59
Talita Silva Pereira A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO: PROPOSTAS DE ENFRENTAMENTO Centro Universitário Toledo Araçatuba 2018

A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

Talita Silva Pereira

A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA PRISIONAL

BRASILEIRO: PROPOSTAS DE ENFRENTAMENTO

Centro Universitário Toledo

Araçatuba

2018

Page 2: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

Talita Silva Pereira

A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA PRISIONAL

BRASILEIRO: PROPOSTAS DE ENFRENTAMENTO

Monografia apresentada como requisito para conclusão

do curso de Direito do Centro Universitário Toledo, sob

orientação do Prof. Me. Luciano Meneguetti Pereira.

Centro Universitário Toledo

Araçatuba

2018

Page 3: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

AGRADECIMENTOS

A Deus primeiramente pela dádiva de vida e privilégio de servi-lo.

Aos meus pais, Márcio e Benedita que me ensinaram o caminho do Mestre e pelo

amor e cuidado ímpar dispensado.

Aos meus irmãos, Tiago e Tainara pelos momentos inesgotáveis de companheirismo,

carinho e apoio.

A minha cunhada Jéssica, que abrilhanta a minha vida.

A Kemily e Lucas, meus irmãos em Cristo, pelos sábios conselhos

A Maria Vitória, pela amizade nos momentos bons e ruins, pelo afeto e respeito.

Ao meu orientador, professor Luciano Meneguetti pelas horas de ensino, reflexão,

atenção e paciência.

A minha parentela, pelo incentivo a não desistir dos meus sonhos.

A todos os professores que me acompanharam durante o decorrer da graduação e me

auxiliaram nessa prazerosa caminhada.

Não poderei me esquecer dos amigos que ganhei compartilhando os bancos do Centro

Universitário e do escritório. Entre uma prova e outra, entre os momentos de tristeza e alegria

me dão mais forças pra continuar essa jornada rumo ao conhecimento.

Page 4: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

RESUMO

Considerando as inúmeras violações de direitos humanos ocorridas no âmbito do sistema

prisional, objetiva-se verificar a proteção que é conferida aos direitos humanos na busca pela

efetividade desses e obrigatoriedade do Estado detentor do poder de punir em cumprir com o

pactuado ainda que aparente desprepare para tanto. Será abordado ainda, medidas diversas a

pena de privativa de liberdade, dentre as quais se busca aquelas que melhor garantam a

dignidade da pessoa humana. A presente pesquisa dar-se-á por uma abordagem qualitativa

exploratória. A mesma será realizada através de pesquisa documental e bibliográfica. Para

tanto serão realizados leituras de bibliografias teóricas e documentações complementares,

bem como estudos de Jurisprudência voltados aos direitos dos presos. Posto à baila as

alternativas de enfrentamento, verifica-se que tais isoladamente não se perfazem a solução,

tendo suas raízes voltadas às questões sociais.

Palavras-chaves: Sistema prisional; Direitos humanos; Violação; Alternativas.

Page 5: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

ABSTRACT

Considering the innumerable human rights violations that have occurred within the prison

system, the objective is to verify the protection given to human rights in the quest for their

effectiveness and the obligation of the State that has the power to punish in complying with

the agreement, even if it appears to be unprepared for so much. It will also be addressed,

various measures the penalty of deprivation of liberty, among which are sought those that best

guarantee the dignity of the human person. The present research will be by an exploratory

qualitative approach. The same will be done through documentary and bibliographic research.

To this end, readings of theoretical bibliographies and complementary documentation, as well

as jurisprudence studies on prisoners' rights will be carried out. Putting aside the alternatives

of coping, it turns out that such alone do not make up the solution, having its roots focused on

social issues.

Key-Words: Prison system; Human rights; Violation; Alternatives.

Page 6: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 8

I OS DIREITOS HUMANOS E A HUMANIZAÇÃO DAS PENAS ................................. 10

1.1 Evolução histórica dos direitos humanos ........................................................................... 10

1.2 A humanização das penas ................................................................................................... 16

1.3 Direitos humanos e o jus puniendi ..................................................................................... 19

II O SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO ................................................................. 21

2.1 A alarmante e atual situação do sistema ............................................................................. 21

2.2 A falência do sistema carcerário na ótica dos direitos humanos ........................................ 26

III A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO ÂMBITO PRISIONAL .............. 31

3.1 Direitos humanos e fundamentais assegurados aos condenados ........................................ 31

3.2 A proteção internacional em face das violações de direitos humanos ............................... 34

3.2.1 A Comissão Interamericana de Direitos Humanos.......................................................... 35

3.2.2 A Corte Interamericana de Direitos Humanos ................................................................ 37

3.3 Alternativas a pena privativa de liberdade ......................................................................... 41

3.3.1 Penas e medidas alternativas ........................................................................................... 42

3.3.2 Reforma da lei de drogas - 11.343/06 ............................................................................. 43

3.3.3 Trabalho e educação ........................................................................................................ 45

3.3.4 A privatização do sistema carcerário ............................................................................... 47

CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 50

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 53

Page 7: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

8

INTRODUÇÃO

O Brasil possui uma das maiores populações carcerário do mundo. Superlotações,

confrontos entre facções rivais e condições degradantes são alguns dos inúmeros e recorrentes

problemas enfrentados.

A adoção da carceragem em massa não parece prosperar.

O Estado não possui, quiçá o deteve um dia, o controle sobre o Sistema Carcerário.

Ao mesmo tempo em que a crise vai se avolumando, cativos vão sendo privados de

direitos essenciais, indispensáveis a uma vida digna. Dignidade essa, vale lembrar, garantida a

todos.

A construção dos direitos humanos atravessa os séculos, mas não aparenta prosperar

nos cárceres brasileiros. É sobre a ótica dos direitos humanos que o presente trabalho busca

demonstrar a urgente necessidade de mudanças.

Assim, o presente trabalho visa demonstrar a degringolada brasileira na administração

das penitenciárias, o papel e atuação do Sistema Interamericano de Direitos Humanos em

busca da proteção dos direitos humanos perante as violações cometidas pelo Estado em face

dos encarcerados e as possíveis soluções.

Como objetivo geral, busca promover uma análise do despreparo do Aparelho Estatal

ao comprometimento de garantia de proteção de direitos no âmbito interno, bem como as

alternativas que estão sendo utilizadas para a solução dos atritos. Para isso necessário, como

objetivo específico verificar o modelo carcerário atual que nos remete a realidade atual regida

pelo punir por punir em detrimento dos direitos primordiais.

Diante das breves considerações surge a seguinte pergunta: Diante de tal situação seria

possível sustentar o fracasso do Estado a respeito de seu sistema prisional sobre a perspectiva

dos direitos humanos?

No primeiro capítulo, será abordado a contextualização histórica dos direitos humanos

conforme o seu desenvolvimento e consolidação tanto no âmbito internacional quanto interno.

De igual modo, será apresentado breve contexto histórico a respeito da humanização das

penas e ainda o direito de punir do Estado e sua relação com os direitos humanos.

No segundo capítulo, demonstraremos o cenário atual de recorrentes violações de

direitos humanos e assim demonstrar a falência do sistema carcerário pelo desrespeito aos

Page 8: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

9

referidos direitos ao não garantir a efetividade dos mesmos.

No terceiro capítulo, debateremos por fim o sistema de proteção internacional de

direitos humanos, e ainda, possíveis medidas aptas a solucionar, caso não, ao menos serem ou

mais benéficas à preservação dos direitos humanos.

Em conclusão, ante tudo que será exposto, os questionamentos a respeito da efetiva

dignidade aparentam distância de uma solução imediata, demonstrando a necessária mudança

de perspectiva de enfrentamento do problema.

Page 9: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

10

I OS DIREITOS HUMANOS E A HUMANIZAÇÃO DAS PENAS

1.1 Evolução histórica dos direitos humanos

Sabe-se que o grande marco contemporâneo dos Direitos Humanos se deu com a

Declaração Universal de Direitos Humanos em 1948 (RAMOS, 2017, p.34).

Todavia, nos tempos primórdios, ainda antes de Cristo, o homem dava os primeiros

passos rumo à construção de direitos que mesmo distantes da realidade dos direitos atuais,

certamente contribuíram para a afirmação histórica desses. O homem como animal político

que é por natureza, assim como afirmara Aristóteles, percebeu a necessidade de criar

condições mínimas para sua convivência. Temos, portanto, em um primeiro momento, a

aparição das primeiras e rigorosas leis que buscavam a harmonização da vida em comum ,v.g,

o Código de Hamurabi da Mesopotânia - 1629 A.C (LEITE, 2014, p. 2).

Contudo é na Antiguidade dos séculos VIII e II A.C., também denominado período

Axial que surgem as primeiras manifestações do que seriam atualmente considerados direitos

essenciais e indispensáveis a uma vida digna.

Nesse sentido:

E a partir do periodo axial que, pela primeira vez na Historia, o ser humano passa a

ser considerado, em sua igualdade essencial, como ser dotado de liberdade e razao,

nao obstante as multiplas diferencas de sexo, raca, religiao ou costumes sociais.

Lancavam-se, assim, os fundamentos intelectuais para a compreensao da pessoa

humana e para a afirmacao da existencia de direitos universais, porque a ela

inerentes.(COMPARATO, 2015, p. 23)

E é ainda no Pré-Estado Constitucional que os agrupamentos humanos desenvolvem

ao longo dos séculos um conjunto de normas, escritas e não escritas, aplicáveis aos indivíduos

em prol da igualdade para que a insegurança trazida pela desigualdade tão acentuada desde os

primórdios seja amenizada.

Isto posto, através da concepção do homem que é formada, torna-se perceptível a

necessidade da adoção de fundamentos racionais que transcendesse a barreira das

individualidades inerente aos seres humanos.

Dessa forma, ainda nas palavras de Comparato (2015, p. 23):

Page 10: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

11

Foi, de qualquer forma, sobre a concepcao medieval de pessoa que se iniciou a

elaboracao do principio da igualdade essencial de todo ser humano, nao obstante a

ocorrencia de todas as diferencas individuais ou grupais, de ordem biologica ou

cultural. E e essa igualdade de essencia da pessoa que forma o nucleo do conceito

universal de direitos humanos.

Ainda, tais fundamentos não poderiam ser místicos ou religiosos, ou ainda, não

poderiam ser decretados pelos monarcas absolutos que se personificavam como a própria

divindade.

Percebe-se que a gênese dos direitos humanos passou por um longo e conturbado

período de constante busca por direitos, por conseguinte, no decorrer dos séculos surgiram

documentos que marcaram a história no tocante aos direitos.

Nesse sentido a Magna Carta (1215) que mesmo instituída de maneira a privilegiar

determinadas classes(clero e nobreza) impôs restrições ao poder ilimitado dos monarcas; o

Petition of Rights (1628) como uma ratificação da Magna Carta em busca pela liberdade; o

Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of

Rights (1689) que programou o Parlamentarismo retirando do Monarca o Absolutismo

(GUERRA, 2017, p. 58 - 59).

Avançando para um segundo lapso temporal, percebeu-se após essas primeiras

conquistas que com o surgimento do Estado de ideais liberais e as grandes Revoluções e suas

respectivas Declarações (Inglesa, Americana e Francesa) tem-se a primeira afirmação

histórica de Direitos Humanos (RAMOS, 2017, p. 44).

Nesse contexto, LEITE (2017, p. 3) de forma diversa, entende que o marco dos

direitos humanos dá-se através da Declaração de Direitos do Bom Povo de Virgínia (1776)

que tinha como algumas de suas garantias à vida e a liberdade.

Ainda assim ressalva:

Mas e a Declaracao de Independencia dos Estados Unidos da America, de 4 de julho

de 1776, que consolidou a tonica preponderante da limitacao do poder estatal e da

democracia moderna. […] Vale dizer, tais declaracoes tinham conteudo

extremamente individualista e patrimonialista, ja que seus destinatarios finais foram

apenas os homens brancos, machos e ricos. (LEITE, 2017, p. 3)

Já na Revolução Francesa vale ressaltar o forjamento da Declaracao Francesa dos

Direitos do Homem e do Cidadao (1789). A Igualdade, Liberdade e Fraternidade difundidas

aclamara uma primícias que se mostrou um transcendente do tempo e ao menos teoricamente

consolidada: Direitos são para todos. Em outras palavras: “A Declaracao Francesa dos

Page 11: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

12

Direitos do Homem e do Cidadao proclamou os direitos humanos a partir de uma premissa

que permeara os diplomas futuros: todos os homens nascem livres e com direitos iguais.”

(RAMOS, 2017, p. 45).

Não obstante, dos direitos elencados no rol da Declaração Francesa foram os

referentes à igualdade que mais se destacaram. Nesse seguimento: “[…] percebeu-se que o

espírito da Revolução Francesa era, muito mais, a supressão das desigualdades estamentais do

que a consagração das liberdades individuais para todos.” (COMPARATO, 2015, p. 148).

Vale frisar que assim como a Americana, a Revolução Francesa não consolidou o

disposto no seu texto e privilegiou grupos determinados, todavia no que diz respeito à

construção árdua dos direitos humanos e considerando ainda todo o contexto histórico de uma

época, tal documento tem sua devida importância.

Com o a Constitucionalismo se moldando, a França em 1848 promulga sua nova

Constituição e apesar de todas as controvérsias a respeito de sua eficácia quanto às liberdades

individuais, trouxe em seu texto o compromisso social do Estado, o que de certa forma pode-

se considerar a gênese do Estado de Bem-Estar Social que se moldou no decorrer do século

XX (COMPARATO, 2017, p. 181, 182).

Em 1917, já no século XX com a Constituição Mexicana tem-se o arcabouço do já

mencionado Estado de Bem-Estar Social. Dessa forma:

Ela firmou o principio da igualdade substancial de posicao juridica entre

trabalhadores e empresarios na relacao contratual de trabalho, criou a

responsabilidade dos empregadores por acidentes do trabalho e lancou, de modo

geral, as bases para a construcao do moderno Estado Social de

Direito.(COMPARATO, 2017, p. 193)

No mesmo sentido da Constituição Mexicana e acompanhando o desenvolvimento das

preocupações sociais dos Estados temos a Constituição Alemã (Weimar, 1919), e no Brasil, a

Constituição de 1934 (RAMOS, 2017, p. 48).

Todavia, apesar da inserção de direitos nas Constituições ao longo dos tempos, tornou-

se perceptível que após duas grandes guerras (em especial após o período da Segunda Guerra

Mundial, 1939-1945) a simples conferência desses direitos nas Constituições não garantiria,

não concretizaria e muito menos eliminaria os malefícios das atrocidades cometidas. Válido

mencionar que os malefícios cometidos eram considerados dentro de sua legalidade e

constitucionalidade na Alemanha Nazista e Itália Fascista, por exemplo (BARROSO, 2001, p.

21).

Page 12: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

13

Logo, imprescindível à criação de um discurso transnacional de combate aos ideais

extremistas e movimentos contrários à dignidade humana.

Dessa forma, os direitos humanos, ou ainda, o agraciamento de uma vida digna

começam a se positivar não somente nas Constituições dos Estados mas também nos Tratados

Internacionais de Proteção aos Direitos Humanos. Nesse sentido:

As consciencias se abriram, enfim, para o fato de que a sobrevivencia da

humanidade exigia a colaboracao de todos os povos, na reorganizacao das relacoes

internacionais com base no respeito incondicional a dignidade humana.

(COMPARATO, 2017, p. 226)

Dito isso, concebe-se na sociedade internacional em São Francisco a Carta das Nações

Unidas (Abril, 1945) que instituiriam meses depois a Organização das Nações Unidas

(Outubro, 1945) que tem com um dos principais objetivos a busca pela paz entre os

Estados.(ONU,Brasil, 2018).

Ainda assim, em 1948, como forma de estabelecer a proteção universal dos direitos

humanos, que não foram contemplados em sua essencialidade pela Carta, é aprovado em Paris,

pela Assembleia Geral da ONU, a Declaração Universal Dos Direitos Humanos. (RAMOS,

2017, p. 49).

Tal Declaração, apesar de todas as divergências quanto a sua natureza jurídica, não

possui aplicabilidade prática. Por esse motivo, restou-se estabelecer pactos, dentre eles o

Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e ainda, o Pacto Internacional dos Direitos

Econômicos, Sociais e Culturais (ambos, 1966) com o fito de sanar tal vício e conferir o

aparato jurídico necessário. (MAZZUOLI, 2017, p. 99).

Em vista disso, Piovesan ensina através das palavras de Mazzuoli (2017, p. 101) que:

Os dois tratados de 1966 compõem, hoje, o núcleo-base da estrutura normativa do

sistema global de protecao dos direitos humanos, na medida em que “juridicizaram”,

sob a forma de instrumento internacional hard law, os direitos previstos na

Declaração Universal.

Logo, com a elaboração desses pactos que buscavam dar o proveito jurídico necessário,

surge a Carta Internacional dos Direitos Humanos, o International Bill of Rights, qual seja

uma junção da Declaração Universal Dos Direitos Humanos e dos dois Pactos de 1966, dando

início aos Sistemas Globais de Proteção. (PIOVESAN, 2017, p. 248)

Dentre esses sistemas, o global representado pela ONU e os regionais: Sistema

Page 13: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

14

Europeu, Sistema Africano e o Sistema Interamericano de Direitos Humanos da qual o Brasil

faz parte.

No Brasil, acompanhando as evoluções dos direitos humanos, ainda que tardiamente, o

Brasil passa por uma construção histórica de direitos humanos desde o período Imperial

consolidando-os na forma de direitos fundamentais.

Dessa forma, com a primeira Constituição em 1824, ressalvada as exclusões como as

mulheres e a permissão da escravidão, já se previa em seu rol direitos fundamentais. De igual

modo, a Constituição de 1891 deu continuidade à inserção de novos direitos prevendo ainda a

possibilidade de auferir direitos não constantes no seu texto, mas de acordo com seus ideais.

Já em 1934, a nova Constituição além da continuidade do princípio da não exaustividade dos

direitos fundamentais, trouxe em seu texto a conscientização, por conseguinte, a inclusão dos

direitos sociais.

Na ditadura da Era Vargas, a Constituição de 1937 nada mais foi do que a

dissimulação de suas intenções atrozes. Todavia, válido ressaltar a menção que esta fazia aos

direitos fundamentais. Estes, aliás, não muito eficazes visto suas limitações em proveito do

Estado. Pós-Estado Novo, em 1946 a Constituição elaborada trazia a redemocratização e a

confirmação de direitos já apresentados nas Constituições anteriores, tendo ainda, dentre os

direitos sociais reconhecido a possibilidade do direito de greve.

Na década de 60, com a imposição da Ditadura Militar, a Constituição de 1967, assim

como a de 1937, apesar de expor direitos fundamentais em seu texto, ditava limites a estes em

benefício das razões de Estado. Nesse caso, importante citar a Emenda Constitucional n° 1 de

1969, dada a sua imposição, restou-se também a ela a possibilidade do surgimento de novos

direitos ressalvadas as limitações (RAMOS, 2017, p. 448).

Todavia, ainda que presente alguns direitos fundamentais antes da promulgação da

atual Constituição o que se via era a prevalência dos interesses do Estado deixando em

segundo plano os direitos. Diferentemente a Carta em vigor trouxe nova topografia elencando

direitos e deveres fundamentais primordialmente e dando a estes o status de cláusulas pétreas,

inspirando-se, portanto, na ótica da cidadania e não mais sobre a ótica do Estado (PIOVESAN,

2015, p. 103 – 104).

Assim é somente com a Constituição de 1988 e sua recente Redemocratização, que o

Brasil passou a incorporar Sistemas de Proteção e Tratados Internacionais, em consequência,

dar aos direitos humanos a condição de direitos fundamentais. Tanto é assim que quando de

Page 14: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

15

sua promulgação (período pós-guerra), já não se falava somente em direitos no âmbito interno,

mas da imprescindibilidade dos direitos no âmbito internacional. Desse modo, de maneira a

sustentar tal posicionamento preceitua a Constituição da República Federativa do Brasil em

seu Artigo 1°, inciso III que um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito é a

Dignidade da Pessoa Humana.

Portanto, torna-se perceptível que a dignidade da pessoa humana passou a ser

princípio regedor do Estado. No mais, como forma de reforçar a importância e possibilidade

de se introduzir no direito interno as normas internacionais de direitos humanos dispõe a

Constituição em seu Artigo 4°, inciso II que dentre os princípios que regem as relações

internacionais está à prevalência dos direitos humanos.

Nesse sentido:

Se para o Estado brasileiro a prevalencia dos direitos humanos e principio a reger o

Brasil no cenario internacional, esta-se consequentemente admitindo a concepcao de

que os direitos humanos constituem tema de legitima preocupacao e interesse da

comunidade internacional. Os direitos humanos, nessa concepcao, surgem para a

Carta de 1988 como tema global. (PIOVESAN, 2017, p. 115 – 116)

A Constituição foi além. Nos dizeres de Piovesan (2017, p. 226), ao previr em seu

Artigo 5°, § 2° a não exclusão de direitos e garantias decorrentes dos Tratados Internacionais

da qual o Brasil seja parte, estabeleceu a equivalência das normas de direito internacional às

de natureza constitucional.

Quanto à natureza conferida aos Tratados incorporados, surgiram discussões. E

aqueles que tratam de matéria de direitos humanos não escaparam de tais problematizações.

Contudo, com a aprovação da Emenda Constitucional n° 45, e a inserção do §3° ao Artigo 5°

da Constituição, aqueles aprovados na forma estabelecida pelo mencionado Artigo teriam

status de norma constitucional (LEITE, 2014, p. 1). Quanto aos demais não aprovados coube-

lhe o status de norma supralegal.

Dessa forma tem-se que o Estado brasileiro atualmente atenta as necessidades de se adequar a

nova ordem de proteção dos direitos humanos, introduziu na sua ainda recente e democrática

Constituição a incorporação das normas não somente consideradas fundamentais, mas que

possuam valores superiores ao próprio Estado, quais sejam os direitos humanos. Dessa

maneira, possibilitou a abertura aos demais direitos não incorporados na Constituição visto a

variação de necessidades humanas e conferindo ainda, uma maior proteção jurídica aos

detentores de direitos humanos quer sejam estes provenientes do âmbito interno ou do âmbito

internacional.

Em suma, faz-se possível perceber que os Direitos Humanos são atualmente a base

Page 15: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

16

de sustentação do direito, pois é dele que se retiram os direitos imprescindíveis à dignidade da

pessoa humana. Por conseguinte, e em razão de toda sua contextualização histórica e as

constantes mudanças ocorridas em sociedade advindas das necessidades humanas, novas

pleitos são inseridos no rol contínuo de direitos humanos, dentre eles a percepção, a

necessidade e a garanta de humanização em face das penas cruéis e degradantes.

1.2 A humanização das penas

É no ínterim da busca pela consolidação dos Direitos Humanos que alguns pensadores

inconformados com a selvageria generalizada encetam discussões e teorias a respeito das

penas excessivas e a necessidade de reformulação dessas.

O tratamento desalmado e desproporcional não devia ser tratado como espetáculo. Tal

introito é realizado na Europa do século XVIII por Cesare Bonessana, o Marquês de Beccaria.

Com Dei Delitti e delle Pene rumou, ainda que cercado de intolerâncias e contestações, para a

reflexão e o despertar de críticas. Era preciso repensar o papel da pena. (BECCARIA, 2001, p.

4)

Até então, a humanização das penas não era algo de grande relevância a ser discutido.

As punições extremamente severas não objetivavam a correção do encarcerado. Não bastava

cercear sua liberdade; até a vida, bem mais importante e coluna mestra de todos os direitos era

objeto de punição.

Além disso, tal prática opressiva de modo algum assegurava aos inocentes

encarcerados a possibilidade de comprovarem sua inocência. Mui provavelmente já estariam

mortos caso não, seus gemidos fracos e miseráveis jazeriam no silêncio e invisibilidade.

Assim:

É porque o sistema atual da jurisprudência criminal apresenta aos nossos espíritos a

ideia da força e do poder, em lugar da justiça; é porque se lançam, indistintamente,

na mesma masmorra, o inocente suspeito e o criminoso convicto; é porque a prisão,

entre nos, e antes um suplicio que um meio de deter um acusado;[…] (BECCARIA,

2001, p. 15)

Beccaria, ao exprobrar o imoderado sistema de penalização, decerto não sabia que a

explanação dos pensamentos de sua época estava além dos séculos, além dos muros de seu

governo tirano.

Page 16: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

17

Dessa forma, já dizia:

Quem não estremece de horror ao ver na história tantos tormentos atrozes e inúteis,

inventados e empregados friamente por monstros que se davam o nome de sábios?

Quem poderia deixar de tremer até ao fundo da alma, ao ver os milhares de infelizes

que o desespero força a retomar a vida selvagem, para escapar a males insuportáveis

causados ou tolerados por essas leis injustas que sempre acorrentaram e ultrajaram a

multidão, para favorecer unicamente um pequeno número de homens privilegiados?

(BECCARIA, 2001, p. 30)

Aos escritos de Beccaria os créditos pelo despertar da crítica construtiva e reflexiva

que, não obstante, se perfazem atuais e em constante moldagem, dentre tais, a necessidade de

previsão legal e a proporcionalidade entre os delitos e suas consequentes penas. (BECCARIA,

2001, p. 71).

Ainda na Europa do século XVIII, John Howard foi de suma importância para a

continuidade no processo de humanização das penas.

Conhecera de perto a cloaca da sociedade e não aceitara a situação em que se

encontravam as prisões, dedicando-se, portanto, a reforma do sistema prisional. Para ele, não

se podia admitir que o tratamento atroz dados os cativos fosse fruto da pena privativa de

liberdade. Não que essa também fosse à preocupação dos governantes. (BITENCOURT, 2011,

p. 43)

Ensina-nos ainda Bittencourt (2017, p. 96) que Howard é considerado o pai do

penitenciarismo, pois é com a realização de sua obra que se dá início a luta pela humanização

das prisões.

Seus ideais de proporcionar um sistema penitenciário garantista de direitos primordiais

continua vivo.

Dessa maneira:

Insistiu na necessidade de construir estabelecimentos adequados para o

cumprimento da pena privativa de liberdade, sem ignorar que as prisoes deveriam

proporcionar ao apenado um regime higienico, alimentar e assistencia medica que

permitissem cobrir as necessidades elementares. (BITENCOURT, 2017, p. 95)

Outro que contribuiu para a humanização das penas foi Jeremy Bentham, formador do

utilitarismo no Direito. No seu entendimento era devido à promoção da felicidade como bem

maior da sociedade, e para tanto, no que diz respeito à penalização, deve o legislador produzir

normas aptas a compensar, punir e prevenir atos condizentes ou não condizentes com a

Page 17: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

18

felicidade maior, qual seja, da maioria (BICUDO, 2015, p. 15).

Logo: “[…] Aceitava a necessidade de que o castigo fosse um mal, mas como um

meio para prevenir danos maiores a sociedade” (BITENCOURT, 2017, p. 97).

Além disso, Jeremy Bentham foi de suma importância no que diz respeito à arquitetura

penitenciária. É dele a concepção do projeto panótico, isto é, um mecanismo de controle do

comportamento dos encarcerados a partir de uma estruturação arquitetônica sendo que esta

nos dizeres de Bittencourt (2017, p. 98), é sua contribuição mais importante do ponto de vista

penológico.

O processo de humanização das penas até os dias atuais é alvo de constante atenção.

Exemplo de tal afirmativa é a denominada subcultura carcerária. Essa aliás, também prevista

por Jeremy Bentham, demonstrando o quanto suas teorias estavam além de seu tempo.

Melhor dizendo:

Em seus comentários sobre a prisão sugeria uma ideia incipiente sobre o que

atualmente se denomina subcultura carceraria. Nesses termos, afirmava: “A opiniao

que nos serve de regra e de princípio é a das pessoas que nos cercam. Esses homens

segregados assimilam linguagem e costumes e, por um consentimento tácito e

imperceptível, fazem suas próprias leis, cujos autores são os últimos dos homens:

porque em uma sociedade semelhante os mais depravados são mais audazes e os

mais malvados são mais temidos e respeitados. Composta desse modo, essa

populacao apela da condenacao exterior e revoga suas sentencas” (MICHEL

FOUCAULT, Vigilar y castigar, p. 206. Apud BITENCOURT, 2011, p. 49)

Percebe-se, portanto, que problemas outrora já discutidos ainda não se tornaram

passíveis de uma solução, consequentemente a humanização das penas possui ainda, longo

caminho a percorrer.

Tal processo de humanização das penas, portanto, deve-se partir da premissa de

reabilitação e não criação de delinquentes.

Assim sendo:

Em primeiro lugar, a prisão deve ser concebida de maneira a que ela mesma apague

as consequências nefastas que atrai ao reunir num mesmo local condenados muito

diversos: abafar os complôs e revoltas que se possam formar, impedir que se

formem cumplicidades futuras ou nasçam possibilidades de chantagem (no dia em

que os detentos se encontrarem livres), criar obstáculo à imoralidade de tantas

“associacoes misteriosas”. Enfim, que a prisao nao forme, a partir dos malfeitores

que reúne, uma população homogenea e Solidaria:[…](FOUCAULT, 2009, p. 223).

Não obstante, é inegável e lógico a relação do processo de concretude da humanização

das penas com a dignidade da pessoa humana. Esta, verdade seja dita, fundamental,

Page 18: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

19

irrevogável e imprescritível a todos os homens. Por derradeiro, expressa na CRFB em seus

artigos 1°, inciso III, 4.º, inciso II, e ainda, 5.º, incisos XLVII e XLIX.

E é nesse processo de concretude, que se deve analisar as limitações impostas ao

Estado que tomou para si o direito, ou ainda, o dever de punir.

1.3 Direitos humanos e o jus puniendi

É do Estado ente soberano o direito de punir. Na sua condição de Estado Democrático

de Direito lhe cabe à punição e prevenção de delitos gerando consequentemente segurança

jurídica e social.

Apesar das divergências quanto a ser um direito ou uma obrigatoriedade(dever) haja

vista sua característica de imposição a todos (PACELLI; CALLEGARI, 2017, p. 35) o que se

pode afirmar é que o Estado como titular do poder de punir possui a liberalidade de edição de

normas de cunho sancionatórios aplicáveis aos seus desde que respeitados os limites impostos

e os direitos inerentes a estes.

Em outras palavras:

O Estado, diante de sua soberania, pode e está autorizado a produzir leis e decidir

pelo destino dos seus membros, desde que atenda às condições mínimas que

articulam o modelo do Estado de Direito. Fora daí, uma organização política que se veja em condições de desrespeitar os direitos humanos e de utilizar o direito como

força coercitiva para satisfação do poder não poderá ser qualificada como Estado de

Direito, não merecendo sua inclusão entre as ordens políticas da modernidade.

(PACELLI e CALLEGARI, 2017, p. 35)

Assim, tem-se que o poder punitivo do Estado está estreitamente ligado: “[...]a

garantia dos mais fracos contra os mais fortes, quer seja o mais forte representado pelos

poderes publicos quer seja pelos particulares.” (BICUDO, 2015. p. 186).

Pois bem, se o direito/dever de punir do Estado possui limitações e essas estão ligadas

aos direitos de seus membros torna-se perceptível que as referidas limitações também estão

relacionadas aos direitos humanos. Ora, se o Estado é signatário de Tratados Internacionais e

introduziu no seu âmbito interno as disposições dos direitos humanos, cabe a ele, portanto,

moldar o dever de punir conforme se concretiza novos direitos, pois não se pode afligir a

dignidade da pessoa humana. Logo, a punição acompanha o processo de conquista dos

direitos humanos e humanização das penas:

Page 19: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

20

De qualquer modo, é certo que todos convergem para o princípio-síntese do Estado

constitucional e humanitário de Direito, que é o da dignidade humana. A força

imperativa, fundamentadora e interpretativa do princípio da dignidade humana (CF,

art. 1.º, III) é incontestável. Nenhuma ordem jurídica (constitucional, internacional

ou infraconstitucional) pode contrariá-lo (GOMES, 2011).

Isto posto, não há se de falar em violação quando o próprio Estado pactuou-se a punir

limitando-se em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana mas não o faz? É

preciso lembrar que no executar das penas a referida dignidade da pessoa humana também

deve ser respeitada, isto é, o cumprimento da pena deve-se dar em meios e modos

proporcionais e adequados a atingir o seu fim (COSTA, 2003). Perceptível, portanto, que se

de outra forma, o jus puniendi do Estado se prestaria as arbitrariedades desse na contramão do

processo de consolidação dos direitos humanos.

Tal descumprimento, porém, não se faz difícil de notar. Brasil, século XXI. Nos

holofotes internacionais por violação aos direitos humano e o ambiente hostil de seus

estabelecimentos demonstram a caótica situação do sistema carcerário brasileiro (IBCCRIM,

2017).

Page 20: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

21

II O SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO

2.1 A alarmante e atual situação do sistema

Os cárceres brasileiros estão às mínguas. Não se reabilita, mas cria delinquentes. O

enclausurado está sujeito a penalizações aquém da legalidade e que ferem impiedosamente a

Carta Magna.

As organizações criminosas que correm nas veias das prisões, a desorganização e

despreocupação do Estado, tornam tais lugares uma verdadeira carnificina.

O Brasil, de acordo com o Ministério da Justiça (2017), possui a terceira maior

população carcerária do mundo, contando com 726.712 pessoas confinadas, segundo os

últimos dados do Infopen. Sendo que desses, cerca de 40% são presos provisórios. (DEPEN,

2017). Válido mencionar que consoante informações do GEOPRESIDIO (2018) a população

carcerária atual seria de 688.674 presos. Quanto ao BNMP 2.0(2018) ainda não totalmente

implantado, também há discrepância: 611.101 pessoas privadas de liberdade. Números

menores, portanto. Todavia, não menos alarmantes.

Em que pese à divergência a respeito da população carcerária, levando-se em conta a

alteração numérica constante nos dados do GEOPRESÍDIO e BNMP 2.0, a superlotação dos

presídios é um, senão o mais grave, dos problemas enfrentados.

Ainda no levantamento realizado pelo DEPEN (2017), o estado do Amazonas, por

exemplo, possuía até então, o equivalente a 48 presos no espaço destinado a 10 pessoas, no

todo, possuía-se nos estabelecimentos prisionais déficit de 358.663 vagas, logo, não

comportando adequadamente o número total dos presos. Notório, portanto, que o aumento

desenfreado da população carcerária, que da década de 90 a 2016 cresceu o equivalente a 707%

(DEPEN, 2017), acaba por sua vez em proliferar a violação de direitos, ou melhor, a ausência

de condições de tratamento com dignidade. A massa carcerária cada vez maior pode levar

uma sociedade à falsa sensação de segurança, logo, dessa ótica, o que importariam seriam os

números, afinal, estando preso à coletividade estaria ao menos em tese livre daquele mal.

Nesse contexto, Praciano (2007, p. 82) explicita:

Dentro desta perspectiva, o Estado se sente cumpridor do seu papel, por amontoar os

presos nos estabelecimentos prisionais, assim a sociedade se sente “protegida”. Na

Page 21: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

22

verdade, a sociedade livre encontra-se separada, por muralhas e trancas, daqueles

que violaram o contrato social. E para isso não importa quantos criminosos estejam

nas prisões e em que condições eles estejam inseridos; não importa se o

estabelecimento prisional excedeu a sua capacidade de lotação, muito menos se há

limite ao número de excedentes.

Importante destacar que o crescimento da população carcerária não se dá somente no

âmbito masculino. O aprisionamento feminino de acordo com os dados do Infopen Mulheres

(DEPEN, 2018) a época de sua coleta de dados em 2016, contava com 42.355 mulheres

encarceradas sendo que no contexto internacional em análise dos 5 países com maior

população carcerário o Brasil obteve aumento da taxa de aprisionamento considerando 2000 a

2016 de 455% de sua população carcerária. Considerando somente o contexto nacional o

aumento é ainda maior. Até junho de 2016 quando contava com 42 mil mulheres presas houve

um aumento equivalente a 655% de sua população em relação a 2000.

A superpopulação carcerária, portanto, é em grande parte estopim. A chama para

tantos outros problemas derivados quando não, agravados. Assim: “Se as condições da prisão

já são precárias, o excessivo contingente carcerário contribui sobremaneira para acentuar as

mazelas na vida dos presos, violando direitos mais elementares” (PRACIANO, 2007, p. 83).

Nesse sentido a Corte Interamericana de Direitos Humanos já se manifestou. Aqui

fragmento de medida provisória dada no caso Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho vs

Brasil:

Em primeiro lugar, a Corte destaca que o crescimento exponencial da população

carcerária dificulta essas mudanças estruturais, favorecendo a violação dos direitos

das pessoas privadas de liberdade. Além disso, esse crescimento torna ineficazes as

medidas que possam ser tomadas a respeito do aumento de vagas nos centros

penitenciários, que continuam sendo insuficientes em comparação com o alto

número de pessoas que neles ingressam. Em segundo lugar, a falta de acesso a

serviços de saúde e salubridade desencadeia o aumento do número de mortes das

pessoas privadas da liberdade no IPPSC. Essas deficiências são especialmente

graves numa situação de superlotação e superpopulação, como aquela em que já se

encontra o Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho(CORTE IDH, 2017)

Ainda em relação a esse obstáculo em recente decisão do Supremo Tribunal Federal, o

Ministro Edson Fachin em decisão monocrática concedeu liminar favorável a um pedido de

Habeas Corpus coletivo e limitou a taxa de ocupação no referido caso a 119% após considerar

que a lotação em excesso Unidade de Internação Regional Norte (UNINORTE) traz

condições degradantes a convivência dos internos.(Ag.Re.HC 13.988/ES)

Esgotos a céu aberto, ratos e baratas. A precariedade, falta de higienização,

Page 22: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

23

atendimento médico insuficiente são algumas das violações cometidas.

Sabe-se, porém, que esses não são problemas enfrentados somente no corrente ano. No

Mutirão Carcerário de 2012, relataram as autoridades competentes que em presídios da

Região Norte do país, os presos sofriam com a escassez de água, má iluminação e o tenebroso

calor imperava visto a falta de ventilação adequada.

Em um desses aliás, um menor de idade (17 anos) juntava-se ao aglomerado de

homens presos (Mutirão Carcerário, p.29, 2012). Relata-se ainda, que em Santana, São Paulo,

presidiárias foram obrigadas a utilizar miolo de pão como absorventes ante a carência de

materiais básicos de saúde e higiene (Mutirão Carcerário, p. 29, 2012).

Apesar dos dados do Infopen (DEPEN, 2017) informarem que 85% das unidades

prisionais possuem módulos de saúde, válido acentuar que há discrepância e variantes de

Estado para Estado. Por exemplo, Bahia, Distrito Federal e São Paulo possuem 100% de suas

unidades com módulos de saúde. Já o Ceará possui 53%, o Paraná 49% e o Rio de Janeiro por

sua vez, detém 34% de unidades com módulos de saúde.

A presença de tais unidades demonstra um avanço do Poder Público na inserção e

concomitantemente efetivação do direito à saúde. Contudo, ainda não se fez suficiente frente à

vasta insalubridade inerente a tantas prisões. Em levantamento realizado pelo Instituto Igarapé,

por meio de estudos da pesquisadora Ana Paula Pellegrino (2017) constatou-se que nas

prisões do Rio de Janeiro, entre 2010 a Junho de 2016 houve 442 óbitos sendo que destes, 278

foram por motivo de doenças, ainda, 17 por insuficiência respiratória e 117 mortes das quais

não se conhece a causa determinante. Por violência, 13 óbitos foram constatados.

Os números do levantamento realizado pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro são

ainda mais alarmantes: Em 20 anos o número de mortes foi 10 vezes maior e somente nos

quatro primeiros meses de 2018 ocorreram 55 mortes, ou seja, o equivalente a 1 preso morto a

cada dois dias (DPRJ, 2018)

E no último levantamento do Infopen (DEPEN, 2017), a taxa de mortalidade no Brasil

para cada 10 mil pessoas privadas no primeiro semestre de 2016 fora de 13,6. Destes, 7,7

foram por motivos naturais(doenças) e 3,0 por violência.

As doenças são, portanto, as principais ceifadoras de vida. A rápida proliferação em

um ambiente superpopuloso tornam os cárceres lugares propícios a doenças

infectocontagiosas como, por exemplo, a tuberculose. Em 2017, segundo o Ministério da

Saúde, foram registrados 7.677 novos casos de tuberculose na população carcerária, sendo

Page 23: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

24

que o risco de adoecimento é 28 vezes maior em comparação com a população geral. Os

dados do Relatório Analítico do Infopen, demonstram ainda que a tuberculose, não é o único

mal transmissível a se enfrentar. No primeiro semestre de 2016, haviam 7.347 presos (homens

e mulheres) com HIV, sem contar os casos de sífilis (3.823), hepatite(2.453), entre outras.

Quanto às prisões femininas importante destacar a ausência de prisões voltadas ao

atendimento das necessidades da mulher. Ainda com base no levantamento realizado pelo

InfopenMulheres(DEPEN, 2018) as unidades prisionais com celas e dormitórios para

gestantes equivalia a 16% ou seja, 55 prisões.

A falta de estruturas para berçários/centro de referências materno-infantis (presente em

49 unidades) e de creches ( 9 unidades) contribuem para demonstrar as condições em que se

encontram os estabelecimentos prisionais. Assim, de acordo com o entendimento do

coordenador do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e de

Medidas Socioeducativas do Conselho Nacional de Justiça (DMF/CNJ), juiz auxiliar da

Presidência Luís Geraldo Lanfredi:

Os estabelecimentos penais, as estruturas internas desses espaços e as normas de

convivência no cárcere quase nunca estão adaptadas às necessidades da mulher, já

que são sempre desenhadas sob a perspectiva do público masculino. O atendimento

médico, por exemplo, não é específico. Se já faltam médicos, o que dirá de

ginecologistas, como a saúde da mulher requer. (CNJ, 2016)

Tais mazelas, entretanto, não são as únicas adversidades das prisões. Problema

recorrente e atual são as organizações criminosas que dominam através do medo, poder e

influência. Encarcerados adentram as prisões e saem moldados para a criminalidade e fiéis a

uma irmandade.

Nas palavras de PORTO (2008, p. 103):

E impressionante o poder de organizacao das faccoes[..] Como exemplo, alguns dos

principais lideres do Primeiro Comando da Capital (PCC) ingressaram no sistema

sem qualquer historico de criminalidade violenta[...]No entanto, forcados a adocao

de posturas radicais depois da internacao penitenciaria, em razao direta da tensao

existente no sistema, hoje comandam rebelioes, influenciam no dia-a-dia dos

detentos e de seus refens, ditando o rumo de vidas, comandando mortes, com

execucoes violentas e bizarras.

A título de exemplo, uma das maiores facções do Brasil, o Primeiro Comando da

Capital (PCC), surgiu em uma unidade prisional de Taubaté em 1993. Mascarada pelo ideal

de luta contra as más condições do sistema, buscava o domínio do sistema carcerário,

Page 24: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

25

expandindo posteriormente seus negócios para além dos muros. (PORTO, 2008, p. 73 – 74)

Para muitos a sensação de injustiça que os permeia, faz manifestar entre eles a

necessidade de se construir uma convivência em grupo fortalecida e solidária, pois para os

mesmos, prisão é uma escola de sobrevivência. Não é viver, é sobreviver. Em outras palavras,

é:

[...]a ação coletiva a partir da disseminação do ideário em torno da coesão, da união

e da solidariedade entre a população carcerária, tendo no sofrimento e na injustiça

poderosos elementos de identificação dos presos em torno de um nós, oposto

àqueles que são vistos como os perpetradores dessas injustiças, o Estado, na figura

dos seus braços repressores, as polícias e a administração prisional. (DIAS, 2011, p.

123).

Válido ressaltar que não se busca justificar a criação e adesão dos presos as

organizações criminosas, todavia, demonstrar a ótica de parte da população carcerária. Hoje, o

funcionamento das organizações está amplamente ligado ao lucro tão quanto está ligado aos

problemas sociais.

Nessa celeuma:

No caso das facções, ainda que haja a constatação de práticas ilegais, principalmente

o tráfico de drogas, para a obtenção de lucros, o lucro nunca é apontado pelos seus

membros como um fim em si mesmo, mas como uma forma de financiamento de

sua estrutura, que tem como objetivos últimos à luta – por meios legais e ilegais –

pelos interesses da massa carcerária ou de parcela das pessoas que a compõem.

(SHIMIZU, 2011. p. 71)

Logo, sem o propósito de esgotar a discussão a respeito da real motivação das

organizações criminosas, é seguro dizer que a presença de tais dentro das unidades prisionais

gera horrendas carnificinas, de modo consequente, extrai da massa carcerária direitos

essenciais.

Exemplo de tal assertiva, foram os sangrentos inícios de 2017 e 2018 com rebeliões

motivadas por brigas entre facções dentro dos presídios. Em Manaus ainda no primeiro dia do

ano de 2017, no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, de acordo com reportagem do

G1(2017)56 presos tiveram suas vidas ceifadas em confronto de facções.

Em aparente retaliação, dias após (19 de janeiro) 26 pessoas foram mortas na

Penitenciária Estadual de Alcaçuz em Nísia Floresta, Rio grande do Norte. (G1, 2017). O

corrente ano, não se deixou escapar. Em Goiás, na Colônia Agroindustrial de Aparecida de

Goiânia, os encarcerados se rebelaram e rumaram a ala de organização criminosa adversária.

Page 25: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

26

O resultado: 9 mortos, 14 feridos e muitos foragidos (ÉPOCA, 2018).

Ao que se pode concluir, em análise geral do sistema carcerário brasileiro é que o que

outrora fora considerado a tangente da humanização dos apenados não aparenta prosperar.

Assim nos ensina BITENCOURT (2011, p. 116):

Quando a prisão converteu-se na principal resposta penológica, especialmente a

partir do século XIX, acreditou-se que poderia ser um meio adequado para conseguir

a reforma do delinquente. Durante muitos anos imperou um ambiente otimista,

predominando a firme convicção de que a prisão poderia ser meio idôneo para

realizar todas as finalidades da pena e que, dentro de certas condições, seria possível

reabilitar o delinquente. Esse otimismo inicial desapareceu e atualmente predomina

certa atitude pessimista, que já não tem muitas esperanças sobre os resultados que se

possam conseguir com a prisão tradicional.

No entanto, esse extremado cumprimento de pena atiçou o lado moralmente

humanitário da sociedade. Desta feita, ainda nas palavras BITENCOURT (2011, p. 80):

Nos últimos tempos houve um aumento da sensibilidade social em relação aos

direitos humanos e à dignidade do ser humano. A consciência moral está mais

exigente nesses temas. [..] Essa maior conscientização social não tem ignorado os

problemas que a prisão apresenta e o respeito que merece a dignidade dos que, antes

de serem criminosos, são seres humanos.

Logo, a não violação dos direitos humanos dos presos deve-se partir da primícias de

que não se busca a impunidade mas a punição do indivíduo de maneira justa.

E é ao buscar entender o que seria uma punição justa que se verifica a ausência da

mesma. Isso porque as crises do sistema carcerário brasileiro causados pela violência e

condições precárias impossibilitam a efetivação do mínimo de dignidade possível inerente ao

ser humano.

2.2 A falência do sistema carcerário na ótica dos direitos humanos

Preceitua RAMOS (2017, p. 29) que os direitos humanos são o conjunto mínimo de

direitos para garantir a vida: digna, igual e livre.

Todavia, o entendimento pautado no senso comum, quanto aos fins dos direitos

humanos contribuem para sua profanação. Logo, (apesar do aumento da sensibilidade social

referida anteriormente) é conveniente a uma sociedade jazida na criminalidade que penas

Page 26: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

27

desproporcionais sejam aplicadas. Esquecemo-nos de que tal pensamento enraizado

socialmente é retrógrado e ineficaz. O discurso de ódio absorto de que direitos humanos é

direito de bandido contribui imensamente para a violação dos mesmos. Ora, difícil defender

direitos pelos quais a sociedade não demonstra interesse. Sim, uma sociedade alienada por tal

discurso não pretende discutir direitos pelos quais não entendem serem seus. Todavia, trata-se

de questão que deve ser discutida, senão vejamos, direitos humanos são inerentes à pessoa

humana, ou seja, a todos.

E quando se diz todos, diz respeito também aos encarcerados. Nas palavras de

LEMOS (2006, p 23):

Esse tipo de colocação espalha uma cultura de repúdio à dignidade das pessoas que

agiram em desconformidade com a lei penal, criando corrente de pensamento

popular apaixonada, que realmente crê e gostaria de ver efetivado um tratamento

penal cruel, degradante e até desumano para estes.

Frisa-se, no entanto que, afirmar que aos presos também são garantidos direitos que

lhe dão condição de dignidade, não significa afirmar que esta garantia é absoluta. Exemplo de

tal afirmativa se dá com a restrição de liberdade imposta pelo Estado aos particulares que

infringirem as leis, tolhendo-lhes o direito de ir e vir, em prol de um bem maior, qual seja, de

todos.

Trata-se, portanto, de restringimento aceito nos âmbitos dos direitos e necessário para

manutenção da ordem, o que remete ao jus puniendi do Estado. Dessa maneira, no

entendimento de GRECO (2015, p.58): “Só se pode ser verdadeiramente livre se essa

liberdade não for absoluta, pois, caso contrário, prevaleceria à lei do mais forte, e o direito do

mais fraco sempre seria arbitraria e abusivamente cerceado.”

Tem-se, portanto, que a privação de liberdade do homem é por si só oportuna e

necessária. Crucial assim, passar à análise de sua concretização.

No Brasil, de acordo com os dados do INFOPEN (2017), cerca de 64% da população

carcerária é negra. Ainda com base no levantamento realizado, de 482.645 pessoas privadas

de liberdade em que fora possível reunir informações a respeito de suas escolaridades, 51%

possui o ensino fundamental incompleto.

Pergunta-se. Possível vislumbrar a igualdade com base no apontamento acima? Sem

delongas, a igualdade para ser alcançada em sua totalidade precisa em certos momentos ser

desigual. Nas palavras de Manoel Gonçalves Ferreira Filho (2016, p. 138):

Page 27: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

28

A uniformidade do direito nao significa, todavia, que nao haja distincoes no

tratamento juridico. As distincoes sao, ao contrario, uma propria exigencia da

igualdade. Esta — como se sabe — consiste em tratar igualmente os iguais e

desigualmente os desiguais, na medida em que se desigualam. Tratar igualmente

desiguais, ou desigualmente iguais, importaria em injustica e em violacao da propria

igualdade. Dar ao menor o tratamento dado ao maior, e vice-versa, seria flagrante

injustica e desigualizacao, no fundo.

Logo, percebe-se que a distinção se faz necessária, mas essa não pode atingir somente

determinados grupos. Se realizada de tal forma, a distinção outrora aceita passa a ser uma

discriminação (FILHO, 2016, p. 138). Tal afirmação torna-se visível através de relato da

Comissão Parlamentar de Inquérito a respeito do Sistema Carcerário de 2009 que assim

dispôs:

Apesar das operações caras e cinematográficas – registradas pela mídia – com

figurões sendo retirados dos seus lençóis de cetim – algemados com fatias de queijo

do café da manhã nas mãos e jogados com seus ternos importados em camburões

insalubres, os resultados são poucos: a maioria dos detidos foi solta horas ou dias

após a prisão.[...] Do outro lado da moeda, a CPI encontrou inúmeros presos

apodrecendo em estabelecimentos desumanos e violentos por crimes simples como

furto de latas de leite, de peças de roupas, dívida ou por ameaça. A CPI constatou

também que há milhares de presos provisórios que aguardam há anos e sem

qualquer perspectiva de julgamento.

Restou-se também analisado pelo INFOPEN (DEPEN, 2017) que 1% da população

carcerária é deficiente, dentre esse porcentual há 1.169 pessoas com deficiência física e destas

somente 11% encontram-se em estabelecimentos adaptados. Dando seguimento a lógica

isonômica não deveriam os deficientes físicos estarem recolhidos em unidades prisionais

adaptadas já ao menos em sua maioria?

Quanto a esse contexto, GRECO (2015, p.41 - 42) faz duras críticas:

Quando o autor da prática da infração penal, por exemplo, é uma pessoa sem

“importância social”, isto e, quando aquele que cometeu o delito pertence as

camadas sociais mais baixas, com certeza, a lei será aplicada a ele com todo rigor.

Ao contrário, quando o autor da infração penal frequenta as camadas sociais mais

elevadas, faz parte de um seleto grupo que inclusive, em algumas situações, possui o

poder de conduzir o destino da Nação, integrando algum dos Poderes constituídos

(Executivo, Legislativo e Judiciário), o tratamento que lhe é dispensado é

completamente diferente.

Percebe-se, portanto, que a isonomia, dada a sua importância, não é respeitada e posta

em prática como deveria.

Assim, exemplifica FURTADO (2016, p. 15):

[...]há que se tratar igualmente A e B porque ambos são pessoas, e portanto

Page 28: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

29

detentoras de dignidade humana. A partir do momento em que, em situação

idêntica,[...] trata-se A de forma diferenciada em relação a B, numa primeira ótica o

que restou depauperado foi à dignidade humana de B, posto que, não obstante ser

pessoa humana, merecedora em idêntica forma que A do respeito a sua dignidade,

foi nesta escoriado ao ser passado para trás com o injustificado privilégio que se deu

a A, ocasião em que se feriu, igualmente, o princípio da isonomia.

Tanto a liberdade quanto à igualdade, ora tratadas possuem íntima ligação com a

dignidade humana. Dessa feita, perante o contexto apresentado entende-se portanto, que se

aqueles direitos não lhe são absolutos, a dignidade também não lhes será.

Pois bem, dizer que a dignidade não lhe é absoluta é decerto impactante, mas

certamente coerente com os preceitos dos direitos humanos. Isso porque se faz necessário

uma ponderação de interesses, de princípios a serem utilizados a depender do caso concreto

que melhor atendam aos direitos tratados em questão. (GRECO, 2015, p. 70 – 71).

Todavia, ainda nas palavras de GRECO (2015, 71):

Não devemos esquecer,contudo, aquilo que se entende por núcleo essencial da

dignidade da pessoa humana, que jamais poderá ser abalado. Assim, uma coisa é

permitir que alguém, que praticou uma infração penal de natureza grave, seja

privado do seu direito de liberdade pelo próprio Estado, encarregado de proteger,em

última instância, os bens jurídicos; outra bem diferente é permitir que esse mesmo

sujeito, uma vez condenado, cumpra sua pena privativa de liberdade em local

degradante de sua personalidade; que seja torturado por agentes do governo com a

finalidade de arrancar-lhe alguma confissão; que seus parentes sejam impedidos de

visitá-lo; que não tenha uma ocupação ressocializante no cárcere etc. A sua

dignidade deverá ser preservada, haja vista que ao Estado foi permitido somente

privá-lo da liberdade, ficando resguardados, entretanto, os demais direitos que dizem

respeito diretamente à sua dignidade como pessoa.

Por consequencia, a dignidade se perfaz a essencia dos direitos humanos.E:[..]

qualidade intrinseca e distintiva de cada ser humano, que o protege contra todo tratamento

degradante e discriminacao odiosa, bem como assegura condicoes materiais minimas de

sobrevivencia(SARLET, apud, RAMOS, 2017, p. 77).

Assim, ao permitir penalizações e o cumprimento delas em lugares degradantes, com

população carcerária maior do que sua capacidade, mortes, estupros e outros horrores

cometidos atrás das grades, o Estado faliu em cumprir com a sua responsabilidade de

preservar e garantir os direitos humanos pois retirou do encarcerado mais do que lhe fora

permitido.

Dessa forma, a problemática não é em si privar a liberdade, mas garantir que essa

privação se dê somente em seus fins, ou seja, sem desvio do que lhe compete realizar. Há de

Page 29: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

30

se lembrar de portanto, da finalidade da pena. A ressocialização, por exemplo, é um fim

comum almejado, entretanto ainda não alcançado. E a respeito à jurisprudência do Supremo

Tribunal Federal (STF) no RE 592.581(2015, p. 23), sobre a relatoria do Ministro Ricardo

Lewandowski nos ensina:

O fato é que a sujeição dos presos às condições até aqui descritas mostra, com

clareza meridiana, que o Estado os está sujeitando a uma pena que ultrapassa a mera

privação da liberdade prevista na sentença, porquanto acresce a ela um sofrimento

físico, psicológico e moral, o qual, além de atentar contra toda a noção que se possa

ter de respeito à dignidade humana, retira da sanção qualquer potencial de

ressocialização. Sim, porque tais pessoas, muito embora submetidas à guarda e

vigilância do Estado, devem merecer dele a necessária proteção, inclusive e

especialmente contra violências perpetradas por parte de agentes carcerários e outros

presos[...]

De modo a evitar tais problematizações e na busca da efetivação da dignidade em

respeito aos direitos humanos e a ressocialização do preso são assegurados aos condenados

inúmeros direitos. Direitos os quais ao menos no papel são belíssimos.

Page 30: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

31

III A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO ÂMBITO

PRISIONAL

3.1 Direitos humanos e fundamentais assegurados aos condenados

A Constituição trouxe em seu rol de direitos diversos dispositivos a fim de assegurar e

disciplinar o cumprimento humanizado da pena no Brasil adequando-se ao respeito à

condição humana e a dignidade atrelada a essa condição por meio dos direitos fundamentais.

Observa-se o Artigo 5° da Constituição a respeito dos direitos e garantias

fundamentais. No inciso III estabelece a proibição ao tratamento desumano ou degradante; no

inciso XLVII, a constituição veda a pena: de morte, de caráter perpétuo, de trabalhos forçados,

cruéis e de banimento.

E vai além, no inciso XLVIII do referido artigo, a Carta Magna instituiu o

cumprimento da pena em estabelecimentos diferenciados de acordo com o sexo, idade e

natureza do delito; no inciso XLIX, institui o respeito à integridade física e moral do preso; no

inciso L, estabelece que sejam asseguradas condições para que as mães presidiárias

permaneçam com seus filhos durante o período da amamentação.

A incidência de direitos restou visivelmente acentuada na Constituição e perfeitamente

exemplificada pelo mencionado artigo. Em seu extenso rol rege ainda no mesmo artigo 5° em

seu inciso LIII, que o julgamento(processamento e sentenciamento) do acusado deva ser

realizado por autoridade competente para tanto; no inciso LIV, institui o devido processo

legal e no inciso LVIII, a presunção da inocência até o trânsito em julgado da sentença penal

condenatória, esse aliás, válido ressaltar a mudança, em que pese as recentes discussões,

acerca do entendimento jurisprudencial pátrio e possibilidade de execução provisória da pena

antes do trânsito em julgado.(HC 126.292/SP)

Feita breve consideração dos direitos fundamentais far-se-á necessário apurarmos a

proteção conferida no âmbito internacional.

Ao verificarmos a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789),

documento referencial na história dos direitos, verifica-se em seu Artigo 16 a seguinte

Page 31: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

32

afirmação: “A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem

estabelecida à separacao dos poderes nao tem Constituicao”. Assim:

Constituicao e necessariamente uma organizacao limitativa do Poder.

Tal limitacao, ademais, ha de ter em mira a salvaguarda dos direitos fundamentais.

Estes sao anteriores e superiores ao Estado que, em ultima analise, se destina a

protege-los e assegura-los. (FILHO, 2014, p. 33)

Igualmente, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), já em seu

preâmbulo afirma a força, o valor a ser depositado no homem quando estabelece: “[...]sua fé

nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de

direitos entre homens e mulheres[...]”.

Desta feita, na mencionada Declaração basta a condição de indivíduo para ser titular

dos direitos nela previstos (PIOVESAN, 2015, p. 223).

Logo, reafirma-se que a condição de apenado não tem o condão de retirar do homem

os direitos a ele inerentes.

Com o intuito de reforçar o entendimento de que direitos humanos são para todos, faz-

se conveniente mencionar a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem

(1948).Contudo, a referida Declaração por seus status de Resolução não possui força jurídica

vinculante.(MARTIN; PINZÓN, 2006, p. 29). Mesmo assim, veja-se fragmentos dos Artigos

11 e 25 respectivamente:

Toda pessoa tem direito a que sua saúde seja resguardada por medidas sanitárias e

sociais relativas à alimentação, roupas, habitação e cuidados médicos

correspondentes[...]

Ninguém pode ser privado da sua liberdade, a não ser nos casos previstos pelas leis e

segundo as praxes estabelecidas pelas leis já existentes. [...]

Verifica-se, por conseguinte, a presença da universalidade dos direitos humanos nas

expressões “Toda pessoa” e “Ninguem”.

No mais, além da Declaração Universal de Direitos Humanos e da Declaração

Americana dos Direitos e Deveres do Homem, o Brasil é signatário de Instrumentos

Internacionais de Direitos Humanos, por exemplo, Convenção Americana Sobre Direitos

Humanos, de 1969(Pacto de São José da Costa Rica) e Convenção Contra a Tortura e Outros

Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes de 1984. Válido ressaltar ainda, as

diversas Regras(recomendações) da ONU com o intuito de promover o respeito aos direitos

humanos, quais sejam, as Regras de Bangkok(Regras das nações unidas para o tratamento de

Page 32: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

33

mulheres presas e medidas não privativas de liberdade para mulheres infratoras), Regras de

Mandela(Regras mínimas das Nações Unidas para o tratamento de presos), Regras de

Pequim(Regras mínimas das Nações Unidas para a administração da justiça de menores),

Regras de Tóquio(Regras mínimas padrão das Nações Unidas para elaboração de medidas não

privativas de liberdade) e as Regras internacionais para o enfrentamento da tortura e maus-

tratos, todas aliás, em observância pelo Brasil.

Nas Regras mínimas das Nações Unidas para o tratamento de presos, faz-se necessário

ressaltar que ainda em suas observações preliminares, se dispôs que não se tem o fito de

demonstrar um modelo prisional, mas sim:“[...]estabelecer os bons princípios e práticas no

tratamento de presos e na gestao prisional.” E vai alem ao deixar claro o conhecimento de que

não se faz possível a aplicação de todas as regras de maneira geral. Nota-se dessa maneira,

que o que se requer é direcionar os Estados ao atendimento de condições mínimas e

dignamente possíveis.

Preceitua o Artigo 1° da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São

José da Costa Rica, 1969):

Artigo 1º Os Estados partes nesta Convenção comprometem se a respeitar os direitos

e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa

que esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma, por motivo de raça,

cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem

nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição

social.

Além do respeito aos direitos, estabelece ainda como deveres do Estado: A

consideração de que todas as pessoas são humanas (Artigo 1.1) bem como adotar disposições

de direito interno (Artigo 2°).

Já se faz possível perceber que ao convencionar em cumprir o contido nos Tratados

Internacionais, mas não o efetivar há de se falar em violação de direitos por parte do Estado.

Tal argumento é reforçado pelo disposto na Convenção de Viena (1969) consagrado

pelo princípio da boa-fé. Ora, ao Estado não se impôs a sua anuência, mas o fazendo por

liberalidade, deve o pactuado ser cumprido. Assim, nos reforça (PIOVESAN, 2015, p. 115) :

Os tratados nao podem criar obrigacoes para os Estados que neles nao consentiram,

ao menos que preceitos constantes do tratado tenham sido incorporados pelo

costume internacional. Como dispoe a Convencao de Viena: “Todo tratado em vigor

e obrigatorio em relacao as partes e deve ser cumprido por elas de boa-fe”.

Acrescenta o art. 27 da Convencao: “Uma parte nao pode invocar disposicoes de seu

Page 33: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

34

direito interno como justificativa para o nao cumprimento do tratado”.

Sem mais tardanças, se o Estado tem o dever de tomar para si as decisões e cumpri-las,

mas não os faz, só resta demonstrado e reforçado o entendimento de que até o momento não

possui capacidade alguma para lidar com seu sistema carcerário.

Assim, o Estado garantidor tem o dever de tomar todas as medidas que lhe são

cabíveis no âmbito interno a fim de que não seja necessário sua figura como réu.

Contudo, atualmente em razão das constantes violações não é o que se vê. Daí a

importância de um sistema internacional de proteção aos direitos humanos que objetive

garantir um Estado Democrático de Direito e consequentemente cumpridor das leis no âmbito

nacional pelas nações signatárias do mencionado sistema.

3.2 A proteção internacional em face das violações de direitos humanos

Pois bem, com as recentes discussões e ainda aparentemente distantes resoluções no

que diz respeito ao tratamento humanamente digno, é de suma importância destacar a atuação

de um sistema de proteção, aqui mais especificamente, do Sistema Interamericano de Direitos

Humanos (SIDH).

O referido Sistema é alicerçado por dois órgãos de proteção dos direitos humanos

quais sejam a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de

Direitos Humanos.

Criada em 1959 pela Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA) de 1948, o

Pacto de Bogotá, a Comissão fora o passo inicial da OEA na proteção dos Direitos Humanos.

Objetivando a promoção e o respeito aos aludidos direitos ganhou o status de órgão autônomo

da OEA. Não obstante, é com a reforma da referida Carta através do Protocolo de Buenos

Aires (1967) e com a entrada em vigor deste em 1979 que a Comissão passa a ser o principal

órgão da OEA.(MARTIN; PINZÓN, 2006, p. 29 – 30).

Ja a Corte tem o seu inicio com a Convencao Americana de Direitos Humanos e

objetiva: “[…] a aplicacao e a interpretacao da Convencao Americana sobre Direitos

Humanos[...]”(GUERRA, 2013, p. 72). A referida Convencao tambem denominada Pacto de

São José da Costa Rica (1969), entrou em vigor após a 11° ratificação em 1978(MALHEIRO,

2016, p. 283). No Brasil, deu-se a ratificação em 1992, e somente em 1998 aceitou-se a

Page 34: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

35

competência da Corte (CIDH, [2007?] )

Aliás, importante destacar que tal Sistema não busca retirar do Estado o seu papel de

garantidor e efetivador dos direitos, mas complementá-lo caso esse falhe com sua atribuição

interna (MAZZUOLI, 2017, p. 143).

Aos órgãos do Sistema Interamericana cabem portanto, o monitoramento dos

compromissos assumidos pelos Estados.

3.2.1 A Comissão Interamericana de Direitos Humanos

Hodiernamente, no Sistema de Proteção a Comissão possui dupla função: Proteção dos

Direitos Humanos como principal órgão da OEA e por ser também órgão da Convenção

Americana de Direitos Humanos, detém o papel de análise de petições e submissão à

jurisdição contenciosa da Corte. (RAMOS, 2004, apud RAMOS, 2017, p. 291).

Assim, no entendimento de GUERRA(2017, p.65) a Comissão que a princípio possuía

função de fomentar, promover os direitos humanos, atualmente além dessa, detém ainda o

poderio de efetivação desses direitos haja vista ser a detentora do conhecimento, recebimento,

das petições individuais e das comunicações interestatais (Artigo 45 da Convenção Americana

sobre Direitos Humanos, 1969) a respeito das violações cometidas.

Cabe portanto, a Comissão através das petições ou comunicações recebidas realizar o

juízo de admissibilidade dada às peculiaridades que lhe são inerentes como o prévio

esgotamento dos recurso internos e a inexistência de litispendência (PIOVESAN, 2017, p.

359 – 360)

O notório caso ocorrido na Casa de Detenção Carandiru em 1992, São Paulo, é decerto

impactante por demonstrar a precariedade do sistema como um todo. Denunciado na

Comissão Interamericana de Direitos Humanos em 1994, tratava-se da morte de 111 presos

(84 ainda não condenados) e de lesões graves sofridas por outros internos. Revelou além das

condições precárias em que se encontram os presos (como a superlotação), o tratamento

imprimido pelos agentes estatais aos presos e proteção das condutas violadoras visando à

impunidade.

Tal afirmativa se constata no Relatório n° 34/00 do referido caso onde há relatos da

ocultação de provas e execução de testemunhas. Por outro lado, necessário o reconhecimento

dos treinamentos precários dos agentes policias e penitenciários conforme constata ainda o

Page 35: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

36

Relatório ao trazer em suas recomendações à aplicação de políticas e treinamentos a solução

pacífica de conflitos.

No mais, tendo ainda em vista os objetivos da Comissão, são expedidas em situações

de gravidade e urgência medidas cautelares por tal entidade a fim de prevenir danos

irreparáveis conforme dispõe o Artigo 25, itens 1 e 2 de seu Regulamento próprio, aqui

especificamente demonstradas às medidas relacionadas às situações ocorridas dentro do

sistema prisional brasileiro.

Tais medidas são recomendações da Comissão que caso não cumpridas podem ensejar

o pedido da Comissão de emissão de medidas provisórias pela Corte Interamericana aos

Estados parte da Convenção ( MARTIN; PINZÓN, 2006, p. 94).

A título de exemplo, a Comissão já emitiu inúmeros pareceres ao Estado na busca pela

efetivação dos direitos humanos em diversas ocasiões. Em 2015, na MC 60-15, que diz

respeito aos Adolescentes privados de liberdade em unidades de atendimento socioeducativo

de internação masculina do estado do Ceará, Brasil a Comissão solicitou ao Estado que sejam

adotadas medidas necessárias para:

a) salvaguardar a vida e a integridade pessoal dos adolescentes detidos [...]de acordo

com as normas internacionais e à luz do interesse superior da criança. b) forneça

condições adequadas em termos de infraestrutura e pessoal suficiente e idôneo, bem

como nos aspectos relativos à higiene, alimentação, educação e tratamento médico. c)

Assegure a implementação de programas e atividades inidôneas e adaptadas aos

adolescentes para garantir o seu bem-estar social[...] d)implemente medidas idôneas

para garantir as condições de segurança[...]e)Execute ações imediatas para reduzir

substancialmente o número de detidos[...](Comissão IDH, 2015)

Há ainda outros exemplos que merecem ser citados e corroboram a situação de

violação e atuação protetiva da Comissão Interamericana de Direitos Humanos por meio das

medidas cautelares. Igualmente, no Centro de Atendimento Juvenil Especializado de Brasília,

o CAJE (2006), em que adolescentes foram torturados e mortos, sendo que determinada

ocasião encontrou-se o corpo de um deles mutilado em uma cela. Na Carceragem Da 76ª

Delegacia De Polícia (76ª Dp) De Niterói, Rio de Janeiro (2006), 400 pessoas se

aglomeravam em um espaço destinado a 140, sem observância aos critérios de separação dos

presos incluindo presos de facções rivais na mesma cela.

No Centro de Detenção Provisória em Guarujá, São Paulo (2007) se dispôs no mesmo

local, menores e adultos. Não bastando, os adolescentes não podiam deixar suas celas para

atendimentos das necessidades alimentícias e fisiológicas. Aqui já se faz conveniente

Page 36: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

37

mencionar a ofensa à Constituição(Artigo 5°, inciso III e XLVIII) e aos Tratados

Internacionais, como o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966), em seu

Artigo 10, alinea b, que dispoe: “As pessoas processadas, jovens, deverao ser separadas das

adultas e julgadas o mais rápido possivel.”

Ainda, na Penitenciária Polinter de Neves, de São Gonçalo, Rio de Janeiro (2009)

constatou-se uma proliferação de doenças sem o adequado tratamento e ainda, pessoas com

doenças contagiosas nas celas junto aos demais. Na Unidade de Internação Socioeducativa

(Unis), em Cariacica, Espírito Santo (2009), adolescentes foram mortos, quando não,

espancados, agredidos e torturados.

No Departamento de Polícia Judiciária (DPJ), de Vila Velha, Espírito Santo (2010)

haviam cerca de 160 pessoas em compartimento designado para 36 indivíduos em condições

degradantes. No Centro Penitenciário Professor Aníbal Bruno em Recife, Pernambuco (2011),

desde 2008 ao menos 55 pessoas tiveram mortes violentas; no Complexo Penitenciário de

Pedrinhas, de São Luiz, Maranhão (2013); os presos estariam em situação de risco devido aos

diversos atos de violência; no Presídio Central, de Porto Alegre, Rio Grande do Sul (2013), os

presos foram submetidos a diversas violações entre eles a precária situação de higienização e

acesso à saúde e a falta de controle por parte do Estado dentro da unidade prisional.

As medidas cautelares são portanto, instrumento utilizado pela Comissão na busca

pela proteção de direitos que lhe compete a partir das particularidades de cada caso concreto

analisado (OEA, [2011?]).

Com tantas menções de situações que ensejaram a atuação da Comissão e a reiteração

das violações em tempos e espaços distintos, é de suma importância verificar a atuação da

Corte Interamericana de Direitos Humanos a qual passaremos a análise.

3.2.2 A Corte Interamericana de Direitos Humanos

A Corte Interamericana de Direitos Humanos, possui dupla competência definidas

pela Convenção Americana de Direitos Humanos (Artigos 61 a 64), quais sejam: consultiva e

contenciosa.

No caso da competência consultiva, o artigo 64 da Convenção Americana nos

demonstra se tratar da emissão de pareceres a respeito da interpretação da Convenção ou dos

demais Tratados Internacionais de Direitos Humanos ratificados pelo Estado, ou ainda, da

Page 37: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

38

compatibilidade das normas de âmbito interno com as normas do direito internacional.

Já a competência contenciosa está relacionada com os julgamentos propriamente ditos

realizados pela Corte ante as violações cometidas pelos Estados sendo que somente pode ser

exercida tal competência em face dos Estados partes da Convenção Americana que a

reconheceram expressamente (MAZZUOLI, 2017, p.149).

Cabe a Corte portanto o dever de punição pelas violações e a imposição ao Estado de

uma reparação à vítima pelo dano causado (GUERRA, 2013, p. 74).

Além disso, não obstante o fato de somente a Comissão e os Estados partes poderem

submeter caso diretamente a apreciação da Corte, como forma de garantir a representação das

vítimas propriamente ditas, é facultado aos particulares à apresentação de defesa de forma

autônoma nos casos submetidos pela Comissão (PIOVESAN, 2017, p. 368 - 369).

Outra competência da Corte é a edição de medidas provisórias. Conforme mencionado

anteriormente, caso haja solicitação da Comissão a Corte poderá conceder medidas

provisórias a serem tomadas pelo Estado ainda que não submetido o caso a sua apreciação.

Todavia, essa competência se estende aos casos em que esteja atuando, acaso exista a situação

de extrema gravidade ou urgência (MAZZUOLI, 2017, p. 150).

No caso do Brasil, são vários os exemplos das referidas medidas tomadas pela Corte

como no Presídio Urso Branco de Porto Velho, Rondônia(2002, 2004, 2005, 2009 e 2011); no

Complexo Tatuapé, FEBEM, em São Paulo(2005, 2006, 2007 e 2008); na Penitenciária Dr.

Sebastião Martins Silveira, de Araraquara, São Paulo (2006 e 2008) e ainda no Complexo de

Pedrinhas, de São Luís, Maranhão (2014), entre outros. Tais exemplos, tornam perceptível a

constância de violações ocorridas no decorrer dos anos.

Aliás no Presídio Urso Branco na última resolução apresentada em 2011, a Corte

aponta divergências quanto ao informado pelos denunciantes e pelo Estado. De um lado, a

informação da continuidade de ocorrência de episódios de violência, de outro, o Estado

alegando a tomada de medidas.

No mais, a urgência e complexidade com que se trata as violações de direitos humanos

fez com que a Corte Interamericana além das medidas provisórias anteriormente tomadas,

incorporasse em única Resolução quatro casos (assuntos Da Unidade De Internação

Socioeducativa, Do Complexo Penitenciário De Curado, Do Complexo Penitenciário De

Pedrinhas, E Do Instituto Penal Plácido De Sá Carvalho) em que o Brasil se encontrava no

banco dos réus e determinou a realização de audiência pública conjunta demonstrando ainda

Page 38: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

39

mais que o problema pode ser metódico e estrutural. Assim:

A distância geográfica entre os estabelecimentos penitenciários cujas condições são

objeto de medidas provisórias e seu pertencimento a diferentes regiões do país,

indicaria que se trata de um fenômeno de maior extensão do que os quatro casos

trazidos a esta Corte, o que poderia ser um indício de eventual generalização de um

problema estrutural de âmbito nacional do sistema penitenciário. (CORTE IDH,

2017).

Isto posto, observando as múltiplas decisões proferidas acerca de um mesmo caso e a

reunião de casos percebe-se que há uma problemática não somente pelo fato do Estado não

cumprir com as recomendações mas também por serem as providências adotadas insuficientes.

No entendimento da Corte: “[…] Nota-se portanto, um problema quanto à implementação e à

eficácia das medidas de proteção dispostas internamente[...]” (CorteIDH, 2011, p. 6)

Ainda a título de análise, a respeito do Complexo de Pedrinhas verifica-se o seguinte

fragmento de medida provisória da Corte:

A CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, no uso das

atribuições conferidas pelo artigo 63.2 da Convenção Americana e 27 do

Regulamento, RESOLVE: 1. Requerer ao Estado que adote, de forma imediata,

todas as medidas que sejam necessárias para proteger eficazmente a vida e a

integridade pessoal de todas as pessoas privadas de liberdade no Complexo

Penitenciário de Pedrinhas, assim como de qualquer pessoa que se encontre neste

estabelecimento, incluindo os agentes penitenciários, funcionários e visitantes. 2.

Requerer ao Estado que, mantenha os representantes dos beneficiários informados

sobre as medidas adotadas para implementar a presente medida provisória. 3.

Requerer ao Estado que informe à Corte Interamericana de Direitos Humanos a cada

três meses, contados a partir da notificação da presente Resolução, sobre as medidas

provisórias adotadas em conformidade com esta decisão. 4. Solicitar aos representantes dos beneficiários que apresentem as observações que considerem

pertinentes ao relatório requerido no ponto resolutivo anterior dentro de um prazo de

quatro semanas, contado a partir do recebimento do referido relatório estatal. 5.

Solicitar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos que apresente as

observações que considere pertinentes ao relatório estatal requerido no ponto

resolutivo terceiro e às correspondentes observações dos representantes dos beneficiários dentro de um prazo de duas semanas, contado a partir da transmissão

das referidas observações dos representantes. 6. Dispor que a Secretaria da Corte

notifique a presente Resolução ao Estado, à Comissão Interamericana e aos

representantes dos beneficiários. (CORTE IDH,2014)

Assim, imprescindível ressaltar o alcance dos direitos humanos na decisão acima

mencionada ao dispor que o Estado deve promover a adoção de medidas protetivas não

somente daqueles privados de liberdade mas de todos os envolvidos na carceragem.

Outro ponto a se destacar a respeito do papel da Corte frente às violações de direitos

humanos é quanto à vinculação e eficácia de suas decisões. Ensina-nos MAZZUOLI (2017, p.

Page 39: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

40

150) que as sentenças proferidas pelo referido Tribunal possuem força vinculante e como tal

definitivas e inapeláveis conforme dispõe a Convenção em seu Artigo 67. Todavia, o alcance

das decisões proferidas vai além dos Estados pelo qual se proferiu diretamente a decisão,

sendo portanto a interpretação da Corte alcançável e de observação de todos os Estados da

Convencao. Logo: “[...]segundo o atual pensamento da Corte, para o Estado em causa, a

sentença tem autoridade de res judicata, e para terceiros Estados, vale como res

interpretata.”(MAZZUOLI, 2017, p. 150)

Desta feita, ainda que não haja sentença em relação ao Estado mas já tenha sido

decidido anteriormente a respeito de determinado assunto e não fora acatado houve desídia e

descumprimento das decisões da Corte por parte do Estado. Como forma de corroborar tal

entendimento, explicita SALDANHA (2015):

[...]a jurisprudência internacional dos direitos humanos deve ser considerada como a

interpretação oficial e, amiúde, em caráter último e definitivo, acerca dos

dispositivos dos tratados e convenções internacionais sobre a matéria. Com efeito, o

sentido e o alcance de uma disposição prevista em tais marcos normativos são

determinados pelo texto e, como última ratio, pela interpretação que o tribunal de

direitos humanos realiza. A interpretação tipifica o caráter normativo do texto, cujo

cumprimento pode – e deve – por força do dever de controle de convencionalidade,

ser cumprido pelos estados sob pena de responsabilidade internacional.

No caso das violações ocorridas no sistema prisional ainda se faz possível notar

recorrente descumprimento por parte do Estado das decisões proferidas. Contudo, inegável a

importância dada a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos e a

interpretação da Convenção que o referido órgão impõe. A fim de corroborar tal fundamento a

jurisprudência do Supremo Tribunal Federal dispôs:

Vale sublinhar, nesse passo, que, a partir do momento em que o Brasil adere a um

tratado ou a uma convenção internacional, sobretudo àqueles que dizem respeito aos

direitos humanos, a União assume as obrigações neles pactuadas, sujeitando-se,

inclusive, à supervisão dos órgãos internacionais de controle, porquanto somente ela

possui personalidade jurídica no plano externo. (STF. RE 592581 / RS, )

A busca pelo motivo da inobservância das obrigações pactuadas e da interpretação que

lhe fora conferida não é simples e decerto formadora de inúmeras opiniões e discussões. Um

motivo a ser levado em conta seria os valores culturais da nação. Assim:

Seguramente, as razões para a existência, ainda, de elevados índices de negativa à

força vinculante dos precedentes da CIDH por parte dos organismos estatais, são

Page 40: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

41

múltiplas. Mas, dentre elas, talvez seja possível buscarmos inspiração na profunda e

fina análise realizada por Luiz Guilherme Marinoni, cuja abrangência, ousamos

alargar, se dá para grande parte dos países da América Latina, no sentido de que a

resistência e a negação aos precedentes deriva, em muito, da cultura em que o

sujeito não se encontra obrigado a se comportar de acordo com o direito, conduta

essa que produz, como efeito principal, uma cultura em que a unidade, a

generalidade ou mesmo a igualdade perante o direito, não são valores ou ideais a

serem seguidos. (SALDANHA, 2015)

Isto posto, percebe-se que os direitos humanos no Brasil ainda sofrem com a ausência

e dificuldade de sua efetivação, ainda que contem com a proteção de Sistemas Internacionais

de Proteção.

Em vista disso, com o propósito de verificar soluções para o cumprimento da pena de

função reabilitadora e diminuição das violações de direitos humanos faz-se necessário breve

análise de penas alternativas a pena privativa de liberdade.

3.3 Alternativas a pena privativa de liberdade

Atualmente, paira grande dúvida a respeito da real capacidade da pena privativa de

liberdade ressocializar o indivíduo. Como opção a esse empecilho se faz imprescindível

mencionar as alternativas que surgem à pena privativa de liberdade como forma de possíveis

soluções rumo a diminuição da população carcerária.

Certamente digno de grandes debates, é imperioso falarmos de uma possível solução

para o sistema. Isso porque apesar de lhe ser privado temporariamente de deu direito à

liberdade, os demais direitos são por si só inerentes aos presos, isso porque não se trata de

merecer ou não. Trata-se somente de ter direito. Em outras palavras:

O direito não é dado por compaixão, mas porque é um direito. Ele não necessita de

explicação alguma. É porque decidimos viver em sociedade, reconhecendo a cada

um os mesmos direitos, que esta exigência moral se torna uma exigência social,

jurídica. Não se trata de bem ou mal no reconhecimento dos direitos de cada

um.(MAEYER, 2013, p. 48 – 49)

Feito breves considerações, é de fundamental importância analisarmos tais alternativas.

Todavia, indispensável, de todo modo, esclarecer que não houve a pretensão de esgotar o rico

tema no tocante às alternativas, mas sim delimitar o estudo a importância de tais penalidades e

sua relação com a proteção dos direitos humanos.

Page 41: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

42

3.3.1 Penas e medidas alternativas

Tais alternativas não são opções meramente utópicas mas já se perfazem presentes no

sistema penal brasileiro. No mais, a alternância na modalidade de pena pode-se dar ainda

antes da condenação através das chamadas medidas alternativas. Assim, vislumbrando a

possibilidade de aplicação das referidas medidas caberia ao magistrado aplicá-la em

detrimento da prisão cautelar. Essa aplicação por sua vez, evitaria o imbróglio de um

indivíduo que quando da sua condenação fosse solto (caso dentro dos critérios de substituição

da pena privativa) mas que tenha sido preso durante a instrução. (GRECO, 2017, p. 307)

Outros meios seriam as penas restritivas de direitos e multa aplicáveis em substituição

à pena privativa de liberdade. Sem adentrar na especificidade de cada pena ou medida a ser

adotada decerto é que tais alternativas possuem vários pontos positivos, dentre os quais se faz

necessário o destaque de alguns. Isto posto, ainda no entendimento de GRECO ( 2017, p. 305

– 306), ao condenado garante-se o convívio familiar e social facilitando a ressocialização,

haja vista a desnecessidade de retirá-lo da convivência em sociedade; possibilita ainda, a

manutenção do emprego e subsistência desse e amparo aos familiares; entre outros benefícios.

De igual forma, a possibilidade de alternativas à pena privativa está intimamente

ligada a diminuição da estigmatização do indivíduo preso. Isso porque o simples fato de estar

preso serve para macular a imagem daquela pessoa em frente a sociedade.

E ainda, nas palavras de HULSMAN; CELIS (1993, p. 69) :

[...]Em inúmeros casos, a experiência do processo e do encarceramento produz nos

condenados um estigma que pode se tomar profundo. Há estudos científicos, sérios e

reiterados, mostrando que as definições legais e a rejeição social por elas produzida

podem determinar a percepção do eu como realmente "desviante" e, assim, levar

algumas pessoas a viver conforme esta imagem, marginalmente.

Temos portanto, com base no que fora exposto e considerando a situação

anteriormente relatada a respeito da situação do sistema prisional, que em determinados casos

em que seja possível a substituição, prudente seria a utilização de tais alternativas a fim de se

evitar que ainda mais indivíduos incorram nas condições degradantes dos presídios, não se

enverede a fundo na criminalidade e não se sinta segredado pela sociedade.

Não obstante, levando-se em conta a problemática das violações de direitos humanos

Page 42: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

43

surgem além das medidas e penas alternativas, questionamentos a respeito da eficiência do

Estado em tratar o sistema prisional e a possibilidade de privatização. Ainda com relação a

uma possível solução aos problemas enfrentados pela busca a efetivação da dignidade humana

faz-se imprescindível mencionar um dos maiores problemas atuais e a legislação a seu

respeito, qual seja, a guerra contra as drogas.

3.3.2 Reforma da lei de drogas - 11.343/06

De acordo com os dados parciais do BNMP 2.0 (2018), o crime de tráfico representa

24% da população carcerária. Pautada na distinção entre o usuário e o traficante, a lei de

drogas 11.343/2006 inovou ao proporcionar não somente a criminalização para o traficante,

mas também a despenalização do porte para uso de drogas (ANDRADE; SILVEIRA;

TAFFARELLO; SIU (coord.) 2015, p. 19 – 20).

Tal distinção, é facilmente percebida ao compararmos os Artigos 28 e 33 da referida

lei, respectivamente:

Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para

consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal

ou regulamentar será submetido às seguintes penas:

I - advertência sobre os efeitos das drogas;

II - prestação de serviços à comunidade;

III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

[...]Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à

venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,

ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem

autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a

1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

Notório, portanto, que ao usuário coube uma nova perspectiva voltada à prevenção

enquanto que ao traficante coube maior repressão. Todavia, o que aparentemente parecia uma

solução não se perfaz tão simples visto que seus critérios de diferenciações(subjetivos),

acarretam em uma seletividade penal e aumento da população carcerária.

Veja-se, portanto, o parágrafo 2° do Artigo 28 da Lei 11.343/2006:

§ 2o Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à

natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se

desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos

antecedentes do agente.

Page 43: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

44

Dessa forma, ao observamos o referido parágrafo notamos que há uma ausência de

clareza quanto a definição de ser ou não usuário. Logo, o que se verifica é um aumento

considerável de pessoas que estão sendo privadas de liberdade mas que possuíam droga

somente para o uso próprio. Assim, nas palavras de SEIBEL ([2012?]):

Desde que a atual Lei sobre Drogas (11.343/2006) entrou em vigor, o número de

presos por crimes relacionados às drogas no Brasil dobrou. A falta de clareza na lei

está levando à prisão milhares de pessoas que não são traficantes, mas sim usuárias.

A maioria desses presos nunca cometeu outros delitos, não sendo criminosos a

priori, nao tendo relacao com o crime assim chamado “organizado” e portavam

pequenas quantidades da droga no ato da detenção para seu próprio consumo.

No mais, ao estabelecer local e às condições, a verificação de circunstâncias sociais e

pessoais, dentre outros elementos a serem analisados, a seletividade penal começa a se tornar

mais clara. Isso porque, acaba por não ser aplicada a todos os indivíduos, mas somente

aqueles que fazem parte da população por si só marginalizada, quer seja, a classe baixa que

carrega consigo o estereótipo de traficante.

Logo, se a Lei não consegue atingir o fim que lhe fora proposto e ainda, contribui para

o aumento de violações de direitos consagrados e inerentes a pessoa necessário que se busque

a sua reforma, sua adequação. Em tramitação, o projeto de Lei 9.054/2017, intenta realizar

mudanças inclusive na lei de drogas dentre as quais uma das alterações propostas diz respeito

ao Artigo 28, parágrafo 2° que passaria a vigorar com a seguinte redação:

Compete ao Conselho Nacional de Política sobre Drogas em conjunto com o

Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) estabelecer os

indicadores referenciais de natureza e quantidade da substância apreendida

compatíveis com o consumo pessoal.

Todavia, não há definição das mudanças que virão e o quanto serão ou não mais

benéficas, mas já se torna perceptível a necessidade de mudanças.

No mais, ainda que já se possua medidas e penas alternativas e uma lei que busca

diferenciar o usuário do traficante e impor a eles penalidades distintas, enquanto persistir as

adversidades de efetivação dos direitos há de se falar em alternativas, logo, o trabalho e

educação dos encarcerados deve ser tratado com o zelo necessário.

Page 44: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

45

3.3.3 Trabalho e educação

Sabe-se que no âmbito social o trabalho exerce papel de grande destaque pautado na

valorização do trabalho que busque assegurar a todos uma existência digna, segundo preceitua

a Constituição Federal em seu artigo 173. Ainda, em seu artigo 193, estabelece que a ordem

social tenha como base a primazia do trabalho. Logo, o reconhecimento dado ao trabalho,

deve surtir efeitos também nos presos como forma de garantir a sua qualificação profissional,

inclusão no mercado de trabalho e consequentemente, inserção na sociedade. Em outras

palavras:

O reconhecimento do trabalho como força motriz de toda a sociedade impele o

Estado, único detentor do poder de punir, a promover oportunidades de preparação

dos apenados sob sua custódia a desenvolver atividades laborativas, com a

finalidade de prepará-los ao retorno à convivência social e propiciar a dignidade da

pessoa humana. Deixar o preso reabilitando fora dessa realidade é mais do que

desqualificá-lo para a nova vida fora das grades: é colocá-lo novamente em uma

linha tênue entre o desemprego, devido a sua baixa qualificação, e a criminalidade,

que lhe mostrará formas mais rápidas de conseguir dinheiro e status (OLIVEIRA ,

2010, p. 5)

Todavia, ao analisarmos os dados trazidos pelo Infopen (DEPEN, 2017) em Junho de

2016, somente 15 % da população carcerária masculina trabalhava. Já o Infopen Mulheres

(DEPEN, 2018) demonstra que no mesmo período somente 24% das mulheres possuíam

atividade laborativa.

Definido pela Lei de Execuções Penais, como um direito (art. 41, II da LEP ) e dever

do preso (art. 39, V, da LEP ) verifica-se pelos dados apresentados que a possibilidade de

trabalho das pessoas privadas de liberdade carece de maior abrangência.

De todo modo, necessário destacar o que já fora implantado a fim de promover o

trabalho de presos e egressos. No Âmbito Nacional, o Projeto Começar de Novo criado pelo

Conselho Nacional de Justiça (CNJ) tem como objetivo conforme consta no sítio do próprio

CNJ: “ promover a cidadania e consequentemente reduzir a reincidência de crimes“ . Para

tanto, criou-se o Portal de Oportunidades ambiente virtual que reúne vagas de emprego e

cursos de capacitação para a população egressa e carcerária. (CNJ, [2010?]). Até o momento

foram criadas 17.766 vagas e preenchidas 12.945. Quanto aos cursos de capacitação foram

disponibilizadas 8.054 vagas das quais não há nenhuma disponível no momento (CNJ,

[2010]?).

Válido mencionar ainda a edição do Decreto n° 9.450/2018 que instituiu a Política

Page 45: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

46

Nacional de Trabalho no âmbito no Sistema Prisional(Penal). Aqui há de se destacar a

regulamentação dada ao parágrafo § 5º do art. 40 da Lei nº 8.666/1993 a respeito das

licitações. Assim, dispõe o referido Decreto no caput do seu artigo 5° que a Administração

Pública(federal direta, autárquica e fundacional) deverá nas contratações realizadas para a

prestação de serviços exigir inclusive nas contratações de serviços de engenharia com valor

anual acima de R$ 330.000,00 a utilização da mão de obra de pessoas presas e/ou egressas.

Sem adentrar no mérito quanto as regulamentações trazidas pelo Decreto, inegável é que o

recente Decreto ainda trará discussões a respeito de sua eficácia, benefícios e malefícios.

Igualmente importante para a ressocialização do condenado, os dados a respeito da

educação demonstram que ainda há uma carência de disponibilização da referida educação

aos presos. De acordo com o último levantamento realizado pelo Infopen( 2017) somente 12%

das pessoas presas realizavam atividade educacional. Dessas 10 % (61.642) encontravam-se

envolvidas em atividades escolares e 2% (12.898) em atividades educacionais

complementares(remição por meio de estudo, leitura, videoteca, etc.).

A Declaração Universal de Direito Humanos(1948) já nos demonstra no fragmento de

seu Artigo XXVI, 1 e 2 que o direito a educação deve ser garantido a todos. Assim:

Todo ser humano tem direito à instrução.[...]A instrução será orientada no sentido do

pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito

pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais.

No mesmo sentido, a Constituição Federal dispõe em seu artigo 6° os direitos sociais e

dentre eles, o direito à educação. Como forma de demonstrar a importância dada à educação e

corroborar o disposto no mencionado artigo é preciso destacar ainda o Artigo 205 da

Constituição. Assim:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada

com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo

para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL)

Ainda, a Lei de Execucao Penal estabelece em seu artigo 10 e 11, inciso IV o dever do

Estado em prestar assistencia inclusive educacional.

Realizada breve consideração quanto a sua disposição nos textos normativos temos

portanto a educação como um direito de todos.

A educação cumpre duas finalidades que merecem destaque, quais sejam, combater a

inatividade nos presídios bem como oportunizar ao condenado uma opção para o exercício

Page 46: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

47

laboral quando da sua liberdade. Nos dizeres de JULIÃO (2010, p . 09):

coibir a ociosidade nos presídios, que, segundo alguns operadores da justiça e da

execução penal, gera maior propensão à reincidência, e dar ao condenado a

oportunidade de, em futura liberdade, dispor de uma opção para o exercício de

alguma atividade profissional, para a qual seja exigido um mínimo de escolarização.

Assim, a opção por tirar uma grande massa da população carcerária que está na

ociosidade, colocando-a em salas de aula, não constitui privilégio — como querem

alguns —, mas proposta que atende aos interesses da própria sociedade.

No mais, a atividade educacional possibilita ao indivíduo encarcerado o resgate,

quando não, que adquira seus valores, sua história, suas lembranças como ser humano.

Possibilita ao indivíduo que se encontre e se permita refletir. Nesse sentido:

Reconhecendo que nos espaços prisionais é fundamental a escuta de pessoas que são

silenciadas pelas normas do sistema penitenciário, abrir espaços para as narrativas

de vida é dar-lhes oportunidade de saber-se no passado-presente em que estão

atolados. É resgatar cidadania e dignidade, pois deixam de ser um número conferido

com base no crime cometido ou em seu número de matrícula. (ONOFRE, 2015, p.

250)

Ainda, merece destaque a possibilidade de remição da pena pelo trabalho ou estudo.

Disposto no Artigo 126 da Lei de Execução Penal, certamente contribui para a redução do

aprisionamento e consequente diminuição de violações de direitos humanos. Como remição

ainda, há de se considerar a leitura conforme Recomendação n° 44 do CNJ.

De todo modo, se o Estado não consegue garantir, trabalho e educação, entre outras

situações de dignidade a busca pelos meios adequados deve considerar inclusive o que diz

respeito a possibilidade de delegar o poder punitivo do Estado. Pois, em que pese o aparato

jurídico, nota-se pelos dados apresentados que tal alternativa ainda carece de efetividade.

Assim, ainda como forma de cumprir o que se espera da pena privativa de liberdade e

garantir o cumprimento da dignidade humana surge como opção à desconfiança Estatal, a

privatização dos presídios.

3.3.4 A privatização do sistema carcerário

Tema a ser verificado com extrema cautela e sem paixões em demasia certamente é de

suma importância a sua análise.

Page 47: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

48

Majoritariamente de controle Estatal, a privatização ainda não se consolidou nas

prisões em território brasileiro. O primeiro questionamento a ser realizado diz respeito a sua

constitucionalidade, isso porque a execução penal é atividade exclusiva do Estado,

impossibilitando assim a transferência do poder punitivo ao ente privado. Logo, indelegável.

Assim, em um primeiro momento:

[...]o direito de privar um cidadão da liberdade, e de entregar a coerção, que o

acompanha, constitui uma daquelas situações excepcionais que fundamentam a

própria razão de ser do Estado, figurando no centro mesmo do sentido moderno de

coisa pública e, nessa medida, seria intransferível.(MINHOTO, 2000, p. 87 apud

COUTINHO, 2013)

Todavia, a fim de posicionar a respeito de tal argumento se faz necessário a

constatação de dois tipos de privatização do sistema prisional, quais sejam: Privatização total

e privatização parcial.

A privatização total, modelo adotado nos Estados Unidos, diz respeito a transmissão

da construção e até mesmo administração do presídio; a privatização parcial, modelo francês e

também adotado no Brasil, dispõe uma responsabilização conjunta entre o Estado e o ente

privado, de tal forma que a administração restaria a cargo tanto do Poder Público como

privado.(GRECO, 2017, p. 233).

Não obstante, há entendimento pela constitucionalidade ao se dispor que caberia à

entidade somente a função material da pena, qual seja, os denominados serviços de hotelaria,

restando intacta a função jurisdicional inerente ao Estado em consequência preservando seu

poder de império. Dessa forma:

Não se está transferindo a função jurisdicional do Estado para o empreendedor

privado, que cuidará exclusivamente da função material da execução penal, vale

dizer, o administrador particular será responsável pela comida, pela limpeza, pelas

roupas, pela chamada hotelaria, enfim, por serviços que são indispensáveis num

presídio.

Já a função jurisdicional, indelegável, permanece nas mãos do Estado que, por meio

de seu órgão-juiz, determinará quando o homem poderá ser preso, quanto tempo

assim ficará, quando e como ocorrerá a punição e quando o homem poderá sair da

cadeia, numa preservação do poder de império do Estado, que é o único legitimado

para o uso da força, dentro da observância da lei (D URSO, 1999, p. 71 – 75 apud

KUEHNE, 2001 ).

Assim, a administração prisional deve ficar a cargo do Estado e aos entes privados os

demais serviços do presídio. Estaríamos portanto, diante de uma terceirização e não

Page 48: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

49

privatização do presídio, restando-nos a nomenclatura preservada em razão de permitir

reflexões mais amplas (GRECO, 2017, p. 237)

No mais, além da problemática constitucional e terminológica, o receio quanto a

maculação dos fins da pena pela ganância das empresas perfaz um dos maiores receios

daqueles que persistem em não aceitar a privatização. Todavia, há entendimento contrário no

sentido de que as empresas buscarão os fins a qual se destina a pena visto que almejam

resultados que lhe garantam a continuidade de prestação de serviço. Assim:

Quanto à obediência aos requisitos previstos na Lei de Execuções Penais referentes

ao cumprimento da pena (em condições dignas) e na Constituição Federal

(dignidade da pessoa humana), o parceiro privado tem a obrigação contratual de

cumpri-los, haja vista que a desobediência a essas obrigações gerará sanções

administrativas e, principalmente, pecuniárias, por parte do Estado-

contratante.(SANTOS, 2009, p. 2)

Assim, apesar dos inúmeros problemas a serem refletidos e enfrentados com relação a

privatização/terceirização do sistema prisional, certamente não é de se deixar de lado haja

vista que na busca pela consolidação da dignidade humana todas as alternativas devem ser

testadas, na busca por aquela que melhor se adeque.

Page 49: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

50

CONCLUSÃO

O Estado não tem logrado êxito em cumprir a real função de pena, qual seja, a

ressocialização do apenado. As condições que lhe são proporcionadas os levam a adentrar a

fundo no mundo da criminalidade.

Percebe-se através dos exemplos mencionados que a superpopulação prisional e a

proliferação de doenças se fazem grandemente presente em nossas prisões e não são somente

um dado objetivo, mas verdadeiros violadores de direitos humanos que ultrapassam as

barreiras dos anos.

Não se houve falar até o momento mesmo com o Sistema Interamericano de Direitos

Humanos em uma solução para esse tão grave impasse na promoção dos direitos humanos. As

decisões do Sistema Interamericano detêm o papel de perseguição a efetividade dos direitos

indispensáveis a uma vida digna, mas ainda que vinculantes sofram com a ausência do

cumprimento das mesmas por parte do Estado.

Por conseguinte, as decisões do Sistema Interamericano, seja em seu teor consultivo

ou contencioso, são proferidas no sentido de reparar e prevenir os danos objetivando a

satisfação plena das vítimas e melhor interpretação e aplicação das normas internacionais e

consequente recepção das mesmas no âmbito interno, em detrimento das violações cometidas

dentro das prisões.

Como alternativa, há a privatização das penitenciárias. Todavia, válido ressaltar que

não se vê a privatização total como uma solução, mas a terceirização de serviços

administrativos é uma alternativa a se pensar. A princípio importante salientar que a mesma

traz inúmeros questionamentos que podem futuramente agravar os problemas no sistema

prisional. A possível seletividade de apenados, o lucro através da mão de obra barata e do

aumento da população carcerária, a falta de transparência e confiabilidade a respeito do

controle da instituição são alguns dos problemas a serem enfrentados. No mundo capitalista

em que vivemos não é de se esperar outra coisa de uma instituição privada a não ser a

obtenção de lucro. Caberia a essas instituições o entendimento de que a obtenção de lucro não

consiste em seu único objetivo. Assim, manter um ambiente garantidor dos mínimos ideais de

Page 50: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

51

uma vida digna e a consequente ressocialização do preso deveriam estar em seus planos tanto

quanto o lucro. O problema é que garantir o lucro poderia sim falar mais alto do que

ressocializar. Isso porque ao passo em que houvesse a diminuição de egressos ao sistema a

tendência do lucro é diminuir. Logo, haveria o risco do interesse novamente da superlotação

carcerária o que acarretaria em outros problemas já existentes. A cultura política brasileira é o

fator determinante para a rejeição das prisões privadas isso porque se a intenção é diminuir

custos e aumentar a eficiências das prisões o momento delicado em que vivemos enlameado

de corrupção poderia maquiar os verdadeiros intentos e conluios das empresas, políticos e

servidores públicos. Seria necessário, portanto uma intensificação dos órgãos fiscalizadores e

retirada das empresas que se desviarem de seus propósitos. No entanto, trata-se da opção

sensível que necessita de profunda análise. O fato é que a terceirização, daria ao Estado o

fôlego necessário para a criação de políticas públicas eficazes que garantissem ao apenado a

sua reinserção, quando não sua inserção na sociedade. Isso porque a melhoria do sistema não

deve ter única alternativa. Frisa-se, portanto, que o entendimento é de que às empresas

privadas somente caberia serviços básicos sendo responsabilidade estatal a administração dos

presídios e execução da pena.

Outra opção é intensificação de adoção de penas e medidas alternativas a pena

privativa de liberdade. Isso porque não basta legislação garantir a possibilidade de aplicação

das penas alternativas, mas na prática impossibilitá-la. De igual forma, de nada adianta sua

utilização sem a otimização de sua fiscalização, pois é de se esperar o descumprimento de tais

medidas. Não se ressocializa de um dia para outro.

Quanto a Lei de drogas, não basta um bom intento, mas a garantia de que usuários não

sejam tratados como traficantes, pois do contrário muitos mais direitos continuarão sendo

violados por aqueles que injustamente encontrarem-se nas prisões. Ou seja, não pode

possibilitar ao usuário de drogas uma pena diversa da prisão, mas condená-lo como traficante.

Por conseguinte, é preciso cautela quanto a sua aplicação haja vista que a discricionariedade

do juiz e subjetividade de tais decisões podem levar a decisões injustas.

Logo, a intensificação de todas as alternativas a pena privativa de liberdade inclusive a

privatização(terceirização) dos serviços administrativos são opções viáveis a diminuição das

violações de direitos humanos que podem ser pensadas como atividades conjuntas ao poder

do Estado de penalizar, executar e ressocializar o apenado.

Isso se dá porque se quer realmente garantir a dignidade humana, o Estado enfrenta

Page 51: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

52

problemas maiores do que somente o sistema prisional em si.

O que temos, portanto, é um ciclo vicioso de violação de direitos humanos. As vítimas

têm seus direitos retirados pelos criminosos, os criminosos têm seus direitos violados pelo

Estado. Sem nos esquecermos na guerra infinita entre policiais, carcereiros e os infratores da

lei. O que vemos, portanto é que nos direitos humanos não há somente uma vítima. Não há

como defini-la por ser ou não criminosa. Ao fim, o Estado é violador de direitos humanos de

vítimas criminosas ou inocentes. Ao que aparenta o Estado busca o agrado da sociedade

através da expectativa que se é criada ao abarrotar pessoas atrás das grades, pois isso gera a

sensação de segurança pública. Todavia, ao abarrotar as prisões, usar de violência e não

garantir o mínimo que a todos são inerentes a situação tende a agravar na medida em que o

caos instaurado atinge a sociedade como um todo. Pensar no indivíduo preso como inimigo

perpétuo denota a sensação de que para ele não há ao menos a mínima possibilidade de

mudança. Não se quer, não se espera a mudança. Decerto é que o sentimento de revolta é

inerente a todos e garantir prisões dignas certamente não ressocializará toda a população

carcerária.

Cabe portanto a este encontrar um meio termo a fim de que a segurança pública

almejada se dê sem retirar do homem a sua dignidade. O que vemos como segurança

atualmente é uma guerra sem fim e propósitos.

Em suma, não há de se falar em uma solução para o sistema penitenciário sem uma

análise mais ampla. Isso porque, para uma solução viável necessário o enfrentamento de outra

problemática, qual seja, a criminalidade desenfreada. E esse por sua vez, está ligado a

problemas ainda maiores da sociedade que envolvem questões políticas, sociais e econômicas.

Senão vejamos, por exemplo, garantir a qualificação laboral do indivíduo mas possuir

mercado de trabalho deficitário com milhões de desempregados não torna possível sua

reinserção através do labor, e ainda, a probabilidade das poucas vagas que surgem serem

destinadas a esses são ainda menores. Em outras palavras, a preocupação voltada ao combate

da problematização se esquece das raízes, das causas que geraram o problema.

Page 52: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

53

REFERÊNCIAS

ANDRADE; SILVEIRA; TAFFARELLO (coord.) Integração de competências no

desempenho da atividade judiciária com usuários e dependentes de drogas. 2015. 2ª ed.

Brasília. 452 p.

BARCELLOS, Ana Paula de. Violência urbana, condições das prisões e dignidade humana.

Disponível em: < http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/8074/6862 >.

Acesso em: 28 jul. 2018.

BARROSO, Luis Roberto. Fundamentos teoricos e filosoficos do novo direito constitucional

brasileiro. Disponível em: <

http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista15/revista15_11.pdf > Acesso

em: 21 ago. 2018.

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Disponível em

<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/eb000015.pdf> Acesso em: 23 jun. 2018.

BICUDO, Tatiana Viggiani. Por que punir? Teoria Geral da Pena, 2ª edição. Saraiva. 2015.

Minha Biblioteca. Disponível em: < https://integrada.minhabiblioteca.com.br> Acesso em: 26

jun 2018

BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e Alternativas. 4ª ed. São

Paulo: Saraiva, 2011.

______. Tratado de Direito Penal. Vol. 1 - Parte Geral, 23ª edição., 23rd edição. Editora

Saraiva, 2017. Minha Biblioteca. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br>

Acesso em: 30 jun. 2018.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 30 Ago.

2018.

______. Decreto nº 9.450, de 24 de julho de 2018. Disponível

em:<http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaTextoSigen.action?norma=27442618&id=2744

2625&idBinario=27442629&mime=application/rtf> Acesso em 04 set. 2018.

______. Lei de Execução Penal. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Disponível

em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7210.htm> Acesso em: 05 set. 2018.

______. Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Disponível em:

Page 53: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

54

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm>. Acesso em: 03

Set. 2018.

______. Pacto Internacional sobre direitos civis e políticos. Planalto. Decreto nº 592, de 6 de

julho de 1992.Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-

1994/D0592.htm> Acesso em: 14 Ago. 2018.

______. Senado Federal. PL 9054/2017. Disponível em:

<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2160836>

Acesso em: 04 set. 2018.

______. Supremo Tribunal Federal. HABEAS CORPUS 143.988/ES .Relator:Ministro

EDSON FACHIN. Data de Julgamento:16/08/2018. Disponível em: <

http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5189678 >. Acesso em: 01 Set. 2018.

______. Supremo Tribunal Federal. HABEAS CORPUS 126.292 SÃO PAULO .Relator:

Ministro TEORI ZAVASCKI. Data de Julgamento:17/02/2016. Disponível em: <

http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10964246>. Acesso em

01 Set. 2018.

______. Supremo Tribunal Federal. RECURSO EXTRAORDINÁRIO

592.581/RS .Relator :Ministro RICARDO LEWANDOWSKI. Data de

Julgamento:18/03/2010. Disponível em: <

http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoDetalhe.asp?incidente=2637302 >. Acesso

em: 01 Set. 2018.

CNJ. Geopresídio. 2018. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/inspecao_penal/mapa.php>

Acesso em 18 jul. de 2018.

______. Painel Banco Nacional de Monitoramento de Prisões. Disponível em: <

https://paineis.cnj.jus.br/QvAJAXZfc/opendoc.htm?document=qvw_l%2FPainelCNJ.qvw&h

ost=QVS%40neodimio03&anonymous=true&sheet=shBNMPIIMAPA> Acesso em 15 Ago.

2018.

______. Saiba como funciona a remição de pena. 2016 .Disponível

em:http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/81644-cnj-servico-como-funciona-a-remicao-de-pena>

Acesso em: 05 Set.2018.

______. BNMP 2.0 revela o perfil da população carcerária brasileira. Disponível

em:<http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/87316-bnmp-2-0-revela-o-perfil-da-populacao-

carceraria-brasileira> Acesso em: 03 Set. 2018

______. Começar de Novo. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/sistema-carcerario-e-

execucao-penal/pj-comecar-de-novo> Acesso em: 04 set. 2018.

______. Medidas provisórias. Disponível em:<http://www.cnj.jus.br/poder-

judiciario/relacoes-internacionais/corte-interamericana-de-direitos-humanos-corte-

Page 54: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

55

idh/medidas-provisorias> Acesso em 15 ago. 2018.

______. Mutirão Carcerário. Raio-x do Sistema Penitenciário Brasileiro. Disponível em:

<http://www.cnj.jus.br/images/pesquisas judiciarias/Publicacoes/mutirao_carcerario.pdf>

Acesso em 27 jun. 2018.

______. Regras Mínimas Das Nações Unidas Para O Tratamento De Presos. Disponível em:

<http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/09/a9426e51735a4d0d8501f06a4ba8b4de

.pdf> Acesso em 20 ago. 2018.

______. Relatório de Gestão. Disponível em:

<http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2017/04/23902dd211995b2bcba8d4c3864c82e

2.pdf> Acesso em 18 jul. 2018.

______. Tratados Internacionais de Direitos Humanos. Disponível em:

<http://www.cnj.jus.br/poder-judiciario/relacoes-internacionais/tratados-internacionais-de-

direitos-humanos> Acesso em: 14 ago. 2018.

COMPARATO, Fabio Konder. A afirmacao historica dos direitos humanos, 11ª edição.

Editora Saraiva. 2017. Minha Biblioteca. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br> Acesso em: 12 abr. 2018

______. A afirmação histórica dos direitos humanos, 10ª edição. Saraiva. 2015. Minha

Biblioteca. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br> Acesso em: 13 mar.

2018.

COSTA RICA. Del Complejo Penitenciario de Pedrinhas respecto de Brasil. Disponível

em:<http://www.corteidh.or.cr/docs/medidas/pedrinhas_se_01_por.pdf > Acesso em: 10 Ago.

2018.

______. Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Disponível

em:<http://www.oas.org/es/cidh/decisiones/pdf/2015/MC60-15-PT.pdf > Acesso em: 22 ago.

2018.

______. Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Disponível em:<

https://cidh.oas.org/annualrep/99port/Brasil11291.htm#*>Acesso em: 25 Ago. 2018.

______. Determinados Centros Penitenciarios respecto de Brasil: Unidad de Internación

Socioeducativa, Complejo Penitenciario de Curado, Complejo Penitenciario de Pedrinhas e

Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho. Disponível em: >

http://www.corteidh.or.cr/docs/medidas/asuntos_unidad_se_01_por.pdf > Acesso em: 07

Ago. 2018.

______. Penitenciária Urso Branco. Disponível

em:<http://www.corteidh.or.cr/docs/medidas/urso_se_09_por.pdf > Acesso em: 26 Ago. de

2018.

COSTA. Álvaro Mayrink. Os Limites do ius puniendi do Estado.Emerj. Disponível em: <

Page 55: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

56

http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista23/revista23_113.pdf> Acesso

em: 27 jun. 2018.

COUTINHO, Jacinto Teles. A indelegabilidade da execução da pena e a inconstitucionalidade

da terceirização prisional no Brasil. Disponível em:

<http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13876>.

Acesso em set 2018. Acesso em: 01 Set. 2018.

COUTINHO, Mateus. A rebelião em Goiás é mais um episódio da guerra entre facções nos

presídios. Disponível em: <https://epoca.globo.com/brasil/noticia/2018/01/rebeliao-em-goias-

e-mais-uma-episodio-da-guerra-entre-faccoes-nos-presidios.html> Acesso em: 23 jul. 2018.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Assembleia Geral das Nações

Unidas em Paris. Disponível em: < http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf> . Acesso

em: 10 de Ago. 2018.

DEFENSORIA PÚBLICA DO RIO DE JANEIRO. Em 20 anos, número de mortes em

presídios aumenta dez vezes no Rio .Disponível

em:<http://www.defensoria.rj.def.br/noticia/detalhes/6142-Em-quase-uma-decada-numero-

de-presos-mortos-cresce-10-vezes-mais> Acesso em:14 ago. 2018.

DEPEN. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – Infopen Mulheres.

Disponível em:<http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen-

mulheres/infopenmulheres_arte_07-03-18.pdf> Acesso em 27 de Agosto de 2018.

______. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias. Disponível em <

http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen/relatorio_2016_22-11.pdf> Acesso em:

27 jun 2018.

______. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias. Relatórios Analíticos.

Disponível em < http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen/relatorios-

analiticos/br/br> Acesso em: 20 Jul. 2018.

DIAS, Camila Caldeira Nunes. Da pulverização ao monopólio da violência: expansão e

consolidação do Primeiro Comando da Capital (PCC) no sistema carcerário paulista.

Disponível em <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-13062012-164151/pt-

br.php> Acesso em: 21 jul 2018.

FERNANDES, Waleiska. Brasil ainda tem déficit na garantia de direitos de mulheres

presas. .Disponível em:<http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/81252-brasil-ainda-tem-deficit-na-

garantia-de-direitos-de-mulheres-presas> Acesso em 27 ago. 2018

FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Direitos Humanos Fundamentais, 15ª edição. Saraiva.

2016. Minha Biblioteca. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br> Acesso

em: 24 jul. 2018.

______. Princípios fundamentais do direito constitucional: o estado da questão no início do

século XXI, em face do direito comparado e, particularmente, do direito positivo brasileiro, 4ª

Page 56: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

57

edição. Saraiva. 2014. Minha Biblioteca. Disponível

em:<https://integrada.minhabiblioteca.com.br> Acesso em: 09 ago. 2018.

FOCAULT, Michael. Vigiar e punir: Nascimento da prisão. Petrópolis. Ed.Vozes. 2009

FURTADO, Emmanoel Teófilo. DIREITOS HUMANOS E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE

DA PESSOA HUMANA. Disponível em:

<http://revista.ibdh.org.br/index.php/ibdh/article/view/82>. Acesso em: 30 jul. 2018.

G1. Presos de Alcaçuz entram em confronto. Disponível em: < http://g1.globo.com/rn/rio-

grande-do-norte/noticia/2017/01/presos-voltam-ao-telhado-de-alcacuz-agentes-controlam-

confronto.html> Acesso em: 23 jul. 2018.

______. Rebelião em presídio chega ao fim com 56 mortes. Disponível em <

http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2017/01/rebeliao-no-compaj-chega-ao-fim-com-

mais-de-50-mortes-diz-ssp-am.html > Acesso em; 23 jul. 2018.

GOMES, Luis Flavio. Limites do “Jus Puniendi” e bases principiologicas do garantismo penal.

Disponível em: http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/13513-13514-1-

PB.pdf>. Acesso em: 26 jun. 2018.

GRECO, Rogério. Sistema prisional: colapso atual e soluções alternativas. 2° edição. Impetus.

2015.

GUERRA, Sidney. Direitos humanos : curso elementar. 5º edição. Editora Saraiva. 2017.

Minha Biblioteca. Disponível em: < https://integrada.minhabiblioteca.com.br> Acesso em: 28

ago. 2018

______. O sistema interamericano de proteção dos direitos humanos e o controle de

convencionalidade. Atlas. .2013 Minha Biblioteca. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br> Acesso em: 23 ago. 2018.

HULSMAN, Louk; CELIS. O sistema penal em questão. Disponível

em:<https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=2091595>. Acesso em: 28 ago.

2018.

IBCCRIM. Brasil é denunciado na CIDH por violência e superlotação em presídios e no

sistema socioeducativo. Disponível em:<https://www.ibccrim.org.br/noticia/14193-Brasil-e-

denunciado-na-CIDH-por-violencia-e-superlotacao-em-presidios-e-no-sistema-socioeducativo>

Acesso em 27 de junho de 2018.

JULIÃO, F.E. Uma visão socioeducativa da educação como programa de reinserção social na

política de execução penal. Disponível em:

http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/dissertacoes_teses/dissertacao_ivanete

_aparecida_silva_santos.pdf > Acesso em: 05 set. 2018.

KUEHNE, Maurício. Privatização dos presídios – algumas reflexões. Disponível em:

<https://www.ibccrim.org.br/artigo/405-Arrazoados-Parecer-oferecido-no-Conselho-

Page 57: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

58

Nacional-de-Politica-Criminal-e-Penitenciaria-realizada-em-Brasilia-em-24-de-abril-de-2000-

sobre-a-privatizacao-dos-presidios >. Acesso em: 04 Set. 2018.

LEITE, Carlos Henrique Bezerra . Manual de direitos humanos, 3ª edição. Atlas. 2014. Minha

Biblioteca. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br> Acesso em: 20 jul.

2018.

LEMOS, Carlos Eduardo Ribeiro. A dignidade humana e as prisões capixabas. Disponível

em:< http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp099356.pdf> Acesso em: 24

jul. 2018.

MAEYER, M. D. A educação na prisão não é uma mera atividade. Disponível

em:<http://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/view/30702/24322> Acesso em: 05 Set.

2018.

MARTIN, Claudia; PINZÓN. Rodriguez, Diego. A Proibição de Tortura e Maus tratos pelo

Sistema Interamericano. Disponível em:

<http://www.omct.org/files/2007/03/3965/handbook2_full_por.pdf> Acesso em: 20 Ago.

2018.

MAZZUOLI, Valério Oliveira. Curso de Direitos Humanos, 4ª edição. Método. 2017.Minha

biblioteca. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/> Acesso em: 21 jun.

2018.

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Há 726.712 pessoas presas no Brasil. Disponível em:

<http://www.justica.gov.br/news/ha-726-712-pessoas-presas-no-brasil> Acesso em: 18 jul.

2018.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Tuberculose. Disponível em:<

http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a-z/tuberculose> Acesso em: 20 Jul. 2018.

OEA. Convenção Interamericana de Direitos Humanos.

em:<https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/d.Convencao_Americana_Ratif..htm>

Acesso em 20 ago. 2018.

______. Declaração Americana Dos Direitos E Deveres Do Homem. Disponível

em:<https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/b.Declaracao_Americana.htm>Acesso em:

20 ago. 2018.

______. Medidas Cautelares outorgadas por la CIDH. Disponível em:

<http://www.oas.org/es/cidh/ppl/proteccion/cautelares.asp>Acesso em 15 ago. 2018.

______. Regulamento da comissão interamericana de direitos humanos. Disponível

em:http://www.cidh.org/Basicos/Portugues/u.Regulamento.CIDH.htm> Acesso em 22 ago.

2018.

OLIVEIRA, Paula Julieta Jorde de. Direito ao trabalho do preso: uma oportunidade de

ressocialização e uma questão de responsabilidade social. Disponível em:

Page 58: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

59

<https://revistas.pucsp.br/index.php/red/article/view/2801/3957> Acesso em: 04 set. 2018.

ONOFRE, E.M.C. Educação escolar para jovens e adultos em situação de privação de

liberdade. Cad. Cedes, Campinas, v. 35, n. 96, p. 239-255, maio-ago., 2015. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v35n96/1678-7110-ccedes-35-96-00239.pdf.> Acesso em:

05 set. 2018.

ONU. Propósitos e princípios da ONU. Disponível em<

https://nacoesunidas.org/conheca/principios/. > Acesso em: 12 abr. 2018.

PACELLI, Eugênio, CALLEGARI, André. Manual de Direito Penal - Parte Geral, 3ª edição.

Atlas. 2017. Minha biblioteca. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/>

Acesso em: 23 ago. 2018.

PELLEGRINO, Ana Paula. Sistema Penitenciário Fluminense..Disponível em:

<https://public.tableau.com/profile/ana.paula.pellegrino#!/vizhome/SistemaPenitencirioFlumi

nense-InstitutoIgarap/AnliseSistemaPenitencirioFluminense> Acesso em: 19 jul. 2018.

PIOVESAN, Flavia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional, 16ª edição..

Saraiva. 2015. Minha biblioteca. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/>

Acesso em: 28 jun. 2018.

______. Direitos humanos e o direito constitucional internacional, 17ª edição. Editora Saraiva.

2017. Minha biblioteca. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/> Acesso

em: 28 jun. 2018.

PORTO, Roberto. Crime organizado e sistema Prisional. Atlas, 03/2008. Minha biblioteca.

Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/> Acesso em: 20 jul. 2018.

PRACIANO, Elisabeba Rebouças Tomé. O direito de punir na constituição de 1988 e os

reflexos na execução da pena privativa de liberdade. Disponível em:

<http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp123224.pdf> Acesso em 18 de

julho de 2018.

RAMOS, André Carvalho. Curso de direitos humanos, 4ª edição. Editora Saraiva. 2017.

Minha biblioteca. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/> Acesso em:

24 jul. 2018.

SALDANHA, Jânia. Os precedentes da Corte Interamericana de Direitos Humanos são

obrigatórios?. Disponível em:<http://justificando.cartacapital.com.br/2015/10/26/os-

precedentes-da-corte-interamericana-de-direitos-humanos-sao-obrigatorios/>. Acesso em: 08

Ago. 2018.

SANTOS, Jorge Amaral dos. A utilização das parcerias público-privadas pelo sistema

prisional brasileiro em busca da ressocialização do preso. Disponível

em:<https://jus.com.br/artigos/13906>. Acesso em: 30 Ago 2018.

SEIBEL, Sérgio. A lei 11.343/2006 e o impacto na saúde pública. Disponível

Page 59: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA … › repositorio › bitstream...Habeas Corpus Act (1679) instituído para proteger a liberdade de locomoção e o Bill of Rights (1689)

60

em:<https://www.ibccrim.org.br/boletim_artigo/4744-A-Lei-113432006-sobre-drogas-e-o-

impacto-na-saude-publica> Acesso em: 04 Set. 2018.

SHIMIZU, Bruno. Solidariedade e gregarismo nas facções criminosas: um estudo

criminológico à luz da psicologia das massas. Disponível em: <

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2136/tde-31072012-092234/pt-br.php> Acesso

em: 23 Jul. 2018.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP. Biblioteca Virtual de Direitos Humanos.

Responsável Ministro José Gregori. Declaração de direitos do homem e do cidadão. França,

26 de agosto de 1789. (In Textos Básicos sobre Derechos Humanos. Madrid. Universidad

Complutense, 1973, traduzido do espanhol por Marcus Cláudio Acqua Viva. APUD.

FERREIRA Filho, Manoel G. et. alli. Liberdades Públicas São Paulo, Ed. Saraiva, 1978.

Disponível em: http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-

%C3%A0-cria%C3%A7%C3%A3o-da-Sociedade-das-Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-

1919/declaracao-de-direitos-do-homem-e-do-cidadao-1789.html >. Acesso em: 09 ago. 2018.