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9 Unidade 1 A percepção de si mesmo: a relação intrapessoal A frase “Conheça-te a ti mesmo”, atribuída ao filósofo ateniense Sócrates, explica bem a necessidade do ser humano de conhecer a si mesmo e ter autoconsciência de seu “eu” e do mundo ao qual pertence (PORTILHO, 2009). Essa compreensão e a construção interior do indivíduo não são um processo linear e contínuo no tempo cronológico, uma vez que o próprio ser humano tem dificuldade em compreender seu “eu”. S.I./Wikimedia.commons DESEN_PESSOAL_INTERPESSOAL.indd 9 13/12/2013 15:25:35

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Unidade 1

A percepção de si mesmo: a relação intrapessoal

A frase “Conheça-te a ti mesmo”, atribuída ao filósofo ateniense Sócrates, explica bem a necessidade do ser humano de conhecer a si mesmo e ter autoconsciência de seu “eu” e do mundo ao qual pertence (PORTILHO, 2009). Essa compreensão e a construção interior do indivíduo não são um processo linear e contínuo no tempo cronológico, uma vez que o próprio ser humano tem dificuldade em compreender seu “eu”.

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Assim, nesta unidade estudaremos sobre a percepção que a pessoa faz de si mesma e os conceitos de autogerenciamento, autorrealização e automotivação, na intenção de reconhecer ações, comportamentos e ati-tudes diante das situações de vida, tanto profissionais quanto pessoais.

Teoria das inteligências múltiplas e teoria da inteligência emocional

Para se comunicar, viver em sociedade e se adaptar ao meio onde vive, o indivíduo deve primeiramente aprender a relacionar-se consigo mesmo, isto é, conhecer a si mesmo para, posteriormente, conhecer o outro.

A busca pelo autoconhecimento é importante para que as pessoas tenham uma vida mais saudável, nos âmbitos pessoal, profissional e espiritual. Um dos autores que defende esse pensamento é Peter Drucker (1999), que também discorre sobre a autopercepção, o autogerenciamen-to, o autoconhecimento e a autoaceitação, conceitos que serão vistos mais adiante. Outro autor que aborda a importância do autoconhecimento é Daniel Goleman (2007), criador da teoria da inteligência emocional, a qual tem como base a teoria das inteligências múltiplas de Gardner (1995). Goleman (2007, p. 13) afirma que “aqueles que conseguem ge-renciar suas vidas emocionais com mais serenidade e autoconsciência parecem ter uma vantagem clara e considerável na saúde”.

Desse modo, para compreendermos melhor sobre a teoria de Goleman (2007), precisamos entender a teoria desenvolvida por Gardner (1995). Para tanto, é necessário sabermos primeiramente o que signifi-ca inteligência. Oriundo da junção dos termos em latim inter (entre) e eligere (escolher), o termo inteligência significa a capacidade cerebral que as pessoas têm ou adquirem para compreender os fenômenos e os acon-tecimentos que ocorrem ao longo de suas vidas. A formação de ideias, o juízo e o raciocínio são frequentemente apontados como atos essen-ciais à inteligência (CLEMENTINA, 2011). De acordo com o Pequeno dicionário ilustrado brasileiro da língua portuguesa (apud ANTUNES, 1998, p. 11), a inteligência pode ser definida como a faculdade de compreender ou a capacidade das pessoas para lidar com situações que merecem so-lução. Assim, a inteligência é a capacidade que a pessoa tem de exercer determinada atividade ou resolver uma situação, de acordo com suas próprias habilidades.

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Gardner (1995) mapeou oito tipos de inteligência, os quais conside-rou importantes para o desempenho e o desenvolvimento do ser huma-no: a linguística, a lógico-matemática, a espacial, a corporal-cinestésica, a musical, a naturalista, a interpessoal e a intrapessoal. Cada uma delas apresenta algumas singularidades que devem ser ressaltadas e potencia-lizadas (ARMSTRONG, 2001, p. 14-15):

• Inteligência linguística – Capacidade de usar as palavras de forma efetiva, com coesão, coerência, seja no âmbito da orali-dade, seja no da escrita.

• Inteligência lógico-matemática – Capacidade de utilizar de forma efetiva os números e de fazer cálculos, utilizando um raciocínio lógico mais apurado.

• Inteligência espacial – Capacidade de perceber, com precisão, o mundo visuoespacial. O indivíduo que tem esse tipo de inte-ligência mais desenvolvido tem mais facilidade de representar graficamente ideias visuais ou espaciais e de se orientar.

• Inteligência corporal-cinestésica – Capacidade de utilizar o corpo para expressar ideias e sentimentos. Pessoas que têm essa inteligência mais desenvolvida normalmente apresentam habilidades físicas como coordenação, destreza, força, flexibi-lidade e velocidade.

• Inteligência musical – Capacidade de perceber, discriminar, transformar e expressar formas musicais. Os indivíduos com esse tipo de inteligência geralmente apresentam sensibilidade ao ritmo, ao tom, à melodia e ao timbre de uma peça musical.

• Inteligência naturalista – Capacidade de reconhecer e classi-ficar as numerosas espécies da flora e da fauna e os fenôme-nos naturais.

• Inteligência interpessoal – Capacidade de perceber e fazer dis-tinções de humor, intenções, motivações e sentimentos de outras pessoas, respondendo a esses sinais de forma pragmática, ou seja, influenciando as pessoas a seguirem certa linha de ação.

• Inteligência intrapessoal – Capacidade de autoconheci-mento, foco principal desta unidade. Segundo Gardner (apud ARMSTRONG, 2001, p. 15), ela é o autoconhecimento e a capacidade de agir adaptativamente com base nesse conheci-mento. Esse tipo de inteligência auxilia na formação da ima-gem que temos de nós mesmos – ou seja, de nossas próprias forças e limitações – e influi em nossa consciência de estados de humor, intenções, motivações, temperamento e desejos e na capacidade de autodisciplina, autoentendimento e autoestima.

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A teoria de Gardner permite que reconheçamos as habilidades e as capacidades de cada indivíduo. Quando identificamos qual das oito in-teligências a pessoa tem mais desenvolvida, podemos atribuir a ela tare-fas e responsabilidades compatíveis com suas habilidades, o que faz com que ela se sinta parte do ambiente em que está inserida e possa crescer tanto no âmbito profissional quanto no profissional.

Vejamos uma fala de Gardner (apud GOLEMAN, 2007, p. 65) sobre as inteligências:

Quando escrevi pela primeira vez sobre inteligências pessoais, eu estava falando de emoção, sobretudo em minha ideia da inteligência intrapessoal: um dos componentes é a sintonia emo-cional consigo mesmo. Os sinais de sentimento visceral que recebemos é que são essenciais para a inteligência interpessoal. Mas em seu desenvolvimento prático, a teoria da inteligência múl-tipla evoluiu e se concentrou mais na metacognição – ou seja, na consciência que se tem do próprio processo mental – do que em toda a gama de aptidões emocionais.

Antigamente as pessoas atribuíam a inteligência às boas notas na escola e à reprodução dos conteúdos transmitidos pelos professores. Quem apresentava esse perfil era considerado inteligente, pois o alu-no, visto apenas como receptor de informações, transmitia e reprodu-zia aquilo que o professor solicitava e não podia questionar tampouco discordar de determinadas informações repassadas pelos professores (ARMSTRONG, 2001, p. 13).

Com o advento da teoria das inteligências múltiplas, foi possível va-lorizar as pessoas em suas diversas habilidades, capacidades e compe-tências, e o aluno passou a questionar e a discutir os assuntos repassa-dos pelos professores, tornando-se coadjuvante no processo de ensino e aprendizagem, e não somente um expectador. Uma das inteligências pautadas nesse estudo é justamente a inteligência emocional, que está relacionada ao processo metacognitivo, uma vez que propicia a auto-análise de como a pessoa aprende, de quais são suas dificuldades e de como ela pode melhorar sua vida.

A inteligência emocional não está relacionada ao quociente de inte-ligência (QI), mas sim às habilidades e às competências específicas que são desenvolvidas e aprimoradas conforme as necessidades do indiví-duo. Sobre isso, Goleman (2007, p. 65) afirma que

Muitas pessoas com 160 de QI trabalham para outras com 100 de QI, caso as primeiras tenham baixa inteligência intrapessoal e as últimas, alta. E, no dia a dia, nenhuma inteligência é mais importante do que a intrapessoal. Se não há, faremos escolhas errôneas sobre quem desposar, que emprego arranjar e assim por diante. Precisamos treinar as crianças em inteligências intra-pessoais na escola.

Metacognição – refere-se ao conhecimento que alguém tem sobre os próprios processos e

produtos cognitivos ou qualquer outro assunto

relacionados a eles (PORTILHO, 2009,

p. 106).

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Estendendo essa linha de investigação, os psicólogos Peter Salovey e John Mayer (apud GOLEMAN, 2007, p. 66-67), que também estudam a teoria da inteligência emocional, elaboraram cinco domínios principais referentes a essa inteligência:

• Autoconsciência – Capacidade de conhecer as próprias emo-ções, de ter consciência de quem se é e dos próprios sentimentos. A capacidade de controlar os sentimentos é fundamental para o discernimento emocional e a autocompreensão.

• Autogerenciamento – Capacidade de gerenciar o próprio “eu”, isto é, os impulsos, os anseios e as emoções.

• Automotivação – Capacidade de reagir e persistir diante do fra-casso ou da dificuldade.

• Empatia – Capacidade de perceber e compreender o outro, de se por no lugar dele, ou seja, é a capacidade que se desenvolve na autoconsciência emocional.

• Habilidades sociais – Capacidade não somente de perceber o outro, mas também de saber lidar com as emoções e os senti-mentos dele.

Como o nosso cérebro é f lexível, ou seja, está apto a mudanças e à aprendizagem constante, pode desenvolver os cinco domínios da inteli-gência emocional, que geram maior conforto nas relações intrapessoal e interpessoal (SALOVEY; MAYER apud GOLEMAN, 2007).

Se observarmos as pessoas que estão ao nosso redor, verificaremos que elas se diferem em suas aptidões. Algumas podem ser hábeis em lidar com a ansiedade, mas terem dificuldade em administrar situações que precisem da colaboração dos outros, por exemplo. Isso ocorre por-que cada pessoa tem habilidades específicas, relacionadas ao seu “eu” interior, isto é, à percepção de si mesma.

Drucker (2002) afirma que as pessoas devem investir em seus pon-tos fortes – ou seja, as características preponderantes nos indivíduos –, que devem ser ressaltados tanto na vida pessoal quanto na profissional, obtendo, assim, uma vida mais saudável e significativa.

Para compreender melhor sobre o que Peter Drucker pontua sobre o gerenciamento de si mesmo, leia o artigo “Managing oneself: o sucesso na economia do conhecimento vem para aqueles que conhecem a si mesmo — seus pontos fortes, seus valores e como eles se desempenham melhor”, de autoria do próprio Drucker. Originalmente publicado na revista Harvard Business Review, o artigo auxilia o leitor a fazer uma autoanálise de seus pontos fortes, de seu desempenho, de seus valores, entre outros fatores que possibilitam o auto-conhecimento, a percepção de si e maneiras adequadas de lidar com situações em sua vida. Disponível em: <http://www.unicap.br/marina/siproprio.html>.

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Para que as pessoas tenham uma vida mais saudável, elas precisam reconhecer suas capacidades. Cada indivíduo tem suas características, habilidades e capacidades e, conforme afirmam Sternberg e Grigorenko (2003, p. 20), “as pessoas plenamente inteligentes sabem o que fazem bem e aproveitam isso ao máximo”. Assim, para que possamos desenvolver e aproveitar ao máximo nossas habilidades, precisamos compreender o que é inteligência plena. De acordo com Sternberg e Grigorenko (2003, p. 21),

Inteligência plena é o conjunto integrado de capacidades necessárias para o indivíduo obter sucesso na vida, independentemente de como o defina, em seu contexto sociocultural. As pessoas são plenamente inteligentes quando reconhecem as suas forças e aproveitam-nas ao máximo, ao mesmo tempo em que reconhecem suas fraquezas e descobrem maneiras de corrigi--las ou de compensá-las. As pessoas plenamente inteligentes se adaptam, modificam e selecio-nam ambientes por meio do emprego equilibrado das capacidades analíticas, criativas e práticas. Capacidade analítica = é usada quando a pessoa analisa, avalia, compara ou contrasta;capacidade criativa = é utilizada quando a pessoa cria, inventa ou descobre;capacidade prática = é empregada quando a pessoa coloca em prática, aplica ou usa aquilo que aprendeu.

Como dissemos anteriormente, os seres humanos têm diferentes ha-bilidades, sabem fazer algo para obter resultados estimados. A habilida-de é “uma avaliação geral de tudo o que um indivíduo pode fazer, como jogar futebol, tocar piano, dançar, falar em público e fazer cálculos matemáticos” (ROBBINS, 2010, p. 49). Segundo Robbins (2010), as ha- Segundo Robbins (2010), as ha-bilidades podem ser classificadas em intelectuais e físicas. As habilida-des intelectuais estão ligadas ao desenvolvimento de atividades men-tais, como a reflexão, o raciocínio e a resolução de problemas. Elas são caracterizadas em sete dimensões: aptidão para números, compreensão verbal, velocidade da percepção, raciocínio indutivo, raciocínio deduti-vo, visualização espacial e memória. Geralmente, os indivíduos que têm esses tipos de habilidade são pessoas com mais capacidade de atenção e concentração para a realização de suas atividades (ROBBINS, 2010).

No Quadro 1, há a descrição de cada uma dessas aptidões e exem-plos de como elas podem ser utilizadas.

Dimensão Descrição Exemplo funcional

Aptidão numérica Habilidade para fazer cálculos aritméticos rápidos e precisos.

Contador: calcular o imposto sobre vendas de uma série de itens.

Compreensão verbal Habilidade para entender o que é lido ou ouvido e como é a relação entre as palavras.

Gerente de fábrica: seguir as políticas da organização para contratação de pessoal.

(continua)

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Dimensão Descrição Exemplo funcional

Rapidez perceptual

Habilidade para identificar semelhanças e diferenças vi-suais de maneira rápida e precisa.

Investigador de incêndios: iden-tificar pistas de um incêndio criminoso.

Raciocínio indutivoHabilidade para identificar uma sequência lógica em um proble-ma e, em seguida, resolvê-lo.

Pesquisador de mercado: fazer a previsão da demanda de um produto para um período futuro.

Raciocínio dedutivo Habilidade para usar a lógica e avaliar as implicações de um argumento.

Supervisor: escolher entre duas sugestões feitas por funcio-nários.

Visualização espacial Habilidade para imaginar como um objeto ficaria se sua posição no espaço fosse modificada.

Decorador de interiores: remo-delar um escritório.

Memória Habilidade para reter e evocar experiências passadas.

Vendedor: lembrar o nome dos clientes.

FONTE: ROBBINS, 2010, p. 49.

Quadro 1 – Dimensões da habilidade intelectual

As habilidades físicas estão ligadas à força corporal do indivíduo e demandam resistência, agilidade, entre outras características. Essas ha-bilidades são caracterizadas por nove fatores, explicitados no Quadro 2.

Fatores de força

1. Força dinâmica Habilidade para exercer força muscular repetida ou conti-nuamente por um dado período.

2. Força no troncoHabilidade para exercer força muscular usando os múscu-los do tronco (especialmente os abdominais).

3. Força estáticaHabilidade para exercer força muscular sobre objetos externos.

4. Força explosivaHabilidade para gastar o máximo de energia em uma série de ações explosivas.

Fatores de flexibilidade

5. Flexibilidade de extensãoHabilidade para estender ao máximo os músculos do tronco e das costas.

6. Flexibilidade dinâmicaHabilidade para realizar movimentos de flexão rápida e repetidamente.

(continua)

(conclusão)

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Outros fatores

7. Coordenação motoraHabilidade para coordenar movimentos simultâneos de diferentes partes do corpo.

8. Equilíbrio Habilidade de manter o equilíbrio em meio a forças deses-tabilizadoras.

9. ResistênciaHabilidade de manter o esforço máximo durante longos períodos.

FONTE: ROBBINS, 2010, p. 52.

Quadro 2 – Os noves fatores que caracterizam as habilidades físicas

As habilidades físicas e intelectuais podem ser desenvolvidas ao longo da vida, pois podem ser aprendidas e potencializadas. Enquanto essas habilidades são algo que um indivíduo pode fazer, a personali dade é a soma total das maneiras como uma pessoa reage e interage com as demais (ALLPORT apud ROBBINS, 2010, p. 127). De acordo com Wagner e Holilnbeck (2009, p. 41), existem cinco dimensões da persona-lidade, as quais são apresentadas no Quadro 3.

Dimensões Características

Extroversão Sociável, gregário (vive em grupo), decidido, falante, expressivo.

Ajustamento emocional Emocionalmente estável, não deprimido, tranquilo, satisfeito.

Afabilidade (simpatia)Cordial, confiante, de boa índole, tolerante, colaborador, complacente.

Senso de responsabilidadeDigno de confiança, organizado, perseverante, íntegro, empreendedor.

Interesse Curioso, imaginativo, criativo, sensível, aberto, brincalhão.FONTE: Adaptado de WAGNER; HOLILNBECK, 2009, p. 41.

Quadro 3 – Cinco dimensões da personalidade

Essas características específicas da personalidade, explicitadas no Quadro 3, foram pontuadas com base em avaliações científicas da per-sonalidade (WAGNER; HOLILNBECK, 2009). Essas dimensões, por-tanto, são classificadas de acordo com estudos realizados em contextos organizacionais, na intenção de verificar as atitudes das pessoas no dia a dia. Assim, se utilizarmos o Quadro 3 como base, podemos afirmar que uma pessoa que se enquadre na dimensão “extroversão” posiciona--se de forma mais comunicativa e mais expressiva em suas atitudes e ações. Portanto, as dimensões classificadas são compatíveis com as ca-racterísticas de cada indivíduo e diagnosticadas conforme as atitudes e os comportamentos de cada um.

(conclusão)

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A inteligência emocional é uma característica importante para o desenvolvimento global do ser humano. Ela apresenta alguns domínios básicos necessários para o indivíduo. Quais deles você considera mais importantes? Por quê?

O poder da mente humanaQuando lemos ou ouvimos a expressão “o poder da mente humana”,

logo pensamos na importância da mente para o desenvolvimento do ser humano. De acordo com Goleman (2007, p. 37), o ser humano é provi-do de duas mentes: a que raciocina e a que sente. A mente racional é o modo de compreensão, da consciência, da razão, do ponderamento e da reflexão. Já a mente que sente, ou seja, a mente emocional é aquela que reflete as emoções, excluindo a reflexão deliberada e analítica que faz parte da mente racional.

A mente emocional toma decisões mais rapidamente que a mente racional, pois não analisa e reflete sobre determinada situação; ela age por impulsos.

As ações desencadeadas pela mente emocional carregam uma forte sensação de certeza, que é um subproduto de um tipo de comportamento bastante simplificado, de encarar determinadas coisas que, para a mente racional, são intrigantes. Quando a poeira assenta, ou mesmo durante a reação, aí pensamos: “por que fiz isso?” – este é o sinal de que a mente racional percebeu o que aconteceu, mas não com a habilidade da mente emocional. (GOLEMAN, 2007, p. 305)

Esse modo de percepção perde em precisão para ganhar em rapidez. A vantagem da mente emocional é a capacidade que ela tem para captar rapidamente uma emoção, quer de tristeza, de felicidade, de fúria, entre outras.

Para compreendermos melhor a reação da mente humana, é neces-sário distinguir o que é afeto, emoção e sentimento. Segundo Robbins (2010, p. 93), o afeto abrange as sensações e envolve tanto as emoções quanto os sentimentos. Já as emoções são intensas e estão relacionadas a alguma pessoa ou algum objeto/alguma situação. As emoções são de-monstradas por reações fisiológicas – como o choro, o grito, a alteração dos batimentos cardíacos, o suor intenso – e, por mais que sejam inten-sas, essas reações passam rapidamente. Os sentimentos podem ser cha-mados também de estados de humor ou ânimos e são menos intensos que as emoções; além disso, a duração deles é mais prolongada.

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Nossas reações ao longo da vida são determinadas pelo afeto, pelos sentimentos e pelas emoções. Como esses três elementos se encontram presentes em sua vida? Até que ponto eles influenciam o seu comportamento?

Teoria da motivação humanaA realidade interna do indivíduo, com suas representações, seus va-

lores e seus princípios, influi diretamente na realidade externa, isto é, nos desejos, nas vontades, nas necessidades e nas deficiências. Todo ser humano tem necessidades que são importantes para seu próprio desen-volvimento, seja na vida pessoal, profissional ou social, as quais advêm de uma motivação interna para atingir algum objetivo ou meta. A moti-vação é o processo responsável pela intensidade, pela direção e pela per-sistência dos esforços de uma pessoa para alcançar determinada meta (ROBBINS, 2010). Conforme explica Robbins (2010, p. 197), a intensi-dade refere-se a quanto esforço a pessoa despende e é o elemento ao qual a maioria dos indivíduos se refere quando se fala de motivação. Desse modo, explica o autor, é necessário que tenhamos uma direção, um foco para atingir nossos objetivos, além de persistência. Os indivíduos mo-nossos objetivos, além de persistência. Os indivíduos mo-tivados se mantêm na realização da tarefa até que seus objetivos sejam atingidos (ROBBINS, 2010, p. 197).

França (2006) explica que as pessoas têm necessidades que, quando se manifestam, podem levar a tensões, que são direcionadas para um estímulo ou uma ação no intuito de atender a tais necessidades latentes. Além disso, a autora afirma que as necessidades são individuais e acon-tecem em conformidade com o contexto na qual estão inseridas. Dessa forma, as pessoas desenvolvem forças motivacionais que as levam tomar decisões direcionadas à satisfação dessas necessidades.

As necessidades são processos pessoais e internos, muitas vezes subjetivos, que impulsionam o comportamento humano. Elas surgem em uma situação específica e levam as pessoas a ações direcionadas à satisfação dessas necessidades, no ambiente externo, formando, assim, o ciclo da motivação. (FRANÇA, 2006, p. 23-24)

França (2006) divide o ciclo motivacional da seguinte maneira:

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2. Tensão

4. Ação

1. Necessidades 3. Estímulo

FONTE: FRANÇA, 2006, p. 23.

Figura 1 – Ciclo motivacional

O ciclo motivacional, portanto, inicia com a necessidade de o ser humano querer suprir, aliviar, sustentar algo em sua vida. Maslow (1954, apud MOSCOVICI, 2002, p. 76-77), em seu livro A teoria da motivação humana, analisa que, à medida que o homem satisfaz suas necessidades básicas (comer, dormir, respirar etc.), outras mais complexas, como sa-tisfazer sua autoestima e realizar-se profissionalmente, tomam o predo-mínio do comportamento.

Segundo Maslow (apud MOSCOVICI, 2002), dentro de cada ser hu-mano existe uma hierarquia de necessidades que devem ser supridas, conforme a motivação de cada pessoa. O estudioso classifica a motiva-ção em dois tipos: de deficiência e de crescimento.

A motivação de deficiência está relacionada às carências afetivas, emocionais e fisiológicas, que precisam ser preenchidas por estímulos externos aos indivíduos e por outras pessoas. Aqueles que apresentam esse tipo de motivação têm necessidade de serem bem vistos pelos ou-êm necessidade de serem bem vistos pelos ou-m necessidade de serem bem vistos pelos ou-tros, de “chamar a atenção” dos demais para se sentirem protegidos, seguros e importantes, de forma a satisfazer seu lado emocional e, con-sequentemente, auxiliar na preservação da saúde física e mental.

A motivação de crescimento é a metamotivação do ser humano, não somente pelas necessidades básicas, mas, sobretudo, por necessi-dades referentes a seu próprio desenvolvimento, às suas habilidades, às suas capacidades e à sua criatividade. As pessoas que conseguem transpor essa motivação são “menos ciumentas, menos exigentes, mas autônomas, desinteressadas, altruístas, estimulantes e autênticas” (MOSCOVICI, 2002, p. 84).

A metamotivação pode ser definida como as intenções conscientes (metas) de uma pessoa, consideradas os principais determinantes da motivação relacionada à tarefa, pois as metas dirigem as ações e os pensamentos (BOWDITCH; BUONO, 2011, p. 48).

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Moscovici (2002) afirma que o maior desafio da motivação é a libe-ração das energias das potencialidades para a autorrealização, o cres-cimento como pessoa, a individualização e a integridade do ser. Ainda de acordo com a autora, a motivação é um processo incessante, cuja direção é satisfatória e um fim em si mesma.

A satisfação significa aumento de tensão, e a própria atividade é agradável, sendo apreciada aqui e agora sem a sensação de meio para um fim, ou mera preparação para o futuro. Mas essa espécie de motivação só pode ser desenvolvida a partir da satisfação razoável das necessidades básicas ou de deficiência, que passam a construir, assim, um pré-requisito para a motivação de cresci-mento ou de abundância. O conceito de motivação baseia-se em pessoas sadias, que vivem com satisfação, que acham que vale a pena viver, apesar das dificuldades, problemas e frustrações inevitáveis. Esta é uma abordagem positiva da vida e que caracteriza as pessoas empreendedo-ras, que agem, fazem, lutam, vencem, sofrem, sentem satisfações e insatisfações como parte integrante de um processo global que é vivenciado plenamente. (MOSCOVICI, 2002, p. 84)

A motivação, portanto, surge de uma necessidade básica do indiví-duo, a qual é responsável pela própria sobrevivência deste, como comer e beber água. Suprida essa necessidade, o indivíduo começa a ter outras, relacionadas a seu eu, como ser aceito na família, ser um funcionário exemplar etc.

O Quadro 4 elucida os dois tipos de motivação que pontuamos anteriormente.

ASPECTOS MOTIVAÇÃO

De deficiência De crescimento

Atitude em relação ao impulso

Rejeição (tensão desagradável)

Aceitação (tensão agradável)

Efeitos de satisfaçãoRedução de tensão, restau-ração do equilíbrio

Manutenção da tensão, interesse intensificado

Efeitos clínicos e persono-lógicos da satisfação

Evitar doenças, defesa e preservação do eu

Saúde positiva, esforço para crescimento e realiza-ção plena do eu

Espécies de prazerAlívio, saciedade, relaxa-mento (prazer inferior)

Êxtase, serenidade, criação, insight (prazer superior)

Tipos de metasDe espécie (compartilhada por todos)

Idiossincráticas (individua-lizadas)

Metas alcançáveisEpisódicas, ascendentes, até um clímax

Desenvolvimento contínuo, progressão, carência inter-minável

(continua)

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ASPECTOS MOTIVAÇÃO

De deficiência De crescimento

Relações com o ambienteMaior dependência (fontes externas de satisfação)

Maior independência (fontes internas de satisfação)

Relações interpessoaisInteressadas (pessoas como instrumentos)

Desinteressadas (pessoas como pessoas)

Percepção centralAvaliativa (objetos por satisfação)

Não avaliativa (Taoísta)

Orientação geralEgocentrismo (para satisfa-ção de carências)

Egotranscendência (para individualização e os proble-mas do mundo)

AmorInteressado, possessivo, mais meio do que fim, ansioso e hostil (“fome de amor”)

Desinteressado, não posses-sivo, mais fim do que meio (experiência culminante)

FONTE: MOSCOVICI, 2002, p. 84.

Quadro 4 – Comparação entre características motivacionais de deficiência e de crescimento

Porém, por mais que se realizem todas as necessidades, o ser humano só fica satisfeito até determinado ponto. Depois, surgem outras necessi-dades e não se consegue alcançar por completo um estado de satisfação.

Maslow (apud FRANÇA, 2006, p. 25) discorre sobre as motivações e classifica as necessidades humanas em cinco tipos: fisiológicas (bási-cas) – consideradas essenciais para a sobrevivência do ser humano, como a água, o repouso, a alimentação e o sexo; de segurança – proteção con-tra o perigo, a privação etc.; afetivo-sociais – amizade, inclusão em gru-pos etc.; de estima – autoconfiança, respeito próprio, autonomia etc.; e de autorrealização – realização do potencial, utilização plena dos talentos in-dividuais etc. A hierarquia dessas necessidades pode ser vista na Figura 2.

Autorrealização

Reconhecimento

Associação

Segurança

Básicas

FONTE: FRANÇA, 2006, p. 25.

Figura 2 – Hierarquia das necessidades humanas (Pirâmide de Maslow)

(conclusão)

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Dentre as necessidades destacadas por Maslow, a autorrealização se encontra no ápice da pirâmide e abrange a autoestima, que é uma das necessidades mais importantes do ser humano, pois significa a estima que cada pessoa tem de si mesma. Para Branden (1996, p. 38), “a autoes-tima é uma necessidade que tem participação essencial no processo da vida; é indispensável ao desenvolvimento normal e saudável e tem valor de sobrevivência”.

Ainda de acordo com Branden (1996, p. 41), a necessidade de auto-estima é resultante de dois fatores básicos, intrínsecos à nossa espécie.

1. Para dominarmos e sobrevivermos de forma satisfatória no meio em que estamos inseridos, precisamos saber utilizar de forma apro-priada nossa consciência, pois nosso bem-estar depende de nossa capacidade de pensar.

2. Como o uso correto de nossa consciência não é algo automático, para regular sua atividade há um elemento fundamental: responsa-bilidade pessoal.

Isso significa que autoestima é mais do que a sensação de “sentir-se bem consigo mesmo”. Afinal, esse sentimento pode ser obtido de várias formas: relações amorosas, aquisição de objetos de consumo, elogios etc.

Nossas escolhas têm enorme influência em nossa vida pelo fato de impactarem particularmente em nossa autoestima. Quando fazemos o “certo”, automaticamente elevamos nossa autoestima e ficamos sacia-dos e satisfeitos; caso contrário, há frustração. Contudo, não é porque acreditamos que determinada decisão seja a mais adequada para certo de tipo de situação, mesmo sabendo que ela não seja a mais apropria-da pelos padrões éticos e morais, que nossa consciência fará com que tenhamos a sensação de satisfação da necessidade de autoestima. Isso ocorre devido à consciência moral que cada um tem.

A autoestima baixa reduz nossa resiliência perante as dificuldades da vida, e, em qualquer situação desagradável que aconteça, sentimo--nos impotentes e incapazes de resolvê-la. De acordo com David e Ribas (2012, p. 15), a resiliência pode ser definida como a

tolerância emocional que um indivíduo tem em relação a determinada situação que acontece em sua vida, sem se deixar abalar de maneira desesperadora, ou seja, enfrenta a situação, procura resolvê-la e superá-la de maneira harmônica e natural. A terminologia vem da física e é aplicada a determinados componentes que se alteram depois de uma temperatura, mas que em seguida voltam ao seu estado normal. Podemos exemplificar a capacidade de resiliência com um elástico, quando este atinge o máximo de sua elasticidade sem arrebentar e depois, quando solto, volta ao seu estado anterior.

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Muitas vezes, para manter superficialmente nossa autoestima, escon-demos nossas emoções, reprimindo-as e sufocando-as para que o mundo a nosso redor não as perceba. Assim, tornamo-nos pessoas frustradas, que vivem apenas com a falsa sensação de saciedade momentânea. É o que geralmente ocorre com pessoas que têm um desejo profissional e optam por outro apenas para poderem ser aceitas na família ou em gru-pos sociais, levando em consideração o meio externo; essas são pessoas comumente depressivas e estressadas (BRANDEN, 1996, p. 44).

A base da autorrealização está em fortalecer a autoestima, ou seja, em perceber que o que fazemos e os caminhos que seguimos se adéquam a nossa percepção de mundo e a nossa consciência da realidade e da moral. “As pessoas com autoestima elevada certamente podem ser derrubadas por um excesso de problemas, mas são rápidas em recuperar-se” (BRANDEN,1996, p. 39).

Esta unidade procurou abordar as questões pertinentes do ser hu-mano, no que se refere ao seu “eu”, à sua capacidade de olhar para si e de perceber até onde pode chegar na vida pessoal e profissional, dependendo de seu grau de autoconhecimento. As pessoas precisam co-As pessoas precisam co-nhecer a si mesmas para compreenderem os outros, além de suas pró-prias atitudes e ações.

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