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16 Revista Magistratus 2018 INSTITUCIONAL INSTITUCIONAL N os últimos anos, empresários e membros dos Pode- res Executivo e Legislativo foram presos, acusados de corrupção. A Operação Lava Jato, que começou tími- da no Sul, se espalhou por diferentes regiões do país. Quando veio à tona, a corrupção - chamada de institucionalizada -, es- candalizou palácios e parlamentos. O mundo conheceu, sim, um Brasil de políticos corruptos, mas reconheceu um país que luta contra esse tipo de crime. “O Brasil está dando um exemplo para o mundo no combate à corrupção. O trabalho que o Poder Público tem feito está em sintonia com a vontade popular”. A afirmação é de Marcelo Bretas, juiz da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato no estado. Durante o evento, ele fez um breve relato da Operação, a partir de um processo sobre pagamento de propina a integrantes do governo estadual por uma construtora: “A Lava Jato veio para o Rio de Janeiro com outro foco. Aqui o foco principal é o Governo. São pessoas que exercem o Governo, mandatários do poder. Não simplesmente os indicados por políticos, mas os próprios políticos. Essa é a marca da Lava Jato no Rio de Janeiro”. Bretas afirmou que a corrupção é um fenômeno mundial e que o Brasil é considerado referência no combate ao crime, tanto que comissões estrangeiras de membros do Judiciário têm mostrado interesse em conhecer o trabalho realizado pelo Poder Judiciário nacional. O magistrado considerou, como importantes instrumentos para a localização e transferência dos recursos desviados pelos corruptos, a utilização da dela- ção premiada e da colaboração, inclusive aquelas recebidas de autoridades de outros países e também do sistema bancário internacional. Isso em decorrência dos sofisticados esquemas utilizados pelos doleiros para a transferência de dinheiro da corrupção. O juiz estima que mais de US$ 3 bilhões tenham sido enviados para fora do país pela corrupção, e criticou: “A cor- rupção trava o desenvolvimento de uma sociedade. Ela traz o que de mais injusto socialmente uma sociedade pode ter. Como disse o ministro Barroso (Luís Roberto Barroso –STF), ‘Cor- rupção Mata’. É, no mínimo, tapar o sol com uma peneira tra- tar corrupto como um criminoso qualquer”, disse ele, ao con- siderar que, com o desvio de recursos, o corrupto impede que o estado aplique o dinheiro do tributo pago pelo contribuinte em hospitais ou em obras nas rodovias. Para Bretas, é preciso mais parceria dos operadores do Direito no combate à corrupção: “Nós, aplicadores do Direi- to - os bem-intencionados –, temos um mundo à frente para resgatar o passado, recuperar riquezas que foram tiradas daqui. Não foi só há 500 anos que levaram nossas riquezas, ainda hoje levam nossas riquezas. Não levam pau-brasil ou ouro, mas le- vam nossos reais. É preciso ampliar essa cultura para termos Utilizar do poder para obter vantagens, fazer uso do dinheiro público para interesse próprio ou de outra pessoa, suborno. Há muitos significados para corrupção. E todos são crimes previstos nos Códigos Penal e Civil e em inúmeras leis. Para abordar o assunto, a Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro promoveu o seminário “Corrupção e seus Desdobramentos Sociojurídicos” e reuniu especialistas no tema. Entre eles, o juiz federal Marcelo Bretas e o procurador da República Eduardo El Hage. A OPERAÇÃO LAVA JATO E SEUS DESDOBRAMENTOS NO RIO DE JANEIRO um país mais igual, livre da corrupção. Só assim as pessoas se- rão atendidas nos hospitais, haverá menos mortes de policiais e os bandidos sentirão medo”. NÚMEROS DA LAVA JATO NO RIO Quase 300 pessoas denunciadas, mais de 190 prisões pre- ventivas decretadas, mais de 400 buscas e apreensões e pelo menos 35 acordos de colaboração premiada. Os números reve- lam o resultado da força-tarefa da Lava Jato no Rio até novem- bro deste ano e foram divulgados pelo procurador da Repú- blica Eduardo El Hage. Durante o evento na EMERJ, ele fez um histórico da investigação do Ministério Público Federal que levou à prisão o ex-governador Sérgio Cabral, os secretários de governo, o governador Luiz Fernando Pezão e doleiros envol- vidos na lavagem dos recursos desviados dos cofres públicos. El Hage destacou a importância do apoio da população para o sucesso da Lava Jato: “Tivemos nove sentenças, com 40 condenados e penas que superam 600 anos de prisão. Como conseguimos chegar a esse resultado? Por três principais elemen- tos: os acordos de colaboração premiada, a cooperação jurídica internacional e a supervisão pública da sociedade – o controle que a sociedade tem feito das operações e da atuação do Judiciá- rio e do Ministério Público. A população desde o começo tem se mostrado bastante atenta, expressado sua indignação e acompa- nhado de perto todos os avanços da investigação, motivando as autoridades e cobrando soluções. Isso é essencial. O estado do Rio de Janeiro é um exemplo para o país”. “A Lava Jato no Rio começou em 2016. Quinze tipos de crimes foram denunciados, sendo os mais comuns, lavagem de dinheiro, organização criminosa e corrupção. Solicitamos a reparação de 4,95 bilhões de reais, que consideramos desvia- dos dos cofres públicos. E já ressarcimos aos cofres públicos o montante de 575 milhões de reais”, destacou a procurador.A Lava Jato veio para o Rio de Janeiro com outro foco. Aqui o foco principal é o Governo. São pessoas que exercem o Governo, mandatários do poder Solicitamos a reparação de 4,95 bilhões de reais, que consideramos desviados dos cofres públicos. E já ressarcimos aos cofres públicos o montante de 575 milhões de reais Marcelo Bretas Juiz da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro e responsável pelos processos da Operação Lava Jato no estado Eduardo El Hage Procurador da República e coordenador da força- tarefa da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro

A OPERAÇÃO LAVA JATO E A Lava Jato veio para o Rio de ...draanabeatriz.com.br/wp-content/uploads/2019/02/revista_emerj.pdf · é de Marcelo Bretas, juiz da 7ª Vara Federal do Rio

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Revista Magistratus 2018

INSTITUCIONALINSTITUCIONAL

Nos últimos anos, empresários e membros dos Pode-res Executivo e Legislativo foram presos, acusados de corrupção. A Operação Lava Jato, que começou tími-

da no Sul, se espalhou por diferentes regiões do país. Quando veio à tona, a corrupção - chamada de institucionalizada -, es-candalizou palácios e parlamentos. O mundo conheceu, sim, um Brasil de políticos corruptos, mas reconheceu um país que luta contra esse tipo de crime.

“O Brasil está dando um exemplo para o mundo no combate à corrupção. O trabalho que o Poder Público tem feito está em sintonia com a vontade popular”. A afirmação é de Marcelo Bretas, juiz da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato no estado. Durante o evento, ele fez um breve relato da Operação, a partir de um processo sobre pagamento de propina a integrantes do governo estadual por uma construtora: “A Lava Jato veio para o Rio de Janeiro com outro foco. Aqui o foco principal é o Governo. São pessoas que exercem o Governo, mandatários do poder. Não simplesmente os indicados por políticos, mas os próprios políticos. Essa é a marca da Lava Jato no Rio de Janeiro”.

Bretas afirmou que a corrupção é um fenômeno mundial e que o Brasil é considerado referência no combate ao crime, tanto que comissões estrangeiras de membros do Judiciário têm mostrado interesse em conhecer o trabalho realizado pelo

Poder Judiciário nacional. O magistrado considerou, como importantes instrumentos para a localização e transferência dos recursos desviados pelos corruptos, a utilização da dela-ção premiada e da colaboração, inclusive aquelas recebidas de autoridades de outros países e também do sistema bancário internacional. Isso em decorrência dos sofisticados esquemas utilizados pelos doleiros para a transferência de dinheiro da corrupção.

O juiz estima que mais de US$ 3 bilhões tenham sido enviados para fora do país pela corrupção, e criticou: “A cor-rupção trava o desenvolvimento de uma sociedade. Ela traz o que de mais injusto socialmente uma sociedade pode ter. Como disse o ministro Barroso (Luís Roberto Barroso –STF), ‘Cor-rupção Mata’. É, no mínimo, tapar o sol com uma peneira tra-tar corrupto como um criminoso qualquer”, disse ele, ao con-siderar que, com o desvio de recursos, o corrupto impede que o estado aplique o dinheiro do tributo pago pelo contribuinte em hospitais ou em obras nas rodovias.

Para Bretas, é preciso mais parceria dos operadores do Direito no combate à corrupção: “Nós, aplicadores do Direi-to - os bem-intencionados –, temos um mundo à frente para resgatar o passado, recuperar riquezas que foram tiradas daqui. Não foi só há 500 anos que levaram nossas riquezas, ainda hoje levam nossas riquezas. Não levam pau-brasil ou ouro, mas le-vam nossos reais. É preciso ampliar essa cultura para termos

Utilizar do poder para obter vantagens, fazer uso do dinheiro público para interesse próprio ou de outra pessoa, suborno. Há muitos significados para corrupção. E todos são crimes previstos nos Códigos Penal e Civil e em inúmeras leis. Para abordar o assunto, a Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro promoveu o seminário “Corrupção e seus

Desdobramentos Sociojurídicos” e reuniu especialistas no tema. Entre eles, o juiz federal Marcelo Bretas e o procurador da República

Eduardo El Hage.

A OPERAÇÃO LAVA JATO E SEUS DESDOBRAMENTOS

NO RIO DE JANEIRO

um país mais igual, livre da corrupção. Só assim as pessoas se-rão atendidas nos hospitais, haverá menos mortes de policiais e os bandidos sentirão medo”.

númEros da lava Jato no rio

Quase 300 pessoas denunciadas, mais de 190 prisões pre-ventivas decretadas, mais de 400 buscas e apreensões e pelo menos 35 acordos de colaboração premiada. Os números reve-lam o resultado da força-tarefa da Lava Jato no Rio até novem-bro deste ano e foram divulgados pelo procurador da Repú-blica Eduardo El Hage. Durante o evento na EMERJ, ele fez um histórico da investigação do Ministério Público Federal que levou à prisão o ex-governador Sérgio Cabral, os secretários de governo, o governador Luiz Fernando Pezão e doleiros envol-vidos na lavagem dos recursos desviados dos cofres públicos.

El Hage destacou a importância do apoio da população para o sucesso da Lava Jato: “Tivemos nove sentenças, com 40

condenados e penas que superam 600 anos de prisão. Como conseguimos chegar a esse resultado? Por três principais elemen-tos: os acordos de colaboração premiada, a cooperação jurídica internacional e a supervisão pública da sociedade – o controle que a sociedade tem feito das operações e da atuação do Judiciá-rio e do Ministério Público. A população desde o começo tem se mostrado bastante atenta, expressado sua indignação e acompa-nhado de perto todos os avanços da investigação, motivando as autoridades e cobrando soluções. Isso é essencial. O estado do Rio de Janeiro é um exemplo para o país”.

“A Lava Jato no Rio começou em 2016. Quinze tipos de crimes foram denunciados, sendo os mais comuns, lavagem de dinheiro, organização criminosa e corrupção. Solicitamos a reparação de 4,95 bilhões de reais, que consideramos desvia-dos dos cofres públicos. E já ressarcimos aos cofres públicos o montante de 575 milhões de reais”, destacou a procurador.•

A Lava Jato veio para o Rio de Janeiro com

outro foco. Aqui o foco principal é o Governo.

São pessoas que exercem o Governo, mandatários

do poder

Solicitamos a reparação de 4,95 bilhões de reais, que

consideramos desviados dos cofres públicos. E já ressarcimos aos cofres públicos o montante

de 575 milhões de reais

Marcelo Bretas Juiz da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro e responsável pelos processos da Operação

Lava Jato no estado

Eduardo El Hage Procurador da República e coordenador da força-

tarefa da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro

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Revista Magistratus 2018 2018 Revista Magistratus

O PERFIL DO PSICOPATA E A VISÃO COMPORTAMENTAL DO

CORRUPTO CONTUMAZ

INSTITUCIONALINSTITUCIONAL

As estatísticas revelam que 4% da população mundial é composta de pessoas consideradas psicopatas - indivíduos com alto grau de indiferença pelo outro e com incapacidade de se importar ou amar. Esta seria a melhor definição de um psicopata, segundo a médica

psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro “Mentes Perigosas: o psicopata mora ao lado”. A escritora esteve na Escola da Magistratura do Rio para participar do evento

“Corrupção e seus Desdobramentos Sociojurídicos” e falou sobre a visão comportamental do corrupto contumaz, relacionando o tema com a psicopatia.

“Os psicopatas são pessoas que teriam quase 100% de razão e quase zero de

emoção. Significa que são extremamente inteligentes quando a avaliação é cogniti-va e não emocional”, explicou a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, ao distinguir que, por mais que grande parte das pesso-as acreditem ser o psicopata um doente, ele é absolutamente saudável, no que se refere à saúde mental.

Segundo Ana Beatriz, o conceito de psicopatia consta de forma equivocada no Código Penal, pois é definido como uma doença mental, e não é. “A psico-patia é um transtorno de personalidade, do jeito de agir. O psicopata tem valores internos distorcidos diante de uma socie-dade. Então eu diria que o psicopata não possui uma consciência subjetiva, ou seja, a sensação de se importar com o outro, de se sensibilizar”, explicou a psiquiatra.

Ana Beatriz relevou que muitos estudos indicam que todo indivíduo nasce com senso de responsabilidade - é genuíno -, pois existe uma fração de sen-timento que faz com que o indivíduo se importe com o outro, e isso é detectado

a partir de 8 meses de idade. “Os psi-copatas, se observados desde a infância, são crianças que já detêm uma indiferen-ça com o sofrimento de outras crianças ou se divertem com o sofrimento de ani-mais, por exemplo”, disse Ana Beatriz.

A escritora compara a mente do psicopata com música: “O psicopata não tem emoção, porém finge muito bem ter. Eles sabem a letra da música, mas não sentem a melodia. Eles escutam muito bem as pessoas, sabem o que dizer e a hora certa de dizer”.

Três objetivos principais norteiam a vida de um psicopata, segundo Ana Beatriz. São eles: poder, status e diver-são. “O psicopata sempre estará bus-cando esses objetivos de uma forma violenta, com sensação de impunidade, o que o fará repetir aquilo, também pela sensação de prazer”. A psiquiatra expli-cou que isso ocorre porque a parte do sistema límbico do cérebro, relaciona-da a emoções e comportamentos, não funciona em pessoas com psicopatia. “As memórias que tiveram maior com-ponente afetivo e emocional se mantêm nos indivíduos normais. No caso dos

psicopatas, o que acontece é que essas pessoas, por não terem o sistema límbico do cérebro operante, não detectam que fizeram algo errado e repetem os atos”. Ana Beatriz contou que o psicopata con-sidera normal tirar vantagens das situa-ções, passar pessoas para trás, achar gra-ça de golpes ou sentir prazer com a dor do outro, e ainda tende a culpar a vítima pelo seu ato.

A médica psiquiatra considera que, dentro do sistema penitenciário, os psi-copatas interferem significativamente nas chances de recuperação daqueles deten-tos que não têm o transtorno. “Dentro do sistema penitenciário, 15% são psico-patas, os outros 85% não são, ou seja, te-riam mais probabilidade de recuperação”, esclareceu, considerando que deveria ha-ver o que denominou de uma separação do joio do trigo para que o sistema peni-tenciário fosse eficaz.

Após traçar uma visão geral sobre os psicopatas, Ana Beatriz Barbosa Silva iniciou sua análise sobre os corruptos e a psicopatia. Ela comparou o corrupto contumaz a um pedófilo, e disse: “Se formos raciocinar dentro disso, o cor-

autor do termo “ponerologia”. Ele estu-dou durante três décadas como os psico-patas influenciam no avanço da injustiça e como abrem caminho para o poder na política. O autor destaca a dimensão

Três objetivos principais norteiam a vida de um

psicopata: poder, status e diversãomacrossocial da psicopatia, ao demons-trar como um grupo de políticos psico-patas é capaz de corromper a sociedade.

“Ao estudar políticos e funcioná-rios ligados ao poder e à vida pública, o psiquiatra polonês detectou que so-mente psicopatas no exercício do poder seriam responsáveis por algumas atroci-dades como genocídios e outras barba-ridades submetidas a um povo, como o que foi feito por Hitler, Stalin e Pol Pot”, mencionou Ana Beatriz. Segundo o es-tudioso Andrew Lobaczewski, os psico-patas no poder são capazes de reunir os seguintes aspectos: ausência de senso de culpa por suas ações antissociais, in-capacidade de amar verdadeiramente e a tendência à eloquência como prática de desvio e manipulação das questões importantes para a sociedade. “De fato, essas pessoas não se importam se não há, por exemplo, vagas para doentes fa-zerem hemodiálise nos hospitais; não se importam de desviar verba da saúde pú-blica, e vão usar um discurso lindo para justificar isso”, considerou a psiquiatra.

Destacam-se como característi-cas do psicopata na política e no trato da coisa pública, segundo Ana Beatriz, a superficialidade, a eloquência, o ego-centrismo, a megalomania, a ausência de empatia, a exclusão da culpa, a utilização recorrente de mentiras e trapaças, a ma-nipulação e a falta de responsabilidade.

“Eu costumo dizer que verdade para es-sas pessoas é um substantivo abstrato”, declarou.

Ao final de sua palestra, a médica fez o questionamento: “Seremos capazes de combater a psicopatia no poder”? E considerou: “Precisamos ter cuidado, pois os valores da nossa sociedade hoje supe-restimam as pessoas poderosas e até mes-mo aquelas que têm uma certa indiferença – como se um grande executivo devesse ser uma pessoa fria para poder tomar as melhores decisões de negócio –, o que não é verdade. Os melhores acertos são de contribuição e nunca de eliminar o outro”.

“A vitória política dos psicopatas é o fracasso de qualquer projeto macros-social altruísta, justo e capaz de gerar um bem-estar coletivo”, concluiu Ana Beatriz Barbosa Silva. •”

Ana Beatriz Barbosa Silva

Médica psiquiatra, autora de diversos livros, entre eles o

best seller “Mentes Perigosas: o psicopata

mora ao lado”

rupto pode ser comparado com o pedó-filo. O pedófilo é preso, e, se solto, volta a cometer o mesmo crime porque ele tem prazer nisso. De alguma maneira, o sistema beneficia hoje os corruptos, que são presos e depois soltos, e assim come-tem novamente os atos ilícitos”.

“A grande diferença de um psico-pata para as outras pessoas que cometem erros é que o psicopata não se arrepende. São os pedófilos contumazes, são os cor-ruptos contumazes. Eles realmente não se arrependem. Não há nenhum sentimento de responsabilidade. Eles gostam de ser as-sim”, concluiu Ana Beatriz Barbosa Silva.

Para a psiquiatra, o ambiente políti-co estimula características que o psicopata busca, como o poder, a manipulação e o status. “Quando o psicopata chega ao po-der, ele se cerca de uma série de outras pessoas que, se não são também psicopa-tas, têm uma certa simpatia pela maneira de ser do psicopata”, disse ela, ao se refe-rir ao termo “ponerologia” – estudo dos psicopatas ocupando o poder.

o PErFil do PsicoPata corruPto

“A política é um dos meios mais propícios para ação dos psicopatas, já que poucas atividades oferecem tanto poder, status e oportunidade de manipulação; e isso não é uma exclusividade do tempo atual nem do nosso país. A psicopatia e a corrupção estiveram presentes em tem-pos passados, estão em todas as socieda-des, sexos, religiões. Os psicopatas são como insetos em volta da lâmpada em busca do poder, do status e da diversão”, considerou a psiquiatra Ana Beatriz Bar-bosa Silva.

Nem todo corrupto é psicopata, mas todo corrupto contumaz é um psi-copata, na concepção de Ana Beatriz. “E são esses os que mais preocupam a so-ciedade, porque eles não param, sempre que tiverem uma oportunidade farão no-vamente”, declarou. Ela citou a prisão do atual governador Luiz Fernando Pezão e disse: “Nos deparamos com a prisão do governador e vimos que o ex-governa-dor saiu e o atual continuou fazendo as mesmas coisas. Existe uma compulsão por poder”. Ana Beatriz mencionou o psiquiatra polonês Andrew Lobaczewski,