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A Outra Face do Destinobvespirita.com/A Outra Face do Destino (Romero Evandro...A Outra Face do Des no Romero Evandro Carvalho Fonte digital: Documento do Autor [email protected]

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A Outra Face do Des�noRomero Evandro Carvalho

Fonte digital: Documento do [email protected]

CapaImagem enviada pelo Autor

eBooksBrasil.org© 2012 Romero Evandro Carvalho

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Jalal, Muhammad, Mutanabi, Zayani, Makin, Nasib,Ibn Alawi, Jade, Layla, Antar, Muhamnad Zayani, Banzhir,Rhada, Bellary, Jayadeva, Sankara, Indira e Jamini, são ospersonagens, árabes e indianos, componentes desseromance.

Desejo inicialmente, agradecer ao leitor ou a leitora,a escolha de “A Outra Face do Des�no”. O romance, oferece,diálogos e exposições comuns, e de alguns fatos espirituais,ocorridos no ín�mo do lar e, também fora dele, inseridos àparte do texto romanceado dos capítulos, visto à Luz daDoutrina Espírita.

Exemplificando: quando narro diálogos familiares, oassunto ven�lado, familiar, que se circunscreve no seio dafamília, inseridos nos textos dos capítulos, remeto o caroleitor ou leitora, ao entendimento correspondente que dá aDoutrina Espírita, sobre tal assunto ou fato, indicando aobra.

Exemplo citado — a “família”: “...todos os que seligam numa existência, por empenhos, já viveram juntos...” (Obras Póstumas – Allan Kardec).

Da mesma forma, quando descrevo no texto sobre:amizade, solidariedade, profissão, amor, fraternidade,sabedoria, orgulho, caridade, médiuns, simpa�a,calamidades, pressen�mentos, livre arbítrio, egoísmo,oração, trabalho, pensamentos, morte, evolução,reencarnação, encontros, casualidade, beleza, des�no,sonhos, felicidade, imortalidade, visão, espírito familiar,encarnação, compreensão, perdão, cólera, acontecimentos,lamentações, flagelos, casamento e futuro.

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Todos os ensinamentos que a Doutrina Espírita nosoferece para o nosso bem estar e aprendizado, intercaladasneste romance, foram extraídas dos livros básicos: O Livrodos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo oEspiri�smo, Obras Póstumas de Allan Kardec, Caminho,Verdade e Vida e Fonte Viva de Emmanuel.

Assim sendo, é desejo do autor, que o leitor ou aleitora, não fiquem apenas na superIcie das conceituaçõese ensinamentos aqui gravados, mas que, se aprofundem nosestudos sistemá�cos das Obras Básicas do Espiri�smo, quecom absoluta certeza, obterão respostas convincentes paraas possíveis dúvidas, que de alguma modo, ainda tenham,sobre alguns pontos nebulosos, que persistem em suasvidas, não esclarecidos.

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Capítulo – I

Jalal al Azis, saudita, crescera numa região agrícola,nas fraldas das montanhas de Asir.

Voltados para as a�vidades puramente agrícola, seusfamiliares cul�vavam em terraços: a cana‐de‐açúcar, osorgo, o café e uma planta denominada “qat”, com alto teoranalgésico e que se consumida em excesso, causava euforia.

Ele estava sempre a escutar dos seus familiares umaprevisão de que as terras da propriedade estavam cada vezmais pobres em nutrientes e, como conseqüência, aprodução estava diminuindo grada�vamente.

Essa preocupação era uma constante, visto quea�ngiria diretamente a sua família, e muitas pessoas ligadasa essas a�vidades na região.

Jalal, além de fazer parte do grupo de trabalho nocampo, era um bom observador e estudioso. Conhecia bemas fases evolu�vas das plantas, assim como, a influência doclima sobre elas. Dentro do seu sen�do de observador,aconselhava o seu pai para que providenciasse um rodíziodos cul�vares.

Concluída a escola secundária, ele se deparou comuma grande interrogação: O que fazer agora? Devo encerraro meu ciclo de estudos? Devo ser como os outros, con�nuaraqui e ver essas terras minguarem? Os dias passavam, e eleestava sempre com estes ques�onamentos em sua mente.

Certa tarde, quase noite, após o trabalho extenuante

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no campo, ele estava a descansar recostado numa dastamareiras, que certo dia plantou, quando ouviu alguémchamando‐o.

“Por mo�vos de ordem mais geral, o Espírito renasce,às vezes, no mesmo meio, na mesma nação, na mesma raça,por simpa�a ou para con�nuar, com os elementos, jálaborados, os estudos a que se dedicou, aperfeiçoar‐se,prosseguir os trabalhos começados que a brevidade da vidaou as circunstâncias não permi�ram concluir”

(Obras Póstumas – Allan Kardec— Ed. Lake — 11ªed. – pag.167)

— Jalal!

Sentou‐se imediatamente, viu que era seu avô, elogo jus�ficou‐se.

— Meu neto, não tenho necessidade da suajus�fica�va. Acho que desse descanso você é merecedor.Pode sentar‐se que eu também farei o mesmo. Este lugar érealmente muito aconchegante e propício para viajarmosmentalmente, e a visão que temos daqui é muito bonita. Noentanto, se chegarmos perto, notaremos que não é bemassim.

De uns tempos para cá, tenho observado que você,vez ou outra, fica pensa�vo. Acaso seria alguma coisa ligadaao coração? Afinal, você já é um homem feito!

Eram raras as vezes que seu avô tomava a inicia�va eentabulava uma conversação com ele mais consistente.

— Jalal, sei o que se passa agora no seupensamento. Realmente, são poucas às vezes que lhe dou a

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chance e também me dou de termos uma boa conversa. Emdecorrência da nossa educação, do nosso modo milenar deagir dentro do meio familiar, no estabelecimento de umahierarquia rígida, hoje eu acho que perdemos muito nosen�do de vivenciarmos juntos, no contato mais estreitocom os nossos queridos. Deixamos na verdade, deacompanhar e poder ajudar no desenvolvimento dos nossosfilhos, e, até mesmo, de outro modo, recebermos deles esteou aquele conselho. Afinal, devemos entender que somosuma família, uma sociedade que é organizada, e que asrelações entre as pessoas têm que ser auxiliadoras,harmônicas e respeitosas.

Só com muitos anos passados, eu conseguivislumbrar e me ater ao que Allah quer nos dizer: que todosnós somos iguais, e que tudo foi e esta doado a todos nós,sejamos, homens ou mulheres. Não há entre nós nenhumindivíduo de primeira classe, segunda classe, terceira classee assim por diante. Há, sim, aqueles ou aquelas que sedestacam e visualizam novos horizontes. Admi�r homensmais privilegiados que as mulheres, eu não concordo mais.A meu juízo, acho que o amor, a felicidade, a sabedoria, oconhecimento, o entendimento, as artes, a evoluçãointerior e o progresso exterior, estão ao alcance de todas ascriaturas.

(“Meus caros condiscípulos, os Espíritos aquipresentes vos dizem, por meu intermédio: “Amaimuito, a fim de serdes amados”. É tão justo essepensamento, que nele encontrareis tudo o queconsola e abranda as penas de cada dia; ou melhor:pondo em prá�ca esse sábio conselho, elevar‐vos‐ei de

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tal modo acima da a matéria que vos espiritualizareisantes de deixardes o invólucro terrestre. Havendo osestudos espíritas desenvolvidos em vós a compreensãodo futuro, uma certeza tendes: a de caminhar paraDeus, vendo realizadas todas as promessas quecorrespondem às aspirações de vossa alma. Por isso,deveis elevar‐vos bem alto para julgardes se asconstrições da matéria, e não condenardes o vossopróximo se terdes dirigido a Deus o pensamento”

(O Evangelho Segundo o Espiri�smo – cap. XI – 10 –Sansão)

Acho que já falei muito, mas não se admire, pois nósvelhos, quando notamos que temos ouvidos a nosescutarem, e corações a solidarizarem‐se com as nossasdores ou com nossos sen�mentos e observações, nãoperdemos a oportunidade e despejamos em nossosouvintes, o que estava represado em nosso ín�mo.

Sabe de uma coisa Jalal: dizem que nós velhos,adquirimos da vida mais sabedoria. Realmente temos! Masos mais moços, em virtude do seu vigor, da sua vivacidade,não têm paciência de nos solicitar ou de ouvir os nossosconselhos ou as nossas observações. Mas Jalal, diga‐me, oque se passa em seu pensamento?

(“A solidariedade que é o verdadeiro laço social, não ésó para o presente, estende‐se ao passado e aofuturo, pois que os mesmos indivíduos se encontram, ese encontrarão para juntos seguirem as vias doprogresso, prestando mútuo concurso. Eis o que faz

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compreender o Espiri�smo pela equita�va lei dareencarnação e da con�nuidade das relações entre osmesmos seres”

(Obras Póstumas – Allan Kardec – E. Lake — 11ª ed.—Espírito Clelie Duplan�er— pag.166)

— Meu avô, deixe‐me antes lhe dizer: nessa minhacurta existência, hoje, nesta hora crepuscular, considero sero melhor momento da minha vida, pois estou embevecidocom a sua sabedoria. Vou lhe dizer o que se passa na minhacabeça: eu completei o meu curso secundário e, por forçada dedicação aos estudos nos intervalos do trabalho, ob�veum bom desempenho escolar e graduei‐me em primeirolugar dentro da minha turma.

Eu penso agora no futuro; no meu futuro, no futurodos meus familiares, da minha terra onde nasci; no futuroda minha pátria. Tenho anseios de conhecer mais, deestudar mais, de conhecer pessoas, de adquirir maissabedoria e poder assim, trazer para cá, alguma coisa boapara nosso progresso.

— Meu querido neto, acho que esse sen�mento noque concerne a nós, seus familiares, a sua terra natal e aoseu país, é enobrecedor. Devemos sempre agradecer asnossas raízes, aos nossos ancestrais e, à terra que nos dá oteto e o fruto. Este é um sen�mento importante que deveráestar sempre vivo em nossos corações. Agora, quanto aoseu futuro, isso é uma prioridade. O que desejo lhe dizer é oseguinte: escolha o seu obje�vo, trabalhe e alcance‐o.

“Pode pois admi�r‐se como regra geral, que todos os

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Page 12: A Outra Face do Destinobvespirita.com/A Outra Face do Destino (Romero Evandro...A Outra Face do Des no Romero Evandro Carvalho Fonte digital: Documento do Autor romeroevandro@hotmail.com

que se ligam, numa existência, por empenhos comuns,já viveram juntos, trabalhando para o mesmo fim, eencontrar‐se‐ão no futuro, até que o tenhamalcançado, isto é, expiado o passado ou cumprido amissão que aceitaram”

(Obras Póstumas — Allan Kardec— Ed. Lake — 11ªEd.‐Espírito Clelie Duplan�er –pag.165/166)

— Mas os empecilhos são grandes ; são as muralhassócio‐econômicas que me impedem de sair para con�nuaros meus estudos em nível superior.

— Jalal, preste bem atenção no que vou lhe dizer:não existe nenhuma muralha que possa impedi‐lo deconquistar os seus obje�vos. Não incuta isso na sua cabeça.Isso não existe. Afinal, você é um cidadão como qualqueroutro, não só em nosso país, como em algum outro, e quenão deve considerar‐se, nem ser considerado um homemde segunda classe, que não pode ter obje�vos maiores.Abra o seu coração comigo. Eu tenho certeza que voucompreendê‐lo e que, se eu puder ajudá‐lo, eu farei tudo oque es�ver dentro das minhas possibilidades deentendimento e aconselhamento, assim como, nos meusmeios materiais.

— Vovô, sinto perfeitamente em meu coração a suaafeição por mim, e não tenho a menor dúvida de que, paraproteger‐me, o senhor, não só se despojará do seualbornoz, ofertando‐me, como também irá assentar naminha cabeça a sua linda galabia. Agradeço de todo meucoração a sua atenção para comigo.

— Jalal, meu neto, tenha como certo que de nada

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me adiantaria esse acúmulo de tempo que tenhoexperimentado se não fosse para ter no meu coração umsen�mento de amor, de fraternidade, de união e de ajuda.Eu sinto, no mais fundo do meu entendimento, que a nossaregião não está mais comportar os seus anseios e que vocêquer, como um pássaro, alçar vôo.

— Quero mesmo... Quero voar... Mas não um vôorecrea�vo. É minha vontade matricular‐me numaUniversidade, e cursar a faculdade de agricultura. Essaminha vontade está diretamente ligada a nós mesmos quehabitamos essa região. Como o senhor sabe muito bem,devido à sua observação de muitos e muitos anos, as terrasagricultáveis da nossa região estão se degradando e,conseqüentemente, as diminuições de cada safra. Queroaprender a cuidar das nossas terras, e poder oferecer aonosso povo, técnicas novas e, assim possibilitar às geraçõesfuturas, melhores garan�as para aqueles que se prestam,gostam e têm a necessidade de viver a ela vinculados.

— Eu não sei se você, em todos esses anos passados,sen�u falta de um diálogo mais estreito entre nós. Mas eulhe confesso sem nenhum melindre, e me penitencio pornão ter provocado mais vezes, esses diálogos há muito maistempo. Noto nesse momento que, se �véssemosconversado mais, ambos teríamos aprendido muito. Semquerer demonstrar qualquer ostentação, por todos os meuslargos anos de labuta, aprendi muito. Posso dizer queadquiri um pouco de sabedoria com o trabalho e com aobservação da vida, de uma maneira geral. Agora, você,embora ainda muito jovem, já revela a sua sabedoria, quevem da sua própria alma; que já nasceu com você.

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“Sendo insuficiente uma única existência corpóreapara adquirir todas as perfeições, toma um corpotantas vezes quanta lhe é necessário, trazendo,quando se reencarna, o adiantamento adquirido nasanteriores existências e na vida espiritual”

(Obras Póstumas – Allan Kardec – Ed. Lake – 11ª –pag. 153)

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Capítulo — II

— Jalal, nós temos um parente em Djedda, é o meuirmão Makin, portanto, seu �o‐avô, que trabalha no ramodo comércio de tapetes, e também tem uma função naadministração do porto. Eu pretendo ir a Meca no próximomês. Gostaria que você fosse comigo, pois querorecomendá‐lo ao meu irmão, para que você possa ficar soba sua guarda e matricular‐se na faculdade.

— Mas eu tenho que falar com papai e pedir a suapermissão.

— Quando você for fazer isso, eu quero estar na suacompanhia.

— Vovô, que eu saiba, em Djedda, não tem afaculdade que eu quero cursar. A faculdade de Agricultura,está em Riyad.

— Mesmo assim, vamos a Djedda. Acho que Makin,por suas a�vidades, deve ter algum contato que possa nosajudar. Mas antes, vamos ao encontro do seu pai. Devemosapressar esse assunto.

Antes de se porem, a caminho, foram surpreendidospor Mutanabbi.

— Há tempo que os vejo aqui. O que confabulam?

— Meu pai, queremos mesmo falar com o senhor.Trata‐se da con�nuação dos meus estudos.

E ele contou os seus desejos e as razões deles.

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Muhammad, avô e pai, também opinou, e pron�ficou‐se emajudar o seu neto.

— Pelo que posso notar papai, para o senhor, o quepede Jalal, já é algo certo e resolvido!

— Realmente, entre eu e Jalal esse assunto já estáresolvido. Mas nós aqui estamos, para pedir a suapermissão e aquiescência ao projeto de vida do seu filho,que no meu entender será de grande proveito, não só paraele próprio, como para a nossa es�rpe, e também, para onosso país, se tudo se desenrolar favoravelmente. Meu filhoavalie bem: eu não estou, de nenhum modo, deixando delevar em conta a sua autoridade de pai. Estamos aqui, nodesejo de obter a sua permissão e concordância para que oseu filho possa a�ngir os seus obje�vos de estudo. Eu, comovocê disse, estou plenamente de acordo com as pretensõesdele.

Papai, observo, que Jalal é estudioso, e que ele sedestacou no curso que concluiu, e que também é um bomobservador do nosso trabalho. Acho muito bom, ele fazerum curso superior de Agricultura; ficarei orgulhoso! Mas háuma algo relevante que deveremos considerar: comomantê‐lo estudando em Riyad?

— Mutanabbi, não vamos atropelar osacontecimentos. Inicialmente nos diga: você permite queele vá comigo a Djedda para conversarmos com o seu �oMakin a respeito?

— Permito!

— Então, Jalal, iremos a Djedda o mais brevepossível. Lá ficaremos alguns dias, e vamos ver o que Makintem a nos dizer. O que me parece, é que em virtude das

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atuações profissionais que exerce, ele possa ter um bomrelacionamento com pessoas influentes.

— Papai, eu vou antecipar algumas ordens aqui, poistambém quero ir com vocês.

— Ó�mo, assim mostraremos que estamos unidos,duas gerações em favor de Jalal, como que, a emancipá‐lo,para que ele imprima a sua vontade com determinação,com a simplicidade que nos é peculiar, sem orgulho ou

ostentação e, assim, alcance o que deseja e tenha sobre osseus ombros, a responsabilidade pelos seus atos, que seforem honestos, produzirão bons frutos, e os louros serãosó seus, mas, se forem perniciosos e áridos, os seus reflexostambém cairão sobre as nossas cabeça

“O orgulho é o terrível adversário da humildade. S oCristo prome�a o reino dos céus aos mais pobres, éporque os grandes da Terra imaginam que os Itulos eas riquezas são recompensas deferidas aos méritos ese consideram de essência mais pura do que a dopobre. Julgam que os Itulos e as riquezas lhes sãodevidos, pelo que, quando Deus lhos re�ra, o acusamde injus�ça. Oh! Irrisão e cegueira! Pois, então, Deusos dis�ngue pelos corpos? O envoltório do pobre não éo mesmo que o do rico? Terá o Criador feito duasespécies de homens? Tudo o que deus faz é grande esábio; não lhe atribuais nunca as idéias qu os vossoscérebros orgulhosos engendram”

(O Evangelho Segundo o Espiri�smo – cap. VII )

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Capítulo — III

Makin os recebeu efusivamente e, promovendo umareunião fes�va, comemoraram o encontro.

Após o fausto repasto, entabularam conversações arespeito das pretensões do jovem.

O anfitrião lhes respondeu que podia ajudar, pois�nha amizade com um professor da Universidade de Djeddae, imediatamente, por telefone, marcou uma audiência como mesmo para o final da tarde.

— Enquanto não chega a hora de nos avistarmoscom o professor, vamos até a minha loja que eu queropresenteá‐los.

— Tio Makin, por favor, nós aqui estamos a lhe pedirum favor, não é justo que nos presenteie — disseMutanabbi.

— É um prazer, sobrinho. Por favor, recebam ospresentes. Esse meu oferecimento, brota do meu coração.

Jalal se encantou com a construção soberba daUniversidade Real de Djedda.

Frente ao professor, de modo desenvolto, ele expôsas suas pretensões e os obje�vos que queria alcançar.

Atentamente ouvido, recebeu do professor elogios eincen�vo, para que realmente encarasse os seus desejoscom determinação, pois as dificuldades sempre exis�rão,

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mas que, deveriam ser ultrapassadas com equilíbrio.

— Jalal — disse o professor — em nossaUniversidade, nós não temos o curso que você deseja —Agronomia. Esse curso só é ministrado em Riyad. Mas, se éisso mesmo que quer, eu posso ajudá‐lo. Tenho algunsamigos que lá lecionam.

E o professor deu a Jalal uma carta de apresentação,endereçada a um amigo, também professor, solicitandoatendimento, para os desejos do jovem, junto à Faculdadede Agronomia.

— Amanhã eu me comunicarei com meu amigo,para que ele o receba. Quando você pretende ir?

— Tenho que acertar essa viagem com o meu pai emeu avô. Talvez dentro de uns vinte dias, não é papai?

— Acho que dentro desse prazo, poderemosadiantar o que �vermos que fazer de mais importante, eviajarmos.

— Ó�mo, assim eu já alerto o meu amigo, e eleficará aguardando‐o.

Jalal, agradeceu o empenho do professor emajudá‐lo, e prometeu muito estudo e dedicação para asnecessidades do país.

— É isso mesmo que nós, professores, almejamosdos nossos alunos. Muito empenho em favor do nossopovo. ‐ acrescentou o professor.

Makin, Mutanabbi e Muhammad tambémagradeceram a atenção do professor.

— Makin, amanhã iremos para Meca. Temos grandes

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mo�vos para com a nossa religião, agradecermos o queconosco está acontecendo. Se você nos permi�r, na nossavolta, temos a intenção de ficar uns dois dias aqui emDjedda, para conhecermos melhor a cidade. Gostaríamosentão, de usufruir da sua hospitalidade.

— Meu querido irmão, sobrinho e sobrinho‐neto, éum grande prazer para o meu coração que isso aconteça.Venham à minha casa quando quiserem e aqui se hospedemo tempo que desejarem. Se por ventura eu aqui não es�ver,estarei em negócios em Riyad. E se isso acontecer, deixareiordens para recebê‐los, como se eu aqui os recebesse.

Como peregrinos chegaram a Meca.

Após cada um, ves�r dois panos brancos semcostura, um enrolado na cintura e outro cobrindo a partesuperior do corpo (ihram), percorreram, orando, as setevoltas em torno da Kaaba (tawaf).

Cumpriram outras obrigações religiosas, e depois,deveriam raspar a cabeça ou simplesmente cortar umamadeixa. Jalal raspou a sua cabeça.

“Espírita é quem aceita os princípios da doutrina econforma com eles as suas obras.

É uma opinião, como qualquer outra (religião), quetodos têm o direito de professar, como tem o de serjudeu, católico, protestante, furierista (Doutrina deFourier), são‐simoniano (doutrina socialista de SãoSimão), voltariano, cartesiano, deísta e atématerialista...”

(Obras Póstumas – Allan Kardec— Ed. Lake – 11ª —

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pag.198)

De volta a Djedda, eles não encontraram Makin.Ficaram dois dias em Djedda, e viajaram para Asir.

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Capítulo — IV

Ao retornarem a Djedda, Makin lhes dá uma noXciade que, quando esteve em Riyad, a negócios, estabeleceucontato com um grande comerciante, seu amigo, e que esteprometeu ajudar Jalal. Makin, então, escreve uma carta deapresentação, sobre o seu sobrinho‐neto, endereçada aoseu amigo, Ibn Alawi.

Em Riyad, avistaram‐se com Ibn Alawi, grandecomerciante. Sem perder tempo, rumaram para auniversidade e, mesmo sem marcarem uma audiência,conseguiram encontrar‐se com o Reitor.

— Alawi, que surpresa é essa? Não venha me dizerque você quer me vender algo! Eu não estou comprandonada!

— Não, não, meu querido amigo Reitor! Venho aqui,junto com essa comi�va da região de Asir, região agrícola,apresentar‐lhe este jovem, que admito, deverá ser umgrande promessa profissional para a nossa agricultura. Mas,para isso, nos solicitamos a sua ajuda. Ele desejamatricular‐se na faculdade agrícola.

O Reitor, homem experiente, sem valer‐se do seucargo, mirou fixamente os olhos do jovem, sendo por este,correspondido, constatou que a sua frente, estava umacriatura de origem simples, mas, determinada, e que ali,estava respaldada pelo apoio presencial dos seus

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ascendentes e do seu dileto amigo, o que lhe permi�aponderar, que não estava perdendo tempo.

— Meu jovem, você trouxe o seu currículo escolar?

— Está aqui senhor.

O Reitor examinou‐o de�damente e, depois dealguns minutos, perguntou: — Mas meu jovem, porquequer cursar a faculdade agrícola? São poucos os alunos quese interessam por ela. A maioria quer cursar a Faculdade dopetróleo, Tecnologia ou Computação.

— Senhor Reitor, é sabido, que a porcentagem danossa área cul�vada, chega a somente um por cento, e, nósimportamos oitenta por cento dos alimentos. Li certa vez,que temos um milhão setecentos e cinqüenta milquilômetros quadrados, e disso, apenas quinze por cento,são terras cul�váveis, e desses, como já disse, apenas umpor cento dessas terras, está sendo trabalhada.. Por duascausas isso se jus�fica atualmente, na minha análise: onosso território árido e a falta de interesse, que nesseúl�mo caso, o senhor já mencionou. Mas se temos umaárea territorial diIcil, com bastante aridez, a Austráliatambém a tem em grande proporção, Israel também, seconsiderarmos o tamanho do seu território, o Egitoigualmente, os Estados Unidos, e também, podemosconsiderar o Brasil, na sua região nordeste, embora aincidência de aridez não seja tão forte. No entanto, dealguma forma, eles estão obtendo sucesso no cul�vo departe dessas terras áridas. Assim sendo, eu penso, pelomenos essa é minha pretensão de colaborar de algumaforma com o nosso país, e incrementar algo para termosmais alimentos para o nosso povo. O senhor sabe que umaboa parcela do nosso povo, está com problemas de

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desnutrição.

O Reitor, mais uma vez analisou o histórico escolar eobservou: Você sempre foi um bom aluno!

— Alawi, você disse que não iria me vender nada,realmente não me vendeu, mas me trouxe, talvez, uma boapromessa para o futuro do nosso país. Eu quero inves�r napotencialidade desse moço. Mas tem uma coisa que deveser importante para você — apontando para o jovem — euvou acompanhá‐lo de perto!

— Senhor Reitor, eu agradeço a sua ajuda e lheprometo muita dedicação.

— As aulas iniciar‐se‐ão dentro de trinta dias, mas apar�r de hoje, você já está matriculado informalmente. Notranscorrer desses trinta dias, as matrículas estarão abertas.Nesse período, venha aqui, com todos os seus documentos,que eu o encaminharei para, formalmente, realizar a suamatrícula.

— Amigo Reitor, convido‐o para fazer‐me uma visita.Temos boas novidades.

— Está bem Alawi, qualquer hora eu passo por lá.

Despediram‐se, todos, imensamente agradecidos.

Antes de saírem do prédio, Jalal manifestou o seudesejo de avistar‐se com o professor para o qual �nha umacarta, de outro professor da Universidade de Djedda. Nesseencontro, Jalal comunicou, provisoriamente já estavamatriculado na Faculdade Agronomia.

Foi cumprimentado pelo professor, que se dispôs aajudá‐lo, no que fosse da sua alçada.

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— Senhores Muhammad, Mutanabbi e meu jovemJalal, convido‐os, para que se hospedem em minha casa, otempo que quiserem, antes de regressarem a Asir. Assim,Jalal já começa a se acostumar com a capital. Outra coisa ,estou oferecendo a Jalal, um emprego na minha loja, comovendedor, desta forma, além dele custear os seus estudos,assim também, vai se aprimorando a vender bem as suasidéias.

— Sabe, Jalal, nessa nossa vida, nós estamosconstantemente vendendo alguma coisa; seja algo materialou nossas idéias. E numa loja, você aprende a vender não sóa mercadoria, como também, a entender a idéia docomprador. E assim, você oferece o que realmente ele quer,e desta maneira, ficam sa�sfeitos o comprador e você, queé o vendedor. Dessa maneira, obtém‐se o lucro, seja emdinheiro ou em a�tudes e a compreensão de outras pessoascom relação a você; em seu favor. Nessa vida, tudo que�vermos em nosso favor, é muito bom! Principalmente, obom conceito que as pessoas fazem de nós.

Os três, pai, filho e avô, chegaram até a beijar àsmãos de Alawi, de tão agradecidos que ficaram, com aatenção que lhes foram dispensadas de forma bondosa e,até caridosa.

“O aviso do Instrutor Divino nas anotações de Lucassignifica : ‐daí esmola de vossa vida ín�ma, ajudai porvós mesmos, espalhai alegria e bom ânimo,oportunidade de crescimento e elevação com osvossos semelhantes, sede irmãos dedicados ao

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próximo, porque, em verdade, o amor que se irradiaem bênçãos de felicidade e trabalho, paz e confiança,é sempre a dádiva maior de todas”

(*Fonte Viva – Emmanuel – cap. 60)

De volta a Djedda, eles comunicaram a Makin queforam muito bem recebidos por seu amigo, e que Jalal, jápoderia considerar‐se um universitário e, que também,estava contratado como vendedor, na loja do senhor Alawi.

— Isso então merece uma comemoração. Teremosum grande jantar! Logo mais à tarde, a minha filha estarávindo de Paris, onde lá, cursa medicina.

Durante o jantar, Muhammad dirigiu‐se a Nasib: —Você tem um nome muito bonito e expressivo; ele querdizer: "poema de amor, de ternura e de paz".

— Makin, ela lembra muito a nossa mãe, não acha?

— Obrigada meu �o por esse ensinamento; euignorava que o meu nome trouxesse tantas coisas boas; equanto a ser parecida com a vovó, isso me deixa muitoenvaidecida.

— Prima Nasib, você já escolheu a especialidade?perguntou Jalal.

— Eu penso em fazer clinica geral e, posteriormente,especializar‐me em ginecologia, com ênfase em gestação derisco e obstetrícia. O meu obje�vo, também, é inaugurar emDjedda um hospital da mulher, tal qual existe em Paris, sóque em menores proporções, pois lá, o hospital é dogoverno.

— Seus propósitos são ó�mos minha filha, pois vãoao encontro das necessidades que enfrentamos. Acho que

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toda a nossa região, necessita desse �po de tratamentoespecífico para a mulher — disse sua mãe.

— Quem sabe, minha filha, quando você voltarcomo médica, com a especialidade que deseja, poderemosde alguma forma reivindicar do nosso governo a construçãodesse hospital — acrescentou Makin.

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Capítulo — V

E Jalal iniciou o seu curso de agronomia.

Realmente, ele constatou o que o Reitor havia lhedito: não eram muitos os alunos interessados no ramo. Daregião de Asir, somente ele.

Como bom observador, notava um clima bem liberaldos estudantes veteranos de outras áreas. Muito embora adisciplina escolar fosse rígida, sempre havia aqueles alunosque faziam questão de serem notados na ostentação dariqueza: carros úl�mos �pos alemães, japoneses eamericanos.

Ele observou essas demonstrações, e logo o seupensamento se voltou para os menos favorecidos, que comdificuldade levavam a vida muitas vezes desnutridos, com asaúde abalada e com poucos recursos, e ainda, morandomuito mal.

Jalal estava sempre em contato com os seusfamiliares, por meio de cartas, em que nela, contava asamizades firmadas com o Reitor e com o Sr. Alawi, e comoutros colegas, principalmente com uma estudante indiana,filha do Vice‐Cônsul da Índia.

Dizia ao seu avô que gostava de estar na companhiadela — Bellary — estudante de medicina; era uma moçamuito agradável, simpá�ca, além de muito bonita; sendoque ela, pron�ficou‐se a ensiná‐lo a língua inglesa,alertando‐o que, se ele fosse fazer uma especialização no

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exterior, deveria conhecer o idioma.

“Dois seres que se conheceram e se amaram, podemencontrar‐se noutra existência corpórea e sereconhecerem?

— Reconhecerem‐se, não, mas serem atraídos umpelo outro, sim; e frequentemente as ligações ín�mas,fundadas numa afeição sincera, não provém de outracausa. Dois seres se aproximam um ao outro porcircunstâncias aparentemente fortuitas, mas que sãoo resultado da atração de dois Espíritos que sebuscam através da mul�dão”

(O Livro dos Espíritos – Livro II – perg.386)

O tempo passava e, a sua amizade pela jovemBellary, firmava‐se. Nos seus estudos, ele desenvolvia comsucesso e, paralelo a isso, cumpria como todo árabe, asnormas da religião islâmica, embora a considerasse,par�cularmente em alguns pontos, muito rígida.

No úl�mo período de férias, alguns meses antes dotérmino do curso, a faculdade, organizou uma excursão deestudos, ao vizinho Egito, com o obje�vo de observar eanalisar, como aquele país estava enfrentando asdificuldades para a produção de alimentos.

Jalal conseguiu com o Sr. Ibn Alawi a dispensa dotrabalho, por alguns dias, e rumou com outros colegas eprofessores para a cidade do Cairo.

Lá foram recebidos por uma delegação daUniversidade do Cairo, e logo entabularam encontros e

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estudos a respeito da produção agrícola, assim como, daspolí�cas econômicas direcionadas exclusivamente para aagricultura e, também, analisadas as medidas para as suaseficácias.

Visitaram desde o delta do rio Nilo, até a enormerepresa de Assuan, onde observaram as culturas de algodão,arroz, milho, cana‐de‐açúcar, trigo, cevada, hortaliças,amendoim, gergelim, todas, em regime de coopera�vas.

Tamanha era a diversidade dos cul�vares, que Jalalficou entusiasmado, cada vez mais, com a profissão queescolheu. Visualizava grandes possibilidades para ajudar oseu país.

Completados os estudos, observações,demonstrações e relatórios, eles �veram alguns dias defolga.

No oásis de El Faiyan, que se localiza numa grandedepressão no deserto, Jalal ainda se deteve em observar,analisar e anotar o cul�vo do algodão, a principal cultura dopaís, e também do linho. A certo momento, quando estava aadmirar a beleza de um grande canteiro de nenúfares,acercou‐se dele um senhor de tez escura, maltratada pelosol, barba volumosa, que lhe dirigiu a palavra em idiomadesconhecido.

Jalal virou‐se para o seu acompanhante egípcio ‐técnico agrícola — responsável pela coopera�va local, comum ar de interrogação.

O técnico, em seu auxílio, disse: — Ele fala numdialeto regional, e está a lhe desejar boas vindas a estelugar.

Jalal agradeceu a acolhida e aquele senhor se

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afastou.

— Quem é aquele senhor? Perguntou curioso.

— Ele tem o hábito ficar por aqui nesta época doano, por uns dias, depois desaparece; dizem ser um "neviindo deserto"; "neviin" quer dizer , um homem que fala dofuturo das pessoas; é também, vidente.

“Médiuns profé�cos – É, em geral, uma variedade dosmédiuns inspirados, que recebem com permissão deDeus, mais precisamente que os médiuns depressen�mento, revelação de coisas futuras, deinteresse geral, tendo eles o encargo de manifestá‐lasaos homens para os instruir. O pressen�mento é dadoà maior parte dos homens, quase que para seu usopessoal; o dom profé�co é especial e revela umamissão”.

(Obras Póstumas – Ed. Lake 11ª Ed. – pag. 49)

— Interessante — aduziu Jalal.

No momento de despedir‐se do técnico, ele escutou:Jalahal...

Era aquele homem novamente — o "neviin".

Jalal, convidou o técnico para ajudá‐lo acompreender o que aquele homem desejaria falar, e foramao seu encontro.

— "Eu só quero dizer, que até hoje, Jalahal, vocêconseguiu transpor as suas dificuldades com segurança ecom a ajuda de algumas pessoas que lhe querem bem, eque estão sempre por perto. Quando você es�ver longe

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deles, sem o apoio amigo, as coisas ficarão diIceis. Vocênecessitará de muito equilíbrio para enfrentar a vida emoutras terras de costumes diferentes. Uma coisa importanteque afeta diretamente o seu coração é o amor. Você édiferente de muitos que cons�tuem família, sem ummínimo de amor em seus corações. Hoje você já admite quesó se casará quando o amor brotar em seu coração. Isso serealmente acontecer, será uma coisa boa, porque acompanheira que for do seu agrado, você também será doagrado dela, e assim sendo uma promessa entre vocês doisse concre�zará. Ela será como uma nenúfar que já foicolhida, mas que está no vaso e a sua espera. Meu amigo, oSer Supremo que nos rege, nos deu a livre escolha em tudo;você escolheu assim; eu, escolhi ser um homem do deserto,não invejo ninguém”.

Paula�namente, o técnico agrícola, traduzia aquelamensagem, que conforme ia sendo entendida, Jalal ficavapasmado.

Terminada a mensagem, o "neviin" virou‐se e foiembora sem se despedir.

O técnico olhou para Jalal e perguntou: — Vocêentendeu o que ele lhe disse?

— Entendi o que você traduziu!

— Uma vez por ano ele aparece, mas é a primeiravez que o vejo aproximar‐se de alguém e falar dessamaneira; foi interessante o que ele lhe disse. O que vocêachou Jalal?

— Quanto à ajuda, que ele disse que eu �ve,realmente até hoje estou tendo. No que concerne a outrasterras, eu tenho interesse em fazer alguns estudos

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complementares em outro país, para o qual ainda não medecidi. Agora, quanto a casar, realmente eu só me casarei sefor por amor, e ainda não tenho uma pretendente. Mas,vamos aguardar o que nos trará o futuro! Quem sabe umdia eu volte aqui, para apresentar a minha esposa —nenúfar — a esse meu amigo "neviin".

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Capítulo — VI

E Jalal, com dis�nção graduou‐se na faculdade.

Seus pais, seu avô, seu �o‐avô e Ib Alawi, es�verampresentes na colação de grau e nas comemorações.

— E agora meu neto, o que vai fazer?

— Vovô, há dois dias, o senhor Reitor perguntou‐mese eu queria fazer uma especialização no Brasil. Eu lherespondi: Porque o Brasil senhor? E ele respondeu: nósmantemos com o Brasil vários acordos, inclusive cultural,com a possibilidade de podermos enviar para láprofissionais para se especializarem. Sugiro que vá ao Brasilpela seguinte razão: é um país con�nental, que tem diversos�pos de solo, desde o mais fér�l até o semi‐árido, assimcomo, tem vários �pos de climas — desde o frio, temperadoe quente. É o maior produtor de café e cana‐de‐açúcar domundo, e com o domínio da tecnologia na produção doálcool; grande produtor de soja, arroz, milho, feijão,algodão, laranja, limão, sorgo e hortaliças; e está também,com a tecnologia, bastante avançada em irrigação,mecanização, fer�lizantes e no manejo da terra. Disse‐meainda, que eu poderia fazer duas opções: freqüentarsomente uma faculdade de agronomia, ou três faculdades— uma do sul, outra do sudeste e outra do nordeste, emperíodos diferentes. Mostrou‐me vários mapas, catálogos,revistas e livros a respeito, que estão em meu poder paraestudá‐los.

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Eu ponderei o oferecimento, projetando até sobre omeu futuro na faculdade, e disse‐lhe que aceitava aproposta e agradeci a deferência que me dava; e propus queele me desse um prazo de seis meses, uma vez que, eu �nhaprome�do ao meu avô e a todos os meus familiares que,após a minha formatura, eu iria me dedicar à nossa fazenda.Ele concordou e disse que eu poderia ficar até um ano.

— Agora eu lhes pergunto: Papai, mamãe e meu avô,vocês estão de acordo com a minha ida para o Brasil?

— Sen�remos muitas saudades — responderam emum só momento.

— Mas, não vamos pensar nem começar a sen�rsaudades. Vamos aguardar o momento próprio; tristeza nãonos leva a nada, antecipada então, de nada nos servirá —acrescentou o avô.

— Venham aqui todos que eu quero lhes apresentaruma grande amiga, que hoje também está colando grau, sóque em medicina.

— Bellary, quero apresentá‐la aos meus pais, meuavô, meu �o‐avô e meu grande benfeitor aqui em Riyad ‐senhor Ib Alawi

Ela, muito bonita, com seu sorriso largo e franco, sedisse muito prazerosa em conhecer a todos.

E a recíproca foi verdadeira, mesmo porque Bellary,falou fluentemente o árabe. Isso os ca�vou.

Ela comentou que estava na iminência de viajar paraa Índia, por causa dos acontecimentos desastrosos que láestavam ocorrendo, com grandes precipitações chuvosas, eque, em razão disso, muitas pessoas já �nham perdido avida em decorrência das enchentes e das doenças que

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estavam se alastrando na cidade de Bombaim e região. Eque agora, como médica, vou me esforçar ao máximo paraminimizar o sofrimento daqueles que foram a�ngidos e, queestão sofrendo todo �po de dificuldade.

“Calamidades – Com que fim Deus cas�ga aHumanidade com flagelos destruidores?

— Para fazê‐la avançar mais depressa. Não dissemosque a destruição é necessária para a regeneraçãomoral dos Espíritos, que adquirem em cada novaexistência um novo grau de perfeição? É necessáriover o fim para apreciar os resultados. Só julgais essascoisas do ponto de vista pessoal, e as chamais deflagelos, por causa dos prejuízos que vos causam; masesses transtornos não frequentemente necessáriospara fazerem que as coisas cheguem maisprontamente a uma ordem melhor, realizando‐se emalguns anos o que necessitaria de muitos séculos”.

“Deus não poderia empregar, para melhorar aHumanidade, outros meios que não os flagelosdestruidores?

— Sim, diariamente os emprega, pois deu a cada umos meios de progredir pelo conhecimento do bem domal. É o homem quem não os aproveita; então, énecessário cas�gá‐lo em seu orgulho e fazê‐lo sen�r asua fraqueza”

(O Livros dos Espíritos – Livro III – pergs. 737/738)

— Jalal, tenho quase certeza de que amanhãmesmo, deveremos viajar. Veja, lá vêm papai e mamãe,

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acho que deveremos ir.

Cumprimentaram‐se e em seguida despediram‐se,sem antes Bellary, lhe dar o seu endereço eletrônico.

De volta para seu país, Bellary, realmente constatoua extensão da catástrofe. Muitas cidades a�ngidas, estavamalagadas, e com centenas de mortos e milhares dedesabrigados. As equipes médicas, numa das quais Bellaryse engajou, se esforçavam ao máximo para um melhoratendimento, mas, se a chuva não desse uma trégua, asdificuldades se mul�plicariam. Além da falta deacomodações aos desabrigados, eram escassos osalimentos, a água portável e medicamentos. Os hospitaisestavam com falta de leitos e, a leptospirose e aleishmaniose estavam no auge do alastramento.

Bellary se desdobrava nos atendimentos; passavanoites em claro, nos cuidados daqueles desafortunados.Muitos morriam à sua frente e em seus braços,principalmente, crianças, e ela se aba�a, chorava,reconhecia‐se impotente frente a tamanha calamidade. Emvárias ocasiões, chegava a interpelar, às vezes, comveemência ao seu deus Brahma — que para ela naquelahora de angús�a, não ajudava em nada.

Certa vez, Bellary não sabia a quem atender, emdecorrência de tanta gente necessitada e, em conseqüênciadisso, começou a crescer dentro de si um tormento, umdesespero, uma vontade de sair em desabalada carreira,quando ela ouviu alguém chamar: — Doutora...Doutora...

Percebeu que a voz vinha de um canto daenfermaria, que estava lotada. Era um senhor idoso, deitado

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no chão frio, com apenas um lençol muito sujo a cobri‐lo.

Olhou para aquele quadro melancólico,consternador, chamou uma atendente para auxiliá‐la aacomodar melhor aquela criatura, que já se encontrava comdificuldade de respirar e se mostrava ofegante.

E o velho falou com dificuldade, apoiado nos braçosde Bellary: — Não...Não mexam comigo. Acho que chegou aminha hora. O que eu �nha que fazer e sofrer neste mundo,vai se encerrar agora.

Ele fez uma pausa para angariar um pouco mais deforças que ainda lhe restavam, e con�nuou quase quesussurrando.

— Mas para senhora, doutora, ainda há uma longaestrada de alegria, porque vai curar muitas pessoas. Mas háum caminho de muita tristeza também. Seja forte, firme eequilibrada e, esteja atenta: o lugar calmo, onde es�ver, setornará violento; há muitos loucos e faná�cos soltos pelomundo, e estão ai só para destruir. Desejo que a senhoraseja muito feliz.

E o velho, cerrou seus olhos, seguido de umapequena agitação por todo seu corpo, e deu‐se o desenlace.

— Doutora, disse a atendente — uma senhora bemgrisalha: — Nós não poderíamos fazer mais nada por ele, anão ser aquilo mesmo que a senhora fez, que foiaconchegá‐lo nos seus braços. A doença minouterrivelmente as poucas forças que ele �nha.

— Mas o que me causou estranheza, foi que ele nãose desesperou. Estava resignado, aceitando, até comtranqüilidade, a chegada da morte. E outra coisa, aquelaspalavras dirigidas a mim, estão me causando uma grande

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interrogação no meu interior.

— Doutora, esse homem era um desses “rishis”videntes, que pressentem o nosso futuro — a joia em seuturbante, assim o revela. Se a senhora acreditou no que elelhe disse, eu também lhe desejo muitas felicidades, e quetudo corra bem em sua vida.

“Médiuns de pressen�mentos – O pressen�mento éuma intuição vaga das coisas futuras. Algumaspessoas têm esta faculdade mais ou menosdesenvolvida; elas podem devê‐las a uma espécie dedupla vista, que lhes permite entrever asconseqüências das coisas presentes e a ligação dosacontecimentos;”

(O Livro dos Médiuns— Pate II – cap.XV – 184)

Em Asir, Jalal inicialmente analisou as terras dafazenda, �rou várias conclusões e propôs ao seu pai algumasmudanças que deveriam ser implementadasgrada�vamente, tais como: a correção do "ph" da terra, e oadensamento do cafezal e da cana‐de‐açúcar. Propôstambém, para o futuro, a montagem de uma pequena usinade açúcar, com possibilidades de também, fabricar álcoolpara uso medicinal e hospitalar. Aconselhou que sediminuísse a área do cul�vo do "qat", para expandir oplan�o do arroz, hortaliças e experimento do plan�o dotrigo, e melhor alinhamento das curvas de nível.

Muhammad ficou radiante com as inicia�vas do seuquerido neto. Com o tempo, e com critério, as sugestõesforam implementadas com sucesso.

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Capítulo — VII

Muito embora nas conversações Jalal se man�vessecontente com a evolução sa�sfatória que estavaacontecendo na fazenda, vez ou outra, após a faina diária,recostado em uma das tamareiras do seu plan�o, ele erasurpreendido com a presença do seu avô.

— Jalal, lembro‐me bem, há uns cinco anos, achoaté, um pouco mais, quando aqui estávamos admirando anossa querida propriedade, agora mais bonita e próspera,com você, que me contava das suas aspirações. Seus olhoseram vivos e esperançosos no futuro. Mas hoje eu noto noseu olhar alguma tristeza.

— Vovô, vou lhe contar uma passagem queaconteceu comigo lá no Egito.

E ele discorreu sobre tudo o que aconteceu quandoavistou‐se com um "neviin".

Um silêncio reinou por alguns instantes, até que: —Jalal, a doutora Bellary é muito importante para você?

— Sim, Bellary é uma ó�ma moça e, sou grato a ela.Mas como o senhor lembrou dela?

— Não sei... O nome dela veio à minha lembrança...Mas deixe‐me dizer algo; é só uma comparação quepretendo fazer dentro da minha observação com referênciaa natureza dos animais. É uma comparação muito grosseira,mas acho que deverá valer para termos um pouco deentendimento a respeito do ser humano. Eu acho que, se

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observássemos os animais, nós aprenderíamos muito emelhores seriam as nossas relações em sociedade. Todosnós, que temos experiência no trato com os animais,sabemos que não é sempre que uma égua puro sangueárabe, aceita ser coberta por um potro que nósconsideramos ser de alta linhagem. Com isso, eu quero lhedizer que cada um de nós, tem a sua individualidade, tem asua livre escolha e, em conseqüência disso, só nós somosresponsáveis pelos atos que pra�camos, ou não pra�camos.

“O homem tem o livre arbítrio nos seus atos?

— Pois se tem a liberdade de pensar, tem de agir. Semo livre arbítrio o homem seria uma máquina”

“O homem goza do livre arbítrio desde o nascimento?

— Ele tem a liberdade de agir, desde que tenha avontade de fazer.Nas primeiras fases da vida aliberdade é quase nula; ela se desenvolve e muda deobjeto com as faculdades. Estando os pensamentosda criança em relação com as necessidade da suaidade, ela aplica o seu livre arbítrio às coisas que lhesão necessárias”O Livro dos Espíritos — pergs.843/844

— O que o senhor quer dizer também, além daliberdade que todos temos da livre escolha, é que Bellarypode ter um obje�vo do qual eu não faço parte?

— Isso realmente pode acontecer por vontade dela,ou por imposição da sociedade em que vive. Afinal, o seupai é um representante do governo indiano, pertence a umaclasse muito alta, são orgulhosos e, por ter lido em algum

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lugar, são também, de uma certa forma, egoístas, não seimportando e nem se comunicando com outras castasinferiores. A sociedade indiana, é cons�tuída de váriascastas. O povo das castas inferiores, serão sempre, pessoasinferiores.

Eles são mais ou menos, como nós mesmos somos;muito egoístas e orgulhosos. Por exemplo, quanto a nós, noque tange à religião. Somente nós muçulmanos podemosvisitar as cidades de Meca e Medina; enquanto quequalquer um pode visitar Jerusalém, pode ir ao Va�cano,pode ir a China visitar os seus templos religiosos, pode ir aoTibet, enfim, a qualquer lugar, seja lá qual for a prá�careligiosa, desde que tenhamos respeito. Acho que essa éuma situação que nos desfavorece, pois se fossemos umasociedade mais aberta, recep�va e sem privilégios, comcerteza teríamos progredido mais, seríamos mais cultos,não teríamos preconceitos, seríamos menos desnutridos emais saudáveis.

Mas, meu neto, penso que eu e você, somos umnada frente à grande maioria. No entanto, eu o aconselho:Seja um homem feliz! Porque foi para isso que viemos viverna Terra. Sermos felizes e sermos propiciadores dafelicidade.

Jalal entendeu perfeitamente o que ele quis dizer.

“Entre os vícios, qual o que podemos considerarradical?

— Já dissemos muitas vezes: o egoísmo. Dele derivatodo mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundod todos existe o egoísmo. Por mias que luteis contra

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eles não chegareis a ex�rpá‐los enquanto não osatacardes pela raiz, enquanto não lhes houverdesdestruído a causa. Que todos os vossos esforços tendapara esse fim, porque nele se encontra a verdadeirachaga da sociedade. Quem nessa vida quiser seaproximar da perfeição moral deve ex�rpar do seucoração todo sen�mento de egoísmo, porque éincompaIvel com a jus�ça, o amor e a caridade: eleneutraliza todas as outras qualidades”

(O Livro dos Espíritos – pergunta 913)

“Todos os homens são iguais perante Deus?

— Sim, todos tende para o mesmo fim e Deus fez assuas leis para todos. Dizeis frequentemente: “O solbrilha para todos”, e com isso dizeis uma verdademaior e mais geral do pensais. Todos os homens sãosubme�dos às mesmas leis naturais; todos nascemcom a mesma fragilidade, estão sujeitos às mesmasdores e o corpo do rico se destrói como o do pobre.Deus não concedeu, portanto, superioridade natural anenhum homem, nem pelo nascimento, nem pelamorte: todos são iguais diante DELE”

(O Livro dos Espíritos – pergunta 803)

A data para ir para o Brasil, já estava marcada e,através do e‐mail, comunicou a Bellary, e ela lhe respondeu:"Desejo‐lhe muito sucesso. Seja muito feliz. O povo daquelepaís é muito liberal e alegre, assim me disse papai, quandoesteve por lá em missão econômica. Nós tambémviajaremos para o Cairo. Papai foi designado para lá. Eu

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gostaria de ir para a Espanha, para fazer especialização emoncologia, mas a minha vontade ainda é cerceada paraalgumas coisas".

No aeroporto em Riyad, na companhia do Reitor, eleaguardava a hora do vôo que procedia de Nova Delhi, comdes�no a São Paulo.

Acomodou‐se na classe econômica, e tentou sepreparar psicologicamente para uma longa viagem, pois ovôo teria escala no Cairo, Atenas, Roma, Madri, Brasília efinalmente, São Paulo.

Na primeira escala, no Cairo, sentado que estava aolado da janela, Jalal viu Bellary. Desejou descer, mas foiimpedido.

Pensou: "Ela disse que viria com a família para oCairo". Como o des�no é caprichoso... Estávamos no mesmoavião; agora, cada um vai para o seu des�no, cumprir osseus obje�vos. Neste instante, lembrou‐se do seu avô, dosseus conselhos, das suas afirmações e das suascomparações.

Em São Paulo, um funcionário do Consulado Sauditao aguardava.

Uma semana após a sua chegada, Jalal se apresentouna secretaria da faculdade, onde já era aguardado, eimediatamente iniciou os seus estudos. E assim foi: muitoestudo em salas de aulas e muito esforço nas a�vidades decampo, e tudo completado com extensos relatórios.

E assim passou o ano...

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Durante as férias, Foi para Asir; estava comsaudades.

Após por em dia os assuntos com seus familiares,Jalal demonstrou a vontade de reunir‐se com os agricultoresda região para passar a eles alguns conhecimentosadquiridos, que poderiam ser u�lizados no campo. E assimfoi; visitou por vários dias as áreas cul�vadas.

Certa noite, em casa, reunido com os seus familiares,ele tomou conhecimento de um atentado ocorrido no Egito,onde morreram dezenas de pessoas que estavam num lugarde turismo.

— Vocês lembram de Bellary, aquela moça indiana.Ela foi morar no Egito.

— Lembramos sim — respondeu seu avô. Mas seráque aconteceu alguma coisa com ela?

— Espero que não! Ela me ajudou muito, sendominha professora de inglês, durante quatro anos. Lá noBrasil, eu só consigo entender e ser entendido através dalíngua inglesa. A língua portuguesa é muito diIcil, mas voume esforçar para aprender um pouco.

— Vou tentar me comunicar com ela. E Jalal tentoupor três vezes, mas não conseguiu, pois as mensagens eramrecusadas.

Ele não se conformava com a falta de noXcias, então,recorreu ao seu Reitor para que este solicitasse informes noconsulado indiano em Riyad.

As informações ob�das foram: que a consulesa ficougravemente ferida, e que o Cônsul e sua filha estão bem desaúde, e que retornaram a Índia.

Antes de voltar para o Brasil, o Reitor solicitou para

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que Jalal comparecesse na universidade para tratar deassunto do seu interesse. Na presença do Reitor, este lhedisse: — Jalal, todo material que nos enviou está sendosistema�camente estudado e com boa avaliação. Assim, issome dá respaldo para convidá‐lo, após a conclusão do seuestágio, para vir aqui lecionar. Estamos com uma vagaaberta.

Exultante, e em agradecimento, abraçou o seuReitor, beijou‐o, e aceitou o convite.

Ainda em Riyad, Jalal tentou conseguir noXcias noconsulado indiano sobre o paradeiro da família de Bellary,mas as informações foram recusadas por medida desegurança. Assim, ele ficou sem ter noXcia alguma.

Frustrado, mas compreendendo que este era ummeio de dar um pouco de segurança para a família doCônsul, rumou para o Brasil.

O ano de Jalal se arrastou, com muito estudo etrabalho. Nos seus poucos momentos de lazer, conheceualgumas belezas naturais do país, mas mesmo assim,Belllary estava com alguma constância em seuspensamentos.

O período de estudo foi completado, e ele regressoucom fartos subsídios que, com certeza, iriam auxiliá‐lo a darà polí�ca agrícola do seu país um salto de qualidade e defartura. Ele estava certo disso.

Na universidade, em diálogo com o Reitor, recebeuordens de que, como professor, deveria preparar o seucurrículo, e organizar o seu material de trabalho para serapresentado aos professores dirigentes da FaculdadeAgronomia.

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Assim, solicitou um prazo de dez dias, uma vez quepretendia ir a Asir, ao encontro dos seus familiares.

Antes de se despedir, o Reitor perguntou: — Você játeve noXcias da doutora?

— O senhor está perguntando sobre a doutoraBellary?

— Sim!

— Não senhor Reitor.

— Depois daquele seu pedido, eu tentei maisalgumas vezes, mas não consegui nenhuma informação.

— É, infelizmente eu acho que a nossa amigadoutora não quer mais saber de nós. Eu desejava muitoagradecer a sua ajuda pessoalmente, mas, não sendopossível, aqui fica, então, em forma de pensamento, o meuagradecimento. Se, de fato, o pensamento tem força e podenavegar no espaço, eu desejo que a doutora Bellary recebao meu abraço amigo e meu agradecimento sincero portanta ajuda que me proporcionou.

— Você acredita na força do pensamento?

— Senhor Reitor, acho que isso é algo que não devodescartar, assim como outros acontecimentos que ocorrem,que é diIcil não acreditar.

Certa vez, senhor Reitor, quando es�ve lá no Egito...

E ele discorreu com detalhes tudo o que aconteceu.

— Pela sua descrição, ele previu que você viajariapara um país de costumes bem diferentes do nosso. Mas,quanto ao amor, parece que ele deixou dúvidas. Você já temuma pretendente?

— Não senhor. Ainda não tenho.

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Mas o Reitor, acostumado no trato com as pessoas,lia na fisionomia de Jalal, uma resposta não muitoafirma�va.

— Jalal, você agora vai viajar para Asir. Na sua volta,quer passar uma semana de férias e espairecer um poucona Índia? É um país muito interessante; uma civilizaçãomuito an�ga, de cultura milenar e cheia de mistérios. Lá,você bem sabe, eles também cul�vam em terraços. Achoque pode ser interessante conhecer. Quanto aos gastos, nãose incomode, a universidade se responsabilizará. Sóqueremos no final, uma prestação de contas.

Jalal ponderou a oferta e a intenção do Reitor, eaceitou o convite.

Logo que chegou em Nova Delhi, solicitou umaaudiência no Departamento de Relações Exteriores. Nosetor de Relações Públicas, indagou pelo Cônsul Sr. Banzhir.De imediato, foi levado para uma sala, e foi interrogado.Assustado com esse procedimento, explicou que conhecia oCônsul e sua família, quando eles residiam em Riyad. Disseainda, que pretendia encontrar a sua contemporânea deuniversidade, a Dra. Bellary Benares Banzhir.

— Sr. Jalal, após o atentado que eles sofreram, nossoprocedimento para com as pessoas que procuram peloCônsul e seus familiares, é esse. Esperamos não tê‐loconstrangido demais. Por favor, nos desculpe! Agora, comreferência aonde encontrá‐los, não temos permissão paralhe falar.

— Mas os senhores poderão me dizer se eles estãobem de saúde?

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— Com exceção da esposa, que está sob cuidadosmédicos, ainda um pouco abalada; o senhor Cônsul e suafilha estão bem.

— É meu desejo então, que os senhores recebam eencaminhem os meus votos de rápido restabelecimentopara a senhora consulesa, e que sejam portadores do meuabraço fraterno e amigo para o senhor Cônsul e sua filhaBellary.

A vontade de Jalal era voltar imediatamente paraRiyad.

Quando caminhava a esmo, ficou de frente para umacasa de turismo. Entrou e comprou um pacote turís�co paraa cidade e região adjacente.

Nova Delhi, com soberbas construções dos seustemplos, entusiasmou Jalal, que tentou avaliar areligiosidade daquele povo, e sua cultura milenar. Elefotografou tudo. Chegou a visitar uma região agrícola ondese cul�vava o arroz em terraço. Anotou todos osprocedimentos, desde as técnicas de plan�o até oarmazenamento do produto, além de adquirir uma boaquan�dade de sementes para plantar como experimentoem Asir, e recolher várias receitas para o consumo.

Ao se despedir do seu interprete, este lhe disse: —Amanhã, o senhor deverá voltar para o seu país. Então, Sr.Jalal, o senhor vê aquele pequeno templo? Entre lá, e faça oseu pedido. Creia senhor, que tudo, em oração, com fervor,que pedir em seu favor, ou em favor de alguém, se for umdesejo bom, ainda que demore, o senhor ou outra pessoa,receberão o que foi pedido, se �verem merecimento.

E Jalal se viu sozinho dentro daquele templo

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aconchegante. Diante de uma grande estátua lindamentedourada, fez o seu pedido: "Bellary, meu desejo é que noseu caminho você encontre sempre a saúde e a felicidade".

“Pode‐se orar u�lmente pelos outro?

— O Espírito daquele que ora está agindo pelavontade de fazer o bem. Pela prece, atrai a ele os bonsEspíritos que se associam ao bem que deseja fazer.Possuímos em nós mesmos, pelo pensamento e avontade um poder de ação que se estende muito alémdos limites de nossa esfera corpórea. A prece poroutros é um ato dessa vontade. Se for ardente esincera, pode chamar os bons Espíritos m auxíliodaquele por quem pedimos, a fim de lhe sugerirembons pensamentos e lhe darem a força necessáriapara o corpo e a alma. Mas ainda nesse caso a precedo coração é tudo e a dos lábios é nada”

(O Livro dos Espíritos – pergunta 662)

Ao término das pequenas férias, o trabalho e osestudos o aguardavam sem demora. Extensos relatórios evárias planilhas foram produzidas e apresentadas ao setorcompetente da faculdade agrícola. De todos esses trabalhoscompilados, um livro foi editado para fazer parte do acervodidá�co do curso.

O tempo de Jalal estava totalmente preenchido. Nasraras horas de lazer, ele ia visitar o Senhor Alawi, na lojaonde trabalhou, e conversar sobre a economia do país, umavez que o comércio era o melhor termômetro para essaaveriguação. Além do que, o senhor Alawi era uma

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excelente companhia, e que sabia de quase tudo sobre oque acontecia de mais importante em Riyad. A cada trintadias, Jalal viajava para Asir.

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Capítulo — VIII

O ano fluiu com celeridade. Após uma reunião deavaliação do ano le�vo, o Reitor convidou Jalal para umareunião par�cular no seu gabinete.

— Sente‐se, e me diga: Como está se sen�ndo nesteprimeiro ano como professor �tular?

— Senhor Reitor, primeiramente, mais uma vez,quero agradecer tudo o que fez por mim, desde o primeirodia que nós nos entrevistamos, até este momento, do qualprivo da sua inteligente companhia como Reitor, e se mepermite considerá‐lo como meu amigo. Na �tularidadecomo professor, confesso ao senhor, que o que eu faço, façocom o maior prazer, com gosto, com empenho, cominteresse para que o meu ouvinte capte o que de melhor eleachar nas minhas explanações.

— Ó�mo professor. Fico muito contente com o seurelato, e muito feliz por você ter‐me dado a oportunidadede um dia, de alguma forma tê‐lo auxiliado. Então, agora,vamos tomar um chá de alecrim, para comemorar; além deser um chazinho gostoso, ele é muito bom para revigorar onosso coração.

— Mas o senhor tem problemas no coração?

— De certo modo, meu caro professor, analisando erespondendo com liberdade esse seu ques�onamento,sobre horizonte bem largo, amplo, eu acho que todos nóstemos problemas de coração. Uns, com problemas

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diretamente ligados ao órgão, outros, problemas alheios aele, mas, quando esses problemas calam fundo em nossopeito, dizemos que estamos com o coração dorido. Eu ostenho, acho que por minha idade; e com todos esses anosde a�vidade constante na vida profissional, sofrendopressões, as mais diversas; e em contrapar�da,pressionando também, para ver sa�sfeitos os meusobje�vos e cumprir as metas propostas pela universidade,acho que isso, fez com que houvesse um desgaste naturaldo órgão. Essa é a opinião de um leigo. E você Jalal, queainda é jovem, não tem problemas para aquelas questõesdirecionadas ao lirismo, à afe�vidade, ao amor, que tocamas Imbrias do coração?

Jalal olhou bem para o seu amigo Reitor erespondeu: ‐ Tenho‐os sim, e admito que, por enquanto,eles estão no plano da insolubilidade.

— Escute bem o que vou lhe dizer, com base no quevi e ouvi. Por sinal, os meus familiares são as únicas pessoasque tem conhecimento do fato, e que agora, você também,terá oportunidade de saber: professor, eu admito, semnenhuma reserva, que em nossas vidas, tudo pode ter umasolução, pode ser reversível, pode ser mudado, pode seralterado, admi�ndo‐se que a morte não existe!

— Mas senhor Reitor...!

— É isso mesmo. A morte não existe!

— Mas, senhor Reitor, se todos nós vamos para ofundo da terra, como é que a morte não existe? Nãoconsigo entendê‐lo!

— O nosso corpo, Jalal, é que vai para baixo da terra,e se decompõe: vira comida para os vermes. Essa é a

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verdade. Eu também �ve muita dificuldade para entendertal fato. Só com o passar dos anos, com as observações doco�diano, com a análise dos nossos próprios pensamentos,e pelo que vi e ouvi, eu admito que todos nós,indis�ntamente, temos algo que não morre, e que estásempre em evolução: é uma chama que está sempre viva,crepitante. Observe e reflita sobre a sua própria vida atéeste momento. Você, componente de uma família modestade agricultores, que com esforço, estudou e formou‐se numcurso superior e, com destaque, fez também um curso noexterior. Voltou para o seu país de origem, e aqui leciona —é professor universitário, catedrá�co. A sua evoluçãoeducacional, cultural e material foi muito grande. Você tevea oportunidade de fazer tudo isso; com seu esforço, nãoresta dúvida. Mas as oportunidades exis�ram e você soubeabraçá‐las, com sua vontade e com a ajuda de outraspessoas!

Agora, meu amigo, vamos pensar naqueles que nãotêm oportunidade nenhuma, não têm o es�mulo, sãodesnutridos, fazem parte de uma sociedade de culturarudimentar; que vivem precariamente sem um mínimo dehigiene; vamos pensar naqueles que vivem embrenhadosnas matas, como são os indígenas lá do Brasil; ou comovivem os aborígines australianos, ou aqueles indígenas quevivem em algumas ilhas do arquipélagos das Filipinas, ouainda, esses povos sofridos, que na África amargam a faltade alimentos, de melhores condições de moradias , higienee saúde, onde a AIDS campeia de forma devastadora,eliminando milhares e milhares de pessoas de todas asfaixas etárias.

É justo, meu amigo, que esses indivíduos não

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tenham a chance, de uma vida melhor, mais cômoda,próspera e saudável?; de não terem sequer, uma únicaoportunidade para conseguirem uma evolução material,obje�vando um futuro proIcuo para si e os seus?; de nãoterem a oportunidade de conhecerem e estudarem osgrandes sábios da humanidade como nós �vemos e estamostendo? Por que só nós somos privilegiados, e termos todasas possibilidades que desejamos, e eles não as terem?

“Nada de criaturas privilegiadas ou mais favorecidasque as outras; os anjos são almas elevadas àperfeição, depois de terem passado, como as outras,por todos os graus de inferioridade”.

(Obras Póstumas – Allan Kardec – Doutrina Espírita)

O que você acha de tudo isso? Para mim, eu achoque há muita coisa a ser entendida a esse respeito.

Eu não posso admi�r que Allah, que me possibilitouter tudo o que eu desejei nesta vida, em todos os sen�dos,não dê condições para que esses povos, algum dia tambémconsigam chegar onde a nossa sociedade estagia, emboraainda, com grandes defeitos.

Então, acreditando nesse Ser Supremo, do qualsomos todos filhos, homens e mulheres, todos nós, temospossibilidades iguais para evoluir. Eu não acredito que, comofilho desse Ser Supremo, que me deu a chance de ser o quesou — longe de mim o orgulho — ter adquirido um bomlastro de conhecimentos, os mais diversos, apenas nessaexistência, isso tudo que está armazenado no meu cérebro,possa se perder por entre as areias do deserto. Como eu,

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aqui e agora, não quero perder nenhum ente querido, o SerSupremo do qual sou filho, admito, que não quererá meperder! Meu corpo será enterrado, mas os meusconhecimentos, a minha inteligência, enfim, a minha chamade vida, com tudo de bom e, também com todos osproblemas que não pude resolver, não se apagarão e, emoutra vida, a chama con�nuará a brilhar e, tereioportunidade de solucionar os problemas mal resolvidos.Com isso, quero lhe dizer, que tudo tem a sua solução e,aquele que não teve sorte na vida, por inúmeras questões,terá também a sua chance de evoluir.

“Comentando o assunto portas a dentro do esforçocristão, somos compelidos a reconhecer que osnegadores do processo evolu�vo do homem espiritual,depois do sepulcro, definem‐se contra o próprioEvangelho. O Mestre dos Mestres ressuscitou emtrabalho edificante. Quem, desse modo, atravessará oportal da morte para cair em ociosidadeincompreensível? Somos almas, em função deaperfeiçoamento, e, além do túmulo, encontramos acon�nuação do esforço e da vida”.

(Caminho, Verdade e Vida— Emmanuel – 68)

Então, Jalal, se nós estamos nesse estágio atual, osnossos beduínos que hoje só vão de oásis em oásis,peregrinando pelos desertos, também terão o direito deprogredir em suas vidas e, acredito, renascendo, e cada vezmais evoluindo sempre, espiritualmente e materialmente e,também chegarem a ter uma vida como nós atualmente,

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temos, senão até melhor.

“Sendo insuficiente uma única existência corpóreapara adquirir todas as perfeições, toma um corpotantas vezes quanta lhe é necessário, trazendo,quando reencarna, o adiantamento adquirido nasanteriores existências e na vida espiritual. Quandoadquiriu no mundo tudo o que se pode aí adquirir,deixa‐o, para subir a outros mais adiantadosintelectual e moralmente, e menos materiais. Assimchega a criatura à perfeição de que é suscepIvel.”

(Obras Póstumas – Allan Kardec – Doutrina Espírita)

— Senhor Reitor, acho que para completar o seupensamento da tese que expõe, falta dizer o que é, quandoafirma que "viu e ouviu"..

Sim, é isso mesmo! Eu vi e ouvi, algo que vemreforçar e provar o que lhe digo — que nós não morremos!

Certa vez, aqui na Universidade, um jovemuniversitário desmaiou num dos corredores; e quandovoltou a si falava coisas que ninguém entendia. Trouxeram omoço à minha presença; fiz com que ele se sentasse nessacadeira onde você está, e perguntei: — "Você pode me dizero que aconteceu? Ele respondeu, mas �ve dificuldade deentendê‐lo. Então solicitei que falasse um pouco maisdevagar. E assim ele fez. Falava em francês. Eu entendi. Eledizia que �nha sido um engenheiro, e que �nha morridonum acidente na barragem de Assuan, e que o seu nomeera Didier Falayeg.

Perguntei em que cidade havia nascido, e ele

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respondeu que �nha nascido em Alexandria, no ano de1930, mas que �nha sido educado na França.

Disse a ele, que eu não duvidava da sua iden�dade enem daquela manifestação, mas que, em virtude daquelaocorrência ser inédita, eu necessitava de mais algumasinformações, e se ele poderia dar.

Respondeu que sim.

"— O senhor disse que morreu num acidente emAssuan". Poderá, nos fornecer mais alguns detalhes?

— Foi em 1968, em um acidente ocorrido nabarragem.

— Senhor Didier, como o senhor está falando da suamorte, eu penso então que o senhor não morreu? Poisquem morre não fala mais nada!

— Eu também pensava assim, mas o lado de cá ébem diferente; ninguém morre.

— Nós podemos saber o que o senhor deseja, aoestar falando através desse jovem?

— Se não fosse por culpa dele, eu não teria morrido.

— Culpa de quem senhor Didier?

— Culpa desse, por quem eu falo. Ele era o meuajudante de campo.

— Mas, senhor Didier, ele também morreu noacidente?

— Morreu!

— E como era o nome dele?

— Jhafyr.

— Então, senhor Didier, como o senhor nota, não

existe a morte, e o nosso jovem que naquela época se

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chamava Jhafyr, e que hoje chama‐se Farud, também comoo senhor não morreu, mas ele está aqui conosco, em umanova vida. Teve a possibilidade, entendo, de ter nascido denovo, e aqui está estudando conosco, para se formar emengenharia.

Perguntei ainda a ele, se teria condições deacrescentar mais alguma coisa àquela situação inédita, masele nada mais respondeu.

“A sobrevivência da alma prova‐se de maneirairrecusável e por assim dizer palpável pelascomunicações espíritas. A sua individualidadedemonstra‐se pelo seu caráter e qualidades próprias acada uma; essas qualidades, dis�ntas umas dasoutras, cons�tuem a personalidade; se seconfundissem em um todo comum, as qualidades detodos seriam uniformes. Al´m dessas provas, aindatemos a material das manifestações visuais ouaparições, que são tão freqüentes e tão autên�cas aponto de não deixarem a menor dúvida.”

(Obras Póstumas – Allan Kardec – A alma sobrevive aocorpo e conserva a individualidade depois da morte)

Depois de alguns instantes, o jovem Farud teve umtremor, �ve que segurá‐lo, pois quase caiu da cadeira e,despertou bem assustado. E eu, fiquei pasmo com aquelasituação. Ao final de alguns minutos, eu lhe perguntei: —Meu jovem, você tem consciência do que ocorreu?

— Senhor Reitor, só me lembro de que, a caminhoda sala de aula, �ve uma forte dor de cabeça.

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— E agora, você está bem?

— Sinto que estou com um peso enorme na nuca.Mas por que estou aqui na sua sala senhor Reitor?

— Você foi acome�do de um mal estar: talvez tenhasido aquela dor de cabeça, e desmaiou; e aqui está! Quandoquiser, pode vir que conversaremos mais.

— Está bem senhor Reitor e muito obrigado pelaajuda.

Depois de alguns dias, com aqueles acontecimentosainda na minha cabeça, tomei uma resolução e fui para oEgito. Primeiramente, fui a Alexandria e, de fato, constatei oassentamento de nascimento do senhor Didier Falayeg, etambém averbação do seu falecimento. Depois, viajei atéAssuan, e junto à administração da represa, fui informadoque realmente houve um acidente em 1968, no qualfaleceram os senhores Didier e Jhafyr.

Então, Jalal, está ai a constatação de que a mortenão existe, e que há o renascimento. Se todos nós temos apossibilidade de evoluir sendo filhos de Allah, já renascemosvárias vezes, e outros tantos renascimentos teremos. Nãohá como desacreditar! Se o Jhafyr, esteve aqui conosco,agora, com o nome de Farud, nós também, após a nossamorte.igualmente, já �vemos e teremos uma outraoportunidade de vida, para mais uma ou várias experiênciasna Terra, como , com certeza, também deve ter �do osenhor Didier, em algum lugar.

Isso tudo, foi o que deduzi, depois que resolvipesquisar sobre o assunto – renascimento. Constatei, Jalal,que já há relatos muitos an�gos, e que essa idéia é aceita –renascimento da alma.

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Alguns estudiosos, dos quais me vali parasedimentar a minha constatação, afirmam que esseentendimento tem raízes nos primórdios da civilizaçãohumana. Muitos deles, dizem, que a origem desse saber, foiplantado no Egito an�go. E outros ainda, sustentam queesse conhecimento, já era estudado na civilização daAtlân�da. Mas, é o Egito que retém escritos, os mais an�gosa esse respeito.

Muitos pesquisadores, se referem, sobre esseassunto, tendo por base o “Papiro de Anana”, queacredita‐se, tenha sido escrito, conforme a datação docarbono, em 1320 a.C., no qual, traz no seu bojo, afirmações“que uma pessoa pode viver várias vezes, retornando àTerra em novo corpo e, sem ter a lembrança das suas vidasanteriores”.

Há também, registros sobre esse assunto, na obrapoé�ca dos Vedas, que é composta de 1200 hinos, nosquais, proclamam os seus deuses. Isso, Jalal, há 1500 a.C.

Como não deixaria de acontecer, também , no berçoda civilização, a Grécia, com Pitágoras e seus seguidores,Sócrates, Platão, Apolônio, Empídocles e outros,igualmente, não �veram dúvidas sobre nossas outras vidas,visando a evolução da alma.

E agora, mais recentemente, na França, na cidade deLyon, em 1857, um eminente professor, discípulo dePestalozzi, cujo o nome era – Léon‐Hippolyte‐Denizart Rivail,que se cognominou, Allan Kardec, lançou um livro,in�tulado “O Livro dos Espíritos”, do qual, ainda estouestudando, que trata, entre muitos assuntos, dareencarnação do Espírito.

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Jalal, toda essa literatura, eu tenho em minhabiblioteca. Se desejar se inteirar sobre esse assunto eoutros, pode ir consultar. Assim, possamos nos dois discu�rsobre eles.

Isso então — con�nuou o senhor Zayani — me dá apossibilidade de crer, que não existem coisas ou situaçõesirreversíveis. Se, em algum momento das nossas vidas,alguma coisa nos é negada à conquista, é possível que emoutra experiência de vida, nós a conquistemos. Eu entendoque nesse retorno que todos deveremos ter a uma novavida, muitas coisas podem ser vistas e revistas, e osconhecimentos podem ser adquiridos, mas nunca perdidos.Eu não tenho o domínio dessas situações novas, masgostaria de me aprofundar nesse assunto; achoapaixonante.

— Senhor Reitor, confesso que isso tudo me deixa,não confuso, porque os seus relatos são convincentes, masme deixa meio atônito. As manifestações de perdas deentes queridos, que comumente ocorrem, são muitoostensivas. Se todos nós �vermos o entendimento de que amorte de um ente querido não existe, e que em algum diaou em algum lugar nós nos encontraremos, não teremosque sofrer tanto com a separação, a não ser, ficarmos umpouco saudosos pelo convívio.

— Bem, Jalal, vamos deixar esses assuntos de lado,não poderemos resolver nada a não ser aquilo que se põe anossa frente, como palpável. E o que é concreto é este cháde alecrim, e que você está convidado a ir amanhã à minharesidência. Eu quero comemorar com os meus familiares ealguns amigos, meus quarenta anos de dedicação à

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educação. Não aceito nega�va da sua parte!

E a noite chegou, e Jalal compareceu.

— Meu jovem professor, não se sinta inibido entrenós mais velhos e já com tempo de aposentadoria. Estamostodos no mesmo trapiche, e cada um com a sua bagagem,aguardando o dia da viagem maior.

Todos riram das afirmações jocosas do Reitor.

— Senhor Reitor, não estou inibido. Este é o meufei�o, estar sempre reservado, e este, é o momento, maispara isso mesmo, pois, é da observação e atenção junto aossenhores, que eu tenho a oportunidade primorosa, de umgrande aprendizado.

— Aproveitaremos todos, Jalal, esses momentos deconvívio, que nada mais são do que uma coexistência; que éo que se realiza ao mesmo tempo; é simultâneo. Entãoestamos aqui numa troca simultânea de conhecimentos;entre nós, idosos e você jovem, que todos admiramos muitopela grande dedicação que se propõe a favor da faculdadede Agronomia.

— Senhor Reitor, os beneIcios que estãoacontecendo, que por mim foram implementados, são daminha obrigação como professor e educador. Nada mais queisso.

Em certo momento da conversação, o senhor Reitor,dirigiu‐se a uma moça que passava em um ambienteconXguo, e chamou‐a : — Layla, por favor, venha até aqui,que eu quero lhe apresentar o nosso professor deagronomia ‐ Sr. Jalal.

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A moça, muito bonita e simpá�ca, com um belosorriso largo , cumprimenta àqueles que já conhecia, e foiapresentada a Jalal.

Ficou ali por alguns instantes, mas logo, re�rou‐se,visto estar atarefada nos prepara�vos para o jantar.

Durante o jantar, um dos par�cipantes disse: —Senhora Jade e senhora Layla, o jantar que prepararam estádelicioso, e sem sombra de dúvidas, está mais para umbanquete, o qual, muito bem o nosso Reitor merece.

Opinião que foi acompanhada por todos.

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Capítulo — IX

Jalal, em seu apartamento, sentou‐se à sua mesa detrabalho, e foi acome�do de uma onda forte de saudadesdos seus entes queridos. Diante da fotografia do seu avô, elelembrou aquela figura afável, compreensiva e amorável quetanto lhe ajudou e que con�nuava ajudando, como umexemplo a seguir para toda vida.

Na cadeira execu�va, ele reclinou‐se, relaxando, edormiu. Acordou assustado, na alta madrugada, com otelefone tocando. Atendeu, era seu pai, que lhe disse: "—Jalal, meu filho, papai não está passando bem de saúde.Venha o mais rápido que puder. Nós estamos levando‐o paraDjedda."

Não tendo mais condições de conciliar‐se com osono, e diante da fotografia do seu ícone, seu pensamentopercorreu milhas e milhas com o desejo ardente de que oseu querido avô se recuperasse do mal que o acome�a.Mas, um expressivo pressagio lhe revelava, que teriachegado o momento do seu querido avô par�r; Jalal, já poralgumas razões, �nha certeza que o seu avô, iria somentedeixar esse convívio terreno, indo habitar em outro planoapós o desenlace.

Com o raiar do dia, ele entrou em contato telefônicocom o Reitor e comunicou o acontecido, e que iria viajarpara Djedda.

Nessa mesma manhã, ele viajou. À noite, Jalal está

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no saguão do hospital, onde encontrou o seu pai.Abraçaram‐se, e lágrimas rolaram.

— Jalal, acho que nós perderemos aquele que foi, econ�nuará sendo, o nosso maior entusiasta. Papai, comodisse o médico, teve um acidente vascular cerebralexpressivo; ele está muito mal, e tem poucas chances paraque o quadro se reverta.

Ainda abraçado com o seu pai, Jalal chorouconvulsivamente.

Passados alguns instantes, mais equilibrado, Jalaldirigiu‐se ao seu pai: — Papai, por todo esse tempo, osenhor sempre esteve bem próximo do vovô, nosmomentos, os mais diversos. Então, como o caso dele émuito grave, vamos solicitar ao médico que transfira‐o paraum quarto comum, mas com todos os cuidados, e aíteremos a possibilidade de mais uma vez, ficarmos juntoscom Muhammad Al Azis, e, por derradeiro, sen�rmos, aindaque seja pouco o seu calor, e compar�lharmos as nossasenergias, amando‐o e agradecendo a figura impar dehomem que foi e que con�nuará sendo em nossaslembranças.

Após o funeral, todos muito tristes, reuniram‐se, ecada um contou essa ou aquela passagem que �veram como senhor Muhammad, e todas coincidentes, no que dizrespeito a sua bondade,afabilidade e doçura para comtodos; sempre havia em suas palavras, um ensinamento debom ânimo.

“A benevolência para com os seus semelhantes, fruto

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do amor ao próximo, produz a afabilidade e a doçura,que lhe são as formas de manifestar‐se.”

(O Evangelho Segundo o Espiri�smo— cap. IX)

Jalal, a certo momento, pediu a atenção de todos, ecomeçou a narrar um fato, que o seu Reitor lhe contousobre a morte.

— Meu filho, isto é algo inusitado, mas que bemanalisado, sem paixões, sem fana�smo, poderemos concluiracreditando; ainda mais, sendo relatado por uma pessoa degrande credibilidade. Portando, acho que não devemosduvidar. Certa vez, eu ainda era jovenzinho, e presenciei umencontro de sua avó com um "neviin", quando dofalecimento da minha irmã – sua �a. Mamãe estavainconsolável, quando se acercou dela um homem dizendo:"— Ela está indo, mas irá voltar muito longe daqui".

Acho que minha mãe não deve ter entendido o queaquele homem disse; e nem eu. Mas, agora com esse relatosobre o jovem Farud, que morreu lá no Egito e tornou anascer aqui no nosso país, acho que o "neviin", desejoudizer que a minha irmã nasceria em outro lugar, longe donosso convívio. E se um dia ela vier, será que vamosreconhecê‐la? Seria muito bom que ela viesse ter conosco.

Mas vamos mudar de assunto, que isso é muitocomplicado. Há quase sessenta anos que tudo issoaconteceu e, até agora, não sei se minha irmã nasceu denovo ou não; se ela nasceu, será muito bom que o des�nonos mostre e, a gente venha a saber e a conhecê‐la, e assimvivermos, quem sabe, numa mesma família. Isso será muitobom! Ela era boni�nha...

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— Jalal, papai deixou algumas coisas escritas que eleme recomendou que fossem conhecidas por nós, somenteapós a sua morte. E aqui estão!

— Papai, ao senhor compete romper o lacre e ler.

O manuscrito de apenas duas laudas em síntesetrazia, além de algumas recomendações, muitosagradecimentos a todos os familiares por terem �do comele paciência em suportá‐lo nas suas rabugices. Traziatambém o manuscrito, a sua vontade de que alguns dosseus objetos pessoais fossem des�nados às pessoas que eleali indicava. A cada um dos familiares foi ofertado algo. AJalal, coube ser agraciado com o albornoz negro comdetalhes bordados com fios de ouro, e uma vistosa galabia.

Jalal, aconchegou‐se ao albornoz, apertando‐ocontra seu peito, deixando rolar muitas lágrimas.

— Eu choro, mas não é um choro de tristeza; é umchoro de saudades, pois já não mais terei fisicamente essafigura de homem notável, que tanto me ajudou a ser umhomem íntegro. Mas tenho certeza de que, pela força daatração dos pensamentos, ele estará conosco em todos osmomentos: alegres ou tristes.

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Capítulo — X

Dentro da normalidade, em Riyad, Jalal voltou à suavida acadêmica. O tempo correu, e muitas a�vidadescurriculares ocupavam o seu dia por inteiro. Como professor�tular, além das a�vidades per�nentes ao departamentoagrícola, ele estava sendo muito solicitado para auxiliar ogoverno na elaboração dos planejamentos da polí�caagrícola. Isso para ele, era extremamente importante, poisvinha ao encontro de seu grande desejo para que o paísproduzisse mais e melhor, suprindo as necessidades de umagrande maioria do povo.

Certa tarde quando estava a caminhar com pressapara avistar‐se com o Reitor, casualmente, encontrou aLayla.

“Dois seres que se conheceram e se amaram, podemencontrar‐se noutra existência corpórea e sereconhecerem?

— Reconhecerem‐se, não, mas serem atraídos umpelo outro, sim; e frequentemente as ligações ín�mas,fundadas numa afeição sincera, não provém de outracausa. Dois seres se aproximam um ao outro porcircunstâncias aparentemente fortuitas, mas que sãoo resultado da atração de dois Espíritos que sebuscam através da mul�dão”

(O Livro dos Espíritos – Cap. VII – pergunta 386)

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— Como vai Layla? Vejo que igualmente você estácom pressa?

— É isso mesmo, professor. Estou indo ao encontrode papai.

— Eu também estou indo ao encontro do senhorReitor. Posso acompanhá‐la?

Com muito prazer!

Sem que houvesse alguém na ante‐sala paraanunciá‐los naquele instante, Layla abriu a porta dogabinete do seu pai, devagar...

— Dá licença!

— Filha... Entre querida!

Cumprimentaram‐se, e, em seguida ela disse: —Trouxe uma companhia, que encontrei nos corredores.Professor, por favor, entre!

— Ah! Layla, posso dizer que foi um bom achado.Como vai, Jalal?

— Muito bem senhor Reitor.

— Vejo que está bastante atarefado com esse maçode papeis.

— Realmente senhor. Estou aqui para colher a suaopinião.

— Papai, eu também estou aqui para ter a suaopinião sobre o meu trabalho, mas como ele não faz partedo currículo da universidade, deixarei para outro dia...

— Não, Layla, por favor, você tem preferência. Euestou aqui todos os dias, poderei ter a opinião do senhorReitor em outra oportunidade.

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— Vamos fazer o seguinte: Layla, leve o seu textopara nossa casa, e lá, nós estudaremos com mais folga. Equanto a você Jalal, amanhã vá a minha casa que nósveremos o que poderemos fazer, e se eu posso lhe ajudarem alguma coisa. Agora, sentem‐se que eu vou lhes servirum chá, e vamos conversar.

— Papai, posso descobrir‐me?

— Fique à vontade, minha filha.

Num gesto calmo, ela re�rou o manto que pousavasobre sua cabeça, e com as duas mãos, mergulhou seusdedos na sua vasta, linda, reluzente e negra cabeleira,movimentando‐a com leveza, deixando repousar sobre seusombros as madeixas. Recostada na poltrona, mas comelegante postura, Layla, se revelou aos olhos de Jalal, umamulher de uma beleza admirável. Seus traços eram suaves;sua testa acentuada, revelava ser uma mulher inteligente,trazendo sobre o nariz escultural, óculos de grau, que lhedavam um ar um pouco austero. No entanto, isso sequebrava quando dos seus róseos lábios, um sorrisoluminoso se estampava, pondo à mostra, dentes alvíssimose bem alinhados.

“Proclamemos, porém, desde hoje, que a ciência no‐lopermite já, o fato capital e consolador do progresso,lento mas seguro, de nosso �po Zsico para este idealentrevisto pelos grandes ar�stas através dasinspirações, que o céu lhes envia para nos revelar ossegredos. Esse ideal não é um produto enganador daimaginação, um sonho fugi�vo des�na a dar, detempos em tempos, descanso às nossas misérias; é um

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obje�vo assinado por Deus ao nosso aperfeiçoamento,obje�vo sem limites, sem fim, porque, em todos oscasos, só o infinito pode sa�sfazer‐nos o Espírito eoferecer‐lhe uma carreira digna de si.

Resulta dessas judiciosas observações que a formados corpos tem‐se modificado, em determinadosen�do e segundo uma lei, à medida que o ser moralse há desenvolvido; que a forma exterior está emconstante relação com o ins�nto e os ape�tes do sermoral; que quando os seus ins�ntos se aproximam daanimalidade, tanto mais aquela forma se lheaproxima igualmente; enfim, que à medida que osins�ntos materiais se es�olam e dão lugar aossen�mentos morais, o invólucro exterior, que não temmais que sa�sfazer a necessidades grosseiras, revesteformas cada vez mais leves, delicadas, em harmoniacom a elevação e delicadeza dos pensamentos.”

(Obras Póstumas— Allan Kardec – Teoria do Belo)

— Professor Jalal, sei que o senhor não é ummeteorologista, mas, a sua disciplina de uma certa formaestá relacionada ao tempo. O senhor não acha que estamostendo um calor excessivo para essa época do ano?

— Realmente isso está acontecendo, e a nossalavoura já está acusando esse fenômeno. A camada deozônio que nos protege dos raios solares mais intensos estásendo danificada pelas grandes potências, que lançam naatmosfera toneladas e toneladas de gases que danificamaquela camada protetora, e os raios solares nos a�ngemfortemente; ficamos expostos, e isso causará, também,

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muitos problemas para a saúde, originando a grave doençade pele, que é o câncer.

— É o tal monóxido de carbono que está agindocontra nós, não é?

— É, esse é um dos gases que infelizmente, nóscolaboramos para que ele se propague quando nósu�lizamos os nossos automóveis.

— O problema então, não é de fácil solução, poissem automóveis nós não ficaremos.

— Nós já estamos tão acostumados com essafacilidade, que não andamos nem poucas quadras, se nãoformos com ele; isso é um mal costume, pois sabemos queo caminhar, é um grande remédio para o nosso coração,veias e artérias. Mas, se me permite, quero mudar deassunto. Você está escrevendo um livro?

— É possível que, com a conclusão favorável daminha tese, eu edite um livro. O meu trabalho é sobreliteratura, que direciono para os an�gos contadores dehistórias que nunca deixaram nada escrito, e que muitosescritores espertos tomaram‐nas como sendo de suaslavras. Está sendo uma pesquisa muito diIcil. Já fui ao Egito,ao Irã, a Jordânia, a Turquia e a Síria, para pesquisar ecompilar subsídios. Deixei de ir ao Iraque, porque o clima láé de muito beligerância. O agradável de tudo isso é quetenho viajado bastante e conhecido culturas variadas, muitoembora sejamos todos árabes e também, muitopreconceituosos em relação ao meu trabalho, sendomulher.

— Eis aqui o nosso chá! Tenho certeza que vocêsnunca provaram deste.

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— Papai, desse aqui eu nunca provei mesmo. Quedelícia!!!

— Realmente ele é muito gostoso! Completou Jalal.

— Sabe de onde vem? Lá do Brasil! Ontem, esteveaqui fazendo‐nos uma visita, um ex aluno, bacharelado emcomércio exterior, e que está trabalhando na nossaembaixada no Brasil e, me fez de presente, uma caixa —aqui está — com vários �pos de chá. Este, que estamostomando, é um chá calmante — chá de melissa.

— É uma delícia, papai!

— Acho que vou precisar do endereço desse seuamigo. Ando um pouco tenso com essas obrigações que ogoverno está me impondo — disse Jalal.

— Não... Não é tanto assim. Com o tempo você seacostuma. Comigo também, há tempos atrás, as solicitaçõesdeles eram quase diárias. Apareça amanhã lá em casa,venha jantar conosco que depois eu lhe oferecerei mais umchá de melissa.

— Obrigado, senhor Reitor.

A noite estava amena. Jalal foi recebido por Layla.Estavam a conversar no jardim interno da residência.Trocavam assuntos os mais diversos, até que Jalal deixouescapar uma pergunta: — Layla, você nunca desejou casar?

No mesmo instante, Jalal percebeu a sua indiscrição,emendou: — Por favor, Layla, me perdoe pela minha faltade educação e imperdoável indiscrição. Não responda porfavor; me desculpe!

— Professor, não se desconcerte. Essa é umapergunta normal entre duas pessoas que estão se tornando

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amigas. Eu vou responder.

— Layla, por favor, diga‐me: você realmente não seachou incomodada com a pergunta, cujo assunto competesomente a você?

— Não, professor!

— Layla, quero que você saiba e tenha a certeza deque a curiosidade que invadiu o meu ín�mo, e que fez comque eu lhe fizesse essa indiscreta pergunta, se prende aofato notório de você ser uma mulher muito inteligente,elegante e muito bonita! Quero também lhe pedir, já queestamos sedimentando uma amizade, que me tratesomente de Jalal.

— Obrigada Jalal pelos predicados e adje�vos quetoda mulher gosta de ouvir. Devo a tudo isso, a minha linhahereditária. E, quanto à sua pergunta, me aguarde uminstante que vou lhe responder em parte.

Layla se ausentou por alguns instantes, mas logoestava de volta, e de braços com um jovem.

— Antar, meu filho, quero que conheça o professorJalal, amigo do seu avô.

Cumprimentaram‐se, trocaram alguns assuntos, e aeles, juntou‐se o Reitor Zayani, que veio com o convite: — Ojantar está servido. Vamos!

Após, reuniram‐se na biblioteca, e o Reitor pediuque Jalal apresentasse o seu trabalho.

— Senhor Reitor, resolvi trazer somente umasíntese. Dessa forma, acho que não tomarei demais o seutempo no convívio dos seus familiares. Assim, farei umapequena explanação do que pretendo desenvolver.

E assim foi feito.

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— Jalal, acho que o seu trabalho está ó�mo, muitoembora eu não entenda nada de agricultura, mas comreferência a estrutura da sua explanação, ele estáconsistente. Nós passamos aqui quase duas horas, e nãoficamos sonolentos, e isso é muito importante; é um bomsinal, pois acho que os seus ouvintes ficarão atentos. —disse Layla.

— Se isso ocorrer, eu já me dou por sa�sfeito.Senhor Reitor e Layla, acho que abusei demais das suashospitalidades, atenções e amizades. Já é hora de ir, mesmoporque, está adiantada a hora. Meu muito obrigado,tenham um bom sono e um excelente fim de semana.

— Jalal, o que você vai fazer neste fim de semana?

— Senhor reitor, acho que vou estar bastanteocupado. Preciso digitar esse trabalho. Estarei na faculdade.

Depois que terminá‐lo, se quiser venha; estaremosaqui — disse Layla

— Obrigado, Layla. Vou fazer todo possível paraapressar a digitação do meu texto. O convívio com vocês émuito agradável. Mais uma vez, obrigado!

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Capítulo — XI

Mais um período escolar se findou, e Jalal,programou passar alguns dias em Asir e levar para a suafamília a novidade, que �nha conseguido com o Ministro daIndústria, autorização para construir uma pequena usina deaçúcar e des�laria de álcool para uso medicinal e hospitalar.

Alguns dias antes, mais uma vez, teve um encontrocom Layla nos corredores da universidade.

— Que interessante Layla! Eu estava andando porum outro corredor e tentava lembrar de um sonho, do qualvocê fazia parte e, em vez de con�nuar por ele, que vai emdireção ao estacionamento, resolvi vir por este, que tem adireção contrária, de onde deixei o meu carro. Será que aisso, pode se ajustar, aos que afirmam , ser esseacontecimento, como a força do des�no, ou força dopensamento?

“No estado errante, antes da nova existênciacorpórea, o Espírito em consciência e previsão do quelhe vai acontecer durante a vida?

— Ele mesmo escolhe o gênero de provas que desejasofrer; nisto consiste o seu livre arbítrio”

(O Livro dos Espíritos— pergunta 258)

“Não é Deus que lhe impõe as tribulações da vida,

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como cas�go?

— Nada acontece sem a permissão de Deus, porquefoi Ele que estabeleceu todas as leis que regem ouniversos.Perguntareis agora por que Ele fez tl lei emvez de tal outra!

Dando ao Espírito a liberdade de escolha, deixa‐lhetoda a responsabilidade dos seus atos e das suasconseqüências.”

(O Livro dos Espíritos – pergunta 258‐a)

“Por que duas pessoas, perfeitamente despertas, têmmuitas vezes, instantaneamente, o mesmopensamento.

— São dois Espíritos simpá�cos que se comunicam evêem reciprocamente os seus pensamentos, mesmoquando não dormem.”

(O Livro dos Espíritos – pergunta 421)

“Exercem essa influência de outra maneira, além dospensamentos que sugerem, ou seja, tem uma açãodireta sobre a realização das coisas?

— (...) Assim, por exemplo, eles provocarão o encontrode duas pessoas, o que parece dar‐se por acaso;inspirarão a alguém o pensamento de passar por tallugar; chamarão sua atenção para determinadoponto, se isso pode conduzir ao resultado quedesejam; de tal maneira que o homem, não julgandoseguir senão os seus próprios impulsos, conservasempre o seu livre arbítrio.”

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(O Livro dos Espíritos – pergunta 525‐a)

— Jalal, eu não sei como responder. Só sei quequeria mesmo encontrá‐lo. Amanhã, lá em casa, teremosuma pequena comemoração. Gostaria que comparecesse.

— Layla, você tem tempo para responder‐mealgumas interrogações que tenho a seu respeito?

Ela, muito bonita, fitou bem o seu interlocutor,ajeitou os seus óculos, adivinhando até o que iria serperguntado, respondeu: — Claro!

Antes mesmo de Jalal fizesse qualquer pergunta, elaadiantou‐se.

— Jalal, você pode me contar o sonho que tevecomigo?

— Foi um sonho interessante. Não �vemos nenhumdiálogo; nele estava o meu avô, que pelas mãos, trazia vocêao meu encontro, e ficamos ali, nós três, sorrindo e felizes.

Layla, por ficou alguns instantes calada e está�ca.

— Você está sen�ndo algo que a incomoda, Layla?

— Não. Só estou admirada com tanta coincidência.

— Você pode se explicar melhor?

— Jalal, quando você começou a falar do seu sonho,imediatamente lembrei, que também eu havia sonhado.Sonhei com você e com um senhor idoso, muito simpá�co,sorridente, ves�do com um albornoz negro bordado comfios de ouro, trazendo uma linda galabia , e que segurava aminha mão. Estávamos num lugar muito bonito; numaelevação florida. E nós ficamos ali, todos juntos, felizes... E aoutra coincidência foi este nosso encontro. Se você não

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�vesse mudado de corredor, nós não teríamos �do esseencontro!

“Durante o sono, a alma repousa como o corpo?

— Não, o Espírito jamais fica ina�vo. Durante o sono,os liames que o unem ao corpo se afrouxam e o corponão necessita do Espírito. Então ele percorre o espaçoe entra em relação mais direta com os outrosEspíritos.”

(O Livro dos Espíritos – pergunta 401)

“Como podemos avaliar a liberdade do Espíritodurante o sono?

— Pelos sonhos. Sabei que quando o corpo repousa, oEspírito dispõe de mais faculdades que o estado devigília. Tem a lembrança do passado e às vezes aprevisão do futuro; adquire mais poder e pode entrarem comunicação com outros Espíritos, seja destemundo, seja de outro.”

(O Livro dos Espíritos – pergunta 402)

— Layla, eu acho que há muita coisa por trás dissotudo; muita coisa boa que ainda não entendemos, maspodemos imaginar o que possa ser. Da minha parte, o queestou constatando já de algum tempo, é que eu estou comconstância, pensando em você; nos seus predicados debeleza, de elegância, de inteligência...

— Posso dizer‐lhe que eu também, e que nos meusdevaneios, na minha fantasia de mulher, você está sempre

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presente.

— Layla, admito que devemos conversar a nossorespeito.

— Então, Jalal, eu começo a desanuviar a suainterrogação: Hoje, eu sou uma mulher viúva. O pai do meufilho era piloto militar, e num exercício de vôo, ele sofreuum acidente fatal, há muitos anos atrás. Antar mal �nhacomeçado a andar. O acidente ocorreu nas imediações dascolinas de Asir.

— Eu me lembro desse acidente; ele ocorreu pertoda nossa propriedade.

— De lá, até uns quatro anos atrás, eu dediquei aminha vida centrada na educação do meu filho e, ao estudoda literatura árabe.

— Desculpe‐me Layla, se provoco lembranças tristes.

— Não se incomode. Eu aprendi depois de algumtempo, a lidar bem com a minha situação de viúva. Aspessoas nascem e morrem, e isso acontece em todas asfamílias. Quando ocorreu o acidente, eu era jovenzinha;casei muito cedo. Com o apoio dos meus pais, que sãopessoas maravilhosas, a quem serei eternamente grata , fuisuperando as minhas dificuldades de mãe inexperiente.Foram tempos diIceis que passaram. Hoje, com o que estáacontecendo comigo, eu percebo que Allah me dá a vida, ea vida me concede o privilégio de novamente, ingressar nohorizonte onde o sol brilha para o meu des�no de mulher.Então, o que tenho que fazer é usufruir dessa existência damelhor maneira, sendo ú�l à sociedade, principalmente aosmeus familiares e àqueles que me são queridos. Sabe deuma coisa, Jalal, ao estudar e me aprofundar na literatura

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árabe, muito diversificada e rica, eu me deparei com osensinamentos Sufistas. O Sufismo é uma religião árabe‐persa, segundo a qual a alma, é emanação de Deus; tem suaorigem em Deus; a alma, é uma criação de Deus. Os sultões,divulgadores dessa doutrina, gravaram esses ensinos emversos e peças líricas, propagando primordialmente, a uniãoda nossa alma com o Criador, e que jamais devemosrenunciar à Vida que nos é dada a viver.

“Sem a preexistência da alma, o homem, que crê emDeus, é levado a acreditar que lhe deve singularesvantagens, e o que não crê é levado a atribuí‐los aacaso e aos méritos próprios.”

(Obras Póstumas— Allan Kardec – Cap. Egoísmo eOrgulho)

Eu não sou adepta a essa seita, mas devo admi�rque esse é um ponto que me tocou fundo. Entendo, então,que, a minha alma é uma emanação de Deus, e eu, estouem união com Ele que é imortal. Eu sou filha Dele;portanto, ampliando esse conhecimento para mim, eutambém sou imortal; eu não morrerei; eu con�nuarei aexis�r, com todos os meus conhecimentos, a despeito domeu corpo ser consumido nas areias.

“ A alma conserva a sua individualidade após amorte?

— Sim, não perde jamais. O que seria ela, se não aconservasse?

(O Livro dos Espíritos – pergunta 150)

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Então, Jalal, eu não devo renunciar à Vida. Eu queroviver plenamente. Nós, Jalal, somos emanações de Deus;Deus é Vida permanente, assim, igualmente, tambémsomos vidas permanentes. Esta é a minha opinião, quetambém, tem base naqueles acontecimentos queocorreram com aquele aluno que foi entrevistado por papai— o Farud — lembra? Papai nos disse que contou para vocêaquele episódio com o jovem estudante. Jalal, o que euquero dizer, é que nós somos como o sol, que as vezes commuita e outras vezes com pouca claridade, nasce nohorizonte, tem um trajeto certo, e desaparece no outrohorizonte. E no dia seguinte, lá está ele novamente. Nóstambém nascemos, temos uma vida com muita ou poucaclaridade, e morremos. Mas como o sol, nasceremosnovamente e assim vamos indo. Até onde? Não sei! Só seique, como emanações que somos de Deus, nosso Espíritonão pode morrer!

— Bem Jalal, já falei demais. Agora me diga: Você vaicomparecer?

— Layla, aprendi muito...Mas por que essacomemoração?

— É que meu filho completa dezoito anos

Ele a acompanhou até o estacionamento, onde ummotorista já a aguardava, e despediram‐se com olhares deque esse não era o desejo de ambos.

Próximo a uma mureta, Jalal, sentou‐se e ali ficou arefle�r em tudo o que ela dissera, e em tudo que poderiamter dito um ao outro.

No meio do período da manhã seguinte, ele fez uma

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ligação para Layla e perguntou sobre o gosto ou a tendênciade Antar, e obteve como resposta, que ele gosta muito deaviões; que ele tem uma coleção enorme dessas miniaturas.

— Layla, ele tem algum modelo de aeromodelismo?

— Não!

— E o que você acha, se eu presenteá‐lo com umdesses modelos? Não estarei avivando uma tendência fortepara a aviação, por causa da qual você sofreu muito?

— Por favor, não pense assim. Se ele quiser nofuturo, pender para essa a�vidade, eu, não interferirei, aocontrário. A prá�ca do aeromodelismo é um lazer. Acho queele vai gostar.

Um pouco antes das vinte horas, Jalal foi recebidopelo Reitor Zayani. Cumprimentam‐se efusivamente.

Antar, que estava recepcionando alguns jovens,aproximou‐se, e é cumprimentado e também presenteado.Ficou feliz com o presente — um Tucano‐BR, para sermontado.

Layla, muito bonita e a passos ligeiros, veio aoencontro de Jalal. Quando este, virou‐se paracumprimentá‐la, ela levou um susto e imediatamentelembrou‐se da visão daquele homem idoso no seu sonho,com um albornoz negro, com detalhes bordados em fios deouro.

— Layla, minha filha... Você está se sen�ndo bem?

— Estou bem papai. O que me leva a ficar assim, atéum pouco assustada, é o seguinte: Eu �ve um sonho comum senhor idoso, muito simpá�co, que ves�a‐se como estáo Jalal. Por um momento pensei que es�vesse vendo essesenhor.

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— Layla, esse albornoz e esta galabia, eu fuiagraciado, como herança do meu avô. Resolvi usá‐los hoje,para quem sabe, poder mostrar, ou provar... não sei se éisso, que em nossos sonhos, o senhor idoso, era ele. É o queeu deduzo, embora sem conhecer o onirismo.

— Vocês podem esclarecer melhor esta situação eesses sonhos?

E Layla narrou ao seu pai os sonhos coincidentes.

— É... Se podemos realmente dar credibilidade aossonhos, uma mensagem expressiva, ele demonstra.

No decorrer da festa, Jalal, em par�cular, dirige‐se aLayla: — Amanhã eu irei para Asir, talvez lá me demore poruns dez ou quinze dias. Então gostaria que você soubesse oque manda meu coração, e que nesses dias você pense edepois, responda‐me, ao que vou lhe dizer e pedir agora:Quero lhe dizer Layla, que estou enamorado de você. Peço,então, que me aceite como seu pretendente, a um futuromatrimônio.

Com seu sexto sen�do, que toda mulher possui, elajá estava aguardando aquele pedido. Mostrou um largo elindo sorriso, que muito realçava a sua beleza, e respondeu:— Jalal, meu coração me diz que não preciso de quinze diaspara avaliar os meus sen�mentos com relação a você, e nempreciso de todo esse tempo para lhe responder. Eu aceitoque me enamore com vistas ao nosso matrimônio.Espere‐me aqui alguns instantes, que eu quero comunicar anossa resolução ao meu filho.

— Antar, me dê atenção por uns dois minutos. O queocorre é o seguinte: Eu e o professor Jalal temos conversadoe nos entendido, e nisso iden�ficamos que estamos atraídos

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um pelo outro. Isso quer dizer que a reciprocidade afe�vaestá se consolidando em nossos ín�mos. Posso lhe dizer quenós nos amamos, e estamos com planos para o nossocasamento.

Antar levemente passa a mão na sua testa epergunta: — Já é uma resolução defini�va?

— É, meu filho...se nada acontecer daqui parafrente, que nos separe, é uma resolução defini�va.

— Vovô sempre comenta, que ele é uma pessoaadmirável, de raízes simples, que galgou postos comdificuldades, mas que se mantém um homem sem vaidadese sem orgulho; que é um homem trabalhador, estudioso ehonesto, e um exemplo a ser seguido. Mamãe deixe‐meabraçá‐la. Acho que o professor a fará muito feliz, comobem merece.

Ambos chegaram à frente de Jalal de braços dados e,sem nenhuma palavra, os três se abraçam.

— Sejam felizes — disse Antar, que se afastousorrindo.

— Layla, vamos ao encontro dos seus pais.

— Papai e mamãe, Jalal quer fazer‐lhes um pedido.

— Senhor Zayani e senhora Jade, peço os seusconsen�mentos para namorar a Layla, com o obje�vo denum futuro não muito distante, consorciar‐me com ela.

— O que me parece — disse o Reitor — é que vocêsjá se acertaram. E se isso não �vesse acontecido, não seriaeu e nem a sua mãe que deveríamos consen�r. Layla, minhaquerida, tenho certeza absoluta que você sabe muito bem arazão desse seu passo que, de uma certa forma, vai aoencontro do meu desejo, pois admiro o homem que

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escolheu.

— Filha querida, você já falou com Antar? — dissedona Jade.

— Sim mamãe, nós já conversamos e ele nos deu umgrande apoio, desejando‐nos, muitas felicidades.

— Da nossa parte, Layla e Jalal, nós lhes desejamosque sejam muito felizes, e que o caminho que irãoconsolidar traga sempre a vontade de unirem‐se, cada vezmais por um amor robusto, que seja capaz de enfrentar eultrapassar quaisquer obstáculos. — aludiu o Reitor.

— Minha filha e Jalal, contem sempre conosco, eque Allah os abençoe!— acrescentou dona Jade.

Abraçaram‐se felizes, e dona Jade segurou as mãosde Layla e Jalal, e lhes disse: — Os sonhos coincidentes que�veram foram verdadeiros e, revelaram para vocês ummesmo caminho a seguir. Agora, vão usufruir dessesmomentos iniciais de lirismo, pois são momentos poé�cosque jamais saem das nossas lembranças.

Sentados no jardim do interior da residência, eleserigiram planos para o futuro. A certo momento, Jalal achouentre as dobras do albornoz um pequeno envelope lacrado.

— Veja Layla o que eu achei neste bolso camuflado!

— E está endereçado a você, Jalal!

Com o envelope junto ao seu peito, Jalal, tem o seupensamento direcionado a aquele homem que sempreadmirou. Rompeu o lacre e leu em voz alta: "Meu neto. Ohomem de bem, é o guerreiro da luz ao travar o bomcombate, longe de alimentar o orgulho ou o egoísmo. Eledistribui seus atos e pensamentos com alegria e amor,proporcionando ao seu próximo a felicidade, não

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dis�nguindo este ou aquele, porque todos nós, somos filhosde Allah . Seja feliz, e não meça esforços para que a suacompanheira esqueça o acidente e reencontre a felicidade eo prazer da vida ao seu lado. Ela é uma filha muito querida"

Seu avô — Muhammad — 2000

— Quando que ele faleceu?

— Em junho de 2002.

Layla ficou admirada com o que descrevia a carta,notadamente no que a ela tocava diretamente — aoacidente.

— Jalal, ao que eu saiba, essas visões epressen�mentos, estão afetas aos "neviins" — os adivinhosdo deserto. Ele era um desses?

— Não... Eu acho que não! Ele era um homemsimples, mas de muita sabedoria; posso dizer que ele eraum autodidata. Não sei lhe dizer se ele �nha esses dons.

— Bom, Jalal, de todo modo, você é meu novohorizonte, e está com a responsabilidade deproporcionar‐me ser a mulher mais feliz deste mundo. Vejasó a carga que está sobre seus ombros! Disse Laylagracejando.

Outra coisa Jalal, você pra�camente sabe de todaminha vida, até esse momento. No entanto, eu nada seiainda do seu passado, a não ser de parte da sua vidaacadêmica.

— Os acontecimentos entre nós estão acontecendotão rapidamente, que não �ve essa oportunidade de falarsobre mim, mas agora, é o momento.

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Quando eu era estudante aqui na faculdade, conheciuma estudante de medicina — ela era indiana; bem, achoque ainda é! Ela foi muito importante para algumasconquistas que �ve, no que diz respeito a eu poder merelacionar com pessoas no Brasil, quando lá es�ve fazendoespecialização. Ela me ensinou a falar e a escrever eminglês, durante quase quatro anos.

E ele narrou tudo que se relacionava a Bellary, até afacilidade proporcionada pelo senhor Reitor para ir a Índiatentar encontrá‐la.

— Jalal, diga‐me : Você gostava dela...? Ela erabonita...?

— Sim, eu gostava dela; e ela, era uma moça bonita.

— Você desis�u de procurá‐la?

— Na verdade, Layla eu gostaria de encontrá‐la, eque você es�vesse ao meu lado. Eu sou muito agradecidopela ajuda que ela me deu, e que isso, de certa maneira,frente a tudo que ocorreu, está me proporcionando estesmomentos junto a você, o grande prazer para o meucoração. Layla, eu estou plenamente convicto — bhebbik —eu a amo .

— Eu admito, que também o amo — bhebbak —este sen�mento que hoje sinto é diferente; é umsen�mento muito mais forte, acho que posso dizer que eleé mais quente dentro do meu peito.

Ficaram ali, ainda a sós, até que o Reitor Zayani seaproximou, e perguntou: — Vocês já podem marcar a datado casamento?

— Papai, o senhor nem bem deu o consen�mentopara o nosso namoro...

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— Filha — disse ele brincando— eu estou ficandovelho!...

— Velho nada!... O senhor está ainda bemmoço!...— respondeu a filha

— Senhor Zayani, amanhã eu irei para Asir, e lácomunicarei aos meus familiares a nossa pretensão, e,acertarei com eles, uma boa data para aqui viremconhecê‐los.

A este momento, Antar também par�cipava daconversa: — Mamãe, a senhora também não está emférias?

— Estou!

— Então, por que não viaja com o professor?Aproveite, conheça o pessoal, passeie e descanse.

Jalal, Layla e o Reitor, trocaram olhares e o paiperguntou: — Você deseja ir, Layla?

— Jalal, se eu for não vou atrapalhar?

— Layla, em qualquer situação, você nunca irá meatrapalhar!

Ela, num gesto até infan�l, entrelaçou seus dedoscontra o seu peito e, dirigiu‐se ao seu pai: — Posso ir, papai?

— Claro minha filha! Seja feliz e faça uma ó�maviagem.

— Mas eu vou querer uma opinião da mamãe.

— Mamãe! Mamãe! A senhora pode vir até ojardim?

— Sabe o que é, mamãe? E ela contou.

— Layla, minha filha, pode ir que você vai gostar. Asiré uma região muito bonita. E tem outra coisa: Você é uma

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mãe, que tem um filho que está completando dezoito anos!Ninguém poderá censurá‐la por viajar com o seu futuroesposo. Vocês viajarão de carro ou de avião?

— Acho melhor irmos de avião até Djedda; lá,alugaremos um automóvel.

— Então — disse a senhora Jade— peguem otelefone e já reservem as passagens.

— Jalal, é bom ir se acostumando, que mamãe émuito prá�ca e expedita. Já o papai, por força do cargo, asvezes é cerimonioso, e ela, por força de ser dona de casa, éessencialmente pragmá�ca.

Nessa mesma noite, Jalal telefonou para o seu pai, ecomunicou que estaria no dia seguinte viajando para Asir, eque, em sua companhia, iria a sua futura esposa.

— Mas o que é isso, filho? Você vai casar?

É isso mesmo que lhe disse: Futura esposa! Amanhãnós contaremos mais detalhes. Boa noite, papai!

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Capítulo — XII

A casa de Mutanabbi estava em festa.

Layla, muito bonita e finamente educada, encantoua todos pela sua simplicidade.

O anfitrião, muito feliz com a visita, e empolgando‐secom aquele momento, com suas mãos calosas de agricultore segurando as de Layla, perguntou com singeleza: — Euvou ser avô?

Ela, sem se abalar, olhou com carinho para Jalal, evoltando‐se para o futuro sogro : — Se Deus assim opermi�r!

— Como eu gostaria que seu avô es�vesse aquiconosco! Ele iria se rejubilar com tanta felicidade que agoraestamos todos sen�ndo — disse Mutanabbi, a Jalal.

— Papai, mamãe e irmãos, cheguem mais perto, quevou lhes contar um sonho que �ve. Depois você conta o seuLayla.

E ele descreveu o sonho: que seu avô trazia Laylapelas mãos, e que nós três, ficamos ali, felizes e sorrindo,sem ninguém dizer nada.

— Agora sou eu: Coincidentemente, nesta mesmanoite, eu sonhei com Jalal e com um senhor idoso,sorridente, simpá�co, que ves�a um albornoz negro, comdetalhes em fios de ouro, e com uma linda galabia, e quesegurava a minha mão. E ficamos reunidos, sem dizer umasó palavra, mas estávamos felizes.

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Mutanabbi ausentou‐se por alguns instantes, masvoltou trazendo uma fotografia do seu pai.

— Layla, era esse o homem que segurava as suasmãos?

Ela pegou a fotografia, olhou fixamente,aconchegou‐a junto ao peito, e disse: — Muito obrigado,senhor Muhammad... Muito obrigado por me proporcionarmomentos de muita felicidade, junto ao seu neto e a todosos seus familiares que agora, também são meus.

Mutanabbi e sua esposa Jadyra, abraçaram a futuranora e disseram: — Maktub! Al‐hamdu lillah!( Graças aDeus) . Você é a filha que não nos foi dado ter. Obrigado porestar aqui conosco!

— Layla, quero que saiba do meu sen�mento comrelação a você: Filha, lá no fundo do meu coração, eu sintoque você foi uma pessoa muito querida e esperada, e queagora, volta para junto de nós, para nos alegrar —acrescentou Mutanabbi.

— Desejo que todos também conheçam o que sintoneste momento: me parece claramente que estes instantesentre nós todos, já foram momentos vividos, e que tudoisso se repete. E eu, estou plenamente feliz por estar aqui emuito agradecida ao senhor Muhammad, que não mais viveentre nós, mas que, na minha opinião, vive plenamente e,que me proporcionou tamanha alegria, ao revelar para omeu coração, o meu futuro esposo e os seus familiares. Souuma mulher felicíssima!

Mutanabbi, sen�u‐se como que transportado para opassado distante, quando ainda, pra�camente menino,tendo a visão da sua mãe chorando a morte, daquela que

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seria sua irmã, e que um "neviin" lhe disse: — "Ela está indo,mas irá voltar muito longe daqui"

E uma pergunta brotou imediatamente na suamente: ‐ "Seria ela a minha irmã que estava voltando."

— O que foi, papai? Parece que o senhor estava bemlonge! Tudo bem?

— Está tudo em ordem Jalal. Foi só um pensamento

que me trouxe a lembrança de minha mãe.

“Como dis�nguir se um pensamento sugerido vem deum bom ou de um mau Espírito?

— Examinai‐o: os bons Espíritos não aconselhamsenão o bem; cabe a vós dis�nguir”

(O Livro dos Espíritos – pergunta 464)

E dona Jadyra acrescentou: — Estes são momentosque Deus ainda não nos deu a entender. Mas creio quechegará o dia que as situações dessas lembranças, deimpressão simpá�ca ou não, de sen�mento de amor ouódio, de reciprocidade ou aversão, de felicidade, de alegria,ou de tristeza, um dia compreenderemos.

— Vejam só papai e mamãe, o que eu achei numbolso camuflado do albornoz.

Mutanabbi e Jadyra leram a carta e ficaramsurpresos.

— Como é que papai iria saber...?

— Isso é um mistério, papai! É bem provável, quevovô �vesse algum dom e, que a nenhum de nós, desejourevelar por alguma razão...talvez, não �véssemos condições

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de entendê‐lo.

— É, pode ser isso!

Layla adorou a estadia na fazenda. Andou pelasplantações, ordenhou uma vaca, chupou cana, ajudou naarrumação da casa, enfim, diver�u‐se. Chegou até a ir aolocal onde aconteceu o acidente com o esposo.

— Layla, venha aqui que quero lhe apresentar asminhas tamareiras.

— Você pode explicar melhor isso?

— Na verdade, elas são nossas. Eu as plantei quandoainda era jovem, e agora elas estão no auge da produção.

— Que delícia, Jalal. Esta é a primeira vez quesaboreio uma fruta logo após ser colhida. Quantas coisasnós não experimentamos nesta vida, simplesmente porrecusarmos a conhecer, outras vezes por não acreditarmos,sem um mínimo de razão, outras vezes, ainda, porpreconceito ou por fana�smo desmedido que tolhe o nossoentendimento. Quanta coisa ainda temos de aprender!

— Eu concordo com você, meu amor! Mas ao seulado, as interrogações que a Vida possa me expor, asrespostas eu já as tenho, na sua figura linda de minha futuramulher.

Abraçaram‐se e beijaram‐se, pela primeira vez.

Jalal e seu pai, resolveram escolher o local paraerigirem a pequena usina de açúcar em conjunto comdes�laria de álcool medicinal e hospitalar

— Filho, o local está escolhido, mas diga‐me umacoisa importante: de onde sairão os inves�mentos?

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— Eu já devia ter dito ao senhor. Estou com umfinanciamento aprovado no Ministério da Agricultura para aimportação da des�laria. O nosso governo irá importar emseu nome, responsabilizando‐se pelo pagamento, e nóspagaremos ao nosso governo, em prestações mensais, comfinanciamento de vinte anos, com cinco anos de carência,depois da conclusão da usina.

— E você acha que teremos, de fato, condições paraassumir essa responsabilidade?

— Papai, eu já fiz todos os cálculos e projeções; etem mais: seremos os únicos a produzir álcool medicinal ehospitalar no país, com condições para exportar para ospaíses vizinhos. Este é um incen�vo do governo para ocomeço de uma polí�ca agro‐industrial. E tem outra coisapapai, o resíduo que iremos produzir servirá como adubopara as nossas plantações e, também, para gerar energiaque será consumida pela própria usina. Essa é uma técnicausada lá no Brasil com excelentes resultados.

— Muito bom filho. Estou ansioso para ver tudofuncionando.

— Papai, depois de amanhã, nós regressaremos,mas antes, passaremos em Djedda, e visitaremos o �oMakin. Quero mais uma vez agradecer a sua ajuda, eaproveitar para convidá‐lo para o casamento.

— Mas vocês não marcaram a data!

Assim, ele já vai se preparando...

A despedida não se revelou triste, mas, sim, foi ummarco do reencontro de criaturas que se buscavam euniram‐se afe�vamente e, que se comprometeram, a ter

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muitos encontros felizes.

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Capítulo — XIII

Layla, em sua casa, narrou aos seus pais e ao filho assuas impressões.

— Papai, mamãe e meu filho, eu realmente sen� nosfamiliares de Jalal, um laço forte que nos unia, que não seicomo descrever e, nem explicar. Foi como se fôssemosconhecidos de muitos e muitos anos. Foi um encontro emque a amizade já veio sedimentada. Houve entre nós, umaligação recíproca, sincera, de carinho, de atenção, de união,de calor humano. Não houve entre nós, aqueles momentosde nos experimentarmos, como é comum entre pessoasque começam a ter um relacionamento. Fomosabsolutamente sinceros, autên�cos, verdadeiros e semsubterfúgios. Olhem, há muito, mas muito tempo mesmo,que, além de vocês, eu tenha �do contato com pessoas tãoagradáveis. Gostei demais de ter ido a Asir.

— Ó�mo filha! Mas para quando que será ocasamento?

— Papai! Papai! Por que essa pressa?

— Filha querida, eu estou ficando muito velho...!

— Velho, nada! Não tem nem noventa anos!?Brincou a filha. Mas papai, eu acho que — aindaconversaremos a respeito— não deverá demorar muitopara marcarmos a data, afinal nós não somos jovens.

E isso aconteceu. Em dois meses estavam casando.

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Dois anos transcorreram; eram felizes e paraacrescentar nesse clima, Layla, ficou grávida, mas algo aincomodava. Vez ou outra, não passava bem. E essadificuldade foi se acentuando, e alongou‐se, embora sobcuidados médicos.

Certo dia, eles receberam a visita daquela queconsideravam prima — Nasib.

Jalal, achou a visita da prima, providencial. Ela eraginecologista

— Prima Nasib, Layla não está passando bem nessagravidez, eu gostaria, se não fosse pedir muito, que você aexaminasse e se possível, nos ajudasse.

— Jalal e Layla, estou pronta a lhes ajudar, e isso, eufarei com muito gosto dentro das minhas possibilidades.

Ela examinou Layla de�damente, analisou os laudosdo laboratório, e conclui que a prima estava desenvolvendouma gravidez de risco, e que precisava cuidar‐se muito bempara não perder o bebê. Aconselhou que esses cuidadosfossem efetuados em um hospital, com toda assistênciamédica.

— Jalal e Layla, nós temos em Djedda, como vocêssabem, o hospital da mulher, que é voltado para esse �pode gravidez de risco. Estou à disposição de vocês. E temoutra coisa: está conosco, por um ano, uma médica francesaligada ao Hospital da Mulher, de Paris. Acho que poderemosdar a você, Layla, todo �po de assistência de primeiromundo; estamos muito bem aparelhados, e com todos osprofissionais qualificados.

— Mas prima Nasib, Layla poderá viajar sem perigo?

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— Sim primo, mas de avião. E eu podereiacompanhá‐los.

— Mamãe, o que a senhora acha?

— Layla minha filha, você sabe como eu sou prá�ca.E, nesse caso, além de sermos prá�cas, deveremos terconfiança e agir com rapidez. Se você está segura de tudoque lhe foi dito, eu lhe dou todo apoio, e prometo que, umavez por mês, irei visitá‐la.

Layla aceitou a assistência médica da prima Nasib, erumou para Djedda. No aeroporto, um helicóptero aconduziu ao hospital, que estava localizado numa elevação,com frente para o mar Vermelho. Era linda a paisagem e demuita paz.

Jalal licenciou‐se da faculdade, e diariamente estavaao lado da sua esposa.

Os meses passaram com muitos cuidados médicos, ecom muitas apreensões.

Pelos cálculos de Nasib, o nenê, um menino, estavabem, e era bem formado; então, resolveu com uma juntamédica fazer o parto— cesariana.

— Layla, querida prima, espero que tenha �do umbom sono. A manhã está linda. Os exames que fizemosontem, nos revela que o menino está na hora de nascer. Oque acha disso?

— Acho muito bom, e que ele venha saudável echore bem forte.

— Vamos lá, então?

— Agora?

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— É...

— E Jalal, onde está?

— Ele está nos esperando lá na sala de operação.

— Então vamos, e que Allah nos abençoe!

Tudo transcorreu dentro da normalidade que o casoexigia. O nenê chorou forte — era robusto e perfeito.

Após todos os procedimentos, após a cirurgia, onenê foi aconchegado nos braços da mãe; eles estavamó�mos.

— Jalal, como será o nome dele?

— Layla minha querida, eu acho que cabe somente avocê a escolha. Nós todos devemos a você, à sua disciplinaem todo tratamento para essa vida forte e saudável donosso nenê. Só a você compete a escolha do nome do nossofilho.

— O que você acha se eu lhe der o nome deMuhammad Zayani Al Azis.

— Ó�mo, minha querida! Acho, também, que sevovô está conosco, com certeza deve estar muito contentecom essa homenagem, não é, papai?

— Realmente, Jalal, ele deve estar todo sorriso. Mas,Layla, querida nora, gostaria de fazer uma oração em favordo nosso neto.

E Mutanabbi aconchegou o seu neto nos braços,voltou‐se para Meca, e orou: "Allah, obrigado por nosoferecer esse grande momento de Amor. Rogamos, queproporcione a esta querida criança, uma vida feliz, saudávele próspera".

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O avô e a avó, beijaram a fronte do nenê, edevolveram‐no a Layla.

Convidados pelo �o Makin, que pôs a sua casa àdisposição, eles ficaram em Djedda por um mês.

Nesse período, Jalal teve oportunidade de ir a Asir econstatar, para sua sa�sfação, a transformação ocorrida nafazenda; a usina �nha o seu funcionamento pleno, e alavoura estava com excelentes cuidados.

Nas despedidas, mais uma vez, eles agradeceram ao�o Makin, pela solidariedade, pela acolhida e pelarecep�vidade, igualmente, à prima Nasib e à equipe médica,por tudo que fizeram em favor deles.

“O reino da solidariedade e da fraternidade seránecessariamente o da jus�ça para com todos e o dajus�ça será o da paz e da harmonia entre osindivíduos, as famílias, os povos e as raças.Chegaremos a ele? Duvidar seria negar o progresso”.

(Obras Póstumas— Allan Kardec – Questõesproblemas)

— Papai e mamãe, acho que ficarei um bom temposem poder vê‐los. Mas, espero que possam nos visitar embreve – disse Jalal.

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Capítulo — XIV

Jalal voltou à sua vida acadêmica, e Layla se dedicouàs suas a�vidades de mãe, auxiliada por dona Jade.

— Layla minha filha, confesso que estava comsaudades desse chorinho. Isso representa a vida do lar; maisuma vida que a Allah nos oferece, para que juntos,possamos progredir e aprendermos a conquistar afelicidade.

— Filha, nesse tempo todo que esteve fora, Antar eeu conversamos bastante. E ele tem dúvidas sobre o seufuturo. Sabe, Layla, além daquele avião que Jalal opresenteou, agora ele tem mais dois. Isso vem corroborar avontade que ele tem de ter como profissão, ser pilotomilitar, como foi o seu pai. Da minha parte, quero que saibaque eu ainda não o incen�vei, mas, também, não fui contraa idéia. Somente comentei que esse era um grupo muitofechado, de pessoas que �nham por trás deles, famílias commuita força polí�ca e abastadas; e que a especializaçãodesses pilotos era concluída no exterior.

— Papai, eu sou de opinião que Antar é um jovembem centrado e que sabe o que quer. Se ele disser que querser piloto, vamos incen�vá‐lo, e deixar por conta dele asconquistas. Serão muitos obstáculos para ser transpostos...se conseguir, ó�mo. Eu sei de uma coisa, papai, ele é muitoaplicado nos estudos, e pode surpreender os seusconcorrentes mais abastados. Primeiramente, ele deverá

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ser aprovado nos exames preliminares, depois de algumtempo de estudo vai para a simulação de vôo, e depois éque vai para pilotagem. Exis�rão várias etapas, e todas sãoeliminatórias. Vamos ver!

“ A que se devem as vocações de certas pessoas e suavontade de seguir uma carreira em vez de outra?

— Parece‐me que podeis responder por vós mesmos aesta questão. Não é a conseqüência de tudo o quedissemos sobre a escolha das provas e sobre oprogresso realizado numa existência anterior?

(O Livro dos Espíritos – pergunta 270)

Muhammad já estava com quatro anos; era ummenino saudável, esperto e falante.

Layla voltou às suas a�vidades lecionando literaturasó para alunas.

Antar cursava o segundo ano da academia militar e,estava empolgado com seu futuro.

O senhor Zayani, agora ex‐Reitor, ocupava‐se emcon�nuar a escrever sobre educação, tomar conta do neto,e a ser assessor do Ministério da Educação.

Jalal, foi convidado para ser Vice‐Reitor, mas recusoua oferta para o momento, uma vez que queria se dedicarmais ao magistério, ao estudo e às pesquisas da ciênciaagrícola.

E o tempo voou nas asas do pensamento de Antar.

Ao concluir a academia, Antar projetou o seu desejo

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para o futuro de se aprimorar como piloto militar, mas viano seu horizonte profissional, muitas dificuldades. Aspossibilidades de ir para o exterior estavam sendo fechadas,em decorrência dos atentados havidos nos Estados Unidosda América, na Inglaterra e na França.

— Veja só, vovô, por causa de poucos, todas asnações árabes estão sendo prejudicadas e taxadas comoperigosos terroristas — disse Antar irritado.

— Meu neto, acho que não resolve nos irritarmoscom essa situação. O que devemos fazer, da nossa parte, éprovarmos que somos árabes, sim, mas somos homens debem; que somos sauditas preocupados não só com o nossobem estar, como também com todo progresso da naçãoárabe. Mas filho, eu ainda acho que você tem duas opções:Poderá tentar a Rússia ou o Brasil. A vantagem deste úl�mo,é que além de lá exis�r uma excelente academia deformação de pilotos, o clima é muito bom; não é frio comona Rússia, e é um país tranqüilo. Acho que você, naacademia deve ter �do conhecimento sobre a Esquadrilhada Fumaça; são brasileiros esses exímios pilotos.

— É, realmente eles são ó�mos.

— Então, acho que não há muito, o que pensar .Converse com Jalal, que ele sabe muito mais do que eu,sobre o Brasil.

— Não vovô, ainda não irei falar com ele, e nem commamãe. Primeiramente quero me cien�ficar das minhaspossibilidades.

“O Espírito poderia fazer a sua escolha durante a vidacorporal?

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— Seu desejo pode ter influência. Isso depende daintenção. Mas, no estado de Espírito, freqüentementevê as coisas de maneira bem diversa. É o Espíritoquem faz a escolha. Mas, ainda assim, ele podefazê‐la nesta vida material, porque o Espírito temsempre os momentos em que se liberta da matéria.”

(O Livro dos Espíritos – pergunta 267)

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Capítulo — XV

Muhammad, quando ficava com a dona Jade, era aalegria da casa e também a preocupação, pois ele mexia emtudo que ficava ao seu alcance. As miniaturas de Antar — acoleção de aviões — era o que prendia mais a atenção domenino.

Para cuidar da sua coleção, Antar sentava‐se no chãoe brincava com o seu irmão.

Numa dessas oportunidades, na ampla sala, a suaatenção voltou‐se para um no�ciário da televisão: "OGoverno dos Estados Unidos da América, cancelou todos osintercâmbios militares e culturais, com os países árabes".

— Vovô....Vovô....O senhor ouviu isso?

E, num gesto rápido e colérico, arremessou uma dassuas miniaturas contra a parede. O aviãozinho se es�lhaçou.

Muhammad se assustou com o barulho, e se pôs achorar.

“(...) a cólera não exclui certas qualidades do coração,mas impede se faça muito bem e pode levar à prá�cade muito mal. Isto deve bastar para induzir o homema esforçar‐se pela dominar. O espírita, ao demais, éconcitado a isso por outro mo�vo: o de que a cólera écontrária à caridade e à humildade cristãs.”

(O Evangelho Segundo o Espiri�smo— cap. IX – Um

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Espírito Protetor)

O senhor Zayani e dona Jade, pegaram o menino nocolo, e admoestaram com veemência a Antar pelo gesto tãodesequilibrado e estúpido.

Ainda muito irado, ele desculpou‐se, e foi para a rua.Dirigindo‐se para a academia, lá encontrou vários pilotosigualmente tristes e decepcionados com a noXcia que foi aoar, a�ngindo‐os e tolhendo os seus ideais.

Layla, ao chegar na casa dos seus pais, tomouconhecimento do ocorrido, e resolveu aguardar algumcomunicado do seu filho. Passava das vinte e uma horas,quando tocou o telefone: ‐ Mamãe, eu estou aqui naunidade militar. Vou pernoitar aqui. Amanhã nosconversaremos.

— Você está bem?

— Tudo, mamãe! Boa noite!

— Boa noite, meu filho!

— Acho melhor assim, Jalal. Amanhã, talvez estejamais calmo e mais compreensivo com a situação. Assim,também com o ânimo mais arrefecido, poderá vislumbrarum outro caminho para a sua vida.

No dia seguinte, Layla e Jalal deixam Muhammad nacasa de dona Jade /Zayani, e foram para o trabalho. E comosempre, ele ficava brincando com os aviões.

Antar, entrou na ponta dos pés, aproximou‐se epegou o menino no colo, abraçou‐o, beijou‐o e pediuperdão.

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“A misericórdia é o complemento da brandura,porquanto aquele que não for misericordioso nãopoderá ser brando e pacífico. Ela consiste noesquecimento e no perdão das ofensas. O ódio e orancor denotam alma sem elevação, nem grandeza. Oesquecimento das ofensas é próprio da alma elevada,que paira acima dos golpes que lhe possam desferir.Uma é sempre ansiosa de sombria susce�bilidade echeia de fel; a outra é calma, toda mansidão ecaridade”.

(O Evangelho Segundo o Espiri�smo— cap.IX)

O menino contente e feliz, já pedia para que Antarse sentasse no chão, para brincar. E, assim, eles passamhoras, sem que seus avós lhes dirigissem uma só palavra.Até que, Antar retomou o assunto do dia anterior.

— Sabe vovô, com aquela noXcia de ontem, umcolega de academia me propôs uma sociedade — aviaçãodomés�ca — pequenos aviões, com rotas só dentro donosso país. A minha parte seria de dar manutenção àsaeronaves — a pior parte — e, também, pilotar. Fiquei depensar e resolver sobre a proposta.

Eu penso que entrar nessa sociedade sem dinheiro,só com o trabalho, eu vou ser relegado a empregado compouco ou quase nenhum poder de decisão, mas com muitaresponsabilidade. Acho preferível ser somente piloto,empregado, e só responsável sobre os meus atos.

— Mas, Antar, nós não conseguiríamos comprar umaaeronave, e você ser o único dono?

— Os aviões são muito caros!

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— Será que eu não conseguiria obter umfinanciamento?

— Não, vovô! Acho muito arriscado. Com o azar queestou!; e se acontecer algum acidente? Lá se vai o que osenhor construiu em muitos anos.

Esse assunto parou aí. Outros surgiram à baila, comoagricultura, economia, petróleo, guerra no Iraque, etc., etc.

À noite, chegaram Jalal e Layla, e o pequeno logocorreu para os braços dos seus pais.

— Mamãe, quero que a senhora e Jalal medesculpem pelo dia de ontem. Não agi nem como homem,nem como piloto e nem como militar, que obrigatoriamentetem que ser equilibrado em todas as situações.

— Está bem, meu filho. Fico contente com a suaconscien�zação. Para quem quer vencer na vida, as açõesexplosivas não levam a lugar algum. Você sabe que deveráperseguir os seus obje�vos, e isso tem que ser feito comdeterminação e discernimento nas mais diversas situações.

Em uma das minhas viagens, eu tomeiconhecimento de um manuscrito; só não posso precisar, emqual viagem . Achei a mensagem tão importante e deelevado ensinamento que copiei, e de tanto ler e reler, eu adecorei; ela se in�tula — Força de Vontade — É de autordesconhecido : "Conquistar algo requer força de vontade.Quanto mais determinados formos nesse sen�do, muitomais significa�vas serão nossas conquistas. Mas, deveremoster, uma análise bem clara, cristalina, para dis�nguirmosquando estamos determinados, ou quando estamos agindocom teimosia, malhando em ferro frio, pois, devemos estaratentos e recep�vos para outras acontecimentos e

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possibilidades que surgirão em nossa rota de vida. Vivercom sucesso é encarar e agregar as várias oportunidadesque surgem no nosso dia e, ajustarmos aos obje�vos quedeterminamos, e para isso, devemos ter confiança, fé edisciplina. A Vida sorrirá e se abrirá em oportunidades, sevocê deixar! A Vida Maior — Deus — estará sempre a nosabastecer, mas é bom que não esqueçamos: Se obstáculosse erguerem em nossa caminhada, desviemos deles paraoutra rota, que outras chances também promissorassurgirão; e aí, encaremos as mudanças como desafios;deixemos o orgulho de lado e, de peito aberto, aceitemos anova situação, não como derrota ou ameaça, mas sim, comoum outro horizonte que se descor�na para nós, como sendouma coisa certa que Deus está nos proporcionando".

“Os Espíritos exercem influência sobre osacontecimentos da vida?

— Seguramente, pois que te aconselham”.

(O Livro dos Espíritos— pergunta 525)

“Quando nos acontece alguma coisa feliz, é ao nossoEspírito protetor que a devemos agradecer?

— Agradeci sobretudo a Deus, sem cuja permissãonada se faz, e depois aos bons Espíritos que foram osseus agentes”

(O Livro dos Espíritos— pergunta 535)

Antar, meu filho, nós nos perderemos no caminho sedeixarmos passar à nossa frente o potro puro sangue árabe,selado; se não fizermos nenhum gesto para segurá‐lo, ele

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vai galopar sozinho, e outro poderá laçá‐lo. Portanto, analisebem as oportunidades que aparecerem.

— Mamãe. A sua lição é muito expressiva, mas nessemomento não vejo nada de bom no meu horizonte. Vejosim, uma possível dispensa cole�va de pilotos recém‐formados, como eu.

— Meu neto, se isso acontecer, você poderá fazerum curso de engenharia aeronáu�ca.

— Não sei...não sei se quero...

— Você já deve ter avaliado a possibilidade deingressar na aviação comercial. É uma boa possibilidade? —argumentou Jalal.

— Filho, está ai, uma boa oportunidade de conhecero mundo. O foco da sua realização profissional vocêmantém, que é ser piloto. E há algo que devo acrescentar, oqual, acho muito mais sublime e enobrecedor, que repousana responsabilidade mais alargada do seu profissionalismo.Pois sob o seu comando, estarão centenas de pessoas. —acrescentou Layla.

O tempo passou, e para Antar, outra coisa nãoaconteceu senão ser dispensado. Sobre ele, se abateu umanuvem pesadíssima e depressiva.

Com o auxílio constante do seu avô, que foiincansável, assis�ndo‐o com a sabedoria da vida que �nhade sobejo, o senhor Zayani foi conseguindo �rar Antardaquele desequilíbrio depressivo que o envolvia.

Certo dia, pela manhã, Antar chegou, e fez umconvite: — Vovô, vamos dar uma volta de avião?

Zayani se entusiasmou com a transformação, e

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aceitou de pronto o convite.

Em um pequeno avião de turismo, eles fizeram umvôo panorâmico sobre as colinas próximas a Riyad. Antarestava muito disposto, apontando e comentando o que deinteressante observavam lá de cima.

Zayani falava consigo mesmo: "A crise passou!"

— O senhor já havia voado por essa região?

— Não. É uma região muito linda!

— É uma delícia voar!

— Realmente, ainda mais tendo você no comando.Estou orgulhoso.

No escritório do aeroclube, para proceder a entregado avião, chamou a atenção de Antar, uma correspondênciaaberta à sua frente, da qual constava que: a Indian Airlinesestava contratando pilotos, comissários, mecânicos,engenheiros mecânicos, etc. etc.

Durante o percurso na volta para casa, Antar semanteve calado, trazendo uma interrogação ao seu avô.

— Antar, o que você viu naquele escritório que lheproporcionou uma mudança drás�ca de comportamento?

— Vou lhe dizer: Eu li, numa carta, escrita em inglês,que estava sobre a mesa... (e ele contou o que leu)

— Será essa a oportunidade a qual mamãe me disse,e para a qual eu deveria estar atento? Será esse o potropuro sangue selado que devo montar? Jalal, tambémlevantou a hipótese sobre a aviação comercial! O que osenhor acha?

— Acho o seguinte: Você é um profissionalcapacitado para comandar aeronaves, sejam elas pequenas

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ou grandes. Acho que os princípios são idên�cos, o quemuda, são alguns detalhes. Eu faço coro junto com aspalavras de Jalal e de Layla. Acho realmente enobrecedor aprofissão de comandante, não só por levar ao ar um gigantemetálico, mas também pela responsabilidade que temsobre as pessoas que confiam na atuação do seucomandante, para levá‐los ao seus des�nos.

— É vovô, acho que os terroristas não mederrotaram. Amanhã, logo bem cedo, voltarei ao aeroclubepara colher mais informações. Vou confirmar, para ver se aminha leitura foi correta. Por enquanto, vovô guardesegredo. Mais uma coisa: O senhor vai comigo para a Índia?

— Conte comigo!

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Capítulo — XVI

Na noite seguinte durante o jantar, Antar comunicoua todos, iria viajar para a Índia na companhia do seu avô.

— Mas o que vão fazer na Índia? É um paísmaravilhoso, com lindos templos, com uma atmosfera muitomís�ca; é muito interessante. Mas o que os atrai para essaviagem? — perguntou Layla.

Antar, de soslaio, olhou na direção de Zayani, ecomeçou a contar o que ocorreu.

— Acho que ficaremos por lá, uns três ou quatrodias.

— "Eben bhebbak ma'a salaama". "— Vá em pazmeu filho".

Em Nova Delhi, entrevistado por um funcionário doGoverno do setor per�nente, respondeu a váriosques�onamentos, apresentou documentos, e também, fezperguntas. Por fim, depois de ter o seu nome inves�gado,foi aceito para fazer uma prova escrita, que se realizariadentro de trinta dias.

— Vovô, a inscrição para a seleção parece mais uminterrogatório . Tive que contar toda a minha vida até estadata. Pediram‐me também uma carta de apresentação.Respondi que �nha somente os documentos da academiado nosso Governo.

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— Você acha que essa carta é importante?

— Essa não era uma exigência. É possível que, para omeu caso como estrangeiro, esse documento sejaimportante para a avaliação final.

— Há tempos atrás, eu conheci um professor delingüís�ca, que esteve na nossa Universidade fazendoespecialização. Ele era da Universidade de Nova Delhi. Euproporcionei a ele algumas facilidades das quais ficou muitoagradecido, e se dispôs a retribuir. Vamos tentar achá‐lo?

— O que é que o senhor resolve?

— Vamos fazer o seguinte: Vamos nos hospedar eligar para casa, e pedir para que a sua avó localize na minhaagenda, e nos dê o endereço e o telefone dele. Assim, aindahoje, ligaremos, e se ele nos atender, marcaremos umaaudiência. Espero que ele tenha alguma recordação dosnossos encontros.

O professor Jayadeva recebeu Zayani de braçosabertos. Para comemorar esse encontro, serviu aosvisitantes chá verde, o qual, disse o anfitrião, era umexcelente an�‐oxidante. Relembraram várias passagens, atéque chegou o momento dos diálogos, que muito interessavaa Antar.

— Professor Jayadeva, estamos aqui no seu lindopaís e na sua querida Nova Delhi, para que o meu neto,Antar, possa se inscrever para uma seleção de pilotos, que oseu Governo está proporcionando. Ele é piloto oficial militarna nossa terra, mas, por forças das circunstâncias do nossogoverno, juntamente com outros, foi obrigado a dar baixada carreira militar. O atentado ocorrido nas Torres Gêmeas

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em Nova York desencadeou uma série de cancelamentosnos acordos bilaterais entre os nossos países, inclusive, o deaperfeiçoamento de pilotos militares. Ele pretendia fazer lá,uma especialização de tá�cas militares, mas com aquelesacontecimentos, as suas pretensões ruíram. Como o senhorsabe, nós, sauditas, não fomos os causadores daquelatragédia, mas, os reflexos para as nações árabes foramimediatos. Então, ele está mudando o seu foco para aaviação comercial, que é o obje�vo dessa seleção. O queestá faltando a ele, é uma carta de apresentação. Eis aqui,meu amigo, os documentos, que comprovam a suaformação e capacidade profissional.

O professor examinou detalhadamente todos osdocumentos, e em seguida, convocou um dos seusauxiliares e solicitou que se fizesse a carta de apresentaçãodirigida ao Departamento de Aeronáu�ca.

Passaram toda manhã conversando, e os visitantesconhecendo todos os departamentos da Universidade. E,por fim, no gabinete do professor Jayadeva, responsávelpelo Departamento de Lingüís�ca, este, fez oficialmente umconvite ao professor Zayani para que viesse incorporar‐se noseu grupo de trabalho.

— Como o senhor disse, professor Zayani, por lá jáse aposentou. Não sei se sua vaga foi preenchida acontento. Para nós, a sua idade não é mo�vo deaposentadoria; a sabedoria que senhor acumulou, nãopoderá ficar restrita a quatro paredes; ela tem que seexpandir em todas as direções como se estampa a rosa dosventos. A sabedoria do ancião é imprescindível paraalimentar a sabedoria do jovem que é o futuro de umanação.

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— Meu amigo, fico envaidecido e sinto‐me atérobustecido com a energia que me transmite, mas ocompromisso que assumi com o meu Governo me impedede aceitar o seu convite. Mas, estarei sempre à suadisposição para alguns dias de palestras. Virei com muitoprazer. E lá na minha terra, estarei sempre de braçosabertos para recebê‐lo.

Abraçaram‐se efusivamente, e despediram‐se,prometendo mais encontros.

Completada a documentação da inscrição de Antar,voltaram para Riyad, já com a data marcada para o testeescrito.

Classificado que foi no exame escrito, Antar estavano aeroporto de Nova Delhi para submeter‐se ao exameprá�co. Ele, dos doze pilotos examinados, foi o úl�mo afazer o teste.

A decolagem foi perfeita. O avião era de trintalugares. As manobras solicitadas através do rádio foramefetuadas com perfeição. Ordenado que foi para pousar,Antar direcionou o avião, e acionou o disposi�vo do trem deaterrissagem; mas o painel, logo acusou uma panemecânica. Calmamente, entrou em contato com a torre decontrole, comunicando o problema. Por várias vezesacionou o disposi�vo, mas a resposta mecânica do trem depouso, não aconteceu.

— Torre de controle. Eu tenho combusXvel paramais dez minutos. Vou consumir esses galões, e fazer umpouco de "barriga".

Zayani ficou desolado com a noXcia; não se

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conformava com o que de pior poderia acontecer. O seupensamento viajou rapidamente para o passado quandoaconteceu o desastre de avião com o pai do seu neto.Dirigiu‐se ao banheiro, e enquanto lavava seu rosto, ouviuuma voz: "Zayani, fique calmo que nada de mal acontecerácom o nosso jovem"

Rapidamente, Zayani olhou no espelho e viu aimagem de um ancião parecido com a descrição, de que umdia, lhe falou Layla, quando de um sonho.

“Aquele a quem o Espírito aparece pode manter umaconversa com ele?

— Perfeitamente, e é mesmo o que vocês devem fazersempre em tais casos, perguntando ao Espírito quemé, o que deseja e o que podem fazer para lhe ser úteis.Se o Espírito for infeliz e sofredor, a comiseração quese lhe demonstra, conforta‐o; se for um Espíritobenévolo, pode vir com a intenção de dar bonsconselhos.

— Como, neste caso, o Espírito pode responder?

— Fá‐lo algumas vezes por sons ar�culados, como ofaria uma pessoa viva; as mais das vezes hátransmissão de pensamentos.”

(O Livro dos Médiuns – cap. VI‐ Manifestações Visuais– item 11)

Mais que depressa virou‐se, mas ninguém, alémdele, estava ali. Olhou para todos os lados, entrou em todosos banheiros. Ninguém. Em frente ao espelho, mais umavez, olhou‐se na tenta�va de talvez visualizar aquele

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homem, mas nada... Um cheiro de alecrim, pairava no ar.Zayani se acalmou imediatamente, sem compreenderaquela situação.

E Antar pousou o avião de "barriga" com a perfeiçãoque a situação exigia.

Posteriormente, em contato com o comandantechefe e outras autoridades, num inglês fluente, lamentou osprejuízos materiais.

— Meu jovem, não lamente. É muito melhor termosperdas materiais do que perdas humanas que, no episódioatual nós é que perderíamos muito, com relação a você, quedemonstrou com sua determinação, serenidade, segurançae perícia, ser um piloto experimentado, embora jovem.Você está aprovado! Parabéns!

"Jad al‐hamdu lellah"! "— Vovô, graças a Deus!"

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Capítulo — XVII

Antar estava felicíssimo. A sua atuação profissionalcomo comandante de aeronave civil preencheu todo o seuser, proporcionando até mesmo, o esquecimento de quedesejava ser piloto militar. Mas, por essa formação, que lhe�nha dado os sen�dos da disciplina e da responsabilidademais aguçados, agradecia.

Sua cotação junto aos seus superiores cada vez maisse alicerçava, e isso, sobejava aos tripulantes e passageirosque com ele voavam.

Certa vez, em conversa com a sua mãe, ele disse: —Mamãe, sou feliz por estar no comando, não só de um potropuro sangue, mas de centenas deles, que sendo metálicos eobedientes, respondem à minha determinação.

E o tempo voou nas asas da aeronave de Antar sobrea Índia.

Sendo o mais bem conceituado comandante, emesmo assim, man�nha‐se frente a todos, indis�ntamente,sem afetação, orgulho, vaidade ou egoísmo; ele angariavapara si, as a�tudes e gestos simpá�cos das pessoas.Transmi�a para todos os seus companheiros, pilotos, as suasatuações bem sucedidas no comando da aeronave.

“O egoísmo e o orgulho têm origem numsen�mento natural: o ins�nto de conservação. Todos osins�ntos têm razão de ser e u�lidade, pois que Deus não faz

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coisa inú�l. Deus não criou o mal; é o homem que o produzpor abuso dos dons divinos, em virtude do livre arbítrio.

Este sen�mento con�do em justo limite é bom em si; asua exageração é que o torna mau e pernicioso. Omesmo acontece às paixões, que o homem desvia doseu fim providencial. Deus não criou o homem egoístae orgulhoso, mas simples e ignorante; foi o homemque, ao malversar o ins�nto, que Deus lhe deu para aprópria conservação, se tornou egoísta e orgulhoso”

(Obras Póstumas – cap. Egoísmo e Orgulho)

Há certo tempo, houve a necessidade da aviaçãomilitar da Índia adquirir aviões de treinamento, e ele, peloseu currículo, foi convocado para fazer parte da comi�vaque iria ao Brasil para conhecer o parque aeronáu�co e osaviões ali produzidos.

— Antar, você vai adorar aquele país, que tembelezas naturais incrivelmente belas; você vai adorar ‐disse‐lhe Jalal.

No Brasil, o que cabia a Antar, na parte prá�ca,opinar e fazer, ele cumpriu.

Comentando com um piloto brasileiro, quandopra�cavam algumas manobras, ele disse: "Quando eucompletei dezoito anos, ganhei um aeromodelismo —Tucano BR — igual a este. Nunca imaginei que um dia teria afelicidade de voar e pilotar um. Ele é ó�mo!

No aeroporto, para regressar, outra comi�va deindianos estava aguardando na sala de embarque. Erammédicos e médicas, que �nham par�cipado de conferências

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e estudos sobre medicina cancerológica, com profissionaisda área, das Américas.

A longa viagem de retorno, possibilitou a Antar e auma jovem doutora — Rhada — que dialogassem sobreassuntos profissionais, e outros também, ligados aospessoais.

A doutora era uma jovem muito bonita, de posturaelegante, de voz suave e palavreado bem ar�culado, quedemonstrava ser uma profissional determinada, e quetransmi�a confiança.

Entre ambos, estabeleceu‐se uma simpa�a

evidente, até mesmo comprometeram‐se a trocar "e‐mail".

“Além da simpa�a geral, determinada pelassemelhanças, há afeições par�culares entre osEspíritos?

— Sim, como entre os homens. Mas o liame que uneos Espíritos é mais forte na ausência do corpo, porquenão está mais exposto às vicissitudes das paixões.”

(O Livro dos Espíritos – pergunta 291)

“Dois Espíritos simpá�cos são complementos um dooutro, ou essa simpa�a é o resultado de umaafinidade perfeita?

— A simpa�a que atrai um Espírito para o outro é oresultado da perfeita concordância de suastendências, de seus ins�ntos; se um devessecompletar o outro, perderia a sua individualidade”

(O Livro dos Espíritos – pergunta 301)

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“A afinidade necessária para a simpa�a perfeitaconsiste apenas na semelhança dos pensamentos esen�mentos, ou também na uniformidade dosconhecimentos adquiridos?

— Na igualdade dos graus de elevação”

(O Livro dos Espíritos – pergunta 302)

Em Nova‐Delhi, despediram‐se.

Muito embora com o tempo todo tomado nocomando das aeronaves, em suas viagens, a figura da suamãe, Layla, em sua mente, era uma constante; estavasempre saudoso da mulher carinhosa, atenciosa e resoluta.

Certa vez, em Bombaim, sem possibilidade delevantar vôo para cumprir a rota programada emconseqüência do mau tempo, Antar aguardava. Eramdezesseis horas e seu celular tocou.

— Antar meu filho, aqui é Jalal. Preciso que vocêvenha. O seu avô está em casa e adoentado. Ele manifestouo desejo de vê‐lo.

— Mas diga‐me: Ele está muito doente?

— Ele está com problemas respiratórios.

— Amanhã estarei ai!

Naquela mesma noite o senhor Zayani faleceu emdecorrência de complicações cárdio‐respiratórias.

“Qual a causa da morte, nos seres orgânicos?

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— A exaustão dos órgãos”

(O Livro dos Espíritos – pergunta 68)

Layla, que já vinha sofrendo com dores abdominais,suportáveis, tanto é que, ainda não havia consultado umespecialista, sen�u a sua situação se agravar.

Antar, na presença do seu avô, inerte, sem vida,chorou convulsivamente, ladeado por Jalal e a senhora Jade,que embora aba�díssima, mas interiormente forte,dirigiu‐se ao seu neto: — Antar, hoje, estamos perdendo apresença Isica e atuante de um grande homem,companheiro, amigo, marido fiel e responsável, detentor dosen�mento humano igualitário, preocupado com a famíliano sen�do mais abrangente na sociedade, mas, nós oteremos sempre a sua presença protetora, na forma de luz anos guiar e iluminar. Fique certo disso.

— Vovó, querida, eu sei que a essência grandiosa dovovô não está ai nesse corpo; a sua presença, a sua vozfirme, austera e bondosa, não teremos mais. Mas mesmocompreendendo, isso deixa um vácuo profundo, e adificuldade para aceitar, que não mais teremos apossibilidade de encontrá‐lo. Vai ser diIcil admi�r isso!

— Mas, onde está mamãe, vovó?

— Layla tomou um seda�vo, e está acamada. ‐respondeu Jalal.

— Mas qual é o problema de saúde dela?

— Ainda não sabemos. Amanhã nós a levaremos aomédico.

— Mas Jalal, por que só amanhã? Indagou Antar.

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— Porque somente hoje é que ela nos revelou quesente fortes dores abdominais.

Ao velório, compareceram muitas autoridades,amigos e familiares.

— Nasir, agradeço muiXssimo a sua solidariedadepara conosco neste momento triste — disse a senhora Jade.

— Senhora Jade, não há nada que me agradecer,pois a minha presença prende‐se ao fato de eu admi�r quevocês, são para mim, meus parentes queridos.

— Obrigada minha filha!

— Mas, senhora Jade, eu até agora não vi a Layla.

— Ah! Minha filha...Layla não está bem...Estáacamada...Estou preocupada com ela!

— Posso vê‐la?

— Jalal, por favor. A Nasir quer ver a Layla.

— Prima, muito obrigado por ter vindo. A sua estadaaqui está sendo providencial. Layla está com fortes dores noabdome, mas somente hoje é que ela está reclamando.

— Vamos, Jalal!

— Layla querida prima...

— Nasir...Veja só... Não posso nem estar com o meupai nesse úl�mo dia conosco

A doutora, levemente, mas com acuidade, tocando oabdome de Layla, pressen�u no tato, algo de anormal. Semalertar a prima, recomendou que se levantasse somente pornecessidade. E que, no dia seguinte, iria acompanhá‐la paratodos os exames.

E assim foi feito, com resultados posi�vos da doença.

Em par�cular, para Jalal, Nasir se disse preocupada.

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Infelizmente, a má noXcia a respeito de Layla seconcre�zou. A doença já �nha se alastrado o suficiente paranão dar mais oportunidade de qualquer intervençãocirúrgica. A única coisa a ser feita foi tentar diminuir asdores.

A família ficou desolada. Não se conformavam commais essa perda que seria irremediável.

Layla faleceu após três meses da constatação dadoença.

Muhammad, com apenas onze anos, chorava e serevoltava, ainda sem poder compreender o porquê, ficousem o seu avô e sem sua mãe.

— Jalal, meu filho — disse Mutanabbi — Eu e suamãe sen�mos muito não podermos fazer quase nada paraamainar a sua dor e a do nosso neto. Mas, se vocês forem,juntamente com a dona Jade, lá para nossa casa; seria bompara espairecer, e sair desse clima triste.

— O senhor volta amanhã?

— Sim! Pretendemos.

— Vou deixar passar alguns dias, depois eu falo comeles. O que resolverem, eu lhes comunico.

Alguns dias depois, Jalal dirigiu‐se a Antar e, lhecomunicou: — O senhor Zayani, por vontade própria, deixouum testamento sobre os seus bens. Esta propriedade, elelegou a Layla; e na falta dela, você é o beneficiado.

— Jalal, guarde esse documento. Em outraoportunidade você me dá. Agora, tem uma coisa que lhepeço e desejo firmemente que aceite cumprir o meupedido: mude‐se para cá; venha morar aqui com a vovó; ela

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necessita da companhia de vocês. Eu prometo que, logo queeu me desligar das minhas responsabilidades lá na Índia, euvirei embora.

— Não se preocupe. Não interrompa a suacaminhada para a realização profissional que todos nósalmejamos um dia conquistar. Vou contratar duas auxiliarespara ajudarem a senhora Jade na administração da casa.Fique certo que eu e Muhammad viremos morar aqui.

Antar, voltou para a Índia muito triste.

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Capítulo — XVIII

Como Vice‐Reitor, Jalal foi para o Egito, em excursão,com um grupo de técnicos agrícolas. Lá, no oásis de ElFayum, onde já havia estado anteriormente, tevenovamente um encontro com um "neviin", que lhe chamoupelo nome — Jalahal!

— Será crível que isso está me acontecendo outravez? É o passado que retorna...?

— Não...Não é o passado que vem para o presente.Em nossa mente, os acontecimentos passados estão semprepresentes. Somente em nossas re�nas é que o passado é sópassado — afirmou o "neviin".

— Desta vez, eu estou entendendo tudo — disseJalal.

— O pensamento é poliglota. Mas o tempo, agora, émuito importante Jalahal. Desanuvie a sua mente. A suacompanheira está a caminho da evolução do seu espírito.Você, aqui na Terra, tem outro caminho a seguir; é um outrocaminho afe�vo e que não lhe é desconhecido, e que serámuito bom para o seu filho, e para você também, assimcomo, para ela.

“Comunicação dos Espíritos bons: Caracteres gerais.Predomínio do Espírito sobre matéria; desejo do bem.Suas qualidades e seu poder de fazer o bem estão narazão do grau que a�ngiram: uns possuem a ciência,

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outros a sabedoria e a bondade; os mais adiantadosjuntam ao seu saber a qualidades morais. Nõ estandoainda completamente desmaterializados, conservammais ou menos, segundo a sua ordem, os traços daexistência corpórea, seja na linguagem, seja noshábitos, nos quais se encontram até mesmo algumasde suas manias. Se não fosse assim seriam Espíritosperfeitos”.

(O Livro dos Espíritos— pergunta 107)

Passaram alguns instantes, e Jalal encontrou‐sesozinho no meio dos nenúfares, e se perguntando: "O queeu faço aqui, quase todo molhado, no meio dessas flores?"

Ao técnico, aquele mesmo de outros tempos, Jalal,indagou se ele viu aquele mesmo "neviin", daquele passadodistante.

— Há vários anos que ele não aparece. Vocêlembra... Ele era bem velho. Acho que vivendo da maneiraque vivia, não deve ter durado muito tempo.

Jalal, cerra seus olhos, leva as suas duas mãos norosto e, falou, quase gritando: — Mas eu vi e falei com ele!?

Dirigindo o seu olhar para aquela plantação denenúfares, �rou os óculos, mais uma vez, passou a mão norosto e sobre os olhos, e respirou fundo e não disse maisnada. Só seu pensamento voou na direção dos seusfamiliares, quando alguém, com insistência, chamou a suaatenção para o tamanho incomum de uma tâmara.

O técnico agrícola, ficou calado com aquelamanifestação de Jalal.

Mas o espírito do "neviin", e seus conselhos, não

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saia da sua mente; só que ele o viu, com uma aparênciamais jovem e mais bem ves�do.

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Capítulo — XIX

Antar voltou às suas a�vidades, muito embora semaquele entusiasmo original; havia perdido o obje�vo de serum vencedor. Estava quase certo para si que aquele seria oúl�mo ano que ficaria fora do seu país.

Indagava para si mesmo: " — Se não �vesse vindo,teria �do mais tempo de convivência com a minha mãe emeu avô; teria sido mais feliz e proporcionado a eles..."

Quando uma grande interrogação assaltou os seuspensamentos: "Será que eu os faria mais felizes com osmeus reclamos, lamentações e insucessos? Será que eu osfaria realmente felizes mostrando a eles, diariamente aminha infelicidade?"

“Raros homens se tocam da “tristeza segundo Deus”.Muito poucos contemplam a si próprios, considerandoa extensão das falhas que lhes dizem respeito, emmarcha para a restauração da vida, no presente e noporvir. Quem avança por esse caminho redentor, sechora jamais a�nge o plano do soluço enfermiço e dainu�lidade, porque sabe reajustar‐se, valendo‐se dotempo, a golpes benditos de esforço para as novasedificações do des�no.”

(Caminho, Verdade e Vida – Emmanuel – 130)

Só, no seu apartamento, cansado, depois de uma

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viagem que exigiu dele muita atenção, em virtude do mautempo, jogou‐se numa poltrona, em frente da televisão,ligou‐a, e no no�ciário, lá estava a doutora Rhada sendoentrevistada.

E com seus botões, ele falou: "— Como ela é bonitae ca�vante! Será que é comprome�da? Com certeza deveser; nenhum homem, por mais bobo que seja, não deixariade tentar conquistá‐la. Sempre �ve vontade de meaproximar mais dela, mas, com essa vida de piloto que vivemais no ar do que em terra, fica diIcil."

Em certo momento, Antar lembrou‐se que �nha oendereço eletrônico da doutora.

Revirou alguns papéis, e achou a sua agenda. Tomoucoragem e enviou uma mensagem: "Dra. Rhada, assis� a suaentrevista. Achei muito elucida�va para nós que somosleigos no assunto. Parabéns pela forma didá�ca que tratou oassunto tão penoso para nossa aceitação, principalmentepara pessoas que, como eu, perderam entes queridos nessasituação." Abraços — Antar.

No dia seguinte, muito cedo, pois �nha uma viagemna sua escala para Calcutá, resolveu, antes de ir, abrir a suacaixa de mensagem.

"Comandante Antar. Há tempos que estouaguardando o seu contato. As nossas conversas naquelaviagem, foram muito francas, abertas e sem nenhumsubterfúgio; eu gostei daquele encontro. Quando vier aBombaim, apareça no hospital, que lá estarei. Rhada"

“Das qualidades par�culares de cada fluido resulta,entre eles, uma espécie de harmonia ou de desacordo,

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uma tendência a unirem‐se ou a evitarem‐se, umaatração ou repulsão, em uma palavra, as simpa�as ouan�pa�as, que se sentem, sem causa conhecidas.”

(Obras Póstumas— Allan Kardc – Introdução aoEstudo da Fotografia e da Telegrafia do Pensamento)

Ele, gostou do que leu, em seguida respondeu, ecomunicou que iria para Calcutá, mas que, talvez, na escalada semana seguinte, iria para Bombaim.

Um novo ânimo tomou conta dele. Até o seuco‐piloto observou a transformação, e comentou: ‐Comandante, confesso que estava preocupado com oamigo. Notei que não Xnhamos mais assunto, e as nossasviagens estavam se tornando monótonas e cansa�vasdemais; não Xnhamos mais diálogos. Admito que oquadrante que passou, com a perda dos entes queridos, foimuito dolorido para o seu coração. A lembrança quesen�mos dos nossos entes queridos, os quais não maisveremos, é muito forte. Mas, Comandante, o que morre é onosso corpo, que no nosso caso, aqui na Índia, é cremado. Oser espiritual que somos, este, não morre e está sujeito,como todos os seres que vivem na Terra, ao "punajarman"

— renascimentos sucessivos e a evolução.

“Não podendo o Espírito adquirir em uma únicaexistência corpórea todas as qualidades intelectuais emorais, que devem conduzi‐lo ao fim para que foicriado, precisa, para conseguir esse fim, de uma sériede existências, em cada uma das quais adianta umpasso nas vias do progresso e se limpa de algumas

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imperfeições.”

(Obras Póstumas – Allan Kardec – Criação)

— Amigo, qualquer dia você me ensina mais sobre oque disse. Por hora, quero lhe dizer que realmente tenhosaudades dos meus entes queridos, mas digo‐lhe, também,que hoje não estou triste. Estou muito feliz!

— Outra coisa, Comandante: a nossa culturareligiosa nos ensina que o des�no do homem não dependede nenhum dos deuses, mas do esforço de cada um, danossa própria escolha, obje�vando para nós, homens emulheres, uma melhor evolução, pela qual iremosconstruindo através do "karma", que cinge‐se, somente anós, por vários renascimentos, com a esperança dea�ngirmos uma casta mais elevada para nossa vida materiale espiritual. Isso é a prova do grande amor que o nossoCriador tem para conosco. O hinduísmo, já de algum tempo,através dos "gurus", tem emprestado da doutrina de JesusCristo, o contexto do Sermão da Montanha, que entreoutros ensinos, nos disse: "Bem‐aventurados os que choramporque serão consolados". Eu entendo que este consolo,nada mais é do que, uma nova possibilidade que poderemoster no futuro.

— Amigo Sankara, por tudo que me fala, cada vezmais eu o aprecio e considero, pois noto que o seu coraçãoé uma possante turbina de amor; amor amigo, verdadeiro esolidário. Numa outra oportunidade, sem estarmos nessacabina, gostaria conversar mais, tendo essasbem‐aventuranças como tema. Mas, por enquanto, voureafirmar que estou muito feliz!

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— Comandante Antar, comparando‐me com você,possuo, só um pouco mais de experiência de vida e comisso, eu me arvoro em lhe dizer: Essa sua felicidade tem umaúnica origem — numa mulher muito especial!

Antar, que �nha o seu olhar na amplidão à suafrente, virou‐se para o seu co‐piloto e amigo, e somentesorriu.

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Capítulo — XX

Com a aquisição de quinze dias de férias, Antar, já noprimeiro dia, estava em Bombaim, pela tarde.

Recordou que a doutora Rhada havia lhecomunicado que estaria no hospital.

O encontro se deu no saguão do hospital.

— Comandante, o senhor não me avisou que viria!

— Desculpe‐me, doutora só quis fazer‐lhe umasurpresa. Mas não se prenda por mim. Os compromissosque assumiu, pode cumpri‐los, que não me sen�rei denenhuma forma, desapontado. Não se culpe nem um poucopor isso; a culpa é toda minha. Eu, não a avisei.

— Não, Comandante. Não há como cogitarmos emculpa. Eu só fiz uma observação sem qualquer outraconotação. Estou muito contente com a sua visita, e temmais, não tenho outros compromissos que não este aqui nohospital.

Conversaram por algum tempo, quando a doutorafoi solicitada para acompanhar uma intervenção cirúrgicaque já �nha sido programada.

— Comandante, gostaria muito de ficar dialogandocom o senhor, mas, essa é uma cirurgia que vai meacrescentar muito. Mas, convido‐o para ir à minha casa; irápara jantar. Aqui está o meu cartão. Esteja lá às dezenovehoras.

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No horário estabelecido, Antar se encontrava emfrente da casa de Rhada. Abordado por guardas desegurança, iden�ficou‐se e foi introduzido na residência. Elao recebeu com um sorriso acolhedor.

— Seja bem‐vindo, Comandante!

— Obrigado, doutora pela acolhida; estou muito felize agradecido pelo convite. Confesso que há muito temponão me sen�a tão bem.

— A visita que me faz Comandante, é muitoprazerosa. Sempre que o senhor vier a nossa cidade, tereimuito prazer em recebê‐lo.

— Gostaria que toda vez que eu aqui fizesse escala,�vesse tempo para vê‐la, mas o intervalo entre aterrissar edecolar, é de um tempo muito curto. Mas, a minha estadaaqui na sua cidade, dessa vez, será de uma semana.

— Isso vai ser muito bom, pois teremos mais tempopara conversarmos, e ainda, terá a chance de conhecer aminha prima, dona desta casa. Ela está na França,terminando uma especialização em oncologia.

— Família de médicas! Na minha família, eu é queestou destoando: meu avô era professor — Reitor daUniversidade de Riyad — , minha mãe, era professora deLiteratura Árabe e meu padrasto é professor de Agronomia.Mas, eu me inclinei pela profissão do meu pai, que erapiloto militar.

— Então agora o senhor só tem o seu padrasto?

— Tenho também um meio‐irmão e minha avó.

— Doutora Rhada, o jantar está servido! ‐ anunciouuma senhora muito simpá�ca.

Antar, num gesto cordial, ofereceu os braços para a

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doutora, que aceitou.

As horas passaram sem que percebessem, de tãoagradável que foi o encontro.

Ele �nha em sua mente muitas perguntas, mas quenão as fez; elas se relacionavam com aquela linda mulher àsua frente.

Ela era uma jovem de porte esguio, gestos elegantes,voz bem postada, inglês fluente, sorriso largo e franco, coma cabeça descoberta, deixava à mostra seus lindos cabeloslisos e negros. Ele estava extasiado!

Trocaram muitos assuntos, mas, era chegada a horade se despedirem.

— Comandante, o meu motorista vai levá‐lo de voltaao hotel. Amanhã, entre doze e treze horas, irei almoçar, senada urgente acontecer. Aqui tem o meu telefone;ligue‐me.

A semana passou. Chegou a hora da despedida.

— Doutora, posso lhe dizer que os dias que aquipassei, foram ó�mos. Confesso que a cada encontro que�vemos, a felicidade tomou conta do meu coração. Nashoras que antecediam aos nossos encontros eu vibrava,meu coração parecia querer saltar, eu ria sozinho como umjovenzinho que pela primeira vez vai encontrar‐se com a suaprimeira namoradinha, e quando chega perto dela, não sabeo que fazer ou conversar, e quando fala, diz muito pouco doque realmente sente. Gostaria de ficar mais alguns dias econhecer a sua prima, mas, por seu intermédio, diga‐lheque num futuro não muito distante terei muito prazer emconhecê‐la pessoalmente.

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Mas, Doutora, quero revelar‐lhe o que se passa emmeu coração com relação a você, se assim me permitetratá‐la.

— Comandante, desculpe‐me interrompê‐lo, masacho que devemos abolir estas formalidades entre nós. Eusou Rhada e você é o Antar.

— Rhada, o que eu quero lhe dizer é que estouenamorado de você. Quero lhe dizer que já �ve dias demuita felicidade, mas como esses que aqui �ve aoportunidade de usufruir na sua companhia, é a primeiravez que eu experimento. A felicidade que sinto, que brotaem meu coração é forte. Posso lhe dizer, que eu a amo!

Mas, por favor, Rhada, não me diga nada a respeito.Se me permite, somente deixe‐me abraçá‐la. Quero levarcomigo o seu calor e o seu perfume para que eles possampreencher a sua ausência Isica junto a mim.

— Antar, os nossos sen�mentos estão no patamardos sen�mentos recíprocos; acho que desde que nós nosconhecemos, nós estamos enamorados. O tempo quecorreu entre o primeiro dia que nos conhecemos até agora,só fez sedimentar os nossos sen�mentos. Também querolhe dizer que o que sinto por você é algo muito forte, e quenão tenho dúvidas, que é um sen�mento de amor. Assim,meu Comandante Antar, faça uma ó�ma viagem, com omeu desejo de que encontre os seus queridos familiaressaudáveis e felizes e, volte a Bombaim, que temos muitacoisa a conversar. Estarei esperando‐o, ansiosa, como se eufosse ao primeiro encontro com o meu jovenzinhonamorado.

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“Quem não conhece a força da atração, que nascenas aglomerações, onde há homogeneidade de idéiase de vontades?

Mal podemos calcular a quantas influências somos detal modo subme�dos, malgrado nosso. Essasinfluências ocultas não poderiam ser a causaprovocada de determinados pensamentos, depensamentos que nos são comuns, instantaneamente,com os de certas pessoas, desses vagospressen�mentos, que nos levam a dizer que algumacoisa há no ar, pressagiando tal ou qualacontecimento? Enfim, não serão efeitos da reação domeio fluídico, em que nos achamos, dos eflúviossimpá�cos ou an�pá�cos que recebemos, que nosenvolvem, com as sensações indefiníveis de bem ou demal‐estar, de alegria ou de tristeza?

(Obras Póstumas – Allan Kardec – Introdução aoEstudo da Fotografia e da Telegrafia do Pensamento)

Ambos, num abraço aconchegante, riram.

Antar beijou o rosto da sua linda namorada, eapressou‐se, já um pouco atrasado, para seu embarquerumo a Riyad

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Capítulo — XXI

Em Riyad, Jalal, Muhammad e dona Jadeatravessavam os dias com seus ânimos tristes. A alegriadeixou de ser a tônica daquela casa. Com a vinda de Antar, oclima desanuviava‐se um pouco. Embora nenhum delesreclamasse da vida, Antar notou que , à exceção deMuhammad, feliz com a vinda do irmão, Jalal e sua avó,�nham ares sempre pesarosos.

Com aquele clima nebuloso dentro daquela casa,incompaXvel com o sen�mento feliz que vivia o coração deAntar, ele resolveu, certo dia, convidar para uma conversana biblioteca da casa, a senhora Jade e Jalal, e lhes falou: —Eu me considero uma criança frente a vocês. Não tenho asabedoria dos muitos anos experimentados por vovó, nem asabedoria dos anos e dos muitos livros lidos e escritos porvocê, Jalal, que considero, meu pai. O que tenho somentede conhecimento, que posso oferecer a alguém, é ensinar apilotar avião. Nessa a�vidade, a gente aprende que, sepuxar o manche, o avião sobe, e se empurrá‐lo, o aviãodesce. Então, sob o meu comando, ele me obedece. Nacabina do avião, eu e ele somos um. Eu acho que assimsomos nós. Se o nosso pensamento acionar o comando datristeza, com certeza mergulharemos numa atmosferadepressiva e, em contrapar�da, se acionarmos o nossopensamento para coisas ou acontecimentos posi�vos, onosso horizonte se desanuviará e mergulharemos numclima de felicidade, o que, para o nosso caso, seria muito

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bom para Muhammad.

Eu lhes confesso, meus queridos, que estou vivendonum clima de muita felicidade, muito embora, sinto a faltada minha mãe e do meu avô. Os fatores que me fazemestagiar nessa atmosfera de felicidade que estouatravessando são: o primeiro, é o ensinamento queassimilei, que a morte não existe; ninguém morre; o nosso"eu" não morre; o nosso espírito não morre, e tem apossibilidade de renascer. E sendo assim, um diaencontrarei o meu pai, minha mãe e meu avô. O segundofator, que no momento me dá também muita felicidade, é oinstante que estou vivendo com vocês, e também, por terencontrado uma mulher que estou realmente amando. Eu aconheci lá no Brasil; ela é uma indiana, chama‐se Rhada; émédica.

Acho que entre nós os acontecimentos vão sermuito rápidos. Assim sendo, meus queridos, se tudo sedesenhar como eu desejo, preparem‐se para viajar para aÍndia. Não sei se me precipito, mas esse é o meu desejo.

Tudo o que Antar lhes havia dito no que diz respeitoa posicionarem‐se melhor, com os seus pensamentos, elesjá �nham o entendimento, mas estavam aceitandopassivamente a amargura, a tristeza e a depressão, semnada fazerem para saírem dessas situações.

Foi mais uma chamada de alerta, para que elesencarem a vida com mais alegria.

— Vocês se lembram quando a mamãe me dissesobre o cavalo puro sangue árabe que passa a nossa frente?Então, vamos aproveitar e montá‐lo, que ele nos levará paraa Felicidade. Eu estou montado nele, e gostaria que vocês

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viessem para esse clima comigo.

— Você tem razão, meu neto: eles estão vivendo lá,e nós, enquanto não cumprirmos o que viemos fazer aqui,temos que viver com saúde, paz e alegria. Deixe‐me dar umabraço, e dizer‐lhe que estou muito feliz por você terencontrado a sua companheira; desejo‐lhes muitas alegriasem suas vidas.

Nesse instante entrou na biblioteca, Muhammad,com um aviãozinho na mão — vuuuuummmm!

— Antar, eu posso ser piloto?

— Claro que pode meu querido irmão; podetambém ser um médico, um professor ou um administradorda usina de álcool da família em Asir.

— Posso mesmo, papai?

— Claro que pode!

No dia seguinte, o clima na casa já era outro. Umcantarolar, ainda meio Xmido, já se ouvia. Antar ficoucontente, e avaliou que os seus argumentos não foram emvão.

Com o desejo de ficar um dia inteiro em Bombaim,Antar telefonou para Rhada, e combinou um encontro.Desta maneira, ele antecipou a sua volta em um dia, para aÍndia, mas com a promessa a Muhammad que nãodemoraria a voltar.

— Muhammad, a par�r de hoje, a minha coleção deaviões, é toda sua!

— Oba! Obrigado — e o menino enlaçou‐se nopescoço de Antar.

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Capítulo — XXII

No encontro dos enamorados, felizes, ambos sedeclararam saudosos.

— Antar, eu conversei com a minha prima sobre nós;disse‐lhe, que estávamos enamorados, enfim, contei tudo,desde o dia que nos conhecemos lá no Brasil. Elaperguntou‐me o seguinte: "Rhada, desde o ocorrido comseus pais, meus �os, e que você veio morar nessa casa, eu aadotei como minha irmã, e desejo de todo coração que vocêseja muito feliz. Agora, me fale: Qual a sua intenção nesserelacionamento?

Sem �tubear, lhe respondi: É meu desejo casar comAntar!

Nós nos abraçamos, com ela me falando aosouvidos: Seja Feliz!

E você, Antar? Disse ela rindo — você vai me pedirem casamento?

— Minha querida, eu antecipei a minha viagemjustamente para concre�zar essa minha vontade, e de tê‐lanum futuro bem próximo, como minha esposa.

Eles se abraçaram e se beijaram. Com Rhada aindaem seus braços, pergunta: — A sua prima está ai nohospital?

“O casamento, ou seja, a união permanente de dois

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seres é contrário à lei da natureza?

— É um progresso na marcha da Humanidade”

(O Livro dos Espíritos – pergunta 695)

“Qual seria o efeito da abolição do casamento sobre asociedade humana?

— O retorno a vida dos animais”

(O Livro dos Espíritos – pergunta 696)

— Não, ela viajou para a Cachemira. Foi compor‐secom um grupo de médicos voluntários e ajudar ossobreviventes da catástrofe que abalou e destruiu aquelaregião. Creio que, pelo tamanho nefasto dosacontecimentos, ela deverá demorar por lá.

“A destruição é uma lei da natureza?

— É necessário que tudo se destrua, para renascer ese regenerar; porque isso a que chamais de destruiçãonão é mais que a transformação, cujo obje�vo é arenovação e o melhoramento dos seres vivos”.

(O Livro dos Espíritos – pergunta 728)

“A necessidade de destruição exis�rá sempre entre oshomens na Terra?

— A necessidade de destruição diminui entre oshomens à medida em que o Espírito supera a matéria;é por isso que ao horror da destruição vedes seguir‐seo desenvolvimento intelectual e moral.”

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(O Livro dos Espíritos – pergunta 733)

“Deus não poderia empregar, para melhorar aHumanidade, outros meios que não os flagelosdestruidores?

— Sim, diariamente os emprega, pois deu a cada umos meios de progredir pelo conhecimento do bem e domal. É o homem quem não os aproveita; então, énecessário cas�gá‐lo m seu orgulho e fazê‐lo sen�r asua fraqueza”

(O Livro dos Espíritos – pergunta 738)

— Realmente, aquele povo deve estar precisandomuito de médicos e remédios. Acho a a�tude dela muitolouvável, carita�va, que merece todos os nossos elogiospelo seu desprendimento.

— Ela é assim mesmo. Nas horas de folga dohospital, aqui em Bombaim, ela as preenche consultandogratuitamente as pessoas pobres que moram na periferia.

— Essa é uma a�tude de muito desapego das coisasmateriais; é uma a�tude de desprendimento; de caridademesmo. Ela deve ser uma pessoa muito especial. Sem estarem erro no meu julgamento, ela deve ter como seu ícone, agrande mulher que foi a Madre Teresa de Calcutá.

— Você tem toda razão. A minha prima, realmente émuito especial. É um exemplo a ser seguido.

— Então, Antar, não vai ser desta vez que você vaiconhecê‐la.

— Mas não me faltará oportunidade, pois penso

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firmemente em vir trabalhar aqui em Bombaim. Nãopoderei ficar longe de você por semanas. Quero ser o seuesposo diuturnamente.

— Pode ter certeza, meu querido, que é isso mesmoque eu quero.

— Bem, Rhada, vou fazer uma pesquisa no mercadode trabalho da cidade, para avaliar as minhas possibilidades.Como está a sua agenda aqui no hospital?

— Com a viagem da minha prima, os meus horáriosde consulta estão todos tomados.

— Então, doutora, não quero tomar mais o seuprecioso tempo. Eu vou me hospedar, dar uma volta, eespecular, e quem sabe com sorte consiga algo.

— Doutora Rhada, o seu paciente das catorze horasjá chegou — disse uma enfermeira.

— Querida doutora, posso vir ao seu encontro àsdezenove horas?

— Isso. Venha mesmo, que iremos jantar lá em casa.

Despediram‐se.

Às dezenove horas, lá estava ele no saguão dohospital. E não demorou, ela chegou, linda e maravilhosa.

— Doutora, vou lhe dizer algo muito importante: Euestou apaixonado!

No mesmo tom, ela respondeu: — Comandante,quero lhe afirmar que essa prerroga�va não é só sua. Eutambém estou apaixonada!

Beijaram‐se, e, em seguida, Rhada tomou a palavra: ‐Antar, hoje à tarde, eu fui ajudar numa cirurgia. Transcorreu

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tudo muito bem. Já sabíamos que o cisto era benigno. Após,no diálogo que man�ve com o esposo da paciente, pessoado relacionamento da minha prima, entre outros assuntos,ele discorreu sobre a sua dificuldade de estar melhorando aatuação da sua empresa de navegação, no sen�do de ter aoseu lado um funcionário com experiência emestabelecimento de rotas e movimentação de cargas.

Eu percebi, "que um elefante estava passando ànossa frente, ajoelhando‐se para nós montarmos". Então,eu tomei a liberdade e falei sobre você, que talvez pudesselhe ser ú�l; falei também do nosso obje�vo. Ele deu‐meeste cartão, e disse para nós, irmos esta noite, na sua casa e,que nós estávamos convidados para jantar. O que vocêacha?

— Eu acho o seguinte: Lá na minha terra, nósdizemos que o cavalo selado, passa à nossa frente uma vezsó. Aqui, é o elefante. Vamos lá, minha querida, e muitoobrigado pela grande ajuda que está me dando.

— Então vamos logo para casa, assim eu me arrumomelhor, e de lá, nós iremos à casa do senhor Jamini.

Foram recebidos com entusiasmo pelo anfitrião eseus jovens filhos.

Rhada, comunicou‐lhes, que ligou para o hospital,que conversou com a senhora Indira, esposa e mãe, e queela estava passando bem.

O senhor Jamini, ao ser apresentado a Antar,lembrou‐se que o mesmo foi noXcia de jornal, a respeito dacompra de aviões.

No transcorrer das conversações, Antar falou do seucurrículo, discorreu sobre os seus estudos e experiências na

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área de logís�ca no setor militar, e pôs‐se à disposição doanfitrião para auxiliá‐lo.

E Antar, se engajou na marinha mercante comoexecu�vo; auxiliar direto do senhor Jamini.

Rhada e Antar, muito embora com pouco tempo denamoro, marcaram a data do casamento.

Ela comunicou a sua prima, que ainda estava naCachemira, a data do casamento, e teve como resposta que,no dia das bodas, Bellary presente.

E chegou o dia.

Rhada pediu ao oficial, que não iniciasse a cerimônia,ainda. Solicitou que aguardasse a chegada da sua prima, queera a sua benfeitora, após o acidente automobilís�co, emque faleceram os seus pais.

A senhora Jade, Muhammad e Jalal, estavam felizescom Antar, que era todo sorriso.

Passados quinze minutos, todos, um poucoapreensivos..

— Bellary minha querida...

— Você está linda, prima! Desculpem o atraso.Muito prazer senhor Antar. Eu já o conhecia muito, denome. Sempre que me comunicava com Rhada, ela falavado senhor.

— Bellary Benares Banzir?

— Sim! Sou eu!

Ela virou‐se para o lado, de onde vinha aquelechamamento e por instantes examinou aquele homem

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maduro, �picamente árabe, com um vistoso albornoz elinda galabia, bigodes grisalhos, olhos expressivos...

— Jalal Al Azir?

Com um gesto afirma�vo, inclinando a cabeça: —Yes!

Uma grande interrogação povoou os pensamentosdos noivos que entreolharam‐se.

O silêncio foi cortado com a voz do oficial: ‐ Podemoscomeçar?

Após a cerimônia, uma pequena comemoração foioferecida aos poucos convidados na casa da doutora Bellary.

Como sendo um filme, as cenas de um passadodistante projetam‐se na mente de Bellary: como estudante,e como professora de inglês para Jalal.

A certo momento da festa, quando restavam apenasfamiliares, Rhada e Antar, para sa�sfazerem as suascuriosidades, interrogaram Bellary e Jalal.

— Prima e senhor Jalal, nos estamos curiosos parasabermos de vocês?

— Rhada, nós nos conhecemos há muitos anos atrás,quando eu estava estudando em Riyad. Fomoscontemporâneos.

— Eu estudava agronomia, e por aconselhamentodela, comecei também, a estudar inglês; e quem me davaessas aulas, par�cularmente, era ela. Ter aprendido a línguainglesa, foi muito ú�l como auxiliar para a minha formação.

Entre outros assuntos ven�lados, apresentações,perguntas e respostas de ambos, Bellary, notando que Jalalestava ali somente na companhia do seu filho e da sua

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sogra, pergunta: — Só vieram vocês?

— A nossa família agora, se resume em nós quatro.O meu sogro, você conheceu, o Reitor Zayani; ele faleceu, etambém a minha esposa, Layla. Estou viúvo.

Oh! Desculpe‐me, Jalal. Sinto muito.

— Já �vemos, no passado não muito distante,atravessando um quadrante diIcil. Mas, de algum tempopara cá, estamos usufruindo de um bom momento, quecomo esse, vem coroar a nossa felicidade, desanuviandototalmente os nossos horizontes.

E você... Os seus pais... Eu es�ve aqui certa vezperguntando por vocês.

— Eu fiquei sabendo...

— Bellary, com essa resposta, você me deixa umaenorme interrogação.

— Jalal, desculpe‐me. Eu �ve, e ainda tenhoproblemas familiares. Se eu �ver oportunidades e se nósnos encontrarmos novamente, eu lhe conto.

— Desculpe‐me... Não �ve e não tenho nenhumaintenção de fazer‐lhe nenhuma cobrança a respeito. Masdiga‐me, Bellary, como está a vida de doutora?

— Atualmente, estou trabalhando como voluntáriana Cachemira. Faço parte de uma equipe de “Médicos SemFronteiras”. Após os terremotos que destruíram cidadesinteiras, dizimaram centenas de vidas, há muitos feridos, e aassistência médica é primordial, e em todas asespecialidades. Embora a assistência médica seja exercidade forma precária, em locais inadequados, com a falta demuitos medicamentos, ainda assim temos que assis�raquele povo sofrido. E a situação vai piorar um pouco mais,

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porque o inverno está chegando. Nós estamos vendo que asituação vai se agravar, mas também, estamos notando quea melhora vai ser muito lenta, e sabe por que? Porque asautoridades cons�tuídas acham que a Índia não necessitada ajuda de ninguém para sair dessa situação calamitosa.Esse orgulho só promove uma coisa: muitas mortes!

Mas, mesmo assim, eu vou voltar. Quero fazer aminha parte. Não quero que a minha consciência me acuseno futuro de ter sido omissa. Da minha parte, farei tudo quefor possível para amenizar as dores daquela gente. Logo queRhada regressar da viagem de núpcias, eu vou voltar.

— Acho louvável essa sua a�tude caridosa. Eu aadmiro muito Bellary!

Mudando de assunto, a nossa Universidade vai fazeruma série de eventos; vai comemorar a sua fundação, eestará também homenageando os formandos. Logo que eutenha as datas dos eventos, eu lhe comunicarei. Para issopreciso do seu endereço eletrônico; o meu, é o mesmo.

— Vai ser muito bom esse congraçamento. Esperoter a oportunidade de ir.

O encontro entre Bellary e Jalal deixou muitasperguntas, que ficaram somente no desejo da indagação.Seus olhares revelavam que necessitavam estar a sós paraporem em dia os assuntos entre eles, que ficaram nopassado.

Jalal teve a certeza de que Bellary estava solteira. Sónão sabia, e não teve coragem de perguntar se ela haviacasado.

— Vocês ficarão mais alguns dias? Indagou Bellary.

Infelizmente, não. Tenho que voltar o mais breve

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possível, pois estamos em época de provas. Voltaremosamanhã

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Capítulo — XXIII

A vida voltou a normalidade para todos. Antar,trabalhando na marinha mercante, Rhada, clinicando,Bellary voltou para Cachemira, Jalal estava na Vice‐Reitoria,Muhammad, estudando e dona Jade, já bem idosa, comseus afazeres domés�cos.

Certa manhã:

— Senhor Jalal...Senhor Jalal, por favor corra aqui. Asenhora Jade não me responde!

O médico da família é chamado, mas, o que podefazer foi só constatar o óbito.

— Vamos orar — disse Jalal — "Senhor Onipotente,rogamos que a sua misericórdia, receba a nossa queridaJade, nos páramos da sua Luz. Que nesse desenlace, seusparentes queridos que a antecederam, possam abraçá‐la eampará‐la com muita alegria, cercando‐a de muita paz.Sabemos, Senhor, que não somos perfeitos, mas da nossaparte, na deficiente visão que temos, julgamos que asenhora Jade foi uma alma luminosa em nossos caminhos.Assim, Deus Criador, perdoe as suas possíveis faltas, e aacolha em seu colo de Amor"

Lágrimas rolaram em abundância.

Imediatamente Jalal ligou para Antar, mas quem

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atendeu foi Rhada.

— Rhada, por favor, Antar está?

— Senhor Jalal, o Antar está em viagem para a Áfricado Sul; viajou ontem.

— Por favor, se você puder, comunique‐se com ele, ediga que a senhora Jade faleceu. Pensando melhor, Rhada,você acha conveniente comunicá‐lo?...Ele está tão longe...Não poderá fazer nada...E acho que nem chegaqrá emtempo para o féretro...

— Pode deixar senhor Jalal. Antar, deverá ligar‐meainda hoje. Eu irei avisá‐lo; acho melhor assim. Ele �nhacomentado comigo sobre a longa idade da dona Jade. Estavaaté sonhando com ela. Ele �nha consciência de que maisdia, menos dia, esse seria o desfecho. Mas, senhor Jalal, daminha parte, receba os meus sen�mentos, estendendo‐o aMuhammad.

— Obrigado, querida nora!

Agora, a preocupação de Jalal, voltou‐se para o seufilho.

— Muhammad, meu filho, sente‐se aqui perto demim ‐ abraçou o filho — a vovó não está mais entre nós.

— Ela viajou sem nos avisar?

— É, acho podemos dizer que ela viajou; viajou semnos avisar. Ela faleceu!

O jovenzinho abraçou forte o seu pai, e choroumuito.

— Filho, a vovó, infelizmente, não andava bem desaúde, embora es�vesse medicada. Você já sabe; nós já

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conversamos a respeito. Quando chega a hora... a situação éirreversível...não há jeito. Foi o seu avô, a sua mãe, o meuavô, e agora, a sua avó. Devem estar todos juntos. A suamãe, sempre nos dizia: que de nós, humanos, o que morreé o corpo e, a alma, permanece viva. Então, acho que estãotodos unidos e felizes.

Sua avó era uma pessoa que eu admirava muito. Erauma mulher posi�va, muito prá�ca, que encarou a suaviuvez e logo em seguida, a falta da Layla, com coragem,com uma grande força interior do seu espírito. Realmenteera uma mulher admirável. Eu sempre �ve essa convicção,mas, não me perdôo por nunca ter dito isso a ela. Ela foiincansável na assistência quando você ainda era bebê.

— Papai, como iremos fazer sem ela?

— Filho querido, vamos deixar esse assunto paraoutro dia. Por hora, vamos prestar a dona Jade a nossahomenagem e nossos agradecimentos por ela ter‐nosproporcionado a sua companhia calorosa e amorosa portodos esses anos. Vamos orar e pedir para que a sua mãe eseu avô a ampare, recebendo‐a de braços abertos nessahora que, calculo seja diIcil, tal qual é diIcil, comparado aum bebê, ao nascer. Assim avalio... não sei...

A noite, Antar ligou, e chorou ao telefone. Estavainconformado por não ter podido despedir‐se da suaquerida avó..

Jalal, sem muito argumento, tentou consolá‐lo.

O terceiro dia estava passando, quando Antar eRhada chegaram.

Dona Jade deixou três cartas: para Jalal, Antar e

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Muhammad.

Ao lado de Rhada, Antar leu em voz alta: "Queridoneto. Quero agradecer a oportunidade que me deu, de terconvivido com você por muitos anos. Nos nossosrelacionamentos, creio que pude transmi�r a você aquiloque em mim era uma pequena virtude — ser pragmá�ca.Con�nue assim, mas sem ser por demais arrojado. O bomsenso, aliado à pra�cidade, acho que seja um ó�mo meiopara se viver bem. Por falar em viver bem, cuide da sualinda esposa como se fosse aquela louça raríssima, oriundados fornos de Ching‐te Chen, que por muitos anos foiprotegido pelo Imperador Ming, no século XIV. Proteja‐a! Eugosto muito dela, embora nunca �véssemos �do aoportunidade de aprofundar os nossos relacionamentos;mas, querido neto, acho que você já sen�u isso: aquelesen�mento gostoso de estar perto de uma pessoa e vocênão querer se afastar, e desejar con�nuar ali, perto dela. ARhada emana amizade, doçura, sinceridade, simpa�a,alegria e, a grande virtude: ela emana, o Amor. Seja feliz, efaça a sua companheira também, muito feliz!

Ah! Não esqueça de me dar netos e netas.

Um grande abraço e muitos beijos para você e aRhada. Jade"

Terminada a leitura, a carta estava toda salpicada delágrimas.

— Rhada querida, esta era a minha avó. Mulher deuma alma esplendorosa, amiga, complacente, sem deixar deser austera nos momentos certos.

— Avalio, só acrescentando — ela era uma mulherculta.

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— Ela era uma autodidata. Valeu‐se da enormebiblioteca do seu marido — acrescentou Jalal.

Jalal, começou a ler a sua carta: "Querido genro.Acho que você não conseguiu perceber, mesmo porque,antes de você se relacionar com a Layla, o clima da nossacasa era diIcil. A par�r do momento em que Layla oconheceu, ela se iluminou, e isso sobejou para todos nós.Por isso, e pela sua integridade, hones�dade, e empenho,pelo seu amor dedicado a ela, e também a todos nós, eu lheagradeço e o abraço com meu espírito de mãe.

Agora, querido genro, você sabe, e já teve algumasexperiências, que a vida con�nua, tanto aqui, como noÉden, onde estão meus queridos: Zayani e Layla. E aqui,Jalal, você tem ao seu lado essa criatura que, emborajovenzinho, traz uma luz imensa no seu peito, a qual temque ser cul�vada e aumentada. As crianças, Jalal,necessitam de pais — pai e mãe — para se desenvolverembem. Portanto, o homem, como você, que tem um filho,precisa de uma mulher para si, que vai ser a mãe do seufilho, e que juntos o educarão. O homem precisa de umaesposa, para desenvolver bem o seu trabalho, e manter oseu equilíbrio emocional; ela será a companheira de todasas horas, promissoras ou não; será a testemunha direta dosseus pensamentos, dividindo as responsabilidades e dandoopiniões. A nossa sociedade não aceita que a mulher sejaatuante, mas, aqui nesta casa, você notou, que tudo foidiferente. Bem, mas não é isso que agora interessa.

Acho que você está entendendo aonde eu querochegar. Pela minha longa vivência, eu consegui, por dádivade Deus, perceber e �rar só para mim, uma rús�ca análisedas pessoas. Jalal, não quero com o que vou lhe dizer, que

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você não teve um sen�mento puro de amor para com aminha filha. Eu sou prova de que você se dedicouinteiramente a ela, com muito amor. O que eu desejo lhedizer, sem medo de errar, e se me permite, com a minhaaprovação, é que você, desde um passado bem recente,quer ser enlaçado pela emanações delicadas da doutoraBellary.

Meu querido genro, tenha a absoluta certeza de quede todo o meu coração e entendimento, eu estareiabençoando essa sua união com essa moça, que avalio, sejauma ó�ma criatura, e que certamente, será uma ó�maesposa e mãe exemplar para Muhammad.

Aquele encontro com ela em Bombaim foi muitorevelador, e isso enche o meu coração de muita alegria.Desejo que você seja muito feliz, e que o meu neto,também seja, ao lado de vocês dois.

Um grande abraço — Jade"

Jalal, agora recostado na poltrona, com os olhosfechados, passou a mão na testa, nos cabelos, �rou osóculos, endireitou‐se, olhou para as três testemunhasqueridas, e disse: — Vamos ver o que nos reserva o futuro!

— Abra a carta para mim, papai!

— Filho, o que tem aí dentro é uma mensagem sópara você. Está em você querer abrir e ler!

"Querido Muhammad Zayani.

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Você se lembra daquela história, do homem que,sedento, vinha pelo deserto, e encontrou uma tenda todailuminada. Lá dentro, estavam um homem e uma mulher.Ele foi convidado a entrar e, como mágica, ele setransformou numa criança. Depois de algum tempo, os trêsempreenderam uma nova caminhada por outro deserto,mas aí, veio uma forte tempestade de areia, e a mulher seperdeu. Ficaram o homem e o menino, tristes e choroso,andando tontos pelo deserto, até que encontram um oásis.E lá, enquanto saciavam a sede, da placidez das águascristalinas, formou‐se a imagem de uma linda mulher, e omenino gritou: — Papai...papai... olhe a deusa das águas; éa nossa salvação; ela que nos dará de beber para sempre!Orando fervorosamente, ambos vêem aquela imagemconcre�zar‐se. E para mais um deserto, caminharam felizes.

“A perfeição da forma é, a conseqüência da perfeiçãodo Espírito, podendo‐se concluir que o ideal da formadeve ser a que reveste o Espírito no estado de pureza– a que imaginam os poetas e os verdadeiros ar�stas,porque penetram pelo pensamento nos mundossuperiores”

(Obras Póstumas— Allan Kardec– Teoria do Belo)

É assim a vida meu querido neto. Temos um desertoapós o outro para atravessar. Sem medo, vamos encará‐loscom determinação e humildade que com certezaencontraremos pessoas queridas, e nós, nos sustentaremosmutuamente, nessa caminhada que a Vida está a oferecerpara o nosso aprimoramento.

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E eu lhe dizia: que eu, iria andar junto com você atévir uma nova tempestade de areia, e que iríamos encontrara "deusa das águas" Lembrou?

Neto querido, ajude o seu pai; ele necessita do seuapoio! — Sua Avó.

— Papai, eu lembro bem quando estava sentado nocolo da vovó, e ela me contava essa história. Agora eupenso: Aquela mulher que se perdeu no deserto, será quefoi a minha mamãe? E agora, a outra mulher — a deusa daságuas, quem será; poderá ser a dona Bellary, que a vovó falana sua carta?

— Não sei Muhammad; não posso lhe responderagora. Vamos aguardar, pois o futuro é um grande benfeitor.

“Entretanto, se lhe é dado conhecer a intenção eprever‐lhe as conseqüências, a alma não podedeterminar o momento, em que tais conseqüências sedarão, nem precisar minúcias ou mesmo afirmar quese darão, porque podem sobrevir circunstâncias quemodifiquem o plano e a disposição.

(...)Quando um acontecimento depende do livrearbítrio de alguém, os videntes podem pressen�‐loporque está no pensamento que eles vêem; mas nãopodem afirmar que ele se dê, de tal maneira e em talmomento. A maior ou menor exa�dão nas previsõesdependem também da extensão e da clareza da vistapsíquica”

(Obras Póstumas – Allan Kardec – Introdução aoEstudo da Fotografia e da Telegrafia do Pensamento)

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Mas, Muhammad, com os seus treze anos, volta aoassunto dizendo: — Mas eu gostaria que fosse ela! Ela é

muito bonita; como a mamãe!

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Capítulo — XXIV

O tempo correu célere.

Antar desenvolvia um ó�mo trabalho e comexcelentes resultados.

Rhada, também feliz, suportava bem a sua gravidezde seis meses.

Bellary já �nha regressado da Cachemira. Estavaexausta e deprimida, com tanta desgraça que presenciou.Resolveu então, �rar umas férias, e viajou para o Tibet, paraaproveitar os ares mís�cos daquela região, e refle�r sobre asua vida presente e, tentar esquadrinhar seu futuro.

Jalal, era a preocupação constante do jovemMuhammad. Sua vida era de casa para a universidade, evice‐versa. Não pensava em outra coisa; nem na des�lariade álcool que agora, também, produzia açúcar demerara.

Certa manhã, Muhammad lhe diz: — "Ab"‐ Papai, euquero estudar música; quero ser um maestro.

Jalal se ajeitou na cadeira, cotovelos na mesa, mãono queixo, indicador entre os lábios — olhou bem para oseu filho, e falou: — Muhammad, as boas escolas de músicaestão fora do país!

— Eu até sei disso. Mas o senhor também nãoestudou fora do nosso país?

— Você tem razão. Mas acho que deve começar poraqui. Vamos ver por onde você vai começar e quando.

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A noite, nesse mesmo dia, após o jantar, Jalal sere�rou para a biblioteca do seu sogro, e ficou ruminando osseus pensamentos; estava cansado e dormiu na poltrona.

Tocou o telefone, e Muhammad atendeu:

— Alô, aqui é Muhammad.

— Muhammad, aqui quem fala é a doutora Bellary.

— É a doutora Bellary, da Índia?

— Sim, sou eu mesma. Como você vai?

— Eu estou bem!

— E o seu pai está bom?

— Ah! Ele anda... Não sei, se muito triste oupreocupado.

— Ele está em casa?

— Está sim, senhora...

— Então, por favor, diga a ele que eu estou aqui noaeroporto de Riyad. Fale para ele vir me pegar.

— A senhora, está aqui mesmo?

— Estou!

— Então, está bem. Eu vou com ele...

— Venha... estou esperando.

Muhammad, se arrumou, e saiu correndo à procurado seu pai.

— Papai...Papai... — gritou o filho — Acorde, acorde,que temos que ir ao aeroporto buscar a doutora Bellary.

— Mas o que é isso? Você está bem?

— Ela acabou de ligar do aeroporto. Ela está aqui nanossa cidade. Vamos...vamos...

— Pare...pare...pare...

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— Papai, eu não estou maluco! Vamos!

— Mas ela está aí mesmo?

— Vamos, vamos logo...Mas olha aqui, vai devagar,com muita calma nesse trânsito, que temos que trazer paranossa casa a "deusa das águas".

Jalal, de soslaio, olhou para o seu filho, e ambosriram.

E lá estava a "deusa das águas" da história da donaJade — Bellary.

Os três, sem pronunciarem uma só palavra, seabraçam longamente.

FIM

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Autor: Romero Evandro Carvalho([email protected])

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Bibliografia

O Livro dos Espíritos — Lake‐Livraria Allan Kardec Editora —34ª edição — 1975.

O Livro dos Médiuns — Lake‐Livraria Allan Kardec Editora —Edição Comemora�va do Centenário do Livro dos Médiuns edo 25º Aniversário da Lake — 30/10/36 — 30/10/61.

O Evangelho Segundo Espiri�smo — Federação EspíritaBrasileira — Departamento Editorial — 84ª edição — Trad.Guillon Ribeiro.

Obras Póstumas — Lake‐Livraria Allan Kardec Editora — 11ªedição — Trad. João Teixeira de Paula

Fonte Viva — Emmanuel — psicografia de Francisco CândidoXavier.

Caminho, Verdade e Vida – Emmanuel — psicografia deFrancisco Cândido Xavier.

Grande Enciclopédia Delta Larousse.

Enciclopédia Mirador Internacional.

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