31
A Omissão Inconstitucional do Estado de Goiás em Implementar a Defensoria Pública Estadual Bruno Malta Borges 1 1. Introdução A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 1º, incisos II e III, dispõe que a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em um Estado Democrático de Direito, tendo como fundamentos a cidadania e a dignidade da pessoa humana. No artigo 3º, incisos I e III, a nossa Lei Maior estabelece dentre os objetivos fundamentais da República a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, bem como a erradicação da pobreza e da marginalização, reduzindo-se as desigualdade sociais e regionais. Mais adiante, nos artigos 5º, inciso LXXIV e 134, a Carta Republicana garante que o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos, incumbindo à Defensoria Pública, Instituição essencial à função jurisdicional do Estado, a orientação jurídica e a defesa dos necessitados, em todos os graus. Não obstante tais direitos estarem positivados desde 05 de outubro de 1988, isto é, passados mais de 25 anos desde a promulgação de nossa Carta Constitucional, o Estado de Goiás ainda não conta com uma Defensoria Pública efetivamente implantada, com cargos de Defensores Públicos providos por profissionais aprovados em concurso próprio da Instituição, independentes e vocacionados para sua relevantíssima missão de 1 Advogado, especialista em Direito Público.

A Omissão Inconstitucional do Estado de Goiás em Implementar … · 2013-12-09 · 2 Disponível em - acessado em ... ... da 2ª Vara Fazenda Pública Estadual de Goiânia,

Embed Size (px)

Citation preview

A Omissão Inconstitucional do Estado de Goiás em Implementar a

Defensoria Pública Estadual

Bruno Malta Borges1

1. Introdução

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 1º, incisos II e III,

dispõe que a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel

dos Estados, Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em um Estado

Democrático de Direito, tendo como fundamentos a cidadania e a dignidade

da pessoa humana.

No artigo 3º, incisos I e III, a nossa Lei Maior estabelece dentre os

objetivos fundamentais da República a construção de uma sociedade livre,

justa e solidária, bem como a erradicação da pobreza e da marginalização,

reduzindo-se as desigualdade sociais e regionais.

Mais adiante, nos artigos 5º, inciso LXXIV e 134, a Carta

Republicana garante que o Estado prestará assistência jurídica integral e

gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos, incumbindo à

Defensoria Pública, Instituição essencial à função jurisdicional do Estado, a

orientação jurídica e a defesa dos necessitados, em todos os graus.

Não obstante tais direitos estarem positivados desde 05 de

outubro de 1988, isto é, passados mais de 25 anos desde a promulgação de

nossa Carta Constitucional, o Estado de Goiás ainda não conta com uma

Defensoria Pública efetivamente implantada, com cargos de Defensores

Públicos providos por profissionais aprovados em concurso próprio da

Instituição, independentes e vocacionados para sua relevantíssima missão de

1

Advogado, especialista em Direito Público.

promoção dos direitos humanos e da defesa, judicial e extrajudicial, dos

direitos individuais e coletivos, de forma integral, aos cidadãos mais pobres.

Segundo o Mapa da Defensoria Pública no Brasil2, publicado em

março de 2013, pelo IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, em

parceria com a ANADEP – Associação Nacional dos Defensores Públicos, o

Estado de Goiás conta com um déficit de 100% de defensores públicos para

cada 10.000 pessoas com rendimento mensal de até três salários-mínimos, o

que corresponde a um total aproximado de 39.497 cidadãos sem acesso à

justiça, vale dizer, sem direitos de cidadania.

Portanto, mais de duas décadas após a promulgação de uma

Constituição tida exatamente como “cidadã”, permanece para alguns

analistas a sensação de que há, em nosso país, dois Brasis – um real e outro

legal –, pois o ordenamento jurídico brasileiro seria condizente com as

democracias mais avançadas, mas possuiria um significado mais simbólico

do que efetivo (SADEK, 2005).

O Estado de Goiás, infelizmente, ratifica a existência desses dois

Brasis, pois há uma Defensoria Pública estruturada somente no plano formal,

com a Lei Complementar Estadual nº 51, de 19 de abril de 2005, e, no plano

material, uma grave omissão em implantar e implementar uma real

Defensoria Pública.

Nesse contexto, abordaremos de forma suscinta o direito

fundamental ao acesso à justiça, verificaremos a situação atual da Defensoria

Pública do Estado de Goiás, a condição dos necessitados em Goiás e a

caracterização de uma omissão inconstitucional em efetivar o direito ao

acesso à justiça por meio da criação da Defensoria Pública no estado.

No intuito de demonstrarmos a gravidade da omissão do Estado

de Goiás em implementar uma Defensoria Pública conforme a Constituição

da República, colacionaremos, ao final, quatro casos paradigmáticos que

2 Disponível em http://www.ipea.gov.br/sites/mapadefensoria - acessado em 06/11/2013.

denunciam a ausência da Defensoria Pública em Goiás e sua urgente

necessidade de implementação. Os casos referem-se à tutela de direitos

como: (a) a vida da população em situação de rua; (b) a condição peculiar de

adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de internação; (c) o

direito à saúde e (d) do direito ao acesso à justiça em si mesmo considerado,

com o que entendermos ser um exemplo de negativa de acesso à justiça pela

própria Defensoria Pública em Goiás.

2. Acesso à Justiça e Defensoria Pública

Segundo Maria Tereza Aina Sadek, o acesso à justiça é um dos

direitos mais básicos da cidadania:

“É um direito fundamental, erigido à condição de

cláusula pétrea pelo constituinte de 1987-8. A própria

Constituição traz os instrumentos que asseguram o seu

exercício, como a impossibilidade de excluir da apreciação do

Judiciário qualquer lesão ou ameaça a direito, a proteção da

ampla defesa e do contraditório nos processos em geral e o

dever estatal de prover a assistência juridical integral e

gratuita aos necessitados.” (SADEK, 2013, p. 21)

Ainda segudo SADEK, o direito ao acesso à justiça não se

confunde nem se limita ao ingresso no Poder Judiciário. Trata-se de direito

muito mais abrangente, pois refere-se a uma pluralidade de direitos que inclui

desde o reconhecimento de direitos até a ciência sobre as diferentes formas

de reclamá-los e sobre as instituições encarregadas de garanti-los. Envolve,

ainda, a resolução de problemas por diferentes meios, como o acordo, a

arbitragem, a conciliação, a mediação, enfim, tanto a via judicial como as vias

extrajudiciais. (SADEK, 2013, p. 21)

A fim de garantir o acesso à justiça, a Constituição Federal atribuiu

à Defensoria Pública a tutela dos direitos fundamentais dos indivíduos e

grupos sociais necessitados, cabendo aos estados implantar esta Instituição.

Nesse contexto, conforme assinala FENSTERSEIFER:

“Ao criar a Defensoria Pública, além de

proporcionar às pessoas necessitadas o acesso ao sistema de

justiça, a Constituição Federal também demonstra o seu

compromisso com a erradicação da pobreza e da

marginalização, bem como a redução das desigualdades

sociais e regionais (art. 3º, III), de modo a construir uma

sociedade livre, justa e solidária (art. 3º, I).”

(FENSTERSEIFER, 2012, p. 338)

Conforme refere Ana Paula de Barcellos, o direito ao acesso à

justiça compõe o mínimo existencial necessário a uma vida digna, sendo um

instrumento de realização dos demais direitos fundamentais que compõem o

mínimo existencial, como saúde, educação, moradia, alimentação,

assistência social, saneamento básico, qualidade ambiental, entre outros.

(FENSTERSEIFER, 2012, p. 350)

Para BARCELLOS, em um Estado de Direito:

“não basta a consagração normativa: é preciso

existir uma autoridade que seja capaz de impor coativamente

a obediência aos commandos jurídicos” de modo que “dizer

que o acesso à justiça é um dos componentes do núcleo da

dignidade humana significa dizer que todas as pessoas devem

ter acesso a tal autoridade: o Judiciário”. (BARCELLOS, 2008,

p. 325)

No plano internacional, destaca-se que a Organização dos

Estados Americanos (OEA) expediu a Resolução nº 2.656, afirmando que o

“acesso à justiça, como direito fundamental, é, ao mesmo tempo, o meio que

possibilita que se restabeleça o exercício dos direitos que tenham sido

ignorados ou violados, bem como:

“a i ort ncia unda enta do ser i o de

assist ncia jurídica ratuita ara a ro o ão e a rote ão do

direito ao acesso justi a de todas as essoas, e es ecia

da ue as ue se encontra e situa ão especial de

u nerabi idade.”

Além disso, a OEA reiterou a todos os Estados Membros que já

contam com o serviço de assistência jurídica gratuita que adotem ações

tendentes a que os defensores públicos oficiais gozem de independência,

autonomia funcional, financeira e técnica, e incentivou “os Estados membros

que ainda não disponham da instituição da defensoria pública que

considerem a possibilidade de criá- a”.

Desse modo, o Estado de Goiás vem privando os cidadãos

necessitados de um dos mais básicos direitos de cidadania, uma vez que

grande parcela da população não dispõe de um meio que possibilite que se

restabeleça o exercício dos direitos previstos em nosso ordenamento jurídico,

conforme abordaremos no próximo ponto.

3. Panorama real da Defensoria Pública do Estado de Goiás

Em Goiás, a Lei Complementar nº 51, de 19 de abril de 2005, criou

e organizou a Defensoria Pública estadual, dispondo, em seu artigo 17, que o

ingresso na carreira de Defensor Público dar-se-á em cargos da Terceira

Categoria, mediante aprovação prévia em concurso de provas e títulos, com

a participação da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção de Goiás.

No anexo único da Lei mencionada, referente ao artigo 41, fixou-se

o quantitativo do quadro de pessoal da carreira de Defensor Público do

Estado, com 60 defensores na Terceira Categoria, 40 defensores na

Segunda Categoria e 30 na Primeira Categoria, perfazendo um total de 130

defensores públicos.

No mês de agosto de 2010, portanto, há mais de 5 (cinco) anos da

promulgação da Lei Orgânica Estadual da Defensoria Pública do Estado de

Goiás, foi publicado o edital do que deveria ser o primeiro concurso para

provimento dos cargos de Defensores Públicos no Estado. A empresa

responsável pela realização do certame foi o Instituto Cidades, contratada

mediante dispensa de licitação, através do Contrato nº 17/2010, sob o

argumento de que teria “inquestionável reputação ético-profissional”.

Ocorre que o Instituto Cidades já à época era alvo de

investigações em diversas localidades no Brasil, a exemplo do ocorrido no

Estado do Amazonas, em que o Ministério Público local ofereceu denúncia

criminal contra referido Instituto em razão de fraude em concurso para

defensor público, investigada pela Polícia Federal. O concurso público foi

anulado depois que o Ministério Público encontrou provas com notas

idênticas (80 pontos). Filhos de defensores públicos e de secretários

municipais, além do irmão do superintendente regional do Dnit

(Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), passaram no

concurso com notas suspeitas.3

Outra denúncia contra o Instituto Cidades referia-se a um concurso

no Município de São Luís do Curu, no Estado do Ceará, onde o Instituto

responde por ato de improbidade administrativa em realização de concurso

para o quadro permanente da prefeitura e cadastro de reserva. Neste caso,

chegou a ocorrer o bloqueio judicial das contas do Instituto Cidades.

Sem a pretensão de esgotar todas as denúncias de fraude que

pesam contra o Instituto Cidades, este também responde por denúncias

referentes a certames realizados para a Junta Comercial do Ceará, bem

como para os municípios de Luís Correia-PI, Santa Rita-PB, Natal-RN,

Caucaia-CE e Bela Cruz, também no Ceará.

estarte, or eio do Ac rdão de nº 947 de 19 de abril de 2012, o

Tribunal de Contas do Estado de oiás, deter inou a sus ensão te orária

3

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/957877-fraude-em-concurso-para-defensor-

leva-a-prisao-no-am.shtml - acessado em 06/11/2013.

do oncurso b ico ara e ensoria b ica de oiás e a a ura ão das

den ncias or eio de ins e ão.

Outrossim, no dia 20 de abril de 2012, a juíza Suelenita Soares

Correia, da 2ª Vara Fazenda Pública Estadual de Goiânia, concedeu liminar

nos autos da Ação Declaratória nº 201201088180, suspendendo o concurso

para o cargo de defensor público do Estado de Goiás. Entre os requisitos que

justificaram a decisão, a magistrada apontou a não divulgação dos nomes

dos componentes da banca examinadora.

Em julho de 2012, o procurador de Contas, Eduardo Luz

Gonçalves, emitiu um parecer favorável à continuidade do certame, desde

que fossem sanadas as supostas irregularidades, sugerindo ainda que

fossem divulgados os nomes dos membros da banca examinadora e

disponibilizados os recursos interpostos em relação às provas discursivas. No

mês de setembro daquele ano, no entanto, a promotora de Justiça Fabiana

Zamalloa do Prado recomendou à Secretaria Estadual de Ciência e

Tecnologia a anulação do atual concurso e a deflagração de novo edital no

prazo máximo de 60 dias.

No dia 26 de setembro de 2012, a Procuradoria Geral de Contas

junto ao Tribunal de Contas de Goiás reiterou o seu parecer favorável a

continuidade do concurso para Defensor Público no Estado. De acordo com o

documento, “as irregularidades apontadas não devem servir per si de

subsídio para paralisar o certame, mormente ao se levar em consideração o

fato de este ser o primeiro concurso desta natureza, vale dizer, que a carreira

de Defensor Público do Estado de Goiás ainda não foi implantada

transcorridos quase 25 anos da promulgação da Constituição da República

Federativa do Brasil – RFB/88.”

Em 15 de outubro de 2010, a Associação Nacional dos Defensores

Públicos – ANADEP noticiou o envio de ofícios ao governador de Goiás, ao

Ministério da Justiça, ao Procurador Geral da República, ao Ministério Público

Federal em Goiás, ao Ministério Público Estadual, à OAB Nacional e à OAB

Estadual denunciando irregularidades constitucionais no modelo de

Defensoria Pública que vem sendo implantado em Goiás.4

De acordo com a ANADEP, a Lei Complementar nº 51/2005 que

criou a Defensoria Pública em Goiás já havia sofrido duas alterações que

desfiguravam o modelo nacional, estabelecido pela Lei Orgânica da

Defensoria Pública (LC 80/94). Primeiro, a LC nº 61/2008 modificou a

estrutura organizacional da Instituição. Em seguida, a LC nº84/2011 deu ao

Governador do Estado o poder de nomear e exonerar qualquer advogado

para o cargo de Defensor Público Geral, quando a Constituição Federal

(art.134) estabelece que o cargo de chefe institucional deve ser privativo de

integrantes de carreira.

Desta forma, antes mesmo que fosse concluído o concurso para a

contratação de Defensores Públicos de carreira, foi nomeado o Defensor

Público Geral interino João Paulo Brzezinski da Cunha, que, destaque-se, era

advogado pessoal do Governador do Estado, Marconi Perillo, e criada uma

estrutura de cargos comissionados, tanto na Administração Superior da

Defensoria Pública de Goiás como na prestação dos serviços jurídicos à

população, violando as normas que exigem concurso público e resultando na

completa falta de autonomia funcional e administrativa da Instituição,

também definida na Constituição Federal.

Para agravar o quadro, a ANADEP recebeu vários documentos

informando que o Defensor Público Geral interino e outros membros da

Administração Superior estariam exercendo a advocacia em paralelo às

atividades prestadas na Defensoria Pública, fato que é vedado pela

Constituição Federal, pela lei estadual que criou a Defensoria em Goiás e

pelo próprio Estatuto da OAB, que enfatiza que o exercício da advocacia é

incompatível com atividades exercidas por ocupantes de cargos ou funções

de direção em órgãos da Administração Pública direta ou indireta.

4 Fonte: http://www.anadep.org.br/wtk/pagina/materia?id=15615 - acessado em 06/11/2013.

Segundo a ANADEP, a imprensa local havia divulgado a recente

assinatura de um convênio da Defensoria Pública de Goiás com a OAB do

Estado, para pagamento de honorários de advogado dativo no valor de R$

23.712.314,15 (vinte e três milhões, setecentos e doze mil, trezentos e

quatorze reais quinze centavos). Ou seja, o Governo estaria investindo na

terceirização dos serviços da Defensoria Pública, por meio de um convênio

com a OAB de Goiás, quando o próprio Supremo Tribunal Federal já havia

rechaçado esse modelo e decidiu, por unanimidade, ser “inconstituciona

normas que privilegiam a prestação – pelo Estado – do serviço de assistência

jurídica gratuita através da contratação de advogados em detrimento do

investimento na Defensoria b ica”(A I 4163/São Paulo).

Segundo consta do ofício enviado pela ANADEP:

“U a vez que não há uma Defensoria Pública de

verdade no estado de Goiás nos moldes da Constituição

Federal e da Lei Complementar Federal nº 80/94 e, ainda

mais grave, estando em plena construção e implantação um

modelo inconstitucional – já rechaçado em diversas

oportunidades pelo Supremo Tribunal Federal – de assistência

jurídica gratuita precária e terceirizada, não pode a assim

chamada Defensoria Pública de Goiás receber qualquer verba

do Governo Federal ou do BNDES para o fomento desse

modelo.

A ANADEP solicita, portanto, a manifestação do

Ministério da Justiça no sentido da suspensão de qualquer

repasse de recursos federais, seja da administração direta ou

indireta, para a Defensoria Pública do Estado de Goiás, até

que ela seja instalada nos moldes da Constituição Federal e

da Lei Complementar Federal nº80/94; a elaboração de nota

técnica, inclusive por parte dos demais órgãos acionados

órgãos acionados, rechaçando os moldes legais em que se

estrutura a Defensoria Pública goiana e, ainda, apoio para a

efetiva implantação da Defensoria Pública daquela unidade da

federação, inclusive para a imediata conclusão do 1º

Concurso b ico”

Recentemente, mais precisamente em 13 de agosto de 2013, o

governador do Estado de Goiás firmou Termo de Ajustamento de Conduta -

TAC com o Ministério Público estadual, comprometendo-se a realizar novo

concurso para defensor público.

Conforme o documento, o estado tem até o dia 2 de janeiro de

2014 para escolher a instituição responsável pela realização do concurso e

divulgar o edital. A homologação precisa ser feita até 1º de julho de 2014 e a

nomeação dos aprovados deverá acontecer no prazo de até 10 dias após a

validação do resultado.5

O Ministério Público propôs a realização do concurso ao constatar,

por meio de inquérito, que 78 servidores de outros órgãos, sendo 23

comissionados, desempenham irregularmente a função de defensor, em

desvio de função. Além deles, há apenas seis servidores no órgão.

Ocorre que a Lei Complementar estadual nº 51/2005, como

mencionado, determina que a Defensoria Pública de Goiás deve ser

composta por um quadro de 130 defensores, de modo que a previsão de

apenas 14 (catorze) vagas não é suficiente para sanar a omissão

inconstitucional do Estado de Goiás em implantar uma Defensoria Pública

nos moldes da Constituição Federal e da Lei Complementar federal nº 80/94.

O Estado de Goiás alega que a razão de o TAC prever apenas 14

vagas é que as 40 vagas restantes teriam de ser preenchidas por aprovados

no concurso realizado pelo Instituto Cidades, regido pelo edital nº 011/2010.

No entanto, é razoável antever que muitos dos candidatos que serão

aprovados no certame de 2010, espalhados por todo o Brasil, já foram

aprovados em outros concursos públicos e não terão interesse em assumir o

cargo em Goiás.

Assim, ainda que o Estado de Goiás cumpra o Termo de

Ajustamento de Conduta – TAC firmado com o Ministério Público de Goiás,

5

Fonte: http://g1.globo.com/goias/noticia/2013/08/governo-de-goias-vai-realizar-novo-

concurso-para-defensor-publico.html - acessado em 06/06/2013.

realizando o certame e provendo 14 cargos de defensor publico, estará,

apenas, passando de uma omissão total para uma omissão inconstitucional

parcial, sem resolver o problema do acesso à justiça dos necessitados.

4. Da omissão inconstitucional do Estado de Goiás

Segundo Gilmar Ferreira Mendes, a problemática atinente à

inconstitucionalidade por omissão constitui um dos mais tormentosos e, ao

mesmo tempo, um dos mais fascinantes temas do direito constitucional,

sendo:

“ unda enta sobretudo para a concretização da Constituição

como um todo, isto é, para a realização do próprio Estado de

Direito democrático, fundado na soberania, na cidadania, na

dignidade da pessoa humana, nos valores sociais do trabalho,

da iniciativa privada, e no pluralismo político, tal como

estabelecido no artigo 1º da Carta Ma na.”(MENDES, 2009, p.

1.229)

A omissão inconstitucional, vale dizer, o descumprimento, por

inércia estatal, de norma impositiva prevista na Constituição, poderá ser total

ou parcial, configurando-se aquela diante de uma completa omissão e esta

derivada de insuficiente concretização, pelo Poder Público, do conteúdo

material da norma impositiva fundada na Carta Política.

Com efeito, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Agravo

de Instrumento nº 598212, proveniente do Estado do Paraná, entendeu pela

omissão daquele Estado em implantar a Defensoria Pública, em decisão

monocrática do Relator, Eminente Ministro Celso de Mello, com a seguinte

ementa:

“Defensoria Pública. Implantação. Omissão estatal que

compromete e frustra direitos fundamentais de pessoas

necessitadas. Situação constitucionalmente intolerável. O

reconhecimento, em favor de populações carentes e

desassistidas, postas à margem do sistema jurídico, do ‘direito

a ter direitos’ como pressuposto de acesso aos demais

direitos, liberdades e garantias. Intervenção jurisdicional

concretizadora de programa constitucional destinado a

viabilizar o acesso dos necessitados à orientação jurídica

integral e à assistência judiciária gratuitas (CF, art. 5º, LXXIV,

e art. 134). Legitimidade dessa atuação dos juízes e tribunais.

O papel do Poder Judiciário na implementação de políticas

públicas instituídas pela Constituição e não efetivadas pelo

poder público. A fórmula da reserva do possível na

perspectiva da teoria dos custos dos direitos: impossibilidade

de sua invocação para legitimar o injusto inadimplemento de

deveres estatais de prestação constitucionalmente impostos

ao Estado. A teoria das ‘restri ões das restri ões’ (ou da

‘ i ita ão das i ita ões’). Controle jurisdicional de

legitimidade sobre a omissão do Estado: atividade de

fiscalização judicial que se justifica pela necessidade de

observância de certos parâmetros constitucionais (proibição

de retrocesso social, proteção ao mínimo existencial, vedação

da proibição insuficiente e proibição de excesso). Doutrina.

Precedentes. A função constitucional da Defensoria Pública e

a essencialidade dessa instituição da República. Recurso

extraordinário conhecido e ro ido.” (AI 598.212, rel. min.

Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 10-6-

2013, DJE de 20-6-2013.)

Em seu voto, o Ministro Celso de Mello ressaltou a essencialidade

da Defensoria Pública como instrumento de concretização dos direitos e das

liberdades de que também são titulares as pessoas carentes e necessitadas,

bem como destacou que:

“La enta e ente, o povo brasileiro continua não

tendo acesso pleno ao sistema de administração da Justiça,

não obstante a experiência altamente positiva dos Juizados

Especiais, cuja implantação efetivamente vem aproximando o

cidadão comum do aparelho judiciário do Estado. É preciso,

no entanto, dar passos mais positivos no sentido de atender à

justa reinvindicação da sociedade civil que exige, do Estado,

nada mais senão o simples e puro cumprimento integral do

dever que lhe impôs o art. 134 da Constituição da República.”

Celso de Mello ainda afirmou que a omissão do Estado qualifica-se

como comportamento revestido da maior gravidade político-jurídica, uma vez

que, mediante inércia, o Poder Público também desrespeita a Constituição,

também ofende direitos que nela se fundam e também impede, por ausência

(ou insuficiência) de medidas concretizadoras, a própria aplicabilidade dos

postulados e princípios da Lei Fundamental.

Em outro aresto do Excelso Tribunal, da lavra do Eminente

Ministro Carlos Ayres Britto, Relator do Recurso Extraordinário nº

574.353/PR, consignou-se que:

“5. (...) De saída, anoto que as defensorias

públicas são aparelhos genuinamente estatais ou de

existência necessária. Exercentes de atividade estatal

permanente, portanto. Mais que isso, unidades de serviço

que se inscrevem no rol daquelas que desempenham

função essencial à jurisdição. Tudo nos termos do art. 134 e

do inciso LXXIV do art. 5º da Carta Magna, a saber: “Art. 134.

A defensoria Pública é instituição essencial à função

jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e

a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do

art. 5º, LXXIV. § 1º Lei complementar organizará a defensoria

Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e

prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados,

em cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante

concurso público de provas e títulos, assegurada a seus

integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício

da advocacia fora das atribuições institucionais. § 2º Às

defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia

funcional e administrativa, e a iniciativa de sua proposta

orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de

diretrizes orçamentárias e subordinação ao disposto no art.

99, § 2º.” “Art. 5º LXXIV - o Estado prestará assistência

jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência

de recursos.” 5. Ve-se, portanto, que a Constituição Federal

alçou a defensoria pública ao patamar de instituição

permanente, essencial à prestação jurisdicional do

Estado. Uma instituição especificamente voltada para a

implementação de políticas públicas de assistência

jurídica, assim no campo administrativo como no judicial.

Pelo que, sob este último prisma, se revela como

instrumento de democratização do acesso às instâncias

judiciárias, de modo a efetivar o valor constitucional da

universalização da justiça (inciso XXXV do art. 5º do Texto

Magno). Fazendo de tal acesso um direito que se desfruta às

expensas do Estado, em ordem a se postarem (as

defensorias) como um luminoso ponto de interseção do

constitucionalismo liberal com o social. Vale dizer, fazem com

que um clássico direito individual se mescle com um moderno

direito social. Tornando a prestação jurisdicional do Estado um

efetivo dever de tratar desigualmente pessoas

economicamente desiguais. Os mais pobres a compensar a

sua inferioridade material com a superioridade jurídica de um

gratuito bater às portas do Poder Judiciário. O que já se traduz

na concreta possibilidade de gozo do fundamental direito de

ser parte processual. Parte que, perante outra, vai compor a

relação sem a qual a jurisdição mesma não tem como operar

na órbita dos chamados processos subjetivos. A jurisdição e

os órgãos que lhe são essenciais a se imbricar, portanto, sem

que se possa dizer onde começa uma e terminam os outros.

Numa frase, aparelhar as defensorias públicas é servir, sim,

ao desígnio constitucional de universalizar e aperfeiçoar a

própria jurisdição como atividade básica do Estado e função

específica do Poder Judiciário. Daí o prestígio que a EC

45/2004 conferiu a todas as defensorias (públicas),in verbis:

“Os recursos correspondentes às dotações orçamentárias,

compreendidos os créditos suplementares e especiais,

destinados aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário,

do Ministério Público e da Defensoria Pública, ser-lhes-ão

entregues até o dia 20 de cada mês, em duodécimos, na

forma da lei complementar a que se refere o art. 165, § 9º.

(Art. 168, com a redação introduzida pela EC 45/04).”

(grifamos)

Desse modo, o Supremo Tribunal Federal, em referidos

julgamentos, colmatou omissões governamentais e conferiu real efetividade a

direitos essenciais, dando-lhes concreção e viabilizando, desse modo, o

acesso das pessoas à plena fruição de direitos fundamentais cuja realização

prática lhes estava sendo negada, injustamente, por arbitrária abstenção do

Poder Público. (CELSO DE MELLO)

Em Goiás, a realidade da Defensoria Pública insere-se

perfeitamente no quadro da arbitrária abstenção por parte do Poder

Executivo, fazendo com que um número considerável de cidadãos

permaneçam sem “direito a ter direitos”, na célebre expressão de Hannah

Arendt, conforme se abordará no próximo ponto.

5. A situação dos necessitados em Goiás

A fim de ilustrar a urgência da instalação da Defensoria Pública e a

trágica situação das pessoas necessitadas em Goiás, colacionamos alguns

casos paradigmáticos que denunciam a consequência da ausência da

Instituição nessa unidade da federação. Os casos compõem um volume

bastante amplo, de modo que elencar todos os exemplos extrapolaria os

limites do presente trabalho.

5.1. O caso dos assassinatos de pessoas em situação de rua

em Goiânia

Inicialmente, destaca-se que já passa de 40 o número de pessoas

em situação de rua assassinadas na Capital do Estado de Goiás durante o

ano de 2013, conforme noticiou o Jornal O Popular:

“Mais um morador de rua é morto durante a madrugada

Por Rosana Melo

Mais um morador de rua foi assassinado em

Goiânia na madrugada de ontem, na esquina da Rua 230 com

a 9ª Avenida, na Vila Nova. Ainda sem identificação, o homem

de aproximadamente 35 anos era conhecido por usuários de

droga da região como Coroa.

Ele estava com mais quatro pessoas usando droga

no local quando dois homens em uma motocicleta vermelha

passaram e o garupa atirou na vítima, atingida nas costas. O

tiro transfixou e saiu no peito do homem.

Segundo a ocorrência da Delegacia de

Homicídios, a perícia informou preliminarmente que o tiro foi

disparado de uma arma de calibre pequeno, provavelmente

22. A delegada Tatiana Barbosa, adjunta da Delegacia de

Homicídios, investiga o caso.

Esta é a 40ª execução de morador de rua ou em

situação de rua nos últimos 15 meses na capital, além de

um ocorrido em Aparecida de Goiânia e outro em

Trindade. Dez tentativas de homicídio contra a população de

rua são investigadas pela Polícia Civil.

A Polícia Civil, responsável pelas investigações,

nega relação entre os crimes e descarta a existência de um

grupo de extermínio de usuários de droga que moram nas

ruas da cidade. Em maio, o então procurador-geral da

República, Roberto Gurgel, enviou documento ao Superior

Tribunal de Justiça (STJ) pedindo que a Justiça Federal de

Goiás apure as ortes.”6 (grifamos)

Em um desses homicídios, a vítima foi uma criança de apenas 11

anos de idade, agredida com pauladas até a morte, juntamente com um outro

adulto de aproximadamente 30 anos de idade.7

O interessante nesses casos é que as Polícias Militar e Civil

justificam as mortes alegando serem as vítimas usuárias de drogas, como se

este fato reduzisse o valor de suas vidas ou a dignidade a elas intrínseca.

Em casos como tais, a Defensoria Pública pode atuar na tutela

coletiva dessas pessoas, pleiteando no Poder Judiciário a proteção da vida e

a realização de políticas públicas previstas no Plano Nacional para a

População em Situação de Rua, regulado pelo Decreto Federal nº

7.053/2009, dentre as quais o acesso amplo, simplificado e seguro aos

serviços e programas de saúde, assistência social, moradia, segurança,

respeitando-se, assim, a dignidade de tais pessoas e valorizando-se o

respeito à vida e à cidadania.

Além disso, por força da Lei Complementar Federal nº 80/94, a

Defensoria Pública tem poderes para fazer encaminhamentos e requisitar

atendimentos no âmbito do Sistema Nacional de Assistência Social, bem

como no Sistema Único de Saúde.

Ademais, a Defensoria Pública tem legitimidade para apresentar

petição individual na qualidade de representante das vítimas de violações de

direitos humanos perante o Sistema Interamericano de Direitos Humanos, por

meio da Comissão Interamericana de Direitos Humanos que, além de

recomendar a adoção de medidas provisórias para a proteção da população

em situação de rua no Brasil, pode levar o caso até a Corte Interamericana

de Direitos Humanos, no intuito de obter a condenação do Estado brasileiro

6

Fonte: http://www.opopular.com.br/cmlink/o-popular/busca?q=morador+de+rua+assassinado - acesso em 06/11/2013 7 Disponível em http://www.opopular.com.br/editorias/cidades/morador-de-rua-e-criança-

morrem-a-pauladas-1.303500?localLinksEnabled=false - acessado em 06/11/2013.

pela violação dos direitos humanos da população em situação de rua em

Goiânia.

A esse respeito, vale mencionar o Projeto População em Situação

de Rua da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro8, que tem como

objeto a inclusão social da população em situação de rua e a viabilização de

acesso a justiça a esse grupo que, tradicionalmente, nunca teve condições

de tutelar juridicamente seus direitos e interesses, sempre marcados pela

exclusão social e caracterizados como vítimas de processos sociais, políticos

e econômicos excludentes.

Vale ainda a menção ao Projeto Atendimento Jurídico à População

em Situação de Rua da Cidade de São Paulo, nascido de uma demanda

formulada pelo Movimento Nacional de População de Rua, e u a arceria

da e ensoria b ica do stado de ão au o co a e ensoria b ica da

União, tendo co o ri eiro ruto a ce ebra ão de Acordo de oo era ão

entre o Minist rio da Justi a e a e ensoria b ica do stado de ão Paulo,

objetivando a conju a ão de es or os dos artíci es, co o i de

desen o er e estruturar o RO RAMA A IM O JUR I O A

O ULA O M I UA O RUA O A O O AULO, a ser

desen o ida e a e ensoria b ica do stado de ão Paulo com o apoio

da ecretaria de Re or a do Judiciário do Minist rio da Justi a.

Com efeito, por força do artigo 1º, caput, da Lei Complementar nº

80/94, com a redação que lhe foi dada pela Lei Complementar nº 132/2009: A

Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional

do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime

democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos

direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos

direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados,

assim considerados na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição

Federal.

Ademais, dentre as funções institucionais da Defensoria Pública

8 Fonte: http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Repositorio/31/Documentos/Projeto_Básico_-

_População_em_Situação_de_Rua.pdf - acessado em 06/11/2013.

previstas no artigo 4º da lei mencionada, estão, entre outras, a orientação

judicial e a defesa dos necessitados, em todos os graus (inciso I); promover a

difusão e a conscientização dos direitos humanos, da cidadania e do

ordenamento jurídico (inciso II); promover ação civil pública e todas as

espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos direitos

difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando o resultado da

demanda puder beneficiar grupo de pessoas hipossuficientes (inciso VII);

promover a mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos necessitados,

abrangendo seus direitos individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais

e ambientais, sendo admissíveis todas as espécies de ações capazes de

propiciar sua adequada e efetiva tutela (inciso X), bem como exercer a

defesa dos interesses individuais e coletivos da criança e do adolescente, do

idoso, da pessoa portadora de necessidades especiais, da mulher vítima de

violência doméstica e familiar e de outros grupos sociais vulneráveis que

mereçam proteção especial do Estado (inciso XI).

Destarte, verifica-se a completa omissão do Estado de Goiás em

respeitar e garantir os direitos humanos da população em situação de rua, de

modo que a implantação da Defensoria Pública significaria conferir a

proteção e a promoção dos direitos humanos desses que podem ser

considerados socialmente invisíveis.

1.2. O caso da unidade de cumprimento de Medida

Socioeducativa de Internação em um batalhão da Polícia Militar

A Constituição Federal, em seu artigo 227, estabelece como dever

da família, da sociedade e do Estado assegurar os direitos de crianças e

adolescentes, com absoluta prioridade e, no artigo 228, assegura que os

menores de dezoito anos são inimputáveis, sujeitos às normas da legislação

estadual.

Segundo as Regras Mínimas das Nações Unidas Para a Proteção

dos Jovens Privados em Liberdade, denominadas Diretrizes de Tóquio:

“Art. 32. O desenho dos centros de detenção para

jovens e o ambiente físico deverão corresponder a sua

finalidade, ou seja, a reabilitação dos jovens internados, em

tratamento, levando devidamente em conta a sua necessidade

de intimidade, de estímulos sensoriais, de possibilidades de

associação com seus companheiros e de participação em

atividades esportivas, exercícios físicos e atividades de

entreteni ento.”

No mesmo sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA,

Lei nº 8.069/90, em seu artigo 121, caput, prevê que “a internação constitui

medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios da brevidade,

excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em

desen o i ento.”

Ainda, o art. 125, caput, do ECA, dispõe que “ dever do Estado

zelar pela integridade física e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as

medidas adequadas de contenção e se uran a.”

Ademais, segundo o artigo 15 da Lei nº 12.594/2012, que institui o

Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) e regulamenta a

execução das medidas socioeducativas destinadas a adolescente que

pratique ato infracional, são requisitos específicos para a inscrição de

programas de regime de semiliberdade ou internação, a comprovação da

existência de estabelecimento educacional com instalações adequadas e em

conformidade com as normas de referencia.

Outrossim, no artigo 17, caput e § 1º da lei citada acima, está

expresso que a estrutura física da unidade deverá ser compatível com as

normas de referência do SINASE, sendo vedada a edificação de unidades

socioeducacionais em espaços contíguos, anexos, ou de qualquer outra

forma integrados a estabelecimentos penais.

Seguindo as diretrizes previstas para a política de atendimento a

crianças e adolescentes, dentre elas, a contida no inciso V, do artigo 88, do

ECA, a integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público,

Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social, preferencialmente em

um mesmo local, para efeito de agilização do atendimento inicial a

adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional, o Fórum Nacional

dos Defensores Públicos Coordenadores de Defesa dos Direitos das

Crianças e Adolescentes recomendou:

“I - As Defensorias Públicas Estaduais manterão

atendimento jurídico especializado aos adolescentes e jovens

nas unidades de cumprimento de medida socioeducativa

privativa de liberdade (internação e semiliberdade);

II – O atendimento in loco ao adolescente ou ao

jovem privado de liberdade, para fins de comunicação de sua

situação processual (art. 124, III e IV do ECA), observará

periodicidade minima mensal e, preferencialmente, sem prévio

aviso a direção da unidade quanto à data de sua realização;

III – O atendimento supramencionado deverá ser

realizado, preferencialmente, pelo Defensor Público com

atribuição para atuar no processo de conhecimento e/ou de

execução que determinou a privação de liberdade do

adolescente e do jo e ”.

Distanciando-se completamente das normas especiais voltadas à

proteção de crianças e adolescentes, o Estado de Goiás instalou um centro

de internação para adolescentes em um batalhão da Polícia Militar, sendo

certo que a existência de uma unidade nessas condições é incompatível com

as normas do SINASE.

Após inspeção realizada na unidade, o Ministério Público do

Estado de Goiás propôs Ação Civil Pública em face do Estado de Goiás e da

Secretaria Estadual de Cidadania e Trabalho pedindo que sejam condenados

a edificar, instalar e colocar em efetivo uma unidade de internação de

adolescentes responsabilizados por atos infracionais em Goiânia. Requereu-

se, ainda, a imposição de multa diária de R$ 10.000,00 (dez mil reais) no

caso de atraso na edificação, instalação ou colocação em efetivo

funcionamento da referida unidade, nos termos do artigo 213, §2º do Estatuto

da Criança e do Adolescente.

Louvável a iniciativa do Ministério Público goiano com a

propositura da Ação Civil Pública acima mencionado. Entretanto, por vezes,

as atribuições do parquet se chocam com os direitos dos adolescentes, uma

vez que o Ministério Público também é a Instituição responsável pela

persecução infracional, incumbida de promover a representação de ato

infracional atribuído a adolescentes, sendo certo que a existência da

Defensoria Pública representaria uma maior proteção aos adolescentes,

sobretudo nos casos em que os interesses do parquet estiverem em conflito

com os de adolescentes responsáveis por atos infracionais.

A título de exemplo da atuação da Defensoria Pública na tutela de

direitos de adolescentes internados, vale destacar a atuação da Defensoria

Pública do Estado de São Paulo, que intentou ação civil pública em face da

Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente – Casa

(antiga Febem) em Ribeirão Preto, visando impedir a raspagem forçada de

cabelos dos adolescentes lá internados. Foi deferida medida liminar, e a

demanda foi julgada procedente em primeiro grau. A Fundação Casa

apresentou recurso de apelação, mas a este foi negado provimento, a

unanimidade, pela Câmara Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo,

relatora a Desembargadora Olívia Alves, em 25/07/2011 (Processo 0533279-

71.2919.8.26.0000).9

“Va e acrescentar que, após a discussão suscitada pela Defensoria

de Ribeirão Preto, as práticas de raspagem ou corte coativos foram abolidas

em todas as unidades de internação do stado.” (SOUSA, 2013, p. 22)

Desse modo, fica demonstrado que o Estado de Goiás não vem

cumprindo com o direito à proteção integral a que fazem jus os adolescentes,

por força do artigo 227 da Constituição e artigo 3º do Estatuto da Criança e

do Adolescente, pois ausente um dos atores do Sistema de Justiça e de

proteção às crianças e adolescentes em Goiás, a Defensoria Pública.

1.3. O caso da menina Julia Gabriele em Anápolis

9 SOUSA, José Augusto Garcia de. I Relatório Nacional de Atuações Coletivas da Defensoria

Pública: Um estudo empírico sob a ótica dos “consu idores”do sistema de justiça. Brasília: ANADEP, 2013, p. 22.

Em 06 de novembro de 2013, o portal G1 e o programa de

televisão Bom Dia Goiás noticiaram a situação peculiar da menina Julia

Gabriele, que tem 9 anos de idade e pesa 14 kg, tendo nascido com paralisia

cerebral 10 , com necessidade de medicamentos e suplementos de uso

contínuo e por tempo indeterminado, os quais não tem sido fornecidos pelo

Município de Anápolis, mesmo após ter se comprometido, em março de

2013, a dar “tota su orte” à criança.

A mãe da menina conta que todos os meses Julia toma quatro

caixas de dois medicamentos, um no valor de R$ 60,00 (sessenta reais) e

outro de R$ 30,00 (trinta reais). Além disso, há a necessidade de fraldas

antialérgicas e materiais usados em uma sonda, perfazendo um gasto total

mensal de mais de R$ 500,00 (quinhentos reais), valor que não tem

condições de pagar sem prejuízo de seu sustento e de sua família.

Segundo o Defensor Público paulista Luiz Rascovski, “a questão

dos medicamentos, notadamente sua dispensação pelo Poder Público,

consiste em uma das principais pautas de enfrentamento por qualquer

Defensoria b ica”. (RASCOVSKI, 2013, p. 163)

Em razão da integralidade do sistema único de saúde, a obrigação

de fornecer medicamentos cabe a todos os entes da Federação, sendo,

portanto, de responsabilidade solidária da União, Estados, Distrito Federal e

Municípios o fornecimento de medicamentos. Diante disso, a parte

necessitada pode escolher em face de qual ente ajuizará sua demanda.

Nesse sentido, há farta jurisprudência do Supremo Tribunal

Federal, pelo que colacionamos a seguir a ementa de acórdão da 2a Turma

do Supremo Tribunal Federal decidiu, no julgamento do Recurso

Extraordinário nº 195.192-3, proveniente do Rio Grande do Sul:

“MA A O DE SEGURANÇA - ADEQUAÇÃO - INCISO

LXIX, DO ARTIGO 5º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Uma

vez assentado no acórdão proferido o concurso da primeira

10

Fonte: http://g1.globo.com/goias/noticia/2013/11/mae-de-menina-de-9-anos-e-que-pesa-

14-kg-pede-que-prefeitura-doe-remedios.html - acessado em 08/11/2013.

condição da ação mandamental - direito líquido e certo -

descabe concluir pela transgressão ao inciso LXIX do artigo 5º

da Constituição Federal. SAÚDE - AQUISIÇÃO E

FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS - DOENÇA RARA.

Incumbe ao Estado (gênero) proporcionar meios visando

a alcançar a saúde, especialmente quando envolvida

criança e adolescente. O Sistema Único de Saúde torna a

responsabilidade linear alcançando a União, os Estados, o

Distrito Federal e os Municípios.

(STF, RE 195192, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO,

Segunda Turma, julgado em 22/02/2000, DJ 31-03-2000 PP-

00060 EMENT VOL-01985-02 PP-00266)” (grifamos)

Do mesmo modo, o Superior Tribunal de Justiça:

“A MI I RA IVO. MEDICAMENTO OU CONGÊNERE.

PESSOA DESPROVIDA DE RECURSOS FINANCEIROS.

FORNECIMENTO GRATUITO. RESPONSABILIDADE

SOLIDÁRIA DA UNIÃO, ESTADOS-MEMBROS, DISTRITO

FEDERAL E MUNICÍPIOS. 1. Em sede de recurso especial,

somente se cogita de questão federal, e não de matérias

atinentes a direito estadual ou local, ainda mais quando

desprovidas de conteúdo normativo. 2. Recurso no qual se

discute a legitimidade passiva do Município para figurar em

demanda judicial cuja pretensão é o fornecimento de prótese

imprescindível à locomoção de pessoa carente, portadora de

deficiência motora resultante de meningite bacteriana. 3. A Lei

Federal n.º 8.080/90, com fundamento na Constituição da

República, classifica a saúde como um direito de todos e

dever do Estado. 4. É obrigação do Estado (União,

Estados-membros, Distrito Federal e Municípios)

assegurar às pessoas desprovidas de recursos

financeiros o acesso à medicação ou congênere

necessário à cura, controle ou abrandamento de suas

enfermidades, sobretudo, as mais graves. 5. Sendo o SUS

composto pela União, Estados-membros e Municípios, é de

reconhecer-se, em função da solidariedade, a legitimidade

passiva de quaisquer deles no pólo passivo da demanda. 6.

Recurso especial improvido.

(STJ, Relator: Ministro CASTRO MEIRA, Data de Julgamento:

16/11/2004, T2 - SEGUNDA URMA)” (grifamos)

Destarte, diante da recusa do fornecimento de medicamentos e

suplementos à menina Julia Gabriele, por parte do Município de Anápolis,

caberia à Defensoria Pública do Estado de Goiás promover o acesso à justiça

dessa criança, representada por sua mãe, pleiteando o fornecimento de

medicamentos em face do Estado de Goiás e do Município de Anápolis.

Nota-se, portanto, a necessidade de uma Defensoria Pública

autônoma, nos moldes do § 2º, do art. 134, da Constituição Federal, uma vez

que, por vezes, sua atuação poderá levar o Estado de Goiás a ser

condenado a efetivar direitos fundamentais.

Desta forma, mostra-se, mais uma vez, a urgência da implantação

de uma Defensoria Pública em Goiás, alinhada com seu mister constitucional

de promover o acesso à justiça aos necessitados, com autonomia frente a

possíveis desmandos e interferência em sua atuação por parte do Estado

instituidor.

5.4. O caso da Sra. Maria do Socorro Lopes

Em 12 de fevereiro de 2012, o Jornal O Popular deu notícia do

sentimento de desamparo que assola a dona de casa Maria do Socorro

Lopes, de 48 anos, que desistiu dos serviços oferecidos pela Defensoria

Pública de Goiás para conseguir que o pai de seu filho voltasse a pagar a

pensão alimentícia de seu filho de 14 (quatorze) anos de idade.

A única informação que ela obteve é de que o Judiciário expediu,

em julho de 2011, uma intimação para o ex-marido, mas ele ainda não teria

recebido o documento. “Nunca me apresentaram a minha advogada nem

explicaram o porquê da demora. Só me mandam aguardar e dizem que

não podem acompanhar o meu caso porque os advogados têm muitas pilhas

de rocessos”, lamenta. “Os termos jurídicos são muito difíceis de

entender e é muito ruim quando ninguém te orienta. Fiquei trau atizada”,

pondera, acrescentado que não tem dinheiro para comprar um uniforme para

o filho ir à escola.11

As palavras da Sra. Maria do Socorro demonstram o desamparo e

a negativa de acesso à justiça, que não se confunde com o mero acesso ao

Poder Judiciário, devendo ser entendido como acesso a uma ordem jurídica

justa (WATANABE), rápida e eficaz.

Nesse contexto, afirmamos que o caso ora relatado representa

uma negativa de acesso à justiça pela própria Defensoria Pública do Estado

de Goiás, uma vez que a falta de estrutura, aliada ao despreparo dos

“de ensores b icos” para lidar com o cidadão necessitado, levaram a Sra.

Maria do Socorro a desistir de buscar a tutela jurisdicional.

Desse modo, Defensores Públicos devem ser vocacionados e

preparados para lidar com os destinatários de seus serviços, deixando de

lado os formalismos e os termos jurídicos de difícil compreensão pelo

cidadão leigo, adotando uma linguagem clara, simples e direta no trato com

os “consu idores” mais necessitados do sistema de justiça.

Assim, revela-se emblemática a situação de Maria do Socorro e de

seu filho, pois demonstra como o cidadão pobre é despido dos mais

elementares direitos, como é o direito a alimentos e o direito de acesso à

justiça. “A pobreza leva as pessoas a se crerem culpadas pela sua situação,

a viverem mergulhadas na vergonha e no medo do julgamento a heio”.

(AUDOLENT e FAYARD, 2002, p. 52)

Segundo a Defensora Pública do Estado do Rio de Janeiro,

Andréa Sepúlveda Brito Carotti:

“O estigma, medo de reprimendas, a vergonha de

sua própria aparência, as constantes humilhações sofridas

decorrentes das inúmeras carências, tudo leva as pessoas

que vivem na pobreza a não exercerem seus direitos de

cidadania. Do confronto com o desdém de outras pessoas

nasce a falta de confiança em si mesmo e o isolamento – e,

11 Disponível em http://www.opopular.com.br/editorias/cidades/demanda-bem-acima-da-

oferta-1.123562 - acessado em 08/11/2013.

naturalmente, a falta de participação na vida política da

comunidade. Sendo assim, é possível sustentar-se que a

redução da pobreza acarretaria uma cidadania que se pode

dizer natural ou espontânea – com mais potencial para ser

duradoura”. (CAROTTI, 2012, p. 76 – 7)

Portanto, a Defensoria Pública deve atuar estrategicamente na luta

contra a erradicação da pobreza e da redução das desigualdades sociais,

buscando a emancipação e o empoderamento de seus assistidos (CAROTTI,

2012), tornando-os cidadãos, cientes de seus direitos e deveres inerentes ao

Estado Democrático de Direito.

Nesse contexto, faz-se necessário que o Estado de Goiás

implemente uma Defensoria Pública orientada à redução da pobreza, com

uma atuação estratégica, por meio de Defensores Públicos preparados e

vocacionados para a carreira.

6. Conclusões articuladas

I. O direito ao acesso à justiça é um dos direitos mais básicos da

cidadania, compondo o mínimo existencial sem o qual não há

dignidade da pessoa humana;

II. Cumpre à Defensoria Pública o papel de efetivar o direito fundamental

de acesso à justiça daqueles que não dispõem de recursos próprios

para fazê-lo por outros meios;

III. Estado de Goiás, sem uma Defensoria Pública real e efetiva, vem

privando os cidadãos necessitados de um dos mais básicos direitos de

cidadania, pois grande parcela da população no estado não dispõe de

um meio que possibilite que se restabeleça o exercício dos direitos

fundamentais previstos em nosso ordenamento jurídico.

IV. A Lei Complementar estadual nº 51/2005, que criou a Defensoria

Pública em Goiás, sofreu alterações que desfiguram o modelo

nacional, estabelecido pela Lei Orgânica da Defensoria Pública (LC

80/94). Primeiro, porque a LC nº 61/2008 modificou a estrutura

organizacional da Instituição. Segundo, a LC nº84/2011 deu ao

Governador do Estado o poder de nomear e exonerar qualquer

advogado para o cargo de Defensor Público Geral, quando a

Constituição Federal (art.134) estabelece que o cargo de chefe

institucional deve ser privativo de integrantes de carreira.

V. Não obstante o Estado de Goiás tenha firmado Termo de Ajustamento

de Conduta – TAC com o Ministério Público de Goiás, prevendo a

realização de concurso público para provimento de 14 cargos de

defensor publico, o quantitativo é insuficiente para atender a demanda

no Estado.

VI. A arbitrária abstenção do Estado de Goiás em implementar uma

Defensoria Pública efetiva caracteriza uma inconstitucionalidade por

omissão, pois segundo o artigo 134 da Constituição Federal, cumpre

aos Estados a implantação das Defensoria Públicas Estaduais, a fim

de viabilizar o acesso à justiça e dar eficácia social aos direitos

fundamentais previstos na Constituição.

VII. A realidade atual da Defensoria Pública em Goiás demonstra que uma

grande parcela da população goiana, formada por pessoas

necessitadas, encontra-se à margem do “direito a ter direitos”

(ARENDT), isto é, sem um importante instrumento de concretização de

direitos, sejam eles individuais, políticos, econômicos, sociais, culturais

ou ambientais.

VIII. No caso dos assassinatos de pessoas em situação de rua em Goiânia,

a Defensoria Pública poderia atuar na tutela coletiva dessas pessoas,

pleiteando no Poder Judiciário a proteção da vida e a realização de

políticas públicas previstas no Plano Nacional para a População em

Situação de Rua, regulado pelo Decreto Federal nº 7.053/2009, dentre

as quais o acesso amplo simplificado e seguro aos serviços e

programas de saúde, assistência social, moradia, segurança,

respeitando-se, assim, a dignidade de tais pessoas e valorizando-se o

respeito à vida e à cidadania. Destarte, as mais de 40 mortes já

ocorridas poderiam ter sido evitadas.

IX. A instalação de um centro de internação para adolescentes em um

batalhão da Polícia Militar é incompatível com as normas do SINASE.

Além disso, tal fato denuncia que o Estado de Goiás não vem

cumprindo com o direito à proteção integral a que fazem jus os

adolescentes, por força do artigo 227 da Constituição e artigo 3º do

Estatuto da Criança e do Adolescente, pois ausente um dos atores do

Sistema de Justiça e de proteção às crianças e adolescentes em

Goiás, a Defensoria Pública.

X. O caso da menina Julia Gabriele em Anápolis, evidencia a necessidade

da implantação de uma Defensoria Pública em Goiás, alinhada com

seu mister constitucional de promover o acesso à justiça aos

necessitados, bem como com autonomia frente a possíveis desmandos

e interferências em sua atuação em prol dos hipossuficientes, uma vez

que, nesse caso, o próprio Estado poderia ser condenado a fornecer os

medicamentos dos quais Julia necessita, vez que a responsabilidade

em dar efetividade ao direito à saúde é solidária entre todos os entes

da federação.

XI. O caso da Sra. Maria do Socorro Lopes, que desistiu dos serviços

oferecidos pela Defensoria Pública de Goiás para conseguir que o pai

de seu filho voltasse a pagar a pensão alimentícia de seu filho de 14

(quatorze) anos de idade, ante a ausência de uma Instituição composta

por defensores públicos vocacionados e preparados para lidar com os

destinatários dos seus serviços, caracateriza verdadeira negativa de

acesso à justiça pela própria Defensoria Pública de Goiás.

XII. Sem uma Defensoria Pública efetivamente implantada, independente,

autônoma, com cargos de Defensores Públicos providos por

profissionais aprovados em concurso próprio da Instituição, cientes e

vocacionados para sua relevantíssima missão constitucional, o Estado

de Goiás continuará deixando pessoas como os cidadãos em situação

de rua em Goiânia, os adolescentes em cumprimento de medidas

socioeducativas, a menina Julia Gabriele, a Sra. Maria do Socorro

Lopes e muitos outros à margem da cidadania e da própria dignidade

da pessoa humana.

7. Referências Bibliográficas

CAROTTI, Andréa Sepúlveda Brito. Propostas para uma atuação estratégica

da Defensoria Pública orientada à redução da pobreza. Em: SOUSA, José

Augusto Garcia. Coordenador. Uma Nova Defensoria Pública Pede

Passagem: Reflexões sobre a Lei Complementar 132/09. Obra coletiva.

Editora Lumen Juris. 2012.

FENSTERSEIFER, Tiago. O controle judicial de políticas públicas destinadas

à efetivação do direito fundamental das pessoas necessitadas à assistência

jurídica integral e gratuita. Em: SOUSA, José Augusto Garcia. Coordenador.

Uma Nova Defensoria Pública Pede Passagem: Reflexões sobre a Lei

Complementar 132/09. Obra coletiva. Editora Lumen Juris. 2012.

MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de direito constitucional / Gilmar Ferreira

Mendes, Inocêncio Mártires Coelho, Paulo Gustavo Gonet Branco. – 4a ed.

São Paulo: Saraiva, 2009.

RASCOVSKI, Luiz. Medicamentos: uma abordagem prática do tratamento

dado pelo Poder Judiciário. Em: RÉ, Aluisio Iunes Monti Ruggeri.

Coordenador. Temas Aprofundados: Defensoria Pública. Obra coletiva. Ed.

JusPodivm. 2013.

SADEK, Maria Tereza Aina. Defensoria Pública: A Conquista da Cidadania.

Em: RÉ, Aluisio Iunes Monti Ruggeri. Coordenador. Temas Aprofundados:

Defensoria Pública. Obra coletiva. Ed. JusPodivm. 2013.

SOUSA, José Augusto Garcia. Uma Nova Defensoria Pública Pede

Passagem: Reflexões sobre a Lei Complementar 132/09. Rio de Janeiro:

Lumen Juris, 2012.

RÉ, Aluisio Iunes Monti Ruggeri. Temas Aprofundados: Defensoria Pública..

Editora jusPodivm. 2013.