no

    ocorrer com a 9.394/96.A Lei distribui funes, atribuies e responsabilidades.

    Sendo sinalizadora dos caminhos a

    percorrer, ela no pode ser tomada como um fim em si

    mesma, ou como o remdio para curar as

    deficincias de nosso problemtico sistema de ensino. As

    bases dessa responsabilidade social noesto no seu texto, e sim na ao de cada professor, de

    cada escola, de cada centro educativo.

    So comuns comentrios do tipo: A Lei j tem meses e at

    agora no saiu do papel!. Os

    professores, diretores, pais, alunos e demais cidados da

    sociedade que se espantarem com isso

    27

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    devero perceber que no por decreto que a educao

    vai mudar, como numa mgica em que,

    depois deste ano de implantao da LDB, o Brasil passasse

    a contar com um ensino

    democratizado, atualizado, adequado s necessidades de

    cada clientela, e assim por diante.

    O primeiro passo j foi dado, mas o caminho a percorrer ,

    na verdade, ainda muito extenso.

    Foram quase dez anos de tramitao, ao longo dos quais

    pouco pudemos inovar, desconhecendoas tendncias da Lei que entraria em vigor. O texto no

    ideal e faltam ajustes, mas a partir de

    agora o nosso conjunto de diretrizes, as bases que vo

    fundamentar nossa ao pedaggica

    pelos prximos anos.

    Nas entrelinhas dos 92 artigos escritos em linguagemjurdica podem estar as mudanas com que

    sonhamos em nosso cotidiano no espao escolar.

    Chegou o momento de exigi-las e ous-las.

    Referncias bibliogrficas

    AMAZONAS, Uilma Rodrigues de Matos. "LDB - Lei de

    Diretrizes e Bases da Educao Nacional:Processo poltico de avanos e recuos". in Revista de

    Educao CEAP. Salvador: Ano 4, no. 13,

    1996, pags. 45 a 51.

    BARCELOS, Eronita Silva. A LDB e a responsabilidade

    social das universidades brasileiras. in

    28

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    Estudos - Revista da Associao Brasileira de Mantenedoras

    do Ensino Superior. Braslia: ano 15,

    no. 18, pags. 21 - 26.

    BARROS, Joo. "O Ensino Religioso na Escola deve ser

    Confessional? Interconfessional?

    Interreligioso?" in Revista de Educao AEC. Braslia: Ano

    22, no. 88, 1993, pags. 77 - 79

    CHIZZOTTI, Antnio. "Legislao e perspectiva para a

    Educao". in Revista de Educao AEC.

    Braslia: Ano 17, no. 70, 1988, pags. 17 - 20. FRES, Maria Jos Vieira. A LDB e a responsabilidade social

    das instituies universitrias:

    pontos para discusso. in Estudos - Revista da Associao

    Brasileira de Mantenedoras do Ensino

    Superior. Braslia: ano 15, no. 18, pags. 15 - 19.

    FERRETI, Celso Joo. "A prtica escolar frente legislao". in Revista de Educao AEC.

    Braslia: Ano 17, no. 70, 1988, pags. 21 - 26.

    FORQUIN, Jean Claude. Sociologia da Educao: dez anos

    de pesquisa. Petrpolis: Vozes,

    1995.

    GANDIM, Lus Antnio. Qualidade Total em Educao: AFala Mansa do Neoliberalismo in

    Revista de Educao AEC. Braslia: AEC, ano 23, no. 92,

    1994.

    GENTILI, Pablo & SILVA, Tomaz Tadeu. Neoliberalismo,

    Qualidade Total e Educao - vises

    crticas. Petrpolis: Vozes, 1994.

    29

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    Lei no. 9.394/96 - das Diretrizes e Bases da Educao

    Nacional.

    NISKIER, Arnaldo. LDB: a nova lei da Educao. Rio de

    Janeiro: Consultor, 1996.

    PANINI, Joaquim "e" ROSSA, Leandro. "A nova LDB:

    destaques e perspectivas - documento de

    sntese". Texto mimeografado. Braslia, 1997.

    [1] - Por exemplo, quando dispunha sobre o Conselho

    Nacional de Educao, alegando ser esta

    uma atribuio do Executivo.[2] - Havia sido representativa a atuao, por exemplo, dos

    membros do Frum Nacional em

    Defesa da Escola Pblica, da Associao Nacional dos

    Docentes do Ensino Superior (ANDES) e

    de vrios sindicatos de profissionais da Educao,

    acompanhando as discusses, fiscalizando oandamento do processo, propondo aspectos que a lei

    deveria contemplar, assim como fazendo

    crticas e sugestes.

    [3] - H pouco tempo realizou-se a experincia do Sapiens,

    projeto coordenado pela Fundao

    CESGRANRIO, que consistia numa espcie de vestibular alongo prazo: os alunos inscritos iam

    prestando uma srie de provas, cujo resultado final servia

    como base para a classificao e o

    ingresso na universidade. No Rio de Janeiro esse sistema

    no teve sucesso, em grande parte por

    30

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    no ter contado com a adeso das faculdades pblicas.

    Entretanto, a CESGRANRIO considera

    que tal proposta se fortalece com a LDB.

    [4] - O Conselho Nacional de Educao e o Ministrio

    concordam quanto ao momento crtico que

    estaria se vivendo no ensino brasileiro, que exigiria um

    plano emergencial de formao de

    professores. A regulamentao desse programa est sendo

    trabalhada.

    [5] - A LDB no menciona, no entanto, o professor-tutor, aocontrrio do que vemos em outras

    legislaeseducacionais atuais - como o caso da Espanha,

    Frana, Argentina, para citar alguns.

    [6] - Sobre isso, remetemos ao artigo de SILVA, Tomaz

    Tadeu. A nova direita e as transformaes

    na pedagogia da poltica e na poltica da pedagogia inNeoliberalismo, Qualidade Total e

    Educao. Petrpolis, Vozes, 1994. O autor pondera: Os

    mtodos e currculos [das escolas

    pblicas] podem ser inadequados, mas isso no pode ser

    discutido fora de um contexto de falta

    total de recursos (pg. 20).[7] - Cf. GENTILI, Pablo. O discurso da qualidade como

    nova retrica conservadora no campo

    educacional in Neoliberalismo, Qualidade Total e Educao.

    Petrpolis, Vozes, 1994, pg. 151.

    [8] - A avaliao dos estudantes por parte das instncias

    governamentais no deveria deter-se em

    31

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    um ou outro aspecto do conhecimento curricular, mas

    procurar observar o maior nmero de

    elementos possveis, desde o mbito cientfico-tecnolgico

    at o pessoal, passando pela

    capacidade de comunicao e expresso, pela criatividade,

    etc., inclusive porque os aspectos mais

    valorizados pelos testes podero determinar as tendncias

    curriculares e os prprios rumos do

    ensino a ser desenvolvido nas escolas e universidades.

    [9] - H um resultado comum entre as principais pesquisaseducacionais realizadas entre os anos

    1960 e 1970 (I.N.E.D. (Institut National dtudes

    Demographiques, Frana); relatrio Coleman

    (E.U.A.); O.C.D.E. (Organizao para a Cooperao e o

    Desenvolvimento Econmico); pesquisas

    britnicas (relatrio Plowden, relatrio Newson, relatrioRobbins); e pesquisas em pases

    socialistas (Cf. Lagneau-Markiewicz, Janine. Les pays

    socialistes de 1945 1970, in SAUVY,

    Alfred & GIRARD, Alain. Vers lenseignement pour tous.

    Paris, Bruxelas: Elsevier Squoia. 1974).

    A constatao comum, de uma forma geral, a idia deque a desigualdade de acesso educao

    entre os grupos scio-econmicos constitui um fato

    estatstico maciamente irrecusvel. Isso

    contraria a crena liberal de que apenas a expanso dos

    sistemas de ensino ou apenas a

    32

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    facilitao (legal ou material) de acesso, ou meramente as

    leis que regem o ensino, fossem em si

    mesmos fatores suficientes de democratizao.

    [10] - Baseamo-nos para esta anlise no texto "O Ensino

    Religioso na escola deve ser:

    confessional? interconfessional? interreligioso?", de Joo

    Barros, in Revista da AEC, ano 22, no.

    88, 1993, p. 77-79.

    [11] - Cf. FERRETTI, Celso Joo. "A prtica escolar frente

    legislao". Revista da AEC, ano 17,no. 70, 1988, p. 21 - 26