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A Ordem Perdida

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A Liga dos Yethis traz consigo o espírito de seis jovens guerreiros que precisam encontrar a Ordem. Um pequeno artefato que não demonstra o quanto a existência da humanidade depende dele. Ável com seus amigos terá de enfrentar inúmeros inimigos, diversas dimensões e poderes; além da fúria dos deuses adormecidos. Acompanhe a corajosa trajetória desse grupo que promete não desistir de sua busca.

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A ORDEM

PERDIDA

A ORDEM

PERDIDA

Gabriel Schmidt

São Paulo, 2013

4º Capa

Capa

Copyright © 2013 by Gabriel Schmidt

Coordenação Editorial Letícia Teófilo Diagramação Schäffer Editorial Capa XXX Preparação de Texto XXX Revisão de Texto Mônica Vieira / Project Nine

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo no 54, de 1995)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Schmidt, GabrielA ordem perdida / Gabriel Schmidt. -- Barueri, SP : Novo Século Editoral,

2012.

1. Ficção brasileira I. Título.

12-14722 cdd-869.93

Índices para catálogo sistemático:1. Ficção: Literatura brasileira 869.93

2013IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZIL

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO ÀNOVO SÉCULO EDITORA LTDA.

CEA - Centro Empresarial Araguaia IIAlameda Araguaia, 2190 - 11o andar

Bloco A - Conjunto 1111CEP 06455-000 - Alphaville Industrial - SPTel. (11) 3699-7107 - Fax (11) 2321-5099

[email protected]

Para Antonio Rondini e Márcia Schmidt, por acreditarem em mim desde o começo.

Agradecimentos

Nada neste mundo se consegue fazer sozinho. Para concluir este livro, algumas pessoas me ajudaram.

Gostaria, primeiramente, de agradecer aos meus amigos Lucas Giovanni Farina, por me ajudar a criar os Zordis (ursos com espinhos), Taciano Nasr, grande professor de “exatas”, pelos conse-lhos dados em relação à história, e Gilberto Paiva, excelente profes-sor de idiomas, por me incentivar a escrever.

Também gostaria de agradecer às minhas amigas Giovanna Hanaoka Frate, por me apoiar e confiar na minha história, Mariana Bregola, pelas dicas dadas em meus textos, Marina Toda, por me incentivar a publicar o meu livro, Laura Orciuolo, por comentar mi-nhas histórias, Ana Laura Bove Viu, por ler alguns capítulos e me dar conselhos, Paula Frudit, por ouvir minhas histórias, e Bruna Dotto Pasquotto, excelente cantora, por ouvir a minha ideia antes de começar a escrevê-la e por acreditar em mim. Obrigado a todas que me apoiaram.

Por fim, gostaria de agradecer à minha família, por me ajudar e apoiar. Meu obrigado a Eduardo Schmidt Conti e Rosi Araujo, por me ajudarem a encontrar uma editora, e a Caio Schmidt Duarte Vaz, meu irmão, por sempre acreditar em mim e me apoiar em tudo. Amo muito você! E, claro, um obrigado especial a meus pais, pois sem eles nada disso teria acontecido.

O último titã (Prólogo) ............................................................................ 11

1. O filho Dujey ..........................................................................................132. Carl entra em um buraco negro ..........................................................173. Eu corto o braço de Carl ......................................................................24

4. Harte nos leva a um castelo ................................................................ 30

5. Descubro quem é a minha mãe .......................................................... 34

6. O deus do ar adora ovelhas .................................................................40

7. Presencio uma guerra ...........................................................................47

8. Pitágoras de Samos é meu parente ..................................................... 50

9. Participo de uma guerra ...................................................................... 53

10. Um deus me quer morto .................................................................... 59

11. O guerreiro de Genóblia ..................................................................... 67

12. A liga dos Yethis ................................................................................. 74

13. Um dia de treinamento ...................................................................... 77

14. Rumo ao castelo de Solum ................................................................ 80

15. Lobos coloridos tentam me matar .................................................... 83

16. O guardião de Seikom ........................................................................ 89

Sum ário

17. O último genobliano ........................................................................... 95

18. O rei Seikom ........................................................................................ 98

19. Jogo de sensações ............................................................................... 102

20. É você, Lilip? .......................................................................................11321. Emoções de mãe .................................................................................11622. A proposta suicida .............................................................................11923. Bungee-jump diferente ...................................................................... 123

24. A fonte de Carmim ........................................................................... 127

25. Campo espiritual ............................................................................... 132

26. Prego para ferradura ......................................................................... 136

27. Trem dimensional ............................................................................. 141

28. O primeiro mestiço ........................................................................... 145

29. Uma heroína ...................................................................................... 152

30. Luto ..................................................................................................... 155

31. Carta de amor .................................................................................... 157

32. Diálogo com Solum .......................................................................... 158

33. Uma visita inesperada ....................................................................... 165

Sum ário

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PRÓLOGOO último titã

Há bilhões de anos, antes da criação do todo, existiam dois grupos com três titãs cada. Canfes, Oz e Nium eram do bem. Esse grupo era denominado Patronos Etiam. Sahó, Magãn e Llumtis eram do mau e formavam o grupo conhecido pelos deuses como Placerat Malum. Esses estavam guerreando entre si para o domínio do todo.

Como o tempo não havia sido criado, não sei precisar quanto durou a luta dos titãs, mas posso garantir que, no nosso sistema, poderíamos dizer que foram milênios lutando.

Em uma de suas batalhas, Oz acabou conhecendo seu inimigo, Sahó, e percebeu que ambos se gostavam, nascendo assim uma paixão entre eles. Ao contrário de seus irmãos, namoravam escondido em vez de lutarem, e foi em uma dessas aventuras, com a união do bem e do mau, que nasceram os quatro deuses mestiços.

Não demorou muito para que seus irmãos percebessem que as proles dos dois titãs poderiam ser, algum dia, um perigo. E foi com esse pensamento que tentaram matar os deuses. Oz e Sahó não gostaram da ideia e lutaram pela proteção de seus filhos, mas o po-der dos outros quatros titãs era maior que o deles. E foi assim, em uma das grandes lutas, que os mestiços perceberam seus poderes e que seus pais morreram por eles. O terceiro mestiço, duvidando de

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Gabriel Schmidt

sua força, decidiu fugir e deixar seus irmãos. Travaram grandes e demoradas batalhas. Um a um, os titãs foram morrendo, até sobrar o último titã.

Magãn era perversa e tinha pensamentos cruéis; seus poderes eram sombrios. Após uma luta demorada, os deuses conseguiram derrotá-la, mas não a mataram. Seu corpo foi destruído, mas seus pensamentos, sua alma e o principal, seus poderes, continuaram vivos, porém muito fraca. Assim nasceu o Torgum e os poderes sombrios. Utes, um dos mestiços e deus da terra, trancou a alma de Magãn nas profundezas.

Enfraquecidos após a grande guerra, os deuses adormeceram por milênios, até acordarem. Com pouca memória do que havia acontecido, criaram o mundo que hoje habitamos e conhecemos.

Você deve estar se perguntando: mas quem é você para saber de uma história que aconteceu há mais de 15 bilhões de anos?

Eu me chamo Ignis. Sou a deusa do fogo, do amor e da beleza.

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Era uma noite chuvosa com raios e trovões vindos do céu. Para as pessoas normais era apenas uma tempestade de janeiro, mas para Vis, deus da energia, era um dia especial. Mais um de seus filhos havia nascido e, como de costume, ele designou que o entregassem a um casal que não conseguia ter filhos. Caminhando debaixo daquele temporal, tentava encontrar o endereço certo.

Muitas pessoas me olhavam com uma expressão assustada e outras nem percebiam que eu estava andando entre elas. Sempre soube que causava má impressão entre os humanos.

Meu nome é Dujey e sou o serviçal dos deuses. Tenho esta-tura muito baixa se comparada aos Homo sapiens, minha pele é es-verdeada, meus dentes são tortos e os olhos verdes. Meu pai é Utes, o deus da terra, e tenho vários irmãos, mas não sou igual a eles. Muitos deles me comparam com os duendes e isso faz com que me sinta humilhado. É por esse motivo que sou o serviçal dos deuses, não me sinto confortável com os outros Goblins. Como já deu para perceber, não sou nem um pouco bonito, então já é de se esperar que os humanos não me vejam com bons olhos.

Entrei em uma viela e virei na segunda rua à esquerda. Foi quando cheguei à Rua dos Alquimistas e fui em direção ao número

UmO filho Dujey

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Gabriel Schmidt

1754. Lá se localizava uma casa com dois andares, mas aparentemen-te pequena. As luzes do bairro estavam todas apagadas, as ruas eram iluminadas pelos flashes de luz causados pelos trovões. Parei diante da porta, olhei à minha volta para ver se não estava sendo vigiado e, como não estava, fechei meus olhos, estendi meus braços para o céu e chamei por Vis, o deus da energia.

Um trovão, misturado com um raio, caiu em minha frente. As-sustado com o barulho causado, abri instantaneamente meus olhos e olhei em volta para verificar se ninguém tinha me visto ou ouvido. Percebendo meu desespero, Vis olhou para mim com seus olhos azuis, colocou sua mão direita em meus ombros e disse:

– Fique tranquilo, apenas você ouviu esse trovão. Agora vamos! Tenho um filho que vai nascer.

– Certo – confirmei, ainda um pouco trêmulo, e segui com Vis.Ele caminhou para dentro do cercado, abriu com uma faísca

a porta da casa e entrou. Lá dentro parecia um lugar pequeno, mas organizado. Havia um tapete extenso no chão do corredor e uma sala de estar com uma cozinha. Do lado direito havia uma escada. Subimos. No andar de cima havia duas portas; fomos em direção à primeira, que ficava logo na frente da escada. Ao abrirmos a porta, nos deparamos com um monte de caixas de papelão, duas bicicletas e algumas prateleiras; o cômodo estava totalmente desorganizado. Rapidamente, Vis fechou a porta e foi para a segunda. Ao abri-la, encontramos uma cama de casal com um homem e uma mulher deitados dormindo. Vis rapidamente acendeu a luz apenas olhando para a lâmpada.

Eles acordaram assustados, olharam em nossa direção com uma expressão de desespero. O homem levantou-se da cama e, ten-tando se mostrar corajoso, pegou uma vassoura, apontou-a para nós e fez a pergunta que qualquer um que não soubesse o que estava acontecendo faria:

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A ordem perdida

– Quem são vocês? O que estão fazendo aqui? – Calma, não viemos para lhes fazer mal. Ao contrário,

vamos realizar um sonho de vocês. – Disse Vis entrando no quarto e sentando-se em um sofá.

– Como assim? Não estou entendendo nada – o homem fa-lou, confuso.

– Sentem-se, explicaremos tudo – pediu entrando no cômo-do. Percebi no rosto dos dois que se assustaram comigo.

– O que é você? – perguntou o Homo sapiens com a vassoura nas mãos.

– Meu nome é Dujey, sou um Goblin, sou serviçal dos... O deus engasgou-se propositadamente para me impedir de

cometer um grande erro. – Amor, sente-se. Eu sei quem são eles – falou a mulher sen-

tando-se na cama. – Você os conhece, querida? – o homem perguntou e a esposa

acenou com a cabeça.– Há muito tempo vocês vêm tentando ter um filho, mas não

conseguem. – O deus levantou-se do sofá e foi andando em direção ao homem. – Então, observando esta situação, fiz questão de dar um de meus filhos a vocês.

– Mas ele só nos dará um filho com uma condição, a qual eu já aceitei – afirmou a mulher.

– Qual, querida?– Em um futuro não muito próximo, o filho de vocês será

chamado em outra dimensão para aprender a controlar os seus po-deres, e isso poderá até causar a morte dele.

– Mas espere um segundo! Eu não estou entendendo, como você pode nos dar um filho que um dia terá “poderes”? – indagou o futuro pai.

– Ok, você não nos deu alternativa. – A única divindade presente naquela casa parou na frente do homem e ficou olhando em seus olhos.

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Gabriel Schmidt

– Eu e meus irmãos observamos casais que não conseguem ter filhos e querem ser pais para, então, entregarmos nossos filhos aos cuidados deles.

– Mas como vocês dão seus filhos a pessoas desconhecidas? – Mestre, eu creio que ele ainda não entendeu – falei olhando

para aquele ser chamado de racional.– Ah, vamos ao ponto. Eu sou o deus da energia.O homem começou a soltar belas gargalhadas. Logo em se-

guida, pegou o telefone que estava em cima de seu criado-mudo e, discando, começou a falar, rindo:

– Vocês... são malucos! Vou ligar para a polícia!– Não vai adiantar, pois a luz do bairro acabou. Além disso,

quando eles chegarem, não estaremos mais aqui. Além disso, sua esposa já concordou.

Percebi que, realmente, a mulher já havia aceitado, pois esta-va tranquila, sentada em sua cama, apenas observando a cena.

– Mas como é que esta luz está acesa? – perguntou a Vis aque-le ser que, sinceramente, eu considerava irracional.

– Sou o deus da energia. – A divindade olhou para a lâmpada que em segundos se apagou e, depois de um tempo, acendeu nova-mente, acredito que para não ficarmos no escuro. – Estou com um pouco de pressa, pois tenho três dimensões para visitar ainda hoje. – Então, fechou seus olhos, abriu sua mão direita com a palma virada para cima e, de repente, várias faíscas começaram a sair. Uma peque-na bola azul escura começou a surgir em sua mão. Depois do pequeno show, formou-se uma semente azul-escura. Ele a entregou à mulher.

– Coma e depois de nove meses nascerá o bebê. Agora preci-so ir, estou atrasado. Tenho um encontro com os deuses.

E, em um relâmpago, Vis desapareceu. O casal ficou me olhan-do com uma expressão assustada, como já era de costume. Virei-me de costas, estiquei meus braços para a parede, abri um portal e entrei.

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Avél

Treze anos e alguns meses depois, São Paulo...Ouço o despertador tocar. Bem, na verdade, não era um des-

pertador, e sim o sinal avisando que a aula de Química havia termi-nado. Como não gostava da matéria, eu sempre dormia. Parecia um dia de terça-feira comum, mas tudo estava prestes a mudar.

Bem, vou me apresentar, meu nome é Avél, tenho treze anos e cabelos pretos um pouco ondulados. Minha pele é branca e tenho olhos azuis meio amarelados. De acordo com o meu médico, minha altura é “normal”. Moro em São Paulo, nos feriados vou para o lito-ral norte passar um tempo na casa de praia da minha família. Ah, outro fato importante: meus pais não são “do mesmo sangue que eu”, ou seja, sou uma criança adotada, demorei um pouco para per-ceber, mas, quando descobri a verdade, fiquei nervoso por saber que meus pais verdadeiros haviam me largado com desconhecidos. Apesar de tudo, gosto muito de meus pais adotivos. Eles não são ricos, mas são trabalhadores e esforçados, tentam me dar tudo o que não tiveram quando crianças. Eu os amo e não sei o que faria sem meus pais. Às vezes, quando estou andando na rua com eles,

DoisCarl entra em um

buraco negro

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Gabriel Schmidt

sempre perguntam se realmente são meus pais. Isso me deixa muito nervoso, sempre respondo que sim e olho para eles com um olhar furioso. Apesar de sermos bem diferentes, minha mãe é baixa, ca-belos e olhos castanhos e é afro-brasileira. Meu pai também é baixo, tem cabelos pretos encaracolados, olhos pretos e pele morena. Vi-vem repetindo que me amam e que fui um presente de Deus, mas, sinceramente, não sou perfeito como você pode imaginar: não tiro boas notas na escola, sou desleixado e não tenho uma namorada, infelizmente. Como ia dizendo, tudo em minha vida mudou por causa do que aconteceu hoje.

No intervalo das aulas, eu estava no pátio da escola conver-sando com os meus amigos, olhei para o lado e percebi que havia um homem olhando diretamente para mim, com uma expressão sé-ria no rosto. Ele tinha cabelos loiros e longos, mas não muito gran-des, olhos azuis como se um “sol” amarelo estivesse em volta de sua pupila, rosto grosso como o de um grego. Alto, magro e musculoso. Usava um terno preto com uma gravata azul-escura e camisa bran-ca com calça e sapatos pretos. Desviei o olhar de sua direção para não parecer que o estava encarando, aliás, não ia querer entrar em uma briga com um homem daqueles. Olhei novamente para onde ele estava, mas desaparecera. Isso me deu um frio na espinha que jamais tivera, mas piorou ainda mais quando ouvi uma voz em minha mente falando comigo:

“Quando eu contar até três, você sai correndo em direção à saída da escola e entra em um Cadillac vermelho.”

Fiquei apavorado, pois não sabia se aquilo era realmente uma voz em minha cabeça me dando ordens ou se eu estava surtando. Mesmo com tudo isso, minha aparência não mudou, continuei da mesma forma que estava antes, tranquilo. Um dos meus amigos olhou para mim e disse:

– Você está bem? Parece meio assustado, o que aconteceu?

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A ordem perdida

Em segundos todos estavam olhando para mim com uma cara séria, mas consegui responder:

– N... Não, está tudo bem, eu só... Notei que atrás de um dos meus amigos e havia um homem

de terno preto encostado em uma parede azul, olhando para mim com uma expressão como se estivesse me dizendo algo, mas eu não conseguia compreender. Olhei para as suas mãos apontadas para baixo segurando um arco e uma flecha dourados, pareciam de ouro, prontas para dispará-lo. Então, falei para os meus amigos:

– Vejam! Aquele homem tem um arco e uma flecha nas mãos – disse com tranquilidade na voz. Não conseguia me assustar ou então ficar com raiva ou medo, sempre fui muito tranquilo.

Mas, ao acabar de falar, meus amigos olharam rapidamente para o homem de terno preto e depois se viraram para mim. Percebi que seus olhos estavam totalmente negros, nem a pupila eu con-seguia ver naquela escuridão. Abriram um sorriso maléfico e me pegaram pelo braço com muita força, carregando-me em direção ao banheiro masculino.

Ao entrarmos, eles me atacaram. Um deles começou a falar em uma língua desconhecida e um buraco preto pequeno na pare-de começou a se abrir. Enquanto isso, meus amigos falavam coisas estranhas e suas roupas se transformavam em um colete protetor, como se estivessem se preparando para lutar em um coliseu. Es-padas surgiram em suas mãos. Dois de meus amigos fundiram--se e formaram uma criatura de três metros de altura com quatro braços. Sua pele era bege clara, também usava colete de gladiador e, em cada mão, tinha uma espada. O meu amigo Carl olhou para mim e disse:

– Irmãozinho, não se assuste, logo você terá poderes fantás-ticos que nem imagina... – Aquilo não me soou bem, mas ele con-tinuou. – Logo o verei como um dos Saramones. – Não conseguia

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responder por estar assustado vendo um gigante de quatro braços olhando para mim com um olho grande e outro que aparecia em uma fenda aberta na cabeça, parecendo um corte feito em uma luta. Estava mostrando os seus dentes tortos para mim, como se eu fosse sua próxima refeição. Carl olhou para o gigante e, então, disse:

– Fique tranquilo! Se cooperar, ele não vai fazer nada contra você. – E abriu um sorriso como se aquilo o divertisse. Tentava me beliscar para ver se tudo aquilo era um sonho, mas nada acontecia.

Foi quando a porta de saída do banheiro explodiu! Uma luz muito forte e um calor absurdo absorveram o lugar. Tentei olhar atentamente o que estava acontecendo, mas a claridade era forte de-mais, parecia que o Sol havia entrado no banheiro. O buraco negro que estava se abrindo na parede fechou-se rapidamente, e tudo es-tava dominado pela luz. Um de meus amigos caiu no chão do meu lado, com uma flecha dourada encravada na cabeça. Olhei para frente e vi o gigante de quatro braços levando flechadas. Ele camba-leou e, ao levar a terceira flecha, no coração, caiu em cima dos boxes do banheiro, quebrando-os e fazendo um barulho estrondoso. Meu outro amigo estava no chão se debatendo como em um ataque epi-léptico. Seus olhos se contorciam, a língua estava para fora da boca e de repente uma flecha dourada atravessou sua cabeça, acabando com o seu sofrimento. Olhei para Carl e ele estava lançando raios em direção à luz, mas parecia não causar efeito. Então, uma flecha atingiu o seu ombro esquerdo e ele caiu para trás bem ao meu lado, olhou para mim e disse:

– Austofener é um idiota, não sabe o que diz... – Se engasgou em seu próprio sangue e cuspiu no chão. – O Poder Proibido é mara-vilhoso, os Saramones irão se reerguer e conquistar o mundo. – Co-locou a mão na parede do banheiro, no mesmo lugar em que tentara abrir o buraco negro e disse:

– Aperuit ianuam!

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A ordem perdida

E o buraco negro se abriu sugando-o para dentro e fechan-do-se em seguida. Não entendi o que Carl disse à parede, só sei que me deixara em um banheiro com uma luz solar tão forte que, se não fechasse os olhos naquele exato momento, poderia ficar cego. Fiquei imaginando o que acabara de acontecer. Eu não entendi também por que Carl me chamara de “irmãozinho” se nem conhe-ço os meus pais? E que papo era aquele de eu ser um Saramones? Quem são os Saramones? E quem é Austofener? O que é o Poder Proibido? Não tinha entendido nada do que acabará de acontecer, mas uma voz soou:

– Relaxe. Já pode abrir os olhos. Sei que tem várias perguntas para me fazer, mas logo todas serão respondidas. Pode confiar em mim, eu sei muito bem o que você está passando neste exato mo-mento, já estive na mesma situação.

Sua voz me fez relaxar, abri os olhos e me deparei com o ho-mem de terno preto tirando as flechas da cabeça dos meus amigos, agora mortos, limpando-as e guardando. Olhou para mim e abriu um sorriso, como se o que estava fazendo fosse absolutamente nor-mal. Esticou-me a mão e ajudou a me levantar. Dizendo:

– Normalmente ninguém aceita a minha ajuda logo da pri-meira vez, daí eu tenho de bancar o durão e fazer a pessoa desmaiar! Isso sempre dá certo... – Soltou uma breve risada. – Vou lhe dizer uma coisa, fico feliz por não ter de fazer isso com você. Aliás, você me deixou muito nervoso quando avisou aos seus, bom, digamos, “amigos” que eu estava prestes a matá-los. Nós não precisaríamos passar por isso, mas devemos andar logo porque temos mais alguém para seguir conosco. Ah, e eu garanto que você gostará dela!

Estava muito confuso com tudo que tinha acontecido, acaba-ra de ver meus amigos se transformarem em um monstro de quatro braços e serem mortos do meu lado por um homem que aparentava ser simpático. Bom, não tinha para onde ir, o homem já havia saído

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Gabriel Schmidt

do banheiro e, se eu ficasse, provavelmente a polícia iria chegar ou a diretora da escola. Foi uma luta e tanto que acontecera ali! Decidi ir com o homem, minha mãe sempre me disse para nunca confiar em estranhos, mas tive de desobedecer essa regra. Estava muito confuso e queria, mais que qualquer um neste mundo, saber o que estava acontecendo. Corri em direção ao homem e perguntei, enquanto saíamos do colégio:

– Senhor, desculpe perguntar, mas qual é o seu nome? – Ten-tei ser educado. Para a minha sorte, ele parecia estar bom humor e respondeu:

– Que falta de educação a minha! Meu nome é Harte, sou filho do deus do Sol.

O segurança do colégio olhou para ele, parou bem na nossa frente e disse:

– Ele não pode sair, senhor, está em horário de aula. – Ao olhar para o rosto de Harte, mudou completamente de ideia e falou: – Me desculpe, senhora diretora. – E encostou na parede.

Agora fiquei confuso de vez, Harte me disse que era filho do deus do Sol e o segurança da escola o chamou de diretora? Não estava entendendo nada. Parei, puxei Harte pelo terno e falei:

– Espere só um minuto! Você falou que é filho do deus do Sol? E por que o guarda o chamou de diretora? – Pensei que Harte ficaria nervoso, mas ele simplesmente sorriu para mim e explicou:

– Garoto, estou com um pouquinho de pressa agora, mas ga-ranto que quando chegarmos em Martinelli, Austofener irá respon-der tudo a você!

Nós fomos em direção ao Cadillac vermelho, ano 1961. Era um carro muito bonito. Abri a porta e sentei-me no banco do pas-sageiro. Harte sentou-se no banco do motorista, ligou o Cadillac e pisou no acelerador com o máximo de força possível, cantando pneu, nem deu tempo de colocar o cinto de segurança. Me lembrei

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de meus pais, que sempre falavam para eu colocar o cinto de segu-rança, pois do contrário poderia acabar voando pela janela da frente em um acidente, mas depois de Harte matar um gigante de quatro braços e dois “amigos” meus, ele não deixaria isso acontecer. Então Harte pisou fundo no acelerador e murmurou:

– Só espero conseguir chegar antes dos Saramones!