A Pior Situação Na Europa é Muito Melhor

8/17/2019 A Pior Situação Na Europa é Muito Melhor

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"A pior situação na Europa é muitomelhordo que a melhor aqui"Mara Gonçalves e Sofia da Palma Rodrigues, em Rabat

São vítimas de violência, discriminação, abusos sexuais. Sair para comprar pão demasiado arriscado. !êm medo das rusgas policiais, de ser recambiados para a fronteira e"ue tudo volte # estaca $ero. Marrocos tornou%se um destino de transição para osimigrantes subsarianos "ue ambicionam c&egar # 'uropa % e muitos morrem a camin&o

(otange vive num "uadrado de dois metros por dois) paredes brancas su*as e descascadas,uma pe"uena *anela, porta directa para um p+tio comum. cama de espon*a onde dormecom a mul&er e os dois fil&os ocupa "uase a totalidade do espaço. os p s, o pedaço dec&ão "ue resta est+ coberto de embalagens va$ias, trapos, pratas de c&ocolate e sacos de pl+stico onde guarda alguma roupa e a "uin"uil&aria "ue acumulou em três anos deMarrocos. - c&eiro nauseabundo) &umidade misturada com falta de limpe$a e o suor de

"uatro corpos "ue precisam de mais espaço para respirar. -s africanos são tratados comoanimais. /0s sofremos, mas sofremos. Precisamos "ue o mundo nos oiça, precisamos "uenos a*udem, estamos a"ui completamente es"uecidos , di$ "uase a gritar, em *eito des1plica. -s seus ol&os, agora mol&ados, cravam%se, nunca mais se es"uecem) /ão peçodin&eiro, peço trabal&o, peço uma vida digna, peço "ue os meus fil&os possam comer, brincar, ir # escola como crianças normais.

(otange e 2rigite fugiram # guerra na Rep1blica 3emocr+tico do 4ongo

4om a mul&er, 2rigite, fugiu # guerra na Rep1blica 3emocr+tica do 4ongo, o conflito "ue provocou mais mortos desde a Segunda Guerra Mundial. Saíram # pressa, a p , de forma

clandestina, sem um destino na cabeça5 um fil&o pela mão, outro ainda no ventre. -mesmo período de tempo pode durar uma eternidade ou apenas segundos) Pensas "ue tenstempo para ir buscar o teu passaporte, mas não tens. Guerra guerra. /a guerra, podesfugir sem os teus fil&os , *ustifica 2rigite, 67 anos "ue parecem ser muitos mais.


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/ão importava para onde, como, com o "uê, tin&am de fugir) (otange, agora com 89 anos, um ex%militar e estava a ser perseguido. (evaram um ano a c&egar a Marrocos,

atravessaram o deserto para evitar a polícia, o segundo fil&o nasceu na estrada. gorac&amam%l&es ilegais, mas não &+ pessoas ilegais % apenas actos ilícitos. Para terem pap is,tin&am de ter pedido o visto # embaixada antes de deixarem o 4ongo. : esse o estigma "uel&es tol&e a vida.

!al como a maioria dos entre ;9 mil e 69 mil subsarianos "ue vivem actualmente emMarrocos mil e 69 mil?, foi nesta "uase%'uropa "uando comparandocom os países l+ em baixo "ue encontraram pa$ pela primeira ve$, mesmo "ue se*a apenasaparente. 3eixaram a guerra mas têm outras batal&as para travar, mais pessoais, não menosdifíceis) sem passaporte, não são ningu m e o escrit0rio do lto%4omissariado das /aç=es@nidas para os Refugiados < 4/@R? em Marrocos não l&es concede o estatuto derefugiados5 sem este documento, não podem re"uerer "ual"uer tipo de a*uda monet+ria5sem din&eiro, são obrigados a pedir na rua5 se saem de casa, a ameaça de espancamento erecAmbio para a fronteira est+ a cada es"uina. : um ciclo vicioso "ue parece não ter fim.

/em para termos pão em casa, ten&o medo "ue me apan&em e violem e depois apareçoa"ui comoB Gr+vidaB Cuando nos apan&am, a polícia envia%nos para a fronteira... s palavras de 2rigite saem atribuladas, ao ritmo dos seus medos, da sua revolta, do seudesespero. : o coração a bater na boca de "uem nunca pensou "ue um dia teria de pedir narua para comer e agora receia passar da porta.

@m medo *ustificado. s rusgas policiais foram intensas este Derão, sobretudo nos bairrosonde a maioria dos &abitantes são subsarianos. - sítio onde o casal vive, nas traseiras de!aEadoum % um bairro perif rico de Rabat con&ecido como sítio de bandidos %, não foiexcepção. 2rigite e (otange s0 não foram apan&ados nesse dia por"ue a amiga Daleria l&estelefonou a alertar) /ão saiam de casa, acab+mos de passar por um polícia. s 1ltimas 6F&oras tin&am sido de caça #s pessoas sem documentos.

'manuel e 3*ene, os fil&os de 2rigite e (otange Sofia da Palma Rodrigues MaraGonçalves


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3esde o final de 69;; "ue o controlo da imigração em Marrocos apertado. ntes, asrusgas s0 aconteciam nos dias "ue precediam grandes eventos ou visitas de 'stadoimportantes. gora, ocorrem em mais cidades, são mais fre"uentes, mais violentas. 2airrosinteiros passados a pente fino pela polícia, "ue entra pelas casas adentro de madrugada,det m todos indiscriminadamente, deixa os "ue não tiverem pap is na fronteira. Horammais de 88 mil os casos de deportaç=es em 69;6, segundo o Grupo nti%racista de

compan&amento e 3efesa de 'strangeiros e Migrantes


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pedir satisfaç=es, "ueriam ver o documento. 4omo não cedi, fui detido nessa mesma noiteI69 de -utubro de 69;6J. cusaram%me de posse de bebidas alco0licas e de ;F9 maços detabaco e obrigaram%me a assinar um papel escrito em +rabe onde confirmava isso tudo. Hi%lo sob tortura, não percebia nada do "ue l+ estava escrito5 ameaçaram%me e tive medo "ueme matassem , recorda o coordenador do 4MSM.

Marcel mi eto, director da -rgani$ação 3emocr+tica do !rabal&o e refugiado daRep1blica 3emocr+tica do 4ongo, outro "ue con&ece bem as pris=es marro"uinas. Serdetido uma ameaça di+ria com a "ual *+ aprendeu a lidar. /o dia em "ue o entrevist+mos,os vi$in&os notaram uma presença estran&a e denunciaram%no5 a polícia foi l+ a casa fa$er perguntas. 'ram todos meus amigos , *ustificou%se. "uela 1ltima semana de gostoestava a ser particularmente violenta com pris=es de subsarianos por toda a Rabat.

Um “país tampão”

/os 1ltimos ;> anos, a @nião 'uropeia


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lei "ue actualmente regula a entrada e saída de migrantes em Marrocos de 6998 e prevê puniç=es severas para a imigração ilegal e o tr+fico &umano. /essa altura, o país foiacusado de ser a polícia da @' e de ceder #s suas press=es. pesar da expulsão derefugiados, gr+vidas ou menores ser proibida, e mesmo os imigrantes sem documentosterem direito a um advogado, a contactarem a embaixada do seu país ou a serem avisadoscom antecedência em caso de deportação iminente , na pr+tica não isso o "ue acontece.

- tema pol mico e o e"uilíbrio est+ longe de ser f+cil. Por um lado, o rei Mo&amed DU"uer mostrar um país unido e calmo, sobrevivente #s revoltas da Primavera Qrabe5 um paísmoderni$ado, aberto # mudança e respeitador dos direitos &umanos anos, uma mul&er bonita, cuidada) ol&os grandes "ue a sombra verde platinada fa$ sobressair, un&as pintadas com um verni$ *+ lascado, roupas largas "ue l&edisfarçam os "uilos a mais.

Daleria tem estatuto de refugiada e vive &+ cinco anos em Rabat

sua &ist0ria encaixa nos crit rios do 4/@R) fugiu por"ue era perseguida e o Governodo 4ongo não tem meios para a proteger. Hoi recon&ecida como refugiada. 4om aassistência financeira "ue recebe e a venda de bi*uterias "ue produ$ na Hundação -riente-cidente 7, o primeiro país +rabe a fa$ê%lo %, impossibilitando%os de assinar um


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contrato de trabal&o ou de arrendamento. Resta%l&es o mercado informal e as suas escassasoportunidades.

!en&o estatuto de refugiado, mas sou igual aos outros) não ten&o nada para fa$er, nãoestudei, não me sinto ningu m. Guelor, 6; anos, c&egou a Marrocos com três, *+ não l&esobra família. - pai morreu, o tio "uis casar com a mãe, ela recusou e começaram a ser perseguidos. ntes de fugirmos, o irmão do meu pai ainda conseguiu matar as min&as

duas irmãs mais vel&as , relata de cor um epis0dio do "ual não tem mem0ria. L+ natravessia at Marrocos, a mãe não resistiu e morreu com problemas de estXmago5 o irmãodesapareceu &+ dois anos. Hicou so$in&o. inda sou novo, gostava muito de estudar.Primeiro francês, para poder falar e escrever bem , depois disso, viria o son&o) serfutebolista.

/o início de Setembro, o 4onsel&o /acional dos 3ireitos do Womem


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lembrar graffiti 5 os c&inelos de enfiar no dedo cobertos de penas dão o to"ue final. : cantor e di$ ser tamb m um grande profissional da dança % n0s, os africanos, fa$emos a dançacom a anca , explica. Cuer um dia c&egar ao sítio onde se encontram os grandes artistas )a 'uropa, claro. Se conseguir passar, não tem d1vidas de "ue ter+ sucesso e conseguir+ *untar din&eiro suficiente para a fil&a "ue ficou no 4ongo poder estudar.

L+ Zone s0 "uer *ogar futebol. 'm Marrocos, na 'uropa, onde o deixarem. Cuero ir para

um país onde me digam "ue &+ um clube onde eu possa *ogar para poder mostrar as min&as"ualidades , pro*ecta, ignorando "ue 66 anos poderão ser anos a mais para começar umacarreira como futebolista. Diu o pai meter%l&e nas mãos todo o din&eiro "ue tin&a poupadodurante a vida % uns mil euros % e pedir%l&e para fugir. 3epois de a guerra *+ l&e ter roubadoos dois fil&os mais novos, não "ueria perder o 1nico "ue l&e restava. -s expatriados *+ se&abituaram a sofrer, &abitu+mo%nos a viver assim, com "uase nada. /a 4osta do Marfim,estudei, *oguei futebol, era comerciante... Pensava "ue poderia viver bem em Marrocos,mas não ten&o trabal&o, não ten&o o "ue comer, s0 ten&o algum din&eiro "uando consigocarregar as malas das pessoas at aos t+xis. 3ormi muitas ve$es na rua e comi do lixo ,conta.

- din&eiro "ue os pais l&e deram foi "uase todo perdido em es"uemas para arran*ar os pap is . - son&o da 'uropa e de uma vida mel&or muitas ve$es o "ue os segura, o "ue osfa$ suportar o dia%a%dia de mis ria. Pedir%l&es para prescindir disso remetê%los para umavida sem dignidade. Hicar em Marrocos renderem%se, voltar para tr+s assumirem ofracasso. Zone resume todo o futuro) Se não tiver sorte, terei de regressar. Hicarei em casados meus pais) como, durmo, espero a morte.

A &ida toda dentro de um sa o da AdidasMo&amed est+ a sorver uma sopa "uente *unto com outros sem%abrigo na Gare du /ord,em 2ruxelas. : muçulmano e não costuma comer carne de porco, mas "uando tem fome,


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di$, [marc&a tudo, menos veneno\. !em F9 anos, veio da Guin %2issau e est+ na 'uropa &+mais de uma d cada. Hoi traficante mas não gosta de usar a palavra [droga\, vive na ruamas recusa o r0tulo de [coitadin&o\, prefere "ue o ve*am como [forte e lutador\. /essedia, não "uis ser fotografado) [ c&as "ue a"ui o Mo&amed pode aparecer assim, com estaroupaB /ão, tem de se pXr bonitoO\ Mas contou%nos a sua &ist0ria

(as Palmas, ;6 de 3e$embro de ;KKK, domingo ] podem confirmar no calend+rio ],

nunca mais es"uecerei esse dia, o primeiro em "ue pisei a 'uropa. @ma 'uropa "ue nãotem nada "ue ver com a de &o*e. /essa altura, os imigrantes eram tratados como pessoas,agora parece "ue o milagre europeu se acabou. -s africanos continuam a "uerer vir parac+, mas isto est+ longe de ser um paraíso) se não con&eces ningu m, tamb m podes morrer# fome. Mas eu percebo%os) em 2ambadinca Icidade no (este da Guin %2issauJ, as pessoasvêem "ue o Mo&amed "ue começou a trabal&ar como professor de Cuímica e gan&avamenos de ;9 euros por mês tem três casas e pXde comprar um -pel Hrontera # sua mul&er.

Cuis ir para Portugal por"ue sabia falar a língua e &+ anos "ue ouvia como tudo eramaravil&oso. Cuando um português se encontra com um guineense, somos família

/ão vale a pena di$er o "uanto isto est+ mau, os africanos vão continuar a "uerer vir para a'uropa, esse son&o "ue fa$ com "ue muitos não se sentem # espera da morte. Mesmo "ueacabem como eu estou agora) nas ruas de 2ruxelas, sem uma casa fixa e sem trabal&o.Cuando saí da Guin %2issau, sabia duas coisas) "ue a"ui fa$ia um frio do caraças e "ue precisava de 6 >9 d0lares para a viagem de barco da MauritAnia at # Gran 4anaria. -din&eiro tra$ia%o escondido nos sapatos, *untei%o depois de três anos a trabal&ar para uma-/G dinamar"uesa onde gan&ava mais de 699 euros por mês, um sal+rio milion+rio nomeu país5 o casaco para me a"uecer comprei%o numa feira em /ouad&ibou, na MauritAnia,era preto, de lã at ao *oel&o, com capu$. Pelo camin&o, dormi na rua em 3aEar, noSenegal fui roubado "uando tentava trocar din&eiro para apan&ar a *angada "ue me levariaat Rosso IMauritAniaJ e fi$ uma fil&a em Marrocos.

Recordo%me de entrar no lbimar, o barco de um português "ue agora deve estarmilion+rio, e ter vontade de c&orar, estava "uase... - 4arlos subornava a polícia, gan&avacerca de 9 mil d0lares por cada travessia e dava%l&es uma percentagem. viagem durou"uatro dias, ramos cerca de 89 pessoas dentro de uma embarcação com lotação para de$,no m+ximo. Wouve "uem passasse muito mal, o tempo todo a vomitar, eu *+ estava&abituado #s pirogas da Guin . Cuando c&eguei, fi"uei F9 dias num centro de acol&imentoem (as Palmas, depois enviaram%nos para Madrid *+ com a papelada toda tratada. /essaaltura, estava o $nar no poder ILos Maria $nar foi líder do PP, de centro%direita, e primeiro%ministro de 'span&a entre ;KK7 e 699FJ e toda a gente tin&a direito # carta de

residência. /o mesmo dia em "ue c&eguei a Madrid, disse # sen&ora "ue me recebeu)[Cuero ir para Portugal.\ 4ompraram%me o bil&ete e deram%me algumas pesetas. /essemesmo dia parti para (isboa. !oda a min&a vida coube num saco de desporto preto da

didas "ue tra$ia a tiracolo.

Cuis ir para Portugal por"ue sabia falar a língua e &+ anos "ue ouvia como tudo eramaravil&oso. Cuando um português se encontra com um guineense, somos família, omesmo sangue "ue circula pelas veias. primeira coisa "ue vi, ainda do autocarro, foi o4risto%Rei e a ponte do Sala$ar, "ue con&ecia dos livros da escola. 4&eguei a Sete Rios #sseis da man&ã e liguei ao meu primo "ue vive em Mem Martins. Seis dias depois, oMamadou arran*ou%me um trabal&o. 4&ovia tanto, fa$ia tanto frio "ue eu disse%l&e) [Mas

tu est+s maluco, como "ue eu vou sair da cama com este tempoB\ 4omeç+mos a discutir.!rabal&ei na construção civil durante ;> dias, "uando o meu irmão ] "ue engen&eiro evive na Madeira ] soube o "ue andava a fa$er disse%me) [!u tens de descansar, vens deuma viagem muito difícil. Dou enviar%te din&eiro para a comida e para o transporte.\ 'stive


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"uatro meses de f rias, nunca tin&a tido f rias na min&a vida. /ão fa$ia nada) levantava%me de man&ã, apan&ava o comboio e depois o metro. Primeiro con&eci (isboa debaixo deterra) a lin&a vermel&a, amarela, verde e a$ul5 depois andei em todos os autocarros da4arris. Se um dia gan&ar o 'uromil&=es, ou tiver um din&eirão, compro uma casa no-riente, um dos sítios mais bonitos "ue *+ vi) tran"uilo, onde se pode pensar antes deadormecer.

Se me arrependo da vida "ue leveiB SinceramenteB /ão. /unca fi$ mal a ningu m, se nãofosse eu a vender, seria outro "ual"uer. Hoi a 1nica oportunidade "ue encontrei para poderambicionar algo mais do "ue a mis ria

4omo tin&a autori$ação de residência em Madrid, acabei por voltar e comecei a distribuir publicidade nas caixas do correio. !rabal&ava para duas empresas, três &oras em cada, egan&ava o suficiente para comer e pagar a renda de casa, sobrava muito pouco para enviar para a min&a família, e muito menos para a"uilo "ue eu mais "ueria) começar a construiruma casa na Guin . 'n"uanto andava pelas ruas, muitos turistas vin&am perguntar%me setin&a c&ocolate Ibarras de &axixeJ. o fim de um ano, pensei) [Por"ue nãoB\ primeirave$ "ue vendi droga gastei 79 euros e gan&ei 799, guardei ;99 e investi o resto. Percebi"ue com este neg0cio gan&ava mais num dia do "ue a distribuir publicidade durante ummês.

t 699 , "uando fui preso em Santa 4ru$ no !enerife, fui traficante de droga. 4onsegui irduas ve$es de f rias # Guin ) na primeira, con&eci a min&a mul&er e ela engravidou5 nasegunda, con&eci a min&a fil&a mais vel&a, casei e a min&a mul&er engravidou novamente.4onstruí três casas no meu país e comprei um carro. Se me arrependo da vida "ue leveiBSinceramenteB /ão. /unca fi$ mal a ningu m, se não fosse eu a vender, seria outro"ual"uer. Hoi a 1nica oportunidade "ue encontrei para poder ambicionar algo mais do "ue amis ria. 4on&eço a m rica (atina como a palma da min&a mão, fui # Dene$uela, ao4&ile, ao 2rasil, # 4olXmbia, ao M xico... (evava comigo sempre duas mul&eres ] aSílvia, nigeriana, e a /ami, marro"uina ] "ue engoliam cocaína. Cuando c&eg+vamos aodestino, tin&am de vomitar o produto e eu fa$ia o neg0cio. 4&egaram a transportar ;,7Eg,cerca de 79 mil euros. Hoi assim at ao dia do a$ar.

Cuando acabou de tirar tudo do estXmago, a Sílvia ligou%me. /ão &avia voos directosMadrid%Santa 4ru$, tive de fa$er escala em Milão. 4&eguei ao !enerife de man&ã, fuidirecto ao &otel, não estive nem cinco minutos no "uarto e desci, ia encontrar%me com umcliente num caf "ue ficava numa rua estreita e escondida "uando de repente apareceu a polícia) [-l+ sen&or, como est+B\ [2em, obrigada.\ [-nde estão os seus pap isB\ /essaaltura, tin&a tudo em dia e mostrei%l&es. [' essa moc&ila, o "ue tem dentroB\ [Para "ue

"ue interessa o "ue est+ na moc&ilaB\ - polícia saiu do carro para me arrancar a moc&ila #força, sabia o "ue estava l+ dentro, ainda consegui dar um pontap no saco "ue acabou porrebentar, o p0 espal&ou%se todo no c&ão. /ão fi$ mais nada, estendi as mãos e entreguei%me. Hui condenado a 8 meses de prisão, libertaram%me ao fim de 6K por bomcomportamento. Hui preso na mesma semana em "ue nasceu a min&a fil&a mais nova, "ueainda não con&eço5 a min&a mul&er e a min&a mãe s0 conseguiam c&orar ao telefone e eu perguntei%l&es) Mas o "ue pensavam, "ue as casas "ue têm aí com tudo do bom e domel&or caíram do c uB 'stavam # espera do "uêTB\ Se eu tivesse um trabal&o "ue meoferecesse o suficiente para ter uma vida digna, nunca me teria posto neste neg0cio.4ompletei o ensino secund+rio


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vida tamb m feita de oportunidades, eu agarrei a 1nica "ue tive e saí%me mal. 3esdeentão, nunca mais voltei a ter documentos legais na 'uropa. 4onsegui trabal&o comocofrador na Wolanda, como pescador na /oruega e vendi coisas na rua na Suíça. Setrabal&asse s0 para eu viver, era f+cil, mas preciso de din&eiro para a min&a família. !odosos meses envio para a Guin ;>9 euros para comprarem cinco sacas de arro$ e pagarem aescola, carrego o telem0vel para falar com as min&as fil&as e pago ; > euros de renda dacasa em Madrid, "ue aindo partil&o com dois amigos. - "ue sobraB /ada, a maioria das

ve$es falta e eu não como.3esde "ue fui preso, nunca mais me endireitei. Dim para 2ruxelas por"ue me disseram "uea"ui se arran*ava trabal&o, "ue era a capital da 'uropa, mas a pior cidade de todas as em"ue *+ vivi. : a cidade onde vi mais gente a dormir na rua, não &+ um sítio onde possamoscomer uma sopa "uente, onde possamos tomar ban&o, nem se"uer urinar conseguimos sem pagar) >9 cêntimos para urinarB : por isso "ue 2ruxelas porca e c&eira mal. S0 c&eira bem ao p do Parlamento 'uropeu e por"ue as pessoas usam perfume. "ui foi o primeiro sítio onde dormi na rua, agora vivo num pr dio ocupado por v+rios sem%abrigo,mas a polícia deu%nos duas semanas para sairmos. (ogo "ue ten&a din&eiro para o bil&etede autocarro, volto para Madrid. L+ ningu m nos d+ valor, sente%se cada ve$ maisdiscriminação, mas &ouve um tempo em "ue a imigração era bem%vinda, n0s, os negros,tamb m a*ud+mos a construir este continente. 3eixei o meu país por"ue estavadesesperado, sem trabal&o, sem futuro. Pelos mesmos motivos "ue levaram os portuguesesa sair nos anos ;K79 para Hrança e para a Suíça e "ue os obrigam a sair agora5 s0 têm deacrescentar a isso fome, guerra, problemas familiares, perseguiç=es.

-s africanos vêm para pedir socorro, passamos mesmo muito mal em Qfrica. 3epois do

"ue sofremos para c&egar, depois de termos arriscado a vida, não podem simplesmentedi$er%nos [vai mas para a tua terra\ sem con&ecerem os nossos motivos. 'nviar uma pessoa "ue c&ega # 'uropa para o seu país uma loucura. -s governantes estão malucosagora. /ão podes simplesmente di$er [vai%te emboraO\ Regressar comoB Cuem governa


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Qfrica são malucos tamb m. Prender e espancar uma pessoa "ue est+ a andar na rua s0 por"ue l&e c&amas ilegal normalB Por"ue nos estão a fa$er istoB !antas campan&as paraa*udar Qfrica, a*udem primeiro os africanos "ue estão perto. 1nica coisa "ue eu "ueroantes de voltar arran*ar din&eiro para a min&a mul&er poder acabar o curso de Medicina.3epois, com o aluguer das min&as casas, vamos conseguir viver. /ão "uero ser vel&o a"uina 'uropa. Mesmo "ue eu ten&a um passaporte europeu, 3eus me livre de estar a"ui com79 anos. Para "uêB "ui, "uando s vel&o, *+ ningu m te respeita, como se fosses lixo.

/em "uero pensar nisso. Diver na 'uropa foi um son&o reali$ado, morrer a"ui seria umacat+strofe. @ma verdadeira cat+strofe.

Esta reportagem foi patrocinada pelo programa de formação jornalística Beyond YourWorld

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