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A Primeira Legião cap. 18

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Fanfic criada por pegasusdmac e traduzida por .mafia dos livros.

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OOOO PRIMEIRO PENSAMENTO DE PERCY PRIMEIRO PENSAMENTO DE PERCY PRIMEIRO PENSAMENTO DE PERCY PRIMEIRO PENSAMENTO DE PERCY foi eu estou em sérios problemas. Deve ter sido porque ele acordara amarrado numa cama pelos pulsos e tornozelos com alguma forma antiquada de algemas. E mais uma vez, talvez fosse os arredores não habituais, a tenda de tecido em que ele estava, a floresta em volta ou as vo-zes de vários adolescentes do lado de fora da tenda, nenhum dos quais ele reco-nheceu. Mas o que na verdade estava pensando, disse em voz alta:

— Annabeth vai me matar.

Imediatamente, ao som de sua voz, duas das crianças fora da tenda passa-ram para dentro. Elas eram da idade de Percy, provavelmente dezesseis ou de-zessete anos de idade. A garota era meio alta, mas forte, não como tendo um corpo musculoso, mas sim o de uma nadadora olímpica. Ela tinha escuros olhos marrons e cabelo em mechas. Seu cabelo estava para trás num rabo de cavalo que era tão comprido que passava metade do caminho da cabeça até o chão na sua armadura. Uau, espere, armadura? Percy piscou os olhos. É, armadura, como armadura de batalha que parecia ter um milhão de anos. Com couraça no peito, nas costas, nas canelas e nos braços, o garoto que entrara na tenda com ela ainda tinha um elmo de metal, mas não do estilo de um capacete de bicicleta, e sim um daqueles elmos que você veria um gladiador usar na Roma antiga. Ainda tinha uma pluma de cavalo roxa que combinava com sua camiseta. Ele era um cara alto e muito musculoso. Ele também usava armadura, e tinha uma espada embainhada ao seu lado. Eles pareciam que tinham acabado de sair de uma Feira da Renascença. Suas roupas os faziam parecer meio ingênuos, e os olhares zan-gados nos seus rostos eram perfeitamente iguais.

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— Onde estou? — perguntou Percy.

— Nós fazemos as perguntas — disse a garota.

Percy lutou contra as algemas quase virando a cama, o que não teria sido uma queda ruim, considerando que só estava a uns trinta centímetros do chão, mas iria se encarar plantado em lama e folhas, então pensou que era melhor não lutar mais.

— Me desamarrem — exigiu Percy.

— Você só fala quando lhe é dito para falar — avisou a garota.

Percy começou a lutar com suas algemas novamente, tomando cuidado para não derrubar a cama.

— Me soltem!

O garoto alto puxou sua espada e colocou a ponta na garganta de Percy. Percy parou de lutar.

— Seria um ato sábio você ouvir Gwendolyn — falou. — Eu odiaria ter que acabar com você antes de ter a chance de explicar-se.

De algum modo, Percy duvidou daquilo. Esse cara poderia ficar rosa para matá-lo, mas embainhou a espada e afastou-se para dar espaço a Gwendolyn.

— Qual é o seu nome, estranho? — ela perguntou.

Percy não disse nada. Ele só ficou deitado ali meio que em estado de cho-que por ter uma espada na garganta.

— Responda! — ordenou o garoto alto que sacudiu Percy do seu entor-pecimento.

— Percy Jackson.

— Como você chegou aqui, Percy Jackson? — perguntou ela.

— Eu… eu não sei. Eu simplesmente acordei aqui — disse Percy.

— Você sabe onde está? — continuou ela.

Percy olhou ao redor. Ele estava numa pequena tenda, talvez uma 8x8 com uma única cama (a cama que ele estava amarrado). Não era como uma tenda de acampamento. Tinha a forma de uma tenda de cozinheiro. Era quadra-da com um telhado triangular todo feito de um lençol branco de tecido. A letra X estava pintada num lado de roxo. O tecido estava dividido em um lado da tenda e um pedaço estava posto para parecer um vão de entrada. Lá fora havia

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árvores, várias árvores, como uma floresta. Haviam outros adolescentes vestidos com armadura juntos em todo o lugar e mais tendas estavam pontilhadas por toda a floresta.

Percy olhou para ela e disse:

— Vamos ver… suponho que esse não seja o Central Park.

Ela olhou para o garoto alto.

— Bobby, levante ele. Amarre suas mãos. Vamos levá-lo para Reyna.

Percy foi escoltado por Gwendolyn e Bobby para uma tenda diferente a aproximadamente dezoito metros da tenda que ele estava sendo tomado como prisioneiro. Ele receberam vários olhares dos outros adolescentes, mas ninguém disse uma palavra ou ainda exibiu um sorriso. Percy teve a sensação que esse era um grupo muito sério e disciplinado de loucos. Seriamente, o que essas crianças estavam fazendo ali fora na floresta? Percy ainda não vira o adulto responsável. Adolescentes não supervisionados manejando verdadeiras espadas, machados e outras armas de morte dolorosa, para falar a verdade, até parecia um pouco le-gal. Eles pararam na entrada de uma tenda que era maior que a última. Tinha um I roxo pintado nela e duas bandeiras roxas estavam ondeando em cada lado da entrada. Eles realmente deviam adorar a cor roxa.

— Espere aqui — disse Gwendolyn para Bobby antes de caminhar para dentro da tenda.

Percy olhou para Bobby. Ele ainda tinha aquele olhar zangado no rosto.

— Então, hã, Bobby, não é? — começou Percy. — O que é esse lugar?

— Acampamento de treino — disse Bobby num tom sério.

Percy olhou ao redor e perguntou:

— Treino para quê?

— Sem mais perguntas — disse Bobby enquanto Gwendolyn voltava para o lado de fora.

— Reyna irá te ver agora — falou para Percy.

Percy, com as mãos ainda amarradas nas costas, caminhou para a tenda, mas Gwendolyn e Bobby não seguiram. Eles ficaram na entrada como se mon-tassem guarda. Guarda para quê? Quem sabe?

A tenda era 12x12 agora, mas tinha o mesmo design simples como todas as tendas no acampamento. Era mal mobiliada; só uma mesa de madeira com

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papéis e mapas espalhados na sua superfície, que fazia ela parecer mais como uma mesa de escritório, e três cadeiras, e só uma delas estava vazia. Uma garota ocupava a cadeira atrás da mesa e um garoto estava sentado em uma das duas cadeiras no outro lado. Eles se levantaram quando Percy entrou. A garota, Rey-na presumivelmente, era um pouco mais alta que o normal. O seu cabelo ondu-lado na altura do ombro era de uma cor loira arenosa. Ela tinha olhos azuis cinti-lantes, e se ela sorrisse (Percy teve a sensação que era uma alegria rara), esse sor-riso provavelmente iluminaria o mundo inteiro. Ela radiava como o sol. Até a sua armadura parecia luzir mais viva que qualquer outra. Talvez ela só tivesse polido ou algo parecido. O garoto era exatamente o contrário. Ele parecia um pouco mais velho que a maioria das crianças aqui. Esse garoto era meio amarelo também. Ele tinha cortes como papel de embrulho em manhã de natal. Ele tinha um cabelo bastante preto puramente cortado em estilo militar. Sua armadura era de couro, ao contrário da maioria que usava armadura de bronze. Ele deu um sorriso e uma piscadela para Percy que mandou um calafrio pela sua espinha. Esse garoto não era nada a não ser problema.

— Percy Jackson — chamou-o Reyna. — Eu sou Reyna, pretora interina da Primeira Legião. Esse é o meu primeiro tenente, Dakota. Sente-se.

Todos os três se sentaram, e Percy olhou para Reyna vagamente.

— Você sabe o porquê de estar aqui, nesse acampamento, Percy? — ela perguntou.

— Eu devo ter me perdido ou desmaiado, algo assim. Não tenho ideia de como cheguei aqui ou até mesmo o que é isso aqui — respondeu Percy.

— Qual é a última coisa que você lembra? — continuou Reyna.

— Hã... eu estava indo para o metrô. Eu ia cruzar a cidade para encontrar Annabeth. Nós dois começamos as férias de inverno cedo, e íamos assistir a um filme. Ah, ela vai ficar louca por eu não ter aparecido. Hã... bem, a coisa seguin-te que eu sei é que estou aqui, acorrentado numa cama — explicou Percy.

Dakota abriu um sorriso como seu o pensamento de Percy acorrentado numa cama o entretesse.

— Quantos anos você tem, Percy? — pergunta Reyna. — Quinze, dezes-seis?

— Dezesseis — confirmou Percy.

Ela olhou para Dakota e sacudiu a cabeça.

— Nunca são tão velhos. Eles são sempre só crianças.

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Dakota olhou para Percy de cima para baixo.

— Pode ser só um mortal perdido na sua rotina.

— Talvez — ela disse —, mas olhe a hora, não pode ser coincidência.

— Claro que pode — opôs-se Dakota. — Você não acha que esse garoto pequeno e insignificante tenha algo a ver com o desaparecimento de Jason, a-cha? Jason iria esmagá-lo como um inseto.

— Eu não posso acreditar que o seu repentino aparecimento não tenha nada a ver com o desaparecimento de Jason — afirmou Reyna.

Percy permaneceu quieto enquanto eles conversavam como se ele nem mesmo estivesse na sala. Ele ficou sentado ali num entorpecimento confuso que-rendo saber que era esse Jason, por que eles achavam que ele tinha algo a ver com o seu desaparecimento e quem esse Dakota estava chamando de insignifi-cante?

— Jackson! — gritou Dakota tirando Percy da sua confusão. — Cadê Ja-son?

— Quem? Eu não conheço nenhum Jason.

— Mas você sabe onde ele está — rosnou Reyna.

— Não! Eu nem sei onde é que estou! — discutiu Percy, frustrado. — Eu não sei o que vocês querem de mim! Basta me soltarem! — Percy se levantou e Dakota o empurrou de volta à cadeira. — Tire suas mãos de mim! — gritou Per-cy para ele.

— É melhor tomar cuidado com o que fala, garoto — advertiu Dakota.

— Parem — falou Reyna. — Dakota, vá preparar os testes.

— Você não está falando sério... — começou Dakota.

— Vá — ordenou Reyna.

Dakota não pareceu feliz, mas fechou o punho direito e colocou sobre o coração como um tipo de continência a ela, o que era estranho, mas Reyna fez o mesmo, e Dakota saiu da tenda.

Percy olhou para Reyna e tentou fazer um olhar de cachorrinho abando-nado.

— Poderia me desamarrar, por favor?

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— Temo que não. Não até descobrirmos quem é você. — Ela balançou a cabeça e murmurou: — Romano ou grego?

— Hã... americano — disse Percy.

Ela na verdade abriu um sorriso divertido àquela observação.

Percy encarou-a direto no rosto, silenciosamente desafiando-a. Se ela qui-sesse saber quem ele era, então sem dúvida ele iria contá-la.

— Eu sou Percy Jackson. Eu moro num apartamento no Upper East Side em Manhattan com minha mãe Sally e meu padrasto Paul. Eu sou um estudante da Goode High School. Eu tenho amigos; Thalia, Tyson, Rachel. Meu melhor amigo é Grover Underwood. Minha namorada é Annabeth Chase. Ela vai para um internato em Nova York. Ela e eu nos encontramos quatro anos atrás numa excursão escolar do Museu Metropolitano de Arte. Eu gosto de andar de skate e jogar basquete. Minha comida favorita é churrasco. Minha cor favorita é azul. Eu tenho um cachorro, um Rotweiller. Eu não fico louco em pequenos espaços, e tenho um pouco de TDAH, então você poderia por favor me tirar dessas algemas!

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PPPPERCY FOI ESCOLTADOERCY FOI ESCOLTADOERCY FOI ESCOLTADOERCY FOI ESCOLTADO de volta à tenda X por Gwendolyn e Bobby. Eles tiraram suas algemas e deram algo para ele comer enquanto o vigiavam.

Nesse meio tempo, Reyna convocou uma reunião de emergência com os oficiais seniores da legião.

— Estão todos aqui? — perguntou Reyna.

Confirmações com a cabeça vieram de todos os lados. Eles estavam na mesma tenda que Percy acabara de deixar, a tenda I, o quartel-general. Todos ficaram de pé em torno da mesa porque só haviam três cadeiras e seis oficiais. Bem, todos ficaram de pé exceto por Dakota que sentia-se como privilegiado o suficiente para sentar-se.

— Kota, a nossa presença não vale a sua atenção? — perguntou Reyna.

Dakota levantou-se lentamente como se aquela fosse a maior inconveni-ência que tivera o dia inteiro.

— Bem, já que todos estão aqui, essa reunião está agora em sessão — começou Reyna.

— Sobre o que é isso tudo? Tem algo a ver com Jason? — perguntou uma garota. Ela olhava esperançosa para Reyna com os seus bruxuleantes olhos ver-melhos.

— Hazel, acho que sim — respondeu Reyna.

Dakota tossiu.

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— Mas Kota não concorda — continuou ela. — Essa questão diz respeito à nossa mais recente chegada, Percy Jackson.

Sussurros encheram a tenda.

— Sua chegada ao acampamento só um dia depois do desaparecimento de Jason não é coincidência ou desproposital. Ele está aqui por um motivo, e precisamos determinar que motivo é esse — disse Reyna.

— Ele é um semideus? — um garoto atrás de uma das cadeiras perguntou.

— Não sabemos ainda, Alex — respondeu Reyna.

— Como se importasse — interviu Dakota. — Mesmo se ele for um semi-deus, ele provavelmente é só um filho de Vertumno, ou talvez um filho de Cu-pido aqui para te mandar admitir seu amor por Jason. — Ele olhou para Reyna.

O rosto de Reyna ficou vermelho quente. Ela estava prestes a pegar sua adaga na coxa, mas respirou fundo e se acalmou.

— Você gostaria de ser descartado dessa reunião, Dakota? — perguntou Reyna severamente.

Ele só fitou-a, sem palavras.

— Achei que não. Podemos continuar? — disse Reyna, olhando zangada em torno da sala, procurando rostos sorridentes.

Só haviam cinco outros rostos na tenda. O rosto de Dakota parecia o de um garoto de catorze anos zangado no momento. Hazel era sempre fria, calma e serena, e sua expressão sempre carregava esse sentimento, e agora não havia exceções. Com um olhar, ela era capaz de aliviar a tensão na sala e fazer todos se lembrarem do que era importante. Filhos de Vesta lidam com o trivial simples assim. A expressão de Alex era mais enigmática, como se ele tivesse um milhão de coisas passando pela sua mente de vez. Ele assentia ou sacudia a cabeça à toa como se estivesse discutindo com si próprio em silêncio. Ele odiava não ter todas as perguntas o tempo todo. Jess, a garota ao lado de Hazel, parecia muito inte-ressada nesse novo recém-chegado, Percy. Havia frustração no seu rosto devido a todas as interrupções, mas ela também havia interesse nos seus iluminados o-lhos marrons, interesse por Percy, não pela legião. Marcus estava em pé na en-trada para assegurar-se que quando a reunião fosse suspensa, ele fosse o primeiro a sair. Ele girou os olhos nas órbitas e bocejou como se tivesse um milhão de coi-sas que seria melhor estar fazendo do que prestar atenção numa reunião com um grupo de oficiais ansiosos da legião.

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— Nós precisamos discutir sobre o que fazer com Percy Jackson — conti-nuou Reyna.

— Não deveríamos levá-lo para a Madame Lupa? — perguntou Hazel.

— Ele é indeterminado — explicou Jess. — Lupa não irá lhe dar uma au-diência até que ele seja reclamado ou testado e determinado.

— Então, nós testamos ele — disse Alex.

— Kota já começou a preparar os testes. Se ele não for reclamado até o pôr do sol, começaremos os testes. Todos concordam? — perguntou Reyna.

Houve várias confirmações com a cabeça.

— E se ele não for um semideus? Alguns dos testes irão matá-lo — protes-tou Alex.

Dakota resmungou e falou:

— Isso só irá salvar-nos do problema de ter que matá-lo. Ele viu o acam-pamento. Ele já sabe demais. Não podemos permitir que ele parta. Ou ele é um semideus, ou é um morto.

O silêncio reinou na sala.

Finalmente Reyna falou:

— Então, amanhã de manhã, se ele não for reclamado. Hazel, vá para o arsenal e ache algum equipamento para Percy. Jess, explique para Percy que pos-sivelmente passará por testes físicos amanhã. Alex, prepare o outro teste. Kota, finalize as preparações. E Marcus, organize celebrações no evento se houver re-sultado positivo. Todos entenderam?

Todos assentiram. Reyna colocou seu punho direito sobre o coração. To-dos fizeram o mesmo.

— Dispensados — falou ela.

Todos começaram a sair, mas Reyna agarrou o braço de Jess.

— Posso falar com você? — perguntou para ela.

Jess assentiu e ficou para trás.

Quando todos haviam partido, ela se sentaram, cada uma numa cadeira. Jess tinha um sorriso bonito no rosto que nunca oscilava; cobria todo o espectro das suas emoções. Ela, como Dakota, preferia armadura de couro que ela usava

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bem. Ela era magra e tinha feições aguçadas. Colocou parte do seu luminoso ca-belo marrom atrás da sua pequena orelha pontuda e perguntou:

— E aí?

— Você é boa com recém-chegados. Você acha que poderia falar com o Percy? Tentar arrancar a verdade dele? — perguntou Reyna.

— Você acha que ele etá escondendo alguma coisa? — perguntou Jess.

— Ele diz que leva uma vida mortal; uma vida normal e medíocre — ex-plicou Reyna.

— Mas você está convencida de que ele é um semideus — disse Jess.

— Você não pode sentir? — perguntou Reyna.

Jess assentiu.

— É bem fraco, mas está lá. É bem provável que nem ele possa sentir. Mas um semideus não sobrevive até os dezesseis anos sozinho, muito menos leva uma vida normal, leva? Eu nunca ouvi falar de algo parecido.

— É por isso que acho que ele está mentindo de onde veio — falou Rey-na.

— Bem, de onde ele poderia ter vindo? — perguntou Jess.

— Vou te contar uma coisa que você nunca deverá repetir, entendeu? — falou Reyna para Jess numa voz severo e quase ameaçadora.

— Entendi — concordou Jess.

— Existem outros semideuses por aí que lutam contra as forças do mal e do caos assim como nós — explicou Reyna.

— Eu nunca ouvi falar dessa legião — disse Jess, levemente confusa.

— Eles não são uma legião romana. Eles são gregos — continuou Reyna.

— Gregos? Como isso é possível? — perguntou Jess, agora mais confusa ainda.

— Somos todos fomos ensinados de como os deuses podem estar em mais de um lugar ao mesmo tempo, consciência dividida, certo? Mas o que não nos ensinaram é que os deuses têm também diferentes aspectos de suas personalida-des, principalmente romanos e gregos. É por isso que os deuses às vezes ficam pelos seus nomes gregos — explicou Reyna.

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— Porque eles estão no seu aspecto grego. Faz sentido — concordou Jess.

— Os filhos dos deuses no seu aspecto romano são semideuses romanos — falou Reyna. — A maioria acaba aqui conosco quando são jovens e ficam com a legião até a maioridade. Filhos dos deuses no seu aspecto grego são semi-deuses gregos, e a maioria deles vai para o acampamento grego.

— Você não pode estar falando sério. Como eu nunca ouvi falar em se-mideuses gregos ou um acampamento de treino grego ou até encontrar algum deles em missões ou em batalha? — perguntou Jess em incredulidade.

— Bem, Jess, acho que você está prestes a encontrar um — disse Reyna.

— Você acha que Percy é um semideus grego que está mentindo sobre is-so? Pra que mentir? — perguntou Jess.

— Os semideuses romanos e gregos são notáveis por lutar uns com os ou-tros mais do que lutar pela causa — explicou Reyna. — Eles tiveram uma guerra civil que quase destruiu ambos. Depois daquilo, foi acertado que semideuses ro-manos e gregos seriam separados e nunca saberiam da existência dos outros.

— Como você sabe tudo isso? — perguntou Jess.

— A Madame Lupa me disse a muito tempo atrás — falou Reyna.

— Por que ela falou para você e para mais ninguém? — perguntou Jess sentindo um pouco de ciúme.

— Porque eu sou uma filha de ambos os mundos — explicou Reyna. — Eu sou uma filha de Apolo, que o seu nome e aspecto são os mesmos no mundo romano e grego. Eu fui trazida para a Casa dos Lobos quando tinha seis anos de idade, e me foi dada uma escolha: viver como uma romana ou viver como uma grega. Eu escolhi viver como romana.

— É como você tem tanta certeza que Percy é um semideus. Você sente a presença divina melhor por causa do seu lado grego — adivinhou Jess.

— Exatamente — concordou Reyna.

— Então você não deveria falar com ele ao invés de mim? — perguntou Jess.

— Não. Eu estou muito próxima disso, emocionalmente investida. Preciso de alguém objetivo para cuidar disso — disse Reyna com desespero na voz.

— Por causa do seu lado grego ou por causa de Jason? — perguntou Jess o mais refinado que pôde.

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Reyna só olhou para ela.

Jess respirou fundo e disse:

— Ok, serei a mensageira. É o que faço de melhor.

Reyna olhou dentro dos olhos de Jess e deu um aviso firme:

— Essa conversa nunca aconteceu, Jess.

Jess se levantou e fez continência para Reyna.

— Você pode confiar em mim — disse Jess.

Reyna se levantou e retornou a continência. Ela assentiu para dispensar Jess. Jess saiu da tenda.

Reyna sacudiu a cabeça.

— Confiar... no que eu estava pensando? Ela é uma filha de Mercúrio — murmurou sob a respiração, depois fez uma reza silenciosa aos deuses para que Jess mantesse a boca fechada.

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RRRREYNA SENTOU NA SUA MESA, LENDO RELATÓRIOSEYNA SENTOU NA SUA MESA, LENDO RELATÓRIOSEYNA SENTOU NA SUA MESA, LENDO RELATÓRIOSEYNA SENTOU NA SUA MESA, LENDO RELATÓRIOS de status, atualizações de missões de patrulha e queixas formais (a maioria contra Dakota). Ela estava tentando se concentrar, mas sua mente continuava vagueando. O estresse de tudo estava realmente começando a alcançá-la. O acampamento estava em angústia, e foi assim desde o fim do verão. Mais da metade da legião fora perdida na batalha no Monte Tam, incluindo todas as três das suas irmãs; ela foi a única filha de Apolo a sobreviver. Jason estava fazendo o melhor que podia para erguer de volta a legião, mas quarenta soldados não se é muito para trabalhar. Haviam novos semideuses crianças chegando ao acampamento, certo, mas crianças de cinco ou seis anos dificilmente ajudariam a situação. Eles eram a próxima gera-ção; essa geração estava se desintegrando, e agora Jason estava desaparecido. Ele simplesmente desapareceu da sua tenda duas noites atrás. Os partidos de busca não tiveram sorte alguma demarcando a sua localização, e nem Madame Lupa podia sentir onde ele estava. Lupa sempre foi o amparo da legião romana. Ela age como uma protetora, conselheira, disciplinadora e treinadora. Ela traz or-dem ao caos, ou pelo menos trazia. Desde o Monte Tam, ela ficara distante e deprimida, o que era entendível. Ela é um lobo e pensa nos semideuses como seus filhotes. Ela perdeu muitos. Os romanos eram um grupo valentão, mas a legião inteira estava sofrendo de diferentes graus de TEPT, e Lupa não era exce-ção. Ela mal deixava sua caverna desde a batalha e não ia para a Casa dos Lobos há meses. Reyna, como primeira tenente de Jason, assumiu como pretora quan-do ele desapareceu. A legião era de sua responsabilidade agora. Seu pai uma vez lhe disse que ela iria herdar o cargo mais árduo durante o tempo mais fraco; é claro, sua predição viera a acontecer. Todos iriam estar procurando o seu auxí-lio, reconforto e força. Ela estava condenada. E agora estava negociando com essa situação de Percy Jackson que podia facilmente alargar a destruição na legi-

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ão se não fosse coordenada direito. Reyna precisava de ajuda; ela precisava de Jason. Ele só partira a dois dias, mas ela já sentia sua falta furiosamente. Ela sen-tia falta da sua força, sua confiança e sua moral, mas principalmente sentia falta do seu sorriso, a única coisa que fazia todos os seus problemas derreterem.

Sai dessa! ela pensou. Você pode conseguir. Você tem ajuda.

É, certo. Seu primeiro tenente, Dakota, não fizera nada a não ser incitar problema por meses. Ele costumava ser um oficial charmoso, disciplinado e bem-respeitado, mas agora era um garoto despreocupado e teimoso. Seu TEPT era se-vero. Sendo um filho de Marte, ele carregou mais do que sua parte do peso da batalha do Tam. Ele perdeu tantos soldados e quase perdeu sua própria vida, mas nunca desistiu, e ele e Jason ficaram lado a lado e salvaram o mundo. Mas parece, entretanto, que ele esqueceu que é um herói, e tudo o que pensa é lide-rar muitos para as suas mortes. Ele pode nunca mais ser o mesmo de novo, co-mo a maioria dos soldados, incluindo Alex. Alex desenhou os planos de batalha para o Monte Tam, mas quando sua estratégia falhou e os desastres refletiram isso, ele se culpou. Perdeu toda a confiança na sua sabedoria e habilidades estra-tégicas. Ele nem organizará uma missão de patrulha agora. Bobby e Gwen cos-tumavam desprezar um ao outro. Eles sempre estavam discutindo sobre quem era melhor: o corredor mais rápido, o nadador mais forte, o saltador mais alto; aquela bobagem de competição louca dos filhos de Vitória, e agora eles eram inseparáveis. Agora eles não discutiam mais e eram provavelmente os irmãos mais próximos no acampamento. Hazel e Marcus eram dois dos poucos soldados que não estiveram na batalha. Eles ficaram para trás para defender o acampa-mento. Quando tão poucos soldados voltaram para casa, eles ficaram devasta-dos e se encheram de culpa por não estarem lá para ajudar. As probabilidades eram que pelo menos um deles seria morto se estivessem lá. Hazel tinha pesade-los; ela via os rostos dos soldados perdidos na batalha. Tudo que ela tinha de precioso: amigos, casa, lar, tudo foi destruído. Porém, era essencial que ela ficas-se no acampamento, em algum lugar perto do normal. Às vezes, ela na verdade se sentia em casa novamente. Jess cuidava de tudo muito bem, embora seja pro-vável porque ela está só agradecida por estar fora da enfermaria, finalmente. Ela gastou dois sólidos meses deitada numa cama recuperando-se dos seus ferimen-tos. Ela foi ferida mais severamente do que os outros sobreviventes, e sua recu-peração completa não foi nada menos que um milagre, um presente dos deuses.

Reyna estava prestes a desistir da papelada quando uma explosão estre-meceu todo o acampamento. Ela instintivamente desceu ao chão para tomar cobertura.

Seu primeiro pensamento foi: Kota, o que você fez agora?

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Então houve outra explosão. E outra. Não era Dakota; o acampamento estava sob ataque. Ela rastejou para a porta da tenda. Ela já podia sentir o cheiro das árvores queimando e ouvir os gritos dos seus soldados. Reyna olhou para fora e viu caos. Soldados estavam tomando cobertura enquanto flechas flamejan-tes voavam através das árvores e bolas de fogo explodiam por todo o acampa-mento. Logo o acampamento inteiro estaria em chamas. Ela correu para fora da tenda, ficando abaixada. Esquivou-se para trás de um arco como proteção en-quanto avaliava a situação. O ataque estava vindo de todas as direções, eles es-tavam cercados, mas por quem? Nenhum inimigo estava carregando contra o acampamento. Ela já puxara sua adaga esperando completamente uma embos-cada, mas o único exército que viu foi o seu próprio. Reyna saiu de trás do arco para ter uma visão melhor. Viu Dakota correndo na direção dela a todo vapor.

— Kota! — gritou ela.

Ele não calculou a velocidade; só agarrou-a como se estivesse jogando fu-tebol americano e atacando um quarterback, então uma bomba de fogo pousou bem onde ela esteve.

Dakota estava deitado em cima dela tentando tomar fôlego, e se mexeu para que ela pudesse respirar também. Ele acertou-a com tanta força que os dois ficaram sem ar. Ela tossiu e sentou-se. Ele ficou de pé e a ajudou a se levantar.

— Você está bem? — perguntou ele.

— Sim. — Ela tossiu. — Você salvou minha vida. Obrigada — falou, ainda tentando respirar.

— Não me agradeça ainda, querida. — Ele levantou o olhar enquanto fle-chas flamejantes silvavam pelos topos das árvores. — Ainda temos problemas.

Ele saiu correndo para ajudar os outros e Reyna gritou atrás dele:

— Ei, não me chame de querida!

Ele virou para ela e sorriu logo antes de voltar ao trabalho.

— Percy — disse ela para si. — Os gregos estão aqui procurando por ele.

Ela estava prestes a correr para a tenda X quando subitamente o ataque parou. Não havia mais flechas flamejantes voando, e não havia mais bombas de fogo explodindo. O acampamento ficou em silêncio exceto pelo estalo de ma-deira queimando e a tosse dos soldados.

Alex e Hazel vieram correndo para Reyna.

— O que foi que aconteceu? — perguntou Hazel, tomando fôlego.

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— Estamos sob ataque, ou estávamos — respondeu Reyna.

A fumaça estava ficando grossa. Estava ficando difícil respirar e ver pelo acampamento. As tendas estavam inflamadas e metade da floresta estava pegan-do fogo.

— Esse não foi um ataque — falou Alex. — Isso foi uma distração.

— Como você sabe? — perguntou Hazel.

— Estratégia básica — respondeu ele.

— Percy — ofegou Reyna, e todos saíram correndo para a tenda X.

Quando chegaram lá, a tenda estava em chamas. Eles olharam em volta e se surpreenderam em ver que Percy não fora pego. Ele estava de pé perto de Bobby e Gwen, e sua expressão era de choque total e pânico.

— Gwen! — gritou Reyna enquanto corria ao encontro deles. — Estão todos bem?

Gwen e Bobby assentiram, mas Percy balançou a cabeça.

Bobby notou Percy balançando a cabeça.

— Ele está bem, Reyna. Só um pouco abalado.

— Fique de olho nele, Bobby. Eu vou tentar descobrir o que foi que acon-teceu — disse Reyna.

— Temos que apagar o fogo antes que a floresta inteira queime! — disse Gwen, começando a entrar um pouco em pânico.

— Sim — falou Reyna. — Arranjem baldes, desçam até o córrego para pegar água. Levem todos que puderem ajudar.

— E ele? — perguntou Bobby apontando para Percy.

— Dê a ele um balde e leve-o com vocês. Ele está aqui, então ele pode ajudar também.

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PPPPERCY COMEÇOU A TOSSIR ENQUANTO ERCY COMEÇOU A TOSSIR ENQUANTO ERCY COMEÇOU A TOSSIR ENQUANTO ERCY COMEÇOU A TOSSIR ENQUANTO a fumaça engrossava mais. Seus olhos queimavam e lacrimejavam. Ele mal podia ver alguma coisa através da fumaça, exceto pelas chamas, e havia muito fogo. Essas pessoas estavam fora de si se a-chavam que podiam apagar um incêndio na floresta com baldes d’água. O que eles precisavam era de um caminhão de bombeiros.

— Percy. — Bobby lhe jogou um balde, que Percy quase não segurou. — Venha.

Percy seguiu Bobby enquanto passavam pelas árvores evitando as chamas e tentando dar o melhor de si para ver através da fumaça. Percy podia ver silhu-etas de pessoas correndo pela fumaça, derramando baldes de água nas chamas. Essa seria uma hora perfeita para o descanso. Todos estavam distraídos e a visibi-lidade era quase zero. Percy podia facilmente fugir de Bobby no caos. Ele olhou em volta para tentar encontrar um jeito de sair despercebido, mas tudo que via era rostos frenéticos. Um grupo de crianças em pânico estava sendo afastada do fogo. Haviam criancinhas aqui? Foi a primeira vez que Percy notou isso. Todos estavam fazendo o que podiam para apagar o fogo. O lar deles estava queiman-do. Suas tentativas de salvá-lo eram inúteis, mas eles continuavam tentando. Per-cy pensou em Annabeth. O que ela iria fazer? Naturalmente, ela ajudaria. E o que ela pensaria se ele não ajudasse?

— Argh, está bem! — disse Percy em voz alta.

Percy e Bobby chegaram ao córrego. Era um córrego pequeno e raso que fluia pelo lado norte do acampamento. Não era longe do coração do acampa-

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mento, então todos podiam reencher seus baldes rapidamente. Bobby entrou na água até ela ficar da altura dos seus tornozelos e encheu o balde. Percy olhou para o córrego. A água era cristalina e fluia rapidamente. Percy, com o balde na mão, entrou no córrego assim como Bobby fizera. Imediatamente, Percy teve uma onda de energia, e sua visão ficou mais clara; ele podia ver tudo através da fumaça. Seu pânico e aflição fluíram com a corrente d’água, e confiança cresceu no seu peito. Percy se sentia incrível, e então, não mais. Uma luz cegante brilhou nos seus olhos e dor chamejante atravessou o seu corpo inteiro. Ele caiu aos joe-lhos no córrego colocando as mãos no fundo do córrego para impedir que caís-se. Seus olhos estavam fechados firme e ele tremia de dor. Havia um cheiro de queimado que era diferente do cheiro da floresta queimando, era mais como se suas roupas estivessem queimando, mas não estavam. Ele sentiu como tivesse sido atingido por um raio, ou só o que Percy podia imaginar com o que parecia. Ele teve a sensação mais estranha de déjà vu também. Um rosto tremeluziu na sua cabeça, o rosto de uma garota; ela estava apontando uma lança para ele. Ela estava gritando você quer um pouco, Cabeça de Alga? Uau, era Thalia, mas... Subitamente, o rosto desapareceu da sua mente, a dor parou e o poder retor-nou. Percy arregalou os olhos e jogou as mãos para o ar. De algum jeito a água seguiu. A água no córrego subiu no ar; centenas de litros pairaram sobre a cabeça de Percy. Todo mundo que podia ver o que estava acontecendo largou seus bal-des e olharam em espanto. Então Percy fez. Ele jogou os braços para frente, na direção do acampamento. A água seguiu o comando e mergulhou em tudo e em todos, apagando cada fagulha de chama. Percy abaixou os braços e o fluxo do córrego voltou ao normal. Foi quando colocou as mãos no abdome em dor e caiu de cara na água.

Percy só ficou deitado por alguns minutos porque quando voltou a si, ele estava sendo carregado para fora do córrego por Bobby e Gwen. Eles o fizeram sentar no chão em frente de um caule de árvore em que se encostou. Percy tos-siu algumas vezes tentando tomar fôlego. Todos começaram a se aglomerar ao seu redor. Todos estava encharcados exceto por Percy que, mesmo que ele aca-bara de sair do córrego, estava completamente seco. Todos estavam conversan-do e sussurrando um ao outro. Haviam tantas vozes falando de vez que Percy não podia distinguir o que estavam dizendo. Percy podia ver alguém empurran-do pela multidão, indo na direção dele. Era Reyna. Ela se ajeolhou ao seu lado.

— Percy. Você está bem? — perguntou.

— Acho que vou vomitar — respondeu ele, e ela se afastou dele um pou-co.

— Deem a ele um pouco de ar, pessoal! — gritou ela e todos começaram a dar passos para trás, mas não muitos.

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Percy esfregou os olhos e perguntou:

— O que aconteceu?

Reyna levantou uma sobrancelha e disse:

— Me diga você.

— Eu... eu não sei. Eu ia encher o meu balde, então foi meio que o córre-go inteiro estava ao meu comando. Aquilo realmente aconteceu? Digo, toda a-quela água, fui eu que...

— Sim, Percy — disse Reyna. — Você apagou o fogo; você salvou o a-campamento.

— Ah, ok. — Percy assentiu, não realmente entendendo o que estava a-contecendo.

— Você pode se levantar? — perguntou Reyna para ele.

— Acho que sim. — Percy começou a se levantar e Reyna ajudou-o.

Todos no acampamento estavam por perto agora, aproximadamente quarenta adolescentes e talvez quinze crianças com idade para frequentarem numa escola primária. Todos ainda estavam falando um com o outro, mas quando Reyna virou para encará-los, todos ficaram em silêncio.

— Posso ter a atenção de vocês? — gritou ela. — Esse é Percy Jackson, Fi-lho de Netuno!

A floresta inteira bramiu em vivas.

Aproximadamente a hora seguinte foi um borrão para Percy. Todos que-riam encontrá-lo e agradecê-lo por salvar o acampamento. Ele recebeu apertos de mãos (bem, eram batidas de braço conforme aprendia a tradição) e tapinhas nas costas. Eles falavam para ele obrigado, viva ou bom trabalho. Ele recebeu abraços das criancinhas e beijos na bochecha das garotas risonhas, o que lhe fez pensar em Annabeth e sentir um pouco de culpa.

Quase todo mundo se fez de conhecido, e o cérebro de Percy estava pa-recendo mingau quando um garoto familiar veio andando com os braços cruza-dos. Era Dakota. Percy enrijeceu e olhou para Reyna que estava de pé ao seu lado. Ela deu a Percy um sorriso e um assentimento confiante como se dissesse vai ficar tudo bem.

Dakota fitou Percy por um segundo, então olhou para Reyna. Ela levan-tou suas sombrancelhas e disse:

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— Bem, Kota, parece que eu estava certa sobre Percy, hein?

Percy lhe deu um rápido olhar se perguntando sobre o que ela estava fa-lando.

Dakota inclinou a cabeça um pouco e disse para ela:

— Eu tive um relógio quebrado uma vez, e ele acertava duas vezes por dia.

Reyna revirou os olhos.

Dakota olhou para Percy com um rosto direto.

— Jackson. — Ele chamou Percy.

Percy respirou fundo. Dakota descruzou os braços e ofereceu o direito pa-ra Percy. Percy hesitou por um segundo, mas depois bateu no antebraço de Da-kota.

Dakota assentiu.

— Bem-vindo à Primeira Legião.

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RRRREYNA ESTAVA SE PREPARANDOEYNA ESTAVA SE PREPARANDOEYNA ESTAVA SE PREPARANDOEYNA ESTAVA SE PREPARANDO para visitar a caverna da Madame Lupa para con-tá-la sobre Percy e o ataque no acampamento. Dakota se ofereceu para mostrar a Percy o acampamento e explicar o que estava acontecendo com ele, pela mai-or parte para sair do serviço de limpeza e não pela bondade no seu coração.

— Reyna — disse Dakota quando ela ficou pronta para ir. — Olhe a sua traseira quando sair dos limites. Quem quer que tenha nos atacado pode ainda estar lá.

Ela assentiu. A caverna de Lupa não era dentro dos limites do acampa-mento. Era a aproximadamente oitocentos metros da borda leste.

— Kota, as barreiras mágicas... — começou ela.

— Estou nelas — ele garantiu-a.

Era muito mais frio fora dos limites do acampamento, então Reyna pôs um casaco de capuz sobre a armadura e uma touca na cabeça. O casaco era pre-to com linhas de lã, e tinha as letras SPQR bordadas em dourado na manga es-querda. Ela pôs uma mochila, um arco e uma aljava nas costas antes de ir embo-ra.

— Percy — falou Dakota —, eu sei que você tem muitas perguntas, e eu responderei elas, mas agora eu tenho algum trabalho a fazer, então você só irá me seguir de perto e observar como fazemos as coisas, certo?

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Percy assentiu e Dakota ficou só olhando para ele esperando uma respos-ta.

Percy limpou a garganta.

— Certo.

— Bom. Siga-me — falou Dakota.

Dakota e Percy começaram a andar pelo acampamento, ou o que sobrou dele. Percy apagara as chamas, mas antes disso, o fogo causara muito prejuízo, e agora havia prejuízo da água também. Os soldados trabalhavam juntos para limpar a sujeira. Eles se dividiram em grupos, cada um tendo uma tarefa específi-ca, uma aproximação de dividir e conquistar. O grupo maior, aproximadamente vinte soldados e todas as crianças, estava trabalhando em limpar os escombros. Um grupo de filhos de Mercúrio e Marte estavam removendo estruturas muito danificadas para conserto. Dois filhos de Vulcano e dois filhos de Minerva esta-vam de pé ao redor de uma bancada de mecânico provisória olhando para plan-tas de construções. Um dos filhos de Vulcano viu Dakota e foi correndo até ele. Era Clint. Ele era um soldado jovem, só tinha treze anos. Ele tinha cabelo escuro, olhos escuros e pele escura. Ele era muito grande e alto para sua idade. Usava armadura de prata que era tão fina quanto uma folha de papel, mas era tão re-sistente quanto uma parede de tijolos.

— Tenente, precisamos de abastecimento, coisas que não temos aqui no acampamento — falou para Dakota.

— Mágico? — perguntou Dakota.

— Honestamente, senhor, preciso ir para o Armazém da Casa — falou Clint.

— Sério? — perguntou Dakota tentando não sofrer um colapso mental.

Clint não disse nada; ele só olhou para Dakota.

— Tudo bem, pegue dinheiro de Hazel. Vocês podem tomar o caminhão, pegar só o que precisam e voltar.

— Sim, senhor — disse Clint. Ele fez uma continência para Dakota e cor-reu.

Dakota e Percy continuaram a andar pelo acampamento avaliando o pre-juízo. Eles se aproximaram de um grupo de dez soldados, garotos e garotas, que estavam se armando. Eles se aproximaram de um garoto baixo com cabelo mar-rom luminoso disposto no mesmo corte puro de Dakota. Ele era magro porém musculoso, e usava armadura de couro.

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— Jared. — Dakota colocou a mão no ombro do garoto.

Jared deu meia-volta e disse:

— Aí está você.

— Percy, esse é o meu irmão, Jared — apresentou Dakota.

Percy bateu no braço de Jared.

— Você está com o seu grupo? — perguntou Dakota para Jared.

— Sim, senhor — respondeu Jared.

— Bom. Eu quero um destacamento de segurança em volta do perímetro do acampamento — ordenou Dakota. — Revezamento de duas horas e relató-rios de status de hora em hora.

— Entendido. — Jared assentiu.

— Eu também quero um pequeno grupo de observação com caninos para circular o acampamento a alguns metros fora dos limites, quatro horas no máxi-mo, então traga-os de volta para dentro — cntinuou Dakota.

— Sim, senhor — disse Jared.

— Ah, e Jared, envie uma sombra para a caverna de Lupa. Reyna está a caminho agora — falou Dakota.

Jared levantou uma sobrancelha e disse:

— Ela não vai gostar disso.

— Não dou a mínima — argumentou Dakota. — Afinal, ela nunca saberá sobre isso, por isso que se chama — sombra — ... entretanto, só para termos certeza, mande o soldado mais furtivo que tiver.

Jared sorriu e falou:

— Entendido, chefe.

Dakota e Percy continuaram pelo acampamento até chegarem ao quartel-general. Eles entraram na tenda, que só estava levemente chamuscada, onde A-lex e Hazel estavam de pé em volta da mesa. Eles estavam olhando para um rolo de pergaminho aberto.

— Exatamente quem eu estava procurando — falou Dakota. — Alex, mandou trazer a lavagem de roupas?

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Alex endureceu, mas não disse nada.

Dakota olhou para Hazel.

— Clint falou com você?

— Sim. — Ela assentiu. — Venha olhar isso, Dakota.

Ele olhou para o rolo de pergaminho,

— Um encantamento?

— E um sacrifício para Términus fortalecer as barreiras mág0icas — expli-cou ela.

Dakota ficou vesgo e leu em voz alta — Pullus et sus. —

— Galinha é pouco? — perguntou Percy, o que fez Hazel sorrir.

— Muito bom, Percy. Você sabe um pouco de latim, exceto que está es-crito — galinha e porco — , e não — galinha é pouco — .

— Você acha que vai funcionar? — perguntou Dakota para ela.

Hazel deu de ombros.

— Vale uma tentativa.

— Ok, tente, e chame alguns daqueles filhos de Baco para te ajudar — fa-lou Dakota. — Você sabe como eles gostam de uma festa.

— É uma matança — corrigiu Alex.

Dakota revirou os olhos.

— É a mesma coisa.

Hazel balançou a cabeça e sorriu.

— Você é louco, LT. — Ela enrolou o pergaminho e saiu.

— Bem, já que você não me trouxe roupas limpas, o que trouxe? — per-guntou Dakota para Alex.

— Relatórios de dano e ferimentos e o resumo do orçamento. — Alex sorria enquanto passava para Dakota uma pilha de papéis.

— Hum, então... — Dakota começou a falar mas foi interrompido por al-guém entrando na tenda.

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— Tenente, os equitadores solicitam permissão para levar os cavalos para um campo desocupado ao sul até os estábulos serem reparados.

— Concedida — falou Dakota sem nem virar para encará-lo.

— Mais alguma coisa? — perguntou Alex para Dakota.

— Só tente descobrir quem atacou o acampamento e o porquê disso — falou ele.

Alex olhou para Percy em suspeita.

— Começarei a investigação imediatamente — falou para Dakota antes de deixar a tenda.

— Eu realmente não gosto desse cara — disse Dakota sob a respiração.

Dakota jogou a pilha de relatórios sobre a mesa e sentou na cadeira detrás dela.

— Tire uma cadeira, Percy — disse.

Percy tirou uma cadeira da mesa no lado oposto de Dakota e se sentou.

— Muito bem, perguntas, desembuche — Dakota disse a Percy.

— Aquela garota vai mesmo abater uma galinha e um porco? — pergun-tou Percy.

Dakota riu.

— Bem — disse tentando parar de rir —, não será Hazel provavelmente a fazer a verdadeira matança, mas sim, eles vão sacrificar uma galinha e um porco para o deus Términus.

Percy assentiu lentamente, depois perguntou:

— Eu sou um super herói ou alguma coisa parecida? Aquela coisa... com a água...

— Por assim dizer, você é um super herói, todos nós somos, apesar de al-guns serem mais super do que heróicos. Você já teve uma aula de história mun-dial no colégio, Percy? — perguntou Dakota.

— Sim — respondeu Percy.

— Então você aprendeu sobre a Roma antiga: seus deuses, tradições, e-xércitos e heróis? — continuou Dakota.

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Percy assentiu.

— Bem, todas essas coisas que você aprendeu e pensou que nunca usaria são verdade, até a parte dos deuses. E você está bem no meio disso — falou Da-kota.

Percy ainda parecia muito confuso. Ele disse:

— Não entendi.

Dakota mordeu seu lábio inferior.

— Não, suponho que não. Ok, é esse o negócio, Percy. Você é o que os livros de história chamam de semideus, prole de um deus e um humano mortal. Do que vemos pelas suas habilidades, estamos convencidos que seu parente divi-no é Netuno, o deus romano do mar. Todos nesse acampamento são semideu-ses. Meu pai é Marte, o deus da guerra. Alex, o garoto que acabou de sair, sua mãe é Minerva, deusa da sabedoria e estratégia. Estamos aqui nesse acampamen-to para treinar para batalha e sermos capazes de proteger a nós mesmos dos monstros que querem nos matar. É perigoso para semideuses ficarem do lado de fora dos limites desse acampamento. O véu mágico sobre o acampamento, que parece estar falhando hoje, normalmente mantém o perigo fora do acampamen-to.

— O acampamento é muito grande? — perguntou Percy.

Dakota mexeu em alguns papéis na mesa e tirou um grande mapa do fundo da pilha. Ele o abriu na mesa.

— Esse é um mapa do acampamento — disse Dakota. Ele apontou para um lugar no mapa. — Nós estamos aqui, no lado noroeste. Aqui é onde temos alojamentos pessoais, um pavilhão de jantar, áreas de alimentação e o quartel-general. A área educacional está ao centro do oeste. Aqui no leste é a área de treino com uma extensão de arqueiros, conduta de biga e arena de gladiadores onde praticamos o combate corpo-a-corpo. Os estábulos equinos estão central-mente localizados, e quase a metade inteira do sul é um campo de atividades.

— Um campo de atividades? — perguntou Percy.

— Esse é o norte da Califórnia e uvas estão em demanda. Temos que fa-zer dinheiro de algum jeito. Vendemos uvas para estabelecimentos vinícolas, e eles pagam bem. Aparentemente aqueles filhos de Baco e Ceres realmente sabem o que fazem — falou Dakota.

Percy esfregou os olhos e disse:

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— Então, deixe-me entender. Os deuses romanos são reais, e meu pai é um deles. Eu, de algum modo, cheguei nesse acampamento que cresce uvas para fazer vinho e aprender a me defender dos monstros.

— Bem, soa meio ridículo quando você fala assim, mas confie em mim, Percy, o que eu estou lhe dizendo é a verdade e Reyna estava certa, você está aqui por um motivo — disse Dakota.

— É, o que ela quis dizer quando falou que estava certa sobre mim? — perguntou Percy. — Tem algo a ver com esse Jason que eu nunca conheci?

— Jason é o filho de Júpiter, um dos três grandes deuses — explicou Da-kota. — Ele é o único filho dos três grandes que esse acampamento teve em dé-cadas. Não é uma coincidência um filho de outro dos três grandes aparecer quando ele desaparece. Você pode não saber de nada sobre o desaparecimento de Jason, mas não significa que você não esteja conectado a isso de algum jeito.

— Como poderia eu nunca ter sabido sobre nada disso? — perguntou Percy.

— Suponho que no seu caso, o que você não sabia não te feriu. Ser igno-rante de quem você realmente é lhe permitiu levar uma vida normal. Acontece, é extremamente raro, mas acontece — falou Dakota.

Percy colocou suas mãos em cima da cabeça, em frustração.

— Eu sei que é muito para processar — simpatizou Dakota.

— Eu só quero ir para casa, voltar para minha vida normal — disse Percy, infeliz.

— Desculpe, Percy, mas agora que você sabe a verdade, sua vida nunca mais será normal. — Dakota inclinou a cabeça. — Você parece exausto.

Percy assentiu.

Jared entrou na tenda.

— Desculpe-me senhor, mas tenho o primeiro relatório de status.

Dakota levantou-se e pegou a pasta de Jared.

— Jared, leve Percy para o meu alojamento para que ele possa dormir um pouco. — Dakota olhou para Percy. — Soa bem?

Percy disse:

— Sim, soa.

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— Descanse um pouco; só não toque nas minhas coisas — alertou Dakota.

— Não tocar, entendi — concordou Percy.

Percy e Jared começaram a andar para fora da tenda e Dakota sussurrou para Jared:

— Coloque um guarda do lado de fora do meu alojamento para ficar de olho nele.

Jared assentiu e escoltou Percy para o alojamento de Dakota.

Dakota jogou o arquivo na mesa e se sentou de volta na sua cadeira. Ele inclinou-se para trás e apoiou os pés na mesa. Um pouco de lama caiu das suas botas pretas de combate em cima da mesa, mas ele não ligou, era a mesa de Reyna. Ele puxou um iPod do bolso lateral das suas calças pretas de carregamen-to. Ele enfiou os fones no ouvido e ligou um pouco de música. Estava prestes a pegar uma pasta de arquivo quando notou uma fotografia na mesa que devia ter estado em algum lugar sob o mapa antes de ele bagunçar. Inclinou-se para frente e levantou-a até inclinar-se para trás novamente. Reconheceu a foto e sorriu. Era uma foto dele, Jason e Reyna na praia tirada a dois anos atrás. Todos os três tiveram uma folga de dois dias do acampamento dois verões passados e decidi-ram gastá-la na praia. Eles surfaram e deslizaram nas ondas. Eles assaram marsh-mallows e acampamento ali mesmo na praia, dormindo num cobertor sob as estrelas, coisas normais de adolescentes. Na foto, estavam de pé na praia com o Oceano Pacífico espumando atrás. Jason e Dakota estava usando bermudas de praia coloridas e bonés de beisebol virados para trás. Reyna estava usando um biquíni cor de prata econômico, e estava com seu cabelo num rabo-de-cavalo. Ela estava entre os garotos com cada mão no ombro deles. Os garotos estavam com os braços levantados flexionando os músculos. Todos os três se divertiam com os seus óculos Oakley e sorrisos que possivelmente não podiam deixar nada mais vivo. Dakota olhou para a foto em ciúme daquele garoto que costumava ser.

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PPPPERCY ENTROU NA TENDA DE DAKOTA ERCY ENTROU NA TENDA DE DAKOTA ERCY ENTROU NA TENDA DE DAKOTA ERCY ENTROU NA TENDA DE DAKOTA e se surpreendeu como ela parecia normal. Tirando os tapetes de pele cobrindo o chão, armas e armaduras espalhadas co-mo lavanderia de sujeira, ela parecia um típico dormitório de colégio. Havia uma cama full size, um frigobar e um laptop sobre uma pequena mesa no canto. Tudo que Percy pôde realmente focar, entretanto, era a cama. Ele estava exaus-to, e assim que sua cabeça chocou-se no travesseiro, adormeceu. Aí o sonho co-meçou.

Percy estava na borda de uma pequena clareira que estava cercada por uma floresta em todos os lados exceto um, que era uma encosta rochosa duma montanha. Percy notou uma caverna entalhada na fachada rochosa. Ele podia cheirar fumaça e olhou para trás para ver se a floresta estava queimando à dis-tância. Ele ouviu o som de um lobo uivando e voltou sua atenção para a caver-na. Ele podia ver três lobos. Uma loba prata estava na entrada da caverna enca-rando a clareira, e dois lobos pretos infiltraram-se na caverna, um flanqueado para a esquerda e o outro para a direita. Eles rosnaram e mostraram os dentes para a loba prata. Um homem magro apareceu da floresta, e Percy o sentiu antes de vê-lo. O cheiro era como carne apodrecendo. O homem tinha um cabelo gorduroso e sujo sob uma coroa branca. Ele usava robes de pelo de animal que Percy só podia supor que era a fonte do cheiro. Sua pele era quase branca e seus olhos brilhavam vermelhos. Ele andou para a entrada da caverna.

— Lupa — disse em voz alta. Quando falou, ele revelou seus dentes que pareciam mais como presas. — Curve-se ao seu rei lobo.

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— Você não é o meu rei — a voz de uma mulher ressoou, mas não havia nenhuma mulher por perto.

— Ah, mas é aí que você está errada. Eu sou o rei de todos os lobos, in-cluindo você — o homem disse direcionando suas palavras para o lobo prata. A voz da mulher era a loba prata falando.

— Irei desafiar você e sua matilha de cachorros hidrófobos até todos vo-cês serem destruídos! — a loba gritou.

— Eu aceitaria seu desafio, mas parece que preciso de você viva... por en-quanto. Uma vez você me levou para um trio inauspicioso, e eu os estreguei pa-ra o rei gigante. Você vai deixar de ser útil, e vou simplesmente te matar — falou ele em diversão.

— Eu nunca irei te ajudar! — ela gritou.

— Talvez não por vontade própria, mas temos maneiras de fazer você cooperar — falou ele, depois estalou os dedos.

Os lobos pretos atacaram a loba prata. Rosnados e rugidos encheram o ar enquanto a loba prata se defendia, e a luta era violenta. Percy notou o homem puxando algo dos seus robes. Era uma pistola de dardos como aquelas usadas para tranquilizar animais selvagens. Ele mirou-a para a loba prata. Percy tentou gritar para alertá-la, mas as palavras não vieram. Ele tentou correr até ela, mas não podia se mover. Ele ficou ali parado inutilmente enquanto o homem abria fogo, e o dardo acertou-a no pescoço. A loba caiu instantaneamente. O homem avançou até ela, levantou seu corpo mole com os braços nus e apertou-a num saco de tecido. Ele amarrou o saco firme e jogou-o sobre o ombro. Estalou os dedos novamente e um dos lobos pretos entraram na caverna, o outro seguiu ao seu lado enquanto o homem saia da clareira para a floresta e desaparecia. Percy piscou algumas vezes e então olhou de volta para a caverna.

A cena mudou. Ele estava no mesmo lugar, mas viu uma trave de madeira saindo do chão em frente à entrada da caverna que não estava ali antes. Uma garota estava amarrada à trave por cordas em torno da cintura. Era Annabeth. Percy começou a entrar em pânico. Ele tentou correr até ela e gritar, porém mais uma vez, ele não podia. Ela lutava contra as cordas, olhando Percy e gritando seu nome. Lágrimas escorriam pelo seu rosto enquanto implorava que ele cortas-se as cordas.

— Por favor, Percy! — gritou ela.

O coração de Percy martelava enquanto ele ficava ali incapaz de ajudá-la. Estava quase em lágrimas com si mesmo quando dominado por uma estranha sensação de déjà vu, assim como tivera no córrego. Fechou os olhos firmemente

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por um segundo e quando os abriu, Annabeth havia sumido. Em vez disso, havia uma garota andando através da clareira em direção a caverna. Ela estava usando um casaco com capuz preto e seu cabelo loiro arenoso ressaltava detrás da sua touca preta; era Reyna.

Reyna estava quase na entrada da caverna quando gritou — Madame Lupa — .

Houve um rosnado dentro da caverna.

— Madame Lupa? — repetiu ela num tom preocupado.

Olhos vermelhos brilharam na escuridão da caverna. Reyna cautelosamen-te começou a se afastar, lentamente pegando sua adaga que estava guardada na coxa. Os olhos ficaram mais claros até um lobo preto estar visivelmente parado na entrada da caverna rosnando para Reyna. O lobo agachou-se antes de pular até ela.

— Não! — gritou Percy quando acordou, pulando tão alto que quase caiu da cama.

Percy saiu correndo da tenda, quase tropeçando num escudo devido a sua pressa. Bobby pegou Percy assim que ele fez sua saída.

— Uau, acalme-se Percy, senão vai sair rolando por aí — disse Bobby.

Bobby estivera montando guarda fora da tenda.

— Dakota — falou Percy respirando pesadamente. — Cadê ele?

— No quartel-general, imagino — Bobby respondeu.

— Eu preciso vê-lo, agora! — Percy vociferou quase como se fosse uma ordem.

Eles foram correndo para o quartel-general. Percy mal podia acompanhar Bobby; aquele garoto era rápido. Ambos romperam dentro da tenda do quartel-general.

— Dakota! — disse Percy tentando controlar a respiração.

Dakota estava sentado na cadeira atrás da mesa e Hazel estava sentada numa cadeira do outro lado. Ambos se levantaram imediatamente.

— O quê? O que foi? — perguntou Dakota.

— É Reyna. Eu vi ela num sonho. Ela está em apuros — disse Percy com urgência.

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Foi só aí que Jared rompeu na tenda.

— Tenente, a sombra que eu mandei seguir Reyna está de volta — disse Jared. — Ela foi atacada e ele mal conseguiu voltar ao acampamento. Eu não sei sobre Reyna.

A sala ficou em silêncio, mas só por um segundo.

— Jared, arranje algum armadura para Percy, uma mochila e um casaco — ordenou Dakota. — Esteja no meu alojamento em três minutos.

— Sim, senhor — Jared disse e correu da tenda.

— Bobby, Hazel, peguem seus equipamentos, consigam cinco cavalos e me encontrem no portão leste, seis minutos.

— Sim, senhor — disseram em uníssono e também correram da tenda.

— Percy, venha comigo — falou Dakota, e eles correram em direção ao alojamento de Dakota.

Eles entraram no alojamento de Dakota e Percy observou enquanto o tenente tirava uma mochila que estava debaixo da cama. Ela estava inchada um pouco como se já tivesse sido preparada e estava pronta para viagem. Ele ergueu um escudo do chão e arremessou como se estivesse arremessando uma moeda, e ele magicamente virou uma moeda. Colocou-a no seu bolso, pegou uma lança de dois metros de comprimento que estava encostada no frigobar e pressionou um botão nela. Ela se contraiu numa faca de bolso, e ele colocou-a no seu outro bol-so.

Jared entrou com um braço cheio de equipamentos.

— Aqui, Percy, coloque isso. Espero que tudo caiba — disse Jared enquan-to passava as peças para Percy.

Havia uma armadura prateada semelhante à de Clint, um casaco azul-marinho, uma mochila carregada e um par de botas de combate. Percy vestiu a armadura com alguma ajuda de Jared. Ele colocou as botas, que eram perfeita-mente do seu tamanho, depois vestiu o casaco.

— Percy — Dakota disse.

Percy olhou para ele. Ele já colocara um casaco de cor-de-prata e preto e estava com a mochila nos ombros. Ele jogou para Percy uma pequena bolsa de couro.

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— Suas coisas pessoas — falou ele.

— Hein? — perguntou Percy.

— As coisas que estavam com você quando lhe encontramos — Dakota disse.

— Ah — disse Percy e colocou a bolsa dentro do seu bolso. Não havia tempo para admirá-la agora.

Dakota passou-o uma touca preta e ele pôs na cabeça. Dakota levantou um elmo de metal prateado e preto de tamanho médio do chão e jogou-o no ar. Enquanto descia para sua mão, ele se tranformou numa touca de tecido de malha cor-de-prata e preto com um par de óculos de sol prateado com aros, um óculos de aviador.

— Muito legal — disse Percy.

— Um presente do meu pai, pode ser qualquer coisa de proteção para a cabeça que eu quiser — explicou Dakota. — Ah, quase esqueci. — Dakota pegou uma espada que estava encostada na mesa de computador. — Pra você. — Ele passou-a para Percy.

Percy hesitou, mas pegou a espada.

— Valeu — disse.

— Isso é tudo — disse Dakota —, vamos lá. — E eles saíram correndo da tenda.

Eles correram pelo acampamento, pela área de treino, e chegaram no portão ao leste ao mesmo tempo que Bobby e Hazel. Bobby estava usando um casaco preto e touca, e Hazel usava um casaco cor-de-chocolate e touca. Ambos montaram num cavalo. Tinha três outros cavalos e dois cachorros com eles.

— Percy, sabe montar? — perguntou Bobby.

— Como o vento. — Percy sorriu lembrando dos passeios que ele e sua mãe faziam em Montauk todo o verão. Eles montavam a cavalo e cavalgavam pela praia, e Percy sempre montava o mesmo cavalo todo ano, um garanhão preto chamado Blackjack.

— Bem, suba na sela — falou Dakota enquanto montava um lindo gara-nhão cinza.

Percy montou um garanhão vermelho-vivo.

Dakota dirigiu seu cavalo para o portão e disse — Vamos lá! — .

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RRRREYNA PAROU PERTO DA ENTRADA DA CAVERNAEYNA PAROU PERTO DA ENTRADA DA CAVERNAEYNA PAROU PERTO DA ENTRADA DA CAVERNAEYNA PAROU PERTO DA ENTRADA DA CAVERNA. Ela esperava ver Lupa, mas ao invés disso encontrou-se face-a-face com um lobo preto de olhos vermelhos bri-lhantes. O lobo rugiu e agachou-se para o modo de ataque. Reyna antecipou o pulo do lobo para ela, e rolou para um lado. Ela podia desembainhar sua adaga e fatiar o lobo. O lobo era rápido, e ela errou o golpe. Reyna se moveu rapida-mente tentando ficar na frente da fera. O lobo rosnou, exibindo suas presas. Ar-remetou-as em direção á sua garganta, mas Reyna caiu no chão lançando a ada-ga para cima. Ela acertou o lobo no abdome, mas nada aconteceu. A lâmina a-travessou o lobo como se ele fosse uma ilusão. Reyna rapidamente ficou de pé enquanto o lobo virava para ela. Ela só teve tempo o suficiente para puxar o seu arco e atirar uma flecha. Ela atirava muito bem, e a flecha que atirara deveria perfurar o lobo entre os olhos, mas ela passou direto pelo animal. Era como lu-tar com um fantasma. Suas armas atravessavam a fera sem dano aparente. O lo-bo continuava avançando até ela. Reyna mergulhou e rolou, pulou e se atirou, qualquer coisa para evitar os ataques do lobo. Suas armas eram inúteis, e ela não podia ficar na defensiva para sempre. Precisava encontrar um modo de matá-lo, ou pelo menos passar a perna nele. Ela chutou o lobo para longe, mas ele se re-cuperava e voltava a avançar. Ela estava cansando muito mais rápido que o lo-bo. Precisava de um plano. Olhou para a floresta, mas precisaria de um tempo para isso, e o lobo era rápido. Não podia encontrar na caverna, era um beco sem saída; ela foi simplesmente pega. O lobo sabia que de suas armas, nada adi-antaria. Ele não tinha que se defender. O lobo circulou Reyna levando-a em di-reção à encosta da montanha. Reyna sabia que em segundos ela seria levada à parede, literalmente, e não havia escapatória. O lobo soltou um uivo alto e pro-fundo. Ela sabia que uivo era a chamada para o jantar, e mais lobos chegariam brevemente. Retirar-se era sua única opção. Ela precisaria de um tempo para is-so. Ela fez uma reza silenciosa para os deuses, só uma pequena ajuda, então cor-reu para o lobo. Ele pulou, e Reyna deslizou ao chão sob o ataque. O lobo pas-

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sou sobre sua cabeça e colidiu na encosta da montanha com um baque e um ga-nido. Ela rapidamente se levantou e saiu correndo o mais rápido que pôde, cru-zando a clareira. O lobo estava ofuscado, mas ela sabia que ele voltaria á caça em segundos. Quase cruzara a clareira quando parou, os seus movimentos mor-rendo. Mais três lobos pretos saíram da floresta perante a ela. Reyna olhou para trás para ver o outro lobo se aproximando dela. Não havia mais para onde ir. Os lobos rosnavam e rugiam enquanto formavam um círculo em torno dela. Su-bitamente, Reyna começou a sentir o chão sacudindo abaixo dos seus pés, e ou-viu um ruído na floresta. Ele ficou regularmente cada vez mais alto. Ela ouviu cachorros latindo. As orelhas dos lobos se aguçaram, e eles olharam para trás na direção da floresta bem na hora que cinco cavalos explodiam das árvores. A ca-valaria havia chegado.

Dois cavalos com cavaleiros flanquearam para a esquerda. Dois outros com cavaleiros flanquearam para a direita. Os lobos desviaram a atenção de Reyna, e uma égua passou direto no meio para ela. Quando passou galopando por Reyna, ela pegou a sela e puxou-se para as costas da égua. Os lobos ficaram espantados mas só por um segundo. Eles logo se reagruparam e iniciaram seu ataque. Um lobo pulou derrubando com uma pancada um cavaleiro para o chão; era Bobby. Ele puxou sua espada e cortou e rasgou o lobo. Nada aconte-ceu; o lobo só continuou avançando até ele. Um cachorro lançou-se contra o lobo, e os dois saíram rolando. Outra cavaleira, Hazel, estava atirando flechas nos lobos das costas do seu cavalo, mas as flechas não tinham efeito.

Reyna ouviu uma voz gritar:

— Como você mata essas coisas?

Era Dakota. Ele estava no seu cavalo galopando em volta dos lobos e a-çoitando-os com uma lança de dois metros de comprimento. A lança só atraves-sava-os como se nem estivessem ali.

Reyna ouviu Percy gritar:

— Onde é que acertamos para matá-los?

Reyna levantou o olhar para ver Percy com a espada na mão, manobran-do seu cavalo como um corredor de barril num rodeio. Ele fazia rápidas viradas e pulos graciosos. Usava o seu cavalo como uma arma que chutava e batia late-ralmente nos lobos, derrubando-os ao chão, mas eles só se levantavam nova-mente.

— Onde? — disse Reyna para si própria. — Não, lobi... lobisomens. — Ela guiou o seu cavalo para o meio da luta. — Prata! — anunciou. — Eles são lobisomens. Só podem ser mortos com uma arma de prata.

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— Ah, é simplesmente perfeito! — Bobby gritou, frustrado. — Todas as nossas armas são de ouro!

— Eu tenho! — Hazel falou com um sorriso.

Ela levou seu cavalo para a ala esquerda e cavou algo do bolso das suas calças. Ela puxou as rédeas, abruptamente parando o cavalo. Jogou um disco pequeno de prata com um buraco no meio, no estilo de Frisbee, para um lobo. O disco acertou o lobo no pescoço cortando a pele, e o lobo dissolveu numa poça de escuridão. Ela mirou e jogou novamente pegando um lobo no meio do ar enquanto ele pulava num cachorro. O lobo dissolveu. Ela jogou outro acer-tando um lobo que estava mordendo as pernas do cavalo de Dakota. Puf, ele se foi.

— É tudo que eu tenho! — gritou ela, mas não importou. O último lobo estava fugindo para a floresta.

— Foi incrível! — Bobby gritou para Hazel. — Quem te ensinou a atirar assim?

Ela desmontou do cavalo e disse:

— Você, é claro!

— Isso mesmo — falou ele enquanto se aproximava e dava a ela um — 5 de 5 — .

Reyna levou o cavalo para Dakota.

— Como você soube? — perguntou ela.

Ele olhou para Percy que já desmontara do cavalo e batia no seu pescoço, ao mesmo tempo que conversava com ele.

— Percy viu num sonho — contou Dakota.

Reyna e Dakota desmontaram dos seus cavalos enquanto Percy e seu ca-valo iam para eles.

Reyna coçou o rosto branco da sua égua e disse:

— Obrigada, Pearl.

— Ela diz que não há de quê, e está feliz por você estar bem — contou Percy.

Reyna levantou a sobrancelha.

— O cavalo falou com você?

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Percy assentiu.

— Filho de Netuno — falou Dakota —, é claro que ele iria cochichar com os cavalos.

— Lupa — disse Reyna como se tivesse acabado de lembrar do porquê de estar ali.

— Ela partiu — Percy disse —, capturada.

— O quê? — disse Hazel enquanto ela e Bobby se aproximavam.

— Eu vi no meu sonho — falou Percy. — Um homem tranquilizou ela e levou-a embora. Ele se chamou de rei lobo.

— Licaão — falou Reyna. — Mas por quê?

— Ele falou sobre usá-la para encontrar algo, o trio inauspicioso, eu acho — falou Percy. — O que poderia ser?

— Não sei — confessou ela. — Mais alguma coisa?

— Sim, ele disse que quando encontrar o trio e entregá-lo para o rei gi-gante, mataria Lupa — explicou Percy.

— Não — Hazel disse em desespero. — Nós precisamos encontrá-la.

— Hazel tem razão — concordou Dakota. — Temos que ir atrás de Lica-ão.

— Licaão se move rápido, mas uma prisioneira pode atrasá-lo — Reyna disse. — Precisamos ir agora enquanto a trilha ainda está quente.

— Não seria melhor voltarmos ao acampamento e nos reagrupar? — per-guntou Bobby.

— Não temos tempo — afirmou Reyna. — Temos que ir agora se quiser-mos achar sua trilha. Alguém quer ficar para trás, voltar ao acampamento? — perguntou.

Ninguém disse uma palavra.

— Muito bem, então. Vamos logo — Reyna disse.

Todos montaram nos seus cavalos e Bobby assobiou pros cachorros. Os dois caninos vieram correndo.

— Encontrem o rei lobo — instruiu.

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Eles colocaram os fucinhos no chão fungando para encontrar vestígios. Quando encontraram, eles sairam correndo para a floresta.

— É de onde ele veio — disse Percy apontando para onde os cachorros entraram.

Os cachorros latiram e Bobby falou:

— Eles estão na trilha.

Reyna pegou as rédeas do seu cavalo e olhou em volta para todos.

— Vamos. Ih-ah!

Pearl, com Reyna no seu dorso, galopou para as árvores e todos segui-ram.

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EEEELES GALOPARAM ATRAVÉS DE FLORESTAS E PASTAGENSLES GALOPARAM ATRAVÉS DE FLORESTAS E PASTAGENSLES GALOPARAM ATRAVÉS DE FLORESTAS E PASTAGENSLES GALOPARAM ATRAVÉS DE FLORESTAS E PASTAGENS, morros e vales, seguindo o latido dos cães. O terreno se tornou mais espesso e mais íngreme, então seus ga-lopes diminuíram para um trote, depois uma caminhada. Eles tinham viajado por horas, e estava ficando escuro, mas teriam de andar a noite toda para continuar na trilha. Bobby e Reyna andavam na frente, Percy e Hazel vinham atrás. Todos estavam muito quietos, provavelmente porque estavam todos exaustos. Dakota viu Percy puxar uma bolsa de couro do bolso e abri-la. Ele tirou um relógio de pulso. Tinha um mostrador branco e prata e uma pulseira de couro preto.

— Relógio legal — Dakota disse, quebrando o silêncio.

— É, meu amigo Tyson me deu de aniversário há alguns anos atrás — a-firmou Percy enquanto o prendia no pulso esquerdo.

Percy puxou duas notas de vinte dólares da bolsa.

— Eu deveria ter levado Annabeth ao cinema. Depois nós sairíamos para comer hambúrgueres e milkshakes.

— Você sente falta dela, hein? — Dakota disse compreensivo.

— Sim. — Percy assentiu, colocando o dinheiro no bolso da jaqueta.

Dakota observou Percy tirar os últimos dois objetos da bolsa. Um apito de prata em forma de tubo e uma caneta esferográfica barata. Ele colocou os dois no bolso da calça jeans.

— Você tem um cachorro, Percy? —Hazel perguntou.

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— Sim, ela é um Rottweiler. — Percy respondeu.

— Qual é o nome dela? — Hazel continuou, tentando manter uma pe-quena conversa.

— Sra. O’Leary — Percy disse.

— De onde você arranjou esse nome? — Dakota perguntou, incrédulo.

— Não fui eu, seu proprietário anterior que colocou. Ela pertenceu a um velho homem que morava na mesma quadra que eu. Ele estava doente, e eu caminhava com ela todos os dias pra ele. Quando ele faleceu, ela ficou órfã. Ela era uma cadela tão boa, e eu não queria que acabasse em um abrigo, então eu convenci minha mãe a me deixar ficar com ela. Eu tive que dar ao dono do nos-so prédio cada centavo que ganhei no verão para um depósito de animais de estimação, mas valeu a pena — explicou Percy.

— Parece que sua lealdade é profunda, Percy. Essa é uma virtude valori-zada na sociedade romana — Dakota disse.

Subitamente os cavalos pararam. Os latidos de cães haviam cessado.

— Espere aqui — Dakota disse pra Percy e Hazel.

Dakota dirigiu seu cavalo até Reyna e Bobby.

— O que é isso? — Dakota perguntou-lhes.

— Os cães perderam o rastro — Bobby respondeu.

Dakota olhou para Reyna e disse:

— E agora, destemida líder?

— Nós encontramos um lugar para acampar essa noite. Nós vamos tentar pegar o rastro amanhã de novo — Reyna disse.

Todos se dividiram procurando um lugar livre de neve para montar a-campamento.

Dakota aliviou seu cavalo ao longo de um penhasco com uma rocha sali-ente que quase parecia uma caverna rasa.

— Encontrei um lugar — gritou, e todos se foram até lá.

Hazel fez um fosso pro fogo envolto de pedras embaixo da rocha salien-te, enquanto todos os outros reuniam lenha. Eles colocaram a lenha no fosso e Hazel acenou com as mãos sobre ele. Subitamente, o fogo ganhou vida.

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— Como ela fez isso? — Percy perguntou à Dakota.

— A mãe dela é a deusa da lareira. Ela pode começar um fogo de lareira em qualquer lugar. Você não precisa de fósforos com ela por aí. — Dakota res-pondeu, olhando por cima de Hazel e dando-lhe uma piscada. — Venha Percy; vamos pegar os sacos de dormir nos cavalos. — Dakota acenou para ele segui-lo.

Cada sela tinha um colchonete e um saco de dormir enrolado e amarrado a ele. Bobby alimentou os cavalos com aveia tirada dos alforjes, e alimentou os cães com carne seca. Dakota e Percy apanharam os colchonetes e deram um para todos. Todos se sentaram, acomodaram-se em seus sacos de dormir em volta do fogo quente. Eles sentaram em silêncio, comendo granola e carne seca. A luz do fogo fez a nevada parecer glitter e fez os olhos de todos ficarem muito mais pe-sados.

— Alguém deve vigiar? E se os lobos estiverem lá fora? — Percy pergun-tou.

— Não se preocupe, os cães estão sempre alerta e vão nos acordar se esti-vermos em perigo — garantiu Bobby.

— Foi um longo dia, todo mundo precisa descansar um pouco — Reyna disse.

Todos deitaram exceto Dakota, que estava sentado ali olhando para o fo-go. Todos tinham dormido e Dakota estava prestes a se deitar quando ouviu Reyna dizer calmamente:

— Obrigado por vir atrás de mim, Kota.

— Você teria feito o mesmo por mim — disse sem tirar os olhos do fogo.

— Durma um pouco — ela falou. — Isso é uma ordem.

Dakota enrolou-se em seu saco de dormir, e adormeceu em segundos. O sonho de Dakota começou com uma dor no antebraço esquerdo. Ele havia que-brado esse braço cinco vezes no acampamento. Nenhuma quantidade de néctar, ambrosia ou cura mágica poderia restaurá-lo à sua condição original. Dakota estava de pé em um piso de madeira coberto de areia, dentro de um enorme anfiteatro de pedra. Dakota conhecia o lugar, embora ele nunca tivesse realmen-te estado lá antes. Era o Coliseu em Roma, mas não estava em ruínas. Dakota olhou ao redor com espanto. Estava em bom estado, o jeito que ele devia pare-cer a quase dois mil anos atrás. Dakota sempre se perguntou como seria lutar como gladiador no Coliseu, sendo adorado por uma plateia de cinquenta mil cidadãos romanos aplaudindo. Dakota teve um vislumbre de um homem em pé na casa do Imperador. Dakota olhou mais de perto e notou que o homem tinha

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duas faces; era Jano, o deus dos começos, finais, portas e escolhas. Dakota colo-cou a mão direita no coração e inclinou a cabeça para o deus.

— Filho de Roma, eu vejo que a sua importante jornada já começou — o rosto direito disse.

— Você está preparado para suas difíceis escolhas pela frente? — a face esquerda perguntou.

— Difíceis escolhas? — Dakota perguntou.

— Você vai responder ao chamado, garoto? — o rosto direito perguntou.

— É claro que ele irá — o rosto direito argumentou.

— Haverão muitas decisões pesando em seus ombros no tempo que virá. Mesmo agora, você luta com a indecisão e o arrependimento. Você realmente fez a escolha certa, Dakota? Tantos de seus soldados morreram em batalha. Sua decisão de levá-los para uma batalha desesperada... — a face direita continuou.

— Não era desesperada. Nós derrotamos o Titã Crio e salvamos o mun-do. Meus soldados não morreram em vão! — Dakota disse com raiva.

— E sobre a outra decisão que você tomou? Nós vimos você fechar uma porta e nós sabemos que vocês ainda lutam com essa decisão todos os dias, mas sua maldição é inteiramente de sua criação — a face esquerda disse.

— Não é verdade. Me foi dito o que iria acontecer, e eu fiz a decisão cor-reta. Eu tinha de protegê-la — Dakota argumentou.

— Então você diz, mas essa decisão não foi inteiramente sua, agora, foi? — o rosto esquerdo perguntou.

— Eu a fiz minha — Dakota disse severamente.

— Muito bem Dakota, a maioria não assumiria tal responsabilidade por suas escolhas — a face esquerda disse.

— Por causa de seu ônus, nós lhe daremos algumas dicas para melhor prepará-lo em seu caminho. — a face direita disse. — Suas portas incluem trai-ção, aliança, amor e morte. Quando você chegar a cada porta nós acreditamos que você vai fazer a escolha certa.

— Isso tem alguma coisa a ver com a Grande Profecia? Você perguntou se eu vou responder ao chamado — Dakota disse.

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— Talvez, mas apenas lembre-se, quando uma porta se fecha, outra se a-bre e a cada final há um novo começo... Ah, e essa maldição que você acha que tem, bem, talvez seja hora de rever essa porta — a face direita continuou.

— Ah, e mais uma coisa, criança. Encontre o pássaro com poderes proféti-cos. Ele irá lhe apontar o rei dos lobos. Você está na área dele, então não deve ser muito difícil de encontrar — a face esquerda disse, então o deus estalou os dedos e desapareceu.

Dakota acordou com o barulho de um pica-pau perfurando uma árvore. Dakota sentou-se como um tiro.

— Onde está o pássaro? — ele disse com urgência.

Era ainda o amanhecer, e Bobby e Percy ainda dormiam.

Reyna estava enrolando seu colchonete e saco de dormir.

Ela parou e perguntou:

— O quê?

— Esse pica-pau, onde está? —Dakota levantou tentando apontar de on-de o som estava vindo.

— Só porque ele te acordou, não significa que você tem que matá-lo — Reyna disse.

— Eu não quero matá-lo. Eu quero falar com ele — Dakota disse partindo rumo à floresta, seguindo o som.

— Sim, porque isso faz muito mais sentido — Reyna disse sarcasticamente, mas ela e Hazel seguiram-no floresta adentro.

Tinha nevado alguns metros durante a noite. O chão da floresta e a co-bertura vegetal foram cobertos com uma profunda camada de neve branca e brilhante.

— Ali — Dakota disse, apontando para uma Sequoia Altaneira. — Ali está ele.

— O pássaro? — perguntou Reyna.

— Não, quer dizer, sim, mas não é apenas um pássaro; é Pico. — Dakota disse.

— A divindade da mata? — Hazel perguntou. — Mas é um pássaro.

— A feiticeira Circe o transformou em um pica-pau — Dakota explicou.

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— Está certo. Ela estava apaixonado por ele, mas ele a rejeitou, e ela teve sua vingança transformando-o em um pica-pau — Reyna relembrou. — Mas porque você precisa falar com ele?

— Ele tem poderes proféticos. Jano me disse que o pássaro devia saber onde encontrar o rei lobo — Dakota explicou.

— Jano? Quando você falou com ele? — Reyna Perguntou.

— Ele veio a mim em um sonho — explicou Dakota. Ele olhou para a copa da árvore e disse: — Pico!

O pássaro desceu, aterrissando no galho de uma árvore jovem. Ele ficou ao nível dos olhos deles e disse:

— Você me chamou, semideus?

Dakota inclinou a cabeça.

— Pico, sou Dakota, estes são Reyna e Hazel. — Os dois inclinaram a ca-beça para o pássaro.

— Prazer em conhecê-los — Pico disse. — E você, você é uma coisa boni-ta — Pico disse pra Hazel e ela corou.

— Senhor — Reyna disse. — Nós esperávamos que você poderia nos di-zer onde encontrar o rei lobo.

— Porque vocês estão procurando por essa horrível criatura? — Pico per-guntou.

— Ele raptou Lupa. — Hazel disse.

— Ah, sim, isso mesmo. — Pico lembrou.

Só então Percy e Bobby vieram correndo até eles.

— O que está acontecendo, gente? — Bobby perguntou.

— Mais semideuses — Pico disse.

— Quem disse isso? — Bobby perguntou.

Dakota apontou para o pássaro e disse-lhe — Olá — .

Bobby se afastou e em seguida abaixou a cabeça. Ele bateu no braço de Percy para que fizesse o mesmo.

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— Porque eu amo Lupa eternamente, e todos vocês são pupilos, vou aju-dá-los a localizar Licaão, mas primeiro, porque eu sou muito bondoso, vou dar-lhes cada um uma dica de quem vocês realmente procuram. Bobby, você não precisa se preocupar com o que você procura, vocês vão se reencontrar em bre-ve. Hazel, meu amor, Percy vai levar você para o que você procura — Pico dis-se.

Hazel olhou para Percy, e ele sacudiu a cabeça como se não tivesse ideia do que o pássaro estava falando.

— Percy, o que você procura encontra-se com o número 3141. Reyna, o que você procura está com Lupa e Dakota, eu acredito que ele tenha te dito para rever uma porta; você deveria pensar em fazer isso — Pico disse.

— Nada disso faz qualquer sentido — Reyna disse.

— Talvez não agora, mas fará. E agora a pergunta em questão. Para en-contrar Lupa vocês precisam ir ao Coliseu.

— Mas o Coliseu é em Roma — Dakota disse.

— O Imperador sabe para onde Licaão está indo. Ele aguarda o seu desa-fio no oásis do deserto. Derrote-o, e você irá encontrar a localização do rei lobo.

— Poderia ser um pouco mais vago? — Dakota resmungou.

O pássaro olhou para as árvores.

— Estas sequoias estão entre as árvores mais antigas do planeta. Suas raí-zes vão muito longe. Se vocês pedirem bem, elas poderiam levá-los onde vocês precisam ir. Isso é tudo o que eu posso dizer. Espero que tenha ajudado. Boa sorte em sua jornada, pupilos. — O pássaro decolou do galho e voou para lon-ge.

Todos ficaram quietos por alguns segundos.

— Então nós supostamente temos que ir ao Coliseu em Roma? — Bobby perguntou.

— Eu não acho que isso é o que ele queria dizer. Ele disse que o Impera-dor estava no oásis no deserto — Reyna disse.

Dakota estalou os dedos.

— Entendi. Nós temos de ir para o Coliseu... no Caesar’s Palace.

— Vegas? — Hazel perguntou.

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Dakota assentiu com um sorriso.

— Vegas.

— Vegas — Percy e Reyna disseram em uníssono.

— Vegas! — Bobby gritou entusiasmado.

As copas das árvores de repente começaram a balançar violentamente. Todos olharam para cima quando toneladas de neve caíram em cima deles. Da-kota levantou-se e cuspiu neve de sua boca, exceto que não era neve, era areia. Ele olhou para o horizonte, e ali estava... Las Vegas.

— Ok, o que aconteceu? — Reyna perguntou, tirando a areia de suas roupas.

— Eu não sei, e eu não acho que quero saber — Dakota disse.

— Ei, olhe gente — Hazel disse. — Nossas coisas fizeram a viagem.

Com certeza, lá estavam as mochilas de todos, sacos de dormir e armas. Todos pegaram suas coisas e amarraram-nas. Dakota colocou seus óculos escuros e disse:

— Agora, lembrem-se, galera, o que acontece em Vegas, fica em Vegas.

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AAAA PRIMEIRA COISA QUE ELES FIZERAM PRIMEIRA COISA QUE ELES FIZERAM PRIMEIRA COISA QUE ELES FIZERAM PRIMEIRA COISA QUE ELES FIZERAM quando eles percorreram o caminho para a cidade foi encontrar uma lanchonete. Eles se sentaram em uma mesa redonda no canto de trás de um pequeno café. A televisão retumbava as notícias às 7 da ma-nhã... o sistema de tempestade está se deslocando para as Montanhas Rochosas. É esperado que as condições do clarão na área de Denver para amanhã...

Todos pediram um monte de panquecas e leite com chocolate. Eles come-ram rápido, mas o humor na mesa era uma das antecipações. Dakota notou que Percy parecia um pouco pálido, e ele mal havia tocado em suas panquecas.

— Está tudo bem com você, Percy? — Dakota perguntou.

— Hmm... Ah, sim, eu estou ótimo — Percy respondeu.

— Tem certeza? Você parece nervoso — Hazel disse.

— É só... Eu não sei, alguma coisa sobre essa cidade. Provavelmente não é nada — Percy disse e voltou a pegar a sua comida.

— Bom, eu estou animado — Bobby disse. — Jogos de dados e vinte-e-um e...

— Bobby — Reyna interrompeu. — Quantos anos você tem?

— Dezessete, você sabe disso — Bobby respondeu.

— Você realmente acha que eles irão deixá-lo jogar? Você deve ter 21, lembra? Além disso nós estamos aqui por uma razão, e que é derrotar o impera-dor e descobrir onde Licaão está. Então nós poderemos ir embora dessa cidade detestável — Reyna disse.

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Dakota lembrou que Reyna teve uma experiência não tão agradável em uma missão aqui alguns anos atrás.

Eles terminaram de comer e Percy pagou o café da manhã deles com o dinheiro em seu bolso. Eles caminharam para baixo do meio-fio olhando para o Caesar’s Palace. O meio-fio estava bastante tranquilo no início da manhã. As fes-tas que ocorrem a noite inteira na cidade deveriam dormir o dia todo. Dakota notou que Percy havia parado de caminhar. Ele estava olhando para um hotel e cassino descendo o quarteirão.

— O que é isso, Percy? — Dakota perguntou.

— Hotel Lótus... por que isso soa tão familiar? — Percy disse.

Reyna andou até ele e puxou seu braço para movê-lo novamente.

— Ah, não, fique longe desse lugar. É uma novidade ruim — Ela disse.

— Você já esteve aqui? — Percy perguntou.

— Uma vez, nunca mais — ela respondeu.

— Aqui está — Dakota disse apontando para baixo da faixa. — Caesar’s Palace.

Quando eles deram um jeito de descer, eles ficaram na calçada em temor daquele lugar. Era um cassino e hotel moderno, mas eles se sentiam como se es-tivessem sido jogados de volta à Roma antiga. A arquitetura consistia em arcos, colunas, e fachadas de pedra branca muito altas. Estátuas de divindades romanas pontilhavam uma paisagem de jardins e fontes cintilantes em um enorme pátio. À direita, junto ao cassino estava uma arena circular magnífica, o Coliseu. Eles percorreram através dos pátios e chegaram a uma entrada lateral do Coliseu.

— Nós nos deslocamos até lá? — Dakota perguntou a Reyna.

— Sem esgueirar-se para isso — ela disse. — Não há ninguém por perto.

Ela abriu a porta, e todos caminharam para dentro. Eles andaram por um elegante corredor até que viram um letreiro que se lia PISO e uma seta apontando para a esquerda.

— Por aqui — Reyna disse e se virou para o corredor da esquerda. Eles caminharam poucos metros quando Dakota viu o armário de um zelador.

— Vamos esconder nossos equipamentos aqui — Ele disse abrindo a por-ta do armário.

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Eles garantiram todas as suas armas à sua pessoa, então atiraram suas ja-quetas, colchões, e pacotes dentro do armário. Eles continuaram pelo corredor durante alguns metros e então apareceram no piso de uma arena enorme. O piso era de madeira, mas era revestido com polegadas de areia e sujeira. Era ás-pero e tinha o tamanho de quatro campos de futebol. As torres da rotunda subi-am em cem pés acima de suas cabeças, e no outro lado da arena, diretamente em frente a eles, estava um palco elevado embaixo de um elegante arco proscê-nio. Um homem estava parado no palco. Ele era um homem jovem, talvez de trinta e poucos anos, cabelo preto ondulado abaixo de um coroa de louros dou-rada. Ele era alto e bem formado. Ele usava uma armadura dourada deslumbran-te com uma espada amarrada ao seu lado, e ele segurava um elmo dourado com uma pequena pluma vermelha embaixo de seu braço esquerdo.

Eles caminharam para o centro da arena e pararam quando o homem le-vantou sua mão direita.

— Vocês são meus novos gladiadores? — o homem perguntou ruidosa-mente, sua voz ecoava no Coliseu.

Reyna andou um passo à frente.

— Nós somos filhos de Roma, oficiais da Primeira Legião. Nós estamos a serviço do Senatus Populusque Romanus.

— Eu também sirvo ao Senado e o Povo de Roma. Eu sou Cômodo, filho de Marco Aurélio, e imperador de Roma — ele disse.

— Cômodo? — Percy sussurrou para Dakota.

— Um imperador romano do final da década de 100 d.C. Ele foi um dos mais desprezados dos imperadores romanos. O cara era cruel e sádico, e ele era impiedoso na arena de gladiadores — Dakota explicou.

— Cômodo? — Reyna perguntou ruidosamente. — Mas ele foi morto pelo gladiador, Narciso, quase dois mil anos atrás.

— Isso é verdade, mas parece que voltei da morte — Cômodo disse.

— Mas como? — Reyna perguntou.

— Isso não é importante. Tudo o que importa agora é que eu tenho mi-nha nova arena, e meus novos gladiadores — Cômodo disse alegremente.

— Diga-nos onde Licaão está! — Dakota gritou.

Cômodo sentou-se em um trono no meio do palco e disse:

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— Depois da diversão... isso é, se vocês sobreviverem.

Ele levantou sua mãe para cima e estalou seus dedos. Todas as saídas se fecharam. Eles estavam presos. Uma porta enorme embaixo do palco elevado começou a se abrir. Eles conseguiram ouvir um estrondo e o piso começou a tremer.

— O que é aquilo? — Reyna gritou acima do estrondo.

— O que é aquilo? — Dakota murmurou para si mesmo.

De repente, houve aplausos a seu redor. Eles olharam para cima para ver que todos os lugares do Coliseu estavam ocupados, mas não por pessoas. Eles pareciam fantasmas.

— Manes! — Bobby gritou.

— O quê? — Percy perguntou.

— Espíritos que se foram — Bobby respondeu. — Eu acho que eles estão aqui por causa do show.

O estrondo ficou mais alto e mais alto até ficar ensurdecedor. Uma biga carregando dois pilotos, puxados por dois garanhões pretos, explodiram na por-ta aberta. Eles rodaram a arena como um exército de cerca de uma dúzia de gla-diadores marchando para dentro da arena. Duas colunas de madeiras começa-ram a se levantar no piso da arena, uma para o centro esquerdo e outra para o centro direito. Um arqueiro estava empoleirado no topo de cada coluna de cer-ca de dez pés para cima. A porta começou a se fechar, mas não antes de um ca-valeiro solitário vir galopando com sua espada erguida.

Eles ficaram no centro da arena com os gladiadores circulando eles. Eles formaram um círculo ombro a ombro para fora.

— Escudos! — Dakota ordenou.

Dakota arremessou sua moeda que se transformou em um enorme escudo redondo.

Reyna e Hazel tocaram em seus braceletes se transformando com magia em brilhantes escudos dourados. Bobby tocou em um anel em seu dedo, e se modificou em um escudo de metal preto. Percy tocou seu relógio de pulso e ele se espiralou para fora em um escudo de bronze polido.

— Uau! — Percy gritou em choque do que havia acabado de fazer.

— Isso, moleque! — Dakota disse para Percy.

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— Eu... eu não... como eu fiz... — Percy gaguejou.

— Não há tempo de se preocupar com isso agora — Dakota disse.

— Plano de ataque? — Hazel perguntou.

— Reyna, tire os arqueiros. Percy, você pega o cavaleiro. Bobby, Hazel, os gladiadores. Eu vou pegar a biga. Nós lutamos ao meu sinal.

Dakota tirou seu chapéu e o atirou no ar transformando-o em um elmo de gladiador de metal. Eles levantaram seus escudos para cima e tinham suas ar-mas em mãos. Eles se apoiaram em seus calcanhares aguardando a sua deixa.

— Firmes, firmes — Dakota disse.

— Lutem! — Cômodo gritou, e seus gladiadores investiram.

— Vão! — Dakota gritou, e eles desfizeram o círculo.

Reyna correu atrás de Hazel com seu escudo as protegendo das flechas voadoras. Hazel usou sua espada e escudo atacando os gladiadores. Reyna usou Hazel como uma distração para manter os gladiadores ocupados enquanto ela tirava seu arco, e alçava fogo no arqueiro. Ela o acertou, e ele desapareceu, também. Dakota estava de pé ao lado de uma coluna esperando a biga rodando ao seu redor. Reyna correu velozmente até ele, e logo antes de chegar ele se a-baixou nos joelhos e arqueou suas costas. Ela pisou em suas costas se lançando no ar para o topo da plataforma da coluna. Dakota cronometrou o carro pas-sando acabando de passar pela direita e pulou dentro do cesto e derrubando um piloto ao mesmo tempo. Ele bateu no piloto com o escudo até ele cair, também. Dakota pegou as redias e se direcionou para o grupo de gladiadores em que Ha-zel e Bobby estavam lutando. Dakota usava seu escudo como uma arma, baten-do em todos os gladiadores que ele passava ao chão. Percy rodopiava sua espa-da em sua mão como o homem que estava sendo carregado pelo cavaleiro. No último segundo, Percy revidou a parte de cima do cavalo nocauteando o cava-leiro ao chão. O cavaleiro rapidamente se levantou, e Percy levantou seu escudo a tempo de bloquear seu golpe. Percy o empurrou para longe com seu escudo então passou para a ofensiva golpeando e atravessando sua espada. Percy apa-rou os golpes e respondeu com sua própria espada, até finalmente achar uma brecha na armadura do cavaleiro, e ele irrompeu em pó. Percy assobiou e o ca-valo veio galopando. Ele pegou a sela e empurrou a si mesmo no cavalo em um movimento vasto. Ele direcionou o cavalo para a luta esquartejando os gladia-dores enquanto galopava por eles.

Dakota ouviu Cômodo gritando:

— Soltem os leões!

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As portas abaixo do palco se abriram novamente, e dois leões enormes saltaram para fora. Do outro lado da arena, Dakota viu Reyna atirando fogo em suas flechas aos leões, mas foi muito tarde. Um já havia saltado em direção dela. O leão a atingiu, lançando-a ao chão. Ainda de costas, ela embainhou sua adaga e cortou a besta. O leão foi capaz de evitar seus golpes e mantê-la no chão. Da-kota direcionou a biga em direção a ela em velocidade máxima. Dakota viu o escudo de um gladiador que era do tamanho da capota de um carro deitava no seu caminho. Os cavalos pularam aquilo, mas a biga a acertou como uma rampa. Dakota usou a força do impacto como uma catapulta saltando do cesto e voan-do pelo ar em direção de Reyna. Ainda no meio do ar, Dakota apontou sua lan-ça e a atirou em direção ao leão que estava atacando Reyna, acertando-o no pescoço, virando pó. Assim que Dakota lançou sua lança ele viu um escudo vo-ando em direção da sua cabeça como um frisbee. Ele levantou seu braço esquer-do para desviar o impacto. O escudo pegou Dakota no antebraço esquerdo e ele urrou de dor. Ele bateu contra o chão duro ao seu lado, e rolou agarrando seu braço esquerdo. Ele se sentou fugindo ele mesmo para trás da parede da arena. Ele tirou seu elmo de sua cabeça e o derrubou no chão.

— Você está bem? — ela perguntou.

— Aghh! — ele gritou segurando seu braço.

— Deixe-me ver — ela disse e tocou em seu braço esquerdo.

— Aagghhh! — Dakota gritou então amaldiçoou em latim.

— Está quebrado... de novo — Reyna disse.

— Droga! — Dakota gritou.

Reyna rolou para o lado e Dakota chutou um gladiador em seu peito. Reyna atirou sua adaga e acertou outro gladiador transformando-o em pó. Da-kota olhou ao redor da arena. Bobby e Hazel estavam se encarregando de uma luta de espadas com os dois gladiadores restantes e Percy, no dorso do cavalo, estava tendo um impasse com o leão. Percy direcionou o cavalo, em um galope, em direção ao leão. Quando ele chegou perto o suficiente, ele pulou do cavalo em direção ao leão, segurando sua espada com ambas as mãos. Ele pousou na fera, primeiro a espada, e o leão virou pó aos seus pés. Bobby e Hazel fizeram um trabalho rápido com os dois últimos gladiadores, então todos os três corre-ram para Dakota e Reyna. Eles ouviram aplausos do palco.

— Muito bem — Cômodo disse batendo palmas.

— Nós vencemos; agora nos dia onde encontrar Licaão! — Reyna gritou.

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— Ah, mas vocês não venceram ainda, minha querida — Cômodo disse. Ele pulou do palco para a arena, e caminhou em direção deles.

— Eu gosto de entrar em ação eu mesmo, às vezes — ele disse colocando seu elmo em sua cabeça. Um por um e eu escolho o meu oponente. Se vocês vencerem eu vou dizer onde encontrar Licaão, se eu vencer vocês todos serão meus gladiadores, para sempre.

Todos eles se entreolharam e assentiram em concordância.

— De acordo — Reyna disse. — Escolha seu oponente.

— Muito bem. — Cômodo sorriu. — Eu escolho Percy Jackson.

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PPPPERCY ESTAVA ATORDOADO POR OUVIR SEU NOME. ERCY ESTAVA ATORDOADO POR OUVIR SEU NOME. ERCY ESTAVA ATORDOADO POR OUVIR SEU NOME. ERCY ESTAVA ATORDOADO POR OUVIR SEU NOME. De modo algum ele estava preparado para se envolver numa luta de espadas com um Imperador Romano. Ele só tinha estado em uma luta de espadas uma vez em toda sua vida, e tinha sido com o cavaleiro há poucos minutos atrás.

— Apenas mantenha sua guarda alta e fique com os pés leves. Você vai ser sair bem — Reyna tentou tranquilizá-lo, mas não funcionou.

Percy estava aterrorizado. O destino de todos jazia em seus ombros, e tu-do que Percy podia fazer era tentar não se sentir mal.

Dakota jogou seu elmo para Percy.

— Coloque isso. Vai te protegê-lo e dar-lhe força e foco — Dakota disse, respirando pesadamente por causa da dor que ele estava sentindo.

— Você está pronto, garoto? — Cômodo perguntou a Percy com um sor-riso perverso.

Percy colocou o elmo de Dakota em sua cabeça e sentiu uma onda de confiança tomar conta dele. Percy desembainhou a espada, a mesma espada que Dakota havia devolvido pra ele no acampamento. Tinha noventa centímetros de ouro que se equilibravam bem em sua mão, embora fosse um pouco pesada.

— Estou pronto — Percy disse, caminhando em direção à Cômodo.

Cômodo desembainhou sua espada e disse:

— Por Roma!

Cômodo brandiu sua espada em Percy. Percy bloqueou o golpe com sua espada, empurrando Cômodo pra trás. Ele golpeou novamente, mas Percy es-quivou-se do ataque. Percy contra-atracou e Cômodo chocou a lâmina de Percy

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com a sua. Ele foi a Percy novamente, atacando sua cabeça. Percy se abaixou e rolou, indo para trás de Cômodo e chutando-lhe por trás. Cômodo cambaleou e Percy podia ouvir Bobby gritando atrás dele. Cômodo recuperou o equilíbrio e golpeou Percy. Percy defendeu e retribuiu com um soco que Cômodo evadiu. Percy brandiu e suas espadas colidiram, fazendo faíscas voarem. Percy continuou a esquivar, atacar e rolar quando Cômodo foi com tudo o que tinha.

— Percy — Cômodo disse, mas não era a sua voz.

Percy olhou Cômodo mais de perto, e seu rosto estava diferente. Parecia um rosto familiar, mas Percy não se lembrava de tê-lo visto antes. Era o rosto de um treinador. Ele tinha olhos azuis, feições severas e uma cicatriz branca na bo-checha esquerda.

— Percy — ele disse novamente —, lembre-se da técnica de desarmar.

Percy bloqueou e atacou Cômodo , e o rosto do treinador desapareceu, era apenas Cômodo novamente. Cômodo arremeteu, e Percy golpeou sua espa-da ao mesmo tempo. As lâminas deslizaram juntas, e quando a espada de Percy atingiu a base da espada de Cômodo, Percy torceu a espada e empurrou pra bai-xo, derrubando a lâmina de Cômodo no chão. Percy chutou a espada para o lado, e num mesmo movimento veio pra frente batendo no rosto de Cômodo com o punho da espada, derrubando-o no chão. Cômodo estava deitado de costas para o chão, desarmado, e com a ponta da espada de Percy em sua gar-ganta.

— Onde está Licaão? — Percy exigiu.

— Pikes Peak — Cômodo disse, respirando pesadamente. — Você vai en-contar Licaão em Pikes Peak.

Percy embainhou sua espada. Cômodo levantou-se e perguntou:

— Você não vai me matar?

— Ao contrário de você, eu sou misericordioso — Percy disse.

Cômodo saiu correndo para trás do palco e desapareceu. Percy tirou o Elmo de sua cabeça e caiu de joelhos. Todos correram pra ele.

— Você está ferido? — Reyna perguntou.

Percy balançou a cabeça e disse:

— Vocês já viram isso?

Todos sorriram.

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— Ah sim, nós vimos! — Bobby gritou de excitação. — Você chutou seu...

— Bobby — Reyna interrompeu. — Celebraremos depois, mas agora, vamos sair daqui logo.

Eles ajudaram Percy se levantar e saíram correndo da arena, parando pra pegar seu equipamento quando eles deixaram o Coliseu. Eles saíram correndo pela rua. Encontraram um banco ao longo da calçada à poucos quarteirões e pararam para descansar e reagrupar.

— E agora? — Hazel perguntou.

— Primeiro, o braço de Kota precisa de cuidados — Reyna disse, tirando um cantil de suas coisas.

— Beba — Ela disse à Dakota, entregando-lhe o cantil.

Ele tomou dois goles, e ela entregou-lhe o que parecia ser um pedaço de uma barra de chocolate da Hershey’s.

— Coma isto — disse, e ele agradeceu.

— Melhor? — ela perguntou.

— Um pouco — ele respondeu ainda, obviamente, sentindo dor.

— Eu posso curá-lo, mas não aqui — ela disse enquanto estava ajudando a colocar o braço de Kota numa tipoia.

— Você pode fazer isso assim que chegarmos na estrada — Dakota disse.

— Pikes Peak — Percy disse.

— Como é que vamos chegar ao Colorado? — Hazel perguntou.

— Dirigindo — Dakota disse.

— Nós alugaremos um carro — Reyna disse. — Você trouxe o cartão, Hazel?

— Sim — Hazel respondeu.

— Bem, vamos nos mexer — Reyna disse.

Desceram a rua, e não demorou muito até encontrarem uma loja de Alu-guel de Carros. A placa do lado de fora lia-se: DEVE-SE TER 18 OU MAIS PARA ALUGAR.

— Vou pegar o carro — Dakota disse.

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— Mas você está machucado — Hazel disse.

— Alguém aqui tem dezoito? — Ele disse rudemente, mas era a dor falan-do. — Acho que não.

— Você não pode dirigir machucado, Kota — Reyna disse-lhe.

— Eu só vou pegar o carro e encontro vocês a alguns quarteirões abaixo, então alguém pode dirigir — Dakota disse.

Dakota tirou a tipoia e tomou outro gole do cantil. Hazel entregou-lhe um Cartão Visa.

— Vocês tem um cartão de crédito? — Percy perguntou.

— É um cartão de débito empresarial — Hazel respondeu.

— Ah, as uvas — Percy lembrou.

— Ok, quatro quadras. — Reyna apontou na direção em que estariam es-perando.

Dakota acenou com a cabeça e caminhou para dentro da loja de aluguéis. Todos desceram quatro quadras e encontraram um banco pra descansar enquan-to esperavam por Dakota.

— Você fez um bom trabalho lá — Reyna disse à Percy.

— Bom? Foi incrível! — Bobby disse. — Onde você aprendeu a lutar as-sim?

— Eu não sei. Essa foi a primeira vez que faço algo parecido — Percy res-pondeu.

— Sem chance — Bobby disse.

— E sobre o seu escudo, Percy? — Reyna perguntou, com suspeita em sua voz.

— Eu não sei. Eu apertei o relógio por instinto. Eu não tenho ideia — Per-cy explicou.

— Está acontecendo alguma outra coisa com você que nós devíamos sa-ber? — Reyna perguntou.

Percy hesitou, mas pensou que poderia muito bem dizer-lhes sobre o Déjà Vu. Talvez eles pudessem ajudá-lo a descobrir o que significava.

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— Eu tenho tido o que acho que vocês chamariam de déjà vu. No riacho, vi o rosto de minha amiga Thalia, e no meu sonho eu vi Annabeth. Era mais co-mo uma memória do que uma visão, mas o que eu estava vendo na verdade nunca aconteceu. E hoje... essa cidade me deixou tão nervoso, e o Hotel e Cassi-no Lótus me pareceu tão familiar. Mesmo quando eu estava lutando contra Cô-modo, eu vi o rosto e ouvi a voz de alguém que acho que sei quem, mas não me lembro de ter conhecido. Isso faz algum sentido pra vocês?

— Não, não faz — Reyna disse.

— Não se preocupe, Percy. Nós vamos descobrir — Hazel garantiu.

— Então, quem vai dirigir? — Hazel disse, tentando mudar o assunto.

Todos olharam pra Reyna.

— Não olhem pra mim! A única coisa que eu dirijo é uma biga. — Reyna disse.

— Ah, eu vou dirigir. — Bobby disse com entusiasmo.

Reyna e Hazel olharam para Percy.

— Percy, — Reyna disse. — Você tem carteira de motorista?

— Tenho, mas não está comigo. Não estava nas minhas coisas.

— Bem Bobby, parece que você vai dirigir. — Reyna disse.

— Sim. — Bobby ergueu o punho.

Eles sentaram no banco por mais alguns minutos, quando uma Hummer H2 vermelho-cereja parou e estacionou na frente deles. Dakota saiu do banco do motorista e abriu a janela de trás.

Hazel sorriu e disse.

— É claro, o filho do deus da guerra iria pegar a Hummer.

Todos jogaram suas coisas na área de carga.

— Era a única grande o suficiente para todos nós. — Dakota sorriu e pis-cou pra Percy.

— Claro que era. — Reyna sorriu e fechou a janela.

— Quem está dirigindo? — Dakota perguntou.

— Eu estou — Bobby disse.

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Dakota olhou para Reyna e levantou uma sobrancelha. Reyna assentiu.

— Tudo bem. — Dakota disse e atirou as chaves para Bobby.

Todos subiram. Percy sentou na frente com Bobby. Na parte de trás, Rey-na sentou-se no meio, Hazel na esquerda e Dakota na direita.

— Todo mundo, cinto de segurança. — Bobby disse e saiu dirigindo para o leste. — Percy, programe o GPS para Pikes Peak.

Percy programou, então olhou para o banco de trás. Reyna estava volta-da para Dakota.

— Você está pronto? — Ela perguntou-o.

— Como eu sempre estarei — Ele disse.

Reyna fechou os olhos e colocou as duas mãos no braço quebrado de Da-kota.

Dakota gritou com toda a força.

— Aagghhh, Aaaggghhhh!

Reyna estava respirando pesadamente e estremeceu um pouco.

— Aagghhh! — Dakota continuou, mal capaz de recuperar o fôlego.

Finalmente Dakota parou de gritar, e Reyna soltou seu braço. Ambos es-

tavam tentando recuperar o fôlego.

— O que aconteceu lá atrás? — Percy perguntou a Bobby.

— O pai de Reyna é Apolo. A cura é um de seus poderes divinos, e Rey-

na herdou um pouco disso. Ela foi capaz de deslocar e consertar o braço que-

brado de Dakota. Isso a deixa exausta, entretanto. Ela vai ter que dormir um

pouco — Bobby explicou.

Reyna, ainda respirando pesadamente, perguntou:

— Como se sente, Kota? — Ele esticou o braço e flexionou o pulso.

— Não mais quebrado — ele disse, ainda recuperando o fôlego.

Ela inclinou a cabeça para trás contra o banco e disse:

— Bom.

— Obrigado, Reyna — Dakota disse.

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Ela bocejou e disse:

— Agora estamos quites.

Ela fechou os olhos e adormeceu instantaneamente.

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OOOO SONHO DE REYNA COMEÇOU COM ELA SONHO DE REYNA COMEÇOU COM ELA SONHO DE REYNA COMEÇOU COM ELA SONHO DE REYNA COMEÇOU COM ELA encarando uma casa branca de mármore. Tinha colunas pesadas de pedra na frente e portas de bronze polido. Havia um número 1 em bronze na porta. Alguém saiu dela; era Jason. Reyna gritou por ele, mas ele não respondeu; era como se ele não pudesse ouvi-la. Ela queria correr para ele, mas não podia se mover. Uma garota avançou para Jason, e começou a conversar com ele. Reyna não podia distinguir o que eles diziam. A garota ti-nha cabelo castanho cotado com muita irregularidade e algumas tranças nos la-dos. Ela usava calça jeans azul surrada e uma jaqueta de esqui. Ela era uma garo-ta muito bonita, mesmo parecendo que tentava não ser. Ela apertou a mão dele, e Reyna começou a irritar com a visão. Quem essa galinha pensa que é?

Reyna tinha uma queda por Jason. Eles sempre foram amigos próximos, mas aparentava que estavam ficando mais próximos ainda desde o fim do verão, desde a batalha. Reyna nunca contou a Jason o que ela começava a sentir por ele, e agora ela se culpava por não ter contado.

Eles continuaram a conversar, e Reyna pôde começar a entender algumas palavras: memória, romanos, gregos. Ela não conseguia entender o que significa-va, mas soube que era importante. Quando a garota terminou de conversar com Jason, ela o beijou na bochecha e se afastou. Jason voltou para a casa de már-more, e um lobo apareceu onde ele estivera. Lupa.

— Olá, minha pupila — falou Lupa.

— Madame Lupa — Reyna disse e curvou a cabeça.

— Não temos muito tempo, então serei rápida — disse Lupa. — Essa mis-são sua de me resgatar é só o começo. Sinto que algo grande está prestes a acon-tecer, a grande profecia pode estar começando. Temo que você tenha um longo e duro caminho pela frente e sacrifícios terão que ser feitos. Me encontre, Reyna,

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e lhe levarei para o que procura. Boa caça, pupila. — Assim que Lupa terminou, Reyna acordou.

Sua cabeça estava descansando no ombro de Dakota. Ela olhou para cima e notou que ele estava adormecido. Ela olhou para todo o Hummer, e não ha-via ninguém nele. Eles haviam parado num posto de gasolina. Bobby estava en-chendo o tanque enquanto Percy e Hazel davam uma olhada na loja de conve-niência. Bobby pendurou a bomba e voltou para o Hummer.

— Brrrrr, está frio lá fora — comentou.

— Onde nós estamos? — perguntou Reyna.

— Ah, você acordou! — exclamou Bobby. — Estamos a umas duas horas do Pikes Peak.

Dakota bocejou e esticou os braços.

— Já chegamos?

— Em duas horas — falou Reyna.

Percy e Hazel riam durante a volta ao Hummer, cada um segurando um saco. Eles entraram e Hazel disse:

— Comida e bebida.

Reyna olhou numa mochila.

— Comida gordurosa.

Bobby ligou o motor e dirigiu de volta para a estrada.

— Tem bolinhos aí? — perguntou Dakota.

Percy jogou um pacote de bolinho sobre o ombro para os assentos trasei-ros e Dakota o pegou.

— Excelente — murmurou.

— Cadê o meu Red Bull? — perguntou Bobby.

— Aqui — falou Hazel, passando para ele.

Reyna pegou uma garrafa de suco de maçã e um saco de rosquinhas nutri-tivas. Eles comeram e ouviram um pouco de rock’n’roll no rádio. Estavam diri-gindo por uma pista de asfalto serpeante no coração das Montanhas Rochosas. Neve fina começou a cair e Bobby ligou os limpadores de vidro. Passaram por uma placa que lia-se: COLORADO SPRINGS A 60 QUILÔMETROS. A tempestade de neve

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começou a engrossar, e o vento começou a uivar. Não ia demorar muito até eles entrarem numa nevasca. Bobby teve que diminuir a velocidade consideravel-mente. A estrada começava a ficar lisa, assim Bobby pressionou um botão no painel para engatar tração nas quatro rodas. A visibilidade era quase zero até com os faróis no máximo e os limpadores em potência total. Houve um lampejo claro de luz azul na frente deles, depois outro. E outro. Bobby diminuiu a velo-cidade para quase um rastejo.

— Que luz foi aquela? — perguntou Bobby. — Alguém sabe?

— Não posso ver nada por essa neve — falou Percy, semicerrando os o-lhos, olhando pelo para-brisa.

Subitamente, a neve na frente do Hummer começou a redemoinhar vio-lentamente como um tornado.

— Que inferno...? — praguejou Bobby e pisou no breque, parando com-pletamente.

O tornado de neve movimentava-se pela estrada aspirando a neve cor-tante e aumentando a visibilidade. O tornado de neve alcançou as lampejantes luzes azul então desapareceu revelando uma nuvem de tempestade escura com forma de cavalo no meio da pista. A nuvem em forma de cavalo olhou para o Hummer, batendo os cascos no pavimento.

— O que é isso? — Percy perguntou.

— O que quer que seja, não deve ser coisa boa — respondeu Bobby.

A nuvem de cavalo empinou-se e raios crepitaram pela sua crina.

— É Tempestade! — gritou Reyna enquanto o cavalo começava a correr até eles.

Bobby colocou o Hummer na ré e pisou quase que perfurando o acelera-dor. Ele colocou sua mão direita atrás do encosto de cabeça de Percy e a sua mão esquerda no volante. Olhou para trás para ver pelo vidro de trás.

— Tira a cabeça, Reyna! — gritou e ela se abaixou.

Bobby voou baixo pela estrada de ré. Ele olhou para frente para frente Tempestade aproximando-se deles. Fumaça soprou das suas narinas e raios fais-caram no seu dorso.

Quando Tempestade estava a centímetros do capô do Hummer, Bobby gritou:

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— Segurem-se!

Ele lançou o volante para a esquerda e o Hummer deu uma volta de tre-zentos e sessenta graus. As garotas gritaram, e Tempestade passou correndo dire-to pelo Hummer na hora em que ele girava para fora do seu caminho. Bobby jogou o carro de volta para a pista e acelerou. O velocímetro marcava cem, cen-to e dez, cento e trinta quilômetros por hora. Tempestade estava justamente no para-choque deles. A estrada fez uma curva para a direito e Bobby jogou o vo-lante deslizando o Hummer na curva usando todas as quatro rodas.

— Uuuuuuh, huuuuuuu! — gritou Bobby enquanto todos se seguravam pelas suas queridas vidas.

Tempestade agora estava galopando pelo lado direito do Hummer. Ele bateu sua cabeça na porta de Percy escorregando o Hummer pela rodovia. Bobby retomou a direção então direcionou o volante para Tempestade, chocan-do-se nele e diminuindo sua velocidade, mas só por um segundo. A estrada fez uma curva para a esquerda, e Bobby tomou-a num completo deslize lateral e saiu da curva totalmente de frente. Tempestade se movera para o lado esquerdo do Hummer agora. Sua cabeça estava plana com a porta do motorista. Bobby olhou para fora da janela para ver Tempestade prestes a golpear sua cabeça na porta. Bobby pisou no freio e Tempestade voou para a direita, na frente deles, não acertando o Hummer por centímetros e voando para fora da estrada no lado direito. Bobby pisou novamente no acelerador girando todas as quatro ro-das enquanto saía disparado. Tempestade emergiu de volta na estrada atrás de-les.

— O teto lunar! — gritou Bobby.

Dakota olhou para Reyna.

— Pegue seu arco.

Reyna desafivelou seu cinto de segurança e pegou seu arco e aljava da mala traseira do carro. Percy pressionou o botão para abrir o teto lunar. Reyna ficou de pé no console central e passou seu corpo para fora do teto lunar. Ela puxou o arco e atirou uma flecha em Tempestade. A flecha o atingiu, e ele recu-ou em dor. Então voltou normal correndo atrás deles. Ela atirou várias outras flechas diminuindo a velocidade de Tempestade, mas sem matá-lo. Ela agachou de volta ao Hummer.

— Não funcionou — falou enquanto se sentava de volta no banco e afi-velava o cinto.

Bobby ainda estava dirigindo a cento e trinta quilômetros por hora e des-lizando nas curvas. Tempestade ainda estava ganhando deles. Eles podiam ver as

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luzes de uma cidade alguns quilômetros adiante. Se eles pudessem simplesmente chegar lá, talvez Tempestade não os seguisse numa área povoada. Estavam a só um quilômetro da cidade quando Tempestade os alcançou. Bobby olhou pelo retrovisor para ver a cabeça dele na janela de trás, então desapareceu de vista. Subitamente ouviu um ruído alto no para-choque traseiro e o Hummer saiu gi-rando fora de controle. Bobby tentou manejar o volante, mas estava indo rápi-do demais. O Hummer ficou girando, girando, e todos gritaram mais alto do que qualquer outra coisa. O Hummer saiu girando da rodovia, desceu um desfi-ladeiro, e acertou uma grande árvore de pinho, fazendo os airbags se encherem. Todos se sentaram ali ofuscados por alguns segundos.

— Onde ele foi? — berrou Reyna.

Todos olharam em volta, mas nenhum sinal de Tempestade foi visto.

— Acho que ele tenha pensado que nos matou — sugeriu Dakota.

De repente, houve uma voz dentro do Hummer... Eu sou Onstar. Rece-bemos um alerta de que vocês bateram. Precisam de assistência médica?

— Hã... não madame, estamos bem, mas você poderia mandar um guin-cho para levar o carro? — falou Bobby.

Ele estará aí em uma hora, a voz disse.

— Obrigado — falou Bobby.

Todo mundo pulou para fora do Hummer. Eles estavam doloridos, mas ninguém machucado.

Dakota olhou para o Hummer quebrado e disse:

— Estou muito contente por ter o seguro extra.

Bobby começou a gargalhar mas logo rompeu numa risada.

— Foi muuuuito incrível! Podemos fazer de novo?

— Não! — todos gritaram ao mesmo tempo.

— Vamos pegar nossas coisas e ir para aquela cidade que vimos lá na fren-te. Talvez a gente consiga achar algum lugar pra sair dessa nevasca — falou Rey-na.

Eles caminharam para a pequena cidade e rapidamente localizaram um pequeno resort que tinha uma loja de esqui e chalés para alugar. Entraram no saguão e foram para o balcão, tirando a neve dos casacos.

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O homem atrás do balcão disse:

— Tá frio aí fora, hein?

— Sim, senhor — todos disseram.

— O que posso fazer por vocês hoje à noite? — perguntou o homem.

— Gostaríamos de alugar um chalé, por favor — falou Reyna.

— Bem, vocês têm sorte; só sobrou uma. Quantas noites? — perguntou ele.

— Só uma — respondeu Reyna.

— Vocês estão de férias? — o homem perguntou enquanto digitava no seu computador.

— Reunião de família — disse Hazel com um sorriso.

— Ah, precisaram se afastar de adultos malucos um pouco. Entendo — disse. — Ok, vou precisar de uma carteira de motorista e um cartão Visa ou Mas-ter Card.

Dakota passou ao balconista sua carteira e um cartão Visa. O homem im-primiu a papelada e Dakota assinou.

— Chalé um — informou o homem —, assim que saírem, vão para a di-reita. — E deu a chave para Dakota.

— Obrigado — falou Dakota.

Avançaram para um grande chalé de toras de madeira de dois andares com um número 1 de bronze sobre a porta. Tinha grandes colunas de madeira na varanda da frente que sustentavam a sacada do segundo andar. Parecia surpre-endentemente similar à casa de mármore que Reyna vira no sonho.

— Eu sou a primeira no chuveiro — disse Hazel enquanto passavam pela porta da frente.

Todos derrubaram suas coisas e fizeram-se em casa. Havia uma imensa á-rea de estar e cozinha. Lenha queimava na lareira deixando o clima agradável e aconchegante. Haviam dois quartos embaixo e dois quartos, então alguém teria que dormir no sofá. Reyna subiu as escadas e abriu uma porta de vidro deslizan-te. Ela saiu para a sacada fechando a porta às suas costas. Cruzou os braços des-cansando-os no parapeito da sacada e encostou-se nela, olhando para a nevasca. Alguns minutos passaram antes dela ouvir a porta deslizar e depois fechar-se.

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Dakota encostou-se na sacada ao seu lado. Só ficou ali por um momento fitando a tempestade.

— Compartilhe seus pensamentos — falou, finalmente.

— O que você pensa sobre Percy? — perguntou Reyna.

— Eu gosto do cara — respondeu Dakota. — Você não?

— Eu gosto, mas... — começou ela.

— Você não acha que ele seja quem diz ser — disse Dakota.

— Eu acho que ele pensa que é — respondeu Reyna.

— Mas você acha que ele é grego — falou ele.

— Como soube? — perguntou ela.

— Vamos lá, Reyna. Você contou para Jess. Você sabe que ela não pode manter a boca fechada sobre nada.

— Eu vou costurá-la quando voltarmos. Para quem mais ela contou? — perguntou em frustração.

— Só eu, e ela não vai contar para mais ninguém — garantiu Dakota.

— Como pode ter tanta certeza? — perguntou Reyna.

— Eu falei para ela que se mantêssemos isso entre nós, eu levaria ela para jantar e ver um filme. — Ele sorriu.

— Você é um malandro mesmo — falou Reyna, sacudindo a cabeça.

— O quê? Eu tive que fazer alguma coisa. Além disso, ela é um pouco bo-nita — argumentou ele.

Reyna inclinou a cabeça e levantou uma sobrancelha.

— É, ela não é realmente do meu tipo. Você sabe, você deveria ter con-tado isso para mim — disse ele.

Reyna assentiu.

— Então qual é a sua teoria? — ele perguntou.

— A experiência dele com uma espada e aquele escudo... ele foi treinado — Reyna respondeu.

— Concordo, mas ele diz que não — falou Dakota.

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— Ele me disse que esteve tendo visões, como déjà vu — Reyna contou. — É como se estivesse lembrando de coisas que na verdade nunca aconteceram. Acho que alguém mexeu com a memória dele.

— Alguém quer que ele pense que leva uma vida mortal normal? — per-guntou Dakota.

— Ou querem que nós pensemos que ele leva. Pense sobre isso. Se ele soubesse que era grego quando veio ao nosso acampamento... você pode imagi-nar? — perguntou ela, sacudindo a cabeça.

— É, isso provavelmente não teria sido muito legal, mas por que fazê-lo achar que é um mortal? Por que só não apagar toda a sua memória? — quis sa-ber Dakota.

— Isso seria um ponto muito suspeito — ela raciocinou. — Eu não me convenceria, você iria? É mais provável que não teríamos sido tão gentis com ele.

— Sim, provavelmente teríamos jogado-o num fosso e o deixado lá — concordou Dakota.

Reyna assentiu.

— Então você acha que suas memórias reais foram sobrepostas por me-mórias de uma vida mortal, assim seria mais fácil para ele se infiltrar no nosso acampamento... é um pouco elástico, Reyna... e Jason?

— Se percy está aqui com a gente, então... — começou ela.

— Você acha que Jason está com os gregos — ele disse com um olhar du-vidoso.

— Você tem uma teoria melhor? — perguntou Reyna.

— Não, e meu cérebro dói só de pensar na sua.

— Eu esqueci que pensar é um processo muito esforçado para você. — Ela sorriu.

— Cale-se.

Ambos sorriram.

— Também tem mais uma coisa, Kota.

— O quê? — perguntou Dakota.

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— Lupa veio a mim num sonho. Ela disse que essa missão era só o começo de algo maior.

— Jano disse algo assim para mim, algo sobre minha importante jornada ter começado. E ele perguntou se eu responderia ao chamado.

Reyna assentiu.

— Lupa acredita que a grande profecia começou.

— Pensei ao máximo, mas temos que nos focar na tarefa em mãos que é encontrar Lupa — falou Dakota.

Ela assentiu.

— Você tem razão.

— É claro que tenho — disse. — Agora, vamos voltar para dentro. Está frio aqui. — Eles entraram de volta no chalé.

— Bom, eu vou tomar um longo banho quente. Descanse um pouco, Ko-ta. Amanhã será um longo dia.

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DDDDAKOTA ACORDOU COM ALGUÉM SACUDINDO SEU OMBRO.AKOTA ACORDOU COM ALGUÉM SACUDINDO SEU OMBRO.AKOTA ACORDOU COM ALGUÉM SACUDINDO SEU OMBRO.AKOTA ACORDOU COM ALGUÉM SACUDINDO SEU OMBRO.

— Dakota, Dakota — disse Hazel discretamente, sacudindo seu ombro enquanto ele dormia no sofá.

— Hum... — Ele abriu os olhos e viu Hazel de pé à sua frente. Ela estava com o cabelo enrolado num toalha no topo da cabeça.

— Bom dia, raio do dia. — Ela sorriu.

— Que horas são? — Ele bocejou.

— Sete — respondeu ela passando para ele um aparelho de barbear. — O banheiro está livre.

Dakota esfregou o rosto. Sua barba estava ficando um pouco grossa. A úl-tima vez que a tinha feito era a muito tempo atrás.

— Obrigado, Hazel — disse e pegou o aparelho.

Dakota aparou a barba, tomou banho e vestiu roupas novas que tinha na sua mala. Todos estavam reunindo as coisas e se preparando para ir embora.

Reyna olhou para Dakota enquanto ele fechava o zíper do seu casaco.

— Você cortou — ela disse para ele.

— É — ele disse tocando a própria bochecha. — Estava ficando muito ru-im.

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Reyna deu de ombros.

— Eu pensava que era muito bonito.

O coração de Dakota pulou uma batida. Ela não havia dito algo tão bom para ele há um longo tempo.

— Então, qual é o plano? — Percy perguntou.

— A gente precisa achar um jeito de ir pro Pikes Peak — informou Reyna.

— Mas primeiro, café da manhã — disse Bobby.

Eles saíram do chalé e a neve estava firme. Devia ter nevado uns trinta centímetros durante a noite, e ainda estava nevando, embora não tanto quanto estava na noite passada.

Todos entraram no saguão do resort. Dakota foi para o balcão para de-volver as chaves do chalé, e todos se serviram de um café da manhã de cortesia. Eles se sentaram numa mesa e comeram mingau de aveia, panquecas e beberam suco de laranja.

— Vamos para a loja de esqui quando acabarmos aqui — disse Dakota. — Talvez possamos arranjar algumas dicas de qual é a melhor maneira de ir ao Pe-ak.

— Boa ideia — falou Hazel. — Podemos precisar de instrumentos de ca-minhada também.

Acabaram o café da manhã e rumaram para a loja de esqui. O lugar era o país das maravilhas dos esportes de inverno. Pranchas de esqui estavam pendu-radas no teto e alinhavam prateleiras nas paredes. Esquis, casacos e botas preen-chiam prateleiras em toda a loja. Uma vitrine no balcão do caixa continha com-passos, facas e vários GPS de mão. A caixeira da loja saiu de trás do balcão. Ela era jovem, talvez tivesse vinte anos. Tinha cabelo marrom-escuro e encaracola-do, e olhos gentis. Parecia atlética como se provavelmente tivesse esquiado essas montanhas a vida inteira.

— Posso ajudá-los em algo? — perguntou ela.

— Qual é a distância do Pikes Peak daqui? — Dakota perguntou para ela.

— Não é longe à base da montanha, agora chegar ao pico é outra história — respondeu ela. — Vocês vão assim mesmo?

Eles assentiram.

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— Bem, de carro vocês poderiam chegar à base da montanha em uma ho-ra, mas por causa da nevasca a polícia bloqueou todas as estradas — ela expli-cou.

— A tempestade ainda é ruim no pico? — Reyna perguntou.

— Temo que sim — respondeu a caixeira. — A previsão do tempo diz que a tempestade passou, e amanhã provavelmente tudo ficará livre. Vocês po-dem querer esperar até a tempestade passar para ir ao Peak.

— A tempestade está conectada a Licaão de algum modo — Reyna sussur-rou para os amigos para que a caixeira não ouvisse. — Se a tempestade ainda está aí, então ele provavelmente está também.

— Isso nos dá por volta de vinte e quatro horas para achá-lo — disse Da-kota.

— Mas a montanha é imensa, como conseguiremos localizá-lo? — pergun-tou Hazel.

— Aqueles lobos irão provavelmente encontrar a gente antes que nós en-contremos eles — respondeu Reyna.

— Vocês sabem, se tiverem pressa para chegar lá, só levaria umas três ho-ras numa motoneve — sugeriu a caixeira.

Dakota esfregou uma cicatriz na parte de trás do seu pescoço. Ele esteve um acidente realmente mau com um ATV numa missão no Vale da Morte seis anos atrás, e desde então, ele tem feito tudo o que podia para ficar longe de ATVs, de qualquer tipo que fosse.

Reyna olhou para as pranchas de esqui penduradas no teto.

— E que tal uma prancha?

— Sim, é uma opção. Mas a viagem levará metade de um dia. Não é uma viagem mau daqui até lá agora. Com esses montes de neve, deve ser uma via-gem razoavelmente simples, mas longa — a caixeira disse.

— E quando chegarmos à base da montanha? — perguntou Hazel.

— Vocês terão que escalar até o pico — respondeu a caixeira.

— O que vocês acham, galera? — perguntou Reyna para eles. — Com â-nimo para esquiar as Rochosas?

— Ah, claro — falou Bobby com um vasto sorriso no rosto.

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Todos assentiram em concordância.

— Muito bem então, peguem o que precisarem — disse Reyna.

Todos pegaram uma prancha, óculos de proteção, shorts de esqui e outros itens que precisavam. Dakota olhou para a vitrine.

— Desculpe-me, senhorita — Dakota falou à caixeira.

— Carmen, me chame de Carmen — ela lhe disse.

— Carmen, posso ver uma dessas facas na vitrine? — pediu Dakota.

— Claro.

Ela abriu a vitrine e entregou uma das facas para Dakota. Ele a desembai-nhou. Era uma típica faca de escalador. Tinha um cabo de metal, e a lâmina ti-nha aproximadamente quinze centímetros de comprimento com uma navalha afiada num lado e uma parte pequena e serrilhada no outro.

— A lâmina é de aço inoxidável? — perguntou Dakota.

— Ah, não, liquidamos as de aço inoxidável. Essas são de prata de lei — respondeu Carmen. — Acabamos de recebê-la, foi entregue ontem. Devem aju-dar vocês com o problema dos lobos.

Dakota olhou para ela em surpresa.

— Quem é você? Como você...

Ela sorriu.

— Um passarinho me contou.

Dakota olhou para a faca novamente.

— Vamos levar cinco.

Todos pegaram o que precisavam. Enquanto fechavam a conta, Hazel suspirou.

— Vocês sabem por quanto tempo poderemos pagar por essa viagem?

Bobby olhou para ela e disse:

— Nem me lembre.

Carmen levou-os para fora da loja até a lateral da estrada num declive coberto de vários metros de neve.

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Ela apontou para o sul.

— O Peak é para o sul. Esse declive é bastante reto, e vai levá-los para a base da montanha. Vocês podem não serem capazes de ver o pico ao chegarem lá por causa da nevasca. Basta continuarem indo para o sul e devem alcançá-lo antes do cair da noite.

Todos olharam para o declive.

— Boa sorte, pupilos — Carmen falou para eles.

Todos viraram para Carmen surpresos, mas ela partira.

— Quem era ela? — perguntou Reyna, confusa.

— Acho que era Carmenta — respondeu Dakota —, uma das Camenae.

— As ninfas proféticas? — perguntou Hazel.

Dakota assentiu.

— Eu acho que Pico lhe disse que estávamos vindo.

— Pássaro tão amigável. — Hazel sorriu.

Todos viraram para Hazel.

— Que foi? — Ela deu de ombros.

— Ok, gente, vamos vistam as coisas — ordenou Reyna.

— Eles colocaram seus shorts de esqui, luvas e mochilas, e fecharam o zí-per dos casacos. Puseram elmos sobre as toucas e se prenderam nas pranchas.

— Percy, você já esquiou na vida? — Dakota perguntou para ele.

— Não — respondeu Percy.

— Mas você anda de skate, certo? — perguntou Reyna.

— Sim — respondeu Percy.

— É o mesmo princípio, basta começar devagar e você deve dominar ra-pidamente — lhe disse Reyna.

— Você faz parecer fácil — disse Percy.

— Aprender é a parte mais difícil — explicou Reyna. — Você só tem que manter sua percepção na prancha e no terreno.

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— Não se preocupe, Percy. Eu te ajudo — falou Dakota colocando a mão no ombro de Percy.

— Estão todos prontos? — perguntou Reyna.

— Uuuh, sim! Isso vai ser tão divertido! — gritou Bobby, animado.

Dakota lançou seus óculos de sol no ar, e um óculos de esqui pousou na sua mão. Ele o colocou e todos colocaram seus óculos sobre os olhos.

— Será uma longa viagem, então mantenham o passo. Se precisarem pa-rar, avisem e descansaremos. A visibilidade nessa tempestade de neve é limitada, então tentem ficar à vista um do outro. Não quero perder ninguém — ordenou Reyna.

Todos assentiram.

— Ok, vamos lá.

Eles subiram suas pranchas e começaram a descer o declive.

Dakota ficou lado a lado com Percy, ensinando-o a como usar o lado tra-seiro e dianteiro da prancha. Dakota o ensinou a deslizar lateralmente, transver-sais e manobras circulares. Percy era inato. Ele logo estava tentando pequenos truques como ollies e giros de frente e trás.

— Está pronto para mostrar a eles como se faz? — Dakota sorriu para Percy.

— Ah, claro. — Percy sorriu.

Eles foram para Reyna, Bobby e Hazel. Dakota e Percy alcançou-os bem na hora que iam para uma saliência no declive. Dakota e Percy passaram voando pelos outros rapidamente passando a saliência. Percy estourou num method air, segurando a borda da prancha entre as tiras com sua mão de liderança no meio do ar. Dakota saiu da saliência num salto mortal para trás na parte traseira da prancha. Ambos fincaram no chão novamente.

— Uuuh, isso, Percy! — gritou Bobby.

Percy jogou os braços para cima em celebração e todos o encorajaram.

Depois disso, cada pequena saliência que encontravam, faziam manobras de esqui e alguns truques. Todos estavam numa incrível disposição.

Algumas horas na viagem e a tempestade de neve começou a ficar muito mais pesada, e eles tiveram que diminuir a velocidade e ficarem juntos. Pararam

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para respirar debaixo duma porção de árvores no declive para sair do vento e da neve. Comeram ração e se hidrataram.

Eles continuaram viajando para o sul por algumas horas. A tempestade es-tava ficando ruim.

— Devemos estar chegando perto — disse Reyna.

— Estamos — falou Dakota. — Eu consigo ver a base da montanha. É só a um quilômetro daqui.

— Como você pode ver nessa nevasca? — perguntou Percy.

— Esses óculos — explicou Dakota — têm um poder mágico de visão cla-ra.

Chegaram á base do Pikes Peak na tarde, mas parecia que era noite por causa da tempestade. Eles tiraram as pranchas de esqui e as amarraram nas mo-chilas. Dakota deu a cada um uma faca de prata que compraram na loja de es-qui.

— Então — disse Hazel —, subimos?

— Subimos — respondeu Reyna.

— Fiquem alerta — gritou Dakota. — Podemos cair facilmente numa em-boscada nessa tempestade.

Eles começaram a subir. Continuaram próximos um ao outro para que não se separassem na tempestade. Escalaram até o cair da noite, e a tempestade ainda assolava. O vento silvava e neve soprava de todos os lados. Era frio, mui-to frio, e estava começando a afetá-los.

— Eu tô congelando — resmungou Bobby.

— Não dá pra parar agora — falou Reyna. — Estamos perto. Temos que continuar andando.

Escalaram mais a montanha. Repentinamente, todos pararam na subida ao som de lobos sibilantes. Eles ficaram parados, ouvindo enquanto os sibilos ficavam mais altos. Olhos vermelhos brilhanntes se tornaram visíveis na tempes-tade. Todos puxaram as facas. Então um som de assobio rasgou o ar, depois de novo e de novo. Uma flecha acertou uma árvore ao lado de Dakota.

— Abaixem-se — disse Dakota e eles se prepararam para ação, e se arras-tarem, escondidos atrás duma grande pedra.

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Eles espiaram em volta da pedra para verem o que estava acontecendo. Um grupo de aproximadamente meia dúzia de garotas jovens vestidas com ca-muflagem cinza e branca estavam atirando flechas de prata numa grande matilha de lobos negros.

— Quem são elas? — sussurrou Bobby.

— Caçadoras — falou Reyna como se a palavra tivesse um gosto ruim na sua boca.

— Caçadoras? — perguntou Percy.

— Donzelas imortais que caçam monstros — disse Dakota. — Eu... ouvi histórias, mas nunca realmente vi elas antes. Eu sempre pensei que eram só um mito. É melhor ficarmos escondidos. Elas vão nos matar se acharem que estamos interferindo na caça.

Reyna olhou de espreita no lado da pedra.

— Não vejo Licaão em lugar nenhum.

— Mas ele deve estar perto — Hazel disse.

Percy espiou pela pedra e subitamente tinha um olhar confuso no rosto.

— O que foi, Percy? — perguntou Dakota.

— Aquela garota — respondeu Percy —, eu conheço ela. É a minha amiga Thalia, e ela realmente está aqui. Não é apenas uma visão. O que ela está fazen-do aqui? — Percy começou a se levantar de trás da pedra.

— Tha... — Percy começou a gritar o nome de Thalia, mas Bobby o agar-rou e puxou-o de volta para trás da pedra cobrindo sua boca.

— Você é louco? — perguntou Bobby.

— Ela é minha amiga — retrucou Percy. — Eu não quero que ela se ma-chuque. Ela não devia estar aqui.

— Vamos pensar nisso depois, Percy — disse Bobby.

Reyna olhou para Percy, e Dakota podia dizer que as engrenagens esta-vam girando na cabeça dela.

— Nós precisamos descer para que elas não vejam a gente — disse Dako-ta. — Licaão não está com esses lobos, mas é provável que ele ainda esteja na montanha. Deveríamos tentar encontrar seu rastro.

Eles estavam prestes a descer quando Hazel perguntou:

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— Cadê Reyna?

Ela não estava mais com o grupo. Dakota abaixou seus óculos de prote-ção e viu ela a uns quarenta metros de distância, andando furtivamente para uma Caçadora.

— O que ela está fazendo? Esperem aqui enquanto eu pego Reyna, então vamos achar um lugar pra nos abrigar fora da tempestade — ordenou Dakota.

Dakota continuou abaixo andando silenciosamente entre as árvores na di-reção de Reyna. Ele estava a poucos metros dela quando Reyna pulou nas costas da Caçadora. Elas rolaram e Reyna cobriu a boca da Caçadora enquanto luta-vam. Dakota sabia que ele tinha que fazer algo drástico. Eles não podiam sim-plesmente soltá-la agora, ela contaria para as outras Caçadoras que eles estavam ali. Dakota se aproximou delas. Ainda lutavam. Em desespero, Dakota cerrou o punho e socou a Caçadora no rosto, adormecendo-a.

— O que pensa que está fazendo? — perguntou Reyna, frustrada.

— Salvando a sua viva, venha! — respondeu ele levantando-a do chão.

Eles correram para a pedra e se encontraram com Percy, Bobby e Hazel, depois se afastaram silenciosamente das Caçadoras e dos lobos. Encontraram uma caverna rasa e correram para lá como esconderijo.

— Acendam uma fogueira e peguem ração — disse Dakota. — Vamos descansar aqui um pouco. — Dakota olhou para Reyna e pegou seu braço entre o cotovelo e o ombro. — Você, venha comigo.

Dakota levou Reyna para fora da caverna, de volta á tempestade. Ele continuou puxando-a e ela lutou.

— Me solte! Você não tem o direito! — gritou ela.

— Cale-se — disse Dakota com dureza.

— Qual é o seu problema? — perguntou Reyna.

Eles chegaram a um grupo de árvores que quebrava o vento e a neve, e Dakota colocou Reyna na sua frente soltando seu braço.

— No que você estava pensando lá atrás? Você podia ter matado todos nós! — repreendeu Dakota.

— No que eu estava pensando? Seu burro, você socou aquela garota — disse Reyna.

— Você não me deu escolha. E o que você ia fazer com ela, Reyna?

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— Percy conhece uma delas. Aposto que elas sabem onde está Jason — raciocinou Reyna.

— Elas são Caçadoras. Elas não sabem de nada nem ao menos se impor-tam, e além disso, essa missão é para encontrar Lupa, e não Jason — disse Dako-ta para ela.

— A gente ainda pode procurar por ele. Precisamos encontrá-lo. E se ele estiver em apuros? — ela retrucou com desespero na voz.

— Jason é o meu melhor amigo, e eu quero encontrá-lo mais do que nin-guém, mas você está indo longe demais. Jason não é uma criança. Ele pode cui-dar de si — disse Dakota.

— Poderíamos ter feito aquela Caçadora nos contar onde estão os gregos.

— Deuses, Reyna, ouça o que está dizendo. Eu sei que você acha que está apaixonada por Jason, mas...

— Você não sabe de nada! — gritou ela.

— Eu sei que ele não te ama. Ele se importa com você, certo, mas não te ama...

— Você não do que está falando — disse Reyna. — Esse é o meu negócio.

— Não é só o seu negócio quando seus atos põem todos em perigo! — gritou ele.

— Desde quando você se importa com alguém a não ser você mesmo? Eu vou achar Jason; eu preciso!

Eles estavam gritando um com o outro a um grande ponto.

— Por quê? Então você pode falar para ele que o ama? Querida, ele não ama você, não do jeito que você merece!

— Ah, o quê, e você acha que pode? — ela gritou enquanto lágrimas es-corriam do seu rosto. — Você nunca pôde!

— Isso não é verdade e você sabe disso! — ele retrucou.

— Se você me amava então por que se afastou? — ela perguntou para e-le, desesperadamente querendo a verdade.

Dakota queria contá-la a verdade. Ele queria contá-la sobre a visita de Vênus no ano passado quando ela lhe contou que a mulher que amava ele leva-ria uma dura vida trágica cheia de mágoa e morte. Dakota não podia deixar

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Reyna ter aquele tipo de vida, então depois de dois anos juntos, Dakota parou com isso sem dá-la uma verdadeira explicação.

— Você não entenderia. — Dakota suspirou.

Reyna limpou as lágrimas do rosto.

— Você sabe disso, basta esquecer — ela falou e virou para andar de vol-ta à caverna.

— Reyna — ele gritou atrás dele.

— Me deixe em paz, Kota — ela disse sem olhar para trás.

Ela desapareceu na tempestade, deixando Dakota parado ali de pé.

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QQQQUANDO UANDO UANDO UANDO DDDDAKOTA E AKOTA E AKOTA E AKOTA E RRRREYNA DEIXAEYNA DEIXAEYNA DEIXAEYNA DEIXARAM A CAVERNARAM A CAVERNARAM A CAVERNARAM A CAVERNA, Percy olhou a sua volta. Era uma caverna pequena com folhas e galhos secos encobrindo o chão. Percy calcu-lou que havia cavernas como essa por toda a montanha. Percy e Bobby recolhe-ram galhos e folhas, e Hazel fez uma fogueira. Eles sentaram-se ao redor do fo-go, aquecendo suas mãos e comendo um lanche. Percy não conseguia tirar de sua mente a visão de Thalia. Ele queria correr para a tempestade e tentar encon-trá-la. Ele não tinha ideia do que ela estava fazendo em cima dessa montanha lutando com lobisomens, mas havia uma sensação em seu estômago que talvez ela estivesse fazendo o que deveria fazer.

— Pensando na sua amiga? — Hazel perguntou a Percy.

— É muito estranho vê-la aqui, mas isso também parece certo. As Caçado-ras são semideusas também? — Percy perguntou.

— Sinceramente, eu não sei muito sobre elas. Não falam muito a respeito delas. Tudo o que eu sei é que elas ficam jovens para sempre e podem morrer apenas em batalha — Hazel respondeu.

— Você acha que ela era uma Caçadora todo esse tempo e eu nunca sou-be? — Percy perguntou.

— Não sei, Percy. Eu não acho que uma Caçadora não pode ter qualquer tipo de vida normal; elas estão sempre caçando — ela supôs.

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— Mas ela vai ao meu colégio. Eu a vejo todo dia. Talvez eu possa tentar encontrá-la. Ela pode estar com problemas — Percy disse.

— Ela está bem, Percy. Ela sabe o que está fazendo com esses lobos. Você não precisa se preocupar com ela — Bobby disse a ele.

— Você é importante para ela, e você se dedica com a segurança dela. Você é um bom amigo, Percy e eu tenho certeza que ela sabe disso — Hazel dis-se.

Percy assentiu.

Reyna entrou na caverna, chacoalhando a neve de sua jaqueta. Ela sen-tou-se junto à fogueira para se aquecer.

— Está tudo bem? — Bobby perguntou a ela.

— Ótimo — ela disse rapidamente apesar de obviamente não estar bem.

Alguns segundos depois Dakota entrou na caverna e se sentou perto de Percy. Ninguém disse uma palavra. Eles ficaram em um silêncio embaraçoso por alguns minutos.

— Então — Hazel disse, quebrando o silêncio —, qual será o nosso pró-ximo movimento?

— Nós procurarmos a montanha de Licaão — Reyna disse.

— Você acha que nós somos capazes de encontrá-lo na tempestade, espe-cialmente nessa escuridão? — Hazel perguntou.

— Nós temos que tentar — Reyna respondeu.

Reyna deu a Dakota um olhar irritado. Percy sentiu que o que quer que tenha acontecido entre os dois fora da caverna não foi agradável.

— Kota, você pode fazer seus óculos serem de visão noturna? — Reyna perguntou a ele.

Ele assentiu, mas não disse uma palavra.

— Kota tem uma ideia. Ele ficará subindo a montanha até nós encontrar-mos Licaão — Reyna disse.

— Parece que podemos começar. Se as Caçadoras encontrarem Licaão an-tes de nós, quem sabe o que vai acontecer com Lupa? — Bobby disse.

Eles amarraram seus pacotes, apagaram a fogueira e direcionaram-se para a tempestade. Dakota levou-os até a montanha, sendo capaz de ver através da

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neve e o escuro com seus óculos de visão noturna. Eles caminharam por menos de uma hora quando Dakota parou.

— Aqui está — Dakota disse, apontando em frente a ele.

— Qual é a distância? — Reyna perguntou.

— Uns cento e oitenta metros. Parece que ele está ferido. Ele está se mo-vendo devagar e com a mão no ombro — Dakota explicou.

— Talvez as Caçadoras o tenham ferido — Bobby disse esperançosamen-te.

— Talvez... Eu só vi dois lobos com ele — Dakota disse.

— Nós podemos pegá-lo agora enquanto estamos em maior número que ele — Reyna sugeriu.

— Esperem... ele pegou algo do chão. Parece um saco — Dakota disse.

— Um saco de tecido? — Percy perguntou.

Dakota assentiu.

— Pode ser.

— Ele colocou Lupa em um saco de tecido quando a pegou — Percy re-lembrou.

— Parece que ela ainda está lá — Dakota disse ainda olhando através dos seus óculos de visão noturna. — Esperem um pouco, o que ele está fazendo? Opa, ele a jogou no penhasco!

— O quê? Qual a distância até lá embaixo? — Reyna engasgou.

— Eu não sei dizer desse ângulo. Se nós temos que fazer isso nós temos que fazer agora — Dakota sugeriu.

— Todos já estavam com suas facas prateadas em mãos.

— Vamos lá — Reyna ordenou.

Eles correram até Licaão e os dois lobos, pegando-os de surpresa. Eles le-varam Licaão e os lobos para a beira do penhasco que não chegava a lugar ne-nhum. Os lobos rosnaram, mostrando seus dentes afiados, mas eles não ataca-ram. Eles ficaram no calcanhar de Licaão.

— E quem são vocês? — Licaão perguntou a eles.

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— Você sequestrou Lupa, e nós estamos aqui para trazê-la de volta — Ha-zel disse ressentida.

— Mais semideuses... interessantes — Licaão sorriu descontroladamente. — Bem, desculpem-me por dizer, mas vocês acabaram de perder Lupa. Ela levou um belo tombo.

Dakota apontou sua faca em direção de Licaão.

— Eu vi você jogá-la no penhasco.

Licaão virou sua cabeça e olhou para o penhasco.

— Espero que ela prenda a respiração. É um longo caminho abaixo — Li-caão disse e estalou seu dedos.

Os lobos atacaram-os. Dakota e Hazel lutaram com o lobo da direita e Bobby e Reyna lutaram com o lobo da esquerda. Eles cortavam suas facas nos lobos e mergulhavam e rolavam dos ataques. Percy ficou cara a cara com o pró-prio Licaão. Licaão começou a se curvar e se ajoelhar como se estivesse encur-vando suas mãos e calcanhares. O rosto de Licaão começou a se transformar co-mo o dos lobos, e então seu corpo começou a se transformar, também. Em ape-nas alguns segundos, Licaão havia se transforma em um lobo âmbar-escuro do tamanho de um caminhão.

— Nada bom — Percy murmurou para si mesmo.

Licaão saltou na direção de Percy, e Percy saiu do caminho na hora certa. Percy não teve tempo para ficar de pé quando ele viu uma pata gigante vindo e direção a ele. Percy rolou para evitar ser esmagado. Licaão segurou Percy para ele não ficar de pé. Percy golpeou Licaão com sua faca prateada. Percy estava desejando ter uma espada prateada. Ele se perguntou como alguém usa uma faca como sua principal arma; deve ser um jogador muito hábil e inteligente. Percy ficou na defensiva, golpeando apenas para manter Licaão na beira. Percy lutava e rolava até que quase esteve na beira do precipício. Licaão estava tentando em-purrá-lo para a beira. De repente, Percy ouviu um ganido, depois outro. Os ou-tros dois lobos haviam sido golpeados. Isso foi suficiente para distrair Licaão. Quando Licaão estava com baixa guarda por meio segundo, Percy, ainda deita-do de costas, usou seus dois pés para derrubar Licaão, dando a Percy tempo o suficiente para se levantar. Os outros dois lobos estavam mortos, e agora eles haviam cercado Licaão. Todos olharam uns aos outros, e foi como se eles pudes-sem ler as mentes dos outros. Simultaneamente, todos puxaram suas facas de suas mãos agarrando na borda da lâmina e em um mesmo movimento jogaram em Licaão. Licaão urrou de dor quando as cinco facas acertaram seus globos ocu-lares. O rugido parou quando ele dissolveu em uma poça de escuridão.

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— Estão todos bem? — Reyna perguntou.

— Bom, ótimo trabalho.

— Lupa! — Hazel engasgou.

Eles correram para a borda do precipício e olharam para baixo. A tempes-tade estava passando, e a lua cheia brilhou o suficiente para todos verem clara-mente. Era uma queda de cinquenta metros até o final do penhasco. Um saco de tecido marrom, o qual parecia um saco de batatas, com uma camada de neve no fim. Percy sabia que com a neve para amortecer o impacto, uma queda daquela altura provavelmente seria fatal. Todos ficaram ali com olhares tristes em seus rostos.

— Vocês ouviram isso? — Hazel perguntou olhando para o fundo do pre-cipício.

— Ouvir o quê? — Bobby perguntou.

— Shh... escutem.

Um ganido fraco e lamentável ecoou abaixo deles.

— Ela está viva! — Reyna disse espantada. — Nós temos que descer.

Dakota já estava vasculhando sua bolsa. Ele tirou uma longa corda preta e arreios. Ele entregou os arreios a Reyna. Ela tirou a mochila de suas costas e co-locou o pé no arreio, prendendo no quadril e nas coxas. Ela grampeou sua mo-chila em um gancho em forma de D enquanto Dakota enrolou a corda em torno de um anel de ancoragem e fez um nó.

— Nós temos que descer um de cada vez — Dakota disse enquanto anco-rava a corda no topo do desfiladeiro.

Reyna amarrou a corda em torno do arreio então jogou a corda no pe-nhasco. Percy quis saber se havia algo que esses caras não sabiam fazer.

Reyna se agarrou à borda do precipício e disse:

— Vejo vocês no fundos.

Percy assistiu ela deslizar na corda tão rápido que poderia estar em queda livre. Quando ela estava a dez metros do fundo ela diminuiu equilibrada, fazen-do uma aterrissagem suave na neve.

— Exibida — Bobby murmurou.

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Reyna desamarrou-se da arreia, puxou a corda duas vezes, e Dakota co-meçou a puxar a corda e o arreio de volta ao topo do precipício. Hazel foi a próxima a descer, embora ela não tivesse feito o show que Reyna fez.

Bobby olhou para Percy.

— Já fez escalada antes?

— Sim, nós tínhamos uma parede de escalada no departamento de atle-tismo na minha escola. Escalada era um requerimento para a Educação Física. Aposto que eu escalei essa parede cinquenta vezes — Percy explicou.

— Bom. Você não vai ter problemas então. — Bobby sorriu.

Dakota desceu depois. Quando ele alcançou o fundo, Bobby puxou o ar-reio de volta. Percy estava prestes a descer quando a voz de Reyna ecoou do fundo.

— Bobby! — ela gritou. — Eu preciso de você aqui embaixo.

Bobby olhou para a borda.

— Eu vou enviar Percy primeiro.

— Eu preciso de você agora. Você precisa olhar para Lupa. Ela está real-mente machucada — ela gritou de volta para Bobby.

— Não é ela que tem o dom da cura? — Percy perguntou.

— É, mas ela não sabe nada sobre caninos. Eu sempre amei animais, e eu quero ser um veterinário, então eu estou estudando fisiologia animal por en-quanto — Bobby perguntou enquanto ele se prendia no arreio. — Você tem certeza que você pode fazer isso, Percy?

— Eu sei que consigo — Percy respondeu confiante.

— Certo, te vejo em um minuto — Bobby disse e desceu para a borda.

Percy assistiu enquanto Bobby ia abaixo ao fundo. Ele pensou sobre Bobby querer ser um veterinário. Ele era realmente bom com cavalos e no trei-namento de cachorros. Ocorreu a Percy a razão de não haver adultos no acam-pamento que quando eles chegavam à idade adulta eles faziam outras coisas. O treinamento que eles adquiriam quando crianças era para sobreviverem como adultos fora da proteção do acampamento. Eles finalmente levaram uma vida um pouco normal e Percy teve um pouco de esperança.

Bobby puxou a corda e Percy puxou o arreio. Percy prendeu-se ao arreio, amarrando sua bolsa no gancho, e içou-se no precipício. Ele se lembrou da Edu-

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cação Física. Percy desceu cerca de um quarto do caminho quando ele sentiu um puxão na corda. Ele parou a descida e olhou para cima. Dois pares de brilhantes olhos vermelhos olhavam para ele. Os lobos começaram a rosnar. Um dos lobos agarrou a corda entre os dentes e começou a puxar rapidamente.

— Ei, galera! Estou com um problema! — Percy gritou para eles.

Todos olharam para cima e viram o que estava acontecendo. A corda es-tava sendo puxada para cima do precipício. Já estava alto demais para qualquer um alcançar.

— Desça o mais rápido que puder, Percy! — Bobby gritou.

Percy desceu rapidamente, mas ele estava a vinte metros do fim quando chegou ao nó no fim da corda, e os olhos estavam puxando-o cada vez mais alto. Percy vasculhou sua bolsa à procura de sua faca, mas ela estava fora de seu alcance. Ele estava apenas a seis metros do topo do desfiladeiro e dos rosnados dos lobos. Ele precisava cortar a corda de alguma forma. Preferia morrer em uma queda do que como comida de lobo. De repente, Percy ouviu uma voz fa-miliar em sua cabeça: Anaklusmos, use somente em emergências. Percy instinti-vamente pegou sua caneta esferográfica de seu bolso e a destampou. Ela virou uma espada de bronze de dois gumes.

— Opa! — Percy gritou de surpresa.

Percy olhou para os lobos que agora estavam a dez metros, e olhou para o fundo do penhasco, que era um longo caminho. Ele levantou sua espada hesi-tante, então ele ouviu outra voz em sua cabeça; era a voz de Annabeth: Lembre de sua linha de vida, bobo! E com isso, Percy oscilou sua espada, cortando a cor-da, e despencou em uma queda de quinze metros até o fundo do penhasco.

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———— P P P PERCY! ERCY! ERCY! ERCY! ———— GRITOU GRITOU GRITOU GRITOU RRRREYNA ENQUANTO OBSERVAVAEYNA ENQUANTO OBSERVAVAEYNA ENQUANTO OBSERVAVAEYNA ENQUANTO OBSERVAVA----O CAIR.O CAIR.O CAIR.O CAIR.

Percy se espatifou no chão sobre o seu braço direito. O impacto foi tão intenso que gravou uma cratera na neve, e a espada de Percy foi voando para fora de sua mão. Todos se aproximaram dele. Ele não se moveu.

Reyna se ajoelhou ao lado dele e colocou a mão no seu ombro.

— Percy?

— Ai — gemeu Percy e rolou para ficar de costas para baixo.

Os amigos ofegaram em choque por ele ter sobrevivido.

— Deuses, Reyna! Você trouxe ele de volta da morte! — falou Bobby em diversão.

— Eu não fiz nada demais.

Bobby apontou o dedo para ela.

— Você tocou nele.

— Eu não estava morto, Bobby — disse Percy, se sentando e esfregando os olhos.

— Bem, devia estar — falou Dakota.

— Deixe-me dar uma olhada em você, Percy — disse Reyna.

Reyna tocou seus braços, pernas, costelas e a espinha.

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Reyna sacudiu a cabeça em incredulidade.

— Nem um único osso quebrado ou dano interno.

— Você é um filho de Netuno sortudo — disse Dakota, oferecendo a Per-cy sua mão para ajudá-lo a se levantar.

Reyna olhou para Percy. Ela teve a sensação que havia mais coisas do que só sorte. Eles precisavam descobrir quem Percy realmente era, e depressa. Se eles não percebessem o que realmente estava acontecendo, o motivo real dele apa-recer no acampamento, eles podiam estar num mundo de problemas.

Percy se levantou e espanou neve da jaqueta.

— Inacreditável. — Hazel sorriu.

Bobby ainda parecia desconcertado.

— Como você não morreu?

Percy olhou para o topo da falésia e disse:

— Não tenho a mínima ideia.

Os lobos começaram a uivar.

— Parece que a gente precisa continuar andando antes que eles achem uma maneira de descer para cá — sugeriu Hazel.

— Lupa não está estável o bastante para se mexer — avisou Reyna an-dando de volta a Lupa.

O uivo estava ficando mais alto.

— Seria melhor você deixá-la estável o bastante — lhe disse Dakota.

Todos ficaram de pé em torno de Lupa. Reyna e Bobby se ajoelharam ao lado dela. Ela estava inconsciente e sua respiração era rasa, fazendo um som gor-golejante.

— O que tem que ser feito primeiro, Bobby? — perguntou Reyna.

— Espinha e os órgãos maiores, os ossos quebrados podem esperar.

Reyna levantou o olhar para Dakota.

— Você sabe que vai provavelmente me carregar para fora daqui, certo?

Dakota assentiu.

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— Só faça o que tem que fazer.

— A gente precisa carregar Lupa para mantê-la estabilizada — contou Bobby.

— As pranchas de esqui — sugeriu Hazel.

Dakota pegou um pouco de fita adesiva da mochila e Hazel e Percy co-meçaram a tirar as tiras das pranchas de esqui para que pudessem amarrá-las jun-tas, fazendo uma maca.

Reyna levantou as mãos sobre Lupa.

— Aqui vamos nós — ela disse, e pôs as mãos no lado de Lupa, ao longo da sua caixa toráxica.

Reyna pôde sentir os ferimentos: pumão perfurado, vértebra fraturada, ruptura do baço, assim como uns quinze ossos quebrados e uma concussão seve-ra. Reyna enfraquecia enquanto curava os ferimentos mais sérios de Lupa. Reyna estava respirando pesado e começando a suar até mesmo no frio penetrante. Bobby levou um cantil à boca de Reyna e a fez beber néctar para repor as ener-gias. O rabo de Lupa tremeu enquanto Reyna reparava os órgãos danificados. Ela tirou as mãos de Lupa e quase desmaiou. Bobby a pegou e ajudou-a a se sen-tar numa pedra. Bobby colocou a mão na testa de Reyna.

— Estou bem — Reyna disse a Bobby. — Os órgãos vitais de Lupa estão estáveis por enquanto, mas ela ainda precisa de muitas coisas. Eu não pude e-mendar os ossos quebrados, e Bobby, tem severos. Precisamos de ajuda.

— Que tal um fauno? — sugeriu Bobby. — Certamente há um nessa mon-tanha em algum lugar.

— Boa ideia.

Percy andou na direção deles.

— A maca está pronta.

— Percy, tem um cobertor de sobrevivência emergente e uma injeção se-dativa no meu kit de remédios. Pode pegar? — pediu Reyna a Percy.

— Claro — respondeu Percy e foi pegar os itens.

— Bobby, seda ela — pediu Reyna. — Eu não quero que ela acorde; esta-ria numa dor excruciante. Enrole-a no cobertor e amarre-a à maca com fita ade-siva.

— Entendi. — Bobby assentiu. — E você? Está prestes a ter um piripaque.

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— Eu vou ficar legal — garantiu Reyna. — Só preciso descansar. Fale para Hazel que precisamos encontrar o lar de um fauno. Se tiver sorte, ela pode en-contrar um.

Um lobo uivou à distância e todos olharam em volta.

— Bobby — Percy gritou para ele. — Vamos, cara. Temos que nos apres-sar.

Bobby correu para Lupa. Percy passou a ele o sedativo e ele injetou-o a-trás do pescoço de Lupa. Eles cuidadosamente enrolaram Lupa num cobertor que parecia um lençol de folha de alumínio e deslizou a maca provisória para baixo dela. Usando fita adesiva, prenderam Lupa à maca. Bobby e Percy pegaram, ca-da um, um lado da maca e a levantaram do chão coberto de neve.

Dakota foi para perto de Reyna.

— Vamos — ele falou para ela.

Ela tentou se levantar e Dakota a ajudou a ficar sobre os pés. Assim que fi-cou de pé, seus joelhos dobraram, e se não fosse por Dakota, ela teria caído no-vamente.

— Bem, parece que eu vou ter que te carregar para fora daqui — disse Dakota.

Reyna colocou o braço em volta do pescoço, e ele colocou um braço nas costas delas e o outro entre seus joelhos e a levantou. Ela descansou a cabeça no ombro dele.

— Andando — Dakota falou para todos, e eles começaram a caminhar com Hazel na dianteira.

— Obrigada, Kota — sussurrou Reyna.

— Durma — ele falou para ela, e Reyna adormeceu instantaneamente.

O pesadelo terrível de Reyna começou com ela de pé na neve sobre os tornozelos e olhando para um ponto tão alto que ficou com cãibra no pescoço. O que ela estava vendo era a coisa mais perturbadora e alarmante que ela já vira. A criatura era enorme; devia ter nove metros de altura. A parte de cima do corpo do monstro era humana, um homem muito grotesco. Ele usava armadura de bronze sobre seus músculos, e na sua mão esquerda ele segurava uma lança tão comprida e grossa quanto um poste de luz. Seu rosto era pálido e selvagem. Seus olhos eram de um branco pesado e completamente oco. Seu cabelo escuro era escombros bagunçados na sua cabeça. A parte de baixo do seu corpo era i-gualmente apavorante. Suas pernas eram cobertas com pálidos escamas amarelas

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e reptilianas, e seus pés eram enormes garras. No chão ao seu lado estava uma grande gaiola, como uma usada para transportar animais vivos. A gaiola faiscava tão vivamente na luz do sol que era quase cegante. Parecia que a gaiola era feita de ouro maciço. Reyna sabia que tinha algo na gaiola, mas não pôde descobrir o que era. O monstro começou a rir, revelando presas que colocavam as de Licaão no chinelo. A risada era deprimente, e ecoou por todas as montanhas em volta.

— Você está muito atrasada, Reyna Ballard. Eu, o gigante Polibotes, as-cendi, e agora nem você nem aquele filho de Netuno irritante pode me impedir de me juntar aos meus irmãos na próxima grande Gigantomaquia — ele se ga-bou.

Reyna sabia que Gigantomaquia se referia à guerra entre os gigantes e os olimpianos. Gaia, procurando revanche pela derrota dos titãs, criou os gigantes para se erguerem contra os deuses. Parecia para Reyna que a história antiga esta-va se repetindo.

Reyna estava quase aterrorizada demais para falar, mas conseguiu dizer:

— Como você escapou do Tártaro?

— Minha mãe, Gaia, está acordando. Logo, todos os meus irmãos irão as-cender. Procuraremos vingança pelos deuses que nos mataram na última Gigan-tomaquia, e então iremos acabar com o Olimpo pela sua essência.

A hipótese que Reyna tinha que a grande profecia havia começado se confirmou.

Reyna abaixou o olhar para a gaiola.

— O que tem nela?

— Ah, belas habilidades, não diria? Já que Midas escapou do Mundo Infe-rior, eu o mandei me construir essa gaiola mágica feita de ouro sólido. Pode a-prisionar qualquer coisa, até um deus.

Reyna olhou mais de perto entre as barras da gaiola. Ela encontrou os o-lhos de uma mulher. A mulher falou fracamente na mente de Reyna: Liberte-me da minha prisão e eu, Cibele, lhe ajudarei a destruir esse gigante.

O gigante riu.

— Me desafie e tente libertar a deusa se tiver tal ousadia, Reyna. Basta me trazer Percy Jackson. O pai dele me matou na primeira guerra, e vou me vingar matando o seu filho.

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O gigante bateu a lança com força no chão nevado. A onda de choque chocalhou através das montanhas. Muita neve caiu de uma das montanhas, e uma avalanche de branco veio impelindo para Reyna. Ela tentou se virar e cor-rer, não não pôde se mover. Ela gritou enquanto a avalanche passava sobre ela, e aí ela acordou, ainda gritando.

— Ei, está tudo bem. Você está bem. Shh, shh — disse Dakota enquanto pegava os ombros dela para acalmá-la.

Ela finalmente tomou fôlego e olhou ao redor. Eles estavam numa caver-na. Era grande mas não muito funda. Ela podia ver o sol raiando no lado de fo-ra. Notou que todos estavam dormindo nos sacos de dormir no chão, e um pe-queno fogo de lareira queimava no centro da caverna. Ela viu um fauno alto e magro dormindo sobre uma pedra no outro lado da caverna, e ela viu Lupa des-cansando integralmente perto do fogo.

Reyna se levantou completamente numa posição de sentar e seu estôma-go deu um salto mortal.

— Você está bem? — perguntou Dakota.

Ela cobriu a boca com as mãos, se levantou e correu para fora da caverna. Se apoiou numa árvore com uma mão e com a outra, colocou o cabelo para trás enquanto vomitava. Ela estava encostada na mesma posição esperando a onda de náusea seguinte quando sentiu a mão de alguém nas suas costas. Ela inclinou a cabeça e viu Dakota. Ele não falou nada, só deu tapinhas nas suas costas. Essa não era a primeira vez que ele a vira ficar doente. Pelo menos ele não tinha que segurar o cabelo dela para trás dessa vez. Às vezes, a cura tirava mais dela do que só força. Reyna se levantou ereta e respirou fundo.

— Melhor? — perguntou Dakota.

Reyna assentiu.

— Deve ter sido algum pesadelo — sugeriu Dakota.

O rosto horripilante de Polibotes faiscou na cabeça de Reyna. Ela virou e vomitou novamente.

— Ahh — grunhiu enquanto limpava a boca.

Dakota passou para ela um tablete de chiclete.

— Obrigada — agradeceu ela e pegou o chiclete. — Como está Lupa?

— Está bem. Deve ficar novinha em folha quando acordar.

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— É algo bom, porque vamos precisar dela — disse Reyna.

— O que está acontecendo, Reyna? — perguntou Dakota. — O que você viu?

— Problemas estão se agitando, grandes problemas. Vamos — ela disse e eles voltaram para a caverna.

Todos já estavam acordando. Lupa se aproximou de Reyna. Reyna cur-vou-se para ela.

— Obrigada, minha pupila, por ter salvo a minha vida — disse Lupa.

Reyna assentiu.

— Preciso te contar uma coisa, Madame Lupa.

Lupa curvou a cabeça, dando permissão para Reyna falar.

— A Grande Profecia começou, e eu sei sobre o que ela é. — Reyna respi-rou fundo. — É a próxima Gigantomaquia.

A caverna ficou sinistramente silenciosa por um momento.

— Conte-me — disse Lupa para Reyna.

Eles se reuniram, até o fauno, enquanto Reyna os contava sobre o sonho. Quando citou Cibele, o fauno interrompeu.

— A Mãe Montanha partiu a dias. Os lobos puderam ocupar a montanha sem a sua presença. Eu não deixo a minha caverna há quase uma semana — ex-plicou o fauno.

— A Mãe Montanha? — perguntou Percy.

— Cibele, a deusa e mãe das montanhas — esclareceu Reyna.

— Eu temo que Polibotes possa estar drenando o poder de Cibele para repor o seu próprio — disse Lupa.

— Mas como? — Hazel perguntou. — Ela é uma deusa.

— Ela é uma deusa aprisionada — explicou Lupa — e isso a faz vulnerá-vel. Se o gigante tiver sucesso em drená-la completamente, ela não irá mais exis-tir.

— E o que nós fazemos? — perguntou Dakota.

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— Tentamos resgatá-la — disse Lupa. — Percy Jackson, Polibotes quer vo-cê, e se você escolher não ir nessa missão, eu entenderei. Mas saiba que você poderia ser nosso maior aliado nessa luta.

Reyna teve a sensação que Lupa sabia de algo sobre Percy que mais nin-guém sabia, e ela não estava compartilhando a informação.

Todo o mundo olhou para Percy e ele falou:

— Eu vou. Vocês são meus amigos, e eu quero ajudar.

Todo o mundo sorriu e Bobby deu uns tapinhas no seu ombro.

Lupa curvou-se para Percy.

— Sua lealdade aos amigos é admirável.

— Como encontramos esse gigante? — perguntou Hazel. — Vocês acham que ele está aqui, no Pikes Peak?

— Creio que sim. Foi aqui que ele pegou Cibele numa armadilha, e ele não se juntará aos irmãos enquanto está num estado enfraquecido. Mas quando drenar Cibele completamente, ele irá embora. Deveríamos tentar encontrá-lo imediatamente — disse Lupa, depois virou para o fauno. — E o fauno irá levar-nos até ele.

— Eu? — O fauno ofegou. — Ah, não. Eu não quero nem chegar perto daquele gigante.

— Você é o único aqui que pode rastrear Cibele, e se você quiser ter al-gum dia a sua montanha de volta, você irá nos ajudar — disse Lupa com despre-zo.

O fauno hesitou, mas finalmente disse:

— Certo, eu vou rastreá-la, mas quando nós a acharmos, eu vou embora.

— De acordo — concordou Lupa. — Pupilos, peguem suas coisas; temos um gigante para encontrar.

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OOOO SOL LUZIU CLARO NAQUELA MANHÃ SOL LUZIU CLARO NAQUELA MANHÃ SOL LUZIU CLARO NAQUELA MANHÃ SOL LUZIU CLARO NAQUELA MANHÃ, e o reflexo saindo da neve o fazia parecer muito mais claro. Teria sido um dia lindo para esquiar ou descer de snowboard nos declives ou até escalar ao cume. Em vez disso, eles estavam sendo levados, por um fauno e nada menos, para um gigante que provavelmente iria matar to-dos eles. Dakota estava arquejando. Ele amava lutar. Durante uma luta, sua men-te ficava mais clara e seus instintos assumiam. Ele podia antecipar os golpes do oponente e estava sempre um passo à frente.

Lupa se aproximou ao lado de Dakota.

— Acredito que você irá fazer de tudo que estiver ao seu alcance para ga-rantir que Percy sobreviva essa missão.

— Sim, madame — concordou ele. — Por que Percy é mais importante que o resto de nós? Ele é grego?

— Tudo será explicado quando chegar a hora. Você só precisa saber que, enquanto você e Jason estavam derrotando Crio no Monte Tam, Percy estava derrotando Cronos no Olimpo. Ele é um semideus poderoso, e tem um bom coração de que muito eu posso falar. Porque ele não conhece sua verdadeira identidade é um mistério para mim — explicou Lupa.

— Reyna acha que alguém reajustou suas memórias; que alguém está ten-tando esconder a verdade dele e de nós — contou Dakota.

— Eu assumo que seja o mesmo. Só podemos esperar que as intenções a-trás disso sejam dignas de crédito.

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Dakota olhou para Percy.

— Você acha que ele um dia vai se lembrar de que realmente é?

— Não posso dizer, meu pupilo.

Eles andaram por algumas horas. O fauno levou-os para uma floresta no declive. Dakota notou que o fauno parecia estar ficando mais nervoso a cada passo. Ele sabia que estavam chegando perto. Dakota viu rapidamente um lam-pejo de luz pelo canto do olho. Ele parou e virou na direção da luz. À distância, no declive haviam um reflexo como o que um espelho faria na luz do sol.

— Aqui é o mais longe que posso ir — o fauno disse e apontou para a luz. — Cibele está ali, e o gigante está perto. Posso sentí-lo daqui.

O fauno desapareceu nas árvores e todos se reuniram na borda da floresta olhando para a luz.

— O reflexo deve estar vindo da gaiola — disse Reyna.

— Eu não vejo o gigante — falou Percy.

— Talvez a gente possa subir lá em silêncio e soltar a deusa enquanto o gigante não está por perto — sugeriu Bobby.

— Como vamos libertá-la? — perguntou Hazel. — Como nós quebramos a gaiola de onde nem uma deusa pode escapar?

Reyna virou para Hazel:

— Acha que pode brincar com fogo?

— Sempre. — Hazel abriu um sorriso que ia de uma orelha a outra.

Reyna apontou para uma grande floresta no declive onde estava a gaiola.

— Consegue ver aquelas árvores? Preciso que você ponha fogo nelas.

— Você quer que eu incendeie uma floresta? — perguntou Hazel com um olhar confuso no rosto.

— Sim, e a queime com a maior intensidade que puder. Vá! — Reyna lhe disse e Hazel correu para as árvores.

Dakota sabia que Reyna tinha um bom plano. Se Hazel pudesse queimar as árvores e fazer a neve começar a derreter, haveria vapor d’água suficiente flu-indo bem na direção deles. Água corrente reverte o toque de ouro de Midas. Podia funcionar.

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— Agora nós temos que entreter um gigante de nove metros. Vamos lá — Reyna falou e eles rumaram para a gaiola.

Quando chegaram à gaiola, o gigante ainda estava fora de vista. Todos se ajoelharam ao lado da gaiola e curvaram-se para a deusa.

— Minha Lady, você está bem? — perguntou Reyna para Cibele.

— Semideuses... Parece que eu estou bem? Tirem-me daqui — grunhiu Ci-bele.

— Estamos trabalhando nisso, minha Lady. Onde está o gigante? — per-guntou Reyna.

Os olhos da deusa se arregalaram, e ela apontou para trás deles. Todos deram meia-volta e ali estava Polibotes. Ele elevou-se sobre eles olhando para baixo. Tinha um sorriso medonho no rosto repulsivo, e seu fedor era tão podre que chegava a ser nauseante.

— Vocês chegaram, e vejo que me trouxeram Percy Jackson. — Polibotes apontou a lança para Percy. — Será um prazer matá-lo, garoto.

— Meu pai te matou uma vez, e eu continuarei essa tradição hoje matan-do você eu mesmo! — bradou Percy.

Todos viraram para Percy com olhares aturdidos nos rostos.

— O quê? — Percy sussurrou para eles. — Disseram para entretê-lo.

— Está certo, e eu vou ajudá-lo com sua vitória! — Bobby bradou para Polibotes. — Vamos cortar você em pedaços e chutar a sua...

— Bobby. — Reyna o cutucou.

— Eu quero jogar também — lamuriou Bobby.

Polibotes começou a rir, depois rompeu numa risada terrível.

— Tolos. Vocês não podem me matar; nem mesmo os deuses podem me matar dessa vez, nem mesmo com a ajuda das Parcas. Os gigantes estão se er-guendo e destruiremos todos vocês.

Polibotes golpeou o chão com sua enorme lança e meia dúzia de mons-tros levantaram da neve. Os montros eram literalmente bonecos de neve e tam-pouco eram amigáveis. Eles mediam aproximadamente dois metros e meio de altura, tinham seis braços e cheiravam pior que Polibotes, se aquilo fosse mesmo possível. Os bonecos vieram para eles.

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— Separem-se! — gritou Lupa, e todos saíram correndo em diferentes di-reções.

Dois bonecos de neve seguiram Lupa, e dois seguiram Bobby, deixando Dakota e Percy para tentar um ataque em Polibotes.

— Percy, ele é grande, mas lento! Vá andando devagar e vamos tentar exaustá-lo! — Dakota gritou para Percy.

Percy estava na frente de Polibotes e Dakota estava atrás de Polibotes. Dakota viu Percy puxar algo do bolso, e repentinamente havia uma espada de bronze na sua mão. Dakota estava com sua lança pronta, e eles correram para o gigante na mesma hora. Polibotes se focou em Percy, dando a vantagem de ata-que para Dakota. Dakota jogou sua lança, perfurando a pele escamosa do gigan-te exatamente abaixo do seu joelho. Polibotes urrou em dor, e sua perna se do-brou como se suas pernas tivessem acabado de morrer. O joelho de Polibotes acertaram o chão com um estrondo. Percy foi capaz de pular no peito do gigan-te e Dakota pulou nas costas dele. Eles podiam escalar até os ombros de Polibo-tes enquanto ele estava distraído puxando a lança da sua perna. Ichor dourado, o sangue dos imortais, gotejou da sua perna, mas a ferida rapidamente sarou. Da altura dos ombros do gigante, Dakota pôde ver a batalha enfurecendo lá em-baixo. Três dos bonecos de neve foram destruídos e agora Lupa, Reyna e Bobby estavam virados igualmente para o boneco que restara.

Dakota pôde ouvir Bobby gritando:

— Depois dessa, vamos pra lanchonete!

Dakota olhou para a floresta onde Hazel estava, e com bastante certeza, havia fumaça saía do topo das árvores. Entrementes, eles precisavam dar mais tempo para Hazel engolfar completamente as árvores.

Polibotes finalmente se levantou, caçando Dakota e Percy, tentando jogá-los ao chão. Eles se seguraram, tentando evitar os balanços. Percy foi acertado pela ponta afiada da lança do gigante fazendo-o soltar. Dakota observou en-quanto Percy começava a cair para o chão.Quando Percy estava caindo ao lado da perna esquerda do gigante, ele apunhalou o cabo da espada fundo nas esca-mas e segurou. A força do seu peso puxou-o para baixo rasgando a perna de Polibotes e derramando litros de ichor dourado em Percy.

— Percy, é veneno! — Dakota tentou alertá-lo sobre o sangue do gigante.

Dakota esperou Percy começar a entrar em combustão e urrar de dor quando o ichor tocou sua pele, mas o veneno não fez efeito em Percy, era como se ele fosse invulnerável ao veneno. Quando Percy deslizara o comprimento in-teiro da perna do gigante, ele puxou sua espada da ferida exposta e apunhalou-a

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na enorme presa em que agora ele estava em cima. Polibotes estava surrando em agonia. Dakota, ainda sobre o ombro do gigante, puxou sua espada e a dirigiu para a orelha do gigante. Era um truque que ele e Jason haviam descoberto quando lutaram com um ciclope alguns anos atrás; quando o oponente é grande e difícil de ferir, a orelha é o lugar onde pode ser imposto o maior dano. Polibo-tes ainda estava urrando e agora estava sacudindo os braços tentando lançar Da-kota para fora de cima dele. Dakota deslizou pela armadura nas costas do gigan-te então pulou para fora dele. Dakota pousou na neve rolando para fora do gi-gante. Ele se levantou e notou que Percy ainda estava apunhalando e lascando os pés e tornozelos de Polibotes. Dakota podia sentir fumaça agora e viu que as árvores no declive estavam completamente engolfadas. Não demoraria muito até a neve derretida chegar até eles. Polibotes chutou o pé que Percy estava e este saiu voando. Ele pousou na neve ao lado da gaiola de Cibele. Os ferimentos de Polibotes já estavam sarando, e ele estava retomando sua compostura. Dako-ta correu para Percy e o ajudou a ficar em pé. Lupa, Reyna e Bobby se juntaram a eles tendo destruído o boneco de neve restante.

— E agora? — perguntou Bobby.

— Precisamos dar mais tempo para Hazel. Circulem o gigante, deixem-o cercado, e tirem proveito de qualquer oportunidade de ataque — disse Lupa.

Eles foram enquanto Lupa falava e todos os cinco cercaram o gigante. Lu-pa rosnou e troou para Polibotes e todos apontaram suas armas para ele. Reyna começou a atirar flechas na cabeça do gigante enquanto Percy, Dakota e Bobby cortavam suas pernas com as espadas. Lupa pulou na perna do gigante e come-çou a atacá-lo com suas presas afiadas. Polibotes tirou flechas do rosto e focou-se em Lupa para tirá-la da sua perna. Ele fez sinal de chute com o pé para evitar os ataques de espada e urrou tão alto que a montanha inteira vibrou. Foi tudo que deu. A vibração na montanha fez a neve no declive se deslocou levemente e a água começou a fluir. Um pequeno vapor começou a escoar o declive na direção deles.

— Percy, prepare-se! — Dakota gritou para ele.

Percy e Dakota circularam o gigante até que Percy estava de pé ao lado da gaiola e Dakota montava guarda perto dele.

— Vou te libertar agora — Percy disse para Cibele. — Está pronta?

— É claro que estou, mocinho — respondeu ela para Percy. — Você é o filho do Earthshaker, não é?

Percy hesitou.

— Ele é, minha Lady — confirmou Dakota.

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— Eu irei requirir a sua assistência para destruir o gigante — ela disse para Percy.

Percy virou para ver a água se aproximando cada vez mais e virou para a deusa.

— O que você quer que eu faça?

— Você saberá o que fazer quando chegar a hora — Cibele respondeu.

— Percy, a água! — Dakota gritou.

Percy virou para o vapor d’água que agora estava a só alguns metros de distância. Percy forçou o braço para o vapor e tomou controle da água. Ela se ergueu no ar e ele a guiou para a gaiola. Quando a água alcançou a gaiola, Percy permitiu que ela banhasse as barras de ouro. O ouro começou a derreter reve-lando barras de aço planas. A gaiola explodia em pedaços enquanto Cibele esca-pava de sua prisão. Ela cresceu para uma altura quase tão alta quanto o gigante. Polibotes estava aturdido por ver que ela se libertara.

— Você pagará por me tomar prisioneira, gigante — ela disse.

Polibotes deu alguns passos para trás. A deusa levantou as mão e a mon-tanha começou a tremer.

— Agora, herói — ela falou para Percy.

Percy pisou firme no chão o mais forte que podia na neve. Uma rachadu-ra na neve correu do pé de Percy para o gigante. A rachadura correu entre as presas do gigante e abriram uma fissura profunda no chão.

Polibotes começou a perder o equilíbrio.

— Isso não acabou! Os gigantes serão triunfantes! — gritou Polibotes, de-pois caiu na fissura.

Cibele bateu palmas, a fissura fechou e a montanha parou de tremer.

— Ah, toma! — disse Bobby em empolgação.

Hazel veio correndo para eles e colocou a mão no ombro de Bobby.

— O que eu perdi?

— Só Percy e Cibele matando o gigante!

— Polibotes não morreu; só foi enterrado. Ele ascenderá novamente — explicou Cibele enquanto se encolhia para o tamanho de uma mulher normal. —

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Obrigada, heróis. Tenho um débito com vocês por terem me salvado. Se vocês um dia estarem numa montanha e precisarem de ajuda, não hesitem em pedir.

— Minha Lady, por que Polibotes lhe aprisionou? — perguntou Reyna.

— Ele estava tentando repor suas forças usando o meu poder e ganhar controle sobre as montanhas do mundo — explicou Cibele. — Na primeira guer-ra, os gigantes tentaram alcançar o Olimpo por meio de empilhar extensões de montanhas, uma em cima da outra. Eu creio que suas intenções eram fazer a mesma coisa, mas vocês anularam o plano dele. — Cibele sorriu. — Muito bem, heróis.

Uma biga dourada puxada por dois leões apareceu ao lado de Cibele, e ela pisou na biga, pegando as rédeas.

— Espero que vocês tenham sucesso e segurança na sua jornada. — Ela sorriu.

— Nossa jornada... onde? — perguntou Hazel.

— Percy sabe o próximo destino de vocês, e os meios de chegar lá estão no seu bolso — falou Cibele. — Preciso ir. Boa sorte.

Cibele acelerou na sua biga, restaurante a floresta queimada à sua condi-ção anterior enquanto passava, então desapareceu.

Todos olharam para Percy.

— Sobre o que ela estava falando? — perguntou Hazel.

Percy puxou algo do bolso do seu jeans e segurou-o na sua mão. Era um apito de cachorro prateado em forma de tubo.

— Só tem isso no meu bolso — ele disse desapontado.

Reyna levantou uma sobrancelha.

— Um apito.

— Sopre, veja o que acontece. Talvez chame um táxi mágico — disse Bobby.

Percy levou o olhar para Dakota. Dakota não tinha ideia do que significa-va o apito ou o que podia fazer, mas ele calculou que não era para chamar o seu Rottweiler.

— Tente. — Dakota assentiu.

Percy pôs o apito na boca e soprou.

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OOOO APITO NÃO FEZ NENHUM SOM AUDÍVEL APITO NÃO FEZ NENHUM SOM AUDÍVEL APITO NÃO FEZ NENHUM SOM AUDÍVEL APITO NÃO FEZ NENHUM SOM AUDÍVEL. Percy tirou o apito dos lábios, olhou para ele, então olhou em volta. Nada acotneceu. A montanha estava quieta e silenciosa. Percy não esperava que alguma coisa acontecesse; era um apito de cachorro, mas ainda assim, ficou desapontado.

— Foi mau, galera. Acho que não funcionou. — Percy suspirou.

Bobby colocou uma mão no ombro de Percy.

— Tá tudo bem, man. Vamos pensar em algo.

— Shh... ouçam — falou Hazel.

Todos ficaram quietos e começaram a olhar os arredores. Bem distante, em baixo no declive, houve um barulho. Percy não pôde distinguir que som era, mas ficou cada vez mais alto.

— AU!AU!AU!AU!

O pelo no dorso de Lupa se arrepiou.

— AU!AU!AU!AU!

Percy pôde ver um objeto preto vindo na direção deles. O que quer que fosse, era enorme. Ele continuou se aproximando cada vez mais. Todos puxaram suas respectivas armas exceto Percy, que olhava para a besta enorme vindo para ele.

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— É um cão infernal! — gritou Reyna.

— AUU! — o cão latiu, depois lançou-se sobre Percy.

Percy se espatifou no chão com o cão infernal sobre ele, lhe dando um super banho de baba. Os outros estavam prestes a atacar a besta quando Percy estourou em risos.

— Ok, ok... sim, entendo você. Bom cachorro. — Percy riu enquanto ti-rava o cão de cima dele.

Todos abaixaram as armas.

— Amigo seu? — Dakota perguntou.

Percy limpou a baba no rosto.

— Não tenho certeza, mas parece que me conhece.

Dakota saltou para o cão infernal e viu a identificação posta na coleira.

— Sra. O’Leary.

— AU!

— Sem chance. — Percy ofegou e se aproximou para olhar melhor o ani-mal. O cão infernal parecia quase idêntico ao seu cachorro: os mesmos olhos, as mesmas expressões faciais, a mesma respiração de cachorro nojosa. Acrescentan-do alguns mil quilos, era ela.

— Esse é o seu Rottweiler? — perguntou Hazel.

— É — disse Percy incrédulo. — Mas falando sério, ela não era tão grande há alguns dias atrás.

A Sra. O’Leary notou Lupa e começou a fungar para ela. O pelo de Lupa ainda estava eriçado, e ela deu alguns passos para trás. O rabo da Sra. O’Leary começou a balançar feito louco, aí ela lambeu o rosto de Lupa com sua enorme língua babosa.

— Eca! — reclamou Lupa. Depois gritou: — Percy Jackson, controle o seu animal!

Todos morderam os lábios tentando segurar a risada, mas não puderam. Todos começaram a gargalhar. Os últimos dias haviam sido longos e estressantes, e o alívio cômico era uma pausa bem-vinda da loucura, embora Lupa não esti-vesse parecendo muito animada por ser a fonte da hilariedade. Quando as risa-das morreram, eles mimaram e se apresentaram à Sra. O’Leary.

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— Então, ela é a nossa carona para quem sabe onde? — perguntou Bobby enquanto coçava atrás da orelha dela.

— O animal pode levá-los para qualquer lugar que quiserem ir numa questão de segundos — contou Lupa.

— Como? — perguntou Reyna.

— É um truque do Mundo Inferior chamado viagem pelas sombras — ex-plicou Lupa. — Basta dizê-la o destino, e ela lhes leva lá.

— Onde é exatamente o nosso destino? — perguntou Hazel, e todos vira-ram para Percy.

— Não olhem para mim. Eu não tenho ideia de onde devemos ir — disse Percy.

— Espere um pouco... Pico. Percy, ele não te deu um número que devia te levar para o que procura? — perguntou Dakota.

— Sim, 3.141 — respondeu Percy, e assim que disse o número, um ende-reço reluziu na sua cabeça: Estrada da Fazenda 3.141. Long Island, NY. — Eu sei onde temos que ir.

Percy esperou que o quer que estivesse naquele endereço, aquilo tivesse as respostas para o que realmente estava acontecendo com ele. Na viagem inteira, Percy tentou descobrir o porquê dele poder lutar tão bem, o porquê dele ter todos aqueles lampejos estranhos na cabeça, e de onde ele arranjara o escudo e a espada. Ele sabia que seus novos amigos tinham algumas teorias, mas eles não compartilhavam e Percy pensava que era melhor não perguntar.

— Ok, vamos então — falou Reyna.

Todos subiram no dorso da Sra. O’Leary exceto Lupa.

— Madame Lupa, você não vem? — perguntou Hazel.

— Eu não vou montar no dorso dessa besta. Mas eu devo conseguir viajar seguindo os seus rastros. Encontro vocês lá.

— Estão todos prontos? — perguntou Percy.

Todos assentiram e Bobby disse:

— Vamos agitar!

Percy se inclinou para a frente e sussurrou o endereço no ouvido da Sra. O’Leary.

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— AUU!

A Sra. O’Leary fungou no ar e saiu correndo para as árvores com Lupa nos seus calcanhares. Quando alcançaram as árvores e acertaram a primeira sombra, todos desapareceram.

Quando reapareceram, eles não estavam mais nas Montanhas Rochosas. Ela estavam na estrada de uma fazenda na base de uma colina aparentemente no meio do nada, mas o lugar pareceu familiar para Percy. A Sra. O’Leary começou a cambalear e bocejar, então todos deslizaram do seu dorso. Ela deu algumas voltas em círculo, deitou-se, e adormeceu. Lupa parecia muito exausta por si, mas não parecia precisar de uma soneca ainda.

— Ah, uau, que viagem! — Bobby disse, empolgado.

— Foi muito legal — concordou Dakota.

— Onde estamos? — perguntou Reyna.

— Long Island — respondeu Percy.

— Viajamos o caminho todo até a costa leste? — perguntou Hazel em in-credulidade.

Percy assentiu.

— Então, onde vamos agora? — perguntou Reyna.

Percy apontou para um pinheiro altaneiro no topo da colina.

— Por ali... eu acho.

Eles começaram a subir a colina em direção à árvore. Algo num ramo bai-xo da árvore tremeluzia na luz do sol e fumaça saía de algo sob a árvore.

— O que vem a ser isso, eu me pergunto? — disse Hazel apontando a-pontando para a massa cor de cobre sob a árvore.

Enquanto se aproximavam mais, eles começaram a ouvir um som de mau humor, como uma exalação raivosa, e a fumaça sob a árvore pareceu ficar mais grossa. O objeto debaixo da árvore começou a se mexer. Seus movimentos pare-ciam serpentinos. Quando chegaram a seis metros da árvore, ficou claro o que o objeto era. Todos pararam nos passos.

Os olhos de Hazel se arregalaram.

— Aquilo é um dragão?

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Houve um som sibilante, e então um ruído alto enquanto o dragão se le-vantava para a sua altura completa. Desdobrou suas enormes asas, chicoteou sua cauda pontuda e cuspiu fogo no ar.

— Sim, é um dragão — confirmou Dakota.

Todos puxaram suas armas e ficaram prontos para um ataque. Percy pô-de ouvir uma buzina de concha soando no vale no outro lado do cume. Isso não era bom; era uma armadilha. O dragão fez um ruído novamente e então todo o tempo parou. Nada se moveu, tudo e todos estavam congelados com exceção de Percy. Ele olhou em volta se perguntando o que acontecera quando todos os cabelos atrás do seu pescoço se eriçaram. Ele deu meia-volta e ali estava uma mulher. Ela era alta e elegante. Tinha cabelo marrom com fitas douradas nas tranças, e seu vestido branco era mais claro que a neve nas Montanhas Rochosas. Ela parecia familiar para Percy, ele não pôde localizar de onde ela era.

— Percy Jackson, você nunca desaponta. — Ela sorriu.

— Você me conhece? — perguntou Percy a ela.

— Você conhece, semideus. Para você, eu sou Hera, rainha dos deuses gregos do Olimpo.

— Gregos?

— Está certo. Percy, você não é um semideus romano, você nunca foi. Você é um semideus grego... de quem as memórias ainda estão distorcidas, en-tendo.

— O que você fez comigo?

— Pus um véu de memórias falsas na sua cabeça. Elas puderam mascarar quem você realmente é. Mas não chore, agora que você cumpriu sua missão, o véu será retirado, revelando sua verdadeira identidade — explicou ela.

— Minha missão?

— Forjar uma aliança com os romanos, naturalmente. Eu lhe enviou para o acampamento romano como uma troca de líderes. Eu precisei que você e Ja-son aliviassem as tensões e fizessem uma ponte para preencher uma lacuna entre os dois acampamentos.

— Mas para que mexer com a minha memória?

— Foi necessário garantir sua integração ao acampamento romano. Eles não são tão amigáveis quanto os gregos. Eles precisavam ser convencidos que

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você não era uma ameaça, e sim um recurso. Também foi uma maneira de ga-rantir que você voltasse para cá. Brinquei com o seu defeito fatal.

Percy levantou uma sobrancelha.

— Meu defeito fatal?

— Sua lealdade pessoal, Percy. Quando os romanos se tornaram seus a-migos, eu soube que você nunca os trairia. Eu também soube que você iria parar no nada para voltar aos seus amigos, sua família e sua Annabeth, então eu os manti nas suas memórias. Contudo, estou surpresa em como você conseguiu vol-tar tão rápido, mas não importa. Você está aqui agora e a união dos dois gran-des poderes pode começar. — Ela sorriu.

Percy só olhou para ela tentando ver o sentido das coisas que ela falava.

— Logo, tudo ficará claro — ela disse. — Agora dê meia-volte e encare o seu destino, herói.

Percy deu meia-volta de novo, encarando o dragão, e o tempo voltou a rodar. O dragão ainda estava emitindo um ruído, seus amigos ainda estavam se preparando para atacar, e ele não tinha ideia de onde estava ou quem ele real-mente era. Olhou para o dragão e seus olhos capturaram os dele. O dragão pa-rou de fazer ruídos e começou a relaxar. Dobrou suas asas e inclinou sua cabeça cor de cobre olhando para Percy, o que parecia confusão. Ou talvez fosse afei-ção. O dragão abaixou sua cabeça para Percy.

— Percy... — sussurrou Dakota, preocupado.

— Está tudo bem, eu acho — disse Percy.

O dragão fungou para Percy, depois cutucou sua mão com o nariz. Percy levantou a mão e coçou o dragão sob o queixo. O dragão sibilou em deleito.

— Outro amigo seu, suponho — disse Dakota.

Só então o chão começou a vibrar, e todos os ruídos muito familiares fo-ram para o cume da colina. Três bigas apareceram carregando dois cavaleiros cada. Eles pararam no topo da colina, e a cena ficou sinistramente quieta. Todos em ambos os lados pareciam estar pasmos com o que viam. Percy reconheceu um rosto nas bigas, e quase não pôde acreditar nos olhos. Era Annabeth vestida de armadura de batalha com uma adaga na mão. Percy se perguntou o que ela estava fazendo ali, porém mais uma vez ele não realmente se importou; ele só ficou feliz em vê-la. Todos bainharam suas armas e os cavaleiros saíram das bigas. Annabeth correu para Percy, mas era como se estivesse em câmera lenta. Percy começou a ter lampejos na cabeça: Grover conversando com um poodle rosa,

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Tyson socando um touro de bronze, ele mesmo e Thalia deslizando para baixo de uma colina nevada num escudo, ele beijando Annabeth dentro de um vulcão e Rachel falando a próxima Grande Profecia. Uma inundação de memórias vol-taram para Percy. Era como se a força que estivera segurando-as tivesse subita-mente sido retirada. Annabeth se aproximou de Percy e parou a centímetros de-le. Eles se olharam cara-a-cara.

— Percy — disse Annabeth.

Percy piscou algumas vezes tentando se recuperar do ataque de flash-backs.

— Percy... você lembra quem eu sou? — perguntou Annabeth enquanto uma lágrima solitária descia a sua bochecha.

Percy levantou a mão e limpou a lágrima da bochecha.

— Annabeth, eu nunca poderia esquecer você.

Ela sorriu e jogos os braços em volta do seu pescoço. Ele pôs seus braços em volta das costas dela e a segurou como se nunca mais quisesse largá-la. Ele descobrira como a verdade podia ser facilmente apagada, e ele precisava ter cer-teza que aquilo era real.

— Senti falta de você, Sabidinha — ele disse, ainda segurando-a firme.

Ela inclinou a cabeça e olhou-o no olho.

— Senti falta de você também, Cabeça de Alga. — Ela sorriu e o beijou.

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RRRREYNA OBSERVOU EYNA OBSERVOU EYNA OBSERVOU EYNA OBSERVOU JJJJASON SAIR DA SUA BIGA ASON SAIR DA SUA BIGA ASON SAIR DA SUA BIGA ASON SAIR DA SUA BIGA com aquela mesma garota que vira no sonho. Todos os romanos ficaram atenciosos e saudaram Jason colocando seus punhos direitos no coração, e Jason fez o mesmo.

— Reyna! — gritou Jason como se tivesse acabado de reconhecer quem ela era.

Jason correu para ela e lhe deu um grande abraço enquanto a levantava e girava no ar. Reyna riu e sorriu abraçando seu pescoço. Ela estava muito feliz por vê-lo e saber que ele estava bem.

Ele a desceu mas ainda segurava seus ombros.

— Deuses, não posso nem acreditar que você está aqui.

— Bem, somos dois. — Ela sorriu.

Jason olhou para a esquerda e viu Dakota.

— Kota. — Jason ofereceu seu braço direito, Dakota bateu nele e o puxou num abraço.

— É bom ver você, cara — falou Dakota para Jason.

— Você também, colega.

Hazel e Bobby cada um recebeu um abraço de Jason, e quando viu Lupa, ele se ajoelhou na frente dela e curvou a cabeça.

— Madame Lupa.

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— É agradável ver você bem, meu pupilo.

Jason se levantou.

— Como vocês me encontraram? Como chegou aqui? — perguntou.

Reyna apontou para Percy que estava andando para eles com uma garota ao lado.

Percy se aproximou de Jason e lhe ofereceu o braço direito.

— Percy Jackson, filho de Poseidon.

Jason bateu no braço de Percy.

— Jason Grace, filho de Júpiter.

Percy levantou uma sobrancelha.

— Grace? Tipo, Thalia Grace?

Jason sorriu.

— Minha irmã.

— Não brinca! — disse Percy.

Reyna lembrou da Caçadora que Percy reconheceu no Pikes Peak; Percy disse que seu nome era Thalia. Reyna nunca soube que Jason tinha uma imrã, e ela se perguntou se a Caçadora que atacara e a irmã de Jason eram a mesma.

— Percy — disse uma voz de alguém se aproximando do cume da colina.

Um homem anormalmente alto apareceu. Ela tinha uma barba bem cortada e cabelo marrom encaracolado. Ele estava usando uma armadura sobre sua longa camiseta laranja de mangas, e tinha um arco e uma aljava pendurados nas costas. Enquanto se aproximava, Reyna percebeu porque ele era alto; a metade de baixo do seu corpo era de um garanhão branco. Ele era um centauro.

O centauro colocou a mão no ombro de Percy.

— Graças aos deuses. Você está bem?

— Claro, Quíron — garantiu Percy.

— Percy... — começou Reyna, se perguntando porque Percy não parecia mais confuso a respeito de quem ele era.

— Foi Hera — contou Percy. — Foi ela que bagunçou a minha memória, me fazendo acreditar que levava uma vida mortal.

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— Não se sinta mal, Percy — disse Jason. — Ela apagou minha memória completamente.

Todos só fitaram os dois.

— Mas vocês se lembram agora... certo? — perguntou Bobby.

Ambos assentiram.

— Marcaremos uma reunião dos conselheiros para discutir os eventos que se desenveram nos últimos dias, mas agora eu gostaria de conhecer nossas visitas. — O centauro virou para os romanos e falou: — Eu sou Quíron, diretor de atividades aqui do Acampamento Meio-Sangue.

Reyna se apresentou primeiro.

— Reyna Ballard, filha de Apolo e pretora interina da Primeira Legião.

— Dakota Mills, filho de Marte, primeiro tenente.

— Bobby Chandler, filho de Vitória, centurião.

— Hazel Vaughn, filha de Vesta, centuriã.

Quíron bateu nos braços deles na tradição romana enquanto se apresentavam, exceto por Hazel.

— Filha de Vesta. — Quíron se inclinou para frente, pegou a mão de Hazel e a beijou. — É algo raro. Uma grande honra.

Hazel corou.

— Mas Héstia é uma deusa virgem — disse a garoto ao lado de Percy. Reyna assumiu que ela era a namorada dele, Annabeth.

Hazel sorriu.

— A Héstia de vocês pode ser virgem, mas Vesta não é exatamente tão... conservadora. A cada século, minha mãe desce à Terra; ela se casa com um homem mortal, tem um filho e fica com seu marido pelo resto dos seus dias. Minha mãe tem Virgens Vestais para atender aos seus deveres no Olimpo. Agora mesmo, ela vive com meu pai na nossa casa no Texas.

Foi uma coisa que Reyna sempre invejou de Hazel: uma verdadeira família. Hazel tinha que ir para casa no Texas todo verão e nos feriados. O acampamento era mais como um internato do que uma casa para ela.

Quíron se aproximou de Lupa, que aparentemente não precisava se apresentar, e ele se ajoelhou com as patas dianteiras, e curvou-se.

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— Madame Lupa.

Lupa curvou-se para Quíron.

— Mestre Quíron, há quanto tempo.

— Não desde que fizemos nossos juramentos no Estige — disse Quíron enquanto se levantava.

— E estou vendo que ambos violamos aquele juramento — disse Lupa.

Reyna não sabia que juramento era aquele que eles estavam falando, mas supôs que tinha algo a ver em como os romanos e gregos ficaram separados.

Reyna virou para Percy.

— Então, essa é Annabeth?

— É. — Percy sorriu, depois apresentou-a. — Annabeth Chase, filha de Atena.

Reyna sacudiu a cabeça.

— Aposto que seus pais não são tão loucos sobre o relacionamento de vocês... a coisa toda da rivalidade de Poseidon e Atena.

— Você sabe muito sobre os deuses gregos? — perguntou Annabeth.

— Sou filha de Apolo, eu meio que preciso saber — respondeu Reyna.

— Ah, tem razão, o mesmo nome, o mesmo aspecto — disse Annabeth.

Reyna sabia que essa garota tinha alguns neurônios, e Reyna gostou dela imediatamente. Se apresentaram aos outros semideuses que estavam sentados nas bigas. A garota do sonho de Reyna, aquela que estava com Jason, se apreosentou como Piper McLean, filha de Afrodite. Naturalmente ela seria filha da deusa do amor; era só para a sorte de Reyna. Encontraram Leo Valdez, um filho de Hefesto, que imediatamente começou a topar em Hazel, mas ela não se importou. Entrementes parecia até Hazel poderia estar realmente gostando do garoto. Também tinha Travis Stoll, um filho de Hermes, e Will Solace, um filho de Apolo. Reyna não tinha o hábito de abraçar completos estranhos, mas ela abraçou o irmão. Depois de perder dois deles e uma irmã no Monte Tam, ela estava aliviada por saber que tinha uma família aqui.

— Bem, já que todos nos apresentamos, que tal mostrarmos o Acampamento Meio-Sangue aos nossos convidados? — disse Quíron.

Eles desceram a colina para uma casa de fazenda azul de quatro andares.

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— A chamamos de Casa Grande — Percy contou a Reyna. — É a nossa versão do quartel-general.

Reyna olhou em torno do vale. Ela viu campos de morango, um pequeno lago e uma grande floresta. Havia pátios de vôlei e basquete e vários chalés que Reyna assumiu serem os alojamentos.

Eles chegaram à Casa Grande e Quíron falou:

— Preciso de voluntários para dar a cada um dos nossos convidades um tour no acampamento.

Leo rapidamente se ofereceu para ser o guia de Hazel. Percy e Annabeth seriam os guias de Dakota e Piper se voluntariou para ser o guia de Bobby. Piper e Reyna trocaram olhares enquanto ela e Bobby deixavam a Casa Grande. Os olhos de Piper eram intensos e territoriais, como se estivesse silenciosamente avisando para Reyna tomar cuidado. Reyna sabia que ela e Piper não iriam se entender.

— Bem, parece que sobrou eu e você — falou Jason para ela. — Vamos, vou te mostrar as coisas por aqui.

Reyna ficou feliz por Jason ser o guia dela. Ela realmente sentira falta dele e estivera preocupada com ele desde o seu desaparecimento. Ela queria usar esse tempo juntos para saber das coisas e talvez contá-lo o que ela sentiu sobre ele.

— Então, parece que teve uma aventura selvagem sem mim — disse Jason enquanto levava Reyna através dos campos de morango.

Reyna sorriu.

— Eu não acho que a palavra selvagem seja muito apropriada.

— E você e Kota conseguiram sobreviver sem mim lá para salvá-los. É incrível. — Jason riu.

Reyna empurrou seu ombro e sacudiu a cabeça.

— Heróis.

— Falando nisso — falou Jason num tom mais sério. — Como está Kota?

Jason e Dakota eram melhores amigos e Jason estivera aflito a respeito dele desde o Tam. O comportamento anormal de Dakota e balanços de ânimo, sintomas do TEPT, estavam cobrando os direitos da amizade deles, mas Jason não estava pronto para desistir dele. Reyna não sabia se Dakota iria se recuperar, mas nunca ouve qualquer dúvida na mente de Jason que ele iria.

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— Ele ficou realmente bem na viagem — contou Reyna. — Penso que quando ele tem algo para se concentrar, algo para distrai-lo daquelas memórias ruins, ele fica muito melhor.

— É bom ouvir isso, e você?

— E eu? — perguntou Reyna.

— Está tudo bem? Você parece distraída.

Reyna olhou para o lago de canoagem.

— Vai ver que é só esse lugar — falou, não exatamente pronta para contá-lo o que realmente estava na sua mente.

— É, eu sei o que você quer dizer — respondeu Jason. — Te dá aquela sensação como se soubesse que você está em algum lugar que não devia estar.

— Romanos e gregos... Historicamente essa é uma combinação explosiva — ela falou.

— Talvez essa geração possa superar a discriminação e trabalhar juntos como um time. Parece que você já sabe porque está aqui.

Ela assentiu.

— A Grande Profecia, a Gigantomaquia.

— Está certa, e está progredindo muito mais rápido que eu esperava. Sua chegada aqui no dia depois de eu voltar da minha missão diz que não temos tanto tempo quanto pensávamos. Ai... está me dando dor de cabeça ou vai ver que é aquela queda de memórias que tive mais cedo — disse Jason, esfregando os olhos.

— Sim, você disse algo sobre Hera apagar a sua memória — lembrou Reyna.

— No meu caso foi Juno, mas sim. Eu não lembrava de muita coisa até eu estar na colina olhando para vocês, e então todo voltou... tudo de vez. Acho que a mesma coisa aconteceu ao Percy.

Reyna concordou com a cabeça.

— Tenho certeza que tudo será discutido na reunião de conselheiros, então não vamos nos preocupar agora — Jason disse, então pegou o braço dela. — Vamos, eu quero te mostrar uma coisa.

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Jason levou Reyna para o campo de arco-e-flecha e seus olhos se iluminaram. Haviam alvos por todo o lugar; alvos fixos, alvos móveis, até alvo que flutuavam magicamente. Era o sonho de um arqueiro.

— O que acha? — perguntou ele.

— Acho que é incrível. — Ela sorriu.

— Ok, ok, pare de babar. Melhor terminarmos o tour. Ainda tem muitas coisas para você ver.

Jason ela pelos estábulos e pela arena de esgrima. Ele mostrou para ela o anfiteatro e a arena de luta de espadas.

Eles caminharam para dentro de um pavilhão ao ar livre estruturado com colunas e Jason disse:

— O lugar mais importante no acampamento.

Reyna inclinou a cabeça.

— Deixe-me adivinhar... a área do jantar?

Jason só sorriu, então disse na sua melhor voz de guia de tour:

— Nossa próxima parada no tour é os chalés. Siga-me por favor.

Reyna seguiu Jason para um grupo de chalés comprimido na beira da floresta. Havia uns vinte chalés, um chalé representando cada deus, dispostos numa forma de U com duas asas de chalés que iam para a esquerda e direita do lado aberto. Os chalés encaravam uma área de convivência que era belamente ajardinada e tinha uma fogueira em combustão lenta no centro. Uma jovem cuidando das chamas chamou a atenção de Reyna. Reyna curvou a cabeça para a garota no pátio e a garota sorriu. Jason levou Reyna para o chalé de Apolo. O chalé dourado reluzia na luz do sol baixo.

— Todos os filhos de Apolo dormem aqui? — perguntou Reyna.

— É — concordou Jason.

Reyna não estava acostumada a ter companheiros de quarto. Ela tinha seu próprio alojamento no acampamento romano.

— Você quer entrar? — sugeriu Jason.

Reyna fitou o chalé depois virou pra Jason.

— Vamos acabar o tour primeiro.

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Jason mostrou a ela o resto dos chalés incluindo o dele. Era idêntico á casa de mármore que ela vira no sonho. Ela pensou em contar a Jason seu sonho, mas decidiu que era melhor não. Jason a levou para o estreito e eles ficaram numa duna olhando a água. A brisa era fresca, mas não tão fria quanto devia ser nessa época do ano. Reyna olhou o estreito tentando criar coragem para perguntar a Jason sobre Piper.

— Então, seus amigos aqui, eles parecem legais — ela disse finalmente.

— A maioria aqui é. Como é provável que você diga, esse lugar é um pouco mais moderno que o nosso acampamento — ele disse.

— Eu notei, e está impregnado em você.

— É, acho que sim — concordou Jason.

Eles ouviram duas pessoas conversando e rindo. Viraram e viram Hazel e Leo descendo a duna na direção deles. Cada um segurava algo na mão. O que quer que estivessem segurando, estava brilhando e tremeluzindo vermelho e laranja. Enquanto chegavam mais perto, Reyna percebeu que cada um tinha uma bola de fogo na palma.

— Ei, galera — disse Hazel quando alcançaram Reyna e Jason.

— Bem, parece que vocês dois encontraram algo em comum — disse Reyna, olhando para as chamas nas palmas.

James sacudiu a cabeça.

— Fogo.

— Você sabe — disse Leo.

— Para onde vocês vão? — perguntou Reyna.

— Pavilhão de jantar, é quase hora do jantar — respondeu Leo.

Reyna estava com muita fome. Ela não comeu nada o dia inteiro.

— Iremos com vocês — falou Jason, e todos os quatro rumaram ao pavilhão.

Quando chegaram ao pavilhão de jantar, o sol já tinha quase se posto por completo. Tochas iluminavam o pavilhão e uma fogueira central queimava num grande braseiro. O jantar estava sendo servido, e Reyna reconheceu e respeitou a forma ordenada que os gregos jantavam. Cada chalé tinha uma mesa, e se você dormia naquele chalé, você comia naquela mesa; era simples e eficiente. Havia uns sessenta ou setenta campistas e aproximadamente uma dúzia de

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ninfas, náiades e faunos. Reyna se sentou ao lado de Will, que conhecera mais cedo.

— Como foi o seu tour? — perguntou Will.

— Bom. Esse é um acampamento muito amigável.

Houve um bang da mesa principal. Reyna viu Quíron levantar seu copo.

— Aos deuses, e aos nossos convidados — brindou ele.

Todos se juntaram ao brinde. Ninfas trouxeram comida a cada mesa e todos encheram os pratos. Cada campista derrubou uma oferenda queimada ao fogo central, que também era uma tradição romana. Reyna se sentou novamente à mesa e começou a comer seus hamburgueres e fritas.

— Já preparamos um beliche pra você e lhe arranjamos roupas e algumas toalhas — Will contou.

— Agradeço, mas você não precisava fazer isso.

— Não foi problema. Então, Reyna, quantos filhos de Apolo tem no seu acampamento? — perguntou Will.

Reyna instantaneamente perdeu o apetite.

— Tinha quatro, mas agora só sobrou eu — ela disse, infeliz.

— Ah, me desculpe. Eu não queria... — Will parou, depois acrescentou: — Perdemos vários irmãos nesse verão... muitos.

Naquele momento, Reyna percebeu que os dois acampamento tinham mais coisas em comum do que diferenças. Eles lutavam nas mesmas batalhas, só de formas diferentes, e perdiam soldados do mesmo jeito. Ambos trabalhavam duro e lutavam com firmeza pela mesma causa e sua lealdade e devoção àquela causa é imutável. Talvez Jason tivesse razão; talvez eles pudessem trabalhar juntos.

Houve outro bang da mesa principal e o pavilhão se silenciou.

— Posso ter a atenção de todos? — Quíron disse em voz alta. — Na fogueira dessa noite estaremos fazendo uma reunião com todo o acampamento para discutir eventos recentes e o que eles significam para o futuro. Insisto que todos prestem atenção.

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DDDDAKOTA SE SENTOU NA FILEIRA DA FRENTE AKOTA SE SENTOU NA FILEIRA DA FRENTE AKOTA SE SENTOU NA FILEIRA DA FRENTE AKOTA SE SENTOU NA FILEIRA DA FRENTE do anfiteatro com todos os romanos, Percy, Annabeth e alguns outros. As outras fileiras estavam ocupadas pelo resto dos campistas, aproximadamente setenta semideuses ao total. O ar zumbia com o som de todo o mundo falando de uma vez. A fogueira no centro do chão do anfiteatro queimava intensamente numa imensa seleção de cores. Na escuridão do lado de fora dali, Dakota viu a imagem de um garoto vestido de preto. Ela parecia quase uma sombra até a luz do fogo revelar sua pele pálida como papel. Uma corneta soou e todos pararam de conversar. Lupa e Quíron se levantaram próximos à fogueira enquanto lideravam a reunião.

— Como todos vocês sabem, Percy retornou ao acampamento, e trouxe alguns convidados — anunciou Quíron.

— Romanos — alguém perto do fundo disse. Quíron continuou.

— Sim, nossos amigos romanos fizeram uma longa viagem...

— Amigos? Tá certo — outra voz no fundo disse com tom sarcástico.

— Inicio alertando a todos que os romanos foram essenciais na Guerra dos Titãs. Enquanto batalhávamos com o titã Cronos, eles estavam lutando com o titã Crio no Monte Ótris — explicou Quíron.

— É, eles pegaram a luta fácil — outra voz disse.

Dakota virou para a direção da voz.

— Ei, nós perdemos metade da nossa legião naquela batalha.

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— E vocês acham que não perdemos muitos lutando com Cronos? — al-guém perguntou.

— O que é isso, galera. A guerra dos titãs acabou — disse Annabeth.

— Sim, por causa do Percy — mais alguém retrucou.

— E Jason. Ele matou Crio — Reyna argumentou.

— Seu garoto Jason deu um mergulho no Estige também? — alguém per-guntou.

— Ok, ok, vamos nos acalmar — falou Quíron. — Reyna, por que você não nos conta o que aconteceu na sua jornada para cá?

— Nosso acampamento foi atacado e Madame Lupa foi raptada pelo rei lobo, Licaão — começou Reyna.

— Licaão? — Jason perguntou a Reyna.

— Sim — respondeu Reyna. — Ele queria usar Lupa para encontrar algu-ma coisa... era o quê, Percy?

— O trio inauspicioso — lembrou Percy.

— Ah, deuses — ofegou Piper.

— O quê? — perguntou Percy.

Piper não respondeu.

Reyna continuou.

— Conseguimos localizou Licaão no Pikes Peak.

— Eu ouvi alguém dizer Licaão e Pikes Peak? Cara, nós quase pegamos ele — disse uma garota entrando no anfiteatro com outra garota no lado.

Quando as garotas chegaram à luz do fogo, Dakota pôde ver que esta-vam usando roupa de camuflagem cinza e branca, e ele conheceu-as como Caça-doras. A Caçadora que falou foi a que Percy reconheceu no Pikes Peak, Thalia.

— Você! — Reyna se levantou e apontou para a outra Caçadora.

— Você! — ofegou a Caçadora.

— Hã... presumo que vocês duas já se conheçam — falou Percy.

— Infelizmente — disse a Caçadora.

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— Ainda é uma subordinada, entendo — disse Reyna sarcasticamente pa-ra a Caçadora.

— Espera, como vocês se conhecem, e quem é você? — Thalia perguntou para Reyna.

— Reyna, filha de Apolo, e uma idiota total — disparou a Caçadora.

Dakota se levantou.

— Olhe o que fala!

— Opa, intervalo. Phoebe? — Thalia virou para a Caçadora.

— Eu tentei recrutar Reyna para se juntas às Caçadoras dois anos atrás — contou Phoebe.

— E eu desisti, mas você não desistiu tão facilmente — disse Reyna.

— Era o que seu pai queria — disse Phoebe para Reyna.

— Como se eu me importasse com o que ele quer.

— Só estava muito afeiçoada àquele garota — falou Phoebe.

— Espere, você disse há dois anos atrás... Onde eu estava? — Thalia ques-tionou Phoebe.

— Na verdade, a posição oferecida a Reyna era a posição que você ocupa agora. Foi oferecida para Reyna primeiro — contou Phoebe.

— O que disse? — perguntou Thalia, colocando as mãos nos quadris.

Bobby riu.

— Parece que as duas são subordinadas agora.

Jason se levantou e virou para Bobby.

— Olhe o que fala, Bobby, ela é a minha irmã.

— A menina que vimos no Pikes Peak é a sua irmã? — Bobby perguntou.

— Espere, você me viu no Pikes Peak? — Thalia perguntou para Bobby.

— Vimos você e mais algumas Caçadoras — contou Percy.

— Quando? — perguntou Thalia.

— Dois dias atrás — respondeu Dakota.

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— E você é...? — perguntou Thalia.

— Dakota.

— Você é romano — Thalia disse com desdém.

— Algum problema? — perguntou Dakota.

— Espere aí. Então Kota, vocês estavam no Pikes Peak há dois atrás e vi-ram as Caçadoras? — perguntou Jason.

— É — Dakota respondeu.

— Leo, Piper e eu estávamos no Pikes Peak há dois atrás. As Caçadoras nos salvaram de Licaão — explicou Jason.

— Você está dizendo que estávamos todos naquela montanha na mesma hora e não vimos vocês, simples assim? — perguntou Hazel.

— Espere, o trio inauspicioso que Licaão estava procurando, era vocês — disse Percy.

— Então as Caçadoras e os romanos estão atrás de Licaão — disse Anna-beth.

— Vocês, Caçadoras, se estrangularam naquela caça — disse Bobby.

Thalia lhe deu um olhar do mal.

— O quê?

— Nós matamos Licaão, Thalia — contou Percy.

— Ah, sim, e isso foi antes ou depois dos romanos quebrarem o nariz de uma das minhas Caçadoras? Ela me disse que alguém a atacou, mas não sabia quem. Quem foi? — exigiu Thalia.

— Eu quebrei o nariz dela — admitiu Dakota.

— Mas foi a minha culpa — Reyna disse com rapidez.

Thalia sacudiu a cabeça.

— Isso é tudo que os romanos sabem fazer: resolver tudo com punho.

Percy se levantou.

— Calma, Thalia. O seu irmão é romano.

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— Está tudo bem, Percy. Parece que ela já escolheu o lado dela — Jason disse desapontado.

— Gente, não existem lados. Estamos todos juntos nessa agora — racioci-nou Annabeth.

— Fique fora disso, Annabeth — rosnou Jason.

— Ei, não fale assim com ela — Percy rosnou de volta.

Jason empurrou o ombro de Percy.

— E o que você vai fazer, herói?

Percy cerrou o punho e socou Jason na cara; foi quando tudo começou. Todos pularam e se atacaram como dois times de beisebol saindo das cabinas para executarem uma luta na base do lançador. Punhos voavam, todos estavam gritando e berrando, era um caos completo. E não era nada como romanos ver-sus gregos, era tudo livre. Reyna estava pisando em Phoebe, Annabeth estava se esquivando de socos de um campista grego, e Jason e Percy estavam lutando entre si. Dakota viu um punho vindo ao seu rosto. Ele se abaixou e balançou seu punho acertando Thalia na barriga. Ela virou com um golpe que mandou Dakota voando pelo teatro. Dakota pousou aos pés do garoto vestido de preto. Ele es-tava gargalhando.

— Do que está rindo, punk? — perguntou Dakota enquanto se levantava.

O garoto parou de rir e seus olhos se alargaram.

— Ah, m... — ele ofegou enquanto Dakota lhe aplicava um headlock e o arrastava para a luta.

Dakota ouviu Bobby gritar:

— Você quer um pedaço de mim?

Dakota viu Bobby tomar impulso numa grande garota que encontrara no jantar chamada Clarisse. Clarisse pegou o punho de Bobby e torceu seu braço nas costas.

Dakota desviou de um soco de Piper e a empurrou para Reyna... um erro. Reyna pegou Piper pelo cabelo e Jason pegou o braço de Reyna para fazê-la soltar. Reyna, sem olhar para ver quem a pegara, deu um soco e pegou Jason no nariz.

O garoto de preto estava balançando os punhos, nem mesmo olhando para quem socava. Um soco pegou Percy no queixo.

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— Calma, Nico! — gritou Percy.

— Aaa, foi mal — Nico disse.

O cotovelo de Leo voltou num balanço para outro campista e acertou Ni-co no olho, nocauteando-o ao chão.

Dakota pôde ouvir Quíron gritando:

— Parem, todos! Isso é loucura!

Um garoto foi voando pelo ar e acertou a parte de baixo de Quíron. Quí-ron tropeçou, então ele e Lupa foram empurrados na luta.

Dakota podia sentir o calor da fogueira enquanto socava, chutava e mer-gulhava. O fogo alcançou quase seis metros no ar e queimava branco.

A luta se enfureceu, mas era mais uma rixa do que qualquer outra coisa. Ninguém puxara uma arma sequer ou usou seus poderes de maneira alguma. Era tudo corpo-a-corpo. Combate corpo-a-corpo é pessoal, mas também significa que a sua intenção não é matar o oponente. Todos tinham narizes ou lábios su-jos de sangue ou olhos inchados que causariam um pequeno problema mais tar-de.

Dakota tentava abrir caminho para chegar a Jason e Percy que agora esta-va de pé um de costas para o outro combatendo oponentes em cada lado. Os dois garotos que começaram a lutar estavam agora trabalhando juntos.

Dakota quase chegara neles quando houve um alto CABUM!

O som foi quase ensurdecedor. Todos pararam de lutar e cobriram os ou-vidos. Pedaços de lenha queimando choveram do céu; a fogueira explodira. As emoções ficaram tão intensas que o fogo não podia queimar mais enquete, e estourou. Eles ficaram em silêncio olhando para os restos da fogueira que caiam em pavor da visão.

Quíon pigarreou.

— Campistas, eu quero que todos exceto os conselheiros chefe e os roma-nos vão para os seus chalés ou à enfermaria... AGORA!

Eles fizeram como foi ordenado. Sobraram uns quinze gregos, cinco ro-manos e uma Caçadora de pé no anfiteatro com Quíron e Lupa.

— Sentem-se — ordenou Quíron e todos obedeceram.

Com a fogueira não mais queimando, o anfiteatro estava consideravel-mente escuro. As únicas fontes de luz eram algumas tochas que cercavam o anfi-

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teatro. Todos se sentaram com cuidado enquanto Quíron, de braços cruzados, dava passos para frente e para trás; seus cascos soavam no chão de pedra do anfiteatro a cada passo. O cabelo de Quíron estava bagunçado, sua camisa esta-va rasgada e o pelo branco do seu corpo de cavalo estava manchado de sangue. Os semideuses não pareciam muito melhores. Todos tinham roupas rasgadas e sangue seco no rosto e no cabelo.

Após alguns minutos de passos, Quíron parou, virou aos semideuses e gri-tou:

— Vocês esqueceram os princípios?

Do que Dakota observava de Quíron, ele parecia um cara que falava com muita leveza, mas agora aquele cavalo estava inflamado.

Quando ninguém respondeu, Quíron levantou a voz novamente.

— Bem, se esqueceram? Eu preciso saber se algo assim acontecerá nova-mente.

Percy começou a dizer alguma coisa, mas Quíron o interrompeu.

— Não fale.

Quíron virou para Lupa e disse:

— Isso é um desastre.

Lupa, que parecia um pouco rígida, inclinou a cabeça olhando para os semideuses desgrenhados.

— Bom, pelo menos eles não se mataram dessa vez.

— A gente não tava tentando nos matar — Dakota disse. — Era uma rixa.

Quíron sacudiu a cabeça.

— Não estamos num bar, garoto. Todos vocês deviam estar envergonha-dos.

O anfiteatro ficou quieto por um segundo, depois alguém começou a rir, lembrando-se do que acontecera. Uma das garotas começou a rir feito louca, e Leo explodiu em risadas. A gargalhada era contagiante, e logo o grupo inteiro estava berrando de risos.

— Aah, não me façam rir — Bobby ria enquanto tocava o lábio ensaguen-tado. — Isso dói. Não me façam rir.

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— Deuses, vocês podem acreditar no que acabou de acontecer? — um campista riu.

— Aquilo foi incrível! Sinceramente, a melhor reunião que eu já tive — Clarisse disse com empolgação e risadas.

— Ei, mais alguém viu Nico socar Percy? — Annabeth riu.

— Ah, ou viram Kota ser acertado por Thalia? — riu Jason.

Dakota balançou a cabeça.

— Ei man, sua irmã bate mais forte que você.

— Jason, eu acho que você foi acertado por uma garota também — Percy riu.

Reyna sorriu.

— Fui eu.

O grupo inteiro estava rindo histericamente enquanto se recordavam da luta. Até Quíron abriu um sorriso.

Depois de alguns minutos, a risada começou a diminuir e Quíron disse:

— Ok, sosseguem. Ainda temos algumas coisas para discutir.

Todos ficaram queitos e focaram a atenção sobre Quíron.

— A guerra dos gigantes está sobre nós, e temo que não tenhamos tanto tempo quantos esperávamos — disse ele.

— Não temos — confirmou Nico. — A palavra no Mundo Inferior é que tudo descerá nesse verão, e algo importante vai acontecer em primeiro de Ju-nho. Eu não sei o que é, mas estou dizendo a vocês que é melhor aquele barco estar pronto para voar nesse mês.

Reyna virou para Nico.

— Como você sabe o que falam no Mundo Inferior?

— Eu gasto a maior parte do tempo lá — respondeu Nico.

— Filho de Hades — Percy disse para Reyna.

— Ah — falou Reyna.

— De qualquer jeito — continuou Nico —, os mortos estão sem descanso; alguns até escapando para o caos, e acho que os gigantes tem a ver com isso.

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— Fugimos de Medeia e Midas. Ambos voltaram da morte — disse Piper.

— E nós vimos Cômodo — contou Hazel.

Quíron sacudiu a cabeça.

— Problemas.

— Você acha que é problemas? — disse Leo. — Não tem jeito de a gente conseguir construir o Argo II até Junho. Não temos mão de obra ou recursos. Quíron, eu pensei que você disse que tínhamos até o solstício de verão em vinte e um de Junho.

— Vocês precisam estar na Grécia no solstício — disse Nico.

— Espera aí, o que é o Argo II e por que vamos para a Grécia? — pergun-tou Percy.

Leo contou aos romanos e a Percy sobre os planos para o navio voador, e Jason os contou sobre os planos do gigante para destruir o Olimpo pelas raízes.

— O gigante Polibotes disse algo assim, algo sobre acertar o Olimpo na sua essência — contou Reyna.

— Então construímos um navio, voamos para a Grécia e lutamos com os gigantes. Ok, quem vai? — perguntou Percy.

— Isso ainda está a ser determinado — respondeu Quíron. — A profecia menciona que sete semideuses responderão ao chamado, e creio eu que os sete serão gregos e romanos.

— Gente, isso não importa a menos que a gente encontre um jeito de construir o navio em seis meses — disse Leo, desesperado.

Dakota virou para Leo.

— Me diga o que você precisa para fazer isso.

Leo olhou para Dakota.

— Construtores, soldados e alguém que possa forjar uma arma ou ler um projeto. Precisarei de aço, ferro, bronze celestial e algum tipo de fonte de com-bustível renovável. Eu não imaginei essa parte ainda.

— Deixe o combustível comigo, eu vou controlar esse projeto — Dakota disse, e virou para Lupa. — Você acha que pode trazê-los para cá para ajudar?

— Eles confiam no julgamento dos líderes. Eles irão ajudar — respondeu Lupa.

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— Quem? — perguntou Piper.

— O acampamento romano — disse Percy.

Os campistas ficaram em silêncio por alguns segundos até Leo dizer:

— Muito bem então, vamos trazê-los para cá.

— Eu vou voltar e explicar o que está acontecendo aos meus soldados — disse Lupa.

— Eu vou com você — ofereceu-se Bobby para Lupa. — Eu vou conven-cê-los de que é a coisa certa a ser feita.

Dakota já sabia que Bobby não ficaria no Acampamento Meio-Sangue. Bobby era um cara que gostava de casa, e ele sentia falta da sua melhor amiga, sua irmã Gwen.

Reyna assentiu para Bobby.

— Você sabe que precisamos e o que precisamos. Estou confiando em vo-cê para que traga-os para cá.

— Entendo — disse Bobby.

— E Bobby — acrescentou Jason —, isso lhe fará oficial sênior no acam-pamento. Você ficará carregado.

Esse foi meio que um pensamento assustador para Dakota, mas Bobby provou ser um recurso valioso na missão, e ele sabia que Bobby podia cuidar disso.

— Partiremos ao amanhecer — Lupa falou para Bobby.

— Todos concordam com esse progresso de ação? — perguntou Quíron.

Todos assentiram, concordando.

— Muito bem — Quíron disse. — Expliquem aos seus companheiros de chalé o que acontecerá nos próximos dias e os façam entender que esta é uma aliança, e não uma competição. Não quero que o que aconteceu aqui essa noite aconteça novamente.

Todos assentiram.

— Foi um longo dia — falou Quíron. — Apagar das luzes mais cedo essa noite. Dispensados.

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Todos foram aos seus respectivos chalés. Dakota e Clarisse foram ao chalé de Ares e todos os campistas estavam dormindo. Clarisse não disse nada, mas ela apontou para uma cama no canto com a mochila de Dakota em cima dela. Da-kota assentiu com um obrigado em silêncio. Dakota desceu sua mochila ao chão ao lado da cama e puxou uma fotografia do bolso interior da jaqueta. Era a foto dele, Reyna e Jason na praia. Ele prendeu a foto no quadro de cortiça pendura-do na parede ao lado de sua cama. Tirou a jaqueta e se deitou. Ele fitou o teto pensando sobre uma fonte de energia para o Argo II. Dakota podia ser um filho de Marte, mas ele também era um químico muito bom. Ele não contara a nin-guém, mas aceitara uma bolsa de estudos no departamento de química e enge-nharia biomolecular para estudar e desenvolver fontes de combustível alternati-vas. Ele começaria no próximo outono. Essa seria sua última missão como um semideus romano.

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PPPPERCY SE DEITOU NA SUA CAMAERCY SE DEITOU NA SUA CAMAERCY SE DEITOU NA SUA CAMAERCY SE DEITOU NA SUA CAMA olhando para o relógio em que lia-se 12h04. Ele estivera deitado ali por horas sem conseguir cair no sono. Ele estava exausto, mas não podia simplesmente desligar os seus pensamentos. Ele pensou na jorna-da ao acampamento e como ele realmente conseguiu conhecer Reyna, Dakota, Hazel e Bobby. Se perguntou quem estaria indo na viagem até a Grécia e como as coisas iriam se desenrolar com os gigantes. Ele se lembrou do que Hera dissera sobre a aliança entre os dois acampamentos e como ele e Jason foram usados para construir uma ponte sobre as diferenças. Percy finalmente decidiu que ele não iria cair no sono com a mente ativa como estava, então ele saiu da cama, pegou o cobertor e andou para o lado de fora. Ele ficou na recentemente cons-truída varanda do chalé. Tyson ficara animado quando os novos chalés estavam sendo construídos, e quando Tyson veio ao acampamento por alguns dias no outono, ele adicionou uma incrível varanda no chalé deles. Essa foi a primeira vez que Percy realmente a vira com atenção, e ele estava impressionado. Era construída de madeira gasta que se encaixava exatamente com o tema do ocea-no, e era completa com um ventilador de teto, cadeira de balanço pendurada no teto e um pequeno buraco de lareira de bronze. Percy enrolou o cobertor sobre ele firmemente e se sentou no balanço. Ele respirou no ar frio de dezembro e tentou limpar a mente. Ele ergueu o olhar para o céu; a lua estava cheia e clara, mas ele ainda podia distinguir algumas constelações. Havia uma em particular pela que procurava e então a vira, a garota correndo através do céu com seu arco, a Caçadora... Zoë Doce-Amarga. A briga entre Reyna, Phoebe e Thalia mais cedo fez Percy pensar em Zoë. Ele lembrou da história sobre Hérculus traí-la e quebrar seu coração. Percy fez um juramento para si próprio que ele nunca

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faria algo assim para Annabeth. Percy estava olhando pelo pátio quando captou um olhar de algo se movendo no canto do olho. Ele olhou para o movimento notou que era uma silhueta, uma sombra na grama do pátio abrindo caminho para ele. A sombra, que parecia ser projetada por aparentemente nada, estava quase na sua varanda.

— Ei, Annabeth — disse Percy.

Ela tremeluziu até aparecer, e a luz lunar fez uma pequena dança nos o-lhos cinzas tempestuosos. O coração de Percy bateu mais forte no seu peito. Ela segurava o seu boné dos Yankees na mão e pisou na varanda.

— A minha sombra me entregou? — ela perguntou.

Percy assentiu e gesticulou para sentar-se ao lado dele. Ele ajustou o co-bertor para que ela também pudesse cobrir nele também. Ela se sentou ao lado dele, e ele enrolou o cobertor e o seu braço em volta dela.

— Também não conseguiu dormir? — chutou Percy.

— Não, eu tenho muitas coisas em mente.

— Eu sei o que você quer dizer — empatizou Percy.

— Eu estou feliz por você ter voltado, Percy.

— Eu também.

— Falando em voltar, você ligou pra sua mãe? — perguntou Annabeth.

— É, eu mandei uma mensagem de Íris para ela — respondeu Percy.

— Aposto que ela ficou aliviada por ouvir você.

— Para dizer o mínimo — concordou Percy. — Mas ela ficou desaponta-da por eu não estar em casa para o Natal.

— Tem razão. O Natal é só daqui a alguns dias. O solstício é amanhã — lembrou Annabeth. — Por que você não vai pra casa?

— Não, eu não posso deixar o acampamento com tudo que está aconte-cendo.

— Só por um dia — sugeriu Annabeth.

Percy pensou a respeito e perguntou:

— Você vem comigo?

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Annabeth sorriu.

— Sim, eu vou com você.

Estava tudo bem entre eles por um momento. Percy cobriu uns fios de ca-belo de Annabeth atrás de sua orelha, revelando seu olho inchado.

— Esse olho vai ficar roxo amanhã — ele disse.

— Eu sei. A coisa maluca é que nem sei quem me bateu. — Ela riu.

Percy sacudiu a cabeça.

— Nunca se sabe.

— E olhe para você, nem um arranhão. Suponho que você ainda tenha a maldição de Aquiles.

— Parece que sim, e é uma coisa boa também porque eu teria morrido duas vezes na viagem.

— O que aconteceu? — perguntou ela.

— Eu cai quinze metros de um penhasco e ichor dourado derramou em mim quando estava lutando com Polibotes.

— Você sabe, é incrível que você já tenha sobrevivido sem ela — brincou Annabeth.

Percy riu, mas era a verdade. Ele já estivera muito perto da morte por es-ses anos.

— Mais algo legal aconteceu? — perguntou ela.

— Bem, eu lutei com um imperador romano numa arena de gladiador em Vegas, estivemos numa perseguição de carro com um espírito de tempestade que capotou a gente... ah, e eu aprendi a esquiar.

Annabeth sorriu.

— Parece que você se divertiu.

— Pra ser honesto com você, eu estava aterrorizado. Era como estar na minha primeira missão. Me senti como fosse apenas um garoto normal que foi jogado nesse mundo insano de deuses e monstros. Era um pouco esmagador.

— Hera devia ter só vindo e explicado para nós a situação. — Annabeth franziu o cenho.

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— Poderíamos ter forjado a aliança sem toda a fumaça e espelhos.

— Você conhece os deuses. Eles não gostam de fazer nada fácil. Falando nos deuses, você já conseguiu pelo menos falar com a sua mãe? — perguntou Percy.

— Não, não desde que os deuses se silenciaram.

— É, meu pai também não me contatou.

— O Conselho dos Deuses é amanhã, então talvez nós vamos ouvir algo depois disso — disse Annabeth, embora ela não parecesse muito otimista.

— Talvez.

— Você está preocupado? — ela perguntou.

— Sobre os deuses? Não, mas estou preocupado sobre que tudo que vai acontecer: os romanos vindo ao Acampamento Meio-Sangue, construindo o Ar-go II, a guerra dos gigantes da Grécia. Annabeth, como vamos nos preparar para a batalha quando nem sabemos quem vai?

— Bem, eu odeio especular, mas imagino que você e Jason vai definiti-vamente ir e talvez Leo também, já que o Argo II é o destino dele.

— Se você tiver razão, resta mais quatro — ele disse.

— Eu não sei quem será o resto. A melhor estratégia seria preparar todo o mundo.

— Eu nem tenho certeza do que lutaremos contra — admitiu Percy.

— Eu estive pesquisando um pouco sobre a primeira guerra dos gigantes, e aparentemente os deuses e semideuses batalharam com os gigantes num lugar chamado Flegra na Grécia.

— Flegra?

— Significa “as ilhas queimadas”. Foi o lugar onde os gigantes nasceram. As Moiras guiaram os deuses e semideuses na batalha contra os gigantes. Quando os gigantes foram derrotados, as Moiras os atirou ao Tártaro — explicou Anna-beth.

— Você acha que as Moiras nos guiará? — perguntou ele.

— Só podemos esperar.

— Ah, agora estou mais confuso agora do que estive nesses últimos dias.

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— Então, Hera colocou uma vida falsa na sua memória? — perguntou ela.

— Sim, eu pensei que era um garoto normal e mortal com uma vida nor-mal e mortal.

— Normal... parece legal. — Ela sorriu. — Ainda lembra de alguma coisa?

— É, um pouco, mas está enfraquecendo.

— Eu estava nessa vida?

— Estava. — Percy sorriu.

— Me conte — ela disse enquanto descansava a cabeça no ombro dele.

— Você e eu nos encontramos quatro anos atrás num museu. Eu literal-mente corri até você e derrubei seu notebook e lápis das suas mãos. Você me chamou de algo legal como idiota ou estúpido. Me sentei ao seu lado nas esca-das do museu enquanto você comia seu almoço e tentei pegar o seu número, mas tive que me contentar com o e-mail. Viramos realmente bons amigos nos anos seguintes, e ano passado decidimos que queríamos ser mais do que só ami-gos.

— Então, estávamos juntos por um ano? — perguntou Annabeth.

Percy assentiu.

— O que fazíamos juntos?

— Íamos ao cinema, ao zoológico e aos museus. Você adorava ir até o topo do Prédio Empire State para olhar o horizonte, e agora que penso nisso, deve ser a versão de Hera de uma brincadeira boba.

Annabeth riu.

— Presumo que o nosso primeiro beijo não foi num vulcão — supôs ela.

— Perto... Times Square. Era o Ano Novo à meia-noite.

Ela olhou para Percy.

— Alguma coisa era como o real?

Ele sorriu.

— Nem perto. — Depois ele a beijou.

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Percy estava gratificado e com orgulho por Annabeth ser a sua namorada. Ele não sabia como tivera tanta sorte ou porque demorou tanto para eles vira-rem um casal.

Annabeth descansou sua cabeça novamente no ombro de Percy e disse:

— Prometa que você não vai desaparecer de mim outra vez.

— Você sabe que eu não posso prometer isso.

— Eu sei — ela suspirou.

Eles passaram por tantas coisas juntos nos anos que passaram, e Percy sa-bia como ela devia ter se sentido quando ele desapareceu. Ele passara a mesma coisa com exatamente dois anos atrás. Percy uma vez pensou que ele e Annabeth teriam muito tempo juntos, mas agora, com essa guerra sobre eles, ele não tinha mais tanta certeza. Se ele fosse chamado para ir nessa missão, ele não sabia se iria querer que Annabeth fosse chamada também. É claro que ele queria que ela fi-casse com ele, mas também queria ela segura, e ele não podia garantir sua segu-rança se ela fosse.

Percy olhou para Annabeth; ela caíra no sono. Ele pensou sobre carregá-la de volta ao chalé, mas ela parecia tão pacífica; ele não queria arriscar acordá-la ou talvez ele só não quisesse deixar aquele momento passar.

Ele beijou a testa dela e sussurrou:

— Bons sonhos.