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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO A PERCEPÇÃO DOS DOCENTES NA CONTRIBUIÇÃO DO ENSINO DA GEOGRAFIA: A AULA DE CAMPO COMO MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA CLÉZIA AQUINO DE BRAGA 1 FRANCISCO KENNEDY DOS SANTOS 2 MARLENE MACARIO OLIVEIRA 3 RESUMO O presente artigo propõe analisar os saberes docentes sobre a aula de campo enquanto mediação pedagógica e a sua práxis no curso de Licenciatura em Geografia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco - Campus Recife. Neste sentido, com ênfase na pesquisa-ação, percorre-se uma abordagem colaborativa qualitativa do Ensino e no ensino de Geografia. Uma das questões principais deste estudo refere-se à indagação de fatores influentes às racionalidades e saberes que envolvem a prática de ensino em campo. Os resultados preliminares da pesquisa que se encontra em andamento mostrou que os professores não estão preocupados apenas em gerar produtos como artigos e relatórios, mas se preocuparam em avaliar a proposta de trabalho no sentido de refletir quanto à sua prática pedagógica. Palavras-chave: Geografia. Aula de campo. Racionalidades. Saberes. Ensino. ABSTRACT Abstract the present article proposes to analyze the teaching knowledge about the field class while teaching mediation and its praxis in the course of degree in Geography from the Federal Institute of education, science and technology of Pernambuco-Recife Campus. In this sense, with an emphasis on action research, runs through a collaborative approach of the education and teaching qualitative geography. One of the main issues of this study refers to the answer of influential factors to the rationalities and knowledge involving the practice of teaching in the field. Preliminary results of the research in progress showed that teachers are not concerned only on generating products such as articles and reports, but bother to assess the job offer in order to reflect about their pedagogical practice. Keywords: geography. Field class. Rationalities. Knowledge. Teaching. 1. Introdução 1 Mestranda do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco. E-mail de contato: [email protected]. 2 Docente e pesquisador do Programa de Pós-graduação em Geografia - PPGEO do DCG/UFPE e do Laboratório de Ensino de Geografia e Profissionalização Docente (LEGEP/UFPE). Líder do Grupo de Pesquisa Educação Geográfica, Cultura Escolar e Inovação (GPECI/CNPQ/UFPE). Email de contato: [email protected] 3 Doutoranda do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco. E-mail de contato: [email protected].

A PERCEPÇÃO DOS DOCENTES NA CONTRIBUIÇÃO DO ENSINO DA GEOGRAFIA: A AULA ... · educacionais em sua constituição e adoção, nesse sentido, as diferentes atribuições curriculares

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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

A PERCEPÇÃO DOS DOCENTES NA CONTRIBUIÇÃO DO ENSINO

DA GEOGRAFIA: A AULA DE CAMPO COMO MEDIAÇÃO

PEDAGÓGICA

CLÉZIA AQUINO DE BRAGA1

FRANCISCO KENNEDY DOS SANTOS2

MARLENE MACARIO OLIVEIRA3

RESUMO O presente artigo propõe analisar os saberes docentes sobre a aula de campo enquanto mediação pedagógica e a sua práxis no curso de Licenciatura em Geografia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco - Campus Recife. Neste sentido, com ênfase na pesquisa-ação, percorre-se uma abordagem colaborativa qualitativa do Ensino e no ensino de Geografia. Uma das questões principais deste estudo refere-se à indagação de fatores influentes às racionalidades e saberes que envolvem a prática de ensino em campo. Os resultados preliminares da pesquisa que se encontra em andamento mostrou que os professores não estão preocupados apenas em gerar produtos como artigos e relatórios, mas se preocuparam em avaliar a proposta de trabalho no sentido de refletir quanto à sua prática pedagógica. Palavras-chave: Geografia. Aula de campo. Racionalidades. Saberes. Ensino.

ABSTRACT

Abstract the present article proposes to analyze the teaching knowledge about the field class while teaching mediation and its praxis in the course of degree in Geography from the Federal Institute of education, science and technology of Pernambuco-Recife Campus. In this sense, with an emphasis on action research, runs through a collaborative approach of the education and teaching qualitative geography. One of the main issues of this study refers to the answer of influential factors to the rationalities and knowledge involving the practice of teaching in the field. Preliminary results of the research in progress showed that teachers are not concerned only on generating products such as articles and reports, but bother to assess the job offer in order to reflect about their pedagogical practice. Keywords: geography. Field class. Rationalities. Knowledge. Teaching.

1. Introdução

1 Mestranda do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco.

E-mail de contato: [email protected]. 2 Docente e pesquisador do Programa de Pós-graduação em Geografia - PPGEO do DCG/UFPE e do

Laboratório de Ensino de Geografia e Profissionalização Docente (LEGEP/UFPE). Líder do Grupo de Pesquisa Educação Geográfica, Cultura Escolar e Inovação (GPECI/CNPQ/UFPE). Email de contato: [email protected] 3 Doutoranda do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco.

E-mail de contato: [email protected].

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Fazer uma reflexão teórico-metodológica sobre a aula de campo na

contemporaneidade e importância desta na produção do conhecimento geográfico,

eis o desafio a que nos propomos neste artigo. Trata-se de nortear a reflexão

baseada, sobretudo, na articulação mediática entre conceitos, teorias e

procedimentos metodológicos.

Vários autores têm, atualmente, abordado este tema em produções de

artigos, orientações de dissertações, realização de pesquisas e teses. (Os estudos

desenvolvidos por Viadana (2005), Cavalcante, B. (2012), Callai (2011), Castellar

(2010), Serpa (2006), Pontuschka (2009),

a discussão contemporânea sobre conteúdos de ensino beneficia-se de reflexões, debates e produções sobre currículos escolares e sobre os condicionantes históricos, políticos, econômicos, sociais, culturais e educacionais em sua constituição e adoção, nesse sentido, as diferentes atribuições curriculares que se referem ao conteúdo, à metodologia, à avaliação, à organização e à inovação do/no ensino assumido pelos agentes de sua implementação: o Estado, as comunidades, a escola e o professor (PONTUSCHKA, 2009, p 62).

Mediante as observações colocadas por Pontuschka (2009) é interessante

repensar as mudanças rápidas e que afetam a percepção do docente no mundo

social, demandando uma modificação do método de explicação para toda uma gama

de fenômenos sociais, dentre outros, para aqueles ligados à abordagem da aula de

campo conduzida pela Geografia na academia.

Segundo Serpa (2006) existe uma especificidade disciplinar na discussão

aqui proposta, própria à Geografia, as diversas possibilidades de recortar, analisar e

conceituar o espaço de acordo com as sugestões, metas e objetivos definidos pelos

sujeitos da pesquisa.

O trabalho de campo é um instrumento chave para superação dessas

ambiguidades, não priorizando nem a analise dos chamados fatores naturais, e

fatores humanos. Segundo o autor “O trabalho de campo em Geografia deve

perseguir a ideia de particularidade na totalidade, abandonando a ideia de

singularidade de lugares, cidades, bairros ou regiões” (IBID, 2006,p.?). A

centralidade da ação pedagógica da Geografia é exatamente onde ela se posiciona.

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Quando estamos na sala de aula o mundo dos estudantes com o ensino não é

aquele do livro didático produzido em lugares longínquos e sim a geografia dos

bairros, as comunidades com seus hábitos, identidades, as brigas de bairros, moda,

musicalidade. É importante acima de tudo, a compreensão de que o padrão técnico

entre os grupos aparece em cada lugar de forma distinta.

Ao longo dos tempos ocorreram transformações significativas na humanidade,

seja do ponto de vista social, econômico ou político e consequentemente no mundo

científico afetando diretamente todo o conhecimento. As novas tecnologias

acompanhadas de novas teorias e novas maneiras de interpretar e compreender o

espaço geográfico mundial fomentaram mudanças irreversíveis, o que impactou de

forma relevante a política educacional no mundo.

Considerando, então, o movimento próprio da Geografia e suas interrelações

com a Geografia acadêmica e seus desdobramentos e intenções no ensino da

ciência com a tríade ensino-pesquisa-extensão, a aula de campo na sua forma e

essência é um método fundamental dentro do planejamento do ensino de Geografia

ou na pesquisa de campo propriamente dita, “nesta ação de caráter educacional, na

forma óbvia os lugares de visitação devem ser previamente selecionados pelo

professor com devida preparação dos acadêmicos participantes”(VIADANA, 2011,

p.9).

A aula de campo é importante porque é uma metodologia de ampliação do

conhecimento fazendo uso de recursos tecnológicos, novas habilidades e

competências articuladas com os conceitos estruturantes da Geografia, e

consequentemente atitudes diferentes por parte dos professores e estudantes

permitindo aos sujeitos uma nova concepção do cotidiano e o processo de formação

contínua.

O objetivo deste trabalho é analisar a prática docente a respeito da aula de

campo e seu uso como mediação pedagógica no curso de Licenciatura em

Geografia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco –

Campus Recife. Neste sentido analisar-se-á o projeto sobre a aula de campo como

mediação pedagógica no Ensino de Geografia, assim como os formadores

(professores), a conjuntura socioeconômica das reformas curriculares resultado das

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mudanças ocorridas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB Lei

n. 93394/96, que propõe ao curso de Graduação – Licenciatura inserir profissionais

no mercado de trabalho com conhecimento geográfico necessário e capazes de

ensinar em consonância com a realidade. Sendo assim, a pesquisa se baseia numa

abordagem qualitativa, pesquisa do tipo ação sem participação do pesquisador e

tem como desdobramento o processo formativo e a compreensão da epistemologia

da prática.

O profissional envolvido com os trabalhos da Geográfica em sala de aula

entende que, ao se identificar com o seu lugar no mundo, ou seja, o espaço de sua

vida cotidiana, os estudantes podem estabelecer impasses, comparações,

contradições de modo que estarão prontos para enfrentar desafios de ordem local e

global estabelecido pela globalização da contingência.

Ao enfatizarmos a concepção de pesquisa-ação no ensino de Geografia,

precisamente nas práticas pedagógicas em aulas de campo, nos aproximamos de

Ibiapina (2008). Essa prática faz com que os professores agucem sua percepção

geográfica e se percebam como sujeitos possuidores e produtores de conhecimento

e de suas práticas, assim como pessoas capazes de refletirem e intervirem em suas

próprias ações educativas.

A aplicação do método colaborativo, a reflexão sistemática na e sobre a

prática docente assume papel de destaque, todavia este processo reflexivo não é

concebido apenas de modo individual e particular. Os professores inseridos no

contexto de pesquisadores-colaboradores em espaços organizados e planejados

são incentivados através do diálogo com outros pares a expressarem suas

experiências e saberes, realizando sobre eles exercícios intensos de descrição,

interpretação, análise e reconstrução que os levam a perceberem-se como gestores

de suas atitudes profissionais.

Diante da revolução da informação e da comunicação podemos afirmar que o

educando do século XX terá na Geografia importante fonte para sua formação como

sujeito que trabalha com novas ideias e interpretações em escalas onde o local e o

global definem-se numa verdadeira rede que comunica pessoas, funções, palavras,

ideias. Assim compreendida sua importância, ou seja, transformar possibilidades em

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potencialidades (re) criando novas relações sociais da Didática do professor de

Geografia no sentido de selecionar os conteúdos e criar situações que possibilite

articular o saber geográfico entre teoria e prática.

A necessidade do professor pensar automaticamente e organizar seu

conhecimento para executar seu trabalho têm muito haver com a formação que

possui e a postura pedagógica que adota, dado que “o processo de formação de

professores visa ao desenvolvimento de uma competência crítica reflexiva que lhes

forneça meios de pensamento autônomo que facilite as dinâmicas de formação”

(CAVALCANTI, 2002, p.21).

Baseado nessas reflexões é que se propõe relatar uma experiência de aula

de campo observação in loco, envolvendo as disciplinas de Geomorfologia,

Biogeografia, Pedologia e Climatologia.

2. A aula de campo: procedimentos didático-pedagógicos

A proposta da aula de campo se dividiu em três momentos: 1. Um momento

em sala de aula com o levantamento bibliográfico e a explicação das teorias

referentes ao componente curricular a ser trabalhado em sala e em campo. Em

sala de aula foi ensinado aos estudantes técnicas de Geoprocessamento e

cartografia que embasariam o processo de formação docente nas práticas

pedagógicas em campo bem como explicações, discussões e exercícios acerca

das atividades mais específica das características geoambientais das áreas

visitadas e a aplicação de novas tecnologias como GPS, cartas, mapas e mapas

mentais. Nesta se expõe o conhecimento didático do conteúdo entre o componente

curricular de Geomorfologia, cartografia e a pedagogia.

2. No segundo momento ocorreu a troca de saberes dos conhecimentos

específicos Pimenta (2002), os professores de Geomorfologia, Biogeografia e

Climatologia discutiram e constituíram através do recurso cartográfico o trajeto da

viagem (cidades). 3. No terceiro momento os professores movidos pela

intencionalidade da integração dos saberes trocaram experiências dos locais a

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serem visitados, debateram os textos, por último enviaram o material didático e

solicitaram o diário de bordo para os estudantes.

As práticas pedagógicas ministradas pelos professores e a ida a campo

possibilita interrelacionar conteúdos de sala de aula as práticas espaciais e

favorece a construção do conhecimento em caráter interdisciplinar através da

concretização das experiências que promoveram a observação, percepção,

contato, registro, descrição, representação, análise e reflexão crítica de uma dada

realidade bem como a elaboração conceitual de um processo intelectual.

Os estudantes ainda não conheciam os locais, o que foi um elemento de

descoberta, visto que o aporte teórico selecionado pelos professores pôde contribuir

com várias inquietações em confronto com a realidade empírica. Os estudantes

foram orientados a confeccionar material didático através de acervo fotográfico e

mapas. Podemos identificar através da linguagem cartográfica o roteiro da viagem

(FIGURA 1).

FIGURA 1 – Roteiro de aula de campo, percorrendo, dentre outras cidades,

Recife (PE), Souza (PB), Teresina (PI), Ubajara (CE) e Fortaleza (CE) Fonte: Google Maps, 2014.

No decorrer do trajeto os professores orientavam para o uso do caderno de

bordo e a elaboração de mapas mentais de alguns recortes da viagem como as

localidades de Patos (PB) e Ceará (CE). Seguindo a linha de raciocínio de

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Cavalcanti (1998), e os Parâmetros Curriculares de Ensino (PCNs), a Geografia

deve trabalhar o espaço com suas diversidades construindo e propiciando temáticas

em que o tempo social e o tempo natural possam ser compreendidos em suas

especificidades, subjetividades e contextualizações.

O local é uma das principais categorias da Geografia e com base nesse

conceito os professores estimularam os estudantes do 5º período (noturna) alguns já

inseridos em Programas de Iniciação Científica como PIBID, PIBIC, monitorias e

outros com a concepção de exercer a atividade docente contribuíram de forma

relevante com a construção de saberes usando como instrumento dessa construção

os mapas mentais. Assim, os autores (estudantes) apresentaram paisagens e

abordagens distintas, como a representação da área de transição do Estado do

Ceará (FIGURA 2) Enquanto, num outro momento são relacionados aspectos

econômicos da produção em paisagem de plena caatinga no Estado da Paraíba

(FIGURA 3).

FIGURA 2 – Área de Transição Mata dos Cocais Nordeste

Fonte: Souza, A. Novembro 2014. Estudante do 5º período do curso de Licenciatura em Geografia

Mapa mental elaborado no percurso da viagem.

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FIGURA 3 – Aspectos econômicos da produção em paisagem de plena caatinga no Estado da

Paraíba. Fonte: Pereira, F. 2014. Novembro 2014. Estudante do 5º período do curso de Licenciatura em Geografia

Mapa mental elaborado no percurso da viagem.

3. Racionalidades: Reflexões da Prática Docente

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As atividades foram organizadas com perspicácia prática e

sistematizadas de modo que identificássemos os professores as influências

das racionalidades e saberes da experiência. Assim, a percepção espacial

dos professores no que diz respeito à aula de campo é que os estudantes

incorporam distintos conhecimentos da realidade que os cerca, ampliando

seus conhecimentos de forma direta, através da experiência vivida. A aula

de campo favorece o espírito de síntese, permite aos futuros professores

aprender a observar, a descobrir, a aprimorar a percepção da paisagem e

estimula novas habilidades e competências diante da natureza e das obras

humanas.

Portanto, ao tratarmos dos domínios dos saberes, compreendemos que não é

só aplicá-los de maneira linear e mecanicista em situações que contemplam o

cotidiano, mas compreendê-lo e refletir quais racionalidades implicam esses

saberes, para que na aplicação, haja sentido e coerência com a realidade. O desafio

está no embate da mediação entre a Geografia acadêmica e o saber escolar

(ensinado) dado que “a racionalidade pedagógica do formador de professor

manifesta uma concepção de trabalho docente e uma teoria da educação que

expressa um modelo de Sociedade” (CARVALHO, 2007, p. 59).

Iniciaremos nossa discussão pautada na racionalidade instrumental e

posteriormente discorremos a racionalidade pedagógica prático-reflexiva. Para

Schon (2000) aprender na prática significa reconhecer novos métodos e novas

categorias.

Segundo Santos (2011) a racionalidade instrumental tem suas raízes na

tradição positivista. Ela tem sido predominantemente na cultura escolar do último

século e suas influências tem sido visíveis no âmbito da estrutura organizacional da

escola, do ensino e da pesquisa. Por ela somos praticamente educados, tanto no

âmbito da formação escolar e acadêmica, quanto política e culturalmente. O

professor é visto como teórico que deve aprender conhecimentos e desenvolver

competências e atitudes adequadas a sua intervenção prática apoiados no

conhecimento que os cientistas básicos e aplicados elaboram, ou seja, dominam as

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intervenções e dinâmicas técnicas. Estamos num terreno de controvérsias e conflitos

entre a significação que os docentes atribuem a sua prática, os significados vigentes

e as novas exigências.

A racionalidade prática reflexiva exige dos formadores de docentes

sensibilidade, capacidade de decisão, reflexão da práxis, domínio do conhecimento,

habilidade, criatividade e dedicação profissional para conduzir os sujeitos a uma

nova concepção do ensino. No interior dessa racionalidade o olhar do ensino é visto

de forma dinâmica e imprevisível e não algo pronto, acabado. O método dessa

racionalidade exige do professor deliberações. A racionalidade reflexiva é abordada

por Pimenta e Anastasiou (2002), pelo enfoque Hermenêutico ou reflexivo.

Cunha (1998) enfoca o professor como ator principal da pesquisa porque é

ele que define e concretiza as práticas pedagógicas e apresenta forte relação de

poder na estrutura acadêmica. Ao analisar o saber agir dos professores, buscou- se

compreender as mediações que tornam certos anunciados possíveis de serem

observados durante a aula de campo. Nesse momento foi possível constatar que há

complexas relações em que diferentes racionalidades e percepções estão

entrecruzadas. Meu interesse aqui é, então, apresentar como os professores desta

Instituição de ensino (IFPE) estão lidando com o movimento de profissionalização

docente e como veem mediando o conjunto de saberes na curso de formação de

professores.

O professor ministrando aula em campo deve aventa-se a um planejamento

minucioso tratando as teorias debatidas em sala de aula, deve atentar-se para as

percepções dos estudantes sobre as diferentes paisagens acerca dos processos das

diferentes propostas e olhares, enfim, aos desafios encontrados no percurso de suas

ações de ensino no sentido de propiciar/formar a autonomia dos futuros professores,

a liberdade pedagógica.

No contexto da aula de campo os professores apresentaram dualidades seja

pelas prescrições normativas e disciplinares do currículo, seja na flexibilidade

didático-pedagógica manifestada por traços das racionalidades técnicas, mas,

também se observou em suas práticas pedagógicas a presença das racionalidades

reflexivas. Neste sentido os professores realizarem discussões sobre os aspectos

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sociais, naturais, econômicos, dialogando, trocando experiências com os estudantes

e colegas, num contexto interdisciplinar, posto que os saberes dos professores com

diferentes níveis de experiência no magistério fez-se a base para a formação do

futuro docente, concomitantemente, numa práxis repetitiva, mas com elementos

inovadores (críticos/reflexivos). Nota-se uma convivência de elementos de natureza

de racionalidades técnica, e pedagógica/ reflexiva. Nessa relação há resignificação

de elementos na aula de campo com acréscimos de mudanças nas percepções

sobre os conhecimentos científicos, escolares, do senso comum, da pesquisa e dos

próprios saberes da didática no ensino de Geografia e no ensino superior.

4. Considerações Finais

A aula de campo tem se constituído como importante princípio formativo e

vem ganhando espaço nos cursos de licenciatura em Geografia minimizando o

embate entre a Geografia acadêmica e a Geografia escolar e as ambiguidades

típicas da ciência em tela. Contudo, a aula de campo tem sido pensada e executada

sistematicamente pelos professores do IFPE Campus Recife como metodologia de

ensino que se norteia por um planejamento prévio e interdisciplinar que considera

como caráter relevante o momento da preparação teórica com os estudantes e

professores. É importante destacar a inserção de diretrizes no sentido do que

observar em campo e como observar, do que descrever e do que analisar na área

de estudo. Além disso, o grupo tem avaliado não apenas o produto (relatório, artigo),

mas, sobretudo os processos, ou seja, as ações que se estabeleceram neste

contexto. O interessante é a preocupação em avaliar o desenvolvimento da proposta

no sentido de refletir acerca de sua função pedagógica.

A partir dos relatos percebeu-se que os estudantes estão sendo formados

numa concepção pedagógica em que ensino-pesquisa é indissociável e que a

prática viabiliza o contato da realidade de forma mais atrativa, prazerosa, inovadora

e criativa no sentido de propiciar a observação direta dos fenômenos ambientais e

ampliando o conhecimento por meio da investigação científica, maior nível de

detalhes sobre determinado lugar e também o prazer por ensinar-aprender.

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Nesse sentido, os professores que participaram da aula de campo foram

observados nos critérios de integração, das racionalidades, dos saberes e do

envolvimento com o grupo nas atividades, desde as discussões teóricas em

reuniões aos estudos em campo.

Referências

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