39
UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO Ricardo Luiz Marcello A PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA COMO FERRAMENTA DE ABORDAGEM DE VENDAS POR TELEFONE EM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS São Paulo – SP 2016

A PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA COMO … · Milton Erickson (psiquiatra reconhecido por utilizar a hipnose aplicada à psicoterapia). Ao analisarem o material gravado de pacientes

  • Upload
    vandieu

  • View
    219

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO

Ricardo Luiz Marcello

A PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA

COMO FERRAMENTA DE ABORDAGEM DE

VENDAS POR TELEFONE EM INSTITUIÇÕES

FINANCEIRAS

São Paulo – SP

2016

ii

Ricardo Luiz Marcello

A PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA

COMO FERRAMENTA DE ABORDAGEM DE

VENDAS POR TELEFONE EM INSTITUIÇÕES

FINANCEIRAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para

conclusão do curso de Pós-graduação MBA em

Negociação e Vendas pela Universidade Nove de

Julho – UNINOVE.

Área de Concentração: Administração.

Orientadora: Profª Melissa Mandaloufas

São Paulo – SP

2016

iii

RICARDO LUIZ MARCELLO

A PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA COMO FERRAMENTA DE

ABORDAGEM DE VENDAS POR TELEFONE EM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para

conclusão do curso de Pós-graduação MBA em

Vendas e Negociação pela Universidade Nove de

Julho – UNINOVE.

Área de Concentração: Administração.

Orientadora: Profª Melissa Mandaloufas

Data: _________________________________

Resultado: _____________________________

BANCA EXAMINADORA

Prof._______________________________ Universidade: ___________________

Assinatura______________________________

Prof._______________________________ Universidade: ___________________

Assinatura______________________________

Prof._______________________________ Universidade: ___________________

Assinatura______________________________

iv

AGRADECIMENTOS

Ao Pai Celestial, por iluminar minha jornada rumo à sabedoria;

À minha esposa Elaine, por todo o amor, paciência, amizade, compreensão, ajuda e

apoio para realizar este trabalho, mesmo grávida de nossa filha Mariana, que

nasceu enquanto eu concluía a versão final do texto;

À minha mãe Angela, pelo amor, paciência, por me proporcionar um lar harmonioso

e completo, além de todo o sacrifício que só o amor maternal consegue explicar;

Ao meu pai Marcello, pelo amor, amizade e apoio incondicional para todas as

minhas necessidades materiais e psicológicas;

Ao meu irmão Denis, pelo amor, companheirismo e amizade fraterna;

À minha avó Ileana, que sempre foi meu referencial de humildade e nobreza de

caráter;

À minha sogra Angélica, pelas maravilhosas sobremesas e por todo o carinho;

À Profª Melissa Mandaloufas, pelo interesse com que recebeu minha o tema da

pesquisa e pela dedicação que desprendeu na orientação deste trabalho;

À minha terapeuta Mirtes, por todo o suporte psicológico nos momentos de maior

aflição;

À minha sócia Iraci, pela paciência nos momentos em que tive que me dedicar a

este trabalho;

Ao Banco do Brasil, pelo subsídio fornecido por meio da bolsa de estudos para esta

pós-graduação;

v

A todos os meus professores, por compartilharem seus conhecimentos comigo,

possibilitando mais esta vitória em minha vida;

Aos meus colegas de curso, companheiros de jornada, por todos os ensinamentos

provenientes de nossa convivência;

A todas as outras pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para mais esta

formação acadêmica:

Meu reconhecimento e meus sinceros agradecimentos.

vi

“Ninar um bebê

até o sono chegar

Conduzir uma vida

para o seu despertar”

vii

MARCELLO, R. A Programação Neurolinguística como ferramenta de

abordagem de vendas por telefone em instituições financeiras. 2016. 35f.

Trabalho de Conclusão de Curso (MBA em Negociação e Vendas) - Universidade

Nove de Julho, São Paulo.

RESUMO

Este trabalho discute como algumas técnicas e pressupostos da Programação

Neurolinguística (PNL) podem auxiliar vendedores e gerentes de relacionamento de

instituições financeiras no trabalho de abordagem de clientes ao telefone. Por meio

de revisão bibliográfica da literatura disponível sobre o tema, traz o pensamento dos

principais autores da área e também pesquisas relacionadas à utilização da PNL no

contexto de vendas. Ao final, propõe-se um modelo de treinamento que pode ser

usado por instituições financeiras para capacitar gerentes de relacionamento ou

outros profissionais da área de vendas a utilizarem as técnicas relacionadas em

abordagens de venda ao telefone.

Palavras-chave: Programação Neurolinguística, rapport, sistemas

representacionais, submodalidades, vendas, vendas por telefone, telemarketing,

marketing de relacionamento.

viii

MARCELLO, R. Neuro-linguistic Programming as approach tool in financial

instituion telephone selling context. 2016. 35p. Conclusion Course Work (MBA

Negociation and Selling) - Nove de Julho University, Sao Paulo, Brazil.

ABSTRACT

This work discusses how some of Neuro-linguistic Programming (NLP) techniques

and assumptions can help sellers and financial institutions relationship managers in

customer approach work on the phone. Through literature review of the available

works on the subject, brings the thought of the principal authors of the area and also

research related to the use of NLP in sales context. Finally, we propose a training

model that can be used by financial institutions to empower relationship managers or

other sales professionals to use the related techniques in sales approaches the

phone.

Keywords: Neuro-linguistic programming, rapport, representational systems,

submodalities, selling, telephone selling, telemarketing, relationship marketing.

ix

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Sistemas Representacionais ......................................................... 18

Figura 2- Fatores que influenciam a interpretação da comunicação .......... 26

x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Palavras Predicadas......................................................................... 19

Tabela 2- Frases Predicadas........................................................................... 20

Tabela 3- Relação de Submodalidades ........................................................... 22

xi

SUMÁRIO

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ....................................................................... 12

1.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 12

1.2 O PROBLEMA ................................................................................................. 13

1.3 OBJETIVO GERAL ........................................................................................... 14

1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................... 14

1.5 JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 14

1.6 METODOLOGIA ................................................................................................. 15

2. CONCEITOS ......................................................................................... 16

2.1 O QUE É A PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA ....................................... 16

2.2 CONCEITOS DE PNL QUE PODEM SER APLICADOS ÀS VENDAS ....... 18

2.2.1 Os sistemas representacionais ............................................................. 18

2.2.2 Submodalidades .................................................................................. 21

2.2.3 O rapport ............................................................................................. 24

2.2.4 O rapport em abordagens de venda por telefone.................................... 27

3. PROPOSTA DE TREINAMENTO PARA GERENTES DE RELACIONAMENTO 30

3.1 NOME ..................................................................................................... 30

3.2 JUSTIFICATIVA ....................................................................................... 30

3.3 OBJETIVO GERAL .................................................................................. 31

3.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................... 31

3.5 PÚBLICO-ALVO ..................................................................................... 31

3.6 DURAÇÃO ............................................................................................. 32

3.7 MATERIAIS ............................................................................................ 32

3.8 CONTEÚDO, PROCEDIMENTOS E TEMPO ESTIMADO ........................... 32

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 34

REFERÊNCIAS ............................................................................................ 36

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ..................................................................... 38

12

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1.1 INTRODUÇÃO

Atualmente, os bancos passam por um movimento rumo à digitalização

dos serviços, onde solicitações que só podiam ser feitas em agências estão sendo

migradas para ambientes digitais. Isso representa uma mudança na forma como

gerentes de relacionamento atendem seus clientes nas agências, pois alguns

clientes passam a ter acesso ao gerente de sua conta exclusivamente por meios

não-presenciais. Há impacto também na forma de trabalho dos funcionários, que

antes atendiam aos clientes de forma presencial e passam a fazê-lo com mais

intensidade pelo telefone, com uso de headsets – aparelhos com fone de ouvido e

um microfone, comuns no telemarketing. Dada a constante e crescente necessidade

de incremento de vendas das instituições financeiras, devido ao aumento da

concorrência, a prospecção de negócios por telefone passou a ser uma das

principais tarefas dos Gerentes de Relacionamento, cuja performance é estritamente

acompanhada por meio de regimes de metas (FREITAS, 2016).

Teixeira (2010) pesquisou a eficiência de “mesas de crédito” formadas

para oferta de empréstimos pessoais a clientes “pessoas físicas” de um banco

público brasileiro, em uma agência da região metropolitana de Porto Alegre (RS).

Segundo a autora, as mesas de crédito consistem na reunião de funcionários de

diferentes cargos (gerentes de relacionamento, assistentes de negócios e

escriturários), pertencentes a uma mesma agência, para ofertarem empréstimos

pessoais aos clientes, por meio de abordagens telefônicas. A pesquisa apontou uma

grande eficiência desta estratégia de venda, que respondeu por cerca de 85% das

vendas concretizadas para o produto no período apurado. No entanto, funcionários

entrevistados admitiram carecer de técnicas de abordagem ao cliente para lograr

mais êxito na tarefa de prospecção de vendas ao telefone.

Neste contexto, as habilidades interpessoais dos gerentes, na qualidade

de vendedores, podem ser determinantes para negociações bem-sucedidas. Sendo

a Programação Neurolinguística (PNL) uma das mais conhecidas ferramentas para

13

treinamento em vendas, algumas empresas investem grandes somas em cursos

sobre este assunto para seus funcionários, com objetivo de melhorar suas

habilidades quanto à flexibilidade pessoal, percepção de emoções e empatia, entre

outras. Contudo, ainda há poucos trabalhos acadêmicos que analisam sua

aplicabilidade e eficiência no contexto de negócios (BORG; FREYTAG, 2010).

Apesar de a Programação Neurolinguística ter sido desenvolvida para uso

em psicoterapia, suas técnicas e conceitos podem também ser usados por outros

profissionais da comunicação, como professores, palestrantes, gerentes de recursos

humanos, treinadores, vendedores, entre outros (O’CONNOR; SEYMOUR, 1995;

DILTS; DeLOZIER, 2000).

Este trabalho visa explorar conceitos de Programação Neurolinguística

que podem ser aplicados a este contexto específico de vendas por telefone.

No primeiro capítulo, serão apresentados o problema, objetivo geral e

objetivos específicos, justificativa e metodologia de pesquisa. O segundo capítulo

trará os conceitos que fundamentam o trabalho e relacionam a Programação

Neurolinguística ao contexto de vendas por telefone. O terceiro capítulo contém uma

proposta de treinamento em Programação Neurolinguística para Gerentes de

Relacionamento. O último capítulo traz as considerações finais do trabalho.

1.2 O PROBLEMA

Como gerentes de relacionamento de instituições financeiras podem

conseguir abordagens mais assertivas de vendas ao telefone?

14

1.3 OBJETIVO GERAL

Explorar a aplicação e conceitos de técnicas de Programação

Neurolinguística de forma a alavancar as vendas ao telefone por gerentes de

relacionamento em instituições financeiras.

1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Conceituar a Programação Neurolinguística (PNL);

• Elencar e conceituar as técnicas de PNL passíveis de serem

utilizadas em vendas;

• Discutir a utilização da técnica rapport nas vendas por telefone;

• Proposição de modelo de treinamento para Gerentes de

Relacionamento.

1.5 JUSTIFICATIVA

As técnicas de Programação Neurolinguística surgiram de observações

de profissionais atuando principalmente em contexto psicoterapêutico e se propõem

a auxiliar outros profissionais do ramo que desejam técnicas para iniciar tratamentos

com mais assertividade.

No entanto, estas técnicas aplicam-se também a outras áreas, como

educação, esportes, vendas e administração.

No Brasil, a PNL chegou apenas no final da década de 1970, por meio de

obras traduzidas por editoras voltadas às áreas da medicina e da psicologia (como

Guanabara Koogan e Summus). Somente na década de 1990 que o assunto ganhou

mais popularidade, por meio de “best-sellers” de escritores como Anthony Robbins e

Lair Ribeiro (AZEVEDO, 2006).

15

O assunto foi ainda pouco explorado em trabalhos acadêmicos (WOOD,

2006). Mesmo sendo uma pesquisa de revisão literária, espera-se que o presente

trabalho ajude a preencher esta lacuna e contribua com diretrizes contemporâneas

para a área de vendas e administração.

Espera-se, também, auxiliar o trabalho diário de gerentes de

relacionamento e outros profissionais da área de vendas, em seus papéis de

apresentar aos clientes novas possibilidades e escolhas, de forma ética, por meio de

abordagens mais eficientes e assertivas ao telefone.

1.6 METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, que consiste em

uma proposição de planos, visando apresentar, por meio de revisão bibliográfica de

publicações que tratam sobre a Programação Neurolinguística, uma solução para a

problemática da abordagem de vendas por telefone em instituições financeiras, com

a proposição de um modelo de treinamento para Gerentes de Relacionamento.

16

CAPÍTULO 2 - CONCEITOS

2.1 O QUE É A PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA

De acordo com O’Connor, Seymour (1995) e Spritzer (1993), a

Programação Neurolinguística nasceu nos Estados Unidos, no início da década de

1970, a partir das pesquisas de dois americanos – Richard Bandler e John Grinder –

sobre tratamentos psicoterápicos bem-sucedidos.

Na época, Grinder era professor-assistente do Departamento de

Linguística na Universidade da Califórnia, em Santa Cruz. Especializou-se em

sintaxe e na teoria da gramática transformacional de Noam Chomsky. O interesse de

suas pesquisas estava voltado para revelar a linguagem do pensamento e da ação,

tanto em nível verbal quanto corporal. Entendia a mente humana como um conjunto

de programas ali inseridos, capturados por meio dos órgãos sensoriais. Já Bandler

era matemático, estudou psicologia na pós-graduação e especializou-se em

computação também na Universidade da Califórnia. Pesquisava elementos que

embasassem sua teoria de que o cérebro humano funcionava de forma semelhante

à de um computador. Quando descobriram a semelhança de seus interesses

acadêmicos, juntaram-se com o intuito de desenvolver uma “linguagem da mudança”

(ANDREAS; FAULKNER, 1995; O’CONNOR; SEYMOUR, 1995).

Bandler e Grinder estudaram as obras de Noam Chomsky (criador da

gramática generativa transformacional) e Gregory Bateson (pensador sistêmico e

epistemólogo da comunicação). Realizaram também gravações em áudio e vídeo de

sessões de terapia de profissionais de renome, como Fritz Perls (psicoterapeuta e

fundador da “Gestalt-terapia”), Virginia Satir (psicoterapeuta conhecida por sua

abordagem de terapia familiar e por seu trabalho com constelações sistêmicas) e

Milton Erickson (psiquiatra reconhecido por utilizar a hipnose aplicada à

psicoterapia). Ao analisarem o material gravado de pacientes que obtiveram

mudanças consistentes em seus tratamentos, identificaram padrões, técnicas e

pressupostos recorrentes nas abordagens daqueles profissionais, passíveis de

serem descritos e sistematizados (SATIR apud BANDLER; GRINDER, 1977).

17

Bandler e Grinder reconhecem que não tiveram a intenção de fornecer

“receitas prontas” para os tratamentos psicoterápicos, devido à notória complexidade

do ser humano. Seu intuito foi justamente propor abordagens iniciais com base nos

padrões observados, para que outros profissionais também pudessem alcançar

sucesso em suas intervenções terapêuticas (BANDLER; GRINDER, 1977).

Em meados da década de 1970, Grinder e Bandler reuniram-se para

compilar as descobertas de suas pesquisas e chegaram ao nome que hoje

conhecemos: “Programação Neurolinguística”, expressão que compreende a reunião

de três conceitos: “programação”, “neuro” e “linguística” (O’CONNOR; SEYMOUR,

1995).

O termo “programação”, geralmente associado à informática, pressupõe

uma comparação entre a mente humana e o funcionamento de um computador,

sugerindo a possibilidade de o ser humano assumir o controle de seus pensamentos

por meio da organização da linguagem. A palavra “neuro” está associada ao sistema

nervoso e aos processos mentais, ou seja, ao centro de processamento das

informações captadas pelos órgãos sensoriais (visão, audição, olfato, paladar e

tato). A palavra “linguística” refere-se à capacidade humana de se comunicar por

meio da linguagem – tanto verbal quanto não-verbal, bem como à atividade mental

traduzida em pensamentos. Linguagem e sistema nervoso estão intimamente

conectados em um sistema onde um influencia o outro de modo recíproco

(ANDREAS; FAULKNER, 1995; O’CONNOR; SEYMOUR, 1995; DILTS; EPSTEIN,

1999).

Em suma, com base nas definições apresentadas e buscando uma

conceituação histórica para a “Programação Neurolinguística” (PNL) de Grinder e

Bandler, podemos defini-la como uma compilação de estudos sobre comunicação e

princípios de Psicologia, observados a partir da prática empírica de profissionais da

área, com o objetivo de transmiti-los a quem os queira aprender (O’CONNOR;

SEYMOUR, 1995; CRAFT, 2001; TOSEY; MATHISON, 2003; ROBBINS, 2001).

2.2 CONCEITOS DE PNL QUE PODEM SER APLICADOS ÀS VENDAS

18

2.2.1 Os sistemas representacionais

Os cinco sentidos (visão, audição, tato, paladar e olfato) são as portas da

percepção, pelas quais o ser humano apreende as informações do mundo à sua

volta. Após serem capturados pelos órgãos sensoriais, os estímulos passam por

filtros neurológicos baseados em crenças, interesses e preocupações de cada

indivíduo, que consistem em sua subjetividade. A informação que chega à mente

consciente é, portanto, uma representação interna dos estímulos previamente

capturados e processados pelo sistema nervoso. A este conjunto formado pelos

órgãos sensoriais e pelo sistema neurológico subjetivo de cada pessoa dá-se o

nome de “sistema representacional” (O’CONNOR; SEYMOUR, 1995).

A Figura 1 apresenta uma síntese do processo descrito no parágrafo

anterior.

Figura 1 – Sistemas Representacionais (JORGE, 2016)

Há três sistemas representacionais básicos: o visual, o auditivo e o

cinestésico. No sistema cinestésico estão incluídos os sistemas tátil, olfativo e

19

gustativo; também as emoções, a sensação interna de equilíbrio e de consciência

corporal (O’CONNOR; SEYMOUR, 1995).

Dilts; Epstein (1999) explicam que as pessoas costumam ter um sistema

representacional mais valorizado ou preferido para determinadas tarefas e

contextos, que pode ser o visual, o auditivo ou o cinestésico. É o que Robbins (2001)

chama de “sistema representativo primário”, utilizado para a comunicação e

expressão, assimilação de novos conteúdos, fundamentação da memória, entre

outras atividades cognitivas. É algo semelhante à dominância motora dos lados

direito e esquerdo, que diferencia destros de canhotos.

O sistema representacional primário estará evidenciado em palavras ou

expressões que o indivíduo utiliza em seu discurso – os chamados “predicados

verbais” (O’CONNOR, 2003; O’CONNOR; SEYMOUR, 1995).

A tabela 1 traz exemplos de palavras predicadas, relacionadas conforme

o respectivo sistema representacional.

Tabela 1 – Palavras Predicadas (DILTS; EPSTEIN, 1999)

VISUAL AUDITIVO CINESTÉSICO

Ver Ouvir Pegar

Olhar Escutar Tocar

Visão Som Sentimento

Claro Ressoante Sólido

Brilhante Alto Pesado

Imagem Palavra Lidar

Obscuro Barulhento Áspero

Esclarecer Toca um sino Associar

Mostrar Dizer Mover

Quando se trata de expressões verbais relacionadas aos sistemas

representacionais, Robbins (2001) utiliza a terminologia “frases predicadas” e as

define como palavras de processo (verbos, advérbios, adjetivos) ou metáforas

utilizadas pelas pessoas em sua oralidade para representarem suas experiências

interiores.

20

A tabela abaixo traz exemplos de frases predicadas, associadas aos

respectivos sistemas representacionais.

Tabela 2 – Frases Predicadas (ROBBINS, 2001)

VISUAL (VÊ) AUDITIVA (OUVE) CINESTÉSICO (SENTE)

À luz de Alto e claro Afiado como um prego

Às claras Bem informado Aguentar firme

Bem definido Claramente expresso Assim, assim

Bonita como uma pintura Conversa mole Cabeça fresca

Coisa bem diferente Dar conta de Cabeça quente

Colírio para os olhos Declare sua intenção Carne de pescoço

Dar uma olhada Dentro do alcance da voz Começar do nada

Deixe claro Descrito em detalhe Controle-se

Embaixo de seu nariz Deu uma opinião Convencido

Em pessoa Dizer a verdade De pernas para o ar

Em vista de Dobre a língua Discussão acalorada

Exibindo-se Expressar-se Dissimuladamente

Fechada Falar com franqueza Entrou em contato com

Fez uma cena Garantir uma audiência Escapou-me da mente

Ideia obscura Investigar Estar nas nuvens

Imagem mental Língua amarrada Ficar enfurecido

Lampejou sobre Linguaruda Firme-se

Memória fotográfica Maneira de dizer Frio/ calmo/ controlado

Olhar vago Mensagem escondida Fundamentos firmes

Olho da mente Não ouvindo Know-how

Olho fixo Nítido como um sino Vinho de mesa

Olho nu Ouça-me Lutar corpo a corpo

Olho por olho Ouvir vozes Mantenha a calma

Parece-se com Palavra por palavra Manter o controle

Parece para mim Poder da palavra Mãos dadas

Perceber de relance Porta-voz Momento de pânico

Pintar um retrato Preste atenção Não o estou

acompanhando

21

Retrato mental Reclamar Operador suave

Sem sombra de dúvida Reflexão tardia Pegar o rumo de

Ter uma perspectiva

sobre

Reprimenda Pendure lá

Ter uma oportunidade de Ronronar como um

gatinho

Pôr as cartas na mesa

Veja isso Sessão de batidas Por baixo do pano

Vista curta Sintonizado/ não

sintonizado

Puxar as cordas

Vista de pássaro Tagarela Resumir

Visão de túnel Toca um sino Segure-o

Visão escura Totalmente Ter um peso

2.2.2 SUBMODALIDADES

Robbins (2001) utiliza o termo “modalidade” para se referir aos “sistemas

representacionais” ou “sistemas representativos”. Por exemplo, ao descrever um

músico trabalhando para transcrever os sons de uma canção em partitura, pode-se

dizer que ele está utilizando a modalidade auditiva para fazer distinções sutis entre a

frequência e a duração das notas, além das modalidades “visual” e “cinestésica”

para escrever os símbolos gráficos no papel.

Cada sistema representacional possui nuances que podem ser captadas

pelo respectivo órgão sensorial e representam um detalhamento para a percepção.

São distinções finas, chamadas “submodalidades” (DILTS;EPSTEIN, 1999).

Para O’Connor; Seymour (1995), submodalidades são os blocos de

construção dos sentidos, ou seja, as características que formam as imagens, sons

ou sensações.

Robbins (2001) apresenta, na tabela 3, uma relação de submodalidades

possíveis para cada sistema representacional.

Tabela 3 – Relação de Submodalidades (ROBBINS, 2001)

22

Visual

1. Composições móveis ou paradas

2. Panorama ou enquadrada (se enquadrada, o formato do quadro)

3. Colorido ou preto e branco

4. Brilho

5. Tamanho da imagem (tamanho natural, maior ou menor)

6. Tamanho do objeto(s) central(is)

7. A pessoa fora ou dentro da imagem

8. Distância da imagem para a pessoa

9. Distância do objeto central para a pessoa

10. Qualidade de tridimensionalidade

11. Intensidade do colorido (ou preto e branco)

12. Grau de contraste

13. Movimento (se tiver: rápido ou lento)

14. Foco (quais as partes – dentro ou fora)

15. Foco intermitente ou fixo

16. De que ângulo é visto

17. Número de imagens (cenas)

18. Localização

19. Outra?

Auditiva

1. Volume

2. Cadência (interrupções, agrupamentos)

3. Ritmo (regular, irregular)

4. Inflexões (palavras realçadas, como)

5. Tempo

6. Pausas

7. Tonalidades

8. Timbre (qualidade, de onde ressoa)

9. Singularidade do som (áspero, suave e outros)

10. Som move-se em volta – espacial

11. Localização

23

12. Outro?

Cinestésico

1. Temperatura

2. Textura

3. Vibração

4. Pressão

5. Movimento

6. Duração

7. Constante – Intermitente

8. Intensidade

9. Peso

10. Densidade

11. Localização

12. Outro?

As submodalidades podem ser notadas no discurso de quem fala,

geralmente em frases descritivas, metafóricas ou construídas a partir de sua

subjetividade. Assim, acabam sendo um indício de qual sistema representacional a

pessoa está utilizando naquele momento para se expressar (O’CONNOR;

SEYMOUR, 1995).

Wood (2006) realizou uma pesquisa para verificar a possibilidade de

classificar pessoas conforme seus sistemas representacionais primários, por meio

da análise das palavras que utilizaram para se expressar. No estudo, foram feitas

perguntas abertas a um grupo de indivíduos, sobre experiências recentes de compra

nas quais houve interações com vendedores. Solicitou-se, também, que

descrevessem uma experiência negativa e outra positiva que envolvesse a compra

de algum item de valor mais substancial. Foram também realizadas perguntas a

respeito das observações e sentimentos, além de serem solicitadas avaliações dos

vendedores envolvidos nas experiências. As respostas foram gravadas, transcritas e

tabuladas. O conteúdo coletado revelou que era possível identificar o sistema

representacional primário de 48 dos 58 participantes, apenas pelo agrupamento das

palavras predicadas utilizadas.

24

Ainda a respeito da experiência descrita no parágrafo anterior, foi também

possível identificar que cerca de 20 indivíduos referiram-se à “roupa” ou ao

“vestuário” dos vendedores ao narrarem suas experiências; 17 participantes

referiram-se ao “sorriso” do vendedor e 14 participantes citaram o “ritmo da

abordagem”. De forma bastante significativa, foi possível estabelecer uma

significativa relação entre o sistema representacional primário dos participantes e os

aspectos não-verbais dos vendedores. Assim, identificou-se que os participantes

“visuais” citaram observações sobre a “roupa” ou o “vestuário” dos vendedores; os

participantes “auditivos” citaram o “sorriso” e os “cinestésicos” apontaram o “ritmo da

abordagem”.

Ao transportarmos esta teoria para o contexto de vendas, deduzimos que

as palavras do cliente revelam não apenas o que ele pensa, mas como ele pensa.

Assim, podemos deduzir seu sistema representacional primário a partir das

submodalidades identificadas em seu discurso. Em posse desta informação, será

mais fácil adequar a apresentação de vendas à linguagem do cliente, de uma

maneira que facilite a compreensão e a sintonia de ambas as partes. Isto será o

princípio discutido no próximo tópico, que trata sobre o rapport.

2.2.3 O Rapport

Segundo Avolio; Faury (2009), a palavra rapport tem origem francesa e

deriva do verbo “rapporter”, que poderia literalmente ser traduzida como “trazer de

volta, reconduzir”. A palavra é formada por “RE”, que significa “de volta”, e

“APPORTER”, que significa “trazer”.

O’Connor (2003) utiliza o termo rapport para se referir à qualidade de um

relacionamento interpessoal onde há influência e respeito mútuo entre as pessoas.

Consiste em assumir a posição da outra pessoa, com pré-disposição em

compreendê-la a partir do ponto de vista dela. Para Robbins (2001), rapport seria o

vínculo mágico que une as pessoas e as faz sentirem-se como parceiros.

A observação de pessoas interagindo em estado de rapport foi

pesquisada por William Condon em 1960, conforme Key (1980). Na época, Condon

25

realizou filmagens de pessoas conversando e decompôs os vídeos em pequenos

fragmentos, reproduzindo-os em câmera lenta. Verificou que havia diversas

similaridades entre os comportamentos verbais e não-verbais das pessoas: os

gestos eram harmônicos e tendiam a se imitarem; o ritmo da conversação se

ajustava em um ponto similar para ambos; volume e tom se equilibravam, bem como

a velocidade da fala (o número de sons de fala por segundo). Havia harmonia

também entre o período de tempo que passava entre o momento em que uma

pessoa parava de falar e a outra começava. Em suma, a pesquisa mostrou que a

interação entre duas pessoas tende à simetria e nomeou tais semelhanças de

“micro-ritmos culturais”.

Os criadores da PNL, Grinder; Bandler (1984), corroboram a tese de

Condon ao explicarem que duas pessoas em rapport estão ligadas uma à outra por

uma espécie de “laço inconsciente de biofeedback”, com equiparação dos

comportamentos verbal e não verbal dos interlocutores.

Grinder e Bandler, durante o processo de fundamentação dos

pressupostos da Programação Neurolinguística, notaram que o rapport era algo

consistentemente notado nos encontros terapêuticos entre pacientes e os

profissionais estudados. Sugeriram, então, a possibilidade de se estabelecer o

rapport de forma intencional, por meio da técnica do “espelhamento” (GRINDER;

BANDLER, 1984).

O espelhamento consiste em buscar uma fisiologia comum com o

interlocutor, assemelhando aspectos verbais e não-verbais da comunicação, como

por exemplo: respiração, postura, tonalidade e volume vocal, gestos, pausas, modo

de olhar, posição da cabeça, movimentos dos pés, expressões faciais, localização

dos membros do corpo, e qualquer outro detalhe que puder ser observado na outra

pessoa. A habilidade em espelhar a fisiologia do interlocutor exige observação e

flexibilidade pessoal. A qualidade do rapport, portanto, estará relacionada à

capacidade de observação e da flexibilidade pessoal de se adaptar ao

comportamento do outro (ROBBINS, 2001).

A importância dos aspectos não-verbais da comunicação foi pesquisada

por Mehrabian, Ferris (1967). Os autores realizaram pesquisas com grupos de

pessoas, a quem foram apresentadas frases ou palavras ditas com diferentes

tonalidades de voz e com diferentes posturas e movimentos corporais. Em seguida,

solicitou-se aos participantes que falassem sobre o que entenderam das

26

mensagens. Verificou-se que alterações nos aspectos não-verbais geravam

alterações na interpretação do conteúdo transmitido. Concluíram, assim, que a

retenção e o significado da comunicação sofrem influências de acordo com o

conteúdo, linguagem corporal e tom de voz, na proporção apresentada na figura

abaixo.

Figura 2 – Fatores que influenciam a interpretação da comunicação (O’CONNOR;

SEYMOUR, 1995)

Os três fatores da comunicação – linguagem corporal, tom de voz e

palavras – devem, portanto, ser contemplados no processo de espelhamento para

construção de rapport em qualquer tipo de relacionamento interpessoal

(O’CONNOR; PRIOR, 1997).

O’Connor (2003) esclarece que pode haver diferentes graus de rapport na

interação entre duas pessoas, sendo, portanto, uma característica gradual e não

absoluta. O autor também afirma que não é necessário existir vínculo de amizade

em um relacionamento para que se perceba o rapport.

A equiparação dos aspectos verbais e não-verbais da outra pessoa deve

ser realizada com sensibilidade e de maneira respeitosa, pois a imitação evidente

27

pode ser considerada ofensiva em algumas culturas (O’CONNOR; SEYMOUR,

1995).

Para se evitar a imitação literal dos comportamentos verbais e não-

verbais do interlocutor, sem prejuízo da qualidade do rapport, admite-se utilizar a

técnica do “espelhamento cruzado”. Consiste em equiparar alguns movimentos da

outra pessoa com outros padrões de comportamento, mantendo-se características

inerentes, como o ritmo, a frequência, a intensidade ou a direção. Por exemplo, o

ritmo da fala pode ser espelhado com movimentos leves de cabeça e gestos podem

ser equiparados com movimentos de sobrancelha (O’CONNOR; SEYMOUR, 1995).

2.2.4 O RAPPORT EM ABORDAGENS DE VENDA POR TELEFONE

Dilts e DeLozier (2000, apud BORG; FREYTAG, 2010) afirmam que,

durante o processo de venda, uma negociação bem-sucedida geralmente ocorre

quando o vendedor dispõe de conhecimento pessoal e de técnicas de relação

interpessoal para conduzir o diálogo até o fechamento.

As empresas têm utilizado o telefone para prospecção e efetivação de

vendas de produtos que não justifiquem visitas pessoais, devido a vantagens como

redução de gastos e flexibilidade para contatar um número maior de clientes do que

se consegue com abordagens presenciais (VIEIRA, 2015).

Com relação aos bancos e instituições financeiras, Piovesana (2016)

aborda o processo de digitalização dos serviços financeiros, como consequência

natural da evolução tecnológica e da crescente procura dos clientes aos meios

alternativos de pagamento, em detrimento dos canais presenciais tradicionais.

Isso levou o setor bancário a criar ambientes digitais para atender à nova

demanda dos clientes, gerando impacto também no modelo de atendimento em

agências. O modelo “digital” de atendimento prevê Gerentes de Relacionamento

atendendo seus clientes em plataformas digitais – pela internet ou telefone – com

redução do contato presencial. Por esta razão, a prospecção de negócios por

telefone passou a ser uma das principais tarefas destes profissionais, cuja

28

performance de vendas é estritamente acompanhada por meio de regime de metas

(FREITAS, 2016).

O’Connor; Prior (1997) discutem a importância de se estabelecer

objetivos claros para aumento da assertividade no contato telefônico. Vender para

um cliente conhecido geralmente é mais fácil do que iniciar um processo de

prospecção de vendas com um desconhecido, pelo pré-existência de pontos em

comum, histórico de conversas e fatos a compartilhar. Assim, vender ao telefone

pode representar um desafio se imaginarmos que os recursos de comunicação

estão limitados ao sistema representacional auditivo – a voz e as palavras – para

criar uma primeira impressão positiva e gerar credibilidade. Afinal, nesta modalidade

de vendas, não temos acesso à linguagem corporal do cliente, seus gestos ou

expressões faciais.

Teixeira (2010) pesquisou o uso das “mesas de crédito” para oferta de

empréstimos financeiros a clientes em um banco brasileiro, com abordagem

integralmente telefônica. Identificou uma carência, por parte dos funcionários, de

técnicas para iniciar o contato com o cliente e estabelecer uma conversação

assertiva, com foco no fechamento dos negócios.

Revisando a literatura sobre PNL, encontramos recorrência dos autores

em citarem uma técnica conhecida como “rapport”, que facilitaria a interação

interpessoal, principalmente para se iniciar um diálogo outra pessoa. Destarte,

poderia também auxiliar os gerentes a facilitar o trabalho de abordagem aos clientes,

principalmente em ligações telefônicas, conforme pesquisa de Teixeira (2010).

É por meio do rapport que se estabelece uma atmosfera de confiança e

de participação, na qual as pessoas podem reagir livremente, seja no campo da

educação, da terapia, do aconselhamento, no mundo profissional, de vendas ou de

treinamento (O’CONNOR; SEYMOUR, 1995).

A técnica do rapport pode então representar um grande diferencial

durante o contato telefônico. Assim, para equiparar o comportamento do cliente ao

telefone, o vendedor deverá levar em consideração aspectos exclusivos do sistema

representacional auditivo e suas respectivas submodalidades, como volume de voz,

ritmo de fala, tonalidade e timbre (ROBBINS, 2001; O’CONNOR, 2003).

As palavras ditas por nosso interlocutor também podem servir de fonte

para o espelhamento. Pode-se identificar palavras-chave, jargões e os predicados

verbais utilizados pela pessoa, que evidenciarão qual sistema representacional está

29

acessando naquele contato. Uma vez identificado, pode-se estabelecer o rapport por

meio do espelhamento destes aspectos verbais e não-verbais relacionados ao

sistema representacional auditivo (O’CONNOR; PRIOR, 1997; ROBBINS, 2001;

O’CONNOR, 2003; DILTS; EPSTEIN, 1999).

O’Connor, Prior (1997) sugerem adicionalmente mais quatro orientações

a vendedores, para se estabelecer um bom rapport ao telefone:

• Criar uma imagem mental do cliente, sem se importar se esta imagem

corresponde à realidade. O objetivo desta técnica é gerar a sensação de que se está

em um contato presencial, com gestos, contato visual e expressões faciais oriundas

das emoções que porventura surjam no diálogo;

• Eliminar o diálogo interno mental. A intenção é manter o foco de

atenção no interlocutor que está do outro lado da linha, para que o espelhamento

seja mais efetivo;

• Manter-se atento ao próprio estado emocional, pois fazer diversas

ligações em um mesmo dia pode ser estafante. O cliente pode, eventualmente,

perceber o cansaço ou o tédio na voz de quem fala e ter uma sensação negativa

com a ligação.

• Fazer resumos periódicos da conversa: conforme a conversa se

desenvolve, pode ser que em algum momento surja um ponto obscuro. Neste caso,

pode ser útil recapitular o que a outra pessoa disse, utilizando e enfatizando as

mesmas palavras-chave que ela utilizou, e assim certificar-se de que está havendo

um bom entendimento das necessidades ou dúvidas do outro.

Para encerrar uma conversa telefônica com elegância e naturalidade,

pode-se recorrer ao reverso da técnica do espelhamento: desassemelhar os

aspectos vocais. Isso pode ser feito aumentando intencionalmente a velocidade de

fala e intensidade da voz de modo a criar uma leve ruptura no rapport e assim, de

forma não-verbal, demonstrar à outra parte que o diálogo está se encerrando

(O’CONNOR; PRIOR, 1997).

30

CAPÍTULO 3 – PROPOSTA DE TREINAMENTO PARA GERENTES DE

RELACIONAMENTO

A partir dos conceitos apresentados no capítulo anterior, relacionados à

Programação Neurolinguística, como proposição de solução para o problema

identificado por Teixeira (2010) em sua pesquisa sobre mesas de crédito, já relatada

neste trabalho, apresentamos a Proposta de Treinamento para Gerentes de

Relacionamento a seguir.

3.1 NOME

“Treinamento em Programação Neurolinguística (PNL) aplicada à venda

por telefone”

3.2 JUSTIFICATIVA

Por que um banco deveria proporcionar aos gerentes de relacionamento

um treinamento baseado na Programação Neurolinguística?

Borg; Freytag (2010) procuraram responder esta pergunta pesquisando a

aplicação da PNL no processo de vendas de uma empresa dinamarquesa.

Concluíram que treinamentos com técnicas de PNL têm o potencial de melhorar não

só as habilidades individuais dos vendedores no relacionamento com os clientes,

mas também trazer benefícios toda a empresa. Para os vendedores, ocorre o

aperfeiçoamento das habilidades interpessoais e da flexibilidade pessoal. Para a

empresa, melhora o clima organizacional e o trabalho em equipe.

31

3.3 OBJETIVO GERAL

Aprimorar a abordagem telefônica de vendas dos gerentes de

relacionamento por meio de técnicas de Programação Neurolinguística (PNL).

3.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Contextualizar a Programação Neurolinguística por meio de sua

conceituação e breve histórico;

- fornecer os conceitos das principais técnicas que serão abordadas ao

longo do curso;

- Proporcionar um ambiente de treinamento monitorado para assimilação

das técnicas abordadas;

- Proporcionar a oportunidade para o treinando vivenciar a aplicação das

técnicas em três pontos de vista distintos: visão cliente, visão vendedor e visão

observador;

- Capacitar os gerentes a aplicarem as técnicas no dia-a-dia do trabalho.

3.5 PÚBLICO-ALVO

Funcionários comissionados (Gerentes de Relacionamento e Assistentes

de Negócios) ou de postos efetivos (Escriturários) que atuem no atendimento aos

clientes, seja em contato presencial ou telefônico, e que tenham interesse em

aprimorar suas técnicas de abordagem. O número ideal de participantes por turma

ideal seria 20 (vinte) pessoas.

32

3.6 DURAÇÃO

A duração sugerida para este treinamento é de 6 (seis) horas,

considerando a jornada de trabalho dos Assistentes de Negócios e Escriturários.

3.7 MATERIAIS

• Lousa, quadro-branco ou flipchart;

• Apostila de apoio (a ser desenvolvida futuramente);

• Cadeiras

• Folhas sulfite A4 para anotações

• Canetas e lápis

• Sala equipada com terminais que tenham acesso ao sistema do banco

e telefones para contato com os clientes (ao menos 1 para cada dupla)

3.8 CONTEÚDO, PROCEDIMENTOS E TEMPO ESTIMADO

1- Atividade de Integração (30 minutos)

Dinâmica de apresentação pessoal dos participantes do curso, com

objetivo de integração e descontração (“quebrar o gelo”).

2- Introdução à PNL – Conceito e Breve Histórico (30 minutos)

Seção expositiva, onde o treinador deverá conceituar a PNL, relatar seu

histórico e suas possibilidades de aplicação em diferentes áreas do conhecimento.

3- Sistemas Representacionais (1 hora)

Por meio de vivências interativas e explanações verbais, o treinador

apresentará o conceito dos Sistemas Representacionais (visual, auditivo,

33

cinestésico, olfativo e gustativo), dos Predicados Verbais e as implicações destes

conhecimentos no relacionamento com clientes.

4- Rapport e Espelhamento Presencial e Telefônico (1 hora)

Vivências interativas e explanações verbais sobre o conceito de Rapport,

Espelhamento e Espelhamento Cruzado, com atividades de conscientização da

linguagem corporal, aspectos vocais e predicados verbais.

5- Pausa para refeição (30 minutos)

6- Aplicação Prática (2 horas)

Os participantes do curso serão divididos em duplas para praticarem os

conceitos do curso em abordagens reais de venda ao telefone. O treinador poderá

auxiliar os participantes a elaborarem, antecipadamente, um breve roteiro para

conduzir o diálogo com os clientes. Deverá ser ativada a função “viva voz” do

telefone, para que, enquanto um participante dialoga com o cliente, sua dupla possa

observar o desempenho do colega e fazer anotações para discussão posterior.

Haverá alternância de papéis ao longo da atividade.

7- Discussão com a turma e Avaliação (30 minutos)

Debate com a turma para elencar facilidades e dificuldades no processo

de aplicação prática dos conteúdos vistos durante o treinamento. Ao final, o

treinador deverá realizar a avaliação do treinamento como um todo, para colher as

impressões dos participantes e aprimorar o curso com as próximas turmas.

34

CAPÍTULO 4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo explorar a aplicação e conceitos de

técnicas de Programação Neurolinguística de forma a alavancar as vendas ao

telefone por gerentes de relacionamento em instituições financeiras.

Procurou-se atingir o objetivo por meio de uma pesquisa bibliográfica de

publicações relacionadas ao tema, onde foi possível conceituar o termo

“Programação Neurolinguística”, elencar, conceituar e discutir a utilização de

algumas técnicas e pressupostos relacionados ao tema, como “sistemas

representacionais”, “submodalidades” e “rapport”.

Para buscar definições para os principais conceitos da PNL compilados

neste trabalho, recorri inicialmente às obras dos próprios criadores da PNL – Richard

Bandler e John Grinder. No entanto, deparei-me com obras que consistem em

reproduções de seminários, com estilo discursivo e pouco didático, sem clareza na

apresentação dos conceitos teóricos, com inúmeras redundâncias e textos confusos,

onde os conceitos e técnicas da PNL ficam entremeados no texto, conforme também

fora apontado por Azevedo (2006).

Uma definição mais clara para os conceitos da PNL foi encontrada em

obras de seguidores e estudiosos de Bandler e Grinder, como Robert Dilts, Steve

Andreas, John Seymour, Joseph O’Connor, Robin Prior, entre outros, onde

encontramos definições mais didaticamente ordenadas para conceitos, técnicas e

pressupostos da PNL, mais acessíveis ao público leigo.

O rapport foi identificado como uma das principais ferramentas

disponibilizadas pela PNL para iniciar uma abordagem e estabelecer um

relacionamento interpessoal harmonioso e empático. Este termo é amplamente

utilizado nos livros sobre Programação Neurolinguística como um sinônimo de

“empatia”, “sintonia”, “harmonia” e “contato” entre pessoas.

Consegue-se o rapport por meio do espelhamento de aspectos verbais e

não-verbais do comportamento do interlocutor. Isso exige, por parte do vendedor,

acuidade visual, sensibilidade e flexibilidade pessoal para observar o maior número

possível de elementos a serem equiparados, de modo respeitoso e sutil.

35

Os conceitos de sistemas representacionais e de submodalidades

auxiliam na obtenção de rapport, na medida em que fornecem indícios subjetivos

Para o contexto de vendas por telefone, é possível estabelecer rapport

por meio do espelhamento de aspectos verbais (palavras ou frases predicadas) e

não-verbais do sistema representacional auditivo (tom de voz, volume, ritmo de fala,

pausas de respiração, entre outras submodalidades referentes a este sistema

representacional).

Após discorrermos sobre alguns conceitos de PNL e relacioná-los com

pesquisas acadêmicas, houve a proposição de um modelo de treinamento para

gerentes de relacionamentos, que pode ser adotado por bancos ou instituições

financeiras que queriam treinar seus gerentes ou profissionais ligados ao

atendimento a clientes, de modo a aplicar as técnicas de PNL nas abordagens de

venda por telefone.

A Programação Neurolinguística ainda foi pouco pesquisada em trabalhos

acadêmicos, mas há indícios de que pode trazer contribuições para diferentes áreas

do conhecimento, como Educação, Administração, Psicologia e Vendas. Pesquisas

empíricas poderiam trazer ainda mais contribuições para o entendimento dos

relacionamentos interpessoais nas áreas apontadas.

Acredito que este trabalho coroa mais esta etapa de estudos acadêmicos

na área de Vendas e Negociação, trazendo uma contribuição para gerentes-

vendedores acuados pela pressão diária de metas e pela falta de informação,

preparo e de cursos específicos em vendas.

36

REFERÊNCIAS

ANDREAS, S.; FAULKNER, C. PNL: a nova tecnologia do sucesso. Rio de

Janeiro: Campus, 1995.

AVOLIO, J. C.; FAURY, M. L. Michaelis dicionário escolar francês-português.

São Paulo: Melhoramentos, 2009.

AZEVEDO, R. M. Programação neurolinguística: transformação e persuasão no

metamodelo. 2006. 187f. Dissertação (Mestrado em Ciências da

Comunicação) – Escola de Comunicação e Artes. Universidade de São Paulo,

2006.

BANDLER, R.; GRINDER, J. A estrutura da magia – um livro sobre linguagem e

terapia. Rio de Janeiro: LTC, 1977.

BORG, S. W.; FREYTAG, P. V. The application of neuro-linguistic programming

in a sales process context. Anzmac, Christchurch, New Zealand, 2010.

CRAFT, A. Neuro-linguistic programming and learning theory. The Curriculum

Journal, 12 (1), 125-136, 2001.

DILTS, R.; DELOZIER, J. Encyclopedia of systemic neuro-linguistic

programming and NLP new coding. NLP University Press, Santa Cruz, CA:

2000.

DILTS, R.; GRINDER, J.; BANDLER, R.; DELOZIER, J. Neuro-linguistic

programming volume I – the study of the structure of subjective

experience. Meta Publications, California, 1980.

DILTS, R. B.; EPSTEIN, T. A. Aprendizagem dinâmica 1. São Paulo: Summus,

1999.

FREITAS, A. O que a chegada das agências digitais muda para bancos, clientes

e funcionário. Jornal Nexo, 19 de setembro de 2016. Disponível em:

<https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/09/19/O-que-a-chegada-das-

agências-digitais-muda-para-bancos-clientes-e-funcionários>. Acesso em 15

out. 2016.

GRINDER, J.; BANDLER, R. Atravessando: passagens em psicoterapia. São

Paulo: Summus, 1984.

JORGE, M. O modelo TOTS. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/Mariojor/o-

modelo-tots>. Acesso em 21 nov. 2016.

37

KEY, M. The relationship of verbal and nonverbal communication. Walter de

Gruyter, 1980.

MEHRABIAN, A.; FERRIS, S. Inference of attitudes from nonverbal

communication in two channels. The Journal of Counselling Psychology,

vol. 31, pp. 248-252, 1967.

O’CONNOR, J. Manual de programação neurolinguística – um guia prático para

alcançar os resultados que você quer. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003.

O’CONNOR, J.; PRIOR, R. Sucesso em vendas com PNL – recursos de

programação neurolinguística para profissionais de vendas. São Paulo:

Summus, 1997.

O’CONNOR, J.; SEYMOUR, J. Introdução à programação neurolinguística –

como entender e influenciar as pessoas. São Paulo: Summus, 1995.

PIOVESANA, L. As três tendências de digitalização de bancos e seguradoras

em 2016. Disponível em: <http://valoragregado.com/2016/04/22/as-tres-

tendencias-de-digitalizacao-de-bancos-e-seguradoras-em-2016>. Acesso em

22 nov. 2016.

ROBBINS, A. Poder sem limites – o caminho do sucesso pessoal pela

programação neurolinguística. São Paulo: Best Seller, 2001.

SPRITZER, N. Pensamento & mudança – desmistificando a programação

neurolinguística (PNL). Porto Alegre: L&PM, 1993.

TEIXEIRA, L. J. Mesas de crédito do Banco Beta: um estudo sobre a oferta de

crédito para clientes pessoa física da agência XYZ. 2010. Trabalho de

Conclusão de Curso – Curso de Graduação em Administração, Universidade

Federal do Rio Grande do Sul, 2010.

TOSEY, P.; MATHISON, J. Neuro-linguistic programming and learning theroy: a

response. Curriculum Journal, 14(3), 371-388, 2003.

VIEIRA, V. Vendas pelo telefone: o que fazer e o que não fazer. Disponível em: <

http://ievendas.com.br/vendas-pelo-telefone-o-que-fazer-e-o-que-nao-fazer>.

Acesso em 19 nov. 2016.

WOOD, J. A. NLP revisited: nonverbal communications and signals of

trustworthiness. Journal of Personal Selling & Sales Management, vol. XXVI,

nº 2, PP. 197-204. 2006.

38

BIBLIGRAFIA CONSULTADA

ANDREAS, S.; ANDREAS, C. A essência da mente: usando o seu poder interior

para mudar. São Paulo: Summus, 1993.

ANDREAS, S.; ANDREAS, C. Transformando-se: mais coisas que você não

sabe que não sabe. São Paulo: Summus, 1991.

BANDLER, R. Usando sua mente – as coisas que você não sabe que não sabe.

São Paulo: Summus, 1987.

BANDLER, R.; GRINDER, J. Resignificando – programação neurolinguística e a

transformação do significado. São Paulo: Summus, 1986.

BANDLER, R.; GRINDER, J. Sapos em príncipes – programação

neurolinguística. São Paulo: Summus, 1982.

BANOV, M. R. Psicologia no gerenciamento de pessoas. São Paulo: Atlas, 2011.

BAUER, S. M. F. Hipnoterapia ericksoniana passo a passo. Campinas: Editora

Livro Pleno, 2002.

BERNARDES, S. Acorda professor – PNL na arte de educar. Campinas: Editora

Komedi, 2003.

CAPRIO, F. S.; BERGER, J. R. Ajuda-te pela auto-hipnose. São Paulo: Papelivros,

2001.

CUDICIO C. Programação neurolinguística e comunicação, Rio de Janeiro:

Record, 1996.

DILTS, R. A estratégia da genialidade – volume I. São Paulo: Summus, 1998.

DILTS, R. Enfrentando a audiência – recursos de programação neurolinguística

para apresentações. São Paulo: Summus, 1997.

DILTS, R. B.; EPSTEIN, T. A. Aprendizagem dinâmica 2. São Paulo: Summus,

1999.

DILTS, R.; HALLBOM, T.; SMITH, S. Crenças – caminhos para a saúde e o bem-

estar. São Paulo: Summus, 1993.

GALVÃO, D. C. B. G. A programação neurolinguística como instrumento para a

formação extensionista. 2009. 124f. Dissertação (Mestrado em

Planejamento e Desenvolvimento Rural Sustentável) – Faculdade de

Engenharia Agrícola, Universidade Estadual de Campinas, 2009.

39

O’CONNOR, J. Liderando: técnicas simples e fundamentais para influenciar e

administrar pessoas. Rio de Janeiro: Record, 2001.

O’CONNOR, J.; SEYMOUR, J. Treinando com a PNL – recursos da programação

neurolinguística para administradores, instrutores e comunicadores. São

Paulo: Summus, 1996.

PEASE, A.; PEASE, B. Desvendando os segredos da linguagem corporal. Rio de

Janeiro: Sextante, 2005.

PILETTI, N. Psicologia educacional. São Paulo: Ática, 2004.

ROBBINS, A. Desperte o gigante interior: como usar o condicionamento neuro-

associativo para criar mudanças definitivas. Rio de Janeiro: Record, 2006.

SHELL, G. R.; MOUSSA, M. A arte da persuasão: estratégias para vender suas

ideias. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

WEIL, P.; TOMPAKOW, R. O corpo fala. Petrópolis: Vozes, 2002.

WEISINGER, H. Inteligência emocional no trabalho. Rio de Janeiro: Objetiva,

1997.