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66 FEEDFOOD.COM.BR H oje somam 110 pro- priedades partici- pantes do projeto ini- ciado em Bagé (RS) em 2007 durante o primeiro Encuentro de Ganaderos de Pastizales Naturales del Cono Sur de Sudamérica, evento organizado anualmente pela Alianza del Pastizal, a partir da necessidade de mostrar para a sociedade por meio de um selo os benéficos e diferenciais de uma carne, que além de ser produzida à pasto, traz consigo a conservação do meio ambiente e do Bioma Pampa. Mas não apenas nas áreas pertencentes ao Brasil (que no caso refere-se a 63% do espaço territorial do Rio Grande do Sul), como também Argentina, Uruguai e Pa- raguai, área aproximada de 100 milhões de hectares que formam a atuação da Alianza del Pastizal. “Este é um progra- ma que valoriza e fomenta uma produ- ção de carne de qualidade econômica e ambientalmente corretos. “Não tem como não ser atrativo para todos os elos da cadeia envolvidos neste projeto”, ini- cia o Coordenador Nacional Brasil (Rio Grande do Sul) e engenheiro agrônomo graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, Porto Ale- gre/RS), mestre em zootecnia e assessor agropecuário, Marcelo Fett Pinto. Um trabalho que, ao longo da jorna- da de comprometimento e seriedade ganharam novos parceiros, entre eles in- dústrias, sindicatos rurais, instituições de pesquisa – a exemplo da Empresa Brasi- leira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa CONSORCIAR A PRODUÇÃO E AGREGAÇÃO DE VALOR COM RESPEITO A FAUNA E FLORA DO BIOMA É UMA TAREFA ÁRDUA SUSTENTADA PELO PROJETO ALIANZA DEL PASTIZAL ARTHUR RODRIGO RIBEIRO, DA REDAÇÃO [email protected] A pecuária no pampa, um modelo sustentável 66 FEEDFOOD.COM.BR

A pecuária no pampa, um modelo sustentável¡ria-no-pampa-un... · 2019. 3. 30. · meio ambiente e do Bioma Pampa. Mas não apenas nas áreas pertencentes ao Brasil (que no caso

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Hoje somam 110 pro-priedades partici-pantes do projeto ini-ciado em Bagé (RS) em 2007 durante o primeiro Encuentro

de Ganaderos de Pastizales Naturales del Cono Sur de Sudamérica, evento organizado anualmente pela Alianza del Pastizal, a partir da necessidade de mostrar para a sociedade por meio de um selo os benéficos e diferenciais de uma carne, que além de ser produzida

à pasto, traz consigo a conservação do meio ambiente e do Bioma Pampa. Mas não apenas nas áreas pertencentes ao Brasil (que no caso refere-se a 63% do espaço territorial do Rio Grande do Sul), como também Argentina, Uruguai e Pa-raguai, área aproximada de 100 milhões de hectares que formam a atuação da Alianza del Pastizal. “Este é um progra-ma que valoriza e fomenta uma produ-ção de carne de qualidade econômica e ambientalmente corretos. “Não tem como não ser atrativo para todos os elos

da cadeia envolvidos neste projeto”, ini-cia o Coordenador Nacional Brasil (Rio Grande do Sul) e engenheiro agrônomo graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, Porto Ale-gre/RS), mestre em zootecnia e assessor agropecuário, Marcelo Fett Pinto.

Um trabalho que, ao longo da jorna-da de comprometimento e seriedade ganharam novos parceiros, entre eles in-dústrias, sindicatos rurais, instituições de pesquisa – a exemplo da Empresa Brasi-leira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa

CONSORCIAR A PRODUÇÃO E AGREGAÇÃO DE VALOR COM RESPEITO A FAUNA E FLORA DO BIOMA É UMA TAREFA ÁRDUA SUSTENTADA PELO PROJETO ALIANZA DEL PASTIZAL

arthur rodrigo ribeiro, da redaçã[email protected]

A pecuária no pampa, um modelo sustentável

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FEEDFOOD.COM.BR 67 Fotos: Divulgação

Pecuária Sul), além de associações de produtores rurais e empresas de consulto-ria que atuam direta e indiretamente com pecuaristas do Cone Sul.

E como consorciar produção equili-brando a fauna e flora do Pampa? Quem explica esta possibilidade é o biólogo Pedro Develey. De acordo com o profis-sional, os campos nativos do Sul do Rio Grande do Sul contam com cerca de 400 espécies gramíneas e 150 leguminosas, propiciando em uma dieta saudável e ba-

lanceada ao gado. “Não precisamos plan-tar os campos, eles são naturais da Re-gião”, inclui. Somado a isso, ele detalha que com um manejo eficiente, do ponto de vista produtivo, é possível uma manu-tenção elevada dos índices de biodiversi-dade. “Os campos são habitat de várias espécies de animais (280 aves, 85 mamí-feros e 75 anfíbios e répteis). O impor-tante é realizar ajuste de carga animal, mantendo sempre uma adequada oferta de pasto para o gado, potencializando o seu desempenho, produtividade por área e eficiência do sistema tanto do ponto de vista econômico quanto da manutenção dos serviços ambientais que este campo presta para a sociedade”, alinha Develey.

Para receber o selo da Alianza del Pas-tizal, as propriedades rurais devem en-quadrar-se nos pré-requisitos contidos em um protocolo elaborado pelo Conselho de Certificação da Alianza del Pastizal, no qual integram produtores e técnicos dos quatro países integrantes. “Neste proto-colo há uma série de exigências dentre as quais o livre acesso à sombra e água, a alimentação com a base forrageira à pas-to e ausência de confinamento no proces-so de terminação”, inclui Fett.

Esta química possibilitou a inserção de um produto no mercado com a marca

Carne del Pastizal, ofertando um produto produzido de forma alinhada à conserva-ção do meio ambiente, preservando im-portantes superfícies de campos nativos, onde se encontram espécies endêmicas de plantas e animais, muitas delas amea-çadas de extinção e de valor incalculável para a sociedade.

A Marfrig (São Paulo/SP), acreditan-do no projeto, chamou para si a respon-sabilidade por meio do beneficiamento das matérias-primas e a inclusão do selo que atestam as qualidades da Alianza del Pastizal. O gerente de Sustentabilidade

da Marfrig, Mathias Aze-redo de Almeida, explica a efetividade da proposta. “Iniciamos neste projeto em 2011 e agora conse-guimos alinhar um pro-tocolo adequado para as demandas do mercado e realidade dos produtores.

O engajamento entre a indústria e estas iniciativas de pecuária sustentável é fun-damental para solucionar questões vitais do nosso planeta. Lembrando que no Pam-pa, a vegetação original é campo, ou seja, se produz carne sem ter a necessidade de substituir o ambiente natural. Buscamos com essa parceria incentivar a conserva-ção do Pampa, ao mesmo tempo em que produzimos carne de qualidade e atende-mos um consumidor cada vez mais atento e preocupa com a saúde e o bem-estar”, detalha e acrescenta que esta plataforma possibilita para o consumidor a opção de comer carne saudável, proveniente de pro-priedades rurais que conservam impor-tantes áreas de ambientes naturais (con-servação de recursos hídricos, fixação

Em 2009 a Alianza del Pastizal enco-mendou uma pesquisa de mercado e fi cou claro que restaurantes que aten-dem ao público de maior poder aquisiti-vo estariam dispostos a pagar até

roGÉrio Fett É COORDENADOR NACIONAL BRASIL (RIO GRANDE DO SUL) DO PROJETO ALIANZA DEL PASTIZAL

O BIÓLOGO Pedro develeY DESTACA A IMPORTÂNCIA DA ASSOCIAÇÃO PRODUÇÃO DE CARNE E CAMPOS NATIVOS

a mais por um produto diferenciado com selo ambiental. No caso dos supermerca-dos, o valor era de 10%

20%

carNe Para QueM?

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Fotos: Divulgação

de carbono, manutenção da biodiversida-de, da identidade cultural de um povo).

Quem corrobora a afirmação é o biólo-go Develey, afirmando que a pecuária com base forrageira em campo nativo bem ma-nejado, ao contrário do que se pensa, pos-sui um balanço de carbono negativo, ou

Por meio do programa de carnes já foram certificados cerca de 80 mil hectares de campos que pro-duzem carnes aptas a receber o selo da Alianza del Pastizal. “Hoje, no Rio Grande do Sul, são 110 propriedades membro da Alianza del Pastizal. Contamos com volume e escala potenciais e elevados, visto que o programa abrange todo o bioma Pampa do Estado, sendo que a exigência fundamental é que a propriedade mantenha um mínimo de 50% de campo nativo, o que é perfeita-mente alcançável para uma gran-de parte daquelas propriedades.

Além de produzir uma carne di-ferenciada, o “Pecuarista del Pas-tizal” presta gratuitamente para a sociedade serviços ecossistêmicos de valor incalculável. Conservação das águas, fixação de carbono (redução do efeito estufa), con-servação da beleza cênica da na-tureza do Rio Grande do Sul, pre-servação de centenas de espécies de animais e milhares de espécies de vegetais, estes últimos ainda com desconhecidas propriedades e potenciais farmacológicos para quem sabe, curar doenças ainda incuráveis e, além de tudo, pre-servando o ambiente e a ativida-de que forjou a cultura gaúcha e a pecuária.

Fonte: Arquivo f&f

veste-amarela (xAntHoPSAR flAnuS), PáSSARo dA REGião

seja, o sistema “puxa” muito mais carbono da atmosfera do que a quantidade emitida pelo ruminante. “Como se fosse um sumi-douro de carbono”, inclui. Também, lembra Develey, a qualidade da carne é outro pon-to central do projeto, pois além da conser-vação da biodiversidade, o produto final apresenta composição e sabor positiva-mente diferenciados. Ele explica que estu-dos (Freitas & Lobato, 2006) indicam que a carne de gado criado em sistemas pastoris em comparação aos sistemas de produção mais intensivos, com uma dieta baseada em grãos, é mais saudável, com adequada relação dos ácidos graxos Ômega 6/Ômega 3, Betacaroteno, Vitamina E, e um conside-rável aporte de antioxidantes e anticance-rígenos naturais, resultado da presença do Ácido Linoleico Conjugado (CLA).

Fett discorre que em breve haverá no mercado Carnes del Pastizal, em função das trativas firmadas com o Marfrig. Al-meida informa que a carne estará dispo-nível no mercado no início de 2016. “Es-tamos acertando os últimos detalhes para avançar com a produção e entrega nas lojas do cliente. A carne da Alianza del Pastizal”. E Fett completa: “Assim como no Rio Grande do Sul, o Uruguai já está em tratativas para firmar convênios com a indústria ao passo que na Argentina isso já é uma realidade, com Carnes del Pasti-zal já sendo exportadas para a Europa e disponíveis no mercado interno”. ■

O Pecuarista del Pastizal

mathias almeida, GEREntE dE SuStEntAbilidAdE dA mARfRiG, ConfiRmAndo PARA 2016 o PRoduto noS SuPERmERCAdoS

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