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A PÉROLA NEGRA - feblivraria.com.br · oferece um resumo do Brasil abolicionista, citando impor-tantes fi guras do movimento que culminou com o episódio de 13 de maio de 1888

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A PÉROLA NEGRA

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BEZERRA DE MENEZESsob o pseudônimo MAX

Publicado originalmente em Reformador (1901-1905)

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A PÉROLANEGRA

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Coleção Bezerra de Menezes

1 Evangelho do futuro • romance

2 A casa assombrada • romance

3 Lázaro, o leproso • romance

4 A Pérola Negra • romance

5 História de um sonho • romance

6 Casamento e mortalha • romance inacabado

7 Os carneiros de Panúrgio • romance

8 Uma carta de Bezerra de Menezes • estudo

9 A loucura sob novo prisma • estudo

1o Espiritismo: estudos filosóficos, 3 volumes • estudo1

supervisão: Geraldo Campetti

coordenação editorial: Jorge Brito

COLABORADORES

Ariane Emílio Kloth

Beatriz Lopes de Andrade

Délio Nunes dos Santos

Luciana Araújo Reis

Marta Dolabela de Lima

Odélia França Noleto

Raphael Spode

Renato Cunha

Rubem Amaral Júnior

Wilde Batista Valério

1 Esta edição terá 168 novos estudos não incluídos na edição da FEB de 1907. O material dos três volumes, localizado por meio de pesquisa na Biblioteca da FEB e em jornais da época, totaliza 484 estudos.

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SUMÁRIO

A Pérola Negra .................................................................................. 11

Capítulo I ............................................................................................13

Capítulo II .........................................................................................20

Capítulo III ........................................................................................ 25

Capítulo IV ..........................................................................................31

Capítulo V ..........................................................................................38

Capítulo VI ........................................................................................ 42

Capítulo VII ....................................................................................... 46

Capítulo VIII .......................................................................................51

Capítulo IX ........................................................................................ 55

Capítulo X .......................................................................................... 62

Capítulo XI ........................................................................................ 70

Capítulo XII ........................................................................................77

Capítulo XIII ..................................................................................... 83

Capítulo XIV .......................................................................................90

Capítulo XV ....................................................................................... 97

Capítulo XVI .................................................................................... 103

Capítulo XVII .................................................................................. 109

Capítulo XVIII ................................................................................... 114

Capítulo XIX .................................................................................... 120

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Capítulo XX ......................................................................................126

Capítulo XXI ..................................................................................... 131

Capítulo XXII ...................................................................................138

Capítulo XXIII ...................................................................................146

Capítulo XXIV ...................................................................................155

Capítulo XXV ....................................................................................163

Capítulo XXVI ................................................................................. 168

Capítulo XXVII .................................................................................178

Capítulo XXVIII .............................................................................. 186

Capítulo XXIX ...................................................................................194

Capítulo XXX ..................................................................................202

Capítulo XXXI .................................................................................. 211

Capítulo XXXII .................................................................................219

Capítulo XXXIII ............................................................................... 224

Capítulo XXXIV ...............................................................................228

Capítulo XXXV ................................................................................. 236

Capítulo XXXVI .............................................................................. 245

Capítulo XXXVII ..............................................................................251

Capítulo XXXVIII ............................................................................ 256

Capítulo XXXIX .............................................................................. 263

Capítulo XL ...................................................................................... 270

Capítulo XLI .................................................................................... 278

Capítulo XLII ................................................................................... 285

Capítulo XLIII ................................................................................. 294

Capítulo XLIV ..................................................................................300

Capítulo XLV ...................................................................................306

Capítulo XLVI ...................................................................................312

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Capítulo XLVII .................................................................................321

Capítulo XLVIII ............................................................................... 327

Capítulo XLIX ................................................................................. 333

Capítulo L ........................................................................................ 339

Capítulo LI ....................................................................................... 349

Capítulo LII ..................................................................................... 355

Capítulo LIII .................................................................................... 367

Apontamentos biobibliográficos — Adolfo Bezerra de Menezes .... 375

Bibliografia — Ordem cronológica crescente ..................................381

Nota explicativa ...............................................................................389

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A PÉROLA NEGRA

Fruto da imaginação fecunda do Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, sob o pseudônimo Max, este magnífi co ro-

mance de caráter abolicionista e repleto de ensinamentos doutrinários narra a saga de Honorina, conhecida como a Pérola Negra, escrava evoluída, reencarnacionista e resig-nada com sua dura expiação.

Ambientado em grande parte no território cearense, mas também no Amazonas e no Pará, a história tem ainda como personagens, José Gomes, sua esposa D. Felícia e o fi lho Tancredo, além de José Faustino de Queiroz, sua mu-lher D. Tereza, sua fi lha Nhazinha e o namorado Francisco Correia, o Chiquinho, envolvidos em aventuras entre os indígenas do Pará, fugas e rebeliões de escravos, desajus-tes de ordem fi nanceira, separações em família, problemas conjugais etc.

Em todo o livro, estão presentes assuntos como vida após a morte, vingança, perdão, amor, egoísmo, causas an-teriores do sofrimento, valor da prece, leis de causa e efeito e outros.

No enredo, a fi cção se funde à realidade: ao fi nal, o autor oferece um resumo do Brasil abolicionista, citando impor-tantes fi guras do movimento que culminou com o episódio de 13 de maio de 1888.

Bezerra, participante ativo da campanha do abolicio-nismo, já havia tratado do assunto em jornais do Rio de Janeiro, e especialmente no opúsculo A Escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para extingui-la

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A P é r o l a N e g r a

sem dano para a nação, publicado em 1869 no Rio de Janeiro pela Tip-Progresso.

O manuscrito de A Pérola Negra, entregue à Federação Espírita Brasileira (FEB) pela família do Dr. Bezerra de Menezes, foi impresso originalmente em Reformador nos anos de 1901 a 1905, em folhetins, totalizando 53 capítulos.

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C A P Í T U L O

IÀ s margens do rio Banabuiú,2 no sertão do Ceará, e no

ponto em que o cruza a estrada do Riacho do Sangue,3 em Quixeramobim, via-se, no alto de uma colina, que do-mina toda a planície até o rio, uma casa rebocada de barro por dentro e por fora, como é de uso naquelas paragens.

Um bosque de paus brancos, dos quais se elevavam gi-gantescas aroeiras, formava, em torno daquela habitação, uma cortina em forma de semicírculo, cuja corda era o Banabuiú.

Ruído das cachoeiras pela frente, harmoniosos cantos de miríades de passarinhos pelos fundos.

Era uma noite de inverno, em que a natureza, cansada de uma esterilidade de seis meses, parecia querer desfor-rar-se, alagando os campos com as águas retidas em seu infi nito seio.

Roncava medonha trovoada — umas após outras rom-piam as trevas do espaço serpes de luz suspensas entre o céu e a terra.

2 De acordo com o historiador cearense Tomáz Pompeu de Souza Brasil, banabuiú signifi ca “Rio que tem muitas voltas”: “bana” — que torce, vol-teia; “bui”— muito, com excesso; e “u”— água, rio. Outra defi nição, diz que banabuiú é o pantanal ou vale das borboletas.3 N.E.: Riacho do Sangue, terra natal do autor, atual Jaguaretama, mu-nicípio cearense fundado em 1879.

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A P é r o l a N e g r a

Quadro sublime, que enchia de pavor e entusiasmo a alma de quantos o contemplavam!

Naquela região do Brasil, frequentemente batida pelas secas, a chuva é verdadeiro maná do céu, que dá vida e ga-rante a fortuna, consistente em gado de criação.

É, com efeito, de compungir os mais empedernidos co-rações, o quadro lutuoso de uma seca, que força a emigra-ção em massa dos habitantes dos sertões, reduzidos à falta absoluta de alimentos.

Felizmente, no ano a que se refere esta sucinta narração, Deus poupou à boa gente tão duras aflições, enviando-lhe, sob a forma de chuva, o que já designamos pelo nome de maná do céu.

A chuva, pois, comove a alma do sertanejo, não só por lhe ser a condição de felicidade, como por ser quase uma novidade, em razão de não cair gota d’água do céu durante seis, sete a oito meses por ano.

Aqui, onde reina uma eterna primavera, onde chove, quase constantemente, de janeiro a dezembro, ninguém presta atenção ao esplêndido fenômeno, porque o hábito embota a sensação.

Lá, porém, a primeira nuvem carregada de vapores que assoma no horizonte fala tão vivamente ao coração que de rocha será a alma que negue ações de graças e hinos de re-conhecimento ao Pai de misericórdia.

É, pois, bem verdade que, no campo, a criatura vive em mais estreitas relações com o Criador!

Se, porém, a chuva desperta as mais gratas emoções, as convulsões da natureza, que a acompanham, conturbam a alma e fazem-na crer na cólera do Senhor.

Roncava, pois, medonha trovoada, e os relâmpagos, como fitas de fogo, dissipavam a escuridão, permitindo intercadentemente ver ao longe, cerca de duzentas braças,

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C a p í t u l o I

a branca espuma que, em sua raiva, por não poder sair do fundo leito, produzia o Banabuiú.

Na casa do alto da colina dava-se, àquela hora, duplo e oposto espetáculo.

Uma mulher e um homem, envoltos em cobertores de lã, oravam no salão, a julgar pelo constante movimento de lábios.

Sempre que o estampido dos trovões reboava-lhes aos ouvidos, ouvia-se o mesmo grito, arrancado pelo terror:

— Santa Bárbara!Na cozinha, porém, os escravos regalavam-se de liber-

dade por saberem que seus senhores não tinham àquela hora nem olhos, nem ouvidos; estavam semimortos.

Riam e folgavam desenfreadamente!Dir-se-ia que aquelas criaturas não percebiam as terrí-

veis convulsões da natureza, ou que não tinham sentimen-tos humanos, nem mesmo animais.

É que o homem, misto de matéria e de espírito, é mais matéria ou mais espírito segundo sua posição na escala do progresso — o meio em que vive — a educação que recebeu — e as circunstâncias que atuam sobre ele.

Ao branco de certa ordem tudo favorece no sentido de desmaterializar-se.

Ao preto, especialmente se é escravo, tudo se opõe ao desenvolvimento do espírito, moral e intelectualmente.4

Na casa onde nos achamos encontraremos exemplos de que há exceções a esta regra, de que há brancos que são

4 Ideia vigente na época, que o próprio autor contesta a seguir: “há bran-cos que são puros animais, e há pretos que não se chafurdam no meio crapuloso”.

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A P é r o l a N e g r a

puros animais, e há pretos que não se chafurdam no meio crapuloso de sua raça.

O capitão José Bento5 e a D. Maria Felícia, donos da casa, podiam fazer liga por serem gênios completamente desiguais.

A mulher, apesar de sofrivelmente feia, era toda espi-nhosa para quem se lhe aproximava; tratava os escravos pior que a cães, e ao próprio marido, se não o maltratava, como lhe pedia o coração, era porque subjugava-a a supe-rioridade moral daquele homem, mas assim mesmo fingia faniquitos para incomodá-lo.

Era feia e má, dupla exceção à regra de serem sempre amáveis as mulheres pouco favorecidas pela natureza.

O marido sofria todos os seus arrebites com evangéli-ca resignação, porque era naturalmente paciente e porque, apesar de tudo, amava-a muito.

Tinha-a na conta de infeliz; e eis por que votava amor a uma víbora.

Como prendeu-se aquele bom coração a tão ruim criatu-ra, é o que diremos em poucas palavras.

Em primeiro lugar, a moça solteira possui a ciência de apresentar-se, física e moralmente, muito diversa do que realmente é.

Não tem dentes? Arma-se de uma dentadura postiça que mete inveja a quem a tem natural.

Não tem cabelos? Arranja uns crescentes que lhe dão bastas tranças de lhe caírem pelas costas.

É sardenta? Recorre no leite antifélico de Gandu, que possui a sublime propriedade de apagar-lhe a mazela.

É coxa? Faz público que sofre de reumatismo, e por esse modo bem simples engana até a médicos.

5 José Gomes é o nome correto do personagem e é escrito desta forma, durante todo o romance.

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C a p í t u l o I

O dentista, o cabeleireiro, o perfumista e o médico são seus padroeiros para o arranjo do casamento, que lhe é — que é para todas as moças — a suprema aspiração nesta vida.

Quem poderá escapar a tão sutil ciência, por mais esper-to que presuma ser?

Uma qualquer destas — e seja dito em abono ao sexo: nem todas são cultoras da mirífica ciência —, uma destas encontra um rapaz, desprevenido e ignorante da coisa, faz--se de alfenim para ele, e por aí chega ao ponto final da história de todos os tempos e de todos os lugares.

Na luta subterrânea entre a boa-fé e o ardil, fácil é pre-ver qual vencerá.

O melro cai desastradamente na armadilha e, quando abre os olhos, acha-se como um manequim de carne e osso, belo enquanto está armado, mas hediondo desde que se apresenta sem artifícios.

O que fazer senão empregar também a ciência da simu-lação: fingir-se contente, para evitar a zombaria?

Desde que é seu aquele traste, seu amor-próprio obriga-o a encobrir-lhe as avarias.

Todos procedem assim, e, pois, triunfa sempre o ardil.Houvesse um, um só, que castigasse a protérvia, obri-

gando a ardilosa a apresentar-se ao natural e “livre seria o mundo e os séculos vingados”.

Moralmente, temos a reprodução da cena.Só um Champollion será capaz de decifrar os hieróglifos

do coração de uma moça, candidata ao casamento.A orgulhosa apresenta-se grave com dignidade, simu-

lando elevação de espírito.A avarenta aparenta liberalidade, para se lhe atribuir

grandeza da alma.A colérica, meu Deus! Tem um coração de pomba.

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A P é r o l a N e g r a

A gulosa é, em público, um passarinho, mas desforra-se na despensa e na cozinha.

A preguiçosa acorda com os passarinhos, trabalha a mor-rer, pensando sempre em vingar-se quando tiver sua casa.

Em segundo lugar, a borboleta que esvoaça em torno des-sas flores tem a cabeça incendiada: só vê graças e encantos.

“Credulidade em nós — astúcia nelas.”Foi por um daqueles desfiladeiros que rolou José Gomes.Num baile, em Quixeramobim, encontrou D. Maria

Felícia, e achou-a tão bela que não perdeu tempo em pro-curar conhecer-lhe as qualidades.

Era ele um moço criterioso, mas são esses os que caem mais facilmente.

Quantos são os que encaram o casamento com a pru-dência que requer o laço que prende por toda a vida!

Escolhe-se o companheiro de viagem, mas o que sê-lo-á por toda a vida, o alter ego6 do lar, o que tem de ser o es-teio, o anjo da família, bem poucos escolhem com o preciso critério.

Também as raparigas tiveram a habilidade de incutir, como verdade absoluta, no ânimo dos rapazes o rifão, a que deram o valor de axioma: quem pensa não casa.

E os néscios acreditaram mesmo que é preciso não pen-sar para se poder casar!

Cada um adorna a dama de seus amores com as qua-lidades do seu ideal, e atira-se para o pé do altar como a mariposa para as chamas.

Quantas vezes pagam caro semelhante obcecação!Quantos encontram o fel onde contavam encontrar o

favo de dulcíssimo mel!

6 Literalmente, “meu outro eu”, pessoa que é exatamente o mesmo que eu.

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C a p í t u l o I

Moços, o casamento não é somente a união de dois cor-pos, para satisfação dos instintos da matéria, mas sim, e principalmente, a ligação de dois espíritos, em puro amor, como se combinam, no íris, as cores naturais.

Moças, o casamento é a pedra angular do edifício em que Deus depositou o germe da única felicidade que nos é dada fruir na Terra: o doce aconchego do lar.

Se há um passo, na vida, que requeira prudência e estu-do atento, é este, que decide o futuro do casal.

A felicidade dos cônjuges depende da uniformidade de seus sentimentos, que devem ser previamente conhecidos.

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