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OBRAS DE JUSTIÇA Mateus 6.1-18 Texto Áureo: Tenham o cuidado de não praticar suas obras de justiça diante dos outros para serem vistos por eles. Se fizerem isso, vocês não terão nenhuma recompensa do Pai celestial” (Mateus 6.1). INTRODUÇÃO: O “Sermão do Monte” é uma obra riquíssima no seu conteúdo e não somente em seu conteúdo, mas no que diz a respeito de “ética, moral e espiritualidade cristã”. Nossa consideração sobre o “Sermão do Monte” começa pela “análise e divisão” do seu conteúdo. Também podemos perceber que aqui, em Mateus 6, chegamos a uma nova seção. A primeira seção (5:3-12) contém as bem-aventuranças - a descrição do crente conforme ele é. Na seção seguinte (5:13-16), descobrimos como é que esse crente fora assim descrito, reage ao mundo, e também como o mundo reage diante dele. A terceira seção (5:17-48) aborda a relação entre o crente e a lei de Deus. Essa seção oferece-nos uma “exposição positiva da lei”, contrastando-a com o falso ensino dos “escribas e fariseus”. E termina com aquela extraordinária “exortação” do versículo final: "Portanto, sede vos perfeitos como perfeito é o vosso Pai Celeste". Chegamos agora a uma “seção” inteiramente nova, que envolve a totalidade do sexto capítulo de Mateus. Encontramos aqui aquilo que poderíamos chamar de “quadro de um crente”, o qual vive sua vida neste mundo, na presença de Deus, em ativa submissão ao Senhor e em completa dependência a Ele. MATEUS 6 passa em revista a “nossa vida como um todo”, considerando-a segundo dois (02) aspectos principais. Trata-se de algo verdadeiramente admirável, pois, em última análise, a vida do crente neste mundo tem dois lados, ambos os quais são aqui ventilados.

A Piedade Cristã

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Uma exegese de Mateus 6.1-18

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OBRAS DE JUSTIÇA Mateus 6.1-18

Texto Áureo: “Tenham o cuidado de não praticar suas obras de justiça diante dos

outros para serem vistos por eles. Se fizerem isso, vocês não terão nenhuma

recompensa do Pai celestial” (Mateus 6.1).

INTRODUÇÃO:

O “Sermão do Monte” é uma obra riquíssima no seu conteúdo e não somente

em seu conteúdo, mas no que diz a respeito de “ética, moral e espiritualidade

cristã”. Nossa consideração sobre o “Sermão do Monte” começa pela “análise e

divisão” do seu conteúdo. Também podemos perceber que aqui, em Mateus 6,

chegamos a uma nova seção.

A primeira seção (5:3-12) contém as bem-aventuranças - a descrição do

crente conforme ele é.

Na seção seguinte (5:13-16), descobrimos como é que esse crente fora

assim descrito, reage ao mundo, e também como o mundo reage diante

dele.

A terceira seção (5:17-48) aborda a relação entre o crente e a lei de Deus.

Essa seção oferece-nos uma “exposição positiva da lei”, contrastando-a com

o falso ensino dos “escribas e fariseus”. E termina com aquela extraordinária

“exortação” do versículo final: "Portanto, sede vos perfeitos como perfeito é o vosso

Pai Celeste".

Chegamos agora a uma “seção” inteiramente nova, que envolve a totalidade

do sexto capítulo de Mateus. Encontramos aqui aquilo que poderíamos chamar de

“quadro de um crente”, o qual vive sua vida neste mundo, na presença de Deus,

em ativa submissão ao Senhor e em completa dependência a Ele.

MATEUS 6 passa em revista a “nossa vida como um todo”, considerando-a

segundo dois (02) aspectos principais. Trata-se de algo verdadeiramente

admirável, pois, em última análise, a vida do crente neste mundo tem dois lados,

ambos os quais são aqui ventilados.

1. O PRIMEIRO ASPECTO é tratado nos versículos 1 a 18; e cobre aquilo

que poderíamos intitular de nossa vida religiosa, a cultura e a nutrição da alma, a

nossa piedade, a nossa adoração, o quadro, completo de nossa vida religiosa, bem

como tudo quanto diz respeito, diretamente, ao nosso relacionamento com o

Senhor. Naturalmente, porém, esse não é o único elemento da vida do crente nesse

mundo. O crente é “relembrado que não pertence a este mundo. Não obstante, é

filho de Deus e cidadão de um reino que não pode ser visto como realidade

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material. O crente é apenas um viajante, forasteiro, um peregrino neste mundo.

Todavia, não é um indivíduo mundano, e nem pertence ao mundo, conforme sucede

às demais pessoas; mas acha-se dentro de um relacionamento com Deus que não

tem igual. O crente ando com Deus, mas mesmo assim o crente está sujeito às

imposições do mundo”.

2. SEGUNDO ASPECTO - nos versículos 19 até ao fim desse capítulo;

refere-se ao crente em sua relação para com a vida em geral, não tanto como um

indivíduo puramente religioso, e, sim, como alguém que está sujeito “as pedradas e

flechadas da ultrajante sorte”, como uma pessoa que precisa preocupar-se com

alimentação, com vestuário e abrigo, como um homem talvez tenha esposa e filhos,

dos quais precisa cuidar, e que, por essas mesmas razões, está sujeito àquilo que,

nas Escrituras, é denominado de “as cousas do mundo” (1Coríntios 7:34).

Essas são as duas grandes divisões deste capítulo de Mateus 6: aquela

porção estritamente religiosa, que envolve a vida cristã; e a porção mundana.

Ambos esses aspectos são tomados por nossa Senhor e ventilados com pormenores

bastante consideráveis. Em outras palavras, é vital que o crente seja dono de ideias

absolutamente claras a respeito dessas questões, e também que receba instruções

sobre ambos os aspectos.

Não existe falácia maior do que imaginar que no momento em que um

homem se converte, tornando-se crente, todos os seus problemas são prontamente

solucionados e todas as suas dificuldades desaparecem. A vida cristã é repleta de

dificuldades, de precipícios e de armadilhas.

Ao começarmos a examinar essa primeira sessão, descobrimos que o

primeiro versículo (v.1) serve de introdução à mensagem contida nos versículos 2

a 18. De fato, causa-nos profunda admiração o arranjo do Sermão do Monte.

“Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes

vistos por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai Celeste. ”

Aqui Jesus anuncia o “princípio geral”, o fundamento que governa a vida

religiosa do crente. Tendo feito isso, Jesus prossegue, oferecendo-nos três

ilustrações desse princípio, que envolvem as questões – alguns elementos

essenciais do caráter cristão e como essência deve fazer parte da vida do crente:

Da doação de esmolas,

Da oração e do jejum. Então em último lugar;

Jesus refere-se à totalidade da vida e da pratica religiosa do crente.

O PRINCÍPIO FUNDAMENTAL É DECLARADO NO PRIMEIRO VERSÍCULO

Page 3: A Piedade Cristã

“Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens”

1. PROBLEMA DE TRADUÇÕES DIFERENCIADAS

Quanto a esse particular, não há que duvidar que existe “características

particulares” quanto as versões. Já no início já encontramos problemas de

traduções diferenciadas. A diferença consiste em “questões literárias do texto”: O

Texto Crítico ou Minoritário e o Textus Receptus – Versão atualizada e versão

corrigida.

A “Versão Atualizada” neste ponto é superior a Versão Corrigida, na qual se

lê: “Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens...” Deveria ser:

“Guardai-vos de exercer a vossa justiça (ou se você preferir, vossa piedade) diante

dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte não tereis galardão

junto de vossa Pai Celeste” (Mateus 6:1).

Mas essa diferença, não passa de uma “variante textual” que figura nos

manuscritos antigos - No processo da cópia de texto ocorrem “variações”

voluntárias ou involuntária por parte de quem o copia, por isso a crítica textual

objetiva restitui ao texto a genuinidade.

Sem dúvida, a melhor tradução é a última (Versão Corrigida), pois todos os

bons comentadores são unânimes no seu parecer de que este vocábulo deveria ser

entendido como “justiça”, e não como “esmolas”. As esmolas são apenas uma

ilustração particular, ao passo que, neste primeiro versículo nosso Senhor

interessava-se por firmar um princípio geral. O princípio geral é este: “Guardai-vos

de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles.

Doutra sorte não tereis galardão junto de vosso Pai celestial”.

O texto “Crítico (Minoritário) ” grego traz o termo dikaisu,nh “dikaisýne”

enquanto o texto “Receptus" traz o termo grego elehmosu,nh “eleemosyne”. O

“Minoritário” conhecido como Texto Crítico é o texto do Novo Testamento

conforme os procedimentos da “crítica textual”. O Textus Receptus, (Texto

Recebido) é uma série de impressões, em grego, do Novo Testamento, que serviu

de base para diversas traduções dos séculos XVI ao XIX, como a Bíblia de Lutero, a

Bíblia Rei James e para a maioria das traduções do Novo Testamento da Reforma

Protestante, inclusive a tradução portuguesa por Almeida.

A tradução do ”Texto Crítico” (minoritário) traduz da seguinte forma: “Guardai-vos

de exercer a vossa ”justiça” diante dos homens, com o fim de serdes vistos por

eles; doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai Celeste”. Usando o termo

Page 4: A Piedade Cristã

dikaiosu,nh: (dikaisýne) “justiça”. Enquanto “Receptus” traduz da seguinte forma:

“Guardai-vos de fazer a vossa “caridade” diante dos homens, para serdes

vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus. ”.

Usando o termo grego: elehmosu,nh: (eleemosyne) “caridade ou esmola”. Dentro

do “Texto Crítico” que iremos fazer o nosso estudo.

2. A DIMENSÃO DA JUSTIÇA RELIGIOSA - Obras de justiça

A primeira coisa que Jesus faz é uma “advertência”, uma exortação

concernente a “pratica da obra de justiça” – quer dizer que devemos ter precaução,

cautela quando praticamos qualquer tipo obras de justiça. O termo grego

prose,cw: (prosécho) intitula-se com o seguinte significado: “prestar atenção

naquilo que você está fazendo” – Observem as suas ações quando praticardes

qualquer tipo de ação piedosa.

Assim como os fariseus nós temos uma tendência que querer fazer com que

todas as coisas se convergem em nós – queremos centralizar tudo que fazemos

com o objetivo único – sermos visto pelas pessoas” - Jesus fez essa “advertência”

em comparação com os atos de justiça dos fariseus e escribas – (Mateus 23).

No capítulo anterior no 5:20 Ele diz que a justiça do cristão é o princípio

fundamental a pratica das obras de justiça, que “essa pratica de justiça” deve

superior à justiça dos escribas e fariseus na aceitação de todas as implicações da

lei de Deus, sem esquivar-se de coisa alguma e sem criar limites artificiais. A

justiça do cristão é uma justiça sem limites. Deve ter liberdade de penetrar

além dos nossos atos e palavras, até o nosso coração, pensamentos e motivações,

e deve nos dirigir até mesmo nessas partes escondidas e secretas. Jesus sai da

“justiça moral” no capítulo 5 para a sua “justiça religiosa". É importante

reconhecer que, de acordo com Jesus Cristo, a "justiça" tem estas duas dimensões:

A dimensão da justiça Moral; e A dimensão da justiça Religiosa.

Para maior clareza aos ouvintes quero aqui contextualizar este termo

“justiça” não no sentido estrito “stricto sensus” da palavra, mas sim no sentido lato,

“lato sensus” da palavra. No “sentido lato” do termo, “justiça” é uma “condição”

e esta condição é uma conjuntura, essencialmente determinante para que

possamos viver dentro dos princípios exigido pela lei de Deus – e é essa condição

que nos torna verdadeiramente “filhos” de Deus – é essa condição que sobre nós a

essência da vida de Deus em nós.

Em particular “justiça” é todo ato ou tudo aquilo que praticamos que se

encontra em correspondência (de acordo) com o que é justo ou correto – Um ato

que tem aprovação ou que é aprovado por Deus sem qualquer condenação – de

uma vez que esses atos de justiça são reprovados e condenados por Deus já não é

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justiça – Qualquer obra de justiça que praticamos se não tiver procedência e

centralização em Deus, não passa de um “trampo de imundícia” – Isaías 64:6.

Uma das condições essenciais para a vida do crente é viver uma vida

estritamente piedosa. Quando analisamos essas condições do crente descobrimos

que ela pode ser dividida em três segmentos, e somente nesses três:

(a) A maneira de como dou esmolas;

(b) A natureza de minha vida de oração e contato com Deus; e

(c) A maneira pela qual mortifico a carne.

2.1. A MANEIRA DE COMO EU DOU ESMOLAS (Mateus 6.2-4).

Quando Jesus faz as suas considerações capítulo 6, Ele começa a abordar um assunto

muito conhecido dos judeus: a hb'WvT. (Teshuvá), hL'piT. (Tefilá) e

hq'd'c. (Tsedakah) - arrependimento, oração e caridade.

O termo “tsedakah” no sentido literal expressa:

(1) Justiça como atributo de Deus como soberano; aquele que governa e

administra essa justiça;

(2) Justiça como veracidade tanto em ações tanto em palavras;

(3) Justiça como normas de valores morais e éticos que orienta a maneira

humana de agir e de se comportar corretamente.

De acordo com os conceitos judaicos “tsedakah” é a expressão do amor de Deus ao

próximo, uma ação favorável, bondosa, benéfica recheada pela “compaixão – caridade”. A

“Tsedakah – a caridade”, era de habito e de preceito aos Judeus como um dever de modo

particular a pratica da caridade. A “tsedakah” - caridade (esmola), por falta de uma palavra

melhor em português, é frequentemente traduzido como “esmola ou caridade”, muito

embora o significado desse ato é muito mais amplo.

a) DO PONTO DE VISTA JUDAICO: “Tsedakah” que é totalmente diferenciado do

sentido de interpretação de “caridade”. Em geral o conceito de entendimento sobre o termo

“esmola” é de forma totalmente diferente do ponto de vista judaico - as pessoas pensam que

dar esmola é quando eu doo algo a um pobre ou a uma instituição de caridade, portanto,

pensam que estão fazendo um “ato de bondade” para o qual merecem agradecimento – na

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verdade o nosso conceito de “esmola” é quando no meu ganho financeiro sobram algumas

moedas, e essa sobra não vai comprometer as minhas responsabilidades financeiras “eu dou”.

Mas a palavra hebraica “Tsedakah” na realidade significa “um ato de justiça“. A

“Tsedakah” é algo que devemos fazer, não somente como um ato de bondade, mas como um

“dever e obrigação”, tal como pagar uma dívida.

O princípio da “tzedakah” é bastante inerente no Judaísmo.

Em primeiro lugar, esse princípio é: Deus é justo, generoso, misericordiosíssimo. Sua

Justiça é Sua generosidade e sua generosidade é a Sua misericórdia e sua misericórdia

é o Seu amor expressado em suas ações.

O termo hebraico “tzedakah – é o mesmo correspondente ao termo grego

“eleemosyne - esmola” é mais que do que um “ato de caridade”, mas é uma:

Expressão de fé piedosa diante do sofrimento do outro;

Viver de modo justo na relação com Deus e com as pessoas;

A “esmola” não pode ser em função da vanglória ou de uma presunção exagerada com

propósitos irreais e enganosos daquele dá esmola, mas deve ser;

Um gesto de solidariedade e justiça - um sentimento que consiste na identificação da

miséria e sofrimento do outro.

Um ato de generosidade, de auxílio a um pobre ou necessitado.

A “Tsedakah” ou a “eleemosyne” não é meramente um ato de caridade: mas é uma

forma de proporciona satisfação a alguém não especificamente aos pobres – mas aqueles que

precisam de algum tipo de ajuda - mesmo aos ricos; com dinheiro, comida ou palavras

reconfortantes, ele cumpre as exigências legalistas!

“Tzedakah” tem origem na palavra “tzedek” (justiça) sendo uma tradução mais precisa

“justiça social”. É a obrigação que todo judeu tinha de doar algo de si. Dentro deste ato de

dever cabia também a doação de trabalho ou conhecimento; e todos os judeus tinham que

cumprir o tzedakah, tanto os ricos quanto os miseráveis e as crianças.

Quando doamos algo a um necessitado:

Não doamos algo que “nos pertence”, mas sim algo que é de Deus; somos

simplesmente seus “mordomos” – por que tudo que temos não é nosso, mas sim de

Deus.

Não se trata de um ato de graça devido à nossa bondade, mas de um “dever” e de

uma “dívida” – somos devedores de Deus. É como se alguém nos desse uma soma em

dinheiro, dizendo: “Tome uma parte para você e distribua o resto entre os pobres. ”

Page 7: A Piedade Cristã

Desfazer-se do dinheiro é como se fora um teste. E, embora sejamos tentados a

repartir o menos possível, Deus nos recompensa generosamente ao darmos Tsedakah

“da Sua conta” e por isso, a Tsedakah é um ótimo investimento, sob qualquer ponto de

vista.

A razão pela qual a “esmola” é tão importante por que reside no fato de que ela

representa o esforço “total” por parte do doador.

b) DO PONTO DE VISTA NO NOVO TESTAMENTO: Saindo do ponto de vista judaico

para o ponte de vista no Novo Testamento: O termo usado no grego é

evulehmosu,nh (eyleemosýne) expressa vários sentidos; mas todas elas tendo a

mesma designação:

b.1) Compaixão; ação benevolente, benignidade ou bondade.

Esta “compaixão” é a expressão da bondade de Deus, a sua inclinação para

tratar bem e generosamente as suas criaturas. Deus é bondoso quando

entre em relação com as suas criaturas, e então tem prazer em suas obras, e

as beneficia.

b.2) Doação; é a ação de doar ou entregar-se, oferecer ou ofertar alguma

coisa a alguém gratuitamente. A expressão de compaixão é vista na sua

ação. Todo ato de Deus em relação ao homem é um ato de “doação” - (João

3.16)

b.3) Esmola – é o resumo de todos os itens anteriores relacionados - é um

ato de benevolência aqueles que estão privados de alguma coisa. A esmola

é uma expressão de amor, afeto, compaixão e beneficência aquele que de

alguma forma carece de uma ajuda.

A palavra "esmola" é derivante do latim caritas (afeto, amor) que tem a sua

origem no vocábulo grego ca,rij (cháris) “graça”. Então, dentro da contextualização

na sua totalidade, o termo “esmola” - é o ato de "caridade" expressado pelo

amor, assim, sendo entendido como um “sentimento ou uma ação altruísta” de

ajudar a alguém “sem busca de qualquer recompensa”.

A pratica da “caridade- esmola” – sendo uma expressão de amor é um

notável indicador de “elevação moral e espiritual” a todos aqueles que a praticam e

uma das práticas que mais caracterizam a “essência da bondade” – Mateus 6.2-4.

O v.2, que traz o termo “esmola” deve ser interpretado como um “ato de

misericórdia ou piedade”. Assim como Deus é “misericordioso e generoso”, da

mesma forma devemos ser “misericordiosos e doadores generosos”.

c) A RESTRIÇÃO DA ESMOLA DOADA

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- “Não toques trombetas diante de ti”; - “ignore a tua mão esquerda o que

fazes a tua direita”. Se buscarmos a glória dos homens querendo que o nosso nome

sempre apareça em destaque pelo que fazemos, nenhuma “recompensa”

receberemos de Deus, pois já obtemos o aplauso dos homens.

A forma cristã de contribuir com os necessitados é fazê-lo de forma secreta.

Não transformemos um ato de misericórdia em um ato de vaidade. Não troquemos

o altruísmo pelo egoísmo. Esqueçamos rapidamente dos benefícios que fazemos.

Devemos ficar satisfeitos de termos Deus como a única testemunha de nossas

esmolas, esperando apenas dele a nossa recompensa.

2.2. A ORAÇÃO DO CRISTÃO (Mateus 6.5-6). Jesus mostra a diferença entre a

hipocrisia e a realidade. Ele põe em contraste o motivo das orações e as suas

recompensas.

Jesus disse que os hipócritas “gostam de ficar orando”, a fim de serem vistos

pelos outros. Devemos cuidar para que o farisaísmo não seja representado por nós.

Jesus disse que devemos orar no quarto, não apenas para evitar distrações, mas

para ficarmos a sós com Deus. Ele não está se opondo a oração pública, mas

falando nesse ponto da oração em secreto. A essência de toda oração cristã

consiste em buscar a Deus (Sl 27.4).

Os fariseus são hipócritas quando oram, assim como os gentios ou pagãos

são mecânicos (tagarelas) quando oram repetindo as mesmas coisas (vs. 5-7). Jesus

não está reprovando a repetição na oração, mas o orar dizendo coisas sem

significado. Ele mesmo orou três vezes pelo mesmo motivo no Getsêmani (Mateus

26.44). Paulo também fez isso (2Coríntios 12.8). O que Jesus censurou foi a

“Meditação Transcendental”. Isso também inclui a reza com o rosário. Mas não se

engane. Certamente essa palavra de Jesus é contra a liturgia formal de muitos

cultos.

Devemos ter muito cuidado com os jargões religiosos quando oramos,

enquanto a mente fica vazia. Enfim, qualquer oração com a boca que não é feita

com o coração, é reprovável. Deus não se deixa enganar pelo muito falar. Ninguém

queira convencer Deus com orações longas. Não devemos fazer isso (vs. 7-8). Não

oramos para informar a Deus de nossas necessidades, pois ele nos conhece

plenamente. Oramos para exercitarmos nossa fé na dependência dele.

Ao contrário da oração dos hipócritas e pagãos, a oração do cristão deve ser

verdadeira. Jesus ensinou a conhecida “oração do Pai-Nosso” como genuíno modelo

da oração cristã. Ela pode ser copiada ou usada como uma forma de orar. A

maneira de orar mostra o conhecimento que temos de Deus. O Deus da Bíblia não

gosta de orações mecânicas. Ele quer ser chamado de Pai, porque é um Deus

pessoal e amoroso. Jesus nos ensina a orar primeiro voltados para os interesses de

Page 9: A Piedade Cristã

Deus (“teu nome…, teu Reino…, tua vontade…”). Só depois devemos dizer (“Dá-

nos…, Perdoa as nossas dívidas…, livra-nos do mal”). Primeiro a glória de Deus,

depois as necessidades do homem.

3. O jejum do cristão (Mt 6.16-18). O jejum é um assunto praticamente ignorado

no meio evangélico hoje. Muitos falam de ação social e oração, mas bem poucos

mencionam o jejum. Os próprios discípulos de Jesus não tinham o costume de jejuar

(Mt 9.14; Lc 5.33).

“16. Quando jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os hipócritas, pois

eles mudam a aparência do rosto a fim de que os outros vejam que eles estão

jejuando. Eu lhes digo verdadeiramente que eles já receberam sua plena

recompensa. 17. Ao jejuar, arrume o cabelo e lave o rosto, 18. para que não pareça

aos outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê em secreto. E seu

Pai, que vê em secreto, o recompensará” (Mt 6.16-18).

Jejum é abster-se total ou parcialmente de alimento, durante períodos de tempo

curtos ou longos. A Bíblia nos ensina e exemplifica a prática do jejum. Jejuar e

humilhar-se são termos equivalentes (Sl 35.13; Is 58.3, 5). O povo de Nínive se

arrependeu e creu no Senhor com quebrantamento e jejum (Jn 3.5). Mas o jejum

não deve ser praticado apenas em ocasiões de arrependimento pelos pecados

passados, mas também na dependência de Deus para a misericórdia futura. Oração

e jejum casam-se bem. Jesus jejuou antes de começar seu ministério público; a

igreja de Antioquia jejuou antes de enviar Paulo e Barnabé para o campo

missionário. Eles próprios jejuaram (Mt 4.1-2; At 13.1-3; 14.23).

O jejum não tem apenas implicações espirituais ou subjetivas. Devemos jejuar,

deixando de comer ou de usar algo para compartilhar com o necessitado. Jó tinha

plena consciência de ter feito isso (Jó 31.16-22). A Bíblia fala desse tipo de jejum (Is

58.5-7). Portanto, temos boas razões bíblicas para jejuar. Seja por arrependimento,

oração, autodisciplina ou por amor solidário.

Nos três assuntos abordados por Jesus, esmolas, oração e jejum, ele quer que nossa

motivação seja agradar a Deus. Os hipócritas mudavam a aparência do rosto para

não serem reconhecidos como normais e chamarem a atenção para si mesmos. Mas

essa seria a única recompensa deles. Mas os discípulos de Jesus devem se manter

normais quando jejuam, sem a necessidade de tornar conhecido de outros o jejum,

apenas de Deus. Ele recompensará essa prática, e isso basta.

Page 10: A Piedade Cristã

Concluindo, fica claro o contraste feito por Jesus entre a piedade dos fariseus e a

piedade do cristão. A primeira é orgulhosa e prepotente, motivada pela recompensa

dos homens. A segunda, é secreta, motivada pela humildade e recompensa de

Deus. Devemos manter sempre a consciência da presença de Deus, para que a

nossa dádiva, a nossa oração e o nosso jejum sejam feitos com sinceridade e

transparência.

--------------

INTRODUÇAO.

A ESMOLA CRISTÃ – Mt 6,2-4

A ajuda ao necessitado é parte integrante da conduta ideal do povo de Deus –

“Nunca faltarão pobres na terra, e por isso dou-te esta ordem: abre tua mão ao teu

irmão necessitado ou pobre que vive em tua terra” (Deuteronômio 15,11). O Salmos

41,1 – “Bem-aventurado é aquele que considera o pobre; o Senhor o livrará no dia

do mal” – apela para o interesse pessoal que se deve ter pelos pobres. Jesus falou

da benção da doação – “Em tudo vos tenho mostrado que assim, trabalhando,

convém acudir os fracos e lembrar-se das palavras do Senhor Jesus, porquanto ele

mesmo disse: É maior felicidade dar que receber!” (At 20,35). Isso implica que o

cristão não pode se esquecer de que ter sido salvo pela graça mediante a fé, e “não

por obras”, não contradiz a verdade de que foi salvo “por boas obras” (Ef 2,8-10).

Boas obras certamente incluem as esmolas. Mas isso n ao é dar

indiscriminadamente. São palavras do Didaqué (antigo documento cristão): “Que

tua esmola sue em tuas mãos, até saberes a quem dar”.

II. A qualidade de esmola tem muito a ver com a motivação.

Exatamente o contrário do que faziam os escribas e fariseus, que buscavam a gloria

dos homens – “Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não

buscais a glória que é só de Deus?” (Jô 5,44); “Assim preferiram a glória dos

homens àquela que vem de Deus.” (Jô 12,43), Jesus disse que o cristão não deve

dar esmolas com um espírito de auto - gratificação, para engrandecer seu ego. Mas

se Jesus proíbe a busca de louvor dos outros e até de nós mesmos quando damos

esmolas, por que nos incentiva a procurar a recompensa de Deus? Não seria apenas

mudar a forma da vaidade?

a) Ser motivado por recompensa nem sempre está errado.

O próprio Jesus suportou a cruz em troca da alegria que o aguardava:

Page 11: A Piedade Cristã

“Em vez de gozo que se lhe oferecera, ele suportou a cruz e está sentado à direita

do trono de Deus.” (Hb 12,2).

Moisés fez uma grande renuncia por causa do galardão de Deus:

“Foi pela fé que Moisés, uma vez crescido, renunciou a ser tido como filho da filha

do faraó, preferindo participar da sorte infeliz do povo de Deus, a fruir dos prazeres

culpáveis e passageiros. Com os olhos fixos na recompensa, considerava os ultrajes

por amor de Cristo como um bem mais precioso que todos os tesouros dos egípcios.

Foi pela fé que deixou o Egito, não temendo a cólera do rei, com tanta segurança

como estivesse vendo o invisível.” (Hb 11,24-27).

E não apenas ele, mas todos os heróis da fé se motivaram na justa recompensa

divina:

“Ora, sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a ele é necessário

que se creia primeiro que ele existe e que recompensa os que o procuram. Pela fé

na palavra de Deus, Noé foi avisado a respeito de acontecimentos imprevisíveis;

cheio de santo temor, construiu a arca para salvar a sua família. Pela fé ele

condenou o mundo e se tornou o herdeiro da justificação mediante a fé. Foi pela fé

que Abraão, obedecendo ao apelo divino, partiu para uma terra que devia receber

em herança. E partiu não sabendo para onde ia. Foi pela fé que ele habitou na terra

prometida, como em terra estrangeira, habitando aí em tendas com Isaac e Jacó,

co-herdeiros da mesma promessa. Porque tinha a esperança fixa na cidade

assentada sobre os fundamentos (eternos), cujo arquiteto e construtor é Deus.” (Hb

11,6-10).

Isso tem tudo a ver com cada um de nós:

“Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá

o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no

corpo.” (2 Cor 5,10).

b) Deus não vê como vê o homem.

“Mas o Senhor disse-lhe: Não te deixes impressionar pelo seu belo aspecto, nem

pela sua alta estatura, porque eu o rejeitei. O que o homem vê não é o que importa:

o homem vê a face, mas o Senhor olha o coração.” (1 Sm 16,7).

Page 12: A Piedade Cristã

A natureza da recompensa divina difere da recompensa dos homens. Uma forma de

recompensa é ver o alivio do necessitado por nosso intermédio.

A ORAÇÃO CRISTÃ – Mt 6,5-8

No segundo exemplo da piedade cristã, Jesus novamente chama nossa atenção

para a diferença entre a hipocrisia e a realidade. É interessante a referencia aos

hipócritas quando diz que eles “gostam de orara”. Contudo, a intenção era se

exibirem nos lugares mais públicos como as sinagogas e os cantos das praças. O

problema não estava na postura (em pé) nem na diferença de lugares (sinagogas e

praças), mas na motivação – “serem vistos dos homens”. Apenas oravam de si para

si mesmos:

“O fariseu, em pé, orava no seu interior desta forma: Graças te dou, ó Deus, que

não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros; nem como o

publicano que está ali.” (Lc 18,11).

A recompensa que recebiam não passava do aplauso dos homens. Esse tipo de

farisaísmo continua vivo ainda hoje.

Em contraste com a hipocrisia exibicionista dos fariseus, Jesus nos chama para a

oração secreta. Imagina-se que ser hipócrita na oração a soas com Deus seria o

cúmulo do fingimento. O quarto referido em Mt 6,6 representa uma despensa onde

se guardavam tesouros. Era um lugar privativo ao administrador da casa. A

implicação é que quando vamos orar em secreto, os tesouros de Deus nos

aguardam, pois essa é a promessa: “Teu pai, que vê em secreto, te recompensará”.

Se não conseguirmos entrar no nosso quarto, fechar a porta e ficar a sós em

comunhão com nosso pai celestial, pergunta-se: De que espécie de cristãos nós

somos?

A “hipocrisia” era a marca dos fariseus e as “vãs repetições” identificavam os

gentios ou pagãos.

“Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que

julgam que serão ouvidos à força de palavras.” (Mt 6,7).

Jesus não está proibindo repetição nas orações, pois ele não só recomendou como

também praticou.

“Deixou-os e foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras.” (Mt 26,44).

Page 13: A Piedade Cristã

O apóstolo Paulo também essa pratica;

“Demais, para que a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho, foi-me

dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para me esbofetear e me livrar do

perigo da vaidade. Três vezes roguei ao Senhor que o apartasse de mim.” (2 Cor

12,7-8).

O que ele condena é a verbosidade do “muito falar” quando se ora.

“Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que

julgam que serão ouvidos à força de palavras.” (Mt 6,7).

Dizem-nos muitos santos que quando nossa oração se aprofunda, cada vez mais

precisamos de menos palavras. O Deus do cristão não se impressiona com o

volume de palavras e o tempo gasto na oração.

Se Deus sabe do que precisamos antes de orarmos, porque então orar?

“Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho

peçais.” (Mt 6,8).

Os cristãos não oram com a intenção de informar a Deus de suas necessidades,

mas para mostrar confiança e dependência dele.

O JEJUM CRISTÃO – Mt 6,16-18

Muitos cristãos vivem hoje como se Mt 6,16-18 tivesse sido arrancado de suas

Bíblias. Mas não temos nenhuma razão para destacar mais o dar e o orar dop que

jejuar.

I. Quem praticava o jejum?

a) O povo de Israel recebeu a ordem de jejuar uma vez por ano, nos dia da

Expiação (Lv 16,29-31; 23,26-32; Nm 29,7)

b) Depois do cativeiro na babilônia passou-se a praticar quatro jejuns, para

lembrar os dias do exílio (Zc 7,3-5; 8,19).

c) Os fariseus jejuavam duas vezes por semana (Lc 18,12).

Page 14: A Piedade Cristã

d) Os discípulos de João Batista também jejuavam (Mt 9,14; Lc 5,33).

e) O próprio Jesus jejuou antes de começar o seu ministério publico (Mt 4,1-2).

f) A igreja primitiva seguiu o exemplo de Jesus (At 13,1-3; 14,23.

g) Os apóstolos jejuavam (2 Cor 6,5)

II. O jejum é um meio ou um fim em si mesmo?

O jejum não obtém um favor automático de Deus, pois se não for acompanhado de

uma conduta correta, sua prática perde o sentido (Is 58,1-12; Jr 14,11-12). Ele não

deve chamar as atenções para nós mesmos, mas expressar nossa humildade diante

de Deus, que tudo conhece.

III. Que é jejum?

O jejum é a abstenção total ou parcial de alimentos e de água durante períodos de

tempos longos ou curtos, a critério de quem vai jejuar, sempre com razoes

especificas.

IV. Quando o jejum é praticado?

O jejum sempre foi praticado em ocasiões de grandes decisões (2 Cr 20,1-4; Ed

8,21-23; Et 4,16); em momentos de tristezas (1Sm 31,13; Ne 1,4); de

arrependimento (Ne 9,1-2; Jn 3,5-9); e sempre acompanhado de orações (Sl 35,13).

O jejum pode ser individual ou coletivo (2Sm 12,22; Jz 20,26; Jr 1,14).

CONCLUSÃO.

Devemos concluir esta lição lembrando a todos que o Deus da Bíblia odeia a

hipocrisia, pois Ele é o Deus da verdade e da realidade. Mantenhamo-nos

conscientes de que estamos sempre na sua presença, e que a nossa dádiva, a

nossa oração e o nosso jejum devem ser para agradar a Deus.

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Quando se fala em “piedade”, as pessoas têm uma ideia de comiseração,

compaixão, pena. Mas essa não é a piedade cristã. O grande reformador João

Page 15: A Piedade Cristã

Calvino deu bastante ênfase sobre a piedade em seus escritos. Ele definiu da

seguinte forma:

“A verdadeira “piedade” consiste em um sentimento sincero que ama a Deus

como Pai, ao mesmo tempo em que o teme e o reverencia como Senhor, aceita a

sua justiça e teme ofendê-lo mais do que teme a morte”.

Comentando esse assunto, Joel Beeke escreveu: “Para Calvino, piedade designa

uma atitude própria para com Deus e obediência a Ele. Emanando do conhecimento

de quem Deus é (teologia), a piedade inclui adoração sincera, fé salvadora, temor

filial, submissão e amor reverente. ” - A “piedade” é tão somente tributar a Deus a

glória que lhe pertence.

Quando lemos no Breve Catecismo de Westminster que o fim principal do homem é

glorificar a Deus, esse é o alvo da piedade, e nós o glorificamos cumprindo a sua

própria vontade revelada nas Escrituras. Por isso, apesar de muitos,

imprudentemente, afirmarem o contrário, o estudo da teologia é extremamente

importante para o crescimento na piedade. O homem piedoso anseia por conhecer

mais a Deus e ter mais comunhão com ele; seu mais profundo interesse é Deus e as

coisas de Deus.

Quando Paulo escreve a Timóteo 4:7 “exercita-te a ti mesmo em piedade”, Paulo

compara o exercício da piedade com o exercício físico (vs. 8). Este é útil para algo;

aquele, para tudo é benéfico.

Wilian Hendriksen explica essa passagem: O exercício físico, “no melhor dos casos,

promove a saúde, o vigor, a beleza física. Estas coisas são maravilhosas e devem

ser apreciadas”, a piedade, porém, “promove a vida eterna”. Ele continua, “a esfera

em que exercício físico é de proveito é muito mais restrita do que aquela em que a

vida eterna concede sua recompensa”. Outra coisa que podemos depreender do

texto é que a “piedade” é um exercício. Da mesma forma que progredimos em

santificação, progredimos também em “piedade”, e podemos utilizar como meio ou

instrumento para a manifestação da graça e misericórdia de Deus, tais como:

(a) Esmola.

(b) Oração.

(c) Jejum.

Diante de tudo isto, meus irmãos, persigamos a piedade como fim principal em

nossa vida, sabendo que ela para tudo é proveitosa. Dessa forma, Timóteo deveria

ensinar ao povo e, assim, ele seria um bom ministro do evangelho. Dessa forma,

também, nós, poderemos ser testemunhas de Cristo, anunciando sua glória. Que o

Page 16: A Piedade Cristã

Soli Deo Gloria seja não apenas um princípio, mas um desejo em nossos corações.

Que sejamos, realmente, jovens piedosos. Para variar, terminemos com um

comentário de Calvino sobre a passagem em estudo: “Você fará algo de grade valor

se, com todo o seu zelo e habilidade, se dedicar unicamente à piedade. A piedade é

o começo, o meio e o fim do viver cristão. Onde ela é completa, não há falta de

nada… A conclusão é que devemos concentrar-nos, exclusivamente, na piedade,

pois, uma vez que a tenhamos atingido, Deus não exige de nós qualquer outra

coisa”.

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O Que a Bíblia Diz sobre a piedade?

O que quer dizer "piedade" no Novo Testamento?

As palavras “piedade, piedoso ou piedosamente” são encontradas mais de 40

vezes no Novo Testamento, e frequentemente são mal-entendidas ou melhor

dizendo são mau interpretada. A nossa palavra “piedade” vem do Latim, e tem

dois sentidos:

1. Amor e respeito às coisas religiosas; religiosidade; devoção.

2. Pena dos males alheios; compaixão, dó, comiseração" (Novo Dicionário

Aurélio).

Na linguagem popular, e muitas vezes no Antigo Testamento, a palavra tem o

segundo sentido e traz a ideia de compaixão. Mas, no Novo Testamento, o sentido

normalmente é o primeiro, ou seja, “devoção a Deus ou respeito às coisas

religiosas”.

Quando você encontra a palavra “piedade” ou “piedoso” na leitura do Novo

Testamento, pense primeiro no sentido de devoção a Deus (temente a Deus) ou às

coisas religiosas, e na santidade. Na maioria dos casos, essas definições vão

comunicar melhor o sentido do original. Vamos ver alguns exemplos:

1 Timóteo 2:10 fala sobre “mulheres que professam ser piedosas”. A palavra grega

aqui é qeose,beia (theosebeia) “professar piedade” ou “fazer profissão de servir a

Deus”, que obviamente inclui Deus (theos) como o objeto da devoção. João 9:31

usa uma forma da mesma palavra qeose,bhj (theosébes), onde é traduzido “teme

a Deus, devoto ou piedoso – Deus como objeto de adoração” .

Outras palavras gregas são traduzidas como “piedade, piedoso e piedosamente,

especialmente a palavra euse,beia (eusébeia) tendo o sentido principal destas

palavras é “louvor, reverência ou devoção”.

Page 17: A Piedade Cristã

Veja como este entendimento esclarece alguns versículos. 2 Timóteo 3:12 diz que

“Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos.

” O sentido de mostrar compaixão para com outras pessoas não se encaixa aqui.

Antes, os que demonstram “reverência” a Deus serão oprimidos. 1 Timóteo 3:16 diz

que “grande é o mistério da “piedade”, mas o versículo não fala de sentir dó para

os outros. Fala, sim, dos motivos que temos para adorar a Jesus.

Enquanto os presbíteros devem mostrar compaixão e hospitalidade, a palavra

"piedoso" (gr. hosios) em Tito 1:8 quer dizer santo, puro e devoto a Deus.

A nossa palavra “piedade” descreve os dois grandes mandamentos (Mateus 22:37-

40), mas o sentido mais comum no Novo Testamento enfatiza o primeiro, "Amar a

Deus". Vamos nos esforçar para ser verdadeiramente piedosos.