A Ordem Do Dragao Dourado

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  • 7/31/2019 A Ordem Do Dragao Dourado

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    A Saga de

    Mitrax

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    A Ordem do

    Drago Dourado

    A uto r :

    Srgio Rob ert o d e Paulo

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    Sendo ignorante e imatura, a mente do hom em primitivo criou no mu ndo

    m on stros terrveis. E, d e tod as as feras gerad as dessa form a, as kiches so as

    m ais terrveis. Possuind o u m po der de viso, com os seus m ltiplos olhos,

    alm da h um ana, facilmen te pressentem q uand o crianas esto sozinh as.

    En to, aparecem d iante delas e analisam as suas alm as. D epe nd endo d o qu e

    vem , vo em bora pacificam ente ou ento as devoram . E, se algum hu m ano

    adulto ou qualquer outra criatura lhes interpe o caminho, tambm tm umde stino funesto, pois as kiches so as feras mais po de rosas que j existiram .

    M as, con ta-se, num a po ca, h m uitos anos atrs, um a aldeia estava send o

    dizim ada, po is se estabelecera nas imediaes um ninho de kiches. A

    populao j estava sem esperana e muitos tentavam migrar para longe,

    contudo, a m aioria perecia no caminho pelo ataque desses m onstros. Mas,

    um dia, surgiu u m a criatura, um inimigo natural das kiches, um drago da

    espcie amarela, com o corpo coberto por longos espinhos. De onde veio

    ningum sabe. Por que veio tambm era desconhecido. Ento o drago

    eliminou sistematicamente todas as kiches machos, atravs das imensaslabared as que em anavam de sua boca. E, finalm ente, travou -se a batalha final

    entre o d rago dou rado e a kiche fmea, na qual ambo s pereceram.

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    eus ps afundavam-se na lama, enquanto corr ia,

    quase sem esperanas, com o beb no colo. Seu corao estava saindo pela bo ca. Ela sabia qu ea cr iatura logo a alcanaria. A cabana de m adeira no e stava longe, m as sabia que lo go sent i r iaa teia grud ar nas suas cost as. Ent o, ser ia v iolentam ent e pu xada para t rs e ser ia o f im.

    Dzias de pessoas corr iam a sua vol ta. Uns iam, outros v inham, desesperados. Emuitos eram os monstros que atacavam em todas as di rees. Ela v i ra, atni ta, vr iosconhecidos e pare ntes serem f isgados, puxado s e tend o os corpo s di lacerados pelas presas daskiches em nf im os segundo s.

    Seus gr i tos e choros deviam ser di lacerant es, m as j nada m ais ouvia. O m edo haviadado cabo do s seus ouvido s, do con trr io ou vir ia tam bm os si l fos dos aracndeos. E no sabiacom o e p orq ue corr ia. Suas pern as avanavam sozinhas, sem que quisesse corr er. Al is, noadiantar ia. . . ningum consegue f ugir das k iches.

    M as alcanou a port a. Ent rou . Virou-se e, ao fech-la, ainda pde ver um hom em q uemal conhecia ser f isgado e desaparecer numa exploso de sangue nas mandbulas de umak iche m acho d e t rs met ros de a ltura .

    Fechou a port a e a t rancou. Agora ouvia o beb choran do. Seu f i lh inho .

    Aper tou-o o mais que pde cont r a o pe i to e , t remendo , caminhou para t rs, passo apasso, a t suas costas se comp r im i rem dolor idamente cont ra a parede opo sta por t a .

    M as no dem orou m ui to a t qu e a por ta fosse v io lentament e ar rancada. Ento, umaperna ent ro u no r ec in to , negra e pe luda. Depois out r a , e out ra . A jovem m ame agora t remiaincont ro lavelment e, enquanto o beb b errava.

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    A k iche era quase do tamanho d a cabana e aquela por t a era uma po r ta comum . M asno importava. As k iches, embora grandes, passam por qualquer or i f c io. Ento, logo elavis lumbrou a cabea. Quase nem mais v iv ia, o medo a matava. Seu corao, emboraacelerado, estava quase parado, quando ela se v iu ref let ida naqueles ml t iplos globosoculares.

    E, ento, longe de ser logo ar rebatada, longe do sof r imento ter logo um f im , ve io ato rt ura e a agonia. Pois a cr iatura p arou al i , com suas m aiores presas, tais quais dois chi f res dem ar f im negro, a m eio met r o de d istnc ia, e a f i tou p rofund amente. Sent iu como se os o lhos dacr iatura a gelassem po r den tro , sugassem a sua alma e a revi rassem , anal isando-a po r t odo s osngulos. Sent iu o seu passado, a const i tuio do seu ser e at o seu fu tur o ser m inuciosamen tevasculhado pela cr iatura. Sabia que essa era a v iso da mo rt e e do hor ror e qu e nada almdisso havia.

    E, ento, o im pensvel : a cr iatura recuou, deu m eia-vol ta e d esapareceu.

    #######

    22 EGRR.

    Ele caminhava rapidamente, afundando os ps na lama, devido pesada armadura.T irou o elmo, expondo as barbas ralas. Aproximava-se dos corpos das trs k iches abat idas.Eram da espcie com l is t ras l i lases. Uma fora varada por vr ias lanas, outra t inha f lechasespetadas nos sete globos oculares e a ter ceira estava calcinada. Ent o ele p assou ao lado dam aga e, sem p arar , ordenou:

    -M eissa, cuida do s fer idos.

    A m aga, l indssim a, nada disse e p areceu desagradada. M as Al ionor nem reparo u na

    sua reao: passou ao lado d e ou tr o cavalei ro e disse:

    -Cavalo M anco, reconhece a ident idade de quem mo rreu e p rov idencia um funera ljun t o s fam li as.

    -Sim, com andant e disse o cavalei ro.

    -V ista Grande ordenou a out ro , - que ima os corpos dos mo nst ros!

    -S se for agora, senhor ! respond eu o velho cavalei ro.

    Em seguida, passou por um rapaz franzino que anotava vorazmente algo num

    pequeno caderno com fo lhas de couro, usando um a pena, e no o po upou:-Horcio, vai ajudar M eissa!

    -M as, senhor, esto u anotand o!

    M as o comandante n em o ouv iu , cont inuando a avanar .

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    Ento, observou que o fornido Livro Rasgado saa de uma cabana, carregando ocorpo de uma mulher . V iu quando e le depos i tou-a no cho, num lugar seco, e v iu tambmque, sobre ela, havia um b eb.

    -Est em estado de cho que, senhor disse Livro Rasgado.

    Ent o o nobr e rei se ajoelhou diant e da moa e indagou:-O beb est bem ?

    O beb com eou a chorar e a espernear.

    -Parece que s im comento u Liv ro Rasgado, - deve estar com fom e!

    -Cuida d ela, e v se descobre q uem so o s seus parent es.

    -Sim , senh or .

    Al ionor se levantou e o lhou a sua vol ta. Vista Grande, com um a tocha, colocava fogo

    nas k iches abat idas, mas havia dezenas de pedaos de corpos humanos espalhados porcentenas de met r os .

    Ent o, aproximo u-se outro cavalei ro. Era Tronco Dei tado :

    -Tr int a e sete m ort os, senhor!

    A tormentado, o re i o lhou em out ra d i reo. Mas sua ateno fo i desv iada por umassobio v indo de uma frondosa rvore. Olhou naquela di reo e v iu I rv ine, a el fa, em p,segurand o o seu arco, em u m dos galhos m ais al tos:

    -No h mais k iches, com andante! gr i tou e la .

    O rei mirou novamente o cho. Depois, repent inamente, passou a caminharrapidamente, di r igindo-se para t rs da cabana, fora da v ista dos outros. Quando l chegou,passou a chutar t ron cos e ped ras, esbravejando :

    -Droga, droga, droga!

    Ento, sacou a espada e passou a estocar t roncos de rvores e cortar galhos, paraextravasar a sua do r:

    -Droga, droga, droga!

    Mas algum o observava. I rv ine sentou-se sobre o telhado da cabana, mirando-of ixament e, sorr indo sut i lmen te, com olhos apaixonado s.

    #######

    Ao f ina l da tarde, m ontaram acampam ento nas prox im idades da a lde ia que es tavasendo construda. Joelho Esfolado f incou f i rmemente, no cho, a haste do estandarte daordem, que representava um escudo contendo um desenho rs t i co, em preto e branco,representando a imagem de um a k iche fm ea lu tando cont ra um drago. O drago ergu ia o

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    pescoo e exalava um jato de f ogo cont ra a k iche. Essa, por sua vez, havia sol tado um a teia,que grudar a no pescoo do drago.

    Logo aps t i rar a sua arm adura, o rei camin hou a p assos largos em direo tend ade M eissa. Ent rou sem cerimn ia e sem avisar. Encont rou -a em p, com o a o esperar.

    Ele a encarou com i ra nos olhos e gr i tou:

    -M ais um a vez no usaste arm adura!

    -J disse que n o preciso disso ret alhou ela, f r iament e.

    -Se no colocares armad ura, no pod ers cont inuar conosco! insist iu o rei .

    -E o qu e fars se no concord ar? indagou ela, com ar desaf iador.

    Ent o a i ra de Al iono r esvaneceu-se. Olhou bem para ela e a sua beleza mais um a vezo arreb atou . Mas ele era o Grande Rei de Breno r e, assim , com pleto u:

    -Ests dispen sada. Podes voltar a Lum erae.

    E deu -lhe as costas. M as M eissa disse, com vo z pode ro sa:

    -No mandas em mim, A l ionor . O l im i te do poder de um re i term ina aos ps doM ont e. Sabes que existe um pod er m aior, no sabes? e, ao dizer isso, ergueu o cajado docho.

    Al ionor se v i rou e a v iu segurando o objeto mgico escuro de forma i rregular,lembrando uma serpente embalsamada. E, abalroado pelo sangue aquecido, o rei cedeu aosimpulsos. Aproximou-se rapidamente dela, enlaou a sua cintura, e bei jou-a profundamentena boca.

    Meissa no resist iu. E, quando o rei desgrudou os seus lbios dos dela e saiu, elaf i cou pensat iva, o lhando p ara o nada com um ar m ister ioso.

    Al ionor caminhou apressadamente, seguindo para um local longe da fogueira queestava sendo acesa nesse momento por Pssaro Negro. Sentou-se numa pedra e f icoupensat ivo, com o pe i to ar fante . M as no f i cou s por m ui to t empo po is, logo, sent iu a lgum

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    aparecendo s suas costas, fazendo um barulh o com o t ivesse cado d o cu. M as o rei sabiaquem era. Virou-se e v iu I rv ine diante de s i.

    A el fa o olhava com um sorr iso nos lbios. Segurava alguma coisa. Estendeu-a nadireo d o r ei e disse:

    -Tom a. Fiz para t i !A l ionor apanhou o ob je to . Estava enro lado num papel . Desembr u lhou-o e se v iu

    segurand o a casca de um coco m aduro , com algo dentr o. Parecia um doce e havia uma colherde pau mergulhada dent ro .

    - doce de pssego! declarou a bela el fa, parecendo fel iz .

    -Obr igado d isse o re i .

    -Prova! disse ela, animad a, sent ando-se ao lado dele.

    O rei provou e achou del ic ioso.

    -Nossa! Isso bom !

    - adoado com mel ! exp l icou e la, sor r indo e o lhando o re i de c ima a b a ixo.

    Ento, o Grande Rei de Espadas mirou-a longamente e, com uma voz baixa, massincera, disse:

    -Sabes, I rv ine. . . desde que te juntaste a ns.. . is to , toda vez que ests ao meulado.. . sinto. . . um a espcie de p az no corao.

    Agora ela no m ais sorr ia. Ao invs, sent ia vont ade de chorar . M as no se sabe com o

    aquela conversa term inaria espon taneam ente, po is logo apareceu Livro Rasgado, dizendo:

    -Com andante, um rapaz chegou d izendo que quer se ord enar .

    Al ionor f ranziu as sobrancelhas e com ent ou:

    -Out ro?

    -Sim, senhor respondeu Livro Rasgado.

    Ent o o re i devolveu o d oce a I rv ine, dizendo :

    -Tom a. Guarda o res to pra m im?

    Ela lhe sorr iu novam ent e, apanhando o objet o. O rei se levantou e se di r igiu ao rapaz.

    Este estava sentado perto da fogueira, t remendo dos ps cabea. No porquet ivesse fr io, m as por que estava diante d o Grande Rei de Brenor.

    -Ol , f il ho d isse A l ionor . Ento q ueres ser um drago do urado?

    -Si-sim, se-senho r!

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    Vista Grande, que estava enro lado num cober tor , sentado a l i per to , tent ou a judar orapaz:

    -Ele disse que t oda a sua faml ia foi m ort a pelas k iches, com andant e.

    - completou T ronco Dei tado, co locando um p sobre o toco de um a rvore

    cor tada, e parece que nada mais lhe resta nesse m undo!A l ionor o lhou bem para o garoto . Era magro, mas parec ia suf i c ientemente for te .

    M as, vendo que n o parava de trem er, ajoelhou -se diante d ele e disse:

    -Aqui costum amo s f icar relaxados!

    E t i rou os sapatos do rapaz. Ele f icou de boca aberta por um tempo interminvel .Estava d iante do maior re i de to dos os tem pos e le pensava e e le hav ia se a joe lhado et i rado os seus sapato s!

    -Sabes dos perigos que t emo s que en fren tar, no sabes? indagou o r ei , ant es de se

    levantar novament e.

    -Si-sim, senhor! disse o r apaz, logo aps conseguir fechar a b oca novam ent e.

    Nesse instante, M eissa saiu de sua tend a e veio se sent ar pr ximo aos out ros, nasimed iaes da fogueira. Com o era costu me, eles se reun iam to dos os incios de noi t e paracom er e conversar. Janta Fr ia, auxil iado p or Hor cio e Irv ine, j junt ava os ingredient es parafazer a sopa.

    -Ento dec larou A l ionor , - como t rad io desta Ordem, deves esquecer o teunom e e ado ta r um ou t ro .

    Depois que disse isso, v i rou-se aos com panheiro s e indagou:

    -E ent o? Com o vam os cham -lo?

    O pr imeiro que deu opinio, como sempre, foi o mais experiente. Vista Grandearr iscou, cof iando a b arba:

    -Bem, e le se parece um rato !

    E, de fato, o rapaz t inha uns dentes pron unciados na frent e da boca.

    -! Um rato assustado! completou, r indo, T ronco Deitado.

    -Talvez um a don inha, tu qu eres dizer! sugeriu Joelho Esfolado.

    E Pssaro Negro , como t ivesse a m aga do seu lado, acabou d izendo :

    -E tu M eissa? Que nom e sugeres ao garoto ?

    A maga olhou para o rapaz de uma forma que ele sent iu a sua espinha se congelar.Ento, com uma voz f r ia e m rb ida, respondeu:

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    -Na t im or to !

    Fez-se um si lncio pr ofu ndo . O rapaz nem m ais respirava. Al ionor olho u par a a magacom ar de p reocup ao. Depois de alguns segundo s, Livro Rasgado ro m peu o s i lncio:

    -No te m graa, M eissa!

    -! concordou Tronco Deitado. No tem graa nenhum a!

    V is ta Grande manteve um o lhar de rancor cont ra a maga, que sus tentou durantealgum t em po. E o Grande Rei , para queb rar a tenso, declarou :

    -Pois eu acho que som ent e um a pessoa de grande coragem vi r ia aqui , diante do rei ,pedir para ingressar nessa arr iscada jornada. Ento, sugiro que ele seja chamado de RatoValente!

    V ista Grande, segurando o cober tor com a mo esquerda e e levando o brao d i re i to ,levantou -se e gr i tou :

    -Viva Rato Valente, nosso no vo com panheiro !

    Os demais tamb m comem oraram, repet indo:

    -Rato Valente! Rato Valente!

    Exceto, c laro, Meissa, que f icou no seu lugar, ainda f i tando o rapazm ister iosament e. M as Rato Valente no percebeu aqui lo , po is estava deslumbr ado esorr ident e, feliz por ter s ido acei to.

    Em seguida, Al ionor t ratou de apresentar os companheiros que estavam nasproximidades:

    -Rato Valente, permita-me apresentar-te este, que o meu brao di rei to, LivroRasgado!

    E bateu nas costas do com panheiro . Depois com pleto u:

    -Dei-lhe esse nom e porqu e o encont rei fazendo u ma fogueira com uns l ivros!

    -. Mas a minha faml ia estava com fr io e toda a lenha em vol ta estava mida! ten to u expl icar o robu sto cavaleiro. E depo is. . . no sei ler. M as estou aprend endo !

    Em seguida, o rei se aproxim ou d o m ais idoso dos drages dourado s, dizendo :

    -E esse o m eu f iel com panheiro , desde a po ca da guerra cont ra as salamand ras, om ais sbio da Or dem , Vista Grand e!

    -Sejas bem vindo , rapaz! disse ele.

    Depois se aprox imou de um hom em esbel to , de barba negra bem aparada:

    -Este Joelho Esfolado, o m ais l igeiro de n s! Isto , depois das m eninas, c laro!

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    Todo s caram na gargalhada.

    -Essa boa! desabafou Livro Rasgado.

    -E este Tronco Dei tado, o mais forte de ns.. . is to , to forte quanto LivroRasgado! Este aqui se gaba de que capaz de erguer uma vaca com apenas um brao, mas

    nun ca nos mostro u isso! E camp eo de cusparada tam bm !-Boa no i te , Rato Valente! d isse o hom em for te , com um a voz grossa.

    -E aquele l, pert o d e M eissa Pssaro Negro, nosso m estre de arm as. Ele ser o t euinstrut or, no Pssaro Negro?

    -Ensinarei tudo o que sei ! disse o po l ido cavalei ro, incl inando a cabea.

    -E l, perto da f ogueira, esto Janta Fr ia, nosso cozinheiro, Hor cio, o bi grafo q ueSir ius me arrum ou, e Irv ine, a senhora do arco e f lecha! Os dem ais v inte e tant os conhecerscom o t em po !

    Ent o, Jant a Fria serviu a sopa e p assaram a com er. M eissa se afasto u e se sent ounum tronco distante. Aps comerem, veio a hora das histr ias. Al ionor, cansado, j havia sereco lh ido t enda. Nessa noi te , tud o com eou assim:

    Rato Valent e, observando M eissa com endo sozinha, distncia, indagou:

    - verdade o que d izem dela?

    -O que, garot o? indagou Livro Rasgado.

    -O cajado dela. .. uma serpente t orr ada, m esmo?

    -Dizem que ! respondeu Tronco Dei tado. E Si r ius tem u m out ro igua lzinho! E,dizem, quando eles se juntam, enroscando uma serpente na outra, forma o CaduceuLumeraeano, o objet o m ais pod eroso que existe!

    -E ve rdade que e la j m a tou m a is hom ens que qualque r um ou t ro? indagounovament e Rato Valente.

    Ento, inst int ivamente, todos olharam para Vista Grande, como se esperassem queele d issesse algum a coisa. E, de fat o, ele d isse:

    -So ve lhas h istr ias da Guerra , Rato Valente. De fa to nenh um out r o , hom em, e l fo o u

    mago, matou a tantos. Deixa-me contar uma histr ia. Uma vez, na Batalha de Ismar, quandoum grande cont ingente de homens das t r ibos do nor te , que apoiavam as sa lamandras ,encont rou com as foras do r ei , Meissa foi cercada por uns c inq enta d eles. Port avam espadase lanas. Eram bastante fo rtes e v igorosos e estavam to dos m ont ados. Eles a v i ram com o umgrande tr ofu e p art i ram sobre ela Vista Grande diz ia isso com os olhos f ixos no nada, com ov isse aqui lo d iante de s i , naquele exato mo ment o, com u ma voz sin ist ra . M eissa no t r emeue nenh um resqucio sequer de tem or exa lou daquele corpo desejve l . Ao invs, e la sor r iu .Ergueu o seu cajado e t oda aquela m eia cent r ia part iu sobre ela, espor eando o s seus cavalos,

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    brandindo suas espadas e lanas. E eu v i , eu juro que vi com esses olhos que a terra h decomer , e la rodou aquele ca jado e bradou num a voz poderosa, que ecoou a qu i lmet ros dedistncia e que at o prprio Mi trax pde ouvir . Eu v i , eu juro, ela gr i tar aquela maldi tapalavra: coniunct io! E ento eu jur o qu e tod os aqueles selvagens, juntos com seus cavalos earmas, v i raram um a massas! Os corp os daquelas pod res alm as fundiram -se uns nos outr os enos seus cavalos, tornando-se um nico monstro disforme, com ml t iplos braos, pernas ecabeas. A coisa mais horrenda que vi na v ida. No foi um amontoado de corpos di laceradosque vi . Essa v iso ser ia mui to m enos terr vel. O que vi foi aqu ele m onstro disform e e v ivo. E,d iante do hor ror que aqueles homens exper imentaram. . . e les no morreram a l i . Mas. . .fun didos uns no s outr os. .. e nos seus cavalos. . . eles imploravam por piedade.. . eu v i aquelesgri tos, aqueles pedidos por m iser icrdia e aqu eles rel inchos.. . e jam ais m e esquecerei disso n avida... jamais! E jamais deixarei de ter pesadelos! E ela no se apiedou deles.. . Simp lesm ent ecaminho u, passou por c im a deles e seguiu o seu caminho , deixando-o s naquela agonia!

    #######

    Na m anh seguinte, Janta Fr ia alertou o r ei que as pro vises estavam se acabando.

    Assim, decidi ram rumar para Landul ia para reabastecimento, j que estavam a apenassessenta qui lmetros de distncia. Ento, seguiram a comboio. Eram, agora, em tr inta e t rscavalei ros e q uatr o carroas. Duas delas eram d est inadas a levar p rovises, sendo condu zidaspor Janta Fr ia e Horcio, outr a, arm aduras e lanas, conduzida por Vista Grande, e a quartaestava cober ta por um a lona, mas Rato Valente not ou que era m ui to pesada.

    Contudo, a meio caminho da capi tal de Barratas, Lana Torta, o jovem batedor quesempre ia f ren te, chegou galopando velozmen te, gr i tando:

    -Trog lodrom! Trog lodrom!

    E parou diante do rei , resfolegando.-Onde? indagou A l ionor .

    -Pouco m ais de um qui lmet r o , a t ravessado na es t rada! respondeu o batedor .

    -M ui to bem , homens dec larou o re i . Pegai vossas cordas. Quem o pegar , tem oprim eiro pedao do carneiro de ho je noi t e! Vista Grande, cuida das carroas!

    Ent o, diversos cavaleiros apanh aram lanas f inas na carroa d e arm as e esporearamos seus cavalos, tendo o rei f rente. Mas como Rato Valente no se mexeu, olhando tudoespantado, Pssaro Negro lhe falou:

    -Vamos, garot o. Tens que ver isso!

    Rapidam ent e, os cavalei ros atravessaram quase to da a d istncia qu e os separavamdo animal , mas, a uns cem metros de distncia, antes de uma curva que antecedia a suaposio, eles se det iveram e receberam as instrues do r ei :

    -M ui to b em , rapaziada, vamo s ten tar cerc- lo. Quero d uas com panhias que seguiroum a para a d i rei ta e out ra para a esquer da. Joelho Esfolado levar a d a di rei ta e Lana Tort a a

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    da esquerd a. Trot em atravs das rvores o m ais s ilenciosamen te qu e pu derem . Pssaro Negrof ica aqui com mais t rs ou quatro homens para fechar o cerco. Eu, Tronco Dei tado e LivroRasgado vam os seguir pela estrada e en contr- lo. E lembr ai-vos: jamais f icai na t rajet r ia dele.Um leve toque de seus dentes envenenados pode ser fa ta l . E no vos esquecei que o b ichocorre m ui to m ais que n ossos cavalos!

    Ento, o rei e seus dois companheiros seguiram trotando a f rente. Aps a curva, auns c inqenta metros, puderam ver o animal . Era uma espcie de lagarto, com mais de dezm et ros de compr im ento, de i tado em d iagonal na est rada. Sua par te t r ase i ra no podia servista, pois adent rava parcialment e na f loreta beira do cam inho.

    -Hei ! disse Livro Rasgado. Lana Torta no disse que era um im perial !

    - c laro ! Ele nunca v iu um t rog lodrom ! exclamou Tronco Dei tado.

    -Quanto achas que e le mede, Tronco? indagou o re i .

    -Doze met ros, no m n imo ! respondeu o cava le i ro .

    Eles pararam, enqu anto pod iam sent i r os dem ais cavalei ros avanando n os f lancos,atravs da f loresta. Al ionor apanh ou um a das trs cordas que estavam pen dur adas na sela docavalo. Cada um a delas term inava num a ncora leve.

    -M ui to bem, m eninos. Ta lvez e le nem acorde.

    Mas o t roglodrom acordou. Abriu as plpebras, expondo os olhos semelhantes aosdos gatos e ergueu a cabea.

    -Tom ara que ele no e rga a cr ista. Ficar im possvel la- lo! declarou TroncoDei tado.

    M as, como se o an im al t i vesse ouv ido, e le er iou a e norm e cr ista em form a de lequeem t orno do pescoo.

    -Eu e m inha boca! exclamou Tronco Dei tado.

    -Acho que ele no gostou de n s! disse Livro Rasgado.

    Al ionor com eou a rodar o lao sobre a cabea. Os dem ais em pun haram as lanas.

    -Senhor d isse Tronco Dei tado, - se no m e fa lha a mem r ia, h um v i lare jo a menosde do i s qu il m et ros f ren te !

    Ent o, Al iono r passou a f alar baix inho, para s i mesmo:

    -Olha nos meu s olhos, cr iatur a. No te v i res para l!

    Mas, o bicho estava desconf iado. Assim, projetou sua l ngua biart iculada para fora,v i rou a cabea, e ps-se a se mover pela estrad a, em d ireo ao v i larejo.

    -Vamo s! ordenou o re i , esporeando o seu cavalo .

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    Quando estavam a poucos metros do bicho, Al ionor jogou o lao, que se di recionoucorre tament e em torn o da cabea. M as, como Tronco Dei tado prev i ra , a cr i sta im pediu que olao se fechasse em torn o do pescoo e, ao sent i r o contado da corda, o t rog lodrom ergueu abarr iga e saiu em disparada.

    Livro Rasgado e Tronco Dei tad o arrem essaram suas lanas. Um a delas resvalou no

    grosso cour o de suas costas e a out ra se f incou num a das coxas traseiras. Ent o, o anim alganhou velocidade e disparou como um raio. Al ionor forou o cavalo e saiu galopando atrs.Os demais tam bm , mas o cavalo do r ei era o m ais veloz.

    Outras lanas surgi ram dos f lancos, mas apenas uma delas espetou o lagarto naregio sobr e um a das coxas diantei ras. Assim , o anim al f icou apenas levement e fer ido, o queno o impediu d e a lcanar um a ve locidade es tonteante.

    Aps alguns segundos, Al ionor notou que avanava sozinho atrs do bicho epro curava no perd-lo de v ista. Teria que alcan-lo antes dele chegar ao vi larejo. Ent o,sacaria sua e spada nuai , pular ia sobre ele e o sacr i f icar ia. M as no ser ia fci l alcan-lo.

    Foi quando o rei sent iu que Irv ine avanava velozmente pulando de galho em galhosobre as rvores, u l t rapassando o t rog lodrom . Ento, um qui lmet ro a lm de onde oencontraram, I rv ine sal tou de uma rvore a outra, atravessando a estrada a sete meros deal tura e , ao mesmo t empo , rodando no ar . No m om ento cer to , d isparou a sua f lecha. .. e caiusobre u m galho f lex ve l de um a rvore do ou t ro lado, tomando impulso para c ima, e sub indom ais v in te met ros a t a t ingi r o t odo do dosse l .

    A f lecha at ingiu entre os olhos do animal , mas, aparentemente, no num local fatal ,pois ele cont inuou avanando velozmen te. E, nesse m om ent o, Al iono r j podia ver os telhado sde alguns casebres do v i larejo. Ento, forou ainda m ais o seu cavalo.

    E foi quando el a apareceu. Surgiu do nada, sobre o dorso do troglodrom. Ergueu oseu cajado e imediat amen te o encosto u nas costas do lagarto , gr i tando :

    -Putrefat io!

    Ent o, o couro e as carnes do anim al se desintegraram , esfarelando -se, um segund oaps M eissa sal tar fo ra, rolando p ela estr ada. Por inrcia, o corpo do anim al cont inuo uavanando, at q ue lhe restasse apenas o esquelet o. A coluna vert ebral e as costelas quicarampara todo s os lados e o c rn io desencarnado cont inuou f rente , ro lando, e v indo a parar napor ta de um a pequen a casa de madeira, passando p or ent re hom ens, m ulheres e cr ianas que,por al i , estupefato s ao verem a cena, faziam suas tarefas dir ias.

    Quando o rei refreo u o seu cavalo, nas pro ximidades da maga, esta j estava de p,caminhando na di reo oposta. Nem ao menos se dignou a olhar para Al ionor. Apenas disse,sem parar de andar :

    -Da prxima vez que pensares em me dispensar, lembra-te que no s nada semm im, A lionor !

    #######

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    Chegaram a Landul ia no m eio do d ia . Houve grande concent rao de pessoas napraa central , to logo o povo soube que seu amado rei se encontrava na c idade. Todosquer iam to c-lo. Ele desceu de seu cavalo e conversou um bom tem po com o povo. E, em m eioaquela confuso, surgiu um gru po de m eia dzia de cavaleiros acom panhad os por um a carroade grand es propor es que trazia uma eno rm e jaula sobr e o chassis. Um d os cavalei ros v inhapuxando, a t ravs de um a corda, um g igante que caminhava amarrado.

    O l der deles, um hom em b aixo e um pou co gordo, careca, m as usando um a espciede turbante, ao ver Al ionor, desceu de seu cavalo, fazendo esvoaar os panos de coresberrantes de suas vestes . O re i tam bm o v iu e se aprox imo u. O hom em abr iu os braos e

    disse:-Oh, eis o Grande Rei ! Como d ist ingui- lo do povo , ao qual se mistura e ama, se no

    for pela grandeza de sua alma? Como poderiam tais vestes s implr ias camuf lar o maisform idvel dos homen s?

    Al ionor t ambm abriu os braos e, com um sorr iso no s lbios, retr ibu iu a gent i leza:

    -Goraz! Seu ladro imp restvel !

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    E se abraaram .

    Horcio, que estava nas imediaes, se aproximou do estrangeiro e indagou, comum a pena e seu l i v r inho de anotaes na mo:

    -Senho r, poder ias repet i r o qu e disseste?

    Goraz olhou-o de cima a ba ixo e indagou ao re i :

    -E quem esse m enino?

    Al ionor tent ou exp l i car :

    -Bem, Sir ius insist iu qu e ado tasse u m bigrafo!

    -Um b igrafo? E o qu e i sso? indagou o es t rangeiro , com um a voz re tumb ante.

    A l ionor ia tentar exp l icar , mas Goraz deu um tapa bem dodo no o mb ro de Hor cio e ,rindo, disse-lhe:

    -Em nem um mi lho de anos consegui r ia repet i r o qu e eu d isse, rapaz! Depois,v i rou-se para o re i e , tend o percebido que a sua tenda j hav ia sido arm ada, cont inuou : - Hei ,Al ionor, no vais m e convidar a tom ar algo?

    Ent o, ambos entr aram na t enda e se sentar am sobre bancos.

    -E, ento, o que fazes por essas bandas, Al ionor? Caando? indagou Goraz.

    -Estam os h m eses pro curando u m n inho. Absolutam ente sem sucesso.

    -Verdade? Acho que p osso t e ajudar! Sabes, estou com um pris ioneiro. . . um rel igioso

    kichetu. Sabe tudo sobre esses monstros horrveis, entendes? Demorei para captur- lo. esperto. . . mas me parece inofen sivo!

    -Hum , interessante! Posso falar com ele?

    -Fica com ele, se quiseres!

    Ento o re i o lhou bem para o comerc iante e , sor r indo, d isse:

    -Vejo que pareces estar mui t o bem , Goraz! Os negcios devem estar prosperando !

    -, os gigantes pagam bem pelo resgate de cr iminosos tus, mas.. . sabes que meunegcio est condenado , no sabes?

    -Cond enado? Como assim ?

    -Quando aqu ela mur alha f icar pro nt a. .. bem, o velho Rei Nesto r diz que vai fechar oporto e nunca mais o abri r . No sei o que Sir ius enf iou na cabea dele! Bem.. . ento o meunegcio estar acabado e eu.. . estarei arruinado !

    Goraz disse isso com bastant e dram at ic idade. Alionor , ainda r ind o, retru cou:

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    -Ora, Goraz. O reino h d e inden iz- lo!

    Ent o, o perspicaz negociante v isual izou a hora cert a de dar o bot e:

    -Bem.. . estava pen sando num a indenizao especf ica em part icular. ..

    Mas A l ionor percebeu a manobra. Imaginou que e le pedi r ia uma for tuna, como am etade do ouro do re ino, por exemplo. Ent re t anto , o que o comerc iante t inha em m ente eraum a co isa com pletament e d i ferente:

    -Que espcie de indenizao? indagou o r ei .

    -Armon! respondeu Goraz, de pronto .

    Al ionor f icou bem olhand o para ele du rant e alguns segundo s. Depois as gargalhadasexplod i ram, enq uanto tent ava fa lar :

    -Armo n? Que lou cura essa?

    M as Goraz estrei tou o s olhos e encarou o assunt o m ui to ser iamen te:

    -Armon, meu quer ido re i , f i ca deste lado das M ontanhas de Fogo. No queres ter umbaluar te de M i t rax no teu qu in t a l , queres?

    Ent o Al ionor f icou sr io, quase i rado, e respondeu :

    -Sabes mui to bem que Armon governado por anjos, Goraz. Anjos. Uma nicacent r ia deles daria cabo de t odo s os nossos exrci tos!

    -M as h out ras manei ras. .. d isse o com erc iante , sor r indo, com um o lhar de quemsabia das coisas. Sabes, nessas min has andan as pela M esovngia... eu soub e de co isas...

    -Que coisas? indagou o r ei , ainda sr io.

    -Bem, sabes como a relao entre os anjos, no ? Uma coisa. . . bastantecom plexa... Cada um d eles quer algo di feren te. . . cada um d eles tem desejos di feren tes. ..desejos bastante arden tes, se que m e ent endes.

    -Vai d i re to ao pont o, Goraz! d isse f i rmem ente A l ionor , quase dando um a ordem .

    -Sabes, Batraal ando u fazendo coisas. .. coisas que cert ament e M itrax no aprovariae, se ele soub er. . . bem.. . ela sofre r m ui to , sabes?

    -E com o sabes disso?

    -Ah! No , no, no, no, no. Isso eu no p osso t e cont ar! M as.. . posso fazer algom elhor! Posso falar com a n ald e convenc-la a sai r de Ar m on. E, Al ionor, se eu f izer isso, m edarias o reino?

    Al ionor o lhou desconf iadament e para o seu in ter locutor :

    -No esto u acredi t ando m ui to n essa hist r ia!

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    -M as no tens nada a perd er ! exclamou Goraz , abr indo os braos.

    Ent o o Rei de Espadas, o Prim eiro, se levant ou m ajesto so e disse, esten dend o u m adas mo s:

    -Se convenceres os mitraxianos a deixarem Armon, sem o derramamento de uma

    gota d e sangue sequer, ou d aquela coisa t ran sparente qu e corre n as veias dos anjos, ent o t ecoroare i pessoalmente como o Rei de Armon . E mais: te const ru i re i um palc io no vo em fo lhaem Ar adis!

    Goraz levantou-se tambm e aper tou a mo d o re i , d izendo:

    -Negcio fechado !

    E , ento, naquele d ia , aqueles homens se laram o des t ino do ex t remo nor te deBrenor .

    #######

    No f im da tarde, o re i sent iu vontade de caminhar para pensar , como era do seucostum e. Ento , sem que o d esejasse especif icament e, passou pert o d a carroa de Goraz, quetr azia a jaula. Estava distrado e o uviu u m a voz que assim d isse:

    -A ira nun ca atrai coisas bo as!

    Ent o, o re i se virou. Tinha cert eza que a voz viera d a carroa. Estava escuro, m as seaproximou e v iu, dentro da jaula, um gigante, com as mos amarradas. Estava vest ido comuma tnica de tecido grosso que lhe cobria todo o corpo e que t inha cores espalhafatosas:amar elo e ro xo, em estr ias i rregulares, embo ra a rou pa est ivesse desbot ada e suja. T inha u m avenda n os olhos e, logo, o rei percebeu , pelo jei to com que vi rava a face, que er a cego.

    -O que disseste?

    -Que a i ra pode for t a lecer demas iadamente o in im igo! torn ou a d izer o g igante.

    -Sbias palavras disse o rei , diplom at icamen te. Quem s tu?

    -Sou apenas um m estre k icheraz.

    -Kicheraz? Ah, sim.. . um rel igioso k ichetu, um venerado r de k iches, no m esmo?

    -Tent amo s entend-las, senhor. As k iches so cr iatur as m ui to incomp reend idas!

    - Incompreendidas? indagou o re i , sor r indo, um tanto n ervosamente. O que se ha ent ender sobre aque les monstro s assassinos?

    -H mui t o a se entender sobre elas, Grande Rei de Breno r. As k iches so f i lhas daFloresta Inf ini ta. Foram cr iadas por ela durant e a Guerra de At hlanda, quando as salamandr asqueimaram mi lhes de qu i lmet ros quadrados de f lo restas!

    -Sim , e d a?

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    -E da que as k iches som ent e tm um prop si to na v ida: prot eger as f lorestas!

    A l ionor o lhou bem para o mest re tu e no pde de ixar de r i r . Depois f i cou sr ionovament e e , quase i rado, d isse o lhando f i rmem ente para o g igante:

    -No acredi to nessa hist r ia! As k iches so m onstro s sanguinrios. J mat aram

    indiscr iminadamente centenas, talvez mi lhares de brenorianos. Homens, mulheres e cr ianassem d ist ino!

    -Indiscr iminadam ent e? disse, r indo, o k icheraz. Ah, no... no. Antes de executarqualquer v t ima, as k iches anal isam a sua alma, pois tm esse poder. Examinam o nt imo doespr i to das suas presas, pesando-lhes o passado, o presente e at o futuro, o qual podemtambm ver. Ento, di laceram o ser v ivente apenas se ele representa um r isco para asf lorestas.

    -Con versa fiada! N o acredit o n essas cren as super sticiosas!

    -Ah, um hom em sem f . . . A fa lta de f a inda te far sof rer , A lionor !

    -Com o sabes que sou eu que estou diante d e t i? No s cego?

    -Posso ser cego, pois no e nxergo com o o s hom ens. Essa venda opaca, nada de luzpassa por e la . M as posso ver m ui to m ais que os hom ens, majestoso re i ! Ento, e leaprox imou u m pouco m ais o ro sto , e se fez ver m elhor expondo-se l im i tada luz de poucosarchotes que por a l i se in f lamavam e completou : - No ser iam os hom ens os cegos? Noseriam aqueles que no enxergam as conseqncias dos seus atos a longo prazo aqueles querea lmente no vem?

    -M as que viso essa que tran sforma m onstro s em b em -fei tor es?

    -Examina os fato s, m ajestade. Pensa bem. Ref lete sobre quais foram os povoado s evi las que sofrer am at aques de k iches. Por acaso, no estavam construindo suas casas commadei ra?

    A l ionor pensou e o lhou desconf iadament e para o mest re k iche:

    -Por que fos te preso?

    -Por ter d esobedec ido a um a n ica le i: o decreto rea l que probe que qualquer tuvenha a Brenor!

    -Hum .. . sei . .. E por q ue d ecidiste desobedecer t al le i?

    -Porq ue ten ho u m a misso a cump ri r em Bren or. Um a misso de.. . catequese!

    -Con heces mu ito acer ca das kiches, no conh eces?

    -Com o tod o m estre k icheraz.

    -H meses v imos procurando um ninho.. . mas no conseguimos ach-lo! Se meajudares, providenciarei tua l ibertao!

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    O tu pen sou por alguns segundo s, depois disse:

    -Acei tarei vossa oferta, majestade. E, nesse meio tempo, podereis aprender umpou co mais sobr e as defensoras.. .

    #######

    Al ionor mandou sol tar o mestre k ichetu e, na manh seguinte, ele j andaval ivremente pelo acampamento, atraindo o olhar desconf iado dos cavalei ros. Mas era chegadoo m om ento do in cio do t re inam ento d e Rato Valente. Ento, nessa m anh enevoada, hav iam-no enf iado numa armadura e , agora, e le se encont rava amarrado por duas cordas. Ambasestavam atadas c in tur a da sua armadura. Uma de las estava f i rmem ente amarrada a um arvore, s suas costas. A outra se prend ia a um grosso f io d e k iche, atravs de um a argola defer ro , e o f io d e k iche era bastante com pr ido uns dez met ros mais ou m enos e at ravessavaum tapum e de madei ra co locado na ver t i cal , at ravs de um or i f cio , onde hav ia um a f igurars t i ca de um a k iche, p i tada sem mu i to esmero com um a t in ta escura. O f io de k iche estavaest icado, o qu e fazia com q ue Rato Valente sent isse um a trao que o p ressionava para f rent e.

    Pssaro N egro, que estava ao lado d o r ecruta, disse, ao ent regar- lhe um a lana:

    -Esse o pr imeiro passo no treinamento de um cavalei ro da Ordem do DragoDour ado. o que acontece qu ando caamo s kiches. Elas lanam os seus f ios e eles grudam nasnossas arm aduras. Ent o, som os violent ament e puxados. Tem os que estar prepar ados!

    Ele disse isso da maneira mais sria que podia, mas os demais cavaleiros, queestavam reun idos em roda em torno , t inham qu e co locar as mos na boca para conter o r i so .Rato Valent e olhava o seu instru to r com um a cara de assustado.

    -E... o que.. . eu vou ter que f azer? indagou ele, gaguejando .

    - s segurar a lana!

    E, ento, Pssaro Negro fez um sinal com a cabea para Tronco Deitado. Este estavacom um machado na mo e, imedia tam ente, cor tou v i r i lment e a corda que prendia o meninona rvore. Com o corte, o f io de k iche se contraiu e Rato Valente foi arremessadoviolentam ente para f ren te. Ele conseguiu segurar a lana por u ns t rs m etro s, m as essa v i rou ese f incou no cho. Ento, ele a sol tou e ela quicou no ar, passando sobre a cabea de LivroRasgado, logo aps ele se abaixar. Quant o a Rato Valent e, se esborrachou contr a o t apum e dem adeira e caiu para t rs, de costas no cho, tont o.

    Todos explodiram em r isos, menos Pssaro Negro e Al ionor, lado a lado, que

    olhavam tud o d iver t idamen te.- disse Pssaro Negro. Acho que o m enino leva jei to!

    A l ionor deu- lhe um t apa no om bro e re t rucou:

    -Ento treina-o bem!

    Tronco Dei tado cor reu para a judar o rapaz a se levantar . Quando o co locou em p ,ouviu-o dizer:

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    -No sei se con seguirei fazer isso! Sou u m fracasso!

    -Fracasso? indagou Tronco Dei tado. Foi o melhor ar remesso q ue v i ! Nem largastea lana de cara!

    Rato Valente olhou o companheiro intr igado. Depois, Tronco Dei tado se empolgou e

    passou a falar al to, para qu e to dos ouvissem :-Ah, rapaz, precisavas ver o que aconteceu com Livro Rasgado nesse teste. Ele bateu

    na m adeira de cabea pra baixo!

    Todos r iram ao se lem brar do ep isdio.

    -E Pssaro Negro , ento. Ele enf iou a cabea no bu raco da m adeira e f icamos meiahora tent ando t i rar e le de l!

    - verdade! verdade! disseram t odos, r indo.

    -E Joelho Esfolado, en to. No a to a que ele t em esse nom e!

    - m esmo! disseram o s com panheiro s, r indo m ais ainda.

    -E Lana Tort a! Ele... ele... bem ... ele no t em esse no m e po r causa desse te ste!

    Ent o to dos explodiram num a gargalhada s. Livro Rasgado teve q ue segurar a panade tanto r i r . Joelho Esfolado ps a no na boca e se agachou para sufocar as gargalhadas.Irv ine f icou com a pele int ensament e esverdeada.

    -Senho res disse o rei , ligei rament e mais sr io, se refer ind o a I rv ine, que t amb mobservada tudo, sor r indo, - h uma dam a presente!

    #######

    Mais tarde, Joelho Esfolado chamou Rato Valente para ajudar- lhe a ver i f icar ascondies de um a carroa.

    -Ajuda-me a olhar em baixo da carroa, ver se no h vazam ento .

    -Vazament o? indagou o rapaz. Por que essa car roa sempr e de ixada maislonge? O que t em nela?

    -leo, garoto . leo! respondeu Joelho Esfolado, agachando -se e olhand o em baixoda carroa.

    Depois se levantou e ergueu p arcialment e a lona que a cobria. Rato Valent e observouintr igado que a carroa estava abarrot ada de coisas que p areciam barr is. M as eram barr isest ranhos, po is eram c i l indros de fer ro , meno res que u m barr i l de madei ra , a lgo qu e jamaishav ia v isto antes. Out ra co isa in t r igante fo i a car roa. Ela tambm no era fe i ta d e m adei ra,m as um meta l qu e e le abso lu tament e desconhec ia .

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    Enquanto isso, I rv ine, intr igada, observou o gigante que estava sentado no cho,longe de t odos, fazendo algo. Aprox imou-se e indagou:

    -O qu e fazes?

    O gigante parou por alguns instantes. Ergueu a cabea, mas no na di reo dela,como se quisesse a ouvir melhor. Ele t inha uma faca na mo, a qual usava para moldar umpedao de m adei ra.

    -Um p fano respondeu e le .

    -Sabes t ocar?

    -Todo k icheraz o sabe respondeu e le , com o ros to vo l tado ao longe. Estou n ovigsimo ano de apren dizado da m sica k ichetu.

    - Interessante disse a el fa, se sent ando no cho e cruzando as pernas. Nunca ouvim sica k ichet u!

    O gigante sorr iu, sem nada d izer e cont inuando a fazer o seu tr abalho.

    -Com o consegues ver? indagou ela, cur iosa com a venda espessa do t u.

    -H os son s, os cheiros, o ven to ... e dep ois... eu vejo ... vejo as almas!

    -Vs as almas? Quere s dizer qu e enxer gas o plan o astral?

    -Oh respondeu, sor r indo, o re l ig ioso, - ve jo que sb ia s, pr incesa. Conheces aexistn cia do plano astr al !

    -Por q ue m e chamas de pr incesa? perguntou I rv ine desconf iadamente.

    -Por seres I rv ine, a t erceira dos f i lhos de Bhorgus!

    A e l fa o lhou para um lado e para o out ro , para se cer t i f i car de que n ingum h av iaouv ido aqui lo .

    -No digas a ningum , est bem ? Ningum sabe aqui quem eu sou!

    -Com o quiseres. .. Irv ine! respond eu o gigante.

    -Com o sabes quem eu sou?

    Ent o, o k icheraz v irou -se para ela, mostr ando o seu ro sto pl ido e cheio de c icatr izese, o que quer que seja que t inh a por t r s da venda parecia de fato v- la. Assim , respon deu:

    -Disse qu e enxer go as alm as, no ?

    #######

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    Algumas horas mais tarde, j abastecidos, deixaram a c idade, em comboio. Todosforam montados ou nas carroas, exceto o gigante, pois no havia montar ia para ele. Okicheraz indicou o caminho, dizendo que encontrar iam o ninho a noroeste. Assim, foram pelaest rada e tom aram o rum o nor t e , na pr imei ra b i furcao. Mas no hav iam percorr ido a indanem dez qu i lmet ros , quando encont raram um destacamento de gnomos, caminhandoalegremen te n a di reo oposta e cantando , com re des de caar borb oletas nas costas:

    E um t rog lodrom n um tonel de vinho

    O que ?

    Kastu zl ia! Kastu zl ia!

    E o luvart i que desdentado est?

    Kastu zl ia! Kastu zl ia!

    E, na frente da coluna de gnomos, estava o prprio Guldariar, o rei , parecendo fel izda v ida.

    Ao v- los, os drages dourados det iveram os seus cavalos. Vista Grande,com prim indo os olhos, desabafou:

    -Ora! Se no aquele sem-vergon ha do Guldariar!

    O grande Al ionor, ao v- lo, desmontou incont inent i de seu cavalo e se apressou emlhe dar um ab rao, dizendo:

    -Seu trat ante!

    -Seu bas tardo! fo i a resposta do gnomo .

    -O que fazes por aqui , Gul? As coisas esto to m on ton as assim l em Ftrea? indagou o rei , sorr indo.

    -Ah, que nada! Mas um gnomo prec isa resp i rar um pouco de ar puro de vez emquan do! Estam os caando luvart i ! disse Guldariar, orgulho so de si mesmo . Depois olhou p araum lado e para out ro , e completou ba ixinho: - No va i contar m inha esposa, est bem ?

    -E qu al a graa em caar luvart i?

    -Ah, precisa ver a car inha deles dentr o dessas redes! e levantou a red e que levavas costas.

    Ent o foi a vez de Al ionor olhar a sua vol t a e, imed iatam ente aps, disse:

    -Preciso f alar um a coisa cont ido. . . em par t icular!

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    Assim, saram, os dois reis, da estrada e se posic ionaram atrs de uma moi ta paraconversar sobre coisas de estado . Nesse m eio te m po, Pssaro N egro ent regou u m papel a RatoValente, contendo u m esboo que f i zera most rando as presas de um a k iche. M as, antes defalar sobre isso, disse:

    -Os drages dour ados tm duas grandes regras.

    M as Rato Valente j ouvira a pr incipal delas:

    -Nunca de ixar um companh ei ro para t rs reci t ou o rap az.

    -Sim! M as h um a out r a cont inuou Pssaro Negro: - Nunca so l tar a lana!

    Rato Valent e pensou du rant e alguns instantes. Depois acenou com a cabea dando aentender que hav ia com preendido. Depois o lhou p ara o papel e seu ins t ru tor cont inuou a au la :

    -V: as k iches machos possuem quatro pares de presas. As maiores, com setentacentmetros de comprimento no cortam, so fei tas para segurar a v t ima. Mas so fortes e

    pod em at amassar um a armadura esmagando o cavalei ro. Por isso, nossas arm aduras sopesadas e possuem casco duplo! Abaixo das presas maiores esto as duas duplas de presasdentadas. Essas so af iadas e podem tranqui lamente retalhar qualquer animal . So comotesouras que cor tam at osso como mante iga! Mas as duas duplas no tm mov imentoindep enden te. Se tu t ravares um a delas, a out ra dupla tam bm pra de se m exer. Os gigantesusam um objet o, um t ipo de c i l indro de m adeira, para bot ar ent re essas presas, para im obi l iz-las. O no m e desse o bjeto . .. . ..

    Rato Valente es tava impress ionado e ouv ia tudo atentamente. Mas o mest rekicheraz tam bm estava ouvind o e, ao perceber a di f iculdade de Pssaro Negro em lemb rar onom e do ob je to , d isse:

    -Kot ra. O objeto se cham a kotra.

    Pssaro N egro f icou em silncio duran te alguns instant es, olhand o desconf iadam entepara o gigante. Depois cont inuou .

    -Agora, as pr esas super iore s. Na m inh a opin io, so as pior es. So m eno res, mas soper furantes e cor tam qualquer co isa. E, quando um a k iche segura um hom em, essas presasf icam n a al tura do rosto. Ent o, elas retalham os nossos elmos. E, se t iveres sem elm o, bem ...

    Rato Valente olhou para o mestre k ichetu e v iu as marcas no seu rosto. Ele no eraum hom em, m as um g igante. Contu do, mesmo assim, Rato Valente im aginou que as presas

    super iores tambm at ing ir iam o ros to de u m g igante, ta lvez de form a a inda mais d i re ta que nocaso de hu m anos.

    -E um a kiche cont inuou o inst ru t or no lana a sua te ia a par t i r do abdm en,com o fazem as out ras aranhas. O f io sai bem d o m eio das presas superiores. Ent o para lque somo s puxado s!

    -E o veneno? Sai de ond e? indagou o jovem drago.

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    -Bem.. . no m om ent o. . . apenas... amizade!

    -Amizade? exclamou Guldar iar , um t anto ind ignado. Depois andou para um lado,andou para o o ut ro e , ento, a je itou as calas, cusp iu na pa lma da m o e a es tendeu a A l ionor ,dizendo:

    -s mui t o convincent e, senhor Rei de Espadas! Negcio fechado!A l ionor sor r iu e aper tou a mo do gnomo:

    -Negcio fechado !

    #######

    No d ia seguinte, estavam avanando pelo caminho indicado pelo gigante. Ele estavadando os l t imos acabamentos no seu p fano, usando um pequeno canivete e, de vez emquan do, assoprava, sem que um nico som fo sse ouvido .

    E, pouco antes da hora do a lmoo, apareceu o pr imei ro m onst ro . Um k iche m acho,com m anchas am arelas. Seguiu o com boio, desl izando -se sobre u m a elevao, que ladeava aestrada. Em princpio no o perceberam , pois as k iches so m ui to s ilenciosas e fu rt ivas. M as,logo, o m estre k ichetu ergueu a cabea, e disse:

    -H uma presena entre n s!

    E, imedia tamente, e la pu lou na f rente d o com boio, erguendo-se ameaadoramentenos seus t rs met ros de a l tura , aparentement e i rada. Ento, tudo aconteceu m ui to rp ido:

    Al ionor, Livro Rasgado e I rv ine v inham na frente. Ao se depararem com o monstro,to dos os seus cavalos se assustaram e em pinaram . Eles sabiam q ue a m elhor coisa, nessa

    circunstncia era no perm anecer m ont ado. Assim , deixaram -se cair no cho e ro laram para seabrigar o mais rpido que conseguiram. A k iche, por sua vez, projetou a sua teia e puxouviolentam ente o cavalo de Livro Rasgado, estraalhando -o nas m andbulas.

    Todos desmontaram o mais rapidamente possvel e procuraram lanas e arcos.Pssaro Negro imediatamente ret i rou a lona de sobre a carroa de armas. Horcioest ra tegi cam en te se escondeu po r t rs de um a g rande pedra . Um a das car roas dem ant im ent os v i rou qu ando os cavalos se assustaram , aum ent ando a confuso.

    Em meio ao tumul to , a k iche procurou por aquele que t inha o corao maisamedrontado: Rato Valente, que estava desorientado, sem saber o que fazer. Assim, ela

    pro je tou novamente a sua te ia , at ing indo-o em cheio . Ento, puxou e e le voou pe lo ar . M as,antes de at ingi r as m andbulas do anim al , conseguiu agarrar um escudo e foi este que at ingiu akiche, bem na al tura dos olhos. Surpreendido, o animal o largou. Rato Valente caiuviolentamente no cho, a dois metros do inseto gigante, mas este estava enfurecido e part iupara c ima do rapaz, no se detend o m esmo quando I rv ine lhe espetou um a f lecha num dosolhos.

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    Enquanto i sso acontec ia , um a par te dos cava le i ros vest ia armadurasapressadamente, enquanto outros, portando lanas, tentavam organizar um meio crculo emtorn o d o an im al para espet- lo .

    M as a k iche se moveu t o rpido q ue fechou suas presas m aiores em to rno d e RatoValente. Mas esse, por puro ref lexo, conseguiu colocar o escuro entre ele e o monstro, de

    for m a que este abocanhou , na verdade, esse objeto . Ent o o ergueu , mas Rato Valent e no oso l tou - sua m o estava presa - e fo i ergu ido junto . I rv ine j t inha out ra f lecha na m i ra , mashes itou em at i rar , com m edo de at ing ir o rapaz.

    Os hom ens passaram a espet ar o animal , m as esse estava enlouq uecido e, com suasoi to patas, dava golpe nos cavalei ros, jogando-os longe. Ao mesmo tempo, v i ravav io lentamente a cabea de um lado para o out ro , sacudindo Rato Valente junto . A lionor , com asua espada, corto u um a das pernas da aranha, mas outr a das suas patas o jo gou longe.

    Ento, f ina lmente, o mo nst ro largou o escudo, pro je tando-o longe com Rato Valentejun t o . Est e veio a se ch ocar co n t ra um a r vo re e f ico u desfal eci do .

    I rv ine inut i l izou mais dois olhos da cr iatura e, nesse meio tempo, Livro Rasgado eTronco Dei tado , os mais rpidos, j haviam vest ido as suas armadu ras e se po sic ionavam comsuas lanas na frente da k iche. Ento, passaram a bater fortemente sobre o pei to de suasarmaduras, com a mo esquerda fechada, onde havia a f igura estampada de um dragodou rado, fazendo grand e barulho, para atrai r o animal , gr itand o coisas com o:

    -Hei , seu b icho no jento . Vem enf rentar quem pode cont igo! Vem enf rentar umdrago dourado!

    E, de fat o, a kiche paro u. Foi at rada pelas suas vozes e passou a exam in-los, com osolho s que ainda lhe restavam.

    Nos dois segundos em que o exame se deu, Tronco Dei tado e Livro Rasgado seolharam, abaixaram as vise i ras dos e lmos, enquanto d isseram ao mesmo tem po:

    -Doze a doze!

    E se v i raram para o monstro, posic ionando suas lanas. E, se o lei tor fosse umdaqueles drages dourados, ter ia sent ido o que eles sent i ram. Pois eles sent i ram como se otempo parasse, como se t ivessem diante dos portes do inferno. Sent i ram os seus coraesapert ados no pei t o, quase querend o sair pela boca. Sent i r am-se como se est ivessem beira deum precipc io e a queda estava al i , esprei tando-os, enquanto o s i lncio da v ida suspensa os

    acariciava e seduzia.E, ento, a kiche disparou o lt imo fio da sua existncia. Esse atingiu Livro Rasgado

    bem no pe i to e , menos de um segundo depo is, j estava ent re as mandbu las do mo nst ro , quese cont orcia e guinchava, ao ter a lana lhe varado a cabea, bem ent re os olhos.

    Livro Rasgado revolveu a lana no inter ior do monstro com raiva, enquanto que akiche ten tava i r para t r s, t ro peando n as coisas, para se salvar, e o cavaleiro gr i tava:

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    -M orre, sua desgraada! M orr e, coisa nojen ta!

    Ento, f ina lment e, a k iche se encolheu e aquie tou, parecendo m ui to m enor do querealmente era. Livro Rasgado caiu dei tado de costas no cho, cheio de sangue de k iche,resmungado:

    -Ah, que coisa nojent a! Que coisa nojent a!T ronco Dei tado lhe es tendeu a mo e o puxou novamente para f i car em p,

    rec lamando:

    -Droga! Agora s o camp eo! Treze a doze!

    Al ionor correu para junto de Rato Valente. Vista Grande j o segurava, tentandom anter sua cabea levantada, de ond e escorr ia mu i to sangue. O rapaz estava inconscient e eVista Grande inform ou, af l ito :

    -Talvez ten ha quebr ado o pescoo, com andant e!

    Fo i somente ento que Meissa apareceu, andando t ranqui lamente a t ravs daconfu so. Ao v- la, o rei im ediatam ent e se ps de p e quase gr i to u no seu ouvido :

    -Onde estavas?

    Ela nem se d ignou a o lhar para o re i , cont inuando a andar e parando per t o do corpoda kiche, dizendo :

    -J v i que n o posso te deixar um m inuto sozinho !

    Ela tocou o monstro, para se cert i f icar que realmente estava morto. Al ionor olhoubem para as costas dela e acrescent ou:

    -Sabias que isso ia acontecer, no sabias? Por isso chamaste Rato Valente dena t im or to ! Por qu e no m e disseste?

    Ela se levantou , olhou rapidam ent e para ele e disse:

    -E adiant aria algum a coisa?

    Depois se afasto u no vament e.

    Al ionor a v iu se distanciar e, ento, com dio nos olhos, praguejou:

    -M ald ita te t rav iso!

    #######

    Mas Rato Valente no morreu. Os remdios l f icos so poderosos e I rv ine cuidoudele. M as, na manh seguinte, quand o Irv ine e vr ios cavalei ros estavam sob a tenda d o rei , aolado de Rato Valente , que havia s ido l instalado e que j abr ia os olhos, ouviram o soar deum a t rom be ta .

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    -El fos! exclamo u Livro Rasgado.

    E a t rom beta soou d e novo.

    -E essa no uma t rom beta qualquer d isse profe t i camente V ista Grande. at rom be ta de A lb ion !

    -O que ele faz aqui? indagou, mais para si que para os out ros, Al ionor, com u msorr iso no s lbios.

    M as Irv ine no sorr iu. Antes, f icou apreensiva.

    Incont ine nt i , o rei saiu da ten da, acom panhad o pelos comp anheiros. O prncipe l f icoj est av a l no desca m pad o o nde par ar am na no it e an t er io r , aco m pan had o po r al gu m asdezenas de el fos arqu eiros, m ont ados em cavalos. Ao ver Al iono r, abr iu o s braos e disse:

    - I rmo!

    A l ionor cor reu e o abraou for t ement e, d izendo:

    -Seu tr atant e de um a f iga!

    Albion era um el fo no tus, jovem e fo rte, com longos cabelos brancos e l isos.

    -Hei d isse e le , - prec isamos provocar mais a lgum as sa lamandr as, estou comsaudades dos tem pos de guerra, quando lutvamo s lado a lado!

    -Vamo s invadi r Dracmal i , ento! re t rucou o re i , br incando.

    Logo, um drago verde p ousou logo al i , a poucos passos do r ei e do p rncipe e outr oel fo sal tou dele. O drago estava coberto por diversos pedaos de tecidos color idos e f i tas,

    dando- lhe um a aparncia b izar ra e chamat iva. O e l fo que lhe m ontava era M ordar ion, o i rm ode Albion, segundo na sucesso do tro no d e Karnevion .

    A l ionor tambm o saudou, levantando os braos:

    -Salve, M ord arion!

    E, ento , os tr s se abraaram .

    -Vamos entrar e t om ar algum a coisa! exclamo u o Rei de Espadas.

    -No podemo s d isse A lb ion, - estamo s com pressa!

    -Pressa? Ora! O qu e viestes fazer p or aqu i?

    -Procuramos nossa i rm d isse M ordar ion. Ela se perdeu dos pr imos no mui tolonge daqui . Podes nos ajud ar, i rmo?

    -Vossa irm ? Eu n em sabia que t nheis um a!

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    -Ela mais nova que ns expl icou A lb ion. No tem nem cem anos! Por acaso noa viste ?

    -No, i rmos. Uma el fa nos acompan ha e no s ajuda. M as Irv ine no.. .

    Al ionor i r ia falar sobre I rv ine, mas quando os el fos ouviram o nome dela, o

    in ter romperam, gr i tando:-Irvin e? essa!

    O rei f icou alguns segundo s em silncio, piscando e pensando. Depois, ps as mosna cintura, olhou para o cho, olhou para o cu e suspirou. Depois, de boca aberta, tentouindagar:

    - I rv ine? Ent o.. . quer dizer. .. A I rv ine. .. Quer dizer que Irv ine vossa i rm ? Fi lha deBhorgus, o rei do s el fos?

    A lb ion o o lhou ser iament e e respondeu:

    -Sim , essa m esma!

    -Essa boa! exclamo u o rei , incrdulo.

    Depois de pensar m ais um pou co, disse a Vista Grand e:

    -Vista Grande, vai chamar a I rv ine!

    -Senho r, ela j no est mais na ten da expl icou calmam ent e o ancio. Eu a v i sai rdepo is de n s, ent rando al i na f loresta.

    M ordar ion o lhou p ara o i rmo e d isse:

    -Tem os que lev-la, Albion!

    Al ionor estendeu o s braos na di reo aos el fos e declarou:

    -Deixai . Eu a encont ro! e saiu na di reo indicada por Vista Grande.

    Aps alguns m eses em campanh a pela Ordem , o rei j a conhecia bem . Sabia que e laestar ia sobre uma al ta rvore, esprei tando tudo. Ento, caminhou em si lncio e com osouv idos apurados. Quando ou v iu um baru lho m ui to sut i l , o lhou para c ima e v iu a lgo qu e sem exera e acabara de parar. Ent o, comeou a escalar um a rvore.

    Subiu, subiu mui to al to. Ela sabia que no poderia se mexer, do contrr io revelar iasua posio. Mas, quando estava j a v inte metros de al tura, conseguiu ver algo entre osgalhos. Um a coisa. .. di feren te.

    -Vai embo ra! d isse e la .

    A voz no soava com a de Irv ine, e tambm a aparncia no era a dela. Estavaescondida entre os galhos, bem mais al to que o rei , mas Al ionor podia ver que t inha cabelosm ais curto s e parecia m enor .

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    - Irv ine? indagou o re i .

    -No sou Irv ine disse aquela voz, que parecia de um a garot a. Ela me disse quevol tar ia logo!

    A l ionor sub iu m ais um pouco e a observou m elhor . M as no po der ia sub i r m ais, po is

    os galhos j estavam b em f inos. Aquela el fa que estava sobre o s galhos parecia um a men ina deuns dez ou doze anos, que pro curava esconder o r os to com um a das mos, o lhando em out radireo.

    -s Irvine, no s?

    -No! M eu nom e .. . Nerah!

    - Irv ine.. . teus i rmos te procuram! No s uma dr ade ainda, no m esmo ?

    O corao da el fa palpi tava. Ela tambm conhecia Al ionor mui to bem, o suf ic ientepara am-lo, e ela no queria que ele a v isse como uma breas, com a aparncia de uma

    m enina, e sim com o um a mu lher dese jve l .

    M as, ao o lhar para e la, ao ver aquela menina que parec ia chorar , o corao do r e itam bm b ateu d i ferente. Apareceu um sent im ento que absolu tamente e le no comp reendia .Um mis to de t ernura, patern idade e. .. redeno.

    -Ouvi , Irv ine. Se no vieres at m im, eu vou subir !

    A e l fa hesi tou e A l ionor comeou a sub i r .

    Ela sabia que ele no se deter ia e acabaria quebrando um galho, despencando dasal turas. M as um a el fa breas pod e voar. E foi o que ela fez.

    Invocou o s ventos. E se lanou no ar. De braos aberto s.

    Caiu a lguns met ros , enquanto o re i se v i rava para observ-la . Depois se e levouvelozment e e se foi po r c ima do do ssel .

    M as, antes de seguir v iagem, acabou p assando por c ima da c larei ra e foi v ista pelosi rmos.

    -Nerah ! g r it ou A lb i on .

    M ordar ion passou a cam inhar rp ido em d i reo ao dr ago, d izendo:

    -Deixa que a p ego!

    De um sal to, mo nt ou sobre o anim al ondino e se lanou ao v o. E os drages verdesl f icos so os mais rpidos e geis do mundo. Ento, rapidamente, j estava no encalo daprincesa lf ica.

    M as ela era rpida e habi l idosa. Assim , num a sucesso r pida de desvios e pi ruet as,no permit iu que o i rmo a apanhasse no ar. At que conseguiu at ingi r uma rea de f loresta

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    densa, desaparecendo por ent re as rvores . E M ordar ion tamb m conhecia bem a sua irm esabia que, naqu ele local, jamais a acharia.

    Ent o, refreou a m ont ar ia e, ainda no ar, se retesou sobre o d rago, dizendo para s im esm o:

    -O sangue de Athlo n corre fo rte em tu as veias, querida i rm!#######

    M ais do is d ias se passaram, enquanto a comp anhia seguia o caminho determ inadopelo mestre k ichetu. De vez em quando, ele soprava o seu p fano, depois f icava em si lncio,escut ando algo que absolutam ent e no podia ser ouvido . Depois indicava o caminho .

    -Vamo s por aqui d izia .

    As est radas j hav iam f i cado para t rs. Ento, f reqentem ente t inham que abr i rpicadas por entr e a f loresta. M as o gigante aconselhara a no derr ubar rvo re alguma. Ent o,

    o avano era lento .

    E foi no t erceiro dia que ele apareceu. Ningum sabe com o ele achou o grup o, mas,num a tarde, de repente, logo aps armarem acampam ento, Si r ius apareceu na t enda do re i .

    Surpreendido, o rei no soube o que lhe dizer, mas o mago sorr iu, por t rs de suabarba cinzenta, indagando :

    -Ainda no enjo aste d e caar?

    -Sirius! O qu e fazes aqu i?

    -Vim rever os amigos. M as no posso f icar mu i to!

    -Retornas te d i re to d a M ura lha?

    -Sim . Devias estar l, Rei de Bren or , e no aqu i, caando fer as.

    -Sirius, sabes qu e e u...

    -Ora, A lionor in ter rom peu o m ago, m i rando o re i bem nos o lhos. Sabes que pod esdeixar essa t arefa a cargo d e Livro Rasgado. Ele com pet ent e o suf ic ient e para isso.

    M as o rei no qu eria nem f alar sobr e isso.

    -Com o esto as coisas por l?

    -J temos f luxo telr ico o suf ic iente ao longo de cem qui lmetros para odeslocamento dos blocos. Queria qu e visses aqui lo!

    -Ver o que? As pedras voarem? No. .. pre f i ro poupar o meu povo do sof r iment o!

    -No poders mais poupar o povo do sofr imento se pereceres nas mandbulas deum a kiche! disse o mago, agora parecendo j m eio zangado.

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    -Sir ius.. . j matam os dezenas de kiches machos.. . e du as fmeas!

    -M as elas estavam em seus ninho s, no ? Uma kiche fm ea no ninh o vulnervel . ..Agora, o que far ias, Alionor , se t ivesses que enf rent ar um a fmea em campo aber to ?

    O m ago d isse aqui lo de t a l form a que de ixou o re i l i ge i ramente desconcer tado. M as

    ele pensou durant e poucos segundo s e respon deu:-Usaria o drago!

    -H! O drago! zombou o m ago. E como sabes que va i func ionar?

    -Belial me garant iu qu e.. .

    -Ah! Be l ia l ! in ter rom peu novamente Si r ius, o lhando para o a l to , demonst randoimpac incia . Um anjo conhec ido m undia lmente pe la fa l ta de ser iedade!

    -Sei qu e ele d isse a ver dad e, Sirius.

    -E pretendes apostar a tua v ida n isso, no ? indagou o m ago, de form adesconcer tante .

    Al ionor f icou olhando-o por alguns segundos. Mais uma vez, o mago de Lumeraeparecia o seu pai . M as, de repen te, o m ago abaixou a cabea, seguro u f i rm e o cajado e se psa andar de um lado para o out ro , parecendo preocupado.

    -Sabes? Vim t e d izer algo...

    -O que ?

    -Falei com M itrax. . . confessou, em voz baixa.

    -M i t rax? gr i tou o re i . Que h istr ia essa?

    -A voz dele. . . tem surgido d e vez em quan do n a min ha cabea...

    -Como?

    -Fizem os o acordo , Al iono r!

    -Acordo?

    -Sim! gr i tou o mago, levantando novamente a voz , parecendo de novo i r r i tado. Oacordo para a constru o da M uralha! Eu te disse que precisaramos da perm isso dele! AM uralha deve chegar ala nor te das M ont anhas de Fogo, Al ionor, atravessando o s seusdomnios!

    -E quais foram os term os desse acordo? pergun tou o rei , desconf iado.

    -Ele quer qu e instalemo s um Orculo. . . em Dracmal i .

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    -Em Dracmal i? Um Or culo. .. na po sse de M itrax e. . . das salamand ras? Por que noem Promethea?

    Sir ius estre i tou o s olhos, parecendo olhar para longe, ent o, disse pausadament e:

    -Aparentemente Mitrax no conf ia em seus anjos. . . Depois, ele quer que o Orculo

    controle o acesso ao Fogo Azul . Ele no quer que outros anjos tenham o mesmo dest ino deAzaziel...

    -Oh, mu i to hum ano da par te de le ! i ron izou A l ionor . E, para isso, vamos co locarum orcu lo nas mo s... nas patas das salaman dr as!

    -As salamandr as no t ero o cont role do Orculo! So m ui to est pidas para deci f raros cdigos elaborad os pessoalm ent e pelo Arcanjo Gabriel . M as elas pro tegero o acesso a ele,impedindo qualquer aventure i ro de a t i v- lo !

    -Lemb ra-me de m andar um presente para e las, ento!

    Vendo que o re i no se convencera, Si r ius acabou sor r indo e deu um tapa no om brodo re i .

    -Ouvi , Grande Rei dos Homens, somente um mago treinado nos Doze Ensinamentospod e deci f rar aqueles cdigos. Estar seguro! Ento , colocou as duas mo s sobr e a cabeapet r i f icada da serpen te qu e const i tua o seu cajado e com pletou com vo z suave:

    -Par t ir e i em um m s pa ra o no r te . Dos v in te e t rs m i l t r o l ls que t rabalham naconstruo, levarei mi l e ou tro t ant o de gigantes, cedidos por Nestor. E levarei quant os magospud er, incluindo M eissa.

    -Boa v iagem! exclamou o r e i , c ruzando os braos, em at i tude que qu em n o

    cont r ibu i r ia em nada com a v iagem do mago.

    Sir ius observou o seu pupi lo dur ante alguns segundos, depois, desabafou:

    -Esquece M eissa, Alionor . Ela te f az mal.

    -Gostas dela, no , Sir ius? indagou o r ei , suspirando.

    -Ests vendo es te ca jado? perguntou o m ago, mo st rando o seu ob je to m gico. Dizem que um mago nasce des t inado a um mn imo pedao do Universo, um pedao queref let e a sua alma... E M eissa foi dest inada o utr a parte deste ob jeto! Nossas almas estoent relaadas, Al ionor. A fora que no s une . . . descomun al .. . sobre-hum ana... agora, Sir ius

    olhava o nada, alm d e qualqu er objet o m ater ial . Nossos dest ino s.. . inseparveis para to do osemp re! Amo -a, A l ionor , amo-a de for ma que es t a lm do pr pr io ar rebatament o, a lgo mui tom ais inten so do que pode im aginar qualquer ser hum ano. Ficar desprovido dela ser ia. .. ser iacom o parar de respirar. . . ser ia como u m supl cio etern o, incom ensuravelmen te insuport vel .. .

    Durant e a fala do m ago, Al ionor p erm aneceu olhando para out ro lado. Sofr ia. Estavasem ar. Sent ia um sufoco incom ensuravelmen te insupo rtvel .

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    Sir ius percebeu o sofr imento do seu aprendiz, mas no podia mensurar a suaintensidade.

    -Devias te casar, Al ionor . Encont rar um a moa que pudesse amar-t e sincerament e eque te d esse f i lhos!

    Al ionor estava sentado numa almofada, olhando para o outro lado. Ps-se a fazerdesenhos com o dedo , aleator iam ente, r iscando a terra. M as ele j havia to m ado um a deciso:

    -Sir ius.. . Achas que poder ia casar-me com um a el fa?

    O mago f icou com as orelhas em p.

    -Uma el fa? Bem.. . acredi to que sim .. .

    -E se essa elfa fo sse... a f i lha d e Bho rgus?

    Sir ius arregalou os olh os e sorr iu. Depo is de uns t rs segund os, f inalment e disse:

    -Esplnd ido, Al ionor! Teramo s uma sl ida al iana com Karnevion!

    A l ionor tent ou sor r i r tambm . M as como sor r i r , se o seu corao estava em p edaos?

    #######

    Dal i a dois dias, o com boio avanava pela p radaria. J haviam deixado a F loresta deBarra tas e ent rado no Ducado de M armr ea, estando a meno s de c inqent a qui lmet ros aosul do Rio Mgion. O terreno t inha mui tos al tos e baixos, formado por pequenas col inas,cheias de pedr as. Assim , as carroas avanavam lent amen te.

    Ent o, sem que ningu m t ivesse v isto, o m estre k ichetu pareceu ou vir algo. Sabia que

    estavam p er to . Assim, t i rou um a nota longa e p rofunda de seu p fano. Um som audve l , m asque t inha uma componente secreta. Depois, ps-se a ouvir novamente. E o que ele ouviu,mesmo no sendo audvel aos ouvidos humanos, gelar ia o corao de qualquer ser v ivente.Assim, ele soube, naquele m om ent o, que a sua misso estava quase cum prida.

    E, aparecendo do nad a, sem p rod uzir qu alquer som, po r t r s de um a col ina, elevou-se, repent inamente, uma kiche fmea, adornada por l is t ras amarelas. As pernas surgi rampr imei ro . Depois, seu g igantesco corpo se e levou a v in te met ros de a l tura , bem d iante doscavaleiros.

    Os cavalos empinaram. Os cavalei ros correram at a carroa de armas e t i raram a

    lona, revelando dezenas de armaduras, elmos e lanas. Al ionor permaneceu no cavalo ecomeou a dar or dens:

    -Prot egei-vos! Nada d e crculo d e lanceiros. Preparai o drago!

    Ento, t i rou a espada nuai da c intura, preparando-se para tentar cortar os f ios quefossem lanados, em bor a no esperava que t ivesse sucesso n essa em prei t ada.

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    Imediatamente, sent iu o baque. Um baque surdo, mas.. . estranhamente macio. Etam bm sent iu que uma mo lhe agarrava f i rmem ente na nuca pe la roupa e, a inda, ouv iu um avoz:

    -Segura-te em mim !

    Abriu os olhos, confuso, e v iu, diante de s i , a parte infer ior das costas de algum.Virou o s olhos m ais para c ima e v iu o ro sto de Irv ine.

    -Rpido! exclamou e la , com um ar de preocupada.

    Foi somente en to, com um ar rep io no es tm ago, que percebeu que es tava sobre odor so de um drago verde. I rv ine fazia um a curva e, l em b aixo, t ravava-se a batalha ent re akiche e o drago dour ado.. .

    . ..pois Rato Valent e havia pulado para c ima da carroa e subst i tu do o rei . Pegara ato cha e acendera o pavio.

    Com o corao em pedaos, com lgr imas a lhe ro lar abundantem ente, pensandoque o re i hav ia par t ido para o m undo dos mor t os , Liv ro Rasgado contou:

    -Um ... do is... trs... qu atro ... cinco...

    Ento, o drago explodiu, lanando uma enorme labareda, assim que o pr imeiroton el estourara.

    -A juda-me aqui , garoto ! gr i tou Liv ro Rasgado, cor rendo at uma alavanca ecomeando a bom be- la .

    Rato Valente se junt ou a ele. Na verdade o subst i tuiu, pois, confo rm e os to nis iam

    explodindo, fazendo com que o c i l indro projetasse outras labaredas, Livro Rasgado foico locando out ros bar r i s dent ro do pent e.

    Enqu anto isso, out ros cavalei ros passaram a at i rar f lechas em cham as.

    Enquanto isso, Meissa se posic ionava sob a aranha, v i rando-se de frente para odrago, abr indo o s braos, fechando o s olhos, e gr i tando em d elei te:

    -Ressurrect io Im m ort al is!

    No se sabe se foram aquelas palavras, mas.. . nenh um raio ou encantam ent o saiu deseu cajado. Apenas um a coisa aconteceu: A k iche dob rou o seu abdm en e saliento u o fer ro,

    que ve io descendo, at a t ravessar o m eio do t ronco da m aga. O seu pe i to se encheu de sanguemas ela, antes de agonizar em dor, sorr iu, como se o veneno que a inundara lhe desse umprazer incomensurvel .

    Tronco Dei tado se juntara a Rato Valente na manivela da bomba. Ela parecia umagangorra e cada um mo v imento u um a ext rem idade. Aquela bomba pro je tou leo em d i reo akiche, at ingindo-a. E o fogo foi logo atrs, incendiand o-a.

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    O mon st ro gu inchou e se contorceu. Elevou inst in t i vament e novamente o abdm en.M as Meissa havia f icado enganchada no fer ro. Ento se elevou ju nto e, como aind a sorr isse emant ivesse abertos os braos, parecia voar, enquanto rodava vagarosamente em torno doferro , at f icar d e cabea para baixo, com o se est ivesse cruci f icada.

    Mas a cabea do aracndeo es tava em chamas e no demorou mui to para que

    despencasse e se encolhesse, guinchando de d or.

    Vendo aqui lo, os cavalei ros f icaram em si lncio por alguns segundos. Depois, cadaum deles d isse um impropr io :

    -D iabos! O drago func ionou! mu rm urou T ronco Dei tado.

    -Obrigado, Bel ial. Seu anjo m aldi to! balbuciou Vista Grande.

    Mas Livro Rasgado, que chorava e soluava pela suposta morte do rei , t remendo,gr i tou:

    -M orre , monst ro dos in fernos ! Mo rre !

    #######

    no i te , aps mo ntarem acampam ento no vamente, A l ionor estava d iante do g igante,que se preparava para part i r .

    -O ninho est nas imediaes. Uma kiche fmea nunca se distancia mui to delequando h ovos.

    -Eu sei d isse o re i . M ui to ob r igado!

    -Agora, devo vol tar a Tu e me entregar s autor idades. Minha misso estcumpr ida!

    -Tua m isso n o era de catequese?

    -Sim d isse o g igante cego, d i recionando a face para o cu. Um a misso decatequese: falar ao Grande Rei do s Homen s a respei to das f lorestas!

    Ent o o gigant e se virou, m as disse ainda:

    -Adeus, Rei de Espadas!

    -Boa viagem ! desejou-lhe, ainda, o rei .

    Ento, Al ionor observou o tu se afastando. Ele caminhava um tanto hesi tante, masde manei ra e f i c iente . Ass im, o re i f i cou imaginando como um cego poder ia andar daquelafo rm a .

    Logo, I rv ine apareceu ao seu lado . Al ionor se v i rou e a ob servou. Viu q ue ela haviaajei tado o cabelo, prendendo parte dele na nuca, moda dos el fos. E havia algo di ferente nasua f is ionomia. Havia se pintado? No sabia ao certo. Mas achou que ela estava l inda. E

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    estava.. . di ferente. Parecia mais madura. Parecia uma drade formada, mui to di ferentedaquela menina breas, insegura e amedrontada, que encont rara sobre o l t imo ga lhopossvel daqu ela rvore.

    -Ela vai f icar boa disse a el fa, refer indo -se a M eissa. Estr anho esses ferr es dekiches.. . eles parecem desviar-se dos rgos v i tais. Sol tam o seu veneno na carne e n o sangue,

    sem afet ar os rgos.. . M ord arion m e disse, um a vez, que as k iches no p icam as suas vt im aspara m at- las, mas para convert- las.. .

    A l ionor n o estava prestando m ui to at eno no q ue ela dizia. Estava preocupado emcomo i r ia propor o casamento .

    . ..mas no sei o qu e isso signi f ica! cont inuou ela, sem olhar p ara os olhos do rei .

    -Sent i t ua fa l ta ! d isse A l ionor , f ina lment e.

    - d isse e la , ar r i scando u ma o lhadela t m ida. No acer taram um a n ica f lecha,no fo i?

    Ela tent ou sorr i r , mas no conseguiu. O rei abr iu a b oca para dizer- lhe algo, mas elacont inuou:

    -Precisamo s nos despedir agora, devo part i r !

    -Part ir? Por qu e? Fiz algo q ue...

    -No, meu re i d isse e la , o lhando- lhe nos o lhos. Fostes sempr e m aravi lhoso! M as. .. en t o , um a pau sa. Fal ei co m m eus i rm o s. No fo i a t o a qu e ele s v ie ram at rs de m im . AM uralha vai div idi r no ssos dom nios em dois. H r ixas entre o s cls e um a cr ise se aproxima.

    - Ins ist i com Bhorgos para a const ruo de um grande por to em Karnev ion, m as eleno qu is. Disse que as ful f i l l iar i estar iam m ais pro tegidas com a M uralha.. . ten to u expl icar orei .

    -Sim! No culpa da M uralha. So r ixas ant igas que estavam ad orm ecidas, m as que,um dia, ter iam q ue ser resolv idas. E esse dia chegou! E, depois.. . to m ei o drago de me u i rm oem prestado.. . sem ele saber!

    Al ionor f icou confuso. Planejava pedir a sua mo assim que a v isse novamente.Agora. . . o dever a chamava.

    -I rv ine. .. eu. .. ten to u dizer, mas ela colocou a sua m o no s lbios dele.

    -No digas nada. Som ent e t e peo u m a coisa. . .

    -O que?

    -Algo qu e d sent ido m inha existn cia!

    -Dize!

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    -Isso!

    E abraou o re i , e deu- lhe um profun do be i jo na boca. Um bei jo longo, que pareceutod a uma v ida.

    Ento e la se prec ip i tou em d i reo ao drago. Subiu nu m sa l to , o lhou para e le e

    disse:-Adeus!

    O dr ago bateu as asas e se levanto u.

    -Adeus. .. ba lbuc iou o re i , com o corao aper tado.

    Al ionor no sabia, mas, naquele momento, estava se despedindo da futura me dosseus fi lhos.

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