A Obra de Jean Baptiste Willermoz (Pt) __ Jean-françois Var (1.924-1.998)

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Misticismo; Ocultismo

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  • A Obra de JeanBaptisteWillermoz

    Jean-Franois Var

  • 2

    Sociedade das Cincias Antigas

    A OBRA DE

    Jean Baptiste Willermoz

    por

    Jean-Franois Var

    Traduzido do original Francs

    L oeuvre de Jean -Baptiste Willermoz

  • 3INTRODUO

    Consagrada em 1980, a respeitvel Loja Geoffroi de Saint Omer n 18, no Oriente de Bruxelas,sob a Obedincia da Grande Loja Regular da Blgica, a Loja belga mais antiga que pratica o Rito

    Escocs Retificado.

    Este destaque como pioneira lhe impe certas responsabilidades, tanto pela influncia deste Rito naBlgica como no mbito da divulgao de informaes.

    O presente estudo surge em um momento propcio, pois apresenta um prlogo de Guy Verval,antigo Venervel Mestre da Loja e autor de livros de excelente reputao, e contm um trabalhomemorvel do Irmo Jean-Franois Var, membro eminente da Loja de estudos e investigao

    Villard de Honnecourt da Grande Loja Nacional Francesa e de nossa respeitvel Loja, sendoigualmente reconhecido por seus numerosos escritos, artigos, ensaios e conferncias. Este trabalho

    dedicado a Jean Baptiste Willermoz, o fundador do Rito.

    Acrescentamos a reproduo do artigo assinado por Maharba, intitulado Sobre o R.E.R e osGrandes Professos publicado em outubro de 1969 no nmero n 391 de da revista bimestral O

    Simbolismo, fundada por Oswald Wirth.

    Assim, o contedo deste trabalho constituir uma ferramenta indispensvel para todos os maons,praticantes ou no, do Rito Escocs Retificado (R. E. R.) que desejarem estudar sua histria e seu

    profundo significado.

    Desejo expressar desde j meus agradecimentos a todos os Irmos que envidaram seu tempo e seusesforos para que esta realizao pudesse ser concretizada.

    Oriente de Bruxelas, Novembro de 1992.

    Pierre C. Gilles

    V.: M.: da R.: L.: Geoffroi de Saint Omer

    Sobre algumas reflexes merecedorasde um ensaio memorvel

    por

    Guy Verval

    Quo surpreendente foi o destino de Jean Baptiste Willermoz! Nada do que ocorreu no decurso desua vida poderia sugerir o que logo viria a ser sua reputao pstuma. Nem sua origem familiar,

    tampouco sua educao permitiriam prever que seu nome, sua obra e seus escritos tornar-se-iam,dois sculos mais tarde, to conhecidos por um expressivo nmero de pessoas.

    Dos produtores de seda Lyoneses do sculo XVIII podemos destacar dois nomes quepermaneceriam na memria dos homens por razes bem distintas: Joseph-Marie Jacquard (17521834) e Jean Baptiste Willermoz (1730-1824), seu contemporneo. Este ltimo no lembrado porseu ofcio de tecelo, mas sim por seu trabalho na Maonaria Mstica e no campo da investigaoespiritual.

  • 4Certamente foi por meio deste ofcio de tecelo que ganhou o po de cada dia, aplicando-se com amesma seriedade com que empreendia suas investigaes metafsicas. Esta dedicao profissoera, entretanto, apenas no sentido de prover o necessrio sua sobrevivncia, e nada mais.

    A obra de Jean Baptiste Willermoz deveria ser totalmente conhecida, ser objeto das mais profundasreflexes e mesmo consistir no autntico livro de cabeceira de todo maom do Rito Retificado. Huma tal quantidade de documentos, de cartas, de manuscritos que iluminam o entendimento de sua

    Arte, o que no ocorre com muitos outros Ritos de origens obscuras e de autores annimos. Aolegado que Willermoz nos deixa devemos acrescentar, para fazer justia, o legado de um Turckheimou de um Salzmann, o que nos permite conhecer a lenta gnese dos Rituais Retificados, suasintenes doutrinais e, definitivamente, seus objetivos finais. intil, porm, querer atribuir o statusde qual o melhor sobre os Smbolos; suficiente apenas ler e compreend-los.

    Entretanto, tais documentos jamais foram reunidos, o que lamentvel. Foram publicados, pormdispersos em obras de interesses diversos ou mesmo em revistas confidenciais, sendo que muitos

    deles ainda jazem esquecidos em remotas bibliotecas. Esta disperso suficiente para desanimar obuscador de corao puro que no dispe nem do tempo, nem, sobretudo da pacincia de reunir e

    mergulhar neste montante de documentos, extremamente profundo em seu contedo,desconcertante, porm, por sua prpria riqueza.

    Dentro deste contexto, podemos dizer que o presente ensaio de Jean-Franois Var nos chega em ummomento extremamente oportuno. um desafio apresentar, em to poucas pginas, uma exposio

    clara, brilhante e incisiva sobre o homem e sua obra. Nosso comentarista a divide em trs perodos.No primeiro revive a aprendizagem da Maonaria, que se pode, por questes de simplicidade,

    denominar por estilo francs; no segundo, revive o encontro de capital importncia com a Teosofiade Martinez de Pasqually; por fim, no terceiro, discorre sobre a adaptao da contribuiocavalheiresca e templria da Estrita Observncia Germnica. O resultado foi este admirvel Rito

    Escocs Retificado, que inclui o que de melhor existe nos trs componentes mencionados. Comisso, era de se esperar que a obra de Willermoz desconcertasse os maons de seu tempo,demasiadamente ocupados com uma convivncia de lirismo fraternal, o que impediu assim acompreenso de sua mensagem em profundidade. Foi somente atravs dos ensinamentos de Ren

    Gunon que a mensagem de Willermoz pode ser percebida e julgada em seu verdadeiro valor, o queento acarretou no ressurgimento do Rito no sculo XX.

    Resta-nos ainda considerar a contribuio de Willermoz Franco-Maonaria de hoje. O quepermaneceu de sua obra por entre nossos contemporneos e nas estruturas da Ordem Manica?

    Como justamente descreve Jean-Franois Var, Willermoz elaborou seu sistema baseado em trscrculos concntricos, em cujo centro se encontra a Ordem dos Cavaleiros Maons Eleitos Cohen

    do Universo, de Martinez de Pasqually.

    A primeira e a segunda classe, to bem descritas no prembulo de Wilhelmsbad (1782)existiram sempre, ainda que articuladas de um outro modo no previsto nos dois Cdigos

    adotados na Conveno de 1778. Ainda hoje se faz necessrio avaliar mais detidamente estaquesto.

    Em relao a ns, encontramos em nosso pas dois organismos principais que reivindicam a heranade Willermoz. O primeiro se considera sendo o herdeiro zeloso das Convenes de Lyon e de

    Wilhelmsbad. Os quatro graus simblicos so conferidos nas lojas escocesas filiadas a umaGrande Loja Escocesa Retificada para a Blgica. Esta certamente administrada pelos delegados

    das lojas, sobretudo por trs Irmos revestidos do grau mais elevado no regime. Aosrepresentantes da segunda classe se atribui o poder de deciso final (Art. 3 e 4 das Constituies e

  • 5Regulamentos da Grande Loja Escocesa Retificada para a Blgica adotados em 14 de Julho de1985). A segunda classe regida pelo Grande Priorado da Lotarngia, sado da Provncia de

    Brabantia, constituda em Bruxelas em 1968 pelo Grande Priorado da Frana.

    Esta estrutura reproduz o Regime previsto pelos dois cdigos j citados. Em toda a OrdemRetificada a autoridade pertence ao escalo imediatamente superior, e assim desde as lojas de

    Aprendiz e Companheiro at o mais alto nvel da Ordem Interior (Ren Bol, 1982). Um antigogro Prior podia proferir as seguintes palavras sem nenhum temor de equivocar-se: h, pois,estruturas e regras que so prprias do R.E.R., que fazem dele do princpio ao fim, e de acima aabaixo, um conjunto integrado, homogneo e coerente (J.L.S., 1982-1983).

    Sem desejar confrontar estes excelentes Irmos em relao ao significado que do no s estruturasformais, mas ao contedo doutrinal do Sistema1, reconhecemos que eles tm razo ao afirmar acoerncia do Rito, porm seu respeito literal pelas prescries administrativas do sculo XVIII nofaz mais que coloc-los em um beco sem sada. Qual o propsito, pois, de pretender ser orepresentante e o arauto qualificado da mais pura Regularidade Escocesa (declarao de princpiosda Grande Loja Escocesa Retificada para a Blgica), j que esta afirmao poderia excluir seusautores da Regularidade Manica tal como conhecida na atualidade? E por qual acaso haveriaWillermoz de aceitar que se lhe fechassem as portas da Maonaria universal? Isto quando menos

    duvidoso. Por outro lado, por um simples acaso o fato de todos estes tradicionalistas terem sidoelevados no seio de lojas irregulares do Grande Oriente da Blgica, j que para eles a universalidademanica no mais do que um conceito desprovido de sentido?

    Ao contrrio da primeira, a segunda famlia de Maons Retificados deseja unir a integralidade damensagem de Willermoz com as exigncias da Regularidade, a nica via de acordo com a

    universalidade da Maonaria. Ela deixa a direo das Lojas Grande Loja Regular da Blgica,Obedincia protetora de todos os Ritos, de modo que estes sejam praticados em sua mais puraautenticidade. O grau de Mestre Escocs de Santo Andr conferido nas Lojas ditas de SantoAndr (o que Willermoz no havia previsto), que so regidas por um Diretrio Escocs que nada

    mais , sob o ponto de vista simblico, que o Grande Captulo da Ordem dos Cavaleiros BenfeitoresCidade Santa (CBCS) reagrupados no Grande Priorado da Blgica2, obedincia soberana,independente da Grande Loja Regular da Blgica, sendo, porm, reconhecido por ela. Estaadaptao harmoniosa permitiu a abertura, tanto aos Grandes Priorados anglo-saxes dos

    Cavaleiros Templrios como aos Altos Graus do Rito Sueco praticado pelas Grandes LojasEscandinavas. Pode ser que se trate de uma inovao. Podemos constatar, porm, que tem o mritode manter a vocao crist, aberta, tolerante e no-confessional da Ordem, vocao esta que, quandomenos, permanece oculta para os auto-intitulados tradicionalistas, j anteriormente citados.

    No obstante, se estas duas famlias so antinmicas na pratica, compartilham uma origemcomum. O Grande Priorado da Lotarngia uma emanao do Grande Priorado da Frana, criado

    em 1962 a partir de uma ciso do Grande Priorado da Glia. Este ltimo, fundado em 1935 graas auma patente concedida pelo Grande Priorado Independente da Helvetia, foi base para a fundao,

    1 importante frisar que a Declarao de Princpios da Grande Loja Retificada para a Blgica abandona oCristianismo de Willermoz em nome do Esoterismo. Cada Franco-maom Escocs Retificado tem total liberdade de

    conscincia tanto em matria religiosa quanto a qualquer outro ponto de vista. O antigo Gro Prior J. L. S. acrescentaque a afirmao a Ordem crist, do Ritual do 4 grau, tem um sentido esotrico e que no pode ser interpretada ano ser simbolicamente (1982-1983, pg. 25). Reconhece-se aqui a fcil utilizao da palavra Smbolo, que permite

    descobrir toda realidade por ela encoberta.2 O Grande Priorado Independente da Helvetia, o Grande Priorado da Glia, e o Grande Priorado da Blgica sereconhecem mutuamente, exceo de qualquer outro organismo retificado. Recrutam seus membros das Grandes LojasAzuis, regulares e reconhecidas, neste caso, pela Grande Loja Alpina, Grande Loja Nacional Francesa, Grande LojaRegular da Blgica e por Obedincias amigas.

  • 6em 1986, do Grande Priorado da Blgica, sendo este tambm um beneficirio de uma patenteconcedida pelo G.P.I.H..

    O G.P.I.H., gerador comum dos Grandes Priorados existentes, foi fundado em 1779 pelo Captulode Borgonha, V Provncia da Ordem. Sua regularidade original incontestvel, assim como seus

    rituais no so exatamente os de Willermoz. Por outro lado, ao menos sob o ponto de vistaadministrativo, renunciou ao controle dos Graus Azuis desde 1844, tendo-os legado superviso daGrande Loja Nacional Alpina, e conservou somente os graus de Mestre Escocs de Santo Andr, deEscudeiro Novio e de Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa, disposio esta que prefigura asexigncias atuais.

    Reconheamos que esta filiao, por regular que seja no a nica. O Rito Escocs Retificado tambm praticado na Frana por Lojas do Grande Oriente que nada devem Helvetia. Tal fato,pouco conhecido, merece uma ateno toda especial. Inmeros autores tm repetido que o captulo

    provincial de Besansn, herdeiro da provncia de Borgonha, encerra seus trabalhos em 1828 econfere ao Grande Priorado da Helvetia todos os seus poderes, entregando-lhe ao mesmo tempo

    todos os seus arquivos (Montchal, citado por L. Charrire, 1938; pg. 14). Em 1928 o IrmoSavoire, Gro Comendador do Grande Colgio dos Ritos do Grande Oriente da Frana, antes de se

    tornar o primeiro Gro Prior do Grande Priorado da Glia, precisava: De fato, o Regime EscocsRetificado encerrou suas atividades na Frana em 1830 (?), quando a ltima Provncia cedeu seus

    direitos ao Grande Priorado da Helvetia. Estas afirmaes, ao que parece, no se baseiam emnenhuma prova documental. Ao contrrio, no ano de 1840, em Besansn, uma reunio do Comitde Administrao Provincial, formado pelo Captulo de Borgonha, decidiu que se retomariam ostrabalhos da Loja Sinceridade e Perfeita Unio como smbolo de reativao do Regime Retificadosob o Diretrio que governava a segunda Provncia (Charrier, 1938; pg. 59). No mesmo ano, talComit reuniu 5 Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa e instalou um Grande Captulo, elegendocomo seu chefe o Irmo Ledoux, Gro-Mestre da Ordem (Ibid.). Os arquivos do antigo Diretrio deBorgonha seriam pouco depois confiados Loja de Besansn La Constante Amiti, inscrita namatrcula do Grande Oriente da Frana, onde tem estado sempre.

    Em todo caso, o Grande Priorado Independente da Helvetia em nada interveio na operao e, em1852, o Irmo Galiffe, membro da Loja retificada de Genebra LUnion ds Coeurs, podia escreverque os trabalhos (da Ordem Retificada) jamais foram encerrados na liderana do Departamento daProvncia de Borgonha (Besansn) (La Chane dUnion, 1852, pg. 457).

    Melhor dizendo, o que faz o R.E.R. no seio do Grande Oriente da Frana? Alguns se surpreenderocom a resposta. preciso recordar, entretanto, que um Tratado foi firmado no dia 31 de Maio de1776 entre o Grande Oriente da Frana e os Diretores Escoceses, tratado este que foi modificado nodia 14 de Junho de 1811. O primeiro foi assinado por Bacon de la Chevalerie, pelo Conde de

    Strogonoff e pelo Marques de Choiselier du Mesnil, representando, respectivamente, os Diretriosde Bordeaux, Lyon e Estrasburgo.

    A reviso de 1811 foi realizada por Roettiers de Montaleau, Depassy, de Soly, Moreau de SaintSerez, Geneure, dAigrefeuille, Luzard, Bacon de Chevalerie3 e Ch. Hariel.

    O Tratado de 1776 previa a reunio dos Diretrios no Grande Oriente da Frana. Os Diretrios se

    comprometiam a comunicar ao Grande Oriente a lista de seus membros (art. 5). O Grande Oriente eos Diretrios encarregar-se-iam da administrao e da disciplina sobre as lojas de seu Rito (art. 6).

    Estes estariam representados no Grande Oriente por um ou vrios representantes (art. 7). O direito

    3 Bacon de la Chevalerie (1731-1821), Rosa Cruz da Ordem dos Elu Cohen, foi eleito em 1766 como substituto geral deMartinez de Pasqually. Eques ab apro na Estrita Observncia Templria e os Diretrios Escoceses foi Gro-Orador do

    Grande Oriente entre 1773 e 1781. Ele tinha, pois, na assinatura dos tratados, um p em cada lado.

  • 7de visita (art. 10) e a dupla pertinncia s Lojas do Rito Francs e s do Retificado estava garantido(art. 9). A reviso de 1811 assegura a cada Diretrio (com sedes em Lyon, Montpellier e Besansn)um representante no Grande Oriente e no Grande Diretrio de Ritos (art. 3). Estas deviam formar

    uma seo que teria como objeto o Regime Retificado (art. 4). Definitivamente, o R.E.R. se

    convertia em parte integrante do Grande Oriente e concorria tambm a formar no Grande Oriente areunio geral dos Ritos (L. Charrire 1938, pgs. 95-96 e 97).

    Assim, pois, e por direito, o Grande Oriente da Frana o possuidor legtimo do R.E.R., nem maisnem menos que o Grande Priorado Independente da Helvetia.

    Duas filiaes so oferecidas a quem queira praticar este Rito: a primeira, por meio do G.P.I.H.,conduz ao Diretrio de Borgonha, e a outra, no seio do Grande Oriente da Frana, substituda peloacordo de 1776. (Evidentemente, resta verificar se o G.O.F. ainda poderia ser qualificado como

    manico aps 1877, mas esta outra histria).

    A terceira classe

    Muito tem sido escrito a respeito desta Classe.

    Os Grandes Professos era secreta por definio. Willermoz, em seu Prembulo aWilhelmsbad, dela fala somente sob uma forma obscura (o que no o impediu de receber, nosbastidores, as destacadas adeses de Charles de Hesse e do Duque Ferdinando de Brunswick, GroMestre Geral da Ordem). A instruo aos C.B.C.S., datada de 1874, faz-lhe somente uma rpida

    aluso (no desespereis meu bem amado irmo, se seguires fielmente o caminho que acabamos detraar, pois poderas encontrar algum dia aqueles Mestres, aos quais intil buscar se for empregada

    alguma via duvidosa. Eles vo frente daqueles que os buscam com um desejo puro e verdadeiro).Em 1872, a lista geral dos Irmos Grandes Professos contava com 59 nomes reagrupados nos

    colgios de Lyon, Estrasburgo, Turim, Chambery, Grenoble, Montpelier e Npoles (Steel-Maret,1893, pgs. 16-20). A Revoluo causou-lhe muitos transtornos e, ao final de sua longa vida,

    Willermoz no contava com mais do que dois fiis: seu sobrinho Jean Baptiste e Joseph-AntoinePont. Mesmo assim, o Grande Professo ainda sobreviveu durante algum tempo na Alemanha graasao Prncipe Christian de Hesse, mas sob uma forma extra-manica (cf. J.Fabry, 1984).

    Com a morte de Willermoz, J. A. Pont tornou-se herdeiro de seus arquivos, tendo renunciado,entretanto, a qualquer funo at o ano de 1832, segundo afirma Le Forestier (pg. 935). Esteautor relata o fato de J. A. Pont no ter aceitado confiar tais arquivos LUnion ds Cohen, de

    Genebra, entre os anos de 1829 e 1832.

    O Grande Professo estaria extinto durante esta poca? Este seria o pensamento geralmente aceitocaso no fosse o aparecimento de um artigo que produziu uma grande agitao. Tal artigo, escrito

    por um autor que assinava Maharba, foi publicado na revista Le Symbolisme no ano de 1969,onde afirmava que Joseph-Antoine Pont, no dia 29 de maio de 1830, havia concedido uma carta

    para a constituio do Colgio e Captulo provincial dos Grandes Professos em Genebra. Segundoele, o Grande Arquiteto do Universo jamais havia permitido que sua ao se interrompesse.Existiria, pois, um Colgio Metropolitano em Genebra para amparar o Grande PrioradoIndependente da Helvetia, mesmo apesar da afirmao do Ritual dos C.B.C.S. corrigido por estaObedincia: No h nada mais alm na Ordem na qual acabara de ingressar.

    As suposies e conjecturas foram aumentando. Quem era este misterioso Maharba e de ondeextraa o poder de suas afirmaes? Na atualidade, sabemos que sob este pseudnimo se ocultava

    Jean Saunier, um destes maons apaixonados com o dom de guardar a Maonaria francesa emsegredo. Falecido em 1992, deixou um dos livros mais inteligentes j escritos sobre a Ordem (Les

  • 8Franc-Masons, 1972). Assim descreve o Grande Professo: Caracteriza-se por uma granderenncia: nenhuma pompa, nenhuma decorao, nada de espetacular, como se fosse destinadaquele que tivesse percorrido toda uma hierarquia de complexos graus, algumas vezes at plenos de

    brilhantismo cavalheiresco, e do despojar-se dos sonhos e iluses. No se sabia qual seria amelhor maneira de sugerir o quo vs eram as formas exteriores para aqueles que se aproximam dainiciao verdadeira ou, em outras palavras, a necessidade de superar as formas (pg. 239).

    No importa se Saunier fora recebido como Grande Professo em 1968, em Genebra ou em outraparte qualquer; no importa se a filiao tenha sido interrompida ou no depois de J.A. Pont. Oessencial repousa em outro ponto: o Segredo do Professo e do Grande Professo , atualmente, umsegredo... pblico! Seus documentos, rituais e, sobretudo, as instrues fazem parte hoje do domnio

    pblico. Conservadas em Lyon, Haia e Copenhague, entre outras localidades, esto acessveis atodos. Mais ainda, foram publicadas! Paul Vuillaud publicou as Instrues aos Professos em sua

    obra Joseph de Maistre, Franc-Maon de 1926, pgs. 231-247; Antoine Faivre publicou a dosGrandes Professos como apndice monumental obra Franc-Maonnerie Templire et Occultiste

    aux XVIIIe et XIXe Sicles de Ren Le Forestier, 1970 (pgs. 1023-1049).

    Tais instrues, especialmente a segunda, so uma exposio bem completa e, sobretudocompreensvel da doutrina de Martinez de Pasqually, arranjadas de modo a poder concili-las com

    as concepes catlicas muito ortodoxas de Willermoz. Sua leitura indispensvel para uma melhorcompreenso dos graus simblicos do Rito, mais particularmente do quarto.

    E isto no seria suficiente para salientar que, longe de serem secretas, tais Instrues nodeveriam ser comunicadas a todo Maom Retificado?

    Por que manter, diante deste fato, uma fico que s serve para atrair a cobia, exaltar a vaidade dosEleitos e suscitar a amargura dos demais? Ademais, se este grau despojado, segundo as palavras

    de Jean Saunier, tinha algum valor ritualstico, nada era em si mesmo.

    O Cerimonial das assemblias da Ordem dos Grandes Professos, conservado no fundo Kloss4 emHaia, confirma plenamente as afirmaes de Maharba. Resume-se a preces de abertura e

    fechamento, muito prximas s preces retificadas do primeiro grau (sem a mesma nfase crist quecaracteriza a do C.B.C.S., e contendo tambm as variantes previstas para os dias de recepo), uma

    frmula de compromisso, um sinal e algumas palavras distintas para os dois graus5. Os Estatutos eRegulamentos da Ordem dos Grandes Professos (mesma fonte) nos introduzem no crculo ntimo,ensinando-nos que as assemblias estavam consagradas, alm das recepes, s leituras,

    4 O Dr. Georg Bukhart Franz Kloss (1788-1854) foi recebido como Grande Professo em Darmstadt no dia 17 deNovembro de 1827. Fez parte deste Colgio Alemo presidido pelo landgrave Christian de Hesse-Darmstadt, colgio

    este que somente a duras penas poderia ser considerado como manico, conforme a avaliao de Jacques Fabry (1984).Depois de sua morte, o Colgio entrou em plena decadncia, sendo que haviam restado somente dois Grandes Professosem Frankfurt e somente um em Darmstadt, isso segundo a declarao de G. Kloss no ano de 1849 (Le Forestier, pg.

    925). Sua rica biblioteca est conservada em Haia, no Grande Oriente dos Pases Baixos. Contm sete manuscritos, emFrancs e em Alemo, dedicados aos Professos e aos Trabalhos dos Grandes Professos, em Frankfurt de 1828 a 1835.5 Estariam completos estes documentos? Fala-se muito acerca da recepo do Grande Professo, de uma uno tal como praticada no grau anglo-americano do Holy Royal Arch Knight Templar Priest. Nada impede, seguramente, que

    Kloss tenha consultado, ou simplesmente no tenha conhecido, um rito de inspirao sacerdotal. Pelo contrrio, se aindafor praticado, haveria a necessidade de demonstrar que no fora inventado a posteriori. Alm disso, ser um GrandeProfesso no pressupe estar imune ao erro. Em seu artigo Simbolismo, Saunier diz que o Grande Professo deixou de

    existir oficialmente na conveno de Wilhelmsbad; ademais, no se fala a seu respeito publicamente, j que Willermozdecidiu deix-la em segredo. Em Les Franc-Maons, adianta que a liberao dos compromissos praticada no graude C.B.C.S. corresponde anunciao da renncia do Grande Professo. Ademais, a liberao dos compromissos umainveno helvtica do ltimo sculo, que Willermoz nunca conheceu e que possivelmente lhe surpreenderia

    sobremaneira.

  • 9conferncias e instrues (art. 32). Discutiam-se as matrias das conferncias sem nenhumacerimnia, sem que se pudesse fazer alguma distino de nvel entre os irmos (art. 737).

    Tratava-se, em suma, de um crculo de estudos, similar aos que atualmente so organizados naslojas, sejam elas retificadas ou no. Ningum pode negar que tal estrutura seja ainda mais necessria

    na atualidade para que os maons, iniciados segundo as formas do Rito Retificado, conheam ecompreendam aquilo que constitui o mago de seu Rito. Tais estruturas so reveladas pelas

    Instrues aos Professos e Grandes Professos. No esqueamos que a estrutura dos graus retificados dupla: inicitica (o ritual de recepo) e pedaggica (as Instrues). Aplicar na execuo dosrituais a preciso e o cuidado que nossos Irmos Britnicos dedicam aos seus , de fato, muitocorreto. Limitar-se a esta exigncia com o entusiasmo e a intolerncia de numerosos convertidos(temos exemplos cotidianos em algumas de nossas lojas) no seria somente um erro, mas tambm

    uma falta. Para que ento limpar a fachada do edifcio se o tesouro que este guarda est descuidadoou ignorado?

    O estudo destas instrues secretas, completado pela leitura dos graus Cohen, de seus catecismos,do Tratado da Reintegrao dos Seres Criados de Martinez de Pasqually, e das obras de LouisClaude de Saint-Martin indispensvel para o maom retificado, caso este queira merecerplenamente este ttulo. Resta ainda saber se necessrio reservar este estudo somente aos membrosescolhidos da Ordem Interior, como queria Willermoz, ou ento, ao contrrio, abri-lo a todos, se no

    desde o momento de sua iniciao, ao menos a partir do grau de Mestre Escocs.

    A resposta a esta pergunta no simples. Os documentos secretos do sculo XVIII so dedomnio pblico na atualidade, e qualquer um pode ter acesso aos mesmos. Como, pois, proibir-lhes

    seu acesso? Seria preciso consolar-se recordando que os textos se defendem por si mesmos, o que,por outro lado, estaria certo?

    O problema no novo. Cada um sabe que a Ordem Interior Cavalheiresca comparece na pedagogiaretificada como um parntesis. A instruo especfica, bem avanada no quarto grau, parece seinterromper nos graus quinto e sexto, para ento no mais ser retomada at a classe secreta. Nestecaso, para qu conservar esta Ordem Cavalheiresca com sua pompa e decorao? No seria

    suprfluo e destinado somente a exaltar a vaidade dos cavaleiros, revestidos de forma altiva e comum manto branco? A questo j foi exposta por Saltzmann e Bernard de Turckheim, que desejavama supresso da Ordem Interior, de inspirao demasiadamente catlica para o gosto dos luteranos deEstrasburgo.

    Willermoz lhes responde sem rodeios em carta endereada a Turckheim, datada de 3 de Fevereirode 1783:

    Vs propondes, como fizera em sua poca o Irmo ab Hedera, que no haja futuramente mais doque os trs graus simblicos, suprimindo assim o escocismo e os dois graus da Ordem Interior;

    ademais, que a classe dos Grandes Professos faa o 4, que estaria aberto e, de algum modo,prometido a todos, posto que receber maons nos smbolos, sem assegurar-lhes uma possvelevoluo, seria como estar fazendo uma brincadeira com eles. Porm, no havendo nenhumintermedirio entre os graus azuis e o Grande Professo, resultar que todos, exceto aqueles quedecididamente mereceriam serem expulsos, teriam direito aos Grandes Professos, e, no sentido deno admitir ningum que fosse indigno, ter-se-ia de usar maior severidade na escolha do Primeiro

    Grau6. Este projeto seria simples e atrativo, mas, meu querido amigo, no conheceis suficientemente

    6 um grau como nvel inicitico e no como o de um escalo militar no sentido que esta palavra tem em ingls, a qualse refere Willermoz. Em ocasies anteriores me fora reprovado empregar a palavra grau, usual em francs, mas deinspirao inglesa, sem esta considerao para designar os graus do Rito Retificado. Acaso estava eu to distante datradio?

  • 10

    bem os homens e o esprito de uma sociedade republicana para ver que impraticvel,independentemente do perigo habitual que representa...? Se do Terceiro grau simblico se saltasse

    diretamente classe de Professo, sem nenhum grau intermedirio, isto no se operaria sem prepararo candidato demasiado abertamente neste Terceiro grau, e tal preparao no poderia se efetivarsem mescl-lo s formas ou instrues religiosas, isso em maior ou menor grau; ademais, nomomento em que fosse mesclada a Religio Maonaria na Ordem Simblica veramos operar suaruna... para tornar prefervel nosso regime desvelaremos seus princpios e objetivo particular,nossos discursos oratrios converter-se-o em sermes, e nossas Lojas, em igrejas ou em

    assemblias de piedade religiosa; sobre todo o edifcio do Regime no nomearemos a classe secreta,mas praticamente a desvelaremos e, quando for conhecido qual seu objetivo, nos converteremos

    em suspeitos e seremos expostos a perseguies... segundo meu conceito, caro amigo, a MaonariaSimblica no deve ser mais que uma escola de moral e de beneficncia, mas sem nela introduzir

    nenhuma mescla ou propsito religioso, a no ser os princpios gerais que toda sociedade Cristdeve professar. Parece-me indispensvel que haja entre esta classe e a seguinte, ou seja, religiosocientfica, uma classe intermediria que apresente alguns desenvolvimentos dos smbolos, velando altima para preparar a seguinte. Nesta segunda classe ser exigida a prtica exata do que foiensinado na primeira, e a fidelidade nesta prtica abrir a porta da terceira. Por isto, esta segunda

    tornar-se- til humanidade e lhe entregar seus melhores membros; este ser o objetivo e termofinal da Ordem, sem que se faa meno do objetivo secreto que no mais existe aps a abolio doantigo sistema. Qual ser a alma honesta que no se sentiria satisfeita ao encontrar como objetivo

    final um sistema moral e benfeitor posto em prtica? Convenhamos que aquele que no se

    contentasse no mereceria ser recebido como aprendiz. Quanto aos que experimentarem esta duplapreparao, terica e prtica, mostraro maiores aptides e desejos da 3 classe velada pela 2 queser sua justa recompensa; mas a segunda deve ser, de todo modo, suficientemente interessante porsi mesma, como que para satisfazer em seu sentido prprio queles que se sentiriam enfastiados naprimeira e que no teriam a aptido necessria para a 3...

    (em Renaissance Traditionnelle, 1978, 35: 179-181)

    O projeto est claro. A primeira classe, terica, ensina os rudimentos da doutrina por meio dossmbolos, ritos e instrues. Na segunda, a Ordem Interior, pe-se prtica as virtudes morais e debeneficncia. Esta exigncia tica seguramente suplanta o marco das possesses, aplicando-se atodos os instantes da vida do cavaleiro maom. somente a aplicao prtica desta exigncia,

    juntamente com outras predisposies no definidas, que pode abrir as portas da terceira classe. AOrdem Interior , antes de tudo, uma prova, destinada a seleo dos indivduos dignos de ascender

    ltima classe, consagrada ao estudo das matrias de cunho religioso-cientficas. Destacamos opargrafo no qual Willermoz condena aqueles que convertem as lojas em sucedneas da igreja,mesclando indevidamente Religio e Maonaria.

    Pelo que parece, o assunto est claro. Uma classe organizada de Grandes Professos no pode serconcebida se no for escolhida no seio dos C.B.C.S. Porm, uma vez mais, seria somente isso que

    resta destas Instrues, cujo segredo se desvaneceu, tornando-se ento algo pblico? Deixemo-lasonde esto, acessveis a quem as deseje, abertas a quem possa compreend-las. O que poderia

    impedir que os Homens de Desejo, com ou sem transmisso se renam, na Paz daquele que estsempre entre eles, para meditar conjuntamente sobre os ensinamentos de nosso Rito? Destarte, no

    seria tambm esta a simplicidade to quista por Willermoz7?

    O artigo de Maharba, que de difcil acesso se encontra reproduzido no final deste livro.

    7Um Grande Professo que elimina toda a aura de mistrio; assim, sentir-se-iam atrados nossos adornados dignitrios?A simplicidade e o esforo necessrio para chegar-se a elas seria compensador? Podemos certamente duvidar.

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    Bibliografia

    1)BOL RenLes origines du R.E.R.Le Lien Ecossais (1982-1983) 43-44:13-19.

    2) CHARRIER LouisLe Rgime Ecossais Rectifi et le Grand Orient de France. Resumo histrico de 1776 a

    1938. Paris, 1938.

    3) "Constitution et rglements de la Grande Loge Ecossaise Rectifie pour la Belgique", seguidosde sua "Declarao de Princpios", Bruxelas, 1985.

    4) FABRY JacquesJ.F. Von Meyer et la Franc-Maonnerie.Trabalhos da Loja Nacional de Estudos Villard de Honnecourt. 8 (2 serie): 131-143 (1984).

    5)GALIFFE John BarthelemyLa Chane Symbolique

    1852, Genebra - (Edition anastaltique Slatkine, 1987).

    6) LE FORESTIER RenLa Franc-Maonnerie Templire et Occultiste aux XVIIIe et XIXe sicles.

    Aubier-Montaigne, Paris et Nauwelaerts, Louvain.Reedio de "La Table d'Emeraude".

    7) MAHARBAA propos du R.E.R. et de la Grande Profession

    Le Symbolisme - 391. 63-67 (1969).

    8) SAUNIER JeanLes Francs-MaonsGrasset, Paris (1972).

    9) Spcificit du R.E.R. (La)Dilogo entre o redator e J.L.S.Le Lien Ecossais (1982-1983) 43-44: 20-29.

    10) Estatutos, Cerimonial de abertura e fechamento das assemblias da Ordem dos GrandesProfessos.

    11) STEEL-MARETArchives secrtes de la Franc-Maonnerie1893-1896, Lyon (Edition anastaltique Slatkine, Genebra, Paris, 1985).

    12) VUILLAUD PaulJoseph de Maistre, Franc-Maon, suivi de Pices indites. 1926, Edition anastaltique ArchEdidit, 1990.

    13) WILLERMOZ Jean BaptistePrembulo de H. Eremo, Gro Chanceler da 2 Provncia, sobre o assunto concernente legitimidade da filiao na Ordem do Templo com nosso sistema atual e qual o sistema

  • 12

    futuro da Ordem (1782)Em "Os Cadernos Verdes" n 7 e 8 (1985-1986).

    A OBRa de Jean Baptiste Willermoz

    H pouco mais de dois sculos Joseph de Maistre exps, em suas Memrias ao Duque deBrunswick, certas questes sobre a Franco-Maonaria que nenhum Maom em total conscincia se

    atreveria a pr em discusso: Possivelmente no existe nenhum maom com certa capacidade dereflexo que no tenha perguntado uma hora aps sua recepo: Qual a origem de tudo isto quevivenciei? De onde provm estas cerimnias estranhas, com toda a sua pompa e ostentao, as

    grandes palavras proferidas, e etc.?. Depois de ter convivido algum tempo na Ordem surgiriamoutras perguntas, tais como: Qual a origem de todos estes mistrios que nada ocultam que

    aparentemente nada representam? Por que tantos homens de todos os pases se renem(possivelmente h muitos sculos) para se sentar ordenadamente em duas filas, jurar no revelarjamais um segredo que no existe levar a mo direita ao ombro esquerdo, voltar a p-la em seu ladodireito, e sentar-se mesa? No extravagante comer e beber em excesso sem falar de Hiram, doTemplo de Salomo e da Estrela Flamejante, etc., etc.?8.

    Para estas perguntas, Willermoz eminente maom dotado de singular capacidade de reflexo buscou obstinadamente as respostas, e durante longo tempo. E no-las legou por sua grandiosa obra,que o objeto do presente trabalho.

    WILLERMOZ E SEUS FAMILIARES mais prximos

    Quem era Jean Baptiste Willermoz? Nascido a 10 de Julho de 1730 em Lyon, e falecido na mesmacidade aps 94 anos, em 29 de Maio de 1824, era o menor de uma famlia de treze irmos, dos quais

    somente trs figuraram na histria manica (nada sabemos acerca dos outros, exceto de um delesque, ao que parece, foi clrigo):

    1 - Sua irm maior, a futura Sra. Provensal, com a qual se manteve estreitamente ligado em toda asua vida. Tornou-se viva logo aps poucos anos de seu casamento, e cuidou dos afazeres

    domsticos ao longo de toda a longa vida celibatria de Willermoz at seu matrimnio, contradoem 1796 com uma rf chamada Jeanette Pascal. digna de nota a diferena de idade entreWillermoz e Jeanette: ele tinha 65 anos, e ela, somente 24. A estreita relao entre os dois irmos

    durou at o falecimento da Sra. Provensal em 1810, e todos aqueles que freqentaram o lar deWillermoz ou nele residiram por alguns dias guardaram-na em saudosas recordaes, como o casode Saint-Martin e de muitos outros. Privilegiada confidente de Willermoz, nada lhe ocultava, aocontrrio: com ela compartilhava tudo, tendo at mesmo estimulado-a a entrar na Ordem dos

    Sacerdotes Eleitos de Martinez de Pasqually, onde foi recebida como Mestre Cohen, j que estaOrdem admitia mulheres.

    2 - O futuro doutor Pierre-Jacques Willermoz (1735-1799), do qual tornaremos a falar mais tarde.

    3 - E, finalmente, Antoine Willermoz (1741-1793), executado durante o Terror que se seguiu tomada de Lyon pela Conveno depois que a cidade se sublevara para defender os Girondinos. Dosdois irmos mencionados parece ter sido Pierre-Jacques o mais prximo a Jean Baptiste. Noobstante, ambos estiveram associados quer se queira ou no, tudo leva a crer que Willermoz tinha

    8 Memrias ao Duque de Brunswick (1782), de J. de Maistre, Ecrits Maonniques (Geneve, Slatkine, 1983) pgs. 80-81.Tratam-se de memrias redigidas como resposta consulta geral organizada por Ferdinand de Brunswick no marco dapreparao da conveno de Wilhelmsbad.

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    uma forte personalidade dominadora, para no dizer desptica em seus empreendimentosmanicos e para-manicos.

    Para finalizar a discusso acerca de seu ambiente familiar devemos dizer que o casamento de JeanBaptiste Willermoz, aparentemente desequilibrado (pois havia quarenta anos de diferena entre oscnjuges, ainda que tal tipo de situao no fosse rara naquele tempo), trouxe-lhe grandes pesares.No por ter sido infeliz em sua vida matrimonial, muito pelo contrrio; mas sim pelo fato de, ao

    final de sete anos, em 1804 (Willermoz tinha ento 74 anos), a Sra. Willermoz ter dado a luz umamenina que viveu somente alguns dias; no ano seguinte deu a luz um filho; posteriormente, em

    1808, um parto prematuro lhe tirou a vida. Assim, depois de doze anos de felicidade sem queixas(segundo suas prprias palavras), Willermoz tornou-se vivo aos 78 anos de idade, tendo sob suaresponsabilidade um filho de 3 anos (que havia nascido em 20 de Setembro de 1805), em quem

    depositou todas as suas esperanas.

    Tendo em vista a instruo futura de seu filho, Willermoz redigiu importantes documentos naqueletempo: nove cadernos classificados em seus arquivos sob o seguinte ttulo geral: Instruo secretae particular a meu filho, para ser-lhe comunicada quando atingir a idade de perfeita maturidade e

    caso venha a demonstrar ser digno de receb-la (atualmente, tais instrues encontram-se no fundoKloss da biblioteca do Grande Oriente da Holanda, em Haia). Estes textos, nos quais Willermozexpe suas concepes religiosas e metafsicas as quais, como veremos, esto estreitamenteligadas so de um interesse capital, pois esto escritas de modo aberto, sem ter seu pensamento

    disfarado para satisfazer a poltica manica.

    No dia 23 de Outubro de 1812 o pequeno Jean Baptiste-Franois de Sales-Claudius, que pareciacheio de vida (em uma carta datada de 10 de Setembro de 1810 a Charles de Hesse, Willermoz o

    descrevia como muito bem constitudo), morre subitamente com apenas 7 anos de idade. Quegolpe para este ancio de 82 anos que, em um espao de quatro anos, havia perdido sua queridaesposa, sua no menos querida irm, e seu filho, a menina de seus olhos, como ele costumava

    dizer.

    Entretanto, slido como uma rocha, desconhecendo qualquer enfermidade salvo um tremornervoso em suas mos que havia aparecido aos 70 anos e que foi-se agravando a ponto de deix-lopraticamente incapaz de escrever por si mesmo, e obrig-lo a recorrer aos bons servios de seu

    sobrinho sobreviveu ainda mais doze anos at a idade avanada de 94 anos.

    A partir daquele momento, j sem descendncia direta, voltou seu afeto e suas esperanas,principalmente manicas, a seu sobrinho, filho de Antoine, que deveria ser seu afilhado, posto quetambm se chamava Jean Baptiste. Este lhe serviu freqentemente como seu secretrio: por

    exemplo, foi ele quem redigiu, sob ditado de seu tio, a longa carta datada de 10 de Setembro de1810 a Charles de Hesse, pela qual retomou contato aps 15 anos, carta esta na qual d notcias(preciosas para ns) do Regime Retificado na Frana:

    Minha mo, depois das fortes sacudidas morais que tenho sofrido, me nega seu servio paraescrever qualquer texto de forma contnua. Estou obrigado a tomar os prstimos de meu sobrinho (aLilio Albo), filho de meu irmo (a Concrdia), para escrever sob meu ditado; sendo Cavaleiro eGrande Professo, o nico com o qual posso contar para meus escritos confidenciais; porm,

    encontrando-se ocupado em seus assuntos durante todo o dia, pode me dedicar somente algunspoucos momentos, esporadicamente, e sempre demasiadamente curtos.

    fcil de se perceber que o sobrinho de Willermoz no tinha realmente a fibra manica, e de sesupor que ele havia aceitado ser iniciado em todos estes segredos somente para agradar a seu tio. certo que Willermoz se frustrou em suas esperanas, visto que seu herdeiro manico foi Antoine

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    Joseph Pont (filho de um amigo de seu irmo Antoine, iniciado por Willermoz juntamente com seusobrinho Jean Baptiste, tendo sido os nicos iniciados por Willermoz aps a Revoluo Francesa).

    Willermoz fez de Antoine-Joseph Ponto legatrio de todos os seus arquivos e documentos.

    Para finalizar estes comentrios acerca da famlia de Willermoz e ento passar sua vidaprofissional necessrio dizer algumas palavras acerca de seu pai. Claude-Catherine Willermoz,oriundo de Saint-Claude, no futuro departamento do Jura, havia emigrado a Lyon no princpio do

    sculo e exercia a profisso de comerciante de miudezas. Os Willermoz foram, pois,influenciados por esta atmosfera lyonesa, de onde provieram as caractersticas que se revelaram

    no carter de Jean Baptiste: obstinao, gosto pelo secreto, talento para tratar com pessoas, sensopara negcios e para relacionamentos.

    A VIDA DE WILLERMOZ

    O jovem Jean Baptiste foi impelido, desde tenra idade, a ter uma vida ativa. Aos 14 anos foiaprendiz de um comerciante de sedas (algo que se impunha em Lyon). Dez anos mais tarde, aos 24anos, montou seu prprio negcio e se estabeleceu por conta prpria como mestre fabricante.Uma nota contempornea, um tanto anterior Conveno de Wilhelmsbad, descreve-o comofabricante de tecidos de seda e comerciante, sendo ao mesmo tempo fabricante e varejista,

    pertencendo tambm aristocracia do comercio Lyons. Seus produtos eram vendidos em toda aFrana e em boa parte da Europa, o que lhe permitiu entrar em contato e se relacionar comnumerosos clientes abastados da aristocracia, incluindo prncipes, aos quais entretinha contando

    seus interesses e curiosidades manicas. Em sua correspondncia pode-se ver mesclada, demaneira muito divertida at, as mais elevadas consideraes sobre as altas cincias, assuntos da

    Maonaria, o Cristianismo transcendente, como bem dir Joseph de Maistre, e, de improviso,muitos outros assuntos de natureza profana, relativos a mostras de tecidos ou coloridos. Existe umintercmbio de cartas com Charles de Hesse acerca das coloraes obtidas pelas receitasalqumicas do Conde de Saint-Germain (que o prncipe teria recolhido) e que, ao prov-las, se

    revelaram de pobre qualidade...

    As viagens anuais empreendidas em razo de seu comrcio e sua correspondncia de negciosdemonstraram ser excelentes vias para no somente entrar na matria, mas tambm para travar

    contatos com o que foi a grande obra de sua vida: estender e aprofundar o campo de seusconhecimentos manicos. Isto foi o que o levou a fechar seu negcio comercial (vendeu a seus

    principais empregados) em 1782, pouco antes da conveno de Wilhelmsbad, para ento se

    consagrar inteiramente a Franco-Maonaria.

    Alice Joly (a quem devemos todos estes detalhes) aponta que nesta poca iniciou-se um perodo decrise para os negcios com seda, j que as pessoas passaram a preferir os tecidos de algodo e de

    mousseline o tecido que se imaginava Maria Antonieta jogando nos encostos das cadeiras dopequeno Trianon. Isto prova que Jean Baptiste Willermoz tinha o senso de oportunidade, o que

    confirma amplamente sua poltica e sua diplomacia manica. Por outro lado, pudera aposentar-secom a idade de 52 anos, ou seja, bem precocemente, o que demonstra o fato de Willermoz terconquistado se no uma fortuna, ao menos uma situao econmica favorvel que lhe permitisse

    viver de renda e at mesmo adquirir uma fazenda em razo de seu matrimnio em 1796 (em umacarta anteriormente citada de 1810 a Charles de Hesse, Willermoz qualifica a si mesmo como JeanBaptiste WILLERMOZ, proprietrio). Willermoz constantemente ampliou e tornou cada vez mais

    bonita sua fazenda, o que demonstra ter sido ele um sagaz homem de negcios.

    Em suma, Willermoz no havia se afastado totalmente de seus negcios. Manteve interesses nocomrcio atacadista de seu irmo, Antoine, e de seu cunhado, Provensal. Na ocasio da morte de

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    Antoine foi preciso fechar este comrcio, tendo sido ento requisitada a presena de Willermoz pararealiz-lo.

    Para Willermoz, o xito profissional, o xito social (como mais adiante veremos) e, se assimpodemos dizer, o xito manico, andavam em conjunto, e isso era devido ao fato de aplicar suas

    mltiplas qualidades em seus diferentes campos de atuao. Porm, no podemos perder de vistaque Willermoz foi, ao mesmo tempo, um autodidata e um homem que se fez sozinho. Por este ponto

    de vista ele recorda freqentemente seu quase contemporneo Laurence Dermott (1720-1791) que,comeando como pintor de construo civil, passou a ser um prspero comerciante de vinhoslondrinos, e foi o animador e a alma pensante da Grande Loja dos Antigos, o mesmo queWillermoz era para o Regime Retificado; e, curiosamente, ambos desde os postos de secretrio, oque fazia deles chefes ocultos assim como Superiores Desconhecidos, ou seja, dirigentes muito mais

    reais de seus respectivos sistemas que os chefes ostensivos.

    Tudo isso nos conduz carreira manica de Willermoz, a qual se confunde praticamente com suavida, ou mais exatamente, demarca e orienta seu curso. As peripcias manicas modelam a sua

    existncia e, em funo delas, pode ser esquematicamente dividida em quatro grandes perodos:

    1 - Um perodo de cerca de quarenta anos, de 1750 a 1791, caracterizado por uma atividademanica cada vez mais intensa e criativa, ao menos at os anos 1775-1785, que configuram seu

    ponto culminante;

    2 - Um perodo de uma dcada, de 1791 a 1801, no qual fora forado, em funo dos eventosrevolucionrios, a encerrar temporariamente sua atividade manica, o que lhe conferiu apossibilidade e o tempo necessrio para aplicar sua transbordante energia a outros centros deinteresse. Isso, sem que seu apego apaixonado pela Maonaria diminusse nem um timo, tendo

    mantido nesta poca uma atitude do tipo contemplativo-especulativa;

    3 - Outro perodo de uma dcada, de 1801 a 1810, que poderamos definir como sendo um perodomisto. Um ligeiro recrudescimento das atividades manicas conduzem Willermoz a retomar seusprprios trabalhos. neste perodo que termina a redao e demais correes dos rituais daMaonaria Retificada (em particular o de Mestre Escocs e suas instrues). Isto, pois Willermoz

    era o nico conservador e depositrio no somente dos documentos e arquivos autnticos do RitoRetificado, mas tambm e sobretudo de sua memria. Por exemplo, de 1802 a 1807 ministrouum verdadeiro curso de Franco-Maonaria para uso da Loja da Tripla Unio de Marselha. Prosseguesimultaneamente e de forma ininterrupta suas atividades sociais e caritativas.

    4 - Um ltimo perodo de uma quinzena de anos, de 1810 a 1824, caracterizado por sua velhice (de80 a 94 anos), no qual seu ardor se apaga, principalmente em se tratando da Maonaria Retificada,da qual praticamente desaparece de cena. Escrevendo a Charles de Hesse, constata um

    resfriamento geral na Frana em relao Maonaria autntica, e adiciona que, desde cerca desete ou oito anos no havia podido se ocupar com nada, e que no acreditava que restasse ningumda antiga provncia de Auvernia que estivesse interessado pelos segredos da verdadeira Maonaria.

    Como fcil de se ver, dentro do ponto de vista que nos interessa, quer dizer, o ponto de vistamanico, o primeiro destes quatro perodos que, por outro lado, ocupa um lapso de tempo maisabrangente que o dos outros trs juntos o qual que se apresenta mais rico ante nossos olhos, jque no curso deste intervalo de tempo que Willermoz edificou a obra da qual somos hoje seusherdeiros. Tambm podemos logicamente dividir sua existncia e sua atividade em dois grandesperodos: antes e depois da revoluo. Remontaremos inicialmente este segundo perodo, para

    depois ento nos determos e analisarmos mais amplamente o primeiro.

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    WILLERMOZ ANTES E DEPOIS DA REVOLUO

    A Revoluo, como se sabe, provocou sob a Conveno e principalmente sob o Governo do Terrora interrupo de toda atividade manica (1793-1795), especialmente com a espetacular abdicao

    do Gro-Mestre Phillippe-Egalit que abandona, em Janeiro de 1793, a quimera pela realidade,segundo os prprios termos de sua declarao pblica. A Franco-Maonaria no despertar at

    1795-96, graas ao esforo e cuidado de Roettiers de Montalean, antigo Venervel Mestre (em1793) do Centre des Amis.

    De fato, para o Regime Escocs Retificado, a etapa na qual os trabalhos estiveram paralisados jhavia se iniciado anteriormente, tal como relata Willermoz em sua carta a Charles de Hesse de 10 de

    Setembro de 1810. E isso em razo dos principais da Ordem, os Grandes Professos (que nacontinuao veremos quem eram) que, sendo por definio homens da elite, tanto da burguesiaquanto da aristocracia, haviam tomado parte ativa nos acontecimentos polticos desde o primeiro

    momento; muitos eram delegados tanto do clero, como da nobreza ou do Terceiro Estado primeiramente nos Estados Gerais, logo na Assemblia Nacional Constituinte na qual estes Estadosse transformaram, e alguns foram inclusive eleitos para a Assemblia Legislativa que se seguiu.Evidentemente o trabalho manico se ressentiu, bem como a boa harmonia existente: dividiram-seentre partidrios e adversrios da Revoluo (sendo estes ltimos os mais numerosos), o que ento

    resultou em vvidas discusses, nem sempre muito fraternais. Como uma mostra disso, podemos vero seguinte caso, testemunho das disputas provenientes desde a poca dos Estados Gerais, entre dois

    Grandes Professos, o Cavaleiro de Rachais e o livreiro Prisse-Duluc, o qual compartilhava aopinio de Willermoz em favor da igualdade nacional e cvica. Como o primeiro reprovavaveementemente a atitude do segundo, em nome da preeminncia no somente poltica, mas

    tambm natural da nobreza, este ltimo lhe replicou que visto os princpios que ambosprofessavam se estimava to nobre como Rachais e que este ltimo era to plebeu como ele

    mesmo. Ao qual o Cavalheiro respondeu em alta voz: Senhor, Senhor, como irmo da Ordem dosGrandes Professos, eu os quero bem!... (cf. Le Forestier, op. cit., pg. 837). O nvel manico,

    smbolo da igualdade, por no falar do amor fraternal, estava bem distante de tudo isto.

    Jean Baptiste Willermoz havia feito sua escolha. Com seu irmo e mdico Pierre-Jacques, e seuntimo colaborador Prisse-Duluc do qual acabamos de falar, se alinharam entre os patriotas, quer

    dizer, entre os partidrios da Revoluo, porm entre os moderados; era um monarquistaconstitucional. Pertencia Sociedade dos Amigos da Revoluo. Seus membros, vulgarmentechamados os Feuillants9, entre os quais se encontravam Sieyes, Andr Chnier, La Fayette, por

    exemplo, seriam os que hoje poderamos denominar como centristas. Como tais, seriamcombatidos igualmente pelos monarquistas intransigentes, pelos contra-revolucionrios, e pelosrevolucionrios extremistas, os Jacobinos10. Eis o que foi escrito pelo irmo de Willermoz nos

    9 O Clube dos Feuillants foi fundado em 16 de Julho de 1791, tendo-se instalado na rua Saint-Honor de Paris noconvento que haviam ocupado at a dissoluo (em 1791) dos feuillants, religiosos da Ordem do Cister. Este Clubereagrupava os elementos conservadores do Clube dos Jacobinos que decidiram se separar deste ltimo aps uma parteimportante de seus membros terem se pronunciado a favor da queda do rei em Varennes. Inscreveram-se 264 deputadosna Assemblia Legislativa. Adversrios tanto do antigo regime quanto da democracia, os feuillants eram partidrios de

    uma monarquia limitada e de uma primazia da burguesia tal como estabelecia a Constituio de 1791. Dividiam-se entreduas tendncias: Lametistas e Fayetistas. Os Lametistas seguiam as ordens do triunvirato composto por Barnaye, Du

    Port e Lameth, ao passo que os Fayetistas se inspiravam em La Fayette. Esta faco dos Feuillants que tencionava obterum papel mediador caiu ao mesmo tempo que o trono, em 10 de agosto de 1792. Sua influncia deu lugar dosBrissotins, futuros Girondinos. (Dicionrio PERRIN de Histria Francesa).

    10Clube dos Jacobinos: Partido poltico surgido na Frana durante a Revoluo. Constitudo em Versalhes durante osEstados Gerais (1789), foi logo transferido a Paris onde, sob o nome de Socit des Amis de la Constituition, celebravasuas sesses em um antigo convento de dominicanos. Receberam o nome de Jacobinos por estarem situados na Rua de

    So Jacobo, endereo em Paris no qual estabeleceram sua primeira casa. Partido poltico moderado de incio,radicalizou-se aps a ciso dos Feuillants (1791), e sob a influncia de Robespierre, se converteu no principal rgo e

  • 17

    momentos em que Jean Baptiste estava tendo srias dificuldades em conseqncia da tomada deLyon pelas foras da Conveno: Tu s um moderado, um Feuillant que sempre se mostrou como

    tal. Crem que s um homem honesto, j que somente lhes falas quando esto em grupo, semcumpriment-los pelas ruas, eriando as costas e vinculado aos realistas. (em Alice Joly, op. cit.,

    pg. 296).

    Com efeito, no final de Maio de 1793, ao anunciar a proibio dos Girondinos11, as sees de Lyonse sublevaram, expulsando do poder a municipalidade montanhesa12 e se rebelando contra a

    Conveno. Esta ltima ento envia suas tropas que cercam a cidade rebelde (de 8 de Agosto a 9 deOutubro de 1793). Devido a este cerco, uma das bombas empregadas no conflito cai no domiclio deWillermoz, que acaba por destruir uma parte de seus arquivos. Ele mesmo exercer, sob milpenalidades e em circunstncias perigosas, as funes de administrador (voluntrio) do HospitalGeral da Casa de Deus de Lyon. (A revista Renaissance Traditionnelle, n 45, de Janeiro de 1981,

    publicou diversos textos de arquivo, dentre os quais figuram as peties de Willermoz municipalidade descrevendo as dificuldades extremas com as quais se debatia). No princpio de

    Outubro as tropas da Conveno, enviadas por Kellerman (que era maom!), esmagaram osdefensores de Lyon vitimando, entre outros, Henrie de Virieu, antigo coadjutor (Le Forestier) deWillermoz, que aos 37 anos tentava escapar do cerco. A tudo isto se seguiu um sangrento Terror

    marcado por execues em massa, de Novembro de 1793 a Fevereiro de 1794. Willermoz foidenunciado por trs vezes. Em duas ocasies foi absolvido; porm, na terceira, preferiu no se

    arriscar, e fugiu para o campo (de Fevereiro a Outubro de 1794), conseguindo assim ficar a salvo.Antoine Willermoz, mais moderado que Jean Baptiste e Pierre-Jacques, foi guilhotinado em 28 deNovembro de 1793.

    Depois deste episdio e, sobretudo depois do sucesso de Thermidor (execuo de Robespierre eSaint-Just, em 27 de Julho de 1794), Willermoz retorna a vida normal. Em 1796, como vimos,

    Willermoz se casa. Desde ento multiplica suas atividades. Entrega-se beneficncia (como exigesua condio de Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa): desde 1797 at o fim de sua vida foi um doscinco membros da comisso administrativa dos hospcios civis, levando a cabo uma considervel

    obra de reconstruo e reorganizao; do mesmo modo, foi membro da oficina de beneficncia doterceiro distrito, de 1804 at o fim de sua vida, e algum tempo depois da oficina central. Coloca suacapacidade a servio da religio: em 1809, o arcebispo de Lyon, cardeal Fesch (tio de Napoleo I), o

    nomeia membro do conselho de fbrica da parquia de So Policarpo. Ocupa-se da instruo

    sustentculo da Conveno e do Governo do Terror. Foi fechado na ocasio da queda de Robespierre (novembro de1794) e reconstitudo por Gracchus Babeuf (1795), para ser definitivamente encerrado em 1799.

    11Girondinos: Os Girondinos eram assim chamados por causa de alguns de seus membros, deputados pela Gironda.Partidrios da burguesia ilustrada opuseram-se poltica revolucionria dos Jacobinos. Com o apoio dos departamentos,se esforaram em frear a Revoluo na medida em que ela se radicalizava. Uma vez proclamada a Repblica, osGirondinos quiseram instaurar na Frana uma repblica burguesa moderada; porm, as derrotas sofridas pelo exercitofrancs e o abandono de Dumoriez significaram o fim de sua influncia. Acusados de traio pelos Jacobinos, seuschefes foram presos em sua maior parte (Junho de 1793), sendo que alguns deputados girondinos intentaram um levantefederalista na provncias, porm sem sucesso. Em Outubro de 1793 foram executados os principais dirigentes destegrupo.12 Partido da Montanha: Na Revoluo Francesa era um grupo de deputados (montagnards) que constitua a esquerda na

    Conveno, e eram assim chamados por ocuparem as cadeiras mais altas na sala da assemblia. Faziam parte destegrupo Robespierre, Danton, Marat, Saint-Just, Couthon, Billard-Varenne, Carnot, entre outros. Oposto maioria

    conservadora da Conveno e ao federalismo dos Girondinos, lograram derrot-los (2 de Junho de 1793) com apoio dosclubes jacobino e franciscano, da Comuna e das classes populares, tendo implantado em seu lugar uma ditadura dirigidapelo Comit de Salvao Pblica. Robespierre foi a principal figura deste Comit. Enquanto esteve no poder acelerou a

    distribuio de bens comuns e a liquidao da ordem feudal, continuou o processo de combate ao Cristianismo embeneficio ao culto revolucionrio e derrotou os federalistas, realistas e coligados; porm, as dissenses internas e asistemtica represso qual se entregou acabaram por debilit-lo. Como grupo poltico foi definitivamente esmagadoem 9 de Termidor (27 de Julho de 1794).

  • 18

    primria. Faz parte da administrao local: de 1800 a 1815 conselheiro geral do departamento doRdano (os conselheiros gerais no eram eleitos na poca, mas sim nomeados pelo governo).

    Finalmente, foi membro desde 1798 da Sociedade de Agricultura (cujo presidente foi encarregadode pronunciar um discurso em seu funeral), tendo ento se tornado um agricultor apaixonado: acondio de proprietrio com que intitulava no final de sua carta de 1810 a Charles de Hesse nohavia sido em vo...

    Estou completamente afastado de todos os assuntos externos. Vivo h 15 anos em uma fazendarural no interior da cidade, situada, em um de seus extremos, sobre uma colina onde o ar muitofavorvel minha sade; ocupo-me do cultivo da vinha e de seus frutos no tempo disponvel. Seria

    feliz se no tivesse sido acometido da desgraa de perder, j h dois anos, minha querida esposa porcausa de um parto prematuro, etc....

    Em suma, Willermoz se apresenta mesmo encontrando-se em plena velhice como um homemdotado de uma vida plenamente ativa, atividade esta exuberante e de forma alguma sonhadora; ao

    mesmo tempo, se apresenta como um homem notvel que soube muito bem guiar seu xito social.

    Tais elementos, que so indispensveis para completar o retrato do homem, deixam escapar oessencial: o maom e sua obra, obra esta que foi, literalmente, a maior de sua vida. a seu estudo

    que a partir deste ponto nos dedicaremos.

    Willermoz antes da Revoluo

    Sua Obra Manica

    Iniciado em 1750 com a idade de 20 anos (a mesma que Dermott) em uma loja de Lyon (a qual seignora o nome), Willermoz galgou rapidamente todos os seus graus. Relatando seus feitos cinqentaanos mais tarde, escreveu que em seguida foi vestido com todos os cordes e de todas as corespossveis; porm, rapidamente repudiou a frivolidade e a indisciplina reinante nas lojas. Vejamos o

    que escreveria vinte anos mais tarde em uma carta datada de 14-18 de Dezembro de 1772 ao baroCharles de Hund, fundador da Estrita Observncia Templria:

    Fui admitido bastante jovem em nossa Ordem. Os chefes da loja que me haviam recebido quiseramrecompensar meu zelo permitindo-me um avano rpido em seus mistrios. Em 1752 fui eleitovenervel. O relaxamento bastante comum nas lojas da Frana afetou tambm esta; minha rigidezdesagradou a muitos, o que me fez tomar partido, com um pequeno nmero de amantes de nossasleis, a formar uma outra loja sob o ttulo de Perfeita Amizade. Esta deciso se procedeu de formamuito amigvel; minha primeira tarefa foi a de procurar as constituies. As que obtive em 1756

    so as primeiras conhecidas em Lyon e emanadas da Grande Loja da Frana. Fui eleito novamenteVenervel, e apesar de minhas peties para deix-lo, continuei neste cargo at 1762. Vrias lojas

    estabelecidas em Lyon se lamentavam do abuso que se propagava cada vez mais. Eu contribu paraformar a G.L. de Mestres Regulares de Lyon com os venerveis mestres e os que lhes sucederam, e

    ademais os deputados elegveis de cada uma delas, escolhidos entre seus oficiais de maior grau (erapreciso ser Cavaleiro do Oriente para poder ser admitido). Este estabelecimento foi formado em 4de Maio de 1760 e imediatamente reconhecido e patenteado em 18 de Julho de 1761 pela G.L. daFrana, tenho sido agraciada com os maiores elogios pelo nome que havia sido escolhido, ao qual

    foi complementado: a exemplo da de Paris. Com esta composio, a G.L. dos Mestres Regulares deLyon foi encarregada de zelar pela manuteno da disciplina nas lojas, da conservao dacorrespondncia geral feita sob seu nome, de fixar a escolha da uniformidade dos graus simblicos

    (chamo Graus simblicos os compreendidos at o de Cavaleiro do Oriente, inclusive). Em 1761 fuieleito Gro-Mestre Presidente, sendo que tal eleio era realizada anualmente com a participao de

    todas as lojas. Fui obrigado a continuar nesta funo durante 1762. Finalmente, em 1763, obtive a

  • 19

    liberdade que tanto desejava, e aceitei ser o depositrio dos selos e arquivos deste Oriente quehaviam ficado disponveis devido a morte de um Respeitvel Irmo encarregado de sua custdia,depsito este que se encontra atualmente em meu poder.

    Esta funo de depositrio de selos e arquivos permitiu-lhe posteriormente entregar-se a uma desuas atividades favoritas: pesquisar, estudar e comparar os rituais de todos os graus possveis.Porm, por que tudo isto? Por gosto de colecionador? Certamente que sim, de algum modo, pormhaviam outros motivos mais profundos, mais essenciais, que tinham a ver com o estado da Franco

    Maonaria da metade deste sculo, da qual Willermoz se tornaria membro.

    Nesta poca, a Franco-Maonaria era, ao mesmo tempo, clebre e desacreditada. Falava-se eescrevia-se muito sobre ela. As divulgaes se multiplicavam, e se contavam pelo menos doze

    entre 1737 e 1751 a partir da recepo de um Maom livre, que nada mais era que a redao dasconfidncias de travesseiro recolhidas por uma bailarina de opereta, la Carton, instigada pelotenente de polcia Herault. Numerosas divulgaes eram copiadas e se repetiam. Estas eram, em seuconjunto, cada vez mais precisas e bem informativas. Em que se converteria o segredo do maomdepois disto tudo? Era um famoso segredo que todos conheciam (ou acreditavam conhecer).

    Por outro lado, a situao era parecida na Inglaterra onde, em 1743, Horario Walpole (que tambmera maom) escreveu: A reputao dos franco-maons est em seu momento mais difcil na

    Inglaterra (...) no vejo outra coisa seno uma perseguio para coloc-los em moda.

    Podemos ento constatar a existncia, a grosso modo, de dois grandes tipos de Maonaria e deMaons. A primeira se caracteriza por uma sociabilidade apaixonada pela razo e pelo bom gosto,

    ou, para empregar uma linguagem mais atual, repleta de atrativos: isto que o abade Marquet, emseu Discurso sobre o esprito da sociedade (1735), chamava de razo humanizada. Esta tendnciaera ilustrada perfeitamente pelo presidente Bertn de Rocheret, eleito de Epernay. Em sua Apologia

    da antiga, nobre e venervel sociedade dos franco-maons (1737) escreve: Deus, o Rei e a honraso os trs pivs sobre os quais esta antiga sociedade se sustenta desde aproximadamente sete

    sculos. Uma confederao de pessoas distintas e honestas em todos os estados, que no buscamoutra coisa seno divertir-se filosoficamente no intercmbio de bons sentimentos, das boas letras ebelas artes de toda espcie, formando em tudo isso um slido vnculo. E, mais adiante, depois de

    ter citado como exemplo a famosa abadia de Ripaille, fundada no sculo XV pelo duque AmadeoVIII de Sabia, com sua regra de vida fundamentada sobre os princpios de um epicurismo sutil e

    filtrado pelas leis do Cristianismo, toma a si, para depois devolv-la como cumprida, a crticapontifcia segundo a qual a Franco-Maonaria seria um refinamento do epicurismo,

    comentando-la do seguinte modo:

    ... certo que no nos sero atribudas mais do que as mximas de um Epicuro cristo que sabealiar os deveres de sua religio e de seu estado com as satisfaes permitidas; o que realmente ahonestidade humana segundo Deus e segundo o mundo, suprimindo e aniquilando todas as

    tumultuosas paixes que se opem honesta segurana que procuramos gozar. Eis aqui toda nossafilosofia e nossa cincia, que deveria ser a de todo o gnero humano, se o fingimento e os prejuzosno se opusessem como obstculo a este estado de perfeio que ns nos esforamos por alcanar.

    Em suma, segundo Bertn de Rocheret, o estado de perfeio ao qual deve conduzir a FrancoMaonaria consiste em gozar as satisfaes permitidas com toda a segurana. Trata-se

    indubitavelmente da busca do prazer honesto, mas igualmente cristo, se assim se desejar,porm sendo mesmo assim prazer o que uma bela definio do epicurismo.

    De uma mesma maneira Joseph de Maistre, recordando-se da loja dos Trs Morteros na qual foiiniciado, escrevia de maneira muito clara: Era puramente uma sociedade de prazer.

  • 20

    Podemos encontrar este mesmo aspecto em um texto contemporneo reencontrado nos arquivosdeste famoso iniciado que foi o marqus de Chefdebien. O autor, um maom que permaneceu

    annimo, desenvolve, sob o nome de Companheiro do dever, uma concepo igualmenteepicurista da Maonaria que pode ser resumida na seguinte frase: O princpio de sua instituio (...)no apresenta como objetivo, de antemo, fazer seus associados gozar das delcias de uma

    sociedade escolhida, na qual os prazeres se tornam mais interessantes pelo ligeiro mistrio e pelascerimnias um tanto torpes dos companheiros do dever.

    Este gnero de Maonaria apresentada nestes textos sob uma aparncia conveniente e decente,mas a realidade era muito diferente. Comia e bebia-se muito podemos recordar a passagem do

    texto de Joseph de Maistre, citado no comeo deste trabalho: No se pode (...) comer e beber emexcesso, etc.... Os trabalhos de mesa davam lugar a um ritual mais complicado do que odesejvel, e no era por acaso que a loja se formava, freqentemente, nas tavernas (leia-se

    espeluncas); s vezes os encarregados se auto-nomeavam Venerveis, e ser venervel, at a reformadecretada pelo Grande Oriente de 1773, era um cargo vitalcio (ao menos em Paris).

    As desordens nas lojas foram unanimemente denunciadas nesta poca. daqui que se procederamas diversas tentativas por parte dos altos graus para controlar a situao: segundo os estatutosditados pela Grande Loja em 1755, os Mestres Escoceses tinham por misso explcita vigiar as

    lojas.

    Observa-se uma situao anloga, por exemplo, na Alemanha. Temos como prova disto os extratosda orao fnebre do baro de Hund que, recordemos, fora o fundador da Estrita Observncia

    Templria, com o objetivo de reformar a Maonaria: Estas lojas atraem pessoas de esprito, porqueestes no caram nas mesmas extravagncias e nos mesmos prazeres ruidosos que estiveram em

    moda nas lojas da Alemanha deste mesmo tempo. A mesma loja de Altenburg, que no tem mais doque trs graus, trabalha com ordem e decncia; as outras lojas so como templos do deus Baco; e, se

    em uma ou em outra se encontram homens de mrito, se envergonham de comparecer nasassemblias, o que naturalmente dever acarretar a decadncia da Ordem.

    Mais adiante, diz: Em 1755 nosso Venervel Mestre Provincial reformou uma antiga lei deDresden, conferindo-lhe uma forma mais regular: as lojas passariam a receber somente pessoas cujaconduta era irrepreensvel, fato este que despertou a ateno de todos. Sua Majestade, a Rainha da

    Polnia, fez os seguintes comentrios acerca dos vrios irmos maons que mudaram de condutaaps sua recepo: necessrio vigiar mais de perto esta sociedade, que antigamente no tinhauma maior transcendncia quando suas assemblias somente se destinavam a realizar sacrifcios aBaco, mas que, na atualidade, se estabeleceram nas bases da prudncia, pela qual ser preciso

    conferir uma maior ateno....

    Em contrapartida e esta a segunda tendncia outros maons tinham idias e aspiraes sobuma concepo totalmente diferente da Maonaria. Esta outra Maonaria era buscada em todas as

    partes e, na falta de encontr-la, a inventavam por eles mesmos. Tal era a origem dos outros graus.

    O que buscavam? Um significado, uma substncia para a Franco-Maonaria, no tendo esta nenhumvalor, segundo eles, se seus adeptos no procurassem um conhecimento, uma cincia. Para

    alguns, esta cincia deveria ser elevada, uma alta cincia. Willermoz falar tambm deconhecimentos raros e preciosos. Entretanto, a maior parte deles entender esta noo em seusentido mais concreto e material. E este sculo qui mais dividido em si mesmo que os outros,sculo das luzes, mas tambm do iluminismo, sculo da razo, mas tambm do irracional, da

    incredulidade e da credulidade, do sentimento e do cinismo terrivelmente material, para no

  • 21

    dizer materialista. Sua religiosidade sentimental, seu sentimento de desfrute, e sua busca dooculto em si mesma a investigao de poderes tangveis e de efetividade real.

    Sustentavam que a hiptese da Maonaria encobria uma verdade oculta, certamente escondida paraa maioria, mas capaz de dar poderes efetivos queles que tinham acesso mesma, seja da ordem dainfluncia quer dizer, da influncia poltica e social, de onde sai como conseqncia o mito das

    foras ocultas, do compl manico, etc seja na ordem do poder de conferir a riqueza erestaurar a sade, isto , o poder de fazer ouro e o de curar; ou, em outros termos, a transmutaodos metais e a taumaturgia.

    esta tambm a poca onde cada um presume curar. Para citar somente os nomes dos mais clebrespodemos listar Cagliostro, Saint-Germain, Martinez de Pasqually e tambm Mesmer e a incrvelmoda do magnetismo, qual Willermoz e seus associados sucumbiram do mesmo modo que outrosgrupos, tendo-se ocupado assiduamente das curas magnticas durante vrios anos.

    Quanto alquimia, podemos dizer que jamais na histria fora to popular e to investigada o queno quer dizer sobremaneira que tenha sido praticada com seriedade e honestidade. Uma tal atraodevia-se, sobretudo a duas razes: os bens materiais que poder-se-ia conseguir (ouro, sade,longevidade), como tambm o poder de influenciar os demais, alm do poder que a alquimia legaria

    queles que se dedicassem sua prtica, a partir do momento que estes bens podiam, segundo seusdesejos, serem dados ou negados aos demais.

    Aqui reside, repetimos, a origem no a nica, porm a principal dos altos graus e de suaslegendas. Legendas estas conectadas entre si, e que podem ser classificadas em trs grupos: a

    legenda escocesa, a legenda jacobina ou stuardista, e a legenda templria. Estas tm comodenominador comum a afirmao da posse, no corao mesmo da Maonaria e sem que soubesse a

    maior parte dos maons, dos Superiores Desconhecidos, os quais afirmavam possuir e serdepositrios, fosse por filiao ou mesmo sucesso, de poderes quase sobrenaturais cujos efeitos ao menos se supunha eram bem tangveis e reais nos mbitos que acabamos de mencionar.

    Tal era a inspirao geral dos diferentes sistemas e graus que Jean Baptiste Willermoz se disps aestudar por suas funes no seio da Grande Loja dos Mestres Regulares de Lyon, e examinou-as

    cuidadosamente a fim de encontrar a verdade manica e a verdade da Maonaria.

    Deste modo se organiza a sua carreira manica que, para fins de maior clareza, pode serdecomposta em diversos perodos, entrecortados por datas significativas que correspondem a feitos

    memorveis.

    1 - A Busca da Verdade 1760-1767

    Deixemos que Willermoz se expresse com suas prprias palavras:

    H muito tempo os maons se embrenham em buscas interminveis para desvendar o verdadeiroobjetivo da Ordem. Desta busca nasceram uma infinidade de sistemas muito diferentes entre si, sejaem nmero ou em suas horrveis conseqncias. Um estudo contnuo de cerca de 20 anos na Ordem

    permitiu-me conhecer muitos destes sistemas; no tenho, em absoluto, nenhuma vaidade aoacreditar que os conheo todos, j que cada nao pode ter seus sistemas particulares que adotam

    como nico e verdadeiro objetivo, censurando ou desaprovando todos os demais. Creio firmementeque so falsos todos aqueles que se apartam ou no exigem a prtica da moral mais s. Assim, pois,somente pode-se escolher entre o pequeno nmero de sistemas que compem esta classe.

    (Carta ao baro de Landsperg, 25 de Novembro de 1772)

  • 22

    Desde minha primeira admisso na Ordem estive sempre convencido de que ela encerra oconhecimento de um objetivo possvel e capaz de satisfazer a honestidade humana. Partindo deste

    pressuposto, tenho trabalhado arduamente para descobri-lo. Um estudo contnuo de mais de 20anos, uma correspondncia particular consideravelmente extensa trocada com irmos instrudos daFrana e de fora dela, o legado dos Arquivos da Ordem de Lyon, sob minha custdia h dez anos,me tm conferido meios, graas aos quais tenho descoberto numerosos sistemas, cada qual maissingular que o outro. Uma simples inspeo suficiente para provar a futilidade de uns, a

    impossibilidade de outros e, finalmente, para inspirar uma justa averso por alguns outros mais. inconcebvel que uma tal multiplicidade de homens razoveis se ocupem seriamente com tais tiposde quimeras. Todos os objetivos, quaisquer que sejam, que no estejam destinados utilidade

    pblica e particular, dentro dos limites que os primeiros princpios da Ordem prescrevem, meparecem evidentemente falsos.

    (Carta ao baro de Hund, 14-18 de Dezembro de 1772)

    Na continuao desta segunda carta Willermoz expe que a Grande Loja de Lyon no seapresentava como um lugar propcio para tais buscas, o que o impeliu a adotar um instrumento

    adequado, um captulo por ele mesmo constitudo, uma espcie de laboratrio de altos graus:

    No ano de 1765 os conhecimentos relativos aos mistrios da Ordem estavam se multiplicando nesteOriente no que se refere aos graus seguintes ao de Cavaleiro do Oriente. Alguns irmos, possuidores

    dos diferentes sistemas adotados em diversos lugares sob este mesmo objetivo, decidiram formarentre si um captulo, o qual estaria reservado somente a eles, cuja finalidade seria a de deter estamultiplicidade. Esta pequena sociedade, independente da Grande Loja dos Mestres, recebeu o ttulo

    de Captulo dos Cavaleiros da guia Negra. Esta sociedade realizou uma seleo entre osconhecimentos que adotou, proscrevendo os considerados falsos e perigosos por suas

    conseqncias, e manteve secretas suas assemblias para evitar suscitar a curiosidade. Desde suafundao mostrou-se muito crtica em relao a admisso de novos membros, tendo sido nomeadopara presidi-la o Irmo Jacques Willermoz, doutor em medicina, agregado do colgio de Lyon e

    antigo professor de qumica da Universidade de Montpelier.

    Se eu no estivesse ligado a ele pelo duplo ttulo de irmo estaria mais livre para poder elogiar asbelas qualidades que esta eleio merece, e que lhe tm conservado no exerccio do cargo que aindaocupa.

    (Ibid.)

    Qual panorama se descortina ante nossos olhos? O prprio Willermoz relatar a Charles de Hessequinze anos mais tarde:

    Podemos ver vrios sistemas muito diferentes que possuem mltiplas analogias entre suasfinalidades ou meios. Aqui somente mencionarei aquelas que podem conduzir a alguns

    conhecimentos das cincias naturais, e em absoluto nada direi a respeito daquelas que no tmnenhuma relao direta com estas cincias. Assim mesmo, no quero fazer nenhuma meno

    cincia da evocao de espritos que alguns, sobretudo na Alemanha, tm aplicado na Maonaria,pois o que h de bom nesta cincia pertence a uma classe mais elevada, e o que se encontra de maldeveria ser para sempre ignorado; somente citarei os principais deste gnero que tm chegado a meu

    conhecimento.

    Uns pretendem que a Maonaria ensine Alquimia, ou a arte mercurial de fabricar a Pedra Filosofal,e quereriam ver as lojas mobiliadas com fornos e alambiques.

  • 23

    Outros, desaprovando a arte mecnica dos sopradores e igualmente o ouro que buscam com tantoardor, do um sentido mais elevado Cincia Hermtica e parecem empregar outros meios paralograrem realizar suas obras. Efetivamente, esperam que, reencontrando a palavra perdida que os

    maons buscam, obter-se-ia uma panacia universal por meio da qual curar-se-iam todas asenfermidades humanas prolongando, assim, a durao normal da vida. Outros, finalmente, alando

    um vo mais elevado, pretendem que seja ensinada aos verdadeiros maons a arte nica ou a cinciada Grande Obra por excelncia, atravs da qual o homem que adquire a sabedoria opera em si

    mesmo o verdadeiro Cristianismo praticado nos primeiros sculos da era Crist, se regenerandocorporalmente e renascendo pela gua e pelo esprito segundo o conselho que foi dado a

    Nicodemus, o qual se assustou. Este sistema assegura conhecer a verdadeira matria da Obra, assimcomo os verdadeiros vasos, forno e fogo da natureza pelos quais opera. Assegura que, por meio daconjuno do Sol e da Lua, e pela prtica exata do que est indicado emblematicamente nos trsgraus simblicos, se produzir um filho filosfico em virtude do qual o possuidor tambmprolongar seus dias, curar as enfermidades e espiritualizar, por assim dizer, seu corpo, desde quetenha a coragem e a confiana suficientes como se fosse buscar a vida nos braos da morte. Aqui me

    deterei; estes sistemas, sobretudo os ltimos, abarcam o que todos os demais somente indicam deforma parcial.

    (Carta a Charles de Hesse, em 8 de Julho de 1781)13

    So tantas Maonarias que Willermoz sente, sem ainda saber o porqu, que so inferiores eenganadoras, que mais tarde classificar como apcrifas. Prossegue mesmo assim em sua buscade uma Maonaria superior e autntica, da qual pressente sua existncia. Rene, coleciona,experimenta os graus, elabora-os ele mesmo. Tal parece ser o caso do grau Rosa+Cruz, ltimo grau(os ingleses o qualificam, inclusive em nossos dias, de nec plus ultra) de um sistema em 25 graus

    praticado em Lyon ao longo do ano de 1765, no qual se converteria no Rito de Perfeio e futurograu XVIII do Rito Escocs Antigo e Aceito. Alice Joly, e depois dela, Paul Naudon, afirmam que

    foi Willermoz quem fez o necessrio para lev-lo a cabo. Naudon no , certamente, sempreconfivel (ainda que seja um bom investigador, equivoca-se freqentemente em suas interpretaes

    e dedues), mas A. C. Jackson, o melhor conhecedor ingls da questo, adota esta mesma tese. Setal prerrogativa for mantida, este grau Rosa+Cruz seria o primeiro legado manico de Willermoz.

    E que legado! Em sua verso original, ainda em vigor na Inglaterra, , propriamente falando,

    13 Gustave Bord, em sua obra La Franc-Maonnerie en France des origines 1815, Tomo 1 (o nico surgido em 1908,e reeditado por Slatkine, 1985), cita um documento datado de 1746, intitulado Instructions gnrales sur le sublime

    grade de Chevalier de l'Aigle ou du Plican, Souverain Prince Rose-Croix d'Hrdom, Parfait Maon libre. Trata-se deum exame crtico do sistema de 25 graus em uso na poca, na qual os graus alqumicos do lugar a uma apreciao tosevera como a de Willermoz. Citemos dois extratos:

    Sublime Filsofo O ouro, este metal fluente de tantos crimes e horrores, do qual deveramos passar longe, o doloque buscamos com a maior solicitude. O Sublime Filsofo, ttulo sublime e que somente corresponde quele que o eno a um homem cuja ocupao seja absolutamente contrria; ttulo que no deve ser concedido seno quele que tenhaa virtude por princpio, que a pratica e que por meio dela saiba fazer-se ditoso. O Sublime Filsofo, salientamos, ocupa

    seu tempo no estudo da riqueza desta quimera, e pretende, por suas descobertas, igualar a cincia do criador e do autorse seu ser.Cavaleiros do Sol e da Fnix Estes graus so uma mescla de religio, de mercrio, de enxofre e de outrosingredientes que entram na composio deste precioso metal que Hir., assim como Sal. possuam, mas que foi perdido eque somente se encontra em alguns dos descendentes destes famosos alquimistas ou de seus discpulos. Buscaro neste

    grau a virtude e o repouso aps o imenso trabalho que exige esta obra, cujo segredo no foi encontrado e que no seencontrar to facilmente. Este grau acarreta relaxamentos (sic) que provocam, aos quais o praticam, o sentimento devanglria de poder encontrar o segredo. Poder-se-ia perdoar tais intentos caso se tratasse de homens loucos ou

    insensatos. Porm, para que homens responsveis se consagrem e se entreguem a um tipo de trabalho deste tipo sem amenor noo de qumica e sem o menor conhecimento fsico das outras cincias necessrias para lev-lo a cabo, melhor que sejam internados em um centro para tratamento da sade mental, pois esto absolutamente desprovidos desentido (...).(Bord, obra citada, anexo VI, pg. 535). (...).

  • 24

    esplndida (ainda que, desafortunadamente, no seja sempre assim em sua verso atualmentepraticada na Frana, degenerada e desvirtuada).

    durante o curso desta investigao que Willermoz toma seu primeiro contato com a legendatemplria, atravs de duas cartas que recebera de um irmo de Metz, Meunier de Prcourt. Eisabaixo as passagens mais significativas:

    Sim, meu M.Q.H., tocaste no ponto exato, descendes destes famosos e desafortunados templrios;mas necessrio distingui-los daqueles que a inveja, a avareza e o orgulho tratam de fazer parecercomo criminosos aos olhos das naes da terra. Contemple-os como pessoas, que instrudas por

    grandes mestres, conheceram o segredo da Grande Obra, e lograram por este meio imensas riquezasque foram a causa da destruio de sua Ordem.

    (Carta de 22 de Abril de 1762)

    E pretendo faz-los ver que os Cavaleiros Rosa+Cruzes, que apareceram no norte em 1414, nadamais so do que os templrios que, possuidores de seu grande segredo, ainda subsistem na maior

    parte da Alemanha, e que tm-no comunicado a alguns membros da Ordem Teutnica.

    (Ibid.)

    Pergunta: Qual o objetivo da Maonaria? Resposta: o de apresentar ao Conclio ecumnico asprovas irrefutveis das caluniosas imputaes feitas primeira Ordem do Templo, mostrar o

    suborno dos testemunhos, os motivos que Felipe, o Belo, e Clemente V apresentaram para autuar econseguir reabilitar sua memria e reclamar seus bens confiscados pela Ordem de Malta (...).

    (Carta de 13 de Setembro de 1762)

    No obstante, tudo isso deve ter-lhe parecido algo de pouco valor, tal como mais tardetestemunhou... E esta investigao obstinada prosseguiu at...

    2 - A Descoberta da Verdade 1767-1774

    Esta descoberta teve lugar ao se deparar com a Ordem dos Cavaleiros Maons Eleitos Cohens doUniverso, de Martinez de Pasqually, na qual foi recebido entre 1767 e 1768, e logo progrediu.

    Encontrou finalmente a revelao qual aspirava desde os primrdios de suas profundasinvestigaes, revelao esta que, coroando seus esforos, propiciou-lhe a confirmao de que haviatido razo em perseverar em sua busca. Desde ento comunica aos demais maons as luzes com asquais havia sido agraciado. Este o sentido de sua obra manica.

    Willermoz relata poucos anos depois este seu encontro e descoberta, e em quais termos ocorrera:

    Certas felizes circunstncias durante minhas viagens me propiciaram a oportunidade de seradmitido em uma sociedade bem estruturada e no muito numerosa, cujo objetivo me seduziu, umavez que me foram apresentadas exteriormente as regras ordinrias. Desde ento todos os sistemas

    restantes que conhecia (pois no posso julgar os quais desconheo) me pareceram fteis erepulsivos. Este o nico no qual encontrei a paz interior da alma, a maior vantagem da

    humanidade relativa a seu ser e ao seu princpio. Tenho a satisfao de poder vislumbrar o mesmosaborear desta doura pelos poucos discpulos que me fora permitido admitir ao longo de cinco ou

    seis anos, sob a direo de meus chefes particulares. Com eles cultivo em silncio as instrues querecebi, e em conjunto julgamos os emblemas que as lojas simblicas nos apresentam, sob um pontode vista bem distinto do comumente aceito pelos maons.

  • 25

    (Carta ao baro de Landsperg, em 25 de Novembro de 1772)

    Ou em outra carta:

    Em uma de minhas viagens, em 1767, tive a sorte de ser admitida em uma sociedade manicapouco conhecida e bem estruturada. O assunto mais sublime do qual ela se ocupa e a verdade da

    qual no se pode duvidar, quando se alcana o ltimo grau, exige a maior circunspeo e trazconsigo expectativas muito grandes. Tendo a vantagem de ser conhecido desde muito tempo porseus chefes, os quais me tm em considerao, flexibilizaram as formalidades ordinrias a meufavor. Seu desejo de me preparar para formar um estabelecimento em Lyon e de instruir aqueles que

    eu cresse dignos fizera que eu avanasse rapidamente. A cada ano recebi novas luzes, e ao terceiroano fui conduzido ao termo final. Esta classe de maons que recebem o ttulo de Filsofos, pormem um gnero de filosofia bem distinta da qual fiz tantos progressos, est dividida em 7 graus, na

    qual todos os graus manicos normalmente conhecidos formam a parte simblica. De todos osconhecimentos que pude adquirir at o presente momento, posso dizer que esta sociedade manica a que me pareceu ser a mais satisfatria e a mais adequada para ser dirigida ao homem de bem.

    (Carta ao baro de Hund, 14-18 de Dezembro de 1772)

    com a doutrina de Martinez de Pasqually, ensinada no seio de sua Ordem, que a Maonariaencontra sua verdadeira natureza. Esta natureza seria assim definida por Joseph de Maistre, dez anos

    mais tarde em suas memrias anteriormente citadas: O grande objetivo da Maonaria ser a cinciado homem (pg. 97).

    O que isto significa?

    Que a Maonaria dispensa a seus adeptos uma cincia do homem e do universo, que forosamentedeve derivar do conhecimento e da ao divina em um e em outro, como escrever Jean Baptiste

    Willermoz: Salomo e os fundadores da Maonaria primitiva no tiveram outro objetivo seno ode conduzir os iniciados ao conhecimento do homem, do universo temporal e dos agentes espirituais

    que devem exercer sua ao, por deciso do Criador, at o fim dos tempos (Instruo secreta aosGrandes Professos).

    Sebastian Mercier, em sua Tableau de Paris (publicada entre 1781 e 1790 em doze volumes),fornece um bom resumo da doutrina de Martinez de Pasqually:

    A base do sistema reside no fato de que o homem um ser degenerado, castigado em seu corpomaterial por suas faltas anteriores, mas que, por meio do raio divino que leva incorporado, pode serainda conduzido a um estado de grandeza, de fora e de luz. Um mundo invisvel, um mundo deespritos nos rodeia; o homem poderia ter-se comunicado com eles, e por meio deste intercmbio

    ampliar a esfera de seus conhecimentos, se sua m inteno e seus vcios no lhe tivessem feitoperder este importante segredo. O homem perdeu a permanncia na glria, na qual no retornar aadentrar at que saiba conhecer este centro fecundo onde reside a verdade, que una e indivisvel.

    Para entrar mais em detalhes, ainda que apenas de forma sumria, podemos dizer que esta doutrina de natureza cabalstica. Provm da Cabala Crist (seria mais adequado dizer: judaico-crist), daqual Pico della Mirandola fora o primeiro e um de seus mais ilustres representantes. Martinez de

    Pasqually, de fato, era ao mesmo tempo judeu e cristo, segundo a expresso de Franz VonBaader em Les Enseignements secrets de Martinez de Pasqually; Gunon acredita que ele poderiater tido origem sefaradi. Como tal, esta doutrina absolutamente tradicional. Aproxima-se muito,

    por exemplo, de Reuchlin exposta em sua De Arte Cabalstica (1557). Possui as caractersticas

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    habituais de toda a Cabala: exegese simblica e esotrica da Bblia, numerologia, cosmogonia eandrogonia, angelologia, teosofia, assuntos todos estes que, por outro lado, no so somente deordem especulativa e conceitual, mas que apresentam rituais invocatrios como base, quer dizer,rituais cujas operaes consistem em invocaes de certos Nomes. isto o que se subentende,propriamente falando, por prticas cabalsticas, ainda que tambm seja correto dizer que oscabalistas no so unicamente ou, ao menos essencialmente, sbios na teoria. No que se refere ao

    sistema elaborado por Martinez de Pasqually, o primeiro sistema manico cuja substnciainicitica e, por conseqncia, o ritual inicitico, est inteiramente fundamentado sobre:

    1) a queda do homem de seu estado original glorioso, e

    2) seu retorno, sua reintegrao por meio da iniciao a este estado primitivo, iniciao esta que,para poder ser operada, exige a intercesso e a ao do Grande Reparador,