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A Política Exterior Do Brasil Nas Relações Com a América Do Sul Nos Governos Fhc e Lula

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  • A POLTICA EXTERIOR DO BRASIL NAS RELAES COM A AMRICA DO SUL NOS GOVERNOS FHC E LULA

    dio Pullig Fernandes*

    Resumo:

    O presente estudo tem como proposta analisar a poltica exterior do Brasil nas relaes com a Amrica do Sul nos governos de Fernando Henrique e Lula, pesquisando se houve ou no uma maior aproximao com os demais pases sul-americanos durante suas gestes, em contraposio

    a um histrico onde as relaes exteriores do Brasil com as demais naes da Amrica do Sul. Estas foram tradicionalmente marcadas por um clima de isolamento, onde o Estado brasileiro, desde o seu processo de construo, via-se numa possvel eminncia diante dos pases hispano-americanos. Porm, nos primrdios dos anos de 1990, notamos uma possvel ruptura nessa poltica externa com o advento do Mercosul, reunindo-se assim, Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina, na busca de uma unio alfandegria, com liberao do comrcio entre os pases.

    Palavras-chave

    Relaes exteriores FHC e Lula Amrica do Sul

    Abstract:

    Our goal is the analysis of the brazilian external policy in the relations with South America during Fernando Henriques and Lulas governments, researching if there was a larger approach

    among Brazil and the other south-american countries during their governments, opposed to the historical fact, where the external relations between Brazil and the other south-american countries

    were traditionally marked with isolation, when the brazilian State, since its creation, was outstanding when compared to the hispan-american countries. However, in the early 1990s, we can see a possible rupture in this external policy with the outcome of the Mercosul, wich

    * Instituio de origem: Universidade Severino Sombra

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    caused the gathering of Brazil, Uruguay, Paraguay and Argentina, seeking a tax union, with trade liberation among those countries.

    Key words

    External relations FHC and Lula South America

    A poltica exterior entre o Brasil e os demais Estados sul-americanos foi marcada durante extensos momentos por um aspecto conflituoso. Enquanto no processo de emancipao poltica

    as colnias hispano-americanas tornaram-se independentes brandindo a bandeira republicana aps uma luta sangrenta1, o Brasil emergiu como monarquia, com a elevao do herdeiro do trono portugus ao ttulo de imperador do novo Estado. Edificou-se nesse ponto, um momento que iria gerar grandes querelas e um isolamento do Brasil no cenrio sul-americano por todo o sculo XIX.

    Diante de sua monarquia detentora de um poder centralizado, muito embora no apaziguadora de conflitos, os outros, eram vistos como o mago da desordem, da fragmentao e da beligerncia. O Imprio Brasileiro, fomentado pela unio, deveria combat-los, tornar-se a oposio mais rgida contra o ideal republicano, enquanto para os hispano-americanos, o inimigo no era o povo brasileiro, mas sim a monarquia e o imperador. Era contra eles que a guerra deveria apontar. Para os argentinos, por exemplo, o Imprio Brasileiro possua uma identidade europia e anti-americana.

    Malgrado o conflito ideolgico e poltico, tambm se erguiam conflitos no que tange s questes fronteirias, como no caso da provncia Cisplatina, onde Brasil e Argentina duelaram, cada um reivindicando suas fronteiras naturais e seus direitos sobre a ento Banda Oriental. Desta

    forma, nossas relaes no perodo aps a Independncia, sobretudo com os nossos mais prximos parceiros comercias (Argentina, Uruguai e Paraguai) foram marcadas pela tenso. No obstante o embate entre Brasil e Argentina, ainda houve a Guerra do Paraguai, em que Brasil, Argentina e

    1 Esse o diferencial da Amrica Espanhola, ou seja, as independncias foram conquistadas aps cerca

    de 15 anos de guerra contra a Espanha, diferentemente do caso brasileiro.

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    Uruguai se uniram numa Trplice Aliana contra aquele que nomeia a guerra, num dos episdios mais sangrentos e discutidos da histria da Amrica Latina. Com a Proclamao da Repblica, pelo menos em tese, esse quadro de distanciamento e conflitos entre o Brasil e os demais Estados que eram ex-colnias espanholas deveria mudar, j que o embate poltico ideolgico entre Repblicas e Imprio poderia ser superado. Contudo, o quadro de distanciamento com a Amrica do Sul se manteve, havendo apenas tentativas de aproximao com os EUA. Com efeito, nos primrdios do sculo XX, ainda estvamos envoltos num conflito com a Bolvia por questes fronteirias, de onde resultou a anexao do que hodiernamente chamamos de Acre, hoje um estado da federao, no felizmente ltimo conflito com nossos vizinhos(NOVAES, 2006, 26) . Sendo assim, as distines que edificavam um fosso entre Brasil e os demais pases sul-americanos permaneceram, sob a gide das mesmas argumentaes anteriores. E, como bem registra Maria Lgia Prado, [...] a monarquia precisava ser superada, mas isto no significava destruir o que ela havia legado a nao, a comear pela manuteno da unidade e grandeza do territrio (PRADO, 2001, 139). Ressaltamos, assim, que a Proclamao da Repblica no foi o marco divisor no fim dos conflitos entre Brasil e os hispano-americanos, e tambm no foi o divisor de guas que inicia nossa aproximao e identificao como um todo, portador de mais similaridades que antagonismos. Foi somente na era Vargas, aps aproximadamente quatro dcadas de perodo republicano, que se deu um primeiro momento de aproximao com a Amrica do Sul. No entanto, com o aparecimento das ditaduras militares na Amrica Latina no incio dos anos 1960, a pequena integrao que o Brasil comeou a buscar a partir de Vargas mais uma vez condenada. rgos como a Associao Latino-americana de Livre-comrcio (Alalc), que havia melhorado muito as relaes comerciais inter-regionais, tendo inclusive transitado por meios que previam uma integrao poltica, substituda pela Associao Latino-americana de Integrao

    (Aladi), com objetivos mais tmidos, focando-se mais na questo de uma complementaridade industrial. Foi um momento onde a poltica externa voltada integrao latino-americana se

    reduziu a ndices nfimos. Muito embora, tambm no perodo das ditaduras militares que notamos uma integrao sombria: a Operao Condor, que consistia numa cooperao, consistente em uma rede de trocas de informaes entre os governos latino-americanos, para facilitar as perseguies polticas, a represso e a eliminao dos militantes polticos.

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    Paradoxalmente a esse quadro condoriano, o mais improvvel aconteceu no interregno militar, que foi a emergncia de uma integrao cultural, desde a literatura romancista at as discusses sociolgicas. Autores como o colombiano Gabriel Garca Mrquez, vencedor do prmio Nobel de literatura de 1982, com o j clssico livro Cem anos de Solido, tornaram-se figuras populares entre a elite e a classe mdia letrada brasileira. Assim como se deu essa absoro da literatura latino-americana no Brasil, tambm se verificou um processo de exportao do cinema brasileiro aos pases hispano-americanos.

    Com o processo de reabertura poltica nos anos 1980, captamos uma nova tomada de rumo nas integraes, at que, na primeira metade da dcada de 1990, emerge um novo plano de integrao econmica sul-americana, onde Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai se uniram em torno do

    chamado Mercosul, na busca de uma unio alfandegria, com aguda liberao do comrcio entre as partes, muito embora ainda no representando um mercado comum em sua maior plenitude. Hoje, o comrcio do Mercosul j se encontra em nveis altos de crescimento, tornando pases como o Brasil e a Argentina grandes parceiros. Mesmo ainda dependentes das relaes comerciais com os norte-americanos e o Velho Mundo, nunca as relaes comercias no Cone Sul criaram bases to slidas e consistentes. Por fim, no presente trabalho, o qual se encontra em estgio inicial de desenvolvimento, nosso objetivo perscrutar a poltica externa do Brasil nas relaes com a Amrica do Sul nos governos FHC e Lula, buscando captar se houve ou no uma maior aproximao com as naes Sul-americanas, por meio de propostas ou projetos. Com efeito, enfocaremos de forma mais especfica questes como o Mercosul, objeto este de mltiplas interpretaes sobre sua importncia na integrao internacional sul-americana, e tambm buscaremos observar as perspectivas que ambos os governos analisados tinham sobre a Amrica do Sul. No que tange s fontes utilizadas na pesquisa, sero utilizadas desde entrevistas com membros do governo, passando por textos oficiais, at textos de imprensa.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:

    NOVAES, Adauto (org). Oito Vises da Amrica Latina. So Paulo: Editora Senac, 2006. PRADO, Maria Lgia Coelho. O Brasil e a distante Amrica do Sul. IN: Revista de Histria, n.

    145, So Paulo, USP, 2001.

    VIZENTINI, Paulo Fagundes. Relaes Internacionais do Brasil de Vargas a Lula. So Paulo: Fundao Perseu Abramo, 2003.