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A PERSPECTIVA ESTRATÉGICA DA PETROBRAS COMO EMPRESA DE PETRÓLEO: João Luis Ferreira Caetano Victor Hugo Fontes dos Santos Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Adriano Proença, Ph.D. Rio de Janeiro Agosto de 2019 UMA ANÁLISE CRÍTICA DO PLANO DE NEGÓCIOS E GESTÃO 2019-2023

A PERSPECTIVA ESTRATÉGICA DA PETROBRAS ......caso: o PNG Petrobras 2019-2023 4. Análise Crítica do PNG 2019-2013 5. Considerações finais. I. Proença, Adriano II. Universidade

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A PERSPECTIVA ESTRATÉGICA DA PETROBRAS COMO EMPRESA DE PETRÓLEO:

João Luis Ferreira Caetano

Victor Hugo Fontes dos Santos

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia de Produção da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do título de

Engenheiro.

Orientador: Adriano Proença, Ph.D.

Rio de Janeiro

Agosto de 2019

UMA ANÁLISE CRÍTICA DO PLANO DE NEGÓCIOS E GESTÃO 2019-2023

iii

Caetano, João Luis Ferreira

Dos Santos, Victor Hugo Fontes

A perspectiva estratégica da Petrobras como empresa de petróleo:

uma análise crítica do Plano de Negócios e Gestão 2019-2023 – Rio

de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2019.

XI, 135 p.: il.: 29,7 cm

Orientador: Adriano Proença, D. Sc.

Projeto de Graduação – UFRJ/Escola Politécnica/Curso de

Engenharia de Produção, 2019.

Referências Bibliográficas: p. 124-135

1. Estratégia Corporativa 2. O Setor de Petróleo 3. Estudo de

caso: o PNG Petrobras 2019-2023 4. Análise Crítica do PNG 2019-

2013 5. Considerações finais.

I. Proença, Adriano II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,

UFRJ, Curso de Engenharia de Produção III. A Perspectiva

Estratégica da Petrobras como empresa de petróleo

iv

AGRADECIMENTOS

JOÃO CAETANO

Cheguei ao Rio de Janeiro em março de 2013 e, ao longo de seis anos e meio de

formação, colecionei um sem número de pessoas especiais pelas quais tenho uma dívida

prazerosa de gratidão.

Primeiramente, sou grato ao meu pai por ter confiado na loucura de um recém adulto de

se mudar para uma cidade onde jamais havia ido, e ter me dado o suporte necessário para me

manter aqui. À minha mãe, sou grato não só pelo sustento material, mas também pelo sustento

espiritual, que se mostrou mais necessário e mais rico de uns anos para cá. Não há palavras para

expressar o quão incrível é essa mulher.

Agradeço também aos companheiros de jornada, nomeadamente Guilherme, Gabriel,

Felipe, Vitor e Guilherme novamente, e, com igual carinho, agradeço aos queridos Lior, Dudu

e Schlee, que se juntaram ao grupo ao longo dos semestres. A vocês, sou grato sim por todos

os trabalhos, Simonis, noites viradas e períodos atrasados, mas o sou ainda mais pelo

acolhimento que me deram, independente da visão de mundo que eu tinha à época. Tenham

certeza que vocês têm uma parcela grande de participação na formação de quem me tornei.

Gratidão também devo a todos os amigos que fiz durante 2 anos França, em especial por

Felipe, Lucas, Sebastián, Andrea, Marco e Lorenzo. Ainda que estejamos espalhados em cantos

diferentes do mundo, carrego comigo todas as histórias, risadas e momentos partilhados. Eu

nunca pensei que seria possível fazer verdadeiros amigos durante um espaço tão curto de tempo,

mas vocês me provaram o contrário.

Finalmente, no que tange esse período final de formação, agradeço ao Victor Hugo,

minha dupla, que compartilhou comigo tanto a carga de fazer esse trabalho, quanto sonhos e

interesses profissionais. Agradeço também ao professor Adriano, que nos acompanhou nessa

jornada desde quando esse projeto era somente uma ideia, até tomar seu formato final.

A todas essas pessoas, e às demais que tiveram sua parcela na minha formação até a

obtenção do título de Engenheiro de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e

pela École des Mines de Saint-Étienne, meus sinceros agradecimentos. Espero fazer jus a tudo

o que vocês me proporcionaram.

v

AGRADECIMENTOS

VICTOR HUGO

Oportuna a inclusão de uma página de agradecimentos nesse projeto de graduação, pois

quando penso nos últimos 5 anos e meio que passei na UFRJ (e um pouco em Bolonha), a

principal ideia que vem na minha cabeça é essa: gratidão. Gratidão pela oportunidade de

aprender tanto, viver tanto, e encontrar pessoas as quais admiro e levarei para o resto da minha

vida.

Aos amigos feitos durante essa caminhada, meu muito obrigado pelo companheirismo

de sempre, e principalmente por estarem sempre buscando aproveitar ao máximo todas as

oportunidades de nos desenvolvermos. Em especial, gostaria de agradecer aos que estiveram

comigo desde o início - Nicole, Vítor, João Victor, Lorrayna, Marianna e Luiz Eduardo - e aos

que se embarcaram comigo na construção do UFRJ Consulting Club, foi um período incrível

da minha faculdade - Victor, Lucas, Fernanda, Tito e Pedro.

Aos professores, meu agradecimento pelos desafios propostos em cada prova e trabalho,

desde o primeiro período. Foram eles que me formaram e me fizeram evoluir constantemente.

Particularmente, gostaria de agradecer ao João, minha dupla nesse projeto, pelas nossas

discussões, muitas vezes em loop, e por todo o suporte nos momentos que precisei; ao nosso

orientador, Prof. Adriano, que nos guiou com excelência durante esse complexo trabalho; e à

banca examinadora, pelo interesse no nosso projeto e no tema que colocamos em questão.

Por último, e talvez o mais importante, não posso deixar de agradecer à minha família

por todo o suporte incondicional, não apenas durante a universidade, mas em toda a trajetória

que me trouxe até aqui. Sem eles, nada disso seria possível.

vi

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

A PERSPECTIVA ESTRATÉGICA DA PETROBRAS COMO EMPRESA DE PETRÓLEO: UMA

ANÁLISE CRÍTICA DO PLANO DE NEGÓCIOS E GESTÃO 2019-2023

João Luis Ferreira Caetano

Victor Hugo Fontes dos Santos

Julho/2019

Orientador: Adriano Proença

Curso: Engenharia de Produção

Em um contexto de mudanças e incertezas quanto ao futuro da indústria do petróleo, a Petrobras

apresentou o plano de negócios para os anos de 2019 a 2023, que indica mudanças relevantes

da sua estratégia enquanto corporação integrada de petróleo. No documento, ela escolheu como

diretriz a exploração e produção de petróleo, com foco no pré-sal, realizando desinvestimentos

de outras atividades, como o refino, a distribuição de combustíveis e a produção de petróleo em

outras regiões. A partir de uma perspectiva técnica e econômica, este trabalho pretende

examinar criticamente as escolhas feitas no âmbito corporativo pela maior empresa brasileira

em valor de mercado. A análise utiliza como base os conceitos do campo de estudo da estratégia

corporativa, apresentados em revisão de literatura, o contexto global em que a Petrobras está

inserida, e a situação atual da empresa no mercado brasileiro.

Palavras-chave: Estratégia Corporativa, Petróleo, Petrobras

vii

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Industrial Engineer.

THE STRATEGIC PERSPECTIVE OF PETROBRAS AS AN ENTERPRISE: A CRITICAL

ANALYSIS OF THE MANAGEMENT AND BUSINESS PLAN 2019-2023

João Luis Ferreira Caetano

Victor Hugo Fontes dos Santos

July/2019

Advisor: Adriano Proença

Course: Industrial Engineering

In a context of changes and uncertainty regarding the future of the oil industry, Petrobras

presented a business plan that indicates relevant changes in its strategy as an integrated

corporation of the oil chain. In this document, it made clear its choice to focus on oil exploration

and production, specially at the pre-salt basin, while divesting from other activities such as

refining, fuel distribution and crude oil production at other locations than the pre-salt. From a

technical and economical perspective, this project intends to examine critically the choices at

the corporate level made by the largest Brazilian company in market value. This analysis uses

as basis the concepts of the corporate strategy field of study, presented in literature review, the

global context of which Petrobras is part, and the current situation of the company in the

Brazilian market.

Keywords: Corporate Strategy, Oil, Petrobras

viii

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1

1.1. MOTIVAÇÃO .................................................................................................. 1

1.2. OBJETIVOS DO PROJETO ............................................................................ 2

1.2.1. Gerais ......................................................................................................... 2

1.2.2. Específicos ................................................................................................. 3

1.3. METODOLOGIA ............................................................................................. 4

1.4. ESTRUTURA ................................................................................................... 5

1.5. LIMITAÇÕES .................................................................................................. 6

2. ESTRATÉGIA CORPORATIVA ..................................................................................... 8

2.1. CONCEITOS GERAIS ..................................................................................... 8

2.2. ESTRATÉGIA CORPORATIVA .................................................................. 11

2.2.1. As dimensões da estratégia corporativa ................................................... 13

2.2.2. A gestão de portfólio ................................................................................ 15

2.2.3. Competências essenciais .......................................................................... 18

2.2.4. O papel das atividades .............................................................................. 21

2.2.5. Gestão corporativa: controle, coordenação e vantagem corporativa ....... 22

3. O SETOR DE PETRÓLEO ............................................................................................ 28

3.1. FATORES DE MERCADO ........................................................................... 28

3.1.1. Dinâmica de preços .................................................................................. 28

3.1.2. Fatores de Demanda ................................................................................. 29

3.1.3. Fatores de Oferta ...................................................................................... 33

3.2. CADEIA DE VALOR .................................................................................... 37

3.2.1. Exploração e Produção (E&P) ................................................................. 38

3.2.2. Logística de Transporte ............................................................................ 41

3.2.3. Refino ....................................................................................................... 41

3.2.4. Distribuição e Comercialização ............................................................... 45

ix

3.3. CENÁRIO COMPETITIVO ........................................................................... 47

3.3.1. Natureza da competição ........................................................................... 47

3.3.2. Principais Players .................................................................................... 48

3.3.3. Tendências do setor .................................................................................. 51

4. ESTUDO DE CASO: O PNG PETROBRAS 2019-2023 .............................................. 57

4.1. HISTÓRICO ................................................................................................... 57

4.1.1. Criação da empresa e primeiras operações .............................................. 57

4.1.2. Exploração offshore e crises do petróleo ................................................. 58

4.1.3. Mudanças regulatórias de 1997 ................................................................ 59

4.1.4. Descoberta do pré-sal e mudanças regulatória ......................................... 60

4.1.5. Crise recente (2010-2016) ........................................................................ 64

4.1.6. Nova política de preços e greve dos caminhoneiros ................................ 68

4.2. CONTEXTO ATUAL .................................................................................... 69

4.2.1. Visão geral e estrutura .............................................................................. 69

4.2.2. Resultados gerais ...................................................................................... 72

4.2.3. Visão por Unidades de Negócio ............................................................... 75

4.3. ESTRATÉGIA ANUNCIADA ....................................................................... 89

4.3.1. Plano de Negócios e Gestão 2019-2023 (PNG 2019-2023) .................... 89

4.3.2. Movimentos recentes ............................................................................... 97

5. ANÁLISE CRÍTICA DO PNG 2019-2023..................................................................... 99

5.1. DISCUSSÃO ESTRATÉGICA ...................................................................... 99

5.1.1. A lógica de maximização da rentabilidade .............................................. 99

5.1.2. A questão da “vantagem corporativa” ................................................... 105

5.2. INCERTEZAS E RISCOS ............................................................................ 116

5.3. DESDOBRAMENTOS DO PNG ................................................................. 119

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 122

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 125

x

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Colagem de 6 manchetes de veículos de mídia que abordam decisões estratégicas da

Petrobras nos últimos 6 meses. Da esquerda para a direita e de cima para baixo: Valor

Econômico, Revista Exame, Poder 360, Carta Capital, G1 e Veja. ........................................... 2

Figura 2: Ilustração das dimensões da estratégia corporativa. ................................................. 13

Figura 3: Matriz BCG ............................................................................................................... 16

Figura 4: Matriz GE-McKinsey ................................................................................................ 17

Figura 5: Framework VRIO. .................................................................................................... 19

Figura 6: Hierarquia dos recursos a competências essenciais. ................................................. 20

Figura 7: Árvore das competências essenciais. ........................................................................ 21

Figura 8: Papel das competências essenciais na garantia de vantagem competitiva. ............... 22

Figura 9: O triângulo da estratégia corporativa ........................................................................ 23

Figura 10: Modelos de gestão corporativa. .............................................................................. 25

Figura 11: Demanda primária do petróleo por setor................................................................. 30

Figura 12: Cenários de oferta e demanda de petróleo. ............................................................. 31

Figura 13: Crescimento da demanda primária por energia....................................................... 32

Figura 14: Consumo por fonte de energia. ............................................................................... 33

Figura 15: Produção mundial e reservas comprovadas de petróleo (1998-2018) .................... 35

Figura 16: Localização das reservas mundiais de petróleo comprovadas em 2017. ................ 36

Figura 17: Localização das reservas de petróleo do Oriente Médio em 2017. ......................... 36

Figura 18: Preços do petróleo e eventos históricos. ................................................................. 37

Figura 19: Campos de extração de petróleo onshore - Punjtan Energy (à esquerda) - e offshore

- Petrobras -à direita. ................................................................................................................ 39

Figura 20: Refinaria da Lukoil na Rússia. ................................................................................ 42

Figura 21: Composição do preço da gasolina (à esquerda) e diesel (à direita) na bomba no Brasil.

.................................................................................................................................................. 46

Figura 22: Majors do petróleo mundial. ................................................................................... 49

Figura 23: Algumas das maiores NOCs pelo mundo. .............................................................. 49

Figura 24: Camadas para exploração de petróleo do pré-sal. ................................................... 61

Figura 25: Explicação da cláusula de cessão onerosa do pré-sal ............................................. 63

Figura 26:Valor das ações da Petrobras entre 2010 e 2016. ..................................................... 64

xi

Figura 27: Comparação de valor das ações da Petrobras, Shell e ExxonMobil entre 2010 e 2016.

.................................................................................................................................................. 65

Figura 28: Etapas do ciclo de destruição de valor da Petrobras (2010-2015). ......................... 66

Figura 29: Composição acionária da Petrobras ........................................................................ 70

Figura 30: Alguns resultados financeiros da Petrobras de 2016 a 2018 ................................... 75

Figura 31: Setores de atuação da Petrobras .............................................................................. 75

Figura 32: Evolução de indicadores da produção de petróleo no pré-sal ................................. 77

Figura 33: Participação das importações no mercado interno de derivados. ............................ 83

Figura 34: Participação de mercado da BR Distribuidora. ....................................................... 88

Figura 35: Distribuição do CAPEX da Petrobras entre as frentes de atuação. ......................... 93

Figura 36: Detalhamento do investimento em E&P para o período de 2019 a 2023. .............. 94

Figura 37: Fontes e usos dos recursos financeiros para o período de 2019 a 2023. ................. 95

Figura 38: Competências críticas mapeadas no PNG 2019-2023. ........................................... 96

Figura 39: Reprise: Triângulo da estratégia corporativa. ....................................................... 112

Figura 40: Previsões do PNG para os anos 2019-2023. ......................................................... 118

xii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Níveis de estratégia e definições de diferentes autores. ............................................. 9

Tabela 2: Alavancagem financeira de sete empresas de petróleo (1º tri/2019) ........................ 73

Tabela 3: Características das refinarias da Petrobras. .............................................................. 80

Tabela 4: Estratégia deliberada da Petrobras por setor e corporação. ...................................... 91

Tabela 5: Comparação entre as 3 etapas principais da cadeia do petróleo. ............................ 106

Tabela 6: Análise simplificada de portfólio da Petrobras ...................................................... 115

1

1. INTRODUÇÃO

1.1. MOTIVAÇÃO

A estratégia é um campo de estudo milenar. Ela perpassa os mais diferentes setores de

atuação (militar, econômico, geopolítico etc.), influenciando o cotidiano da sociedade de uma

maneira por vezes ignorada.

No contexto organizacional, a estratégia é essencial para a sobrevivência das

organizações, sendo condicionada tanto pelo mercado em que a empresa está inserida quanto

pelas suas competências e capacitações. Há uma gama de variáveis que individual e

coletivamente podem alterar o curso da existência, sucesso e fracasso de uma organização. Essa

complexidade intrínseca requer uma apurada visão sistêmica para ser compreendida, e essa é

uma habilidade essencial para um graduando no curso de engenharia de produção.

A estratégia corporativa, em especial, é um tópico relativamente menos explorado em

projetos de graduação da Engenharia de Produção. Ela corresponde ao nível estratégico mais

alto, que abrange as decisões estratégicas a serem tomadas no âmbito do conjunto de Unidades

Estratégicas de Negócio (UEN) de uma corporação. É de interesse dos autores colocar em

debate a forma como as empresas devem definir os mercados nos quais desenvolverão suas

atividades, aprofundando-se nesse tópico essencial que muitas vezes é analisado de forma

pouco técnica.

Considerando o caso da Petrobras, ele suscita interesse do ponto de vista estratégico em

razão de 2 pontos principais. Primeiramente, a Petrobras possui uma relevância inquestionável

no contexto econômico brasileiro. Em maio de 2019, o valor de mercado da Petrobras

ultrapassava R$ 350 bilhões (FORBES, 2019), fazendo dela a empresa brasileira de maior valor

de mercado. Em segundo lugar, desde sua concepção até os dias de hoje, a Petrobras é

controlada pelo Estado brasileiro, o que a faz um objeto de estudo estratégico mais complexo

que as empresas de capital privado.

Recentemente, as decisões estratégicas do corpo administrativo da empresa têm

levantado críticas positivas e negativas entre diferentes atores da sociedade. Entre os tópicos

mais notáveis, estão a venda do controle da BR Distribuidora e a intenção de venda de em torno

de 50% das refinarias do grupo, o que tiraria da Petrobras o controle atual de 99% desse

mercado. É possível encontrar nos veículos de mídia uma amostra da discussão oriunda da

crítica desses tópicos, como ilustrado na figura 1.

2

Figura 1: Colagem de 6 manchetes de veículos de mídia que abordam decisões estratégicas da Petrobras nos últimos 6 meses.

Da esquerda para a direita e de cima para baixo: Valor Econômico, Revista Exame, Poder 360, Carta Capital, G1 e Veja.

Fonte: Colagem feita por elaboração própria, com base em artigos encontrados nesses veículos.

Nesse contexto, sentimo-nos impelidos a participar dessa discussão, avaliando essas

mesmas decisões puramente sob o ponto de vista da estratégia corporativa, assumindo o desafio

de avaliar a estratégia declarada da empresa sem considerar os aspectos políticos e sociais que

a caracterizam, em particular o seu papel como instrumento do Estado nacional.

1.2. OBJETIVOS DO PROJETO

1.2.1. Gerais

O objetivo primário desse estudo é realizar uma análise crítica da estratégia da Petrobras,

conforme apresentada no seu Plano de Negócios e Gestão 2019-2023 e proferida pelos seus

dirigentes atuais. Escolheu-se realizar essa análise assumindo um papel de tomador de decisões

estratégicas da maior empresa brasileira, tendo como base o campo da estratégia corporativa, o

comportamento presente e futuro do mercado onde a empresa está inserida, e seu

posicionamento atual dentro desse mercado, levando em conta sua estrutura, portfólio de

negócios, estrutura de capital, história e outras características interna relevantes para análise.

Embora sejam reconhecidas as particularidades da Petrobras enquanto empresa estatal

e seu papel na sociedade brasileira, tomou-se a decisão expressa de fazer essa análise usando

somente critérios que poderiam ser aplicados a empresas que não compartilham dessas

características. Em outras palavras, a análise levou em conta os fatores que um estrategista

3

empresarial utilizaria, de modo a fazer com que a empresa gere o máximo de valor e se

consolide em uma posição à frente de suas competidoras, e desconsiderando o papel de ser um

instrumento de políticas de Estado. Reconhece-se, portanto, que há margem para

enriquecimento da análise apresentada, uma vez que esta não pretende abranger todas as

dimensões e alcance da estratégia da Petrobras como ente social e estatal. A análise também

não tratará os processos e os preços adotados no contexto das perspectivas de alienação e de

compra de ativos considerados pela empresa.

1.2.2. Específicos

O primeiro objetivo deste projeto é definir o que é estratégia corporativa e fornecer um

panorama sobre os principais conceitos desse campo e sobre as alavancas de geração de valor

entre os negócios de uma corporação. Nisso consistirá o arcabouço teórico e acadêmico para a

análise crítica que se pretende entregar como resultado final.

Em seguida, os autores buscaram compreender de maneira ampla a estrutura do setor de

petróleo, explorando a dinâmica desse mercado, as perspectivas globais para ele, a natureza das

atividades de cada etapa da cadeia de valor do petróleo, e as tendências apresentadas pelas

empresas do setor. Essa compreensão foi essencial para interpretar e analisar a estratégia da

Petrobras em relação ao contexto global que ela se encontra e se encontrará no futuro. Para os

autores, foi de grande valor desenvolver um entendimento sobre essa indústria tão relevante a

nível global, nacional e local.

Nota-se que, ainda que Petrobras esteja presente em outros mercados, como o de gás,

biocombustíveis e energias renováveis, decidiu-se focar a análise sobre suas atividades na

cadeia do petróleo, uma vez que esse é o mercado onde ela possui maior relevância, que lhe dá

maior retorno financeiro, e que mais interessa à opinião pública, segundo a visão dos autores.

Somente depois de cumpridos esses dois primeiros objetivos foi possível realizar o

estudo de caso sobre o Plano de Negócios e Gestão (PNG) da Petrobras, que é o objeto da

análise crítica demandada neste trabalho. Com essa etapa, objetivou-se primeiro entender a

trajetória da empresa e o caminho que a trouxe até o momento atual, para então estudar a

situação atual da corporação e de suas unidades de negócio, bem como os planos divulgados

para os próximos anos. O propósito do estudo foi construir uma visão que fornecesse o devido

embasamento para a análise. Ademais, conhecer bem a maior empresa brasileira em valor de

4

mercado1, inclusive seu papel na história e no desenvolvimento do país, é de grande utilidade

para a participação ativa na sociedade brasileira e nos debates que a permeiam.

Por fim, o objetivo da análise crítica foi apontar se os caminhos escolhidos pela

Petrobras para o âmbito corporativo entre 2019 e 2023 encontram justificativas na literatura

sobre o tema, no contexto de seu mercado e na sua situação enquanto empresa.

1.3. METODOLOGIA

Esse projeto foi desenvolvido a partir de uma pesquisa exploratória sobre os conceitos

de estratégia corporativa e sobre a estrutura e tendências da indústria do petróleo, acrescido por

um estudo do caso do PNG da Petrobras, focando especialmente em sua estratégia corporativa

para os anos de 2019 a 2023 no âmbito da cadeia de petróleo.

Primeiramente, buscou-se embasamento técnico acerca do tema da estratégia

corporativa em diferentes fontes literárias. Dentre as que mais contribuíram para o

conhecimento do assunto, destacam-se a segunda e a terceira edições de “A estratégia e o

cenário dos negócios: texto e casos”, de Pankaj Ghemawat, a primeira edição de “Estratégia:

em busca da vantagem competitiva”, organizado por Cynthia Montgomery e Michael Porter, e

a terceira edição de “Strategic Management”, de Frank Rothaermel. Também foram usados

como insumos artigos acadêmicos de Montgomery (1994), Montgomery e Collins (1998),

Porter (1985, 1997, 1999), Prahalad e Hamel (1990), Javidan (1998), entre outros.

Em segundo lugar, buscou-se embasamento também para entender e explicar o setor

econômico de interesse. Foram particularmente importantes para o estudo da estrutura da

indústria o livro “Oil 101”, de Morgan Downey, e o artigo “The Global Oil and Gas Industry”,

de Andrew Inkpen. Também foram de relevância para entendimento do tema relatórios emitidos

por organismos respeitados, como a Organisation for Economic Co-operation and

Development (OECD), a Agência Nacional de Petróleo brasileira (ANP) e a U.S. Energy

Information Agency (EIA). Para compreender as perspectivas futuras para a indústria, foram

explorados relatórios emitidos por empresas de renome e relevância, como a British Petroleum

(BP), especialmente em relação à evolução do mercado de energia, e Deloitte, PwC e Oliver

Wyman, para tendências gerais da atuação de empresas de petróleo. Ainda, foram buscados

relatórios e planos estratégicos das principais empresas para entender a estratégia que elas têm

1 FORBES. Global 2000: The world`s largest public companies. 2018.

https://www.forbes.com/global2000/#7221b81335d8. Acesso em 22 de fevereiro de 2019.

5

perseguido. Finalmente, artigos acadêmicos especialmente relevantes como o de Stevens

(2016) e Maugeri (2004) complementaram o conteúdo apresentado nessa etapa.

O estudo de caso sobre a estratégia corporativa anunciada pela Petrobras baseou-se em

documentos emitidos pela própria empresa, notoriamente o Plano de Negócios e Gestão (PNG)

2019-2023 e os relatórios de atividades e integrados dos anos 2018, 2017 e 2016. O relatório

de Morais (2013), pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), foi uma base

importante para a explicação da história da empresa no setor de petróleo, especialmente no

offshore. Também foram utilizados com frequência matérias de veículos de imprensa de

negócios, não apenas para explicar a história recente da empresa (últimos 10 anos), como

também seus movimentos mais recentes (últimos 6 meses), relacionados à execução da

estratégia explicitada no PNG.

Todo material aqui mencionado serviu de base para a análise crítica apresentada no

capítulo 5, que é a contribuição primária desse estudo.

1.4. ESTRUTURA

A primeira parte desse texto é composta pelas seções 2 e 3, destinadas a definir as bases

para a discussão, apresentando, respectivamente: uma breve introdução ao conceito de

estratégia, seu histórico e seus tipos; o embasamento literário sobre Estratégia Corporativa,

baseado nas obras de autores como Michael Porter, Cythia Montgomery, D. Collins, C. J.

Prahalad, G. Hamel e outros; e o setor de petróleo, destacando sua estrutura de mercado, as

diferentes etapas de sua cadeia de valor e o cenário competitivo a nível global. De maneira

geral, é a perspectiva geral de base sobre a qual o argumento final se sustenta.

Em seguida, na quarta seção, o foco passa à Petrobras, objeto de estudo principal do

projeto. Será apresentada a trajetória da empresa, colocando em pauta não apenas aspectos

históricos como acontecimentos recentes que tiveram grande impacto sobre ela. Em seguida,

será abordado o contexto atual das operações da corporação de acordo com os relatórios de

gestão mais recentes. Por último, será exposta a estratégia deliberada no Plano de Negócios e

Gestão mais recente (2019-2023) e nos últimos comunicados à imprensa, com foco nos aspectos

ligados ao escopo de atuação da empresa.

Finalmente, o projeto conclui com a análise crítica das decisões estratégicas da

corporação Petrobras na cadeia de petróleo, levando em conta os conceitos de estratégia

corporativa e a situação da empresa. Nessa seção, será feita uma análise técnica, considerando

a visão da Petrobras enquanto empresa, com foco no último Plano de Negócios e Gestão

6

divulgado pela companhia. Adicionalmente, serão levantados fatores de risco que podem afetar

o plano estratégico da atual gestão e também considerações extras, reiterando as premissas e

limitações assumidas, e indicando qual pode ser o significado social e os possíveis

desdobramentos da estratégia perseguida pela empresa, considerando a tensão existente entre o

papel da Petrobras como instrumento de Estado e como corporação com fins lucrativos, e

apontando caminhos que poderiam ser seguidos para dar continuidade ao estudo.

1.5. LIMITAÇÕES

Há quatro limitações claras ao estudo realizado nesse projeto: (1) o debate

primariamente no nível da estratégia corporativa; (2) o foco na cadeia do petróleo e não em

todas as unidades de negócio; (3) a discussão da estratégia anunciada em vez da estratégia

realizada; (4) o uso de argumentos estratégicos e econômicos para a análise, omitindo

argumentos políticos ou sociais;

Como explicado anteriormente, o escopo do projeto é analisar a Petrobras do ponto de

vista da Estratégia Corporativa, que é o nível estratégico que abrange o contexto geral da

corporação e do conjunto das suas unidades de negócio. Desse modo, ele não visa realizar uma

análise financeira detalhada da empresa, limitando-se à sua estrutura de capital, e tampouco

detalhará a operação interna de suas unidades de negócio. O que será discutido são as vantagens

e desvantagens de gerir seu negócio na cadeia do petróleo de maneira integrada ou separada,

dentro da corporação diversificada que é a Petrobras.

A análise será aprofundada na cadeia de petróleo e em suas diferentes etapas, desde a

exploração de poços até a venda dos derivados ao consumidor final. Não serão exploradas a

fundo outras unidades de negócio da Petrobras, como o gás natural, as termelétricas,

fertilizantes, biocombustíveis e as energias renováveis, visto que o foco principal da empresa é

hoje a cadeia do petróleo, tal como já observado anteriormente.

Ainda a respeito do objeto de análise, será avaliada a estratégia anunciada ou pretendida

pela Petrobras, e não a estratégia efetivamente realizada pela empresa. Fatores exógenos ou

endógenos à sua operação podem impactar os planos e, com isso, a estratégia explícita nos

planos de negócio da empresa não vai ser necessariamente igual à estratégia realizada. Só será

possível observar as diferenças quando essas iniciativas forem colocadas em prática

(MINTZBERG e WATERS, 1985).

Por último, o presente também não abordará os aspectos políticos e de Estado (por

exemplo, política industrial, gestão de preços, inflação etc.), que geralmente são trazidos nas

7

discussões da sociedade civil acerca da Petrobras. Parte-se, aqui, de um ponto de vista

estritamente técnico em estratégia empresarial, avaliando as melhores alternativas que se

apresentam dos pontos de vista competitivo e estratégico. Dessa forma, existem argumentos de

outras naturezas os quais esse trabalho não se propõe a analisar.

8

2. ESTRATÉGIA CORPORATIVA

2.1. CONCEITOS GERAIS

“Estratégia” é uma palavra de origem grega, do termo “strategos”, que designa “chefe

magistrado” ou “comandante militar” (GHEMAWAT, 2000). Foi usada no contexto bélico em

outras inúmeras vezes para designar ação de comandar ou conduzir exércitos em tempo de

guerra. Foi na década de 60 e 70 que ela emergiu enquanto objeto do estudo acadêmico e

aplicação nas organizações empresariais, assim como foi nesses anos que as maiores firmas de

consultoria estratégica da atualidade tomaram corpo (idem).

As definições de estratégia durante as últimas décadas são inúmeras. Por exemplo,

Wright, Kroll e Parnell (2000) definem o termo em referência aos planos da alta administração

para alcançar resultados consistentes com a missão e os objetivos gerais da organização;

Rothaermel (2017) diz que estratégia é um conjunto de ações direcionadas a objetivos que uma

empresa toma para ganhar e manter uma performance superior à de seus competidores. Johnson,

Scholles e Whittington (2008) definem estratégia como a direção e o escopo de uma

organização no longo prazo, que alcança vantagens em um ambiente mutável por meio da

configuração de recursos e competências, com o objetivo de corresponder às expectativas dos

stakeholders. Para Mintzberg e Quinn (1991), estratégia é um modelo ou plano que integra os

objetivos, as políticas e as ações sequenciais de uma organização, em um todo coeso. Já Rumelt

(2011) afirma que uma boa estratégia começa com o diagnóstico de aspectos críticos

específicos, que devem ser endereçados por meio da definição de uma política orientadora de

ações coordenadas, tendo em vista a superação dos obstáculos identificados.

É possível traçar um domínio de interseção entre os conceitos a fim de determinar a

estratégia como um conjunto de ações determinadas intencionalmente a serem executadas para

atingir um objetivo futuro2, à luz de um diagnóstico sobre a situação.

Quando duas organizações competem, essas possuem um conjunto de características

que garantem vantagem ou desvantagem sobre os demais competidores. Uma empresa que

atinge performance superior relativa aos outros competidores ou que à média desses, possui

uma vantagem competitiva (ROTHAERMEL, 2017). Para obter essa vantagem, uma empresa

precisa ou (1) prover produtos que tenham maior valor percebido pelos consumidores em

2 Pode-se também afirmar que o contexto competitivo remete às origens bélicas da estratégia. Da mesma forma

que quando dois exércitos combatem ambos possuem vantagens e desvantagens sobre o outro em características

como tamanho da infantaria, qualidade das armas e de quem as empunha, posição no terreno.

9

comparação aos dos competidores, ou (2) fornecer produtos com valor similar, porém a preços

mais baixos (o que implica ter custos mais baixos, visando ter uma operação sustentável no

tempo) (PORTER, 1997). Por conclusão, a vantagem competitiva é sempre descrita em

comparação com os competidores, não mensurada em valores absolutos.

Diante disso, é possível inferir que a competição entre empresas ocorre dentro dos

setores onde elas atuam, e pode-se considerar que não há competição direta entre corporações

atuando em setores diversos. Nesse sentido, entender o funcionamento do setor em que a

empresa está inserida é essencial para a definição de uma boa estratégia empresarial. Dentre os

aspectos a serem investigados no setor, podem ser citados o número de concorrentes e o valor

que entregam ao público, a natureza da concorrência, os agentes externos envolvidos, dentre

outros.

A estratégia existe em diferentes níveis em uma organização. Johnson, Scholes e

Whittington (2008) e Wright, Kroll e Parnell (2000) definem 3 desses níveis, enquanto Porter

(1999) e Fahey e Randall (1999) trazem 2. Apesar da diferença na quantidade, em termos gerais

todos seguem uma linha de raciocínio comum ao definir o primeiro nível estratégico como

correspondendo ao âmbito da corporação e o segundo ao âmbito das unidades de negócio. O

terceiro nível é apresentado como o correspondente ao âmbito operacional ou funcional, o qual

se refere a como as partes componentes de uma organização entregarão eficientemente o valor

proposto por ela.

A tablea 1 resume os autores e como cada um define resumidamente os níveis

estratégicos.

Tabela 1: Níveis de estratégia e definições de diferentes autores.

Autores A nível da corporação A nível dos negócios A nível das operações

Johnson, Scholes &

Whittington (2008)

“O primeiro, a estratégia a

nível da corporação, se

concerne com o escopo

geral da organização e

como será adicionado valor

às diferentes partes

(unidades de negócio) da

organização). ”

p. 11

“O segundo nível

estratégico pode ser

pensado a nível de negócio,

que é sobre como competir

com sucesso em

determinados mercados”

p. 11

“O terceiro nível está na

ponta operacional da

organização. Aqui estão as

estratégias operacionais,

que se concernem a como as

partes componentes de uma

organização entregam

efetivamente as estratégias a

nível corporativo e de

negócios em termos de

recursos, processos e

pessoas.”

p. 12

10

Wright, Kroll & Parnell

(2000)

Estratégias de nível

empresarial

“Nesse nível, a questão

essencial é ‘Em que negócio

ou setores deveria a

empresa estar atuando? ”

p. 41

Estratégias de unidade de

negócio

“[...]a questão que deve ser

respondida é ‘como deveria

uma empresa competir em

cada um de seus negócios

ou setores em que escolheu

atuar? ”

p. 41

Estratégias funcionais

“[...] são as estratégias de

produção, marketing, P&D,

finanças etc.”

p. 41

Porter (1999) “Estratégia corporativa – ou

da totalidade do grupo

empresarial”

“Estratégia das unidades de

negócio (ou competitiva”

-

Fahey & Randall (1999) “A estratégia corporativa se

preocupa com três

importantes questões que

executivos devem abordar:

1. O escopo corporativ o:

em quais negócios a

corporação deveria atuar?

2. A relação entre as partes:

em quais bases as unidades

de negócio deveriam ser

relacionadas?

3. Os métodos para gerir o

escopo e a relação entre

unidades de negócio: que

método deve ser empregado

para fazer mudanças

específicas nesses dois

pontos? ”

p. 55

“A estratégia das unidades

de negócio lida com como

competir com sucesso

dentro de uma indústria

dada [...] Há cinco

elementos chave para gerir

a estratégia ao nível das

unidades de negócio:

1. Definir o escopo da

unidade.

2. Definir os objetivos da

unidade de negócio.

3. Definir as bases para

vantagem competitiva

4. Desenhar a constelação

de valor

5. Gerir a cadeia interna de

calor do negócio assim

como sua integração com as

cadeias de valor dos

parceiros e clientes. ”

p. 84

-

Fonte: Elaboração própria.

Os quatro autores apresentados definem claramente que a competição ocorre no nível

das unidades de negócio. Desse modo, pode-se concluir que a vantagem competitiva é algo

aplicável somente a esse nível, visto que corporações não competem entre si.

11

2.2. ESTRATÉGIA CORPORATIVA

Recapitulando, a estratégia corporativa é o primeiro nível estratégico, aquele que

observa o âmbito de toda a corporação. Ela apresentou grande desenvolvimento, principalmente

a partir da década de 1970, quando o fenômeno da reestruturação empresarial ganhou impulso

com o desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação e dos transportes, passando a

predominar uma dinâmica de interação e integração a nível mundial (CAMARGOS, DIAS

2003).

Contudo, antes de aprofundar no conceito de estratégia corporativa, faz-se necessário

primeiro entender por que algumas empresas buscam diversificar seus negócios além da oferta

de um único produto e uma única unidade de negócio. Montgomery (1994) apresenta a síntese

de 3 visões, desenvolvidas por outros autores, sobre as razões pelas quais uma empresa decide

diversificar:

a. Visão do poder de mercado - uma empresa diversificada pode se utilizar dos

rendimentos de seus diferentes negócios para sustentar uns aos outros. Essa visão é

tradicionalmente levantada por economistas preocupados com seus potenciais efeitos

anticompetitivos. O argumento que sintetiza essa preocupação é apresentado pela

afirmação que as empresas diversificadas não prosperam por serem mais eficientes que

as não diversificadas, mas sim porque aquelas têm acesso ao que é chamado de “poder

de conglomeração” – uma corporação pode abaixar o preço de venda dos produtos de

uma determinada unidade de negócio, a um nível inferior ao de produção, e absorver

essa perda nos ganhos de outra unidade de negócio, configurando uma concorrência

desleal no setor daquela primeira (HILL, 1985, apud. MONTGOMERY, 1994).

b. Visão de agência - coloca a diversificação como interesse daqueles que gerem o

negócio, como forma de crescer sua responsabilidade e importância, e de diminuir seus

riscos “empregatícios”, relacionado ao risco de a empresa ir à falência. De acordo com

essa visão, a diversificação não seria em prol da criação de valor para a empresa ou para

um negócio, e sim para os agentes que gerem a corporação.

c. Visão de recursos - essa visão expressa que uma empresa pode buscar a diversificação

por um excesso de capacidade dos seus recursos, sejam eles tangíveis ou intangíveis.

Aqui incluem-se ativos que a empresa adquiriu do mercado, serviços que a empresa

gerou com esses ativos e conhecimento que ela acumulou ao longo do tempo. Desse

modo, na medida em que expandir a gama de negócios é um meio de usar de forma

12

lucrativa os recursos subutilizados, alcançando economias de escopo ao compartilhá-

los entre unidades de negócio, a empresa tem um incentivo para diversificar.

Os dois primeiros pontos resumem uma visão comum de estudiosos das áreas

econômica e financeira, que seguem a premissa econômica geral de competição perfeita do

mercado e, consequentemente, veem a diversificação como amplamente desnecessária, abaixo

do nível ótimo ou mesmo ilegitimamente induzida pelos interesses próprios daqueles que

gerenciam as organizações (WAN, HOSKISSON, SHORT & YIU 2011).

Em contraste, a terceira visão foi construída sobre a hipótese de que o mercado é

imperfeito – caso contrário, o adicional de recursos de uma empresa poderia ser vendido de

forma eficiente para o mercado – o que significa que a diversificação só seria justificável devido

aos altos riscos e custos de troca. Nesse sentido, ela enfatiza a responsabilidade da camada

gerencial em criar valor dentro desse contexto, utilizando-se dos recursos que a empresa possui

para alavancar os seus negócios diversos. Os gerentes deixam de ser inerentemente auto

direcionados e passam a constituir um recurso chave para que a estratégia de diversificação crie

valor (WAN, HOSKISSON, SHORT & YIU 2011). Essa teoria baseada em recursos foi

desenvolvida ao longo dos anos em estudos como os de Rumelt (1982), Wernerfelt (1984),

Barney (1991) e outros, com base no trabalho de Penrose (1959).

Para o prosseguimento deste trabalho, será assumida a premissa que a diversificação

pode ser uma fonte de criação de valor, e consequentemente, de “vantagem corporativa”, que é

o objetivo buscado pela estratégia corporativa3. Será utilizado o termo “vantagem corporativa”

para designar a vantagem competitiva sustentável que cada unidade de negócio ganha, em seu

próprio mercado, por fazer parte da corporação em que se encontra, definição apresentada por

Montgomery e Collins (1998).

Finalmente, conceituando o termo “estratégia corporativa”, nas palavras de Rothaermel

(2017, p. 255):

Estratégia corporativa inclui as decisões que a gestão sênior faz e as ações que essa

toma em direção aos objetivos determinados, na busca por vantagem competitiva em

várias indústrias e mercados simultaneamente. Ela provê respostas para a questão

chave de onde competir. A estratégia corporativa determina as fronteiras de uma

firma em três dimensões: integração vertical, ao longo da cadeia de valor;

3 Para maior aprofundamento, o artigo de WAN, HOSKISSON, SHORT & YIU 2011 traz uma listagem de 63

estudos acerca do tema de diversificação, conceituais e de campo, que se estruturam sobre a teoria baseada em

recursos.

13

diversificação (ou integração horizontal) de produtos; e escopo geográfico, seja

regional, nacional ou global.

2.2.1. As dimensões da estratégia corporativa

Seguindo a definição de Rothaermel (2017), a estratégia corporativa possui três

dimensões: uma horizontal, uma vertical e uma geográfica, divisão também apresentada por

Ghemawat (2000). Os próximos itens descreverão mais detalhadamente essas dimensões - ou

escopos - e suas vantagens e desvantagens, com base na obra de ambos os autores.

Figura 2: Ilustração das dimensões da estratégia corporativa.

Fonte: Elaboração própria.

2.2.1.1. Escopo horizontal

O escopo horizontal refere-se à possibilidade de operar em diferentes frentes de negócio

cujos produtos finais não entregam a mesma proposição de valor para o cliente final - ou seja,

que não são concorrentes.

Os princípios de possibilidade de substituição e complementaridade são particularmente

úteis na solução de questões relacionadas a esta dimensão: (1) uma corporação não deveria

buscar ter unidades estratégicas de negócio que ofereçam produtos que podem substituir os

produtos das demais, visto que esses competirão entre si; e (2) ter unidades estratégicas de

negócio que forneçam produtos complementares ou tenham ativos com essa característica pode

ser uma boa estratégia para a corporação, visto que as vendas de produtos complementares

possuem uma relação diretamente proporcional entre si.

Quando não está claro se é mais vantajoso assumir uma amplitude horizontal estreita ou

ampla, pode ser útil analisar o cenário com base em ambas. Uma definição estreita focaliza a

14

análise em cada negócio e a ampla ajuda a minimizar o risco, uma vez que, quanto mais

diferentes forem as naturezas dos negócios do grupo, menos provável será que a causa de

fracasso de um dentre eles venha a ser causa de fracasso para os outros. Variáveis exógenas

como legislações trabalhistas, mudanças de hábito do consumidor, crises econômicas etc.,

podem comprometer uma frente de negócio, mas deixar outras intactas.

2.2.1.2. Escopo vertical

Considera a diversificação de negócios ao longo da cadeia de valor. Com relação a esse

escopo, a questão chave é quantos estágios verticalmente ligados da cadeia fornecedor-

comprador a empresa deve ocupar. Ghemawat (2000) coloca que, de modo geral, se existe ou

pode ser criado um mercado competitivo para vendas a terceiros entre os estágios verticais,

estes devem ser separados; caso esse mercado seja imperfeito ou usá-lo seja custoso, os

negócios devem ser integrados.

Coase (1937) introduziu pela primeira vez essa noção de que os custos de transação não

podem ser ignorados pelas empresas em seus mercados, entre eles os custos de busca, de

negociação, de formulação dos contratos, de monitoramento, de execução, entre outros.

Williamson (1979) aprofundou esse tema, e relacionou os custos de transação à escolha das

empresas dentro do espectro existente entre a integração vertical total e o uso de contratos de

curto prazo – quanto mais numerosos e mais valiosos eles fossem, maior deveria ser a tendência

à integração. Mitchell (1976), ao escrever sobre a integração vertical na indústria do petróleo,

complementa que, transportando essa visão econômica para o mundo dos negócios, a

manifestação das vantagens de integrar se dá pela busca por oferta segura, demanda garantida,

menor risco e maior disponibilidade de informação. Em uma corporação integrada verticalmente, são integradas uma unidade de negócio

fornecedora e a que a segue na cadeia. Dado que os objetivos estratégicos as unidades de

negócio devem ser coerentes entre si, de modo a ter um único objetivo a nível da corporação,

elas podem trabalhar juntas a fim de melhorar a cadeia intencionalmente, praticar contratos

comerciais vantajosos para ambas, e fazer com que mais valor seja agregado ao produto final

ao longo da cadeia.

2.2.1.3. Escopo geográfico

Nessa questão, define-se a amplitude do cenário dos negócios em termos geográficos.

Em diferentes situações, pode ser mais vantajoso considerar um contexto de negócio local,

regional ou global. Um critério chave para resolver essa questão é a independência das posições

15

competitivas em diferentes mercados geográficos – caso a vantagem em uma região não se

traduza em vantagem em outras regiões, o contexto do negócio tende a ser mais local.

Diferentes posicionamentos geográficos colocam uma unidade de negócio sob a

influência de diferentes variáveis externas a suas operações, por exemplo variáveis

macroeconômicas ou regulatórias. Por consequência, expandir o escopo geográfico muitas

vezes pode ser considerado uma estratégia para minimizar o risco do negócio ao diversificar às

fontes de riscos às quais se está exposto.

* * * *

Porter (1999) afirma que a diversificação dos riscos deve ser vista como um subproduto

da estratégia corporativa, e não como sua motivação principal, que é gerar valor. Visto que há

esses custos associados à operação de diversificação nas três dimensões, quais são os benefícios

de ter uma corporação diversificada e como usufruir desses benefícios, de modo que o valor

capturado seja positivo, com os benefícios superando os custos?

As próximas seções buscam responder a essa questão, primeiro apresentando uma das

ferramentas históricas mais populares do ramo, a gestão de portfólio, em seguida, apresentando

os conceitos de competências essenciais, atividades e gestão corporativa, e como eles proveem

vantagem competitiva às Unidades de Negócio.

2.2.2. A gestão de portfólio

Nos anos 60 e 70, a gestão de portfólio se tornou uma prática comum entre as grandes

corporações, e se concentrava quase que exclusivamente sobre situações onde buscava-se a

resposta às seguintes questões: quais negócios devem ser descontinuados? Quais devem receber

mais investimento de recursos?

Algumas das maiores empresas de consultoria estratégica da atualidade se

impulsionaram ao desenvolverem metodologias de análise do tema. Dentre elas, uma das que

mais se destaca é o The Boston Consulting Group, que desenvolveu uma matriz de avaliação

do portfólio de produtos, que leva o nome da empresa.

Bruce Henderson, fundador do BCG, explica em seu artigo original (HENDERSON,

1970) que o portfólio de produtos de uma empresa pode ser classificado de acordo com uma

matriz cujo eixo horizontal corresponde à participação relativa no mercado daquele produto, e

o eixo vertical corresponde à taxa de crescimento do mercado onde aquele produto está inserido.

Nessa matriz, há quatro quadrantes utilizados para classificar os produtos, de acordo com as

posições deles nos eixos: produtos “estrelas”, produtos “vacas leiteiras”, produtos “cachorros”

16

ou produtos “ponto de interrogação”. A matriz do BCG e seus respectivos quadrantes são

apresentados na figura 3.

Figura 3: Matriz BCG

Fonte: Elaboração propria, baseado em Henderson (1970).

No referido artigo, é apresentada uma direção estratégica a ser tomada para cada produto

em seu respectivo quadrante (HENDERSON, 1970):

1. Um produto que garante à empresa uma alta participação relativa no mercado, mas

possui baixo crescimento é classificado como um produto “vaca leiteira”. Esse é um

produto que garante altos retornos além do reinvestimento necessário para manter a

posição no mercado. É um produto em fase de maturidade avançada.

2. O quadrante de “cachorros” é destinado aos produtos de mercados de baixo

crescimento e que devem receber ainda mais investimentos para garantir a posição

competitiva da empresa no mercado. No geral, esses produtos devem ser

desinvestidos.

3. Já os produtos de um mercado de alto crescimento e alta participação relativa no

mercado são classificados como “estrelas”. As estrelas eventualmente se

transformam em vacas leiteiras, na medida em que a taxa de crescimento do mercado

vai diminuindo.

4. Finalmente, os produtos que possuem baixa parcela de mercado, mas a taxa de

crescimento desse é grande, são classificados como “pontos de interrogação”. São

produtos que ainda exigem altos investimentos para crescer sua parcela de

participação no mercado, mas ainda sem garantias de que se tornará uma estrela.

17

Na mesma linha que o BCG, a McKinsey & Company também criou uma matriz de

avaliação de portfólio, derivada de um projeto desenvolvido com a General Electric no início

da década de 70 (MCKINSEY, acesso em 2019). A matriz GE-McKinsey, como ficou

conhecida, foi fruto de uma análise da estrutura corporativa da GE feita pela empresa de

consultoria, a pedido de Fred Broch, CEO da General Electric na época. A GE possuía mais de

200 centros de custos e 145 departamentos, divididos em 10 grupos.

Nessa análise, a McKinsey recomendou que os departamentos da GE não fossem mais

classificados de acordo com critérios de controles financeiro internos, mas sim por unidades

estratégicas de negócio, dando uma relevância maior para as condições externas do mercado de

cada unidade e tomando uma abordagem mais orientada para o futuro, que para os resultados

financeiros passados. Então, foi criada a matriz composta de nove caixas que oferecem uma

abordagem sistemática para que a corporação avaliasse suas unidades de negócio, utilizando

como critérios de comparação a força competitiva da unidade de negócio (no eixo horizontal)

e a atratividade da indústria onde aquela unidade se insere (no eixo vertical).

Figura 4: Matriz GE-McKinsey

Fonte: Elaboração propria baseado em McKinsey (acesso em 2019).

Posicionando as unidades de negócio dentro da matriz, é possível ter um direcionamento

para a gestão de portfólio da corporação: as unidades localizadas acima da diagonal principal

(alta força competitiva e alta atratividade da indústria) são as melhores candidatas para receber

investimentos da corporação; as unidades localizadas ao longo da diagonal principal podem

receber de investimentos seletivos; e as unidades localizadas abaixo da diagonal principal

18

(baixa força competitiva e baixa atratividade da indústria) são passíveis de desinvestimentos. A

figura abaixo retrata a matriz e suas nove caixas.

Ghemawat (2000) afirma que essas duas técnicas e as subsequentes aplicações foram

importantes para introduzir a segmentação de corporações em unidades estratégicas de negócio.

Na década de 70, cada uma das consultorias mais importantes utilizava algum tipo de análise

de portfólio. Esse conceito foi amplamente aceito especialmente após a crise do petróleo de

1973, quando as corporações se viram obrigadas a reavaliar seus planos de longo prazo de

diversificação frente ao alto custo energético – basicamente, foram forçadas a parar de expandir

os negócios e avaliar quais deveriam ser descontinuados.

O autor também relata que a análise de portfólio passou por alguns momentos de

descrédito, diminuindo sua popularidade ao longo dos anos que se seguiram. O autor cita por

exemplo um estudo acadêmico de Wind, Mahajan e Swire (1983), que aplicaram 4 técnicas de

análise de portfólio diferentes em um grupo de 15 UENs de uma corporação do Fortune 500, e

somente uma dentre as 15 unidades foi posicionada na mesma porção de cada uma das 4

matrizes, e somente 5 das 15 UENs foram similarmente classificadas em termos de 3 das 4

matrizes. Também cita uma crítica, de autoria de Hayes e Abernathy (1980), professores de

Harvard, que classificaram essas técnicas como ferramentas que levam a gerência a focalizar

na minimização dos riscos financeiros em vez de no investimento em novas oportunidades que

requeririam um comprometimento de longo prazo de seus recursos.

Todavia, esse processo deixou um legado importante para os trabalhos de estratégia

corporativa que se seguiram, pois ressaltou a necessidade de focalizar nos dois aspectos

essenciais da análise de portfólio: a atratividade da indústria e o posicionamento competitivo

das unidades de negócio (GHEMAWAT, 2000). As demais seções desse capítulo abordam com

mais profundidade como a corporação pode beneficiar ou prejudicar o posicionamento

competitivo das UENs.

2.2.3. Competências essenciais

Competência é uma integração e coordenação interfuncional das capacitações

(capabilities) de uma organização. As capacitações, por sua vez, se referem às habilidades das

organizações em explorar seus recursos, traduzidas em uma série de processos e rotinas que

gerem a interação entre eles e seu uso. Finalmente, recursos são os insumos utilizados no

processo de criação de valor de uma organização. Dessa maneira, pode-se concluir que o

desenvolvimento de competências organizacionais pode ser crítico para criar vantagem

19

competitiva sustentável para uma organização (ROTHAERMEL, 2017), que é um dos fatores

de grande interesse para a estratégia.

O trabalho de Barney (1995), um dos principais autores da teoria baseada em recursos,

apresenta o framework VRIO, usado para avaliar se um recurso, capacitação ou competência

trazem essa vantagem competitiva para uma empresa. Cada uma das letras da sigla indica uma

dimensão que deve ser avaliada: (1) Valor; (2) Raridade; (3) Imitabilidade; e (4) Organização

Para atingir esse objetivo de maneira sustentável, portanto, o autor defende que o elemento deve

(1) ter valor, para constituir uma vantagem; (2) ser raro, ou seja, não ser comum a todos os

competidores; (3) ser difícil de ser imitado, para que a vantagem não seja temporária; e (4) a

organização como um conjunto tem de ser capaz de capturar o seu valor. O framework de

análise é apresentado na figura 5, extraída de Rothaermel (2017).

Figura 5: Framework VRIO.

Fonte: ROTHAERMEL 2017, P 113.

Dentro do contexto da estratégia corporativa e da diversificação, de modo geral, alguns

autores expõem a importância da criação e da gestão de competências organizacionais que

ultrapassem os limites das Unidades Estratégicas de Negócio e que permeiem toda a

corporação. Essas “competências essenciais” são habilidades e áreas de conhecimento que são

compartilhadas através das unidades de negócio e resultam da integração e da harmonização

das competências das UEN (JAVIDAN, 1998). Considerando que esse compartilhamento exige

uma grande habilidade de coordenação a nível mundial, o grau de dificuldade para gerir as

competências essenciais cresce, mas também cresce o valor criado a nível organizacional. A

figura 6 mostra a hierarquia da competência, de Javidan (1998), ilustrando o aumento de valor

criado e dificuldade ao longo dos níveis.

20

Figura 6: Hierarquia dos recursos a competências essenciais.

Fonte: JAVIDAN 1998, P 62.

Segundo Prahalad e Hamel (1990), que introduziram o conceito na literatura acadêmica,

as competências essenciais requerem aprendizado, envolvimento e comprometimento coletivo

da organização para cruzar a integração entre as UEN. Para eles, a competitividade deriva da

capacidade de construir, a custos mais baixos e mais rapidamente que os concorrentes, as

competências essenciais que geram produtos não antecipados.

Os autores ilustram que:

A corporação diversificada é uma grande árvore. O tronco e os galhos principais são

os produtos essenciais, os galhos menores, unidades de negócios; as folhas, flores e

frutos são os produtos finais. O sistema de raiz que provê nutrição, sustentação e

estabilidade é a competência essencial. Você pode deixar de perceber a energia dos

concorrentes se somente olhar para seus produtos finais, da mesma forma que você

deixará de perceber a da árvore se você somente olhar para as folhas. (PRAHALAD

& HAMEL 1990, p. 4)

21

Figura 7: Árvore das competências essenciais.

Fonte: PRAHALAD & HAMEL 1990, P 5.

Para identificar se uma competência é ou não essencial do ponto de vista corporativo,

os autores ditam que: (1) ela precisa prover um acesso potencial a uma variedade ampla de

mercados; (2) ela proporciona uma contribuição significativa para o valor percebido pelo

consumidor final nos produtos finais; e (3) ela é difícil de ser imitada por ser derivada de uma

harmonização complexa de tecnologias individuais e habilidades de produção (PRAHALAD &

HAMEL, 1990).

2.2.4. O papel das atividades

Porter (1997) argumenta que a vantagem competitiva de uma unidade de negócio não é

fruto somente de duas ou três competências que ela possui, mas de uma série de atividades

complementares que se reforçam mutuamente. Levando o termo para o contexto corporativo,

uma empresa que tenha desenvolvido uma série de atividades partilhadas ou coordenadas entre

as diferentes unidades de negócio consegue expandir essa vantagem competitiva ao longo de

toda a corporação.

O argumento de Porter não é antagônico, mas complementar ao conceito de

competências essenciais de Prahalad e Hamel. Apesar de não citarem expressamente o termo

“atividades”, é possível interpretá-lo como estando presente na teoria que esses formularam,

uma vez que um “produto essencial” é fruto de uma sequência de atividades executadas pela

23

tem a visão macro para identificar e criar estratégias com a finalidade de desenvolver as

competências essenciais da corporação. A decisão de como se dará a estrutura de governança e

gestão da corporação é crítica, visto que ela pode facilitar ou dificultar a criação de vantagem

competitiva.

Montgomery e Collins (1998) afirmam que muitos executivos são relutam em violar a

autonomia e responsabilidade das unidades de negócio, e que outros temem que criar estruturas

desnecessariamente grandes e burocráticas. No estudo que os autores conduziram junto a 50

empresas, eles relataram que em muitas delas os gestores focalizavam apenas um dos elementos

da estratégia corporativa – recursos (incluindo, no modelo do autor, as capacitações e

competências organizacionais), negócios ou estrutura organizacional. O que faltava era a

compreensão do que transforma esses elementos em um todo integrado. Segundo eles, isso é a

essência da vantagem corporativa: a maneira como uma empresa cria valor através da

configuração e coordenação de suas atividades em múltiplos negócios (MONTGOMERY &

COLLINS, 1998).

Os autores ilustram seu ponto na figura de um equilíbrio triangular entre os três

elementos da estratégia corporativa que elencam, retratado na figura 9.

Figura 9: O triângulo da estratégia corporativa

Fonte: MONTGOMERY & COLLINS, 2005.

Onde recursos são entendidos em seu sentido amplo (incluindo capacitações e

competências); a configuração organizacional está ligada à estrutura da corporação, ao conjunto

de políticas e rotinas que governam o comportamento da organização e a seus processos; e os

negócios são os diferentes mercados nos quais a corporação atua. No vértice superior do

24

triângulo, “vantagem competitiva” refere-se à vantagem garantida às unidades de negócio ao

fazerem parte da corporação.

Novamente, nas palavras dos autores:

As grandes estratégias corporativas vêm, em primeiro lugar, da força de cada lado

do triângulo: recursos de alta qualidade, negócios com fortes posições de mercado

em setores atraentes e uma configuração organizacional eficiente. Mas a verdadeira

vantagem corporativa exige um ajuste perfeito em cada ângulo também. Quando os

recursos de uma empresa são críticos para o sucesso de seus negócios, o resultado é

uma vantagem competitiva. Quando a organização está configurada para alavancar

esses recursos nos negócios, a sinergia pode ser capturada e a coordenação

alcançada. Finalmente, o ajuste entre os sistemas de medição e recompensa de uma

empresa e seus negócios produz controle, que é estratégico para a corporação.

MONTGOMERY & COLLINS 1998, p. 72.

É da relação entre as três arestas e seus vértices, alinhada com a visão, metas e objetivos

da corporação, que a vantagem corporativa é criada.

É necessário reafirmar que, para Montgomery e Collins, o termo “recursos” abrange não

só os insumos utilizados no processo produtivo de uma organização, mas também seus ativos,

capacitações e competências desenvolvidas ao longo do tempo4.

Baseado no trabalho desses autores, Ghemawat (2007) apresenta 3 modelos de gestão

corporativa de uma empresa diversificada, segundo a respectiva abrangência do escopo de

negócios:

a. Corporações de negócios dominantes: empresas que possuem poucas unidades

de negócio fundamentais para o grupo e outras periféricas. Investem em uma

natureza de recursos extremamente especializada e compartilham os recursos e

atividades, em geral provenientes das poucas unidades de negócio fundamentais

da corporação. Também tendem a ter escritórios corporativos grandes, para

desenvolver os negócios, controlar e coordenar a utilização de recursos.

b. Corporações de negócios relacionados: possuem mais unidades de negócio que

as corporações de negócios dominantes, assim como análises de lucratividade

diferentes para cada negócio, mas ainda assim é possível identificar algumas

poucas unidades centrais que unem as demais. Elas podem buscar tanto o

compartilhamento total de recursos quanto a transferência de habilidades e a

coordenação de atividades entre unidades de negócio, diminuindo ou

4 Ver também Montgomery (1994).

25

aumentando a autonomia das UENs, respectivamente. Portando um número

maior de unidades, é mais provável que surjam conflitos entre elas, gerando a

necessidade de uma gerência corporativa para coordenar os negócios

intercruzados.

c. Corporações de negócios não relacionados ou holdings: no outro extremo da

régua, as corporações de negócios não relacionados possuem uma carteira

grande de unidades independentes umas das outras. Os recursos comuns sobre

os quais a corporação desenvolve sua estratégia são genéricos, dada a

independência dos negócios. São desenvolvidos métodos de controle financeiros

rígidos, a fim de otimizar o gerenciamento de caixa, aumentar a liquidez e definir

a alocação de recursos. Como as unidades de negócio possuem maior

independência, o grupo gerencial corporativo tende a ser menor.

A figura 10 ilustra o posicionamento desses três modelos de organização corporativa

dentro do continuum que demonstra as inúmeras possibilidades de variantes de cada um.

Figura 10: Modelos de gestão corporativa.

Fonte: GHEMAWAT (2007) baseado em MONTGOMERY & COLLINS (1997), P 164.

Não há indicações de melhor desempenho econômico de um modelo sobre o outro outro

(GHEMAWAT, 2007). Montgomery e Collins (1997) afirmam que é possível encontrar

26

excelentes estratégias corporativas em todo o decorrer do continuum. Por outro lado, sua

pesquisa sugere que a maior parte dos executivos das empresas estudadas cria estruturas

organizacionais padrão, como se existisse um modelo ótimo a ser seguido, em vez de desenhar

seu arranjo de modo a favorecer sua estratégia corporativa.

É necessário salientar que todo sistema corporativo de governança gera custos inerentes

à empresa – especialmente de governança e coordenação entre as unidades de negócio.

PORTER (1999) exemplifica esse ponto claramente ao relatar que em uma corporação as

unidades de negócio precisam se justificar ao núcleo de gestão, esforçando-se para se

adequarem aos sistemas e planos coletivos, além de respeitar as diretrizes corporativas. O

objetivo, então, é buscar um modelo de gestão corporativa em que o valor agregado à

corporação por ele seja superior aos seus custos inerentes.

* * * *

Entende-se, portanto, que uma estratégia consiste no estabelecimento de um conjunto

definido de ações a serem executadas para atingir um objetivo desejado. No âmbito empresarial,

o principal propósito da definição das estratégias é a construção de vantagem em relação aos

competidores, para garantir um desempenho superior. Nessa busca, a escolha dos diferentes

mercados em que a empresa atuará representa o nível corporativo da estratégia, em que são

discutidas a configuração e a coordenação entre as unidades de negócio.

Fazer parte de uma corporação pode ser uma fonte de vantagem competitiva para uma

unidade de negócio, e isso ocorre quando ela consegue atingir uma performance superior por

participar de um grupo diverso de negócios – esse conceito foi definido como vantagem

corporativa por Montgomery e Collins (1998), e é o objetivo da estratégia corporativa.

Por conclusão, entende-se que uma estratégia corporativa excelente não é uma coleção

aleatória de blocos individuais, mas um sistema de partes interdependentes cuidadosamente

construído (MONTGOMERY & COLLINS, 1998). Ela é o que faz com que o grupo represente

mais do que a soma de suas unidades de negócios (PORTER, in PORTER & MONTGOMERY

1998).

A fim de cultivar uma posição sustentável no cenário de negócios, uma corporação não

deve basear suas escolhas estratégicas somente nos resultados individuais de seus produtos

finais. Para atingir esse objetivo, é preciso identificar quais são as competências essenciais da

corporação, montar uma carteira de negócios cujos recursos (no sentido amplo do termo) sejam

correlatos, e desenhar uma estrutura de gestão que fortaleça e desenvolva a estratégia

27

corporativa da organização, garantindo vantagem competitiva sustentável às suas unidades de

negócio, e a sustentabilidade no longo prazo da corporação como um todo.

28

3. O SETOR DE PETRÓLEO

Toda escolha estratégica é consequência de uma combinação da realidade na qual a

empresa compete com suas capacitações e funções internas. Assim, para examinar os

movimentos da Petrobras é essencial não só ter uma visão sobre os conceitos de estratégia

corporativa, mas também compreender a estrutura e as tendências da indústria onde ela se

insere, objeto de estudo desse capítulo. Vale lembrar que esse projeto limitar-se-á a analisar a

cadeia do petróleo, principal negócio da Petrobras, mencionando outras unidades de negócio

apenas quando estiverem proximamente ligadas a algum aspecto desta cadeia.

3.1. FATORES DE MERCADO

3.1.1. Dinâmica de preços

O petróleo em seu estado cru pode ser considerado uma commodity. Segundo a revista

inglesa The Economist (2017), commodities são produtos comerciais padronizados, com preços

relativamente uniformes ao redor do mundo (excluindo custos de transporte e impostos) e que

servem de matéria-prima para outros produtos. Sua produção em larga escala permite que

constituam mercados altamente líquidos, inclusive com opções futuras (acordos para compra e

venda no futuro) para que produtores e consumidores se protejam de oscilações no preço.

Ainda segundo a The Economist (2018), o mercado de petróleo começou a se tornar

global apenas depois da Segunda Guerra Mundial, com o aumento da quantidade de produtores

e a evolução do comércio mundial. Até 1970, enquanto os Estados Unidos possuíam capacidade

de produção em excesso, os preços eram fixados pela Texas Railroad Comission através do

controle da oferta. Nesse ano, o país deixou de ter capacidade ociosa, e com isso a capacidade

ociosa e consequentemente a possibilidade de regular os preços mundiais ficou na mão de um

grupo de países exportadores que compunha a Organização dos Países Exportadores de Petróleo

(OPEP), que começaria então a controlar a oferta para determinar os preços. A OPEP havia sido

criada em 1960 por Arábia Saudita, Kuwait, Irã, Iraque e Venezuela, para defender os interesses

nacionais perante as empresas norte americanas que exploravam petróleo em seus territórios no

modelo de concessão. Nessa época, quase todo o petróleo era negociado em contratos de longo

prazo, com preços fixos, pois o comprador negociava quantidades específicas de petróleo em

datas específicas no futuro. (DOWNEY, 2009).

Downey (2009) explica que, a partir da década de 80, entretanto, o petróleo começou a

ser negociado por contratos spot, que consistem na venda de petróleo no curto prazo, para

entrega o mais rápido possível. Com o tempo, esse tipo de negociação foi ganhando relevância,

29

e foram criados benchmarks internacionais de preço para servirem de referência. Os

benchmarks são definidos ao final de cada dia de negociações para diferentes tipos de óleo (cru

ou refinado) com base nos preços spot negociados naquele dia.

De acordo com a The Economist (2018), como a qualidade e a disponibilidade de óleo

cru podem variar muito de acordo com sua origem, existem diferentes valores de referência. O

mais relevante deles é o Brent, relativo ao óleo extraído do Mar do Norte, por ser um óleo fácil

de refinar e transformar em produtos refinados. Contudo, com o crescimento da relevância de

outras regiões produtoras e a queda na produção do Mar do Norte, novos valores de referência

tem ganho relevância, como o West Texas Intermediate (WTI), negociado nos EUA e o Shangai

crude futures, um rival asiático criado em 2018 para fazer frente aos benchmarks internacionais

ocidentais.

Hoje em dia, com a evolução dos mercados internacionais, todos os contratos são

negociados tendo em mente os benchmarks para os diferentes tipos de óleo. Como esses

contratos funcionam como um leilão, eles acabam refletindo o maior valor pelo qual

compradores estão dispostos a obter óleo cru naquele dia, de acordo com as notícias mais

recentes do mercado internacional (DOWNEY, 2009).

Considerando a “Lei da Oferta e da Demanda”, os níveis de preço em um mercado

competitivo são definidos pelo nível de oferta e de demanda. Como o petróleo é um produto

negociado de maneira concorrencial a nível mundial através dos benchmarks, como exposto

anteriormente, para entender a evolução dos seus preços é preciso aprofundar-se nas questões

relacionadas à demanda e à oferta agregadas de petróleo a nível global.

3.1.2. Fatores de Demanda

Depois de começar a ser explorado apenas para servir como combustível para a

iluminação, no final do século XIX (DOWNEY, 2009), é consenso que atualmente o petróleo

é um produto central para a sociedade e a economia a nível mundial. De uma forma geral, os

óleos crus extraídos precisam ser refinados para se transformarem nos diferentes tipos de

produtos para diversos usos em setores essenciais como combustível para transporte,

aquecimento e eletricidade, asfalto, lubrificantes, propano e milhares de produtos

petroquímicos que vão desde carpetes a óculos a vestuário, o que faz com que a indústria

impacte a segurança nacional, as eleições, a geopolítica e os conflitos internacionais (INKPEN,

2016).

30

De acordo com a Agência de Informação de Energia Norteamericana (EIA, 2018), o

setor de transportes corresponde a mais de 50% da demanda por petróleo, seguido pelas

indústrias petroquímica, da construção civil e eletricidade.

Figura 11: Demanda primária do petróleo por setor.

Fonte: The future of petrochemicals: Towards more sustainable plastics and fertilizers – EIA, 2018, p. 27

Devido à sua essencialidade no mundo moderno, Downey (2009) explica que a demanda

por petróleo pode ser considerada inelástica, isto é, independentemente do nível de preços.

Assim, exceto quando o gasto com petróleo começa a crescer muito em relação ao PIB (acima

de 4%, por exemplo), não há retração de demanda, e as variações de preço acabam sendo mais

dependentes do excesso ou falta de oferta em relação a essa demanda agregada (as questões

relativas à oferta serão exploradas na próxima seção).

Para analisar a demanda agregada, como o petróleo é uma fonte de energia é preciso

avaliar a demanda mundial por energia, que envolve as diversas outras fontes como carvão, gás

natural, renováveis, entre outras - especialmente num momento em que se buscam cada vez

mais fontes limpas de energia para reduzir o impacto ambiental. Assim, com base no relatório

Global Energy Outlook: 2019 Edition, da British Petroleum, podem ser avaliados algumas

tendências desse setor.

Para avaliar as mudanças no setor energético e de petróleo, o relatório da BP considera

possíveis cenários com diferentes premissas a respeito da intensidade de mudanças políticas,

tecnológicas e comportamentais que têm impacto sobre a demanda de energia, como a

regulação das emissões de gás carbônico, o crescimento da economia mundial e os ganhos de

eficiência energética para as diferentes fontes de energia. Apesar dos diferentes possíveis

resultados, em todos os contextos avaliados há dois pontos em comum (BP, 2018):

31

a. O petróleo continuará tendo uma participação muito importante na matriz energética

mundial em 2040, com um consumo diário entre 80 milhões de barris por dia (Mb/d) e

130 Mb/d frente a um consumo em 2018 de aproximadamente 95 Mb/d;

b. Serão necessários “níveis significativos de investimento” de “vários trilhões de dólares”

nos próximos 20 anos para atender a essa demanda global por petróleo, uma vez que,

caso não sejam emitidas novas licenças de exploração de petróleo a partir de 2019, a

oferta de petróleo cairá para mais ou menos 35 Mb/d.

Figura 12: Cenários de oferta e demanda de petróleo.

Fonte: BP Energy Outlook - 2019, p.85

O cenário-base escolhido pelo relatório para detalhar suas previsões é o cenário da

transição em evolução, mas a incerteza é tamanha que não se pode falar em cenário mais

provável. No cenário considerado, as evoluções governamentais, sociais e tecnológicas

continuam a evoluir da maneira vista no passado recente, assim como o comportamento da

população. Em suma, nele não acontecem mudanças extremas.

Para formar a demanda mundial por energia e prever sua evolução, a perspectiva da

British Petroleum leva em conta três vetores principais de variação da demanda: a população

mundial; o PIB per capita; e a “intensidade energética”, relacionada aos ganhos de eficiência

pelo avanço da tecnologia (BP, 2018). O primeiro considera que o crescimento da população

32

mundial aumentará a demanda mundial por energia, e o segundo relaciona o desenvolvimento

econômico, especialmente em países emergentes, como um fator que aumenta o PIB per capita

e o consumo de energia por pessoa. Por último, a “intensidade energética” considera que os

avanços tecnológicos fazem com que se consiga extrair mais energia dos mesmos recursos, e

com que se consuma menos energia com os mesmos aparelhos, contribuindo para a redução da

demanda por energia ao longo dos anos. Assim, são dois fatores de crescimento e um fator de

redução da demanda.

Com a desaceleração do crescimento populacional a nível mundial, o principal fator

para o crescimento da demanda por energia seria o aumento do PIB per capita, que causa um

maior consumo de energia por pessoa – uma contribuição superior a 10 bilhões de toneladas de

óleo equivalentes por ano até 2040. Entretanto, grandes avanços no campo da intensidade

energética compensam esse aumento, proporcionando uma redução também próxima de 10

bilhões de toneladas de óleo equivalente a nível mundial em 2040.

Com isso, a previsão é que a demanda por energia cresça numa média próxima de 1%

ao ano até 2040. Ela passaria de aproximadamente 14 bilhões de barris de óleo equivalentes em

2017 para aproximadamente 18 bilhões em 2040 (BP, 2018).

Figura 13: Crescimento da demanda primária por energia.

Fonte: BP Energy Outlook – 2019, p. 21

Com o aumento da demanda por energia e uma demanda praticamente estável por

petróleo, como mostram os gráficos anteriores, é de se imaginar que a previsão de participação

do petróleo na matriz energética seja decrescente, enquanto outras fontes ganham importância.

Essa percepção se confirma nos gráficos abaixo, que mostram uma busca cada vez maior por

uma mistura menos intensiva em carbono, traduzida pelos renováveis, que representam o

33

segmento de maior crescimento (7,1% a.a.) e o petróleo em com um crescimento médio de

0,3% a.a. e estável a partir de 2030 (BP, 2018).

Figura 14: Consumo por fonte de energia.

Fonte: BP Energy Outlook – 2019, p.79.

De forma geral, pode-se afirmar que, apesar da transição energética para uma matriz

mais limpa devido à necessidade de se reduzir as emissões de gás carbônico, a demanda por

petróleo não deve diminuir nas próximas décadas. As previsões da BP indicam que mantido o

ritmo atual de mudança, o aumento da participação de energias renováveis na matriz energética

e os ganhos de eficiência não compensarão o aumento da demanda por energia devido ao

crescimento populacional e econômico.

Caso a previsão fosse de forte crescimento da demanda por petróleo, haveria uma

pressão para o aumento dos preços. Se estivesse prevista uma retração da demanda, esperar-se-

ia uma redução dos preços. Contudo, como o crescimento da demanda por petróleo será apenas

tímido, praticamente tendendo para a estabilidade, esse fator, por si só, não deve conduzir a

uma mudança considerável no patamar de preços do recurso

3.1.3. Fatores de Oferta

O petróleo é um recurso finito pela sua formação geológica, que demora milhões de

anos e requer condições ambientais específicas que talvez não voltem a se repetir. Por ser

encontrado debaixo do solo (no fundo do mar ou em terra firme) e espalhado ao redor da Terra,

é um grande desafio quantificar suas reservas e mapeá-las.

Dessa forma, a descoberta de novas reservas é o que sustenta a indústria, caso contrário

a produção inevitavelmente seguiria um caminho decrescente independentemente da demanda.

34

Contudo, não basta apenas encontrar as reservas. Inkpen (2016) ressalta que é necessário

também que elas sejam economicamente viáveis, tornando o desafio ainda mais complexo,

porque muitas vezes pode ser custoso demais obter o petróleo num dado local, dependendo dos

preços praticados no mercado. Ao mesmo tempo, avanços técnicos tornam viável a retirada de

petróleo em locais antes inexplorados, como aconteceu com o shale nos EUA e o pré-sal no

Brasil.

Desde os anos iniciais da indústria tanto as empresas produtoras de petróleo como os

consumidores temem que eventualmente o óleo disponível acabe. Assim, foi desenvolvida a

teoria do “Pico de Hubbert”, ponto a partir do qual a produção de petróleo começaria a declinar

devido à falta de reservas para suportar o ritmo de produção. Esse ponto de produção máxima

aconteceria quando a produção acumulada atingisse a metade do total de petróleo existente

(ROSA e GOMES, 2004).

Essa teoria, entretanto, é motivo de debates constantes. Em momentos diversos, alguns

analistas afirmaram que o pico já teria sido atingido, enquanto outros acreditam que essa teoria

não passa de um mito. A grande dificuldade consiste em estimar todo o petróleo disponível no

mundo: em 1950, por exemplo, o Serviço Geológico dos Estados Unidos estimou que as

reservas exploráveis seriam de cerca de um trilhão de barris, mas 50 anos depois essa estimativa

havia subido para 3 trilhões. É por isso que Maugeri (2004 apud INKPEN, 2016) afirmou em

artigo na revista científica Science:

Apesar de os hidrocarbonetos serem indiscutivelmente finitos, ninguém sabe

exatamente o quanto. O petróleo está preso em rochas porosas no subsolo, o que

torna difícil estimar quanto do recurso existe e quanto dele pode ser efetivamente

extraído. Muitas áreas ainda são relativamente inexploradas ou foram pobremente

analisadas. Além disso, o conhecimento sobre o petróleo no solo aumenta

dramaticamente à medida em que um reservatório é explorado. (MAUGERI, 2004

apud INKPEN, 2016, p.1)5.

As estatísticas internacionais de energia da EIA mostram que o Pico parece não ter sido

atingido ainda, já que a produção cresceu 24% desde 1998, ao mesmo tempo em que a taxa

Reservas/Produção (R/P) aumentou em 31%. A taxa R/P mostra em quantos anos as reservas

se esgotariam se mantido o nível atual de produção, indicando assim a sustentabilidade da

indústria. Ou seja, mesmo com o aumento da produção, as descobertas têm acontecido em nível

5 Tradução própria.

35

suficiente para não apenas compensar o que está sendo produzido, como também para aumentar

a longevidade antevista da indústria (ver Figura 13).

Figura 15: Produção mundial e reservas comprovadas de petróleo (1998-2018)

Fonte: Elaboração própria, baseado nos dados fornecidos pela EIA International Energy Statistics. Disponível em

https://www.eia.gov/beta/international/. Acesso em 15 jun. 2019.

Apesar dos números indicarem que a carência de reservas a nível mundial não tem sido

um problema para atender a demanda por petróleo, existem outras questões envolvidas no que

se refere à oferta do óleo. Como afirma Inkpen (2016), apesar de todos os países serem

consumidores, apenas um pequeno conjunto de países detêm a maior parte das reservas

mundiais. Esses grandes países exportadores, como explica Downey (2009), fundaram a OPEP

na segunda metade do século XX para fazer frente à produção dos Estados Unidos e controlar

a quantidade de petróleo no mercado, a fim de garantir preços e margens altas a todos. Assim,

movimentos de controle da oferta são comuns nessa indústria, para não inundar o mercado e

baixar os preços.

Um outro fator relevante para a oferta de petróleo é a geopolítica, pois grandes

quantidades de petróleo estão localizadas em países instáveis. Essa configuração já provocou

choques nas décadas de 70 e 80 devido a conflitos entre países que possuem grandes reservas

e os países desenvolvidos (DOWNEY, 2009). De acordo com dados da EIA, o conturbado

Oriente Médio concentrava 48,8% do total de reservas mundiais em 2017, especialmente a

Arábia Saudita (16%), o Irã (10%), o Iraque (9%), o Kuwait (6%) e os Emirados Árabes (6%).

Além disso, a Venezuela, também bastante instável nos últimos anos, possuía a maior reserva

36

entre todos os países, com 18,3% do total mundial. Isso significa que no ano de 2017 pelo

menos 67% das reservas provadas estavam em regiões de instabilidade política.

Figura 16: Localização das reservas mundiais de petróleo comprovadas em 2017.

Fonte: EIA – International Energy Statistics. Disponível em https://www.eia.gov/beta/international/. Acesso em 15 jun. 2019.

Figura 17: Localização das reservas de petróleo do Oriente Médio em 2017.

Fonte: EIA – International Energy Statistics. Disponível em https://www.eia.gov/beta/international/. Acesso em 15 jun. 2019.

É por essa razão que o preço do petróleo depende diretamente de questões políticas: por

mais que haja oferta suficiente para atender à demanda mundial, já houve diversos momentos

em que a incerteza conjuntural e conflitos diplomáticos colocaram em risco o acesso a esse

recurso, e fizeram o preço subir intensamente. O gráfico abaixo (BP, 2018 – Figura 15) mostra

a reação do preço do barril de petróleo a eventos históricos como a Guerra de Yom Kippur, a

Revolução Iraniana e outros. Nos momentos de instabilidade, o preço tende a subir.

37

Figura 18: Preços do petróleo e eventos históricos.

Fonte: BP Statistical Review of World Energy. 2018. p. 20

De uma forma geral, independente do pico já ter ou não ter sido atingido, o petróleo

continuará sendo uma fonte muito relevante de energia para a sociedade. A dificuldade em

determinar a quantidade de reservas depende de fatores tecnológicos, de mercado e políticos,

tornando difícil prever a disponibilidade no longo prazo. Contudo, os avanços tecnológicos da

indústria revelam cada vez mais novas fontes, que antes eram consideradas inviáveis (INKPEN,

2016). Considerando que a dinâmica de distribuição da produção não deve mudar muito - com

alguns países mantendo o poder de regular a oferta, e conflitos geopolíticos sem solução

próxima - não parecem existir razões para que, também pelo lado da oferta, haja aumentos ou

reduções bruscas e duradouras de preço do petróleo, apesar de ser impossível prever com

precisão o futuro dessa indústria e os movimentos dos grandes países produtores de petróleo.

3.2. CADEIA DE VALOR

Do subsolo até o uso pelo consumidor final na forma de combustíveis ou produtos

petroquímicos, o petróleo percorre uma longa e complexa cadeia de valor. Essa cadeia “do poço

ao posto” é tradicionalmente dividida em três etapas principais, que podem ser olhadas de

maneira independente, cada uma com características e atividades específicas, compondo assim

o processo de produção e distribuição do produto (DOWNEY, 2009):

38

a. O upstream, chamado também de “exploração e produção” (E&P), no Brasil, consiste

na busca e extração de óleos crus e é a parte mais custosa, arriscada e lucrativa da cadeia.

b. O midstream, relacionado ao transporte de óleo cru e de produtos refinados por

oleodutos, navios-tanque, trens-tanque, caminhões-tanque ou aviões-tanque.

c. O downstream, também conhecido como R&M, do inglês Refining & Marketing,

engloba as atividades de refino, armazenamento e venda dos produtos acabados, e

normalmente apresenta um maior número de empresas no mercado.

Para essa seção, aplicaremos uma divisão em 4 etapas principais de acordo com as

atividades desenvolvidas, subdividindo o downstream em duas etapas: (1) Exploração &

Produção; (2) Transporte; (3) Refino & Distribuição; (4) Comercialização.

3.2.1. Exploração e Produção (E&P)

As atividades do Upstream, também chamadas de Exploração e Produção (E&P) podem

ser agrupadas em 3 grupos, mais a atividade preliminar de licenciamento: exploração,

desenvolvimento e produção. Depois de conseguir uma licença, a primeira etapa consiste em

investigar a existência de petróleo e encontrar as reservas. Posteriormente se deve investir na

preparação para tornar o poço operante, que é a fase de desenvolvimento. E, por fim, pode-se

começar a extrair petróleo do poço na fase de produção, que é o regime normal de operação de

um poço.

O processo mais comum para iniciar a exploração de um poço passa por negociação ou

leilão com o Estado nacional do país onde a área se encontra, devido ao regime de soberania

nacional em que operam a maior parte dos países do mundo, inclusive o Brasil. De fato, antes

mesmo de iniciar a exploração e ter certeza sobre a existência de petróleo em uma região, pode

ser necessário passar por um processo longo, custoso e burocrático junto ao poder público para

obter uma licença de exploração. As empresas petroleiras, portanto, acabam quase sempre tendo

que lidar com os governos locais e suas questões políticas como parte essencial de seu negócio

(INKPEN, 2016).

Uma vez obtida a licença, passa-se então à primeira fase, cujo objetivo é entender o

tamanho, a forma, o conteúdo e o potencial de produção da área em questão. Busca-se

determinar a quantidade aproximada de “reservas provadas” (probabilidade de 90% de extrair

ao menos essa quantidade de petróleo de forma viável economicamente), mas esse processo é

extremamente complexo e incerto devido às dificuldades de estimar algo que está a milhares de

metros de profundidade abaixo do solo. Por isso, a etapa de Exploração é considerada a mais

39

arriscada, já que existe uma chance considerável de as expectativas iniciais em relação a

quantidade ou qualidade de petróleo não se confirmarem, de não haver petróleo na área ou de

sua extração ser inviável (DOWNEY, 2009).

Em seguida, na fase de Desenvolvimento, acontece o setup para que se comece a extrair

óleo daquele reservatório, incluindo a perfuração dos poços. Dependendo da localização e das

condições da reserva, que pode apresentar diferentes tipos de óleo, ser onshore (continente) ou

offshore (aquática), rasa ou profunda, entre outras diferenças, essa fase pode ser mais ou menos

custosa e mais ou menos tecnicamente complexa, mas tipicamente os investimentos são

bastante elevados.

Figura 19: Campos de extração de petróleo onshore - Punjtan Energy (à esquerda) - e offshore - Petrobras -à direita.

Fonte: http://www.punjtanenergy.com/home e http://www.petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/. Acesso em 15 mai. 2019

Por fim chega-se à fase de Produção, em que o óleo passa a ser extraído e os lucros

auferidos para retornar o alto investimento realizado nas duas fases anteriores. Ao contrário do

que comumente se imagina, o petróleo não é obtido por meio de bombas que o empurram para

a superfície. O transporte acontece, na realidade, devido à diferença de pressão entre o

reservatório subterrâneo e a superfície, que empurra a coluna de óleo através do tubo até a

superfície ou próximo dela. Contudo, à medida que o petróleo vai sendo extraído, a pressão

diminui, e é preciso abandonar o poço antes de o petróleo se esgotar, sendo o fator de

recuperação (FR)6 mundial médio de 30%. Dessa forma, o principal desafio da fase de Produção

é determinar e seguir a forma e a taxa de produção ótimas que maximizam a quantidade de

petróleo extraída naquele poço – algumas vezes, por exemplo, é injetado gás para manter a

pressão alta e maximizar o óleo obtido (DOWNEY, 2009).

6 O Fator de Recuperação é a razão entre o volume recuperável e o volume original de um fluido em um reservatório

de hidrocarbonetos.

40

A lucratividade do setor upstream, de acordo com Inkpen (2016), é uma função do valor

de mercado do petróleo e dos custos para extraí-lo e transportá-lo até o mercado.

Historicamente, essa é a etapa da cadeia na qual as principais empresas auferem seus maiores

lucros. Contudo, Flowers (2017) ressalta que as margens de E&P ficam prejudicadas quando

há excesso de oferta de petróleo e os preços mantêm-se baixos por um período prolongado. Por

isso, as empresas precisam se planejar para serem lucrativas mesmo quando o imprevisível

preço do petróleo está baixo.

Um conceito bastante empregado na indústria é o de preço de equilíbrio, que

corresponde ao momento a partir do qual a operação começa a ser lucrativa. Quanto maior ele

for, menor a margem do upstream para qualquer nível de preços do petróleo. Como exemplo,

Inkpen (2016) cita que a produção onshore na Arábia Saudita e no Kuwait historicamente tem

os menores preços de equilíbrio, de cerca de 20 dólares por barril, enquanto para projetos

offshore na Angola esse valor chegava a 70 dólares por barril.

É seguro afirmar que as margens árabes são maiores do que as angolanas nesse caso,

mas os custos de produção mudam ao longo do tempo com o avanço das tecnologias, e esses

valores tendem a decrescer. O pré-sal brasileiro e o shale americano são dois exemplos de

reservas que não se acreditava serem viáveis pelos altos custos de produção, mas que se

tornaram reservas promissoras com o avanço da tecnologia, e são cada vez mais competitivas

no mercado internacional. A Petrobras apresentou, em 2018, um custo de extração menor que

7 dólares por barril no pré-sal (PETROBRAS, 2018) e analistas estimam que o preço de

equilíbrio do shale pode chegar a até 5 dólares por barril no futuro (INKPEN, 2016).

A gestão de reservatórios é uma competência muito importante para as empresas que

operam nessa fase da cadeia. Elas precisam planejar-se para que as reservas atuais sejam geridas

da maneira mais eficiente, diminuindo o preço de equilíbrio, e para que as reservas antigas a

serem abandonadas sejam progressivamente substituídas por novas reservas, o que demanda

altos investimentos e precisa passar pelos incertos processos de licenciamento, exploração e

desenvolvimento. Por isso, tecnologia de ponta para explorar e produzir nos melhores campos

de petróleo e capacitação de negociação de ativos com governos nacionais são muito

importantes nessa etapa da cadeia, garantindo a substituição da produção de petróleo e o seu

crescimento.

41

3.2.2. Logística de Transporte

O midstream consiste apenas o transporte de óleo cru e produtos acabados, e muitas

vezes acaba analisado em conjunto com o downstream. O petróleo e derivados são

transportados através de um dos cinco meios de transporte: oleodutos, navios-tanque,

caminhões-tanque, trens-tanque e aeronaves-tanque. No caso dos óleos crus, eles devem ser

transportados do seu local de produção até refinarias que compõem o setor downstream para

virarem produtos acabados, enquanto produtos acabados precisam ser levados ao seu mercado

consumidor (DOWNEY, 2009).

Os navios-tanque e os oleodutos são os meios mais comuns de transporte, facilitado pelo

estado líquido do petróleo. Os primeiros acabam sendo uma parte da indústria bem pouco

regulada por navegarem a maior parte do tempo em águas internacionais, enquanto os segundos

possibilitam a extração de petróleo em lugares altamente remotos, e frequentemente se tornam

objeto de disputas políticas, especialmente quando cruzam territórios de diferentes países

(INKPEN, 2016).

De acordo com DeLallo (2018), a receita do setor midstream vem principalmente do

preço cobrado para transportar um barril de óleo pela sua rede, seja por meio de oleodutos ou

outros veículos. Ele pode ser definido pela própria empresa operadora ou em alguns casos é

regulado pelo Estado. O sistema funcionaria como uma espécie de pedágio, o que garante uma

menor volatilidade nas receitas e nos lucros das empresas que operam no midstream, já que os

valores cobrados não dependerão do preço de benchmark internacional do petróleo nem dos

custos de exploração do recurso sendo transportado, reduzindo assim o risco e a incerteza.

3.2.3. Refino

As refinarias, que compõem a primeira etapa do downstream, recebem como input óleos

crus de diferentes naturezas (também chamados de feedstocks) que passam por processos

fisicoquímicos para serem transformados nos produtos finais desejados pelo mercado, desde

gases leves como metano e propano até produtos pesados como óleo combustível marítimo ou

industrial, passando por combustíveis como a gasolina e produtos sólidos especializados como

o asfalto. (DOWNEY, 2009)

Parques de refino são ativos caros e especializados que, diferentemente dos ativos das

etapas anteriores, normalmente estão localizados próximos aos mercados consumidores de

produtos finais, uma vez que os países desejam ter controle sobre a oferta de produtos acabados

em seus mercados, e os investidores buscam locais com maior estabilidade (diferentemente dos

42

principais países produtores de petróleo) (DOWNEY, 2009). Isso justifica a diferença da

porcentagem da produção de óleo cru e produtos refinados da OPEP em relação ao mundo: 37%

e 9%, respectivamente, no ano de 2014 (EIA, 2019).

Figura 20: Refinaria da Lukoil na Rússia.

Fonte: Site da empresa <http://www.lukoil.com/>, acesso em 05 de maio de 2019.

A lucratividade do setor de refino é definida pela margem de refino, que é a diferença

entre o preço dos óleos crus usados como insumo e o preço de venda dos produtos refinados,

da qual ainda são subtraídos os custos de operação, que dependerão da sua localização, da

eficiência e da qualidade dos seus produtos. Por causa disso a performance financeira do

downstream é bastante volátil por questões exógenas no médio prazo, já que o preço dos

produtos acabados não acompanha as variações mais intensas do preço do cru que, como visto,

flutua bastante pela incerteza da oferta devido às questões geopolíticas e de exploração

(INKPEN, 2016).

Olhando para o lado da oferta dessa equação, um relatório da Organização para a

Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OECD, 2013) explica que o preço pago por uma

refinaria pelo seu óleo cru dependerá da qualidade do óleo necessário (relacionada a

especificidades da demanda, como os tipos de combustível e fatores regulatórios); da

localização da refinaria, por causa dos custos de transport; e de fatores políticos, relacionados

normalmente ao acesso a fontes de petróleo.

Isso significa que a grande maioria das refinarias, na realidade, não compra seu insumo

nos preços de benchmark negociados no mercado internacional, como o Brent. Esse valor serve

apenas como referência e é ajustado pela qualidade – quanto mais pesado o óleo, menor o seu

preço, mas maior o custo e a dificuldade de refinar - pelos custos de transporte e por outros

fatores, entre os quais o câmbio, já que o mercado internacional negocia sempre em dólares

(OECD, 2013).

43

Quanto ao preço de venda dos produtos refinados, em mercados nacionais livres onde

não há barreiras à importação de combustíveis (inclusive logísticas), ele não dependerá do custo

de refino nas refinarias domésticas ou nos preços de referência internacional, mas sim do mix

de produtos produzidos pela refinaria e do Preço de Paridade Internacional (PPI) dos

combustíveis.

O mix de produtos produzidos dependerá da complexidade da refinaria, que é o nome

dado a sua capacidade de transformar óleos crus em produtos refinados de alto valor. Quanto

mais complexa for uma refinaria, mais produtos de alto valor ela será capaz de produzir a partir

de uma determinada quantidade de óleo de uma qualidade específica (CROSS et al., 2013). De

acordo com a McKinsey (2019), a maior parte da margem de uma refinaria vem dos produtos

leves, de maior valor, como a gasolina, o diesel e o querosene de aviação, cujo processo de

produção inevitavelmente gera produtos de menor valor agregado (como o óleo combustível).

Algumas refinarias, ainda, são capazes de gerar valor incremental produzindo produtos de

nicho, de baixo volume, porém especializados e caros.

O PPI é o preço que os distribuidores pagariam para importar combustíveis refinados

no exterior, já considerando gastos como transporte, seguros, desembarque, prêmio de

qualidade, etc. A lógica por trás disso é que os refinadores não têm incentivo para precificar

mais alto do que o PPI, já que nesse caso seus clientes optariam pelas importações, nem mais

baixo, pois não haveria alternativas ao mesmo preço para os consumidores e a oportunidade

não estaria sendo aproveitada. Pode-se entender, assim, de que forma as importações exercem

pressão competitiva nas refinarias domésticas (OECD, 2013).

Devido a essas características e a necessidade máximo por eficiência, o planejamento

das operações de uma refinaria é altamente complexo: todos os dias, tendo em vista a

otimização dos inputs e outputs, é preciso definir quais óleos crus serão usados, em que

unidades de refino, sob que condições, para produzir quais produtos. Ainda, precisam ser

levados em conta as manutenções programadas e o nível de estoques. Quando é necessário

controlar um grupo de refinarias e coordenar suas atividades, essa complexidade é ainda maior.

Por isso, a matemática é usada extensivamente em operações desse tipo, em especial a

programação linear (CROSS et al., 2013).

Inkpen (2016) explica ainda que, nos períodos de queda nos preços do petróleo, as

refinarias apresentam boa performance, até que os preços dos combustíveis ao consumidor final

reajam a essa queda, e o preço de venda de refinaria também seja reduzido. O mesmo atraso

acontece com o aumento de preços, pelo atraso entre o aumento dos preços do petróleo cru e o

44

preço dos combustíveis. Pode-se dizer, portanto, que existe um hiato temporal entre as variações

de preço do óleo cru e dos combustíveis.

Considerando essa estrutura, Inkpen (2016) afirma que historicamente os lucros nessa

etapa da cadeia seriam menores que nas outras para as empresas integradas. Isso aconteceria

como consequência de sua posição intermediária entre os mercados comoditizados de óleo cru

e de produtos refinados como a gasolina – de forma que não há controle nem sobre o preço dos

insumos nem sobre o dos produtos. As refinarias estão sujeitas às variações internacionais no

preço do óleo cru, não havendo espaço para aumentar suas margens por meio da redução do

preço desses insumos. Do outro lado, vendem seus produtos para distribuidoras que também

buscarão sempre o preço mais baixo pela pouca diferenciação entre os produtos para o público

final. Assim, seu espaço de atuação para se diferenciarem e garantirem lucros altos é limitado,

dependendo principalmente da eficiência operacional como forma de garantir o máximo

aproveitamento dos recursos disponíveis.

De acordo com Flowers (2017), entretanto, recentemente as principais companhias do

setor vêm apresentando sólidos resultados no refino não por uma questão exógena relacionada

às variações dos preços, mas sim por mudanças estruturais empreendidas depois de diversos

anos de excesso de capacidade e resultados ruins. De acordo com o autor, essas mudanças foram

feitas de maneira a evitar o problema crônico da sensibilidade dos lucros aos ciclos de variações

de preços por questões geopolíticas e macroeconômicas que afetam a indústria do petróleo.

Dessa forma, ele argumenta que o setor upstream poderia aprender com três competências

principais que foram perseguidas em downstream pelas empresas mais lucrativas para garantir

seus lucros mesmo em momentos complicados da indústria:

a. Redução de capacidade e gestão agressiva de portfólio: Concentração dos portfólios

nos ativos mais valiosos, vendendo ou fechando ativos poucos competitivos para

aumentar o retorno sobre capital empregado (ROCE). Entre 2010 e 2017, as

principais empresas internacionais (majors) reduziram 20% de sua capacidade

produtiva.

b. Disciplina rígida de capital: Melhor uso do capital investido, não necessariamente

cortando investimentos para poupar dinheiro, mas investindo para obter o máximo

de retorno dos ativos principais, para se posicionar em mercados de alto crescimento,

e para desenvolver tecnologias que promovem a diferenciação ou redução de custos.

De uma forma geral, trata-se de desenvolver uma estratégia de investimentos tendo

em vista o retorno no longo prazo.

45

c. Gestão para margem: Foco agressivo em aumentar a performance por meio da

redução de custos ao menor nível possível, sem comprometer a segurança da

operação, para garantir uma margem saudável. Isso inclui iniciativas como alocação

eficiente de capital humano, gestão eficiente de operações e processos com uso de

tecnologia, entendimento profundo da cadeia de suprimentos, e análise da

lucratividade de cada ativo, de acordo com o autor.

3.2.4. Distribuição e Comercialização

Os produtos produzidos nas refinarias precisam então ser distribuídos e vendidos, e essa

é a segunda etapa do downstream. Os combustíveis para uso final constituem a maior parte das

vendas, mas diversos outros produtos intermediários são usados como insumos para outras

indústrias, das quais a mais relevante é a petroquímica, que continua o processo de

transformação até que tenhamos, por exemplo, os produtos plásticos que usamos no nosso dia-

a-dia. Existem dois tipos de consumo existem: a população em geral que consome a varejo nos

postos de combustíveis (podendo ser integrados ou não) e grandes consumidores comerciais ou

industriais aos quais pode ser feita venda direta.

Nessas etapas atuam as distribuidoras do setor de petróleo, que podem ser companhias

de petróleo integradas verticalmente, empresas independentes e até mesmo empresas de outros

setores - tipicamente de supermercados em locais como os EUA e a Europa. A primeira etapa

é a distribuição de grandes quantidades a partir das refinarias por meio de dutos ou grandes

veículos a terminais de onde se faz a distribuição com maior capilaridade. (OECD, 2013)

Os impostos são um dos principais componentes do preço do combustível na bomba em

grande parte dos países. Apesar de apresentarem baixa volatilidade, normalmente são uma

proporção grande do preço final, e por isso acabam justificando diferenças de preços entre

países ou entre diferentes combustíveis. Ao mesmo tempo, o outro fator relevante e que introduz

volatilidade no preço final é o valor pago aos refinadores pelo combustível, que, como discutido

anteriormente dependerá, para economias abertas, do Preço de Paridade Internacional. Enfim,

em geral apenas uma pequena parte do preço dos combustíveis depende da atividade das

distribuidoras, a chamada margem de distribuição (OECD, 2013).

Como exemplo, abaixo se encontra a proporção de diferentes fatores no preço final de

combustíveis no Brasil, conforme divulgado semanalmente pela Petrobras em seu site. No país

existe ainda a parcela relativa ao custo dos biocombustíveis que fazem parte da composição,

mas ainda assim percebe-se que os impostos (44% para a gasolina e 24% para o diesel) e o

46

custo do insumo, representado por “Realização Petrobras” (33% para a gasolina e 56% para o

diesel) são os principais elementos, sobrando apenas 11% ou 14% para todos os custos de

distribuição e revenda mais a margem de lucro dessa etapa.

Figura 21: Composição do preço da gasolina (à esquerda) e diesel (à direita) na bomba no Brasil.

Fonte: Site oficial da Petrobras <http://www.petrobras.com.br/pt/produtos-e-servicos/composicao-de-precos-de-venda-ao-

consumidor/gasolina/>, acesso em 05 de maio de 2019.

No nível de varejo, ainda, de acordo com o relatório da OECD, a demanda é “dispersa

e atomizada”7, uma vez que os consumidores são parte de um grande grupo de motoristas

individuais, que compram combustíveis nos diversos postos próximos de suas rotas habituais.

Isso mostra a importância de as distribuidoras terem pontos de venda bastante espalhados, com

alta capilaridade da rede, atendendo a essa característica do consumo de combustíveis por parte

da população nos postos de combustíveis.

Além disso, sabe-se que a demanda total pode ser considerada inelástica (DOWNEY,

2009), mas como os combustíveis são percebidos como um produto homogêneo pelos clientes,

a demanda de uma única empresa dependerá bastante dos preços praticados frente aos seus

concorrentes, pois os consumidores tendem a fazer pesquisa de preços. Assim, investimentos

em marca frequentemente foram considerados duvidosos (INKPEN, 2016). Alguns operadores,

contudo, buscam se diferenciar para aumentarem suas receitas e lucros, focando em

características diferentes, como maior qualidade percebida do produto ou programas de

fidelidade, e serviços adicionais como lojas de conveniência, lavagem de carros ou serviços de

manutenção. (OECD, 2013)

7 Tradução própria.

47

Inkpen (2016) afirma nesse contexto que a competição no setor é intensa, e que as

margens diminuíram consideravelmente ao longo das últimas décadas com a entrada de novos

agentes, como os supermercados, que aumentaram a competitividade e a guerra de preços. De

forma geral, considerando as características do mercado, pode-se dizer que (1) uma extensa

rede de distribuição para atender aos mercados locais e garantir altos volumes de venda; e (2) a

fidelização dos clientes para se diferenciar dos competidores e assim aumentar as baixas

margens, são fatores chave nessa etapa da cadeia.

3.3. CENÁRIO COMPETITIVO

3.3.1. Natureza da competição

Cada etapa da cadeia de petróleo e seus refinados apresenta mercados diferentes em sua

estrutura e abrangência, mesmo que as características competitivas de cada etapa influenciem

o preço final cobrado ao consumidor. Práticas anticompetitivas como concentração de mercado

e acesso exclusivo a recursos em qualquer parte da cadeia impactarão os preços finais no varejo.

Apesar de todos os elos estarem conectados e serem interdependentes, variam as dimensões

geográficas de competição, desde global até local, e as principais características necessárias

para ser uma empresa bem-sucedida em cada uma das atividades (OECD, 2013).

Mercados de óleo cru tem competição em nível global, de acordo com a oferta e

demanda agregadas que definem o nível de preços. Os preços são iguais aos benchmarks

negociados em mercados internacionais, entre os quais o mais famoso é o Brent, e um

explorador pode vender a refinarias do mundo inteiro, desde que o custo logístico não seja

proibitivo a ponto de a transação ser inviável (DOWNEY, 2009 e OECD, 2013). Dessa forma,

uma capacitação essencial é extrair o máximo de óleo possível dos campos de exploração ao

menor custo, para garantir o maior retorno sobre o investimento realizado, já que uma empresa

e principalmente um poço não tem efeito nenhum sobre o preço de venda dos seus produtos.

Importa muito a capacitação técnica de exploração da empresa no tipo de poço que ela está

explorando.

No setor de refino, em geral se segue a fórmula da paridade de preço internacional para

a definição dos preços locais, indicando uma competição ao menos internacional, mas cada

mercado é único, e os contratos dependem das alternativas de fornecimento e da capacidade

ociosa que existe, tanto a nível internacional como nacional.

Em alguns mercados podem existir barreiras à importação, tais como altas taxas,

dificuldade de acesso ou controle dos ativos logísticos. Portanto, nem sempre os mercados são

48

internacionais, e isso limita as alternativas dos consumidores (OECD, 2013). Em outros, como

o Brasil, o Chile e a Colômbia, o setor de refino ainda é um monopólio, e nesse caso o

monopolista tem poder de mercado. É interessante ressaltar, entretanto, que isso não

necessariamente significa que os preços ao consumidor serão maiores. No Brasil houve diversos

momentos em que o governo atuou através da Petrobras, uma monopolista, para reduzir os

preços dos combustíveis e evitar pressões inflacionárias e/ou populares.

Por último, os mercados de venda de combustíveis no varejo têm fortes características

locais, uma vez que a maior parcela do consumo está no fluxo casa-trabalho dos cidadãos.

Existe uma sensibilidade grande aos preços entre postos de combustíveis vizinhos, apesar de a

demanda global ser considerada inelástica. Tradicionalmente, os postos eram operados pelas

grandes empresas integradas ou por bandeiras independentes, mas ocorreu um fenômeno

recente nos EUA e na Europa, que foi a entrada de supermercados e hipermercados nesse setor,

competindo a preços e margens mais baixos, porque normalmente os postos servem como uma

forma de atrair clientes para seu negócio principal (INKPEN, 2016 e OECD, 2013). Esse

fenômeno provocou uma onda de redução dos investimentos das companhias integradas nesse

setor ao redor do mundo, vendendo suas estações para um mix de franqueados, distribuidores

atacadistas, e especialistas em lojas de conveniência (INKPEN, 2016 e OLIVER WYMAN,

2009).

3.3.2. Principais Players

Com essa cadeia de produção complexa para tirar o petróleo dos poços e levá-lo até os

consumidores, Downey (2009) explica que as empresas desse setor normalmente pertencem a

um dos seguintes grupos quanto à sua organização e atuação:

a. Companhias integradas de petróleo (IOCs): Empresas privadas que operam nos

diversos segmentos da indústria, normalmente apresentando operações do poço ao

posto. As 6 empresas principais desse grupo são conhecidas como Majors -

ExxonMobil, Chevron, British Petroleum (BP), Shell, ConocoPhillips e Total.

b. Companhias de Petróleo Nacionais (NOCs): Grupo em que a Petrobras se enquadra,

corresponde às empresas estatais criadas para garantir a propriedade sobre o óleo

encontrado nos territórios nacionais, controlando assim a maioria das reservas

mundiais de óleo cru. Apesar dessa origem no upstream, os níveis de integração

variam dentro do grupo.

49

c. Independentes: Empresas normalmente de menor porte, que participam apenas de

uma das etapas da cadeia de produção, e tendem a apresentar o maior risco/retorno

da indústria.

Figura 22: Majors do petróleo mundial.

Fonte: Elaboração própria.

Figura 23: Algumas das maiores NOCs pelo mundo.

Fonte: Elaboração própria.

A estrutura do setor, entretanto, nem sempre foi assim. Em seus anos iniciais, na segunda

metade do século XIX, a nova indústria era monopolizada pela empresa norteamericana

Standard Oil Company, de John D. Rockefeller. A empresa controlava 90% do mercado em

1890 e mantinha quaisquer competidores fora do mercado, comprando-os ou executando

50

práticas anticoncorrenciais, como corte de preços. Essa situação se manteve até 1911, quando

a empresa foi dividida em 34 partes pela Lei Antitruste Norteamericana. Essa partição formou

a base para o surgimento de algumas grandes empresas atuais: ExxonMobil, Chevron e Conoco

Phillips, por exemplo (DOWNEY, 2009).

Grandes descobertas começaram a acontecer ao redor do mundo ao longo da primeira

metade do século XX, e com isso ganharam relevância empresas de outros países. Para evitar

uma situação de superoferta, a Texas Railroad Comission (TRC) controlou a oferta e os preços

do petróleo a nível mundial entre 1931 e 1971, período em que o mercado mundial era

dominado por um grupo de empresas conhecido como As Sete Irmãs. Depois de uma onda de

consolidações, as Sete Irmãs formaram as atuais ExxonMobil, Chevron, British Petroleum (BP)

e Shell (DOWNEY, 2009).

Essa situação de domínio das Sete Irmãs acontecia por um modelo de concessões em

que os lucros eram divididos igualmente entre a IOC exploradora e o país dono das reservas.

Entretanto, ao longo dos anos essa situação acordada foi se deteriorando, com a desconfiança

dos governos locais a respeito da justiça dessa divisão, e começaram a ganhar forças

movimentos de nacionalização, como no Irã em 1951 e no Egito em 1952. Nestes, os ativos de

E&P e refino eram forçadamente comprados ou tomados pelo governo para formar empresas

nacionais de petróleo, as NOCs. (DOWNEY, 2009)

O grupo dos 5 principais países exportadores de petróleo ricos em reservas haviam

fundado a OPEP em 1960, mas foi apenas a partir de 1971 que as Majors perderam o controle

através da TRC e a OPEP, já com mais membros, passou a controlar a oferta mundial de óleo

cru devido ao início do declínio da produção norteamericana. Ainda hoje, a OPEP controla a

maior parte das reservas mundiais de petróleo, e tem poder de mercado considerável no cenário

mundial (DOWNEY, 2009)

Foi dessa forma que, apesar do pioneirismo das IOCs e de sua extrema relevância no

setor, as NOCs foram ganhando relevância, e chegamos ao momento atual em que, de acordo

com Inkpen (2016), elas controlam 90% das reservas de petróleo com expectativas de

crescimento desse número. Apesar disso, o autor afirma que as NOCs são vistas com bastante

desconfiança pelo mercado, por serem tipicamente ineficientes, burocráticas e submetidas aos

interesses políticos dos Estados nacionais, salvo raras exceções como a norueguesa Equinor.

Assim, não é consenso se algum dia essas empresas participarão efetivamente da competição

mundial, ou manter-se-ão apenas como braços de seus governos nacionais. O que é inegável

51

que as Majors têm e continuarão tendo um grande problema de acesso às reservas de seu

principal produto (INKPEN, 2016).

Stevens (2016) explica que, durante a década de 2000, com o acesso dificultado a

reservas e um histórico fraco de aumento de capacidade, as IOCs não tiveram alternativa senão

buscar projetos de maior custo e complexidade tecnológica para atender a suas expectativas de

crescimento da demanda e manutenção dos preços. Por isso, o autor afirma que ficou difícil

para essas empresas atender a uma de suas diretrizes estratégicas centrais de crescer suas

reservas, e isso têm sido um dos motivos para apresentarem desempenho fraco nos indicadores

financeiros e de performance para os investidores.

Stevens (2016) conclui que nesse novo contexto a única opção realista para as IOCs

seria uma reestruturação, desinvestindo de diversos de seus ativos, e focando nas áreas

funcionais e geográficas onde conseguem obter retornos satisfatórios para seus acionistas. Isso

requereria uma grande mudança cultural, mas seria o melhor caminho para garantir sua

sobrevivência, na opinião do autor.

3.3.3. Tendências do setor

O setor do petróleo sempre apresentou alta volatilidade devido aos altos e baixos nos

preços e na oferta do recurso. Apesar disso, havia sempre uma razoável previsibilidade, uma

vez que os preços eram fixados de acordo com o que determinava uma instituição que dominava

a oferta (primeiro a TRC e depois a OPEP). Hoje em dia essa previsão se tornou mais difícil,

devido a uma combinação de preços erráticos de commodities (que variam com frequência

maior), ambiguidade sobre o futuro dos combustíveis fósseis, e negociações contenciosas ao

redor do mundo, trazendo questionamentos para os quais não se tem resposta (PwC, 2019). A

mudança é uma constância nesse setor, na medida que os preços oscilam e as empresas se

adaptam, de forma que ninguém é capaz de prever exatamente o que acontecerá nos 12 meses

seguintes. Apesar disso, é importante tentar entender como o ambiente de negócios pode evoluir

(DICKSON, 2018).

A PwC (2019) entrevistou 99 presidentes de empresas de óleo e gás ao redor do mundo,

34 delas com receita superior a 1 bilhão de dólares, para definir algumas das tendências para o

ano de 2019 na indústria. Num cenário de baixos preços do barril e preocupação cada vez maior

com as mudanças climáticas, as empresas tendem a buscar menos um crescimento acelerado

em ciclos de bonança e mais valor incremental de suas operações atuais e novas. A conclusão

foi que as empresas - especialmente as pequenas e médias, já que as grandes têm maior

52

disponibilidade para perseguir múltiplas alternativas - precisam tomar uma decisão central que

consiste em uma entre três opções: (1) aceleração forte em combustíveis fósseis; (2)

diversificação do portfólio; ou (3) investimento pesado em renováveis. Independente do

caminho escolhido, a empresa de auditoria e consultoria pontua quatro fatores

estratégicos/táticos críticos para as empresas de óleo e gás nesse momento de mudanças:

a. Definir uma estratégia e uma identidade baseadas nas suas capacitações e na visão

de como elas podem ser melhor empregadas no setor de energia: um passo simples,

porém difícil, com o objetivo de desinvestir do que não seja vantajoso para

desenvolver os negócios centrais e investir nos negócios futuros.

b. Revisão de portfólio para focar nas forças e nas áreas de crescimento: altos níveis

de atividade principalmente na formação de alianças estratégicas para complementar

capacitações e na racionalização dos portfólios, com venda de ativos fora do core

para investir nas competências centrais.

c. Investimento em agilidade por meio da inovação digital: busca de vantagem

competitiva com novas tecnologias digitais para melhorar a eficiência das operações

e da gestão ao longo de toda a cadeia.

d. Atrair e reter os melhores talentos: segunda maior ameaça na visão dos CEOs,

especialmente nas áreas de skills digitais, devido às mudanças nas expectativas dos

entrantes no mercado de trabalho.

Em estudo similar feito pela Deloitte, Dickson (2018) - líder da prática de óleo, gás e

químicos da empresa - afirma que a confiança na recuperação está retornando aos executivos

do setor, com expectativas positivas a respeito do crescimento econômico, do preço de

commodities e do nível de investimentos. Independente do cenário de curto prazo, o executivo

afirma que o longo-prazo é cada vez mais a principal preocupação na indústria, especialmente

em relação a sua sustentabilidade. O relatório da Deloitte aponta cinco tendências principais

que devem impactar o setor em 2019

a. Disciplina no planejamento de investimentos e busca por produtividade: o período

recente de baixa na indústria trouxe ganhos relacionados à contenção de custos, à

alocação de capital e à eficiência operacional, e essas capacitações continuarão

sendo um diferencial num cenário instável.

b. Atenção aos investimentos em infraestrutura de transporte: a construção de

infraestrutura de transporte e distribuição de produtos é uma parte essencial, mas

frequentemente desvalorizada da cadeia. Contudo, os ciclos de planejamento e

53

construção desses ativos parecem estar se tornando mais complexos e longos, e as

empresas do setor precisam estar atentas porque isso pode impactar a capacidade de

transportar seus produtos e consequentemente suas margens.

c. Crescimento do gás natural: com a abundância do produto e a continuidade da busca

por uma matriz menos intensiva em carbono, espera-se que o mercado de gás natural

continue crescendo ao redor do mundo.

d. Sustentabilidade no centro das estratégias: Antes um nicho adicionado às estratégias,

a questão ambiental vem se movendo para o centro das atenções e dos investimentos,

com o aumento da consciência da população e das expectativas da sociedade.

e. Avanço das tecnologias digitais ao longo de toda a cadeia: Cada vez mais as

empresas do setor buscam oportunidades de aumentar sua geração de valor com o

uso de tecnologias como inteligência artificial, análise de dados, robótica e

blockchain que permitem aumentar a eficiência, produtividade, confiabilidade e

previsibilidade das operações8.

Dickon (2018) conclui afirmando que a consciência operacional e a disciplina de capital

continuam sendo fatores críticos para garantir retornos saudáveis aos investidores nesse período

de mudanças. Por isso, as dinâmicas externas devem ser trazidas para o centro das tomadas de

decisão, e o setor deve continuar na vanguarda das inovações tecnológicas, agora

principalmente no espectro digital, ao longo da cadeia.

A Ernst & Young (EY), outra renomada empresa de auditoria e consultoria, reafirma

que os preços mais voláteis das commodities levaram a um foco maior por parte das empresas

de petróleo na alocação de capital, com avaliação constante de que geografias, tipos de ativos

e áreas da cadeia de valor ofereceriam as melhores oportunidades. A gestão ativa do portfólio

tem sido, assim, uma atividade central para as empresas do setor. O estudo da EY detalha alguns

aspectos dessa diretriz que vem sendo perseguida (EY, 2018):

a. 87% dos executivos planejam realizar desinvestimentos nos próximos dois anos;

b. 78% das empresas estão desinvestindo para financiar novos investimentos em

tecnologia visando melhorar a eficiência operacional e atender às necessidades em

mudança do consumidor;

c. 97% dos executivos afirmam que o maior direcionador de desinvestimentos é uma

posição competitiva fraca da unidade de negócios;

8 Tradução própria.

54

d. 70% dos executivos afirmam ter mantido ativos por tempo demais quando deveriam

ter desinvestido;

e. 97% das empresas usaram analítica avançada para entender o real valor do ativo em

seu último desinvestimento;

f. Majors desinvestiram 23,1 bilhões de dólares frente a 23,2 bilhões de dólares de

investimentos em 2017.

Buscando explorar alguns exemplos específicos, em seguida serão analisadas as

estratégias anunciadas de algumas empresas relevantes de petróleo: as Majors BP, Shell,

ExxonMobil e Chevron, e as NOCs Equinor, Pemex.

A BP acredita que ter um portfólio balanceado, com upstream diferenciado (de baixo

custo/alta margem), downstream competitivo e uma diversidade de atividades de baixo carbono

permite maior resiliência frente à incerteza da transição energética. A empresa afirma que

investirá fortemente no upstream, na parte de varejo do downstream e em fontes de baixo

carbono, e afirma estar gerindo ativamente seu portfólio para isso, com mais de 10 bilhões de

dólares de desinvestimentos previstos nos próximos 2 anos (BP, 2019).

A Shell afirma que sua estratégia é fortalecer sua posição como uma empresa líder no

mercado de energia, oferecendo óleo, gás e energias renováveis na medida em que o sistema

mundial de energia se transforma. A execução dessa estratégia se baseia na transformação em

uma empresa mais simples e orientada ao consumidor, com foco na disciplina de capital para

garantir retornos e fluxos de caixa crescentes, através do investimento em projetos

competitivos, da redução dos custos e da venda de negócios fora do core. Foram realizados

desinvestimentos de 30 bilhões de dólares entre 2016 e 2018, sendo 7 bilhões de dólares no

último ano, distribuídos entre os setores upstream de petróleo (Irlanda, Iraque, Noruega e Omã;

US$ 2,2 bi), downstream de petróleo (Argentina; US$ 1,7 bi) e gás natural (Tailândia, Malásia

e Nova Zelândia; US$ 3,1 bi) (ROYAL DUTCH SHELL, 2019).

A ExxonMobil, líder em diversos aspectos dos setores de energia e químicos, define a

estratégia de “abastecer o mundo com segurança e responsabilidade”. A empresa acredita em

cinco diferenciais para a construção de sua vantagem competitiva: integração, tecnologia,

escala, excelência funcional e pessoas. A empresa defende a integração ponta a ponta nas

cadeias de hidrocarbonetos para aumentar a escala, compartilhar instalações de suporte, e

capturar sinergias nas capacitações organizacionais, especialmente entre as refinarias e os polos

petroquímicos. A Exxon acredita ainda que atividades integradas permitem capturar o valor na

cadeia independentemente da evolução dos mercados, que pode mudar a posição de maior

55

valor. Além disso, afirma que a diversificação horizontal ajuda a mitigar os efeitos dos ciclos

de preço do petróleo em seus resultados (EXXON MOBIL, 2019).

A Chevron define também o foco nos retornos financeiros em todas as etapas da cadeia,

desenvolvendo oportunidades de alto valor no upstream, investimentos mais direcionados no

downstream e excelência no midstream para fortalecer os resultados das outras etapas. Para

entregar esses resultados, prioriza a excelência operacional disciplinada, a gestão responsável

do capital e a eficiência de custos (CHEVRON, 2019).

A Equinor, NOC da Noruega anteriormente denominada Statoil, afirma estar ativamente

buscando um portfólio mais diverso, resiliente e rico de opções, mas mantem o foco em quatro

áreas principais: exploração da bacia norueguesa, áreas internacionais core de exploração (entre

elas, o pré-sal do Brasil), novas fontes de energia e midstream e marketing de energia. A

empresa define quatro princípios estratégicos para a gestão ativa do seu portfólio: capacidade

de geração de caixa, flexibilidade dos investimentos, captura de valor acíclica e vantagem na

economia de baixo carbono (EQUINOR, 2019).

A Pemex, estatal mexicana, apesar de não publicar relatórios anuais desde 2013,

reafirma seu foco na Exploração e Produção continental e de águas rasas (77% do investimento)

em apresentações ao mercado de 2019. Reforça ainda a necessidade de uma estrutura de custos

enxuta e uma alocação ótima do capital para garantir a lucratividade e a criação de valor,

especialmente objetivando a redução do endividamento da empresa (PEMEX, 2019).

Quanto à CNPC, não se encontrou informações relevantes sobre o futuro estratégico da

empresa.

Percebe-se que não há uma unidade nas estratégias apresentadas quanto às etapas de

foco na cadeia de valor do petróleo ou até mesmo dentro do setor de energia. Entretanto, em

quase todos os casos, com exceção da ExxonMobil, a disciplina na gestão do capital com foco

em ativos relativamente específicos para garantir a geração de fluxo de caixa é uma prioridade

estratégica.

Desinvestimentos relevantes são mencionados pela inglesa BP e pela holandesa Shell,

e as duas, assim como a Equinor (as três companhias europeias do grupo), enfatizam os

investimentos em energia renováveis, enquanto as companhias americanas (ExxonMobil e

Chevron) parecem mais lentas nesse aspecto e ainda direcionam seu foco para segmentos mais

tradicionais.

* * * *

56

Com base na explanação feita nesse capítulo sobre as perspectivas do mercado de

energia e a estrutura do setor de petróleo, é possível concluir com relativa segurança que o

petróleo ainda será uma fonte bastante relevante de energia nas próximas décadas. Apesar de o

recurso perder participação na matriz energética para os renováveis e o gás, a demanda ainda

deve apresentar certo crescimento até 2030 e estabilizar depois disso. Nesse cenário, pela

necessidade de substituição dos poços, os investimentos tendem a ser maiores no upstream que

nas outras etapas da cadeia, em que os ativos não requerem substituição.

Mantido o contexto atual em que grande parte das reservas se encontra em países

“instáveis”, a busca por fontes seguras de petróleo tende a ser uma das prioridades das empresas

desse mercado. Além de seguras, o histórico recente de baixos preços e a incerteza quanto ao

futuro parece direcionar a busca para fontes de baixo custo que permitam um baixo preço de

equilíbrio, garantindo resiliência ao negócio. Assim, a disciplina de investimentos, focando nos

melhores ativos, e de operações, buscando eficiência de custos e melhorias operacionais, são

tendências que vêm sendo perseguidas pela maioria das empresas de toda a cadeia, a fim de

combaterem o efeito cíclico da economia sobre a indústria.

57

4. ESTUDO DE CASO: O PNG PETROBRAS 2019-2023

4.1. HISTÓRICO

4.1.1. Criação da empresa e primeiras operações

A indústria do petróleo no Brasil começou com grande atraso em relação ao mercado

mundial. Enquanto os Estados Unidos começaram a produzir a matéria-prima comercialmente

em 1859, no Brasil da década de 1930 ainda se explorava o recurso de forma bastante amadora

em meio a debates sobre como deveria ser estruturado esse setor no Brasil em relação ao Estado,

ao capital privado nacional e ao capital privado estrangeiro. Grupos que defendiam a

participação de empresas privadas se opunham aos que desejavam o monopólio estatal e

acusavam os adversários de serem “entreguistas” (DIAS E QUAGLINO, 1993 e MORAIS,

2013).

Nesse contexto, em 1938 foi dado o primeiro passo para a regulamentação por meio da

criação do Conselho Nacional de Petróleo (CNP) por meio de decreto do presidente Getúlio

Vargas durante o Estado Novo, definindo o controle governamental sobre toda a indústria, sem

descartar a concessão de áreas de exploração e refino para a inciativa privada (CPDOC, 1997).

Durante a década de 40, começaram a ser descobertos poços com potencial comercial,

começando em 1941 com o poço de Candeias, na Bahia. Contudo, o debate continuou e se

intensificou: em 1948 a discussão sai dos círculos oficiais e tem início a forte campanha popular

“O Petróleo é Nosso”, com manifestações e eventos defendendo o monopólio estatal sobre o

petróleo (MORAIS, 2013).

A campanha continua em meio à votação de uma proposta de lei enviada por Getúlio

Vargas ao Congresso em 1951, que definia uma empresa de capital misto. Modificada pelo

poder Legislativo, a lei 2.004 definiu o monopólio estatal das atividades de exploração,

produção, refino e transporte de petróleo e, em 3 de outubro de 1953, foi criada a empresa

estatal de capital misto “Petróleo Brasileiro S.A.”, atualmente conhecida apenas como Petrobras

(ACERVO O GLOBO, 2013b).

No momento de sua criação, as expectativas em relação a Petrobras eram que a empresa

conseguisse, a partir do investimento em atividades exploratórias de petróleo e construção de

refinarias, reduzir a dependência brasileira em relação ao petróleo estrangeiro até o ponto da

autossuficiência. Entretanto, nos seus anos iniciais a empresa enfrentou sérios problemas de

carência tecnológica e de mão-de-obra qualificada, que a levaram a investir fortemente em

pesquisa, especialmente junto à Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de

58

Janeiro). Contudo, o cenário de dependência continuou em curso, após descobertas de petróleo

onshore se mostrarem pouco promissoras para reduzir a dependência (MORAIS, 2013).

4.1.2. Exploração offshore e crises do petróleo

Durante a década de 60, a Petrobras decidiu deixar em segundo plano a exploração

terrestre e direcionar suas iniciativas de prospecção para o litoral marítimo. Foi um movimento

ousado, visto que a existência de petróleo não estava confirmada, e que a exploração offshore

apresenta condições de elevado grau de dificuldade quando comparada à exploração no

continente. Por consequência, o movimento exigiria um alto nível de investimento, como

Morais (2013) explica. O autor separa essas complicações em três grupos:

a. Condições ambientais marítimas e das rochas abaixo do leito do oceano, como

pressões hidrostáticas, correntes marinhas, maleabilidade da camada de rochas,

entre outras.

b. Distância entre as plataformas e os reservatórios, no fundo dos oceanos, e entre as

plataformas e o continente, que encarecem a operação do poço e o transporte do

petróleo.

c. A falta de visibilidade das operações dentro do mar, tanto dos equipamentos

localizados no fundo do mar como dos tubos que os conectam às plataformas.

Para contornar esses pontos, foi necessário desenvolver recursos tecnológicos próprios

e não antes criados na história da indústria. Felizmente, a empresa descobriu reservas de

petróleo no litoral do Nordeste e no litoral do estado do Rio de Janeiro já em 1968 (MORAIS,

2013).

A década de 70 trouxe momentos de instabilidade para o setor de petróleo. Devido a

conflitos políticos no Oriente Médio, a comunidade internacional, liderada pelos Estados

Unidos e pela União Soviética, impôs embargos econômicos aos países da região, e o preço do

óleo cru subiu de 14 dólares em 16 de outubro de 1973 a 50 dólares em 1º de janeiro de 1974,

em valores de 2009 - mais de 250% em dois meses e meio. A partir desse momento, as

incertezas fizeram com que preços baixos e estáveis de petróleo se tornassem uma coisa do

passado (DOWNEY, 2009).

Durante esse período de crise, o Brasil vivia seu momento de “milagre econômico”: as

taxas de crescimento econômico estavam altas, e isso tornava a demanda por petróleo cada vez

maior. Essa situação fez com que aumentassem os esforços para desenvolver a produção

59

nacional e reduzir a dependência externa, ainda que isso exigisse altos níveis de investimento

para acelerar o desenvolvimento da tecnologia para explorar petróleo no mar.

Um dos movimentos realizados foi a permissão da celebração de contratos entre a

Petrobras e empresas estrangeiras, para buscar petróleo, entre 1975 e 1987. Esses contratos com

empresas estrangeiras ficaram conhecidos como “contratos de risco”, mas resultaram apenas

em pequenos poços novos. A solução para o problema se daria, afinal, por meio da própria

Petrobras (CASTRO FILHO et al., sem data).

Em 1976, depois de uma série de descobertas offshore de pequeno e médio porte,

começaram a ser encontrados reservatórios gigantes na Bacia de Campos, que levaram a

grandes aumentos na produção nacional. Esse momento marcou o início do sucesso da

exploração offshore no Brasil, e deu embasamento para que fossem investidos mais recursos

nessa atividade. Até hoje, a Bacia de Campos é a principal área produtora do Brasil (AGÊNCIA

PETROBRAS, 2013).

4.1.3. Mudanças regulatórias de 1997

Até a década de 90, toda a operação de exploração, produção, refino e distribuição era

controlada pela Petrobras. Foi em 1995, com a Emenda Constitucional 9/1995, que se

determinou o fim do monopólio estatal, de acordo com lei a ser publicada. No ano de 1997,

promulgou-se a Lei nº 9.487/97, as mudanças foram colocadas em prática, e o mercado foi

aberto às empresas privadas – porém, era garantida à União a propriedade sobre todos os

recursos minerais no subsolo.

Também nessa época foi criada a Agência Nacional de Petróleo (ANP). A ANP tornou-

se responsável por gerir o monopólio estatal sobre o petróleo, de forma a garantir o aumento da

produção com inserção de capital privado para tornar a indústria mais competitiva. Foram

instituídos dois regimes para as diferentes atividades (SANTOS e AVELLAR, 2016):

a. Regime de Partilha de Produção: os custos da atividade são assumidos pela empresa

contratada, que divide os lucros e a operação com o Estado. Esse modelo foi

associado, na época, a etapas menos nobres da cadeia, de menor risco e menor

necessidade de investimento, como transporte, refino e comercialização.

b. Regime de Concessão: foi aplicado principalmente à etapa de E&P, e consiste na

realização de um processo licitatório para conceder licenças de exploração a

empresas interessadas, que assumem o compromisso de pagar royalties e outras

taxas ao governo federal e aos estados produtores, proporcionais à produção

60

realizada. Além disso, foram instituídos investimentos obrigatórios em P&D para

essa parte da cadeia. Esse modelo oferece maior liberdade na operação, com menos

interferência estatal.

A partir desse momento, a Petrobras passa a operar em regime de mercado, precisando

pagar tributos dos quais antes era isenta, e participar das licitações para conseguir direitos de

exploração, tendo que pagar o bônus necessário para ganhar os blocos ofertados pela ANP. A

empresa precisou se submeter também à fiscalização por parte da ANP, repassando todo seu

conhecimento técnico à agência, e aderir às regras aplicadas a todas as empresas. A União

manteve o controle acionário, com obrigação de manter a propriedade sobre ao menos 50%

mais uma das ações com capital volante da empresa (CÂMARA et al., 2008).

4.1.4. Descoberta do pré-sal e mudanças regulatória

Em 2006 a Petrobras anunciou a descoberta do campo de Tupi, parte de um grande

reservatório de petróleo localizado abaixo da camada de sal, a milhares de metros de

profundidade tanto em termos de lâmina d’água como no subsolo: o pré-sal – abaixo de mais

ou menos 2 mil metros de água e 5 mil metros de rocha de pós-sal e sal. A camada do pré-sal

ocupa uma área de 800 km de extensão e 200 km de largura, a cerca de 300 km da costa entre

os estados de Santa Catarina e Espírito Santo.

Os grandes volumes recuperáveis, a alta produtividade e a boa qualidade do óleo, que é

do tipo leve (o mais valorizado pelo mercado, diferente do comumente encontrado no Brasil),

fazem do pré-sal uma das principais descobertas recentes na indústria de energia global e

principalmente para o Brasil (AGÊNCIA PETROBRAS, 2013).

Entretanto, as dificuldades apresentadas anteriormente para a exploração offshore são

ainda mais intensas quando se trata de águas profundas. As condições físicas de operação dos

equipamentos tende a ser mais extrema, principalmente devido à pressão da coluna de água,

que exige reforços estruturais; as distâncias são maiores, e a operação passa a ser não apenas

invisível de fora do mar mas também inacessível, uma vez que a presença de mergulhadores

humanos só é possível até os 300 metros de profundidade. Tamanhos eram os desafios que a

tentativa de exploração na área de Tupi teria sido a última antes de se abandonar a exploração

do pré-sal, devido a esse alto custo e às dificuldades técnicas (MORAIS, 2013).

O que foi decisivo para capacitar a Petrobras a explorar reservatórios nessas condições

extremas foi seu arranjo de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) construído nos Programas de

61

Capacitação Tecnológica em Águas Profundas (PROCAPs) para 1.000, 2.000 e 3.000 metros

de profundidade de lâmina aquática (MORAIS, 2013).

Em vez de investir de forma autárquica, adotou-se um modelo de cooperação entre o

Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (CENPES), localizado na Ilha do Fundão no Rio de

Janeiro, e universidades, instituições de pesquisa e outras empresas, que possibilitou

desenvolver o estado da arte e obter avanços excepcionais. Os PROCAPs buscavam

potencializar o P&D resolvendo também problemas internos de compartilhamento de práticas

e aprendizado entre departamentos da própria empresa (MORAIS, 2013)

Para coordenar as iniciativas tecnológicas para e retirar o petróleo do pré-sal, a Petrobras

criou um programa de P&D chamado Programa Tecnológico para o Desenvolvimento da

Produção dos Reservatórios do Pré-sal (PROSAL). Os dois principais desafios eram o alto custo

dos poços perfurados e o desconhecimento sobre o tipo de rocha predominante nas perfurações.

Figura 24: Camadas para exploração de petróleo do pré-sal.

Fonte: Site WikiGeo http://wikigeo.pbworks.com/w/page/36435679/Camada%20Pr%C3%A9-Sal. Acesso em 25 mai. 2019.

Nessa época, o Governo Federal, então comandado pelo presidente Luiz Inácio Lula da

Silva, propôs uma mudança no marco regulatório de petróleo preexistente, da década de 90,

para que o Estado pudesse ter mais participação, ficando com maior parte do lucro gerado, de

forma a gerar retorno para a sociedade. A proposta foi feita sob o argumento de que a descoberta

do pré-sal significava uma fonte de baixo risco exploratório e alto potencial para as empresas

62

do setor. O primeiro argumento foi bastante criticado por investidores e por outras empresas de

petróleo, que afirmavam que nenhum tipo de operação de E&P apresenta baixo risco

(PEIXOTO, 2009).

No dia 22 de dezembro de 2010, dessa forma, depois de aprovado no Congresso

Nacional e no Senado Federal, o novo marco regulatório foi sancionado pelo então presidente.

Os quatro projetos de lei colocados em prática nesse momento foram os seguintes (OLIVEIRA,

2009):

1. PL 5.938/09: substituiu para as áreas estratégicas o modelo de concessão então em

vigência pelo modelo de partilha, em que o Estado entra como sócio nas atividades

de E&P. Com isso, ficou determinado que a Petrobras deveria ser a operadora única

dos poços, com no mínimo 30% de participação e responsabilidade pela condução

de todas atividades de exploração, avaliação, desenvolvimento e produção. Foi

definido também que o critério para escolher o vencedor das licitações seria a

quantidade de óleo ofertado à União.

2. PL 5.939/09: criou a Petro-Sal, posteriormente renomeada Pré-Sal Petróleo,

empresa estatal responsável por gerir os contratos de partilha de produção do novo

modelo, contratar a empresa responsável por comercializar o petróleo do governo, e

representar a União nos acordos de produção.

3. PL 5.940/09: determinou que os lucros arrecadados com a venda de petróleo por

parte da União deveriam ser depositados em um Fundo Social, constituindo uma

poupança pública que deveria ser aplicada exclusivamente em projetos de

desenvolvimento social.

4. PL 5.941/09: autorizou a “cessão onerosa” para garantir o capital necessário para a

exploração do pré-sal. Nessa operação, o governo cedeu à Petrobras o direito de

explorar um máximo de 5 bilhões de barris de petróleo sem licitação, em uma região

determinada, por 42,5 bilhões de dólares. Para conseguir pagar por esse contrato e

ter o capital necessário para os investimentos de exploração e produção, a empresa

realizou uma oferta secundária de ações na bolsa, em 2010, na qual levantou um

total de 70 bilhões de dólares (a maior operação do tipo na história). Dessas ações

ofertadas, o governo comprou uma boa parte, pois desejava aumentar a sua

participação na companhia, e assim passou de 40% para 48% de participação

societária. (PEIXOTO, 2010 e FAZENDA, 2010).

63

O projeto de lei que determinou a cessão onerosa (Lei nº 12.276/2010) previa ainda

que, caso fosse obtido mais petróleo na área cedida que os 5 bilhões de barris

previstos, o excedente deveria ser leiloado, e que os valores do contrato

(especialmente o preço por barril de 8,50 dólares) poderiam ser revisados,

considerando a possibilidade de variarem os preços de mercado do petróleo ou as

especificações dos produtos obtidos na lavra dos campos (PLANALTO, 2010a).

Esses dois pontos serão retomados mais à frente.

Figura 25: Explicação da cláusula de cessão onerosa do pré-sal

Fonte: Elaboração própria

Esse modelo de exploração, com maior participação do Estado na exploração de

petróleo (quando comparado ao modelo de 1997) vigorou até 2016. Nesse ano, foi assinada a

Lei nº 13.365, que terminou com a exclusividade da operação da Petrobras nos poços do pré-

sal. A empresa passou a ter apenas o direito de preferência sobre a operação dos poços, podendo

optar por exercê-lo ou não dependendo dos seus interesses. O principal argumento favorável à

aprovação dessa lei era desobrigar a Petrobras de investir em todos os poços, o que seria

benéfico para a empresa, considerando seu momento complicado (como explicado na próxima

seção), em que não tinha condições para realizar tal investimento (AGÊNCIA SENADO, 2016).

Esse direito de preferência foi posteriormente regulamentado por decreto presidencial em 2017,

que determinou que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) passaria a ser o

responsável por definir o percentual de participação da Petrobras nos consórcios, caso ela

manifestasse o interesse antes do leilão, entre o mínimo de 30% e o desejo expresso pela

companhia. Se a Petrobras não exercer a preferência, é realizada uma licitação para o bloco em

questão, em que a empresa ainda pode participar em condições de igualdade com os demais

exploradores (PORTAL PLANALTO, 2017).

64

4.1.5. Crise recente (2010-2016)

Damadoran (2015) explica que o período entre 2002 e 2010 apresentou uma mudança

drástica do papel da Petrobras, de pequena companhia de petróleo de um país emergente para

uma gigante global, devido a três fatores: (1) a descoberta das enormes reservas de petróleo do

pré-sal, que colocou a companhia em posição de destaque em termos das reservas provadas, (2)

o alto preço do petróleo durante a maior parte desse período, que viabilizou a exploração dessas

reservas e (3) a redução geral do risco brasileiro, exemplificada pela queda do spread bancário

de 14,3% em 2001 para 1,4% em 2010.

O que se seguiu a isso foi uma destruição de valor muito intensa devido ao modelo de

gestão imposto à Petrobras entre 2010 e 2015. Uma série de fatores fez com que o preço das

ações da empresa caísse de R$ 35,39 em março de 2010 para R$ 4,84 em janeiro de 2016, uma

impressionante queda de 86,3% em seu valor de mercado. Nesse mesmo período, o nível de

endividamento aumentou muito, com a dívida bruta passando de R$ 102,2 bilhões ao final de

2010 para R$ 493 bilhões ao final de 2015 (5,1x o seu lucro antes de impostos, juros,

depreciação e amortização (EBITDA) neste ano), ao mesmo tempo em que o resultado líquido

passou de um lucro de R$ 35,2 bilhões em 2010 para um prejuízo de R$ 34,8 bilhões em 2015.

(PETROBRAS, 2010 e 2017).

Os gráficos apresentados nas figuras 26 e 27 ilustram essa queda em valor de mercado,

e mostram que ela não aconteceu de maneira generalizada para todas as empresas do setor, com

a ExxonMobil e a Shell sofrendo valorizações no período, indicando a existência de motivos

específicos da empresa além de fatores conjunturais.

Figura 26:Valor das ações da Petrobras entre 2010 e 2016.

Fonte: Yahoo Finance https://br.financas.yahoo.com/chart/PETR4.SA. Acesso em 16 de maio de 2019

65

Figura 27: Comparação de valor das ações da Petrobras, Shell e ExxonMobil entre 2010 e 2016.

Fonte: Yahoo Finance https://br.financas.yahoo.com/chart/PETR4.SA. Acesso em 16 de maio de 2019

Apesar de não serem os únicos fatores que levaram a essa queda, três acontecimentos

de diferentes naturezas que aconteceram nesse período ajudam a explicá-la:

1. Política de controle dos preços dos combustíveis: Durante o governo Dilma (2010-

2014), os preços administrados do setor de energia (incluindo os combustíveis)

foram controlados como mecanismo de combate à inflação. Esse controle dos preços

fez com que a Petrobras vendesse seus produtos refinados no Brasil abaixo dos

valores internacionais do mercado, renunciando a receitas, e vendesse combustíveis

importados abaixo do preço que comprava no mercado internacional. Estima-se que

o prejuízo da empresa com essa política tenha sido de 98 bilhões de reais entre 2011

e 2014 (ALMEIDA et al., 2015).

2. Operação Lava Jato: Em março de 2014 veio à tona uma investigação do Ministério

Público Federal, que viria a ser a maior operação contra corrupção e lavagem de

dinheiro da história do Brasil (de acordo com o site do Ministério Público Federal).

No centro desse enorme esquema de corrupção estava a Petrobras, cujos

funcionários recebiam propinas através de contratos superfaturados com

empreiteiras e outras prestadoras de serviço. A Polícia Federal (PF) estima que o

prejuízo financeiro da estatal com a corrupção tenha sido de 42 bilhões de reais

(DIONÍSIO, 2015). Apesar de a empresa ter lançado em dezembro de 2014 o

Programa Petrobras de Prevenção da Corrupção (PPPC), é inegável que a revelação

deste esquema de corrupção afetou de maneira duradoura a credibilidade da empresa

frente ao mercado de capitais.

66

3. Corrosão dos preços do petróleo no mercado internacional: Entre os anos de 2014 e

2016 o Brent, benchmark internacional para os preços de petróleo cru, caiu

vertiginosamente. De 115 dólares em junho de 2014 o preço do barril passou ao

valor mínimo de 26 dólares em janeiro de 2016, uma queda de 77,3% (EIA, 2019).

Essa queda abrupta está relacionada a um crescimento fraco da demanda global,

associado a um aumento da oferta por parte dos Estados Unidos com a descoberta

de novas reservas do shale, e por parte da OPEP devido a questões geopolíticas

(especialmente o Irã e a Arábia Saudita) (OLIVEIRA e TURRER, 2016). Um preço

tão baixo reduz de forma generalizada as expectativas sobre as empresas do setor

petrolífero, e pode tornar inviável a exploração de reservas com custo mais alto,

como o pré-sal brasileiro e o shale norteamericano.

Damadoran (2015) explica a forma como o ciclo de destruição de valor sofrido pela

Petrobras se deu em cinco etapas, conforme explicado na figura 28. Vale ressaltar que ele

apresenta a evolução apenas entre 2010 e 2014, eliminando o efeito da queda do preço do barril

de petróleo que aconteceu após esse ano.

Figura 28: Etapas do ciclo de destruição de valor da Petrobras (2010-2015).

67

Fonte: Damadoran (2015). Tradução própria.

O primeiro passo, de acordo com o autor, foi a Petrobras investir demais sem se

preocupar necessariamente com a rentabilidade dos investimentos, prejudicada pela “ingerência

política e pela corrupção”. Enquanto as grandes IOCs investiam em média 15 a 20% da receita,

a Petrobras investia pelo menos 30%, mesmo alcançando um retorno sobre o investimento de

apenas 5%, em um momento que o barril de petróleo passava de 100 dólares.

Esses investimentos fizeram com que a receita da empresa aumentasse

consideravelmente, mas suas margens caíram muito no mesmo período, que é o passo 2 do

ciclo. Nesse caso, tanto a corrupção como o controle dos preços dos combustíveis contribuíram

para a redução drástica da lucratividade, com a margem EBITDA caindo de 34% em 2009 para

21% em 2014.

Em seguida, o terceiro passo é a continuidade do pagamento de dividendos, mesmo

quando a empresa apresentava fluxo de caixa negativo, isto é, indicando não haver recursos

para isso. O autor afirma que isso aconteceu porque a Petrobras possui uma estrutura de capital

em que há muitas ações sem poder de voto, o que seria justificado pelo desejo do governo de

manter o controle da companhia. Esses investidores requereriam, portanto, maior pagamento

de dividendos para compensar o controle exclusivo por parte do Estado.

Para sustentar os altos investimentos, a queda da margem e o pagamento de dividendos,

chega-se ao quarto passo, que é o aumento da dívida. A Petrobras precisou captar dinheiro novo

para cobrir todos esses gastos, e dessa forma sua dívida mais do que quadruplicou entre 2008 e

2014, tornando-a a companhia mais endividada do setor de petróleo.

Esse ciclo termina no quinto passo, que é a queda do valor da empresa como

consequência das escolhas tomadas ao longo do ciclo. Maior endividamento com menor lucro

leva à redução desse valor, e a manutenção dos elevados e pouco rentáveis investimentos

realimenta o ciclo.

Apesar desse período de crise e forte queda no preço das ações ter prejudicado a

reputação internacional da Petrobras, vale ressaltar que, após uma troca de gestão em 2015, a

empresa realizou uma captação de 2,5 bilhões de dólares em títulos com validade inédita de

100 anos, e teve alta demanda do mercado internacional (13 bilhões de dólares). A empresa

precisou pagar juros relativamente altos, de 8,45% ao ano (comparável aos de empresas sem

grau de investimento), por causa do seu alto endividamento e dos escândalos de corrupção, mas

68

isso mostra que, mesmo havendo incertezas e problemas, o mercado não perdeu a confiança na

capacidade da Petrobras de gerar valor no longo prazo (DECLOEDT et. al, 2015).

4.1.6. Nova política de preços e greve dos caminhoneiros

Com a queda da ex-presidente Dilma Rousseff devido ao processo de impedimento

finalizado em 2016, o presidente interino Michel Temer indicou para a presidência da Petrobras

Pedro Parente, ministro da Casa Civil durante o segundo mandato de Fernando Henrique

Cardoso. Como explicitado no Relatório Integrado de 2016, na carta de Nelson Carvalho, então

presidente do Conselho de Administração, os dois objetivos principais da nova gestão eram

reduzir o nível de acidentes nas instalações da Petrobras e reduzir o endividamento e a

alavancagem financeira. Naquele momento, a Petrobras possuía a maior dívida entre todas as

empresas de petróleo do mundo (PETROBRAS, 2017).

O plano estratégico daquele ano determinou cinco iniciativas para garantir o

cumprimento das metas: (1) reforço dos aspectos comportamentais da segurança de processos;

(2) adoção de nova política de preços para os combustíveis, baseada na paridade internacional;

(3) busca pela eficiência dos investimentos; (4) redução dos custos, sem prejuízos à segurança

e aos objetivos de produção; e (5) realização de parcerias e desinvestimentos no biênio 2017/18.

(PETROBRAS, 2017)

Poucos meses após a posse de Pedro Parente, portanto, em outubro de 2016, a Petrobras

adotou uma nova política de preços dos combustíveis, com o objetivo de afastar a intervenção

estatal, e reconstruir o caixa e a imagem da empresa perante o mercado. A partir daquele

momento, os preços de saída da refinaria passaram a acompanhar as variações internacionais

do petróleo e da taxa de câmbio, sendo revisados ao menos uma vez por mês. A princípio, não

seriam mais praticados preços abaixo da paridade internacional (MOURA, 2018).

Depois de um pouco menos de um ano com essa política, a empresa resolveu rever a

frequência de atualização dos preços, para ganhar mais agilidade na resposta à volatilidade

internacional, garantindo maior aderência aos preços de referência. Os reajustes passaram a ser

feitos a qualquer momento que fosse identificada variação significativa (MOURA, 2018).

De acordo com cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), depois do

anúncio dessa nova política de preços, o preço do óleo diesel subiu 56,5% na saída das refinarias

em 10 meses, em linha com os preços internacionais, devido ao aumento do preço do petróleo

e à desvalorização do real. Entretanto, esse aumento deixou os caminhoneiros insatisfeitos com

o crescimento dos seus custos, o que resultou num protesto que se transformou em greve de 10

70

com seu último fact sheet divulgado aos investidores, o valor de mercado da empresa é de 99,3

bilhões de dólares (considerando valor das ações em 31/03/2019) e há mais de 63 mil

colaboradores ativos. (INVESTIDOR PETROBRAS, 2019)

Figura 29: Composição acionária da Petrobras

Fonte: Fact sheet (10/05/2019). Disponível em

https://www.investidorpetrobras.com.br/fck_temp/1001_6/file/factsheet_RI_maio-PORT.pdf. Acesso em 16 de junho de

2019

A Petrobras define seis tipos de recursos que são essenciais para a geração de valor para

os agentes envolvidos:

a. Capital humano: consiste nos funcionários da empresa usando sua capacitação

técnica e sua experiência para realizar o trabalho com competência e segurança;

b. Capital intelectual: formado pelas muitas décadas de pesquisa e desenvolvimento,

relaciona-se com a capacitação tecnológica para realizar as atividades;

c. Capital social e de relacionamento: trata-se das interações com as diferentes partes

da sociedade envolvidas nos processos, especificamente os canais de diálogo

estabelecidos, os investimentos sociais e as iniciativas de gestão da marca;

d. Capital financeiro: o recurso mais clássico, é o dinheiro mobilizado (próprio ou de

terceiros) para estabelecer e rodar a atividade produtiva;

e. Capital produtivo: composto pelos ativos imobilizados por meio dos quais se realiza

a atividade produtiva, como as plataformas, refinarias, oleodutos e outras

instalações;

71

f. Capital natural: consiste nos recursos naturais necessários ao processo, caso das

reservas de óleo e gás, ou impactados por ele, caso do meio ambiente e da

biodiversidade.

De acordo com a empresa, esses capitais são habilitadores para que o modelo de

negócios da empresa funcione, constituindo assim dimensões críticas para o sucesso da

Petrobras em seus negócios.

Para gerir seu portfólio diversificado, a Petrobras apresenta um organograma em parte

funcional e em parte por unidades de negócio. Cada uma dessas áreas tem um líder com cargo

de diretor executivo, compondo assim a diretoria executiva da empresa junto ao presidente

atual, Sr. Roberto Castello Branco. A diretoria executiva é responsável pela gestão dos negócios

da companhia de forma alinhada com a missão e os objetivos e metas definidos

estrategicamente. Um organograma da empresa pode ser encontrado no anexo A.

(PETROBRAS, 2019)

São seis as unidades que atuam por função, como parte da corporação ou de maneira

transversal às unidades de negócio:

a. Área da Presidência: composta pelo presidente e por outras unidades acessórias

como a Ouvidoria-Geral, a Auditoria Interna, a Secretaria-Geral, além das áreas

Jurídica, Estratégia, Gestão de Portfólio e Segurança Corporativa.

b. Área de Relacionamento Institucional: trata dos assuntos ligados à comunicação e

marcas, responsabilidade social e relacionamento com poder público.

c. Área de Assuntos Corporativos: responsável pela gestão de pessoas, pela área de

saúde, segurança e meio ambiente, pelo suprimento de bens e serviços, pela

tecnologia da informação e pelos serviços compartilhados.

d. Área Financeira e de Relacionamento com Investidores: controla as finanças,

incluindo contabilidade, tributário, riscos empresariais e controladoria e o

relacionamento com o mercado investidor.

e. Área de Governança e Conformidade: assegura a aderência ao modelo de

governança da Petrobras, e dissemina a cultura da conformidade, defendendo

inclusive a integridade corporativa contra fraudes, corrupção e lavagem de dinheiro.

f. Desenvolvimento da Produção e Tecnologia: gere os esforços de implantação de

projetos em diferentes etapas da cadeia, aplicando as melhores soluções tecnológicas

disponíveis no capital intelectual da empresa, e buscando novas opções através de

pesquisa e desenvolvimento.

72

Há ainda dois diretores que gerenciam partes específicas da cadeia de produção,

numa divisão com base nas unidades de negócio:

a. Exploração e Produção: gere de maneira integrada os ativos e as operações de E&P,

garantindo sustentabilidade no longo prazo e cumprimento das metas no curto prazo.

Divide-se em terra e águas rasas, águas profundas e águas ultra profundas, com

unidades transversais de exploração, reservatórios e suporte às operações;

b. Refino e Gás Natural: gere o portfólio e as operações industriais de refino e

fertilizantes, o negócio de gás e energia, a logística de distribuição e as atividades

de marketing e comercialização na ponta da cadeia.

As unidades de distribuição e comercialização não estão descritas no organograma, visto

que estas são subsidiárias da empresa. Isso significa que o controle da Petrobras sobre a BR

Distribuidora e a Transpetro era garantido por aquela ser então a acionista majoritária dessas

duas.

Plano Básico de Organização da Petrobras:

a. Conselho Fiscal: tem o dever de fiscalizar as atividades dos administradores e

aprovar as demonstrações financeiras da corporação;

b. Conselho de Administração: órgão responsável pela direção superior da Petrobras,

definindo suas estratégias, com membros eleitos pela Assembleia Geral dos

Acionistas.

c. Assembleia Geral dos Acionistas: órgão composto por todos os acionistas da

companhia que reúne anualmente de maneira ordinária ou de maneira extraordinária

mediante convocação do Conselho de Administração.

Por ocasião da Operação Lava Jato, foi criado temporariamente um Comitê Especial de

Investigação para melhorar as práticas empresarias e fortalecer os controles internos contra

fraudes. Entre as melhorias conseguidas nesse aspecto, a empresa destaca a criação de um canal

externo de denúncias, a inclusão de critérios de integridade para a nomeação da alta

administração, o uso de autorização compartilhada de decisões, a implantação de um mínimo

de 40% de membros independentes no Conselho de Adminitração, impedindo indicações

políticas, e a criação de novos comitês estatuários de suporte à questão.

4.2.2. Resultados gerais

Em seu relatório anual de 2018, a Petrobras define três métricas principais relacionadas

à segurança, à redução da dívida e à rentabilidade. O documento afirma que esses indicadores

73

orientam as ações estratégicas da empresa e são desdobrados para todos os níveis da

organização:

a. Taxa de Acidentados Registráveis (TAR) por milhão de homens-hora: a quantidade

de acidentes que acontecem a cada milhão de horas de trabalho dos funcionários da

Petrobras (por exemplo, um dia de trabalho de 10 trabalhadores com turno de 8 horas

soma 80 homens-hora). Essa é a principal métrica da empresa para a área de

segurança.

Esse valor foi de 1,01 em 2018 (frente a uma meta de 1,00), um patamar similar ao

das melhores empresas de petróleo nesse quesito, e a trajetória recente é de forte

queda, a partir de um valor de 1,63 em 2016;

b. Dívida líquida/EBITDA ajustado: é uma medida da alavancagem financeira, e

consiste no quociente entre o endividamento líquido da empresa (dívida total menos

caixa e equivalentes de caixa) e o resultado anual antes de juros, impostos e

depreciação/amortização (EBITDA), do qual são eliminados os seguintes efeitos:

resultados de participações em empresas e investimentos, mudanças no valor

recuperável de ativos (ajustes contábeis conhecidos como impairment), venda de

ativos e efeitos cambiais. Esse indicador mostra em quantos anos levaria para a

empresa pagar sua dívida líquida, considerando o EBITDA como constante ao longo

do período.

O valor desse indicador foi de 2,34x para a Petrobras em 2018 (perante meta de

2,50), com forte trajetória descrescente após pico de 5,1x em 2015. Nesse período,

a dívida líquida caiu cerca de 31%, de 392 bilhões de reais em 2015, para 314 bilhões

de reais em 2016, e 269 bilhões de reais em 2018.

Para fins de comparação, na tabela 2 segue o mesmo indicador de alavancagem de

outras sete empresas do setor.

Tabela 2: Alavancagem financeira de sete empresas de petróleo (1º tri/2019)

Empresa Alavancagem

BP 2,05

Shell 1,28

ExxonMobil 1,06

Total 0,92

Chevron 0,86

Equinor 0,51

74

Conoco 0,48

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados retirados do Yahoo Finance, 2019.

c. Retorno sobre o Capital Empregado (ROCE): quantifica a rentabilidade da empresa

através do quociente entre (1) o lucro líquido menos o resultado financeiro - caso o

resultado financeiro seja negativo, esse valor é “reposto” ao lucro líquido, e caso

seja positivo, ele é diminuído - e (2) os empréstimos e financiamentos (capital de

terceiros), somados ao patrimônio líquido (capital próprio), e diminuídas as

aplicações financeiras (capital que não foi empregado na operação). Esse quociente

representa a rentabilidade anual produzida por todo o capital alocado na empresa.

Esse indicador atingiu 8,5% em 2018 (primeiro ano de sua implantação), o relatório

define uma meta de 11% em 2020.

Depois de quatro anos seguidos de prejuízo pelo período recente de crise e os anos de

reajuste (como explicado anteriormente), os resultados financeiros em 2018 foram expressivos.

A companhia voltou a apresentar lucro líquido, da ordem de 26 bilhões de reais, como resultado

combinado de diferentes indicadores, entre os quais se destacam o crescimento de 23% da

receita e a redução dos custos de produção (de 68% da receita para 64%).

O relato integrado da empresa destaca como fatores importantes para esse resultado: a

política de preços alinhada ao mercado internacional; a otimização dos investimentos; a redução

de custos; e a redução do endividamento (PETROBRAS, 2019).

Essas inicativas focadas na desalavancagem finaceira e na geração de valor para o

acionista foram apresentadas pela primeira vez no Plano de Negócios e Gestão 2015-2019,

apresentado à imprensa no dia 29 de junho de 2015 pelo então presidente Aldemir Bendine.

Desde então, em todos os planos de negócios formulados pela empresa (2017, 2018 e 2019 –

que será apresentado na próxima seção), a disciplina financeira tem sido uma das diretrizes

centrais, e alguns indicadores financeiros expostos na figura 30 mostram os resultados disso.

75

Figura 30: Alguns resultados financeiros da Petrobras de 2016 a 2018

Fonte: Fact sheet (09/04/2019). Disponível em

https://www.investidorpetrobras.com.br/fck_temp/1001_6/file/factsheet_RI_maio-PORT.pdf. Acesso em 16 de maio de 2019

4.2.3. Visão por Unidades de Negócio

Depois de apresentado o contexto geral da Petrobras, a próxima seção aprofundar-se-á

nas suas unidades de negócio da cadeia do petróleo. Considerando as dimensões de integração

vertical e horizontal, podemos definir os negócios de atuação da Petrobras como na figura 31.

Figura 31: Setores de atuação da Petrobras

Fonte: Elaboração própria com dados do Relatório Anual 2018

76

Pode-se dizer que a Petrobras é um player completamente integrado em seu negócio

principal, atuando do poço ao posto em toda a cadeia de combustíveis. A seguir, a análise será

aprofundada em cada uma das quatro etapas da cadeia do petróleo em que a Petrobras atua, de

acordo com o foco escolhido para esse projeto.

4.2.3.1. Exploração e Produção (E&P)

Levando em consideração que a Petrobras deteve o monopólio da exploração e produção

em terras e mares brasileiros até 1997, e que entre 2010 e 2016 a regulação determinava que

ela fosse a única operadora dos poços do pré-sal, é de se esperar que a empresa tenha uma

situação dominante na exploração e produção no Brasil. De fato, de acordo com o Anuário

Estatístico de 2018 da Agência Nacional do Petróleo, a Petrobras foi responsável por 78% da

produção de óleos crus no Brasil em 2017 (ANP, 2018).

As reservas brasileiras provadas totalizam cerca de 13 bilhões de barris de petróleo e

são em sua grande maioria localizadas no oceano – 95,3% do total, sendo que 83,5% estão no

estado do Rio de Janeiro (ANP, 2018 – dados de 2017). Historicamente, a Petrobras ocupa

posição de destaque na extração offshore, sendo que essa modalidade representou 85% de toda

sua produção em 2018, o resto sendo de exploração no continente. (PETROBRAS, 2019)

As atividades de exploração e produção são as maiores em termos de lucro e

investimentos da carteira da Petrobras. Apresentaram EBITDA de 103,2 bilhões de reais em

2018, frente a um EBITDA total da empresa de 114,9 bilhões e foram investidos 42,5 bilhões

de reais no desenvolvimento de novos campos (principalmente na Bacia de Campos), na

manutenção da produção em campos maduros, nas atividades exploratórias e na melhoria da

eficiência operacional. Em 2018, foram produzidos em média 2,04 milhões de barris de petróleo

por dia, um pouco abaixo dos 2,15 milhões de 2017 e dos 2,14 milhões de 2016, devido a

desinvestimentos em 2 campos. (PETROBRAS, 2018)

A produção no pré-sal, entretanto, cresceu de 1,287 milhão de barris de petróleo por dia

em 2017 para 1,393 milhão em 2018, um crescimento expressivo de 8,2% que fez a produção

do pré-sal alcançar 55% do total de produção nacional anual. A qualidade desse petróleo

também é diferente do que é comumente encontrado nos campos brasileiros, por se tratar de um

óleo mais leve com menor custo e menor dificuldade para refinar. E as reservas são também

mais produtivas: os 56 poços mais produtivos do Brasil encontram-se nessa camada e

produziram, em média, 26 mil barris por dia a mais que a média da indústria offshore em 2018.

77

Enquanto em 1984 a Petrobras precisou de 4.108 poços do pós-sal para atingir uma produção

diária de 500 mil barris, em 2018 com 77 poços do pré-sal foi alcançado o triplo dessa marca.

Ao mesmo tempo em que a produção cresce impulsionada pelo crescimento da

produtividade e pela abertura de novos poços, o tempo de construção de poços e o custo de

extração têm caído sensivelmente nos últimos anos, como mostram os gráficos da figura 32.

Isso mostra que o pré-sal já é uma realidade, apesar da dificuldade intrínseca da E&P em poços

desse tipo, e é realmente a nova fronteira de exploração de petróleo em território brasileiro, com

grande potencial de crescimento.

Figura 32: Evolução de indicadores da produção de petróleo no pré-sal

Fonte: Relatório Anual Petrobras 2018, p. 78

Esses marcos de produção colocam a Petrobras numa posição de liderança inconteste

no pré-sal brasileiro. É importante ressaltar que essa liderança não se origina apenas no direito

de preferência à exploração, que é dado à empresa por ser uma estatal, mas também por causa

de suas competências técnicas diferenciadas na exploração e produção em águas profundas.

78

Morais (2013, p. 262) define cinco fatores que foram importantes para a construção dessa

liderança da companhia:

1. Uma política duradoura de formar e capacitar os funcionários de alto nível para

participarem nas atividades operacionais e de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D);

2. Forte investimento ao longo de um grande período no Centro de Pesquisas

Leopoldo Américo Miguez de Mello (CENPES), especialmente voltado ao

desenvolvimento de tecnologia para a exploração em águas profundas;

3. Execução de programas abrangentes e colaborativos de P&D com universidades,

institutos de pesquisa e fornecedores (PROCAPs) para desenvolver a capacitação técnica

de explorar em águas profundas;

4. Incentivo à formação e instalação de empresas fornecedoras de equipamento

para E&P em águas profundas no Brasil;

5. Aceitação de riscos nos investimentos em atividades de exploração e produção

em águas profundas.

Os dois primeiros pontos estão ligados ao processo de acúmulo do conhecimento

científico e tecnológico necessário para conseguir produzir em poços de águas profundas, o

terceiro diz respeito à transformação desses conhecimentos em soluções aplicadas e o quarto à

viabilidade de efetivamente operar nesse tipo de poço, estimulando o desenvolvimento de

atividades complementares. Por último, o quinto ponto trata do aspecto financeiro da operação

e tem ligação com a busca brasileira pela autossuficiência em petróleo explicada na seção 5.1 e

com as próprias explorações pioneiras do pré-sal, ao contexto da perspectiva da empresa como

estatal estratégica.

Os competidores da Petrobras nessa etapa da cadeia são quaisquer consórcios de

empresas que possam se interessar em explorar e produzir petróleo no Brasil, já que o regime

atual de exploração não é mais de monopólio em nenhuma das áreas de exploração. Atualmente

a Petrobras opera em reservatórios junto à Equinor, à Shell, à ExxonMobil, à QPIi, e outros,

tanto no pré-sal como em outras reservas marítimas, mas desde 2016 essas e outras empresas

podem também operar poços do pré-sal sem a Petrobras, caso a empresa não queira participar

da produção (PETROBRAS, 2018).

Nas últimas rodadas (4ª e 5ª) de partilha realizadas por meio de leilões em 2018, a

concorrência foi intensa. Em meio a diversas propostas, 9 empresas ganharam licitações em 7

poços, sendo a maioria deles como parte de um consórcio. Nessa ocasião, o ágio ficou acima

de 170% em relação ao percentual mínimo a ser repassado ao Estado.

79

Tomando como exemplo a 4ª rodada, a Petrobras participou como parte de um consórcio

que fez ofertas por 3 dos 4 blocos leiloados, mas acabou perdendo em dois deles porque outros

consórcios ofereceram uma maior proporção de óleo excedente à União. Apesar disso, a

empresa usou seu direito de preferência e migrou com 30% de participação para o consórcio

vencedor nesses dois campos (ANP, 2018).

É possível perceber que a concorrência tem sido acirrada pelos poços do pré-sal, e que

as empresas precisam fazer altos investimentos para buscar a liderança pelo ritmo acelerado de

concessão de novas áreas. Nos próximos anos, 3 leilões com um total de 12 áreas de produção

estão previstos e, assim, muitas áreas devem entrar em operação. De acordo com o site da ANP,

já em 2019 será realizado a 6ª Rodada de Partilha de Produção do Pré-Sal, em que serão

ofertadas 5 áreas de produção. Para os anos de 2020 e 2021 estão planejadas a 7ª e a 8ª rodadas,

respectivamente, quando serão ofertadas 3 e 4 áreas.

O órgão responsável por definir o ritmo de exploração do pré-sal e as áreas que serão

leiloadas em cada rodada é o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), presidido pelo

Ministro de Minas e Energia, e responsável pela formulação das políticas e diretrizes nacionais

de energia. Para definir esse ritmo, o órgão deve acompanhar o desenvolvimento e capacidade

da indústria nacional de fornecer bens e serviços. A ANP, por sua vez, é responsável por

suportar a definição das áreas de exploração a partir da realização de estudos técnicos, bem

como pela realização dos leilões, cujas minutas devem ser aprovadas pelo Ministério de Minas

e Energia, e pela fiscalização das atividades (PLANALTO, 2010b).

Mesmo tendo posição de destaque no pré-sal, a Petrobras continua perseguindo a

vanguarda nas tecnologias para águas profundas, investindo continuamente em P&D e em

parcerias para melhorar sua produtividade e custo. Alguns exemplos de tecnologias a serem

lançadas para essa atividade são navios-plataforma flexíveis, nano materiais, veículos

autônomos submarinos e separadores submarinos (PETROBRAS, 2019).

4.2.3.2. Refino

Diferentemente das atividades de E&P, a estrutura do setor de refino não sofreu muitas

mudanças ao longo das décadas. Apesar da Lei do Petróleo de 1997 também ter encerrado o

monopólio regulatório nessa etapa, ainda hoje a Petrobras mantém a dominância, com 98,6%

do mercado, ou seja, com um monopólio de facto (que não é determinado pelo governo).

80

A empresa possui 14 refinarias em operação espalhadas pelo país (incluindo a unidade

de processamento de xisto), e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro em construção, que

contará com uma unidade de refino, após terminada a fase de obras.

Na tabela 3, serão destacadas as características de cada uma dessas unidades quanto à

capacidade, aos produtos produzidos e aos mercados atendidos, de acordo com informações

extraídas do site da Petrobras, em junho de 2019, e ordenadas pela capacidade de

processamento.

Tabela 3: Características das refinarias da Petrobras.

Refinaria Ano Local Capacidade Produtos Mercados Informações adicionais

Refinaria de

Paulínia (Replan)

1972 Paulínia,

SP

434 mil

barris de

petróleo por

dia (bbl/d)

Diesel, gasolina,

querosene de

aviação (QAV), gás

liquefeito de

petróleo (GLP),

óleos combustíveis,

asfaltos, nafta,

coque, gases,

enxofre e fluidos

hidrogenados

Diversos

estados do

Brasil -

Interior de

SP, MT, MS,

RO, AC, MG,

GO, TO e DF

Processa quase em sua

totalidade petróleo

nacional, especialmente

do pré-sal (Bacia de

Campos)

Está em uma posição

logística privilegiada

para transporte

rodoviário, ferroviário

ou aéreo

Refinaria

Landulpho Alves

(RLAM)

1950 São

Francisco

do

Conde,

BA

323 mil

bbl/d

31 produtos,

incluindo diesel,

gasolina, QAV,

asfalto, nafta,

gases, parafinas,

lubrificantes, GLP,

entre outros

Regiões

Norte e

Nordeste

(especialment

e BA e SE),

com alguns

produtos

exportados

Foi a primeira refinaria

brasileira e atualmente

faz parte do maior polo

industrial do

Hemisfério Sul – o

Polo Petroquímico de

Camaçari

Refinaria Henrique

Lage (Revap)

1980 São José

dos

Campos,

SP

252 mil

bbl/d

Asfalto, coque,

enxofre, gases,

gasolina, GLP,

HLR, nafta, óleo

combustível, diesel,

QAV e solvente

médio

Regiões

Sudeste (Vale

do Paraíba,

litoral norte

de SP, sul de

MG, sul do

RJ e grande

São Paulo) e

Centro-Oeste

Processa de 80 a 90%

de petróleo nacional, e

o restante de importado

Atende 100% da

demanda de querosene

de aviação do

Aeroporto

Internacional de

Guarulhos (e 80% da

demanda de SP)

81

Refinaria Duque de

Caxias (Reduc)

1961 Duque de

Caxias,

RJ

239 mil

bbl/d

55 produtos em 43

unidades (maior

portfólio da

Petrobras),

incluindo óleo

diesel, gasolina,

QAV, asfalto,

nafta, gases,

parafinas,

lubrificantes (80%

do total nacional),

GLP, coque e

enxofre.

Região

Sudeste, BA,

CE, PR e RS

Com logística

privilegiada,

impulsionou o

surgimento de um forte

polo industrial na

região

É responsável também

pelo maior

processamento de gás

natural do Brasil

Refinaria Abreu e

Lima (RNEST)

2014 Ipojuca,

PE

230 mil

bbl/d

Diesel S-10 (foco –

70% do total),

nafta, óleo

combustível, coque,

GLP

Regiões

Norte e

Nordeste,

reduzindo as

importações

Mais moderna de todas

as refinarias, com alta

automação e tecnologia

Refinaria

Presidente Getúlio

Vargas (Repar)

1977 Araucária

, PR

208 mil

bbl/d

Diesel, gasolina,

GLP, coque,

asfalto, óleos

combustíveis,

QAV, propeno e

óleos marítimos

PR, SC, sul

de SP e MS

(85% da

produção),

com restante

vendido a

outras regiões

ou exportado

É a maior indústria em

porte do Sul do Brasil

Refinaria Alberto

Pasqualini (Refap)

1968 Canoas,

RS

201 mil

bbl/d

Diesel (foco),

gasolina, GLP, óleo

combustível, QAV,

solventes, asfalto,

coque, enxofre e

propeno.

Região Sul,

com

excedente

exportado ou

transportado

a outros

estados

Durante 10 anos foi

uma sociedade

anônima, época em que

recebeu US$ 1,3 bilhão

em investimentos até

ser reintegrada à

Petrobras em 2012

Refinaria

Presidente

Bernardes (RPBC)

1955 Cubatão,

SP

178 mil

bbl/d

Gasolina, coque,

QAV, diesel, nafta

bunker, gases,

enxofre, resíduo

aromático, entre

outros

Município de

São Paulo

(maior parte),

com parcelas

para a

Baixada

Santista e

outras regiões

do país

Apresenta alta

capacidade de

conversão, produzindo

derivados de alto valor

e padrão internacional,

possuindo também

diversas certificações

ISO

Foi a primeira grande

refinaria construída

pela Petrobras

Refinaria Gabriel

Passos (Regap)

1968 Betim,

MG

150 mil

bbl/d

Gasolina A, diesel,

bunker, QAV,

GLP, asfaltos,

coque, óleo

combustível,

enxofre e aguarrás.

Minas Gerais

e de forma

eventual o ES

82

Refinaria Capuava

(Recap)

1954 Mauá, SP 53 mil

bbl/d

Gasolina e diesel

com baixo teor de

enxofre (S-10),

aguarrás, propeno,

GLP e solventes

especiais

Parte da

região

metropolitana

de São Paulo

(30% do

total)

Sua instalação na

região atraiu empresas

e fez surgir o Polo

Petroquímico do

Grande ABC.

90% do petróleo

refinado é nacional.

Refinaria Isaac

Sabbá (Reman)

1957 Manaus,

AM

46 mil

bbl/d

GLP, nafta,

gasolina, QAV,

diesel, óleos

combustíveis,

asfalto

Região Norte Autossuficiente em

energia por estar

integrada a uma usina

termelétrica que produz

5,8 megawatts

Refinaria Potiguar

Clara Camarão

2009 Guamaré,

RN

38 mil

bbl/d

Diesel, gasolina,

querosene de

aviação (QAV) e

nafta

Rio Grande

do Norte e

Sul do Ceará

Devido a essa refinaria,

o RN tornou-se o único

estado autossuficiente

na produção de todos

os tipos de derivados

do petróleo

Refinaria

Lubrificantes e

Derivados do

Nordeste (Lubnor)

1966 Fortaleza,

CE

8 mil bbl/d Asfaltos e óleos

lubrificantes

Óleo

lubrificante a

todo o país e

asfalto ao

Nordeste e

PA

Refina apenas petróleo

ultra pesado (de menor

valor) e é a única

produtora de

lubrificantes

naftênicos, um produto

de usos nobres

Unidade de

Industrialização do

Xisto (SIX)

1972 São

Mateus

do Sul,

PR

6 mil

toneladas

por dia de

xisto (rocha

que pode

ser

convertida

em óleo e

gás quando

aquecida)

Óleos

combustíveis, GLP,

gás combustível,

nafta, enxofre e

água de xisto

(usada para fazer

fertilizantes)

Em destaque

o PR, mas

também SC,

SP e RS

Funciona como um

centro de pesquisa de

xisto, em parceria com

o Cenpes, tendo sido

responsável pela

criação da tecnologia

Petrosix de exploração

do xisto

Está acima de uma das

maiores reservas

mundiais de xisto

Complexo

Petroquímico do

Rio de Janeiro

(Comperj)

2020 Itaboraí,

RJ

- Previsão de uma

unidade de

processamento de

gás, duas refinarias

de petróleo e um

polo petroquímico

- Petrobras está em busca

de parcerias para as

obras desse grande

complexo, que

deveriam ter sido

concluídas em 2012 e

foram paralisadas

devido à crise recente

da empresa

Fonte: Elaboração própria com dados de http://www.petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/principais-operacoes/refinarias/.

Esse conjunto de refinarias faz do Brasil um dos países com maior capacidade de refino

do mundo, com aproximadamente 2,3 milhões de barris de petróleo por dia, que garantem a 8ª

posição mundial (atrás de Estados Unidos, China, Rússia, Índia, Japão, Coreia do Sul e Arábia

Saudita).

No último ano, a Petrobras vendeu um total de 2,07 milhões de barris de petróleo por

dia, 1% a menos que em 2017, sendo 91% ao mercado interno, e 9% a outros países,

principalmente para os Estados Unidos, Europa e Cingapura. Em termos de produção, foram

83

1,765 milhões de barris por dia (85%) produzidos em suas refinarias, utilizando cerca de 75%

da capacidade instalada, e 195 mil barris por dia foram importados pela empresa, o que

representa 11% de sua produção (PETROBRAS, 2019).

Em relação ao mercado nacional, em 2017 a Petrobras forneceu 1,94 milhões de barris

por dia frente a um consumo interno total de 2,3 milhões de barris por dia, alcançando 84% de

participação de mercado. Do total de produtos refinados vendidos em território nacional, 73%

foi produzido no Brasil e 27% foi importado, confirmando um movimento de crescimento das

importações em relação ao consumo, como ilustra o gráfico abaixo (ANP, 2018 e

PETROBRAS, 2018). A nova política de preços da Petrobras, de alinhamento aos preços

internacionais de combustíveis, é um fator que pode explicar esse crescimento: a competição

entre o produto importado e o nacional torna-se mais acirrada, aumentando as situações em que

pode ser vantajoso que um distribuidor importe combustíveis.

Figura 33: Participação das importações no mercado interno de derivados.

Fonte: Elaboração própria com dados do Anuário Estatístico da ANP. Disponível em

http://www.anp.gov.br/publicacoes/anuario-estatistico. Acesso em 16 de junho de 2019

A localização do mercado consumidor parece ser um fator determinante no volume de

importações. Segundo dados do Relatório de Comércio Exterior da ANP, os portos do Norte e

do Nordeste receberam mais de 50% do total das importações de gasolina e de diesel durante o

ano de 2018. O porto de Paranaguá, no sul do país, recebeu, respectivamente, 17% e 19% desses

combustíveis no mesmo ano (ANP, 2019).

Observando as características das refinarias da Petrobras, percebe-se que elas estão

espalhadas pelo país de acordo com os mercados consumidores. Isso vai ao encontro do que foi

explicado na seção anterior, de acordo com Downey (2009), de que diferentemente dos poços,

as refinarias tendem a ser instaladas próximas aos mercados consumidores finais. A região com

84

maior capacidade é o Sudeste (55% do total), devido ao seu grande mercado e sua proximidade

das principais fontes de óleo, seguido pelo Nordeste (24%), Sul (17%) e Norte (4%). A única

região que não possui refinarias é o Centro Oeste.

Duas refinarias da Petrobras, a de Paulínia (SP) e a de Landulpho Alves (BA), se

destacam em termos de capacidade e representam 32% do total nacional. A primeira abastece

principalmente o Sudeste e o Centro Oeste, e a segunda abastece principalmente o Nordeste e

Norte. Além disso, as 7 maiores refinarias são 80% da capacidade nacional.

Quanto à idade das refinarias, a maioria foi construída na segunda metade do século

XX, com idade média de 47 anos, apesar de terem sido feitas diversas ampliações e

modernizações ao longo do tempo. Isso está refletido no crescimento médio de apenas 1,5% ao

ano da capacidade de refino nacional nos últimos 10 anos.

A refinaria mais nova e mais moderna desde sua concepção, a Refinaria Abreu e Lima

(RLAM), em Pernambuco, foi inaugurada em 2014 – mas sua construção se tornou um símbolo

da Operação Lava Jato e das irregularidades cometidas pelas gestões anteriores da Petrobras.

Depois de ser anunciada em 2005 por 2,3 bilhões de dólares, seu orçamento final chegou a 20,1

bilhões, devido a diversos aditivos e revisões nos contratos. Comparado a refinarias similares

concluídas na mesma época, seu custo por barril de capacidade foi de 87 mil dólares, mais de

3 vezes maior que refinarias inauguradas em 2014 na Arábia Saudita (25 mil dólares), em 2012

na Índia (22 mil dólares) e em 2009 nos Estados Unidos (22 mil dólares) (VALLE e TORRES,

2012). O Tribunal de Contas da União já apontou superfaturamento devido a corrupção de ao

menos 2,9 bilhões de reais na obra, considerando apenas as tubovias, a Unidade de Destilação

Atmosférica (UDA) e a Unidade de Hidrotratamento (UHDT) da refinaria (TCU 2017 e 2018).

Para os próximos anos, há dois projetos previstos: a conclusão da primeira refinaria

Comperj em parceria com a China National Petroleum Corporation (CNPC), e a construção de

uma segunda unidade de refino na RLAM, também em parceria com alguma outra empresa

(PETROBRAS, 2018).

Os produtos produzidos nas unidades da Petrobras são bastante diversificados, o que se

traduz em um portfólio extenso. As exceções são refinarias como a pequena Refinaria Potiguar

Clara Camarão (4 produtos), a Refinaria Abreu e Lima, com 5 produtos e foco em diesel e a

Lubnor, que produz apenas óleos lubrificantes para todo o país e asfalto, além da Unidade de

Industrialização de Xisto, focada nas tecnologias ligadas a essa matéria-prima específica.

Algumas refinarias chegam a ter um portfólio tão extenso como 55 produtos, atendendo a

85

diversos nichos de mercado, exemplo da Reduc, mesmo ela sendo apenas a quarta maior em

capacidade.

Em relação ao desempenho financeiro do negócio, o refino é avaliado junto com o

transporte e a comercialização, e esse conjunto apresentou EBITDA de 20,3 bilhões de reais

em 2018, frente a um total de 113,9 bilhões, ou seja, de 17% do total. Esse valor representou

uma queda em relação aos 28,6 bilhões de reais de 2017 e aos 47,5 bilhões de 2016. Os

investimentos em Refino, Transporte e Comercialização foram da ordem de 4 bilhões de reais.

O custo de refino ficou em 9,12 reais por barril, frente a um custo de 9,26 em 2017 e 8,89 em

2016, o que mostra uma relativa estabilidade (PETROBRAS, 2018). É difícil, entretanto,

comparar esse custo ao de outras empresas, porque o mix de óleos processados e de produtos

produzidos é específico de cada uma delas, e distorceria uma comparação feita em nível tão

agregado.

A concentração de praticamente 100% desse mercado, mesmo sem existência de

monopólio regulatório, permite que a Petrobras tenha poder de determinar o preço nacional dos

combustíveis, uma vez que as únicas alternativas ao seu produto refinado são a importação ou

empresas de baixa relevância e volume.

Por conta dessa estrutura de mercado, em 2018 o Conselho Administrativo de Defesa

Econômica (CADE) abriu um inquérito administrativo preventivo contra a empresa: apesar de

o quase monopólio não ser por si só ilegal, ele possibilita um abuso de poder de mercado. Num

caso extremo em que essa autoridade concorrencial constate aproveitamento desse poder, pode

ocorrer uma intervenção estrutural, se for socialmente desejável (CADE, 2018). Neste caso,

ineditamente, o CADE agiu “em caráter preventivo”.

Um modelo de parcerias no refino, reduzindo a participação da Petrobras nesse setor,

foi comunicado pela empresa ao mercado em 27 de abril de 2018. O modelo previa a criação

de duas subsidiárias nas quais a Petrobras teria 40% de participação e que teriam propriedade

sobre 4 refinarias e os ativos logísticos associados a elas (dutos e terminais) no Sul e no

Nordeste. A subsidiária do Sul teria propriedade sobre a REFAP (RS) e a REPAR (PR),

enquanto a do Nordeste incluiria a RLAM (BA) e a RNEST (PE). De acordo com o comunicado

de abril, os objetivos desse movimento eram: “mitigação de riscos, agregação de valor,

compartilhamento de conhecimentos, fortalecimento da governança corporativa e melhora da

financiabilidade (capacidade de se financiar) da empresa” (PETROBRAS, 2018ª, p. 1).

O processo competitivo teve de ser paralisado por conta de trâmites recursos e liminares

legais dos órgãos jurídicos brasileiros. Em julho de 2018, uma decisão cautelar do Ministro do

86

Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski impediu o processo de venda de filiais

da Petrobras, ao questionar a sua legalidade perante a Lei das Estatais (Lei nº 13.303/2016), e

condicionando a operação ao aval do Congresso e a um processo de licitação (PETROBRAS,

2018a). Já em janeiro de 2019, o ministro do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio

Noronha, permitiu a venda da filial de transporte e armazenamento de gás natural, a TAG, mas

que foi impedida por uma liminar de outro ministro do STF, Edson Fachin, emitida em maio

de 2019. Em junho, o próprio ministro Fachin revogou sua liminar e 90% da participação da

filial foi vendida a um total de R$ 33,5 bilhões (PETROBRAS, 2019).

Ao final, a Petrobras decidiu incluir mais 4 unidades de refino no seu plano de

desinvestimentos - REGAP (MG); REMAN (AM); Lubnor (CE); e SIX (PR) – e dos ativos

logísticos associados a elas, segundo expresso pelo presidente Roberto Castello Branco em

nota9.

4.2.3.3. Logística de Transporte (Transpetro)

A operação de transporte de conteúdos energéticos da Petrobras é realizada pela

Petrobras Transporte S.A. (“Transpetro”), sua subsidiária integral. Segundo o site da

Transpetro, a sua atuação é dividida em três grandes áreas: Dutos e Terminais (entrepostos

logísticos), Transporte Marítimo e Gás Natural. Dentre suas atividades, encontram-se tanto o

transporte de produtos crus extraídos pela Petrobras, nos campos offshore e continentais, para

as refinarias ou para o exterior, como o transporte de produtos derivados produzidos nas

refinarias, caso sejam transportados em dutos, terminais ou navios. Uma boa parte das refinarias

da Petrobras está associada a ativos logísticos dessa subsidiária. Ainda, a empresa atua na

importação de petróleo e derivados, gás e etanol.

Em termos de números, a empresa possui uma rede de 7.719 km de oleodutos, 7.155 km

de gasodutos, 20 terminais terrestres, 27 terminais aquaviários e uma frota com 55 navios

petroleiros. Ela possui instalações em 20 das 27 unidades federativas do país e atua por

intermédio da Transpetro International BV (TI BV) no exterior. Em 2017, sua receita

operacional bruta atingiu R$ 8,6 bilhões, com lucro líquido resultante de R$ 121 milhões.

Atualmente, a Transpetro conta com dois clientes: a Petrobras, cliente majoritária; e a

Nova Transportadora Sudeste (NTS), controlada pelo consórcio liderado pela Brookfield, uma

9 “Petrobras deve lançar venda de mais 4 refinarias até início de agosto, diz Castello Branco”, G1. 01 de julho de

2019, disponível em <https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/07/01/petrobras-deve-lancar-venda-de-mais-

4-refinarias-ate-inicio-de-agosto-diz-castello-branco.ghtml> , acesso em 17 de agosto de 2019.

87

gestora de ativos internacional. Em 2016, o presidente da empresa, Antonio Rubens Silva

Silvino, afirmou que a transportadora era responsável por 38% do transporte marítimo da

Petrobras, e, na época, ele já indicava o interesse em expandir seu portfólio de clientes para

além da estatal10. Para o ciclo de 2019-2023, ela pretende ainda se reposicionar como uma

prestadora de serviço para terceiros.

4.2.3.4. Distribuição e Comercialização (BR Distribuidora)

A Petrobras Distribuidora S.A. (ou “BR Dristribuidora”) foi uma subsidiária da

Petrobras responsável primeiramente pela “distribuição, transporte, comércio, armazenagem,

estocagem, manipulação e industrialização de derivados de petróleo, de gás natural, de xisto ou

de outras rochas e seus correlatos, bem como de insumos relacionados com a indústria do

petróleo” (ESTATUTO SOCIAL DA PETROBRAS DISTRIBUIDORA, 2019). A condição de

subsidiária deixou de existir em julho de 2019, quando a Petrobras vendeu seu controle

majoritário sobre a BR Distribuidora.

A empresa apresenta um portfólio extenso de produtos derivados do petróleo, atuando

tanto na comercialização para pessoas físicas como para mais de 14.000 compradores

industriais e comerciais. Os segmentos principais definidos em seu website são: veículos

automotores, indústria, frotas, aviação, embarcações, agronegócio e locomotivas. Para cada

segmento, além dos combustíveis, são oferecidos outros produtos como lubrificantes, solventes,

parafinas, coque ou outros fluidos. Para a indústria, a BR Distribuidora presta também serviços

como análise da combustão e serviços de lubrificação. Por fim, são ofertados serviços para

pessoas físicas, como o programa de fidelidade Premmia e a rede de lojas de conveniência BR

Mania.

Para a análise da participação de mercado da BR Distribuidora, esses segmentos foram

divididos em três no Relatório Integrado de 2018: rede de postos, mercado consumidor (ou

grandes consumidores) e mercado de aviação. O market share da empresa nesses segmentos

nos últimos 3 anos está representado no gráfico da figura 34, em que é possível perceber que

apesar de liderar em todos eles, a empresa vem perdendo participação para os concorrentes

(PETROBRAS, 2019).

10 A afirmação foi feita durante a convenção Rio Oil & Gas, segundo matéria de Bruno Rosa, do jornal O Globo.

Matéria disponível em <https://oglobo.globo.com/economia/petroleo-e-energia/transpetro-subsidiaria-da-

petrobras-quer-clientes-alem-da-estatal-20370632> , acesso em 08 de junho de 2019.

88

Figura 34: Participação de mercado da BR Distribuidora.

Fonte: Relatório Integrado Petrobras 2018. P. 89

A revenda em postos de combustíveis é liderada pela BR Distribuidora, que possui uma

rede de 7.665 postos. Em seguida vem a Ipiranga (14% de market share); e, finalmente, a

Raízen (11,4% de market share), operando com a marca da Shell. É interessante ressaltar que

existe um conjunto de 17.000 postos de combustíveis bandeira branca, que são detentores de

43,8% do mercado, mas que recebem mais de 20% do seu produto comprado dos 3 principais

concorrentes do mercado (AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO, 2019). Ou seja, as

principais empresas do mercado vendem seu combustível não apenas nos seus pontos, mas

também a essa grande parcela de postos que não têm uma marca estabelecida.

A BR acredita que a força de sua marca é um grande diferencial frente a seus

competidores, pela associação com confiança, bom atendimento e qualidade dos produtos. A

empresa sustenta que a rede de lojas de conveniência BR Mania (1.294 em 2017) e os centros

de serviço automotivo (1.572 em 2017) e programas de fidelidade como o Premmia (em que

pessoas físicas podem acumular pontos ao abastecer em postos da marca BR) enriquecem a

experiência do consumidor, garantindo a fidelização dos clientes, e se traduzindo em vendas

adicionais de combustíveis.

Fora do Brasil, até a publicação do Relatório Integrado, a BR Distribuidora possuía

redes de postos na Colômbia, Paraguai e Uruguai, com participação de mercado de 4%, 16,7%

e 24,4%, respectivamente. De acordo com fato relevante publicado no dia 8 de março de 2019,

entretanto, a alienação total da filial paraguaia foi concluída por um total de 380,8 milhões de

dólares (PETROBRAS, 2019).

Diferentemente da Transpetro e de outras subsidiárias, a BR Distribuidora fez uma

oferta pública de ações e abriu seu capital em 2017. A Petrobras passou de 100% para 71,25%

93

É visível a preferência de investir no setor de E&P sobre todas as outras frentes de

atuação, visto que o capital direcionado a essa etapa da cadeia do petróleo representa quase

82% do total alocado para investimento no período. É interessante também a divisão entre os

diferentes negócios, mostrando uma visão estratégica do portfólio: enquanto a força motriz é o

negócio principal que sustenta a organização atualmente, a empresa define as outras frentes

como frentes em que ela deve evoluir, mesmo que ganhem relevância apenas no longo prazo,

como acontece com a produção de energias renováveis.

Figura 35: Distribuição do CAPEX da Petrobras entre as frentes de atuação.

Fonte: Plano Nacional de Governança 2019-2023. P. 23

Olhando especificamente para os planos para o setor de Exploração e Produção, na

figura 36 encontram-se mais detalhes acerca da distribuição do investimento alocado. Em

comparação à alocação de investimentos do plano anterior (2018-2022), o plano atual aumentou

a destinação de capital investido para a exploração (descobrimento de novos poços) de US$ 6,8

bilhões para US$ 10,8 bilhões (+59%). Destaca-se o valor de US$ 48,4 bilhões destinados ao

desenvolvimento da produção no pré-sal e no pós-sal, que consiste em estabelecer a atividade

produtiva em locais onde já foi constatada a existência de petróleo, e por isso um investimento

menos arriscado.

94

Figura 36: Detalhamento do investimento em E&P para o período de 2019 a 2023.

Fonte: Plano de Negócios e Gestão 2019-2023. P.25.

A produção de petróleo apresenta uma previsão de crescimento expressivo de 10% na

comparação de 2019 com 2018. O Plano calcula também um crescimento médio anual (CAGR)

de 5% para a produção total de petróleo e gás durante o período, a partir de 2019. Esses valores

levam em conta o começo ou aumento de produção em contratos de produção já fechados e a

contratação e desenvolvimento de outros 8 projetos. Caso as previsões se concretizem, a

produção de petróleo em 2023 pode chegar a 2,8 milhões de barris por dia, um crescimento de

33% em relação a 2018.

Em seguida, são apresentadas três inciativas principais para garantir a geração de valor

e a rentabilidade das atividades de E&P: (1) o aumento da receita pela entrada em produção de

13 novos sistemas e a revitalização da Bacia de Campos; (2) a gestão ativa do portfólio, com

investimento em campos de alta rentabilidade e fechamento de parcerias estratégicas e (3) a

eficiência de custos, com custo de extração do pré-sal menor que 7 dólares por barril, em 2020,

e custo geral de extração menor que 10 dólares por barril, também em 2020.

Para as áreas de Refino, Gás Natural e Renováveis (RGN), o primeiro ponto a salientar,

e o mais importante para a análise a ser feita por esse projeto, é a proposta de redução da

presença da Petrobras de 99% para quase 50% da produção nacional de refino, desinvestindo

de 8 ativos no Sul e no Nordeste. Isso significa desfazer o monopólio atual da Petrobras sobre

esse setor, desinvestindo de refinarias que representam uma fatia bastante expressiva da

capacidade nacional de refino: da ordem de 1,1 milhão de barris de petróleo por dia,

equivalentes a 48% do total.

95

Pelo lado das fontes e usos de capital, o Plano prevê um valor total de R$ 143,1 bilhões

necessário para cobrir os investimentos, as amortizações e as despesas financeiras. A maior

parte desse valor (80%) tem origem na geração de caixa das operações da Petrobras, mas

destacam-se também o uso de 2 bilhões de dólares do caixa, evitando novas captações, e a

arrecadação de 26,9 bilhões (19% do total) com o programa de desinvestimentos. A figura 37

ilustra essa divisão.

Figura 37: Fontes e usos dos recursos financeiros para o período de 2019 a 2023.

Fonte: Plano de Negócios e Gestão 2019-2023. P. 38.

À época da divulgação do PNG, encontravam-se suspensos por decisão judicial as

parcerias no setor de refino; a alienação de 90% da Transportadora Associada de Gás (TAG),

operadora de transporte de gás; e a venda de duas unidades de produção de fertilizantes. Com

teaser divulgado e em fase não-vinculante (quando não há nenhum vínculo entre os interessados

e a Petrobras) encontravam-se campos terrestres no Polo da Lagoa Parda; campos de águas

rasas no RN; e a BSBios, fabricante de biodiesel. Em fase vinculante, quando já existe um certo

compromisso entre os interessados e a Petrobras, encontravam-se a refinaria de Pasadena;

campos de águas rasas no RJ, SP, CE e SE; campos terrestres; campos de águas profundas em

SE e AL; e 3 campos do pós-sal da Bacia de Campos. A ausência de campos do pré-sal no

pacote mostra o alinhamento entre as diretrizes definidas e o programa de desinvestimentos.

Com base na estratégia anunciada no documento, o PNG lista então as competências

críticas mapeadas para os negócios da Petrobras nos próximos anos, apresentadas na figura 38.

É interessante notar que, além de organizar as competências importantes para os próximos anos

de acordo com suas unidades de negócios, reafirmando as diretrizes apresentadas

96

anteriormente, são apresentadas também competências transversais que atendem a toda a

empresa.

Finalmente, o Plano apresenta a contribuição estimada tanto para os investidores quanto

para a sociedade.

Para os primeiros, o principal ponto buscado é a disciplina de capital e retorno

financeiro, por meio: do atingimento da meta do retorno sobre o capital empregado (ROCE)

acima de 11% em 2020; da alocação eficiente de investimentos; da aprovação de projetos

importantes; do atingimento da alavancagem ótima em 25%11; e da manutenção da política de

remuneração aos acionistas. Esse foco indica que as métricas financeiras são hoje um grande

direcionador das decisões estratégicas da Petrobras.

Já para a segunda, o Plano prevê: R$ 600 bilhões em tributos federais, estaduais e

municipais; R$ 13 bilhões em investimentos em P&D, sendo metade do valor alocado em

universidades brasileiras; R$ 6 bilhões em projetos sociais e ambientais no país; e criação de

cerca de 450 mil postos de trabalho. Ao anunciar as contribuições esperadas à sociedade junto

com o retorno aos acionistas, o PNG parece ter como objetivo mostrar que resultados

financeiros positivos para os investidores andam lado a lado com o retorno para a sociedade.

Figura 38: Competências críticas mapeadas no PNG 2019-2023.

Fonte: Plano de Negócios e Gestão 2019-2023. P. 42.

11 O tipo de alavancagem não está explícito no texto, mas supôe-se que corresponderia ao índice Dívida

Líquida/Capital Total (Debt-to-capital), baseado na ordem de grandeza desse indicador no mercado da Petrobras.

98

diária média de 2,8 mil barris de petróleo e 588 mil m3 de gás. Esse movimento reafirma que o

foco não é apenas E&P, mais especificamente E&P offshore do pré-sal.

Em outra frente também houve avanços recentes. Como explicado anteriormente, o

contrato de cessão onerosa do pré-sal, assinado em 2010, continha cláusulas que determinavam

a renegociação do valor pago pela Petrobras ao Estado caso o preço do barril de petróleo

mudasse ao longo dos anos de exploração. Como o petróleo sofreu uma queda brusca nos preços

durante o período, a empresa solicitou um reajuste do contrato em 2013. Assim, dando

continuidade a um comunicado emitido em 17 de maio de 2018 que afirmava que estava em

curso a renegociação do contrato, em 9 de abril de 2019 o Governo Federal fechou um acordo

com a Petrobras em que aceitou pagar 9,1 bilhões de dólares pela revisão desse contrato

(NASCIMENTO, 2019a).

Com isso, diminuíram as incertezas para a realização do próximo leilão de áreas do pré-

sal no segundo semestre de 2019, em que será ofertado o excedente (em relação aos 5 bilhões

de barris de óleo cedidos pelo Estado) descoberto pela Petrobras nas áreas da cessão onerosa –

estimado em 6 a 10 bilhões de barris de petróleo (NASCIMENTO, 2019a). Os vencedores desse

leilão pagarão ainda uma compensação à Petrobras pelos investimentos realizados para explorar

a área, que o pode chegar a 7,4 bilhões de dólares, segundo estimativas do Santander

(RAMALHO e TRUFFI, 2019).

A entrada desses valores no caixa da empresa e a aceleração do programa de

desinvestimentos promovida pelo atual presidente fizeram com que as estimativas de

investimento para os anos de 2019 a 2023 aumentassem de 84 bilhões de dólares para 105

bilhões de dólares, como informa reportagem do jornal Valor Econômico, de acordo com o que

foi apresentado em audiência na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados em

12 de junho de 2019. Todos os 21 bilhões de dólares excedentes serão destinados a

investimentos na área de Exploração e Produção de petróleo, que passará do nível atual de 68,8

bilhões de dólares para 90 bilhões de dólares, aumentando 3,9 pp sua participação no total dos

investimentos (RAMALHO e TRUFFI, 2019).

99

5. ANÁLISE CRÍTICA DO PNG 2019-2023

O Plano de Negócios 2019-2023 da Petrobras e seus movimentos recentes apresentam

as diretrizes claras da sua estratégia corporativa para a cadeia do petróleo: maximização do

valor da empresa através do foco na Exploração e Produção em águas profundas, com

desinvestimento em outros setores como o refino e a distribuição, e também campos localizados

no continente ou em águas rasas.

O presente capítulo fará uma análise crítica dessa opção da empresa sob a ótica da

literatura acadêmica da estratégia corporativa, da estrutura do setor de petróleo e do contexto

atual dos mercados em que a empresa está inserida. Em primeiro lugar, será discutida a lógica

mais profunda por trás das escolhas expostas no PNG, avaliando sua coerência e ligando-a com

os objetivos de longo prazo da Petrobras. Em seguida, será avaliado o impacto das mudanças

sobre a vantagem corporativa (conforme definida no capítulo 2) que pode emergir da integração

dessas atividades, considerando as suas naturezas e as interfaces entre elas na cadeia de

petróleo. Serão discutidos também alguns riscos associados a esse processo, e, por fim, alguns

desdobramentos sociais que o plano pode ter.

Vale ressaltar que o midstream não será tratado em particular nessa análise crítica, mas

sim como parte integrante dos ativos do upstream ou do downstream, dependendo de qual for

a sua associação. Foi feita essa escolha pois o plano da Petrobras não trata essa etapa da cadeia

separadamente, mas sim de forma conjunta com as outras atividades. Um exemplo que justifica

essa opção é que a venda das refinarias será feita junto com os ativos logísticos integrados,

como os terminais de despacho e recebimento, da mesma forma que cada plataforma pode estar

conectada a estruturas específicas de distribuição de óleo cru. Adicionalmente, até julho de

2019, não se encontrou nenhuma menção direta ao que está planejado para a Transpetro nos

comunicados e documentos da Petrobras, assumindo-se que essa não pretende vender seu

controle daquela em um horizonte visível.

5.1. DISCUSSÃO ESTRATÉGICA

5.1.1. A lógica de maximização da rentabilidade

No início deste projeto, foi definido que a Petrobras seria analisada tendo em mente o

seu objetivo de garantir rentabilidade aos acionistas, como qualquer empresa deve fazer para

conseguir sobreviver. Quando não faz sentido para os investidores colocar dinheiro em uma

empresa, por ela não oferecer um retorno aceitável (considerando o risco envolvido), essa

100

entidade capitalista deixa de ser efetiva, uma vez que não cumpre seu objetivo primário, e,

assim tende ao desaparecimento.

Dessa forma, é essencial que ao desenhar seus planos estratégicos, as empresas tenham

em mente essa sustentabilidade no longo prazo. No caso da Petrobras, esse objetivo está

representado no indicador de Retorno sobre o Capital Investido (ROCE), que acompanhado da

Taxa de Acidentes Registráveis (TAR), como medida da segurança do trabalho, e da

alavancagem financeira (dívida líquida/EBITDA), como medida da saúde financeira,

representam as três métricas principais da empresa para os próximos anos. Por isso, a Petrobras

optou por focar na distribuição eficiente de seus investimentos, identificando onde consegue

maior rentabilidade, de forma a maximizar o retorno gerado por cada real investido, de acordo

com as suas vantagens competitivas e com a rentabilidade de cada negócio.

Essa prioridade estratégica da gerência da Petrobras está em consonância com grande

parte das tendências do setor (como apresentado na seção 3.3.3).

Ao investigar os estudos mais recentes de três diferentes consultorias da indústria do

petróleo (PwC, Deloitte e Ernst & Young), é possível verificar uma ideia comum entre elas, de

que as empresas do setor têm focado na disciplina de alocação de capital, direcionando-o para

as melhores oportunidades e desinvestindo das iniciativas menos rentáveis. Isso seria uma

consequência do período da incerteza sobre o futuro da indústria, depois do período recente de

forte baixa dos preços do petróleo.

Quando se busca os relatórios estratégicos anuais das grandes empresas de petróleo, essa

tendência é confirmada com exemplos concretos. British Petroleum, Shell, Chevron e Equinor

colocam claramente que têm gerido ativamente seu portfólio para focar em algumas áreas

principais que fazem parte do seu core, que em todas elas incluem as atividades de exploração

e produção.

A BP afirma estar focando no upstream, no varejo de combustíveis e em fontes de baixo

carbono. A Shell coloca ênfase no investimento em projetos competitivos e na venda de

negócios fora do core, mas não explicita as áreas ou atividades específicas para as quais voltará

seu foco - apesar de direcionar mais de 50% dos seus investimentos para o upstream e 30%

para o downstream. A Chevron prioriza também o upstream, além da excelência no midstream,

realizando apenas investimentos direcionados no downstream. A Equinor reafirma o foco na

exploração da bacia norueguesa, em poucas áreas internacionais core de exploração (como o

pré-sal brasileiro), em fontes renováveis de energia e na distribuição de energia. Das empresas

estudadas, a única que não coloca essa questão como prioridade é a norteamericana

101

ExxonMobil, que acredita no poder de um portfólio integrado e diversificado para mitigar os

riscos.

É dessa lógica de focar os investimentos naquilo que trará maior retorno e desinvestindo

das demais atividades que parece emergir a escolha da Petrobras de focar os investimentos na

exploração e produção de águas profundas, especificamente no pré-sal. Desde a década de 60,

como mostrado no capítulo 4.1, a empresa vem desenvolvendo a expertise e o ferramental

necessário para extrair petróleo em águas profundas com viabilidade econômica. Foram

realizados investimentos vultosos em pesquisa e desenvolvimento para alcançar esse objetivo,

com um modelo inovador de parcerias com diversas outras organizações, e, graças a isso, a

empresa se posicionou à frente das demais concorrentes na modalidade. Hoje em dia, como

apresentado na seção 4.2.3.1, a Petrobras é líder inconteste na produção de petróleo no pré-sal,

à frente inclusive das grandes empresas internacionais integradas de petróleo, devido a um

conjunto de capacitações desenvolvidas ao longo de várias décadas, financiadas

majoritariamente pelo Estado brasileiro, visando a autossuficiência desse recurso.

Essa competência no pré-sal atende a todos os requisitos do framework VRIO para a

avaliação da geração de vantagem competitiva sustentável, de acordo com o apresentado na

seção 2.2.2, baseado no trabalho de Barney (1995): (1) ela possui valor, pois permite à empresa

explorar poços profundos de petróleo, especialmente na camada do pré-sal, a custos mais

baixos; (2) é uma competência rara, visto que a Petrobras é uma das poucas empresas do setor

que a possui; (3) é difícil de ser imitada, dada à necessidade de altos investimentos em pesquisa

e desenvolvimento ao longo de várias décadas necessários para adquiri-la; e (4) a Petrobras é

capaz de capturar seu valor, como tem feito com a produção no pré-sal, que cresce ano após

ano. Nessa situação, pode-se afirmar que a competência de exploração de petróleo em águas

profundas garante uma vantagem competitiva sustentável à Petrobras no setor de E&P,

capacitando-a para capturar um valor maior do que as concorrentes nessa etapa, o que reforça

a decisão da gestão em concentrar os investimentos nessa unidade de negócio.

Além de a Petrobras apresentar diferenciais nessa etapa, historicamente essa tem sido a

atividade mais nobre da cadeia, na qual as empresas tendem a extrair os maiores retornos, apesar

de incorrerem nos maiores riscos, devido à incerteza da existência de petróleo nos locais de

exploração, à dificuldade de operacionalizar a produção (conforme apresentado na seção 3.2) e

à flutuação do preço do barril. Ao comparar a operação da Petrobras na etapa de E&P com as

etapas a jusante da cadeia (Refino, Transporte e Comercialização - RTC), percebe-se que o

EBITDA gerado por barril no upstream é 5 vezes maior do que o gerado pela operação agregada

102

de RTC. Isso aponta para uma maior rentabilidade do E&P para a Petrobras, que é verificada

como constante ao longo das últimas décadas, mas que ainda assim não deve ser considerada

como completamente assegurada nas que virão.

Ao considerar as perspectivas futuras da etapa de Exploração e Produção, observa-se

que elas são melhores exatamente nessa parte em que a Petrobras possui um posicionamento

superior ao de seus concorrentes. Conforme explicado na seção 3.1.2, se por um lado os

cenários futuros mostram que não deve haver muito crescimento da demanda por petróleo nos

próximos 20 anos, por outro, a capacidade de produção dos poços já em fase de exploração não

será suficiente para atender nem metade da demanda mundial, no pior dos cenários previstos.

Levando em conta esse panorama, serão necessários massivos investimentos em E&P (da

ordem de trilhões de dólares), para encontrar e desenvolver novas reservas de petróleo. Dentre

essas novas reservas, uma quantidade significativa encontra-se em águas profundas, por ser

uma fronteira relativamente menos explorada, e é exatamente nela que a Petrobras tem sua

maior expertise. Por outro lado, a escala da produção e distribuição de produtos refinados não

deve mudar muito, pelo crescimento tímido da demanda, abrindo menos espaço para novos

investimentos de expansão.

Num cenário em que uma grande parte das reservas mundiais se encontra em países

instáveis politicamente (figuras 13 e 14), o acesso a fontes seguras de petróleo torna-se um

grande diferencial para as empresas do setor. A Petrobras também possui uma vantagem frente

aos seus concorrentes nesse quesito, por operar majoritariamente no Brasil, um país

relativamente estável geopoliticamente. Esse, inclusive, tem sido outro dos principais motivos

para o grande interesse mundial nos enormes reservatórios do pré-sal brasileiro.

A Petrobras, portanto, já possui predominância técnica e legal sobre as concorrentes

para explorar uma nova importante reserva de petróleo em águas profundas e de baixo risco - o

pré-sal (seção 4.1.4). Essas reservas já são cobiçadas por empresas do mundo inteiro, por conta

da sua alta qualidade e do seu alto valor econômico. Contudo, ainda é necessário que a Petrobras

dispenda altos valores para aumentar sua produção de petróleo nessa região, tanto para

desenvolver poços sobre os quais já obteve os direitos, como para obter direitos sobre novos

poços em futuras rodadas de partilha e concessão, e assim aumentar a sua produção para

capturar o máximo de valor da vantagem da sua posição frente às concorrentes, como previsto

no PNG.

Embora tenha ocorrido uma melhora nos seus resultados financeiros de 2016 para 2018

(seção 4.2.2), eles não são suficientes para financiar essa operação. Buscar financiamento com

103

terceiros não seria coerente com o objetivo para uma das outras duas métricas mais relevantes,

que é reduzir a alavancagem financeira, considerando também que a relação dívida

líquida/EBITDA da Petrobras ainda está acima da de seus pares do setor. Uma alternativa para

financiamento, é, desse modo, conseguir os recursos internamente por meio da venda de ativos

ou de negócios inteiros - e é por isso que há sentido apresentar essa proposta como estratégia

deliberada pela empresa - conforme apresentado no gráfico de fontes e usos do PNG (figura

34).

Olhando especificamente para a cadeia do petróleo, a Petrobras pretende desinvestir de

alguns campos de exploração fora do pré-sal, de oito das suas catorze refinarias e de uma fatia

de 29% da BR Distribuidora. Com a venda das refinarias, que possuem conjuntamente uma

capacidade de 1,1 milhão de barris dia (aproximadamente 50% da capacidade total de todas as

refinarias), a Petrobras concentrará sua operação de refino completamente na região Sudeste,

cedendo sua presença geográfica no Sul e no Nordeste, conforme comentado anteriormente. Já

a operação de venda da parcela da BR Distribuidora arrecadou um valor de R$ 8,6 bilhões, mas

deixou a Petrobras com menos de 50% do valor da empresa, de fato cedendo o controle

majoritário sobre a subsidiária.

Em campos fora do pré-sal, a Petrobras não apresenta uma liderança tão clara quando

comparada às IOCs e outras empresas internacionais, que realizam operações tanto onshore

quanto offshore ao redor do mundo e em seus países de origem, já tendo expertise avançada.

Por outro lado, o pré-sal é um tipo de reserva encontrado majoritariamente no Brasil, e por isso

a competência desenvolvida pela Petrobras é mais distinta. Além disso, como apresentado na

seção 4.2.3.1, os poços do pré-sal são consideravelmente mais produtivos e o óleo extraído é

de maior qualidade, com menor custo de refino, características que contribuem para sua maior

rentabilidade.

Quanto ao setor de refino, apesar de a empresa possuir o monopólio do mercado

nacional, não foram identificados diferenciais que fizessem de sua operação superior à de outras

empresas, e, como explicado anteriormente, o lucro por barril gerado por essa atividade tende

a ser mais baixo. Além disso, vender parte das refinarias quebra o monopólio e evita que

problemas ligados a essa estrutura de mercado se repitam no futuro: o monopólio possibilita,

por exemplo, que o governo interfira nos preços nacionais de saída das refinarias, como foi feito

entre 2011 e 2014, e assim prejudique a lucratividade da Petrobras (vide seção 4.1.5). Quebrado

o monopólio, o Estado perde o controle de um instrumento que já foi utilizado com o intuito de

104

atender a certas demandas de parte da sociedade; por outro lado, a Petrobras, enquanto empresa,

diminui o risco de ter sua rentabilidade prejudicada pelo seu acionista majoritário.

Propor espontaneamente a venda de algumas das refinarias, por último, afasta também

o risco de o CADE identificar possíveis práticas anticoncorrenciais e aplicar multas, ou exigir

a alienação compulsória de parte dos ativos, que acabaria sendo realizada por um valor mais

baixo. O Termo de Compromisso de Cessação, que estabelece o modelo de desinvestimento,

foi, inclusive, desenvolvido em conjunto com o Conselho e o Ministério de Minas e Energia

(MME) para aumentar a garantia que se formasse um mercado competitivo (NASCIMENTO,

2019b).

Vale ressaltar, entretanto, que a Petrobras optou por manter suas quatro grandes

refinarias da Região Sudeste, que representam quase metade da capacidade nacional, e

apresentam posição competitiva privilegiada, pela sua proximidade com os principais mercados

consumidores do país e com os poços do pré-sal - tópico que será retomado na próxima seção.

Por fim, tem-se a operação realizada com a BR Distribuidora, em que a participação da

Petrobras caiu de 71% para 41%, com planos de diminuir ainda mais esse valor. O mercado de

distribuição no Brasil é altamente competitivo, com diversos players, alta taxa de postos sem

bandeira, intensa guerra de preços e poucas barreiras de entrada. Conforme explicado na seção

3.2.4, novos players de baixo custo, como por exemplo supermercados, entraram nesse mercado

nos Estados Unidos e na Europa, e o mesmo pode acontecer no Brasil, acirrando ainda mais a

competição. Apesar de a Petrobras de ter sido a líder nesse mercado, atualmente ele é

estruturalmente menos atrativo, justificando a venda.

Considerando exclusivamente a posição competitiva da Petrobras em cada negócio e as

oportunidades apresentadas nessa seção, é justificável o direcionamento dos seus investimentos

na cadeia de petróleo para a Exploração e Produção, em detrimento das atividades do

downstream, tendo em vista o objetivo de maximizar a rentabilidade da empresa. Ela possui

uma vantagem competitiva sustentável e superior a de seus concorrentes nessa etapa, que é

também a mais lucrativa e com melhores perspectivas para as próximas décadas. Para financiar

os investimentos necessários para aumentar a sua produção no pré-sal, sem que seja captado

dinheiro de terceiros, os desinvestimentos de ativos menos rentáveis se apresentam como uma

opção coerente, em primeira análise, e estão em linha com as diretrizes estratégicas perseguidas

pela maior parte das grandes empresas do setor.

Em seguida, serão analisados os impactos que esses desinvestimentos da cadeia do

petróleo podem ter sobre a vantagem corporativa que essas unidades de negócio podem ganhar

106

Tabela 5: Comparação entre as 3 etapas principais da cadeia do petróleo.

Exploração e Produção Refino Distribuição

Natureza das

atividades

Descoberta e extração de

recurso mineral do subsolo

Transformação físico-

química de produtos

Logística de transporte

e comercialização

Formação dos

preços

Benchmarks internacionais

com base em negociações

globais diárias

Paridade com o custo de

importar o produto

refinado

Preço da refinaria

somado aos impostos e

à margem de

distribuição

Perfil dos

clientes

Unidades de refino

próprias ou terceirizadas

Distribuidoras de

combustíveis e outros

produtos refinados

Grande número de

pessoas físicas ou

clientes industriais

Natureza da

competição

A nível global quanto à

venda de óleo cru e quanto

ao direito de explorar e

produzir reservas

Competição entre

refinarias locais e com

produtos importados

Forte competição por

preços, devido à pouca

diferenciação percebida

Capacitação

distintiva

Alta tecnologia para

descobrir petróleo e

maximizar o fator de

recuperação dos poços ao

menor custo

Gestão eficiente das

operações, reduzindo os

custos para aumentar a

margem

Capacidade de fidelizar

os clientes

individualmente

Fonte: Elaboração própria.

Considerando esses aspectos, e tomando-os como base de comparação com a metáfora

da árvore da competência essencial de Prahalad e Hamel, pode-se considerar que as unidades

de negócio da Petrobras na cadeia do petróleo não parecem ser folhas da mesma árvore, pois

não parece haver “um sistema de raiz que provê nutrição, sustentação e estabilidade” a eles – a

competência essencial.

De fato, quando se observa a estrutura de gestão e governança da Petrobras, o ponto de

fraca relação entre as atividades é reforçado, apesar de elas serem parte da mesma cadeia, e,

assim, inevitavelmente estarem conectadas umas às outras. De acordo com o quadro de

107

avaliação proposto por Ghemawat (2007), apresentado na figura 8 da seção 2.2.4, pode-se

afirmar que:

(1) a natureza dos recursos comuns entre os negócios de petróleo da empresa tende a ser

genérica, e não especializada, como explicado;

(2) os mecanismos de coordenação usados estão muito mais próximos de “transferência

de recursos/habilidades” do que de “compartilhamento de atividades/recursos”, como também

observado acima. Em outras palavras, não há recursos que possam ser compartilhados por duas

ou mais unidades de negócio – quando se é necessário que um recurso seja aproveitado em

outra UEN, como recursos humanos, por exemplo, é necessário transferi-lo completamente de

uma a outra;

(3) os sistemas de controle não são baseados no âmbito operacional das unidades de

negócio, considerando o baixo compartilhamento de recursos e atividades, tendendo mais para

a performance financeira.

Essas características colocam a Petrobras mais próxima ao modelo de “corporações de

negócios não relacionados ou independentes”, mesmo que eles sejam parte da mesma cadeia,

reforçando os argumentos apresentados anteriormente. Ela de fato já possui uma estrutura de

gestão que se aproxima desse modelo, o que pode ser verificado na seção 4.2.1. A divisão de

Exploração e Produção encontra-se numa diretoria executiva separada do Refino (a maior

separação possível dentro da corporação), e a Distribuição e a Comercialização são feitas por

subsidiárias, que se encontram fora da estrutura corporativa da Petrobras. Aquelas eram

controladas por essa, visto que possuí a maior parte de suas ações. O ponto de contato entre os

negócios, na estrutura organizacional, se dá a nível de Diretoria Executiva.

Essa baixa relação entre as atividades, que parecem possuir poucos pontos em comum,

limita o compartilhamento de recursos, capacitações e competências entre E&P, Refino,

Distribuição e Comercialização. Essa fonte de vantagem corporativa, portanto, parece ser de

menor ou mesmo pouca relevância nesse caso.

Considerando o triângulo de estratégia corporativa de Montgomery e Collins (1998), foi

abordado o lado dos recursos, sobre o qual se concluiu pouca contribuição para a construção de

vantagem corporativa.

A estrutura organizacional da Petrobras também não parece ter sido projetada pensando

na contribuição para esse objetivo, com as unidades de negócio em questão geridas de forma

bastante separada. É preciso avaliar ainda, entretanto, como se dá a interface entre essas

108

atividades da cadeia de petróleo para determinar se há vantagens corporativas decorrentes da

interação entre os negócios ou mercados - uma questão de integração vertical.

5.1.2.2. Coordenação de atividades (integração vertical)

Quando se analisa o escopo vertical, como apresentado no capítulo 2, é importante

avaliar as vantagens e desvantagens entre utilizar o mercado ou integrar as operações, de acordo

com os custos de transação entre os elos da cadeia. As ineficiências da contratação em mercado

podem justificar uma operação integrada, enquanto a existência de um mercado eficiente,

combinada com a necessidade de flexibilidade, podem ser indicadores de que é vantajoso

manter os negócios separados.

No caso da cadeia de petróleo, serão avaliados, para a Exploração e Produção, o Refino

e a Distribuição de Combustíveis, os custos de transação e sua relação com as necessidades de

cada um dos negócios para identificar se há fontes de vantagem corporativa na integração dos

elos da cadeia.

O primeiro elo a ser analisado se dá entre o E&P e as refinarias. As atividades de

Exploração e Produção de petróleo, por estarem no início da cadeia, permitem apenas

integração em direção ao mercado, cujo principal objetivo pode ser considerado garantir a

demanda contínua por petróleo cru extraído dos poços, a preços atrativos, evitando os custos de

transação do mercado aberto.

Como explicado no capítulo 2, sabe-se que os mercados de óleo cru são competitivos a

nível global, com preços de benchmark para cada tipo de petróleo, definidos pelas negociações

diárias ao redor do mundo. Por isso, esse mercado apresenta uma alta eficiência, com baixo

custo de transação, já que os vendedores e operadores do upstream podem negociar contratos

spot no mercado mundial, havendo pouco espaço para barganha em relação aos preços

internacionais de referência.

Considerando particularmente o petróleo extraído do pré-sal brasileiro, por ser um óleo

leve e de fácil refino, ele apresenta maior liquidez no mercado internacional, facilitando as

negociações em mercado aberto. Diferentemente dos óleos leves, os óleos pesados requerem

refinarias mais complexas para serem transformados em combustíveis, limitando o mercado

potencial. Assim, o escoamento da produção do pré-sal é facilitado pela sua maior flexibilidade

em relação aos possíveis compradores, que garante um nível de demanda maior e mais estável

do que o de óleos pesados.

109

Mesmo quando se compara a venda em mercado aberto com a passagem do petróleo

dentro de uma cadeia integrada, do poço à refinaria, faz sentido que os preços de benchmark

continuam sendo observados, não havendo vantagens na integração. Caso a operação upstream

passe o petróleo à refinaria abaixo desse preço de referência, com objetivo de obter melhores

resultados no refino, ela está deixando de aproveitar a oportunidade de lucrar mais com a

transação, e, na melhor das hipóteses, apenas transferindo um lucro que seria obtido em uma

etapa (E&P) para outra. Se essa venda for feita acima do preço de referência, quem sai

prejudicado é o setor downstream, para o qual, nesse caso, faria mais sentido realizar a aquisição

com outro produtor de petróleo negociando no preço de referência.

Desse modo, a operação integrada com o downstream parece não trazer vantagem

corporativa para o upstream, quanto aos custos de transação e, como visto anteriormente,

também quanto ao compartilhamento de recursos (no sentido amplo).

Essa mesma interface entre as etapas, quando olhada pela ótica das refinarias, suscita

questões diferentes. Para esse negócio, a integração com o upstream tem efeitos ambíguos, ao

passo que gera um compromisso de longo prazo entre as unidades de negócio em detrimento

da flexibilidade da refinaria para realizar as compras de óleo cru.

Por um lado, a integração garante o abastecimento da refinaria de seu principal insumo,

o que é extremamente importante pela necessidade de maximizar a eficiência, evitando

interrupções da produção. Nesse caso, como explicado anteriormente, não se trata do preço do

insumo, que geralmente é dado pela referência internacional, mas sim da sua disponibilidade a

todo momento, que pode ser difícil de obter no mercado aberto, ou dos custos logísticos. Por

outro lado, a refinaria passa a ter menos liberdade para aproveitar as oportunidades

momentâneas que surgem das variações de preço dos diferentes tipos e origens de petróleo -

reduzindo as oportunidades de otimização dos seus custos com matéria-prima, o que é um ponto

crítico da sua operação. Quando a operação é livre, por exemplo, a refinaria pode escolher, de

acordo com os preços spot, se naquele momento faz mais sentido financeiro comprar um óleo

mais pesado que será mais custoso para refinar, ou um óleo mais leve, cujo refino é menos

complexo, caso ela seja flexível a ponto de trabalhar com os dois produtos.

A força de cada um desses fatores dependerá do contexto em que cada refinaria está

inserida, tanto em termos do seu acesso a fontes de óleo cru, como das características de suas

instalações. Entretanto, com a evolução recente experimentada pelos mercados globais quanto

à informação e aos transportes, a tendência é que cada vez mais tenhamos refinarias

desintegradas, já que, em condições relativamente normais de mercado (em que não haja uma

110

grande suboferta global), o acesso rápido e confiável a fontes de petróleo tende a se tornar

menos complicado.

No caso da Petrobras, a opção foi por manter as refinarias que possuem as vantagens da

integração mais evidentes e melhor posição competitiva, e desinvestir das outras. As refinarias

mantidas em seu portfólio são as suas “joias da coroa”, que mais se beneficiam da integração

com as operações no pré-sal, aproveitando essa fonte de vantagem corporativa. Além disso, elas

são as que apresentam as condições mercadológicas mais favoráveis quanto à demanda. A única

exceção é a refinaria Clara Camarão, no RN. Essas refinarias nos estados de São Paulo e Rio

de Janeiro localizam-se próximas às bacias de Santos e de Campos, com logística privilegiada

para receber e refinar o petróleo de alta qualidade do pré-sal - o que é uma vantagem pelo lado

da oferta - permitindo atender a demanda com agilidade. Pelo lado da demanda, elas localizam-

se na região mais rica, densa e populosa do país, onde está localizada, portanto a maior demanda

por combustíveis e derivados de alto valor.

Por último, o outro elo relevante da cadeia se dá dentro da etapa downstream, entre as

refinarias e as distribuidoras de combustíveis. Para esse elo, a troca de informações é

extremamente relevante: atender a demanda do mercado com agilidade e precisão é importante

para maximizar a eficiência da refinaria e da distribuidora. Nesses negócios em que as margens

tendem a ser baixas, como explicado no capítulo 2, esse é um fator crítico para garantir a

lucratividade.

Quanto mais granular e instantâneo for o intercâmbio de informações entre a refinaria

e a ponta da cadeia, mais preciso pode ser o planejamento da produção da refinaria e a compra

por parte das distribuidoras. Com isso, reduzem-se os estoques de produtos acabados para os

dois agentes e atende-se de forma mais ágil a demanda dos consumidores finais. No caso da

refinaria, ainda, o estoque de produtos acabados tem um custo ainda maior do que o estoque de

petróleo cru, pois não há flexibilidade para ser transformado em outros produtos, resultando em

altos custos de armazenamento em tanques para a unidade de refino.

Nesse caso, a integração vertical pode ser uma forma de garantir ações coordenadas

entre as duas etapas, facilitando o fluxo de informações de forma a evitar problemas logísticos

(entre eles, por exemplo, o “efeito chicote”) e garantindo o abastecimento adequado. Todavia,

uma tendência atual é a maior disponibilização de informações ao longo de diversas cadeias,

resultante do interesse que ambos fornecedor e comprador atinjam seus objetivos. Isso é

facilitado pelas novas tecnologias de informação e comunicação. Assim, mesmo nesse caso a

operação integrada não é a única forma de alcançar essa vantagem competitiva.

111

Transportando esses conceitos para a estratégia deliberada pela Petrobras para essas

duas etapas, sabe-se que, para as refinarias que continuam no portfólio, essas condições de

integração não mudam, e se mantem a coordenação das atividades. Quanto ao segmento de

comercialização, é necessário que a Petrobras busque manter uma relação de cooperação e

compartilhamento de informações com os atores do setor, uma vez que essa cedeu seu controle

sobre a BR Distribuidora, que hoje domina mais de 20% do mercado.

Percebe-se, dessa forma, que a opção da Petrobras de vender parte da sua operação

downstream não impacta a posição competitiva e a rentabilidade do seu negócio de Exploração

e Produção, quando considerada a interface entre as atividades, uma vez que a demanda interna

é facilmente substituível, com poucos custos, pela demanda de mercado. Ao mesmo tempo,

mantem-se os melhores ativos do refino, nos quais se observa provável vantagem corporativa.

Entretanto, existem alguns pontos de atenção quanto a essa desintegração, os quais, num

cenário em que a empresa desinvestisse totalmente do downstream, e ficasse apenas com suas

operações de E&P, levariam ao provável surgimento de problemas.

Em primeiro lugar, é preciso destacar que, mesmo não havendo uma vantagem

corporativa clara pelo lado do upstream, os negócios são complementares e sujeitos às

oscilações de performance, fazendo com que a operação combinada e coordenada reduza o risco

global. Nos momentos de baixo preço do petróleo, o downstream consegue auferir mais lucros

ao não repassar a totalidade da redução ao consumidor. Por outro lado, quando os preços estão

altos o lucro do upstream é maior em detrimento do downstream, que fica com as margens

pressionadas. Esse é o principal motivo pelo qual a ExxonMobil defende a integração

(EXXONMOBIL, 2019).

No caso da Petrobras, por estar vendendo cerca de 50% da capacidade de refino e ter

vendido seu controle da BR Distribuidora, a exposição a esse risco aumenta. Caso a empresa

mantenha uma operação robusta no downstream, ainda existirá um certo “colchão” de

amortecimento da volatilidade de seus resultados globais, que esse trabalho não estimou, senão,

com cerca de 50% do que se tinha com a empresa totalmente integrada.

Um segundo ponto relevante é o acesso às informações dos padrões de consumo na

ponta da cadeia, fornecidas pela BR Distribuidora, que guiam diretrizes estratégicas e de

operações de médio-longo prazo, como por exemplo investimentos em ativos logísticos ou

mudanças no mix de produtos de refinarias. Caso a Petrobras se desfizesse totalmente de sua

rede de distribuição de combustíveis, ela perderia a visibilidade das mudanças do mercado final,

112

ficando restrita aos dados publicados pela ANP. Assim, seria mais difícil para a empresa se

posicionar para atender às tendências futuras do seu mercado.

Buscou-se outros estudos sobre a temática, especialmente dos últimos 10 anos, tanto

com conclusões semelhantes como divergentes, a fim de construir base de comparação para o

presente, mas esses se mostraram difíceis de encontrar na literatura acadêmica12. Dois estudos

relativamente antigos, de Levin (1981) e Barrera-Ray (1995), analisaram a relação entre a

integração e a lucratividade de empresas de petróleo e concluíram que empresas de petróleo

integradas verticalmente não apresentam desempenho superior ao de suas competidoras que

atuam em apenas uma etapa da cadeia, mesmo diante da justificativa da ExxonMobil em prol

da redução de riscos.

5.1.2.3. O triângulo da estratégia corporativa para a Petrobras

Diante de tudo que foi apresentado até aqui, pode-se estruturar o que seria o triângulo

da estratégia corporativa da Petrobras, segundo o PNG.

Figura 39: Reprise: Triângulo da estratégia corporativa.

Fonte: MONTGOMERY & COLLINS, 2005.

Primeiramente, Montgomery e Collins (1998) deixam claro que todos os fatores do

triângulo devem estar alinhados com a visão estratégica da Petrobras. No PNG, é apresentado

que a visão da Petrobras consiste em ser “uma empresa integrada de energia, que evolui com a

12 Vale o adendo de que não foi uma busca exaustiva. Dentre os meios buscados, estão monografias de

universidades brasileiras, base de periódicos da CAPES, motores de busca da internet, como o Google Scholar, e

referências bibliográficas de obras aqui citadas.

113

sociedade, gera alto valor e tem capacidade técnica”, seu propósito é “prover a energia que

move a sociedade a realizar seu potencial” e seus objetivos são: alcançar um valor de Dívida

Líquida/EBITDA abaixo de 1,5; obter um ROCE acima de 11%; e reduzir a Taxa de Acidentes

Registrados para abaixo de 1.

A estrutura da Petrobras antes da execução do plano consistia primariamente em um

corpo corporativo onde se inseriam a diretoria gestora da etapa de E&P e outra diretoria gestora

da parte de Refino, ambas sob a gestão do presidente da corporação. As unidades de

Distribuição e Transporte estavam sujeitas ao controle do corpo principal, enquanto subsidiárias

desse. Na nova configuração, a organização cede aproximadamente 50% da sua capacidade de

refino e cede também o controle majoritário da sua filial de distribuição. O resultado final

enxuga a estrutura de gestão, mas não modifica essencialmente a estrutura de gestão da

corporação, considerando que não há menções de mudanças na Transpetro dentro da estratégia

deliberada da Petrobras.

Quanto a negócios, se não for levado em consideração o objetivo da Petrobras de reduzir

sua alavancagem financeira, parece contraditório que ela esteja se desfazendo de sua posição

competitiva dominante nos setores de refino e distribuição, se tornando menos “integrada”,

conforme expresso na sua visão. Porém, como apresentado previamente, o upstream é o negócio

mais rentável para a empresa, que gera mais valor, e pode-se argumentar ainda que esse é o

mais atraente dentre os outros, visto que há uma relação de dependência forte para com ele no

decorrer da cadeia.

Sobre recursos, podemos analisá-los em quatro vertentes: insumos, atividades,

capacitações e informações.

1. Insumos: ainda que a exploração do pré-sal proveja um óleo diferenciado e mais

cobiçado, pode-se afirmar que esse é o fator menos expressivo dentre os três,

levando em consideração que ainda se trata de negócio de commodities, direcionado

predominantemente pelo preço desse insumo.

Em se tratando do recurso humano, haverá um enxugamento da massa salarial da

Petrobras com a cessão de seus negócios no downstream. Não há especificações no

PNG sobre como será conduzida a realocação da parcela dos recursos que

permanecerá na empresa, mas o movimento mais acertado seria reposicioná-los ao

longo das demais unidades de acordo com suas competências, capacidades e

necessidades dessas.

114

2. Atividades: ao longo do estudo, viu-se que as atividades de cada etapa da cadeia são

essencialmente únicas, e não sofrerão modificações estruturais pelas ações

apresentadas no PNG. Como explorado no ponto anterior, as atividades de

coordenação entre cada etapa diminuirão na medida que a Petrobras se desfaz de

seus negócios em downstream,

3. Capacitações: no ponto 5.1.2.1, deixou-se claro que as competências de cada

negócio também são únicas e não compartilhadas. Com as operações anunciadas no

PNG, prevê-se que a Petrobras inutilizará boa parte de suas capacitações construídas

nas atividades de downstream, mas desenvolverá mais aceleradamente suas

capacitações em E&P.

4. Informações: a quantidade de informações que permeará a empresa também será

menor, caso cumpra-se o que está no PNG, perdendo principalmente os fluxos de

vindos dos mercados regionais do nordeste e do sul do país.

Analisando todos esses fatores em conjunto, pode-se perceber que, ainda que a

configuração da organização como desejada pela estratégia deliberada seja essencialmente a

mesma, o volume de ações para coordenar as atividades entre cada etapa diminuiria na medida

em que o tamanho dos negócios de downstream diminuiria. Na prática, mantendo somente o

conjunto de refinarias localizadas nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, a Petrobras

reduziria a quantidade de unidades a serem controladas pela gerência corporativa, ao mesmo

tempo que não necessitaria empregar o mesmo esforço de coordenação que colocaria para

abastecer as refinarias nas regiões mais distantes de seus principais poços de extração.

Ademais, a coordenação dos recursos financeiros e de negócios para o desenvolvimento

da atividade de Extração e Produção está em consonância com os objetivos financeiros e de

criação de valor da Petrobras. Apesar de não se beneficiar da integração com o downstream

tanto quanto esse se beneficia por estar integrado a ela, a atividade de E&P ainda ganha valor

pelo fluxo de informações do mercado que recebe da parcela do downstream que permanece

integrada à corporação e pelo “colchão” de segurança que diminui o impacto das oscilações do

mercado – além de se tornar menos vulnerável a possíveis controles de preços do Estado. Ainda

que a desintegração desejada contrarie o que foi expresso na primeira parte da visão da empresa,

percebe-se uma vantagem corporativa emergindo desse conjunto, uma vez que há uma

vantagem competitiva tanto para o negócio de upstream quanto para os de downstream que

comporiam a corporação desenhada pela estratégia deliberada.

115

5.1.2.4. A análise do portfólio da Petrobras

Finalmente, é possível avaliar as unidades de negócio estudadas da Petrobras segundo

os dois critérios essenciais da análise de portfólio, trazidos na seção 2.2.1: a atratividade da

indústria e a posição competitiva. A tabela 6 apresenta uma análise de cada UEN estudada

segundo os dois critérios, essencialmente baseada no que já foi apresentado até aqui. Ele não

pretende esgotar seus pontos, uma vez que todos de alguma forma já foram apresentados

anteriormente. Seu objetivo é citar os principais pontos de análise sobre cada um desses critérios

essenciais da análise de portfólio.

Tabela 6: Análise simplificada de portfólio da Petrobras

Atratividade da indústria

(ver capítulo 3)

Posição competitiva

(ver capítulo 4 e demais análises

desse capítulo)

E&P

Alta atratividade, principalmente

devido à alta margem de ganho dessa

etapa e à existência do pré-sal em

terras brasileiras. Ainda que a

demanda não cresça vertiginosamente

nos próximos anos, a queda prevista

na oferta por exaurimento das fontes

de petróleo atuais tornará o mercado

ainda mais atrativo para aqueles que

conseguirem explorar novas fontes.

Excelente, graças às competências

desenvolvidas na extração em águas

profundas e à preferência na extração

do petróleo do pré-sal.

O fato de estar integrada a algumas

unidades de refino da Petrobras lhe

garante ainda uma vantagem

competitiva adicional, como já

apresentado.

Refino

Média atratividade, pois, apesar de

conceder margens menores que as de

E&P, ainda é um negócio rentável. A

demanda por refino não é prevista

para aumentar expressivamente nos

próximos anos, visto que essa é

condicionada pela quantidade de

petróleo gerada pela fase de E&P.

Excelente posição competitiva da

UEN, por conta do monopólio de

refino no país. Como apresentado

anteriormente, os motivos que

levaram a Petrobras a ceder parte do

seu posicionamento competitivo

excelente nessa etapa são explicáveis

do ponto de vista corporativo. As

unidades que restarão na Petrobras

terão uma vantagem competitiva

frente às concorrentes, na medida em

116

que ainda estarão ligadas ao

upstream.

Transporte

Há pouca informação para classificar

a atratividade do midstream da cadeia

de petróleo. Conforme descrito na

seção 3.2.1, é um mercado de menor

volatilidade nas receitas e nos lucros,

e cuja demanda segue a oferta do

upstream. Se a perspectiva do

mercado de E&P é boa, por

consequência a atratividade do

transporte tende a ser boa.

Também há poucas informações

sobre o posicionamento competitivo

da Transpetro, mas, se de fato

permanecer na corporação e a

unidade de negócio de E&P explorar

ativamente pré-sal, ela terá uma

vantagem competitiva frente às

concorrentes.

Distribuição e

comercialização

Baixa, visto que, é um mercado

pulverizado, com poucas barreiras a

novos entrantes, e cujo principal

driver de atração dos clientes é o

preço final do combustível. Esses dois

fatores têm enxugado as margens do

setor. A atratividade diminui, se for

considerado o histórico de atuação do

Estado na fixação do preço dos

combustíveis.

Baixa-média.

É a única etapa em que a Petrobras

não domina o mercado. Ainda que a

BR Distribuidora invista em

diferenciação, o principal driver de

atração dos clientes é o preço do

combustível.

Fonte: Elaboração própria.

Percebe-se que os movimentos da Petrobras seguem coerentes com as linhas gerais dos

princípios da análise de portfólio. Nessa visão, a Petrobras deveria investir em unidades

presentes em mercados de alta atratividade e alta participação de mercado, e desinvestir em

unidades de mercados com baixa atratividade e baixa participação de mercado. Claramente as

unidades de E&P e Distribuição e Comercialização, respectivamente, caem nesses casos.

5.2. INCERTEZAS E RISCOS

Como todo plano, o PNG da Petrobras apresenta incertezas quanto a sua realização que

se convertem em riscos para a empresa. Para essa seção exploraremos os riscos relacionados à

117

escolha de focar na exploração do pré-sal dentro da cadeia de petróleo. Serão analisados riscos

de duas naturezas: os que prejudicam a realização do PNG e os que o PNG, dada a sua execução,

traz para a empresa em seu estado final.

A execução do plano da Petrobras depende basicamente de a empresa conseguir realizar

os desinvestimentos pretendidos em refino, distribuição e E&P excluído o pré-sal, ao mesmo

tempo em que é capaz de realizar novos investimentos nos poços do pré-sal.

Uma primeira questão importante é a insegurança jurídica quanto à possibilidade de

realizar a venda de ativos.

Em junho de 2018, o STF suspendeu o programa de vendas das refinarias da Petrobras,

sob o argumento de que o texto da Lei das Estatais (Lei nº 13.303/2016) precisava ser debatido

para definir se havia necessidade de aprovação legislativa para a alienação de estatais ou de

suas subsidiárias. Em 6 de junho de 2019, entretanto, o plenário do STF derrubou essa liminar,

e permitiu a venda de subsidiárias sem aval legislativo, mas não das empresas-mãe, o que

possibilita que a Petrobras realize os desinvestimentos. Quatro dias depois, um projeto de lei

que proíbe mais uma vez a venda de estatais e subsidiárias sem autorização legislativa e

processo licitatório foi apresentado por um grupo de senadores e ainda deve ser votado (STF,

2018; BRITO, 2019; SENADO, 2019). Considerando essas múltiplas mudanças, é difícil

afirmar que a decisão em vigor é a decisão final, mas com o apoio do Cade, da ANP e do

Ministério de Minas e Energia, já foi lançado o Termo de Compromisso de Cessação, o que

tende a reduzir esse risco

Um outro problema com o qual a Petrobras terá que lidar é a oposição de sindicatos e

outras organizações à venda de seus ativos e subsidiárias, o que pode prejudicar o processo.

Já houve reações de protesto, e algumas organizações sindicais chegaram a convocar e

realizar paralisações, sob o argumento de que as privatizações seriam um ataque à soberania

nacional e à própria Petrobras. A Federação Única dos Petroleiros (FUP), representante dos

sindicatos regionais, entrou com uma ação popular contra a venda dos ativos de refino, com

objetivo de barrar o acordo feito entre a Petrobras e o Cade sob o argumento de que ele coloca

em risco a “soberania energética do país” e “fará com que os preços dos derivados de petróleo

aumentem” (FUP, 2019a e 2019b).

O embasamento para essa contestação foi apresentado pelo Instituto de Estudos

Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep), criado pela

FUP para realizar pesquisas acadêmicas em assuntos relacionados à agenda do setor de

petróleo, gás e biocombustíveis no Brasil e no mundo. De acordo com o instituto, “não há

118

comprovação de que a entrada de novos agentes transformará o segmento de derivados em um

mercado competitivo”, porque (1) mesmo que a Petrobras venda as oito refinarias para atores

distintos, formar-se-ão monopólios regionais, e porque (2) não há correlação direta entre preços

de combustíveis e estruturas de mercado mais ou menos monopolísticas. A organização conclui

que “o menor poder de mercado da estatal na atividade de refino diminui a possiblidade de

regulação de mercado e (leva) a maior exposição às mudanças do preço internacional do barril

de petróleo” (INEEP, 2019). Esses argumentos estão fora do escopo de análise desse projeto,

pois estão relacionados ao papel da Petrobras como instrumento de política de Estado.

Assim como em qualquer negócio, o contexto macroeconômico também pode prejudicar

tanto as operações de venda de ativos como os investimentos na Exploração e Produção de

águas profundas. O PNG é feito com base em previsões para o valor do barril de petróleo e para

a taxa de câmbio nos próximos anos. Até 2023, a empresa prevê o barril de Brent variando entre

66 e 75 dólares, enquanto a taxa de câmbio se mantém estável entre 3,6 e 3,7 reais por dólar.

Figura 40: Previsões do PNG para os anos 2019-2023.

Fonte: Plano de Negócios e Gestão 2019-2023. P. 22

Apesar de a Petrobras já realizar o seu planejamento tendo em vista uma faixa larga de

previsões para as grandezas nos próximos anos, os valores reais ainda podem se distanciar

dessas previsões, prejudicando os planos da Petrobras. Em seu Plano de Negócios e Gestão para

os anos de 2014 a 2018, por exemplo, a Petrobras previa o valor do Brent em torno de 100

dólares por barril entre 2015 e 2017, tendo em mente que os previsores variavam entre 50 e 140

dólares por barril. Na prática, o barril atingiu 52 dólares em 2015, 43 dólares em 2016 e 54

dólares em 2017 (valores médios anuais), o que impactou os planos não só da Petrobras como

de toda a indústria de petróleo (PETROBRAS, 2014).

119

Dessa forma, em um cenário de preços baixos do petróleo, como aconteceu nessa época,

o valor de venda de seus ativos tende a cair, bem como a atratividade da produção do pré-

sal. Contudo, o mesmo pode acontecer no sentido contrário: um aumento nos preços do

petróleo que cause maior atividade da cadeia a nível mundial. Quanto ao dólar, ele é importante

para a Petrobras porque os preços do petróleo são cotados nessa moeda, bem como outras

despesas, então sua receita em reais depende diretamente da taxa de câmbio. Para os

desinvestimentos, a taxa de câmbio pode influenciar o valor em reais que empresas estrangeiras

estejam dispostas a pagar pelos ativos. Caso o real se valorize, elas precisarão dispender mais

dólares.

Por fim, há dois riscos que a execução PNG traz para a Petrobras enquanto empresa: (1)

uma maior exposição às variações dos preços internacionais do petróleo e (2) maior fragilidade

em relação à transição energética em curso no mundo.

Em primeiro lugar, com uma operação menos integrada e mais focada em E&P, os

preços internacionais de petróleo passam a impactar mais os negócios da empresa, como

explicado na seção 5.1.2, uma vez que ela passa a ter menos flexibilidade para capturar o valor

em outras etapas da cadeia em momentos de baixo preço. Vale ressaltar, entretanto, que a

Petrobras ainda pretende manter uma capacidade de refino de mais de um milhão de barris por

dia. Assim, esse efeito é relativamente limitado para a empresa.

Além disso, o foco dado ao petróleo não prepara a empresa, por enquanto, para um

futuro distante em que essa matéria-prima pode perder sua relevância frente a outras fontes de

energia, especialmente as renováveis. Como concluiu a pesquisa da PwC (2019), apresentada

na seção 3.3.3, são três as alternativas principais que se apresentam às empresas de petróleo:

(1) aceleração forte em combustíveis fósseis; (2) diversificação do portfólio; ou (3)

investimento pesado em renováveis. Ao priorizar a primeira alternativa, colocando pouco

investimento nas energias renováveis e em outras fontes alternativas, a Petrobras deixa de

endereçar um possível impacto da transição energética nas suas operações.

5.3. DESDOBRAMENTOS DO PNG

A análise apresentada nesse capítulo parte da visão de uma Petrobras orientada ao

mercado, maximizando o retorno aos seus investidores, como explicado anteriormente. Essa

perspectiva, quando seguida à risca, é uma mudança em relação à visão tradicional da empresa

estatal como um agente de políticas e objetivos determinados pelo governo, isto é, um

instrumento do Estado.

121

lógica de maximização do lucro das estatais e em um mercado competitivo, o governo só

poderia conceder subsídios retirando recursos de seu caixa e não do caixa da Petrobras, que

seria apenas um dos agentes daquele mercado. Isso leva a uma maior confiança na empresa, e

pode, inclusive, reduzir o seu custo de capital pelo menor risco associado a ela.

Por outro lado, a configuração atual em que se tem a Petrobras, monopolista, atuando

puramente sob a lógica capitalista, também traz problemas potenciais ao consumidor brasileiro,

como o CADE já havia indicado, a ponto de abrir um inquérito para investigar potencial abuso

de poder na formação dos preços dos combustíveis, conforme explicado anteriormente.

Abrir esse mercado pela venda de parte das refinarias deve levar a uma configuração

competitiva, evitando que os consumidores sejam prejudicados por um preço excessivamente

alto, determinado por um monopolista que aufere lucros exagerados - o que pode acontecer

mesmo que essa empresa seja uma estatal como a Petrobras. Mesmo em mercados em que não

há monopólio, a entrada de novos competidores sempre tende a beneficiar os consumidores

com menores preços e maior qualidade. Vale ressaltar, entretanto, que o ideal é que as refinarias

sejam vendidas a compradores variados, evitando a formação de uma estrutura de mercado com

fortes monopólios regionais e ainda poucos refinadores a nível nacional.

Por fim, vale ressaltar que as duas visões apresentadas para empresas estatais nessa

seção não são necessariamente antagônicas. Como o Estado é o maior acionista dessas

empresas, maximizar o lucro e o retorno aos investidores também maximiza os impostos pagos,

e, em última instância, maximiza o lucro recebido pelo Estado. Com mais capital em mãos, o

Estado pode investir então no desenvolvimento de quaisquer políticas de seu interesse com mais

liberdade, sejam elas relacionadas ao negócio da estatal que gerou o lucro em questão, ou em

qualquer outra área essencial, como saúde ou educação. Por isso, não é coerente afirmar que a

gestão da Petrobras como uma empresa com fins lucrativos vai completamente contra o seu

papel social enquanto empresa estatal.

122

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este projeto de graduação objetivou construir uma análise crítica das decisões da

Petrobras no âmbito da estratégia corporativa, especialmente da sua escolha de focar na

exploração e produção de petróleo do pré-sal, desinvestindo de outras etapas da cadeia de valor

do petróleo, notadamente o refino e a distribuição, e de poços de outros tipos.

A principal contribuição desse trabalho é, portanto, oferecer uma análise técnica a

respeito da estratégia corporativa da maior empresa brasileira. Mesmo para leitores que

discordem da aplicação da visão estratégica corporativa a empresas estatais, é pertinente

compreender os fundamentos econômicos e técnicos por trás de decisões desse cunho.

Anunciada a limitação de realizar uma análise exclusivamente técnica a respeito dessas

escolhas, os argumentos utilizados basearam-se fortemente no objetivo de maximização do

lucro e do retorno oferecido pela Petrobras aos seus investidores. O conceito de vantagem

corporativa - a vantagem que uma unidade de negócio tem sobre seus concorrentes por fazer

parte de uma corporação – foi também central para analisar as questões relacionadas à estratégia

corporativa e à desintegração vertical. Foram apresentados, em uma revisão de literatura sobre

o tema, os mecanismos pelos quais é possível gerar essa vantagem e gerir uma corporação com

múltiplas unidades de negócio.

A partir de uma análise cruzada desses mecanismos com as características estruturais e

conjunturais do mercado de petróleo e da Petrobras, chegou-se à conclusão de que a estratégia

de focar na Exploração e Produção de petróleo do pré-sal atende ao objetivo de aumentar a

rentabilidade da empresa. Além disso, esse plano está alinhado com parte das tendências da

indústria e das principais empresas, de focar os seus portfólios nos melhores ativos,

desinvestindo dos que não apresentarem um retorno satisfatório.

No caso da Petrobras, é nessa atividade que ela tem sua principal vantagem competitiva

sustentável em relação aos competidores, ao mesmo tempo em que ela é parte da etapa da cadeia

do petróleo mais promissora para as próximas décadas, considerando a evolução da indústria.

Assim, a empresa está bem posicionada para capturar o valor exatamente na etapa em que ele

tende a ser mais abundante.

A realização de desinvestimentos de outras atividades da cadeia, notadamente do refino

e da distribuição, mas também do E&P fora do pré-sal, libera recursos para serem aplicados

nessa atividade mais rentável, garantindo o aumento da produção sem que seja necessário

aumentar a dívida por meio da captação de capital de terceiros.

123

Esses desinvestimentos não prejudicam a posição de destaque da Petrobras na

exploração do pré-sal, uma vez que não há perda de vantagem corporativa para essa unidade

nem devido ao compartilhamento de recursos, nem à coordenação de atividades, desde que,

como proposto, a Petrobras mantenha uma operação ainda robusta ao longo da cadeia. As

refinarias que permanecem sob controle da empresa representam cerca de 50% da capacidade

nacional e são as melhores do portfólio, tanto em termos da vantagem corporativa que obtêm

devido ao pré-sal, como das características de seu mercado consumidor. Além disso, a Petrobras

venderá uma fatia da BR Distribuidora, mas ainda manterá uma parte do controle sobre esse

braço das operações.

A venda das refinarias representará ainda a quebra de um monopólio histórico sobre o

refino, abrindo caminho seja para a formação de um mercado competitivo de combustíveis, seja

para a formação de novos monopólios a nível regional. Caso a primeira opção venha a se

cumprir, a tendência é que os consumidores sejam beneficiados com maior variedade de oferta

e menores preços. Porém, se forem formados novos monopólios regionais, pode-se prever uma

situação em que os preços em algumas regiões aumentarão ou que a competitividade do

combustível importado se equipare ao do nacional, especialmente no Nordeste.

Alguns setores da sociedade têm se oposto a esse movimento de cessão das refinarias,

sob o argumento de que a soberania estatal sobre a cadeia dos combustíveis é uma questão

estratégica, possibilitando que o Estado controle o preço e a produção de combustíveis – mas a

análise desses argumentos foge ao objetivo desse projeto.

Também foge ao objetivo desse estudo a análise dos negócios que não fazem parte da

cadeia do petróleo, mas vale trazer aqui a observação quanto às movimentações da Petrobras

em relação à transição energética em direção a uma matriz renovável. Ainda que se tenha

concluído que é coerente alocar os investimentos majoritariamente na atividade de extração e

produção visando a tirar proveito disso durante as próximas 2 ou 3 décadas, também é certo

que o mundo caminha em direção à uma matriz energética renovável e não há indicação nem

PNG nem nos demais comunicados da empresa que ela está ciente disso e que tem a intenção

de investir nessa direção em algum momento. Assim como para desenvolver sua competência

em extração de petróleo em águas profundas foram necessários vultosos investimentos ao longo

de 5 décadas, estranha-se que não haja nenhuma menção ao desenvolvimento de competências

em direção às energias renováveis.

Tratou-se, nesse trabalho, de objeto de estudo relevante para a sociedade, cujo

desenrolar ainda acontecerá nos próximos anos, até que o plano estratégico seja colocado em

124

prática. Trabalhos futuros podem explorar diversos desdobramentos deste. Uma possibilidade

é explicar como esse foco estratégico em E&P do pré-sal influencia os outros negócios da

Petrobras, fora da cadeia do petróleo, ou, então, em alguns anos, avaliar os resultados da

execução do PNG 2019-2023. De caráter mais específico, podem ser analisadas futuras

configurações possíveis do mercado brasileiro de combustíveis, considerando diferentes

naturezas de compradores para os ativos vendidos pela Petrobras, como por exemplo a filial de

distribuição de gás natural, visto que esse é um recurso cujo aumento de relevância no cenário

mundial é favorável, segundo as previsões apresentadas. Por último, outros trabalhos podem se

aprofundar mais nas diferenças entre o uso da Petrobras como instrumento de Estado, e o seu

compromisso perante o mercado de atuar visando a maximização dos lucros.

Tratar do escopo de companhias diversificadas de grande porte é um desafio,

especialmente quando isso envolve desinvestimentos. É complexo compreender que a melhor

opção estratégica para uma empresa pode ser se desfazer de parte dos seus ativos, e que isso

pode ser um bom caminho para maximizar a sua rentabilidade. Para uma empresa estatal e

brasileira como a Petrobras, essa discussão se torna ainda mais complicada, já que parte da

opinião pública é frequentemente contrária a privatizações de empresas ditas estratégicas, por

considerá-las entrega de resultados do povo brasileiro ao capital privado, em particular o

estrangeiro.

Espera-se, portanto, que esse trabalho tenha contribuído para a construção de um debate

maduro a respeito do papel de empresas estatais como a Petrobras na sociedade brasileira,

fornecendo maior embasamento técnico para discussões dessa natureza.

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à CVM. A oferta base das ações será de 25%, podendo chegar até 33,75% do capital social da

companhia, a depender do exercício do lote adicional e do lote suplementar.

Informações adicionais sobre a oferta podem ser obtidas no Prospecto Preliminar

disponível em https://www.investidorpetrobras.com.br/pt/acoes-dividendos-e-

divida/prospectos, na seção "Oferta Pública Petrobras Distribuidora 2019"/ "Prospecto

Preliminar".”