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FABÍOLA RAPHAELA THIBES
A PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM WEBRADIOS PÚBLICAS
CATARINENSES: os casos da Rádio AL e da Rádio Ponto
Dissertação submetida ao Programa de
Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina
para a obtenção do grau de Mestre em Jornalismo.
Orientador: Orientador: Prof. Dr. Eduardo Meditsch
Florianópolis - SC
2014
FABÍOLA RAPHAELA THIBES
A PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM WEBRADIOS PÚBLICAS
CATARINENSES: os casos da Rádio AL e da Rádio Ponto
Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de
“Mestre em Jornalismo”, e aprovada em sua forma final pelo Programa
de Pós-Graduação em Jornalismo (POSJOR - UFSC).
Florianópolis, 18 de dezembro de 2014.
__________________________
Prof. Francisco José Castilhos Karam, Dr. Coordenador do Curso
Banca Examinadora:
_____________________________________
Orientador: Prof. Eduardo Meditsch, Dr.
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
_____________________________________
Profª. Rita de Cássia Romeiro Paulino, Dr.ª
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
_____________________________________
Profª. Raquel Ritter Longhi, Dr.ª
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
_____________________________________
Prof. Ricardo Leandro Medeiros, Dr.
Centro Universitário Estácio de Sá de Santa Catarina.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, à CAPES e ao PosJor pela
oportunidade de fazer o mestrado e manter a bolsa durante todo o
período do curso.
Ao meu professor orientador, Eduardo Meditsch, pelo auxílio
acadêmico todas as vezes em que foi necessário. As contribuições e
reflexões, na dissertação e em sala de aula, foram cruciais para meu
aprimoramento profissional e acadêmico.
Às professoras Valci Zuculoto e Rita Paulino, que fizeram
considerações pertinentes e válidas na minha banca de qualificação e me
auxiliaram a permanecer neste caminho de reflexão e crítica.
À minha mãe, Dirce Perin, que sempre me deu o apoio
necessário em todos os momentos da vida.
À minha amiga Ana Juliana Fontes, que foi um apoio
indispensável, incondicional e importantíssimo durante os dois anos do
mestrado, especialmente na reta final. Às amigas Maíra Sousa e Patrícia
Mendonça, pelo auxílio nos momentos difíceis e valiosas dicas
acadêmicas. Sem vocês não seria possível terminar este trabalho.
Aos pesquisadores e colegas que, direta ou indiretamente,
contribuíram para a minha formação profissional e acadêmica e
permitiram terminar esta jornada.
Aos professores da defesa de dissertação, outros professores do
PosJor e à técnica administrativa Glória Amaral, sempre presente e
disponível para os contratempos e dúvidas.
RESUMO
Este estudo analisa a produção radiojornalística em duas webradios
públicas de Santa Catarina. Os objetos empíricos são a Rádio Ponto,
do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), e a Rádio Al, da Assembleia Legislativa do Estado de Santa
Catarina. A análise compreende as rotinas de produção e a
programação das duas webemissoras, verificando se há mudanças no
processo de newsmaking das emissoras em relação ao radiojornalismo
tradicional devido ao fato de terem transmissão exclusiva pela
internet. A pesquisa utiliza o estudo de caso múltiplo com observação
não participante, a análise da programação e entrevistas abertas como
métodos. A análise é embasada nos estudos sobre o rádio e do
discurso radiofônico aliado às características da internet. As
conclusões apontam para potenciais e limitações, nos casos estudados,
no uso dos recursos propiciados pelas tecnologias do rádio e da
internet para a produção jornalística em emissoras públicas,
evidenciando que as utopias tecnológicas dependem também de
fatores políticos, econômicos e sociais para concretizarem as
expectativas que criam.
Palavras-chave: Webradio; Santa Catarina; Processos e Produtos
Jornalísticos; Rádio Ponto UFSC; Rádio AL.
ABSTRACT
This study analyzes the radio journalistic production at two public
webradios of Santa Catarina. The empirical objects are Rádio Ponto, of
the course of Journalism at the Federal University of Santa Catarina
(UFSC), and Rádio AL, of the Legislative Assembly of the State of
Santa Catarina. The analysis comprehends the production workflow and
the programming of the two web stations, checking if there are changes
in the newsmaking process of the radios in relation to the traditional
radio journalism due to the fact that they broadcast exclusively through
the internet. The research uses the multiple case study with non-
participant observation, the programming analysis and open interviews
as methods. The analysis is based in the studies about radio and the
radio discourse allied to the internet’s characteristics. The conclusions
point out to potentials and limitations, in the studied cases, in the usage
of the resources propitiated by the radio and internet technologies to the
journalistic production in public stations, highlighting that the
technological utopias also depend on political, economical and social
factors to concretize the expectations that create.
Keywords: Webradio; Santa Catarina; Journalistic Processes and
Products; Rádio Ponto UFSC; Rádio AL.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Linha do tempo das Fases das Emissoras Comerciais no Brasil .... 35
Figura 02 – Linha do tempo do Rádio Público Brasileiro ................................. 40
Figura 03 - Print do site da Rádio AL ............................................................... 87
Figura 04 – Print do site da Rádio Ponto da UFSC ......................................... 113
Figura 05 – Destaque do botão do arquivo sonoro na parte inferior do site da
Rádio Ponto da UFSC.. ................................................................................... 114
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Horário de acompanhamento da Rádio AL ................................... 73
Tabela 02 – Quantidade de posts durante os dias de acompanhamento na Rádio
AL ..................................................................................................................... 88
Tabela 03 – Interação obtida nas postagens da Rádio AL ................................ 88
Tabela 04 – Relação das matérias produzidas no site da Rádio AL .................. 89
Tabela 05 – Horário de acompanhamento da Rádio Ponto da UFSC .............. 97
Tabela 06 - Rádio Ponto UFSC – www.facebook.com/radiopontoufsc .......... 116
Tabela 07 - Programa Ponto Digital –
www.facebook.com/programapontodigital .................................................... 116
Tabela 08 - Programa Sou Cidade – www.facebook.com/SouCidade ............ 116
Tabela 09 - Núcleo Lança Perfume –
www.facebook.com/programalancaperfume .................................................. 116
Tabela 10 - Núcleo Radiojornalismo Esportivo –
www.facebook.com/jornalismoesportivoufsc. ................................................ 116
Tabela 11 - Rádio Ponto UFSC – www.facebook.com/radiopontoufsc .......... 117
Tabela 12 - Programa Ponto Digital –
www.facebook.com/programapontodigital ..................................................... 118
Tabela 13 - Programa Sou Cidade – www.facebook.com/SouCidade ............ 118
Tabela 14 - Núcleo Radiojornalismo Esportivo –
www.facebook.com/jornalismoesportivoufsc ................................................. 118
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
Alesc – Assembleia Legislativa de Santa Catarina
TCC – Trabalho de Conclusão de Curso
Unaberta – programa Universidade Aberta
SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
Sepex – Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Federal de
Santa Catarina
CCE – Centro de Comunicação e Expressão da Universidade Federal de Santa Catarina
NFL – National Football League
Udesc – Universidade do Estado de Santa Catarina
MES – antigo Ministério da Educação e Saúde
UPI – United Press International
FNDC – Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
SINRED – Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa
ARPUB – Associação das Rádios Públicas do Brasil
EBC – Empresa Brasil de Comunicação
AM – Amplitude Modulada
FM – Frequência Modulada
BBC – British Broadcasting Corporation
WWW – World Wide Web
FGV – Fundação Getúlio Vargas
UFV-MG – Universidade Federal de Viçosa/Minas Gerais
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
SEO – Search Engine Optimization
RSS – Really Simple Syndication
Abert – Associação Brasileira de Emissoras de Radiodifusão
Anatel – Agência Nacional de Telecomunicações
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................... 19
1 CAPÍTULO I – AS TRANSFORMAÇÕES DO RÁDIO
INFORMATIVO BRASILEIRO ................................................................... 29
1.1 Tipos de emissoras e fases do rádio brasileiro ....................................... 30
1.1.1 Emissoras comerciais ............................................................................... 31
1.1.2 Emissoras públicas ................................................................................... 35
1.2 Linguagem radiofônica ............................................................................. 41
1.2.1 O novo discurso radiofônico .................................................................... 44
1.3 Gêneros e formatos radiofônicos ............................................................. 48
2 CAPÍTULO II – AS WEBRADIOS NO CONTEXTO DA
CONVERGÊNCIA ......................................................................................... 53
2.1 Convergência jornalística ......................................................................... 54
2.2 Interatividade e redes sociais na internet. ............................................... 59
2.3 A especificidade das webradios ................................................................ 64
2.4 Rádio Digital.............................................................................................. 68
3 CAPÍTULO III – RÁDIO AL: WEBRADIO OU RADIOAGÊNCIA?.73
3.1 História ..................................................................................................... 73
3.2 Estrutura ................................................................................................... 76
3.3 Profissionais............................................................................................... 77
3.4 Rotina Produtiva ....................................................................................... 80
3.5 Programação ............................................................................................. 84
3.6 Redes Sociais e Sites .................................................................................. 86
3.7 Análise........................................................................................................ 90
4 CAPÍTULO IV – RÁDIO PONTO: WEBRADIO COM CARÁTER
LABORATORIAL ........................................................................................ .97
4.1 História ..................................................................................................... 97
4.1.1 Núcleos. ................................................................................................. 101
4.2 Estrutura ................................................................................................. 102
4.3 Profissionais ............................................................................................ 104
4.4 Rotina Produtiva..................................................................................... 105
4.5 Programação. .......................................................................................... 109
4.6 Redes Sociais e Sites................................................................................ 112
4.7 Análise ..................................................................................................... 119
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 125
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ....................................................... 131
APÊNDICE 01 - Entrevista 01 - Nikolas Stefanovitch, coordenador da Rádio
AL................................................................................................................... 143
APÊNDICE 02 - Entrevista 02 – Eduardo Rocha, fundador Rádio AL......... 159
APÊNDICE 03 - Entrevista 03 – Chefe de Redação da Rádio AL ................ 171
APÊNDICE 04 - Entrevista 04 – Profissional da Rádio AL .......................... 176
APÊNDICE 05 - Entrevista 05 – Eduardo Meditsch, professor coordenador da
Rádio Ponto da UFSC..................................................................................... 181
APÊNDICE 06 - Entrevista 06 – Valci Zuculoto, professora coordenadora da
Rádio Ponto da UFSC..................................................................................... 186
APÊNDICE 07 - Entrevista 07 – Aluno integrante da Rádio Ponto da
UFSC....... ....................................................................................................... 194
APÊNDICE 08 - Entrevista 08 – Aluna integrante da Rádio Ponto da UFSC
em 2013 .......................................................................................................... 200
APÊNDICE 09 - Entrevista 09 – Aluno integrante da Rádio Ponto da UFSC
em 2013 .......................................................................................................... 202
APÊNDICE 10 - Entrevista 10 – Aluno integrante da Rádio Ponto da UFSC
em 2013 .......................................................................................................... 210
APÊNDICE 11 - Entrevista 11 – Aluna integrante da Rádio Ponto da UFSC
em 2013 ......................................................................................................... 216
APÊNDICE 12 - Entrevista 12 – Aluna integrante da Rádio Porto da UFSC em
2013 ................................................................................................................ 224
APÊNDICE 13 – Entrevista 13 – Bolsista do Museu do Rádio e colaboradora
da Rádio Ponto da UFSC ............................................................................... 202
APÊNDICE 14 - Entrevista 14 – Marcela Lin, ex-aluna que participou da
Rádio Ponto da UFSC ..................................................................................... 234
19
INTRODUÇÃO
O rádio foi o primeiro meio de comunicação eletrônico com
transmissão em tempo real. Mais de 90 anos depois de seu surgimento,
alguns pesquisadores se questionam sobre seu futuro, enquanto outros
acreditam que o meio de comunicação está sendo reformulado para se
adequar às necessidades existentes devido ao cenário da convergência. O
discurso radiofônico está sendo modificado, com a inclusão de elementos
textuais e imagéticos. As redes sociais na internet trouxeram um novo canal
de comunicação entre emissoras e ouvintes. E as webradios, emissoras cuja
transmissão ocorre exclusivamente pela internet, aparecem como uma nova
forma de ouvir rádio, agora pela internet e com a possibilidade de ouvir no
estilo on demand ou por meio de podcasts.
Desde o seu início, porém, o rádio surgiu como um meio de
comunicação eletrônico, o primeiro de uma série de dispositivos que
apareceriam em anos posteriores, segundo Meditsch (1997). O autor ainda
destaca que não é possível contrapor uma “era do rádio” e uma “era da
imagem”, como se a primeira pertencesse ao passado enquanto que a
segunda representasse o futuro, porque nem o som nem a imagem são os
itens principais para o estabelecimento de novas eras. O que impacta, na
verdade, é a tecnologia eletrônica, que criou a era da informação, da qual
rádio e TV fazem parte. No entanto, o rádio foi a primeira manifestação
dessa era eletrônica na chamada comunicação de massa (MEDITSCH,
1997).
Já na década de 1990, o início do uso massivo da internet e o
surgimento do conceito de navegação trazem uma nova maneira de utilizar
os produtos culturais. Este uso é caracterizado pela interatividade e a
possibilidade de facilmente “zapear” entre os enunciados disponíveis.
Apesar de ampliado, este costume já existia desde o surgimento do rádio,
no qual os ouvintes podiam alterar a estação pelo dial (MEDITSCH, 1997).
Além disso, a oferta de conteúdos cada vez maior alterava o papel dos
jornalistas. De acordo com Del Bianco (2008b, p. 02), “as novas
ferramentas digitais colaboram para reestruturar o exercício da profissão, a
produção industrial da notícia, as relações entre as empresas de
comunicação com as fontes, a audiência, os concorrentes, o governo e a
20 sociedade”. O jornalismo, portanto, vive uma “crise de paradigmas”,
porque a forma de difundir a informação e os modelos de atuação comercial
tradicionais não se sustentam por si próprios, já que os espectadores, cada
vez mais, consomem informação por meio dos novos dispositivos
tecnológicos (SQUIRRA, 2012, p. 107).
Ou seja, a produção, a transmissão e o consumo de informação
começava a ser modificado há mais de 90 anos, quando a primeira emissão
radiofônica era realizada. Nascido com objetivos educativos e instrucionais
e com a potencialidade de alcançar grande parte da população (devido à não
exigência de alfabetização dos ouvintes e pela capacidade de chegar aos
lugares mais longínquos e isolados com as ondas curtas), hoje o rádio vive
uma nova realidade. Mantendo suas principais características (ampla
abrangência, imediatismo, instantaneidade, mobilidade, etc), o meio de
comunicação sofre mais uma vez os impactos das novas tecnologias. Desta
vez, devido ao amplo uso da internet e do ambiente da World Wide Web,
ferramentas que modificam a forma de fazer jornalismo.
Esta realidade também impacta diretamente no rádio informativo.
As novas formas de transmissão de conteúdos, a possibilidade de uso de
elementos não sonoros e a introdução dos sistemas multimídia em geral
alteram a natureza do primeiro meio de comunicação eletrônico. Estas
alterações passam pelo estilo hipermidiático, fazendo com que a
reconfiguração dos meios de comunicação seja caracterizada por vários
aspectos, entre eles, a interatividade, as hiperligações, a personalização e a
atualização constante (CORDEIRO, 2004, p. 01). Simultaneamente, os
jornalistas são inseridos em um novo contexto, no qual o seu papel não é o
de simplesmente tomar para si a posição de detentor do conhecimento sobre
os fatos que acontecem no mundo, mas sim assumir o papel de guia, ou,
como propõe Ward (2006, p. 28), o jornalista tem a função de ser um
“arquiteto da informação”. O mesmo autor ainda ressalta que o jornalismo
online modificou o relacionamento entre repórter e receptor e esta nova
habilidade exigida dos jornalistas é um desafio em constante evolução
(WARD, 2006, p. 28). Em relação ao rádio, o mesmo ocorre, já que o papel
dos repórteres passa a ser reconfigurado a partir da existência da internet.
Mas não é somente o papel dos jornalistas que passa por uma
reconfiguração. A existência dos novos dispositivos tecnológicos, a
internet, as redes sociais e outras formas de comunicação mediadas por
computador oferecem novos espaços informativos, que não são dominados
pelos meios de comunicação de massa, mas sim pelos fluxos gerados pelas
tecnologias. Milhares de informações circulam todos os dias nestes espaços
informativos e cada usuário conectado à internet é um emissor em
21 potencial. O conjunto destes indivíduos podem produzir a informação, fazê-
la circular ou filtrá-la. E cada indivíduo em específico pode construir,
modificar ou dividir a informação (RECUERO, 2011). Ou seja, há milhões
de potenciais emissores, que saíram dos seus papéis de meros receptores de
conteúdo para tornarem-se ativos no processo. Esta nova realidade indica
que é necessário discutir qual é o novo processo de produção e de consumo
das informações em todos os meios de comunicação, inclusive no rádio.
De acordo com Downie Jr. e Schudson (2009, p. 02), a reportagem
está se tornando mais colaborativa e participativa, sendo que os novos
emissores incluem qualquer pessoa que possua um smartphone. Sendo
assim, os dispositivos tecnológicos oferecem aos receptores de informação
mais poder para poderem analisar, investigar e recolher informações.
Portanto, o rádio passa por uma grande mudança e adapta-se ao
contexto da convergência jornalística, no qual o profissional deve ter
capacidades multimídia, mas também as estruturas das redações devem ser
modificadas, as narrativas passam por novas formas de construção e novos
dispositivos tecnológicos são introduzidos (BARBOSA, 2008, p. 02). Neste
cenário, as webradios aparecem como alternativas às emissoras
radiofônicas hertzianas com ou sem presença na internet. As webradios têm
amplas possibilidades e potencialidades, que podem ser exploradas tanto na
rotina produtiva quanto na produção e recepção dos conteúdos.
(MARTÍNEZ-COSTA apud PRATA, 2009, p. 53). Com a produção e a
transmissão digitalizadas, as webemissoras trazem características próprias e
reconfiguram os gêneros e os formatos radiofônicos. Isto ocorre devido à
possibilidade de utilização de mapas, infográficos, links, hiperlinks,
fotografias, vídeos e outros recursos de interação (PRATA, 2009, p. 43).
Diante deste contexto, esta pesquisa propõe-se a analisar a
produção jornalística em duas webradios públicas do estado de Santa
Catarina, com foco na observação da rotina produtiva para a identificação
de possíveis diferenças no processo de newsmaking em relação ao
radiojornalismo tradicional devido ao fato de terem transmissão exclusiva
pela internet. Acredita-se que, por serem webradios (emissoras com
características diferentes das hertzianas), a exploração dos recursos sonoros,
textuais e imagéticos podem oferecer estratégias de produção diferenciadas.
A escolha pelo estudo das webradios deu-se por meio da trajetória
acadêmica e profissional da pesquisadora. Desde sua graduação em
Jornalismo, a autora optou por participar de projetos de extensão
relacionados ao radiojornalismo. O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)
da graduação também foi a criação de um programa especial em rádio, com
o intuito de utilizar os recursos radiofônicos para demonstrar os traços
22 culturais ainda presentes nos descendentes de caboclos da Guerra do
Contestado nas regiões Oeste e Meio-Oeste de Santa Catarina. A
pesquisadora também trabalhou numa afiliada da Rádio CBN, emissora
hertziana com presença na internet. Por isso, ao ingressar no mestrado em
Jornalismo, houve o interesse de compreender e identificar as possíveis
mudanças na rotina produtiva das webradios.
Assim, os objetos empíricos do estudo são as rotinas de produção e
a programação das webradios Rádio Ponto, do curso de Jornalismo da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e Rádio AL, da
Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc). Ambas as webemissoras
foram criadas no ano de 1999 e são públicas, sendo que a Rádio Ponto tem
caráter laboratorial, ou seja, sua programação é mantida por alunos do curso
de Jornalismo da UFSC. A Rádio Ponto foi escolhida por ter sido a primeira
webradio implementada em universidades do Brasil. A webemissora
também tem uma programação voltada a assuntos locais, trazendo
informações relativas à comunidade acadêmica e outros que interessem à
cidade de Florianópolis. Já a Rádio AL foi selecionada por ter sido a
pioneira entre as webradios de Assembleias Legislativas do país. Sua
programação traz matérias relativas aos assuntos que tramitam na Casa e
outras informações de serviço, além de também contar com músicas e um
programa esportivo.
No caso das webradios, estes canais de comunicação já nasceram
sob a égide da possibilidade de haver mais emissores e novas possibilidades
de reportagem. Por estarem inseridas no ambiente da World Wide Web, as
webradios têm características de produção para a internet, como a
possibilidade de os jornalistas poderem pesquisar de forma mais ampla,
atualizar as informações repetidamente, seguir os fatos cuidadosamente,
verificar as informações facilmente, comparar com outros veículos de
comunicação e também enriquecer a matéria e checar os fatos diretamente
com os espectadores (DOWNEY JR; SCHUDSON, 2009, p. 12). Por sua
vez, os consumidores de informação têm mais espaço para exporem suas
opiniões, complementarem as informações e repassarem fatos aos
jornalistas, além de também serem “produtores de informação” através das
ferramentas tecnológicas e das redes sociais, que se tornaram uma nova
dimensão informativa (RECUERO, 2011).
O corpus da pesquisa reúne, no total, duas semanas de
acompanhamento nas webemissoras, sendo que, em cada webradio, a
pesquisadora permaneceu durante uma semana. Os períodos de
acompanhamento foram definidos junto à coordenação da Rádio AL e da
Rádio Ponto. Na webradio da Alesc, a semana de acompanhamento ocorreu
23 de 24 a 28 de março de 2014. Já na Rádio Ponto, o período de observação
deu-se entre os dias 24 e 30 de setembro de 2014, quando a webemissora
completou 15 anos de existência.
O objetivo geral é analisar as rotinas de produção e a programação
das duas webradios públicas catarinenses. Partindo-se deste objetivo geral
podem ser definidos os objetivos específicos da pesquisa:
a) Analisar a rotina produtiva das webemissoras para identificar
possíveis diferenças no processo de newsmaking;
b) Verificar como a grade de programação é formada,
identificando os programas e suas características;
c) Identificar a forma como o site das webradios é atualizado,
bem como a frequência de atualização de postagens;
d) Mapear os elementos existentes no site;
e) Analisar as redes sociais das webradios, mapeando as
postagens e a interação dos usuários.
Por meio dos elementos já expostos e baseando-se na revisão
teórica, esta pesquisa parte da hipótese de que a produção jornalística das
webemissoras não corresponde às promessas e expectativas criadas pela
convergência, porque não há reestruturação da redação e os jornalistas não
exploram todas as potencialidades do discurso radiofônico das webradios,
mantendo a forma de produção tradicional, que é similar à das emissoras
hertzianas com presença na internet.
Para atingir os objetivos geral e específicos da dissertação são
especificados a seguir os procedimentos metodológicos utilizados. A
metodologia desta pesquisa é baseada na técnica do newsmaking aliada ao
estudo de caso múltiplo com observação não participante, análise da
programação e entrevistas abertas. Estas técnicas foram escolhidas por
serem as mais adequadas para se chegar ao resultado final da análise, ou
seja, a confirmação de haver alteração na rotina produtiva devido ao fato de
os objetos empíricos serem emissoras que transmitem seu conteúdo
exclusivamente pela internet. A construção deste percurso metodológico se
delineou desde a definição do objeto e tema da pesquisa, tendo sido
reforçado na banca de qualificação.
O primeiro aporte metodológico é o newsmaking. Segundo Wolf
(1999, p. 186), o newsmaking ocupa-se da análise da produção normal de
um meio de comunicação por um período de tempo prolongado, não se
atendo, portanto, a nenhum evento em específico. O uso deste método foi
articulado como um estudo de caso múltiplo, que, segundo Yin (2005, p.
24 19), é a melhor estratégia metodológica a ser utilizada quando o intuito é
responder perguntas do tipo “como” e “por que”, casos nos quais o
pesquisador tem pouco ou nenhum controle sobre os fatos analisados e
quando o foco da pesquisa encontra-se em fenômenos atuais que estão
inseridos na vida real. Como as situações que ocorrem na rotina produtiva
das webradios analisadas estão inseridas no cotidiano e não perpassam pela
influência ou controle da pesquisadora, além do fato de esta pesquisa
pretender responder como é a rotina produtiva das webemissoras e se há
alguma diferença em relação ao radiojornalismo das emissoras hertzianas
com presença na internet, identificou-se que estes seriam os melhores
procedimentos metodológicos.
Além disso, foram utilizadas as entrevistas e a observação não
participante como técnicas. A entrevista, segundo Lage (2001, p. 73), “é o
procedimento clássico de apuração de informações em jornalismo. É uma
expansão da consulta às fontes, objetivando, geralmente, a coleta de
interpretações e a reconstituição de fatos”. Já a observação não participante
é uma técnica cujo intuito é investigar a realidade através da observação das
ações e das atitudes dos sujeitos que são alvo da investigação. Neste caso, o
pesquisador não interage.
Para a construção de todo o caminho metodológico foram adotadas
algumas etapas. No início, a intenção era pesquisar três webradios, que
abrangessem os caráteres institucional, laboratorial e comercial. No entanto,
a webemissora comercial foi descartada como objeto empírico a partir da
pesquisa inicial, que teve por objetivo mapear as webradios existentes no
Brasil. Neste período, verificou-se, conforme a revisão teórica realizada
simultaneamente, que há várias emissoras de rádio que se encaixam no
conceito adotado na pesquisa (transmissão exclusiva pela internet). Porém,
no caso das webradios comerciais, as estações não possuem programas
jornalísticos, concentrando suas programações em atrações musicais e, em
alguns casos, esportivas. Foi considerada a possibilidade de avaliar uma
webradio comercial com programa esportivo, mas a porcentagem destes
programas na grade de programação era muito pequena; portanto, entendeu-
se que não seria produtivo estudar esse caso.
A partir desta delimitação de enfoque da pesquisa, em webradios
com caráteres institucional e laboratorial, foi definido que as emissoras
estudadas seriam a Rádio AL e a Rádio Ponto, ambas do estado de Santa
Catarina. A justificativa é pelo pioneirismo de ambas (a Rádio Ponto foi a
primeira webemissora em universidades do Brasil e a Rádio AL a pioneira
entre as Assembleias Legislativas do país) e pelo fato de as duas terem
programação jornalística em sua grade de programação (no caso da Rádio
25 Ponto, a programação é 100% jornalística, sendo que há reprises de
programas, e na Rádio AL há programas jornalísticos em todos os dias da
semana, incluindo sábados e domingos, sendo que também são reprisadas
muitas produções). A questão da facilidade de acesso também foi
importante; assim, como as duas webemissoras estão localizadas em Santa
Catarina, a pesquisa foi delimitada para uma análise das webradios do
Estado.
Concomitantemente a esta verificação inicial, a revisão teórica foi
realizada com base nos principais autores da área de Radiojornalismo
(Eduardo Meditsch, Valci Zuculoto, Nair Prata, Nélia Del Bianco, Débora
Lopez, entre outros), de convergência (Ramón Salaverría, Suzana Barbosa,
Raquel Ritter Longhi, etc) e de interatividade e redes sociais (Alex Primo,
Jens Jensen e outros). Os procedimentos metodológicos também foram
visitados e definidos nesta etapa da pesquisa, baseando-se principalmente
em Robert Yin e Mauro Wolf.
A partir da delimitação dos objetos empíricos e a finalização da
revisão teórica foi iniciado o processo de levantamento de dados. Num
primeiro momento houve o contato prévio com as webemissoras estudadas
para confirmar a possibilidade de a pesquisa ser realizada. As coordenações
de ambas as webradios foram solícitas ao pedido da pesquisadora e foi
fixado o período de acompanhamento de uma semana em cada uma das
estações.
A primeira semana de acompanhamento foi realizada junto à Rádio
AL, entre 24 e 28 de março de 2014. Os períodos de acompanhamento
foram intercalados para que fosse possível ter um panorama completo da
rotina produtiva da webemissora. Sendo assim, foi definido que na segunda
(24), quinta (27) e sexta-feira (28), o acompanhamento aconteceria no
período da manhã, enquanto que na terça (25) e na quarta-feira (26) o
acompanhamento seria à tarde. A justificativa é que na segunda e na sexta-
feira não há reuniões de comissões ordinárias ou extraordinárias nem
sessões legislativas na Alesc. Como o coordenador da webradio
acompanhou a pesquisadora na segunda-feira, foi definido que o período de
acompanhamento na sexta também seria pela manhã para que houvesse
mais contato com os repórteres que trabalham neste horário. Além disso, o
único programa ao vivo da grade é veiculado nas segundas e sextas pela
manhã. Já na terça e quarta-feira à tarde e na quinta-feira pela manhã
ocorrem as sessões legislativas; por isso, foi definido o acompanhamento
nestes horários, que são os de mais atividade parlamentar e,
consequentemente, na redação da Rádio AL.
26
Já na Rádio Ponto, a semana de acompanhamento foi definida a
partir do aniversário de 15 anos da webradio, comemorado em 30 de
setembro de 2014. Neste dia, a webemissora contou com uma programação
especial, que reprisou programas e produções antigos dos alunos, além de
também ter transmitido programas produzidos especialmente para a data.
Apesar de o estúdio da Rádio Ponto estar em reforma, o que fez com que a
maior parte da programação (inclusive a de aniversário) fosse gravada, a
programação especial permitiu à pesquisadora acompanhar uma rotina
produtiva mais intensa, já que no dia as produções seriam veiculadas das 8h
às 18h.
Ainda antes da semana de acompanhamento foram realizadas
entrevistas com os coordenadores da Rádio Ponto, professores Eduardo
Meditsch e Valci Zuculoto, e com alunos participantes das disciplinas de
Radiojornalismo e dos núcleos Radiojornalismo Esportivo e Lança
Perfume. As entrevistas, todas em áudio, foram realizadas entre os dias 1 e
5 de julho de 2013, quando a pesquisadora fez um acompanhamento junto à
webemissora para a produção de um artigo científico. A entrevista com a
ex-aluna participante da Rádio Ponto, Marcela Lin, foi realizada em 28 de
março de 2013 por meio de mensagem via e-mail. O restante das entrevistas
foi realizado durante as semanas de acompanhamento e todas tiveram o
áudio gravado e foram decupadas, constando como apêndices da pesquisa.
Para proteger a identidade dos entrevistados, a pesquisadora optou
por nomeá-los como “entrevistado 01”, “entrevistado 02” e assim por
diante. As exceções são os entrevistados Eduardo Rocha e Nikolas
Stefanovitch, respectivamente repórter fundador da Rádio AL e
coordenador da Rádio AL, e os professores Eduardo Meditsch e Valci
Zuculoto, coordenadores da Rádio Ponto, e Marcela Lin, ex-aluna do curso
de Jornalismo da UFSC e ex-integrante da Rádio Ponto. As exceções foram
escolhidas pelo fato destes entrevistados serem elementos-chave para o
entendimento da rotina produtiva das webemissoras.
A análise de dados foi a última etapa realizada, com o intuito de
articular a teoria e o resultado do acompanhamento nas webradios a fim de
analisá-las e chegar às considerações finais. De acordo com Gil (1999), este
momento da pesquisa compreende a avaliação dos dados apurados pelo
pesquisador, que deve ser feita com base na revisão teórica realizada
anteriormente.
Partindo dessa premissa, a primeira atitude foi decupar o áudio de
todas as entrevistas realizadas, que totalizaram 13 entrevistas em áudio.
Além disso, foi acrescentada a entrevista da Marcela Lin, realizada por
meio de mensagem via e-mail. Com as informações dos entrevistados,
27 iniciou-se a verificação dos sites da Rádio AL e da Rádio Ponto, bem como
o mapeamento e análise das redes sociais. Identificou-se que as
webemissoras possuem presença em mais de uma rede social; no entanto,
considerou-se apenas o Facebook por ser a rede social mais acessada no
Brasil e porque as outras redes sociais direcionavam ao Facebook ou eram
focadas em imagens (caso do Flickr e do YouTube). Apesar de as imagens
poderem ser utilizadas como complemento à informação radiofônica, uma
prerrogativa das webradios é que o elemento sonoro seja o item principal
(PRATA, 2009, p. 73-74). Como as redes sociais voltadas para imagens não
admitem nem foram usadas para que o áudio fosse o elemento principal,
foram desconsideradas da análise.
Com o mapeamento das redes sociais, também verificou-se qual foi
a interação nos posts publicados nas redes sociais nos períodos de
acompanhamento e foi feita uma comparação em porcentagem com relação
ao total de curtidores das fan pages. Os posts publicados nas redes sociais
ainda foram comparados com o total de posts publicados nos sites das
webemissoras, para identificar a frequência de atualização dos websites.
Assim, para apresentar as informações relativas aos assuntos
estudados e também para trazer os dados a respeito da análise realizada,
esta pesquisa está dividida em quatro capítulos. O primeiro traz um
panorama sobre as transformações pelas quais o rádio informativo
brasileiro passou em mais de 90 anos de história do rádio. Neste capítulo, é
apresentado o cenário radiofônico atual, mostrando a importância das novas
tecnologias à produção radiofônica. Em seguida, são apresentados os tipos
de emissoras radiofônicas e as fases pelas quais o rádio brasileiro vem
passando. Esta parte é baseada principalmente na periodização proposta por
Valci Zuculoto (2012a, 67-71). Sendo assim, é apresentada a evolução das
emissoras comerciais com suas cinco etapas e as emissoras públicas com
suas cinco fases também. No final é apresentada uma linha do tempo, com
os principais momentos históricos das rádios públicas e comerciais. Em
seguida, o capítulo traz uma revisão sobre a linguagem radiofônica,
apresentando as mudanças que podem ser ou já foram implantadas no
discurso radiofônico atual. Seguindo na mesma linha, os gêneros e formatos
radiofônicos são revisitados.
O capítulo 02 traz os conceitos relativos à convergência, à
interatividade e às redes sociais, às webradios e ao rádio digital. Em relação
à convergência, o foco está principalmente na convergência jornalística,
mostrando como os novos dispositivos tecnológicos estão impactando na
rotina produtiva das redações e de que forma os jornalistas estão tendo que
se readequar ao novo cenário para poderem acompanhar as novas
28 possibilidades proporcionadas pela tecnologia. No item “Interatividade e
redes sociais na internet” é apresentado o conceito de interatividade e
algumas informações importantes para a análise de redes sociais feita nos
capítulos seguintes. Os conceitos de convergência e de interatividade são
relacionados ao rádio informativo. Já no item sobre as webradios é feita
uma contextualização do assunto, mostrando as características deste tipo de
emissora e quais as diferenças de seu modo de transmissão de conteúdos.
Em seguida, trata-se do rádio digital hertziano, que ainda não foi
implementado no Brasil, mas é uma tecnologia em andamento em vários
países do mundo. Assim, são apresentadas as similaridades entre o rádio
digital hertziano e as webradios (que também têm transmissão digitalizada,
mas realizada exclusivamente pela internet), observando que as webradios
são uma alternativa viável e mais barata à tecnologia do rádio digital
hertziano.
Por fim, no capítulo 03 é feita a análise da Rádio AL e no capítulo
04 apresenta-se a análise da Rádio Ponto. Os capítulos foram estruturados
da mesma forma, trazendo informações sobre a história das webemissoras,
a estrutura (com detalhes sobre computadores disponibilizados,
características das redações e do estúdio, equipamentos, etc), os
profissionais que fazem parte das equipes, a rotina produtiva (detalhando as
reuniões de pauta, modo de atuação dos profissionais, períodos de mais
atividade, etc), a programação (com o mapeamento dos programas
transmitidos no período de acompanhamento em cada webemissora), as
redes sociais e o site (mostrando dados de atualização do site e das redes
sociais, bem como a interação dos curtidores das fan pages) e a análise (um
resumo do que foi verificado nas semanas de acompanhamento). A ligação
entre os capítulos é relacionada nas Considerações Finais.
Assim, esta pesquisa pretende esclarecer como funciona a rotina
produtiva das webradios analisadas, identificando, através da teoria e da
observação nas webemissoras, quais são as similaridades e as diferenças em
relação às emissoras hertzianas com presença na internet.
29
CAPÍTULO I – AS TRANSFORMAÇÕES DO RÁDIO
INFORMATIVO BRASILEIRO
Com mais de 90 anos de história, o rádio brasileiro tem passado
por transformações importantes e profundas. No seu início, o intuito era de
que o rádio fosse educativo e servisse para elevar o nível educacional da
população do país, então extremamente baixo. No entanto, em poucos anos,
o meio adquire um caráter comercial e a primeira transformação inicia-se.
Esta seria apenas a primeira de muitas mudanças, que continuam em curso.
Anos depois, o primeiro meio de comunicação eletrônico incorpora as
novas tecnologias, passando a usar transistores, pilhas e outros recursos que
ampliavam a mobilidade e o alcance das ondas sonoras.
Estas transformações trouxeram sobrevida ao rádio, que se adaptou
às necessidades do público. No entanto, nos últimos anos, percebe-se mais
um movimento de transformação, motivado novamente pela tecnologia. A
internet e o uso cada vez maior de celulares nos fazem pensar em qual é o
futuro do rádio ou mesmo questionar se o meio de comunicação continua
sendo rádio ou se está adquirindo características diferentes, que
configurariam um novo meio. Todas estas transformações também trazem
impactos ao jornalismo radiofônico. Nos dias de hoje, além do rádio
tradicional (nos espectros AM e FM), também existem emissoras que
funcionam somente na internet, as chamadas webradios, e ainda as
tecnologias do rádio digital terrestre e por satélite, que ainda não foram
implementadas no Brasil, mas são uma realidade em outros países e, por
isso, não devem ser desconsideradas.
Tratando sobre as modificações pelas quais o rádio passou desde
sua criação, Ferraretto (2010, p. 20) destaca que “[...] a preocupação com o
futuro do rádio cresce à medida que o meio perde, primeiro, o protagonismo
exercido até então e, em seguida, cada vez mais anunciantes”. O mesmo
autor também relata que a metamorfose sofrida pelo rádio ainda não pode
ser medida, já que está em andamento, mas que alguns pontos podem ser
abordados e pensados. Um deles está relacionado ao consumo das notícias,
já que o receptor deixa de ser passivo e pode tornar-se ativo, interferindo na
produção jornalística. Outro item alterado com as novas tecnologias é o
modo de produção dentro das redações. Apesar de cada meio de
comunicação (rádio, TV e jornal e revista impressos) ter seu próprio estilo
de texto e um elemento principal (seja sonoro, imagético ou textual), a
internet, como ferramenta utilizada por estes meios, oferece amplas
possibilidades aos jornalistas e permite a mescla dos elementos citados
anteriormente. Portanto, um jornal na internet pode contar com algum item
30 sonoro, assim como o site de uma webradio deve trazer fotos, imagens,
textos e até mesmo vídeos, mas focar-se no áudio. Conforme Prado aborda:
O rádio que escutamos – desde o dial nas ondas curtas, na AM, na FM, via satélite, na TV a cabo, em
micro-ondas, na internet, na web, com ou sem imagem por webcam; do rádio capelinha ao rádio
relógio, pelo radinho de pilha, no rádio à manivela, até nos celulares (inteligentes ou não) – vem se
transformando nesses 90 anos de existência, mas seu zênite é o áudio, a oralidade (PRADO, 2012, p. 17).
A partir deste contexto, várias são as possibilidades para se pensar
a respeito do futuro do rádio. Segundo Barbosa Filho (2005, p. 330), o que
se espera é “uma verdadeira revolução na construção dos conteúdos
sonoros, aliando novas possibilidades de conjugação de seus elementos ao
lado da melhoria da qualidade da informação”. Neste trecho, o autor refere-
se à linguagem do rádio digital, mas é fato que o excerto pode ser adaptado
à webradio e que as transformações dos conteúdos sonoros somente são
possíveis de serem realizadas através da mudança do modo de produção.
1.1 Tipos de emissoras e fases do rádio brasileiro
O rádio brasileiro possui emissoras comerciais, públicas e
comunitárias, que podem estar no espectro AM ou FM ou ainda ser
transmitidas somente pela internet. Este último caso é o das webradios,
entendidas como sendo emissoras que transmitem seu conteúdo
exclusivamente pela internet, de acordo com o conceito proposto por Prata
(2009, p. 46-47).
Ainda nos anos 1920, não havia diferenciação entre emissoras
comerciais ou públicas, já que o modelo existente na época era o de rádios
sociedade. Em 1931, o então presidente Getúlio Vargas aprovou o decreto
20.047, datado de 27 de maio de 1931, cujo objetivo era determinar “a
competência exclusiva do Governo Federal para regulamentar a telegrafia, a
radiotelegrafia e as atividades de radiodifusão” (LOPES, 2009, p. 03). Já
em 1932 houve a regulamentação das emissoras comerciais através do
decreto número 21.111, de 1º de março. A partir de então, a concessão de
canais no espectro AM passa a ser regida pelo governo federal. Já para
Zuculoto (2012a, p. 28), o marco da divisão entre rádios comerciais e
31 públicas ocorre em 1936, quando Roquette Pinto, “o pai do rádio
brasileiro”, decidiu doar a então Rádio Sociedade do Rio de Janeiro para o
Ministério da Educação e Saúde (MES).
1.1.1 Emissoras comerciais
O surgimento das emissoras comerciais marca a passagem para a
segunda fase do rádio brasileiro. Para este tipo de estação, o período que vai
de 1935 a 1955 marcou a época de ouro da radiodifusão. A década de 1940
foi o auge, quando o rádio comercial viveu o seu apogeu e popularizou-se.
Neste ínterim, foi instituída a primeira síntese noticiosa do Brasil, o
Repórter Esso, que estreou em 28 de agosto de 1941.
O Repórter Esso, cujo principal locutor foi Heron Domingues, era
patrocinado pela Standard Oil Company of Brazil, ou seja, a norte-
americana Esso, que também tinha uma sede no país, além de ser
supervisionado pela empresa americana McCann Erickson Corporation e
produzido pela então United Press Associations, atualmente United Press
International (UPI). Segundo Klöckner (2001),
Coube também ao noticiário contribuir na difusão
tanto do estilo de vida americano, o american way of life, como da ideologia capitalista, sendo considerado
um ponta-de-lança na americanização do Brasil. Os comerciais encaixados antes da última notícia,
estimulavam a compra de bens como automóveis, fogões, fogareiros, baterias, óleos e lubrificantes. E,
junto com a síntese noticiosa, chegaram os chicletes, a Coca-Cola, as revistas em quadrinhos e uma série de
hábitos americanos (KLÖCKNER, 2001).
Com as devidas adaptações do nome, o Repórter Esso já tinha sido
implementado nos Estados Unidos em 1935 e, em apenas sete anos, era
transmitido em outras 14 nações, incluindo o Brasil. Por ter sido a primeira
síntese noticiosa, o Repórter Esso tem uma credibilidade estampada em
vários exemplos. Um deles ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. Depois de passar meses esperando para dar a notícia do fim da guerra, uma
noite o locutor Heron Domingues decidiu voltar para casa e descansar. No
recesso, descobriu pela emissora concorrente que o fim da guerra havia sido
declarado. Apesar de o Repórter Esso não ter sido o primeiro a dar a notícia
32 (a Rádio Tupi foi a primeira emissora a informar sobre o fato), muitos
ouvintes não acreditaram na informação até que Heron Domingues, a
principal voz do radiojornal, repassasse a notícia em cadeia nacional. Este
exemplo demonstra como o jornalismo e o Repórter Esso tinham ganhado a
confiança da população.
Em termos de contribuição ao radiojornalismo, Klöckner (2001)
destaca que, apesar de sua edição ter apenas cinco minutos, o Repórter Esso
“transformou o radiojornalismo brasileiro. Com o noticioso, foi implantado
o lide; a objetividade; a exatidão; o texto sucinto, direto e vibrante; a
pontualidade; a noção do tempo exato de cada notícia; aparentando
imparcialidade e contrapondo-se aos longos jornais falados da época”. O
autor ainda ressalta que a primeira síntese noticiosa do Brasil serviu,
principalmente, para divulgar a propaganda política-ideológica dos Estados
Unidos e, devido a isso, possuiu três momentos em sua história: a primeira
etapa, em que divulgava as vitórias dos Estados Unidos e deixava claro o
apoio aos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial; enquanto que o
segundo período foi marcado pelo fim da guerra, quando começaram a ser
veiculadas mais matérias locais e o noticiário passou a contar com assuntos
variados, como esportes, previsão do tempo, etc. Também vale a pena
ressaltar que o Repórter Esso possuía um manual de redação, inserindo um
modelo noticioso que norteia vários meios de comunicação até os dias de
hoje. “A estrutura da síntese noticiosa de o Repórter Esso, observada ainda
em vários noticiosos do País, é uma das características que permanece ainda
hoje não só no rádio e na televisão ou na internet, como também em meios
da mídia impressa” (KLÖCKNER, 2008).
Com os slogans “Repórter Esso, a testemunha ocular da história” e
“Repórter Esso, o primeiro a dar as últimas”, a primeira síntese noticiosa
brasileira fez história, mas realizou sua última transmissão em 31 de
dezembro de 1969, depois de 28 anos. Seu encerramento aconteceu na
terceira fase do rádio comercial brasileiro, em que a TV já tinha surgido e
no qual muitos questionavam se o rádio conseguiria sobreviver como meio
de comunicação.
Esta terceira fase, de acordo com Zuculoto (2012b, p. 29), começa
ainda em 1955, 14 anos antes do fim do Repórter Esso, e encerra junto com
o radiojornal. O período foi de mudanças e reestruturação, já que a chegada
da televisão ameaçou a continuidade da radiofonia. O resultado foi o
aumento da mobilidade e da instantaneidade através da adoção de novas
tecnologias, como o transístor, por exemplo. A mesma autora ainda ressalta
que, ao mesmo tempo em que a morte do rádio foi decretada, novos
avanços foram registrados, especialmente no tocante ao jornalismo.
33
Porém, paradoxalmente, é quando outra boa parte das emissoras constrói a história da radiofonia brasileira
não apenas na base da reprodução da música gravada e distribuída pela então emergente indústria
fonográfica, como também por meio do desenvolvimento do radiojornalismo. E o avanço da
tecnologia, com novidades como o transístor e vários
outros equipamentos eletrônicos, constitui-se num dos aspectos históricos que mais influi na trajetória do
rádio neste período e, por decorrência, também na sua notícia (ZUCULOTO, 2012b, p. 30).
A partir da década de 1970 e entrando nos anos 1980, um novo
movimento começa a ser registrado nas emissoras radiofônicas do Brasil; é
a quarta fase das emissoras comerciais, de acordo com a categorização de
Zuculoto (2012b, p. 118). A adoção do espectro da frequência modulada,
mais conhecido por FM, aumentou a quantidade de concessões disponíveis
para cada região, ao mesmo tempo em que trouxe melhorias à qualidade do
sinal. A desvantagem do FM em relação à amplitude modulada (AM) é que
aquele tem menor alcance.
Enquanto as rádios AM mantiveram o caráter informativo, com
notícias tanto factuais quanto de serviço, o FM assumiu o entretenimento
como sua marca principal. Com essa diferenciação, esta etapa é reforçada
pela criação do rádio informativo no Brasil, que se inicia ainda na década
de 1980, mas consolida-se nos anos 1990 e persiste neste início de século
XXI. Meditsch (2007) conceitua o modelo adotado pelo rádio informativo:
O rádio informativo, em finais da década de 90, é um formato de programação entre outros e pode-se dizer
que o radiojornalismo, em sua manifestação realmente significativa como produção de
conhecimento sobre a realidade, vive cada vez mais confinado às emissoras que adotam este formato
(MEDITSCH, 2007, p. 31).
Ainda de acordo com o autor, é importante fazer uma diferenciação
entre radiojornalismo e radio informativo. O primeiro conceito foi criado
com base na palavra impressa e, segundo Meditsch (2007), mesmo tendo
ultrapassado esta questão, continua arraigado a algumas normas, técnicas e
modelos calcados no suporte impresso. Portanto, o termo rádio informativo
é proposto com o objetivo de apresentar um novo modelo de jornalismo
34 radiofônico, “qualitativamente diferente, e designação diversa costuma dar
conta dessa transformação” (MEDITSCH, 2007, p. 30).
Faus Belau (apud MEDITSCH, 2007, p. 31) destaca que o rádio
informativo possui mais profundidade na abordagem noticiosa se
comparado ao radiojornalismo e esta mudança pode indicar uma segunda
etapa da história do rádio. Portanto, a abordagem do rádio informativo é
mais ampla e reflete não apenas a transposição da prática do meio impresso
para o radiofônico, mas sim novos hábitos e normas que são implementados
no modo de produção e na programação das emissoras essencialmente
jornalísticas. A partir desta perspectiva, Meditsch (2007, p. 31) ressalta que
o rádio informativo passa a incluir em sua programação elementos que não
faziam parte do modelo anterior de radiojornalismo, como a hora certa, por
exemplo, além de também oferecer mais espaço para que os ouvintes
possam emitir a sua opinião e até mesmo participar de forma mais ativa do
processo de produção, sugerindo pautas, etc.
O rádio informativo é também, assim, uma instituição: uma instituição social com características
próprias que a distinguem no campo da mídia e no próprio campo do rádio. Este é contemporaneamente
mais plural e diferenciado em alguns aspectos, embora mantenha muitos outros em comum com o
rádio da primeira metade do século, onde se localiza a sua origem histórica e também a de sua identidade
enquanto instituição (MEDITSCH, 2007, p. 31-32).
Este modelo de radiofonia consolida-se principalmente na quinta
fase do rádio brasileiro, a etapa atualmente vivenciada, de acordo com
Zuculoto (2012b, p. 141). Neste momento, além da segmentação das
emissoras, que propiciou a consolidação do rádio informativo, também
houve uma ampliação no uso da frequência modulada, que passou a ser
adotada também por emissoras cujo mote principal e/ou único é a
informação. Além disso, a partir do final da década de 1990, surgem as
webradios no país e no mundo.
Portanto, as fases das emissoras comerciais, de acordo com a
categorização proposta por Zuculoto, podem ser definidas de acordo com a
linha do tempo a seguir:
35
Figura 01 – Linha do tempo das Fases das Emissoras Comerciais no Brasil.
Fonte: Produzido pela autora.
1.1.2 Emissoras públicas
Assim como acontece com as emissoras comerciais, as rádios
públicas também estão em sua quinta fase, de acordo com a categorização
de Zuculoto (2011, p. 04) sobre a história do rádio brasileiro, e passam por
um momento crucial, de definição de quais tipos de estações enquadram-se
no conceito de emissoras públicas. Segundo Zuculoto (2012a, p. 55), uma
rádio pública só pode ser considerada como tal se tiver uma relação com o
ouvinte que seja amparada nos interesses da sociedade.
[...] não basta o veículo ser de natureza pública, mas,
acima de tudo, conhecer e atender necessidades da sua audiência para se situar na realidade social e por
conseguinte, exercer a cidadania. Só assim estas emissoras podem transmitir calcadas na relação
comunicação-ouvinte defendida pela entidade (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação –
FNDC) (ZUCULOTO, 2012a, p. 55).
A primeira fase das rádios públicas é a mesma etapa das emissoras
comerciais, em que o rádio estava em seus primeiros anos e ainda não havia
diferenciação entre público e comercial. Esta etapa inicial começou na
36 década de 1920 e terminou em 1932, ano da regulamentação das emissoras
comerciais, conforme verificado anteriormente. No entanto, Zuculoto
(2012a, p. 91) destaca que o início do rádio público foi efetivamente
marcado em 1936, ano em que houve a doação da Rádio Sociedade do Rio
de Janeiro para o MES, conforme já apontado anteriormente.
Nestes primeiros anos da radiofonia, o objetivo principal era
transmitir programas educativos. A primeira emissora brasileira, a Rádio
Sociedade do Rio de Janeiro, servia de modelo.
Assim como a Rádio Sociedade, as demais emissoras
daquela fase inicial, referenciando-se na precursora, também transmitiam programas com conteúdos que
tinham finalidades educativas e culturais, construindo suas grades de programação com música erudita
principalmente, óperas, conferências, palestras e verdadeiras aulas (ZUCULOTO, 2012a, p. 94).
Apesar de o rádio atualmente estar em outra etapa de sua história,
várias emissoras continuam trazendo em suas programações o modelo
implementado pela Rádio Sociedade. (ZUCULOTO, 2012a, p. 97).
A segunda fase, que se inicia em 1932 e efetiva-se na década de
1940, tem duração até os anos 1970, de acordo com a autora. Para o rádio
comercial, esta foi a era de ouro. Já para a radiodifusão pública, o foco
eram as produções educativas (ZUCULOTO, 2012a, p. 123). O modelo vai
desenvolvendo-se e consolidando-se enquanto as emissoras produziam e
transmitiam programas instrucionais e de educação formal. Esta segunda
etapa também marca o início das primeiras emissoras radiofônicas em
universidades brasileiras, sendo que a primeira surgiu na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 1957.
Neste período da história das emissoras públicas, a Rádio MEC
(antiga Rádio Sociedade do Rio de Janeiro) fortalece a sua missão de ter
uma programação voltada à educação e cultura e torna-se, devido a esse
fato, a rádio referência no segmento das emissoras públicas (ZUCULOTO,
2010, p.63). Outro fato importante deste momento da radiofonia pública é a
outorga da Rádio Cultura, de São Paulo, que passa a ser da Fundação Padre
Anchieta, permanecendo assim até os dias de hoje. Entre 1936 e 1969, a
Rádio Cultura foi comercial, mas a outorga foi alterada acompanhando as
mudanças da Ditadura Militar, implementada em 1964. Zuculoto (2010, p.
63) destaca que, nesta segunda etapa, “[...] as emissoras educativas
começam a se beneficiar de políticas de integração nacional com estímulo
ao incremento da radiodifusão e aqui, principalmente com os estímulos ao
37 desenvolvimento da educação radiofônica”. Este é o começo da preparação
para a era de ouro da radiofonia pública brasileira.
No início dos anos 1970, terceira fase da história, o rádio público
ganha força e vive a sua época de ouro (ZUCULOTO, 2012a, p. 131), até o
final dos anos 1980. Este período é marcado como o grande momento da
radiofonia educativa e isso acontece devido a vários fatores, como a
legislação para o ensino instrucional, o desenvolvimento das tecnologias da
comunicação e o aporte político oferecido pelos governos militares
(ZUCULOTO, 2010, p. 64). Este momento também é marcado pela ideia da
comunicação para o desenvolvimento, ou seja, a comunicação passa a ser
encarada como “um elemento para a construção da identidade e de
representação a respeito de um determinado assunto” (CABRAL, s/d). A
partir desta ideologia, é consolidada a radiofonia educativa, que tinha por
principal objetivo o ensino instrucional. “Frente à concorrência da televisão
e com novas tecnologias, assim como todo o rádio, inclusive o comercial,
também o segmento então conhecido como educativo precisa buscar
alternativas de sobrevivência” (ZUCULOTO, 2010, p. 64). Portanto,
reforça-se a educação não formal e surge o Sistema Nacional de
Radiodifusão Educativa (SINRED), uma cadeia retransmissora de
programas educativos. Nesta época, o grande destaque foi o Minerva, um
dos muitos projetos de ensino realizados pelo governo brasileiro.
O projeto Minerva foi criado com o objetivo de auxiliar a educação
dos brasileiros. Como destaca Zuculoto (2011, p. 04),
Por isso, esta igualmente é a fase de avanço da
educação não-formal como linha de programação, com a época de estabelecimento das cadeias
retransmissores, possibilitadas pelo satélite, tendo a Rádio MEC-Rio como a cabeça de rede principal e a
Cultura AM de São Paulo, agora já operando como não-comercial, como referência em franca
consolidação.
A história do Minerva iniciou nos anos 1970 e o projeto ficou
marcado como o mais importante implementado na terceira fase do rádio
público brasileiro. Instituída pelo governo militar, a proposta era a de
atender ao anseio da Igreja Católica, que naquele período realizou alguns
movimentos favoráveis ao uso do rádio e da televisão como instrumentos
de ensino a distância. O Minerva, portanto, veio com o objetivo de
“solucionar os problemas com a implantação de uma cadeia de rádio e
televisão educativas para a educação de massa por meios de métodos e
38 instrumentos não convencionais de ensino” (ANDRELO; MANTOVANI;
SOUZA et al, 2012).
A transmissão do Minerva foi operada pelo Serviço de
Radiodifusão Educativa do Ministério da Educação e Cultura. Junto com a
entidade, também estavam a Fundação Padre Landell de Moura e a
Fundação Padre Anchieta, que ajudavam a produzir os programas. O foco
principal do projeto era a capacitação e madureza ginasial, ou seja, instruir
os candidatos que precisavam fazer os exames supletivos, mas não podiam
pagar pelos cursos que então eram oferecidos presencialmente.
Apesar de ser um destaque até hoje dentro do rádio público, o
projeto Minerva teve alguns problemas de aceitação por parte da população,
segundo Pavan (apud ANDRELO; MANTOVANI; SOUZA et al, 2012). O
autor destacou que o grande problema foi a produção focada nas regiões Sul
e Sudeste com a distribuição centralizada. Assim, boa parte da população
não sentia que a programação atendia às suas necessidades. Desta forma, o
Minerva foi mantido até o começo dos anos 1980 e teve um baixo índice de
aprovação, ficando na casa de apenas 23% dos inscritos.
Já na década de 1990, inicia-se a quarta etapa da história das
emissoras públicas, segundo Zuculoto (2010, p. 64). O marco foi o advento
cada vez maior das rádios FM educativas e universitárias. Neste período,
houve grande número de concessões para a abertura de emissoras,
especialmente as universitárias, o que fortaleceu o chamado sistema público
de rádio e este momento também é marcado pelo início das discussões
sobre o formato das rádios públicas.
Após a entrada em vigor da Constituição e o fim do
SINRED, a década de 90 foi marcada, então, por vários movimentos destas emissoras (públicas) na
tentativa de construírem, conjuntamente, um perfil mais identificado com o de uma emissora pública. A
Rádio MEC, em 1992, tenta reeditar o SINRED, reunindo as emissoras no Rio de Janeiro e propondo a
criação de uma nova Rede Nacional. A ideia não saiu do papel, mas outra proposição incluída nas
delimitações do encontro passa a ser amadurecida pelas emissoras: a produção e transmissão conjunta de
pelo menos um programa (ZUCULOTO, 2012a, p.
78).
A decisão destacada por Zuculoto foi a movimentação de emissoras
universitárias, de 1994 a 1999, para a criação do sistema não oficial
39 chamado Rede Universitária de Rádio (ZUCULOTO, 2012a, p. 26). O
objetivo foi fazer a transmissão via satélite de coberturas em rede,
realizadas por equipes de alunos de aproximadamente 60 rádios
universitárias e estatais. Nesta etapa da radiodifusão pública, o nome “rádio
pública” é acentuado, já que os representantes das emissoras utilizam este
termo para denominá-las.
Em sua última etapa, a quinta, o rádio público brasileiro tem como
uma de suas características a existência da Associação das Rádios Públicas
do Brasil (ARPUB), fundada no ano de 2004 e que vem, na medida do
possível, fomentando debates sobre o que seria o sistema público de
radiofonia (ZUCULOTO, 2010, p. 65). Em meio às discussões, também há
a tentativa do governo federal de liderar as conversas a respeito deste
assunto, o que veio culminar na criação da Empresa Brasil de Comunicação
(EBC). Outro ponto a ser destacado a respeito dessa fase da radiodifusão
pública é o Fórum Nacional de Rádios Públicas, que teve sua primeira
edição em 2007.
Toda esta categorização das emissoras públicas e comerciais foi
baseada na proposta de Zuculoto, que também define o momento atual do
rádio público.
O setor brasileiro da radiodifusão vive uma fase de efervescência na contemporaneidade. Com o avanço e
consolidação das novas tecnologias, um dos grandes debates e desafios é o da implantação dos padrões
digitais de TV e rádio. Acirra-se também o debate e a movimentação para a implantação do sistema público
da radiodifusão, embora a Constituição de 88 continue sem regulamentação neste quesito. A
legislação específica para o setor também segue defasada e o há muito reivindicado novo marco
regulatório para toda a área das comunicações igualmente permanece apenas nos planos de
reivindicação e debate (ZUCULOTO, 2011, p. 05).
A legislação que normatiza a radiodifusão pública foi
implementada ainda nos anos 1960 (ZUCULOTO, 2012a, p. 19) e não foi
atualizada até 2014. A necessidade de um novo marco regulatório para o
setor é destacada em eventos que discutem a radiodifusão pública.
O próprio governo federal vem admitindo cada vez
mais esta grave lacuna regulatória. […] A EBC – Empresa Brasil de Comunicação, criada em 2007 pela
40
MP (medida provisória) 398 convertida na Lei 11.652, é defendida pelo governo federal como uma
das suas contribuições para a construção da radiodifusão pública e, desta forma, atualização de
parte desta defasagem regulatória a que a área está submetida. Mas, por exemplo, diretores da Empresa,
ao mesmo tempo, têm concordado que as comunicações brasileiras precisam de novas
legislações e da regulamentação constitucional quanto aos sistemas para a radiodifusão.
Além da EBC, neste período também foi criada a Associação das
Rádios Públicas do Brasil (ARPUB), que luta para a criação de uma nova
legislação e marco regulatório (ZUCULOTO, 2012a, p. 27). Desta forma, a
linha do tempo com a história do rádio público brasileiro pode ser definida
como segue:
Figura 02 – Linha do tempo do Rádio Público Brasileiro.
Fonte: Produzido pela autora.
41 1.2 Linguagem radiofônica
O momento de reinvenção do rádio brasileiro permite pensar a
respeito do futuro deste meio de comunicação. As alterações não passam
somente pelo processo de transmissão e produção, mas também pela
linguagem radiofônica, que agora pode contar com recursos que vão além
do áudio. Por isso, a questão que aparece neste contexto é como o discurso
sonoro será utilizado para ser possível aproveitar todas as possibilidades
oferecidas pela internet e pela tecnologia sem que o meio rádio seja
descaracterizado.
Porém a linguagem radiofônica não surgiu somente com o advento
dos novos dispositivos tecnológicos. Ainda em seus primórdios, nos anos
1920, apareceram as primeiras tentativas de se estabelecer uma forma de
discurso adaptado para o novo meio de comunicação, que possui
características próprias e cujo elemento principal é o áudio. Nos primeiros
anos, o conteúdo radiofônico era apenas uma reprodução dos textos dos
jornais impressos da época. Mas já em 1926 começavam a ser criadas
algumas normas para a redação radiofônica. As iniciativas estavam
localizadas na Bélgica e ainda não tinham sido incorporadas pelos
radialistas brasileiros (MEDITSCH, 2007, p. 182). Conforme Zuculoto
(2012b, p. 28), os primeiros anos do rádio são representativos da
metamorfose gradual que acontece com os novos meios de comunicação,
que não possuem uma linguagem própria de imediato.
A partir da criação das primeiras normas, o discurso radiofônico
vem sendo adaptado. Com o surgimento e utilização da internet como
ferramenta de divulgação e transmissão dos meios de comunicação
tradicionais (rádio, TV e jornal e revista impressos), a linguagem
radiofônica também sofre mudanças. Prata (2009) ressalta que,
independentemente da plataforma utilizada para transmissão e divulgação
de conteúdos, o elemento principal do rádio permanece sendo o item
sonoro, o que manteria a essência do meio de comunicação preservada.
O elemento-chave do rádio continua sendo o som, só
que agora com a agregação de novos signos nos
campos textual e imagético gerados pela web. O som passa a ser o elemento definidor, o divisor de águas, o
ponto de partida e de chegada da radiofonia. No rádio, o som deve ter sentido por si próprio, sem a
necessidade de apoio do texto ou da imagem, como em outras mídias (PRATA, 2009, p. 73-74).
42
Segundo Santaella (2007, p. 76), existem três matrizes que
permitem originar a linguagem e os processos de comunicação em todas as
suas formas. São elas as matrizes visual, verbal e sonora. Cada um destes
elementos possui nove ramificações, que podem cruzar-se entre si e
também misturar-se com as subdivisões de outras matrizes. O rádio
informativo, especificamente, trabalha quase que exclusivamente com a
sonoridade, apesar de seu discurso ser calcado na escrita, como propõe
Meditsch (2007, p. 69). Já no caso da internet, a formação das linguagens
híbridas é muito mais evidente, porque esta tecnologia permite que seja
trabalhado com o áudio, a escrita, as imagens e suas ramificações ao mesmo
tempo.
A possibilidade de hibridizar a linguagem, no entanto, não é
possível somente com o advento dos aparatos tecnológicos. Apesar de a
mediação técnica ser necessária e imprescindível, Martín-Barbero (apud
SANTAELLA 2007, p. 80) aponta que a chamada revolução tecnológica
envolve os processos simbólicos e suas relações culturais, além das
maneiras de se produzir e distribuir as informações e os conteúdos. Ou seja,
para se conseguir efetivar a revolução tecnológica é necessário modificar a
linguagem e aproveitar a transcodificação dos sinais e dos códigos feita na
tecnologia digital para se chegar a uma mistura de elementos sonoros,
gráficos, visuais e textuais.
Neste sentido, Meditsch (2007, p. 44) afirma que “os meios não são
a mensagem, que se localiza numa realidade histórica muito mais
complexa, de que fazem parte. Mas os meios interferem nesta realidade, e
condicionam especialmente as mensagens produzidas e veiculadas por
eles”. Portanto, apesar de os meios não poderem ser ignorados, eles não são
determinantes para a efetivação da hibridização da linguagem. Para que isso
ocorra, os aparelhos tecnológicos devem ser utilizados e condicionados
socialmente.
Outro aspecto apresentado por Santaella (2007, p. 79) é a
caracterização dos termos midiatização, mediação e interação, de acordo
com Muniz Sodré. Estes conceitos são muito utilizados nos dias de hoje por
causa da tecnologia, mas nem sempre suas explicações correspondem à
realidade. A autora destaca que as mediações são as linguagens, as artes, a
cultura em geral, de onde se parte para começar o processo de midiatização.
A interação, por sua vez, é a forma como opera o processo mediador. Por
fim, a midiatização seria a quarta esfera existencial, que se caracteriza por
uma maneira diferenciada de interação, a chamada tecnomediação. A
midiatização é composta por mediações realizadas socialmente através do
uso dos dispositivos tecnológicos. Com estas definições, entende-se que a
43 midiatização é o conceito que explica a hibridização da linguagem e
somente com a ajuda da mediação, da interação e da midiatização é
possível atingir a convergência dos meios e, no caso das webradios, um
novo discurso, que pode ser chamado de hipermídia.
É notório que os conceitos de escritura e de texto vêm
passando por transformações profundas desde que as tecnologias digitais emergiram. A integração do texto,
das imagens dos mais diversos tipos, fixas e em movimento, e do som, música e ruído, em uma nova
linguagem híbrida, mestiça, complexa, que é chamada de hipermídia, trouxe mudanças para o modo como
não só o texto, mas também a imagem e o som costumavam ser entendidos (SANTAELLA, 2007, p.
84).
Assim, as tecnologias exigem uma mudança na forma de discurso
dos meios. Para ser possível efetivamente alcançar a hipermídia é
necessário contar com quatro elementos: interator (ou seja, o agenciamento
interativo do usuário), organização não-linear da informação, hibridização
da linguagem e cartografia da navegação. De acordo com Santaella (2007,
p. 85), atingindo-se estes quatro aspectos, efetua-se a hipermídia, uma
linguagem que permite uma navegação mais simples e intuitiva, que
favorece a fusão dos elementos textuais, visuais e sonoros, sem
necessariamente descaracterizar o meio.
Este também é um aspecto a ser considerado em relação às
webradios. Independentemente da hibridização da linguagem e de se chegar
à hipermídia, a sonoridade deve ser o elemento principal das webemissoras.
É importante considerar que, se o discurso radiofônico antes aceitava
apenas a palavra, os ruídos, o silêncio e a música, a nova linguagem do
rádio pode admitir outros elementos.
O rádio continuará sendo sonoro, porém com funções multimídia, portanto terá de agregar uma linguagem
flexível que possibilita diversificar conteúdos, o que torna inevitável integrar sua programação a novos
formatos de distribuição e ser capaz de compatibilizar voz, imagens e dados (DEL BIANCO, 2010, p. 109).
No entanto, os recursos visuais e textuais não devem se sobrepor ao
áudio. Apesar de uma das vantagens das webemissoras ser justamente a
possibilidade de agregar conteúdos, estes recursos adicionais devem ser
44 vistos como um plus, tanto para a webradio quanto para o consumidor da
informação. Caso contrário, o que pode acontecer é uma modificação da
própria mídia, que se torna uma “comunicação audiovisual empobrecida”
(MEDITSCH, 2010, p. 225).
1.2.1 O novo discurso radiofônico
Antes de abordar as potencialidades de construção do novo
discurso radiofônico, é preciso observar que o rádio é um meio de
comunicação que tem um caráter ubíquo, conforme destacado por Arnheim
(apud MEDITSCH, 2005, p. 04), ou seja, as ondas sonoras conseguem
ultrapassar as barreiras físicas do espaço e chegar a lugares longínquos e
isolados, que não possuem nem eletricidade. Para as rádios tradicionais, ou
seja, AM e FM, existem canais no espectro que são concedidos às
emissoras. Cada estação possui uma frequência em Megahertz ou Kilohertz,
que indicam em quantos ciclos por segundo aquele transmissor oscila. A
diferença entre o AM e o FM é que o FM possui canais entre 88 e 108
MHz. Já as emissoras AM podem ter uma banda que varia entre 535 e 1.700
Khz (BRAIN, s/d). Na Amplitude Modulada (AM), a onda senoidal
(sonora) é inserida sobre a onda do transmissor, o que faz com que ela seja
modulada e tenha um alcance maior. Por outro lado, na Frequência
Modulada (FM), o ruído é praticamente eliminado, porém o alcance da
onda é menor. Isso ocorre porque a frequência de onda do transmissor é
pouco modificada de acordo com o sinal da informação. No momento em
que um locutor emite uma informação, o amplificador amplia o sinal e a
antena envia as ondas sonoras para o espaço, que são rebatidas e voltam à
Terra (BRAIN, s/d). Além disso, as ondas sonoras FM têm um
comprimento de onda maior, enquanto as ondas AM possuem
comprimentos de onda menores, o que garante melhor propagação. Por suas
características, as ondas relativas aos canais AM sofrem menos
interferência de obstáculos (como montanhas, por exemplo) e, por isso,
chegam mais longe, inclusive locais mais isolados.
No caso das webradios, sua inserção ainda não é tão ampla e
intensa quanto a das emissoras tradicionais, mas tende a se expandir com o
passar dos anos e com a melhoria e a ampliação dos serviços de internet
banda larga. Ao mesmo tempo, as webradios podem ser ouvidas de
qualquer lugar do mundo e a qualquer hora, já que os sites podem ser
acessados independentemente de onde está o internauta; basta que este
ouvinte digite a URL desejada e tenha conexão à internet. Aplicativos que
45 oferecem serviços de streaming, como o TuneIn, por exemplo, também
facilitam o acesso às webemissoras através de dispositivos móveis, como
smartphones e tablets. Esta realidade que se apresenta e vem se
consolidando com o passar dos anos indica que uma mudança na linguagem
radiofônica é necessária a curto, médio ou longo prazo.
Conforme explicitado anteriormente, no contexto das webradios, a
sonoridade permanece sendo o elemento crucial, enquanto os outros
recursos apresentados pela internet devem ser encarados como
complementos. Neste sentido, uma das características do meio é a questão
da imaginação do ouvinte. Muitos autores entendem que isso é algo
importante para o rádio, mas Arnheim (2005, p. 62), explicando sobre a
cegueira do meio, destaca que o complemento da imaginação visual do
ouvinte pode ser uma desinformação se não for provocada conscientemente
pelo locutor. Ou seja, o som por si só já consegue dar conta de repassar as
informações necessárias para o ouvinte.
O olho sozinho dá uma imagem bastante completa do mundo, mas o ouvido sozinho fornece uma imagem
incompleta. Portanto, torna-se uma grande tentação para o ouvinte “completar” com sua própria
imaginação o que está “faltando” tão claramente na transmissão radiofônica.
E, no entanto, nada lhe falta! Pois a essência do rádio consiste justamente em oferecer a totalidade somente
por meio sonoro. Não no sentido exterior, de incompletude, segundo a visão naturalista, mas
fornecendo a essência de um evento, uma idéia, uma representação. Todo o essencial está lá – e neste
sentido um bom programa de rádio é completo (ARNHEIM, 2005, p. 62).
Nas webradios, a sonoridade deve continuar a trazer a plenitude da
informação para o ouvinte, mas existe a diferença de a imaginação não ser
mais necessária, já que o internauta pode ter ao seu alcance as imagens
disponibilizadas pela webemissora – apesar de estas imagens não serem
necessárias ao entendimento do assunto.
Outro aspecto sobre o novo discurso radiofônico que exige consideração é o fato de que a linguagem do rádio “[...] não pertence ao
campo audiovisual e se diferencia também de outros discursos sonoros –
como o fonográfico – produzidos com os mesmos elementos de linguagem
sonora (palavra, música, ruídos e silêncio)” (MEDITSCH, 2007, p. 54).
46 Estes mesmos elementos continuam sendo primordiais e são eles que
caracterizam a informação radiofônica. Porém Meditsch discorda de outros
pesquisadores quanto ao uso de elementos textuais e imagéticos como
complementação à informação sonora. Para o autor, o rádio deve ser
pensado a partir da submissão “à especificidade do fluxo sonoro que
proporciona e às relações socioculturais que a partir dele se estabelecem”
(MEDITSCH, 2010, p. 204). O pesquisador propõe, portanto, que o meio
de comunicação deve ser avaliado sem atrelamento ao equipamento ao qual
está vinculado, o que pode assegurar sua permanência no futuro, desde que
seja mantida a sua modalidade cultural.
Se o rádio como modalidade cultural tende a
prosseguir existindo, a indústria que o explora terá que se adaptar ou morrer. Já teve que fazer isso outras
vezes, no século passado, com o surgimento da música gravada, da televisão e da banda FM: resta
saber se esta experiência poderá servir para atenuar as turbulências de agora (MEDITSCH, 2010, p. 207).
Assim, Meditsch destaca que o rádio possui esta denominação não
por seu aparato tecnológico, mas pelo seu conteúdo e elementos sonoros.
Com as novas tecnologias, uma nova realidade se apresenta e isto pode
modificar e descaracterizar o meio de comunicação rádio.
Com o advento da eletrônica, que tem sua origem no
domínio da eletricidade (que já trouxe o rádio e a TV analógicos), e sua potencialização no digital,
estaríamos vivendo a emergência de uma nova
tecnologia intelectual, que pode ter um impacto tão grande ou maior (até porque é incomensuravelmente
mais rápida e mais universal) do que a revolução anterior, marcada pelo surgimento da escrita e sua
posterior potencialização na imprensa. A mudança é de tal ordem que os próprios conceitos de rádio e
televisão, ou da internet como apenas uma outra mídia (à imagem e semelhança das anteriores),
aparecem agora como formas antigas de pensar, que estão longe de dar conta da nova situação
(MEDITSCH, 2010, p. 214).
Por este motivo, o autor defende a diferenciação entre os termos
rádio e conteúdo sonoro. O nome “rádio”, de acordo com Meditsch (2010,
47 p. 224) continuará existindo por bastante tempo e até sendo disputado por
várias instituições, que desejam utilizar esta palavra para se beneficiar da
história que representa. Porém o meio de comunicação, para o pesquisador,
pode deixar de existir, sendo que apenas o conteúdo sonoro sobreviveria
nesta situação.
É provável, no entanto, que a informação sonora
sobreviva no novo contexto à mídia que lhe deu origem, tendo em vista que persistem as razões para a
sua produção e consumo, sendo a principal delas a
praticidade de recebê-la sem utilizar os olhos, simultaneamente à realização de outras atividades.
Isso, no entanto, representa uma limitação ao uso de recursos visuais, apresentados como uma vantagem
do rádio digital em relação ao analógico. Em todo o caso, e particularmente no jornalismo, será preciso
que estes recursos sejam compreendidos pelos produtores como complementares, para que seu uso
não seja necessário nem habitual aos consumidores, sob pena de descaracterizarem a informação sonora
como uma comunicação audiovisual empobrecida, e desperdiçarem a principal vantagem competitiva do
meio invisível […] (MEDITSCH, 2010, p. 225).
Esta proposição de Meditsch vai de encontro ao proposto por
outros pesquisadores, como Nair Prata e Nélia Del Bianco. Para estas duas
autoras, o novo discurso radiofônico pode conter outros elementos, desde
que o conteúdo principal seja o sonoro e que os outros elementos não sejam
necessários para o entendimento da informação sonora. Ainda é destacado
que a internet “não representa o fim, mas o início de uma nova era, regida
pela digitalização. Desta vez com uma nova linguagem, novos signos
textuais e imagéticos, novo suporte, novas formas de interação e a presença
de gêneros reconfigurados [...]” (PRATA, 2008, p. 02). Já Del Bianco
(2003) afirma que deverá haver mudanças na forma de gestão das
emissoras, bem como na programação e na produção e transmissão de
conteúdos.
Essa variedade de formas de transmissão provocará uma reconfiguração dos atuais conteúdos e das
funções sociais do rádio. É evidente que haverá um aprofundamento da segmentação da programação
para atender diferentes faixas ou segmentos da
48
audiência. […] Diante da possibilidade de transmissão de dados e oferta de serviços
especializados, o rádio não mais se caracterizará como um meio de comunicação exclusivamente
sonoro. Boa parte de seu conteúdo poderá ser lido na tela do cristal líquido do aparelho receptor digital –
portátil e multifuncional – ou em outras plataformas de mídias convergentes (DEL BIANCO, 2003).
1.3 Gêneros e formatos radiofônicos
Muitos pesquisadores já abordaram a questão dos gêneros e
formatos radiofônicos e formularam as suas propostas, mas uma das
classificações mais completas foi apresentada por André Barbosa Filho em
seu livro “Gêneros Radiofônicos: os formatos e os programas em áudio”.
Nesta obra, o autor faz uma divisão de gêneros e formatos que consegue dar
conta das especificidades das informações apresentadas no rádio.
Especificidades essas que vêm sofrendo transformações ao longo dos anos,
alterando o discurso radiofônico.
Um viés para uma nova definição da radiofonia passa
pela configuração das novidades presentes na webradio. Os gêneros no rádio tradicional possuem
uma configuração clara e precisa, já que seu universo é apenas sonoro. Com a internet, porém, os gêneros
conhecidos se reconfiguram, aparecendo novas formas de radiofonia. Inclusive, poder-se-ia dizer que
um novo conceito de radiodifusão deveria ser traçado com o advento do rádio na internet, porque há o
surgimento de novos gêneros e de novas formas de interação (PRATA, 2009, p. 15).
Por gêneros radiofônicos, a conceituação proposta por Barbosa
Filho (2003, p. 58-59) compreende que os gêneros são “um instrumento de
criação na produção profissional e industrializada da informação ao
fornecer pautas precisas, que possibilitam a decodificação da informação
pelo leitor”.
No momento da produção do texto, o gênero é um mecanismo de codificação, uma ferramenta, um
49
código de escritura utilizado pelo sujeito da enunciação para realizar seu trabalho. No momento da
decodificação ele é o que Jauss chama de 'consciência compreensiva', criador de sentido no enunciado, que
permite ao leitor identificar uma determinada intenção (relato ou comentário) (BARBOSA FILHO, 2003, p.
57).
O mesmo autor ainda ressalta que os gêneros geram sentido e
podem ser usados para a produção textual (BARBOSA FILHO, 2003, p.
60). De acordo com a categorização proposta por Barbosa Filho, os gêneros
radiofônicos são os seguintes: jornalístico, educativo-cultural, de
entretenimento, publicitário, propagandístico, de serviço e especial. O
gênero jornalístico permite ao ouvinte atualizar-se através do
acompanhamento, divulgação e análise das notícias veiculadas. Não se
restringe à transmissão imparcial dos fatos, já que cada relato pode possuir
características subjetivas e, portanto, possuir opiniões particulares sobre o
fato (BARBOSA FILHO, 2003, p. 60).
Além dos gêneros, também existem os formatos radiofônicos. Este
conceito é determinado por Barbosa Filho (2003, p. 71-72) como sendo “o
conjunto de ações integradas e reproduzíveis, enquadrado em um ou mais
gêneros radiofônicos, manifestado por meio de uma intencionalidade e
configurado mediante um contorno plástico, representado pelo programa de
rádio ou produto radiofônico”.
Como este estudo restringe-se à análise do modo de produção
radiofônico em webradios informativas, serão especificados apenas os
formatos referentes ao gênero jornalístico. São eles: nota, notícia, boletim,
reportagem, entrevista, comentário, editorial, crônica, radiojornal,
documentário jornalístico, mesas-redondas ou debates, programa policial,
programa esportivo e divulgação tecnocientífica.
Estes formatos abrangem todas as maneiras possíveis de se
apresentar uma informação através de uma emissora de rádio. Mas, como já
afirmado anteriormente, o cenário das webradios pode transformar os
gêneros radiofônicos. Em análise sobre o assunto, Prata (2009, p. 99-103),
que utiliza os gêneros e formatos apresentados por Barbosa Filho, apresenta
as similaridades e diferenças entre os gêneros e formatos radiofônicos e
como estão sendo utilizados atualmente pelas emissoras com presença na
internet e webradios propriamente ditas. Segundo a autora, no tocante ao
gênero jornalístico, não existem mudanças substanciais entre os formatos
das rádios tradicionais e das webemissoras (PRATA, 2009, p. 109).
Existem, porém, formatos mais utilizados, como a notícia, o boletim e a
50 entrevista.
Para definir os gêneros e formatos radiofônicos e especificar as
mudanças advindas com a internet, Prata (2008) realizou um estudo com
emissoras hertzianas, hertzianas com presença na internet e webradios. No
tocante às emissoras hertzianas, a autora destaca que não há muitas
novidades, porque os únicos gêneros encontrados foram os apontados por
Barbosa Filho. Porém Prata informa que há muitos programas que podem
ser considerados uma “constelação de gêneros” devido a possuírem vários
gêneros inseridos dentro de um mesmo programa. No segundo grupo de
rádios (emissoras hertzianas com presença na internet), a pesquisadora
constatou que existem novos gêneros e formas de interação, como a
disponibilização do streaming ao vivo e o podcast. Este último é destacado
por Prata (2008, p. 10) como sendo o único elemento sonoro novo que
passou a ser possibilitado pela web. Outros itens textuais e imagéticos ainda
complementam a informação sonora, como o chat para os usuários,
enquetes, cadastros, etc. Por fim, nas webradios propriamente ditas, a
autora identificou os gêneros e formatos radiofônicos já presentes nas
emissoras hertzianas e algumas tentativas de inserir um novo discurso, mas
nenhum elemento sonoro é exclusivo das webradios (todos os itens também
estão presentes nos outros dois tipos de estações especificadas). Prata
(2008, p. 11) ainda ressalta que as webradios trazem elementos extras no
tocante ao textual e ao imagético e reforça a prestação de serviço ao
público, que já é realizada amplamente pelas emissoras tradicionais
hertzianas. “Desta forma, é possível afirmar que a web contém todos os
gêneros possíveis porque são infinitamente amplas as possibilidades, as
combinações e as reconfigurações geradas pelo ambiente digital” (PRATA,
2008, p. 13).
Sendo assim, a conclusão do estudo realizado por Prata foi a de que
os gêneros radiofônicos existentes passam por uma reconfiguração na
internet, porque agregam elementos variados.
Podemos afirmar que, na internet, acontece uma
reconfiguração por meio da combinação de elementos textuais e imagéticos, aliados aos já tradicionais
elementos sonoros, que transforma os gêneros existentes em outros específicos do suporte digital.
Assim, podemos concluir que os novos gêneros da webradio são o chat, o e-mail, o endereço eletrônico,
a enquete e o fórum, nascidos genuinamente em meio digital. Mas também são novos, no suporte internet,
os tradicionais gêneros radiofônicos hertzianos, como
51
a notícia, a reportagem, os programas diversos, o spot, o jingle e todos os outros elencados por Barbosa Filho
(2003) e encontrados nas webradios pesquisadas. Tratam-se de formas híbridas, nascidas da complexa
tessitura digital da webradio. Mas, como um todo, a webradio pode ser entendida como uma constelação
de gêneros que abriga formatos antigos, novos e híbridos (PRATA, 2008, p. 13).
Em resumo, o rádio brasileiro, bem como seus gêneros e formatos,
passou por reconfigurações e ainda vem se remodelando no atual cenário,
em que há novos dispositivos tecnológicos. Em mais de 90 anos de história
do meio de comunicação, o discurso radiofônico foi adaptado e atualmente
vem incorporando novos elementos, textuais e imagéticos, para
complementar o áudio. No próximo capítulo será abordado o contexto da
convergência, a interatividade com o ouvinte-internauta e a existência das
webradios e do rádio digital.
52
53
CAPÍTULO II – AS WEBRADIOS NO CONTEXTO DA
CONVERGÊNCIA
A presença das novas tecnologias está criando uma cultura própria,
delineada a partir das mudanças impostas pelos aparatos tecnológicos.
Segundo a perspectiva etnozoológica, que analisa a técnica como sendo um
elemento zoológico da evolução e formação dos seres humanos, “o homem
é um ser técnico por definição” (LEMOS, 2010, p. 28). Ou seja, o ser
humano conseguiu evoluir e formar-se a partir da técnica e ela possui um
papel relevante e que não pode ser ignorado na formação dos seres
humanos. Isto ainda é verificado nos dias de hoje, quando o uso constante e
frequente dos novos dispositivos tecnológicos (como os smartphones,
tablets, computadores, etc) faz com que os indivíduos vivam no mundo da
cibercultura.
De acordo com Guimarães Jr. (1997, grifo do autor), “o termo
cibercultura abrange os fenômenos relacionados ao ciberespaço, ou seja, os
fenômenos associados às formas de comunicação mediadas por
computadores”. Segundo o mesmo autor, a cibercultura é uma das
derivações da cultura e é mais ampla do que esta. A diferença entre ambos
os termos é que a cibercultura é caracterizada pelo fato de os dados ficarem
armazenados em dispositivos e outros recursos técnicos. Além disso, a
cibercultura é modificada e define-se a partir do amplo uso, acesso e
eficiência das tecnologias de informação e comunicação (CURY;
CAPOBIANCO; CYPRIANO, 2009, p. 04). Por sua vez, Lemos (2010, p.
26) destaca que “o surgimento da cibercultura não é só fruto de um projeto
técnico, mas de uma relação estreita com a sociedade e a cultura
contemporâneas”.
Assim, a cibercultura está presente em vários aspectos da vida e
impacta também no jornalismo. Ela está intimamente relacionada à
convergência tecnológica que vivemos atualmente e pode ser compreendida
como sendo uma evolução das mais diversas tecnologias que existem,
podendo ser encarada, inclusive, como uma mudança cultural
(KOCHHNANN; FREIRE; LOPEZ, 2011). No entanto, o termo
convergência tecnológica pode ser subdividido de acordo com sua
aplicação no mais diferentes campos. Nas situações em que está relacionada
ao jornalismo, chama-se convergência jornalística.
54 2.1 Convergência jornalística
Os novos aparatos tecnológicos modificam a forma de se produzir
e consumir notícias. Com isso, os jornalistas precisam rever conceitos,
enquanto as empresas de comunicação necessitam se reestruturar e se
adequar à nova realidade. Salaverría e Avilés (2008, p. 32) destacam que o
jornalismo já vem passando pelo processo de convergência e que tanto a
estrutura das redações quanto o modo de produção dos jornalistas vem
sendo modificados no contexto da convergência.
O jornalismo vive submetido hoje em dia a um sem fim de processos paralelos de convergência.
Convergem, por exemplo, as empresas jornalísticas, embarcadas em processo de concentração
semelhantes aos que experimentam outros setores industriais. Assim, as empresas informativas que
antigamente possuíam apenas um núcleo editorial transformam-se rapidamente em grupos multimídia,
com presença em diversos mercados da comunicação. Também as estruturas de produção dessas empresas
se veem afetadas por processos de convergência, pois vivem tempos em que as salas de redação
independentes abrem espaço a novas redações integradas, nas quais são experimentadas fórmulas
diversas de coordenação editorial. Os jornalistas se veem igualmente submetidos a esta espiral da
convergência, já que tendem a acumular trabalhos profissionais – redação, edição, documentação,
fotografia, gravação... - e que antes eram reservados
55
aos especialistas em cada disciplina (SALAVERRÍA e AVILÉS, 2008, p. 32, tradução nossa)
1.
Os autores trazem à tona os questionamentos provenientes do
fenômeno da convergência jornalística e de suas subdivisões em
convergência empresarial, profissional, de conteúdo, etc. O chamado
jornalista multimídia (convergência profissional, em que um mesmo
profissional deve produzir para diferentes meios de comunicação) é cada
vez mais requisitado, tendo que produzir conteúdo para mais de um tipo de
plataforma e aliando vários elementos (sonoros, textuais e imagéticos) para
repassar uma informação. Enquanto isso, percebem-se em alguns veículos
de comunicação que as redações começam a passar por mudanças
estruturais no processo de convergência empresarial. Um dos exemplos que
se pode citar é a redação da BBC (British Broadcasting Corporation), onde
os jornalistas que trabalham na rádio, na televisão ou na internet
compartilham de um mesmo ambiente e, portanto, têm mais liberdade e
possibilidade de discutir pautas e produzir conteúdos em parceria. Isso
significa que os trabalhos de busca, elaboração e difusão de conteúdos
informativos foram modificados, bem como o conceito de meio de
comunicação foi alterado devido à integração entre o audiovisual, a
informática e as telecomunicações (ZARAGOZA apud SALAVERRÍA;
AVILÉS, 2008, p. 32).
Barbosa (2008, p. 88) propõe um conceito para a expressão
convergência jornalística. Segundo a autora, a convergência no jornalismo
é efetivada quando há “integração entre meios distintos, produção de
conteúdos combinando multiplataformas para publicação e distribuição,
convergência estrutural com a reorganização das redações e a introdução de
novas funções para os jornalistas”. Sendo assim, situações que hoje são
1 Tradução livre da pesquisadora. Excerto original: “El periodismo vive sometido hoy día a un sinfín de procesos paralelos de convergencia. Convergen, por ejemplo, las empresas periodísticas, embarcadas en proceso de concentración semejantes a los que experimentan otros sectores industriales. Así, compañías informativas que antaño poseían apenas una cabecera editorial se transforman rápidamente en grupos multimedia, con presencia en diversos mercados de la comunicación. También las estructuras de producción de esas empresas se ven afectadas por procesos de
convergencia, pues viven tiempos en que las salas de redacción independientes dejan paso a nuevas redacciones integradas, donde se experimentan fórmulas diversas de coordinación editoral. Los periodistas se ven igualmente sometidos a esta espiral de la convergencia, ya que tienden a acumular labores profesionales – redacción, edición, documentación, fotografía, grabación... – que antes eran coto privado de especialistas en cada disciplina” (SALAVERRÍA; AVILÉS, 2008, p. 32).
56 consideradas simples (como ler uma notícia pelo computador, ouvir uma
rádio online pelo smartphone ou acessar a internet pelo tablet, etc) podem
ser identificadas como exemplos de convergência, porque não só
modificam a forma como aquele conteúdo foi produzido e disponibilizado
como também alteram a rotina do usuário.
Por outro lado, existe ainda uma visão compartimentada do que é a
cultura digital e como cada elemento pode ser utilizado para produzir a
informação. Costa (2008, p. 16) ressalta que a possibilidade de interação
entre os dispositivos tecnológicos e entre o ser humano e um ou mais
aparelhos poderá trazer a interconexão generalizada, o que nos levaria a
efetivar a convergência.
No caso do jornalismo, a internet e o ambiente da World Wide Web foram ferramentas cruciais para a realização da convergência jornalística.
No entanto, Longhi e Galvão Júnior (2014, p. 02) destacam que a internet
não foi a única tecnologia abrangente que impactou no jornalismo, apesar
de ter sido uma das principais.
Todos os meios de informação e comunicação, sem exceção, foram afetados pela evolução da tecnologia e
a difusão por rede. Organizações midiáticas tiveram que se adaptar a modelos de produção, distribuição e
consumo baseados numa tecnologia inovadora, na qual se anunciava um futuro que ainda tinha muito a
ser aprendido e explorado.
Pode-se entender, então, que a internet e a tecnologia de maneira
geral estão transformando a internet e a forma de relacionamento entre esta
ferramenta e os usuários (AGUADO; FEIJÓO; MARTÍNEZ, 2011, p. 03).
Os dispositivos móveis, como tablets e smartphones, também possuem um
papel relevante para o cenário da convergência digital, pois permitem que o
consumidor de informação tenha acesso a qualquer notícia radiofônica,
televisiva, textual ou imagética apenas com alguns cliques. No entanto, o
que ainda dificulta o acesso amplo à internet, especialmente a móvel, é a
velocidade de conexão de banda larga em muitos países, inclusive no
Brasil. Um ranking da Netflix (serviço de transmissão de conteúdo via
internet no estilo on demand) de setembro de 2014 mostra que o Brasil, em
média, tem velocidade de conexão de 2,53 Mbps. Esta média foi atingida
através da avaliação da velocidade dos principais provedores de internet do
país, sendo eles GVT, Live TIM, Net Virtua, Algar, Telefônica e Oi Velox.
No mundo, a maior média foi a da Suíça, com 3,81 Mbps.
57
Outro empecilho que ainda permanece para o amplo acesso à
World Wide Web é o custo da internet no Brasil. De acordo com o estudo
realizado pelo professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e economista
Samy Dana junto com o estudante de Economia da Universidade Federal de
Viçosa (UFV-MG), Victor Candido, o Brasil tem a segunda internet mais
cara do mundo, sendo que o valor de 1 Mbps por mês é, em média, US$
25,06. A mesma pesquisa ainda levou em consideração a renda per capita
por hora, de US$ 5,00 e chegou ao resultado de que o brasileiro precisa
trabalhar 5,01 horas para pagar a internet mensal de 1 Mbps. O estudo
baseou-se nas informações divulgadas pelos relatórios Internet World Stats
Broadband Penetration, da entidade Internet World Stats, e The State of the
Internet, da consultoria Akamai.
No Brasil ainda há outras questões a serem levantadas quanto à
abrangência da internet. Informações apontadas pela Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD) 2013, divulgada em setembro de 2014,
demonstram que 42,4% dos domicílios têm computadores com conexão à
internet; em números absolutos, essa porcentagem representa 27,6 milhões.
Por outro lado, 48,9% dos domicílios do país têm computador em casa, com
ou sem conexão à internet.
Mesmo com algumas restrições tecnológicas que ainda existem, a
convergência jornalística é uma realidade presente e precisa ser
considerada. “O cenário atual é de atuação conjunta, integrada, entre os
meios, conformando processos e produtos, marcado pela horizontalidade
nos fluxos de produção, edição, e distribuição dos conteúdos [...]”
(BARBOSA, 2013, p. 33). Segundo a mesma autora, todos os tipos de
formatos de conteúdos e as rotinas de produção estão inseridas no contexto
da convergência tecnológica, o que faz com que a divisão existente entre
meios tradicionais e os new media já não exista.
Quando verifica-se o processo ocorrido especificamente no
radiojornalismo, percebe-se que o meio de comunicação foi bastante
modificado. A convergência profissional e a necessidade do jornalista
multimídia foram cruciais para o rádio informativo, já que o jornalista
precisa se adequar a esta nova configuração e ofertar conteúdos não apenas
sonoros, mas também imagéticos e textuais, valendo-se de diferentes
estratégias narrativas e discursos para repassar um mesmo fato ao ouvinte-
internauta. Além disso, ampliam-se o acesso à informação e as ferramentas
utilizadas para o intercâmbio e a transmissão de informações, além de o
ouvinte tornar-se um consumidor de informações ativo, que pode indicar
pautas e entrar em contato com a rádio através de e-mail, telefone,
58 Whatsapp e aplicativos específicos das emissoras (KOCHHNANN;
FREIRE; LOPEZ, 2011).
Meditsch ainda em 1995 já avaliava os potenciais impactos da
tecnologia no rádio informativo. Em palestra à Licenciatura em Jornalismo
da Universidade de Coimbra, o autor destacou:
Quanto ao rádio informativo, os seus dias dourados
são certamente os de hoje e, se algum tempo for melhor do que esse, este tempo está no futuro. Há
mais a aprender sobre a sua linguagem no futuro do
que no passado, embora lá também se possa aprender alguma coisa. A instauração de uma era intelectual
eletrônica redefine a função do rádio informativo no caminho de sua verdadeira vocação: a partir de agora
ele será para o público uma interface sonora com o hipertexto multimedia que vai expressar a aventura
intelectual de nossa civilização. Uma aventura em que o jornalismo representa um dos papéis principais,
contracenando com as ciências e com as artes (MEDITSCH, 1995, p. 09-10).
Apesar de o pesquisador acreditar que os elementos textuais e
imagéticos não são necessários para o entendimento e complemento da
mensagem sonora, Meditsch não ignora as modificações pelas quais o rádio
informativo passa devido ao advento das novas tecnologias. Com o mesmo
tipo de pensamento, Fidalgo (2013, p. 14) aborda as webradios destacando
que os aspectos gráficos não fazem parte do rádio. Porém relata que a
internet é um meio importante para a difusão sonora. Este, portanto, é um
momento de reinvenção do meio de comunicação, que começa a se adaptar
à nova realidade. Porém o advento da internet, o surgimento das webradios
e do rádio digital e a adoção cada vez maior dos telefones celulares como
aparelhos para se ouvir rádio faz com que apareçam novos questionamentos
quanto ao futuro do meio e alguns pesquisadores (como Meditsch e
Fidalgo) aventam a possibilidade de que o rádio, na verdade,
descaracterize-se e transforme-se em um meio de comunicação diferente do
atual.
Com o advento da eletrônica, que tem sua origem no domínio da eletricidade (que já trouxe o rádio e a TV
analógicos), e sua potencialização no digital, estaríamos vivendo a emergência de uma nova
tecnologia intelectual, que pode ter um impacto tão
59
grande ou maior (até porque é incomensuravelmente mais rápida e mais universal) do que a revolução
anterior, marcada pelo surgimento da escrita e sua posterior potencialização na imprensa. A mudança é
de tal ordem que os próprios conceitos de rádio e televisão, ou da internet como apenas uma outra
mídia (à imagem e semelhança das anteriores), aparecem agora como formas antigas de pensar, que
estão longe de dar conta da nova situação. Tudo o que conhecemos por mídia está sendo colocado em xeque
por uma nova tecnologia intelectual (MEDITSCH, 2010, p. 214-215).
Seguindo em direção diferente, Del Bianco acredita que as novas
tecnologias vieram dar fôlego ao rádio. A autora ainda afirma que a
revolução tecnológica pela qual o rádio passa altera o modo de produção da
programação, a distribuição de sinais e a recepção da mensagem emitida e,
por isso, há uma alteração significativa no tocante à emissão da mensagem.
“Diante da possibilidade de transmissão de dados e oferta de serviços
especializados, o rádio não mais se caracterizará como um meio de
comunicação exclusivamente sonoro” (DEL BIANCO, 2003, p. 02).
Ainda de acordo com o pensamento de sobrevida do rádio,
Zuculoto (2012b, p. 151) aponta que, apesar de os novos aparatos
tecnológicos terem modificado a forma de fazer o radiojornalismo, o meio
de comunicação continua tendo um papel importante e há indícios de que
continuará tendo sobrevida.
Entretanto, em nível de potencial, até agora não se
tirou do rádio a característica de ser, entre os meios de comunicação tradicionais, o mais popular e o mais
abrangente em termos de possibilidade de alcançar
maior público. O rádio, agora junto com a internet e inclusive por meio desta plataforma, também
permanece como um dos veículos que detêm maior velocidade de distribuição de informações. [...] Mas
assim como aconteceu quando decretou-se o seu fim pelo advento da televisão, também agora o rádio dá
sinais de que sobreviverá. E não se poderia esperar algo diferente, tanto em relação ao rádio como quanto
às demais mídias tradicionais (ZUCULOTO, 2012b, p. 151).
60 Esta sobrevida citada pela autora está relacionada à adequação do
rádio às novas tecnologias. Se algumas das características deste meio de
comunicação são a instantaneidade, o imediatismo, a mobilidade, a
abrangência, etc, estes aspectos podem ser reforçados com a introdução de
novos dispositivos tecnológicos e da própria internet como ferramenta de
transmissão e recepção de conteúdos. A internet também possui outras
vantagens, como o custo de investimento baixo, a produção radiofônica ser
digital, o prestígio da existência de uma emissora na internet e o fato de os
ouvintes terem um computador para ouvir a programação, o que faz com
que a maioria das emissoras hertzianas também tenham uma página na
World Wide Web e que as webradios proliferem nos mais diversos países do
mundo (FIDALGO, 2013, p. 15).
2.2 Interatividade e redes sociais na internet
Além de readequar os meios de comunicação tradicionais
(inclusive o rádio) e modificar a produção, a transmissão e o consumo de
notícias, os dispositivos tecnológicos também trouxeram novos conceitos e
abordagens. Para este estudo é importante tratar da interatividade. Rafaeli
(apud JENSEN 1998, p. 185) propõe que “interatividade é um termo
amplamente usado com um recurso intuitivo, mas é um conceito
subdefinido”2. O trecho demonstra que o uso da palavra interatividade nem
sempre serve para conceituar o termo. Abordando a dificuldade de
delimitação, Jensen (1998) lembra que:
O significado de termos profissionais – incluindo termos científicos e acadêmicos – é frequentemente
atenuado uma vez que eles ganham aceitação popular no uso diário. E com o explosivo crescimento e
sucesso definido de tecnologias interativas e a
aproximação interativa em anos recentes na forma de gravadores de vídeo, videotexto, sistemas de resposta
de voz baseados em telefones, cartões de bancos, caixas automáticos, serviços online, quiosques de
informação, eletrodomésticos “inteligentes” e, mais
2 Tradução livre da autora. Excerto original: “Interativity is a widely used term with an intuitive appeal, but it is an underdefined concept” (RAFAELI apud JENSEN 1998, p. 185).
61
importante, computadores e multimídia, internet, intranets, WWW, computadores em rede – onde pode
ser dito que a cultura viveu o que podemos chamar de “a virada interativa” -, a interatividade naturalmente
entrou no uso comum (1998, p. 185-186, tradução
nossa).3
Primo (2005a, p. 02, grifos do autor) prefere utilizar o termo
“interação mediada por computador” e, revisitando autores que tratam da
convergência e da cibercultura, define que “a interação é uma 'ação entre' os
participantes do encontro (PRIMO 1997, 1998). Nesse sentido, o foco se
volta para a relação estabelecida entre os interagentes, e não nas partes que
compõe o sistema global”. Ou seja, é um novo modelo de análise, já que os
modelos tradicionais não são suficientes para explicar o fenômeno atual
(JENSEN, 1998, p. 187).
É importante ressaltar que a interatividade pode ocorrer entre dois
ou mais seres humanos ou entre ser humano e máquina. Devido aos vários
níveis de interação, Jensen (1998, p. 191-192) define que a interatividade
pode ser encarada como protótipo, critério ou continuum. A interatividade
como protótipo leva em consideração os padrões de mídia dos tipos
consultivo e conversacional; esta abordagem está mais ligada à visão
sociológica da palavra. Já a interatividade como critério é vista como a
participação ativa do usuário no direcionamento de fluxo do computador ou
programa de vídeo. Apesar de olhar a interatividade relacionada à
comunicação, esta conceituação é limitadora porque é focada em
computadores e vídeo, excluindo outras formas de interação. Por fim, a
interatividade como continuum é definida como uma forma de aceitar a
interatividade a partir de seus vários níveis de dimensões, que pode ser
unidimensional, bidimensional, etc. Assim, a interatividade, neste caso,
pode estar presente em vários tipos de interação entre seres humanos e entre
seres humanos e dispositivos tecnológicos (JENSEN, 1998, p. 187-200).
3 Tradução livre da autora. Excerto original: “The meaning of professional terms – including scientific and academic terms – is often watered down once they win popular acceptance in daily usage. And with the explosive growth and decided success of interactive technologies and the interactive approach in recent years in the form of
video recorders, videotext, telephone-based voice response systems, ATM cards, automatic tellers, on-line services, information kiosks, 'intelligent' household appliances and most importantly, computers and multimedia, Internet, intranets, WWW, networked computers – where it can be said that culture has lived out what we might call 'the interactive turn' – interactivity has naturally entered common usage” (JENSEN, 1998, p. 185-186).
62 No tocante ao rádio, Primo (2005b, p. 02, grifos do autor) avalia
que é necessário analisar o meio de comunicação a partir de suas novas
formas de interação.
Com a Internet, outras formas de interação através do áudio foram sendo desenvolvidas. O chamado Web
Radio, através da tecnologia do streaming, viabilizou a escuta através do computador da programação de
emissoras tradicionais de rádio ou de empresas dedicadas a essa nova forma de produção e
transmissão de áudio. Além disso, diversos sites de “Rádio Web” passaram a oferecer a escuta de músicas
por demanda, permitindo aos internautas selecionar que músicas ou estilos querem escutar.
O autor ainda destaca que o podcast é um novo processo midiático
que possui formas diferenciadas de interação. Apesar de Primo (2005b, p.
03) considerar que o podcast é uma micromídia e é separado do rádio
(mesmo apropriando-se de características deste meio de comunicação), é
interessante analisar as formas de interação permitidas pelas webradios e
pelo podcast. Uma das maneiras de interagir com o ouvinte é por meio das
redes sociais na internet. De acordo com Recuero (2009, p. 24), uma rede
social define-se a partir dos atores e de suas conexões. Os atores
representam as instituições, os grupos ou as pessoas, enquanto que as
conexões são formadas pelas interações. Portanto, uma rede social pode ser
entendida como um grupo social e as associações e as interações ocorrem
nos sites de redes sociais. Recuero (2009, p. 24) diferencia, então, o termo
redes sociais na internet:
O estudo das redes sociais na Internet, assim, foca o problema de como as estruturas sociais surgem, de
que tipo são, como são compostas através da comunicação mediada pelo computador e como essas
interações mediadas são capazes de gerar fluxos de informações e trocas sociais que impactam essas
estruturas.
As fan pages em diversas redes sociais (sendo as cinco mais
utilizadas no Brasil o Facebook, LinkedIn, Twitter, Tumblr e Ask.fm, de
acordo com o relatório de maio de 2014 da ComScore) é uma das maneiras
de interação com o ouvinte-internauta.
63
Diferentemente dos centros monopolistas de transmissão que controlavam a circulação de
informações, as redes digitais da contemporaneidade passam a ser caracterizadas por um fluxo não linear,
que altera significativamente a forma do que chama de esfera global de notícias (PRIMO, 2011, p. 131-
132).
Além de oferecer ao receptor da informação mais possibilidades de
participar do processo produtivo, as redes sociais na internet também
colaboraram na horizontalização do jornalismo, já que os profissionais
podem ter acesso a fontes alternativas e melhorarem o resultado da
apuração jornalística (PRIMO, 20011, p. 134). No entanto, a grande
contribuição das redes sociais reside no funcionamento como o “primado
fundamental da interação social, ou seja, buscando conectar pessoas e
proporcionar sua comunicação e, portanto, podem ser utilizados para forjar
laços sociais” (RECUERO, 2005, p. 07, grifos do autor).
A maioria das empresas, inclusive as jornalísticas, utiliza-se das
redes sociais na internet para ter contato com os usuários que seguem ou
curtem sua fan page e também tentam angariar novos seguidores/curtidores.
Isto ocorre como estratégia de e-commerce, no caso de empresas que
oferecem produtos e/ou serviços pagos, e/ou como maneira de fortalecer a
marca perante um determinado grupo de pessoas. “Os sites de
relacionamento ou redes sociais são ambientes que focam reunir pessoas, os
chamados membros, que, uma vez inscritos, podem expor seu perfil com
dados como fotos pessoais, textos, mensagens e vídeos, além de interagir
com outros membros” (TELLES, 2010, p. 78).
Além das redes sociais existem outras plataformas de mídias
sociais. Dentre elas, pode-se citar os sites de compartilhamento de vídeos
(como o YouTube, por exemplo), de compartilhamento de fotos (como o
Flickr, entre outros), microbloggings (o maior exemplo é o Twitter), os
social games, os sites de compartilhamento de apresentações (também
chamados de media sharing, como o SlideShare) e os podcasts, que são os
representantes sonoros da lista. Cada uma destas plataformas exige
estratégias de engajamento de internautas. No caso do Facebook, principal
rede social utilizada no Brasil, as possibilidades para o usuário são Curtir
um post, Comentar um post ou Compartilhar um post. Cada internauta
também pode Curtir uma fan page, de acordo com as suas preferências
pessoais.
O conjunto de estratégias para angariar novos curtidores/seguidores
e melhorar o relacionamento entre a fan page e os usuários é chamada de
64 SEO (Search Engine Optimization, em tradução livre, Otimização do Motor
de Busca). Segundo Ledford (2008, p. XV), “a SEO se refere às estratégias
de projeto, tanto na página web quanto fora dela, que você pode usar para
melhorar a ordem em que seu site aparece no Motor de busca”, ou seja, no
Google e outros buscadores. De forma indireta este resultado aumenta o
total de curtidores/seguidores da página e do site, o que amplia as
possibilidades de interação nos posts publicados.
Existem duas maneiras para criar um plano de SEO: criar posts
patrocinados (que são pagos) ou fazer a SEO orgânica (que é gratuita). A
primeira traz retorno mais rápido, mas a segunda pode trazer resultados
melhores quando se pensa em interação. A maioria dos social media,
porém, acredita que a mistura entre os dois métodos é a melhor alternativa
(LEDFORD, 2008, p. 23). A partir daí, começa o monitoramento do que
está sendo falado sobre o site ou fan page. O monitoramento pode ser
realizado através de ferramentas específicas, como o Scup (que monitora
tudo o que está sendo postado publicamente sobre a marca nas principais
redes sociais na internet) ou o Google Analytics, uma ferramenta do Google
criada para fornecer relatórios sobre as principais palavras-chave que levam
os usuários até o site. Além disso, o Analytics também pode indicar de
quais países são os usuários que curtem a fan page; basta conectar o serviço
ao Facebook (LEDFORD, 2008, p. 26). Também existe o Google
AdWords, especialmente interessante para as emissoras radiofônicas.
Basicamente, o AdWords é uma ferramenta para criação de anúncios que
aparecem a cada vez que um internauta faz uma pesquisa no Google usando
determinadas palavras-chave. Estes anúncios são pagos por clique
(LEDFORD, 2008, p. 152).
Assim, as webradios podem utilizar estas estratégias e as próprias
redes sociais na internet para angariarem novos fãs, o que garante a
audiência para o streaming, o consumo on demand ou mesmo para os
podcasts.
2.3 A especificidade das webradios
Em seus mais de 90 anos de história, as potencialidades do rádio
foram exploradas por meio do uso dos elementos e recursos radiofônicos,
como ruídos, silêncio, etc. As principais características do meio de
comunicação, como a instantaneidade, a mobilidade, o imediatismo, entre
outros, sempre foram os fatores que fizeram as emissoras sobreviverem às
mudanças tecnológicas e adaptarem-se aos novos contextos. Além disso, o
65 rádio foi o primeiro meio eletrônico com transmissão em tempo real. Em
toda a sua história, o rádio passou por diversas adequações, começando pela
década de 1950, quando a TV começou a ganhar espaço, e permanecendo
até os dias de hoje devido à adoção de novas tecnologias, especialmente os
dispositivos móveis, como os smartphones e tablets, que também se
tornaram ferramentas para a recepção radiofônica. Analisando o uso do
celular como forma de ouvir rádio, Fidalgo (2013, p. 12) destaca:
Se repararmos bem, faz todo o sentido o uso do
celular como rádio de pilhas. Com efeito, o celular transformou-se num acessório pessoal incontornável e
de todo mundo, de novos e de velhos, de ricos e de pobres. Estar sempre contatável telefonicamente é um
imperativo da vida hodierna. Por isso se leva o celular para todo o lado. Ora a portabilidade do celular
assemelha-se à do rádio de pilhas de antigamente, que também se levava para a cama, para o banheiro, para
a praia ou para um banco de jardim. Em ambos os casos é uma companhia que se leva para todo o lado,
a voz sempre presente do mundo ausente.
No entanto, toda essa mudança tecnológica mais recente iniciou
nos anos 1990 com o uso cada vez mais amplo da World Wide Web. Apesar
de a internet como ferramenta tecnológica existir desde os anos 1970, foi
somente a partir dos anos 1990 que o ambiente da World Wide Web passou
a existir e a ser amplamente utilizado. É importante lembrar que
anteriormente a internet era usada por exércitos, universidades e algumas
instituições governamentais. A criação do ambiente da World Wide Web,
portanto, foi crucial para o uso massivo dessa tecnologia, já que foi a partir
do “www” que foi possível separar os mais diversos ambientes existentes
na internet e fazer o processo de tradução do protocolo IP de cada página
para um nome de site viável para a utilização massiva (FIDALGO, 2013, p.
16).
Neste contexto, o rádio também começou a se transformar. A
digitalização do processo de produção e transmissão das emissoras e as
novas possibilidades criadas a partir do suporte da World Wide Web fazem
com que o cenário do rádio seja diferente de qualquer outro momento
vivido pelo meio de comunicação até então. Além disso, o surgimento das
webradios, entendidas nesta pesquisa como sendo emissoras que funcionam
exclusivamente na internet, promove um novo panorama, no qual
concessões governamentais não são mais necessárias e no qual a
66 informação radiofônica pode ser tratada de maneira totalmente
diferenciada, complementando o áudio com imagens, hiperlinks, vídeos e
outros recursos textuais e imagéticos.
A primeira webradio surgiu no Texas, Estados Unidos, com o
nome Klif Radio. A rádio estadunidense começou a funcionar em setembro
de 1995 e conseguiu quebrar um paradigma, mostrando que era viável
montar uma emissora com transmissão de áudio exclusivamente pela
internet. No Brasil, a primeira webemissora foi a Rádio Totem, de Eduardo
Oliva. Sua inauguração ocorreu em outubro de 1998 no Pará e esta é
reconhecidamente a primeira webradio brasileira, apesar de algumas
emissoras tradicionais terem disponibilizado suas programações na internet
ainda em anos anteriores. A grande diferença das webradios em relação às
emissoras hertzianas era a possibilidade de o ouvinte acessar a programação
através do computador digitando a URL do site e acessar a transmissão ao
vivo por meio da tecnologia do streaming, permitindo que o fluxo contínuo
da emissão (característica radiofônica) permanecesse.
No entanto, a transmissão digital possui outras maneiras de
propagação do conteúdo, já que transforma as ondas sonoras em códigos
binários, que são utilizados na informática. De acordo com Bufarah Júnior
(2010, p. 578), três são as formas de transmissão de áudio pela internet: o
streaming, on demand e o podcast. O streaming é caracterizado pelo ao
vivo, ou seja, a estação de rádio transmite os pacotes de dados ao mesmo
tempo em que está sendo realizada a produção e/ou a veiculação. O modelo
on demand é uma característica própria das webradios, ou seja, não existe
no rádio tradicional. Basicamente, este modelo de transmissão é “sob
demanda”, quando o arquivo de áudio fica disponível no site para o ouvinte
acessar e ouvir quando e onde quiser. Por fim, o podcast é bastante
parecido ao on demand; a diferença entre esses dois modelos é que o
podcast usa o sistema RSS (sigla para Really Simple Syndication), que
indica através de feeds quais são os podcasts disponíveis e que podem
interessar ao ouvinte, e o arquivo de áudio é baixado imediatamente para o
computador do usuário que assina o feed, podendo ser acessado e ouvido
em qualquer dispositivo, mesmo sem conexão simultânea com a internet
(BUFARAH JÚNIOR, 2010, p. 578).
Apesar de as webradios existirem há mais de 10 anos, não existe
consenso entre os pesquisadores sobre qual é o melhor conceito para este
tipo de meio de comunicação. Neste trabalho, o conceito adotado entende
que uma webradio é uma emissora que transmite somente pela internet.
Esta ideia parte dos pressupostos de Prata (2009, p. 46-47), que afirma que
existem atualmente três tipos de estações: analógicas (também chamadas de
67 hertzianas, que transmitem somente pelas ondas eletromagnéticas e são
ouvidas através do aparelho de rádio tradicional), hertzianas com presença
na internet (emissoras que transmitem pelas ondas eletromagnéticas, mas
que também possuem sites na internet nos quais a programação pode ser
acessada ao vivo, on demand e/ou através de podcasts) e webradios (ou
seja, emissoras que transmitem exclusivamente pela internet e não têm
canais AM ou FM). Estas últimas possuem características próprias, sendo
que uma das suas principais particularidades é o fato de não serem
regulamentadas por concessões federais. Este aspecto incentiva a
proliferação das webemissoras em todo o país4.
Além disso, uma pesquisa divulgada pela Associação Brasileira de
Emissoras de Radiodifusão (Abert) em outubro de 2012 mostra que a
internet é importante para o processo de produção, transmissão e recepção
das rádios brasileiras. De acordo com o levantamento, do total de emissoras
hertzianas do Brasil, 91,3% possuem sites na World Wide Web. Deste
percentual, 84,1% oferece o link “Ao Vivo”, ou seja, disponibiliza a sua
programação através da internet. Mais recentemente, o IBOPE Media
realizou a pesquisa Jovem Digital Brasileiro sobre o consumo de mídia no
Brasil e chegou-se à conclusão que o consumo da internet aumentou 50%
entre 1993 e 2003, atingindo 85% de presença entre os jovens brasileiros.
Apesar disso, este grupo da população também continua consumindo os
meios tradicionais (rádio, TV e jornal), sendo que 68% ouve rádio
regularmente. Este meio de comunicação também é utilizado como meio de
informação por 39% dos jovens. A Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD) 2013 aponta, porém, que o total de residências com
aparelhos de rádio teve um decréscimo de 2,3 milhões, mas o receptor ainda
está presente em 75,7% do total de casas brasileiras.
Assim, a possibilidade de utilizar componentes não relacionados
originalmente à radiofonia é algo que não pode ser ignorado pelos
pesquisadores, independemente do consenso sobre o uso de elementos
textuais e imagéticos como complementação ao áudio.
Qualquer cenário sobre o futuro do rádio tem que
levar em conta um rearranjo dos sistemas produtivos a partir da grande rede e das convergências que
4 Não há pesquisa oficial que informe quantas webradios existem no Brasil. Porém o site www.radios.com.br traz 3.409 resultados nesta categoria que abrange emissoras hertzianas com presença na internet e rádios com transmissão exclusiva pela internet. Disponível em <http://www.radios.com.br/cnt/resultado/33/web/Brasil>. Acesso em: 23 ago. 2014.
68
possibilita. Os papéis tradicionais de produção e de distribuição de conteúdos, antes controlados pela
mídia graças a seu controle sobre esta distribuição, tendem a ser rearranjados, como já acontece em
relação à produção musical na internet (MEDITSCH, 2010, p. 223).
O modo de transmissão e de consumo das notícias é alterado nas
webradios (já que existe a possibilidade do streaming, do podcast e do on
demand), assim como a rotina de produção também precisa se adequar à
realidade atual. Hoje, os jornalistas interagem mais com o ouvinte, que
também é um produtor de informação, por meio de e-mails, telefonemas,
mensagens SMS, mensagens por Whatsapp, uso dos aplicativos específicos
das emissoras, etc. As intervenções ao vivo dos repórteres também são mais
fáceis, já que o celular permite que se entre em contato de qualquer lugar e
a qualquer momento, basta ter sinal da operadora que fornece o serviço. Por
sua vez, a internet serve como fonte de informação e não apenas como uma
ferramenta para transmissão do conteúdo sonoro (LOPEZ, 2010, p. 65).
Levando estas alterações em consideração, concorda-se com a linha
de pesquisadores que entendem que, mesmo agregando novos elementos, o
rádio continua tendo sua essência preservada desde que o áudio ainda seja o
item principal.
O elemento-chave do rádio continua sendo o som, só que agora com a agregação de novos signos nos
campos textual e imagético gerados pela web. O som passa a ser o elemento definidor, o divisor de águas, o
ponto de partida e de chegada da radiofonia. No rádio,
o som deve ter sentido por si próprio, sem a necessidade do apoio do texto ou da imagem, como
em outras mídias (PRATA, 2009, p. 73-74).
A partir desta explicação de Prata, podemos designar a webradio
como sendo uma emissora de rádio que funciona exclusivamente pela
internet, agregando elementos textuais e imagéticos ao conteúdo sonoro,
mas mantendo a primazia da sonoridade. “É, sem dúvida, um novo rádio.
Sabe-se que ele é multimídia e multiplataforma. Mas ainda não se conhece ao certo os caminhos que irá trilhar” (LOPEZ, 2010, p. 116). Ou seja, o
futuro do rádio e sua readequação ainda está em andamento e pode se
cruzar com a implantação do rádio digital hertziano, que ainda não ocorreu
no Brasil.
69 2.4 Rádio Digital
Além das emissoras AM e FM e das webradios, também existe o
rádio digital por ondas hertzianas, que foi implantado em alguns países do
mundo. No Brasil, existem vários estudos e discussões, mas, até outubro de
2014, o governo brasileiro ainda não tinha definido qual o melhor modelo
para implementação. Discussões entre governo e pesquisadores levantam os
prós e os contras da implantação do rádio digital, que pode servir para dar
mais qualidade de áudio e oferecer outras possibilidades de interação ao
ouvinte, porém pode trazer prejuízos quanto ao alcance do sinal – o que
faria com que regiões ainda isoladas do território brasileiro deixassem, aos
poucos, de contar com a cobertura radiofônica.
Os padrões de rádio digital que podem ser implementados no Brasil
são divididos em dois grupos: in-band e out-of-band. O sistema in-band
inclui o sinal digital no mesmo espectro de frequências do sistema
analógico, utilizado atualmente. Já o modelo out-of-band transmite o sinal
digital a partir de uma nova faixa de frequência, não tendo relação alguma
com o atual espectro analógico.
Inclusos no sistema in-band estão os formatos HD Radio (ex-
IBOC) e DRM. O HD Radio é o sistema utilizado nos Estados Unidos que
permite a transmissão digital via terrestre ou por satélite tanto para
emissoras AM quanto para FM. Já o DRM é um dos padrões europeus e
serve exclusivamente para rádios AM. Entre os tipos out-of-band estão os
sistemas DAB, ISDB e DMB. O DAB é o sistema adotado pela Europa para
o espectro FM. O ISDB é proveniente do Japão e consegue convergir o
rádio com a TV digital. No entanto, pode ocasionar problemas em alguns
países devido a divergências regulatórias, como apontado por Prata (2009,
p. 55). Por fim, o sistema DMB foi criado pela Coreia a partir do sistema
DAB. A diferença do DMB para o padrão europeu é o fato de ele ter uma
faixa mais estreita na plataforma multimídia e de adotar muitos recursos
tecnológicos, entre eles a possibilidade de transmitir vídeo e áudio
associados.
Em qualquer um destes sistemas, porém, a expectativa quanto ao
rádio digital é grande. Muito se fala na melhoria da qualidade do sinal das
emissoras (AM com som de FM e FM com som de CD), nas possibilidades
de interatividade ofertadas ao consumidor de informação, nas alternativas
da produção de conteúdo oferecidas pelos recursos tecnológicos, etc. No
entanto, esta pesquisa baseia-se na premissa de que a webradio oferece
quase todos os benefícios do rádio digital (excluindo-se apenas a qualidade
do som, que também depende da velocidade da internet banda larga), com a
70 vantagem de existir em todo o mundo, de ser um formato já em
funcionamento e de não requerer a compra de um aparelho diferenciado
para que a webemissora seja acessada (para acessar uma webradio, basta ter
um computador, tablet ou smartphone com acesso à internet, enquanto que
o rádio digital requer um aparelho específico para receber o sinal; por isso,
o equipamento para o rádio digital é muito mais caro e, em muitos países,
inacessível para parte da população).
Meditsch (2010, p. 208) aborda as dificuldades do rádio digital no
seu artigo “A Informação Sonora na Webemergência: sobre as
possibilidades de um radiojornalismo digital na mídia e pós-mídia”. O autor
lembra que, em 2008, os radiodifusores brasileiros queriam adotar o sistema
HD-Radio para o rádio digital. Apesar de não ter sido definido nenhum
padrão, Meditsch destaca que, até 2006 nos Estados Unidos, apenas 7% das
emissoras de rádio tinham aderido ao novo formato de transmissão e
aquelas que aderiram ao sistema acabaram arrependendo-se, devido ao alto
valor de implantação do rádio digital e à baixa adesão do público. Na
Europa, o pesquisador cita o mesmo problema, informando que vários
países chegaram a cancelar a ideia de implantar o sistema por perceberem
que as mudanças não seriam significativas.
No Brasil, muitos pesquisadores aguardam com grande expectativa
a implantação da internet 4G na maior parte das cidades brasileiras. Del
Bianco (2010, p. 91) destaca que “a tecnologia digital traz em si promessas
de revolucionar o rádio. A mais evidente é a possibilidade de diversificação
do conteúdo da programação [...]”. Carvalho e Pieranti (2010, p.151-152),
por sua vez, sugerem que o rádio está passando por uma mudança nunca
presenciada em seus mais de 90 anos de história e que a tecnologia do rádio
digital vem dar fôlego ao meio de comunicação.
O rádio digital tem potencial para dar ao meio
competitividade em relação às outras mídias com qualidade digital. Hoje em dia muitos jovens já não
escutam rádio por causa de certas dificuldades, principalmente em modo AM: a banda, muito estreita,
não permite a oferta de novos serviços ou significativas melhoras de qualidade no áudio.
Apresenta também problemas de propagação, e facilmente o ouvinte perde o sinal em locais como,
principalmente, túneis (CARVALHO; PIERANTI, 2010, p. 152).
71
Abordando as possibilidades do rádio digital, Mota e Tome (2005,
p. 61) propõem que as possibilidades dos novos dispositivos devem ser
encaradas como um triângulo, cujos vértices são compostos por elementos
diferenciados: em um vértice está a TV digital, sendo que os autores
destacam que, neste caso, é simplesmente a digitalização do sistema
analógico, que resulta na melhoria da qualidade do sinal, sem outros
benefícios; no vértice oposto está o rádio digital também como sendo a
mera digitalização do analógico; e no terceiro vértice está presente a
convergência dos meios, o que, segundo os autores, configura uma nova
forma de comunicação eletrônica. Neste terceiro vértice alguns elementos
devem estar obrigatoriamente presentes para que a convergência seja
caracterizada, sendo eles a interatividade, a possibilidade de se obter
conhecimento no momento em que o receptor desejar e o fato de o usuário
tornar-se ativo na produção e na divulgação do conhecimento. A
interatividade, porém, é o ponto fundamental deste terceiro vértice do
triângulo (MOTA; TOME, 2005, p. 61). Assim, o rádio digital deverá ser
muito mais do que apenas a melhoria da qualidade do sinal para que a
tecnologia justifique a sua implantação no país.
Por isso, existem pesquisadores que têm mais cuidado em suas
avaliações. Tome (2010, p. 79) aborda a questão da melhoria na qualidade
do áudio, afirmando que é necessário ter cautela mesmo que exista um
consenso quanto aos benefícios do rádio digital. Para Magnoni (2010, p.
119),
É presumido que a digitalização não irá reescrever
totalmente a cultura radiofônica consolidada no trajeto social de um veículo que já resistiu e se
adaptou à concorrência do cinema sonoro, da televisão, do videocassete e da informática, bem
como de todas as suas ferramentas versáteis de comunicação e entretenimento. De imediato, o novo
processo apresentará poucas rupturas e muitas readaptações em matrizes clássicas da programação
das emissoras, que foram desenvolvidas, copiadas, aperfeiçoadas ou reinterpretadas desde meados dos
anos 1930.
Ainda na mesma linha de pensamento, Meditsch relata as
dificuldades de implantação e utilização do rádio digital no Brasil e em
outros países. Abordando as experiências europeias, o autor relata que “em
vários países europeus, o rádio digital não decolou, e em alguns altamente
72 desenvolvidos ele já foi até abandonado como projeto” (MEDITSCH, 2010,
p. 208). O autor ainda destaca que “se a digitalização do rádio continua a
parecer inevitável, como já parecia há dez anos, e se o desaparecimento do
rádio analógico continua sendo uma questão de tempo, a verdade é que a
transição para o digital não tem ocorrido da forma como se previa”
(MEDITSCH, 2010, p. 217). Ou seja, o autor entende que a transição para a
transmissão digital está ocorrendo através da internet e não por meio do
rádio digital por ondas hertzianas.
Diante dos problemas e limitações apontados por estes e outros
pesquisadores, entende-se nesta pesquisa que as webradios são uma
alternativa viável para o rádio digital, com a facilidade de não requerer um
aparelho específico para a recepção do sinal, como apontado anteriormente.
Além disso, a vantagem competitiva das webradios é aumentada
com a adesão à internet 4G. A primeira cidade do Brasil a ser beneficiada
com esta velocidade mais alta de transmissão de dados foi Recife (PE), no
final de 2012. Porém o sistema está se expandindo rapidamente para outros
municípios do país. De acordo com o cronograma mais recente divulgado
pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), apenas as capitais e
cidades com mais de 500 mil habitantes já usufruem da tecnologia. Até
dezembro de 2015, todas as cidades com mais de 250 mil habitantes serão
contempladas; as cidades com mais de 100 mil habitantes terão a internet
4G até dezembro de 2016; e os municípios com mais de 30 mil habitantes
contarão com a tecnologia até dezembro de 2017.
Com isso, verificou-se neste capítulo que as webradios estão
inseridas no contexto da convergência. As webemissoras conseguem
manter as mesmas características do rádio hertziano (instantaneidade,
mobilidade, imediatismo, etc), ao mesmo tempo em que acrescentam outras
possibilidades discursivas, como elementos textuais e imagéticos. No
entanto, a primazia numa webradio sempre deve ser o elemento sonoro. Em
relação ao rádio digital, existe a possibilidade de ele ser implantado no
Brasil, mas ainda não se chegou a um consenso sobre o melhor formato a
ser adotado. Em outros países do mundo, especialmente da Europa e os
Estados Unidos, o rádio digital não teve aceitação de grande parte da
população, o que impediu a adesão de muitas emissoras a esta nova
tecnologia. Portanto, as webradios permanecem sendo uma boa alternativa
para os ouvintes-internautas, especialmente devido à implementação da
internet 4G, que deve melhorar a velocidade de navegação.
73
CAPÍTULO III – RÁDIO AL: WEBRADIO OU RADIOAGÊNCIA?
A Rádio AL é a emissora de rádio da Assembleia Legislativa do
Estado de Santa Catarina (Alesc). A webemissora enquadra-se no conceito
utilizado na pesquisa por ser um veículo voltado exclusivamente para a
transmissão da programação via internet; portanto, sem existência de canais
nos espectros AM ou FM. Sendo a primeira webradio entre as Assembleias
Legislativas do país, a Rádio AL também foi o primeiro veículo radiofônico
estruturado da Alesc (antes da emissora havia apenas o serviço de
radioagência).
O acompanhamento da rotina produtiva da webradio foi realizado
durante uma semana, entre os dias 24 e 28 de março de 2014. O horário de
acompanhamento deu-se da seguinte forma:
Tabela 01 – Horário de acompanhamento da Rádio AL.
Fonte: produzido pela autora.
Desde o início da pesquisa, o objetivo foi o de acompanhar a
emissora em seus dois horários de funcionamento (manhã e tarde). A
pesquisadora optou por acompanhar na segunda (24), na quinta (27) e na
sexta (28) pela manhã devido à transmissão do único programa ao vivo da
programação da Rádio AL (Esporte na Rede) naquele momento e também
porque as sessões do Parlamento Estadual e as Comissões Ordinárias
ocorrem nas terças e quartas-feiras à tarde e nas quintas-feiras pela manhã.
Estes três dias da semana também são os de maior movimento na Casa, já
que as segundas e as sextas-feiras são reservadas para a ida dos deputados
aos municípios do interior e o retorno deles.
3.1 História
A história da Rádio AL confunde-se com a história do serviço
radiofônico que existia na Assembleia Legislativa de Santa Catarina antes
de 1999. Não há registros sobre o início do serviço radiofônico na Casa,
mas já existia uma equipe de repórteres constituída, que produziam
matérias radiofônicas. Estas notícias serviam para suprir o serviço de
74 radioagência, permitindo que emissoras do interior tivessem acesso ao que
estava acontecendo na Alesc, como os projetos de lei em tramitação,
propostas dos deputados estaduais, discussões que interessam à comunidade
catarinense, etc.
Todas as matérias produzidas eram disponibilizadas para as rádios
do interior. O envio do material ocorria através de linha telefônica, o que
ocasionava perda da qualidade do áudio, entre outros problemas. Apesar
disso, o serviço de radioagência atingia a maior parte das emissoras
radiofônicas de Santa Catarina, inclusive aquelas situadas em cidades
menores e em regiões mais afastadas da capital, como o Oeste, por
exemplo.
Até 1999, portanto, todo esse material radiofônico era produzido
pela Assembleia Legislativa, mas não havia divulgação por meio de uma
emissora própria. As matérias eram encaminhadas diretamente às rádios do
interior, que podiam editar o material ou utilizá-lo na íntegra. Como o envio
das matérias era feito por telefone, havia limitação de tempo e recursos
utilizados, já que isso impactava diretamente na transmissão do material por
linha telefônica e poderia até mesmo impossibilitar o recebimento do áudio
na íntegra.
Devido a essas dificuldades técnicas e por não existir um espaço de
divulgação das matérias radiofônicas da Alesc surgiu a ideia de criar uma
webradio. A primeira webemissora no Brasil tinha sido criada em 1998 e,
neste mesmo ano, a novidade chegou até os profissionais da Assembleia.
Um dos repórteres que na época já trabalhava no serviço radiofônico da
Casa é Eduardo Rocha, que encampou a ideia de implantar uma webradio,
ampliando o serviço de radioagência que existia até aquele momento. Ou
seja, o serviço de radioagência continuaria a existir, as matérias ainda
seriam enviadas para as emissoras do interior, mas a Assembleia
Legislativa teria um espaço próprio de divulgação de seu material, que
contaria também com uma programação musical e jornalística.
A ideia inicial de implantação da webradio Rádio AL surgiu em
1998, mas a necessidade de mudanças técnicas e de equipamentos,
investimentos e capacitação profissional fez com que a primeira
transmissão acontecesse um ano depois, em 1999. Mesmo assim, a Rádio
AL é pioneira, sendo a primeira webemissora de uma Assembleia
Legislativa do Brasil. Segundo Rocha, durante entrevista concedida à
pesquisadora, houve certa dificuldade para que fosse aceita a ideia da
implantação da webradio, mas o serviço não só foi aceito, como serviu de
referência a outras Casas Legislativas do país.
75
“Nós iniciamos um trabalho aqui de renovação do estúdio. Nós passamos de uma plataforma analógica para uma plataforma
digital. E nas conversas com o pessoal técnico, sobre as alterações, nós ficamos sabendo do MP3 e do streaming de áudio e a decisão
que eu levei ao nosso presidente da Assembleia foi a de utilizar o serviço de rádio também na internet. Isso resolveria uma série de
problemas da gente, porque nós não tínhamos perspectiva de ter uma rádio convencional aqui na Assembleia Legislativa, essa
perspectiva sempre foi um pouco distante pelo caráter do serviço que a gente tinha aqui” (Informação verbal)
5.
Os primeiros anos foram de dificuldade, já que o objetivo do
serviço de radioagência sempre foi o de divulgação do trabalho realizado na
Alesc; ou seja, mais próximo da assessoria de imprensa. Assim, foi
necessário criar uma programação jornalística para a webemissora, montar
toda a programação e manter o serviço de radioagência. De acordo com
Rocha, as primeiras limitações foram técnicas, já que equipamentos novos
precisavam ser adquiridos para o início da transmissão digitalizada. O
estúdio precisou ser totalmente remodelado, computadores foram
comprados e os profissionais começaram a ter que aprender a trabalhar com
esta nova realidade que se apresentava.
Num primeiro momento, o foco foi a reestruturação do estúdio, a
compra de novos equipamentos e a adequação da equipe (repórteres e
operadores de áudio). Em seguida, o site da Rádio AL foi criado e as
matérias começaram a ser disponibilizadas através do streaming de áudio.
A implantação do serviço como rádio online efetivamente aconteceu numa
terceira etapa, mas a transmissão ainda era apenas interna, ou seja, para os
funcionários e deputados da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, já
que a internet que existia naquele período na Alesc não comportava a
transmissão da programação ao vivo através do site. A partir do momento
em que surgiu a banda larga, no começo dos anos 2000, a programação
passou a poder ser acessada de qualquer parte do Brasil e do mundo.
No entanto, desde a criação da página na internet, a diferença na
produção e na transmissão de notícias foi verificada imediatamente. Se
antes de 1999 não existia uma rádio estruturada (o que implicava em não
haver a presença de audiência) e a radioagência da Alesc transmitia as
matérias produzidas através do telefone, depois deste ano foi possível ter
5 Informação retirada da Entrevista 02 concedida por ROCHA, Eduardo. [25 mar. 2014]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis - SC. Arquivo documento transcrito no apêndice 02 da dissertação.
76 um público direto da webemissora e a transmissão das notícias para as
rádios do interior passou a ser feita através da internet. Esta característica
impactou a qualidade do material produzido, já que a transmissão via
telefone poderia prejudicar a qualidade do áudio. Com a internet, as
matérias passaram a ser postadas no site através do streaming e as rádios do
interior simplesmente fazem o download do material que interessa,
poupando tempo e melhorando a qualidade do som. É importante ressaltar
que esta mudança na produção e na transmissão das matérias exigiu
também uma alteração para as emissoras do interior de Santa Catarina, que
precisaram se adequar à nova realidade para ter acesso às matérias e às
reportagens produzidas pela Rádio AL, conforme relata Rocha:
“Eu, na época, classificava isso como um fenômeno da nova era do
rádio, porque isso permitiu um crescimento fantástico para a audiência das rádios, porque cessou o limite das ondas. O limite
agora estava na tecnologia de banda larga e, à medida que foi se ampliando a estrutura dos cabos de transmissão por fibra óptica e
novas condições foram criadas, aí então se tornou uma coisa fácil de escutar. E muito fácil de fazer” (Informação verbal)
6.
Desde 1999 até hoje, a Rádio AL passou por várias mudanças na
produção e na transmissão das matérias, além de alterações na equipe de
repórteres e coordenadores.
3.2 Estrutura
A estrutura da Rádio AL confunde-se com a constituição dos
outros veículos de comunicação presentes na Assembleia Legislativa de
Santa Catarina. Atualmente, o setor de comunicação da Alesc é composto
por três veículos: a Rádio AL, a TV AL e a Agência AL. Os três veículos
partilham o mesmo espaço físico e muitas vezes produzem pautas em
conjunto. No caso da webradio e da TV, alguns programas também são
realizados de forma associada e são veiculados em ambas as programações.
Não existe um lugar específico para a organização dos profissionais
da Rádio AL. Eles dividem a sala junto com as equipes de reportagem da
6 Informação retirada da Entrevista 02 concedida por ROCHA, Eduardo. [25 mar. 2014]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis - SC. Arquivo documento transcrito no apêndice 02 da dissertação.
77 TV e da Agência. O local é uma sala grande e parte das mesas ficam
dispostas no formato da letra “L”, enquanto que o restante fica organizada
em paralelo. No total, existem cerca de 16 lugares disponíveis, com
aproximadamente 10 computadores. Especificamente para a Rádio AL
estão disponibilizados quatro computadores (mas um não estava
funcionando durante o período de acompanhamento). Apesar de os
profissionais dos três veículos trabalharem num mesmo espaço físico, a
rádio tem o seu corpo de profissionais específico, como será abordado a
seguir.
Além disso, o compartilhamento da sala não impede a marcação
dos lugares relativos a cada profissional. Os computadores utilizados por
eles também são bem definidos. Como há atividades de manhã e à tarde,
cada repórter divide o equipamento com um dos colegas que trabalha no
outro período. Cada um deles tem um login específico na máquina, o que
evita o acesso a informações pessoais e profissionais salvas no computador.
Para a gravação de entrevistas há três gravadores disponíveis para os
repórteres.
O único local exclusivo da emissora é o estúdio, uma sala em que
não há divisão entre os locais destinados à gravação e à edição. Neste
espaço físico há três computadores: um para pesquisas e outros trabalhos,
outro para o controle e agendamento da programação e um terceiro para a
edição e a gravação dos áudios. Ainda estão inseridos dois microfones no
estilo “girafa” e mais um microfone extra, usando somente para o programa
Esporte na Rede, que conta com um apresentador e dois comentaristas. Há
uma mesa de gravação e uma híbrida, o que permite a entrada ao vivo de
repórteres e entrevistados.
Os equipamentos da rádio são praticamente todos da época em que
a emissora foi implementada. Desde 1999, o estúdio não passou por novas
reformulações ou reformas.
3.3 Profissionais
A equipe da Rádio AL é composta por, no total, 13 profissionais
em sua redação. A divisão é feita da seguinte forma: um coordenador, cinco
repórteres, uma produtora e uma estagiária na produção, além de quatro
operadores de áudio e um estagiário na técnica. Dois repórteres trabalham
no período matutino e dois no período vespertino. Na parte técnica, também
é feita a divisão entre os funcionários de acordo com o horário de trabalho.
Dois operadores de áudio trabalham no período matutino e dois no período
78 vespertino.
Dentre os repórteres, uma profissional é indicada no site como
Chefe de Jornalismo. Já entre os operadores de áudio, um é designado
Chefe de Operações e outro é o Chefe de Programação. O atual
coordenador da webradio assumiu o cargo no início de fevereiro de 2014. O
coordenador é jornalista e possui experiência em rádio e televisão
comerciais, sendo esta a primeira vez que trabalha numa webradio pública.
Ele também participa do programa Esporte na Rede como comentarista.
Os cinco repórteres também são jornalistas graduados. Conforme
afirmado anteriormente, uma profissional é apresentada como Chefe de
Jornalismo, já que está há mais tempo ocupando o cargo de repórter na
Rádio AL. A repórter começou a trabalhar na Assembleia Legislativa ainda
em 2011, mas, nas duas primeiras semanas, trabalhou como funcionária de
uma equipe que prestava serviço aos três veículos de comunicação. No
entanto, como demonstrou ter vontade de trabalhar na Rádio AL, foi
realocada. Esta profissional trabalha no período vespertino.
Outros três repórteres também faziam parte da equipe da
webemissora. Dois deles estão alocados na Rádio AL desde 2012, sendo
que um trabalha no período matutino e outro no vespertino, enquanto que a
terceira repórter entrou no setor de Comunicação da Alesc também em
2012, mas trabalhava na TV AL. No início de 2014, pediu para ser
transferida para a Rádio AL e trabalhou algumas semanas no horário da
manhã, mas voltou a fazer parte da equipe da TV após a semana de análise,
como foi verificado nas páginas web da Rádio AL e da TV AL. Todos são
jornalistas graduados. No período de acompanhamento realizado, um dos
repórteres esteve cobrindo um evento da Assembleia Legislativa em
Campos Novos, cidade do Meio-Oeste catarinense. Portanto, não houve
contato da pesquisadora com este profissional.
Ainda há um quinto repórter que compõe a equipe da Rádio AL.
Este profissional já atuava na época em que existia apenas o serviço de
radioagência. Junto a outros colegas da época, conseguiu colocar em prática
a implementação da primeira webradio de uma Assembleia Legislativa do
Brasil. De lá para cá, já atuou como coordenador, mas foi retirado do cargo
há muitos anos. Desde então, atua como repórter, âncora ou auxilia na
produção dos programas, dependendo das ordens da coordenação da rádio
naquele momento. No período analisado foi citado como repórter e
compareceu à redação da Rádio AL, mas não participou da produção de
nenhum programa ou reportagem/matéria.
A produção dos programas é feita por uma profissional. O foco
principal da produtora é o programa Esporte na Rede, mas ela também
79 auxilia esporadicamente na produção de outros programas. Na semana de
acompanhamento, esta profissional esteve focada somente na produção do
programa esportivo. Suas funções compreendem definir junto com o
coordenador da rádio o tema do Esporte na Rede e entrar em contato com
possíveis entrevistados. Além disso, a produtora também revisa os textos do
site postados pelos repórteres e ouve os áudios, indicando qualquer erro que
possa existir. O horário de trabalho é durante manhã e tarde. Esta
profissional não é jornalista formada, mas possui aproximadamente 20 anos
de experiência como radialista. Trabalhando junto a esta produtora há uma
estagiária, que cumpre carga horária menor, sempre no período vespertino.
No entanto, na semana de acompanhamento, verificou-se que ela não
comparece ao estágio todos os dias. A estudante faz a graduação de
Comunicação Social – Publicidade e Propaganda.
Na parte técnica, existe o Chefe de Programação, que é um dos
funcionários mais antigos do setor de Comunicação da Assembleia
Legislativa do Estado de Santa Catarina. Atualmente, ajuda a postar as
matérias no site e cuida da parte técnica do programa Esporte na Rede.
Também cuida da programação para que a rádio funcione 24 horas por dia e
avalia se alguma alteração é necessária. Fazendo um trabalho conjunto está
o Chefe de Operações da Rádio AL, que é responsável pelos equipamentos
e softwares, garantindo que eles não estraguem ou fiquem ultrapassados.
Este profissional também faz a técnica da gravação de matérias sempre que
é necessário e resolve qualquer problema operacional que acontece na
webradio.
Outros dois profissionais trabalham na área técnica da Rádio AL.
Ambos são operadores de áudio e fazem a técnica da gravação das
reportagens, além de editarem o material sonoro. Uma das operadoras é
jornalista formada, mas entrou na Rádio AL para ser operadora de áudio em
2010. Devido à sua formação acadêmica foi convidada a integrar a equipe
de reportagem no início de 2011, já que, naquele período, existia uma
carência de profissionais na webemissora. A profissional atuou como
repórter durante alguns meses, mas não quis continuar exercendo a função e
pediu para voltar ao seu cargo original, de operadora de áudio. Hoje cumpre
o período vespertino na Rádio AL ao mesmo tempo em que atua como
assessora de imprensa freelancer. Também há um estagiário na parte
técnica da Rádio AL.
Além destes profissionais, também é necessário destacar a
colaboração de outros dois funcionários da Alesc que contribuem para o
programa Esporte na Rede. Ambos são funcionários de outros setores da
Assembleia Legislativa, mas participam da rádio por gostarem do veículo e
80 de fazer matérias sobre esporte. Um destes profissionais eventualmente
contribui para a produção do programa esportivo e atua como comentarista.
O outro profissional é radialista e possui muita experiência na função.
Devido à colaboração periódica destes profissionais, o coordenador
da Rádio AL demonstrou o desejo de trazer estes e outros profissionais
alocados em diversos departamentos da Alesc para integrarem a equipe da
webemissora. Todos os profissionais seriam realocados para poderem
participar efetivamente da produção dos programas e matérias da webradio,
tornando-se funcionários do setor de comunicação. Este, porém, era apenas
um projeto no momento em que o acompanhamento foi realizado.
3.4 Rotina Produtiva
Como abordado anteriormente, os profissionais são divididos entre
os dois períodos de funcionamento da Rádio AL (manhã e tarde) e os
momentos de mais atividade dependem dos horários das sessões e das
comissões ordinárias e extraordinárias realizadas na Casa Legislativa.
Sendo assim, a produção acontece especialmente nos períodos matutino e
vespertino, sendo que os dias de mais movimento são terças, quartas e
quintas-feiras, quando são realizadas as sessões parlamentares e as
comissões ordinárias e extraordinárias. As segundas e as sextas-feiras são
dias mais tranquilos, em que são produzidas pautas “de gaveta” (não
factuais) ou atividades pontuais dos deputados estaduais.
Eventualmente, podem ocorrer eventos noturnos ou em outras
cidades do Estado. Neste caso, não existe uma regra a ser seguida. Tudo
depende das ordens da presidência da Casa ou da avaliação do coordenador
da webradio. Na semana de acompanhamento na webemissora, um dos
repórteres estava em Campos Novos, cidade do interior catarinense, devido
a um evento da Alesc que estava sendo realizado em comemoração aos 133
anos do município, um dos mais antigos do Estado. Nestes casos de pautas
em municípios do interior catarinense, a ordem de cobrir ou não o evento
parte da presidência do Parlamento. Já os eventos noturnos dependem
muito mais da avaliação do coordenador da rádio. O coordenador da Rádio
AL afirmou, durante o período de acompanhamento, que prefere que não
seja feita a cobertura de muitos eventos noturnos para que a carga horária
dos repórteres possa ser respeitada. “Eles têm cargas horárias específicas e
81 elas precisam ser cumpridas. Então, não dá para extrapolar muito”
7,
ressalta.
Cada repórter tem uma jornada de trabalho de seis horas diárias.
Eles cumprem o período matutino ou vespertino, mas eventualmente fazem
horas extras para auxiliar no trabalho de algum colega. Na semana de
acompanhamento na webemissora, um dos repórteres trabalhou no período
matutino, enquanto outros dois estiveram comparecendo no turno da tarde.
O repórter que estava em viagem, fazendo a cobertura do evento de
aniversário de Campos Novos, normalmente cumpre o período matutino.
A rotina produtiva dos repórteres pode ser dividida de acordo com
os dias da semana. Na segunda e na sexta-feira, que são dias com menos
movimento na Alesc, são produzidas pautas não factuais (especialmente
relacionadas a assuntos de serviço) ou reportagens especiais. Na maioria
das vezes, são efetuados desdobramentos de matérias executadas durante a
semana. Em alguns casos, não é elaborada nenhuma matéria. Este fato foi
relatado pelos jornalistas da webemissora e confirmado pelo coordenador
da Rádio AL. “São raros os momentos, muito raros, que não temos nenhuma atividade aqui no Parlamento. Sempre tem atividade, então, a gente adapta para [o evento] receber a cobertura dos veículos de comunicação aqui da Casa, com grau de importância, com grau de
interesse acentuado”8.
Já nas terças, quartas e quintas-feiras, as pautas são definidas de
acordo com a ordem do dia da sessão legislativa. Nos três dias, antes das
sessões, os veículos de comunicação da Alesc recebem a ordem do dia,
documento que informa todos os assuntos que serão tratados durante a
sessão ordinária. Quando há a reunião de comissões parlamentares, o setor
de comunicação também é avisado por meio de um informativo. Assim, é
definido qual repórter ficará responsável por determinado assunto e as
pautas são divididas entre os profissionais. No entanto, não há reunião de
pauta formal nem entre os colaboradores da Rádio AL, nem entre os
funcionários da webemissora e os colaboradores da Agência AL e da TV
AL. A definição dos assuntos a serem tratados nas matérias, a indicação da
abordagem deles e possíveis desdobramentos são tratados em conversas
realizadas entre o repórter e o coordenador. Na grande maioria das vezes, a
7 Informação retirada da Entrevista 01 concedida por STEFANOVITCH, Nikolas. [28 mar. 2014]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis - SC. Arquivo documento transcrito no apêndice 01 da dissertação. 8 Informação retirada da Entrevista 01 concedida por STEFANOVITCH, Nikolas. [28 mar. 2014]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis - SC. Arquivo documento transcrito no apêndice 01 da dissertação.
82 decisão de ter esta conversa parte do próprio repórter, mas também existem
casos em que o coordenador opta por discutir o assunto. Este fato parece
influir na produção, porque não há uma distribuição de pautas equilibrada
entre os dias da semana nem há uma previsão de pautas “de gaveta” para
serem veiculadas às segundas e sextas-feiras, dias da semana de menor
produção devido ao fato de não haver atividades de deputados na
Assembleia Legislativa de Santa Catarina.
Esta reunião de pauta informal também não exclui a possibilidade
de os repórteres e o coordenador da Rádio AL discutirem determinado
assunto com outros funcionários do setor de comunicação da Assembleia.
No entanto, há consenso entre os entrevistados sobre não existir reunião de
pauta. Isto, porém, não implica em liberdade total para os jornalistas. Sobre
este assunto, a Chefe de Jornalismo relata:
“Primeiro, acontece desse jeito porque, como o que é prioridade é cobrir o que acontece dentro da Casa, a gente não depende, para
cobrir um evento, de discutir como que aquilo vai ser, como é que vai ser feita aquela cobertura. A sessão plenária acontece toda
semana, três vezes por semana, as comissões também, então, a gente
já tem uma linha de como é que deve ser a cobertura destes eventos. Por isso que a gente não depende tanto de uma reunião de pauta
para tratar desses assuntos, que é o que na maior parte do tempo a gente trabalha. Agora, outros temas, outras coisas que acabam
surgindo, a gente tem muita autonomia de debater, de discutir, mas eu não digo que a gente faça sem consultar o coordenador. Sempre
que há uma dúvida que é diferente do que a gente costuma e da nossa rotina de cobertura, então, a gente vai até ele [coordenador] e
a gente nunca faz nada de forma tão independente assim” (Informação verbal)
9.
Após a divisão das pautas entre os repórteres, cada um define a
melhor forma de fazer a apuração dos fatos. Apenas uma das repórteres
acompanhou toda a sessão de quinta-feira (dia 27) da Assembleia
Legislativa, intercalando com momentos em que fazia entrevistas com
deputados, que eram chamados para falarem com a rádio e a TV (como os
assuntos abordados são geralmente os mesmos, a gravação das sonoras é
feita em conjunto). A Chefe de Jornalismo utilizou o seu período de
apuração para fazer entrevistas e começar a escrever as matérias. Ela não
9 Informação retirada da Entrevista 03 concedida por ENTREVISTADA 03. [28 mar. 2014]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis - SC. Arquivo documento transcrito no apêndice 03 da dissertação.
83 acompanhou a sessão por inteiro. Já o terceiro repórter foi o profissional
que acompanhou a sessão parlamentar por menos tempo. Durante todo o
tempo, este jornalista optou por ficar na redação, coletando informações
adicionais de sites aleatórios e também da página da Assembleia Legislativa
na internet. Este repórter apenas se ausentou da redação no momento em
que fez as entrevistas com os deputados estaduais. Finalizada a apuração e
as sonoras, os repórteres redigem a matéria. Além do texto a ser gravado
em áudio, eles também têm a função de criar um título e um parágrafo que
responda às seis perguntas do lead (o que, quem, quando, onde, como e por
que). Ainda é necessário escolher uma fotografia para ilustrar a matéria. O
título, a fotografia e este resumo do que é o assunto são postados no site
diretamente pelos jornalistas através de uma plataforma interna. Ao
terminar o processo de escrita, o repórter grava o áudio e a edição é
realizada por algum dos operadores à disposição. Com a finalização da
edição, o áudio, o título, a fotografia e o resumo da notícia são postados no
site. É importante ressaltar que a fotografia é geralmente proveniente do
banco de fotos da Agência AL. O jornalista da rádio apenas exerce a função
de fotógrafo quando está em evento externo ou nas situações em que não
está satisfeito com as opções de fotografias disponíveis no banco de
imagens da Agência AL. Durante a semana de acompanhamento na
webemissora houve um caso em que o repórter preferiu tirar uma nova
fotografia.
Com a matéria disponível no site, a produtora revisa o material,
inclusive o áudio, e alerta o jornalista caso haja algum erro. Neste caso, a
matéria é retirada do ar, o erro é consertado e a notícia é novamente
postada, sem aviso de alterações ou errata.
Pautas externas à Casa, especialmente as realizadas em viagens,
são tratadas de outra forma. Durante a semana de acompanhamento, um dos
repórteres esteve em Campos Novos cobrindo evento da Alesc naquele
município. Porém nenhuma matéria relativa a esta cobertura foi veiculada e
também não houve chamadas ao vivo para o jornalista informar o que
estava acontecendo. Durante a semana, este repórter esteve deslocado para
outras funções, exercendo tarefas diferentes das exercidas na rotina
produtiva da Rádio AL. Sobre este assunto, o coordenador destacou que
essa situação ocorreu não por problemas de equipamentos, mas sim porque
não havia um âncora que pudesse fazer a chamada para a entrada ao vivo.
No item seguinte, Programação, será mostrado que, naquele momento, não
estava sendo veiculado nenhum radiojornal na programação da Rádio AL.
84 3.5 Programação
Todas as vezes em que há mudança de coordenação na Rádio AL
têm sido realizadas alterações na grade de programação da webemissora.
Este fato foi informado em todas as entrevistas realizadas. A Chefe de
Jornalismo relata que “[...] cada coordenador que entra chega com uma ideia diferente do que deve ser a rádio, como que a gente deve conduzir,
mas a parte da reportagem eu acho que ela não mudou muito. Foi mais a parte de programação mesmo, sugestão de programas e mudanças na grade”
10.
Assim, em seus 15 anos de existência, a Rádio AL passou por
alterações no tocante à programação. Logo em seu início, na montagem da
primeira grade da webradio, foram privilegiados programas jornalísticos
combinados a músicas. Este modelo manteve-se, mas alguns programas
foram descontinuados, como o radiojornal e o que informava a ordem do
dia antes das sessões legislativas (bem como os comentários durante estas
reuniões). Dois dos motivos apontados para este fato são as trocas
constantes de coordenador e o fechamento da webemissora durante o
recesso parlamentar.
Devido aos motivos apresentados, não há programas sendo
veiculados há muito tempo e que tenham se tornado uma referência. Além
disso, a programação analisada nesta pesquisa é provisória, já que o
coordenador da Rádio AL informou que pretendia fazer muitas mudanças
na grade nas próximas semanas. “Aquela programação não está atualizada. Nós temos espaços ali que são de preenchimento. Os conteúdos que estavam muito obsoletos a gente já extraiu da programação e está
extraindo. Então, parte daquela programação é respeitada e parte não”,
destaca o profissional11
, referindo-se à grade de programação informada no
site, mas que não estava em conformidade com a programação transmitida
pelo streaming ao vivo.
Sendo assim, os programas em veiculação na semana do
acompanhamento eram:
● Rádio AL Notícias – antigo radiojornal da emissora, que foi
10 Informação retirada da Entrevista 03 concedida por Entrevistada 03. [28 mar. 2014]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis - SC. Arquivo documento transcrito no apêndice 03 da dissertação. 11 Informação retirada da Entrevista 01 concedida por STEFANOVITCH, Nikolas. [28 mar. 2014]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis - SC. Arquivo documento transcrito no apêndice 01 da dissertação.
85
reformulado e descaracterizado. O programa deixou de ter um
âncora e/ou apresentador, sendo veiculadas somente as matérias
sem apresentação. As notícias são intercaladas por uma vinheta e o
programa inicia-se com a informação de horário. Havia um projeto
de voltar a ter um apresentador no Rádio AL Notícias até o final de
2014. O horário de veiculação é de segunda a sexta, às 12h. O
programa não tem tempo de duração definido e depende da
quantidade de matérias realizada pelos jornalistas;
● Fala Deputado – programa de entrevistas ou mesa-redonda com
parlamentares da Assembleia Legislativa. O foco são os projetos
em tramitação na Casa e outros assuntos de destaque entre os
deputados estaduais. É produzido pela rádio em conjunto com a TV
AL. A veiculação ocorre semanalmente, às 12h05min. O programa
tem duração de 25 minutos;
● Esporte na Rede – único programa ao vivo da grade. Conta com a
colaboração de funcionários de outros departamentos da Alesc e é
o único produzido exclusivamente pela rádio e que possui a etapa
de produção. Geralmente também tem entrevistados, que podem
estar no estúdio ou ter sua participação através do telefone. É
veiculado segundas e sextas-feiras, às 11h, com duração de uma
hora;
● Rádio AL Especial – reportagem especial a respeito de assuntos
considerados de interesse público pela equipe de reportagem da
Rádio AL, como algum projeto de lei que impacte o catarinense de
forma direta (especialmente nas áreas de saúde e educação) ou
alguma informação de serviço que esteja ligada à Assembleia
Legislativa ou a algum deputado. Não tem periodicidade fixa e é
veiculado quando a reportagem é produzida. Segundo as
entrevistas realizadas, o interesse pela matéria especial parte do
próprio repórter quando algum assunto chama-lhe a atenção. O
tempo dedicado na grade de programação para a veiculação é de 10
minutos;
● Reprodução das sessões parlamentares – todas as terças, quartas e
quintas-feiras, as reuniões dos deputados são reproduzidas ao vivo
pelo streaming da webemissora. Porém é importante destacar que
não há comentários ou interferências; apenas a reprodução do áudio da sessão legislativa;
● Programação musical – no restante do dia, a Rádio AL transmite
programação musical variada, com canções nacionais e
internacionais.
86
O coordenador da rádio destacou em mais de uma ocasião que
pretende aprimorar a grade de programação e reativar alguns programas que
existiram anteriormente e foram descontinuados, como o Bom Dia Cidadão,
um radiojornal matutino que trazia as principais informações do dia para os
ouvintes. No site também constam vários programas que não estão sendo
veiculados, mostrando que a página estava desatualizada em março de 2014
e não podia ser usada pelo internauta como referência. Sobre as sessões
ordinárias, o coordenador informou que gostaria de implementar os
comentários, trazendo à tona o modelo usado em anos anteriores. Porém
todas essas alterações, de acordo com o coordenador, dependem da
liberação de alguns funcionários da Casa que são radialistas, mas estão
alocados em outros departamentos. Esta mudança de setor é burocrática e
depende não só da autorização da Diretoria de Comunicação, como também
dos outros departamentos envolvidos. Portanto, até o momento da pesquisa,
esta possibilidade não havia se concretizado.
3.6 Redes Sociais e Sites
O setor de comunicação da Assembleia Legislativa possui
funcionários dedicados às redes sociais. Já o site tem um layout fixo e as
matérias são postadas e atualizadas direta e somente pelos repórteres.
Portanto, as redes sociais são geridas por uma equipe diferenciada, da
Agência AL. Mesmo assim, são postados assuntos relativos à Rádio AL e à
TV AL.
As redes sociais da Alesc são: Facebook
(www.facebook.com/assembleiasc), Flickr (www.flickr.com/assembleiasc),
Twitter (www.twitter.com/assembleiasc) e YouTube
(www.youtube.com/assembleiasc). Todas as redes sociais são utilizadas,
mas, para esta pesquisa, será considerado somente o Facebook. Isto
justifica-se pelo fato de o Flickr ser uma rede social de fotos e não suportar
áudios e porque o YouTube traz somente vídeos, fazendo com que o
conteúdo postado pela equipe de redes sociais seja o da TV AL. No caso do
Twitter, são postadas informações do Facebook e não é especificado se é da
Agência, da TV ou da Rádio, tornando seus dados poucos relevantes para a
pesquisa, já que ocorre o redirecionamento para o Facebook através de
links.
A fan page da Assembleia Legislativa de Santa Catarina no
Facebook tem 2.673 curtidas e foi criada no final de 2011. Por sua vez, a
87 Assembleia Legislativa possui um site principal e URLs específicas para
cada um dos veículos de comunicação da Casa. Assim, existe a página
destinada à Rádio AL, cujo endereço é
agenciaal.alesc.sc.gov.br/index.php/radioal. O site tem um layout fixo e que
não pode ser modificado pelos jornalistas da webemissora, conforme pode
ser verificado na imagem a seguir:
Figura 03 - Print do site da Rádio AL.
Fonte: Reprodução do site da Rádio AL.
Além desta homepage existem as páginas internas do site. Cada
uma das matérias publicadas pode ser acessada clicando-se no título dela. O
usuário é redirecionado à URL específica, que também tem um modelo
definido: título, lead, foto e o player com o qual o internauta pode ouvir o
conteúdo da matéria. Ao lado do player, ainda há o botão “Download”.
Clicando sobre ele, uma nova página é aberta, toda na cor preta e o player
começa a ser reproduzido. A diferença neste caso é que, clicando com o
botão direito do mouse sobre o player, é possível escolher a opção “Salvar
vídeo como” (mesmo sendo áudio, a opção em alguns navegadores aparece
como sendo vídeo) ou “Salvar como” com o qual o MP3 será salvo. Logo a
seguir, também aparece a lista de últimas notícias postadas e no menu
lateral o internauta pode optar por ouvir a webradio ao vivo ou cadastrar-se
para receber a newsletter.
88 Em relação aos elementos utilizados no site da Rádio AL, a
webemissora utiliza fotografias e outras imagens estáticas, além de textos.
As fotos e outras imagens estáticas servem para a ilustração da matéria e
não contêm nenhum elemento informativo. Já os textos são apenas
pequenos resumos do que é abordado no conteúdo sonoro. Não foi
identificado o uso de vídeo em nenhum local. Como a forma de gestão do
site e das redes sociais é feita de forma diferenciada, é necessário abordar
estes dois pontos de acordo com suas peculiaridades. Em relação às redes
sociais, foram postadas 17 publicações durante a semana de 24 a 28 de
março de 2014. Os posts foram divididos da seguinte forma:
Tabela 02 – Quantidade de posts durante os dias de acompanhamento na Rádio AL.
Fonte: Produzido pela autora.
Do total de publicações postadas no Facebook, cinco eram
provenientes dos conteúdos produzidos pela equipe da webradio. Como é
padrão na rede social, as fan pages oferecem a possibilidade de o internauta
curtir, comentar ou compartilhar. Levando em consideração o dia da
postagem, os assuntos relativos à Rádio AL apresentados na rede social e a
interação obtida nas postagens, os dados são:
Tabela 03 – Interação obtida nas postagens da Rádio AL.
Fonte: produzido pela autora.
89
Neste mesmo período, foram produzidas e publicadas no site 28
matérias:
Tabela 04 – Relação das matérias produzidas no site da Rádio AL.
Fonte: Produzido pela autora.
90
Observa-se que, no dia 28 de março de 2014 (sexta-feira), não foi
postada no site e nem produzida nenhuma matéria. Conforme relatado em
entrevistas, as segundas e as sextas-feiras são dias de menos movimento e
pode não haver produção de nenhuma matéria, o que ocorreu na sexta-feira.
Para este dia também não foi cogitada a possibilidade de produzir alguma
matéria nos outros dias da semana, de desdobrar alguma abordagem
realizada em matéria anterior ou mesmo de fazer alguma notícia de serviço,
como doação de sangue, por exemplo. Assim, o que foi observado
contrapôs o relatado nas entrevistas, nas quais foi destacado que, mesmo
nos dias de menos atividade, havia a produção de matérias e que os dias
sem produção alguma seriam exceções. A segunda e a sexta-feira também
são utilizados para a produção de alguma matéria especial, a ser veiculada
no programa Rádio AL Especial. Porém, no período analisado, não houve
produção de matérias especiais.
Comparando as notícias postadas nas redes sociais em relação às
matérias publicadas no site, a porcentagem de assuntos veiculados também
nas redes sociais chegou a aproximadamente 17,85%. A escolha dos
assuntos a serem postados no Facebook e o critério de seleção é feito pela
equipe de redes sociais, que, como afirmado anteriormente, não compõe o
time de profissionais da Rádio AL.
Para verificar a média de interação de cada post nas redes sociais
na internet será utilizada a pesquisa da Simplify360, uma das principais
empresas do mundo no setor de inteligência corporativa social e que
proporciona produtos e serviços na área de mídias sociais. De acordo com o
estudo, a cada um milhão de fãs, cada fan page tem, em média, 826 curtidas
e 309 comentários por postagem. Em porcentagem, o dado da Simplify360
alcança, em curtidas, cerca de 0,08% a cada post e, em comentários, atinge
o percentual de 0,03%. Na semana de acompanhamento, a matéria com
mais interação foi a que trazia informações sobre a possibilidade de a
Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) abrir campi em Palmitos
e Pinhalzinho, ambos municípios do Oeste de Santa Catarina. Este post
obteve quatro curtidas e 20 compartilhamentos, obtendo porcentual de
0,14% de curtidas e 0,74% de compartilhamentos.
3.7 Análise
A partir do processo de acompanhamento e entrevistas, a rotina
produtiva da Rádio AL pôde ser verificada. A webemissora tem a
característica de radioagência e tem o objetivo de divulgar os projetos que
91 estão tramitando na Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Além deste
serviço, a Rádio AL também disponibiliza os áudios por meio do streaming
no site e possui uma programação 24 horas, com músicas e programas
informativos.
Sobre estes dois serviços oferecidos pela Rádio AL, a Chefe de
Jornalismo destaca que o objetivo principal, em sua visão, é o serviço de
radioagência.
“Eu particularmente dou mais importância e considero mais
importante aqui dentro da Assembleia Legislativa que a gente consiga replicar esse produto para outras rádios, que é no formato
de radioagência. Quando eu penso na produção, eu penso no que vai ser interessante para ser ouvido lá no interior, tanto por nós,
tanto pela webradio, quanto por uma outra emissora de rádio. Eu acho que não existe um cuidado muito grande com relação à
programação da webradio. As notícias vão entrando conforme a gente vai produzindo, os programas também. Claro que a nossa
prioridade é transmitir a sessão ao vivo e as comissões, o serviço mais importante que a gente tem na webradio aqui que é essa
transmissão ao vivo do que está acontecendo aqui dentro. Mas a nossa audiência é tão pequena, dá um desânimo de produzir para
ela. Porque, talvez, eu acho que não existe um trabalho de divulgação dela [webradio], para que ela seja ouvida pelo cidadão,
para que a gente pense em produzir para o cidadão realmente, que seria um trabalho bem interessante também, mas hoje eu acho que a
parte de radioagência é mais forte” (Informação verbal)12
.
Ou seja, a Rádio AL é representativa da categoria “mídia das
fontes”, como propõe Sant‟Anna (2006, p. 03). Estas emissoras são
categorizadas como sido mantidas e administradas por instituições e
entidades que antes eram apenas fontes de informação. Assim, com a
criação da Rádio AL, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina deixou de
ter a característica de ser somente uma fonte de informação, que produzia
material sonoro para as rádios do interior, como também passou a ter um
espaço próprio de divulgação de seu conteúdo.
Desta forma, a imprensa tradicionalmente vista como
um espectador externo aos fatos começa a perder a
12 Informação retirada da Entrevista 03 concedida por Entrevistada 03. [28 mar. 2014]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis - SC. Arquivo documento transcrito no apêndice 03 da dissertação.
92
totalidade do domínio da cena informativa. A opinião pública passa a contar com informações coletadas,
selecionadas, tratadas editorialmente, filtradas e difundidas por entidades ou movimentos sociais, ou
seja, corporações detentoras de interesses corporativos (SANT‟ANNA, 2006, p. 03).
No caso da rádio da Alesc, observa-se que a webemissora é o
veículo de divulgação dos atos dos deputados e projetos que tramitam na
Casa. Por isso, o objetivo principal da programação é transmitir as matérias
produzidas pelos repórteres divulgando os acontecimentos da Assembleia.
O site também serve como veículo para a transmissão da programação e
para os ouvintes-internautas ouvirem os áudios das matérias no estilo on demand ou baixando os podcasts. O fato de a Rádio AL ser uma webradio,
emissora que transmite somente pela internet, não é sua motivação
principal, de acordo com as entrevistas realizadas.
O coordenador do veículo de comunicação também concorda que
pensar sobre o formato de uma webradio propriamente dita não é uma
atividade realizada em todas as situações. São casos pontuais que são
discutidos separadamente e chega-se a um consenso a respeito daquele item
específico.
“[…] na prática, a diferença na construção do conteúdo, pelo menos aqui para a rádio da Assembleia, pelo que eu notei, ela é
muito insignificante, vou assim colocar. Lógico que tem coisas que a gente debate, tem assuntos que são pertinentes a uma webradio, à
especificidade da webradio. Para acessá-la, você precisa estar em um computador, geralmente sentado em sua casa ou em seu local de
trabalho, ela não tem a mesma 'potência' de uma rádio tradicional, que você consegue acessá-la de qualquer lugar, no carro, em casa,
num rádio com pilha, enfim. A nossa tem essa especificidade, que nos conduz a algumas indicações. Poxa, têm conteúdos que, para
uma webradio, de repente, seja interessante. Têm conteúdos que não caberiam para uma webradio, justamente porque o nosso veículo
emissor final lá da ponta é um computador. […] A gente debate isso, a gente levanta esses questionamentos por nós termos uma rádio na
mão que é exclusivamente via online. Mas, ressalto, no contexto geral da produção diária, se assemelha muito a uma rádio
tradicional […]” (Informação verbal)13
.
13 Informação retirada da Entrevista 01 concedida por STEFANOVITCH, Nikolas. [28 mar. 2014]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis - SC. Arquivo documento transcrito no apêndice 01 da dissertação.
93
As entrevistas, assim, indicam que a rotina de produção apresenta-
se similar à de uma emissora hertziana com presença na internet, porque os
entrevistados afirmaram que não há uma preocupação específica com a
webradio.
Em relação aos elementos do site e das redes sociais, o áudio é
complementado com um lead que resume a matéria radiofônica e uma foto.
Durante a semana de acompanhamento não foi verificada a utilização de
vídeos. O site tem um layout fixo e isso não pode ser alterado pelos
repórteres. No período analisado, o player foi considerado pelos
entrevistados como um problema, porque o ícone para ouvir o áudio ficava
sempre ao final do lead, o que o deixava “escondido” em relação a outros
elementos da página. Se uma das características das webradios é a primazia
da sonoridade, o player deveria estar bem visível para os ouvintes-
internautas. Da forma apresentada nos sites durante as semanas de
acompanhamento, o usuário pode ter que dar um scroll para ver o player e
poder escutar a matéria. Este item foi modificado depois, sendo que, em
novembro de 2014, o player está situado logo abaixo do título, na parte
superior da página.
Uma inconsistência apresentada no site é em relação ao botão
Download. Dependendo do navegador, o comportamento experimentado
pelo internauta é diferente. O botão Download está logo ao lado do player,
bem visível para o ouvinte-internauta. Para baixar o arquivo de áudio, o
usuário precisa clicar sobre o botão Download usando o botão direito do
mouse. Porém, se estiver usando o Google Chrome ou outro navegador
baseado no código aberto Chromium, aparece a opção “Salvar vídeo
como”, mesmo sendo um arquivo sonoro. Utilizando o Internet Explorer, o
Windows Media Player é aberto automaticamente e o áudio começa a ser
reproduzido, mas não é possível baixar o arquivo. Já no caso do Mozilla
Firefox, a opção que aparece é “Salvar como”.
O campo “Pesquisar” do site oferece diferentes formas de busca.
Uma das maneiras é a pesquisa por palavra específica, cujos resultados são
apresentados de forma decrescente, do mais recente para o mais antigo.
Logo embaixo existe o link “+ Filtros de busca”. Clicando sobre ele,
aparecem algumas opções: Notícias, Fotonotícia, Notícias dos Gabinetes,
TV AL, Rádio AL, Sala de Imprensa e Entenda. Existe também a
possibilidade de fazer a busca por uma data específica. Neste caso, é
necessário que o internauta clique no menu “Notícias”, quando aparecerá a
opção de pesquisa por data ou palavra-chave.
Ainda analisando o site, existe o botão para ouvir a rádio ao vivo.
94 Ele está fixo no menu lateral e bem visível para o internauta. Ao clicar
sobre o link, o usuário é redirecionado para outra página na qual o áudio
começa a ser reproduzido, não tendo mais acesso à homepage do site, a não
ser que uma nova aba no navegador seja aberto e o usuário volte a acessar a
página inicial ou se o internauta desistir de ouvir a programação ao vivo,
voltando à homepage. Mesmo assim, o site oferece as três formas de
transmissão de áudio pela internet: streaming, on demand e podcast. O
streaming é disponibilizado pelo link do “ao vivo”, o on demand é ofertado
por meio dos arquivos de áudio que podem ser acessados a qualquer
momento e o podcast está representado pelo arquivo que pode ser baixado
pelo ouvinte-internauta.
Outro ponto importante é o de que o site não possui um contador
de downloads e não é realizado nenhum controle sobre quantas pessoas
acessam o site da Rádio AL ou baixam os arquivos de áudio. Sobre este
quesito, o coordenador da webemissora destacou que estava verificando
esta questão e informou acreditar que não é algo difícil de ser
implementado. Uma alternativa seria mensurar os dados por meio do
Google Analytics, que oferece dados concretos sobre as matérias mais
acessadas. Estas informações poderiam, inclusive, ser mais completas que o
contador de downloads, já que também poderia abordar quantos minutos
cada internauta permaneceu em determinada URL do site, em quais botões
ele clicou, etc. Assim, seria possível saber se os internautas estão ouvindo o
áudio por inteiro e se preferem apenas ouvir o player ou baixar o conteúdo
para os seus computadores.
Em relação à programação, foi apontado em entrevistas que a
mudança frequente de coordenadores ocasiona mudanças na grade de
programação, com a substituição, o cancelamento ou a criação de
programas. Além disso, foi informado que as mudanças de programação
impedem um planejamento a longo prazo e também interferem na audiência
da webemissora. Rocha citou que a principal dificuldade nos 15 anos de
história da Rádio AL foi a mudança de coordenadores.
“Eu acho que [a maior dificuldade foi] a gestão, porque, se você tem
um serviço com uma diretoria de comunicação, que muda o diretor
de ano em ano ou de dois em dois anos, que não permanece, não está preocupado ou vinculado a um projeto estratégico. Então, cai
naquela história que eu te falei da direção, “estamos sob nova direção”, fecha, mudam os ingredientes lá dentro, abre de novo. [...]
Então, [...] isso foi um dos obstáculos que eu tive fazendo uma sondagem a respeito de a gente ter uma webradio outorgada pelo
Ministério das Comunicações. Isso foi uma das coisas colocadas lá,
95
que a gente não teria estabilidade [...]” (Informação verbal)14
.
Outra dificuldade para o internauta-ouvinte é que, se ele pesquisar
sobre os programas que estão sendo veiculados, terá dificuldades de
encontrar aqueles realmente transmitidos na programação, já que a
programação do site está defasada e conta com programas que não fazem
mais parte da grade há vários meses. Apesar de a Rádio AL não ter um
público específico definido e de os repórteres denominarem a emissora
como sendo “a rádio do povo catarinense”, atualmente a produção das
matérias não é pensada para os ouvintes, mas sim para as estações de rádio
do interior de Santa Catarina, que podem utilizar o material.
No tocante às redes sociais, verificou-se que a única rede social que
realmente traz assuntos da webemissora é o Facebook, mas, como ela não é
gerida por uma equipe da Rádio AL, o resultado apresentado pelas matérias
não chega aos repórteres e não há uma interação muito grande entre
jornalistas e equipe de redes sociais da Alesc. A escolha dos assuntos
postados não é feita em conjunto com os repórteres da Rádio AL. Além
disso, a equipe de social media posta muitos assuntos nos dias em que há
reuniões de comissões e sessões legislativas na Assembleia, sendo que, na
quinta (27), foram publicadas sete postagens. Como os assuntos são
relativos à Rádio AL, à TV AL e à Agência AL, a quantidade de posts é
dividida entre os veículos. Na semana analisada, a webradio ficou com
cinco postagens, o que representou quase um terço do total. A interação dos
usuários ficou acima da média apresentada em estudos, mas ainda teve
pequena representatividade, já que, em porcentagem, não atingiu 1%.
Também é interessante observar que não houve nenhum comentário dos
internautas nas postagens relativas à Rádio AL, o que demonstra que não há
fidelidade dos usuários com relação aos posts da webemissora. Esta
conclusão é baseada em análises de social media, que indicam que os
comentários servem para a fidelização dos curtidores da fan page em
relação à marca, já que este é o espaço para os usuários opinarem,
avaliarem, sanarem dúvidas e até mesmo interagirem com a marca e o
profissional de redes sociais.
Na semana de acompanhamento, uma das matérias feitas pela rádio
e postadas no Facebook teve um resultado positivo se comparado à média
de outros assuntos. A matéria em questão era sobre a implantação da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) nos municípios de
14 Informação retirada da Entrevista 02 concedida por ROCHA, Eduardo. [25 mar. 2014]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis - SC. Arquivo documento transcrito no apêndice 02 da dissertação.
96 Palmitos e Pinhalzinho, no Oeste catarinense. Conforme foi verificado nos
dados apresentados nesta pesquisa, este assunto obteve resultado melhor,
com quatro curtidas, 20 compartilhamentos e nenhum comentário. Devido a
isso, a matéria também teve maior alcance orgânico, atingindo, segundo o
coordenador da webradio, cerca de três mil usuários que curtiram a fan page da Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Este dado foi repassado
ao coordenador pela equipe de redes sociais, que teve uma boa surpresa
com a interação. Porém, como não há investimento financeiro para
patrocinar posts no Facebook, o resultado orgânico ainda é baixo – algo
esperado devido às políticas de posts patrocinados da rede social. Não há
preocupação relativa a posts patrocinados (ou seja, investimento em
dinheiro em determinados posts para que a fan page obtenha mais
curtidores). Isso limita o alcance das páginas, já que existe uma política do
próprio Facebook para que os posts orgânicos (ou seja, sem investimentos)
tenham visualização somente de uma parcela dos curtidores da fan page.
Enquanto isso, os posts patrocinados atingem mais curtidores e também são
publicados na timeline de outros usuários da rede social que podem ter
interesse naquela página (por morarem na mesma cidade, terem interesses
comuns, porque amigos curtiram a fan page, etc). É importante ressaltar
que, em percentual, os posts da fan page da Alesc conseguem ficar acima
da média do estudo produzido recentemente pela Simplify360, mas, em
números absolutos, a interação dos usuários que curtiram a fan page é
muito pequena.
Neste capítulo, verificou-se que a Rádio AL é uma webemissora e
deve ser caracterizada como tal por transmitir exclusivamente pela internet.
O fluxo de atualização é feito pelos próprios jornalistas e exclusivamente
por eles; assim, o objetivo é que, sempre que uma matéria seja finalizada,
automaticamente seja postada no site para estar disponível para o
download, cumprindo a função de radioagência que a webemissora tem. O
site, porém, não é atualizado frequentemente, sendo que, em um dos dias de
sessão, não houve a postagem de nenhuma matéria. Além disso, não há
controle sobre o número de ouvintes-internautas que acessam a webradio e
quantos downloads são realizados dos arquivos de áudio. As redes sociais
divulgam os materiais produzidos pela equipe da webemissora, mas não há
interação entre os funcionários da equipe da Rádio AL e de redes sociais e a
interação entre os curtidores da fan page e os posts ainda é pequena.
97
CAPÍTULO IV – RÁDIO PONTO: WEBRADIO COM CARÁTER
LABORATORIAL
A Rádio Ponto, do curso de Jornalismo da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), é a segunda webemissora analisada nesta pesquisa.
Esta webradio possui transmissão exclusiva pela internet, seguindo o
conceito adotado neste trabalho e possui programação 24 horas por dia. Os
programas são produzidos por alunos do curso de Jornalismo da UFSC,
com orientação dos professores coordenadores Eduardo Meditsch e Valci
Zuculoto.
Assim como a Rádio AL, a Rádio Ponto também é pioneira dentre
as emissoras de cursos do Jornalismo do Brasil, já que foi a primeira
webradio neste segmento, tendo sido criada em 1999. O acompanhamento
para esta análise foi realizada de 24 a 30 de setembro de 2014, o que
totalizou uma semana. Neste período, a observação abrangeu tanto as aulas
quanto os programas gravados pelos dois núcleos existentes na emissora: o
núcleo de Radiojornalismo Esportivo e o núcleo Lança Perfume. Devido às
atividades, o horário de acompanhamento deu-se da seguinte forma:
Tabela 05 – Horário de acompanhamento da Rádio Ponto da UFSC.
Fonte: produzido pela autora.
Não foi realizado acompanhamento no período matutino porque há
pouca atividade de produção na Rádio Ponto. A análise também contou com
algumas particularidades, sendo que uma delas é que os estúdios da
emissora passavam por reforma na semana de acompanhamento, o que fez
com que a maior parte da programação fosse gravada, e a outra
particularidade foi o aniversário da webradio no dia 30 de setembro de
2014, contando com uma programação especial.
4.1 História
A Rádio Ponto iniciou as suas atividades no dia 30 de setembro de
1999, tendo sido a primeira webradio em cursos de Jornalismo do Brasil. A
98 ideia de criação da emissora surgiu a partir dos professores Eduardo
Meditsch e Maria José Baldessar, que sentiram a necessidade de formalizar
a criação de uma emissora no curso. O estudo para a implantação da Rádio
Ponto foi realizado pelas então alunas da graduação Fabiana de Liz e
Sabrina Brognoli D'Aquino, que estavam fazendo seu Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC) e aceitaram o desafio de ajudar a implementar a
webemissora.
Desde o seu início, a Rádio Ponto teve o objetivo de divulgar a
produção radiofônica dos alunos da graduação do curso de Jornalismo da
UFSC. Antes da implantação da webradio, os programas realizados pelos
estudantes eram ouvidos somente nas aulas de Radiojornalismo e Redação
para Rádio ou em algumas emissoras comerciais, com as quais o curso de
Jornalismo da UFSC mantinha parcerias. Nestes casos de divulgação dos
programas em emissoras comerciais, o programa de maior destaque foi o
Universidade Aberta (Unaberta), que foi criado em 1991.
O Unaberta foi o primeiro site de notícias implementado no estado
de Santa Catarina, no ano de 1998. O projeto tinha por finalidade divulgar
informações relacionadas à comunidade acadêmica e outras notícias
importantes que ultrapassavam os limites da UFSC. Os coordenadores deste
projeto eram os professores Eduardo Meditsch e Valci Zuculoto e, dentre as
atividades do Unaberta, podem-se citar as coberturas especiais e as grandes
reportagens em áudio e para internet.
Outro projeto de destaque que surgiu antes da implantação da
Rádio Ponto foi o Fazendo Rádio na Escola, em 1999. Neste projeto, os
alunos compareciam a escolas públicas e mostravam aos alunos como fazer
rádio. No entanto, surge a necessidade de se criar uma emissora
formalizada. Não havia a possibilidade de se ter uma emissora
convencional porque a lei que criou a Radiobrás impedia a concessão de
novos canais para a criação de emissoras universitárias nas instituições
federais. Então, a criação de uma webradio foi a solução. Surge a Rádio
Ponto, que reúne os conceitos utilizados nos projetos Universidade Aberta e
Fazendo Rádio na Escola e permite que os alunos tenham mais espaço para
a produção e a aprendizagem, além de também oferecer um local adequado
para a divulgação dos trabalhos realizados em sala de aula. Zuculoto aponta
outras vantagens dos projetos Unaberta, Fazendo Rádio na Escola e Rádio
Ponto.
[…] entre seus resultados maiores e mais perseguidos,
contribuir para promover a inclusão social e o estímulo ao exercício da cidadania. Isto através,
principalmente, do atendimento de um direito
99
essencial dos cidadãos para se movimentarem e construírem socialmente a realidade (ZUCULOTO,
2006).
Num primeiro momento houve a necessidade de adequar os
estúdios para a produção e a transmissão digital. Os softwares de áudio
necessários para a edição das matérias tinham sido recém-lançados, o site
precisava ser criado com todos os elementos necessários para a
disponibilização do streaming e foi necessário montar uma estrutura
adaptada para uma webradio. Devido a isso, a primeira transmissão, que
marca o aniversário da Rádio Ponto, aconteceu no dia 30 de setembro de
1999, mas a emissora começou com a programação diária somente no mês
de novembro do mesmo ano.
Após a implementação da Rádio Ponto, os projetos Universidade
Aberta e Fazendo Rádio na Escola permaneceram sendo realizados por
mais alguns semestres, mas foram descontinuados por outros motivos,
enquanto a Rádio Ponto teve continuidade. Coube à webemissora ter uma
programação que apresentasse as produções jornalísticas dos alunos. Vários
programas existiram nos 15 anos de história da Rádio Ponto. Um deles foi o
Notícia na Mesa, programa semanal de notícias transmitido sempre no
horário do almoço. Além de o Notícias na Mesa ser transmitido na Rádio
Ponto, ele também era veiculado pela então Rádio Santa Catarina,
atualmente Rádio Cultura. Sobre esse momento, Marcela Lin, que
participava da produção do Notícias da Mesa, destaca:
“Se não me engano, o programa começou de forma voluntária – o
que acabou envolvendo parte da nossa turma. Mais tarde, a professora Valci conseguiu transformá-lo em uma disciplina
optativa. Mas a gente nunca fez pelos créditos, mas pelo aprendizado, pela diversão e até pelo nervosismo de colocar o
programa no ar e depois ver que deu tudo certo” (Informação verbal)
15.
Além de notícias, o programa Notícias na Mesa também contava
com reportagens, entrevistas, previsão do tempo e outras informações
importantes para a comunidade acadêmica e da cidade de Florianópolis. O
programa deu certo e rendeu a criação de um programa extra, chamado Notícias na Mesa Especial, que também foi transformado em disciplina
15 Informação retirada de LIN, Marcela. Entrevista 14. [Mensagem pessoal]. Mensagem recebida pela autora, 20 mar. 2013.
100 optativa e era transmitido semanalmente na Rádio Ponto e na Rádio Santa
Catarina. A diferença entre os dois programas é que o Notícias na Mesa
Especial era temático.
A Rádio Ponto, porém, sempre realizou coberturas especiais. Esta
prática já era realizada antes do surgimento da webemissora e continua
existindo até hoje. Algumas das coberturas realizadas foram manifestações
em Florianópolis; greve do transporte coletivo da cidade; encontros da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); feiras da Semana
de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFSC (Sepex); eleições para a reitoria
da universidade; eleições para prefeitos, governadores, deputados,
senadores, vereadores e presidente; provas do vestibular da UFSC; etc. Em
muitos casos, essas coberturas foram realizadas em parceria com cursos de
Jornalismo de outras universidades ou até mesmo contando com a
participação de profissionais de emissoras de rádio ou ainda com a
transmissão de boletins de alunos que participavam da Rádio Ponto em
emissoras comerciais.
Falando sobre a importância da Rádio Ponto, o professor Eduardo
Meditsch relata que a implantação da webemissora aproximou a academia
do mercado de trabalho.
“Antes de ter a Rádio Ponto, a gente trabalhava muito com programas gravados, a gente produzia programas também, mas não
tínhamos onde veicular esses programas. Até a gente fazia por fora das disciplinas alguns programas em emissoras, mas nas disciplinas
a gente fazia programas que não eram veiculados. Acho que é o mais normal de acontecer nos cursos de jornalismo e, infelizmente,
isso cria uma situação falsa, porque a gente produz para ninguém e aí a gente tende a se afastar muito da realidade. A ideia dos
programas das disciplinas na Rádio Ponto é nos aproximarmos mais da realidade no sentido de se ter um timing próximo do que acontece
na produção do radiojornalismo real [...]” (Informação verbal)16
.
Em seu início, a programação da Rádio Ponto era formada por
programas jornalísticos e músicas. Com o passar do tempo e a adesão dos
alunos a este projeto, o tempo de transmissão musical foi reduzido até ser
abolido em 2007. Desde então, a Rádio Ponto tem programação informativa
ao vivo e gravada 24 horas por dia, contando também com reprises dos
16 Informação retirada da Entrevista 05 concedida por MEDITSCH, Eduardo. [4 jul. 2013]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis – SC. Arquivo do documento transcrito no apêndice 05 da dissertação.
101 programas. Todo o material é produzido pelos alunos com orientação dos
professores coordenadores. Além destes, existem programas das disciplinas
e produções realizadas pelos núcleos de Radiojornalismo Esportivo e Lança
Perfume, que foram criados durante os 15 anos de história da Rádio Ponto.
4.1.1 Núcleos
O núcleo de Radiojornalismo Esportivo surgiu a partir de uma
movimentação dos próprios alunos e foi implementado como projeto de
extensão a partir de 2011. No entanto, os estudantes já realizavam
coberturas esportivas há vários anos. Em 2010, com a realização da Copa
do Mundo, muitos graduandos atuaram como voluntários e, no segundo
semestre do mesmo ano, sentiram a necessidade de formalizar a criação do
núcleo. Com o auxílio dos professores coordenadores foi escrito um projeto
para submeter à universidade e o núcleo de Radiojornalismo Esportivo da
Rádio Ponto passou a ser aceito como um projeto de extensão, o que
permitia ter mais recursos, bolsistas e outros benefícios. Segundo o
entrevistado 07, um dos alunos fundadores do núcleo, “o ano de 2011, entre
o segundo semestre de 2010 e o primeiro semestre de 2011, foi o ano de
estruturação e, a partir daí, no segundo semestre de 2011, a gente começou
a crescer muito”17
.
O primeiro programa do núcleo de Radiojornalismo Esportivo da
Rádio Ponto foi o Bola na Trave, programa com boletins e matérias sobre o
futebol catarinense, brasileiro e mundial. Já no segundo semestre de 2010
foi agregado o UFSC Esporte Clube, programa com notícias sobre todos os
esportes. O ideal do UFSC Esporte Clube foi focar em esportes menos
abordados na imprensa tradicional, como o basquete, o vôlei, o handebol e
até mesmo esportes amadores. Com o passar do tempo, outros programas
produzidos pelo núcleo de Radiojornalismo Esportivo foram adicionados à
grade de programação da Rádio Ponto, enquanto outros foram
descontinuados. Os programas atuais serão abordados no item
Programação, presente neste capítulo.
Já a história do núcleo Lança Perfume começou em 2010 a partir
de uma participação feminina no programa Futebol de Saia, já
descontinuado pelo núcleo de Radiojornalismo Esportivo. Neste programa,
17 Informação retirada da Entrevista 07 concedida por ENTREVISTADO 07. [26 set. 2014]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis – SC. Arquivo do documento transcrito no apêndice 07 da dissertação.
102 as alunas comentavam sobre o futebol. Este programa foi veiculado durante
a Copa do Mundo e era produzido somente por mulheres. Com o fim da
Copa do Mundo, muitas alunas sentiram a necessidade de continuar algum
trabalho na rádio que fosse voltado ao público feminino. De acordo com a
entrevistada 05, uma das fundadoras do grupo, o objetivo foi continuar a
programação em rádio, mas com um assunto que fosse diferente daquilo
que já era veiculado.
“[...] nenhuma de nós queria que o programa continuasse falando
sobre futebol. Então, a gente criou um novo projeto para o programa. Em 2010, no segundo semestre de 2010, a gente começou
o Lança Perfume, com um tema por semana, três quadros, um quadro no início, de notícias, e depois o Lança Repórter, que era
para introduzir o tema e o Momento Hugo Boss, que era a participação masculina” (Informação verbal)
18.
O núcleo Lança Perfume cria programas com a visão feminina, mas
também tem um quadro que apresenta o ponto de vista masculino. Os
assuntos abordados variam entre temas culturais, de serviços, sobre política,
assuntos da comunidade acadêmica, entre outros. Algumas pautas são
produzidas a partir de um tópico que esteja sendo abordado na imprensa
tradicional; no entanto, este conteúdo é ampliado e aprofundado.
4.2 Estrutura
A Rádio Ponto tem uma estrutura física muito bem delimitada.
Localizada dentro do Departamento de Jornalismo, no Centro de
Comunicação e Expressão (CCE) da Universidade Federal de Santa
Catarina, a webemissora está inserida no Laboratório de Radiojornalismo,
que também conta com a estrutura que atende as disciplinas ligadas ao
rádio, o espaço para a produção de programas e o espaço para os projetos
de extensão, como o Museu do Rádio. Esta estrutura física é composta por
um estúdio principal e dois estúdios secundários, além de contar com uma
sala de redação utilizada para ministrar as disciplinas e fazer as reuniões de
pauta. Um dos estúdios secundários é utilizado para a emissão da
programação da Rádio Ponto, além de também ser utilizado para a pesquisa
18 Informação retirada da Entrevista 08 concedida por ENTREVISTADO 08. [4 jul. 2013]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis – SC. Arquivo do documento transcrito no apêndice 08 da dissertação.
103 e montagem das pautas. O outro estúdio secundário é utilizado geralmente
para pesquisa e busca de pautas.
No estúdio principal há uma híbrida (que serve para conectar
telefones à mesa de som e permite que o repórter ou algum entrevistado
entre ao vivo no programa) e a mesa para a gravação e a transmissão dos
programas. Nos estúdios secundários e na sala utilizada para as disciplinas e
reuniões de pauta existem vários computadores à disposição dos alunos.
Cada um dos estúdios secundários conta com quatro PCs e a sala possui
aproximadamente 20 máquinas similares. Estes aparelhos são utilizados
para a pesquisa de assuntos, montagem de pautas, roteiros, edição dos
áudios e dos programas, etc. Existe ainda um computador destinado aos
professores.
Na semana de análise, porém, a estrutura física estava bastante
diferente devido a uma reforma realizada em toda a estrutura do
Laboratório de Radiojornalismo. As obras iniciaram no dia 11 de setembro
de 2014, mas ainda não haviam terminado durante esta pesquisa. O objetivo
da reforma é melhorar os sistemas de acústica e ventilação. O prazo para
término das obras é novembro de 2014. Para não interromper a
programação foi definido que um estúdio improvisado seria montado no
Laboratório de Pesquisa e Documentação, que fica logo em frente ao
Laboratório de Radiojornalismo. O Laboratório de Pesquisa e
Documentação normalmente conta com cerca de 10 computadores, estantes
com livros sobre jornalismo lançados pelos professores do curso de
Jornalismo da UFSC, outras obras sobre jornalismo e arquivos dos
Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) já realizados no curso.
Com a improvisação de um estúdio de rádio foram montadas duas
pequenas salas dentro desta estrutura maior, sendo uma sala para a operação
e outra para a gravação dos programas. Estas saletas não contavam com
isolamento sonoro, o que requeria o silêncio dos estudantes nos momentos
de gravação. Nos primeiros dias existiram mais limitações, por exemplo, a
entrada de repórteres e entrevistados ao vivo, já que a híbrida não estava
funcionando adequadamente. No entanto, na semana analisada, as entradas
ao vivo estavam sendo feitas normalmente porque o problema havia sido
solucionado.
A sala de operações contava com dois computadores, sendo um
para inserir a programação no ar e outro para a gravação dos programas, e
uma mesa com os requisitos básicos para poder gravar e transmitir os
programas da Rádio Ponto. No mesmo local também foi colocada uma
câmera para poder transmitir o vídeo no site. Já na sala de gravação foram
colocados três microfones. Os computadores do Laboratório de Pesquisa e
104 Documentação estavam sendo partilhados entre os alunos regulares do
curso sem envolvimento com a Rádio Ponto e os colaboradores da
webemissora. Nestes computadores também estava sendo feita a edição dos
áudios pelos alunos das disciplinas ou participantes dos núcleos. Os
bolsistas também contam com um tablet que permite a consulta aos horários
de gravação e das disciplinas, entre outras funções.
4.3 Profissionais
Conforme já abordado anteriormente, todos os programas da Rádio
Ponto são produzidos por alunos do curso de Jornalismo da UFSC, que são
orientados pelos professores Eduardo Meditsch e Valci Zuculoto. Devido a
esse fato é difícil afirmar exatamente quantas pessoas estão envolvidas no
processo de produção dos programas a cada semestre.
Entre as pessoas que participam da Rádio Ponto estão os
professores, alunos das disciplinas, estudantes que participam dos núcleos
Radiojornalismo Esportivo e Lança Perfume, bolsistas do Laboratório de
Rádio e os técnicos da universidade que trabalham no Laboratório de
Rádio. Na semana analisada, a professora Valci Zuculoto estava afastada da
webradio por estar cursando seu pós-doutorado. Portanto, a coordenação da
Rádio estava a encargo do professor Eduardo Meditsch. Para auxiliá-lo há
três técnicos operadores de áudio, que trabalham para o Laboratório de
Rádio e exercem suas funções também na Rádio Ponto.
Ainda existem os bolsistas, cujo total chega a 10, sendo que um é
específico do Museu do Rádio, dois trabalham voltados para a produção do
programa enviado à emissora Joinville Cultural (com quem o curso de
Jornalismo da UFSC mantém um convênio) e sete intercalam os horários
para atuar na Rádio Ponto nos períodos da manhã, tarde e noite (mesmo
com pouca produção no período matutino durante o período analisado,
ainda foram realizadas algumas atividades). É importante frisar que os
bolsistas do Museu do Rádio e dos programas enviados à Rádio Joinville
Cultural também auxiliam na Rádio Ponto quando necessário e dois deles
estão inseridos no núcleo de Radiojornalismo Esportivo.
Em relação aos núcleos, o de Radiojornalismo Esportivo é o maior
e o mais antigo. O número de colaboradores varia muito, mas na semana de
acompanhamento havia entre 30 e 40 voluntários. Já o núcleo Lança
Perfume possui aproximadamente 15 voluntários a cada semestre. Segundo
105 o entrevistado 07
19, apesar de o número de estudantes que participam dos
núcleos ser alto, poucos participam ativamente. No caso do núcleo de
Radiojornalismo Esportivo, entre 30 e 40 pessoas participam, mas são
aproximadamente 15 colaboradores ativos; o restante são voluntários que
participam esporadicamente. Portanto, os dois núcleos envolvem, no
máximo, 55 alunos.
Os alunos que participam dos núcleos são de fases diferentes no
curso; sendo assim, estudantes da primeira fase convivem e aprendem com
os veteranos, que repassam seus conhecimentos junto com os professores
coordenadores. A entrevistada 08, do núcleo Lança Perfume, ressalta que o
grande objetivo é que os estudantes tenham um espaço para experimentar e
aprender não somente sobre rádio, mas sobre práticas jornalísticas.
“[...] a gente considera que o Lança Perfume é para aprender a lidar com fonte com muita naturalidade, a dar a cara a tapa, a ligar,
telefonar, fazer uma pergunta sobre um assunto que a gente não sabe, falar sobre um assunto que a gente não sabe, porque isso é o
jornalismo. Lidar com esses assuntos e aprender a transcrever para a população que não sabe sobre esses assuntos. Então, acho que é
uma escola mesmo, a Rádio Ponto em si foi uma escola” (Informação verbal)
20.
4.4 Rotina Produtiva
Por ser uma webemissora de um curso de Jornalismo, a rotina
produtiva da Rádio Ponto é diferente de outras emissoras de rádio. A cada
semestre, a grade de programação e de horários é alterada de acordo com os
estudantes e suas atividades em sala de aula e extracurriculares. Portanto, as
atividades podem ocorrer nos três períodos do dia (manhã, tarde e noite) de
segunda a sexta-feira. Nos períodos de férias, a programação é
interrompida. Na semana de acompanhamento na webradio, as atividades
estavam concentradas à tarde e havia muitas gravações agendadas para o
intervalo das 17h às 19h. Nem todas essas gravações ocorreram devido à
programação especial para o aniversário da rádio, no dia 30 de setembro de
19 Informação retirada da Entrevista 07 concedida por ENTREVISTADO 07. [26 set. 2014]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis – SC. Arquivo do documento transcrito no apêndice 07 da dissertação. 20 Informação retirada da Entrevista 08 concedida por ENTREVISTADO 08. [4 jul. 2013]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis – SC. Arquivo do documento transcrito no apêndice 08 da dissertação.
106 2014, e também por causa da reforma realizada nos estúdios da Rádio
Ponto.
Ainda há situações em que são marcadas coberturas especiais em
horários extracurriculares, como eleições para reitor; eleições para
presidente, governador, prefeito, etc; vestibular da UFSC; Sepex, entre
outras, conforme foi relatado anteriormente neste capítulo. No período
analisado houve uma programação especial da Rádio Ponto no dia 30 de
setembro, terça-feira, em que foram comemorados os 15 anos de
aniversário da webemissora. Para este fato, alunos, estudantes bolsistas e o
professor Eduardo Meditsch agendaram toda a programação, que contou
com programas gravados e ao vivo, o que afetou a rotina produtiva da
webemissora durante a semana de análise.
Em dias normais, ou seja, em que não há coberturas ou eventos
especiais, a rotina produtiva da Rádio Ponto é dividida entre a produção dos
programas das disciplinas e aqueles produzidos pelos núcleos
Radiojornalismo Esportivo e Lança Perfume. As disciplinas normais
ocupam duas tardes da programação; na semana de acompanhamento, as
aulas ocorreram na quinta-feira (25) e na terça-feira (30). Já no caso dos
programas produzidos pelos núcleos Radiojornalismo Esportivo e Lança
Perfume, a rotina produtiva é definida pelos veteranos, ou seja, os alunos
que participam dos grupos há mais tempo. Existe a coordenação dos
professores, mas há menos interferência se comparado aos programas das
disciplinas.
A diferença entre a rotina produtiva dos programas das disciplinas
e dos núcleos é identificada pelos alunos. Em entrevista, o entrevistado 11
relatou:
“Acho que no programa baseado na disciplina de Radiojornalismo I, não vou dizer [que tem] mais comprometimento do que no Lança
Perfume, porque não é assim, mas tem que se preocupar mais. Com o professor, ele definiu quem ia ser o editor-chefe para cada edição.
Então, a gente tinha que organizar muito mais, conversar muito
mais um com o outro. […] Acho que no programa da disciplina, por ser um sistema de rodízio, você aprende mais, porque dentro das
semanas, a sua função só vai se repetir daqui a um mês. Então, você pode experimentar um pouquinho de cada coisa” (Informação
verbal)21
.
21 Informação retirada da Entrevista 11 concedida por ENTREVISTADO 11. [4 jul. 2013]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis – SC. Arquivo do documento transcrito no apêndice 11 da dissertação.
107
Ambos os núcleos trabalham de forma similar. Existem programas
específicos para os calouros, alunos recém-chegados à universidade, que
são convidados a participarem dos núcleos. Estes alunos participam dos
núcleos por, pelo menos, seis meses. Quando o semestre é finalizado existe
a possibilidade de o aluno permanecer no núcleo, participando de outros
programas. Além disso, existem casos em que, mesmo nos primeiros seis
meses de participação, os calouros ajudam a produzir outros programas dos
núcleos. Isso ocorre quando há interesse do estudante. Nos casos destes
programas produzidos pelos calouros, os veteranos fazem o
acompanhamento da pauta e da produção do programa.
Existe, porém, apenas uma diferença na forma com a qual os
participantes mais antigos dos núcleos trabalham com os recém-chegados.
No núcleo de Radiojornalismo Esportivo, os calouros já fazem a locução
das matérias produzidas, enquanto que no Lança Perfume eles não
participam da mesa nos primeiros seis meses. Assim, no Radiojornalismo
Esportivo, após a veiculação do programa, é realizada uma reunião de
avaliação, na qual serão apresentados os acertos e os itens que podem ser
melhorados no quesito radiojornalístico (produção, locução, escrita,
condução das entrevistas, abordagens, etc). Já no Lança Perfume os
calouros participam da produção junto com veteranos e, depois dos
primeiros seis meses, começam a participar do programa fazendo locução,
reportagens, quadros especiais, além de continuarem na produção.
Também há algumas diferenças entre os núcleos quanto à rotina
produtiva dos outros programas, que possuem a produção dos alunos
veteranos no curso de Jornalismo. Enquanto o grupo do Lança Perfume
opta por fazer uma reunião de pauta mensal e discussões pontuais por e-
mail, o núcleo de Radiojornalismo Esportivo prefere fazer as discussões por
e-mail, enquanto a reunião de pauta fica mais restrita ao programa Bola na
Trave, produzido pelos calouros. Segundo a entrevistada 0822
, como o
Lança Perfume não é um projeto de extensão e todos são voluntários, a
reunião de pauta mensal serve para definir as pautas dos programas, as
pessoas que vão participar de cada um destes programas e quais serão as
funções de cada voluntário. O objetivo é não sobrecarregar nenhum
colaborador. No caso do Radiojornalismo Esportivo, o entrevistado 07
relata que existem discussões, muitas vezes virtuais.
22 Informação retirada da Entrevista 08 concedida por ENTREVISTADO 08. [4 jul. 2013]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis – SC. Arquivo do documento transcrito no apêndice 08 da dissertação.
108
“[...] no ano passado, o pessoal começou a migrar só para o Facebook. Mas sempre que possível o pessoal faz uma
reunião de pauta. As pautas chegam das mais diversas
maneiras, algumas via e-mail, outras nós mesmos lemos as notícias. O ideal, mesmo o pessoal que não está no programa, a gente prefere uma reunião de pauta porque senão vira bagunça” (Informação verbal)
23.
Em relação às disciplinas, a rotina produtiva é mais definida. Em
todas as aulas é realizada uma reunião de pauta, na qual é definido o
assunto a ser tratado no próximo programa. Cada turma é dividida em
grupos, que são revezados para que todos possam ter experiência nas
funções de produção, edição, roteiro, locução, reportagem, técnica e
postagem nas redes sociais. No horário das aulas também é finalizado o
roteiro e este é revisado pelo professor da disciplina. Os alunos ainda
buscam informações para a pauta do programa seguinte, finalizam a edição
dos áudios e escrevem a matéria. As entrevistas e parte dessas funções já
mencionadas são feitas durante a semana, fora do período de aulas.
Tanto os núcleos quanto as turmas que fazem a disciplina de
Radiojornalismo I têm grupos fechados no Facebook para a discussão de
pautas e assuntos. Também há fan pages abertas para o público curtir e
verificar o conteúdo. Estas fan pages são atualizadas pelos próprios alunos,
como será abordado no item Redes Sociais, presente neste capítulo. O site
também é alimentado pelos estudantes, que possuem perfis para a inserção
de conteúdos. Os professores podem acessar o sistema do portal e fazer
modificações, mas, no dia a dia, a postagem dos programas e produções
especiais fica sob responsabilidade dos bolsistas.
Por fim, existe a produção de conteúdos para a Rádio Joinville
Cultural, de Joinville/SC, que possui parceria com o curso de Jornalismo da
UFSC. Dois bolsistas são focados para esta produção do material, coletando
as matérias e os programas mais interessantes produzidos na semana e
enviando todas as sextas-feiras para veiculação na programação de sábado
da emissora. Basicamente o programa para a Joinville Cultural compila os
melhores momentos da semana da Rádio Ponto.
23 Informação retirada da Entrevista 07 concedida por ENTREVISTADO 07. [26 set. 2014]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis – SC. Arquivo do documento transcrito no apêndice 07 da dissertação.
109 4.5 Programação
A grade de programação da Rádio Ponto é modificada a cada seis
meses em decorrência da mudança de semestre na UFSC e, por
consequência, dos horários de aulas dos alunos e professores. Além disso,
os dois programas produzidos pelos estudantes das disciplinas de
Radiojornalismo I sofrem alterações, já que novos nomes e temática são
definidos pela turma recém-chegada.
No período analisado, as duas turmas de Radiojornalismo I
produziram um programa cada, sendo que a frequência de veiculação é
quinzenal. Sendo assim, na quinta-feira, houve a veiculação do programa ao
vivo de uma das turmas e, na terça-feira, a outra turma teve aula normal,
com reunião de pauta para a definição do tema a ser abordado no programa
seguinte.
Já em relação aos núcleos, a produção do segundo semestre de
2014 foi menor devido a questões internas dos grupos e à reforma realizada
nos estúdios da Rádio Ponto. Outro item que interfere na produção dos
programas da webemissora é o fato de o trabalho nos núcleos ser
voluntário, o que dificulta a manutenção da produção e a transmissão de
vários programas ao mesmo tempo.
“Geralmente as mudanças ocorrem por falta de pessoal. A gente tenta agregar os calouros via Bola na Trave, posteriormente trazê-
los ao resto do núcleo e continuar fazendo programas. Geralmente, as mudanças ocorrem quando diminui o número de participantes.
[...] Então, geralmente esses programas nascem e morrem por conta da disponibilidade do pessoal. Não existe uma lógica muito grande
[...]. Então, infelizmente a gente não tem um padrão. Até mesmo a gente, das antigas, não consegue identificar por que começam,
continuam e param de fazer. Mas, sem dúvida, a aula e os estágios influenciam muito na disponibilidade do pessoal para a continuação
dos programas” (Informação verbal)24
.
Na semana analisada, os programas que compunham a grade de
programação da Rádio Ponto eram:
24 Informação retirada da Entrevista 07 concedida por ENTREVISTADO 07. [26 set. 2014]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis – SC. Arquivo do documento transcrito no apêndice 07 da dissertação.
110
Sou Cidade – programa produzido por uma das turmas de
Radiojornalismo I. O foco são os conflitos urbanos existentes em
Florianópolis e cidades da região. Sempre há um convidado no
estúdio e reportagens realizadas ao vivo e gravadas. Transmitido
quinzenalmente nas terças-feiras, às 16h;
Ponto Digital – programa produzido pela outra turma da disciplina
de Radiojornalismo I. Trata sobre assuntos relacionados à
tecnologia, como segurança digital, aplicativos, redes sociais, etc.
É transmitido duas vezes por mês nas quintas-feiras, às 16h;
Terceira para Três – transmitido somente quando há jogos e
novidades sobre a NFL, National Football League (liga de futebol
americano). No período de acompanhamento, este programa não
foi transmitido devido a uma pausa na NFL. Geralmente, este
programa vai ao ar nas terças-feiras, às 18h30min;
Bola na Trave – produzido por calouros que recém integraram o
núcleo de Radiojornalismo Esportivo, o Bola na Trave traz notas,
boletins e matérias sobre futebol, mas sem aprofundar muito os
assuntos. A veiculação ocorre às segundas, às 17h30min;
Salto Alto Futebol Clube – mesa-redonda que traz uma abordagem
sobre o futebol a partir da visão feminina. Apesar de ter uma
gravação agendada, a edição do Salto Alto Futebol Clube foi
cancelada na semana de acompanhamento. Normalmente, este
programa é transmitido nas quintas-feiras, às 18h;
Ponto de Encontro – programa futebolístico que traz notícias
factuais com uma abordagem aprofundada, além de também trazer
informações sobre os times de futebol, especialmente os
catarinenses. A transmissão é realizada às sextas-feiras, às 18h;
Grande Jornada Esportiva – cobertura e transmissão de grandes
eventos esportivos, como a Eurocopa, a Copa das Confederações, a
Libertadores, entre outros. Não há periodicidade e horário de
transmissão, porque depende do horário dos jogos e sua veiculação
em algum canal de TV;
Lança Perfume – traz informações sobre assuntos culturais e
ligados ao lazer e ao entretenimento. Traz matérias e um quadro
especial, Momento Hugo Boss, que é a abertura para a visão
masculina sobre a temática da semana. Na semana de
acompanhamento o programa foi cancelado, mas normalmente é
veiculado nas segundas-feiras, às 19h;
Lança Cultura – programa mensal e temático, com entrevistas no
111
formato ping-pong com o objetivo de trazer reflexões e expor
assuntos considerados relevantes para a sociedade. Nos dias em
que é veiculado, vai ao ar na quinta-feira, às 19h.
Minutos Finais – mesa-redonda que faz análise sobre times de
futebol, focando nas equipes catarinenses, e outros momentos
importantes do esporte, como finais de campeonatos, entre outros.
A transmissão ocorre nas sextas-feiras, às 19h.
Além destes programas, a grade de programação da Rádio Ponto
conta com reprises do acervo da webemissora. Vale a pena ressaltar que já
foram transmitidos vários outros programas em semestres anteriores. Após
a formalização dos núcleos e suas participações na webemissora, as
mudanças dos programas ocorreram por aumento ou diminuição de
envolvidos no núcleo de Radiojornalismo Esportivo e devido às turmas de
Radiojornalismo I, que alteram a cada semestre o nome e a temática do
programa produzido. No caso do núcleo de Radiojornalismo Esportivo, dois
programas estavam cotados para voltar à programação na semana de
acompanhamento. Um deles é o UFSC Esporte Clube, que sempre foi o
programa principal do grupo, trazendo notícias sobre todos os esportes,
focando em modalidades menos abordadas pela imprensa tradicional,
incluindo esportes amadores. O outro programa é o Esporte Clube Notícias,
que também traz informações sobre esportes não extensivamente
abrangidos pela mídia tradicional, como o futsal, por exemplo. A prioridade
é trazer notícias sobre as equipes catarinenses. Após a semana de análises
foi verificado através da página do núcleo de Radiojornalismo Esportivo no
Facebook que estes dois programas voltaram a ser veiculados ainda no
segundo semestre de 2014.
Outro quesito importante para esta análise é a programação
especial dos 15 anos da Rádio Ponto, veiculada no dia 30 de setembro de
2014. A ideia foi a de transmitir os programas das 8h às 20h, totalizando 12
horas de programação especial, reprisando produções especiais importantes
já realizadas, fazendo a retrospectiva de coberturas, resgatando programas
importantes para a história da webemissora e produzindo novos programas
para celebrar a data. No entanto, um fato externo impactou a ideia inicial.
No dia 30 de setembro de 2014, a cidade de Florianópolis esteve em meio à
quarta onda de ataques criminosos e, por isso, foi paralisado o transporte coletivo do município a partir das 19h. Com base nisso, a Universidade
Federal de Santa Catarina decretou o fim das atividades do dia às 18h.
Assim, parte da programação de 15 anos teve que ser remanejada e foi
transmitida no dia seguinte, quarta-feira, 1º de outubro de 2014.
112 Mesmo com este imprevisto, a programação foi transmitida
normalmente até às 18h, com programas, em sua maioria, gravados e outros
ao vivo. Também foram produzidas vinhetas especiais para a data. Entre os
programas veiculados estão o Lança Perfume Especial, com temática sobre
as mulheres que ajudaram a fazer a história da Rádio Ponto; Túnel do
Tempo, que trouxe notícias, músicas e fatos que marcaram época nos
últimos 15 anos; Grande Jornada Esportiva Especial, retransmitindo a final
do Mundial Interclubes de 1999; etc.
5.6 Redes Sociais e Sites
A Rádio Ponto possui um site e presença nas redes sociais, sendo
que existe uma fan page no Facebook, um perfil no Twitter e um canal no
YouTube. Além disso, os núcleos Radiojornalismo Esportivo e Lança
Perfume e os programas das disciplinas Sou Cidade e Ponto Digital
possuem fan pages no Facebook e os dois núcleos também têm perfis no
Twitter. Assim, no total, existem um site, cinco fan pages no Facebook, três
perfis no Twitter e um canal no YouTube. Além disso, os programas
também estão sendo disponibilizados no SoundCloud e no MixCloud,
plataformas de divulgação e transmissão de podcasts.
O site (www.radioponto.ufsc.br) tem um layout que permite poucas
alterações. Na semana de acompanhamento houve problemas com a
postagem de conteúdos, porque havia muitos conteúdos antigos arquivados
e a plataforma não permitia mais posts. O problema foi temporariamente
resolvido no dia seguinte, já que foi possível editar postagens antigas para a
publicação de novos conteúdos. No entanto, era uma substituição de posts e
áudios antigos. Este problema suscitou discussões e reclamações quanto à
plataforma do portal, uma versão do Joomla de 2008 que nunca foi
atualizada. Esta versão foi implementada no site em 2009, quando houve
uma reformulação da página e, desde então, não houve modificações. A
página aceita a postagem de fotos, possui o streaming e também podcasts,
além de permitir que os ouvintes assistam ao estúdio enquanto os
programas ao vivo são transmitidos. No entanto, não podem ser
acrescentados outros elementos porque a versão do Joomla não permite a
instalação de muitos plugins, que são necessários para a modificação e
melhoria do site.
A home do site da Rádio Ponto pode ser conferida a seguir:
113
Figura 04 – Print do site da Rádio Ponto da UFSC.
Fonte: Reprodução da página inicial do site da Rádio Ponto UFSC.25
Em questão de conteúdo, o portal possui várias informações e tem
abas específicas para acessar a Home (página inicial), Notícias, Programas,
Produções Especiais, Pesquisar no Site e Programação. Em destaque, as
notícias e produções mais recentes e importantes. Na lateral direita superior
aparece o “Rádio ao vivo”, com o streaming e o vídeo nos casos dos
programas ao vivo. Logo abaixo dos destaques, aparecem alguns programas
do acervo da webemissora das categorias Documentário, Musical,
Esportivo e Radiojornalismo. No menu lateral, logo abaixo do streaming,
constam várias informações, como a quantidade de ouvintes online, o total
de visualizações de conteúdos, endereço da Rádio Ponto, link para podcast, posts do Twitter, produções mais acessadas e últimas produções. É
importante ressaltar que existem dois problemas neste menu. O link para o
podcast não funciona, sendo que, quando o internauta clica sobre ele, é redirecionado para uma página com o código XML. Já o rol de postagens
do Twitter também tem problemas, porque está trazendo do post mais
25 Site da Rádio Ponto UFSC: http://www.radioponto.ufsc.br/
114 antigo para o mais recente; ou seja, os destaques no site são os posts de
2009.
Ao acessar as categorias presentes no menu superior do site, o
layout torna-se fixo, trazendo o título da matéria, uma imagem e um
pequeno resumo sobre o assunto. Algumas postagens apenas convidam os
internautas a escutar determinado programa e não contam com o arquivo de
áudio para que o internauta ouça no estilo on demand. No menu Programas
há os posts com áudio. Estas publicações podem ter imagem, mas isso não é
uma obrigatoriedade e há um pequeno resumo sobre o assunto. O botão do
arquivo sonoro está na parte interior, como mostra a imagem abaixo.
Figura 05 – Destaque do botão do arquivo sonoro na parte inferior do site da Rádio
Ponto da UFSC.
Fonte: Reprodução site da Rádio Ponto UFSC.
26
A categoria Produções Especiais traz duas formas de pesquisa:
clicando no botão Produções Especiais aparecem as produções em formato
de lista, com imagem, um resumo e, se for o caso, o botão para o áudio;
mas o ouvinte-internauta também pode deixar a seta do mouse em cima do
botão Produções Especiais e optar por uma das categorias apresentadas
(Documentário, Esportivo, Musical, Radiojornalismo e Radioteatro). Neste
26 Site da Rádio Ponto UFSC: http://www.radioponto.ufsc.br/
115 último caso, as produções aparecem numa tabela com os links para as
URLs específicas, ano de postagem, autor e número de acessos. Esta lista,
no entanto, aparenta ter ordem aleatória, porque não há ordenação por
número de acessos, por questões alfabéticas, ano ou autor.
O item Pesquisar no Site traz várias opções ao internauta, que pode
pesquisar por palavra-chave, optando por “todos os termos”, “qualquer
termo” ou “frase exata”; pedir a ordenação por posts mais recentes, mais
antigos, mais populares, por ordem alfabética ou por seção/categoria; e
selecionar para que a pesquisa seja feita somente no Gcalendar, Artigos,
Weblinks, Contatos, Categorias, Seções e Fontes de Notícias. Não há
pesquisa por data.
Já a programação apresentada no site está defasada, porque foi
postada em agosto de 2013. Mesmo assim, alguns programas que aparecem
na programação permanecem sendo transmitidos e alguns horários são
compatíveis com a grade de programação da semana analisada.
No tocante às redes sociais, as cinco fan pages do Facebook, os
dois perfis do Twitter e o canal no YouTube são administrados pelos alunos
que fazem parte dos núcleos Radiojornalismo Esportivo e Lança Perfume e
das disciplinas de Radiojornalismo I. O perfil principal da Rádio Ponto no
Facebook traz postagens sobre os mais diversos programas, produções e
coberturas especiais, etc. Ele reúne algumas das postagens das fan pages
específicas dos programas. No entanto, as fan pages dos programas Ponto
Digital e Sou Cidade e dos núcleos Radiojornalismo Esportivo e Lança
Perfume trazem informações mais específicas sobre os programas. Ou seja,
enquanto a fan page da Rádio Ponto apresenta informações sobre a
programação (programas que serão transmitidos no dia, informações sobre
alterações na webradio e na sua programação, entre outros), as páginas dos
núcleos e dos programas das disciplinas trazem mais detalhes, fotos e
postagens enquanto o programa está sendo transmitido. O Twitter será
desconsiderado da análise porque apenas traz um resumo e o link da
postagem para o Facebook, fazendo um redirecionamento, ou traz o link
para o áudio no MixCloud ou no SoundCloud.
Para efeito de facilitar a análise, a quantidade de postagens será
dividida por fan page e por data:
116
Tabela 06 - Rádio Ponto UFSC – www.facebook.com/radiopontoufsc.
Fonte: Produzido pela autora.
Tabela 07 - Programa Ponto Digital – www.facebook.com/programapontodigital.
Fonte: Produzido pela autora.
Tabela 08 - Programa Sou Cidade – www.facebook.com/SouCidade.
Fonte: Produzido pela autora.
Tabela 09 - Núcleo Lança Perfume – www.facebook.com/programalancaperfume.
Fonte: Produzido pela autora.
Tabela 10 - Núcleo Radiojornalismo Esportivo –
www.facebook.com/jornalismoesportivoufsc.
Fonte: Produzido pela autora.
117
Além das postagens apresentadas anteriormente, na fan page da
Rádio Ponto houve três publicações em 27 de setembro de 2014, sábado da
semana de acompanhamento, e na página do núcleo Lança Perfume há uma
postagem no mesmo dia. No primeiro caso, os posts estavam lembrando os
internautas e convidando-os a acompanhar a programação especial de 15
anos da Rádio Ponto. Na segunda situação foi a chamada para a edição
sobre o Dia Nacional dos Surdos do TJ UFSC, telejornal produzido pelo
curso de Jornalismo da Universidade. O texto lembrou que o assunto foi
tema do primeiro Lança Perfume do semestre.
Voltando aos posts publicados nos dias em que houve
acompanhamento, a interação deu-se da seguinte forma (categorizando-se
por página do Facebook):
Tabela 11 - Rádio Ponto UFSC – www.facebook.com/radiopontoufsc.
Fonte: produzido pela autora.
118
Tabela 12 - Programa Ponto Digital – www.facebook.com/programapontodigital.
Fonte: produzido pela autora.
Tabela 13 - Programa Sou Cidade – www.facebook.com/SouCidade.
Fonte: produzido pela autora.
Tabela 14 - Núcleo Radiojornalismo Esportivo –
www.facebook.com/jornalismoesportivoufsc.
Fonte: produzido pela autora.
A fan page do núcleo Lança Perfume não contou com interação
porque não publicou posts nos dias verificados durante o acompanhamento.
No período analisado, foram postadas duas matérias no site, sendo uma
sobre a reforma da Rádio Ponto e outra sobre a programação de aniversário
de 15 anos da webemissora. O número de curtidores de cada fan page é 926 para o
Radiojornalismo Esportivo UFSC, 884 para a Rádio Ponto UFSC, 387 para
o Lança Perfume, 213 para o Ponto Digital e 177 para o Sou Cidade. De
todas as páginas no Facebook, os posts com mais interação foram o que
119 apresentou as fotos durante a transmissão da Grande Jornada Histórica
durante a programação de 15 anos da webradio, com 23 curtidas e um
compartilhamento; e o link do SoundCloud para audição on demand do
programa Ponto Digital da semana, que conquistou 21 curtidas, um
comentário e um compartilhamento. Em relação ao total de curtidores da
fan page, a transmissão da Grande Jornada Histórica obteve um percentual
de 2,48% de curtidas e 0,1% de compartilhamentos. Já o post do Ponto
Digital chegou a uma porcentagem de 9,85% de curtidas, 0,46% de
comentários e 0,46% de compartilhamentos. Verificando o percentual e
comparando com o estudo da Simplify360 (que demonstrou que, a cada um
milhão de fãs, a fan page tem, em média, 826 curtidas e 309 comentários
por postagem, o que alcança o percentual de 0,08% por post), as postagens
tiveram interação acima da média.
4.7 Análise
O objetivo principal da Rádio Ponto é ser uma emissora com
caráter laboratorial. Segundo um dos professores coordenadores, Eduardo
Meditsch, a grande contribuição da criação da webemissora é a divulgação
do material produzido em sala de aula e a aproximação do mundo
acadêmico com o profissional. O professor também ressalta que o modelo
atual ainda pode sofrer adequações para que as experimentações de uma
rádio laboratorial ganhem mais espaço.
“Sempre quando se discute o que deve ser a Rádio Ponto há uma
divisão de opiniões, se ela deve imitar uma rádio real, uma rádio profissional, ou se ela deve ser uma rádio mais experimental, que
exista uma maior tolerância, invenção, imaginação, que se experimentem coisas diferentes. Eu acho que o ideal é que ela
conseguisse as duas coisas, mas em fases diferentes da educação dos alunos. Eu acho que no começo tem que se aproximar o máximo
possível do que é real, para numa segunda fase a gente conseguir criar alguma coisa nova. Porque não adianta querer criar alguma
coisa da realidade sem ter uma base real, porque essa coisa vai ficar muito distante da realidade e não vai ter aplicação na realidade”
(Informação verbal)27
.
A professora Valci Zuculoto, que também é coordenadora da Rádio
27 Informação retirada da Entrevista 05 concedida por MEDITSCH, Eduardo. [4 jul. 2013]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis – SC. Arquivo do documento transcrito no apêndice 05 da dissertação.
120 Ponto, também destaca que a similaridade em relação ao mercado de
trabalho é um ponto positivo e que, inclusive, existe um pedido dos
próprios alunos para que essa lógica de ensino seja aplicada.
“[...] os alunos de jornalismo reclamam muito: „ah, nós temos que ter contato com o jornalismo diário, como é que é, temos que fazer o
jornalismo diário, como é mesmo no mercado, como é uma emissora de rádio, como é trabalhar numa emissora de rádio, numa emissora
de TV, como é trabalhar num jornal, numa revista, na produção de um site jornalístico, como é esse dia a dia‟. Então, a Rádio Ponto dá
essa oportunidade para eles. [...] aqui eles estão sob uma supervisão constante. É claro que a supervisão não se dá cotidianamente, de
hora em hora, em cada programa. Então, a gente está reproduzindo aqui como é que eles podem trabalhar numa emissora de rádio”
(Informação verbal)28
.
No entanto, professores e alunos concordam que ainda existem
pontos a serem modificados na rotina produtiva da webemissora, tanto com
relação à definição de público, pautas, quanto com os elementos que podem
ser utilizados por uma webradio. O professor Eduardo Meditsch relata que a
Rádio Ponto não possui uma definição de público, além de a audiência não
ser permanente, o que impacta diretamente no feedback dos ouvintes29
.
Já os alunos relataram em entrevistas que existem dificuldades
principalmente com relação ao site da Rádio Ponto. Na semana em que foi
realizado o acompanhamento houve várias discussões sobre uma possível
remodelação do site. Estudantes e bolsistas destacavam que seria
interessante utilizar uma plataforma mais simples e, inclusive, houve um
movimento para criar um novo layout no Wordpress para apresentar aos
professores coordenadores.
“A gente está criando em outra plataforma [...], no Wordpress, que
ele tem uma usabilidade melhor, tem layouts mais novos, mais modernos, a iconicidade dele é melhor. É mais fácil de mexer para
os bolsistas, porque não é todo bolsista que é programador em potencial. [...] Então, a nossa ideia é criar realmente uma
28 Informação retirada da Entrevista 06 concedida por ZUCULOTO, Valci. [3 jul. 2013]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis – SC. Arquivo do documento transcrito no apêndice 06 da dissertação. 29 Informação retirada da Entrevista 05 concedida por MEDITSCH, Eduardo. [4 jul. 2013]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis – SC. Arquivo do documento transcrito no apêndice 05 da dissertação.
121
plataforma que seja mais fácil, porque acabava que só alguns bolsistas lidavam com o site da Rádio. [...] Então, a gente achou
melhor fazer algo mais simples e que, ao mesmo tempo, tivesse uma iconicidade melhor para quem acessar, um rádio mais bonito,
porque a gente sabe que, na internet, um site mais organizado chama muito mais atenção. Um site mal organizado, um site que não
tem responsividade é rato o internauta voltar [...]. Acho que isso agrega um aspecto positivo [...]” (Informação verbal)
30.
Já o entrevistado 07 ressalta que a grande dificuldade da Rádio
Ponto atualmente é o site.
“O site é um problema. [...] O site é um site que visualmente tem extremas dificuldades, não é acessível, as pessoas não lembram dele
para entrar. Ele é uma plataforma muito antiga; então, várias
ferramentas que a gente poderia agregar, até para melhorar a qualidade do jornalismo, a gente não consegue”
(Informação
verbal)31
No entanto, a observação da rotina produtiva e os dados de
atualização das redes sociais e do site demonstram que as fan pages do
Facebook possuem mais atenção por parte dos alunos. Conforme relatado
anteriormente, tanto as redes sociais quanto o site são atualizados pelos
próprios estudantes. Na semana analisada, o site estava com problemas de
postagem. Porém a observação de posts mais antigos do site mostram que a
página já não era atualizada com frequência antes mesmo de o problema
surgir. Já as redes sociais, especialmente dos programas da disciplina e do
núcleo de Radiojornalismo Esportivo, possuem postagens quase que
diariamente. Percebe-se, então, uma substituição do uso do site pelas redes
sociais, o que transforma o site num local reservado para a manutenção do
acervo de programas da Rádio Ponto e para a transmissão do streaming.
No tocante à atualização do site, na semana de acompanhamento
foram postadas apenas duas matérias. No início do período analisado, o site
estava com problema e não era possível inserir novos conteúdos. Isso
ocorreu porque a plataforma do site estava com a memória cheia e não era
30 Informação retirada da Entrevista 13 concedida por ENTREVISTADO 13. [26 set. 2014]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis – SC. Arquivo do documento transcrito no apêndice 13 da dissertação. 31 Informação retirada da Entrevista 07 concedida por ENTREVISTADO 07. [26 set. 2014]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis – SC. Arquivo do documento transcrito no apêndice 07 da dissertação.
122 admissível postar novos conteúdos nem remover antigos, devido a questões
de login administrador. A situação foi parcialmente resolvida no segundo
dia de acompanhamento com a edição dos conteúdos antigos, o que fazia
com que novas produções pudessem ser postadas. Porém, mesmo antes de
este problema acontecer e depois de ser resolvido, o site continuou tendo
pouca frequência de atualização. Além disso, há um grande problema com
relação às postagens no site da Rádio Ponto, porque a maioria das matérias
não possui data de postagem, o que impede o usuário de saber quais são os
assuntos mais recentes.
A falta de frequência de atualização do site também é verificada na
fan page da Rádio Ponto no Facebook. As outras redes sociais, dos núcleos
e dos programas das disciplinas, são mais atualizadas e possuem mais
interação se comparadas à fan page oficial da webemissora. Um dos
motivos que levaram a esse resultado pode ser advindo do fato de que as 13
publicações da fan page da Rádio Ponto foram postadas no mesmo dia e
sobre um mesmo tema: aniversário de 15 anos da webemissora. É
importante ressaltar que a publicação de muitos posts em apenas um dia faz
com que a atualização seja distribuída no feed de notícias de menor número
de curtidores da fan page e, consequentemente, visualizada por menos
pessoas (devido aos critérios utilizados pelo Facebook). O recomendado
pelos analistas em social media é que sejam publicados no máximo três
postagens por dia (o ideal é inserir apenas um ou dois posts).
Os perfis dos programas e núcleos tiveram mais interação
possivelmente por trazerem assuntos diferenciados e postarem com mais
frequência, com exceção da fan page do núcleo Lança Perfume, que não
contou com nenhuma postagem durante os dias em que houve o
acompanhamento na webemissora, provavelmente devido à produção de
programas para a programação de aniversário da Rádio Ponto. Além disso,
todos os áudios são hospedados no SoundCloud ou no MixCloud e postados
nas redes sociais, o que demonstra que o site é secundário na visão dos
alunos. Isso é confirmado nas entrevistas, porque os estudantes
entrevistados sempre focam na atualização das redes sociais e não do site.
Um exemplo é o entrevistado 11, que afirma que “enquanto as meninas [do
Lança Perfume] estão aqui presenciando, tem gente nas redes sociais,
atualizando e botando fotos [...]. Então, tem esse acompanhamento, tanto no
Lança Perfume quanto no programa da disciplina [de rádio]32
”.
32 Informação retirada da Entrevista 11 concedida por ENTREVISTADO 11. [9 jul. 2013]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis – SC. Arquivo do documento transcrito no apêndice 11 da dissertação.
123 Esta questão pode estar relacionada ao fato de as produções e
programas da Rádio Ponto serem pensados a partir da lógica da rotina
produtiva de uma emissora hertziana com presença na internet. Todos os
entrevistados, alunos e professores, concordaram que a Rádio Ponto é um
espaço de ensino e aproximação com o mercado de trabalho, mas que deixa
de lado o quesito da convergência jornalística. O entrevistado 09 relata que
“o que a gente produz aqui não é para uma webradio, é para uma rádio
convencional mesmo, até porque a gente não tem ainda uma ideia do
suporte de interatividade que a gente pode ter com o ouvinte”33
. Já a
professora coordenadora Valci Zuculoto afirma que a Rádio Ponto “na
verdade, ela é uma webradio, mas ela ainda se constrói muito como uma
rádio tradicional”34
.
Estes relatos podem ser observados no site e na rotina produtiva da
webemissora, já que poucos elementos imagéticos e textuais são utilizados.
Basicamente, as matérias possuem foto e o único vídeo transmitido é
durante os programas ao vivo. O site também possui algumas limitações,
como o fato de não apresentar a data em todos os posts, o que dificulta o
entendimento do internauta sobre quais são os assuntos mais recentes.
Outro problema do site é o botão Pesquisar, que dificulta a busca
por data. Também há um problema de usabilidade quando se tenta baixar o
arquivo de áudio. Dependendo do navegador, o ouvinte-internauta tem
dificuldades para baixar o arquivo, porque as opções variam caso o usuário
opte por utilizar o Internet Explorer, o Google Chrome ou o Mozilla
Firefox. Nas informações de contato, a Rádio Ponto disponibiliza endereço,
e-mail e telefone, mas não é possível enviar perguntas por meio de
formulário eletrônico. O player, um dos principais elementos do site de uma
webradio, localiza-se no final da página, após a imagem e o texto. Se uma
das características das webradios é a primazia da sonoridade, o player
deveria estar bem visível para os ouvintes-internautas. Da forma
apresentada nos sites durante as semanas de acompanhamento, o usuário
pode ter que dar um scroll para ver o player e poder escutar a matéria. Este
não só é um problema de usabilidade como também é uma falha quando se
pensa nas características do meio de comunicação.
Assim, este capítulo trouxe informações sobre a rotina produtiva e
33 Informação retirada da Entrevista 09 concedida por ENTREVISTADO 09. [9 jul. 2013]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis – SC. Arquivo do documento transcrito no apêndice 09 da dissertação. 34 Informação retirada da Entrevista 06 concedida por ZUCULOTO, Valci. [3 jul. 2013]. Entrevistadora: Fabíola Thibes. Florianópolis – SC. Arquivo do documento transcrito no apêndice 06 da dissertação.
124 a programação da Rádio Ponto. Verificou-se que o site é menos atualizado
do que as redes sociais e, das cinco fan pages existentes, as que possuem
maior número de postagens são os perfis dos programas das disciplinas e a
página do Radiojornalismo Esportivo no Facebook. Existe, portanto, uma
indicação de que os estudantes substituem a atualização do site pelas
postagens nas redes sociais, utilizando a Rádio Ponto como um veículo para
a transmissão de suas produções dos núcleos. De toda a forma, a
webemissora cumpre seu papel de ser uma rádio laboratorial, com o
objetivo de ensinar alunos do curso de Jornalismo da UFSC.
125
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ponto de partida desta pesquisa foi calcado na observação das
webradios, emissoras que transmitem seus conteúdos exclusivamente pela
internet. Conforme abordado em capítulos anteriores, as webradios existem
no Brasil desde 1998 e, neste período, vêm se firmando como um novo
canal de comunicação com os ouvintes-internautas. Apesar de terem
similaridades com as rádios hertzianas com ou sem presença na internet
(como o fato de manterem o imediatismo, a instantaneidade, de terem o
elemento sonoro como o principal, etc), as webemissoras também possuem
diferenças, como o fato de permitirem o uso de elementos imagéticos e
textuais para o complemento da informação radiofônica. Diante deste
contexto, é inegável que existem mudanças na rotina produtiva das
redações, bem como no discurso radiofônico.
A partir disso, esta pesquisa buscou analisar a rotina produtiva das
webradios catarinenses Rádio Ponto e Rádio AL, com o intuito de descrever
como é o processo de newsmaking dessas webemissoras e se há diferenças
em relação às rádios hertzianas com presença na internet. Sendo assim, o
primeiro capítulo desta pesquisa revisitou a teoria e a história do rádio,
apresentando os tipos de emissoras e as etapas pelas quais rádios públicas e
comerciais passaram em mais de 90 anos de história. Também foram
discutidas informações relativas ao rádio informativo, abordando a
linguagem radiofônica e revisitando os gêneros e formatos radiofônicos.
O capítulo 02 abordou as webradios no contexto da convergência.
A convergência está presente em diversos campos, impactando também no
jornalismo. Por isso, foi destacado o conceito de convergência jornalística,
entendido nesta pesquisa como sendo um processo amplo, que afeta a
produção de conteúdo, integra meios distintos, reorganiza as redações, etc.
O mesmo capítulo também trouxe informações sobre a interatividade e as
redes sociais, demonstrando como isso impacta a produção jornalística e
radiofônica. Por fim, abrangeu-se a especificidade das webradios,
caracterizando o que são as webemissoras, como surgiram e quais suas
diferenças em relação às rádios tradicionais. O último item trata do rádio
digital hertziano, ainda não implementado no Brasil, e destaca que as
webradios são uma boa alternativa para o rádio digital hertziano.
Os capítulos 03 e 04 são de descrição e análise das webradios
Rádio Ponto e Rádio AL, objetos empíricos da pesquisa. Foi apresentada a
história das webemissoras, a estrutura, os profissionais, a rotina produtiva, a
programação, as redes sociais e o site e uma análise prévia sobre cada uma
126 das rádios. As informações foram obtidas por meio de observação não
participante, entrevistas abertas e análise da programação.
Comparando com os dados e observações realizadas nas duas
webradios analisadas, percebe-se que, em nível técnico, ambas as emissoras
podem ser consideradas webradios, porque possuem transmissão
exclusivamente pela internet, utilizam textos e imagens nos sites e nas redes
sociais e o áudio continua sendo o elemento principal, porque, sem ouvir a
matéria, não é possível entender o contexto da matéria postada. Por outro
lado, os respectivos players não são o elemento principal das páginas do
site, o que vai de encontro à conceituação aqui apresentada. Porém a
convergência jornalística não é efetivamente explorada, porque ambas as
webemissoras possuem problemas com relação ao site e às redes sociais.
Assim, a pesquisadora chegou à conclusão que a exploração das
potencialidades em termos de discurso radiofônico nas emissoras estudadas
são limitadas e restringem-se ao modelo já propagado pelas emissoras
tradicionais com presença na internet. Por isso, as webradios estudadas
apenas reproduzem o modelo atual. Este resultado já era esperado, uma vez
que, como pôde ser verificado nos capítulos 03 e 04, os entrevistados de
ambas as emissoras relataram que não há uma grande preocupação com os
conteúdos no tocante ao fato de as emissoras serem webradios, sendo que
esta delimitação é, na maioria das vezes, ignorada pelos profissionais e
estudantes que produzem as matérias para as rádios.
Sendo assim, com relação aos sites, pode-se concluir que as
páginas web da Rádio Ponto e da Rádio AL cumprem os requisitos básicos
das webradios, mas não trazem inovações e nem alteram os tipos de
conteúdos apresentados.
Avaliando as redes sociais, a Rádio Ponto é muito mais eficaz e
criativa, utilizando-se de mais elementos se comparado à fan page da Rádio
AL. Os posts da Rádio Ponto, em sua maioria, trazem texto e imagem, mas,
em muitas situações, também contam com a disponibilização do áudio de
determinado programa e até mesmo com um vídeo convidando os ouvintes-
internautas a ouvirem o programa. Na Rádio AL, utilizam-se apenas
fotografias e imagens, o que deixa o conteúdo mais empobrecido e com
nível de convergência jornalística menor. Além disso, em todas as fan pages, as cinco da Rádio Ponto e a da Alesc (representativa da Rádio AL),
não há preocupação relativa a posts patrocinados (ou seja, investimento em
dinheiro em determinados posts para que a fan page obtenha mais
curtidores). Isso limita o alcance das páginas, já que existe uma política do
próprio Facebook para que os posts orgânicos (ou seja, sem investimentos)
tenham visualização somente de uma parcela dos curtidores da fan page.
127 Enquanto isso, os posts patrocinados atingem mais curtidores e também são
publicados na timeline de outros usuários da rede social que podem ter
interesse naquela página (por morarem na mesma cidade, terem interesses
comuns, porque amigos curtiram a fan page, etc).
Portanto, chega-se à conclusão de que não há muito conhecimento
sobre o gerenciamento de redes sociais, tanto por parte dos alunos da Rádio
Ponto quanto por parte dos profissionais da equipe de redes sociais da
Alesc. Porém a Rádio Ponto possui fan pages mais atrativas e com mais
elementos e isso impacta na interação dos internautas, conforme
demonstrado anteriormente.
Já quando o quesito de avaliação é a rotina produtiva, o que mais
chamou a atenção da pesquisadora foram as reuniões de pauta. Na Rádio
Ponto, este procedimento é realizado, mesmo que seja por meio de e-mail
ou de grupos no Facebook. Apesar de não ser ideal, existe algum tipo de
discussão sobre os assuntos a serem tratados nos programas. A reunião de
pauta é melhor estabelecida nos programas das disciplinas, em que há
acompanhamento dos professores coordenadores.
Outro ponto importante a ser ressaltado é o fato de os envolvidos
em ambas as estações não se preocuparem com o fato de trabalharem/serem
voluntários numa webradio e não numa emissora tradicional. Esta situação
foi confirmada em entrevistas por alunos e profissionais, conforme
apresentado nos dois capítulos de análise das webemissoras. Portanto, fica
claro que as potencialidades de discurso em convergência não são
exploradas em sua totalidade.
Além disso, a questão do público em ambas as emissoras é um
ponto de interrogação, porque não há definição alguma neste sentido. Tanto
o coordenador da Rádio AL quanto o professor Eduardo Meditsch,
coordenador da Rádio Ponto, destacaram que as webemissoras não têm
público, o que dificulta a montagem da grade de programação, a definição
de temas dos programas, o tipo de abordagem a ser realizada, etc. Apenas a
coordenadora da Rádio Ponto, Valci Zuculoto, acredita que há um público
definido, que são os próprios estudantes do curso de Jornalismo da UFSC.
É importante lembrar que a Rádio Ponto é uma emissora
laboratorial, enquanto que a Rádio AL encaixa-se no conceito de “mídia das
fontes”. Ou seja, enquanto que o objetivo principal da webemissora da
UFSC é ser um espaço de divulgação do material produzido em sala de aula
e oferecer um canal para a experimentação dos alunos nos núcleos
Radiojornalismo Esportivo e Lança Perfume, as matérias da Rádio AL
servem para divulgar os atos oficiais da Assembleia Legislativa de Santa
Catarina, sendo um serviço de assessoria de imprensa. Esta diferença é
128 fundamental na rotina produtiva das webemissoras.
No caso da Rádio Ponto, identifica-se que ela cumpre seu papel,
sendo uma rádio laboratório que forma estudantes para o mercado de
trabalho. No entanto, poderia ser melhor explorada quanto a inovações no
discurso radiofônico, já que os alunos apenas reproduzem o que já é
realizado em emissoras hertzianas com presença na internet. Uma
alternativa seria atentar mais para o site e não substituí-lo pelas redes
sociais. Apesar de existir um projeto dos estudantes para a reformulação do
site e para criá-lo numa plataforma que suporte mais plugins e elementos
que poderiam ajudar na inovação da linguagem, no momento em que a
pesquisa foi realizada não havia nada efetivado. Já na Rádio AL, fica claro
que o funcionamento da emissora fica em segundo lugar, sendo que o
principal serviço é o de radioagência, mantendo o seu papel de “mídia das
fontes”.
Além disso, percebe-se que, nas duas webradios, existe algum nível
de convergência jornalística, porque elas não são calcadas somente nos
elementos sonoros. Porém a convergência conforme destacada nesta
pesquisa não é efetivada e ainda há um longo percurso para que isto ocorra,
tanto no tocante a mudanças de discurso radiofônico quanto à exploração da
utilização de plataformas (como sites e redes sociais). Os elementos
sonoros são mais importantes e fundamentais para o entendimento do
assunto, mas os players não são destaques nos sites, o que demonstra certa
incoerência na estrutura das webpages. Portanto, a hipótese apresentada na
introdução desta dissertação foi confirmada.
Importante também ressaltar que a análise dessas duas
webemissoras demonstra que elas estão ainda longe de representar um
complemento efetivo ou alternativo à oferta das emissoras radiojornalísticas
tradicionais. A ausência de estrutura de produção e continuidade de
programação que garantam a fidelidade de um público efetivo e os
objetivos principais das emissoras (de fonte num caso, laboratorial no
outro) que se sobrepõem ao de informar a população sobre temas relevantes
e interessantes, demonstram que a pluralização de vozes e de emissores
disponibilizada pela tecnologia é capaz de atender algumas necessidades
novas e proporcionar usos antes impensáveis, mas não garante por si só o
cumprimento da promessa de um melhor atendimento às necessidades
informativas da população, pelo menos do que dependa de uma base de
jornalismo profissional.
Esta pesquisa ainda é limitada e estudos posteriores poderão
abordar outros vieses. É possível realizar uma análise de conteúdo, tanto
sonoro quanto imagético e textual para confirmar todos os elementos
129 utilizados; fazer um trabalho de aplicação prática com sugestões para a
ampliação da efetivação da convergência jornalística; focar a análise em
melhorias de usabilidade para o site; fazer uma abordagem qualitativa no
tocante ao sonoro; etc. Isto posto, este estudo pretendeu ser uma pequena
contribuição para o para o estudo do radiojornalismo na era da
convergência. O intuito é que esta pesquisa possa servir como auxílio e
indicação para outros trabalhos da área. Por isso, não foram apresentadas
proposições acabadas e sim reflexões e questionamentos para possíveis
aplicações e aprimoramentos futuros dentro dos estudos do radiojornalismo.
130
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141
______. Entrevista 06. [3 jul. 2013]. Entrevistadora: Fabíola Thibes.
Florianópolis – SC. Arquivo do documento transcrito.
142
APÊNDICES
143 APÊNDICE 01 - Entrevista 01 - Nikolas Stefanovitch, coordenador da
Rádio AL
Fabíola (Entrevistadora) – Nikolas, gostaria de iniciar essa
entrevista com os seus comentários sobre essas mudanças que você vem
fazendo há aproximadamente um mês e meio.
Nikolas Stefanovitch (Entrevistado 01) – É, como você bem
falou, um pouco mais de um mês, né? Também tivemos período de
carnaval, eu também estive numa viagem, mas nesse período já deu para
juntar os colegas que estão aqui há mais tempo, já são profissionais da Casa
e profissionais com mais experiência, para fazer um diagnóstico prévio para
saber do que a gente precisa. Nós temos uma produção diária e semanal de
reportagens muito interessante, um processo já consolidado, temos um
retorno muito bacana, como você bem acompanhou durante essa semana. O
aproveitamento nos municípios do interior é muito grande, pelo que nos
consta e acho que o nosso grande desafio é preparar uma programação
densa, no bom sentido, de conteúdo, com informação, com opinião e
consolidar essa programação. Que seja uma programação não definitiva,
obviamente, mas uma programação padrão e que, aos poucos, a gente
consiga ir inserindo novos programas, novos jornalísticos, enfim. Hoje, ao
longo do tempo, a programação, logicamente como tudo, vai ficando
deteriorada, ultrapassada e o que a gente necessita é manter ela sempre
atualizada, buscando essa atratividade, esse interesse do público em escutar
a nossa rádio. Então, acho que o grande desafio hoje, nesse curto período
que nós estamos auxiliando esse pessoal aqui da rádio, o que nós
detectamos foi isso: buscar e consolidar uma programação que seja atrativa,
que as pessoas tenham interesse em ouvir as notícias do Parlamento e tudo
que é produzido aqui pela rádio da Alesc. Como lhe falei, a parte da
produção diária de reportagens para envio às rádios do interior é um
processo que eu vejo como consolidado e muito bem realizado. Agora a
gente precisa focar as nossas energias na programação, porque já existe
uma programação com bastante conteúdo, com muita coisa bacana, mas o
que a gente quer é fidelizá-la, fechar uma programação e, aos poucos, ir
inserindo os programas, mais aqueles que já estão; que eles fiquem e
tenham comprometimento sempre com conteúdo novo.
144
F – Qual a sua ligação com rádio e webradio?
E01 – Com webradio nenhuma. Com rádio, eu já tive experiência
na Rádio Guarujá, na Rádio Guararema, também tive experiências em
televisão, lógico que é um veículo diferente, mas também auxilia. Com
webradio é a primeira vez.
F – E você sente alguma diferença por ser webradio?
E01 – Não, na prática a diferença na construção do conteúdo, pelo
menos aqui para a rádio da Assembleia, pelo que eu notei, ela é muito
insignificante, vou assim colocar. Lógico que têm coisas que a gente
debate, têm assuntos que são pertinentes a uma webradio, à especificidade
da webradio. Para acessá-la você precisa estar em um computador,
geralmente sentado, ou em sua casa ou em seu local de trabalho, ela não
tem a mesma “potência” de uma rádio tradicional, que você segue consegue
acessá-la de qualquer lugar, no carro, em casa, num rádio com pilha, enfim.
A nossa tem essa especificidade, que nos conduz a algumas indicações:
“poxa, têm conteúdos que para uma webradio, de repente, seja
interessante”. Têm conteúdos que não caberia para uma webradio,
justamente porque o nosso veículo emissor final lá da ponta é um
computador. Acho que não tem esse número exato, é uma suposição, mas
acho que mais de 90% das pessoas que escutam uma webradio é num
computador. Não acredito que seja num tablet ou num telefone, não sei, até
porque as nossas internets via sinal 3G elas não são tão potentes quanto
deveriam. Eu acredito que seja assim. Então, tem conteúdo que a gente
preza: “poxa, para a nossa webradio, é legal a gente fazer uma programação
intensa de boletim das rodovias. Será que é válida ou não a situação do
trânsito atual?”. A gente debate isso, levanta esses questionamentos, por
nós termos uma rádio na mão que é exclusivamente via online. Mas,
ressalto, no contexto geral da produção diária, se assemelha muito a uma
rádio tradicional, têm esses pontos que eu falei, mas é pouco, não é tanto
assim. “Ó, temos uma produção específica para uma webradio”. Acho que
não, acho que a programação que a gente botaria no ar ou tentará botar no
ar é uma programação que vale e valerá tanto para a nossa web quanto para
uma futura rádio de sinal aberto, que é o que a gente está buscando.
145
F – Com a sua experiência, como é o processo de atualização do
site? Você vê que isso é feito em rádios tradicionais que também têm site?
E01 – Olha, eu vou te falar que eu não acompanho os sites desses
veículos com muita assiduidade. Então, eu não saberia falar se existe
alguma semelhança ou se existe, enfim, muita diferença entre o que a gente
faz e o que eles fazem. Eu sei que, por exemplo, pelo pouco que eu vi da
Rádio CBN Diário, 740 AM, eles disponibilizam uma farta quantidade de
conteúdo, às vezes até semelhante ao nosso, não sei se seria um espaço
específico para a reportagem, enfim. A nossa rádio aqui a gente procura
disponibilizar as reportagens diárias, tem um arquivo de notícias bem
interessante, [um arquivo] de programas bem interessante, também está
disponibilizado na web, mas o nosso carro-chefe, sem dúvida, são as
matérias factuais, as matérias do dia a dia e é isso que a gente oferece às
rádios do interior e também à grande população. Está ali disponível, dá para
fazer o download, dá para escutar no player, enfim. Não falaria hoje se
existe uma semelhança muito grande ou uma diferença muito grande. Eu sei
que, pelo pouco que eu consegui avaliar nesses 30 dias ou um pouco mais, é
um serviço que funciona bastante. Lógico, a gente precisaria, como tudo na
vida e em qualquer atividade profissional, buscar aprimoramentos,
adequações que se fazem necessárias. O que nós temos hoje já é
interessante, mas poderia melhorar um pouco em várias situações, mas
diferenças e igualdades eu confesso que eu não saberia responder. O que
nós temos hoje aqui na webradio eu acho que é um processo interessante,
que funciona. A gente disponibiliza no rádio, na nossa programação, um
programa específico que nós temos, que é o Radioweb Notícias, e, em
seguida, a matéria também é distribuída para um mailing de imprensa,
dando sempre ênfase para o link onde as rádios podem fazer o download do
MP3. E nós temos um retorno interessante. Até vale destacar, na última
quarta-feira [26 de março de 2014] foi produzida uma matéria, não sei se
você acompanhou, do João Guedes sobre a expansão da Universidade do
Estado, da Udesc, para a região do Extremo Oeste Catarinense, municípios
de Pinhalzinho e Palmitos, que é uma reivindicação antiga. E essa matéria
foi disponibilizada em todo o nosso sistema de envio, foi disponibilizada na
nossa programação e também a equipe que cuida da manutenção das redes
sociais da Assembleia Legislativa incluiu na fan page da Assembleia. E eu
recebi a informação ontem que apenas essa reportagem teve quase ou mais
de três mil visualizações e algo em torno de 15 compartilhamentos. Para
surpresa da Assembleia esse é um número muito expressivo, esse é um
número que carrega um potencial muito grande. Então, isso me leva a crer,
146 claro que isso é um dado preliminar, é um dado único, mas mostra que nós
estamos num caminho interessante, que o nosso material tem boa
receptividade e eu não tenho dúvidas que dessas visualizações várias aí
acarretaram em downloads e até em utilização na programação das rádios
pelo Estado. Então, isso é um retorno bacana que a gente tem, conseguir
mensurar o potencial desse material que a gente está divulgando. E repito:
ele possui um entrelaçamento entre a nossa agência emissora de notícias e a
nossa programação. Enviado pela agência, mas também no mesmo
momento é disponibilizado na programação e acho que isso é um fator que
vem dando muito certo aqui na rádio da Assembleia.
F – Você citou que a rádio ainda precisa de alguns melhoramentos.
E você já fez algumas alterações. Queria que você falasse o que fez e o que
ainda pretende fazer.
E01 – Eu acho que a minha primeira preocupação quando eu aqui
cheguei, recebi esse convite, aceitei, minha primeira preocupação foi fazer
uma análise de tudo o que nós tínhamos em mãos. Como eu disse, nós
temos uma programação que carece de uma atualização agora, de uma
consolidação, e é disso que nós vamos em busca, até porque temos um
processo possível de uma rádio aí de sinal aberto até a metade desse ano;
então, a gente tem que estar pronto para esse desafio. E, por outro lado, sem
dúvida nenhuma, o grande foco são as pessoas que aqui trabalham. Nós
temos um pessoal de extrema competência, profissionais capacitadíssimos,
a maioria profissionais de carreira aqui do Parlamento, de uma qualidade
muito grande, então, eu tentei aos poucos conversar com todos, de maneira
muito próxima, e saber as reais necessidades da nossa estrutura hoje da
rádio aqui da Assembleia Legislativa. Estrutura física, estrutura de material,
condições para o pessoal executar o seu trabalho. E aos poucos a gente vem
conseguindo inserir algumas dessas novas situações. A preocupação com o
nosso estúdio, um estúdio que já vem de alguns anos, mas que hoje ainda,
diante de todas as dificuldades, atende as necessidade, tentar buscar uma
maior condição para o pessoal trabalhar, conseguir equipamentos mais
modernos, com possibilidades maiores de executar o seu trabalho e também
na parte da redação. Aqui na Assembleia, essa é uma informação que todo
mundo tem conhecimento, nós temos veículos de comunicação distintos:
nós temos a TV AL, a rádio, nós temos a agência de notícias, a agência é de
todos os veículos, que produzem um trabalho muito bacana. Mas a rádio,
147 por exemplo, nunca teve uma redação específica, para o pessoal se reunir,
para o pessoal bater um papo, interagir, trocar ideias sobre uma pauta, fazer
uma reunião de pauta profissional, então, os colegas da rádio ficavam meio
espalhados pela redação, pelo espaço físico total da redação e não num
local específico. Ao meu ver, essa integração é salutar para a execução do
trabalho, até porque a troca de ideias ali ia ser muito mais forte do que é
hoje e do que acredito foi durante muito tempo. Eu senti essa necessidade,
expus para os nossos colegas coordenadores, para a nossa direção e nos
próximos dias a gente vai ter essa redistribuição e um local específico para
que a gente faça a redação da radioweb, para que a gente possa produzir
com mais qualidade, com mais interação entre os pares; infelizmente, isso
hoje não tem. Então, isso já foi um avanço. Então, a gente está tentando ir
por aí. Primeiro dar condições para as pessoas, para que as pessoas se
sintam bem para trabalhar, à vontade e com condições, é lógico que
dificuldades a gente sempre vai ter, a gente está lidando com pessoas e isso
é normal, mas inerente à atividade profissional em qualquer sentido, mas
conseguindo ao máximo deixar um clima bom, com condições, para que
todo mundo se sinta satisfeito, acho que a coisa tende a fluir melhor. E
acredito que isso a gente está conseguindo dar andamento. Eu
particularmente em 30 dias ou pouco mais, sinto que a gente está num clima
muito bacana, as pessoas interagem, as pessoas se preocupam com o que
nós temos para oferecer e acho que isso é muito salutar. Então, acho que os
grandes desafios são esses. A rádio da Assembleia acho que é o veículo
mais antigo que nós temos aqui dentro. Já vem de antigos tempos, mas
ultimamente ela vinha a passos curtos, se mudando, enfim, e a gente
pretende apresentar novamente a importância da rádio. A rádio é
importante, a rádio tem os seus espaços, tem a sua qualificação, é isso que a
gente vem tentando fazer.
F – As informações do site quanto à grade de programação estão
atualizadas?
E01 – Aquela programação não está atualizada, nós temos espaços
ali que são de preenchimento. Os conteúdos que estavam muito obsoletos a
gente já extraiu da programação, está extraindo, então, aquela programação,
parte dela é respeitada e uma outra parte não. Até pelos horários, porque
não batem os horários. Até foi uma coisa que me chamou a atenção porque
nós tínhamos horários divergentes e horários difíceis de serem respeitados,
148 então, é isso que a gente está respeitando também. Então, ao todo,
visualizando naquela programação já oriunda de outros tempos, ela não é
respeitada. Se você fizer uma análise, você vai ver que ela não é respeitada
em sua totalidade. Em parte, sem dúvida. Mas em sua totalidade não.
F – Hoje na programação os programas que vocês têm são o Rádio
AL Notícias, que você já deu uma reformulada, o Fala Deputado, que passa
na rádio, mas não é produzido pela rádio...
E01 – É uma produção conjunta, né, da TV e da rádio.
F – A música, tem o Esporte na Rede, que é o único ao vivo hoje...
E01 – Exatamente.
F – E tem mais algum outro programa?
E01 – Nós temos o Rádio AL Especial, sobre as reportagens que
são inseridas na nossa programação. A partir da próxima terça-feira, a gente
retoma um programa chamado Panorama Político ou Estúdio Democrático,
enfim. É um programa que a gente está retomando para a nossa grade de
programação, que será apresentado por um dos colegas mais experientes
aqui da nossa rádio, que é o Eduardo Rocha, que é funcionário de carreira
aqui da Casa, funcionário com ideias muito interessantes, que a gente
sempre escuta e respeita e tenta executá-las. Seria nosso segundo programa.
Nós temos o Conexão Geral, no final do dia, que é um radiojornal, na
verdade, que a gente também está mudando o formato dele, estamos
inserindo uma nova cara para ele. Ele estava um lance muito repetitivo,
então, a gente está tentando dar mais dinamismo para ele. E a gente
também, agora aguarda somente um encaminhamento que deve vir da nossa
diretoria, para retomar o nosso programa ao vivo pela manhã, o Bom Dia
Cidadão, que será apresentado em tese, é o projeto, pelo radialista Valter
Filho, que tem uma história muito grande aí na radiodifusão do Estado.
149 Então, nós teríamos uma grade já interessante. Logicamente que iríamos,
aos poucos, incluindo novos programas. Por exemplo, uma coisa que eu
posso adiantar, um programa que foi sugerido é o Diário das Cidades, que é
uma conexão direta sempre entre o Parlamento catarinense e os municípios
catarinenses, as suas iniciativas, as suas ações, as suas novidades. É um
programa que já esteve anos atrás na grade, teve um retorno muito bom e a
gente quer retomar. Então, a gente está aos poucos. Dando um passo de
cada vez, de acordo com a envergadura da nossa perna, tentando imprimir
um novo ritmo e inserir novos programas e novos conteúdos na nossa rádio.
Sempre respeitando e observando as nossas limitações, obviamente, e qual
é o nosso papel, a nossa função aqui, como rádio legislativo, como
webradio também. Então, temos que observar todos esses fatores. Então,
hoje nós temos o Esporte na Rede ao vivo. O restante da programação é
gravada e nós temos uma programação musical. Ressalto: não temos
nenhum programa produzido externamente e que contribua com a nossa
programação. Tudo o que é feito é feito pelos colegas da Assembleia
Legislativa. A partir da semana que vem temos mais um, às terças e
quartas-feiras, a partir de 13h15min, ao vivo, para preceder a nossa sessão
ordinária ao vivo também e acredito que, em breve, o Bom Dia Cidadão, o
Diário das Cidades e aí teremos também uma programação cultural um
pouco mais aguçada, esse é o objetivo. Nós estamos na webradio da
Assembleia Legislativa, nada melhor, um espaço adequado, para divulgar
também esse potencial cultural de Santa Catarina. Então, a nossa
programação musical também vai ser reformulada. A ideia é que a gente dê
bastante espaço para o que é produzido aqui no Estado, nos seus mais
variados gêneros, rock catarinense, acho que tem uma cena de rock
interessante, samba, forró, por que não, também é produzido aqui, passando
por todos os estilos musicais. Mas tendo esse vínculo com o Estado e com
os artistas do nosso Estado. É lógico que sem esquecer o que é feito fora, a
produção nacional e até internacional não pode ser desprezada de maneira
nenhuma, mas buscando esse enfoque para a música local e para a cultural
local.
F – De todo o corpo dos profissionais, a produtora e a estagiária de
produção não são formadas em jornalismo. Elas possuem experiência na
área?
150
E01 – Não são formadas em jornalismo. A produtora tem uma
experiência aí de mais de 20, 25 anos como radialista, passou por grandes
rádios aí de Florianópolis, do Sul do Estado, então, ela traz consigo uma
experiência muito grande. A nossa estagiária é da área de Comunicação
Social, a habilitação dela é Publicidade e Propaganda, mas tínhamos uma
estagiária em Jornalismo, que também desempenhava um papel muito
bacana, mas infelizmente ela se formou, acabou o estágio, ela partiu para
outra. Os quatro jornalistas da reportagem são formados. Temos eu na
coordenadoria. Nossos operadores técnicos também todos têm uma
habilitação, não só na parte de rádio, mas também outra habilitação que lhes
tendencia, sem dúvida nenhuma, a serem ótimos profissionais, como são. O
Rocha também, se eu não me engano, também é formado em Jornalismo.
Então, nós temos uma equipe aqui de profissionais que consegue mesclar
experiência acadêmica, com passagens pelos bancos acadêmicos, com
profissionais que têm uma bagagem muito grande na radiodifusão
catarinense e é uma mescla que tem tudo para dar certo.
F – Qual a maior dificuldade e a maior vantagem?
E01 – Olha, a maior dificuldade é que se a gente tivesse um corpo
profissional maior seria interessante. Não precisaríamos sobrecarregar, a
gente busca não sobrecarregar também, mas tem determinadas situações
que as pessoas precisam se doar um pouquinho mais e todas são muito
solícitas. Se a gente conseguir efetivar o que a gente pretende a gente vai ter
os colegas radialistas conosco, que já estão na Casa executando outras
funções, e acredito eu que o lugar deles é aqui. Então, isso vai nos auxiliar
demais. Eu não posso, é complicado eu pedir ao repórter que se dedique a
duas ou três pautas por dia, chegar no final do dia e ainda ter que apresentar
um jornal ou fazer um especial. É difícil. Eles têm cargas horárias
específicas e elas precisam ser cumpridas. Então, não dá para extrapolar
muito. A dificuldade é essa, a dificuldade é ter pessoas, não muitas, não
precisa vir um exército para cá que não tem necessidade, já nos daria uma
força e um gás muito grande. E o que a gente está buscando é isso agora.
Trazer esse pessoal para a Rádio da Assembleia. Eles estão na Casa, são da
Casa, têm experiência em radiodifusão, já têm experiência aqui na rádio da
Assembleia, por algum motivo estão em outros setores, mas a gente está
tentando buscá-los de volta para que eles possam nos auxiliar nessa nova
programação que a gente pretende colocar. Na verdade, é a adequação
151 dessa programação que já existe. É buscar um comprometimento com a
programação, que o nosso ouvinte saiba que, em determinado horário, ele
vai ouvir tal programa. Lógico, não temos condições de produzir
programas diariamente, uma produção diária, factual, de programas
especiais, enfim, que demandam mais tempo. Mas os jornalísticos, isso tudo
dá para fazer tranquilamente. A grande dificuldade é essa, duas ou três. E a
coisa que eu gosto de ressaltar sempre que o que nós temos aqui na rádio da
Assembleia é um corpo de pessoal muito qualificado. Precisaríamos ter
mais algumas peças-chave, principalmente para tocar os nossos programas,
mas esse pessoal que a gente tem hoje tem uma qualificação muito grande.
F – Uma coisa que eu percebi é que, devido ao espaço físico, não
tem uma reunião de pauta formal. Eu também verifiquei que nas terças,
quartas e quintas-feiras há uma atividade mais intensa. Enquanto nas
segundas e sextas é um pouco mais parado. Pode acontecer de não ter nada?
Como vocês fazem, existe algum planejamento?
E01 – Temos esse procedimento, sim [pautas “de gaveta”]. São
raros os momentos, muito raros, que não temos nenhuma atividade aqui no
Parlamento, sempre tem atividade, então, a gente adapta para receber a
cobertura dos veículos de comunicação aqui da Casa, com grau de
importância, com grau de interesse acentuado. Terças, quartas e quintas a
Casa toda, a Assembleia inteira funciona. São os dias que nós temos as
sessões ordinárias, as comissões permanentes, os grandes debates aqui da
Casa. Segundas e sextas são dias que geralmente ou os deputados estão
chegando à capital dos seus municípios do interior e na sexta, em tese,
retornando aos seus municípios, executando as suas agendas. A atividade
continua na segunda e na sexta nos municípios do interior. Aqui terça,
quarta e quinta-feira, basicamente, o fato é o que a gente produz. Mas nós
temos conteúdos que são analisados, que a gente produz durante esses dias,
e na segunda e na sexta também, durante a semana, que a gente segura para
soltar em dias que a gente sente que não tem uma produção jornalística tão
intensa, que tem uma escassez de conteúdo. Não que não exista conteúdo,
existe. Mas não na mesma intensidade que nos dias principais, que é o
miolo da semana, de terça a quinta. Então, ontem [quinta-feira], por
exemplo, a gente produziu uma matéria sobre essa campanha da saúde
nacional em torno do HPV, da vacinação das meninas de uma determinada
idade. Nós fizemos uma avaliação, até uma matéria de serviço, que é até
152 uma de nossas funções oferecer serviço para a população, e essa matéria
não teria uma factualidade, não teria que botá-la ontem. Então, vamos
segurar a matéria, que a gente já sabia que sexta-feira nós teríamos uma
pauta menos intensa. Então, para compor melhor a nossa programação, a
nossa produção de conteúdo, a gente segurou a nossa matéria para soltar
hoje.
F – Então, todo dia tem matéria nova, a gente pode dizer de
maneira geral?
E01 – Sem dúvida nenhuma. Nós temos uma produção muito
intensa de matérias. Basta observar no nosso site. Nós temos uma busca
simples nos arquivos e nós temos dias que a gente consegue, com quatro
repórteres com horários específicos, todos eles têm uma carga de seis horas
de trabalho - e isso a gente cumpre até demais - e tem dias aí de uma
produção de até 10, 12 matérias. E a gente precisa analisar o conteúdo
dessas matérias e a gente nota a qualidade do conteúdo, divulga conteúdo
do Parlamento, que divulgam as atividades dos deputados, que em tese
compõem o Parlamento. Hoje 40 deputados compõem o Parlamento, a
Assembleia Legislativa. Mas também tm matérias de cunho de serviço,
matérias históricas, como nós fizemos ontem uma matéria um pouco maior
sobre os 10 anos da passagem do Furacão Catarina, que foi um fato
histórico no país e um dos nossos deputados acabou sendo vítima 10 anos
atrás, fez uma declaração emocionado, enfim. Então, sim, a gente tem uma
preocupação como as redações comerciais têm de ter conteúdo na manga
para, em dias eventuais, caso a gente não tenha tantas atividades, soltar
também na programação.
F – Nesta semana de acompanhamento, um dos repórteres estava
em Campos Novos. Como vocês decidem o que vai ter cobertura da Rádio
AL?
E01 – É um desfalque na nossa redação, mas é um desfalque que se
justifica porque ele está lá produzindo conteúdo relevante para a gente.
Então, é uma sessão solene, bacana, e a gente precisa, logicamente, cobrir,
153 porque é inerente do Parlamento. Então, a gente tem que se adequar. Nós
temos quatro repórteres, que eu vejo que não é pouco, mas também não é
muito. Dá ali na estreita, mas a gente se adéqua, os colegas sempre se
ajudam, um de repente fica um pouquinho mais, enfim. A gente busca esse
entendimento entre os colegas da redação e sempre dá certo. E para essas
viagens existe sempre um encaminhamento via direção, via presidência, das
atividades que são realizadas pela Assembleia Legislativa e carecem de
uma cobertura. A nossa intenção é, com essa possível redação que a gente
quer montar aqui dentro da estrutura da Assembleia, uma redação
específica da rádio, a gente ter condições com tranquilidade, com espaço
físico, com todas essas disponibilidades, de buscar também pautas
interessantes que não aconteçam exclusivamente em Florianópolis. Tentar
expandir também, porque eu sei que a gente vai conseguir buscar conteúdo
relevante no Norte do Estado, em Joinville, por exemplo, São Francisco do
Sul, Jaraguá do Sul, etc, que têm um potencial absurdo; no Sul do Estado;
na região Serrana; no Meio-Oeste; no Oeste. Então, a gente quer ter essa
condição de sentar, discutir uma pauta e, de repente, se a gente tiver
necessidade de deslocar um repórter nosso para fazer uma determinada
cobertura em Lages, por exemplo, a gente ter a condição de fazer isso. A
Assembleia nos oferece essa condição. A gente só precisa agora produzir.
F – Nesta semana, não houve entrada ao vivo do repórter que está
em viagem a Campos Novos. Você acredita que deveria ser feita a entrada
ao vivo?
E01 – Essa é a intenção. Nós temos à nossa disposição a híbrida, a
gente está até estudando a possibilidade de uma segunda híbrida, para botar
duas linhas no ar ao mesmo tempo, muitas rádios com certeza já têm essa
possibilidade, a nossa não tem. Essa é uma das intenções principais. Como
eu falei, rádio é ao vivo, rádio é na hora que acontecem os fatos e eu não
tenho dúvida que qualquer um dos nossos repórteres em atividades externas
como essa, quando chamados ao vivo, por telefone ou por algum outro
meio, dariam conta do recado sem problema nenhum. O problema é que
hoje nós não temos, há algum tempo já não temos essa prática,
infelizmente, e a gente quer retomar isso. Nós poderíamos ter um
radiojornal no final do dia ao vivo, com as principais notícias do dia, e
também chamando os nossos repórteres na rua, chamando os nossos
repórteres em viagem, chamando aquele repórter que pôde acompanhar a
154 sessão ordinária, que teve uma votação expressiva, que derrubou um veto
ou teve um grande projeto aprovado, entrar ao vivo ali do plenário e fazer
um boletim ao vivo para a gente. A rádio dá essa possibilidade do ao vivo.
Hoje, com a tecnologia tão aprimorada, com a parte de comunicações, de
telecomunicações forte, a gente tem condições de fazer na hora, mais rápido
até que a internet, não tenho dúvida disso. Hoje, lógico, a gente acompanha
a internet porque a gente está na internet. Mas a rádio tem esse potencial e
isso é que a gente quer produzir. Seria bacana a gente poder entrar no meio
da programação com um flash ao vivo do Danilo Coutinho lá de Campos
Novos trazendo as novidades da sessão que ele cobriu. Para isso,
provavelmente, teríamos que ter uma pessoa aqui para dar uma abordagem,
fazer uma abertura, fazer um pequeno resumo do que está rolando, chama o
repórter, o repórter dá a mensagem, manda a informação. Isso é um dos
nossos objetivos e dá para fazer, sem dúvida nenhuma. A gente carece aí da
chegada desses novos colegas que, em tese, se dedicariam a essa parte de
abordagem, essa parte de programas, essa parte de apresentação. Então, é
isso que a gente está buscando, mas a possibilidade é clara e sem dúvida
nenhuma é um dos papéis que a gente deve executar.
F – Falando um pouco do site, o site da agência, do rádio e da TV
são relativamente parecidos, tem um layout padrão. Como você vê o site
hoje? Tem algum projeto para o site?
E01 – O site enfrenta algumas mudanças ultimamente. Antes da
minha chegada, há algum tempo, ele enfrentou algumas mudanças,
principalmente, da Agência AL que foi criado, é um site relativamente
novo, não tem tantos anos assim. E na época quem o executou achou
melhor esse que está no ar, achou que esse seria o encaminhamento mais
adequado. Para nós da área de rádio, essa constatação que foi dita para do
player estar muito para baixo, acredito que por alguns colegas, é uma
realidade, sem dúvida nenhuma, que eu referendo. Para nós, o mais
importante do nosso produto, é ele ser disponibilizado através do player. A
gente, lógico, pode ter um pequeno texto de introdução, até uma foto para
ilustrar, até para facilitar a compreensão e a interpretação das pessoas que
estão ali buscando conteúdo, mas o importante para nós é o player, que é
onde o pessoal vai acessar o nosso conteúdo, o que é produzido aqui na
rádio. E de fato o player é um tanto quanto tímido. Então, a gente está
vendo a possibilidade de aprimorar isso, que é uma constatação meio que
155 unânime do pessoal. Nada que não seja resolvido, com possibilidades de
resolução, ou algo que hoje prejudique o nosso trabalho. Eu não vejo dessa
maneira. Acho que carece de algumas adequações, normal, mas esse ponto
específico do player é algo que a gente poderia ter um retorno um pouco
mais rápido. É lógico, quando nós chegamos o site já estava pronto, o site
da Agência de Comunicação e a gente agora vai se adequando ao que nós
temos. É lógico que cada um tem as suas interpretações sobre algumas
coisas, o que é normal, o profissional tem a sua visão, mas hoje o que nós
precisaríamos num primeiro momento é dar mais ênfase à ferramenta que
dá visibilidade ao nosso conteúdo, tanto para ouvir, mas não somente,
quanto para baixar e reproduzir. Seria o player, mas acho que isso é de fácil
resolução, não vejo como uma coisa complicada de ser resolvida e a gente
está buscando isso. Mas o site como um todo está disponível, é o site que
está à disposição, acredito que ele tenha um layout claro, ele é um layout
clean, não é um layout que atrapalha, nesse sentido também, e, em breve, se
a gente conseguir executar essas alterações acho que nos ajudaria muito.
Acho, por exemplo, para a Agência de Notícias, que é texto puramente,
acho que é interessante, porque “vende”, expõe o seu texto, expõe a sua
foto, porque tem um layout clean, não é agressivo, mas para a rádio a gente
tem esse agravante que nós precisamos ter um espaço visível, bacana, do
nosso player, que ele é o nosso conteúdo. Hoje a gente tem, mas acredito
que com o tempo a gente vai conseguir resolver com tranquilidade essa
situação.
F – Mas a dificuldade que você comentou é a do contador de
download, que hoje não tem. Você pretende pedir isso?
E01 – Nós, um pessoal de anos atrás, um pessoal mais antigo da
rádio me informou que dá de usar o Google Analytics, que dá para ter uma
noção de audiência. Hoje nós não temos [contador de downloads], ia
prosperar aqui na rádio e por algum motivo ele foi extraído. Mas num
contato já prévio com a TI [equipe de Tecnologia da Informação] da Casa,
que também é de uma qualidade absurda, são profissionais de extrema
competência e profissionais de um gabarito altíssimo, eles já nos
informaram que é possível sim ter esse contador de downloads, até para que
a gente possa mensurar como o nosso conteúdo está sendo utilizado ou
quantas vezes a nossa matéria está sendo baixada, para a gente ter um
retorno do nosso trabalho, saber como o nosso trabalho está sendo recebido.
156 Isso que eu falei há pouco, dessa informação que a colega das redes sociais
nos trouxe, nos deu uma satisfação imensurável, profissional, que o
conteúdo que a gente produz com tanta determinação, afinco,
profissionalismo, está sendo bem aproveitado ou está sendo aproveitado
com bastante efervescência. Então, isso para nós é muito bacana, é muito
gratificante. Hoje nós não temos [contador de downloads]. Não tenho
dúvida de que, em breve, teremos. Porque, como eu disse, o pessoal da TI
aqui é espetacular, qualidade absurda, profissionais com uma capacidade
enorme. Sem dúvida, junto conosco, chegaremos a um entendimento para
esse tema. É algo simples também que eu acredito que tenha nas próximas
semanas.
F – Você acredita que o rádio na internet também é rádio?
E01 – Ah, eu não tenho dúvida que é rádio. Ele expande, sem
dúvida nenhuma, dá outras possibilidades. Até as rádios tradicionais hoje
elas também migraram para a internet. Nós estamos na internet e queremos
migrar também para a rádio aberta. Mas continua sendo rádio sem dúvida
nenhuma. É lógico que a gente compartilha de outras plataformas que nos
auxiliam, que qualificam o nosso trabalho na nossa parte do website da
agência aqui da Assembleia Legislativa, na parte da rádio. Você sabe, nós
temos foto, nós temos texto, nós temos o nosso player com conteúdo
sonoro, que é o nosso produto, mas eu vejo sim com muita tranquilidade
que continua rádio e será sempre rádio. Por mais que os adventos
tecnológicos tenham invadido todos os campos e as pessoas estejam
abraçando com muita intensidade tudo isso que vem acontecendo, a rádio,
na minha opinião, sempre vai ser rádio. Assim como o jornal impresso
sempre vai ser jornal impresso. Lógico, a gente sente que tem uma
diminuição na audiência, desses jornais, enfim, mas morrer de fato eu não
vejo a possibilidade de isso acontecer. Aqui na rádio da Assembleia
Legislativa as pessoas fazem rádio porque gostam. Isso eu consigo notar.
Elas gostam do que estão fazendo e sabem que estão fazendo para a rádio.
E a gente acaba compartilhando todo esse conteúdo com redes sociais, com
websites, com até mesmo vídeo, quem sabe, confluindo todos esses meios
porque é uma tendência hoje nos anos que a gente vive e tem que se
adequar. Mas continua sendo rádio. Eu não vejo um híbrido: “ah, não, é um
outro veículo”. Não, é rádio e é uma rádio que tem se adequar ao que a
gente vive hoje. Tanto que as rádios comerciais buscam isso também.
157 Todas elas possuem as suas redes sociais, todas elas têm os seus websites e
divulgam vídeos também, por que não, mas no fundo continua sendo rádio
e sempre será rádio. Aqui a gente produz uma radioweb. Todo o material
que a gente aglutina é para potencializar as nossas informações e
divulgações. Mas aqui a gente produz para uma rádio e, assim, acredito eu
que será. Eu não tenho muita dúvida disso. Tem que se adequar às
novidades, não dá para ficar para trás. Mas não abandonar. Eu sou um cara
que gosta muito de rádio e gosto da rádio antiga. Aqui o que a gente faz é
tentar manter a magia da rádio, o charme da rádio tradicional e tentar buscar
esse alinhamento com as novas tecnologias, senão a gente fica para trás.
Isso que a gente busca, acredito que devagarzinho a gente vai conseguir.
F – A maioria dos repórteres da Rádio AL não veio diretamente
para a equipe da webemissora. Por que acontece isso?
E01 – Eu não sei ao certo como foi a chegada dos colegas que
estão na rádio hoje, não sei se passaram por outros setores da comunicação,
por outros veículos. Acredito que alguns tenham aportado diretamente aqui,
e uma repórter recentemente veio diretamente da TV, por uma opção dela.
Agora, depende muito da necessidade de cada veículo. Então, outro dia eu
tive contato com um colega que trabalha na agência e que demonstrou
interesse de vir trabalhar conosco na rádio. E a gente tem que respeitar as
necessidades da agência de notícias. Ele tem superinteresse, ele é efetivo,
eu falei para ele que a gente está de braços abertos, mas que não dependeria
de mim. Que seria muito bem recebido, sem dúvida nenhuma. Então, essa
distribuição é de acordo, primeiro, acho eu, de uma vontade profissional
dos colegas que chegam e também de uma necessidade de pessoal. A gente
não pode ter um veículo com 14, 15 profissionais e um outro com dois.
Tem que buscar, logicamente respeitando as dimensões, uma situação
isonômica. Todos os veículos dessa Casa são importantes, a TV é
importante, assim como a rádio é importante, a agência de notícias é
importante, o nosso setor de fotografia é importante, nosso setor de redes
sociais também é importante. Então, tem que buscar essa distribuição
equânime, que atenda a todos e atenda também o interesse desses
profissionais. Não dá para ficar numa situação em que a pessoa tenha que
empurrar “goela abaixo”, ela não vai fazer bem. Então, foi o que eu falei, o
pessoal que está hoje na redação da rádio faz porque gosta. Isso nos dá uma
tranquilidade muito grande e a certeza de que a gente está no bom caminho.
158 Não tem ninguém ali empurrado, ali na rádio não. Eles gostam. Quer fazer?
Quero. Tem histórico? Tenho. Mesmo que não tenha histórico, aprende.
Entendeu? Mas tendo a vontade de fazer a rádio, gostando do que faz, às
vezes dá certo. Então, eu não saberia responder como foi feito quando os
colegas chegaram agora mediante concurso público. Mas hoje, no nosso
exemplo, todos os que estão ali, pelo que me relataram, gostam do que
produzem, do que fazem. Acho que isso é o essencial, o principal, porque
tudo que se faz é com satisfação. Por isso que fazem tão bem. Essa é a
minha avaliação.
159 APÊNDICE 02 - Entrevista 02 – Eduardo Rocha, fundador Rádio AL
Fabíola (ENTREVISTADORA) – Como foi o processo de adequação para a implantação da Rádio AL?
ENTREVISTADO 02 – Nós iniciamos um trabalho de renovação
do estúdio. Passamos de uma plataforma analógica para uma plataforma
digital. E nas conversas com o pessoal técnico, sobre as alterações, nós
ficamos sabendo sobre o MP3 e o streaming de áudio e a decisão levada por
mim ao nosso Presidente da Assembleia foi também de utilizar o serviço de
rádio na internet. Isso resolveria uma série de problemas da gente, porque
nós não tínhamos perspectiva de ter uma rádio convencional aqui na
Assembleia Legislativa. Essa perspectiva sempre foi um pouco distante
pelo caráter do serviço que tínhamos aqui.
F – O serviço radiofônico já existia, porém ainda não havia uma rádio constituída?
E02 – Nós tínhamos um serviço de rádio, gravando material e
passando para as emissoras de rádio por telefone. Nós ligávamos para as
rádios e passávamos o material por telefone. Então, a qualidade de áudio
também era bem duvidosa, pois, conforme os dados da linha, a qualidade de
som era prejudicada. E nós decidimos iniciar a utilização dos recursos
radiofônicos de uma maneira mais atualizada, que abrange o uso do CD, do
telefone celular e do meio digital. Assim, nós fizemos a mudança da
plataforma analógica, da fita K7, basicamente, o próprio CD, para a digital.
Esse processo foi iniciado por nós em 1998, levando por volta de um ano
para a gente iniciar, colocar tudo e iniciar o trabalho de internet. Então, nós
abandonamos a transmissão do material por telefone, passando a ser
postado numa página na internet. Isso aí se configurou como um
pioneirismo nosso.
F – Esse fato é importante ser comentado. Essa foi a primeira Assembleia Legislativa a realizar esse serviço?
160
E02 – Exatamente. Sempre houve muitas ligações dos outros
estados: “como você fez isso?”. Foi uma iniciativa do profissional dentro do
setor, no sentido de se antecipar porque, inclusive, as próprias emissoras de
rádio não tinham ainda computador, você não via estúdios assim. Porque
você sabe, quando há uma mudança de condição, que conduz a novas
tecnologias, isso não chega e não vai ser adotado de uma hora para outra.
Muita gente até resiste: “ah, eu vou continuar usando a minha máquina de
escrever, não vou passar para o computador”. Até hoje, a gente ainda tem alguém preferindo usar a máquina de escrever.
F – No começo, imagino que tenha sido bem difícil a questão da tecnologia.
E02 – Se fosse colocar ali que a diretiva era usar a internet como
veículo de comunicação e, através do streaming de áudio, criar uma rádio
na internet e etc., algumas pessoas até se assustavam, pois pensavam: “ah,
isso é uma coisa que está muito utópico, ilusório”. Mas nós tivemos que
perseguir esse objetivo para conseguir os equipamentos necessários, os
provedores de internet e outras coisas, a montagem do estúdio e a formação
da equipe. Com isso, nós conseguimos estabelecer esse serviço, criamos
uma página na internet, postamos o material e, aos poucos, começaram a
ser utilizados pelas emissoras, porque aos pucos as emissoras começaram a
ter computador para as pesquisas. E na sequência, então, nós implantamos a
webradio, como um serviço de rádio online mesmo, porque o streaming de
áudio então foi possível, conforme a tecnologia se instalou. E na própria
Assembleia Legislativa nós ficamos trabalhando inicialmente com a
webradio interna, porque nós não tínhamos ainda banda larga suficiente
para esse serviço. Quando surgiu a banda larga, nós já estávamos ali, nós já estávamos surfando na crista daquela onda.
F – Imagino também que para as rádios do interior, que precisavam das notícias, houve a obrigação de mudar a tecnologia também, certo?
E02 – Com certeza. Porque nós nos apropriamos da internet como
veículo e isso foi depois uma situação obrigatória para todas as emissoras.
Todas migraram para a internet, usando-a como um de seus veículos, pois
elas ainda continuam com a radiodifusão convencional, mas migraram para
161 a internet, porque foi inevitável. E eu até, na época, classificava isso como
um fenômeno de “a nova era do rádio”, pois permitiu um crescimento
fantástico para a audiência das rádios, porque cessou o limite das ondas. O
limite agora estava na tecnologia de banda larga e à medida que foi se
ampliando a estrutura dos cabos de transmissão, por fibra óptica, e foram
sendo criadas novas condições, então, se tornou uma coisa fácil de se
escutar e muito fácil de fazer. Surgiram milhares e milhares de webradios
no mundo todo e muitas delas com um número considerável de audiência.
Incrível até! Fantástico até! Espetacular a audiência que várias webradios -
rádios feitas, especialmente, pela internet - têm. É só você pegar qualquer
site que fornece serviço de webradios, há um contador de downloads - o
rádios.com.br, por exemplo -, olha nas mais ouvidas da lista, olha em rádios mais ouvidas, é espantoso.
F – Eu ainda não tive a oportunidade de olhar estes números, mas
estudos mostram que o público do rádio tradicional está migrando para a internet.
E02 – Porque, na verdade - eu usei até um bordão, no início da
nossa conversa, “ah, a linguagem do rádio na internet” -, nós acreditávamos
- eu acreditei, ainda acredito - que o rádio é o veículo de linguagem que
melhor se adapta à internet, porque permite que você possa ouvir uma
programação musical, com notícias, com debates e, ao mesmo tempo, navegar na rede, né? Trabalhar no computador como o rádio sempre foi.
F – Na verdade, continua mantendo a característica do rádio
tradicional, a possibilidade de escutar e fazer outras coisas ao mesmo tempo.
E02 – É verdade, você escuta e faz outra coisa. Para quem trabalha
no computador, trabalha num escritório, tem condições de navegar na rede
e ouvir uma programação. Ao meu ver, a tendência seria que cada grande
site ou provavelmente qualquer site inicie um trabalho de utilização da linguagem radiofônica na sua oferta de serviços. Qualquer site, entende? É
como a rádio, por exemplo, de supermercado. A tendência é que todos os
grandes sites também tenham o serviço radiofônico. Eu acredito que
162 poderia haver um direcionamento para este tipo de uso para o rádio como linguagem na internet.
F – Alguns pesquisadores dizem que o rádio está passando por
mudanças, mas alguns ainda acreditam que o rádio vai morrer ou vai se
transformar a tal ponto que não vai mais se caracterizar como rádio, vai se
transformar num outro meio de comunicação, ainda não conhecido, porque
a rádio não precisa só do streaming de áudio, ela pode ter outros recursos. Qual sua opinião sobre isso?
E02 – Ela pode, sim. Ela pode ter outros recursos, capitalizar esses
recursos numa plataforma, mas a base do serviço vai ser a linguagem
radiofônica. Isso aí é uma coisa que vai ser imutável: a comunicação falada
com recursos sonoros. E, quando oferecida, por exemplo, uma câmera no
estúdio, mostrando ali, na verdade já se está envolvendo o audiovisual na
comunicação, vai ser a comunicação audiovisual, mas a característica da
linguagem radiofônica, que é, na visão maior, vai permanecer. Na verdade,
ela nunca vai morrer, a linguagem nunca vai morrer, a linguagem do rádio.
Ela vai existir para sempre, porque tem, na verdade, um compromisso da
perpetuação da linguagem humana, ela não vai se desfazer só porque
existem outras opções, diante de tantas ofertas de comunicação visual. Na
verdade, tudo vai depender da pessoa que está do outro lado, se ela vai
preferir clicar para ver a imagem ou se ela vai preferir continuar ouvindo no
player. Então, na verdade, a linguagem radiofônica vai se perpetuar. O que
mudou realmente foi o nível, a quantidade da oferta de possibilidades e, por
parte do espectador, no caso, as opções que ele tem a escolher, se ele vai
preferir ouvir rádio vendo a imagem do estúdio. Eu não ofereceria esse
serviço. Aqui, por exemplo, a gente teve a opção de colocar uma câmera no
nosso estúdio, mas isso modifica a oferta e a opção de escolher. Mas, como
nós já tínhamos, no início do trabalho, realmente nós desenvolvemos a
programação, etc, desenvolvemos os programas e as transmissões das sessões.
F – Nesse começo, como isso mudou na questão de produção para o jornalista?
163
E02 – É, mudou bastante a questão da agilidade, da atualidade.
Passou a ser uma produção acompanhando em tempo real, porque você faz
a gravação e, em questão de alguns minutos, ela já está à disposição para
ser baixada, né? Nós tivemos também a oportunidade de desenvolver, de
produzir, porque, na verdade, o que a gente tem que ver? Aqui a
Assembleia Legislativa é uma fonte exclusiva nossa; então, só tem uma
Assembleia Legislativa. As outras emissoras vêm aqui para fazer as suas
matérias e as suas abordagens e a gente tem aqui como um palco nosso. E
nós tivemos uma programação acompanhando as sessões, comentando,
analisando, mas também, infelizmente, ficamos um pouco ao sabor das
mudanças, digamos, gerenciais ou administrativas. Isso, aliás, é um dos
problemas que faz empacar as tentativas de se ter uma delegação para
requisitar uma outorga de licença, porque o Ministério das Comunicações
leva em consideração as mudanças de gestão e a gente sente muito isso,
porque, você sabe, quando é criada determinada programação, num veículo
de comunicação, deve-se fazer o possível para que essa programação não
mude daqui a dois, três, quatro meses, ou daqui a um ano. Quando você vê
o Fantástico, por exemplo, como programa de TV, ele existe há 35, 40
anos; o Jornal Nacional; as novelas; o Jornal do Meio Dia; o Jornal da
Manhã; eles não mudam, eles não sofrem [alterações] para você ter, com
isso, uma garantia. Isso dá uma garantia ao ouvinte que você vai estar lá
sempre que ele precisar e lembrar de você, vai ouvir você e você vai estar
lá. É fidelidade, né, na programação, no seu discurso. Então, aqui a gente
não tem isso. Foi criado um espaço de programação online, a webradio,
além da página, só que as constantes mudanças acabam prejudicando o
andamento. Você encontra hoje, por exemplo, um serviço que não serve de
parâmetro para o que a gente já tinha antes. Vamos assim dizer, tínhamos comentários das sessões, etc, e agora não temos mais.
F – Mas ainda poderia ter?
E02 – Poderia, porque a gente já teve. Mas graças a essas
mudanças, você abre [por exemplo] uma loja, onde você trabalha com
determinados produtos, capricha no ideal daqueles produtos, daqueles
serviços oferecidos e você começa a cativar uma clientela, que sempre
retorna para a sua loja. De repente, muda a direção da loja: “estamos sob
nova direção”. A loja fecha, fica três ou quatro meses fechada e, enquanto
nesse período, os clientes cativos “dão com a cara na porta” e quando a loja
é reaberta, a mercadoria é outra, totalmente diferente. E se esse processo
164 acontecer anualmente, ele tira a visibilidade do trabalho que você está
oferecendo, daquela programação que você tem. Então, nós fomos um pouco vítimas disso.
F – Algo que me chamou a atenção é a dificuldade de definição do
público-alvo pela Rádio AL. Por ser uma rádio institucional, o objetivo é
divulgar as questões relativas à Assembleia. Você acredita que a definição de público-alvo é um problema?
E02 – Para nós não é, porque o nosso público é qualquer público, a
gente não tem essa preocupação. Não temos um produto para vender, sabe?
Então, o nosso público é qualquer público que tenha algum tipo de interesse
por uma informação, que não é somente político-partidária, é uma
informação que diz respeito à sociedade, mas passa pela Assembleia
Legislativa, pela área de saúde, de educação, de economia, de
personalidades, de história e de eventos. Então, todas essas pessoas que
tiverem um interesse e, que queiram, um dia qualquer, ouvir alguma coisa a
respeito ou procurar uma opção para ouvir, ela vai encontrar. Então, ela vai
escutar. Vai entrar na página da Assembleia e vai escutar, vai entrar na
página da Assembleia, clicar em Ouvir e escutar alguma coisa realmente
tocando ali, vai ter uma programação, realmente um serviço que está sendo
oferecido. Tem uma página [da Rádio AL] com um histórico de material de
10, 15 anos, então, é uma coisa muito valiosa, sabe? Esse material todo.
Então, a gerência disso tudo é que, no decorrer desse período, acaba
sofrendo um pouco por causa da gestão. A gestão em comunicação, em
arquivos de comunicação, de histórico e também de métodos e etc é
fundamental. Você sabe que isso é uma coisa que a gente sente um pouco
de dificuldade no esquema que é feito aqui dentro, tem até projetos
legítimos que não acabam do jeito como deveriam, por causa de certos
problemas de gestão. Mas, com relação ao público, nós não temos
exatamente na webradio, por exemplo, uma programação - que você sabe
que a gente não devia tanto compromisso -, temos até uma liberdade de
oferecer. A questão principal que devemos ter é a democracia e a
democracia é a consciência popular. Então, o nosso público já deve ser um
público que tem algum tipo de capacidade de entender o que é intrínseco a
uma sociedade. Então, o público a partir da idade escolar já é apto a estar
conosco. Mas é claro que, antes de mais nada, a gente presta um serviço
para as emissoras de rádio, as próprias redações de jornais que utilizam esse
material que a gente publica, os eventos que transmitimos ao vivo estão
165 ligados nesse âmbito, dessa oferta de serviços que a gente promove e possui.
F – Então, vamos voltar um pouco, num ponto importante, porque
foi muito citada a questão da linguagem radiofônica, que não vai mudar
muito, sempre vai ser preponderante. O que você entende por linguagem
radiofônica?
E02 – Você tem que entender que, quando você fala de linguagem
radiofônica, está se referindo a um recurso inato, que é “o saber contar
alguma coisa para alguém”, aliado a uma tecnologia. E essa tecnologia
permite a amplitude desse seu recurso, porque, quando você fala em
linguagem radiofônica, pressupõe-se ter “alguém falando”, é o recurso ao
qual nós estamos nos referindo, é a mensagem que é transmitida
localmente, né? Porque tem todo um conjunto de recursos que você agrega
a essa mensagem que você passa. Então, o que acontece? A linguagem
radiofônica é justamente isso: é um recurso que você tem a capacidade de
transferir uma mensagem localmente, utilizando também recursos sonoros e
aliados a uma tecnologia, lógico, porque você está utilizando também esses
recursos sonoros e precisa também de uma tecnologia de produção e de
alcance. Então, se é caracterizada a linguagem radiofônica, justamente o
“você atingir um público vasto”, a tecnologia permite isso. A linguagem é
que alcança as pessoas através do uso da tecnologia. O rádio, que foi a primeira tecnologia de comunicação de massa.
F – Sim, com certeza.
E02 – Claro que desbancou a linguagem gráfica, literal.
F – Que era limitada também, porque se restringia a quem era
alfabetizado. O rádio não...
E02 – E a linguagem que perpetuou as línguas, os dialetos, os
sotaques, o que a comunicação letrada não permitia, porque o texto não tem
sotaque. Então, muitas das pessoas, das expressões locais, das
características podiam se perder. As linguagens, os dialetos, acabavam se
166 perdendo, o que o rádio, de certa maneira, contribuiu para que essa forma
de falar se mantivesse até hoje. Mas é claro que a linguagem radiofônica vai
exigir que você saiba tratar a sua forma de comunicação. Claro que a gente
tem hoje, na própria comunicação radiofônica, uma permissão para que se
faça uma comunicação até não planejada, uma comunicação improvisada
até. Mas existem mil técnicas para se utilizar do recurso, da voz, do som,
para atingir juntamente com a tecnologia um público. Sempre observando
que o público que você está atingindo é um, é uma pessoa, são milhões de pessoas únicas.
F – Nessa questão da ajuda do rádio ao regionalismo, você acha
que a internet pode impactar neste processo, já que qualquer pessoa pode
acessar e ouvir rádio por meio da internet?
E02 – Não, acho que não. Você diz, assim, de as pessoas mudarem a sua forma?
F – Não, no sentido de os jornalistas evitarem usar alguma expressão, etc.
E02 – Acho que isso passa um pouco por aquilo que já falamos
sobre gestão. Eu não vejo nenhum problema nisso. Mas, antigamente, o ator
radiofônico, digamos assim, ele tinha que ter uma técnica mais
característica, hoje não se exige mais isso. As pessoas ou alguns setores
exigem, outros não. Mas é claro pra mim, eu vejo que tem muito sotaque
regional, não tem mais uma exigência de uma impostação, de uma técnica
de cadeira. Eu diria que isso vai depender da gestão do que se faz, do que se
quer. Depende daquilo que eu já disse antes, qual é o teu público-alvo. Eu
posso fazer, por exemplo, numa mesma programação, um programa que
exija uma técnica clássica e outro programa que não exija técnica nenhuma,
que exija só improviso. Baseado no quê? No talento daquela pessoa. É uma
pessoa que tem um talento para se comunicar e para a linguagem
radiofônica. Às vezes, o talento que ela tem não serve para TV, mas pode servir para o rádio. Você tem que observar isso, pois o rádio tem uma
linguagem característica. Por isso que eu digo, não tem como você eliminar
o rádio como linguagem - “chega de linguagem radiofônica, nós não
167 queremos mais linguagem radiofônica no mundo, porque a gente tem TV” -. Ao meu ver, isso seria uma coisa impossível.
F – No começo da Rádio AL, como era a estrutura?
E02 – Basicamente, com as pessoas que trabalhavam aqui conosco e algumas outras aí pela casa, que foram recrutadas para iniciar uma equipe.
F – Uma equipe inicialmente de mais ou menos quantas pessoas?
E02 – Mais ou menos 10 pessoas. E é basicamente o que temos
hoje. Tivemos acréscimos de alguns estagiários, de um ou outro repórter,
mas basicamente isso. Mas é possível fazer um bom trabalho de rádio com
esse número de servidores. Dá para fazer. Aqui a gente tem as fontes, as
instalações e essa equipe. Então, temos aí essa possibilidade agora de uma
FM, pois as rádios AM estão destinadas a migrar para FM. Isso aí é legal,
porque tem outro recurso disponível, mas ainda estamos aguardando,
porque, lá no início dos anos 2000, o rádio era um veículo bom para a
internet, que poderia ser ouvido e que já estava sendo ouvido no celular em
alguns países da Europa, Japão e Estados Unidos e que, em breve, também
poderia ser ouvido aqui [no Brasil]. E tem também os podcasts, que são
recursos disponíveis para o uso da programação, para a disseminação de
programas.
F – Na Rádio AL é interessante colocar a matéria em formato de podcast no site.
E02 – Então, a gente tem, na verdade, tinha essa ideia de que o
rádio estaria também no celular, consequentemente nos carros - também
tem a necessidade da radiodifusão. Praticamente, nós já estávamos na web,
todas as emissoras de rádio também migraram para a web. A diferença é
que eles têm a radiodifusão como elemento agregador e divulgando o
endereço deles na web.
F – Ao longo da história da rádio, qual foi a maior dificuldade?
E02 – Eu acho que a gestão, porque, se você te um serviço com
uma diretoria de comunicação, que muda o diretor de ano em ano ou de
168 dois em dois anos, que não permanece, não está preocupado ou vinculado a
um projeto estratégico. Então, cai naquela história que eu te falei da
direção: “estamos sob nova direção”, fecha, mudam os ingredientes lá
dentro, abre de novo. Então, é aquilo que já falei antes, acho que com
bastante propriedade nesse sentido. É a questão de você, inclusive, isso foi
um dos obstáculos que eu tive fazendo uma sondagem a respeito de a gente
ter uma webradio outorgada pelo Ministério das Comunicações. Isso foi
uma das coisas colocadas lá, que a gente não teria estabilidade. É aquilo
que eu digo, você tem um programa de rádio, você tem que ter esse
programa de rádio para 10, 15, 20 anos. Ele tem que ser ouvido quando
você é menino, depois que você teve seus filhos.
F – Hoje a rádio está passando por uma reestruturação.
E02 – A nossa rádio?
F – Sim.
E02 – É, isso é uma coisa que você vê, já estamos em março, final
de março, veja que fica bastante difícil ter uma ascendência sobre o ouvinte,
de buscar ouvintes se você não tiver algo, alguma credibilidade na tua
oferta. Então, realmente está havendo uma mudança, diz que houve uma
mudança de redação. Então, o próprio coordenador está correndo atrás de
uma coisa que ele nem exatamente sabe o que é ou onde vai achar, entende?
Eu tenho que dizer isso para você, pois está fazendo mestrado e precisa ter
informações verdadeiras. Precisa saber disso. Você que quer fazer um trabalho sobre o nosso trabalho aqui.
F – Da rádio, quais foram as iniciativas que você acha que foram as melhores?
E02 – A gente fez coisas bacanas aqui. Isso foi uma experiência
que eu fiz aqui da introdução da linguagem esportiva dentro da nossa
linguagem radiofônica, com comunicação esportiva na Assembleia
Legislativa, porque tínhamos dentro da Assembleia Legislativa a proposta
de introduzir a comunicação esportiva como elemento socializante também,
169 porque o esporte tem uma função social. Nós colocamos que o esporte é
uma alavanca do progresso social, ele é civilizador. Estimula a ação perante
um conjunto de regras, envolve a colaboração entre as pessoas, envolve
uma competição dentro de padrões éticos, de respeito ao adversário,
acatamento ao técnico, por exemplo. Tudo isso aí implica num crescimento
pessoal não só para a pessoa que pratica, mas para todos os que se
envolvem de uma maneira ou de outra - que se envolvem no contexto de
um evento, de um espaço, de uma programação esportiva - e, inclusive, no
contexto da comunicação esportiva, as pessoas que estão ouvindo a
comunicação, estão ouvindo os conceitos, numa entrevista, por exemplo,
quando você conversa com um desportista, que realizou tal façanha ou se
dedicou a tal ponto, isso aí passa para quem está ouvindo, mesmo que a
pessoa que está ouvindo não se dedique ao esporte, ela internaliza muito
desses conceitos, das coisas que estão sendo oferecidas nessa linguagem, na
forma dessa linguagem. Então, a gente produziu isso aqui na expectativa de
atingir também, dentro do plenário, um espaço de discussão de assuntos
esportivos tendo em vista que o esporte é o elemento mais importante.
Inclusive, tem muita gente que fala de futebol, disso e daquilo, mas tem que
ver que é a própria sociedade, a função social do futebol, por exemplo. Não
que a gente fale estritamente sobre futebol, temos uma abordagem bem
ampla, mas você não pode deixar de entender que o futebol, por exemplo,
tem mais de 100 anos de idade aqui no Brasil e, ao longo desse tempo, ele
só enraizou mais ainda. E tem uma função muito forte no ambiente social,
para o operário, para o estudante, então, temos uma experiência nessa parte;
também na parte política, uma programação envolvendo as coisas que
dizem mais respeito ao plenário. Também tivemos aqui uma passagem de
uma colaboração que a gente prestou para o pessoal da RDP, que é uma
rádio portuguesa. A radiodifusão portuguesa, a Antena 1 é dos Açores, eles
estiveram aqui, foram convidados para uma Fenaostra35
e eles não tinham
noção de como iam fazer para transmitir para os Açores e para o mundo
lusófono. E nós oferecemos para eles utilizar o estúdio e faríamos para eles
a abertura da alta taxa de transferência do nosso encoder e a transmissão via
internet. Eles captariam lá e fariam a conexão. E funcionou tudo perfeito,
eles ficaram superagradecidos, porque eles ainda estavam limitados ao
pacote de dados via Embratel e aí a gente possibilitou. Foi um trabalho que
eles vieram realizar aqui, ficaram uma semana e fizeram um programa ao
vivo - dois fins de semana consecutivos. Então, a gente veio aqui para o
35 Festa típica da capital catarinense onde são degustados pratos com ostras e outros frutos do mar.
170 estúdio às 4h da manhã - começávamos às 4h e terminávamos às 8h, pois
tinha o fuso horário deles e lá era o período da manhã toda. Por exemplo, lá
era das 8h às 12h, um negócio assim. E o fato é que a gente transmitiu de
madrugada e a linha, a nossa banda larga, também estava toda disponível
para a transmissão. Não teve queda, não picotou, ocorreu tudo
perfeitamente. Eles estiveram aqui, escolheram material e entrevistas com
pessoas. Até isso aí caracteriza o que eu te falei antes, porque eles pegaram
entrevistas aqui, de pessoas que sabiam da cultura açoriana, que lá eles já
tinham até esquecido: cantos, quadrinhos, poesias, o falar mesmo, o
sotaque. E eles até disseram sobre o material coletado: “isso daqui ó, vale
ouro”, isso para você ver a importância da linguagem radiofônica. Realmente é uma coisa muito importante.
F – E hoje como você vê o futuro das webradios?
E02 – Eu vejo como algo já consagrado no espaço das
comunicações. O serviço, consagrado como uma oferta. Eu acho difícil
você abandonar uma coisa assim. É como aqui, é difícil você pensar em
abandonar. É difícil, porque a linguagem radiofônica está presente na
sociedade. O rádio é uma linguagem imortal, não morre mais, nunca mais.
Nunca morreu e nunca vai morrer, porque, é aquilo que eu falei, é o talento
de uma pessoa em se comunicar e sempre vai ser através de uma tecnologia,
levado ao número mais amplo de pessoas. Então, o futuro é você ter esse
serviço disponível e buscar, através de gestão, aperfeiçoar essa oferta.
Claro, você pode colocar ali, na nossa página da rádio, o programa para
ouvir e, se quiser, ao mesmo tempo, você pode ver, porque o programa foi
gravado em vídeo também. O programa de rádio feito ao vivo está
disponível para você ver ali, mas isso são coisas que só - como eu disse -
vão ofertar mais opções para o teu espectador. Vai depender só do seu
espectador, se ele vai querer ver, se ele vai querer ouvir, mas, de fato, é uma
questão de você manter - como eu te disse antes a respeito de uma loja -
aquilo ali, ter certeza de que está tendo criatividade naquilo que tem para
oferecer para as pessoas, que vai realmente provocar interesse e, através
disso aí, se perpetuar como linguagem que, de fato, é o que a gente tem
aqui, é um serviço formatado em uma linguagem. E isso aqui sempre vai
ter gente para ouvir, sempre vai ter gente para ouvir numa rádio, ou na
nossa própria página ou onde quer que queira ou procurando pela internet,
que é o recurso mais viável.
171
APÊNDICE 03 - Entrevista 03 – Chefe de Redação da Rádio AL
Fabíola (Entrevistadora) – Você é uma das mais antigas dos
atuais repórteres da Rádio AL. Quando você foi chamada no concurso de 2010, já foi direto para a rádio?
Entrevistado 03 - Apesar de eu nunca ter trabalhado com rádio,
antes eu era assessora de imprensa, sempre fui assessora de imprensa desde
a formação, mas eu sempre gostei de rádio. Então, quando eu entrei aqui fui
designada para outro setor, que era uma pauta geral que cuidaria da pauta
dos três veículos aqui, a rádio, a televisão e a internet, o site, mas eu já tinha
manifestado uma vontade de ir para a rádio. E eu sabia que tinha uma
carência de repórteres ali. Então, a diretora da época me fez a proposta de
experimentar um período nessa função que eles tinham me designado e que,
se não fosse legal, se eu entendesse que não era para mim, eu poderia,
então, ir para a rádio. E foi o que aconteceu. Eu pude ir para a rádio umas
duas semanas depois que eu entrei. Foi uma vontade minha mesmo e por
uma carência de repórteres que eles tinham na época. Eles tinham dois
repórteres e um estagiário.
F – Então, era uma equipe bem mais enxuta do que tem agora?
E03 – Isso, essa equipe já foi bem mais enxuta. Antes de eu entrar,
já teve um período que tinha um repórter só para cobrir todos os eventos, todas as pautas que a rádio tinha.
F – Você entrou em 2010?
E03 – Na verdade, eu passei no concurso de 2010, mas entrei em 2011, no final de 2011.
F – De lá para cá, quais mudanças você percebeu?
172
E03 – Quando eu entrei aqui, a coordenadora que cuidava da rádio
já estava aqui há bastante tempo, há muitos anos. Ela já estava há mais de
quatro anos, eu acho. Então, já tinha uma rotina estabelecida e funcionando
bem. Depois de um ano, mais ou menos, que eu entrei, ela saiu, entrou
outro coordenador, que fez mudanças. Ele quis mudar bastante o estilo da
rádio, de vinhetagem e etc, mas na parte de reportagem ele mais ou menos
seguiu o que a gente tinha, já vinha fazendo com a outra coordenadora. Ele
ficou um ano e a gente passou por uma nova mudança agora. Então, cada
coordenador que entra chega com uma ideia diferente do que deve ser a
rádio, como que a gente deve conduzir, mas a parte da reportagem eu acho
que ela não mudou muito. Foi mais a parte de programação mesmo,
sugestão de programas e mudanças na grade. Mas na produção de notícias,
a gente procura seguir mais ou menos o que a gente já vinha fazendo desde
que eu entrei, até porque os coordenadores, como a gente já está aqui há
mais tempo, eles é que estão chegando depois. Eles se apoiam um pouco na experiência que a gente tem para dar seguimento ao trabalho.
F – Você acha que essas mudanças acabam interferindo de maneira negativa ou positiva?
E03 – É claro que o fato de ter mudanças quase que anualmente
interfere bastante sim. Se você tivesse um planejamento de um período
mais longo de coordenação, eu acho que a parte do trabalho seria melhor.
Porque tem coordenadores que entendem que a gente tem que cobrir tudo,
que um repórter tem que, de uma maneira mais rápida, fazer várias pautas
por dia. Tem uns que não, vamos fazer mais reportagens especiais, mais
devagar e vamos fazer mais na Casa o que a gente considera de maior
relevância. Tem muito evento que acontece aqui dentro. Então, cada vez
que entra um coordenador novo a gente não sabe exatamente como é que
vai ser e de que forma a gente vai continuar trabalhando. Então, eu acho
que interfere bastante sim, prejudica o trabalho, a produção. Depois que
engrena, leva um tempo para o novo chefe, o novo coordenador engrenar,
uns dois meses, três meses até. Não só a mudança de coordenação interfere
no nosso trabalho, mas a mudança de Presidência também, que eu acho que
é o que mais interfere. Porque a gente segue a orientação que vem da
Presidência da Casa, de como se deve fazer a cobertura dos eventos. Então,
tem presidente que entende que a gente deve acompanhar a agenda de
presidente, tem presidente que entende que não, que é institucional. Então,
173 isso interfere bastante, essa mudança por conta de mudanças políticas mesmo.
F – A partir dessa mudança recente, como está o ritmo agora, você acha que as mudanças são boas?
E03 – Desde que eu entrei aqui até agora - eu até tinha esquecido
de te falar antes - teve um período que eu trabalhava na produção de um
radiojornal diário, além de ser repórter. Então, a minha rotina era um pouco
mais pesada. Depois que o Nikolas entrou, a gente conversou com ele,
porque às vezes a gente tinha que acabar produzindo coisas além do que a
gente tinha aqui da Casa para manter esse jornal, porque tem dias de mais
produção e dias de menos produção. Então, eu percebo que, quando ele
entrou, ele viu que algumas pessoas estavam sobrecarregadas. E ele acha
que a reportagem tem que cuidar da reportagem. Então, tem que ter um
apresentador e alguém que trabalhe esse jornal e novos programas que
possam surgir. Só que até agora a gente tem alguns programas que não
estão mais no ar e, até agora, eu não sei o que vai acontecer, se vai ter, se
não vai ter, quando é que essas pessoas vão vir. Então, eu acho que deu uma
queda. Porque tem programa assim, tipo o Entrevista, que era uma
entrevista ping-pong mesmo. A gente recebia bastante retorno de rádios
porque era um produto muito interessante, porque eles podiam tanto
veicular a entrevista, que a gente tentava fazer de assuntos relevantes ou de
assuntos que tivessem repercussão aqui na rádio, ou como trechos com
sonoras de matéria. Então, era um produto que, para a radioagência, mais
tinha resultado. E ele está fora, porque, desde que o Nikolas entrou, porque
ele vai passar para outro jornalista também, não está mais sendo produzido.
Então, acho que cai um pouco, até ele voltar para a programação, nesses primeiros meses.
F – Em relação à webradio, tem que ter a produção extra. Como você vê a rádio sendo tocada em relação a isso?
E03 – Eu particularmente dou mais importância e considero mais
importante aqui dentro da Assembleia Legislativa que a gente consiga
replicar esse produto para outras rádios, que é no formato de radioagência.
Quando eu penso na produção, penso no que vai ser interessante para ser
174 ouvido lá no interior, tanto por nós, tanto pela webradio, quanto por outra
emissora de rádio. Eu acho que não existe um cuidado muito grande com
relação à programação da webradio. As notícias vão entrando conforme a
gente vai produzindo e os programas também. Claro que a nossa prioridade
é transmitir a sessão ao vivo e as comissões, é o serviço mais importante
que a gente tem na webradio aqui, que é essa transmissão ao vivo do que
está acontecendo aqui dentro. Mas a nossa audiência é tão pequena, dá um
desânimo de produzir para ela. Porque, talvez, eu acho que não existe um
trabalho de divulgação dela, para que ela seja ouvida pelo cidadão, para que
a gente pense em produzir para o cidadão realmente, que seria um trabalho
bem interessante também, mas hoje eu acho que a parte de radioagência é
mais forte. E sobre a parte de pensar em todas as etapas da produção, eu
gosto desse trabalho, porque você faz tudo do início ao fim, desde pensar a
pauta, a reportagem, produzir o texto que está no site, pensar na foto que
vai, eu gosto de fazer isso. Mas eu acho que não deveria ser assim. Eu acho
que nós deveríamos ser mais profissionais. Por exemplo, a gente não tem
um profissional de edição, a gente não tem um editor, alguém que pense na
internet, na página, no que o repórter escreveu. Depois que está na página,
depois que o áudio está no ar, depois que o texto está no ar, há uma
preocupação de olhar: “ah, tem um erro. Então, vamos trocar”. Então, acho
que passa bastante coisa e não deveria ser assim. Acho que deveria ter o
profissional repórter, o profissional que produz e o que cuida da edição do
material, desde o áudio, a foto, o texto, o título que vai entrar no ar. Porque
é muita mudança ter que produzir o texto lá na nossa página e tem muita
mudança, mudança de título, mudança de cartola, mudança de foto,
mudança de texto, e às vezes erros no áudio que acabam passando também.
Às vezes, a gente tem que voltar e tirar, depois botar no ar de novo. Mas
internet você sabe como que é. Depois que entrou, o primeiro que ouviu já ouviu daquele jeito, é difícil de consertar.
F – Você falou do profissional que produz. Vocês não têm reunião
de pauta. Qual a sua opinião sobre essa questão da pauta, essa liberdade
maior, como você vê isso?
E03 – Primeiro, acontece desse jeito porque, como a prioridade é
cobrir o que acontece dentro da Casa, a gente não depende, para cobrir um
evento, de discutir como que aquilo vai ser, como é que vai ser feita aquela
cobertura. Sessão plenária acontece toda semana, três vezes por semana, as
comissões, então a gente já tem uma linha de como é que deve ser a
175 cobertura desses eventos. Por isso, a gente não depende tanto de uma
reunião de pauta para tratar desses assuntos que, na maior parte do tempo, a
gente trabalha. Agora, outros temas, outras coisas que acabam surgindo, a
gente tem sim muita autonomia de debater, de discutir, mas eu não digo que
a gente faça sem consultar o coordenador. Sempre que há uma dúvida, que
seja diferente do que a gente costuma e da nossa rotina de cobertura, então,
a gente vai sim até ele e nunca é feito nada de forma tão independente
assim.
F – Mas, neste caso, é o próprio repórter que toma a iniciativa.
E03 – Não existe uma reunião de pauta formal. Já com a entrada
desse novo diretor nesse ano, ele sentiu, porque não é só na rádio, nos
veículos de comunicação aqui da Assembleia não têm reunião de pauta. A
agência também não tinha, não tem. Então, ele sentiu falta disso, pediu que
fizéssemos isso e a gente está pensando em fazer de forma conjunta e não
independente. Até porque tem que ter uma unidade de como tratar essa
informação. Então, há sim uma ideia de se fazer isso. Mas na rádio a gente
não faz. É uma reunião informal, porque as coisas vão surgindo no dia a dia
e é o repórter que está no local e é ele sim que vai trazer para o
coordenador, tomar essa iniciativa, porque é ele que está vendo o que está
acontecendo. Eu acho positivo também que a gente tenha a autonomia de
pensar de que forma vai tratar o assunto. Afinal de contas, nós somos
servidores públicos, a gente vai ficar aqui um longo período, então a gente é
bastante responsável pelo que sai daqui. O coordenador vai entrar, vai ficar
aqui um período e vai sair depois. A gente vai permanecer. Então, eu
também acho importante que a gente tenha essa autonomia, não diria
independência, mas a liberdade de trabalhar assim, até por conhecer, por
estar há mais tempo aqui, muitas vezes, do que os coordenadores que
acabam entrando. Então, a gente conhece mais do que já aconteceu no
passado e eu acho que a gente consegue fazer uma leitura interessante de
como se deve conduzir o processo. Então, eu vejo que a gente tem a liberdade de produzir e vejo como um ponto positivo.
176
APÊNDICE 04 - Entrevista 04 – Profissional da Rádio AL
Fabíola (Entrevistadora) – Antes, aqui na Rádio AL, era diferente
o processo de produção?
Entrevistado 04 – Na verdade, aqui na rádio a gente nunca teve
produtor, o que é bem ruim. Porque na TV tem produtor, que fica ali
sentado na frente do computador, assistindo à TV, com o telefone na mão
para saber o que está acontecendo na Assembleia e também fora, de alguns
eventos que a gente cobria fora, para conseguir coordenar todo esse grupo.
Na rádio, como é escasso o número de repórteres, ninguém é produtor.
Então, nós mesmos ficávamos antenados para saber o que é que estava
acontecendo, porque foi pouquíssimo o tempo que a gente teve um quadro
de pautas mesmo. Mas a maior parte do tempo que eu estou aqui,
[totalizando] quatro anos, os três anos que eu trabalhei, 2010, 2011 e 2012,
não tinha uma pauta diária. A gente chegava e olhava: “ah, tá, eu vou fazer
isso hoje às 6h da tarde”. Não, a gente chegava e ia correndo atrás do prejuízo e chegando na frente, né?
F - O que me chamou a atenção é que não tem uma reunião de
pauta específica. São momentos de conversa, não é uma reunião marcada.
Sempre foi assim?
E04 – É, não tem. Sempre foi. Às vezes, a gente fazia umas duas
reuniões por ano, para definir algum negócio ou ver como estava a
programação, mas raramente a gente planejava alguma cobertura. Acho que
nas eleições talvez a gente tenha feito alguma reunião para saber como seria
essa cobertura. Mas, no geral, as reuniões acontecem quando entra o
coordenador. Ele se apresenta e fala de algumas modificações, do que vai
ser e é isso. Mas a reunião de pauta a gente não tem mesmo. E é engraçado,
porque às vezes a gente tem algum furo, assim, de fora, do Diário
Catarinense, por exemplo, e você vê novidades sobre a Assembleia e fica:
“como é que a gente não ficou sabendo disso antes?”. É engraçado, porque
a Casa Legislativa funciona de um modo diferente. Às vezes, alguém dá a
notícia de uma novidade e já manda direto para a imprensa, para dar o furo,
para continuar com essa amizade com o repórter, para continuar sendo a
fonte do repórter fora do jornal e acaba a notícia saindo no jornal e aqui na
177 Assembleia a gente não sabe de nada. Ou até sabia, mas ninguém falou. É muito chato a gente estar aqui e ser furado pelo Diário Catarinense.
F – Você participou da época da outra coordenadora, trabalhou
com o outro coordenador, que ficou um ano, e agora com o novo
coordenador. Quais são as mudanças que você sente, tanto quando era repórter quanto agora que é operadora de áudio?
E04 – Bom, eu posso falar também das diferenças que têm sendo
coordenada por pessoas diferentes. Geralmente, o coordenador - no caso de
todos os coordenadores que eu tive até hoje -, é um cargo comissionado,
ninguém era efetivo da Casa. Então, o coordenador, quando ele é
comissionado, ele está ali porque alguém indicou para essa posição,
indicação de algum deputado. Então, querendo ou não, existe uma
tendência maior a atender certo deputado. Não é que os outros são negados,
mas você percebe uma diferença. É sutil, é difícil explicar, mas, por
exemplo, na presidência do deputado Juarez Ponticelli, o Murilo era
indicação do presidente da Assembleia. Então, é claro que você vai ver - se
fizer um balanço, uma análise das matérias que entraram no ar -, durante o
mandato do deputado Juarez Ponticelli, eu acredito que 30 a 40% delas
[matérias] eram ligadas a ele [deputado Juarez Ponticelli], citam o nome
dele. Talvez até mais, talvez 50%. Acho que de quatro matérias que a gente
editava aqui, pelo menos uma delas falava do Ponticelli por dia. Então,
agora mudando a presidência, tudo bem que ele era o presidente também,
então vai aparecer um pouco mais do que outros deputados. Mas mesmo
assim tinham pautas que a gente percebia que não eram pautas do
Legislativo, mas sim de agenda dos deputados, o presidente como
deputado, que se fosse outro deputado a gente não faria a cobertura. Por
exemplo: uma visita das senhorinhas na casinha dos idosos de Araranguá,
sei lá, tem a visita do presidente. Isso não é pauta do Legislativo, é coisa de
gabinete. Mas a gente acaba cobrindo, por quê? Porque ele era o presidente.
E essa orientação vem da coordenação. Então, isso existe. Agora que
mudou o presidente está em suspenso, né? Está meio esquisito, já que a
gente está sem presidente mesmo. Quer dizer, estamos com um presidente
interino, que é o Ponticelli de novo. Mas eu não sei como vai ser com a
entrada de um novo presidente. Sei lá, o Gelson Merísio era um cara mais reservado, ele não gostava tanto de estar bombando na mídia. Não sei o
porquê dessa escolha dele, mas era bem mais reservado. Então, o que vinha
da coordenação na nossa época, na época do Merísio, a coordenadora falava
todo um planejamento para fazer a cobertura do Merísio para não
178 incomodar muito, porque ele não gosta: [coordenadora da época] “Vocês
vão todos juntos, vão perguntar isso, isso e isso, só essas perguntas, não
passem dessas perguntas, nem mais nem menos, ele quer falar disso. Então,
é isso que vocês vão perguntar”.
F – Então, nessa época existia, vamos dizer assim, uma
interferência, uma exigência maior da coordenação e, na época do coordenador seguinte, existia uma interferência menor?
E04 – Acho que não é nem maior nem menor, a gente tem
liberdade para escrever aqui. Acho que nenhuma matéria minha foi vetada,
nunca, na hora que eu escrevia, ninguém falou: “ah, você tem que tirar”. Às
vezes, um ou outro deputado reclama que ele acha que está mal explicado o
que ele falou. Houve isso comigo uma vez e acho que aconteceu uma vez
com a Nara [outra repórter] também, mas é muito raro. Então, a gente tem
liberdade para escrever, colocar e fazer a matéria. Mas vai existir uma
tendência de qualquer forma dentro da Casa. Mas eu acho também quea
gente sempre está batendo na mesma tecla. Nós, os repórteres, a gente já
teve uma conversa entre nós e, de vez em quando, a gente fala que a rádio é
a rádio do povo, né? A Rádio AL é do povo também. Não é dos 40
deputados. Porque eventualmente algum coordenador vai e fala: “ah, por
que a gente tem que atender os deputados, porque, afinal, a rádio é deles”.
Aí eu sempre falo: “não, não é. É do povo”. E essa cadeira aqui também é
do povo. É tudo do povo aqui, não é de ninguém. Porque às vezes eles
brigam por cadeira: “Essa cadeira é minha”. Eu digo: “não”.
F – Quando estava como repórter, o que você achava bom e ruim na produção?
E04 – Para produzir eu sinto que as pessoas são abertas. Quando eu
ligava para algum lugar: “oi, aqui é da Assembleia, a gente gostaria de fazer
uma matéria com vocês”, todo mundo era bem solícito, assim, todo mundo
achava bem bacana. Mas o problema é que me perguntavam: “ah, como é que eu escuto?”. Eu falava: “ah, no site”. “Ah, não tem no rádio?”. Porque
as pessoas querem ouvir no rádio e eu dizia: “não, não tem, mas tem na
web, você pode baixar, fazer download, enviar para os seus amigos”. Aí a
pessoa dava uma desanimada quando você falava que era uma rádio web.
179 Mas depois as pessoas falavam e se animavam de novo. Então, as
entrevistas eram bem abertas. Isso era bom. Nos outros veículos, talvez as
pessoas fossem com o pé atrás, me parece que tem mais credibilidade por
ser do Legislativo, as pessoas confiam. É a rádio do governo, ninguém vai
me queimar, ninguém vai me atacar, e isso é verdade, né? Se eu vou querer
entrevistar um empresário pela rádio da Assembleia, ele tem certeza de que
eu não vou fazer uma pergunta que vai deixá-lo numa saia-justa, porque
não é o objetivo, essa rádio aqui também não é uma rádio investigativané?
A gente faz um relato das coisas que acontecem da forma mais neutra
possível, apesar de todas as funções políticas e as tendências que
acontecem. Mesmo a pessoa, pode torcer para algum deputado, né? Isso
qualquer funcionário pode ter. Então, talvez ele [o funcionário], no texto
dele, dê um brilho a mais no texto, mas não quer dizer que ele vai fazer mal
feito do outro. Isso eu nunca notei em nenhum repórter aqui da
comunicação. Tem pessoas que têm partido, você sabe que ela é afiliada a
um partido, mas você lê o texto dela sobre outro deputado e perfeito, assim,
tudo legal. E todos os funcionários que eu conheço aqui são assim.
F – E a parte negativa?
E04 – A parte negativa, olha, a coisa triste, assim, é que, por você
trabalhar na Assembleia, as pessoas acham que você não trabalha, que não
faz nada, que é vagabundo. É muito triste isso, porque aqui a gente trabalha
para caramba, pelo menos nesse setor, o setor de comunicação. Tem dias
que não tem nada para fazer realmente, têm épocas que é recesso, têm dias
que não tem nada, você fica catando mosquinha, assim, para achar alguma
coisa para fazer. Mas quando tem é puxado. E é cansativo também assistir a
uma sessão como hoje. A sessão está longuíssima, é exaustivo, é chato, é
cansativo, tem que ouvir todos os deputados falando, tudo o que eles falam.
Cansa. Tem que cobrir uma comissão, as comissões são supercomplicadas,
a votação é rápida, se você perdeu o número do projeto já está perdido. Aí
fica um perguntando para o outro: “ah, que projeto era esse? Ele foi
aprovado? Foi aprovado o quê? Ah, foi aprovado, mas não foi aprovado
diligência. Então, não foi aprovado por causa da diligência”. Então, tem que
estar bem antenado, é bem cansativo. E as pessoas na rua acham que a
gente não faz nada. Isso é bem chato. Essa é a parte negativa. E na questão
de produção, não tem. Na rádio falta um produtor, seria legal se tivesse.
Agora tem a produtora, eu não cheguei a trabalhar com ela, mas ela dá uma
180 força legal, assim: “Ah, estou precisando buscar”, é bem solícita, “precisa de não sei o quê?”. E aí é isso.
181
APÊNDICE 05 - Entrevista 05 – Eduardo Meditsch, professor
coordenador da Rádio Ponto da UFSC
Fabíola (Entrevistadora) – Professor, a Rádio Ponto é a primeira
webradio universitária, criada em 1999 e eu gostaria de saber de que forma
isso de fato interfere no próprio ensino dos alunos, no sentido de formá-los como jornalistas.
Prof. Eduardo Meditsch (Entrevistado 05) - Bom, o que eu
posso comentar é pela minha experiência como professor, antes de ter a
Rádio Ponto e depois de ter a Rádio Ponto. Antes de ter a Rádio Ponto, a
gente trabalhava muito com programas gravados, produzia programas
também, mas não tínhamos onde veicular esses programas. A gente até
fazia por fora das disciplinas alguns programas em emissoras, mas nas
disciplinas a gente fazia programas que não eram veiculados. Acho que é o
mais normal de acontecer nos cursos de jornalismo e, infelizmente, isso cria
uma situação falsa, porque a gente produz para ninguém e a gente tende a
se afastar muito da realidade. A ideia dos programas da Rádio Ponto nas
disciplinas é nos aproximarmos um pouco mais da realidade, no sentido de
se ter primeiro um timing próximo do que acontece na produção do
radiojornalismo real, que é outro problema, porque as estruturas de aula
num curso de jornalismo são pensadas na lógica da educação, que não é a
lógica da profissão. E o curso serve para preparar as pessoas para a
profissão. Então, a gente tem que, às vezes, quebrar um pouquinho a lógica
da aula para se aproximar da lógica da profissão. Isso nem sempre é bem
entendido, inclusive pelos alunos. Eu vejo avaliações que os alunos dizem:
“ah, mas passamos um tempo da disciplina, alguns ficaram sem nada para
fazer, outros ficaram fazendo”. Mas é porque numa redação de rádio isso
acontece assim também. Então, para a gente imitar a redação de rádio,
quebra a lógica da aula. Então, o equilíbrio entre uma coisa e outra é muito
difícil de alcançar, mas a a gente tenta sempre alcançar. Acho que ainda a
Rádio Ponto não é o ideal. Por quê? Porque a Rádio Ponto não tem ainda
um público real, não tem um público permanente, real, o que faz com que,
embora a gente consiga suprir com essa experiência alguns aspectos, da velocidade da produção, da tensão, do estresse de colocar uma coisa no ar,
com hora marcada, que antes a gente não tinha, o feedback ainda é muito
pequeno, porque não existe um público real. E acho que é fundamental para
uma experiência do jornalismo ter um público real, porque só aí a gente
182 pode realmente medir quando “pisa na bola”, quando dá um desvio ético
quando a gente fala, porque o jornalismo sempre falha pela velocidade em que é feito e essa etapa seria muito importante na aprendizagem.
F - Você tocou num ponto de a Rádio Ponto conseguir se
aproximar mais da produção do mercado de trabalho. A partir dessa
produção maior, o fato de não ter um manual de rádio, um público, você
acha que isso prejudica de alguma maneira as discussões que os alunos têm para pauta, que eles podem não estar levando em consideração o público?
E05 – Acho que sim, porque acho que isso é um problema não
apenas na faculdade, embora na faculdade seja talvez mais intenso, mas,
mesmo na vida profissional, o jornalista muitas vezes imagina um público
ou subentende que tem um público que muitas vezes não é exatamente o
público que ele imagina, não é o público real. Então, é muito importante ter
essa relação com o público, uma relação mais real possível. Hoje a internet
justamente possibilita essa proximidade muito maior com o público, os
canais de feedback são múltiplos e muito mais fáceis de usar, porque antes
era só o telefone e as cartas, e acho que isso é muito importante. E seria
importante aqui. Eu sempre sou dessa visão. Sempre quando se discute o
que deve ser a Rádio Ponto há uma divisão de opiniões, se ela deve imitar
uma rádio real, uma rádio profissional, ou se ela deve ser uma rádio mais
experimental, que exista uma maior tolerância, invenção, imaginação, que
se experimentem coisas diferentes. Eu acho que o ideal é que ela
conseguisse as duas coisas, mas em fases diferentes da educação dos
alunos. Eu acho que no começo tem que se aproximar o máximo possível
do que é real, para que numa segunda fase, a gente conseguir criar alguma
coisa nova. Porque não adianta querer criar alguma coisa da realidade sem
ter uma base real, porque essa coisa vai ficar muito distante da realidade e não vai ter aplicação na realidade.
F - Pensando na internet e trazendo para o lado da criatividade,
existe alguma diferença pelo fato de ser uma webradio e não uma hertziana,
seja diferença de informação, de linguagem ou outro aspecto?
E05 – Bom, eu acho que o fato de ser uma rádio na internet
permite uma maior elasticidade em relação à segmentação. A gente,
183 eventualmente, vai cobrir alguma coisa e pode se dirigir a um público
específico interessado naquela coisa e, nesse sentido, é que pode influenciar
a programação, influenciar no sentido do conteúdo, da informação. A gente
pode, por exemplo, cobrir a eleição para reitor, a gente sabe que está
falando com o público da universidade que está interessado nisso, então, a
gente se volta mais para esse público. Vai cobrir um programa esportivo
tem um público diferente. Então, acho que a lógica da rede que está na
internet acontece também com o público e a gente volta para os diversos
públicos. Isso em termos ideais. Se isso realmente acontece é outra história,
mas poderia acontecer. Mas acho que a gente, ainda em termos de
linguagem, está devendo muito, não avançamos muito no desenvolvimento
de uma webemissora e isso não é um problema só nosso, é um problema do
uso da internet pelo rádio. Eu acho que pelo fato de as emissoras de rádio,
na sua maioria, as que têm recursos para investir em pesquisa, em destaque,
que são as emissoras hertzianas quando usam a internet, elas usam apenas
como uma nova vitrine para a sua mesma programação. Então, elas usam
muito pouco, experimentam muito pouco dos recursos da internet. E
normalmente quem tem uma webemissora, como nós, que não tem uma
emissora hertziana, não tem recursos para investir muito. Por exemplo, um
software que seria óbvio, básico, para ligar a programação sonora na
interface gráfica da web seria de que, quando entrasse um programa ao
vivo, isso aparecesse instantaneamente no site. E isso não acontece. O site é
estático, enquanto a programação sonora, o streaming é em movimento
permanente. Isso teria que ser adaptado. Quando a gente interrompe e
mesmo quando está rolando a programação gravada em streaming, que é
uma parte da programação, o site teria que mostrar qual é o programa que
está tocando. E isso não acontece. Quer dizer, isso é um software que está
“caindo de maduro”, mas que não foi desenvolvido ainda. Então aí que a
gente vê o desinteresse em desenvolver a webradio por parte de quem tem
recursos para tal. Nenhuma emissora faz isso no mundo, eu acho. Eu nunca
vi uma emissora de rádio que fizesse isso. E é a coisa mais óbvia e é um
problema mais geral da internet. A internet ainda não desenvolveu as
maneiras mais inteligentes, apropriadas, de editar áudio dentro do contexto
multimídia. Mesmo quando um site que não é de rádio, um site de notícias,
por exemplo, usa áudio, isso está sempre num canto da página, não é
integrado na programação, digamos, visual, que está incluído o texto, a
imagem. É preciso pensar numa lógica que consiga cruzar o uso do espaço
com o uso do tempo. E isso é uma coisa que talvez só o audiovisual tenha
encontrado uma maneira e que nós precisamos encontrar na internet. Mas
184 esse é um problema geral da internet, não é um problema do rádio, mas o rádio passa por aí também.
F - A Rádio Ponto era a emissora da universidade, mas agora a
UFSC tem a sua emissora própria. Está criando isso. Isso interfere na Rádio
Ponto?
E05 – Não. Quer dizer, durante um tempo, em que nós tínhamos
uma relação mais próxima com a reitoria, principalmente quando nós
produzíamos o [projeto de extensão] Universidade Aberta, que era um
projeto muito grande, a gente até tinha a expectativa de que, quando se
criasse uma rádio, essa rádio pudesse ser tocada a partir do curso de
Jornalismo. Hoje já não tem mais essa expectativa. Acho que a
comunicação da universidade passa por entraves políticos muito
complicados e dificilmente um reitor, essa reitoria presente, por exemplo,
teria essa confiança no curso de Jornalismo. Infelizmente, porque as
experiências internacionais que a gente tem, eu sempre uso o exemplo da
Universidade da Flórida, que aliás inspirou o Universidade Aberta, é que
são as emissoras de rádio e de TV universitária mais bem-sucedidas nos
Estados Unidos, em termos de público e de prestígio, são as emissoras
produzidas por cursos de Jornalismo. Mas aqui provavelmente não vai
acontecer, como não está acontecendo com a TV universitária. A TV
universitária é tocada autonomamente, como vinculada à reitoria, mas os
alunos do curso produzem programas que são veiculados lá. Então, acho
que quando for criada a emissora de rádio universitária, o que vai haver é
um grande redirecionamento da produção do nosso laboratório de rádio,
inclusive, talvez das disciplinas, para a emissora hertziana da universidade.
E aí talvez a Rádio Ponto fique mais em segundo plano e talvez assuma
mais esse caráter experimental, já que a gente vai ter uma emissora real
para colocar alguns tipos de programa. Então, é claro que vai ter toda uma
reestruturação do estúdio para atender a toda essa demanda de programas
para a rádio universitária. E a Rádio Ponto vai ser uma rádio experimental do curso de Jornalismo.
F - Os programas da disciplina têm caráter experimental. Os
núcleos já têm mais qualidade e até o próprio ânimo dos alunos é diferente,
fazem porque gostam. A Rádio Ponto faz os alunos dos núcleos pensarem num novo radiojornalismo informativo?
185
E05 – Bom, eu acho assim, dentro dos próprios núcleos existem
vários níveis. O pessoal que está iniciando nos núcleos geralmente é o
pessoal que está começando a cursar o curso de Jornalismo, está nas
primeiras disciplinas de rádio, e depois o pessoal que está há mais tempo
nos núcleos é o pessoal que tem mais experiência, que está dirigindo os
núcleos. Então, ali também há uma diferença de níveis, inclusive o núcleo
de esporte tem uma hierarquia de programas, com o programa para os
iniciantes e os programas para quem tem mais experiência. Então, a
qualidade também varia muito. E a qualidade também varia muito porque o
trabalho do núcleo é voluntário. Então, os alunos têm seus compromissos
de aula, têm seus compromissos de bolsa, que muitas vezes não são do
rádio, e acabam no tempo que sobra, eles têm muita motivação, mas muitas
vezes não têm o tempo necessário para se dedicar à rádio. Então, um
problema também da manutenção da qualidade, que eles lutam muito para
manter essa qualidade, mas nem sempre conseguem. Mas claro que o
pessoal mais experiente tem mais capacidade de experimentar. Agora, acho
que nós temos um problema estrutural no Laboratório de Rádio e no curso
de Jornalismo como um todo que é essa falta de convergência entre rádio e
internet. Os alunos, claro, passaram pelas disciplinas da internet, eles são da
geração da internet, mas eles acabam usando a internet mais através de
aplicativos, como Facebook, Twitter, para fazer essa convergência com a
programação do streaming da rádio e nós não conseguimos ainda, no
próprio site da rádio, explorar as potencialidades da internet e fazer essa
ligação. O site da Rádio simplesmente coloca os programas em streaming e
depois vai colocar o podcast desse programa acompanhado de uma foto, de
alguma coisa. Mas eu ainda acho que é muito estático, muito fora do
potencial, muito longe do potencial que pode ter essa convergência.
F - Esse seria o grande problema da Rádio Ponto?
E05 – Acho que sim. Acho que a Rádio Ponto, até por essa incrível
participação que tem, muita gente participando, poderia ser uma webradio
experimental que estivesse abrindo caminhos para outras webradios, pela
estrutura e disposição que a gente tem aqui. Mas ainda falta essa ligação,
inclusive dos professores de rádio com os professores de internet para a gente fazer essa convergência.
186
APÊNDICE 06 - Entrevista 06 – Valci Zuculoto, professora
coordenadora da Rádio Ponto da UFSC
Fabíola (Entrevsitadora) – Professora, podemos iniciar essa entrevista falando sobre a estrutura da Rádio Ponto.
Profª. Valci Zuculoto (Entrevistada 06) – Então, primeiro deve-
se definir como a Rádio Ponto funciona. É que na verdade, a Rádio Ponto é
uma rádio laboratório, ela está ali para servir as disciplinas de rádio e
também aos trabalhos de rádio, à formação de rádio daqui. De alguma
forma ela é uma rádio laboratório e também é um projeto de extensão. Foi a
forma que a gente encontrou de continuar desenvolvendo a rádio e, além
disso, nós temos um laboratório de radiojornalismo ali. Então, na verdade, é
uma rádio que está dentro de um laboratório de radiojornalismo, porque
nem tudo que se faz de prática laboratorial vai para a rádio, mas a maioria
do que a gente faz ali vai para a Rádio Ponto. Então, primeiro é isso, nós
temos uma área de radiojornalismo ali e ela está dentro dessa área. Então,
ela serve as disciplinas, ao desenvolvimento da extensão e à comunicação
também da própria universidade, porque ela se transforma numa vitrine da
universidade, porque a gente faz alguns programas para a universidade,
coberturas sobre a universidade, não aquela coisa meramente
propagandista, mas discutindo o que acontece aqui dentro da universidade
jornalisticamente também, com programas de debate sobre isso. O
laboratório inclui várias outras coisas, não atende a rádio só. Na verdade, a
rádio é atendida pelo laboratório. Na verdade, quem deve ter mais estrutura,
mais bolsistas, é o laboratório. Bom, mas o nosso foco é só a rádio. E a
Rádio Ponto também, como ela não é uma rádio convencional, uma rádio
montada, começou com um estúdio de rádio e foi evoluindo com o
desenvolvimen to da internet, que foi permitindo a rádio, porque antes, o
que a gente fazia, as produções, não era veiculadas. Isso é bom, para a
formação dos alunos também, é bom que eles não só façam e fique
guardado. É bom que a sociedade ouça, que sirva para alguma coisa, tenha
uma recepção não só para olhar: “ó lá que legal, o programa que o pessoal
lá faz”, mas que tenha repercussão na vida social aqui de Florianópolis, da universidade pública, que o povo está pagando e está dando o seu retorno
para a sociedade também. Por isso, a gente transformou em projeto de
extensão. Mas dentro dessa grande área aí, a rádio, como ela não é uma
rádio convencional, como a gente antes ia atrás, buscava espaços em rádios,
187 mas ainda bem que a gente tem a nossa Rádio Ponto hoje. Mas uma rádio
precisa não só de veiculação, tudo isso, mas precisa de estrutura também.
Então, a forma que a gente viu realmente é fazer essa composição de ela
estar inserida dentro da grande área do radiojornalismo daqui do curso, para
que ela pudesse ter programação, ser o canal de veiculação dos trabalhos
dos alunos aqui do curso e para que a gente pudesse prestar um dos pontos
da nossa missão enquanto universidade, que é fazer extensão, fazer
pesquisa, não só formar, mas fazer extensão com a sociedade, pesquisa.
Assim, a gente fez essa integração dentro dessa área do rádio. Na verdade, a
gente criou uma área e foi fazendo essa integração. Inclusive, as disciplinas
produzem programas, colocam produções ali, inclusive os calouros, quando
entram. Mas a gente sempre faz questão de dizer, até porque pode ter, não
ter a qualidade maior, não ter um aprofundamento maior, mas, por
exemplo, o programas que os calouros fazem eles estão começando, é o
primeiro contato deles com o jornalismo, com o rádio, obviamente que a
gente não vai deixar que eles cometam erros que possam ter uma
repercussão muito negativa, mas ali pode ver, eu já transmiti pela rádio
aulas de radioteatro ao vivo, enquanto estava fazendo ensaios, coisas assim.
Isso é interessante. Então, a gente viu dessa forma. As disciplinas também
têm programas. Não chegam a ser, não diria nem que eles não são
permanentes, eles são praticamente permanentes, porque a cada semestre
muda o nome dos programas, o foco dos programas é cada turma que
define, mas a gente sabe que todo semestre vai ter programas semanais ou
quinzenais das duas turmas de rádio I, que vai ter de redação para rádio, que
as disciplinas optativas como a Cátedra FENAJ UFSC, de auxílio à
cidadania, que já está no ar desde 2002, que vai ter o [programa]
Jornalismo em Debate, que discute as questões do Jornalismo, essas
grandes coberturas que o jornalismo faz ou essas coberturas do dia a dia. E
isso aí resulta em muito bons programas. As disciplinas também
contribuem, ajudam a construir a grade colocando os seus temáticos, os
“tematiquinhos”, que são os programas finais que os alunos fazem para a
conclusão das disciplinas, com os TCCs também. Então, nós temos os
núcleos, sendo que um núcleo não é nem um projeto de extensão, que é o
núcleo do Lança Perfume, um dos ótimos núcleos que tem ali que é
responsável por vários programas da grade e é um núcleo só voluntariado.
Então, eles praticam, eles contribuem para melhorar a grade da rádio, o que
eu acho uma das coisas bem legais dos nossos núcleos de produção ali é
que eles já vão formando, os calouros entram, eles já convidam, já têm
aqueles programas, tanto o núcleo de Radiojornalismo Esportivo quanto o
Lança Perfume já têm um programa que a responsabilidade é dos calouros.
188 Então, eles já vão formando para que depois o programa continue, porque a
passagem deles por ali é quatro anos, no máximo, quando não menos
tempo, porque eles também querem experimentar outras áreas. Mas eles já
vão tratando de formar, de estimular os que estão entrando a querer ter os
seus programas na rádio, a sua programação na rádio. O núcleo de
Radiojornalismo Esportivo, como eu consegui transformar num projeto de
extensão também, ele tem um bolsista só, mas é um dos que têm o maior
número de voluntários, né? Mas o voluntariado ali na Rádio Ponto, eu acho
que semestralmente deve ter em torno de 50, 60 pessoas trabalhando, fora
os bolsistas. E tem bolsistas também que, nas horas que não estão na bolsa,
eles estão lá trabalhando como voluntários, eles estão fazendo programas
como voluntários. Enfim, a coisa está se construindo de uma forma muito
legal, com um trabalho muito coletivo e de integração, que é o que eu acho
mais importante. Então, é integração entre as disciplinas, os núcleos de
produção e de extensão, que são projetos de extensão também. A gente não
tem mais um projeto que a gente tinha, que era o Fazendo Rádio na Escola,
que atendia escolas do ensino fundamental e médio, não tem mais enquanto
projeto mesmo, não dá, porque são dois professores para ter tantos projetos,
eles nem aceitam tantos projetos, nem cabe. Mas dentro da Rádio Ponto e
do laboratório de rádio a gente voltou a atender, nós estamos com um
atendimento mais sistemático. Agora nós estamos trabalhando com essa
escola aqui perto da Penitenciária, Escola Teodoro Sampaio, que nós
estamos fazendo um atendimento sistemático. Então, vão todos os núcleos
da rádio, os bolsistas do laboratório, a gente faz um esquema para atender.
Então, de alguma forma, a gente voltou com o outro projeto que a gente
tinha, que é o de atendimento às escolas. E mais os programas voluntários,
que não são ligados aos núcleos, mas que sempre têm alguns alunos que se
interessam em fazer, ou seja, mais os TCCs. Claro que a Rádio Ponto não
tem uma programação como se vê aí nas rádios convencionais, mas é uma
programação muito boa, porque o que fica ali no acervo é atemporal, você
pode ter para pesquisa, para contextualização histórica. E a gente mantém,
pelo menos, agora não lembro exatamente, em torno de uns 10 programas,
podem ser semanais, quinzenais, talvez mensais e tem um quadro fixo, uma
grade fixa de programação ao vivo semanal, que não é só programação de
acervo. Então, nesse ponto, eu acho que a gente está não só construindo um
modelo diferente de rádio para uma universidade, mas um “modelinho”
diferente de webradio também, que eu acho que já está dando muito o que
pesquisar, já está virando referência, porque a gente também faz cobertura,
também está buscando. Ali o núcleo de Radiojornalismo Esportivo está
buscando não só formar os estudantes para a ocupação desse espaço e para
189 atender a demanda que tem do jornalismo esportivo uma demanda que está
crescendo nas rádios mesmo, mas o jornalismo esportivo como um todo
está assim, os grandes eventos que estão vindo para o Brasil. Então nós
temos uma demanda de profissionais mais especializados nessa área. É
necessário formá-los, capacitá-los para atender a esta demanda. Mas
também de provocar, isso que eu digo, porque eu acho que uma
universidade, um curso de jornalismo, não tem que formar para o mercado,
só para atender as demandas que estão ali. Ele tem que formar profissionais
com capacidade de intervir neste mercado, de criar coisas novas, de dar
soluções em termos de modelos. No caso do rádio, de um modelo de
coberturas que ainda não estão bem definidas, ou que por todas essas
transformações, que o jornalismo, as comunicações e as mídias vêm
sofrendo, especialmente por questão das novas, das mais recentes novas
tecnologias, então, isso faz com que a gente também tenha que
experimentar com eles, também tenha que criar com eles. Acho que o
radiojornalismo esportivo está procurando atender isso, embora ainda de
uma forma muito lenta, mais lento do que a gente gostaria, a gente gostaria
que fosse muito mais rápido, com muito mais profundidade, mas dentro da
estrutura que a gente tem, do número de pessoal, mesmo ainda com um
pouco de deficiência de estrutura física e de equipamentos e de pessoal, eu
acho que a gente está fazendo um bom trabalho e já está conseguindo
contribuir, inclusive nacionalmente, em relação a isso. Até como fazer uma
Grande Jornada diferenciada, a participação das meninas também, das
jornalistas femininas no jornalismo esportivo, que até hoje é bem recente o
fato de ter mulheres trabalhando na área do radiojornalismo esportivo e é
uma coisa que a gente tem que fazer, porque as pesquisas estão aí. A
pesquisa do perfil do jornalista brasileiro feita aqui pela Sociologia da
UFSC, da Pós-Graduação em Sociologia junto com a FENAJ, mostrou que
o número de mulheres jornalistas é maior, ou seja, nós temos uma tendência
a transformar esta profissão numa profissão principalmente feminina, na
mão-de-obra feminina. Então, isso aí a gente vai ter que ver. E se o
jornalismo esportivo é uma área que está demandando cada vez um maior
número de profissionais e profissionais mais capacitados e criativos, então
temos que formar nossas meninas para isso. Temos que ensinar nossas
meninas a fazerem jornalismo esportivo. E ali a gente está fazendo isso,
inclusive na narração, que é uma coisa que até hoje eu não lembro de ter
ouvido. A gente já ouve as mulheres fazendo reportagem no jornalismo
esportivo, fazendo comentários, tudo isso, fazendo apresentação, agora
narração a gente não vê e não ouve. Então, eu acho que aí é uma
contribuição, estamos tentando ver isso aí, fazendo adaptações,
190 experimentações, ou seja, a Rádio Ponto ela é...como a gente definiria a
Rádio Ponto? Ela é um espaço ao mesmo tempo de prática, para
complementação da formação, é uma mídia de comunicação e de integração
da universidade com a sociedade e é também um espaço de extensão, ou
seja, a gente está construindo um modelo próprio do que deve ser uma webemissora universitária.
F – E na questão do ensino, como você avalia a Rádio Ponto?
E06 – É, a gente na verdade criou, vamos dizer assim, uma
metodologia aqui dentro que é própria. Mas eu não acho também que essa
metodologia é tão inovadora, porque, no momento em que você trabalha
com voluntariado, tem que fazer isso, tem que delegar, senão a gente não
teria tanto espaço. Se tem dois coordenadores, só aqueles dois
coordenadores não dariam conta. E funciona de alguma forma. Isso também
é bom, porque eles experimentam uma forma que, os alunos,
principalmente os alunos de jornalismo, reclamam muito: “ah, nós temos
que ter contato com o jornalismo diário, como é?”, “temos que fazer o
jornalismo diário, como é mesmo?”, “no mercado, como é uma emissora de
rádio, como é trabalhar numa emissora de rádio”, “como é trabalhar numa
emissora de TV”, “como é trabalhar num jornal, numa revista, na produção
de um site jornalístico, como é esse dia a dia”. Então, a Rádio Ponto dá essa
oportunidade para eles. E como funciona uma rádio a gente diz para eles
que, de alguma forma, a gente está experimentando aqui como vai ser a
vida deles lá fora e depois, de uma forma um pouco mais light, porque aqui
eles têm o professor, que admite o erro às vezes para depois corrigi-lo.
Claro, não que fora não se possa errar, mas aqui eles estão sob uma
supervisão constante. É claro que a supervisão não se dá cotidianamente, de
hora em hora, em cada programa. Então, de certa forma, a gente está
reproduzindo aqui como eles podem trabalhar numa emissora de rádio, que
é dessa forma. Tem núcleos de produção, tem departamentos - aqui nós
chamamos de núcleo - e cada departamento tem o seu coordenador, o seu
supervisor, ou seja, a supervisão geral. Neste momento, eu sou a
coordenadora da Rádio Ponto e a supervisora do laboratório de Rádio. O
professor Eduardo [Meditsch] também coordena, coordena dois projetos de
extensão lá dentro do rádio, que são de produção, de pesquisa também, de
montagem do Museu do Rádio. O que isso faz, né? Nós somos os
coordenadores gerais, nós temos que delegar, porque é assim mesmo que
funciona a vida aí fora. É assim que se dá a comunicação aí fora. Tem
191 instância e espaços deliberativos, o que a gente procura fazer e nem sempre
é possível, até pela própria carga de trabalho que eles têm, não só pelas
bolsas, mas também pelas disciplinas, tem que assistir às aulas, tudo. Com
os bolsistas a gente costuma fazer reuniões semanais, bem periódicas para
discutir as questões mais gerais ali, de funcionamento da rádio, do
laboratório, tudo isso. Mas se procura fazer sempre uma reunião mensal de
todos que trabalham. Não conseguimos colocar em prática, porque está
sempre essa história, por enquanto só estou eu de professora ali e tem que
ainda atender a tudo isso, porque a ideia era [fazer reuniões semanais]. Na
verdade, não se conseguiu implantar, se conseguiu fazer algumas [reuniões]
só, mas uma reunião mensal a gente consegue fazer com todos, para
avaliação da programação, das coberturas especiais que se fez, então, é uma
forma de trabalhar. Nós estamos testando, aplicando, a gente vai vendo, vai
definindo métodos pedagógicos, métodos profissionais também, mescla
tudo isso e tentamos desenvolver a rádio. Mas a minha avaliação é que,
embora a gente não consiga ainda dizer: “ó, chegamos numa forma ideal de
desenvolver essa rádio”, encontramos uma fórmula de desenvolver uma
rádio que é, ao mesmo tempo, extensão, pesquisa, laboratório, prática de
ensino, tudo isso. Eu acho que a gente está no caminho correto e mostra que
a rádio já criou um público. Pode não ser um público muito extenso, mas
ela já criou o seu público, já tem um público cativo e a tendência é de que ela passe a ser referência, pelo menos em algumas áreas.
F - O fato de ser uma webradio influencia?
E06 – Então, na verdade, ela é uma webradio, mas ela ainda se
constrói muito como uma rádio tradicional. Então, aos poucos o site dela
não mostra ainda que ela é uma webradio. Nosso foco maior ainda está na
adequação, na adaptação de linguagens e formatos e os modelos de rádio,
que até hoje se desenvolviam na rádio tradicional. Então, eu posso dizer
que, em termos de formatos e de modelos, ela ainda é muito mais uma rádio
convencional do que uma webradio propriamente. Mas a gente já está
experimentando e, inclusive, o fato de existir o rádio na internet hoje muda
inclusive o rádio convencional. Então, eu acho que a gente já naquela
mescla, fazendo o rádio convencional e ao mesmo tempo uma
webemissora. E também como ela foi uma das primeiras webemissoras, a
gente vem construindo junto com o que vem sendo construindo aí, para o
desenvolvimento, para a estruturação, porque uma webemissora ainda é
muito nova. O conceito de rádio nesse ambiente de hoje, o ambiente da
192 convergência, ele também ainda é muito novo, ele também está sendo
definido, ele ainda é inconcluso, polêmico e, por vezes, até bem divergente.
Então, nesse sentido, eu acho que a Rádio Ponto está se tornando um
referencial. Porque ela encontrou, veja bem, olha só o que a gente está
fazendo, a gente está fazendo uma webradio, que é rádio laboratório, que é
extensão, que é pesquisa também, ou seja, que faz esse intercâmbio não só
da migração para uma plataforma que permite a convergência, mas que
também estamos fazendo com esse novo modelo que exige que a gnte,
inclusive, reformule o ensino de rádio. Então, nesse sentido que eu disse
que ela já está se tornando uma das referências, é porque a gente vem
trabalhando muito em cima disso. E essa história de criar um voluntariado e
fazer a integração entre a extensão, as disciplinas, o laboratório e o
voluntariado também e a pesquisa, não digo só aqui, mas também em outros
lugares, onde há essa integração com a pós-graduação. Ou seja, há uma
integração. Tudo isso aí faz com que a gente esteja, de alguma forma, não
só contribuindo para o desenvolvimento do webradio universitário, que já é
diferenciado da webradio. A gente tem várias especificidades para atender
aí, estamos todos contribuindo, inclusive, para essa forma que a gente
encontrou, de não ficar: “isso é ensino, isso é laboratório, agora nós temos a webradio”.
F – E qual a sua avaliação sobre as dificuldades encontradas?
E06 - Eu acho que hoje a gente não tem uma [dificuldade]. Na
verdade, acho que é falta de bolsistas. Nós estamos com bons bolsistas,
talvez se aumentasse poderia melhorar, mas também não adianta a gente ter
um número excessivo de bolsistas e não ter um bom número de professores.
Eu acho que mais professores que pudessem estar presentes ali colaborando
e ajudando a coordenar e mais técnicos também. Isso eu acho que faz falta.
Técnicos e mais professores para a gente conseguir dar conta de chegar
nisso, nesse ambiente de integração total, não só do ensino, com a pesquisa
e com a extensão, mas de integração disso aí e com as outras, porque nós
estamos trabalhando num ambiente de convergência, então, a gente tinha
que ter. A gente faz algumas coisas na integração, mas a nossa integração
com as outras áreas do curso ainda é pouca, se a gente conseguisse uma
integração maior, ter mesmo um ambiente de convergência também no
ensino, mas são dificuldades acho que não são só desse tempo midiático,
mas também desse tempo de ensino, de condições. Eu acho que ela [Rádio
Ponto] está indo bem, mas ela tem dificuldades, poderia estar indo muito
193 melhor. Uma das coisas que a gente está também é trabalhando com
parcerias, convênios, isso aí era antes também para que a gente não faça só
para a rádio e não fique só aí na Rádio Ponto. Isso aí é o efeito em cadeia,
porque a gente tem tido retorno de ouvintes, por exemplo, que ouvem na
Rádio Joinville, porque lá na Rádio Joinville a gente passa alguns
programas inteiros, agora outros a gente faz uma compilação, a gente faz
um compacto da nossa programação ao vivo da semana e manda para lá. Aí
as pessoas ouvem aquele compacto: “ah, eu quero saber mais sobre isso”.
Então, a gente está agregando audiência a partir das nossas parcerias
também. E também é bom para a rádio, por exemplo, para a Rádio
Joinville, com a qual a gente tem essa parceria; é bom para nós, porque a
gente também troca experiências, ou seja, isso aí não temos tanta
dificuldade. Na verdade, nós só não construímos mais. E a gente faz outras
parcerias pontuais, para cobertura das eleições, com várias rádios do país,
com outras universidades também. Agora das manifestações36
, a gente fez
com outros cursos, teve voluntariado de cursos de outros estados,
estudantes de outros estados, mas é outro caminho em que a gente está,
acho que não somos só nós que usamos, outros também usam as próprias
rádios profissionais, mas isso é bom. Mas a gente poderia talvez ampliar as
nossas parcerias se a gente tivesse mais. No momento, eu acho que é o
nosso principal problema ali da rádio, porque eu acho que, em termos de
equipamento, a gente está, se não está no “top dos tops”, a gente procura
manter sempre atualizado. A gente sabe que na universidade as coisas
andam mais lentamente, mas a gente nunca esteve totalmente defasado,
sempre teve equipamentos. Então, acho que a nossa maior dificuldade
mesmo é a estrutura de pessoal, principalmente professores e técnicos. O
resto está tudo pronto para a rádio decolar, mas decolar mesmo. Eu digo
que ainda está subindo devagarinho, está muito lento esse aviãozinho, está
muito lento. Mas quando ele ganhar, quero chegar lá, não estamos voando
em cruzeiro ainda, mas estamos subindo. Então, eu acho que se a gente
tivesse um pouquinho mais de estrutura de pessoal, de professor e de técnicos ali a gente já conseguiria voar em cruzeiro e ir embora.
36 A entrevistada refere-se à manifestação popular ocorrida no mês de junho de 2013.
194
APÊNDICE 07 - Entrevista 07 – Aluno integrante da Rádio Ponto da
UFSC
Fabíola (entrevistadora) – Você é um dos mais antigos no curso e
também é um dos fundadores do Núcleo Esportivo. Então, gostaria que
você comentasse por que criaram o núcleo, como foram os primeiros momentos e as alterações nesse período.
Entrevistado 07 – Quando eu cheguei no curso em 2009 já existia
um grupo de cobertura esportiva aqui. Se eu não me engano, tinham
retomado em 2008, porque a história de cobertura esportiva é muito antiga
aqui. Então, quando eu cheguei como calouro a gente manteve o grupo de
cobertura esportiva, mas muito do pessoal que já tinha participado havia
deixado o grupo, então, os dois membros mais antigos, que nem eram tão
antigos assim, eram veteranos da terceira e quarta fases, e aí em 2009 a
gente manteve a mesma base e quando veio em 2010, a cobertura da Copa
do Mundo, foi agregada muita gente. Muitos calouros e até o pessoal que
não participava resolveu participar. No primeiro semestre de 2010 a gente
ficou na função da cobertura da Copa, de todas as organizações,
transmissões. No mês de junho a gente só fez transmissão. E quando entrou
no segundo semestre de 2010, a gente sentiu uma necessidade de
transformar aquele trabalho voluntário em algo a mais. Então, a gente
passou 2010 inteiro, a segunda parte de 2010, conversando com os
professores, o Eduardo Meditsch e a Valci Zuculoto, para ver o que a gente
poderia fazer para transformar aquele projeto, que era só um projeto de
grupo, só de alunos voluntários, em algo a mais, melhor orientado. E aí,
quando entramos em 2011, no primeiro semestre, a [professora] Valci nos
deu como sugestão escrever um projeto, como alunos mesmo, e ela nos
daria esse aval e se tornaria um projeto de extensão, ou seja, ter um
professor nos orientando oficialmente, porque já nos orientava, mas não
oficialmente, e podia ter possibilidade de recursos, bolsistas, etc. Em 2011,
nós reunimos cinco ou seis e escrevemos esse projeto e, naquele mesmo
semestre já foi aprovado e começou a história do núcleo. Então, o ano de
2011, entre o segundo semestre de 2010 e o primeiro semestre de 2011, foi o ano de estruturação e, a partir daí, no segundo semestre de 2011, a gente
começou a crescer muito. Então, o que era antes um programa só, o Bola na
Trave, quando passou para o segundo semestre de 2010 a gente agregou o
UFSC Esporte Clube; no primeiro semestre de 2011 a gente trouxe de volta
195 o Ponto de Encontro; e no segundo semestre a gente trouxe o programa das
meninas. No final, a gente estava numa média, só do núcleo, de cinco a seis
programas por semana. Assim se manteve em 2011 e por um tempo de
2012. Em 2012, a gente voltou a ter um projeto de cobertura que foi com a
Euro, a Eurocopa de 2012, e em 2012, no segundo semestre, muita gente
fazendo muita coisa, o pessoal estava muito cansado, a gente deu uma
“enxugada” no segundo semestre de 2012 e em 2013 começamos a
reestruturação e agora estamos aí, de novo com projetos. Então, é sempre
esse efeito sanfona. A gente cresce, vem de uma transmissão de um evento
muito intenso, a gente cresce, faz bastantes programas, o pessoal cansa e a
gente acaba reduzindo e voltando a números menores. Nesses últimos
quatro anos, a gente crescia, em menos de um semestre a gente já voltando aos pouquinhos, porque todo mundo é voluntário.
F – Ano passado eu fiz uma pesquisa e tinha vários programas
especificamente do Núcleo Esportivo. Agora tem algumas mudanças e alguns saíram. Qual o motivo dessas mudanças?
E07 – É, geralmente as mudanças ocorrem por falta de pessoal. A
gente tenta agregar os calouros via Bola na Trave, posteriormente trazê-los
ao resto do núcleo e continuar fazendo os programas. Geralmente, as
mudanças ocorrem quando diminui o número de participantes.Então, o
Minutos Finais, como eu comentei, era um programa de comentários que a
gente tinha na quinta-feira, eram 10 minutos, precisava de três pessoas, mas
era um grupo de 10 fazendo. Quando virou para o outro ano, o pessoal que
tinha aquele horário da quinta já não tinha mais por causa da aula. Daí a
gente acabou agregando ele ao Ponto de Encontro. Então, geralmente, esses
programas nascem e morrem por conta da disponibilidade do pessoal. Não
existe uma lógica muito grande: “ah, não, a gente vai parar de fazer porque
é necessário dar um tempo”. Geralmente é assim: “não posso mais, não
posso mais...”, e aí vai do pessoal também, pessoas que fazem durante um
ano e aí desistem: “ah, não quero mais, já aprendi, já não tenho mais tempo,
quero me dedicar a outras coisas”. Então, infelizmente a gente não tem um
padrão. Até mesmo a gente, das antigas, não consegue identificar por que
começam, continuam e param de fazer. Mas, sem dúvida, a aula e estágio
influenciam muito na disponibilidade do pessoal para a continuação dos programas.
196
F – Hoje quantas pessoas participam do Núcleo?
E07 – Eu vou dizer que hoje somos, contando os calouros, umas 30
a 40 pessoas. Já teve períodos com menos gente e mais produção e períodos
com muito mais gente e menos produção. Mas geralmente varia nesse
número entre 30 e 40 integrantes. Ativos mesmo podemos dizer que tem
uns 15. O resto é esporádico, participam de um programa e não participam de outro. Mas entre 30 e 40 é um número razoável.
F – E vocês fazem reuniões de pauta para os programas, como são definidos os assuntos?
E07 – Tudo começou no Bola na Trave, a gente tinha um grupo de
e-mail do Bola. Aí, conforme os programas foram crescendo, a gente foi
usando este mesmo grupo de e-mails, isso em 2010, e o pessoal começou a
ficar irritado porque era muita coisa no mesmo e-mail. Em 2010, a gente
criou um novo e-mail e começou essa história de ter mais reuniões de pauta,
porque o Bola na Trave a gente sempre faz uma reunião de feedback, de
pauta, mas especialmente de feedback. Os outros programas não rolava
muito isso, era muita discussão por e-mail: “ah, vamos fazer essa pauta,
essa pauta ou aquela” e não funcionava. Então, em 2010, a gente começou
essa rotina de cada programa ter o seu próprio tempo e espaço de reunião na
semana. Isso também varia conforme a disponibilidade, como eu já falei.
Em 2011, a gente deu um passo além tendo avaliadores, uma espécie de
ombudsman. Então, a gente tinha a nossa reunião, ouvia o programa e
definia as pautas e tinha mais uma pessoa de fora, do núcleo, mas que não
estava no programa, que fazia a avaliação completa. Isso, infelizmente, só
durou um ano e em 2012 a gente voltou para a história de ter só as reuniões
e no ano passado, o pessoal começou a migrar só para o Facebook. Mas
sempre que possível o pessoal faz uma reunião de pauta. As pautas chegam
das mais diversas maneiras, algumas via e-mail, outras nós mesmos lemos
as notícias. O ideal, mesmo o pessoal que não está no programa, a gente
prefere uma reunião de pauta porque senão vira bagunça.
197
F – Nessa reunião vocês pensam na questão de a Rádio Ponto ser uma webradio?
E07 – Um fato é que, ainda que a rádio seja webradio, a gente
sempre tenta manter a questão do regionalismo. Como a gente é um grupo
de radiojornalismo esportivo, a gente tenta pegar não só Florianópolis, mas
também o estado [de Santa Catarina], por uma questão de proximidade,
para retornar o recurso público ao público catarinense. A gente sempre
pensa nisso. O grande problema que a gente tem é a falha na divulgação e
não só de marketing, mas realmente de pensar, de dedicar um pouco a mais
além do próprio programa. Então, nas pautas a gente procura pensar e
agregar coisas regionais e coisas de um público que às vezes conhece muito
de tal esporte ou às vezes não conhece nada, acaba não indo muito além
disso. Nos últimos tempos, além do próprio site da rádio, que eram
disponibilizados os áudios, a gente pensou em outras formas, como o
MixCloud e o SoundCloud. A própria página no Facebook surgiu dessa
necessidade de ter um site próprio, mas nunca sai do papel. É aquela
história, todo mundo voluntário, pensa: “ah, vou fazer, vou fazer” e nunca
faz nada. Agora, esse ano, a gente começou via YouTube. A gente está
pegando um dos programas, o da NFL, que é mais de teste, e tentando
trabalhar essa história de podcast via YouTube. Mas, de novo, é repetitivo,
mas a gente para na história de ser voluntário. Vai até um ponto, alguns vão
um pouquinho mais, alguns ficam pelo caminho, Não é um grupo muito
organizado, não sei se você já percebeu, é meio anarquizado, porque
ninguém gosta de mandar em ninguém, ninguém é editor-chefe. Então, nas
próprias reuniões isso acaba aparecendo. A gente se reúne, em conjunto
tentamos definir as posições e tudo, e esses outros aspectos acabam ficando
deficitários, a gente não consegue resolver esse tipo de coisa. E aí,
especificamente essa história do site da rádio, a Rádio Ponto, e o próprio
sistema da webradio, a gente também fica pelo caminho pelos próprios
problemas que a Rádio Ponto tem. Às vezes, a gente gostaria de fazer mais
coisas, mais transmissões e outros eventos ao vivo e não é possível pelos
recursos ou pelo espaço de tempo. Então, volta e meia a gente esbarra nesse
sentido. Agora, confessar para você que a gente pensa especificamente no
produto da Rádio Ponto e como isso vai atingir mais pessoas e como vai
melhorar a estrutura da rádio, isso acaba não passando na cabeça, é mais individual mesmo, a gente acaba não pensando no todo. Eu, como bolsista,
acabo pensando mais, puxando para esse lado, mas de maneira geral o
pessoal acaba pensando mais especificamente no próprio núcleo e no seu programa.
198
F – Que tipos de problemas você acha que a Rádio Ponto tem hoje?
E07 – A gente tem problemas no site. O site é um problema. A
forma como a gente divulga o nosso trabalho e a forma como hoje o site é,
a cara da rádio, que não está mais dentro da universidade, é um problema.
O site é um site que visualmente tem extremas dificuldades, não é acessível,
as pessoas não lembram dele para entrar. Ele é uma plataforma muito
antiga; então, várias ferramentas que a gente poderia agregar, até para
melhorar a qualidade do jornalismo, a gente não consegue. O segundo
problema, que eu não sei se é um problema, é o fato de ser um serviço
público. Então, abre às 8h da manhã e encerrar às 21h30min. É um
problema e nesse abrir e encerrar a gente também depende dos funcionários
e de autorizações. Então, muita coisa que a gente poderia fazer como núcleo
acaba não acontecendo, especialmente no final de semana. Tinha uma fase
que a gente narrava os jogos de futebol americano dos times daqui e a gente
só narrava no estádio, não conseguia trazer para a Rádio Ponto porque a
gente não tinha recurso, funcionário. Geralmente são esses problemas. Todo
o resto, parte técnica, disponibilidade de horário, trabalho dos servidores,
dos professores, a gente não tem problema nenhum, a gente até é muito
folgado, tem até muito espaço se comparado a outros lugares. Mas esses
outros problemas, que a gente poderia fazer coisas de fora, passam pela
questão de ser realmente uma universidade pública e uma webradio e não
uma rádio de verdade.
F – No site especificamente, você acha que, além do layout e da
usabilidade, que você citou, você acha que as possibilidades que o site oferece são mal exploradas?
E07 – Sim, acho que a própria estruturação da parte de áudio é mal
estruturada. Ele não tem uma estruturação que possa chamar a atenção para
se tornar fácil para as pessoas acessarem os próprios programas. Já tentei
como bolsista algumas vezes criar abas específicas para os programas das
aulas, por exemplo, mas não tem como. O site é muito travado. Ou para os
programas do nosso núcleo. Ou a gente ter o nosso site na própria página da
rádio, que era um desejo antigo, tinha os núcleos e a gente gostaria de fazer
isso também. Então, essa limitação da página acaba limitando esses outros
recursos também, como você citou, e acho que as pessoas acabam também
não dando valor: “ah, é só a Rádio Ponto, que seja, não é importante, não
199 toca nada agregador”. A gente também não consegue trazer ninguém importante para fazer coisas novas.
200
APÊNDICE 08 - Entrevista 08 – Aluna integrante da Rádio Ponto da
UFSC em 2013
Fabíola (Entrevistadora) - Podemos iniciar falando um pouco
sobre o resumo do núcleo?
Entrevistada 08 – Começou quando a gente entrou no curso, eu e
as meninas que criamos o programa. A gente entrou em 2010, era ano de
Copa do Mundo e de eleições para governador e presidente. Então, em
junho eles começaram a movimentação para fazer a cobertura da Copa do
Mundo e surgiu um programa feminino nessa cobertura, que chamava
Futebol de Saia. Eu não fazia parte do programa, só que, no fim, a rádio é
um espaço de socialização, todo mundo sempre está aqui dentro, e eu estava
aqui, acabei participando de alguns programas e a ideia era que o programa
continuasse. Só que nenhuma de nós queria que o programa continuasse
falando sobre futebol. Então, a gente criou um novo projeto para o
programa. Em 2010, no segundo semestre de 2010, a gente começou o
“Lança Perfume” com um tema por semana, três quadros, um quadro de
notícias e depois o Lança Repórter, que era para introduzir o tema e o
Momento Hugo Boss, que era a participação masculina. Na época eram
perguntas dos homens, como um Povo Fala, para que a gente respondesse
na mesa. E foi crescendo, a gente foi chamando as calouras para entrar e
surgiu a ideia de criar um programa de entrevistas, que no ano passado a
gente decidiu trocar o quadro do Momento Hugo Boss, que era o Faro
Masculino. A gente sentia uma necessidade de abrir para os homens
também. Então, a gente achou: “não vamos abrir para todo mundo”. A
gente escolheu um, porque ele estava sempre presente e a gente achou que
ele tinha a sensibilidade para isso. Hoje são 15, eu acho que são 15
meninas, a maioria de segunda e terceira fases. Todo mundo é voluntário,
não é um projeto de extensão, então, a gente não recebe nada por isso.
Todas elas trabalham no programa, no Lança Perfume e no Lança Cultura
agora, que veio no lugar do Entrevista, que é o mesmo formato, entrevista
ping-pong. A gente tem uma reunião por mês para decidir as pautas do mês.
E geralmente quando a gente decide a pauta do mês, já decide quem vai
participar daquele programa para que não sobrecarregue ninguém, já que é
um projeto voluntário e a a gente percebe que, à medida em que vai
evoluindo no curso, a gente precisa de tempo extra para fazer as outras
coisas. Então, geralmente, as meninas, as calouras, trabalham com boletim
201 gravado e, a partir da segunda fase, elas vão para a mesa e já começam a
desenvoltura na mesa. Isso a gente esquematizou a partir de três anos de
programa, porque no começo era uma bagunça, cada uma fazia o que tinha
tempo para fazer. Agora, eu, a Laís e a Rafa que estamos desde o primeiro,
a gente está se formando, está na sétima fase; então, a partir do semestre
que vem a gente já conversou com as meninas que só vamos dar o feedback
e a orientação, a produção vai ser delas. E elas já tocam sozinhas a maioria
dos programas, esse semestre eu nem precisei entrar na mesa, entrei uma
vez, eu acho, porque elas já tocam sozinhas. Então, não é nem necessário. E
era nossa intenção mesmo que o projeto vingasse, que pudesse ser levado
para outras gerações depois que a gente se formasse, porque a gente
considera que o Lança Perfume é para aprender a lidar com fonte com
muita naturalidade, a dar a cara a tapa, ligar, telefonar, fazer uma pergunta
sobre um assunto que a gente não sabe, falar sobre um assunto que a gente
não sabe, porque isso é o jornalismo. Lidar com esses assuntos e aprender a
transcrever para a população que não sabe sobre esses assuntos. Então, acho
que é uma escola mesmo, a Rádio Ponto em si foi uma escola.
202
APÊNDICE 09 - Entrevista 09 – Aluno integrante da Rádio Ponto da
UFSC em 2013
Fabíola (Entrevistadora) - Podemos começar com um resumo do núcleo.
Entrevistado 09 – Agora eu estou na quarta fase, desde a primeira
fase eu já estava na rádio; então, eu estou completando dois anos agora esse
semestre e, nesse semestre especificamente, aqui na rádio eu estou nas
disciplinas da Cátedra FENAJ, que a gente produz um programa a cada
mês, e também na Grande Jornada Esportiva, que eu atuo na narração e
também na produção das coberturas. Esse semestre a gente teve a cobertura
da Copa das Confederações e é uma experiência muito bacana, porque a
gente tem uma simulação do que é uma transmissão profissional mesmo.
Tem o narrador, tem o comentarista, tem o repórter. Então, a gente faz um
rodízio, o pessoal vai praticando em várias funções, participa homem,
participa mulher, então, quem gosta de futebol participa da transmissão
esportiva com a gente. E nesse semestre especificamente eu estou só na
Grande Jornada. Na Rádio Ponto, eu já fiz o Bola na Trave, que é o
programa que a gente entra aqui aprendendo a fazer rádio, a locutar.
Depois, na segunda fase, fiz Rádio I, que a gente tinha um programa
semanal, com reportagem também. Na terceira fase a gente fez na Rádio
Ponto um programa em que a gente fazia dois jornais, o Repórter UFSC,
que eram jornais semanais, inclusive. Agora continua com os bolsistas
diariamente. Eu também fiz Práxis Radiofônica com o professor Meditsch,
quie a gente acabava discutindo um pouco sobre a programação da Rádio
Ponto e arrumando também a produção que ia para a Rádio “Joinville
Cultural”, parceira da Rádio Ponto. Enfim, digamos que esse semestre é a
minha despedida aqui da rádio, porque eu já fiz cinco disciplinas aqui na
rádio. E do que foi ofertado para mim eu já fiz todas. Então, é isso. Eu
gosto muito da área de rádio, desde criança eu ouço rádio, então foi uma
coisa que me levou a procurar o jornalismo.
F - Então, você entrou no curso já com o intuito de se envolver
com a rádio?
203
E09 – Sim. Eu gosto bastante de TV também. Desde que eu entrei
aqui no curso, teve um episódio engraçado na primeira fase. Eu tinha aula
de redação, que era na quarta à tarde. Aí eu pensei: “tem jogo na quarta à
tarde, como é que eu vou fazer para participar das transmissões?”. Aí eu
consegui trocar o horário de quarta à tarde para sexta de manhã. Daí a
professora alertou: “olha, vou trocar aqui, mas você participa e faz outras
coisas também, não fica só no rádio”. E foi isso que desde o começo eu
procurei fazer. A gente participa bastante de TV aqui, do rádio, faz matérias
às vezes, de vez em quando tem cobertura também para o online. Enfim, eu
procuro estar me especializando em várias áreas. Mas o rádio eu tenho um
carinho especial porque desde pequeno eu ouço muitas transmissões.
F- Depois que entrou na rádio, qual sua impressão?
E09 – Eu diria assim que eu comecei a gostar mais, porque eu tive
a dimensão da dificuldade que é estar produzindo no rádio. Porque diferente
da TV, que você tem a imagem para estar te apoiando, no rádio você tem
que fazer um trabalho a mais, é diferente o trabalho. Porque a pessoa que
está ouvindo o rádio está fazendo outra coisa, está no trânsito, está ouvindo
o rádio, está em casa fazendo a faxina, está fazendo outra coisa e ouvindo
rádio. Então, tem que ser uma coisa para fazer com que o ouvinte entenda o
que você está passando. Porque a TV não, a TV precisa de uma atenção
especial, tem a imagem ali e etc. Agora, o rádio tem essa dificuldade e
depois que eu comecei a perceber essa dificuldade e tentar trabalhar nas
matérias, primeiro com a [professora] Valci em Rádio I e depois com o
professor Meditsch na segunda fase, que daí começa a aprimorar um pouco
mais, a gente começa a produzir matérias mais elaboradas, no fim do
semestre já tem um temático de 10 minutos, então, a partir daí eu passei a
gostar mais, porque eu tive a dimensão. É muito legal mesmo porque é
diferente da TV, por mais que eu goste de TV e produza também para a TV,
mas o rádio tem esse tom especial, tem esse desafio assim.
F- Vocês pensam na Rádio Ponto como webradio?
E09 – Eu diria que o que a gente produz aqui não é para uma
webradio, é para uma rádio convencional mesmo, até porque a gente não
tem ainda uma ideia do suporte de interatividade que a gente pode ter com o
204 ouvinte, enfim. As transmissões que a gente faz, por exemplo, a gente tem
apenas a participação do ouvinte-internauta, digamos assim, pelo Facebook,
mas é um suporte que pode ser usado como uma rádio convencional. A
gente não tem um trabalho que é voltado para a webradio. Então, é uma
coisa meio estranha assim para a gente, uma coisa meio obscura ainda. A
gente ainda não sabe o que pode usar, como usar. O que a gente sabe é que
aqui se transmite tudo. Então, com a Copa das Confederações, as rádios, as
webradios brasileiras não podiam transmitir por conta da questão da Fifa,
que você só podia transmitir para o seu país e na internet você ouve no
mundo inteiro, a gente transmite e etc. Mas enfim, a gente está testando
novas linguagens. Isso a gente faz de diferente aqui. A gente faz diferente
do que uma rádio tradicional faz, na narração tenta fazer algo diferente, na
reportagem também, a gente tenta fazer novos discursos assim. Tentar
inovar nesse quesito. Agora, no ponto de vista explorar o que a webradio pode oferecer, isso a gente não faz aqui ainda.
F – Você poderia citar um exemplo da inovação da linguagem?
E09 – Às vezes é assim, a Grande Jornada, principalmente, a gente
faz um tom mais descontraído e etc. Às vezes na narração de um gol você
faz diferente, que é o que acontece na rádio mesmo, que é criar um bordão.
Ou até mesmo a gente tem uma menina que está narrando também, estamos
incentivando ela, porque não tem no Brasil mulher narradora e etc. Enfim, a
prática feminina também e aqui cada um participa e acho que isso é
importante também.
F - Sobre o núcleo, o que acrescentou mais, as aulas ou o núcleo?
E09 – É que assim, uma coisa que falta no curso hoje, não sei se
optativa ou obrigatória, é uma disciplina de jornalismo esportivo. Porque
assim como a área de economia e de política, o jornalismo esportivo já
existe há muito tempo. E é uma área que emprega e tem clamor popular.
Todo mundo assiste esporte, enfim, é uma coisa importante também para o cidadão. E o núcleo supre, vamos dizer assim, minimamente essa área,
porque não tem uma disciplina de jornalismo esportivo. Mas através do
núcleo de radiojornalismo esportivo a gente está produzindo para o rádio,
está fazendo os programas de entrevistas, aqui a gente busca, até fazendo
205 diferente de outras rádios, a questão da inovação, estar cobrindo outros
esportes, como basquete, handebol, vôlei, dando mais espaço para essas
modalidades, até porque a gente está cansado, de na TV e no rádio, ser só
futebol, futebol, futebol. A gente acredita que o esporte como um todo é
importante e não apenas uma modalidade. Então, nesse quesito, a gente está
sempre priorizando, cobrindo outros esportes, tentando fazer diferente. E o
núcleo serve para isso mesmo. Além de a gente estar preparado para chegar
numa rádio convencional trabalhando com futebol, por exemplo, a gente já
faz contatos, já conhece pessoas de outras modalidades, já tenta produzir algo diferente do que é produzido hoje em termos de só futebol.
F – Quais as diferenças entre disciplina e núcleos devido ao
acompanhamento dos professores e ao rodízio de funções.
E09 – É, essa liberdade que a gente tem aqui é muito importante,
mas eu acho que até certo ponto. Eu acho que uma orientação mais forte,
mais frequente, diria que acrescentaria mais. Hoje, por exemplo, na rádio, a
gente tem dois professores apenas e às vezes o núcleo tem muita gente
produzindo, às vezes a cobertura, por exemplo, uma que a gente fez da
Eurocopa ano passado, vários jogos semanais, várias partidas e a gente não
tem o retorno que seria o necessário. Mas, ao mesmo tempo, a gente vai
buscando se virar do jeito que a gente pode e às vezes: “deu um problema,
vai entrar a matéria desse jeito agora”. E isso meio que forma um poder de
decisão na gente, tem que tomar decisões ali na hora. Isso é importante, isso
é bacana, mas até certo ponto. Eu acho que uma orientação também dos
professores é importante, até porque a gente está aqui também para pegar a
orientação deles e não estar produzindo sozinho. Mas acho que tem o lado
bom e o lado ruim. Eu acredito hoje que a gente tem uma orientação que
poderia ser mais. A ideia que a gente sempre procura é falar com a
professora Valci esse semestre, porque no outro semestre o professor
“Magrinho” [Eduardo Meditsch] deu Práxis Radiofônica, então já deu uma
certa orientação do ponto de vista de produção e etc. Aí a gente procura, nas
reuniões mensais, ter esse retorno esse semestre com a professora Valci. No
próximo semestre vai estar o professor Meditsch. Esse retorno eu diria que
poderia ser maior.
206
F - Como vai ficar o funcionamento do núcleo com a saída do pessoal da coordenação?
E09 – Eu acho que a parte de hierarquia a gente tenta desde o
início deixar de lado. Porque no começo, quando a gente tenta convidar os
calouros para participarem, a gente está orientando eles a fazer os boletins e
programas, inclusive sempre estamos com eles, na técnica ou ajudando.
Então, a gente sempre está próximo deles. Mas uma dificuldade que a gente
encontra é que o núcleo está ficando enxuto. E do ponto de vista produtivo,
às vezes tem um programa e falta gente e falta matéria e isso já dá um certo
medo. Eu não diria que a gente não tem capacidade de coordenar. Eu acho
que o principal é a falta de pessoal mesmo. Porque o pessoal participa aqui
do rádio porque é uma disciplina e desde a primeira fase a gente orienta. Só
que o pessoal automaticamente, a partir da segunda e da terceira [fases],
eles saem, não ficam mais. Quem fica aqui é gente que gosta, por exemplo,
a Grande Jornada chama muito, a transmissão o pessoal gosta muito. Mas
os outros programas a gente tem dificuldade de transmissão. Esse semestre
eu mesmo não pude participar do UFSC Esporte Clube, que é outro
programa. Então, falta pessoal e isso é um problema que a gente está tendo.
Agora, na coordenação a gente vai continuar. Claro que eu vou para a
quinta fase agora, tem outras disciplinas, às vezes tem o estágio. No meu
caso, eu estou com oito disciplinas, aí ficou impossível participar mais do
núcleo. Então, eu participava mais da Grande Jornada e das coberturas dos
jogos, eu deixei minha quarta-feira livre justamente para isso, mas é
necessidade de pessoal mesmo. Porque às vezes tem um programa, tem que
produzir matérias e às vezes falta pessoal. E a partir do momento que esse
pessoal está faltando e não está entrando mais gente, isso dá um certo
receio. Mas, ao mesmo tempo, a gente vê também que não é uma obrigação
a gente estar sempre com o núcleo. A gente não vê isso aí como: “ah, esse
semestre a gente é obrigado a fazer programa, é obrigado a fazer matéria”.
Enfim, a gente está produzindo, sabe que é um trabalho que só vai
acrescentar à nossa formação. Ninguém, em nenhum momento, vai se
prejudicar. Então, isso a gente está bem ciente sim. Mas é claro que a gente
quer continuar. A gente vai continuar no convite aos calouros a estar
participando. Enfim, acho que a gente continua no convite, na maneira da
disponibilidade que é um problema. Mas acho que o maior problema é que o núcleo está diminuindo o número de participantes.
207
F - Então, essa é a grande dificuldade hoje?
E09 – É a grande dificuldade. Às vezes você tem um programa e
poderia ter ficado muito melhor se tivesse mais gente produzindo matéria.
Mas, ao mesmo tempo, não é, eu não diria também que é uma questão mais
forte (“ah, o pessoal não quer fazer rádio”), tem essa questão do tempo
também. Essa questão do tempo dificulta bastante a nossa produção aqui.
Mas também aqui, como eu falei, o núcleo é uma escola de produto, por
mais que a gente não tenha uma cadeia de ouvintes, que a gente não tenha
um retorno do ouvinte, até por isso que é importante a orientação dos
professores, porque a gente não tem a capacidade para ter o retorno: “ah,
não gostei de tal coisa”, mas dos professores, acho que isso é importante, a
gente não se importa com isso também. A gente não se importa com a
audiência. Acho que isso não é o mais importante. A gente se importa em
produzir algo bacana, algo que possa estar interessando às pessoas. Mas, ao
mesmo tempo, também tem muitas dúvidas. Porque como é que eu vou
saber se o que está sendo produzido é legal se eu não estou tendo audiência
para dar um retorno? Ou às vezes um professor não retorna e a gente produz
e acha que aquilo deu certo. Mas, ao mesmo tempo, é a mesma coisa que
estar na rádio convencional hoje. Então, isso é bacana também, estar
gerando bastante dúvidas, que é a intenção da universidade também, estar
problematizando a sua formação e não estar criando respostas óbvias assim.
E acho que isso é bacana. E a partir do momento que a gente tem o núcleo
que está fazendo isso conosco, eu vejo que a gente está no caminho certo.
Agora, quando falta pessoal, isso preocupa. Mas ao mesmo tempo a gente
lembra: “a gente não pode obrigar ninguém a participar”. O que se pode
fazer é reduzir a produção, mas continuar produzindo sempre de maneira correta, para estar recebendo orientação dos professores e etc.
F - Se não tem audiência, produzem para quem?
E09 – Olha, o objetivo aqui não é produzir para alguém ouvir.
Porque fica aquele dilema. Como é que vou produzir se ninguém ouve, daí
eu não tenho retorno de uma audiência e etc. E daí o que a gente procura?
Eu, particularmente, às vezes quando a gente tem uma transmissão de um
jogo específico, de uma cobertura, a gente procura fazer uma divulgação
pela internet, via Facebook, através de um mailing, mandando para pessoas
de rádio daqui da região e etc. Particularmente, eu tenho um retorno.
Porque você monta um portfólio com narração e manda para o pessoal de
208 outras rádios e o pessoal retorna: “está muito alto aqui, podia descrever
melhor a região do campo aqui”. Mas é algo individual. Por exemplo, eu
montei o portfólio e eu mandei. Não, por exemplo, um observatório, com
gente olhando a Rádio Ponto e orientando todo mundo, que é uma das
questões que a gente já conversou com a Valci esse ano, de estar trazendo
profissionais do meio radiofônico para dar um retorno assim geral. Às
vezes, vêm profissionais de várias rádios. Eles observam a cobertura como
um todo da Eurocopa, que foi, ano passado, uma cobertura grande. Aí eles
dão feedback: “precisa melhorar mais aqui”. Mas do ponto de vista de uma
rádio convencional. Para quem trabalha hoje em rádio tem essa questão,
aquela, aquela, aquela. Entendeu? Daí a gente teria um retorno maior.
Porque audiência a gente produz, o nosso maior intuito é aprender a produzir para o rádio.
F - E o convênio com a Rádio Joinville Cultural?
E09 – Na Rádio Joinville Cultural temos o boletim que é produzido
e etc, mas o retorno que a gente tem, muitas vezes, é só: “ah, tá beleza, está
legal”. Mas o retorno da audiência que a Joinville Cultural fala não chega
até a gente. Acho que é o Repórter UFSC que vai para lá e a gente tem o
boletim do núcleo esportivo, eu acho. O que a gente tem de retorno é: “ah,
tá legal”. Mas da audiência deles a gente não tem o retorno. Isso eu vejo
como uma dificuldade porque a gente poder estar buscando, tentar novas
coisas. Mas, ao mesmo tempo, eu vejo que é um dilema também. A gente
não está aqui para produzir comercialmente, então, como é que a gente vai
querer obrigar alguém a ouvir algo produzido, que aqui é uma webradio
experimental, né? O intuito dela é ser uma rádio experimental, é a gente
testar novas coisas, independente de alguém ouvir ou não.
F - Ser parecido com uma rádio convencional é bom?
E09 – É, nesse quesito eu acho legal a gente ser uma rádio
experimental e ter liberdade. Porque eu fui no último Enecom, que é o Encontro Nacional de Comunicação Social, e lá eu pude conversar com
estudantes do Brasil inteiro, de outras universidades federais, em que tem
uma rádio universitária, mas ao mesmo tempo é uma rádio que não tem
audiência e é uma rádio institucional, digamos assim. Os alunos produzem
209 o programa específico, tem um horário: “quarta-feira, da uma às duas,
vocês têm o programa, vocês vão produzir ali, dentro da orientação dos
nossos jornalistas contratados aqui da rádio”. Não vai ter o retorno da
audiência, não sei, talvez, dependendo da rádio. Mas como uma rádio
experimental que a gente tem aqui, a gente produz toda a programação, não
tem ninguém que fale: “vai ter que inserir um programa aqui, uma hora vai
ter pronunciamento da reitora nesse horário”. Não tem isso aqui, né? Então,
isso é bacana. E com o pessoal das outras federais que eu conversei, até a
Federal do Mato Grosso, que no ano passado veio aqui porque eles estão
querendo implantar uma rádio, só que é rádio universitária, diferente da
nossa rádio aqui. Aí conversei também com o pessoal da rádio, acho que
Rádio na UERJ, acho que a UERJ também tem uma rádio comunitária, que
é dos alunos também. Mas no geral eu não encontrei ninguém para
conversar sobre uma webradio assim que nem a Rádio Ponto. Eu não
encontrei ninguém para conversar. Até no Enecom eu fui com uma camisa
do Radiojornalismo Esportivo, da Rádio Ponto, e quando eu cheguei lá, o
pessoal lá falou: “lá tem um curso só de Radiojornalismo Esportivo?”. Eu
disse: “não, é a Rádio Ponto e etc. É a rádio e a gente produz, é uma
webradio e a gente produz toda a programação”. E o cara: “legal, não sei o
que”. Enfim, eu não encontrei, procurei conversar com todo mundo e não
encontrei alguém para estar conversando sobre a Rádio Ponto. Eu acho que
isso é muito legal. Mas é um meio que eu mesmo fico cheio de dúvidas:
como é que eu produzo para uma webradio que não tem audiência, mas ao
mesmo tempo é legal porque não é uma coisa institucional, mas ao mesmo
tempo se tivesse uma audiência eu poderia melhorar alguma coisa.
Entendeu? É um monte de dúvidas assim. É um monte de dúvidas. Eu fico
completamente confuso nessa parte aí. Até pode ouvir de novo e reouvir
tudo o que eu falei, é uma confusão, porque eu mesmo não sei. Se é certo o
que a gente está fazendo, se não é, se poderia ser melhor ou não. Mas uma
coisa eu sei: uma webradio como a gente tem aqui eu não encontrei em outra universidade federal.
210
APÊNDICE 10 - Entrevista 10 – Aluno integrante da Rádio Ponto da
UFSC em 2013
Fabíola (Entrevistadora) – Como começou o núcleo de Radiojornalismo Esportivo?
Entrevistado 10 – Sobre o histórico, a gente, eu, pelo menos,
entrei em 2010, o núcleo estava começando a se reformular depois de uma
saída de bastante gente, vários saíram e na época que eu entrei tinha umas
três pessoas: o Vinícius, o César e o Tomé. O Tomé também tinha recém
entrado. E a partir daí entrou eu e o Vitor Hugo, a Ediane também estava no
núcleo, então eram quatro. Aí entrou eu e o Vitor Hugo com a turma do
[programa] Bola na Trave. A galera do Bola na Trave a gente considera que
é um pessoal que não necessariamente fica no núcleo. Como eles são
calouros, a gente oferece essa experiência de estar trabalhando com rádio
no primeiro semestre e depois eles podem ficar ou não. Dessa nossa
geração 2010.1, só ficamos eu e o Vitor Hugo. Aí o núcleo começou a
andar com seis pessoas. A partir daí a gente começou a fazer outros
programas. Antes era só o Bola na Trave e as transmissões de jogo pela
Grande Jornada Esportiva. Aí surgiu a ideia e a necessidade de trabalhar
com outras coisas. Então, a gente manteve o Bola na Trave, sempre com
essa proposta de trabalhar com os calouros, e começamos a fazer outros
programas com o pessoal que estava há mais tempo, como o UFSC Esporte
Clube, que é o nosso carro-chefe, nosso principal programa. E criamos o
UFSC Esporte Clube numa visão bem adequada ao que a gente pensava
sobre esporte, que era uma questão de fazer jornalismo mesmo, um
jornalismo diferenciado, que não tem em Santa Catarina, trabalhando com
outros esportes, excluindo o futebol, que também era uma coisa que
possibilitava apuração quente mesmo, porque o acesso aos clubes de
futebol, Avaí e Figueirense, era muito difícil. Começou, no primeiro
semestre a gente trabalhou com futebol, mas o acesso era muito difícil.
Depois, no segundo semestre de 2010 a gente decidiu tirar o futebol. E
também porque dava para fazer um conteúdo diferenciado, não adiantava
ficar “babando ovo” de clube. A gente podia fazer algo bem crítico, bater na falta de estrutura para outros esportes e tudo o mais. E, desde então até
agora, o UFSC Esporte Clube é o nosso principal programa, a gente
considera assim. E aí a cada semestre que ia passando, a gente trabalhava
com um grupo de calouros, conseguia firmar um número legal de calouros
211 para que entrassem no nosso núcleo. No segundo semestre de 2010 não
entrou ninguém, a gente ficou com seis [pessoas] em 2010 inteiro. Em
2011, entrou um grupo forte de calouros que passou a ingressar o grupo. Aí
formamos 11 ou 12 pessoas, com mais uns 15 tradicionais do Bola na
Trave. Então, a gente passou a trabalhar com 20 a 30 pessoas. E no segundo
semestre de 2011 entrou mais um grupo forte também. Acho que isso
também se deve à entrada de muitos meninos no curso. Em 2010, se não me
engano, dos 60 selecionados no vestibular, 12 eram meninos. E em 2011
deu quase meio a meio, deu coisa de 40 e 20. Então, a gente conseguiu
angariar bastante gente para trabalhar no núcleo por causa disso, desse
interesse no esporte. Mas as meninas também participaram bastante, uma
coisa que foi bem interessante, uma contribuição bem legal. Aí em 2011 a
gente conseguiu aumentar o núcleo para 20 pessoas fixas. Mais os 20, 15
calouros ali do semestre, a gente estava trabalhando com quase 40 pessoas
no núcleo todo. Do ano passado [2013] para esse ano [2014] caiu um
pouco. As pessoas vão crescendo no curso, vão se desenvolvendo no curso,
vão procurando outras coisas e também a questão do estar trabalhando junto
não ajuda muito. Então, hoje o núcleo são mais ou menos 15 pessoas, mais
os calouros, que são uns 10, fica próximo de 25 pessoas. O núcleo já não
está tão forte quanto em outros tempos, mas pode ser que nessa época de
Copa do Mundo e tudo o mais, com outros calouros vindo, pode ser que a
gente consiga firmar de novo, assim. Acho que ano passado [2013] a gente
conseguiu fazer uma apresentação de um artigo no Intercom Júnior, lá em
Fortaleza, até eu que fui apresentar o artigo, mas o artigo foi criado pelo
Caio, era para ele ter ido, mas aí por causa de alguns problemas ele não
pôde ir e eu fui apresentar como representante do núcleo. Na apresentação
tinha, mais ou menos, umas 15 outras apresentações, então era todo mundo
vendo o trabalho de todo mundo e surgiu bastante discussão a partir do
nosso trabalho, não só por estar trabalhando com um conteúdo diferenciado,
de apresentar os programas, de trabalhar com uma linha editorial diferente
do que é apresentado na mídia tradicional, mas também pela questão de a
gente estar abordando outros esportes, outros assuntos, essa preocupação de
estar passando com a introdução do esporte na sociedade como um todo, de
não estar trabalhando com o esporte como uma coisa isolada. E muitas
coisas, no artigo mesmo, na parte escrita, a gente trabalhava essa questão.
Porque tem uma coisa tradicional aí, uma questão de tratar o jornalismo
esportivo como se fosse o patinho feio. O jornalismo esportivo e o
jornalismo cultural são uma coisa à parte do jornalismo, porque não tem
apuração, é como se fosse uma coisa à parte. Não é visto como uma área
nobre. Mas não é bem assim. A gente está vendo aí, com a vinda dos
212 grandes eventos, que dá para fazer jornalismo em cima do esporte e que o
esporte é uma coisa importante, que faz parte da formação social e política
do brasileiro, de qualquer povo, na verdade, independentemente do esporte,
mas faz parte da formação social de um povo; então, ele faz parte também
da sociedade e têm coisas importantes desenvolvidas aí. Se as pessoas usam
o esporte para trabalhar de forma política para o mal, por que a gente não
pode trabalhar e usar essa coisa para o lado do bem? Acho que já está mais
do que comprovado por diversas matérias, por diversas coisas que foram
publicadas que o esporte é uma das formas mais reconhecidas, digamos
assim, entre aspas, de “lavagem de dinheiro”, porque é uma coisa que mexe
muito com paixão das pessoas e muita coisa acaba passando despercebida.
Então, a gente trabalha desde sempre, desde essa nova formação em 2010,
com essa concepção de esporte como uma forma diferente. E eu acho que é
isso que faz o núcleo e que sempre dá vontade nas pessoas de continuarem
trabalhando. Eu, por exemplo, já estou indo para o meu oitavo semestre,
continuo no núcleo neste meu oitavo semestre e é claro que a gente fica um
pouco mais ausente, mas grande parte das pessoas que hoje fazem parte do
núcleo estão ficando até o final. E mesmo que elas não estejam
nominalmente no núcleo, elas continuam ajudando de alguma forma. Como
o caso do César, que está fazendo trainee na Folha de São Paulo, mas ele
sempre contribui com sugestões de pautas ou, até mesmo, ele está pedindo
alguma orientação, ajuda, ele pede para a gente um brainstorming para
ajudar a fazer as pautas dele lá também. Então, acho que isso é importante,
é a formação do jornalista esportivo. Não sei se todos vão trabalhar nessa
área, se algum vai trabalhar nessa área, mas que a formação dentro do
núcleo traga uma visão mais crítica para a atuação fora do núcleo. E traz
para essa área. Isso também poderia ser levado para a cultura, se a gente
fizesse um grupo, um núcleo nessa área, seria também importante trazer
essa interação entre todas as áreas. Mas é uma questão que a gente trabalha
com o esporte no núcleo e é bem interessante. Esse é o caminho não só do
núcleo, mas do jornalismo esportivo como um todo. Acho que esse pode ser
um bom legado que os grandes eventos aí, a Copa do Mundo, as
Olimpíadas, podem trazer para o nosso jornalismo esportivo daqui do
Brasil. Essa coisa de apurar mais, de buscar mais informações, não só
falando o placar do jogo e fazendo o dia a dia dos clubes, porque eu acho que isso já está ultrapassado.
213
F - Como é o funcionamento do núcleo? Como trabalha a hierarquia?
E10 – Na verdade, nominalmente a única divisão que a gente faz é
a do Bola na Trave, que é um programa para calouros e, a partir do Bola na
Trave, pode entrar para os outros programas do núcleo. Hoje a gente tem o
UFSC Esporte Clube, que trabalha todos os esportes, menos o futebol,
focado aqui em Santa Catarina, no esporte catarinense; o Ponto de
Encontro, que trabalha só futebol, não trabalha outros assuntos; e tem o
Salto Alto Futebol Clube, que é um programa feminino de futebol. Então,
as meninas também resolveram fazer um programa só delas, elas entraram
para o núcleo também. Então, desses quatro programas, além da Jornada
Esportiva, que é a transmissão de jogos, os calouros podem participar do
Bola na Trave e da Grande Jornada. A [o programa] Grande Jornada é livre,
eles também já vão participando e pegando essa “cancha”, digamos assim.
O Bola na Trave também é um programa de futebol, um boletim “basicão”,
digamos assim. A gente trabalha só com calouros justamente para dar essa
formação de rádio, esse novo formato, até porque, hoje em dia, pouca gente
ouve rádio antes de entrar na faculdade. Então, até para mostrar, para dar
mais uma opção: “ó, aqui vocês têm mais uma área que vocês podem
trabalhar”. Apesar de o rádio estar numa indefinição, numa crise de
identidade por causa da webradio e tudo o mais, é uma possibilidade,
porque a gente usa o rádio para trabalhar com o esporte e uma coisa
complementa a outra e, assim, a gente tem a possibilidade de criar mais. A
partir do segundo semestre, teoricamente não tem essa hierarquia. Mas na
prática existe um respeito a mais pelo que os mais velhos falam. Então, tem
uma questão de procurar orientações para um certo trabalho ou “ah, eu
estou com esse boletim aqui, como é que eu posso fazer?”. Ou “ah, como é
que eu faço?”. Mas chega um ponto do semestre, a partir do momento em
que o novato num desses programas começou a entender o programa
editorialmente, como ele funciona, ele passa a pegar a mesma linha e vai
seguindo. Sabe? Ele vai, chega na reunião e, na metade do semestre, fala de
igual para igual com alguém da sétima fase. E ele é da segunda fase. Então,
divisão mesmo só tem essas duas: os calouros do Bola na Trave e os outros programas que, a partir da segunda fase, já pode entrar.
214
F - Vocês pensam em webradio ao fazer a produção dos programas?
E10 – Bom, na questão da formação das pautas, a gente pensa
muito das pautas serem atemporais, evitar falar de notícia. Tirando o Bola
na Trave, que é mais pela formação. Mas a gente sempre evita, sempre
procura assuntos que têm o gancho factual, mas que não abordem o assunto
por si só. A gente não foca no que aconteceu no final de semana, por exemplo.
F - Isso por que o áudio fica arquivado?
E10 – Isso. Sim, porque ele fica praticamente inédito. Então, além
da questão da apuração, de ser mais prazeroso você poder trabalhar com um
assunto mais amplo, como uma reportagem, a gente procura fazer isso
também para tentar adequar a uma plataforma que a gente está trabalhando.
Não tem, assim, uma coisa, não tem um estudo muito aprofundado em cima
disso. A gente não considera isso um fator tão relevante assim, não ficamos
pensando o tempo todo: é uma webradio. Não. O rádio está mais como uma
plataforma para a gente poder fazer o jornalismo esportivo, entende? Então,
é muito importante. A Rádio Ponto é um espaço importantíssimo dentro do
curso, porque dá a possibilidade de a gente trabalhar com o rádio, tem a
liberdade de trabalhar com assuntos que a gente gosta, de complementar a
programação da própria rádio, mas o núcleo, digamos, pensa mais na parte
esportiva do que na de rádio. O site não tem uma estrutura muito grande
para a gente trabalhar com vídeos, fotos. Com foto até dá, mas é que ele [o
site] não é tão atrativo assim. Então, a gente procura usar mesmo, dar o
enfoque para a parte de rádio. Se você parar para pensar, talvez a gente
tivesse que mudar o formato de alguns programas, que são meia hora, por
exemplo, fracionar esses programas em 15 minutos ou fazer um programa
de meia hora, só que postar ele dividido. Entende? Porque na internet não
funciona colocar meia hora de um programa de rádio. São raras as pessoas
que param na frente da internet e que ficam aficionadas fazendo alguma
coisa. A parte de trabalhar com vídeo e com texto, a gente já pensou, já
tentou trabalhar com isso. Mas, como é um trabalho voluntário, cansa muito
e tem a questão do equipamento também, porque com vídeo é bem difícil.
A gente teria que ter uma produção de vídeo, ter uma preocupação com
áudio do vídeo, que é diferente de trabalhar com um gravador direcionado
do que com um gravador da rádio. O vídeo a gente não conseguiria, né?
215 Teria que cada um ter o seu próprio material, já complica um pouco neste
sentido. Na nossa página do Facebook, a gente dá um pouco mais de ênfase
também para essa parte, talvez para produzir um artigo ou outro, mas a
gente ainda não trabalha com esse ponto. É uma ideia que a gente pensa e
volta e meia ela vem à tona, mas como a gente tem que tocar trabalho,
núcleo e o semestre como estudante, aí fica bem difícil. A gente não tem
uma estrutura forte o suficiente para estar dando ênfase para essas outras
plataformas de vídeo e texto. Mas vontade tem. Os alunos têm bastante
vontade, volta e meia aparece alguém que pensa em escrever um artigo no
final de semana para publicar. Quem sabe, se houver uma reformulação do
site o pessoal não se empolgue, não entre nessa ideia. Mas nessa configuração do site como está, acho que esse não seja o momento.
F – Então, seria um problema estrutural?
E10 – É, estrutural e digamos de tempo mesmo. A questão da
demanda dos alunos. Mas acho que se fosse um site melhor, melhor
trabalhado visualmente, que desse mais opções, que fosse mais limpo, acho
que daí teria um incentivo a mais para os alunos trabalharem com essas outras plataformas.
216
APÊNDICE 11 - Entrevista 11 – Aluna integrante da Rádio Ponto da
UFSC em 2013
Fabíola (Entrevistadora) - Você poderia falar um pouco sobre você e sua participação na Rádio Ponto?
Entrevistada 11 - Então, eu estou na segunda fase, tenho 19 anos,
estou cursando a disciplina, acabando, na verdade, a disciplina de
Radiojornalismo 1, e aqui na Rádio Ponto eu participo apenas do Núcleo
Lança Perfume.
F - Há quanto tempo você está no núcleo?
E11 - Eu entrei no Lança [Perfume] na minha primeira fase e estou
desde então, eu não saí. Vai fazer um ano que eu estou aqui no Lança. A
gente começa apenas fazendo quadros e, no caso, o Lança Repórter é
destinado às calouras e serve para a a gente aprender a fazer boletim e tal. E
a gente começou. Agora na segunda fase a gente começou a vir para a mesa, ir atrás dos entrevistados e participar mais ativamente do núcleo.
F - Quais foram as principais dificuldades e o que você vê de benefícios por participar do Lança?
E11 – No Lança Perfume, eu vou começar falando fazendo
boletins. Quando a gente entrou, tinha um número grande de meninas.
Então, era fácil, porque a gente conversava sobre as nossas dificuldades,
uma ajudava a outra, mas a maior dificuldade que eu tive fazendo os
boletins foi no roteiro. Porque a gente sabe que no rádio tem que ter um
texto mais simples, mais claro, objetivo e isso era muito difícil fazer. Mas aí
como tinham bastantes meninas, a gente ajudava umas às outras, mas a
questão de sonoras, buscar o entrevistado para colocar uma “sonorinha” no boletim era a parte mais legal de fazer. A parte de edição era bem
“facinho”, a gente pegou fácil como mexer nos programas. Na apresentação
do Lança Perfume, eu já participei de algumas mesas, mas a diferença é
grande entre a minha primeira mesa e agora, que eu estou participando mais
217 é enorme. Porque na primeira vez a gente fica bem nervosa, gagueja mais e,
então, acho que a gente vai sabendo administrar com o tempo. Quanto mais
a gente vai participando, mais vai aprendendo e eu acho que todos os
núcleos da Rádio Ponto servem como oficina para aprender a fazer isso.
Então, isso tem me ajudado bastante a conduzir entrevistas, a buscar a
pessoa certa para falar de tal assunto, isso é legal, pesquisar sobre os temas,
isso ajuda bastante. Isso tem me ajudado fora do núcleo também, porque a
gente pode usar em mais coisas e organizar a edição. Acho que as meninas
que participam do Lança [Perfume] são organizadas, é uma equipe mesmo,
uma ajuda a outra. Tem as veteranas, que ficam mais na parte de feedback,
ficam mais ensinando, dizendo o que está certo, o que pode melhorar, e
agora a gente está pegando mais, eu e as meninas, que estamos na segunda
fase agora, estamos participando mais de fazer roteiro, buscar entrevistado,
participar da mesa e está sendo bem legal. Quando eu entrei aqui no
Jornalismo, rádio era a minha última opção. Nunca pensei em fazer rádio.
Nossa, claro que não! Mas agora é uma das matérias que eu mais gosto de
fazer.
F - O que te fez participar do Núcleo?
E11 – Eu entrei aqui com uma cabeça aberta. Vou experimentar
um pouquinho de cada coisa. Aí quando as meninas fazem aquela chamada
no começo do semestre, convidando as calouras para participar do núcleo,
eu não entendo muito de futebol e aqui na Rádio Ponto, o núcleo esportivo
é muito maior do que o núcleo feminino, porque são só dois núcleos que
têm, né? Então, para quem não gosta de futebol, a única opção que tinha era
participar do Lança Perfume. Então, eu me interessei, vim na primeira
reunião e, desde então, eu estou participando sempre. Foi assim que eu conheci o Lança Perfume, através do convite delas e foi assim.
F - Em relação à aula, qual a grande diferença que se observa em relação ao núcleo?
E11 – Acho que no programa baseado na disciplina de
Radiojornalismo I, não vou dizer [que tem] mais comprometimento do que
no Lança Perfume, porque não é assim, mas tem que se preocupar mais.
Com o professor, ele definiu quem ia ser o editor-chefe para cada edição.
218 Então, a gente tinha que organizar muito mais, conversar muito mais um
com o outro. Foi definido que cada edição ia ter um coordenador, um
pauteiro e esse pauteiro ia editar o boletim do repórter, ia ter o repórter e
um ia ficar com a entrevista. Então, tinha muito mais comunicação e,
querendo ou não, tem mais chance de dar errado, eu acho. Mas o programa
da disciplina tem um modelo diferente, mas é muito legal, tem boletins -
tem vários boletins - e no Lança Perfume a gente só tem um, que é o Lança
Repórter, e a coluna, né? Acho que no programa da disciplina, por ser um
sistema de rodízio, você aprende mais, porque dentro das semanas, a sua
função só vai se repetir daqui a um mês. Então, você pode experimentar um
pouquinho de cada coisa. Você pode ser o editor-chefe, você foi o repórter,
você foi o pauteiro e no Lança Perfume a gente não tem compromisso, a
gente não é obrigada a participar. Então, eu acho que essa é a diferença. No
programa da disciplina, querendo ou não, aquele programa vai acontecer.
Com você participando ou não, a equipe vai dar um jeito de fazer. E no
Lança Perfume se não tiver quem faça, não vai acontecer. Então, no Lança
Perfume a gente tem muito mais comunicação entre as meninas para fazer
as coisas. Por exemplo: no programa hoje, as meninas decidiram fazer
agora, em cima da hora, o programa. Então, a gente sabe que dá para fazer
porque a equipe é competente, a gente sabe que dá, mas esse negócio,
aconteceu de ir deixando, deixando, e no programa da disciplina não. A
gente tem que fazer, o professor vai estar lá, vai estar cobrando e aqui não
tem quem cobre: “Ah, não, se você não participar do Lança hoje você está
fora”. Não tem isso.
F - Por que o programa da disciplina tem mais chance de dar errado?
E11 – Não sei. Teve uma mesa, por exemplo, que eu participei, que
foi sobre movimentos religiosos. O entrevistado foi por híbrida, então, tem
todo esse negócio. E eles ficaram de ligar em cima da hora para ele. Então,
no meio da mesa, o telefone pifou em cima do horário e aí ficou em
silêncio. A gente não conseguiu ligar de volta. Eu não sei, tem mais chance
de dar errado porque é muito mais gente envolvida. Muito mais. E no Lança
Perfume não. Eu acho que comunicação no Lança é muito melhor do que é no programa da disciplina.
219
F – A experiência interfere também?
E11 – A experiência, sim. Aqui no Lança Perfume sempre tem
uma veterana com a gente, direcionando, supervisionando, dando o
feedback. E no programa da disciplina está todo mundo no mesmo barco.
Ninguém tem mais experiência do que outros, então, eu acho que isso
influencia também. E no Lança Perfume não tem aquela coisa: “você tem
que fazer, você tem que fazer”. E no programa da disciplina sim, tem isso.
E tem gente que é mais empenhada do que outras, então isso acaba criando
alguns atritos.
F - Qual diferença de ser coordenado por um professor e por alunos?
E11 – O professor da disciplina deixava a gente meio solto. Então,
se desse alguma coisa errado era culpa nossa, ele só estava ali
supervisionando. Mas, eu acho que os moldes são diferentes. Acho que, por
serem alunos, por exemplo, o Lança Perfume é feito por alunos. Então, a
gente tem interesse que dê certo. É um programa que vai fazer três anos
agora [em 2013], então a gente tem muito interesse que dê certo, que vá
para frente esse núcleo. Por exemplo, as meninas estão se formando agora,
mas o Lança Perfume vai continuar com quem está chegando agora. E o
programa da disciplina não. É o programa de uma disciplina e,
provavelmente, vai acabar. Ninguém vai seguir, ficar levando o programa
da disciplina muito para frente. Então, acho que essa é a diferença. Porque
a gente pensa no programa como uma disciplina, depois vamos fazer Rádio
II, vai ser diferente. E o Lança Perfume vai estar ali. Por exemplo, semestre
que vem eu não vou estar mais no programa da disciplina, mas no Lança
[Perfume] eu vou continuar. Eu acho que é diferente. É muito mais
interesse de dar continuidade para o núcleo do que numa disciplina. Eu acho que é isso.
F - Você acha que existe uma preocupação de fazer um conteúdo para webradio especificamente ou vocês pensam na Rádio Ponto como uma rádio normal?
220
E11 – Não, muito pelo contrário. Com a internet a gente tem que
pensar em muito mais coisas. Por exemplo, no programa da disciplina e no
Lança Perfume, buscando essa maior visibilidade que a internet
proporciona, a gente fez página no Facebook para ficar mais próxima dos
nossos ouvintes, tem página no Twitter, tem que se preocupar com fotos,
tanto que, no final de cada programa, a gente tira fotos com o convidado
para botar no site da rádio, para botar no [perfil do] Lança Perfume.
Enquanto as meninas estão aqui presenciando, tem gente nas redes sociais,
atualizando e botando fotos, sei lá, “o entrevistado acabou de falar tal coisa,
fique ligado, a gente foi para um rápido intervalo”. Então, tem esse
acompanhamento, tanto no Lança Perfume quanto no programa da
disciplina. E no programa da disciplina a gente fez uma coisa que foi
diferente, acho que ninguém tinha feito isso ainda, um vídeo, chamando o
pessoal para assistir, assim: “conheça o pessoal do Papo Universitário”. Foi
um vídeo, então é uma forma diferente, a gente usou a televisão. Então, tem
que pensar que são coisas diferentes. Então, eu acho que a webradio
proporciona isso e, ao mesmo tempo que é bom, também é mais difícil,
porque agora não tem que se preocupar só com texto, com áudio, mas
também com a imagem que a gente quer passar. O alcance é maior, mas é um ramo de coisas que a gente tem que se preocupar mais.
F- E você acha que a Rádio Ponto consegue suprir a demanda da
internet?
E11 – Bom, eu acho que a ideia é muito boa de a Rádio Ponto de
ser uma webradio. Isso aí é uma diferença. Mas eu acho que, por exemplo,
quando a gente sai para catar um “Povo Fala” para a rádio: “Ah, eu sou aqui
da Rádio Ponto”. “A UFSC tem uma rádio? Como assim?”. A maioria dos
estudantes da UFSC não sabe que existe a rádio. Então, eu acho que falta
essa visibilidade, falta chamar mais o público, falta arrumar um jeito de as
pessoas conhecerem mais a Rádio Ponto. Eu acho que a maioria das
pessoas que ouvem a Rádio Ponto são os próprios alunos, a família, os
amigos para quem a gente divulga e os ouvintes que se interessam pelo
tema que a gente divulga. Por exemplo, na página do Lança Perfume a
gente tem alguns programas que chamam mais público que outros por causa
do entrevistado. Mas não é só isso. A gente precisa achar uma forma de
chamar mais o público, de alcançar um público maior, porque têm muitos
programas na grade, então, vale a pena. Mas muita gente não conhece.
221
F - E você acha que redes sociais ajudam na divulgação?
E11 – Com certeza, ajudam bastante. Lá na página do Lança
Perfume, a gente tem 200 e poucas curtidas. Mas eu acho que para um
programa que já tem três anos, se for ver, ainda é pouco. O programa da
disciplina, que a gente criou agora, tem 160 e poucas curtidas. E foi criado
agora, então, para você ver. Falta uma divulgação maior, um interesse maior de querer chamar mais público.
F- E a quem você atribui esse interesse?
E11 – É um conjunto. Acho que dos alunos, principalmente, que
são aqueles que fazem, quem tem interesse de divulgar o trabalho, que,
querendo ou não, é uma coisa que a gente pode colocar no nosso currículo.
Mas acho que é do núcleo como um todo, dos professores, um incentivo, sei
lá. Já falei várias vezes para as meninas, inclusive, para a gente colocar um
cartazinho lá no RU, alguma coisa assim, falta incentivo nessa questão.
Panfletos, cartões de visita. Muitos entrevistados que a gente tem dizem:
“ah, qual é o número de vocês, passa o cartão”. E não tem. Então, falta isso, espalhar.
F – A Rádio Ponto tem uma produção mais próxima do mercado de
trabalho. O que você acha disso?
E11 – Eu acho que é bom, porque, por ser uma rádio feita por
alunos, isso é muito legal, porque proporciona um aprendizado muito
maior, porque funciona como uma oficina, para a gente aprender a ser como
lá fora. Mas com certeza se a gente tivesse um profissional de rádio mesmo,
um locutor ajudando, isso ia proporcionar um aprendizado muito maior,
muito maior, porque ia ajudar. É gente do meio mesmo ensinando a gente.
Então, acho que sim. Isso seria muito melhor.
F – O professor Eduardo Meditsch e a professora Valci Zuculoto têm experiência em rádio. Você sentiu alguma diferença?
222
E11 – Com certeza. O professor Áureo, no início da carreira,
trabalhou com rádio. Agora a área dele é televisão e eu senti bastante
diferença de ter aula com o professor Áureo. No programa da outra turma,
eu acho que tem mais cobrança, digamos assim. O nosso professor deixava
a gente mais solto. Lá com a professora Valci eu sei que eles têm cobrança
de fazer reportagens ao vivo e agora só com o “Magrinho” [professor
Eduardo Meditsch] que chegou, ele começou a cobrar mais para a gente
fazer o ao vivo. Mas acho que tem uma diferença.
F - E os professores de rádio cobram mais essa questão de ser uma webradio?
E11 – Ah, sim, com certeza, como a gente pode usar texto, pode
usar foto, acho que eles incentivam bastante. Por exemplo, a gente teve
entrevista aqui no programa da disciplina que está muito boa, está
rendendo, está legal, mas aí tem um boletim para vir. Mas eles: “não, se a
entrevista estiver rendendo, não chama o boletim”. Deixa render e avisa os
ouvintes que depois está lá no site da rádio se eles quiserem ouvir. Então,
eu acho que tem essa possibilidade de auxiliar a webradio no que acontece aqui, no estúdio e etc. É melhor. Eles incentivam.
F - Você acha que estará mais preparada para o mercado de trabalho por ter participado da Rádio Ponto e dos núcleos?
E11 – Ah, com certeza. Com certeza prepara [para o mercado de
trabalho]. Eu moro perto da Faculdade Estácio de Sá e tenho amigas que
fazem faculdade de jornalismo lá. E quando a gente comenta, eu percebo a
diferença. Assim, lá elas têm muito mais teoria do que prática. Até pessoas
de fora, que vêm aqui para a UFSC a gente sente isso. A gente tem uma
colega de fora, que veio de Minas Gerais, e ela fala que aqui a gente tem
matérias no começo [do curso] que ela vai ter só lá na sexta fase. Então,
tem o lado bom, mas também tem o lado ruim. Mas, como você falou, nesse
sentido de estar preparada para o mercado de trabalho, para trabalhar numa rádio, com certeza a Rádio Ponto auxilia muito. A gente treina cobertura ao
vivo - eu participei da cobertura da manifestação37
-, então, isso é muito
37 A entrevistada refere-se à manifestação popular ocorrida no mês de junho de 2013.
223 legal, fazer um programa ao vivo toda semana ajuda bastante, conduzir uma
entrevista, a gente tem mais experiência com isso. Então, isso auxilia bastante.
224
APÊNDICE 12 - Entrevista 12 – Aluna integrante da Rádio Porto da
UFSC em 2013
Fabíola (Entrevistadora) - Você poderia falar um pouco sobre você e sua participação na Rádio Ponto?
Entrevistada 12 – Então, eu estou na segunda fase de Jornalismo,
eu estou fazendo a matéria de Radiojornalismo I, que a gente também tem
que produzir um programa, esse é o intuito, aliás. E estou no [núcleo] Lança
Perfume desde a minha primeira fase, então vai fazer um ano já que eu estou aqui no núcleo do Lança [Perfume].
F - O que lhe incentivou a participar de rádio?
E12 – Então, todo início de semestre, o núcleo organiza-se com os
programas que têm, para fazer uma chamada aos calouros, no caso. Eles
vão sala por sala, explicam o que é a Rádio Ponto, quais são os programas
que têm, se têm interesse em participar. E aí em uma dessas visitas, o que
chamou a minha atenção e das minhas colegas também: “poxa, a gente está
na primeira fase, até que estão tranquilas as matérias, vamos experimentar
para ver como é”. Para mim, foi uma questão de experimentar mesmo,
saber: “quem sabe eu não goste de rádio, não está aí o meu caminho?”. Aí a
gente entrou e acabou ficando, gostou. E é uma experiência legal, porque
você tem muita prática não só de: “ah, vou ouvir a minha voz na rádio”.
Não, tem todo um trabalho por trás de entrevistas, de textos e é um texto
diferente, que só se praticando em aula não é suficiente. Para mim, eu
aprendi muito mais aqui a fazer um texto, as palavras, a técnica, o que usar ou não, do que somente fazendo uma disciplina de rádio.
F – A Rádio Ponto tem um sistema de produção mais próximo do mercado de trabalho. Isso é bom ou ruim?
E12 – Eu acho bom. Na maior parte eu acho bom, por outro lado
eu acho ruim, porque a gente sente falta demais de teoria, embasamento
teórico também. Apesar de a gente também ter isso na disciplina, na
225 primeira fase muito mais do que na segunda, que é só produção mesmo.
Mas eu acho bom porque é o que você vai encontrar lá fora, sabe? Não só a
teoria, por exemplo, a história do rádio, como ele surgiu. Você vai chegar lá
fora com o embasamento melhor de como fazer, como agir, como é que faz
isso, como é que edita, como é que vai se portar, como vai falar. Você já
tem uma carta disso antes. Por exemplo, para quem nunca sentou na mesma
de um programa ao vivo e vai fazer isso só depois que se formar, é um
impacto, você fica muito nervoso, tem aquela coisa de, tem gente que acha:
“ah, você escolheu jornalismo, sabe falar bem, não fica nervoso”. E não é.
E como a gente tem muito dessas experiências práticas antes, já dá uma
preparação melhor. Eu acho positivo. Ainda que, não necessariamente em
rádio, mas em outras matérias eu sinto falta de um embasamento teórico
melhor. Não necessariamente em rádio. Porque todas as matérias de
maneira geral são mais práticas.
F – O fato de a Rádio Ponto ser uma webradio é levado em consideração no momento da produção?
E12 – Ah, então, eu sou nova ainda para poder ter uma noção
assim geral. Mas é claro que a gente comete falhas, às vezes de linguagem
mesmo também. Às vezes, dependendo do programa, a gente poderia usar
uma linguagem, por exemplo, o programa da segunda fase, de uma das
turmas, às vezes a gente pega uma linguagem mais jovial. Mas, de modo
geral, como é uma rádio laboratório, eu acho que está sendo bem explorado
essa questão do aprendizado mesmo. A gente comete erros, logicamente,
mas a questão é aprender. A gente comete erros e percebe, sabe? Muitas
vezes, a gente coloca o programa e escuta novamente: “cometi aquele erro
ali, corrigir no próximo e tal”. Sobre vídeo, realmente, a gente não tem
vídeo no site. No programa da disciplina a gente coloca um vídeo no
Facebook e a gente faz uma chamada. Para cada programa de rádio da
próxima semana, a gente grava um vídeo falando o tema. Cada um de nós
gravou um vídeo com a turma toda, no início do programa da disciplina.
Então, tem essa parte desse vídeo. Mas os outros programas, de modo geral,
não têm, realmente. Seria até uma coisa que a gente poderia acrescentar. E
até o que você comentou de ser uma webradio e de as pessoas ouvirem é até
um fator de responsabilidade que a gente tem. Não é só um trabalho que o
professor vai ver e vai dar nota. É um trabalho que várias vezes as pessoas,
vários universitários podem ouvir e eles acabam cobrando você por isso. É uma responsabilidade a mais, é um compromisso maior que a gente assume.
226
F – Você acha que deveria haver mais estímulo, então, nessa questão da webradio, da convergência?
E12 – Eu acho que em relação às aulas, no primeiro semestre, eu
senti falta de um pouco de retorno, sabe? A gente fazia um trabalho e você
não tem especificamente uma nota certinha para aquilo: “Ah, você tirou
tanto, você errou aqui, você acertou tantas e tantas palavras”. Não tem
aquele trabalho individual, que a gente tinha em colégio normal. Talvez até
seja uma falha minha, que tenho uma visão mais de colégio mesmo. E a
questão da webradio é, como você fica muito ligado, as pessoas ficam
ouvindo e copiando o que as pessoas ouvem numa rádio comum. E a
linguagem nova que a gente poderia usar é a imagem mesmo, porque, como
é uma webradio, você não precisa só estar ouvindo, poderia estar vendo no
site. Acho que a gente poderia reformular isso, explorar mais os recursos do
site, de imagem, e a linguagem oral acho que não tem alguma coisa
diferenciada: “Não, vou mudar a linguagem. Vamos ver assim, quem sabe”. É uma coisa a se pensar.
F – Como foi experiência do programa da disciplina, que é semanal?
E12 – Então, esse foi um programa muito legal de fazer, porque
lida com realidades suas mesmo, que você mesmo pode dizer: “isso é legal,
isso é a realidade, é um problema”. E isso foi muito bom. E a questão da
minha turma, vou ser bem tiete agora, porque a gente tem um entrosamento
muito bom. Então, essa divisão de tarefas vem dando muito certo: “ah, eu
vou ser o repórter dessa semana, você vai ser o editor”. A gente tem essa
comunicação de: “ah, não, essa semana eu queria mudar aqui”. E funciona
o trabalho em conjunto. E foi bom assim. Talvez o que dificultou é que, no
mesmo semestre, tem o programa da disciplina, que a gente coloca no ar
todas as semanas, e tem o programa da disciplina de telejornalismo e a
gente coloca no ar um telejornal toda semana. Então, ficava muito corrido,
porque muitas vezes a gente tinha que fazer uma matéria para o programa
de rádio, uma matéria para o programa de TV e mais uma para o núcleo do
Lança - para quem participa, porque é voluntário. No caso, nem todo
mundo participa, mas eu participo. Então, às vezes é muito puxado. Por
exemplo, hoje eu ainda tenho matéria para fazer para o programa de TV,
que vai ao ar amanhã, e ainda tem matéria para o Lança [Perfume]. Às
vezes é complicado, até por isso poderia reformular, deixar essas duas
227 matérias em fases diferentes, para não acumular. Mas o programa da
disciplina de rádio, de maneira geral, era bem mais tranquilo de fazer que o
programa de TV, por exemplo. Talvez por ser rádio, que você não tem que
ficar se preocupando com a imagem, com vídeo, que é um trabalho mais
complicado, mas a gente conseguiu. Teve programa que a gente finalizava
o bloco na mesma manhã para colocar no ar às 11h30min e dava certo. Então, é uma experiência muito legal.
F - Qual diferença você percebe de quando começou o curso e
agora?
E12 – Então, a aluna de antes para a de agora melhorou muito a
questão da desenvoltura, porque aquele mito de que jornalista é desenvolto,
não existe, eu sou supertímida. Aquela coisa de que fazer uma entrevista
para poder gravar algum boletim e etc, você tem medo de se aproximar das
outras pessoas, eu acho que isso ajuda bastante. A questão de voz também,
eu sou gaga, quando eu fico nervosa eu gaguejo, é uma coisa e eu tenho
procurado controlar mais isso, sabe? E é uma coisa muito boa, porque você
começa a perceber os teus erros, você começa a ver: “eu vou evoluir nisso,
eu melhorei nisso”. Eu, para ser bem sincera, não sei se quero seguir
carreira no rádio, se eu quero trabalhar em rádio, se eu quero trabalhar em
TV, realmente, eu não defini isso para mim. Eu gosto de todos [os meios de
comunicação] de maneira geral, aspectos que eu gosto de cada um. Eu ainda não tenho focado, definido o que eu quero fazer, mas eu gosto assim.
F - Comparando o programa da disciplina de rádio e o núcleo
Lança Perfume, quais são as diferenças e as similaridades?
E12 – Ah, então, o Lança [Perfume], apesar de ser mais flexível, de
eu não necessariamente precisar participar toda semana - que quando a
gente está muito atrapalhada, uma não participa naquela semana, participa
no próximo -, apesar disso, a responsabilidade é igual e às vezes até maior,
justamente por eu não ser obrigada, mas às vezes: “ah, não, eu não participei na outra semana, eu não vou participar na próxima. Não, eu vou
participar aqui, vou ter que fazer, não posso deixar ela „na mão‟ também”.
Em relação ao Lança Perfume, o que é parecido é que é todo mundo igual,
jovens também, com as mesmas dúvidas, os mesmos interesses, é uma coisa
228 que facilita. E também por ser feito só por meninas, porque a gente só tem
um menino, que é o Djalma. Poderia ser mais difícil também por serem
meninas, porque cada uma pensa de um jeito, mas é uma coisa que a gente
não pensa, não entra em conflito. Uma pensa de um jeito: “não, eu penso
assim, da minha maneira”. Não, a gente tenta sempre valorizar a visão de
cada uma. E no programa da disciplina era a mesma coisa: “não, eu tenho
uma ideia de pauta assim”, “não, mas eu tenho uma outra”, e a gente
tentava encaixar isso. Então, essas são as semelhanças. Diferenças acho que
não têm, a responsabilidade é a mesma. E o público, que também é
diferença. O Lança [Perfume], como é feito por meninas, geralmente
costuma abordar assuntos femininos. Teve um que a gente fez sobre parto
humanizado, que era mais voltado para mulher. Outra coisa que a gente fez
aqui foi durante as manifestações38
. A primeira manifestação, não, mas a
segunda que teve aqui em Floripa a gente teve uma cobertura ao vivo.
Então, eles ligavam para a gente do meio da rua, do meio do tumulto, e a
gente trazia informações. Que é uma coisa que a Rádio Ponto também fazia
nas eleições, que eu trabalhei, de falar com cada um também nos polos de votação, que também era bem legal. O “ao vivo” é diferente.
F - E o fato de o programa disciplina ter um professor coordenando e o Lança Perfume não ter. Quais diferenças você percebe?
E12 – Eu acho até que o Lança [Perfume], por serem colegas mais
experientes, com muito mais bagagem que a gente, elas têm um feeling
maior para o rádio já. Apesar disso, talvez a comunicação com elas seja
mais fácil. Com o professor eu ainda tenho aquele respeito, vou pensar duas
vezes antes de falar com ele, mas a gente conversa, ele deixa a gente muito
livre. Ele impõe algumas coisas, por exemplo, o programa da disciplina ele
queria que todos nós fôssemos repórteres uma vez, todo mundo
apresentasse uma vez, todo mundo. Mas ele deixa a gente livre para fazer
tudo errado, tanto para fazer um boletim, e fazer tudo certo, e aí ele corrige
depois, ele avalia e etc. E do Lança [Perfume] a gente começou até a ter um
retorno, de alguma das meninas ouvir o programa e dar a opinião dela: “ah,
o que você acha que errou, o que você acha que acertou”. Esse retorno eu
acho importante também. E é isso. Até talvez por elas serem colegas e
fazerem jornalismo também a gente tem mais facilidade de chegar e conversar.
38 A entrevistada refere-se à manifestação popular ocorrida no mês de junho de 2013.
229
F – Na sua opinião, há uma diferença de aprendizado?
E12 – Acho que o Lança [Perfume], por eu já estar há um ano, eu
acabei amadurecendo mais com o Lança do que só em um semestre do
programa da disciplina, né? Mas é o mesmo tipo de empenho que você tem
que ter tanto para um quanto para outro. Às vezes, o entrevistado que
desmarcou de última hora e a gente tem que correr atrás de outro enlouquecidamente. É tanto para um quanto para o outro também.
F - E com essa experiência, você acha que estará mais preparada para o mercado de trabalho?
E12 – Acredito que sim, bem mais ambientada. “Ah, esse
entrevistado furou. Não, vamos correr atrás de um”. Tem gente que fica
desesperada e não, tem que manter a calma e dar um jeito. De um jeito ou
de outro, a gente sempre consegue. Então, acho que para essas “situações-
limite” a gente vai estar bem mais [preparada], não só eu, mas as meninas de uma forma geral.
230
APÊNDICE 13 – Entrevista 13 – Bolsista do Museu do Rádio e
colaboradora da Rádio Ponto da UFSC
Fabíola (Entrevistadora) – O que você faz no Museu do Rádio?
Entrevistada 13 – O Museu do Rádio tem como base o TCC de
uma aluna do “Magrinho” [professor Eduardo Meditsch], a Sirlei Ribeiro,
porque ela começou o projeto de fazer essa restauração da história, do
Museu, com esse material que a gente tinha aqui na Rádio Ponto. E foi com
base nisso que a gente começou a organizar os materiais. A gente tem
gravadores, tem fitas com programas antigos - algumas fitas se perderam
por causa de mofo, porque não estavam bem armazenadas. Então, a minha
parte, quando eu comecei, foi começar a digitalizar esse material para não
ser perdido e a elaboração de um site para guardar esse material, para ter o
acervo digital dele. Fotos da época, algumas fotos autografadas por rádio-
locutores da época. E, no meio desse material, que não entra tanto no
Museu do Rádio de Santa Catarina, foi legal que a gente achou um monte
de programação antiga da Rádio Ponto, temáticos antigos, programas
antigos da Rádio Ponto e eu até não consegui fazer isso ainda, mas eu quero
fazer um arquivo, porque agora não está dando muito tempo porque eu
estou no site, estou tentando digitalizar as coisas, estudando mais sobre a
história, mas, se possível, também criar um arquivo para a Rádio Ponto,
porque são coisas muito recentes ainda, mas daqui a 10 anos: “poxa, muito
legal!”. Tem coisa guardada ainda naquelas fitas grandes, não na K7,
naquela mais antiga, “redondona”. E é uma coisa que vai se perdendo,
porque infelizmente a gente sabe que esse material tem prazo de vida útil
curto. Ele mofa, ele estraga; então, a prioridade, o que está sendo mais importante é catalogar e digitalizar esse material.
F – Sobre a Rádio Ponto, existe o projeto de fazer algum resgate
histórico de como a rádio foi criada, como surgiu, além dos programas?
E13 – Isso não entraria tanto no Museu do Rádio, mas sim na
própria história da rádio. A gente está desenvolvendo. Agora mesmo, a
gente está sentado para desenvolver um novo layout, um novo site, porque
o outro está um pouco atrasado, não está muito bonito. Então, eu até criei a
aba “Quem Somos” para contar essa história da Rádio Ponto. A gente tem
231 que aproveitar a Valci, o “Magrinho” [professor Eduardo Meditsch], que
estavam ali desde o começo para contar essa história para a gente. Acho
bem importante resgatar os programas antigos, aqueles programas como o
Universidade Aberta, que foram bem importantes, bem produzidos, tem um
material legal. Então, acho que a ideia, ninguém nunca conversou
seriamente sobre isso, mas eu mexendo nas coisas do Museu do Rádio
pensei em criar, pelo menos, uma aba no site para explicar para as pessoas
como nasceu a Rádio Ponto, onde surgiu a Rádio Ponto.
F – Isso é importante até mesmo porque a Rádio Ponto é pioneira, é a mais antiga entre as webemissoras universitárias.
E13 – Mais antiga, mas ainda é uma coisa nova, porque o
jornalismo online está aí, a gente está aprendendo ainda. Nada muito certo,
porque ainda tem aquela coisa: “é um meio novo, que está sempre se
renovando”. Então, a gente está buscando fazer um website melhor, buscar
uma plataforma melhor, ver quais níveis de interatividade pode ter com o
Twitter, com o Facebook, tentar aproveitar essas coisas que a webradio traz
para a gente. Acho que isso é muito importante, pegar a interatividade que a
internet dá para a gente, pegar a multimidialidade, que tem o streaming, que
a pessoa pode ver o vídeo, sem perder a essência de rádio, né? Não virando
um vídeo. Sem perder a essência de rádio, ter uma programação voltada para a rádio, mas aproveitando da multimidialidade da internet.
F – Nos últimos dias, você e outros bolsistas vêm conversando
sobre a possibilidade de implantação de um novo site. Como está esse
processo? Vocês conversaram com os professores coordenadores?
E13 – A gente está criando alguma coisa para ter o que mostrar
para o “Magrinho” [professor Eduardo Meditsch]. Porque é meio
complicado a gente chegar e falar: “ó, „Magrinho‟, vamos fazer um layout
novo assim, assim, assim”. Não, a gente está criando em outra plataforma,
agora estamos fazendo no Wordpress, que tem uma usabilidade melhor, tem layouts mais novos, mais modernos, a iconicidade dele é melhor. É mais
fácil de mexer para os bolsistas, porque não é todo bolsista que é
programador em potencial. E o Wordpress é mais fácil de mexer e ele é
bonito. Ele é um pouco mais, não queria dizer amador, mas ele é mais
232 simples, é mais fácil para acessar e encontrar as coisas, é mais bonito, é
mais fácil para um bolsista novo mexer no Wordpress do que mexer numa
plataforma antiga. Então, a nossa ideia é criar realmente uma plataforma
que seja mais fácil, porque acontecia que só alguns bolsistas lidavam com o
site da Rádio. Todo mundo dava um “pitaco”, mas saber mexer mesmo só
alguns. Então, a gente achou melhor fazer algo mais simples e que, ao
mesmo tempo, tivesse uma iconicidade melhor para quem acessar. Um
rádio mais bonito, porque a gente sabe que, na internet, um site mais
organizado chama muito mais atenção. Um site mal organizado, um site
que não tem responsividade é raro o internauta voltar num site que não seja
muito responsivo. Então, com o site mais bonito, com mais fotos, mais fácil
de mexer, fica mais fácil de estar ali salvo nos favoritos e da pessoa
conhecer: “poxa, que legal, vou ouvir a programação da Rádio Ponto”.
Acho que isso agrega um aspecto positivo, o site ser mais fácil de manusear
vai ser mais acessado, tem mais links, o Facebook está ali, você acessa e já
tem o AdWords do Facebook ali, a pessoa já curte, já conhece a página e
uma coisa leva à outra. No Facebook, o amigo curtiu, vai lá e conhece o Facebook.
F – Qual a sua opinião sobre o site? Você acha que falta uma preocupação maior com o site?
E13 – No conteúdo para o site?
F – Sim, mas também no geral.
E13 – Acho que sim. O site não estava sendo muito atualizado, os
bolsistas tinham problemas para mexer naquele site, estava dando muito
“bug”. Então, a ideia de mexer naquele site é justamente essa: deixar a
coisa mais bonita, animar o pessoal para: “poxa, está acontecendo uma
coisa aqui, vamos tirar uma foto? Está acontecendo a reforma aqui da rádio,
vamos produzir um vídeo da reforma para postar no site?”. Então, a ideia
do site novo é justamente renovar isso e dar mais força para a plataforma, para a imagem, para a interatividade, para comentários dos leitores,
entendeu? Essa é a ideia. Porque a gente estava conversando que estava
muito cansado, porque aquele site estava dando “bug” toda hora, aquele site
era difícil de mexer, não estava sincronizando o Twitter direito. E a ideia de
233 fazer o novo site é justamente essa, corrigir esses erros que estão acontecendo.
234 APÊNDICE 14 - Entrevista 14 – Marcela Lin, ex-aluna que participou
da Rádio Ponto da UFSC
Conversa por e-mail, dia 20 de março de 2013.
De: Fabiola Thibes.
Para: Marcela Lin.
Fabíola (Entrevistadora) – Oi, Marcela, tudo bem?
Primeiramente, obrigada por se dispor a me ajudar com o meu trabalho
sobre a Rádio Ponto. Será bem importante, já que vou usar este conteúdo na
minha dissertação. Bom, a questão que eu preciso esclarecer é sobre a
história da rádio. Então, eu gostaria que vc me relatasse sobre como foi a
sua experiência na Rádio Ponto. Ou seja, de que ano até que ano você
participou da rádio, o que a fez continuar sendo voluntária; como era a
estrutura da Rádio Ponto no momento em que você começou a participar; e
se houve mudanças nesta estrutura no período em que esteve lá. Quais
foram as principais dificuldades e os pontos positivos que aconteceram, as
coberturas especiais que marcaram, mais ou menos quantas pessoas
participavam com com você. E, se vc lembrar, quais programas faziam
parte da programação da Rádio Ponto na época. Acredito que esses tópicos
são importantes, mas se vc quiser complementar com algo que ache
importante, fique à vontade, por favor. Se tiver alguma dúvida, por favor, disponha.
Atenciosamente,
Fabíola Thibes
Retorno da conversa por e-mail, dia 27 de março de 2013.
De: Marcela Lin
Para: Fabíola Thibes
Marcela Lin (Entrevistada 14) - Oi, Fabíola!
235
Desculpa a demora para responder. Estou fazendo mestrado em
ADM e com muitas leituras e trabalhos. Bom, vou te contar sobre o meu
envolvimento de maneira geral. Caso queiras aprofundar algum ponto ou
queira algum outro tipo de informação, é só falar depois. Não lembro
exatamente de alguns detalhes, mas acho que o principal é válido.
Vamos lá!
Meu primeiro contato com a Rádio Ponto foi nas disciplinas
obrigatórias de Rádio I (2002 – com a Zeca) e Rádio II (2002- com o
“Magrinho” [professor Eduardo Meditsch]. Em 2003, a Naiana Oscar – que
era da nossa turma – falou para a professora Valci e o professor Eduardo
[Meditsch] sobre a possibilidade do curso fazer uma parceria com a Rádio
Santa Catarina (hoje Rádio Cultura), que é uma rádio católica. Eu não me
lembro ao certo os detalhes disso...a Naiana pode te falar. Sei que dessa
conversa surgiu o programa Notícia na Mesa. O programa era semanal, nas
terças, na hora do almoço (daí o nome). Fazíamos o programa da Rádio
Ponto e, além dele passar na Rádio Ponto, ele era transmitido ao vivo pela
Rádio SC (rádio AM). Eu era uma das produtoras do programa.
Se não me engano, o programa começou de forma voluntária – o
que acabou envolvendo parte da nossa turma. Mais tarde, a professora Valci
conseguiu transformá-lo em uma disciplina optativa. Mas a gente nunca fez
pelos créditos, mas pelo aprendizado, pela diversão e até pelo nervosismo
de colocar o programa no ar e depois ver que deu tudo certo.
O Notícia na Mesa era um programa jornalístico com entrevistas,
reportagens, previsão do tempo e muita informação. A estrutura da rádio
era boa. Os professores Valci e “Magrinho” [Eduardo Meditsch] sempre
nos deram a orientação e acompanhavam os nossos programas. Lembro que
toda terça, depois do programa, saíamos para almoçar todos juntos – os
alunos envolvidos no programa, mais os professores. Isso fez com que
nossa turma ficasse bem próxima desses professores. Na área técnica, o
“Rato” e o Alcides [técnicos operadores de áudio] também nos davam o
suporte. Como vivíamos na Rádio Ponto, eles até brincavam que não nos
aguentavam mais.
Acho que ficamos um ano tocando o programa quando terminou a
nossa disciplina optativa e tínhamos que dar lugar para outras pessoas terem
a experiência. Tanto queríamos continuar que conseguimos mais um espaço
com a Rádio SC e passamos a fazer o programa Notícia na Mesa Especial
nas quintas – como outra disciplina optativa. A proposta era fazer um
236 programa jornalístico também, mas temático. Então, toda semana tínhamos
um tema diferente como a Língua Portuguesa, as Finanças Pessoais, a
História do Índio, entre outros.
Quando penso no curso de Jornalismo da UFSC, grande parte das
minhas lembranças é na Rádio Ponto. Como alguns amigos de curso foram
bolsistas da rádio, passávamos muito tempo por lá mesmo que não fosse
“trabalhando”. Era nosso lugar. Nossa turma ficou conhecida como a turma
envolvida com a rádio enquanto outras foram mais para a TV.
Pela Rádio Ponto, tive a oportunidade de cobrir alguns eventos.
Depois de cobrir uma manifestação no Centro de Floripa e entrar várias
vezes numa tarde com boletins ao vivo para a Rádio Ponto (enquanto
bolsista do Unaberta [projeto de extensão Universidade Aberta]), fui
escolhida para ir para a SBPC [Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência], em Pernambuco. Depois de 52 horas de viagem, chegamos a
Recife para ficar uma semana cobrindo o evento – numa parceria entre
rádios universitárias. Eu, mais dois alunos da UFSC e outros estudantes da
UFPE fazíamos um programa diário – durante os cinco dias do evento – e
ele, além de passar na Rádio Ponto, era disponibilizado para uma rede de
rádios. Foi uma experiência incrível!
Cobri também várias SEPEX [Semana de Ensino, Pesquisa e
Extensão] da UFSC e assembleias de greve. Participamos de uma eleição
para reitor em que organizamos um debate para a Rádio Ponto com os
candidatos, além de cobrir todo o dia de eleição e a apuração.
Nossa turma era tão envolvida com a rádio que planejamos a
cobertura do vestibular 2004 da UFSC de maneira integrada para a Rádio
Ponto, boletim da Rádio CBN (em que gravávamos um boletim de 10 min e
passava na CBN) e boletim para a Rádio SC. Nos dividimos em duplas e
cada dupla ficou com uma rádio. Tudo isso de forma integrada com o
Unaberta (o site de notícias que o curso mantinha na época), em que muitos
de nós também atuaram como bolsistas. Foi um trabalho exaustivo, mas
muito compensador. Lembro que mobilizamos vários estudantes do curso
para atuarem como repórteres e organizamos para que cada um estivesse
em um local. Entrávamos com boletins ao vivo direto. A nossa rapidez na
apuração e a qualidade do trabalho fizeram com que veículos de
comunicação estaduais nos ligassem para saber as informações – mesmo
não sendo a gente a fonte oficial.
237
Depois ainda cursei as disciplinas optativas de Radioteatro e
Radiodocumentário. Nos divertimos com a professora Valci – que
ministrava a disciplina - fazendo peças na rádio e encenando. Lembro muito
de uma história infantil que gravamos do peixe-baleia. Ir para a aula era
muito divertido. Em Radiodocumentário, fizemos um documentário sobre o
papa João Paulo II, que na época ainda estava vivo. Quando ele faleceu,
chegamos inclusive a ir à Rádio CBN de Florianópolis dar entrevista sobre
o documentário. Um trecho dele também foi exibido na rádio.
Outro momento marcante relacionado à rádio foi o prêmio
Jornalismo de Unimed que eu e a Mariana Segala [outra aluna da época]
ganhamos na categoria Destaque Acadêmico em 2004. Fizemos um
programa sobre a Síndrome da Visão de Computador para a Rádio Ponto
(de maneira voluntária). Lembro que quando fomos receber o prêmio em
Blumenau39
eu disse no discurso de agradecimento que era muito bom
ganhar o prêmio, pois era um reconhecimento do trabalho que fazíamos
ainda na faculdade – e que tinha muito material bom que produzíamos, mas
que acabam ficando só dentro da universidade. E a Rádio Ponto é repleta de
trabalhos assim, que acabam só ficando na rádio.
A cada semestre, tudo o que aparecia de rádio a gente fazia. Acho
que até a professora Valci deu tantas disciplinas optativas em rádio porque
ela sabia que íamos topar tudo. A gente sabia que a Rádio Ponto não tinha
muitos ouvintes – desconsiderando o programa Notícia na Mesa que era
transmitido pela Rádio SC, aí sim com um público mais abrangente e fiel.
Mas nós não nos importávamos se tinham 100 ouvintes, dez, um ou zero.
Fazíamos da mesma forma, superempolgados, porque gostávamos de estar
ali e de fazer o que tinha que ser feito. Nosso envolvimento foi tão grande
com a rádio que decidimos fazer um TCC nessa área. Eu, a Mariana Segala
e a Naiana Oscar fizemos um trabalho em trio, justificado pela extensão do
projeto. Fizemos uma proposta de implantação de um Departamento de
Jornalismo na Rádio Cultura (a Rádio SC já tinha mudado de nome). Além
de toda a parte de resgate histórico das rádios no Brasil, de rádios católicas
e da própria história da Rádio SC, fizemos uma parte administrativa com
pesquisa de mercado para propostas de programa e levantamentos
financeiros para a estrutura. Ao final, sugerimos cinco programas
(gravamos todos os programas pilotos) e fizemos um manual de redação.
39Link para a página do Prêmio: <http://www.unimed.coop.br/pct/index.jsp?cd_canal=44810&cd_secao=34376&cd_materia=28182>
238 Chegamos a entregar para os dirigentes da rádio depois, mas infelizmente
não saiu do papel.
Apesar de todo o envolvimento que nossa turma teve com rádio,
ninguém seguiu por esse caminho após se formar. Mas a rádio marcou a
nossa história no curso. Hoje temos um grupo de amigos que se aproximou
muito pela convivência diária nos estúdios da rádio. Quando nos reunimos,
vez ou outra surgem histórias desse tempo de grande aprendizado
profissional e pessoal. Acredito que hoje sou uma profissional melhor –
mesmo que atuando em Comunicação Institucional – pela minha
experiência na rádio. A rádio me ensinou a ser ágil, fazer um monte de
coisa ao mesmo tempo, trabalhar em equipe, me relacionar com os
ouvintes. Levo comigo algumas heranças que adquiri por essa experiência.
Hoje, gosto de ouvir programas jornalísticos na rádio – principalmente
quando estou dirigindo – inclusive A Voz do Brasil. E esse era um mundo
que eu desconhecia por completo antes de entrar no curso e viver a rádio de
maneira tão intensa.
A Rádio Ponto não faz parte só da história do curso, mas faz parte
da minha história e de tantas outras pessoas que levam dessa experiência
não só o aprendizado profissional, mas as amizades que se criaram e se
fortaleceram pela Rádio Ponto.
Eu ainda guardo alguns materiais e roteiros dessa época se precisar.
Abraço, Marcela