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ISSN 2176-1396 A PRODUÇÃO DE MATERIAIS EM RELEVO TÁTIL COM O USO DA FUSORA TÉRMICA PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL Maíra Vasconcelos da Silva Padilha 1 - IFPA Grupo de Trabalho Diversidade e Inclusão Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente trabalho apresenta os resultados obtidos nas aulas de Matemática e Geografia através de uma das atividades do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais NAPNE, do Instituto Federal do Pará IFPA, Campus Tucuruí, com o uso da fusora térmica Teca Fuser na produção de materiais gráficos em relevo, capazes de serem reconhecidos pelo tato. Isto foi possível através do tratamento de imagens visuais em função de uma releitura de seus componentes como contornos e disposição de texto e imagens, na perspectiva de superações de dificuldades do processo de ensino-aprendizagem de pessoas com deficiência visual. Através dos relevos e texturas obtidas pela fusora térmica Teca Fuser e sua capacidade de representações gráficas no plano bidimensional em relevo, deficientes visuais (DV’s) cegos e com baixa visão, podem se valer da percepção háptica para o reconhecimento de figuras, mapas, diagramas e gráficos, produzidos com essa tecnologia, tendo assim o direito à inclusão nas aulas de Matemática e Geografia especificamente. Para se alcançar o melhor reconhecimento háptico dos desenhos, foram realizados seis experimentos, sendo três destinados às aulas de Matemática e três destinados às aulas de Geografia, com a impressão de figuras geométricas planas e composição de mapas, respectivamente. São oferecidas neste trabalho, noções de como fazer uso desse dispositivo e de como usar configurações básicas para a produção de materiais em relevo capazes de serem compreendidos numa leitura tátil através do uso da fusora térmica. O uso dessa tecnologia de impressão em relevo para a sala de aula é essencial para a inclusão e ensino-aprendizagem dos alunos DV’s, pois são instrument os capazes de transmitir conceitos que dantes não tinham como serem repassados ao aluno DV. Palavras-chave: Fusora Térmica. Deficiência Visual. Leitura Tátil 1 Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Pará - UEPA, especialista em Psicologia Educacional com Ênfase em Psicopedagogia Preventiva pela Universidade Estadual do Pará - UEPA, Auxiliar em Assuntos Educacionais do Núcleo de Atendimento às pessoas com Necessidades Educacionais Especiais NAPNE/ IFPA/ Campus Tucuruí. E-mail: [email protected]

A PRODUÇÃO DE MATERIAIS EM RELEVO TÁTIL …Os materiais em relevo tátil são recursos indispensáveis para pessoas com deficiência visual pois possibilitam a ampliação da percepção

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ISSN 2176-1396

A PRODUÇÃO DE MATERIAIS EM RELEVO TÁTIL COM O USO DA

FUSORA TÉRMICA PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

Maíra Vasconcelos da Silva Padilha1 - IFPA

Grupo de Trabalho – Diversidade e Inclusão

Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O presente trabalho apresenta os resultados obtidos nas aulas de Matemática e Geografia

através de uma das atividades do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades

Educacionais Especiais – NAPNE, do Instituto Federal do Pará –IFPA, Campus Tucuruí, com

o uso da fusora térmica Teca Fuser na produção de materiais gráficos em relevo, capazes de

serem reconhecidos pelo tato. Isto foi possível através do tratamento de imagens visuais em

função de uma releitura de seus componentes como contornos e disposição de texto e

imagens, na perspectiva de superações de dificuldades do processo de ensino-aprendizagem

de pessoas com deficiência visual. Através dos relevos e texturas obtidas pela fusora térmica

Teca Fuser e sua capacidade de representações gráficas no plano bidimensional em relevo,

deficientes visuais (DV’s) cegos e com baixa visão, podem se valer da percepção háptica para

o reconhecimento de figuras, mapas, diagramas e gráficos, produzidos com essa tecnologia,

tendo assim o direito à inclusão nas aulas de Matemática e Geografia especificamente. Para se

alcançar o melhor reconhecimento háptico dos desenhos, foram realizados seis experimentos,

sendo três destinados às aulas de Matemática e três destinados às aulas de Geografia, com a

impressão de figuras geométricas planas e composição de mapas, respectivamente. São

oferecidas neste trabalho, noções de como fazer uso desse dispositivo e de como usar

configurações básicas para a produção de materiais em relevo capazes de serem

compreendidos numa leitura tátil através do uso da fusora térmica. O uso dessa tecnologia de

impressão em relevo para a sala de aula é essencial para a inclusão e ensino-aprendizagem dos

alunos DV’s, pois são instrumentos capazes de transmitir conceitos que dantes não tinham

como serem repassados ao aluno DV.

Palavras-chave: Fusora Térmica. Deficiência Visual. Leitura Tátil

1 Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Pará - UEPA, especialista em Psicologia Educacional

com Ênfase em Psicopedagogia Preventiva pela Universidade Estadual do Pará - UEPA, Auxiliar em Assuntos

Educacionais do Núcleo de Atendimento às pessoas com Necessidades Educacionais Especiais – NAPNE/ IFPA/

Campus Tucuruí. E-mail: [email protected]

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Introdução

No Brasil, conforme os dados do censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística (IBGE, 2010), considerando a população residente no país, 23,9%, cerca de

45.606.048 de brasileiros possuem pelo menos uma das deficiências, porém a deficiência

visual (DV) apresenta a maior ocorrência, afetando 18,6%, da população brasileira. Tais

dados justificam o empenho da sociedade em geral e principalmente do setor da educação na

criação e na disposição de meios que possibilitem a inclusão dessas pessoas na sociedade da

informação (ALMEIDA; NOGUEIRA, 2009).

O Instituto Federal do Pará – IFPA/ Campus Tucuruí - PA, estruturou o Núcleo de

Apoio à Pessoa com Necessidades Educacionais Específicas - NAPNE, no ano de 2012 com o

objetivo de contribuir na implementação de políticas de acesso, permanência e conclusão com

êxito dos alunos com necessidades específicas e de auxiliar esses alunos bem como aos seus

professores. Dessa forma, pretende-se assegurar os princípios da LDB (BRASIL, 1996), que

segundo o art. 59: “os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades

especiais: I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos,

para atender às suas necessidades”. E ainda, o Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999,

que regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989 que dispõe sobre a Política

Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência em seu art. 29, onde “as

escolas e instituições de educação profissional oferecerão, se necessário, serviços de apoio

especializado para atender às peculiaridades da pessoa portadora de deficiência”.

Muitos os desafios de uma educação especial dentro da atual tendência de educação

inclusiva, afim de que educadores de escolas públicas brasileiras não se surpreendam com a

presença de alunos com deficiência visual matriculados em suas turmas, mas sim dêem a eles

a oportunidade de superarem suas dificuldades, fomentando a política de construção de

“sistemas educacionais inclusivos”. Na perspectiva de superações de dificuldades do processo

de ensino-aprendizagem de pessoas com DV, a equipe do NAPNE/ IFPA Campus Tucuruí,

procurou compreender a forma como os deficientes visuais se percebem e se relacionam com

o mundo, afim de tornar possível que sejam conhecidas as reais necessidades dessas pessoas

para subsidiar o desenvolvimento de alternativas que possam contribuir com a melhoria da

qualidade de vida. Essa mesma equipe, vem se apropriando do uso das Tecnologias Assistivas

e acreditando na implantação de uma política de “ educação inclusiva”, se propondo a

desenvolver metodologias adaptando recursos para discentes DV’s.

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O usuário dos Materiais em Relevo Tátil

Entende-se por deficientes visuais (DV’s), as pessoas que apresentam impedimento

total ou parcial da visão, decorrente de imperfeição do sistema visual. Para Kirk e Gallagher

(1991), a classificação para deficiência visual na área educacional é baseada em um padrão de

eficiência visual, que é de certo modo abstrato. Sendo utilizado, cada vez mais, uma definição

funcional que enfatiza os efeitos da limitação visual sobre a habilidade crítica da leitura.

De acordo com Brasil (1993), a pessoa cega é aquela que possui perda total ou resíduo

mínimo de visão, necessitando do método Braille como meio de leitura e escrita e/ou outros

métodos, recursos didáticos e equipamentos especiais para o processo ensino-aprendizagem.

pessoa com baixa visão é aquela que possui resíduos visuais em grau que permitam ler textos

impressos à tinta, desde que se empreguem recursos didáticos e equipamentos especiais,

excluindo as deficiências facilmente corrigidas pelo uso adequado de lentes.

É necessário pensar que antes de se apresentar uma imagem a uma pessoa cega é

relevante refletir em transpor a realidade da imagem, ou seja, o visual, em uma realidade que

possa ser interpretada e conhecida pelas mãos. Segundo Rodrigues & Barni (2009), boa parte

dos recursos didáticos, com os alunos DV’s são iguais aos utilizados com os demais alunos.

No entanto, certos procedimentos devem passar por algumas adaptações para atender as

necessidades de aprendizagem desses alunos.

As aulas dialogadas podem não ser suficientemente claras na compreensão do aluno

DV, logo descrever um determinado conceito, situação, imagem, pode se tornar algo

frustrante tanto para o professor que vai descrever como para o aluno que vai imaginar.

Assim, uma vez que a descrição não contemple as reais informações do objeto descrito, esta

não será eficaz para o ensino-aprendizagem dos alunos DV’s.

Sistema Háptico

Segundo Nicholas (2011), o tato em humanos é o primeiro sentido a ser desenvolvido.

As informações captadas por este sentido são organizadas em três grupos: a sensação tátil, a

percepção tátil e a cognição tátil. Do primeiro grupo faz parte a recepção da estimulação do

ambiente que, em decorrência da história de experiências do indivíduo passa a compor a

percepção tátil. No do último grupo trata-se da capacidade de armazenar, reconhecer,

classificar etc, a informação por meio do tato ativo ou háptico que estará acionado nos

momentos em que houver exploração e manipulação de objetos.

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Sendo assim, conforme afirma Jiménez (1999), é possível falar em sistema háptico que

é multidimensional, uma vez que para reconhecer as informações utiliza tanto as modalidades

sensoriais quanto as perceptivas, permitindo captar as diferentes propriedades dos objetos, tais

como, tamanho, forma, textura, dureza. Contudo conforme afirma Millar (1997) tais

informações táteis são completadas também pela audição, organização do movimento e

explicações verbais. Assim, quando se fala no desenvolvimento do sistema háptico e em

aprendizagem tátil, McLinden (2004) chama a atenção para o período sensório motor descrito

por Piaget como o primeiro período do desenvolvimento da criança.

A dupla denominação – sensorial e motora, faz referência a uma particularidade da

inteligência dos bebês, uma vez que, de acordo com Piaget (1971), há o predomínio das

percepções e as ações do próprio corpo em relação aos objetos que o tocam e o cercam. Nesta

fase do desenvolvimento, em se tratando de crianças com deficiência visual, as interações

com os objetos podem ser enriquecidas a fim de que as informações sejam apreendidas de

maneira global, isto é, não só pelo tato, mas por todos os outros sentidos. A aprendizagem

tátil de crianças com DV poderá ser mais lenta na captação dos estímulos e até mesmo na

conduta manipulativa visto que, por não enxergarem, poderão ter mais dificuldade para captar

de forma integrada as informações que lhe oferece um ambiente organizado sobretudo em

função dos sinais visuis (BARDISA, 1992). Contudo para explorar objetos, as crianças com

deficiência visual utilizarão as mesmas classes e a mesma forma do tato que são utilizadas por

crianças videntes.

Os materiais em relevo tátil são recursos indispensáveis para pessoas com deficiência

visual pois possibilitam a ampliação da percepção espacial e criativa e facilitam o processo de

compreensão de imagens, que passa a ocorrer com maior segurança e autonomia. Além de um

importante recurso didático, os materiais em relevo tátil são instrumentos que oferecem novas

vivências e experiências à pessoa com deficiência visual e contribuem para que o processo de

inclusão social e educacional realmente aconteça.

O processo de composição dos materiais em relevo tátil

A técnica de confecção do material permite sua produção através da elaboração de

Layout’s com o uso de editores gráficos como o CorelDraw, impressos com o papel especial

para relevos táteis em impressoras a laser e passados na fusora térmica.

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Materiais e Procedimentos

Para a elaboração do material em relevo foi utilizado os equipamentos e materiais a

seguir: impressora a laser, scanner, fusora térmica Teca Fuser, papel microcapsulado tipo

Swellpaper, papel comum tamanho A4, software de uso comercial Corel Draw X7.

Primeiramente se fez necessário instalar no sistema do computador, a fonte

denominada de Braille Normal, de domínio público para poder reproduzir os textos em

Braille no software Corel Draw X7, posteriormente utilizou-se o scanner para digitalizar os

materiais repassados pelos professores. A partir daí foi feita a diagramação, que trata da

disposição das imagens e textos configurados da forma mais apropriada para leitura tátil. O

conteúdo (texto e imagens) foi diagramado dentro do padrão estabelecido, a partir daí foi

gerada a matriz impressa primeiramente em papel comum de tamanho A4, através da

reprodução em impressora a laser, passando esta, por dois corretores videntes. Após a

correção é gerada a matriz para o DV, a qual é impressa com papel microcapsulado tipo

Swellpaper - papel que contém em sua superfície microcápsulas de álcool que, quando

exposta ao calor, agem sobre a tinta preta impressa no papel formando o relevo na imagem

impressa em preto e “passada” na fusora térmica.

Escolha do Assunto

O assunto é demandado pelo professor da disciplina do aluno DV e encaminhado ao

NAPNE com todas as explicações e detalhes necessários ao escopo do trabalho a ser

reproduzido. As disciplinas que inicialmente demandaram o material em relevo tátil foram

Geografia e Matemática, devido as mesmas apresentarem como recurso de ensino-

aprendizagem assuntos que exigem a visualização de figuras, gráficos e mapas.

Diagramação

A diagramação é o primeiro passo para a composição do material, pois trata-se de um

trabalho em braile e para tanto, requer um cuidadoso estudo e sensibilidade do vidente para

transcrever o texto e posicionar figuras, para que fique compreensível a uma leitura tátil. A

diagramação é muito importante para prever possíveis dificuldades de interpretação do

conteúdo transcrito, considerando que o leitor cego é o principal alvo, senão o único do

trabalho que está sendo transcrito. Portanto, para conseguir um bom resultado em termos de

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aproveitamento do leitor, eventuais dúvidas foram sanadas no decorrer do processo, sendo os

alunos DV’s questionados durante o processo de produção.

Experimento na Matemática

As aulas de Matemática do professor que demandou o trabalho consistem basicamente

na exposição dos conteúdos matemáticos, no método comum de “lousa” e na realização de

exercícios. Para tanto é essencial que o aluno detenha um material exclusivo para manipular

em sala de aula e compreender as exposições orais do professor. O assunto demandado

inicialmente foi Geometria Plana. Assim, foi feito um formulário (Figuras 1, 2 e 3) resumindo

as fórmulas necessárias, com os respectivos nomes e o desenho das formas geométricas para

que o aluno pudesse perceber as figuras e aprender as fórmulas necessárias para realizar as

atividades quanto a área das figuras. É interessante ressaltar que o Braille possui uma

decodificação para as figuras geométricas simples, porém os discentes e principalmente

docentes desconhecem e preferem representá-las em relevo para que o aluno possa saber

identificar que figura é representada.

Figura 1- Área de Figuras Geométricas Planas Figura 2- Área de um Polígono

Fonte: Os autores. Fonte: Os autores.

12376

Figura 3- Área do círculo e suas partes

Fonte: Os autores.

Para trabalhos de matemática existem normas específicas sobre a transcrição de textos,

de acordo com o Código Matemático Unificado. Os símbolos matemáticos se escrevem,

geralmente, de forma contínua, isto é, sem celas vazias intermediárias. Há situações,

entretanto, em que por questões de clareza, se faz necessário deixar uma cela ou meia cela em

branco antes e depois de determinados símbolos:

Diferente de texto (que tem natureza linear e padrões unificados, como acontece na

codificação Braille), a representação matemática possui estruturas intricadas que dificultam a tradução e retenção por parte de DV. Com efeito, a complexidade de

expressões, as múltiplas dimensionalidades, a não-linearidade, as inúmeras

semânticas e notações, a natureza espacial e as variadas formas de se expressar uma

ideia são o grande desafio para DV representarem, interpretarem e manipularem a

matemática (BORGES, 2013, p.64).

A proposta em tabular o esquema, surgiu como uma forma de tornar o material mais

didático à compreensão dos alunos DV’s e tirar a linearidade da escrita Braille, para que

possam ler as respectivas fórmulas com mais facilidade e agilidade.

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Experimento na Geografia

As aulas de Geografia do professor que demandou o trabalho consistiu também na

exposição dos conteúdos teóricos da Geografia, no método comum de “lousa” e na realização

de exercícios. Porém a disciplina requer a visualização de muitos mapas corriqueiramente:

O exagero de informações pode dificultar a leitura do mapa pelo usuário. A

experiência mostra que a quantidade de informação que você pode incluir no mapa

tátil é muito limitada. O melhor modo de alcançar mapas com detalhes suficientes é

a produção de uma série de mapas que cobre a mesma área contendo diferentes

informações em cada mapa (ROWELL e UNGAR, 2003, p. 141).

O conteúdo abordado nos materiais reproduzidos em relevo foi: “As Mesorregiões do

Estado do Pará” (Figuras 5 e 6). De acordo com disposição padrão criada pelo NAPNE, a

primeira linha sendo o título do trabalho, logo abaixo o mapa e por fim estarão as informações

referentes ao mapa. A confecção dos mapas táteis foi feita primeiramente a partir da

digitalização de imagens extraídas da apostila base do professor da disciplina de Geografia do

IFPA. A imagem digitalizada no formato jpeg foi exportada para o Corel DrawX7, onde o

mapa foi modelado através da função mão livre, e o texto foi configurado com a fonte Braille

Normal, assim todo o conteúdo foi disposto e adaptado para a geração da matriz no formato

pdf. A matriz foi impressa em uma folha de papel comum, tamanho A4, passando pelas

devidas correções e novamente impressa, mas desta vez, em papel microcapsulado para a

produção da matriz tátil. Por fim, a matriz impressa foi passada na fusora térmica Teca Fuser

(Figura 4). Depois, foram feitos testes de percepção tátil.

Figura 4 – Microcapsulado sendo passado na fusora Térmica

Fonte: Os autores.

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Figura 5- Mapa Mesorregiões do Pará Figura 6- Mapa Sudoeste do Pará

Fonte: Os autores. Fonte: Os autores.

Resultados e Discussões

Logo no início do processo de produção do material já foram encontradas limitações

que dificultaram a confecção do layout do mesmo, devido a carência de fontes em Braille que

tivessem caracteres que representassem números, letras maiúsculas e símbolos. Esta foi a

primeira dificuldade a vencer. Como a plataforma Corel Draw é de fácil manuseio para criar

gráficos de qualquer espécie, foi desenhada uma "cela2” e o ponto com tamanho idêntico ao

da fonte utilizada para os demais textos. Dessa forma cada simbologia inexistente foi

desenhada para reproduzir todos os caracteres necessários a leitura do Braille para os DV’s.

Ainda quanto a produção, diante da pesquisa bibliográfica, verificou-se a mínima

quantidade de materiais reproduzidos utilizando-se a fusora térmica. Após o desenvolvimento

do trabalho, pôde-se compreender o porquê da dificuldade e pouca acessibilidade deste

material, pois este trabalho exige o manuseio do papel microcapsulado, este que possui valor

2 Espaço retangular onde se produz um símbolo Braille. De uma ou mais "cela(s)" damos origem a todos os

símbolos possíveis para representar letras do alfabeto, códigos matemáticos, numerais, sinais de pontuação,

simbologia química, musical e informática, do sistema Braille totalizando 64 combinações.

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de mercado muito alto, comprometendo a aquisição deste material em órgãos, entidades,

empresas e principalmente escolas.

Quanto à impressão do material, observou-se que a fusora térmica não fundiu

igualmente o papel Microcapsulado, com a temperatura nível 5, necessitando assim aumentar

a temperatura para 8. Com isso foi possível obter um bom relevo para a leitura tátil, porém

não deixando muito legível à leitura em Braille nas extremidades do papel, necessitando

passar na fusora mais de uma vez.

O material produzido foi testado de forma tátil e utilizidado pelos 3 alunos DV’s do

IFPA que utilizam o sistema Braille em seu dia a dia e sala de aula. Esses estão matriculados

em cursos técnicos integrado do IFPA, sendo 2 no curso Técnico Integrado ao Ensino Médio

de Suporte e Manutenção em Informática e um em Técnico em Saneamento Básico.

Na análise do material pelos alunos DV’s, verificou-se que o tamanho da fonte

utilizada (Braille Normal nº 20), é o equivalente a grafia da máquina de datilografia em

Braille. Durante o manuseio do material , de acordo com o relato dos discentes DV’s, as letras

ficam mais difíceis de serem identificadas, porém com uma leitura mais lenta é possível se

identificar todo o conteúdo do material. Quanto ao relevo nas figuras e nos mapas, a

interpretação foi instantânea. No caso das formas geométricas (quadrado, círculo, trapézio,

losango, retângulo) já conhecidas pelos alunos, automaticamente as mesmas foram

identificadas, no caso dos mapas, a inovação motivou-os a ter maior interesse em entender o

espaço geográfico, diante da leitura tátil de mapas.

No primeiro trabalho (Figura 3) a espessura do contorno da tabela foi de 0,2 mm, o

que dificultou a identificação do desenho da tabela, comprometendo a interpretação do

conteúdo presente nela. A partir disso, foi verificado a importância da espessura do contorno

da tabela, o que para o vidente é só uma questão de estética, para o DV é imprescindível que o

contorno tenha uma espessura que o relevo possa ser facilmente identificado. Dessa maneira,

para os posteriores trabalhos usou-se a espessura de 0,5 mm, o que proporcionou a melhoria

na identificação do desenho da tabela por parte do aluno DV.

Outro ponto interessante a ser destacado na observação do manuseio do material da

disciplina de Matemática, é que dois alunos não tinham a conceituação do que era tabela.

Tornando difícil o acesso às informações presentes nos formulários de Matemática e legendas

dos mapas. Após a exposição do conceito de tabelas instruindo-os de forma tátil, levando o

dedo dos alunos no ato da descrição, definindo dessa forma as linhas e respectivas colunas da

tabela. Abrindo assim, um novo horizonte de interpretação do material.

12380

O costume de só ler (a escrita Braille) em auto relevo devido a maior facilidade de

aquisição dos instrumentos de escrita, utilizados corriqueiramente pelos DV’s: como a pulsão

e a reglete, ou a máquina de datilografia em Braille, sempre separadamente das imagens, pois

geralmente se confecciona um material a parte para que o aluno DV compreenda o conteúdo.

Esse material é confeccionado de forma artesanal utilizando-se de cola 3D, EVA, barbante,

papel camurça, fios diferenciados, entre outros. Material que muitas vezes não fica ao acesso

do aluno DV, produzido geralmente pelo professor e para tanto fica sob posse do professor,

ou produzido na sala do NAPNE, que também deixa o material para o seu acervo próprio,

principalmente se confeccionado de forma mais complexa.

Quanto ao material produzido para a disciplina de Geografia, não foram identificados

muitos problemas, sendo o material produzido de grande relevância para a interpretação de

mapas dos alunos DV’s. Já para a disciplina de Matemática observou-se uma maior

dificuldade de compreender o conteúdo escrito em Braille devido o desconhecimento por

parte de 2 alunos em relação a simbologia matemática em Braille. Observou-se que pelo fato

do conteúdo nunca ter sido estudado pelos mesmos e sempre lido (e/ou ditado), eles criaram

uma simbologia própria a eles para que conseguissem realizar as atividades de Matemática, o

que no ato da interpretação do formulário causou uma certa dificuldade, fato este que

motivou-os a conhecerem melhor o sistema de grafia que utilizam no dia a dia, fazendo com

que os mesmos buscassem se aperfeiçoar mais em relação a grafia Matemática Braille.

As informações acima apresentadas nos permitem pontuar algumas exigências

estruturais para a fabricação de materiais em relevo tátil. As principais delas são:

Torna-se importante evitar possíveis ambiguidades na interpretação dos

desenhos. Para isso, o desenho deve conter todos os elementos necessários para

a conceitualização do objeto representado. E a informação da descrição em

Braille do que trata o texto deve vir preferencialmente antes da imagem.

O excesso de detalhes torna a leitura confusa ao tato e exige um grande esforço

cognitivo para a compreensão.

Os desenhos precisam ser fabricados em um tamanho específico. Figuras muito

pequenas podem atrapalhar o discernimento das linhas e a identificação de

determinadas formas geométricas. Figuras muito grandes reforçam a apreensão

analítica do tato e dificultam a percepção global da forma, uma mapa

desenhado em tamanho A4 traz uma boa representação ao DV.

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Enfim, pôde-se perceber, pelas interpretações conferidas pelas pessoas cegas, que

certas representações gráficas, que a visão nos permite considerar extremamente simples e

evidentes, podem ser também facilmente reconhecidas por pessoas cegas devido a uma série

de fatores mencionados no decorrer desse artigo. A facilidade ou não de interpretar as

representações vai depender além das instruções orais de um vidente, vai depender também

bastante da experiência de vida de cada pessoa cega.

Conclusões

O desenvolvimento deste trabalho é relevante visto que se trata de um tema pouco

explorado, tanto no contexto científico quanto na prática, e há uma grande necessidade na

produção deste tipo de material para ajuda aos portadores de deficiência visual.

O insucesso que acontece ou vier acontecer por parte da interpretação dos relevos

táteis por parte dos DV’s, não está na sua incapacidade de definição do sistema tátil, como

reconhecer ou não figuras e mapas em relevo, mas sim no fato de que aos sujeitos cegos ou

com baixa visão não tem sido permitido o acesso aos padrões bidimensionais (desenhos em

relevo) com a mesma frequência que as pessoas que enxergam. Além disso, esses padrões,

quando oferecidos, não são adequadamente ensinados àqueles indivíduos; e os desenhos em

relevo são produzidos como transcrição da imagem visual para o registro tangível,

desconsiderando-se modalidades específicas do sistema háptico e da transcrição pictórica

capturada por esse sentido.

Os materiais em relevo tátil, além de um importante recurso didático, são instrumentos

que oferecem novas vivências e experiências à pessoa com deficiência visual e contribuem

para que o processo de inclusão social e educacional realmente aconteça. Pois o processo de

ensino aprendizagem passa a ocorrer com maior segurança e autonomia.

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