A PSICANÁLISE: uma abordagem sobre a deficiência e seu significante - Profa. Márcia Jordão - material para leitura - Psicologia Escolar

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    3 A PSICANLISE: uma abordagem sobre a deficincia e seu significanteProfa. Mrcia Jordo

    Nos captulos anteriores, articulei algumas idias que ajudam a pensar crtica ehistoricamente a questo das crianas diagnosticadas como deficientes mentais,marcadas como incapazes, como fracassadas, como aquelas que no conseguem.Essas marcas no se apagam facilmente, passam a ser constituintes da criana.

    Neste captulo, discuto as contribuies que a psicanlise, principalmente algunstrabalhos de Lacan e de Maud Mannoni, tem a fazer a respeito desta questo.

    Escolher a psicanlise como aporte terico para esta pesquisa no significa que eua assuma como perfeita, nica e completa, mas sim como uma possibilidade de pensarminha prtica e sustent-la teoricamente.

    Pensar uma interveno orientada pela psicanlise pressupe poder pensar acriana como um sujeito que se constitui, e no apenas se desenvolve, pois apsicanlise, apesar de no negar o orgnico, fala de um corpo, ou seja, um organismotransversalizado pelo desejoFernndez (1990:57).

    Coube a Freud o mrito de ter sistematizado toda uma teoria que aponta para o fato

    de que o ser humano no adoece apenas pelos males do organismo, mas tambm pelos males da alma. Esta teoria, que recebe o nome de psicanlise, tem como centro anoo de inconsciente.

    Garcia-Roza *1, apud Minerbo, afirma que:A partir deste momento a subjetividade deixa de ser entendida como um todounitrio , identificado com a conscincia e sob o domnio da razo, para ser umarealidade dividida em dois grandes sistemas: o Inconsciente e o Consciente edominada por uma luta interna em relao qual a razo apenas um efeito desuperfcie.(1999:336).

    Segundo Minerbo,abre-se a partir da um espao para se falar do homem enquanto ser singular ( o Eu)e para que a singularidade fale e seja escutada (....).Vimos nascer o Homem, mastambm os homens, isto , sua singularidade, aquilo que os constitui enquanto

    sujeitos do desejo.(1999:336).A Psicanlise surge rompendo com a noo vigente, no sc. XIX, de um homem que

    se sabe, um homem racional e consciente, e a partir dos trabalhos iniciais de Freud, foisendo, como nos mostra Cesarotto & Leite, refeita em cada lngua, em cada cultura eem cada momento histrico(1984:09).

    Nos trabalhos iniciais de Freud sobre a Histeria (1893), o inconsciente foi entendidocomo um depsito das experincias infantis traumticas, as quais deveriam ser evitadasa fim de evitarmos as neuroses.

    O prprio Freud, em 1897, a partir da descoberta das fantasias, resignifica o conceitode inconsciente e afirma que este no pode ser pensado como algo esttico e imutvel.Assim no incio do sc.XX, o fato em si cede lugar ao sentido e interpretao e o sercede lugar ao vir-a ser, ao devir.

    O inconsciente freudiano da primeira tpica, segundo Laplanche & Pontalis(1970), constitudo por representantes da pulso, fortemente investidos pela energia pulsionalque busca satisfao imediata, porm s poder ser realizada atravs de formaes decompromisso - sintoma.

    Estes sintomas, no sentido da exteriorizao das pulses, do inconsciente, podemvariar de cultura para cultura, de tempo em tempo, pois

    a universalidade do distrbio psquico no significa invarincia das expressespsicopatolgicas(...), no temos dvidas de que os distrbios mentais s existematravs de certos conflitos subjetivos, os quais, por seu turno, esto scio-culturalmente determinados. Costa(1984:18).

    Partindo dessas premissas, o no aprender, a deficincia mental, o fracasso escolarpoderiam ser entendidos como sintomas neurticos resultantes de conflitos psquicos,

    porm no esta a leitura psicanaltica que me proponho fazer.

    1 Garcia-Roza, L.A.Freud e o inconsciente. 11 ed. Rio de Janeiro, Zahar, 1984.

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    A partir da elaborao freudiana das instncias psquicas Id-Ego-Superego, algunstericos, segundo Lindzey e Hall (1973), no negando o Id (inconsciente), passam aatribuir um papel mais importante ao ego. A psicologia do ego ganha fora principalmentenos EUA, por volta de 1940.

    Se o ego na teoria freudiana era visto como um elemento executivo dapersonalidade, mas sujeito aos desejos do id, aos poucos passa a ser entendido comouma instncia autnoma, que integra e sintetiza os processos de percepo, depensamento, memria e ao.

    O fato de Freud ter usado o termo ich(eu) para designar no s uma parte especficano aparelho psquico (ego), mas tambm quando se refere a uma pessoa como um todo(eu-self), segundo Laznik Penot e Quinet ( 1996), parece ter contribudo para que o egofosse pensado como uma instncia autnoma, esquecendo-se deque este possui umaparte inconsciente, em que se organizam as defesas.

    Pensar que precisamos contar com um indivduo com um ego organizado, para quepossamos operar com a psicanlise, pensar na impossibilidade de aplicar a psicanliseaos deficientes mentais e aos psicticos, pois estes no teriam as funes egicas(raciocnio, memria, pensamento lgico) preservadas. Aos deficientes mentais caberia

    apenas um trabalho de condicionamento, orientado pelas tcnicas comportamentais, queteria como objetivo adapt-lo sociedade.O prprio Freud segundo Brauer, chegou a postular a impossibilidade de aplicarmos

    a psicanlise a outras categorias que no fossem os neurticos.Para Freud, a condio para que uma pessoa possa submeter-se a uma anlise que ela seja inteligente e capaz de abstrao. ... graas capacidade de abstraoque o sujeito produz as formaes metafricas que so passveis deanlise(1996:56).

    Nesse sentido, a psicanlise nada teria a dizer sobre as crianas diagnosticadascomo deficientes mentais e sobre os psicticos. Segundo Brauer (1996), cabe a Lacanmudar este panorama.

    Lacan estende a psicanlise aos psicticos, j que para ele o que est em jogo no

    o fato do sujeito ser neurtico ou psictico, pois segundo o autor o sujeito , antes detudo um ser de dilogo e no um organismo.Segundo Mannoni (1991[1964]), Lacan afirma que os prprios textos de Freud

    implicam um inconsciente estruturado como um discurso, de onde provm todo osimbolismo ligado ao nascimento, parentalidade, ao corpo prprio, vida e morte.

    O inconsciente para Lacan estruturado como linguagem, e nesse sentido ele falaatravs dos sonhos, dos atos falhos e dos sintomas, porm Calligaris tambm nos mostraque o inconsciente para Lacan pode ser entendido como o grafo dasubjetividade com oqual eleesta organizado(1991:181), retomando assim a universalidade do inconsciente.

    Se cabe a Lacan a releitura dos textos de Freud e a consequente ampliao dapsicanlise aos psicticos, cabe Maud Mannoni, a partir dos estudos de Lacan e desua formao como analista de crianas com Franoise Dolto, ampliar este trabalho para

    as crianas deficientes ou diagnosticadas como deficientes mentais, chamadasinicialmente de pseudodeficientes.O termo pseudodeficientes, ou deficiente mental funcional foi usado inicialmente

    para designar crianas que apresentavam um QI abaixo da mdia, mas que ao longo deum trabalho apresentavam uma evoluo significativa, chegando a mostrar umdesempenho melhor do que crianas que apresentavam um QI dentro da mdia.

    Este termo foi abandonado por Mannoni (1991[1964]), pois percebeu que mais doque uma deficincia mental estrutural ou funcional, falsa ou verdadeira, o que estava emjogo era o sentido que a famlia dava s dificuldades da criana e o sentido que a prpriacriana dava inconscientemente s suas dificuldades.

    A criana ao nascer, mesmo que no apresente nenhum comprometimento orgnico,nunca corresponde ao que a me espera. Durante a gestao, a me espera um filho

    idealizado que corresponda a todas as suas expectativas, que compense o perodo difcilda gravidez.

    a ausncia dessa compensao produz efeitos nesta me, e pode acontecer quesejam as fantasias da me que orientaro a criana para o seu destino; mesmo nos

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    Segundo Bleichmar & Bleichmar,O Outro a lei, as normas e, em ltima instncia, a estrutura da linguagem. Osujeito, enquanto o , no existe maisdo que no e pelo discurso do Outro. Somosalienados pela linguagem, pois somos efeito dela.(1992:148).

    O homem nasce em um universo falante, de linguagem. Ao nascer, algum o nomeiae o introduz em um sistema linguistico; este sistema o transforma em mais um

    significante2 da cadeia; assim que o beb um significante para a me, no sentido quesignifica o falo, aquilo que a completa.

    Apesar de estar usando a palavra me, Rosenberg nos lembra de que na teorialacaniana me e pai no precisam necessariamente coincidir com os pais biolgicos,estes so personagens que suportam um papel, uma funo(1994:49).

    Segundo Manonni, O espao que a criana encontra ao nascer e no decurso de seu desenvolvimento

    estruturado pelos outros (...) so eles que lhe concedem ou no a possibilidadede evoluir fora do campo de influncia deles. outrem quem confere criana osentimento de possuir um lugar prprio(1988:78).

    Segundo Nasio,A me, na qualidade de mulher, coloca seu filho no lugar de falo imaginrio, e o

    filho, por sua vez, identifica-se com esse lugar para preencher o desejo materno. Acriana se identifica como sendo, ela mesma, esse falo- o mesmo falo que a medeseja desde que entrou no dipo. Por isso a criana se aloja na parte faltosa dodesejo insatisfeito do Outro materno. Assim se estabelece uma relao imaginriaconsolidada entre a me que acredita ter o falo e o filho que acredita s-lo.(1996:37).

    A criana, em seu desejo narcsico, por sua dependncia total de cuidados e deamor, ocupar inicialmente o lugar que completa a me, assujeitando-se ao seudiscurso, ficando capturada pelo seu olhar, identificando-se e alienando-se neste lugar.

    Lacan, em 1949, no XVI Congresso Internacional de Psicanlise de Zurique,apresenta sua teoria O estdio do espelho como formador da funo do (eu), talcomo nos revelada na experincia analtica, em que descreve como se d estaalienao.

    A criana, ao nascer, no tem o domnio de seu corpo, pois nasce com seu sistemanervoso incompleto; assim, no coordena seus movimentos, mas pode reconhecer-se noespelho. Leite afirma que...

    segundo Lacan, isto sedaria no pela condio neuro-anatmica , mas sim por algoque vem do exterior; em outras palavras, haveria uma antecipao do psicolgicosobre o fisiolgico, e assim que se constituir a estrutura do sujeito humano.(1992:30).

    O beb, ao nascer, no teria a imagem de um todo unificado, viveria um estado deindiferenciao entre eu-outro, pois, no tendo a referncia de quem ele , viveria aexperincia de um corpo despedaado, fragmentado.

    Em algum momento o beb anteciparia uma Gestalt, atravs da imagem de seuprprio corpo refletida no espelho ( Lacan situa esta fase por volta dos 6 meses de

    idade); esta viso lhe seria jubilosa. Esta imagem, esta gestalt, uma imagemantecipatria da coordenao e da integridade que no possui naquele momento.Lacan (1998[1949]) afirma que...

    A assuno jubilatria de sua imagem especular por esse ser ainda mergulhado naimpotncia motora e na dependncia da amamentao que o filhote do homemnesse estgio de infans, parecer-nos-, pois, manifestar, numa situao exemplar, amatriz simblica em que o (eu) se precipita numa forma primordial, antes de seobjetivar na dialtica da identificao com o outro e antes que a linguagem lherestitua, no universal, sua funo de sujeito(1998[1949]:97).

    Para que o beb se identifique com esta imagem no basta que se veja no espelho,pois este ainda no teria a percepo do limite de seu corpo, que lhe dado pela me.

    A me cumpre a funo de ratificar a imagem vista, o beb se v sendo visto pelame e s assim reconhece como sua a imagem especular. No fosse a interveno do

    2Para Lacan, significante unidade por ser nico, no sendo por natureza seno smbolo de uma ausncia.(1998[1957]).

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    Outro ( sustentado pelo outro-me), estabelecendo a ligao entre a imagem e a criana ,esta no chegaria nunca a reconhecer a imagem como sua.

    Assim, preciso que o beb se veja no espelho, e que algum o veja olhando e lheconfirme que o que ele v ele, pois inicialmente o beb se v como um outro, percebeuma imagem unificada, mas como um outro - o outro do espelho. assim que a crianase v e se observa pela primeira vez. esta imagem mais o discurso da me, o que irantecipar imaginariamente a forma total de seu corpo.

    O beb passa de um momento em que no se reconhece no espelho, vendo suaprpria imagem como um outro, para um momento, em que acredita ser este outro queest no espelho um outro real. Apenas num momento posterior que se dar conta deque a figura do espelho uma imagem, e no um outro real.

    Cabe me confirmar sua descoberta, continuar seu discurso que j existia antesmesmo de o beb nascer, afirmando que aquela imagem ele, e o descrevendo a partirde seus fantasmas como bonito, esperto, coitado, devagar, mantendo assim uma umarelao imaginria e simblica ao mesmo tempo com a criana, pois ela que insere estacriana na famlia e na sociedade, ou seja, no registro simblico.

    Assim, Lacan situa esta instncia do eu, tambm chamada de eu-ideal (ego-

    ideal), desde antes de sua determinao social, numa linha de fico, para sempreirredutvel para o indivduo isolado - ou melhor, que s se unir assintonicamente aodevir do sujeito- qualquer que seja o sucesso das sntese dialticas pelas quais eletenha que resolver, na condio de ( eu), sua discordncia de sua prpriarealidade(1998[1964]:98).

    A criana se identifica com uma imago e, assim, com algo que no ela em si;acredita ser o que o espelho lhe mostra, o que o olhar da me, como um espelho refletee procurar se aproximar desta imagem pelo resto de sua vida.

    Lacan diz que...basta a compreender o estdio do espelho como uma identificao, no sentidopleno que a anlise d a este termo: a saber, a transformao produzida no sujeitoquando este assume uma imagem cuja predestinao a esse efeito de fase est

    suficientemente indicado pelo uso, na teoria , do termo antigo imago.(1998[1949]:97).A criana identifica-se com o ideal de ego, sendo este...

    uma instncia diferenciada, resultado das identificaes com os pais, com seussubstitutos e com os ideais coletivos, antes de tudo um modelo a que o indivduoprocura se conformar. Millot(1987:41).

    Este eu imaginrio, constitudo por identificaes, varia conforme as condieshistricas e segundo Kupfer (1997), molda-se a papis sociais e se encaixa em tipospsicolgicos.

    Se em um determinado momento histrico identifica-se deficincia com incapacidadee fracasso escolar com deficincia, a criana que marcada como deficiente, por umanecessidade de amor se identificar com este significante e, a partir da, cristalizar aimagem do corpo, que dar lugar instalao no psiquismo da matriz do ego e da

    conscincia de si como incapaz, dificultando suas possibilidades de desenvolvimento.Cordi afirma que...a criana, por sua dependncia, aceita seu fracasso, torna-se mau aluno, identifica-se com isso, instala-se numa posio passiva, ser rotulada como dbil; essadebilidade, que no era seno um mau engajamento no incio, cola-se pele. Elasficaro jogadas em classes de recuperao. Esse estado de passividade queperdura, torna-se uma segunda natureza, habitua-se, satisfaz-se e por fim lhe serdifcil sair dele.(1996:35).

    Estas crianas acabam, como afirma Mannoni, sendo objeto exclusivo de cuidados maternos, sem a interveno da lei encarnada

    por uma imagem paterna, recriam durante a escolaridade um mesmo tipo de relaodual, com uma mulher novamente toda dedicada a elas e preocupada em encarnarem seu lugar o desejo de se adaptar. A criana fica fadada a permanecer numa certarelao fantasmtica com a me que pela ausncia nela mesma do significante

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    paterno, deixa a criana reduzida ao estado de objeto, sem esperana algumade aceder ao nvel de sujeito.(1991[1964]:23).

    A criana tida como deficiente mental, que fracassa, fere o narcisismo dos pais edos professores, estabelecendo-se entre eles, uma relao imaginria em que fica difcildistinguir o limite real da criana, j que no se sabe ao certo, como diz Mannoni, ondecomea a doena do filho e onde acaba a neurose dos pais(1991[1964]:XI).

    Mannoni no nega a deficincia e nem o fato de que certas crianas possamnecessitar realmente de suportes pedaggicos especiais, no apresentando apsicanlise como nica interveno necessria e possvel, mas alerta:

    se verdade que uma ajuda pedaggica apropriada ( classes especiais,reeducao) essencial para o futuro escolar das crianas, no menos verdadeque, na consulta, o analista ganha num primeiro momento, ao ignorar todas as possibilidades de reeducao, para colocar todas as deficincias intelectuais ouortofrnicas, em termos analticos, a saber: que significam essas deficincias nahistria do sujeito.(1991[1964]:122).

    A realidade da deficincia no em momento algum subestimada numa psicanlise,mas o que se procura evidenciar :

    como as palavras pronunciadas pelo seu grupo a respeito da doena que vo

    adquirir importncia, assim como a verbalizao desta situao dolorosa que podepermitir-lhe dar um sentido ao que vive.Mannoni (1987:65).Se num primeiro momento a criana, no seu vir a ser, identifica-se com aquilo que o

    Outro deseja, como uma possibilidade de ser, ao longo do tempo esperado que estepossa dentro do possvel, desalienar-se deste desejo e construir um desejo prprio,tornar-se sujeito de seu prprio desejo.

    A entrada na linguagem, a interdio paterna, a castrao que permitiro criana sair deste lugar e constituir-se como um sujeito desejante, porm Mannoni nosmostra que raramente a criana deficiente, ou marcada como, acolhida numa situaoverdadeiramente triangular. Essas crianas muitas vezes so cuidadas pela me fora dainfluncia do marido, dificultando assim sua entrada no plano simblico.

    A criana marcada como deficiente acaba por ter dificuldades em enfrentar a

    experincia de castrao, sendo constantemente protegida pela solicitude do adulto.Segundo Mannoni...

    a criana est fadada a permanecer numa certa relao fantasmtica com a meque , pela ausncia nela mesma do significante paterno, deixa a criana reduzida auma condio de objeto, sem esperana alguma de aceder ao nvel de sujeito....Notem a possibilidade de se interrogarem sobre a sua falta de ser.(1991[1964]:23).

    Mannoni(1991[1964]) aponta para o fato de que a me no permite criana apossibilidade de se interrogar sobre sua falta, sobre seus limites, porque essainterrogao acabaria quase que inevitavelmente fazendo com que a me tivesse que seperguntar sobre sua prpria falta e contra o contato com esta falta que a me acabalutando.

    A interveno psicanaltica surge, ento, como uma possibilidade de pela escuta

    elevar a criana a uma condio de sujeito. O psicanalista, como afirma Bergr, seraquele que escutar o que vem da criana tentando resgatar uma linguagem perdidapelo sujeito, reencontrada na escuta( 1988:74).

    A proposta colocar o sujeito, ou melhor, os sujeitos para falarem a partir de umaescuta, pois no basta apenas falar, ele precisa dirigir sua fala a algum para que estaretorne eele a oua. Kupfer (1996:58).

    O psiclogo entra aqui como algum que ocupa a posio de ouvinte, de quemrealiza uma escuta ativa. Esta escuta possibilitada pelo lugar que o psiclogo ocupa noimaginrio social, um lugar sustentado pela relao transferencial da sociedade com apsicologia e que nos coloca na posio do suposto-saber3.

    3A expresso suposto-saber, tomada emprestada da relao transferencial entre analisando e analista, usada aqui

    no sentido de expressar a fantasia que a sociedade tem de que o psiclogo seja detentor de um saber absoluto e

    pleno a respeito do que est sendo dito.

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