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XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1 A PLURIATIVIDADE NA AGRICULTURA FAMILIAR: ESTRATÉGIA DIFERENCIAL DE DISTINTOS ESTILOS DE AGRICULTURA PAULO ANDRE NIEDERLE; SERGIO SCHNEIDER. UFRGS, PORTO ALGRE, RS, BRASIL. [email protected] APRESENTAÇÃO ORAL AGRICULTURA FAMILIAR A pluriatividade na agricultura familiar: estratégia diferencial de distintos estilos de agricultura 1 Grupo de Pesquisa: 7 – Agricultura familiar Resumo O artigo discute como o fenômeno da pluriatividade está associado à crescente mercantilização da vida social e econômica dos agricultores familiares da região Missões no Rio Grande do Sul e, neste sentido, aos diferentes estilos de agricultura que emergem entremeio a um processo de inserção diferencial das unidades familiares aos mercados. Sustenta que a pluriatividade apresenta-se como uma estratégia empreendida pelos agricultores com vistas a atender às necessidades de reprodução social, econômica e cultural do grupo familiar. Além de apresentar algumas características diferenciais entre unidades familiares pluriativas e exclusivamente agrícolas, o artigo discute a própria heterogeneidade da pluriatividade enquanto estratégia coletiva e individual, seja no que tange aos fatores determinantes a sua emergência, seja em relação às suas implicações em termos de reprodução e reestruturação das unidades familiares. Palavras-chave: Agricultura Familiar, Mercantilização, Diversidade. Abstract This article discuss as the phenomenon of the pluriactivity is associated with the increasing commoditization of social and economic life of the family farmers in region Missões, Rio 1 Este texto é parte integrante do “Projeto Rurbano: estudos de caso sobre pluriatividade e diversificação dos modos de vida em áreas rurais no Brasil” realizado em cooperação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul com o Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário (NEAD/MDA) e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).

A PLURIATIVIDADE NA AGRICULTURA FAMILIAR: … · Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 2 Grande do Sul, and, in this direction, to different farming

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Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

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A PLURIATIVIDADE NA AGRICULTURA FAMILIAR: ESTRATÉGI A DIFERENCIAL DE DISTINTOS ESTILOS DE AGRICULTURA

PAULO ANDRE NIEDERLE; SERGIO SCHNEIDER.

UFRGS, PORTO ALGRE, RS, BRASIL.

[email protected]

APRESENTAÇÃO ORAL

AGRICULTURA FAMILIAR

A pluriatividade na agricultura familiar: estratégi a diferencial de distintos estilos de agricultura 1

Grupo de Pesquisa: 7 – Agricultura familiar

Resumo O artigo discute como o fenômeno da pluriatividade está associado à crescente mercantilização da vida social e econômica dos agricultores familiares da região Missões no Rio Grande do Sul e, neste sentido, aos diferentes estilos de agricultura que emergem entremeio a um processo de inserção diferencial das unidades familiares aos mercados. Sustenta que a pluriatividade apresenta-se como uma estratégia empreendida pelos agricultores com vistas a atender às necessidades de reprodução social, econômica e cultural do grupo familiar. Além de apresentar algumas características diferenciais entre unidades familiares pluriativas e exclusivamente agrícolas, o artigo discute a própria heterogeneidade da pluriatividade enquanto estratégia coletiva e individual, seja no que tange aos fatores determinantes a sua emergência, seja em relação às suas implicações em termos de reprodução e reestruturação das unidades familiares. Palavras-chave: Agricultura Familiar, Mercantilização, Diversidade. Abstract This article discuss as the phenomenon of the pluriactivity is associated with the increasing commoditization of social and economic life of the family farmers in region Missões, Rio

1 Este texto é parte integrante do “Projeto Rurbano: estudos de caso sobre pluriatividade e diversificação dos modos de vida em áreas rurais no Brasil” realizado em cooperação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul com o Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário (NEAD/MDA) e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).

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Grande do Sul, and, in this direction, to different farming styles that emerge next to process differential insertion of the family farmers to the markets. It supports that the pluriactivity is a strategy undertaken for the farmers with purpose to take care of to the necessities of social, economic and cultural reproduction of the family group. Beyond presenting some distinguishing characteristics between pluriactivity and exclusively agricultultural units, the article argues the proper heterogeneity of the pluriactivity while collective and individual strategy, either in what it refers to the determinative factors its emergency, either in relation to its implications in terms of reproduction and reorganization of the family farmers. Key words: Family Farmers, Commoditization, Diversity.

1. Introdução

Os anos recentes demonstram que a consolidação da agricultura familiar no cenário acadêmico e político-institucional trouxe consigo um reconhecimento cada vez maior de que está em curso um processo de transformações estruturais do espaço rural no Brasil. Ao mesmo tempo em que isto reflete a reestruturação do padrão fordista na agricultura, também se associa ao protagonismo dos agricultores na diversificação do repertório de estratégias articuladas com vistas a reproduzir suas unidades de produção. Neste sentido, a pluriatividade tem se revelado como uma das alternativas mais recorrentes em todo mundo.

Entre os agricultores familiares da região sul do Brasil o desenvolvimento de múltiplas ocupações tem se mostrado cada vez mais recorrente. Conforme demonstram os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a primeira metade da presente década apresenta tendência de crescimento similar àquela verificada nesta região durante os anos 90, com um incremento de 4,3% na população economicamente ativa domiciliada no meio rural ocupada em atividades não-agrícolas entre 2001 e 2005.

Neste sentido, o principal mérito do “Projeto Rurbano” tem sido reunir uma série de estudos que demonstram como o fenômeno da pluriatividade se encontra disseminado em todo país.2 Já os estudos que se sucedem neste mesmo sentido possibilitaram o surgimento de um conjunto cada vez mais amplo de compreensões sobre o fenômeno. Reunindo distintas perspectivas e níveis de análises estes trabalhos têm destacado a grande multiplicidade de características, fatores determinantes e efeitos associados ao fenômeno. A par desta diversidade, atualmente toma corpo a idéia de que não existe uma forma única e universal de pluriatividade, mas várias configurações multi-ocupacionais, com características e implicações absolutamente diversas (não raro, contraditórias) e, que estão essencialmente associadas à própria diversidade da agricultura familiar.

Por sua vez, a negação desta heterogeneidade traz conseqüências nefastas à compreensão do fenômeno. Com efeito, um dos principais problemas neste sentido é a manutenção de algumas explicações dualistas que, em um sentido, reproduzem a idéia de que pluriatividade constitui uma estratégia unicamente determinada pelas condições inerentes à família ou; em outro sentido, consideram-na como um fenômeno exclusivamente determinado pelo processo de reestruturação capitalista na agricultura. Do mesmo modo, semelhante postura tem gerado argumentações de que a pluriatividade está relacionada fundamentalmente ao baixo custo de oportunidade do meio rural brasileiro, o que, neste sentido, também identifica o fenômeno como transitório e associado a unidades decadentes e incapazes de desenvolverem uma “agricultura produtiva”. 2 As publicações do Projeto Rurbano estão disponíveis em www.eco.unicamp.br/nea/rurbano.

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Conforme demonstram Ploeg et. al. (2000), as transformações sustentadas pelas políticas de modernização da agricultura foram responsáveis por gerar um crescente squeeze (aperto) entre o valor da produção agropecuária e seus custos, aumentando a precariedade econômica e a vulnerabilidade social das famílias rurais e colocando em risco sua reprodução. Como reflexo destas condições, os anos recentes mostram um aumento expressivo de novas atividades produtivas e fontes de renda. A crescente diversificação tem sido responsável por incrementar a diversidade da agricultura familiar, consolidando, então, o que o autor denomina de distintos “estilos de agricultura” (PLOEG, 2003). Dentre várias alternativas neste sentido, o que surge com maior proeminência em muitos lugares é a criação de novas fontes de trabalho e renda dentro e fora da agricultura. Nesta perspectiva, a pluriatividade emerge como uma entre outras estratégias que estão sendo conscientemente construídas pelos agricultores de acordo com as condições inerentes à unidade familiar e, ao mesmo tempo, em resposta às conseqüências estruturais e conjunturais da reestruturação produtiva da agricultura.

Deste modo, o que este estudo buscará sustentar é que a pluriatividade constitui uma estratégia familiar que insurge envolvida em um amplo processo de mercantilização da agricultura e dos espaços rurais como um todo, acelerado pelas mudanças da base técnica da produção agrícola que se processaram principalmente a partir dos anos 1970 (PLOEG, 1990; MARSDEN, 1995). Ao mesmo tempo, procura-se demonstrar como a emergência da pluriatividade também representa o que Ellis (2000) nomeia de estratégia de diversificação dos modos de vida3 (livelihood diversification) e, como esta estratégia relaciona-se à emergência de múltiplos estilos de agricultura.

A pesquisa foi realizada entre os agricultores familiares de Salvador das Missões, região noroeste do estado do Rio Grande do Sul. A escolha de um município inserido em uma das regiões mais vastamente integradas à lógica produtivista dos mercados globais de commodities agrícolas deriva da tentativa de demonstrar que, mesmo em meio a fortes pressões do modelo prevalecente, os agricultores são capazes de criar espaços de manobra e estratégias reprodutivas que lhes permitem reproduzir as unidades familiares. Além disso, assim será possível compreender como a pluriatividade se estabelece em uma região predominantemente agrícola, onde a priori não há um contexto de industrialização que, similarmente ao que acontece em muitas regiões européias e mesmo no caso da região da Serra no Rio Grande do Sul (ver Schneider, 2002), estimula a diversificação das ocupações e fontes de renda.

Segundo os dados do último Censo Agropecuário (1995/96), Salvador das Missões apresenta um universo de 608 estabelecimentos rurais (IBGE, 1995/1996), dos quais 98,2% são classificados pelos critérios do INCRA/SADE (2004) como unidades familiares de produção. No município predominam pequenas propriedades (36,84% possuem área inferior à 10 hectares, 61,84% possuem entre 10 e 50 ha e, somente 1,32% apresentam área superior à 50 hectares) e a figura do proprietário rural (90,95%) vis-à-vis outras categorias como arrendatários (1,64%), parceiros (6,41%) e ocupantes (0,99%). Trata-se, portanto, de um universo ímpar de desenvolvimento da agricultura familiar, onde o “moderno agronegócio da soja” se desenvolveu sustentado por uma diversidade de formas familiares de produção.

A base de dados da pesquisa foi composta em dois momentos distintos. Os dados qualitativos são provenientes de 23 entrevistas semi-abertas realizadas junto aos agricultores

3 Outra tradução para o termo poderia ser “meios de vida”, uma vez que se refere diretamente aos meios utilizados com vistas à sobrevivência do grupo familiar.

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familiares durante o mês de setembro de 2006 no âmbito do “Projeto Rurbano (fase IV)”, as quais foram transcritas e analisadas no software NVivo. Os dados quantitativos são oriundos do projeto “Agricultura Familiar, Desenvolvimento Local e Pluriatividade no Sul do Brasil” (AFDLP, 2003) desenvolvido em parceria pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PGDR/UFRGS) e Universidade Federal de Pelotas (PPGA/UFPel) e financiado pelo CNPq e FAPERGS. Estes se referem à aplicação de questionários estruturados a uma amostra de 58 unidades familiares de produção4, no qual se apreendem informações referentes ao ano agrícola 2001-2002. As informações coletadas a partir deste questionário foram analisadas no software SPSS.

Além desta primeira seção introdutória, o artigo possui mais seis seções. A segunda é dedicada à discussão sobre mercantilização e diversidade na agricultura familiar. Na segunda seção é apresentada a abordagem dos estilos de agricultura com vistas a estabelecer uma aproximação inicial com a temática da heterogeneidade de formas sociais e estratégias reprodutivas presentes no meio rural. A seção subseqüente faz um resgate histórico do processo de mercantilização da agricultura familiar de Salvador das Missões. A quinta seção compara algumas características diferenciais entre unidades familiares pluriativas e exclusivamente agrícolas. Na sexta seção é apresentada uma caracterização mais pormenorizada da heterogeneidade do fenômeno da pluriatividade buscando relacioná-la com a diversidade de estilos de agricultura presentes no universo de investigação. Finalmente, a última seção trás as principais conclusões do estudo, destacando a necessidade de atentar a uma série de aspectos ou fatores que fazem da pluriatividade uma estratégia multifacetada.

2. Mercantilização e diversidade na agricultura familiar

As transformações do mundo rural ensejadas pela crescente integração dos agricultores aos mercados revelam elementos determinantes à emergência da pluriatividade. Como demonstra Marsden (1995), o fenômeno parece estar diretamente relacionado à nova configuração do espaço rural que se processa em decorrência da crescente mercantilização, a qual se estende a um vasto conjunto de esferas da vida econômica e social atribuindo às interações humanas e materiais que ali se reproduzem valores mercantis que passam a regular o conjunto das estratégias desenvolvidas pelos agricultores.5 Por sua vez, a diversidade da agricultura e a forma heterogênea com que a pluriatividade se expressa estão parcialmente associadas à forma parcial e multifacetada com que ocorrem as relações entre os agricultores familiares e os mercados.

Não obstante, esta crescente mercantilização não impor uma dependência completa dos agricultores em relação ao mercado e, tampouco, constitui o resultado de um processo linear de desenvolvimento das relações sociais de produção capitalistas. De acordo com Long e Ploeg (1994), isto só é passível de compreensão na medida em que os mercados deixam de ser percebidos enquanto estruturas genéricas (explanans) ou forças externas que “encapsulam a vida das pessoas”, e passam a ser vistos como construções sociais resultantes das múltiplas redes de relações estabelecidas entre os agricultores e uma série de outros atores sociais. E, na medida em que estas redes envolvem um vasto conjunto de domínios, a mercantilização se

4 A amostra foi constituída a partir de amostragem sistemática por comunidade. 5 Neste sentido, o autor destaca algumas das “novas funções” desempenhadas pelo meio rural demonstrando, por exemplo, como bens materiais e simbólicos como a paisagem, o folclore e a gastronomia locais têm adentrado cada vez mais ao universo da mercadoria (MARSDEN, 1995).

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torna então um processo que adentra em diferentes esferas sociais alterando não só o trabalho agrícola, mas todo processo de reprodução das unidades familiares.

Os distintos rumos que este processo segue envolvem diretamente a disputa entre o capital, o Estado e os agricultores pelo controle de recursos materiais e simbólicos que são mobilizados nestas redes sociais. A expressiva assimetria de poder prevalecente na maior parte dos mercados faz com que freqüentemente conjugada à mercantilização exista uma ampla “incorporação institucional” das unidades de produção (LONG, 2001). Esta incorporação faz alusão a processos integrados de cientificação − crescente geração de tecnologias que aumentam o controle de atores externos (empresas, bancos, indústrias, etc.) sobre o processo de trabalho agrícola e sobre a natureza −; centralização estatal − o papel do Estado enquanto mediador das interrelações entre várias instituições e atores para resolução de conflitos − e; externalização − aumento da dependência dos agricultores em relação a recursos controlados por outros atores sociais (PLOEG, 1992; 1990).

Dentre estes três processos, vários autores têm enfatizado a proeminência da externalização em termos de efeitos à reconfiguração das relações de trabalho e produção no interior das unidades de produção (PLOEG, 1992, 1990; KAGEYAMA et. al., 1990; ARNALTE ALEGRE, 1989). Uma vez que a externalização envolve o controle de recursos (re)produtivos, ela é responsável por profundas alterações nos processos mais significativos de reprodução da unidade familiar, permitindo a atores externos influenciar diretamente a formatação dos projetos e das estratégias dos agricultores.

Na medida em que este controle passa pelos mercados, o nível de externalização torna-se então um componente central à compreensão do próprio processo de mercantilização. Nas situações em que a mercantilização transcorre associada à crescente externalização das unidades de produção, é responsável por torná-las cada vez mais dependentes de recursos controlados por atores externos, resultando em gradativa perda do domínio dos agricultores sobre a base de recursos necessária a sua reprodução econômica, social e cultural. Desenha-se assim uma tentativa de uniformização a partir de fora, pela imposição de recursos e discursos controlados pelo Estado, empresas agroindustriais, cooperativas agropecuárias, bancos, etc.

Entretanto, mesmo em meio a este conjunto de artifícios que visam reproduzir o modelo de relações sócio-técnicas sustentadas pela modernização, os agricultores são capazes de articular uma série de estratégias para modificar, neutralizar ou resistir a este tipo de mercantilização; ou mesmo, de desenvolver outras formas de inserção mercantil. É importante perceber então que, genericamente, este processo reflete a pressão que as “estruturas de mercado” exercem sobre os atores, mas também pode representar uma estratégia deliberada dos próprios atores. Segundo demonstra Long (2001), os agricultores possuem capacidade de agência sobre o curso das transformações nas quais estão inseridos, processando as diversas experiências sociais e inventando formas de ordená-las com a vida social, inclusive sob as formas mais extremas de coerção.

O modo desuniforme com que estas relações entre agricultores familiares e mercados se processam, fazendo com que a mercantilização constitua um fenômeno parcial, não linear e multifacetado, deve-se a uma enormidade de fatores, dentre os quais alguns merecem ser destacados, mesmo que muito brevemente. Primeiramente, relaciona-se ao que Scott (2002) denomina “resistência camponesa”, a qual remete à capacidade dos agricultores de se oporem aos princípios estruturantes que guiam as mutações da agricultura e do mundo rural no período pós-guerra.

Em segundo lugar, é importante reconhecer as novas oportunidades de desenvolvimento abertas pela reestruturação capitalista, muitas das quais possibilitam aos

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agricultores articular meios alternativos de reprodução inserindo-se em atividades emergentes no “novo” espaço rural mercantilizado. Neste caso, Marsden (1995) demonstra como o recurso à pluriatividade tem se apresentado um dos meios mais recorrentes e, na medida em que encerra uma forma particular de mercantilização que acontece ao nível do mercado de trabalho, possui implicações diferenciadas daquelas reveladas por uma inserção subordinada em mercados de fatores de produção e insumos.

Em terceiro lugar, é necessário destacar o fato de que a crescente mercantilização não tem sido capaz de retirar a centralidade da família como unificadora do conjunto das estratégias constituídas com vistas a sua reprodução social (JOLLIVET, 1974; SCHNEIDER, 2003). Neste sentido, a dinâmica interna da família é especialmente importante na compreensão das relações que esta estabelece com o universo de instituições externas (inclusive o mercado) e na formatação das distintas estratégias levadas à cabo individual e coletivamente pelos seus membros.

Finalmente, é mister compreender a existência de um conjunto de instituições sociais (no sentido de regras e valores formais e informais) sustentadas pelas relações comunitárias que estabelecem condicionantes, limites e possibilidades ao avanço da mercantilização. Como alude Ploeg (1992, p. 166), em muitos casos “um bom empresário, definido no marco normativo das relações econômicas e institucionais, se transforma simultaneamente em um mau vizinho no que diz respeito à família e a comunidade local” e, portanto, se as ações destes atores confrontam regras e valores comunitários, podem estabelecer empecilhos à ampliação das redes mercantis que o tornam um “bom empresário” e que também são responsáveis pelo avanço do próprio processo de mercantilização.

Estes e outros fatores, a maior parte deles esquecida ou renegada por aqueles que previram uma mercantilização completa capaz de anular o ‘problema residual e temporário’ da diversidade da agricultura (ver Long e Ploeg, 1994), é responsável justamente pelo contrário, isto é, pela incrível heterogeneidade de formas familiares de produção que co-habitam os espaços rurais e que fazem da diversidade um fundamento central do mundo rural contemporâneo. Esta diversidade reflete as distintas dinâmicas de desenvolvimento das próprias unidades de produção e disputas históricas entre vários atores e instituições que portam uma variada gama de recursos, poderes, repertórios culturais e ideologias.

Agora, para compreender a complicada dialética de relações sociais que fundamenta estes processos, é indispensável refutar perspectivas que situam mercantilização e diversidade em esquemas classificatórios que, de algum modo, homogeneízam a realidade ao dispor as unidades familiares a posições específicas entre pólos opostos, do pouco integrado ao muito integrado aos mercados. Com freqüência operam como se a mercantilização e as transformações a ela relacionadas fossem iguais para aqueles agricultores situados num mesmo grau de inserção mercantil, independentemente de qualquer outro fator diferencial na relação destes com os mercados.

É necessário reconhecer que a mercantilização transcorre de maneiras e intensidades distintas, sendo seus reflexos responsáveis por significativa parcela da diversidade da agricultura. Cabe, então, discutir como esta mercantilização diferencial associa-se à emergência de distintos “estilos de agricultura” e, para tanto, apresentar alguns conceitos relacionados ao que ficou conhecido nos estudos rurais europeus como a “abordagem dos estilos de agricultura” (ver PLOEG, 2003 e VANCLAY, 2006).

3. Estilos de agricultura

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A noção de “estilos de agricultura” foi originariamente desenvolvida por Hofstee (1946) em The Causes of Diversity in Dutch Agriculture, tendo sido retomada por Ploeg notadamente a partir da década de 1990 tornando-se um approach para a compreensão de alguns elementos da diversidade da agricultura (PLOEG, 2003). Inicialmente, a noção surge relacionada às dimensões da cultura e da localidade procurando delimitar “um complexo e integrado conjunto de noções, normas, conhecimentos, experiências, etc., portados por um grupo de agricultores em uma região especifica” (PLOEG, 1994, p. 17). Almejou, assim, dar conta das diferenças inter-regionais da agricultura européia, demonstrando como se constituíram distintas dinâmicas locais de desenvolvimento rural.

Não obstante, à medida que se tornou evidente a heterogeneidade no interior de uma mesma comunidade, “estilos de agricultura tornaram-se principalmente um fenômeno intra-regional” (PLOEG, 2003, p. 243). Removeu-se do conceito seu componente territorial e este passou a se remeter mais diretamente a lógica produtiva e social dos agricultores e suas famílias, fazendo jus à perspectiva de Ploeg de focalizar os atores sociais, seus projetos e estratégias.

Porém, ainda que tenha uma orientação definida a este nível de análise, a noção tem se apresentado sob diversas faces nos estudos do autor. Nos primeiros textos, onde o leitor se depara com um conceito ainda nascente, este aparece conectado basicamente ao processo produtivo agrícola representando “uma estrutura válida de relações entre produtores, objetos de trabalho e meios” ou, “o produto de uma estruturação específica do trabalho agrícola” (PLOEG, 1990, p. 11).

A seguir, Ploeg (1993, p. 241) parece reaproximá-lo da dimensão da cultura destacada na definição original de Hofstee, propondo que

estilo de agricultura refere-se a um repertório cultural, uma composição de idéias normativas e estratégicas sobre como a agricultura (farming) será feita. Um estilo envolve um modo especifico de organização da empresa agrícola: prática agrícola e desenvolvimento são definidos pelo repertório cultural, o qual por sua vez é testado, afirmado e, se necessário, ajustado pela prática. Por conseguinte, um estilo de agricultura é uma forma concreta da práxis, uma unidade particular de pensamento e ação, de teoria e prática.

Dois anos mais tarde, a definição é lapidada de modo que passa a mostrar três

dimensões fundamentais: a) um conjunto de noções estratégicas, valores e percepções que um grupo particular de agricultores utiliza para organizar sua unidade de produção em um determinado caminho; b) uma estruturação específica da prática agrícola que corresponde à noção estratégica de repertório cultural e; c) um conjunto específico de interrelações entre a empresa agrícola e os mercados (PLOEG, 1995, p. 122). Desde então, estes três componentes (normas, práticas e relações com os mercados) têm estado presentes nos trabalhos do autor (cf. HOWDEN e VANCLAY, 2000).

Percebendo o caráter multidimensional do conceito, Vanclay e colaboradores (2006, p. 79) ostentam que um estilo de agricultura é concebido “dependendo do ponto de entrada do pesquisador”. Se isto é apropriado, e acreditamos que o seja, tudo leva a crer que uma forma de compreender diferentes estilos de agricultura é retomar o conceito de estratégia. Por quê? Porque ao focalizar as estratégias é possível conectar os elementos centrais que definem o próprio estilo. Como afirmam Vanclay et. al. (2006, p. 73), “estilos existem como um conjunto de estratégias para a agricultura (cursos de ação para sobreviver) onde uma

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estratégia refere-se a um conjunto de guias práticos e/ou racionalidades para tomar decisões de acordo com uma situação particular”.6

Além do mais, conquanto não representem exatamente a mesma coisa, estilos e estratégias estão intimamente correlacionados. Ambos se associam a uma espécie de lógica reprodutiva, a qual pode ser investigada em termos do que Ploeg (2003) chama de um calculus ou de um discurso prático:

Cada estilo de agricultura contém um calculus: um mais ou menos explícito framework de conceitos interconectados com os quais se ‘lê’ a realidade empírica relevante (neste caso a unidade de produção e as relações nas quais está inserida) e ‘traduz’ em novas ações. Um calculus é, como foi, a coluna vertebral de uma estratégia particular. Isto é a ‘gramática’ do processo de tomada de decisão (PLOEG, 2003, p. 137).

Não obstante, as estratégias associam-se a uma lógica condicionada por relações

sociais particulares. Conforme demonstra Schneider (2003, p. 109), “as estratégias ocorrem nos limites de determinados condicionantes sociais, culturais, econômicos e até mesmo espaciais, que exercem pressões sobre as unidades familiares”. Estes condicionantes estão determinados pelas complexas redes sociais que conectam os atores e, portanto, a compreensão das estratégias dos atores está condicionada ao entendimento da dinâmica destas redes. É de um complexo conjunto de redes sociais, as quais representam espaços de relações manifestadamente desiguais e parciais, que comportam modelos de centralização e hierarquização fundados na assimetria de recursos e poderes, que se originam diferentes estilos de agricultura e múltiplas estratégias reprodutivas.

Portanto, apesar de apresentar uma perspectiva orientada aos atores sociais que sustenta como os agricultores são atores relativamente conscientes na formulação de seus projetos (cuja racionalidade reveste-se de um sentido estratégico, mas não de uma acepção estritamente calculista), Long e Ploeg (1994) não desconsideram que estilos de agricultura são igualmente definidos em meio às possibilidades e constrições definidas pelas estruturas sociais.

Na medida em que os mercados representam estruturas deste tipo, em tese é possível apreender os vínculos que possuem com a formatação de distintos estilos. Como afirmam Vanclay e colaboradores (2006, p. 63), “estilos são criados não somente através de dinâmicas sócio-culturais, mas também como resposta a forças estruturais – diferentes estilos existem para diferentes posições de mercado dos diferentes agricultores”. No entanto, os mercados não determinam o desenvolvimento de diferentes estilos de modo linear. É neste sentido que Long e Ploeg (1994, p. 76) afirmam:

[...] embora claras interrelações entre estilos de agricultura e conjuntos específicos de relações sociais de produção possam ser distinguidas, é, todavia, impossível construir uma tendência causal unilinear na qual estilos emergem como ‘efeitos’ diretos de causas particulares. (...) O desenvolvimento de unidades de produção (farms) altamente mercantilizadas não é condicionado somente pelas relações de mercado, mas também emerge imediatamente determinadas por estas relações. Assim que estilos específicos são enfim inseridos na lógica do mercado. Mas isto implica que os mercados sejam compreendidos como causas destes estilos

6 Na mesma perspectiva: “Vários estilos de agricultura em uma região representam um repertório de visões de mundo e estratégias possíveis” (Howden e Vanclay, 2000, p. 295).

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específicos? E devem estes estilos ser compreendidos como produtos unilineares daqueles mercados? Evidentemente não é este o caso [...].

Deste modo, para dar seguimento à discussão sobre a forma como se estabelece a relação entre a mercantilização e a conformação de distintos estilos de agricultura sem cair numa postura excessivamente dedutivista, parece ser mais adequado adentrar à análise do universo empírico da investigação. Neste sentido, como será visto a seguir, Salvador das Missões representa um contexto ímpar de análise. Ali a mercantilização esteve intimamente associada à inserção nos mercados de commodities agrícolas, criando um contexto para o qual os teóricos da modernização imaginaram que seus efeitos determinariam a subordinação das práticas agrícolas e discursos dos agricultores a “uma única gramática” de relações sociais ditada pelo “mercado” (ver também PLOEG, 2006a). Não obstante, o que aparece de modo mais evidente atualmente são as múltiplas formas que os agricultores têm encontrado para diversificar os circuitos de troca, criando espaços de manobra que em alguma medida lhes permitem se contrapor a dominação do mercado global da soja.

Assim que, como percebe Ploeg (2003, p. 115), novos etilos de agricultura têm emergido da capacidade de resistência contida dentro da agricultura familiar, onde “os agricultores usam a maleabilidade do processo de produção e o espaço de manobra contido nos mercados e tecnologia, para construir novas respostas congruentes para o projeto dominante de modernização”.

Contudo, se alguns estilos representam um distanciamento ao projeto da modernização, outros espelham uma internalização das relações ditadas por este projeto (PLOEG, 2003). O que determina se a unidade familiar de produção caminha em uma ou outra via é o conjunto de estratégias que esta articula. As estratégias relacionam-se às mudanças nos processos de trabalho, investimentos de capital, ciclo produtivo, reprodução do grupo familiar, e mesmo ao universo de relações sociais prioritárias, criando alternativas que se refletem em aumento ou diminuição do grau de dependência aos mercados. Numa via pode ser colocado em curso um processo de inserção no regime de produção predominante, sustentado pelo paradigma da modernização. Neste caso, geralmente se acentua a especialização produtiva fundada em recursos externos, bem como a dependência às flutuações dos preços internacionais e os custos de produção e transação. Em outra via, é possível partir para uma busca por autonomia, onde os agricultores procuram liberdade em relação às obrigações impostas pelos mercados, bancos, comerciantes, agroindústrias, etc., para organizar sua propriedade e o processo de trabalho de acordo com suas próprias possibilidades e necessidades (PLOEG, 1990). Neste sentido, se destacam algumas estratégias de internalização de recursos produtivos e des-mercantilização, a ampliação da produção para autoprovisionamento familiar, a inserção em novos mercados, a produção agroecológica e alguns tipos de pluriatividade.

Mas o que torna absolutamente complexa esta diversidade é o fato de que não há correspondência exata entre cada unidade familiar e uma única estratégia; da mesma forma que em relação aos estilos de agricultura, os quais também se sobrepõem. As estratégias se interconectam, podendo cada unidade apresentar um conjunto variado delas. Além do que, da mesma forma que os agricultores migram de um estilo para outro (VANCLAY, et. al, 2006), com o tempo o repertório de estratégias da unidade familiar vai sendo substituído por outro, a partir das modificações nas condições internas da família e do contexto social.

Muitas destas estratégias ultrapassam a dimensão estritamente produtiva e, conforme demonstra Ellis (2000; 1998), tornam-se formas de diversificação dos modos de vida rural,

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isto é, meios de gerar ativos e capitais (físicos, naturais, sociais, humanos) que permitem às unidades familiares diversificar suas condições de reprodução. É o caso da pluriatividade, que se apresenta como uma estratégia organizada com vistas à reprodução social, econômica e cultural do grupo familiar e que pode representar tanto uma reação provinda das necessidades econômicas de sobrevivência, quanto uma escolha revelada como processo voluntário com vistas à diminuição das incertezas da família frente a riscos e choques externos que porventura podem afetar sua reprodução.

4. A mercantilização da agricultura familiar em Salvador das Missões - RS As transformações técnicas que se processaram a partir dos anos 1960/70 marcam

mudanças substanciais nas formas familiares de produção presentes desde o inicio do século na região das Missões. O período é marcado pela especialização produtiva assentada na cultura da soja, aumento dos índices de mecanização, diminuição da mão-de-obra empregada em atividades agrícolas, utilização de altas doses de corretivos do solo, adubos e defensivos, e por uma interligação crescente dos agricultores com as agroindústrias, bancos e cooperativas.7 O processo relativamente abrupto de transformações da base técnica conciliado à crescente inserção dos agricultores no “mundo dos mercados” (NAVARRO, 2002), leva então a uma gradual metamorfose da agricultura colonial de base camponesa em uma outra forma distinta, mais identificada com o que os estudiosos atualmente definem como agricultura familiar.

Ao mesmo tempo, estas mudanças consolidaram uma dinâmica de desenvolvimento agroindustrial exportador amplamente dependente do setor primário8, notadamente do desempenho de culturas de alto valor comercial. Além disso, reproduziram uma situação em que a mercantilização transcorreu associada à crescente externalização das unidades de produção, sendo então responsável por torná-las cada vez mais dependentes de cooperativas, bancos e indústrias; resultando em gradativa perda do controle dos agricultores sobre a base de recursos necessária a reprodução da unidade produtiva.

Como propõem Kageyama et. al. (1990), a externalização pode ser parcialemnte percebida pela elevação do consumo intermediário na agricultura, o qual indica a crescente dependência aos insumos industriais. Considerados neste sentido os gastos com arrendamento de terras, adubos e corretivos, sementes e mudas, defensivos agrícolas, alimentação e medicamentos dos animais, aluguel de máquinas e equipamentos e o pagamento de serviços de empreitadas, os números da Tabela 1 demonstram uma variação de mais de 470% no Consumo Intermediário entre os anos de 1970 e 1980, no período de mudanças técnicas mais intensas, de “modernização compulsória”, onde a ação do Estado revelou-se mais expressiva.

Tabela 1 – Evolução do consumo intermediário (CI) e do valor total da produção (VTP) no município de Cerro Largo (1970 – 1980).9

7 Dados detalhados referentes às transformações técnicas e sociais ocasionadas pela modernização no universo em questão podem ser encontrados em Niederle (2007). 8 Segundo dados do IBGE de 2002, o Valor Adicionado Bruto (VAB) da Agropecuária corresponde a 46,52% do VAB total de Salvador das Missões, enquanto indústria e serviços representam, respectivamente, 25,57% e 27,91%. 9 Os dados são referentes ao município de Cerro Largo porque o recente desmembramento de Salvador das Missões (1992) não permite a utilização de dados para este período.

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Nota: Valores corrigidos pelo IGPDI com base em junho de 2006. Fonte: IBGE, Censos Agropecuários (1970, 1975, 1980).

Do mesmo modo, a Tabela anterior revela ainda que no intervalo de uma década a

proporção representada pelo Consumo Intermediário em relação ao Valor Total da Produção (CI/VTP) mais do que duplica, passando de 12,43% a 28,28%. Isto se torna mais significativo se considerado que o Valor Total da Produção também duplicou neste período, revelando-se assim a magnitude que assume a variável custo ou despesa, onde sobressaem adubos e corretivos com a maior variação no período.

Outras referências em termos de externalização podem ser feitas à “terceirização” da atividade produtiva, isto é, à contratação de força de trabalho humana, animal e mecânica (LAURENTI, 2000). Segundo os dados censitários, em 1970 este fenômeno ocorria em 23% dos estabelecimentos agrícolas de Cerro Largo e, em 1985, alcançou 63,54% destes.

O aumento expressivo das despesas em relação ao valor da produção revela o que Ploeg e colaboradores (2000) denominaram de crescente squeeze (aperto/compressão) da agricultura modernizada, o qual pode ser sumarizado em termos de incrementos nos custos de produção concomitantes ao decréscimo dos retornos do trabalho.

Seja como for, o fato da mercantilização ter se conectado a um expressivo processo de externalização e à dependência de mercados globais de commodities agrícolas, rompeu (embora não completamente) com a possibilidade de regulação das relações mercantis por parte dos atores locais, tornando singulares os efeitos da generalização dos mercados. Então, na medida em que a unidade de produção viu-se inserida num ciclo vicioso do qual havia restritas possibilidades de escapar, sua condição econômica foi se deteriorando continuamente como reflexo das posteriores reduções dos subsídios governamentais, de conjunturas internacionais desfavoráveis, da queda dos preços das commodities e do aumento dos custos de produção.

Igualmente, foi este squeeze que estabeleceu definitivamente a necessidade do trabalho familiar se voltar primeiramente à obtenção de dinheiro, fazendo da monetização outra face da mercantilização. A necessidade de dinheiro contribuiu para alterar a lógica produtiva das unidades, que passaram a organizar-se em função do aumento da capacidade de geração de valores de troca e, fundamentalmente, daqueles valores que possibilitavam o maior retorno financeiro imediato, no caso, a soja e o trigo. Como afirma Tedesco (1999, p. 131), esta mudança de lógica produtiva e “a necessidade de dinheiro para trabalhar a terra, para produzir e consumir levou a que houvesse uma conexão mais precisa do colono com os produtos de maior aceitação comercial”.

Não obstante, na medida em que se esvaíram as possibilidades de manutenção dos níveis de rentabilidade dos primeiros anos da modernização, o crescente squeeze impossibilitou o re-financiamento da estrutura produtiva de muitos estabelecimentos, os quais foram obrigados a reproduzir-se sob uma base tecnológica cada vez mais deteriorada.

Deste modo, durante o período em que o modelo modernizador se mostrou apto a cumprir com a tarefa de garantir produção, produtividade e renda às famílias rurais, foi capaz de adentrar até mesmo aos rincões mais remotos, impondo sua dinâmica produtiva e criando a atmosfera social da qual se nutria; porém, no momento em que isto já não foi mais possível,

1970 1975 1980

Consumo intermediário (CI) 6.069.520,00 19.208.440,00 28.536.187,00

Valor total da produção (VTP) 48.816.647,00 107.919.990,00 101.390.536,00

CI / VTP (%) 12,43 17,79 28,14

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novas alternativas começaram a ser gestadas. Assim que, a partir dos anos 90 o modelo produtivista começa a apresentar alguns sinais de crise na região e, em resposta à deterioração dos níveis de renda e ao aumento da vulnerabilidade econômica e social, os agricultores passam a construir uma série de estratégias reprodutivas que alteram gradativamente este cenário.

Estas estratégias têm gerado uma ampla diversidade de estilos de agricultura e, ao mesmo tempo, têm permitido refutar a homogeneização preconizada pela modernização a partir da demonstração de como os agricultores são capazes de construir projetos próprios, condizentes com as peculiaridades de suas condições materiais e simbólicas. Projetos que lhes possibilitam reproduzir as unidades de produção em vias distintas, encontrando espaços de manobra para afastar-se dos mercados ou para construir novas formas de integração, menos dependentes do controle executado por outros atores. Neste sentido estão associadas, por exemplo, alternativas de diversificação das atividades agropecuárias. Alguns agricultores têm partido para cultivos de alfafa, girassol, mandioca, feijão, cana-de-açúcar, etc., buscando diminuir a instabilidade econômica da unidade de produção. Outra alternativa muito difundida é a reorientação dos espaços e da mão-de-obra utilizados na lavoura de soja para a produção leiteira. Esta inversão tem repercutido no aumento da produção anual de leite que mais do que duplicou em uma década e, principalmente, no incremento da produtividade, que passou de 1.439 mil litros por vaca ordenhada em 1994 para 2.732 mil litros em 2004.

No que tange a outras atividades, a agregação de valor a partir da instalação de agroindústrias rurais também tem aparecido com certo destaque. Mas o que surge com maior proeminência é a criação de novas fontes de trabalho e renda dentro e fora da agricultura, que configuram o exercício da pluriatividade. Este fenômeno foi impulsionado pelo conjunto de transformações estruturais propiciadas pela modernização da agricultura, relacionando-se entre outras coisas à disponibilização da mão-de-obra familiar causada pela intensa mecanização dos processos produtivos e pela terceirização daí decorrente, além da necessidade de receitas complementares que fazem frente à queda das rendas agrícolas decorrentes da deterioração dos preços das commodities agrícolas e do aumento dos custos de produção.

Assim, ainda que o caráter multi-ocupacional das formas familiares de produção do universo investigado possa ser referido aos tempos pretéritos da agricultura colonial, alude-se para um fenômeno historicamente diferenciado, que emerge junto à crescente mercantilização das unidades produtivas. Como destacado em Schneider (2006, p. 7),

[...] embora a combinação de atividades não seja uma novidade, a evolução e a inovação da pluriatividade nos dias atuais consiste no fato de que o exercício da segunda atividade (a não-agrícola) tornou-se recorrente, sistemática e passou a integrar as estratégias de reprodução social e econômica dos indivíduos e das famílias. E, mais importante do que isto, a pluriatividade atual ocorre através da mercantilização da força de trabalho ou da prestação de serviços. O indivíduo ou a família que pratica a combinação das múltiplas atividades (pluriatividade) já não o faz como mero um complemento ou acessório visando o autoaprovisionamento (com ferramentas ou implementos de trabalho, artesanato, etc). Em termos analíticos, não se trata mais de uma produção de valores de uso, mas de valor de troca, que visa o intercâmbio e, no geral, a obtenção de remuneração monetária.

Não obstante, se, por um lado, o desenvolvimento da pluriatividade está condicionado

por determinantes de natureza conjuntural/estrutural; por outro, é imprescindível reconhecer que se trata de uma estratégia associada à dinâmica interna da unidade familiar. Em face disto,

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a próxima seção explora alguns elementos inerentes a esta dinâmica, destacando os elementos relacionados à emergência do fenômeno e que, de certo modo, contribuem à determinação de seu caráter multifacetado.

5. A pluriatividade entre os agricultores familiares de Salvador das Missões

Seguindo a tipologia sugerida pela Pesquisa AFDLP (2003) para diferenciar os estabelecimentos investigados entre “exclusivamente agrícolas” e “pluriativos” − conforme referido abaixo no Quadro 1 −, destacaram-se entre os 58 estabelecimentos de Salvador das Missões 31 exclusivamente agrícolas e 27 pluriativos.

Quadro 1 – Descrição dos tipos de estabelecimentos segundo a condição de atividade

EXCLUSIVAMENTE AGRÍCOLAS

Dedicam-se ao trabalho agrícola no interior da UP, comercializando apenas produtos agropecuários in natura.

PLURIATIVOS

Compreende situações em que (a) há combinação de atividades agrícolas dentro e fora da UP (pluriatividade de base agrária); (b) há combinação de atividade agrícola dentro da UP com atividade estranha ao setor agrícola no âmbito da indústria, comércio e/ou serviços (pluriatividade intersetorial).

Fonte: Pesquisa AFDLP – UFRGS/UFPEL/CNPq (2003).

A partir desta construção analítica é possível analisar como “pluriativos” e “exclusivamente agrícolas” apresentam um conjunto de características que os tornam diferenciados. Neste sentido, a Tabela 4 demonstra que os estabelecimentos pluriativos apresentam média de área total e superfície agrícola útil inferiores àquela presente nos exclusivamente agrícolas, revelando-se esta diferença em cerca de oito hectares em ambas as variáveis. Assim, é razoável argumentar que a busca por atividades não-agrícolas ou agrícolas fora da unidade familiar pode estar vinculada à escassez de terra; contudo, o fato de algumas unidades pluriativas apresentarem superfícies agrícolas úteis máximas superiores a 52 hectares, oferece evidências de que este fenômeno não está necessariamente relacionado a explorações decadentes ou incapazes de apresentarem alto grau de integração aos mercados. Tabela 4 – Área total média e superfície agrícola útil (SAU) das unidades familiares de Salvador das Missões segundo o tipo de estabelecimento (ano agrícola 2001/02).

Tipo de estabelecimento Nº

estab. Área Total (ha) SAU (ha)

Mínimo Máximo Média Mínimo Máximo Média Exclusivamente agrícola 31 7,50 90,00 24,12 7,15 62,25 19,94 Pluriativo 27 0,45 54,00 16,81 0,29 52,70 12,66 Fonte: Pesquisa AFDLP – UFRGS/UFPEL/CNPq (2003).

No que tange ao número de residentes por estabelecimento (Tabela 5), é perceptível que, em ambos os casos, há concentração na faixa entre 3 e 8 residentes. O que pode ser sublinhado é a diferença significativa nos estabelecimentos com até dois residentes, onde há apenas o casal, e acima de nove. Enquanto no primeiro caso a presença de unidades pluriativas é expressivamente menor, no segundo, é exclusiva.

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Tabela 5 – Distribuição dos estabelecimentos agrícolas e pluriativos de Salvador das Missões segundo o número de residentes (ano agrícola 2001/02).

Tipo de estabelecimento Nº estab. Número de residentes

Até 2 3 a 4 5 a 8 9 a 14

Exclusivamente agrícola 31 7 13 11 0

Pluriativo 27 2 14 8 3

Total 58 9 27 19 3 Fonte: Pesquisa AFDLP – UFRGS/UFPEL/CNPq (2003).

Na Tabela 6 percebe-se que a disponibilidade de trabalho familiar (UTH familiar total) é superior nos estabelecimentos pluriativos (3,43) vis-à-vis aqueles exclusivamente agrícolas (2,56). Este tem sido referido como um dos principais fatores de estimulo à busca de outras fontes de trabalho e renda, configurando um impulso ao incremento da pluriatividade nas unidades familiares (SACCO DOS ANJOS, et. al., 2004).

Tabela 6 – Unidades trabalho homem (UTH) familiar total e contratada segundo o tipo de estabelecimento em Salvador das Missões (ano agrícola 2001/02).

Tipo de estabelecimento Nº

estab.

UTH familiar total (agrícola + não-agrícola)

UTH contratada (agrícola)

Mínimo Máximo Média Mínimo Máximo Média

Exclusivamente agrícola 31 0,76 4,83 2,56 0,00 1,00 0,104

Pluriativo 27 1,51 9,76 3,43 0,00 1,33 0,098 Fonte: Pesquisa AFDLP – UFRGS/UFPEL/CNPq (2003).

Os dados da pesquisa AFDLP (2003) demonstram ainda que a contratação de trabalho externo é prática recorrente entre 83,9% das famílias que se dedicam exclusivamente à agricultura e entre 74,1% dos estabelecimentos pluriativos. Se, por um lado, a Tabela acima demonstra ser mínima a diferença entre pluriativos e exclusivamente agrícolas no que tange à força de trabalho contratada para atividades agrícolas em termos de UTH’s, por outro, é possível perceber que é exatamente em um estabelecimento pluriativo que se encontra a maior quantidade de trabalho contratado (1,33 UTH). Deste modo, corroboram-se as possibilidades do incremento da pluriatividade conciliar-se ao desenvolvimento da atividade agrícola e, gerando empregos, porquanto a contratação se revela uma característica expressiva também entre os pluriativos.

Em relação à posição que os indivíduos que exercem as atividades que caracterizam a pluriatividade ocupam na família, os dados ainda demonstram que na maior parte dos casos são os filhos (35%) que desenvolvem outras ocupações, seguidos pelo responsável/chefe do estabelecimento (27%), esposa (18%), parentes em outros graus (12%) e filhas (8%).

Da mesma forma, é importante salientar que em 81,5% dos estabelecimentos pluriativos os membros que trabalham em atividades não-agrícolas fornecem algum tipo de ajuda nas atividades agrícolas da propriedade. Em termos de freqüência, esta ajuda pode ser regular (51,9%), ocasional (11,1%), quando sobra algum tempo livre (14,8%), ou quando há demanda específica no trabalho agrícola (14,8%), por exemplo, em períodos de colheita e plantio (AFDLP, 2003).

Em relação ao setor de atividade profissional dos indivíduos que exercem atividades fora da unidade de produção, houve uma predominância dos serviços agrícolas (18,9%), o que

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está relacionado ao desenvolvimento do que Schneider (2006) denomina “pluriatividade de base agrária”, ou seja, situações onde se combinam atividades agrícolas dentro e fora da unidade de produção. A ampliação deste tipo de ocupação associa-se às possibilidades que foram constituídas pelo desenvolvimento da economia regional para a formação de um amplo mercado de serviços terceirizados, geralmente revelando precarização e informalidade nas relações de trabalho.

Além do mais, a dinâmica econômica local não promoveu significativo desenvolvimento dos setores industrial, comercial e de serviços urbanos, o que freou o crescimento da pluriatividade intersetorial. Mesmo assim, parte significativa das ocupações tem se dado neste sentido: serviço público (11,3%), emprego na indústria (11,3%), serviços pessoais – carpinteiros, pintores, construtores, etc. – (9,4%), comércio (7,5%), transporte (5,7) e construção civil (1,9%).

Além disso, é necessário notar o desenvolvimento das ocupações pára-agrícolas, assim consideradas aquelas relacionadas à transformação, beneficiamento e/ou processamento de produção agrícola que é executada dentro da unidade de produção e destinada à comercialização. Destaca-se, neste sentido, a proporção de agricultores envolvidos com a transformação caseira para venda (15,1%).

Na Tabela 7 percebe-se que os serviços agrícolas geralmente assumem um caráter esporádico e são predominantes entre os homens e, especialmente, entre os filhos. É interessante notar ainda que nenhum responsável pelo estabelecimento desenvolve atividades agrícolas terceirizadas em caráter permanente, situação que só foi encontrada para um filho e uma esposa.

Além disso, entre várias percepções que podem ser obtidas desta Tabela, é mister destacar ainda a pequena participação das filhas nas atividades externas à unidade de produção. O fato de nenhuma delas desenvolver qualquer tipo de atividade que caracteriza pluriatividade de base agrária é explicado pela reconhecida menor possibilidade de trabalho agrícola das mulheres numa agricultura onde predominam as atividades mecanizadas (ver STRATIGAKI, 1988), o que também fez com que estas migrassem em maior número para os centros urbanos, tornando a baixa participação nas ocupações não-agrícolas uma decorrência da própria ausência de moças no meio rural de Salvador das Missões (ver Niederle, 2007).

Tabela 7 – Distribuição dos indivíduos pluriativos em Salvador das Missões segundo a condição, o setor e o caráter da atividade.

Setor Responsável Esposa Filho Filha Outros

P S E P S E P S E P S E P S E

Serv. Agrícolas 2 1 1 2 4

Serviço Público 3 3 2

Construção civil 1

Indústria 1

Comércio 1 1 2

Serv. Auxiliares 2 1 1 2 1

Serv. Pessoais 1 2 2

Transf. artesanal 2 3

Transporte 3

Outros 1 1 2 1 1 1 Nota: P = permanente; S = sazonal; E = esporádico. Fonte: Pesquisa AFDLP – UFRGS/UFPEL/CNPq (2003).

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Chama atenção ainda o nível de escolaridade dos indivíduos. Similarmente ao

evidenciado por Schneider e colaboradores (2006), os dados da Tabela 8 permitem mencionar o maior grau de instrução dos indivíduos que exercem atividades fora da unidade de produção. No primeiro grupo, referente a quem desenvolve somente atividades no estabelecimento, é possível perceber a diminuta proporção de pessoas nos estratos mais elevados de escolaridade (segundo grau completo ou mais). De outro modo, esta concentração se eleva um pouco entre aqueles que mantêm atividade em tempo parcial fora da unidade de produção e há um acréscimo significativo dentre aqueles que trabalham integralmente em outros setores, sendo que, neste caso, não se encontram pessoas com escolaridade inferior à 5ª série do ensino fundamental.

Tabela 8 – Proporção de indivíduos segundo o local de trabalho e o grau de escolaridade no meio rural de Salvador das Missões.

Estratos de escolaridade Trabalha somente na unidade de produção

(% de indivíduos)

Trabalha em tempo parcial fora da UP (% de indivíduos)

Trabalha em tempo integral fora da UP (% de indivíduos)

analfabeto 0,70 2,70 -

apenas lê e escreve 1,41 - -

1 a 4 incompleto - 2,70 -

1 a 4 completo 38,03 35,14 -

5 a 8 incompleto 23,94 16,22 -

5 a 8 completo 14,79 10,81 25,00

segundo grau incompleto 11,27 13,51 16,67

segundo grau completo 7,04 13,51 16,67

superior incompleto 1,41 - 33,33

superior completo 1,41 5,41 8,33 Fonte: Pesquisa AFDLP – UFRGS/UFPEL/CNPq (2003).

Outra importante dimensão a ser explorada diz respeito ao potencial da pluriatividade

frente às necessidades de reprodução social das unidades familiares, isto é, como estratégia empreendida pelos agricultores para sobreviver. Neste sentido, Kinsela e colaboradores (2000) apresentam a pluriatividade como uma estratégia familiar de diversificação dos modos de vida rural. Diversificação, neste caso, pode ser compreendida pelo sentido originalmente atribuído por Ellis (1998, p. 4), qual seja, a construção de “um portfolio diverso de atividades que fornece o suporte social potencial em seu esforço para sobreviver e para melhorar seu padrão de vida”. Nestes termos, a pluriatividade constitui uma estratégia que permite à família e aos indivíduos acessar “ativos” – notadamente renda – que lhes conferem maior autonomia frente ao ambiente econômico instável e, principalmente, maior margem de manobra em face de crises e choques externos (ELLIS, 2000).

Na Tabela 9 pode-se perceber que a substancial diferença entre pluriativos e exclusivamente agrícolas em termos de renda agrícola10 (R$ 7.389,20 e R$ 14.924,60, respectivamente), se desfaz quando apreciada em relação à renda total11 (R$ 18.142,70 e R$ 18.400,50, respectivamente). Diante disto não restam dúvidas sobre a relevância que a pluriatividade possui para a reprodução econômica destas unidades familiares de produção. 10 Renda agrícola: proveniente das atividades agropecuárias realizadas dentro da unidade de produção. 11 Somatório de todas as rendas auferidas pela família.

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Tabela 9 – Renda Agrícola Anual (R$) e Renda Total Anual (R$) segundo o tipo de estabelecimento em Salvador das Missões (ano agrícola 2001/02).

Tipo de estabelecimento Nº

estab

Renda Agrícola em R$ Renda Total em R$

Mínima Máxima Média Mínima Máxima Média

Exclusivamente agrícola 31 146,7 137.171,8 14.924,6 2.988,8 142.025,2 18.400,5 Pluriativo 27 -2.127,2 28.736,5 7.389,2 -727,2 70.788,3 18.142,7 Fonte: Pesquisa AFDLP – UFRGS/UFPEL/CNPq (2003)

Com efeito, 71% dos estabelecimentos pluriativos referiram a necessidade de aumentar a renda familiar como principal motivo à busca por outras novas ocupações. Em 74,7% das unidades pluriativas o dinheiro proveniente destas rendas foi efetivamente utilizado nas despesas familiares, sendo que, em 38,1% dos estabelecimentos, a maior parte do recurso foi utilizada na alimentação da família; em 23,8%, para despesas pessoais de todo tipo (vestuário, remédios, etc.); em 19,0%, para investimentos produtivos e; em 19,0%, empregado tanto para investimentos na propriedade como para aumentar o conforto doméstico (AFDLP, 2003).

Finalmente, a Tabela 10 demonstra que as unidades pluriativas possuem menor externalização vis-à-vis aquelas exclusivamente agrícolas. Note que o consumo intermediário médio situa-se em cerca de 14 mil reais nas unidades exclusivamente agrícolas e em 7 mil reais nas pluriativas.

Tabela 10 – Consumo Intermediário (R$) segundo o tipo de estabelecimento em Salvador das Missões (ano agrícola 2001/02).

Tipo de estabelecimento Nº

estab.

Consumo Intermediário em R$

Mínimo Máximo Médio

Exclusivamente agrícola 31 1.312,84 92.466,73 13.954,94 Pluriativo 27 416,75 31.471,94 7.049,46 Fonte: Pesquisa AFDLP – UFRGS/UFPEL/CNPq (2003)

Isto se deve ao fato de que, apesar da pluriatividade não implicar afastamento dos

mercados, ela constitui-se em um fenômeno que expressa uma espécie de mercantilização que acontece associada a um novo estágio de integração, o qual se dá pela via do mercado de trabalho, não acarretando, então, aumento do grau de externalização.

6. Pluriatividade e estilos de agricultura Uma leitura descontextualizada de alguns trabalhos de Ploeg sobre estilos de

agricultura (e.g. “Labor, markets, and agricultural production” publicado em 1990) pode sugerir ao leitor que diferentes estilos emergem como respostas diretas a uma determinada posição no mercado. Isto também ocorre porque grau de dependência aos mercados e maior ou menor orientação ao padrão tecnológico prevalecente, constituem duas dimensões recorrentes nas tentativas de tipologizar diferentes estilos de agricultura. Entretanto, como afirmado alhures neste artigo, o desenvolvimento de determinadas inter-relações com os mercados não representa causalidade linear à constituição de um estilo específico (LONG e PLOEG, 1994).

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Um estilo de agricultura representa um discurso prático ou um conjunto de noções estratégicas que os agricultores desenvolvem à cerca do que consideram o melhor modo de organizar suas unidades de produção e a vida social. Na composição destes estilos associa-se um amplo repertório de estratégias, as quais demonstram os projetos articulados pelos agricultores com vistas à reprodução social, econômica e cultural do grupo familiar.

Deste modo, qualquer relação linear que se estabeleça entre uma ou mais variáveis (e.g. grau de mercantilização ou externalização) procurando definir aquilo que Whatmore (1994) chama de tipologias realistas de estilos de agricultura para encontrar tendências coerentes de relações com uma determinada estratégia, provavelmente cai no mesmo tipo de equívoco. Isso porque, da mesma forma que os estilos, as estratégias também não são articuladas a partir de uma ou outra causa particular.

No que se refere especificamente à pluriatividade isso é manifesto, por exemplo, quando os agricultores de Salvador das Missões arrolam os motivos que os levam a recorrer a esta estratégia onde, apesar de predominarem referências à necessidade de incremento da renda familiar, associadas aparecem explicações como a falta de terra para produzir, o estímulo dos pais para sair da agricultura, a busca por outra opção profissional, o interesse e o gosto pela atividade, a procura por uma receita que possa ser utilizada em bens para conforto pessoal ou no pagamento dos estudos, a busca por independência financeira e reconhecimento familiar e social, etc. Inclusive, na maior parte das situações é muito provável que na ausência destes motivos a possibilidade de incrementar a renda familiar sequer constitui determinante suficiente ao empreendido da pluriatividade.

Agora, ratificado o imperativo de o pesquisador focalizar os estilos de agricultura e as estratégias reprodutivas a partir de seus diversos elementos constituintes, também é importante ter em mente a necessidade de estabelecer algum tipo de recorte metodológico para apreender a heterogeneidade. Neste sentido, Ploeg (1994) parte para tipologias em uma perspectiva eminentemente hermenêutica, com categorias folk que focalizam os discursos representacionais dos agricultores em relação a si mesmos e aos demais. Nesta perspectiva, o autor tem procurado explorar processos comportamentais, associando as práticas agrícolas ao repertório de discursos mobilizados para justificá-las. Todavia, este tipo de opção metodológica tem grande risco de desconsiderar o fato de que os discursos dos atores sociais são sempre parciais e, não raro, contraditórios em sua interligação com as práticas (ver WHATMORE, 1994).

Como argumentado outrora, na análise aqui proposta o foco recai mais diretamente sobre as estratégias. Assim, as unidades familiares pluriativas são subdivididas de acordo com as principais estratégias empreendidas pelo grupo familiar. Com isso espera-se visualizar (mesmo que parcialmente) como a pluriatividade é articulada como uma estratégia de diversificação dos modos de vida que é diferencialmente desenvolvida de acordo com as características de cada estilo de agricultura. É necessário aludir, contudo, para o caráter absolutamente exploratório com que os dados são apresentados, uma vez que decorrem de uma abordagem muito embrionária no Brasil.

Assim, mesmo assumindo uma perspectiva reconhecidamente limitada do ponto de vista do repertório de estratégias reprodutivas, optou-se por considerar unicamente aquelas estratégias que se mostram mais relevantes à formação da renda familiar; o que reproduz a centralidade que a variável renda tem assumido nos estudos de Ellis (2000; 1998) sobre estratégias de diversificação dos modos de vida. Neste sentido foram identificados

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preliminarmente quatro estilos de agricultura (ver Tabela 11).12 O primeiro compreende unidades familiares relativamente especializadas na produção de leite. O segundo engloba unidades familiares que têm optado por um conjunto diversificado de estratégias de produção agropecuária. O terceiro refere-se a unidades signatárias do projeto da modernização que estão se reproduzindo basicamente em função da especialização na produção de uma ou mais culturas de lavoura e, em especial, da soja. O quarto abarca unidades familiares que possuem as atividades não-agrícolas fora da unidade de produção como principais responsáveis pela renda familiar.

Os dados apresentados na Tabela 11 manifestam a heterogeneidade entre estes estilos em relação a um conjunto de indicadores sócio-econômicos. Neste sentido, algumas informações se destacam. Por exemplo, naquelas unidades onde há uma primazia das rendas não-agrícolas é expressivo perceber a menor média de área própria de terras em relação às demais. De fato, como indicado outrora, este parece ser um fator relacionado ao desenvolvimento da pluriatividade e à conformação de estilo de agricultura onde as rendas não-agrícolas são as mais expressivas.

De outro modo, haja vista o nível de mecanização da produção agrícola no município, é surpreende que as unidades pluriativas onde é predominante a produção especializada de soja apresentam os maiores valores de UTH familiar, UTH total e número de residentes por estabelecimento. Não há uma explicação a priori para esta constatação, mas pode ser que ela esteja relacionada ao evidenciado por Niederle (2007) de que estas unidades relativamente especializadas na soja operam com lógicas distintas, as quais são derivadas de diferenciações sócio-econômicas que não estão explicitas aqui e que seriam responsáveis por configurar estilos ou sub-estilos diferenciados.13

Além disso, causa certa estranheza o fato de que são justamente as unidades mais especializadas na produção de leite, uma atividade reconhecidamente intensiva em termos de trabalho, aquelas que apresentam os menores valores de UTH familiar, UTH total e residente e, de outro modo, também revelam os valores mais expressivos em termos de produto bruto de autoconsumo14. Explicações a esta situação terão de ser exploradas em trabalhos futuros, mas isto parece corroborar a afirmação de que o exercício da pluriatividade não está unicamente associado às condições técnico-produtivas da unidade produtiva, mas ao fato de que existem lógicas e representações individuais e familiares distintas sobre este tipo de estratégia.

12 Como destacado anteriormente, o número de estilos varia de acordo com o ponto de entrada do pesquisador e, deste modo, não está isento do modo como este percebe a realidade (ver Howden e Vanclay, 2000). 13 Segundo Niederle (2007), algumas unidades que reproduzem esta estratégia caracterizam-se por serem altamente externalizadas, capitalizadas e tecnificadas, mas que conseguem manter níveis de produção e produtividade relativamente altos em função de eficiência técnica e escala de produção. Neste caso, o discurso dos agricultores a classifica como uma estratégia dos “grandes”. De outro lado, estão casos que demonstram que este tipo de especialização não necessariamente é acompanhado de extensificação, tampouco de altos níveis de produção, renda agrícola, capital disponível ou consumo intermediário. Nesta situação encontra-se um conjunto de unidades estruturalmente incapazes de acumular capital, mas que permanecem dependentes do monocultivo da soja em virtude de necessidades econômicas de retorno financeiro imediato para garantir a sobrevivência do grupo familiar ou para o pagamento de dividas acumuladas. 14 Refere-se ao somatório da quantidade de produtos vegetais autoconsumidos multiplicado pelo valor de venda destes alimentos e da quantidade de produtos animais autoconsumidos multiplicado pelo valor de venda destes alimentos. Não foram descontados os custos de produção e a depreciação

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Tabela 11 – Indicadores sócio-econômicos médios dos agricultores pluriativos de Salvador das Missões segundo distintos estilos de agricultura.

Indicadores sócio-econômicos (valores médios)

Estilos com produção de leite

especializada

Estilos com produção agrícola

diversificada

Estilos com produção de soja

especializada

Estilos com primazia de rendas não-agrícolas

Área própria (ha) 12,63 14,08 12,35 7,65

UTH Familiar Total 2,49 3,27 4,29 3,37

UTH Total 2,56 3,33 4,34 3,37

Residentes por Estabelecimento 3,50 4,54 6,75 4,75

Produto Bruto Autoconsumo (R$) 6.470,48 5.193,15 2.446,41 2.048,50

Produto Bruto Venda (R$) 12.304,69 12.539,09 7.833,38 1.476,10

Produto Bruto Total (R$) 18.775,16 17.732,24 10.279,79 3.524,60

Capital Disponível (R$) 17.975,07 15.170,08 11.699,44 11.112,55 Fonte: Pesquisa AFDLP – UFRGS/UFPEL/CNPq (2003)

Na tabela 12 demonstra-se (em termos percentuais) a relevância de cada fonte de

renda para cada estilo de agricultura. No primeiro estilo, apesar da maior expressão assumida pelas rendas provenientes das atividades agrícolas, também assumem papel destacado as rendas de transferências sociais e as rendas de atividades não-agrícolas. No segundo, as rendas de atividades agrícolas têm maior destaque, mesmo assim as demais rendas somam mais de 40% da renda total. Nestes dois estilos, a magnitude da renda agrícola deve-se ao fato de que a produção de leite e a diversificação da produção agropecuária possibilitaram a manutenção dos níveis médios de produtividade em um ano marcado pela seca (como foi o ano de referência dos dados), algo que não foi possível em relação à soja, por exemplo. Isto também explica a menor participação da renda agrícola (19,4%) naqueles estilos relativamente especializados na produção de soja. Deste modo, as unidades deste grupo dependeram, sobretudo, das rendas auferidas em atividades não-agrícolas para garantir a reprodução do grupo familiar (62,1%).

Tabela 11 – Diferentes fontes de renda dos agricultores pluriativos de Salvador das Missões segundo distintos estilos de agricultura.

Fonte de renda

Estilos com produção de leite

especializada

Estilos com produção agrícola

diversificada

Estilos com produção de soja

especializada

Estilos com primazia de rendas

não-agrícolas

N % N % N % N %

Agrícola 8.399,59 46,1 8.967,10 58,6 5.601,99 19,4 588,18 3,6

Atividades Não-agrícolas 3.975,00 21,8 2.908,08 19,0 17.907,50 62,1 14.065,00 85,4

Transferências Sociais 4.745,03 26,0 1.693,36 11,1 4.907,53 17,0 1.213,36 7,4

Outras rendas do trabalho 1.096,51 6,0 1.731,85 11,3 405,10 1,4 599,99 3,6

Total 18.216,13 100,0 15.300,39 100,0 28.822,03 100,0 16.466,53 100,0 Fonte: Pesquisa AFDLP – UFRGS/UFPEL/CNPq (2003)

Como dissemos estas são algumas questões preliminares em relação à discussão sobre

pluriatividade e estilos de agricultura. Outras dimensões serão abordadas à medida que avancemos na discussão metodológica sobre esta abordagem, que tem se demonstrado bastante promissora à compreensão da heterogeneidade da agricultura. Por hora, o importante

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é reconhecer a existência desta heterogeneidade e a complexidade da associação entre distintos estilos de agricultura e as estratégias que os compõem.

7. Considerações finais

Os dados apresentados neste estudo revelaram a complexidade de dimensões envolvidas no exercício de múltiplas ocupações pelos agricultores familiares. Neste sentido, demonstrou-se como a pluriatividade emerge junto a um amplo e multifacetado processo de mercantilização da vida econômica e social no meio rural, o qual foi responsável por estabelecer vínculos mais estreitos e diretivos entre agricultores e mercados, mas também possibilitou a emergência de novas alternativas de reprodução econômica, social e cultural.

Ao mesmo tempo, aludiu-se à capacidade dos agricultores de construírem espaços de manobra em meio a contextos adversos e múltiplas respostas em contraponto a uma inserção subordinada a determinados mercados, as quais levam à formatação de distintos estilos de agricultura. Dentre estas estratégias, sustentou-se como a pluriatividade encerra uma forma particular de mercantilização que acontece ao nível do mercado de trabalho. E, justamente por encerrar uma mercantilização diferenciada, revela implicações distintas daquelas demonstradas por uma inserção subordinada em mercados de fatores de produção e insumos, onde o que sobressaí é o crescente aumento do grau de externalização das unidades familiares de produção e, deste modo, a dependência dos agricultores a recursos controlados por atores externos.

Seguramente, muitas questões relacionadas à temática deste estudo permanecem em aberto. Não poderia ser diferente, haja vista a amplitude dos temas aqui discutidos, alguns muito sumariamente. Dentre várias questões que merecerão maior atenção em estudos futuros, aspectos teóricos e metodológicos relacionados à abordagem dos estilos de agricultura e às relações que se estabelecem entre estes estilos e os diversos tipos de pluriatividade são as mais instigantes.

Não obstante, acreditamos que as questões levantadas aqui são suficientes para rejeitar perspectivas que simplificam o fenômeno da pluriatividade desconsiderando os múltiplos elementos que fazem com que esta estratégia revele-se de modo multifacetado e heterogêneo.

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