A prova no Direito civil Português - Capítulo IV

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B) Meios de Prova Helder Martins Leito - Advogado A prova civil no direito portugus (Outubro 2008)

Id. vLex: VLEX-43521526 http://vlex.com/vid/43521526

Resumo

I) Prova por documentos; II) Prova por confisso das partes; III) Prova pericial IV) Prova por inspeco judicial V) Prova testemunhal Texto

Apreciados os termos gerais da instruo do processo, chegamos ao momento adequado para o exame detalhado dos diversos meios de prova admitidas no elenco jurdico nacional. Imediatamente a seguir, sucessivamente e sem qualquer hiato, trataremos dos seguintes meios de prova: 152 I) Prova por documentos; II) Prova por confisso das partes; III) Prova pericial IV) Prova por inspeco judicial V) Prova testemunhal I Prova por documentos

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Verba volant, scripta manent. 153 Na verdade, do elenco probatrio, no resta dvida, a importncia do documento sobreleva as mais provas, em conservao, fidelidade, idoneidade, utilidade, iseno e durao. que o documento, 154 o escrito, desde remota antiguidade, ensina o que nele foi gravado ou traado: ao princpio, em caracteres hieroglficos e cuneiformes; depois, em variadssimos caracteres alfabticos.

Seguindo Cunha Gonalves: 155 Esta prova tem sobre a testemunhal 156 as vantagens seguintes: - mais duradoura; - menos susceptvel de parcialidade erros tergiversaes; - mais fixidez e inalterabilidade; 157 - exigncia da interveno pessoal de uma ou ambas as partes; - moldagem actos factos; - permisso de autenticidade atravs de funcionrio pblico; - juno a todo o momento, mesmo em 2. instncia. E posto que se diga que o documento vox mortua, ao passo que a testemunha vox viva, certo que esta morre mais facilmente do que aquela. Graas ao documento, ainda hoje se provam factos ocorridos h mais de 5.000 anos, no Egipto, naVerso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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Babilnia, na China, na ndia, etc.; enquanto que pereceu toda a histria da humanidade anterior inveno da escrita, ou que por meio desta no foi conservada. O documento tem a singularidade de criar, simultaneamente, uma prova e um objecto, de sorte que da existncia deste se deduz a existncia daquela. 158 Da a frequente identificao entre a forma e a prova; a ordem jurdica, no s subordina a eficcia do negcio jurdico forma escrita, mas s vezes confere ao escrito a natureza de coisa, objecto de direito, em vez de simples prova deles, como se verifica nos ttulos de crdito. No entanto, a incorporao do direito no ttulo no obsta a que este seja, principalmente, uma prova do direito. A incorporao s significa que o documento necessrio, porque o crdito incorporado no pode ser provado por outro modo. Se nos ttulos ao portador a transmisso do direito se pode fazer com a simples entrega deles ao adquirente, porque a posse do ttulo publicidade suficiente da transmisso.

O documento , s vezes, designado como instrumento, no porque sirva para instruir o juiz na deciso das causas 159 - pois anloga instruo resulta de outras provas - mas sim por ser o meio probatrio por excelncia. O documento pode, umas vezes, provar a verdade do facto nele mencionado - o que o caso mais vulgar - outras vezes, prova s o facto alegado por quem o produz em juzo, embora em oposio ao respectivo contedo: o que se verifica nos casos de falsidade, alegada por aco ou incidente, ou nos processos criminais instaurados contra os falsificadores. evidente que a verdade a provar , nesta hiptese, contrria ao documento. Nos casos de anulao de um contrato h, tambm, uma verdade oposta ao contedo do documento; mas este provar, pelo menos, que o acto nulo se realizou e a sua ineficcia jurdica depender de outras provas, ou somente da lei. O documento - diz ainda Cunha Gonalves 160 - tem especial importncia em relao aos actos jurdicos de carcter formal, que no podem ser demonstrados em juzo por outra espcie de provas. Quanto produo em juzo, o documento tem, outrossim, a vantagem de poder ser junto aos processos nos tribunais de 2. instncia e, em alguns casos, at no Supremo Tribunal de Justia, contrariamente ao que se passa com a prova testemunhal. 161

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O conceito de documento 162 no pacfico. 163 E assim: Pereira e Sousa 164 - escritura feita para a comprovao dos factos que se deduzem em juzo. Duarte Nazar 165 - qualquer escrito apresentado pelas partes em juzo para prova do que alegam. Chiovenda 166 - toda a representao material destinada a reproduzir e idnea para reproduzir, determinada manifestao do pensamento: uma espcie de voz gravada para sempre (vox mortua).

Betti 167 - coisa formada sobre um facto e destinada a fixar de modo permanente ou a sua percepo ou a sua impresso fsica para o representar no futuro. Carnelutti 168 - todo o objecto material elaborado pelo homem para representar uma coisa ou um facto. Guasp 169 - todo o objecto mvel que pode ser utilizado como prova dentro do processo. Alberto dos Reis 170- todo o objecto material destinado a dar ao juiz a representao de um facto. Antunes Varela 171 - o termo documento usado num duplo sentido, quer na linguagem corrente, quer na terminologia tcnica do direito probatrio. Cdigo Civil 172 - qualquer objecto elaborado pelo homem com o fim de reproduzir ou representar uma pessoa, coisa ou facto. Cdigo de Processo Civil 173 - escrito que exprime uma declarao de cincia (como a correspondncia epistolar, o resultado de um exame laboratorial, o documento de quitao) ou uma declarao de vontade (como a escritura de venda, o testamento cerrado ou pblico, o escrito de promessa de compra e venda, etc.). Se a noo de documento, como vimos, apresenta srias dificuldades, no se passa o mesmo quanto espcie e classificao. Sendo que h classificaes para todos os gostos, consoante a raiz, os agentes, os formadores, o objecto, a elaborao e a forma externa. Ficaremos pelas distines tidas por mais relevantes no ponto de vista prtico.

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Desde logo, pode no haver coincidncia entre o formador e o elaborador do documento. Isto : o documento elaborado ou materialmente produzido por quem no o formador do respectivo acto jurdico. E o documento ser hetergrafo. Caracterizado, sobremaneira, pela interveno de um funcionrio que sanciona no a sua vontade, antes a de outrem. Quando exista aquela justaposio na mesma pessoa, ento, o documento denomina-se autgrafo. J outra classificao ser entre documentos individuais e comparticipados. Sendo aqueles nos quais a elaborao ou formao jurdica do documento exclusivamente individual, singular, de uma s pessoa; sendo comparticipados os que resultam da colaborao de vrias pessoas, de acordo com os ditames da ordem jurdica, ou seja, exercendo cada pessoa funo distinta, ainda que imprescindvel para a fora probatria do documento. Os documentos consoante se encontram ou no assinados, podem ser firmados e annimos. Sendo que a assinatura um elemento essencial, de forma tal que a sua falta leva a que o documento no tenha fora probatria, salvo a de mero indcio 174 e dos casos excepcionais em que a lei atribui uma fora probatria limitada a certos documentos privados no assinados. Os documentos podem ainda ser anopistgrafos ou no. So aqueles os escritos s de um lado da folha, nada tendo escrito no verso. Goldschmidt 175 classifica os documentos assim: quanto ao contedo dispositivos, constitutivos ou negociais informativos ou narrativos quanto forma pblicos particularesVerso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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Os dispositivos suportam uma declarao de vontade. Os informativos contm uma declarao de cincia.

Os pblicos so os formados por algum no exerccio de uma actividade pblica. Os particulares so os confeccionados por um simples particular ou por um oficial pblico fora do exerccio da sua respectiva funo. Carnelutti, 176 realando os documentos declarativos, 177 distingue-os em narrativos ou informativos e constitutivos ou dispositivos, conforme contm uma declarao de verdade ou uma declarao de vontade. Respeitantemente interveno da vontade humana podem os documentos ser: subjectivos - aqueles que contm uma declarao de vontade objectivos - aqueles que no contendo qualquer declarao de vontade, so probatrios por sua natureza material. As classificaes supra, doutrinais que o so, no passam de meritrias tentativas de sistematizao, nada mais do que isso. Verdade sendo que h ainda outras e variadas classificaes que nos abstemos de aqui trazer. Aquelas classificaes valem o que valem e constituem, naturalmente, pontos de partida para o assentar de ideias sobre a matria da prova documental. Foi essa, alis, a razo de sua enunciao nas linhas antecedentes. Porm, tal facto no pode fazer esquecer a imperiosa necessidade de inserir neste trabalho a chamada classificao legal dos documentos. Ora, ela encontra-se no n. 1, do art. 363. do Cdigo Civil, onde se diz que os documentos escritos podem ser autnticos ou particulares. Classificao esta que parte da fonte donde procedem, isto , da qualidade da pessoa do seu autor e tendo em vista o efeito probatrio. Sendo certo que autores h que acrescentam a esta classificao uma outra espcie, qual seja, a deVerso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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documentos autenticados. 178 So autnticos os documentos exarados, com as formalidades legais, pelas autoridades pblicas nos limites da sua competncia ou, dentro do crculo de actividade que lhe atribudo, pelo notrio ou outro oficial pblico provindo de f pblica. Todos os outros documentos so particulares. Estes so havidos por autenticados, quando confirmados pelas partes, perante notrio, nos termos prescritos nas leis notariais.

O reconhecimento especial do documento autenticado advm de um termo notarial de autenticao, no qual, alm do mais, figura a declarao das partes, perante o notrio, de que leram o documento, esto cientes do seu contedo e que o mesmo exprime a sua vontade. Pois bem, este reconhecimento, como que autenticando o documento, sobrelevando-lhe a sua natureza particular, equipara-o, no que diz respeito sua fora probatria, aos documentos autnticos. Mas, veja-se o seguinte dispositivo do Cdigo Civil: Artigo 377. Documentos autenticados Os documentos particulares autenticados nos termos da lei notarial tm a fora probatria dos documentos autnticos, mas no os substituem quando a lei exija documento desta natureza para a vali- dade do acto. Concretizando: quando a lei exigir, como forma da declarao negocial, documento autntico, no pode este ser substitudo por outro meio de prova ou por outro documento que no seja de fora probatria superior. 179 Se, porm, resultar claramente da lei que o documento exigido apenas para prova da declarao, pode ser substitudo por confisso expressa, judicial ou extrajudicial, contanto que, neste ltimo caso, a confisso conste de documento de igual ou superior valor probatrio. 180 Voltando ao documento autntico. Para frisar que s o quando a autoridade ou oficial pblico que o exara for competente, em razo da matria e do lugar e, mais ainda, no estiver legalmente impedido de o lavrar.

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Considera-se, porm, exarado 181 por autoridade ou oficial pblico competente o documento lavrado por quem exera publicamente as respectivas funes, a no ser que os intervenientes ou beneficirios conhecessem, no momento da sua feitura, a falsa qualidade da autoridade ou oficial pblico, a sua incompetncia ou a irregularidade da sua investidura. 182 Presume-se que o documento provm da autoridade ou oficial pblico a quem atribudo, quando estiver subscrito pelo autor com assinatura reconhecida por notrio ou com o selo do respectivo servio.

Todavia, a presuno de autenticidade acabada de apontar, pode ser ilidida mediante prova em contrrio. E mais: pode mesmo ser excluda oficiosamente pelo tribunal quando seja manifesta pelos sinais exteriores do documento a sua falta de autenticidade. Em caso de dvida, pode ser ouvida a autoridade ou oficial pblico a quem o documento atribudo. Sobra ainda para dizer: quando o documento for anterior ao sculo XVIII, a sua autenticidade ser estabelecida por meio de exame feito na Torre do Tombo, desde que seja contestada ou posta em dvida por alguma das partes ou pela entidade a quem o documento for apresentado. O exame destinado a estabelecer a autenticidade de documentos anteriores ao sculo XVIII ser ordenado pelo director do arquivo da Torre do Tombo, sobre prvia requisio do tribunal. 183 Uma curiosidade histrica: no direito antigo, as certides dos documentos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo 184 s podiam ser obtidas mediante proviso da Mesa do Desembargador do Pao, dirigida ao Guarda-Mor do Arquivo, como resulta do Regimento do mesmo Desembargo. 185 A Ordenao Filipina, 186 porm, determinou que as mesmas provises deviam impor ao Guarda-Mor o dever de no passar traslado ou certido de escrituras, forais, doaes, privilgios, sentenas e outros actos semelhantes sem verificar se estes tero sido revogados por outros, o que mostra que as mesmas certides, s por si, independentemente da natureza dos actos traslados, tinham a natureza de documentos autnticos oficiais. Deste extracto histrico, conclui Cunha Gonalves: 187 a) a autenticidade consiste, principalmente, na veracidade e originalidade do documento e, por isso, b) sem embargos das definies legais, manifestamente imperfeitas, documento autntico oficial Verso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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todo aquele por meio do qual algum funcionrio pblico ou qualquer entidade administrativa praticou um acto de imprio ou gesto do Estado ou dos corpos administrativos.

Cunha Gonalves, 188 estabeleceu uma distino de documentos autnticos entre oficiais e extra-oficiais. Definindo aqueles como os que foram exarados ou expedidos 189 pelas reparties do Estado ou das autarquias locais e, bem assim, os actos judiciais e os documentos lanados nos registos de todas as reparties pblicas, quer existentes, quer extintas. Definindo os documentos extra-oficiais como sendo os instrumentos ou actos exarados por notrio ou com sua interveno e destinados declarao da vontade dos outorgantes. Feita a deambulao antecedente pela classificao dos documentos e quedando-nos na ltima parte nos apelidados documentos autnticos, importa agora e aqui, debruar-mo-nos sobre a respectiva fora probatria. 190 Comeando, ainda que breve e simplesmente, por adiantar que se considera fora probatria de um documento autntico o valor que lhe atribudo como meio de prova ou a f, a credibilidade que lhe conferida pela lei. Cunha Gonalves 191 explica que a fora probatria pode ser encarada quanto ao documento autntico em si e quanto ao seu contedo. Por outros termos, trata-se de saber: 1. - se o documento apresentado tem o carcter de autenticidade; 2. - at que ponto se devem julgar provados os factos nele mencionados. O documento exarado e expedido 192 por um funcionrio ou oficial pblico, no desempenho da sua funo, faz por si mesmo a prova da sua autenticidade. Scripta publica probant se ipsa, quer dizer, o documento que tem os sinais exteriores da autenticidade necessariamente autntico, de-sorte que o litigante, ao apresent-lo, no tem de fazer a demonstrao desse carcter, que resulta da lei. O adversrio que ter de provar que ele no autntico, arguindo-o de falso e fazendo a difcil prova dessa falsidade.

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Ou, por outras palavras e pormenorizando: Ia prova plena do documento autntico s pode ser destruda pela arguio de falsidade por aco por incidente no processo 193 IIem relao aos factos acerca dos quais o documento no faz prova plena, a sua fora pode ser destruda por todos os meios legais, independentemente da arguio de falsidade. Para Betti, 194 a eficcia do documento pode ser considerada ou em relao sua parte extrnseca ou em relao sua parte intrnseca. Acol, temos a fora probatria formal; aqui, a fora probatria material. Sobraando tamanha dicotomia relativa aos documentos autnticos, espraia-se Alberto dos Reis: 195 A fora probatria formal diz respeito a dois elementos: a) provenincia do documento e b) sua data. Portanto, a questo de saber qual a fora probatria formal do documento autntico traduz-se em determinar at que ponto que o documento faz prova da sua provenincia (pessoa de que emana) e da sua data (tempo e lugar da sua formao). A lei no explcita a tal respeito; mas a doutrina unnime em proclamar que o documento autntico faz prova plena da sua autenticidade, isto , de que o seu autor realmente a pessoa nele designada como tal e de que se formou no tempo e no lugar nele indicados. o velho princpio formulado por Dumoulin: acta probant se ipsa.

E continua o mesmo Mestre: 196 Desde que o documento tenha os caracteres externos que permitam qualific-lo como autntico, 197 o tribunal tem de aceitar como certo, enquanto no for arguido de falso e a falsidade no estiver demonstrada, que o documento emana realmente do funcionrio designado como autor e que foi lavrado ou expedido na data nele aposta.Verso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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A fora probatria formal do documento autntico no abrange unicamente as partes; estende-se a terceiros, vale erga omnes. 198 Tem fora probatria absoluta partes herdeiros representantes terceiros. E porqu tanta fora? Porque a lei confere ao funcionrio, seu feitor, a denominada f pblica. Certo sendo, que esta emanao impe-se partes terceiros Donde se ilide que os terceiros como, alis, as partes no podem questionar a veracidade dos factos atestados pelo oficial pblico, enquanto no arguirem o documento de falso. Todavia, maugrado a amplido da fora probatria acabada de mencionar, a ver- dade esta: o documento s fez prova plena de que os factos nele narrados se passaram mas nunca que os mesmos correspondam verdade o que marca a distino entre o material e o moral o que marca a diferena entre o extrnseco e o intrnseco o que marca a dicotomia entre a verdade formal e a verdade substancial.

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Falamos at aqui da fora probatria formal dos documentos autnticos, mister agora perorar sobre a sua fora probatria material. Que o mesmo falar do seu contedo, da sua parte intrnseca, das declaraes ou narraes que o documento autntico alberga. Alberto dos Reis, 199 define a fora probatria material nestes termos: a) os documentos autnticos oficiais constituem geralmente prova plena; b) os documentos autnticos extra-oficiais fazem prova plena quanto existncia do acto a que se referem, excepto naquilo em que possam envolver ofensa de direitos de terceiro, que no fosse parte no mesmo acto; c) a prova que resulta dos documentos autnticos, no abrange as declaraes enunciativas, que se no refiram directamente ao objecto do acto. E, em uma distino que apelidou de legal: 200 1) h factos, em relao aos quais os documentos autnticos oficiais e extra-oficiais fazem prova plena; 2) h outros, em relao aos quais eles no tm essa eficcia probatria. Esto no 1. caso, os factos praticados pela autoridade ou funcionrio pblico respectivo e os factos que se passaram na sua presena ou de que ele se certificou e podia certificar-se. Esto no 2. caso, os factos que no se passaram na sua presena e a veracidade das declaraes que lhe foram feitas. Por seu turno, Cunha Gonalves 201 observa: o documento autntico oficial faz prova plena s porque oficial; s por ser oficial verdadeiro, enquanto no seja arguido de falso; portanto, ainda quanto ao contedo, existe no documento autntico oficial uma presuno legal de veracidade, inerente ao seu carcter externo ou autenticidade. Tambm o documento autntico extra-oficial faz prova plena s porque emana de oficial pblico incumbido pela lei de imprimir certeza e autenticidade a determinados actos, isto , de funcionrio revestido de f pblica.

O que no faz sentido que a fora probatria material do documento, seja extra- -oficial, seja oficial,Verso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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se estenda a todo o seu contedo, isto , mesmo aquilo que no foi praticado pelo funcionrio ou de cuja veracidade este no pode certificar-se. Alberto dos Reis 202 exemplifica: comparece perante um funcionrio do registo civil determinada pessoa que faz as declaraes necessrias para ser lavrado um registo de nascimento; o conservador lavra o registo em conformidade com as declaraes que lhe foram prestadas; h-de entender-se, s porque constam de documento autntico oficial, que essas declaraes correspondem inteiramente verdade? evidente que no - conclui o mesmo autor - a fora probatria plena do documento oficial (assento de nascimento) s abrange o acto praticado pelo funcionrio; quer dizer, o assento s prova plenamente que no dia e hora nele indicados compareceu perante o conservador ou seu ajudante a pessoa designada, que fez as declaraes constantes do registo e que o funcionrio lavrou, em conformidade com elas, o assento de nascimento. Quanto a saber se as declaraes feitas pelo interessado so verdadeiras, se na hora, dia, ms e ano declarados nasceu ou no a pessoa referida, se tem o sexo apontado, o documento oficial no faz prova plena. Passa-se, pois, com este documento oficial o mesmo que se passa com o documento autntico extra-oficial. A escritura lavrada pelo notrio s constitui prova plena quanto ao que o notrio fez e quanto ao que na sua presena ocorreu; o documento no garante, nem pode garantir, a veracidade das declaraes que os outorgantes fazem ao notrio; s garante que eles as fizeram. O funcionrio pblico certifica a materialidade dos factos ocorridos na sua presena, no a sinceridade desses factos. 203) O funcionrio pblico garante pela f de que est revestido, que os factos se passaram; no garante que eles sejam conformes verdade. 204 E no h lugar a dvidas: a prova plena atribuda ao documento autntico consequncia da f pblica de que o funcionrio est revestido, segundo a lei.

Ora, aquela f pblica no pode abranger factos que o funcionrio no tivesse testemunhado, ou seja,Verso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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factos que ele prprio executou e os que se passaram na sua presena, que ele viu ou ouviu. 205 Tudo quanto atrs se vazou no texto, tem especial relevncia no mbito da simulao dos actos jurdicos. ainda Alberto dos Reis 206 quem adianta esta exemplificao: celebrou-se um negcio jurdico por documento autntico; um terceiro ou um dos outorgantes quer atacar a validade do acto com o fundamento de ser simulado; precisa de arguir a falsidade do documento em que o acto se acha exarado? Responde aquele Mestre, que no. Desde que o documento no faz prova plena da sinceridade do negcio, no se pe em cheque a eficcia probatria do documento autntico pelo facto de se alegar que o negcio foi simulado. O notrio afiana que as partes lhe fizeram a declarao negocial constante do documento; no afiana que a vontade real dos outorgantes estivesse em perfeita conformidade com a vontade declarada; ele no estava em condies de conhecer a vontade oculta das partes. Portanto, a f pblica do notrio no posta em causa quando se afirma que o acto foi simulado. E conclui o mesmo saudoso Professor: A arguio de falsidade s necessria quando se pretende destruir a fora probatria do documento naquilo em que ele fez prova plena. Ora, o documento no faz prova plena quanto correspondncia exacta entre a vontade real e a vontade declarada; s faz prova plena de que a vontade declarada foi a que no documento est expressa. Se ela foi ou no sincera, se coincidiu ou no com a vontade real, facto que no se passou na presena do notrio. Com Carnelutti: 207 O documento 208 faz prova plena da formao da declarao, no da sua vali- dade ou eficcia jurdica.

O documento dispositivo ou negocial faz prova plena de que o acto ou contrato se celebrou; no prova seguramente que esteja isento de simulao ou de vcio de consentimento (erro, dolo, coaco).

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Por outras palavras: o documento faz prova do facto jurdico que representa; no faz prova de outros factos que podem exercer influncia sobre o facto representado. O documento relativo formao de um contrato faz prova plena do facto constitutivo; 209 mas no prejudica qualquer questo que possa surgir sobre factos impeditivos, modificativos ou extintivos da relao jurdica oriunda do contrato. Falta ainda dizer, com Lessona: 210 Uma coisa so os factos praticados pelo funcionrio e os ocorridos na sua presena, outra as apreciaes do mesmo funcionrio. Estas so fruto do seu trabalho intelectual, a que no pode atribuir-se presuno de infalibilidade, pelo que tais apreciaes so susceptveis de impugnao mediante simples prova contrria, sem que seja necessrio argui-las de falsas. E ainda o mesmo autor que adianta o seguinte exemplo: Um oficial de justia efectua uma citao. Quando ele declara na certido que foi ao domiclio do citando, que no o encontrou e que entregou o respectivo duplicado a um empregado ou a um vizinho, as afirmaes respeitantes qualificao do lugar como sendo o domiclio do citando e s qualidades da pessoa qual fez entrega do duplicado como sendo empregado ou vizinho do citando exprimem apreciaes do funcionrio que no fazem prova plena. 211 Como tambm o no fazem as apreciaes individuais do notrio. Por exemplo, que o testador se encontrava no pleno uso de suas faculdades mentais. Esta deduo do notrio, 211 pode ser impugnada mediante simples prova em contrrio. Uma coisa certa e, alis, resulta de tudo quanto atrs se encontra debitado. Quando a lei exigir, como forma da declarao negocial, documento autntico, no pode este ser substitudo por outro meio de prova ou por outro documento que no seja de fora probatria superior. o carcter insubstituvel do documento autntico. E esta insubstitualidade no se fica pelo documento autntico como meio de prova.

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No, aplica-se igualmente ao documento autntico como requisito de constituio do acto jurdico. Quando se toca neste carcter do documento autntico, geram-se reaces as mais inesperadas e agressivas, como esta relatada na imprensa diria: 212 A Ordem dos Notrios (ON) decidiu recomendar aos profissionais da classe que recusem os documentos reconhecidos por advogados e solicitadores sempre que estes extravasem as competncias de um documento particular. Esto neste caso as procuraes para transmisso de imveis. Um parecer elaborado pela Ordem e ontem divulgado precisa que os documentos autenticados por advogados e solicitadores s podem ser considerados particulares e nunca autnticos, porque estes ltimos tm de ser exarados por autoridades pblicas, ou seja, por um notrio ou outro oficial provido de f pblica. E, segundo referiu ao JN o bastonrio da ON, Barata Lopes, muitos notrios esto a recusar as procuraes de transmisso de imveis que tenham sido feitas por advogados e solicitadores. O Cdigo Civil impe que nestes casos a procurao tenha interveno notarial, precisou, lembrando que o decreto-lei aprovado em Maro, que aumentou o nmero de actos e de reconhecimento que passaram a poder ser feitos fora dos cartrios notariais, no se sobrepe ao disposto no cdigo. Assim sendo, no entendimento da ON, h um conjunto de actos que no podem ser feitos se forem sustentados num documento particular. E igualmente claro que carecem de forma legal os documentos autenticados por aquelas duas classes de profissionais que vo alm deste perfil (de documento particular). A ON decidiu estender a sua recomendao aos conservadores, mas a presidente da Associao Sindical dos Conservadores de Registo afirmou ao JN no ter conhecimento de que haja conservadores a recusar os documentos autenticados por aqueles profissionais liberais. Na legislao aprovada em Maro, e que entrou em vigor j durante este Vero, alm do alargamento de situaes para reconhecimento de assinaturas, passou a ser possvel aos solicitadores e advogados efectuar toda uma srie de actos societrios, desde alteraes de capital, mudanas de scios ou de sede de uma empresa. Apenas lhes ficaram vedadas as questes da vida das sociedades que impliquem a transmisso de imveis. A Ordem dos Advogados estranha esta posio dos notrios pois, para o seu bastonrio Rogrio Alves, o que se espera de toda a gente que se conforme com a lei.

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J resulta da exposio antecedente que, muito embora a grande fora do documento autntico, pode o mesmo ser objecto de nulidade e de falsidade. Ou, se quisermos, para usarmos a linguagem da lei adjectiva, 213 ser arguida a sua falta de autenticidade e sua falsidade. A falta de autenticidade de documento presumido por lei como autntico, opera-se quando se pretenda alegar e demonstrar a contrafaco de documento aparentemente autntico, mediante prova do contrrio, ou - sendo manifesta pelos sinais exteriores do documento - para o efeito de a autenticidade ser excluda oficiosamente pelo tribunal. A falsidade do documento ocorrer quando no momento da formao de documento autntico de cariz narrativo, o seu autor nele atestar, como verificados na sua presena ou por ele praticados, factos que na realidade se no verificaram; ou, em qualquer tipo de documento, por o respectivo contedo ter sido alterado, ainda que por supresso ou acrescentamento, depois de definitivamente formado e ainda que pelo seu prprio autor. 214 usual distinguir entre falsidade material e falsidade ideolgica ou intelectual. Aquela refere-se parte extrnseca do documento e esta sua parte intrnseca. Passemos em seguida anlise de algumas projeces na nossa lei vigente do tema relacionado com os documentos autnticos, antes de nos debruarmos sobre os documentos particulares. E, desde logo, para mencionar que Quando o documento for anterior ao sculo XVIII, a sua autenticidade ser estabelecida por meio de exame feito na Torre do Tombo desde que seja contestada ou posta em dvida por alguma das partes ou pela entidade a quem o documento for apresentado. a redaco do n. 3, do art. 370. do Cdigo Civil. O exame destinado a estabelecer a autenticidade de documentos anteriores ao sculo XVIII, ser ordenado pelo director do Arquivo da Torre do Tombo, sobre prvia requisio do tribunal, conforme se estipula no art. 551. do Cdigo de Processo Civil. 215

Naturalmente que a apresentao em tribunal de documentos anteriores ao sculo XVIII mui pouco frequente, mas j o mesmo no sucede relativamente a documentos autnticos emitidos em pas estrangeiro. Que sorte tero entre ns?Verso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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Pois bem: quando passados em conformidade com as leis respectivas dos pases de origem, gozam de igual fora probatria formal, 216 no necessitando, sequer, de legalizao prvia. 217 Porm, se o documento no estiver legalizado, nos termos da lei processual, e houver fundadas dvidas acerca da sua autenticidade ou da autenticidade do reconhecimento, ento, pode ser exigida a sua respectiva legalizao. 218 J agora, respondamos indagao: quando se considera um documento autntico estrangeiro legalizado? A resposta vamos encontr-la no n. 1, do art. 540. do C.P.C., assim redigido: Os documentos autnticos passados em pas estrangeiro, na conformidade da lei desse pas, consideram-se legalizados desde que a assinatura do funcionrio pblico esteja reconhecida por agente diplomtico ou consular portugus no Estado respectivo e a assinatura deste agente esteja autenticado com o selo branco consular respectivo. 219 No esqueamos, entretanto, que os documentos passados no estrangeiro, em conformidade com as leis locais, so admitidos a registo, independentemente, de prvia legalizao. Coisa diferente a questo de documentos (autnticos ou no) escritos em lngua estrangeira. Quando se ofeream documentos que caream de traduo, o juiz, oficiosamente ou a requerimento de alguma das partes, ordena que o apresentante a junte. Surgindo dvidas fundadas sobre a idoneidade da traduo, o juiz ordenar que o apresentante junte traduo feita por notrio ou autenticada por funcionrio diplomtico ou consular do Estado respectivo; na impossibilidade de obter a traduo ou no sendo a determinao cumprida no prazo fixado, pode o juiz deter- minar que o documento seja traduzido por perito designado pelo tribunal.

o que diz o art. 140. do Cdigo de Processo Civil. Repare-se que a traduo, em lngua portuguesa, de documentos juntos a processos judiciais no obrigatria, sendo faculdade do tribunal prover pela juno dessa traduo se o entender conveniente. 220 Porque assim, o facto de o documento vir escrito em lngua estrangeira, sem ser acompanhado da respectiva traduo, no motivo de no recebimento, pois, o juiz, oficiosamente, pode exigir que quem o apresenta, dentro do prazo legal, oferea tambm a sua traduo e a parte contrria pode pedir prazo para o seu estudo e apreciao.Verso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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Haver ainda para dizer que se a letra do documento 221 for de difcil leitura, a parte obrigada a apresentar uma cpia legvel; se a parte no cumprir, incorrer em multa e juntar-se- cpia custa dela. 222 Supra falamos da fora probatria material dos documentos autnticos. O mesmo dizer da fora probatria do seu contedo, da parte intrnseca dos mesmos, na generalidade. Agora e aqui, fazemos descer o tema nossa lei vigente. E, ento, que tratamento lhe d? Atente-se no n. 1, do art. 371. do C.C.: Os documentos autnticos fazem prova plena dos factos que referem como praticados pela autoridade ou oficial pblico respectivo, assim como dos factos que neles so atestados com base nas percepes da entidade documentadora; os meros juzos pessoais do documentador s valem como elementos sujeitos livre apreciao do julgador. H trs situaes a considerar: I - factos que o documento d como praticados pela entidade documentadora; II - factos no praticados pela entidade documentadora, mas atestados no documento com base nas suas percepes; III - meros juzos pessoais ou simples apreciaes da entidade documentadora.

Para exemplo do nmero I, podemos apontar uma escritura pblica. Elaborada em cartrio notarial, o tabelio faz a leitura e explicao do respectivo contedo em voz alta, assinando os outorgantes aps declararem ficar cientes. Ento, os factos vertidos na escritura passam a ser entendidos como verdadeiros. Se algum os quiser impugnar, ter de provar o contrrio, no servindo uma simples contra-prova, porque o documento que os relata, se encontra imbudo de f pblica que flui da entidade documentadora.

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Os actos e declaraes que o funcionrio atesta como praticados, emitidos ou prestados perante ele, tero o valor jurdico que lhes competir, podendo ser impugnados pelos interessados nos termos gerais de direito (erro na declarao ou erro-vcio, coaco, simulao, etc.), no importando isso arguio de falsidade. 223 Sirva-nos, agora, de exemplo, para a hiptese supra do nmero II, o que nos refere Antunes Varela: 224 diz-se na escritura que um dos outorgantes declarou perante o notrio querer comprar certa coisa e que o outro, declarando querer vend-la, afirmou ter j recebido, no dia anterior, o preo entre eles convencionado. Aqui, a fora probatria plena do documento no ultrapassa as percepes do notrio (ou outra entidade documentadora). Apenas ficar provado que um dos outorgantes do acto notarial declarou perante o notrio querer comprar e que o outro declarou na mesma ocasio, perante o mesmo funcionrio, querer vender e ter recebido a quantia estipulada. Se o primeiro quis, efectivamente, comprar, se o segundo quis na realidade vender, no pode inculcar-se ou provar-se, pela apresentao do documento. O querer vender e o querer comprar, so factos do foro ntimo dos outorgantes, que o notrio no pode atestar, apenas o fazendo quanto e to-s ao que lhe foi dito pelos contratantes. Diferente seria, se o dinheiro tivesse passado da mo do primeiro para o segundo outorgante, na presena do notrio e, se este, tivesse forma de perceber a verdadeira inteno de venda da coisa em questo por parte do segundo. E quanto ao vertido na situao nmero III? Comparece perante o notrio Rosa Malheiro, acompanhada de duas testemunhas para fazer um testamento a favor de uma sua empregada domstica. Tem 77 anos de idade, locomove-se com dificuldade, tremem-se-lhe as mos, ouve mal e v com dificuldade, mas diz estar no pleno uso das suas faculdades mentais. O notrio, porventura, faz-lhe perguntas do gnero: o nome completo, a idade, onde nasceu, que habilitaes tem, se tem filhos, etc..

Tira a ilao que no tem, efectivamente, qualquer problema de sanidade mental e, ento, aceita lavrar o testamento, porque em conscincia entende que o deve fazer. A declarao que o notrio faa de que a testadora se encontra no uso das suas faculdades mentais, indo para alm da rea das percepes da entidade documentadora, no apoiada pela foraVerso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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probatria plena do documento. Tal declarao fica sujeita livre apreciao do julgador. Ainda no respeitante aos documentos autnticos j com ligao aos particulares. Para dizer que a sua fora probatria impe-se no s em relao aos sujeitos do acto jurdico, mas ainda em relao a terceiros. Expressivo o Acrdo do S.T.J., de 04/05/78, 225 quando conclui dever distinguir-se entre a fora probatria plena dos documentos autnticos e a dos documentos particulares cuja veracidade esteja reconhecida: enquanto aqueles provam, plenamente, erga omnes, estes s provam inter partes. Seria agora a vez de falarmos sobre os documentos particulares como, alis, atrs o prometemos. E, vamos cumprir, naturalmente. S que, antes desejamos tecer alguns considerandos sobre uma figura hbrida, 226 qual seja a do documento autenticado. J l mais para antanho nos referimos a eles, mas foi apenas a vol d'oiseau, convindo assentar um pouco mais a respectiva matria. Embora sem lhe dar a relevncia que merecem os documentos autnticos (dos quais j falamos) e os documentos particulares (que a seguir merecero a nossa anlise). Comecemos, ento, pelo conceito. Documento autenticado o documento particular com reconhecimento autntico. Pela sua origem o documento particular. posteriormente aproxima-se do documento autntico.

Esta aproximao do documento particular ao documento autntico, mesmo uma mera aproximao, que no uma convolao. Nunca o documento particular atingir as virtualidades do documento autntico. O documento autenticado no documento particular, mas tambm no documento autntico.Verso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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, realmente, um documento de tipo misto 227 particular autntico. O Cdigo Civil - em seu art. 377. - exprime e bem aquela dupla comunho. Vejamos: Os documentos particulares autenticados nos termos da lei notarial tm a fora probatria dos documentos autnticos, mas no os substituem quando a lei exija documento desta natureza para a validade do acto. E, sem mais, apetece perguntar: qual a razo da equiparao legal, em termos de fora probatria, do documento autenticado ao documento autntico? A razo da equivalncia reside no facto de o reconhecimento notarial de um e de outro dos documentos ser anlogo, donde a eficcia tambm dever ser semelhante. A requisitos equiparados, garantias equivalentes. Ora, vejamos as poucas diferenas de tratamento. parte as diferenas meramente formais, o trao mais saliente que distingue o documento autntico do documento autenticado este: no documento autntico o funcionrio recolhe as declaraes das partes e exara-as ele mesmo no instrumento; no documento autenticado as partes escrevem ou mandam escrever o ttulo e depois levam-no ao notrio, ao qual declaram que ele exprime a sua vontade. Ora o que importa, essencialmente, a certeza de que o documento contm aquilo e s aquilo que as partes quiseram convencionar, dispor ou narrar; que as partes o declarem verbalmente ao notrio para este redigir o instrumento, ou que, depois de formado o documento, assegurem ao notrio, para este o certificar, que o acto ou facto representado no ttulo exprime a sua vontade, so coisas equivalentes. Num e noutro caso, a f pblica do notrio d a garantia da autenticidade do contedo. E passemos, ento, aos documentos particulares. Enquanto que respeitantemente aos documentos autnticos as definies so mais que muitas, nos documentos particulares as mesmas escasseiam.

Alis, compreensivelmente.

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Como que a conceptuologia se esgotou naqueles. E verdade. Resolvendo-se a questo, desta simplista forma: todos os documentos que no so autnticos, denominam-se particulares. Ora, se aqueles foram objecto de mltipla enunciao, extraindo-se a noo destes da definio daqueles, parece chegarmos, sem esforo, ao desejado conceito. Por excluso, portanto. 228 E o vigente Cdigo Civil, segue esta via quando - embora no os definindo - na seco votada prova documental, 229 os trata desta forma: Artigo 369. Competncia da autoridade ou oficial pblico 1. O documento s autntico quando a autoridade ou oficial pblico que o exara for competente, em razo da matria e do lugar, e no estiver legalmente impedido de o lavrar. 2. Considera-se, porm, exarado por autoridade ou oficial pblico competente o documento lavrado por quem exera publicamente as respectivas funes, a no ser que os intervenientes ou beneficirios conhecessem, no momento da sua feitura, a falsa qualidade da autori- dade ou oficial pblico, a sua incompetncia ou a irregularidade da sua investidura. Artigo 373 Assinatura 1. Os documentos particulares devem ser assinados pelo seu autor, ou por outrem a seu rogo, se o rogante no souber ou no puder assinar. 2. Nos ttulos emitidos em grande nmero ou nos demais casos em que o uso o admita, pode a assinatura ser substituda por simples reproduo mecnica. 3. Se o documento for subscrito por pessoa que no saiba ou no possa ler, a subscrio s obriga quando feita ou confirmada per- ante notrio, depois de lido o documento ao subscritor. 4. O rogo deve igualmente ser dado ou confirmado perante notrio, depois de lido o documento ao rogante.

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Da leitura destes dois preceitos tirados do Cdigo Civil, resulta claro que os documentos particulares so os que ficam depois da eleio dos autnticos. Aps se furtarem dos documentos os autnticos. Mais concretamente e singularizando com os dois supra transcritos dispositivos: so documentos particulares os escritos ou assinados por qualquer pessoa 230 sem interveno de funcionrio pblico. Ou quando muito com interveno de notrio sempre que o documento seja subs- crito por pessoa que no saiba ou no possa ler, mas neste caso para que a respectiva subscrio tenha eficcia. 231 Sendo que, com ou sem a interveno do oficial pblico, sempre o documento e ser apelidado de particular. 232 E, ento - e l acabamos na definio - com Carnelutti: 233 documento particular o que tem por autor um simples particular. 234 E quanto classificao? Para alm de outras, de menor importncia e de dbio entendimento, apontaremos as de Alberto dos Reis 235 e de Cunha Gonalves: 236 Para o primeiro e, tendo por base a forma externa e o momento da formao, os documentos particulares podem ser: documentos assinados escritos e assinados pelo autor escritos por terceiro e assinados pelo autor escritos e assinados por terceiro documentos sem assinatura

Tendo por base a altura em que se fazem, os documentos particulares podem ser:Verso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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legalizados por reconhecimento presencial por reconhecimento por semelhana simples 237 J para o segundo, os documentos particulares podem ser: documentos autenticados documentos judicialmente reconhecidos documentos com reconhecimento notarial vulgar documentos no-reconhecidos e at nem assinados documentos particulares propriamente ditos Com noo ou sem, com classificao ou no, uma coisa parece lquida: o documento particular no tem de obedecer a qualquer tipo formal. 238 Efectivamente, o subscritor de um documento particular, desde o poder verter em qualquer tipo, formato, qualidade e cor de papel 239 at conferir-lhe a forma que mais lhe aprouver, tudo lhe permitido, incluindo a utilizao de qualquer idioma ou at mesmo de linguagem cifrada. Para j no falar no facto de o documento particular poder ser manuscrito ou no, pelo prprio ou por outrem, com rasuras, 240 com entrelinhas, com espaos total ou parcialmente em branco, um no mais acabar de singularidades, quando no at de excentricidades. Mais ainda: no necessria a indicao do lugar da confeco do documento particular, nem sequer da data da respectiva feitura. E no ser exagero tamanho despojamento? Com tal, ainda se poder chamar documento, mesmo que apodado de particular? que a data e a assinatura podem 241 ser considerados elementos necessrios ao documento particular, certo, mas o que no so elementos essenciais.

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E, ento, o resto que nem necessrio quanto mais essencial. Posto isto, est mesmo a pedir-se que nos debrucemos sobre a fora probatria dos documentos particulares. Porque com tudo quanto linhas atrs se debitou, a indagao mais que justificvel: os documentos particulares tero 242 alguma fora probatria? Bom, para responder a tamanha interrogao, teremos que descer do assento terico acima afinado at maneira como o documento particular tratado pela nossa fundamental lei substantiva. 243 Fornecendo desde logo e guiza de pedra de toque, esta ideia: o tratamento que o vigente Cdigo Civil 244 d ao documento particular assaz mais restrito que o conferido na base terico-doutrinal que nos serviu para a explanao supra no texto, a qual faz daquele um rodilho sem importncia alguma. 245 E com esta advertncia que iremos deambular pela seco que no actual Cdigo Civil se dedica regulamentao dos documentos particulares. Vejamos, ento: Artigo 373. 246 Assinatura 1. Os documentos particulares devem ser assinados pelo seu autor, ou por outrem a seu rogo, se o rogante no souber ou no puder assinar. 2. Nos ttulos emitidos em grande nmero ou nos demais casos em que o uso o admita, pode a assinatura ser substituda por simples reproduo mecnica. 3. Se o documento for subscrito por pessoa que no saiba ou no possa ler, a subscrio s obriga quando feita ou confirmada perante notrio, depois de lido o documento ao subscritor. 4. O rogo deve igualmente ser dado ou confirmado perante notrio, depois de lido o documento ao rogante. Da leitura deste dispositivo flui que o requisito essencial do documento particular a assinatura manuscrita do seu autor. dele que resulta a fora probatria que a lei reconhece a esta espcie de documentos.

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Os escritos no assinados so, em regra, apenas projectos, intenes, 247 a que o tribunal poder, em certos casos, atribuir o valor de um comeo de prova. 248 De esclarecer que, muito embora a subscrio constitua requisito essencial do documento particular, nos ttulos emitidos em grande nmero e nos casos em que os usos o admitem, a assinatura pode deixar de ser autografada e sim consistir na utilizao de um processo de reproduo mecnica. Ou ainda de assinatura digital. Dois apontamentos a finalizar: - a omisso da formalidade prescrita no n. 3, do normativo transcrito linhas acima, s poder ser arguida pelo prprio rogante e no pela contraparte, especialmente se foi esta que deu causa a preterio do formalismo legal; - assinado a rogo um contrato, por um dos contraentes no poder, por doena, assinar sabendo faz-lo, no sendo a assinatura a rogo confirmada perante o notrio nos termos do n. 4 do dispositivo supra transcrito, nulo tal contrato. Artigo 374. 249(Autoria da letra e da assinatura) 1. A letra e a assinatura, ou s a assinatura, de um documento particular consideram-se verdadeiras, quando reconhecidas ou no impugnadas pela parte contra quem o documento apresentado, ou quando esta decla-re no saber se lhe pertencem, apesar de lhe serem atribudas, ou quando sejam havidas legal ou judicialmente como verdadeiras. 2. Se a parte contra quem o documento apresentado impugnar a veracidade da letra ou da assinatura, ou declarar que no sabe se so verdadeiras, no lhe sendo elas imputadas, incumbe parte que apresentar o documento a prova da sua veracidade. No vale aqui a doutrina correspondente mxima acta probant se ipsa.

A averiguao da autenticidade (autoria ou procedncia) da letra e da assinatura faz-se por reconhecimento expresso ou tcito da parte contrria (quela que produz o documento) ou mediante a prova adequada. 250 O documento particular cuja assinatura esteja reconhecida em conformidade com o n. 1 do dispositivo transcrito faz prova plena quanto s declaraes atribudas ao seu autor, mas s na medida em que forem contrrias aos seus interesses.Verso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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Actualmente a prova da autoria de um documento particular, quando no for reconhecida pela parte a quem atribuda, compete sempre ao apresentante do documento. Competncia que se mantm quando a parte diz que a assinatura constante do documento lhe no pertence. O incidente de falsidade tem lugar quando, reconhecida a autoria do documento que, por isso, tenderia a fazer a prova plena quanto s declaraes nele contidas, se alega a viciao material do seu contedo, normalmente ocorrida em data posterior elaborao e assinatura pelo seu autor. Os documentos particulares no provam, por si s, a sua provenincia da pessoa que aparentemente assume a sua autoria. A autenticidade deles s pode ser aceite mediante reconhecimento tcito ou expresso da parte ou atravs do reconhecimento judicial. Se a parte contra a qual o documento particular oferecido, e qual imputada a autoria, nada disser, a autenticidade do mesmo considera-se provada. Todavia, se a parte a quem o documento oposto impugnar a veracidade da assinatura ou se disser que no sabe se ela verdadeira, quer a argua de falsa quer no, compete ao apresentante fazer a prova da veracidade. Considera-se estabelecida a autenticidade de um documento: a) se a parte contrria reconhece expressamente a autenticidade (isto , a veracidade da letra e da assinatura); b) se a parte contrria no fez qualquer declarao; c) ou a parte contrria declara no saber se o documento genuno ou autntico, mas a autoria do documento lhe atribuda. Cabe ao apresentante do documento a prova da sua autenticidade: a) se a parte contrria declara que o documento no genuno ou autntico (isto , se impugna a veracidade da letra ou da assinatura); b) se a parte contrria declara no saber se o documento genuno ou autntico, mas a autoria do documento lhe no imputada. Artigo 375. 251 Reconhecimento notarial 1. Se estiverem reconhecidas presencialmente, nos termos das leis notarias, a letra e a assinatura do documento, ou s a assinatura, tm-se por verdadeiras.

2. Se a parte contra quem o documento apresentado arguir a falsidade do reconhecimento presencial da letra e da assinatura, ou s da assinatura, a ela incumbe a prova dessa falsidade.Verso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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3. Salvo disposio legal em contrrio, o reconhecimento por semelhana vale como mero juzo pericial. Apresentado por uma das partes um documento particular cuja assinatura, atribuda parte contrria, est reconhecida por semelhana, pode esta parte declarar que a assinatura no lhe pertence e fazer contraprova da presuno de veracidade resultante do reconhecimento (no sendo, pois, necessrio arguir a falsidade). A prova da falsidade do reconhecimento presencial, a que se refere o n. 2 do preceito acima transcrito, no implica forosamente a ideia da falsidade do texto e assinatura ou s da assinatura do documento. Artigo 376. 252 Fora probatria 1. O documento particular cuja autoria seja reconhecida nos termos dos artigos antecedentes faz prova plena quanto s declaraes atribudas ao seu autor, sem prejuzo da arguio e prova da falsidade do documento. 2. Os factos compreendidos na declarao consideram-se provados na medida em que forem contrrios aos interesses do declarante; mas a declarao indivisvel, nos termos prescritos para a prova por confisso. 3. Se o documento contiver notas marginais, palavras entrelinhadas, rasuras, emendas ou outros vcios externos, sem a devida ressalva, cabe ao julgador fixar livremente a medida em que esses vcios excluem ou reduzem a fora probatria do documento. O n. 1 deste artigo deve ser interpretado em harmonia com o disposto no n. 2. S as declaraes contrrias aos interesses do declarante se devem considerar plenamente provadas, e no as favorveis, como no caso de se declarar que se emprestou a algum determinada quantia. A fora probatria do documento no impede que as declaraes dele constantes sejam impugnadas com base na falta de vontade ou nos vcios da vontade capazes de a invalidarem. 253

Apurado que o contexto do documento procede da pessoa a quem atribudo, provado fica que essa pessoa emitiu as declaraes l documentadas. E essas declaraes surtiro o devido efeito contra o seu autor na medida em que forem contrrias aos seus interesses. No valem a favor dessa pessoa (scriptura pro scribente nihil probat), porque (tratando-se deVerso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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declaraes de cincia) ningum pode ser testemunha em causa prpria (nemo idoneus testis in re sua; nullus idoneus testis re sua intelligitur), assim como, (tratando-se de declaraes de vontade - de declaraes negociais) ningum pode constituir um ttulo a seu favor (tornar-se, por ex., credor de outrem por mera declarao sua). 254 Um ponto a assentar: tem fora probatria o documento particular no impugnado pela parte prejudicada pelo contedo do mesmo. ainda: O documento ser falso se no tiver sido exarado pela pessoa/entidade a quem atribudo ou se o seu contedo no representar a realidade. A parte contra quem for apresentado o documento pode reconhecer a letra ou a assinatura, ou, pelo contrrio, declarar que as no reconhece como suas ou que no sabe se so verdadeiras. No lhe impondo a lei que suscite o incidente de falsidade do documento, pode, no entanto, deitar mo de tal incidente pois que o n. 1, do art. 376. do Cdigo Civil expresso em admiti-lo. Estabelecida a autenticidade de um documento escrito, a questo de saber se a declarao que dele consta vincula o declarante problema que respeita eficcia da declarao, e no fora probatria do documento. Dada a indivisibilidade da declarao, nos termos da confisso, o documento s tem eficcia inter-partes; s pode ser invocado como prova plena pelo declaratrio contra o declarante. Segundo o art. 376., n.os 1 e 2, do Cdigo Civil, o documento particular cuja autoria seja reconhecida nos termos dos artigos antecedentes, faz prova plena quanto s declaraes atribudas ao seu autor, sem prejuzo da aquisio e prova da falsidade do documento. Da que o documento particular, se estiver reconhecido ou no impugnada a sua veracidade, prove plenamente que o autor do documento fez as declaraes que neste lhe so atribudas.

Os factos compreendidos na declarao e contrrios aos interesses do autor da declarao, valem a favor da parte, nos termos da confisso. Artigo 377. 255 Documentos autenticados Os documentos particulares autenticados nos termos da lei notarial tm a fora probatria dos documentos autnticos, mas no os substituem quando a lei exija documento desta natureza para a validade do acto.Verso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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Encontra-se aqui figurado o princpio acta probant se ipsa. E porqu tamanha fora? Pela fundamental equivalncia das formalidades do termo de autenticao s dos documentos autnticos, visto que no notrio se recebem e autenticam as declaraes das partes, embora j aps terem sido reduzidas a escrito. 256 Artigo 378. 257 Assinatura em branco Se o documento tiver sido assinado em branco, total ou parcialmente, o seu valor probatrio pode ser ilidido, mostrando-se que nele se inseriram declaraes divergentes do ajustado com o signatrio ou que o documento lhe foi subtrado. Desde que o documento tenha sido subtrado ao signatrio, no necessria a prova de que ele contm declaraes divergentes das ajustadas. S no momento em que o signatrio, voluntariamente, entrega o documento, que pode considerar-se vinculado s declaraes nele contidas. At ento, pode o documento ser um simples projecto negocial no vinculativo. 258 A assinatura em branco faz presumir no signatrio a vontade de fazer seu o texto a inserir e da presumir-se que o mesmo representa a vontade confessria daquele.

Artigo 379. 259 Valor dos telegramas Os telegramas cujos originais tenham sido escritos e assinados ou somente assinados, pela pessoa em nome de quem so expedidos, ou por outrem a seu rogo, nos termos do n. 4 do artigo 373., so considerados para todos os efeitos como documentos particulares e esto sujeitos, como tais, ao disposto nos artigos anteriores. Falar-se aqui de telegramas quase que contemplar o seu epitfio. H pouco tempo uma notcia provinda dos C.T.T. dava conta do ltimo telegrama que havia sido expedido em Portugal. Presentemente, outras formas de comunicao, como o fax e o e-mail, deram-lhe o golpe de misericrdia final.Verso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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Para a histria, deixamos aqui o que a notvel parceria Pires de Lima/Antunes Varela, 260 sobre o telegrama comentou: O Cdigo Civil no atribui, ao contrrio do Cdigo Comercial, o valor de documento particular ao original do telegrama que no seja assinado pelo prprio ou por outrem a seu rogo, nos termos do n. 4 do artigo 373.. Mantm o princpio de que todo o documento particular deve conter uma assinatura - a do prprio ou a de um terceiro a seu rogo. No tm assim a fora probatria dos documentos particulares os telegramas expedidos por terceiro, salvo havendo procurao escrita, nem os telegramas telefonados. Quanto a estes, a autoria da declarao transmitida h-de certificar-se por outros meios de prova sujeitos livre apreciao do julgador, e fazer-se em termos diferentes dos consignados para os documentos (particulares). Ainda no vamos passar apreciao de um outro tipo probatrio, concretamente, o da prova por confisso das partes. Ficaremos mais um tempo ao redor da prova por documentos. Porque h que falar em disposies especiais que lhe esto subjacentes.

E a que, alis, a nossa lei fundamental substantiva presta ateno. 261 Seguindo o mtodo imediatamente anterior, transcreveremos dispositivos do Cdigo Civil e comentaremos quando seja caso disso. Artigo 380. 262 Registos e outros escritos 1. Os registos e outros escritos onde habitualmente algum tome nota dos pagamentos que lhe so efectuados fazem prova contra o seu autor, se indicarem inequivocamente, posto que mediante um simples sinal, a recepo de algum pagamento; mas o autor do escrito pode provar, por qualquer meio, que a nota no corresponde reali- dade. 2. Tm igual fora probatria os mesmos escritos, quando feitos e assinados por outrem, segundo instrues do credor. 3. aplicvel nestes casos a regra da indivisibilidade, nos termos prescritos para a prova por confisso. O artigo 537. do Cdigo de Processo Civil, anterior ao Decreto-Lei n. 47 690, ia mais longe, pois noVerso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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se referia apenas prova dos pagamentos, mas prova de quaisquer factos. O trao mais caracterstico dos documentos referidos no n. 1 do artigo 380. est no facto de poderem no estar assinados e, apesar disso, a lei lhes atribuir algum valor probatrio. 263 Artigo 381. 264 Notas em seguimento, margem ou no verso do documento 1. A nota escrita pelo credor, ou por outrem segundo instrues dele, em seguimento, margem ou no verso do documento que ficou em poder do credor, ainda que no esteja datada nem firmada, faz prova do facto anotado, se favorecer a exonerao do devedor. 2. Idntico valor atribudo nota escrita pelo credor, ou segundo instrues dele, em seguimento, margem ou no verso de documento de quitao ou de ttulo de dvida em poder do devedor.

3. A fora probatria das notas pode ser contrariada por qualquer meio de prova; mas, quando se trate de quitao no documento ou ttulo em poder do devedor, se a nota estiver assinada pelo credor, so aplicveis as regras legais acerca dos documentos particulares assinados pelo seu autor. Note-se que no interessa para aplicao do preceito, a natureza do documento (autntico, autenticado ou particular) em que a nota lanada. No necessria para a aplicao da doutrina do n. 1 deste preceito que o documento tenha estado sempre em poder do credor; o que necessrio que, depois de feita a nota, o documento tenha ficado em seu poder. Artigo 382. 265 Cancelamento dos escritos ou notas Se forem cancelados pelo credor, os escritos a que se referem os dois artigos anteriores perdem a fora probatria que neles lhes atribuda, ainda que o cancelamento no prejudique a sua leitura, salvo quando forem feitos por exigncia do devedor ou de terceiro, nos termos do artigo 788.. 266 discutido na doutrina o efeito do cancelamento da anotao sobre a fora probatria desta. O Cdigo tomou posio quanto ao problema, declarando que, em tais casos, os escritos, ainda que legveis aps o cancelamento, perdem a sua eficcia probatria; atenuou, porm, o rigor da soluo, restringindo-a aos casos em que o cancelamento seja da autoria do credor. Parece que conservando-se o escrito em poder do credor, deve presumir-se (presuno comum) que foi ele o autor do cancelamento; ser, portanto, ao devedor que incumbir provar que este foi obra deVerso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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outra pessoa, pois s deste modo lhe ser possvel invocar a fora probatria da anotao, que lhe favorvel. Mas ser assim?

Artigo 383. 267 Certides 1. As certides de teor extradas de documentos arquivados nas reparties notariais ou noutras reparties pblicas, quando expedidas pelo notrio ou por outro depositrio pblico autorizado, tm a fora probatria dos originais. 2. A prova resultante da certido de teor parcial pode ser invalidada ou modificada por meio da certido de teor integral. 3. Qualquer interessado, e bem assim a autoridade pblica a quem for exibida, para efeito de prova, uma certido parcial, podem exigir do apresentante a exibio da certido legal correspondente. S as certides passadas pela secretaria do tribunal nos termos do art. 174. do Cd. Proc. Civil 268 podem ter a fora probatria dos originais, conforme dispe o n. 1, do art. 383. do Cd. Civil. Deve, por isso, ser revogado o despacho saneador na parte em que declarou verificada a excepo peremptria de caso julgado apenas com base em fotocpias simples do processo em que o litgio havia sido anteriormente resolvido, no obstante tais fotocpias no terem sido impugnadas pelas partes. 269 Artigo 384. 270 Certides de certides As certides de certides, expedidas na conformidade da lei, tm a fora probatria das certides de que forem extradas. Mas, desde que elas sejam extradas na conformidade da lei, no parece haver motivo para desconfiana, e tal j a orientao do nosso Cdigo Civil (art. 2501.), 271 segundo o qual, as certides de certides faro prova naquilo que no for contrrio s certides, que porventura se exibam, dos originais. Parece dever entender-se no sentido de que a certido tem a fora probatria do original, salvo mostrando-se que diverge da certido de que foi extrada. Se a certido tem a fora probatria do original, por que motivo no h-de t-la a certido da certido, expedida tambm na conformidade da lei? 272 Artigo 385. 273Verso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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Invalidao da fora probatria das certides 1. A fora probatria das certides pode ser invalidada ou modificada por confronto com o original ou com a certido de que foram extradas. 2. A pessoa contra quem for apresentada a certido pode exigir que o confronto seja feito na sua presena. Artigo 386. 274 Pblicas-formas 1. As cpias de teor, total ou parcial, expedidas por oficial pblico autorizado e extradas de documentos avulsos que lhe sejam apresentados para esse efeito tm a fora probatria do respectivo original, se a parte contra a qual forem apresentadas no requerer a exibio desse original. 2. Requerida a exibio, a pblica.forma no tem a fora probatria do original, se este no for apresentado ou, sendo-o, se no mostrar conforme com ela. A pblica-forma uma cpia de teor, total ou parcial, extrada de documentos avulsos apresentados, para esse efeito, ao notrio. Deve conter a declarao de conformidade com o original. Se este revelar alguma irregularidade ou deficincia, deve ela mencionar-se por forma bem visvel. Os originais so devolvidos ao apresentante depois de neles se anotar a extraco da pblica-forma e se optar a data e a rubrica do notrio.

Nenhuma anotao ou rubrica ser aposta nas cadernetas militares ou noutros documentos de identificao pessoal, sem embargo de ser possvel a extraco de pblicas-formas. Artigo 387. 275 Fotocpias de documentos 1. As cpias fotogrficas de documentos arquivados nas reparties notariais ou noutras reparties pblicas tm a fora probatria das certides de teor, se a conformidade delas com o original for atestada pela entidade competente para expedir estas ltimas; aplicvel, neste caso, o disposto no artigo 385.. 276 2. As cpias fotogrficas de documentos estranhos aos arquivos mencionados no nmero anterior tm o valor da pblica-forma, se a sua conformidade com o original for atestada por notrio; Verso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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aplicvel, neste caso, o disposto no artigo 386.. 277 De harmonia com este preceito, possvel distinguir trs grupos de fotocpias: a) as extradas dos instrumentos ou documentos arquivados nas reparties notariais; b) as extradas de documentos estranhos ao arquivo notarial e que so conferidas por notrio; c) as extradas destes documentos pela repartio notarial, a requerimentos dos interessados.

II Prova por confisso das partes Confiteor Deo omnipotenti, Beat Mari semper Virgini, Beato Michaeli Archangelo, Beato Joanni Baptistae Sanctis Apostolos Petro et Paulo, Omnis Sanctis, et tibi, Pater: Quia peccavi miuis cogitatione, verbo et opere: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. 278 Eu me confesso a Deus, todo poderoso, bem-aventurada sempre Virgem Maria, ao bem-aventurado S. Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado S. Joo Baptista, aos Santos Apstolos, Pedro e Paulo a todos os Santos e a ti, Padre: que pequei muitas vezes, por pensamentos, palavras e obras: por minha culpa, por minha culpa, minha mxima culpa. 279 Eis um extracto da Confisso integrada no Ordinrio da Missa. 280 E porqu aqui e agora? que o vocbulo confisso pode ser usada em vrias acepes, 281 das quais destacaremos duas: geral - declarao de um facto ou o reconhecimento da exactido de um facto que ao declarante possa ser, de algum modo, prejudicial. especial - declarao ou a atitude pela qual uma pessoa reconhece como verdadeiro um facto alegado por outrem e de molde a produzir consequncias jurdicas contra aquela.

Ora, o confiteor 282 acima dado a lume, um exemplo da acepo geral conferida palavra confisso: o catlico ao seu confessor, 283 debita pecados de que, na verdade, ningum o acusa, nem pode acusar. Tambm cabendo na acepo geral dada confisso a declarao do arguido perante um juiz da prtica de determinado acto delituoso. E o nosso legislador, como lhe pegou, para definir a confisso?

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Assim: Confisso o reconhecimento que a parte faz da realidade de um facto que lhe desfavorvel e favorece a parte contrria. Nem mais, nem menos - a noo de confisso dada pelo art. 352. do Cdigo Civil. Quase, com cambiantes, o mesmo que constava no art. 2408. do Cdigo de Seabra: a confisso o reconhecimento expresso, que a parte faz, do direito da parte contrria, ou da verdade do facto por esta alegado. Noo esta assaz criticvel: pela incluso da palavra expresso, porque a confisso do direito da parte contrria no uma prova, antes e sim a renncia do ru luta processual, como que semelhante desistncia do autor e tambm porque pode haver confisso sem referncia a acto algum forense 284 mais ainda a confisso sendo tcita, no deixa de o ser. bem verdade: definir algo difcil de fazer, quase impossvel. A definio arrasta a mutilao. Depois, cada qual, quer contribuir para a definio. 285 No se poupando a esforos, Cunha Gonalves 286 - sem no fundo a definir - traou vrias consequncias da confisso: - o litigante deve fazer uma declarao ou manter silncio ou atitude que s possam ser interpretados como reconhecimento da verdade do facto alegado pelo seu adversrio; - a declarao ou atitude do confitente deve versar sobre um facto; por tal, no confisso o reconhecimento de ser aplicvel causa determinado artigo da lei citado pela contraparte, porque a aplicao da lei aos factos misso exclusiva do juzo, 287 sendo que a confisso de um litigante no pode tirar lei a sua fora; - a declarao deve ser feita pela parte com o animus confitendi, ou seja, a inteno de fornecer uma prova que lhe possa ser oposta pelo adversrio, pelo que no constituiro confisses as declaraes com que a parte s pretende apoiar os fundamentos da aco ou da contestao ou que por sua prpria natureza excluem a vontade do litigante de que possam ser contra ele invocadas, isto , ainda que a parte adversa as interprete como confisses e se apresse a aceit-las como tais, para o efeito de no poderem ser retratadas, 288 conforme a usual frmula forense. - a declarao deve ser acidental, posterior ao incio da instncia e no antecipadamente preparada, pois, neste caso, haver apenas um documento, j que s confisso aquela que um litigante fez ou deixa escapar inadvertidamente, acerca de um facto articulado pelo adversrio; - a declarao confessionria acto unilateral, nascido da vontade exclusiva de quem a faz, mesmoVerso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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quando a contraparte requeira o depoimento pessoal do confitente, pois este depoimento pode no conter confisso alguma, mas apenas factos prejudiciais ao adversrio, razo pela qual, a eficcia da confisso no depende da aceitao da pessoa a quem ela aproveita. 289 J agora, mais umas quantas tentativas de nos fornecerem o conceito de confisso, para rematarmos este primeiro item sobre o tema: - para Chiovenda 290 - declarao que a parte faz da verdade dos factos alegados pela contraparte e favorveis a esta; - para Betti 291 - declarao pela qual reconhece como verdadeiro certo(s) facto(s) contrrio(s) ao seu interesse;

- para Aubry et Rau 292 - declarao por virtude da qual uma pessoa recohece como verdadeiro(s) determinado(s) facto(s) susceptvel de produzir contra si efeitos jurdicos. - para Manuel Andrade 293 - declarao de cincia (no declarao dispositiva, constitutiva ou negocial), pela qual uma pessoa reconhece a realidade de um facto que lhe desfavorvel, 294 de um facto cujas consequncias jurdicas lhe so prejudiciais e cuja prova incumbiria, portanto, outra parte; - para Guasp 295 - declarao ou manifestao das partes com funo probatria, isto , que tenda a convencer o juiz da existncia ou inexistncia de determinado dado processual. Entre vrias definies atrs mencionadas, talvez o leitor no se tenha apercebido da dvida que assaltou pelo menos alguns dos seus autores, sobre esta questo bsica: a confisso constituir de facto um meio de prova? Com efeito, questo que se tem colocado ao longo dos tempos. A comear logo pela Idade Mdia onde se sustentava 296 que a confisso era potius ab onere probandi relevationem quam probationem. Depois, em estdios mais chegados a ns, a confisso passou a ser tida para uns quantos como meio que exclui qualquer prova, em simultneo com as presunes legais. Mas - diz Cunha Gonalves 297 - com igual razo poderia duvidar-se da natureza do documento autntico, 298 que dispensa todas as outras provas. Pelo contrrio, a circunstncia de serem dispensados os outros meios de prova s demonstra que a confisso a rainha das provas, pelo menos nos casos cveis, visto que nos processos crimes, segundo oVerso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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direito penal moderno, a confisso do ru considerada prova insuficiente para a sua condenao, excepto nos pases anglo- -saxes (Inglaterra e Estados Unidos da Amrica do Norte), onde as leis do confisso do ru - I am guilty - o mximo valor, ainda que nenhuma prova da autoria do crime exista. 299 Desde que a prova o reconhecimento da verdade do facto alegado por outrem, evidente que nenhuma outra prova melhor h que a confisso. Retornando Idade Mdia, a se encontravam jurisconsultos com idntica orientao. Caso de Menochius, ao afirmar: confessio omnium probationum maxima est. Como, igualmente, Pyrrhing que, peremptrio, diz: nulla est major probatio quam proprii oris confessio, ideoque dicitur plenissima probatio. Entre ns, quer a lei civil substantiva, quer adjectiva, cedo 300 incluiu a confisso no elenco probatrio. Com particular acutilncia para a confisso judicial. Ainda que se lhe objecte: que mais crvel a confisso extrajudicial, que a confisso da parte pode encobrir uma rvanche ou um prejuzo contra terceiros, que pode mascarar uma forma de despachar a contenda ou, pelo menos, de a simplificar ou mesmo esvaziar. J um outro aspecto a relevar o da voluntariedade da confisso. O qual, alis, tem feito correr rios de tinta, entre os comentaristas destas coisas. 301 perora deste jeito: Cunha Gonalves

Dizem uns que na confisso existem dois elementos, a saber: 1. o elemento lgico ou probatrio, comum a todas as provas, que na confisso consiste no argumento da verdade revelada pela admisso de um facto por uma das partes contra o seu prprio interesse; 2. o elemento convencional, prprio e exclusivo da confisso, que se reduz a que o confitente renuncia a todas as excepes, que poderia alegar, provando o contrrio do facto alegado pela parte adversa. Este elemento convencional havido como to predominante, que alguns escritores concluem por afirmar que a confisso um verdadeiro contrato, visto consistir no tcito acordo das partes em considerar, para os efeitos jurdicos controvertidos no processo, como verdadeiro o facto por uma delas reconhecido como tal, subtraindo-o a toda a ulterior contestao 302; - outros, embora julguem exagerada a equiparao ao contrato, no negam o elemento convencional e a sua importncia, mas reputam prevalente o elemento lgico 303; - outros entendem que a voluntariedade do confitente s autoriza a classificao dessa prova como negcio jurdico 304, - como se esta expresso no correspondesse, na moderna teoria dos actos jurdicos, precisamente ao que denominamos convenes ou contratos, - o qual negcio tem como contedo, segundo uns, a vontade de fixar a verdade do facto confessado, no entender de outros a renncia do prprio direito de defesa ou a contestar a alegao do adversrio, ouVerso gerada pelo utilizador [email protected] 21 de Julio de 2011

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a relevatio ab onere probandi do adversrio. Esta doutrina, porm, no de aceitar. Reconhecemos que na confisso existe um elemento de voluntariedade, distinto do elemento probatrio. Mas, isto no basta para se afirmar que a confisso negcio jurdico ou contrato. O erro desta assero facilmente se verifica no seguinte: a) a confisso no uma declarao de vontade, mas sim declarao do conhecimento dum facto; o confitente no quere determinada cousa ou vantagem, mas afirma que verdadeiro determinado facto; b) a irrevogabilidade da confisso no resulta da declarao da vontade, pois esta, enquanto no aceita por outrem, constituindo um vnculo jurdico, pode ser revogada; mas deriva da necessidade legal de dar sentena do juiz, ao menos em regra, uma base segura e inaltervel; c) puro artifcio lgico o transformar a confisso do facto em renncia a um direito ou em obrigao de no contestar de futuro os factos alegados pelo adversrio, j porque tal renncia ou obrigao so ineficazes nos casos em que a lei declara insuficiente ou probe a confisso, j porque esta no obsta a que a parte adversa tenha de fazer a prova completa das suas alegaes, invocando a confisso, apenas, em reforo das outras; de tal sorte que, excludos os factos confessados, tdas as outras provas que no sejam documentos autnticos ou a les equiparados, tem de ser submetidas ao veredictum do tribunal colectivo; d) a capacidade do confitente exigida, no porque a confisso seja contrato ou negcio jurdico, mas sim porque dela podem resultar consequncias prejudiciais aos direitos e interesses do mesmo confitente 305; e) a confisso no pode ser anulada por rro de direito sobre a causa, nem por dolo ou m f, como qualquer contrato; e a revogao por erro de facto permitida, smente, porque a sentena no deve basear-se num facto contrrio verdade. A confisso difere dos outros meios de prova, principalmente, em que ela no fornecida ao juiz pelo litigante que, normalmente, est sujeito ao onus probandi, mas sim por aquele que tinha a faculdade de se manter passivo. Portanto, fica assente que a resposta indagao a confisso constitui de facto um meio de prova? a seguinte: sim, a confisso constitui de facto um meio de prova. Quando acima se procurou fornecer ao leitor um conceito de confisso, ao terminarmos de falar sobre tal item, veio-nos ideia e adentro de lgica sequncia, abordar, de imediato, dois pargrafos: elementos da confisso e espcies de confisso. Todavia, haveria que previamente resolver a questo de saber se a confisso ou no um verdadeiro meio de prova. Porque se o no fosse, como dedilhar-lhe os elementos, como escalpelizar-lhe as espcies?

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No teria lgica, seria frustrante.

Agora, que respondida foi a indagao, ento, chegada a vez de, sucessivamente, falar dos seus elementos e das suas espcies. Sendo que quanto queles logo teremos que os indicar como sendo trs, a saber: forma sujeitos objecto. Forma? Que forma deve adoptar a confisso? quase lquido que a confisso, em sua apresentao, seguir a forma de declarao. 306 Com tal esto de acordo autores como Chiovenda, Betti, Baudry-Lacantinerie e o nosso Manuel de Andrade. Todos entendendo que, efectivamente, a confisso uma declarao. Discordando est, porm, Guasp, o qual fez entrar na confisso tanto a declarao propriamente dita, como qualquer outra manifestao das partes, esclarecendo que por manifestao se deve entender qualquer revelao ou actuao daquelas, quer consista em actos positivos, quer em abstenes. Compreende-se perfeitamente, continua Guasp, 307 que o exame de tais manifestaes das partes exera grande influncia na convico psicolgica do julgador. Se a parte guarda silncio sobre facto que lhe desfavorvel, na grande maioria dos casos o juiz ser levado a crer que o facto exacto, convico menos forte do que na hiptese de reconhecimento expresso, mas ainda assim considervel. E a fora de persuaso sobe de ponto, quando o julgador, em vez de se ater a uma manifestao isolada, toma em considerao o conjunto delas, ou seja a conduta processual da parte. Imagine-se, por exemplo, que o juiz se encontra perante manobras do ru claramente dilatrias; no poder subtrair-se ao pensamento de que a sua oposio infundada. Uma vez que a conduta processual das partes serve para convencer o juiz da existncia ou inexistncia de certos fundamentos de facto, este tipo de actividade deve enquadrar-se na teoria dos meios de prova e portanto na prova por confisso. Alberto dos Reis 308 discorda, referindo que

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uma das caractersticas da confisso judicial constituir prova plena contra o confitente. Ora as atitudes das partes, ou sejam isoladas, ou sejam consideradas em conjunto (conduta processual), podem fornecer ao julgador indcios, indicaes, elementos adjuvantes de convico, mas no exercem sobre ele a presso vinculante da prova plena. De maneira que Guasp engloba na confisso judicial actividades probatrias de alcance e valor completamente diferentes. A terem de se inserir na classificao comum dos meios de prova, as manifestaes de que fala Guasp deveriam incluir-se, no na confisso, mas nas presunes. Fora do caso de a confisso resultar, no de uma declarao propriamente dita, mas de uma atitude passiva, a que a lei atribui o valor de reconhecimento implcito da verdade dos factos articulados pela parte contrria, fora deste caso, diziamos, a confisso pressupe uma declarao formal. E, ento: a confisso de facto uma declarao, quando esta se entenda como reconhecimento expresso tcito. Sendo quase unnime o entendimento segundo o qual a confisso uma declarao de cincia que no uma declarao de vontade. Uma declarao de cincia, porque essa a declarao provinda da testemunha e, no fundo, a confisso como que um testemunho, tal qual o da prova testemunhal. A diferena reside to-somente nisto: a testemunha um terceiro a prestar depoimento; o confitente a prpria parte. desinteressado interessada 309 mas declarao de cincia De relevar: a parte, quando confessa, reconhece determinado facto como verdadeiro, muito embora tenha 310 interesse em o contestar.

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Se apesar do prejuzo que lhe advm, mesmo assim, ainda assim, confessa, ento, parece ser de concluir pela verdade do afirmado. 311 Alberto dos Reis, 312 vai mais longe e mais fundo: Mas a base, o fundamento lgico da confisso o conhecimento que a parte tem da veracidade do facto. A parte confessa o facto, porque est convencida de que ele exacto, e no porque queira faz-lo passar por verdadeiro. neste sentido que se diz: a confisso uma declarao de cincia, e no uma declarao de vontade. claro que a confisso, sendo um acto humano, h-de proceder da vontade livre de quem o pratica; se for extorquida por coaco ou violncia, 313 no pode ter eficcia jurdica. Mas o contedo da declarao resolve-se numa afirmao de cincia, e no numa emisso de vontade. E quanto aos sujeitos? Um deles , obviamente, o emitente confessional. Aquele que, qualificadamente, 314 procede declarao. Que reconhece como verdadeiro facto contrrio ao seu prprio interesse, antes e sim favorvel contraparte. 315 E qual o outro sujeito, uma vez que h dois, como advm do plural acima empregue na indagao? Ora, a est uma boa pergunta. Esse outro sujeito ser aquele a quem dirigida a declarao confessria. Ou seja: o juiz, no resta dvida. Pois para este que avana a confisso, de molde a contribuir para a formao de seu convencimento relativamente matria que lhe foi presente e sobre a qual ter de decidir. A confisso - j o vimos e j o conclumos - no mais que um outro tipo probatrio, pelo que, assim o sendo, como os demais, tem como misso contribuir para a deciso do tribunal. Sendo que a confisso um acto unilateral, com isto se querendo dizer que eficaz independentemente da aceitao da parte em benefcio da qual ela ocorre.

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Analisada a forma, vistos os sujeitos, mister agora falar do objecto da confisso. E qual o objecto? Primo conspectu, poder-se- dizer que o objecto prprio da confisso so os factos materiais. Embora a ideia de o objecto da confisso ser o facto material, perpassar o dizer de quase todos os tratadistas, a verdade que no se quedam em tamanha simplicidade. Nem todos tendo a certeza 316 da desnecessidade de apndices para bem integrar o verdadeiro objecto da confisso. E da, pontificou Carnelutti: 3