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A QUALIDADE DO LAUDO NA PERÍCIA JUDICIAL CONTÁBIL CLAUDIA REIS BARBALHO EVERALDO LUIZ DE OLIVEIRA IPOJUCA/PE 2004 CLAUDIA REIS BARBALHO EVERALDO LUIZ DE OLIVEIRA

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A QUALIDADE DO LAUDO NA PERÍCIA JUDICIAL CONTÁBIL

CLAUDIA REIS BARBALHO EVERALDO LUIZ DE OLIVEIRA

IPOJUCA/PE 2004

CLAUDIA REIS BARBALHO

EVERALDO LUIZ DE OLIVEIRA

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A QUALIDADE DO LAUDO NA PERÍCIA JUDICIAL CONTÁBIL

Artigo apresentado ao 17º Congresso Brasileiro de Contabilidade, a ser realizado em Santos – SP, no período de 24 a 28 de outubro de 2004.

IPOJUCA/PE 2004

RESUMO

Este artigo tem por finalidade demonstrar a importância da Perícia Judicial Contábil, referente ao suporte instrumental que oferece ao Poder Judiciário no sentido de solucionar os conflitos quando esses estão relacionados com questões

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técnicas de ordem patrimonial. Procura-se mostrar a importância da prova dentro de um processo como princípios legais utilizados pelas partes na solução das controvérsias. Apresenta ainda o resultado de uma pesquisa sobre a prova pericial bem como a importância da qualidade na elaboração de um laudo, seguindo as determinações e orientações emanadas nas normas, princípios e na Doutrina que disciplinam o assunto. Alguns conceitos sobre perícia judicial contábil e perito são apresentados, além dos requisitos recomendáveis para o exercício dessa especialidade dentro da Ciência Contábil. Finalizando o artigo mostra os requisitos necessários para uma perfeita qualidade do laudo pericial contábil, quando se evidencia a necessidade do respeito a aspectos mínimos na elaboração dessa peça técnica de natureza científica. Por fim, é feita uma análise da qualidade dos laudos apresentados perante diversas varas da Justiça Federal de primeira Instância no Estado de Pernambuco e Justiça Estadual, Vara da Fazenda, também em Pernambuco.

Palavras Chave: Prova; perícia; qualidade.

SUMÁRIO

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INTRODUÇÃO........................................................................ 09

1 DAS PROVAS E DO CONTRADITÓRIO ..................................... 11

1.1 Das Provas ..................................................................... 11

1.2 Do Contraditório .............................................................. 16

2 PERÍCIA JUDICIAL .............................................................. 18

2.1 Origem e Evolução ........................................................... 18

2.2 Fases da Perícia .............................................................. 20

2.3 O Contador ..................................................................... 21

2.4 O Perito Judicial Contábil .................................................. 22

2.4.1 Impedimento e Suspeição do Perito ................................. 25

2.4.2 Escusa do Perito ........................................................... 25

2.5 Responsabilidade do Perito ............................................... 26

2.5.1 Responsabilidade do Perito na Esfera Penal ...................... 27

2.5.2 Responsabilidade do Perito na Esfera Civil ........................ 27

2.5.3 Responsabilidade do Perito na Esfera Processual ............... 28

2.6 Poderes do Perito ............................................................ 28

2.7 Honorários e sua Cobrança ................................................ 29

3 LAUDO PERICIAL ................................................................ 31

3.1 Laudo e Parecer Técnico ................................................... 31

3.2 Estrutura do Laudo Pericial Contábil ................................... 32

3.3 Quesitos e sua Formulação ............................................... 34

4 ANÁLISE DA QUALIDADE DOS LAUDOS PERICIAIS CONTÁBEIS .. 36

4.1 A Qualidade de um Laudo Pericial Contábil .......................... 36

4.2 Conclusão da Análise ....................................................... 37

5 CONCLUSÃO ...................................................................... 40

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................ 41

ANEXOS

INTRODUÇÃO

O objetivo deste artigo é demonstrar o resultado de uma pesquisa na área da Perícia Judicial Contábil no Brasil, bem como enfocar a importância de sua aplicação prática como instrumento a ser utilizado pelo Poder Judiciário no momento da tomada de suas decisões a cerca das controvérsias onde o mesmo é chamado a intervir.

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Para que haja uma decisão justa por parte dos juízes, torna-se necessário que esses profissionais ao prolatarem suas sentenças as façam baseados em provas. Na pesquisa foi dado uma maior ênfase a Prova Pericial, por ser ela, de fato, o objeto da perícia, visto que sua essencialidade é buscar a verdade, objetivo principal do processo. Outra questão a ser abordada é quanto à qualidade do Laudo Pericial. Face sua importância, o laudo é uma peça onde o perito demonstra o resultado de seu trabalho, por conseguinte deve ser rigorosamente redigido, pois, do contrário pode levar seu executor a perder um excelente e bem sucedido trabalho. Com base na pesquisa realizada, será mostrado que alguns laudos efetuados em perícias judiciais contábeis muitas vezes resultam em informações pouco esclarecedoras para os magistrados, isso se verifica em função da inobservância de requisitos indispensáveis para uma satisfatória qualidade dessa peça processual de natureza técnico-científica. Entende-se que a qualidade do laudo, nada mais é senão a apresentação dos resultados dos trabalhos periciais, ficando bastante prejudicada, muitas vezes, quando seu texto não for claro, preciso e inteligível, de forma a afastar as dúvidas existentes sobre determinados fatos e suas conseqüências. Deve-se ainda considerar que a ciência contábil tem entre seus atributos, assegurar a qualidade das informações a seus usuários de maneira tempestiva, transparente e fidedigna. Dos laudos periciais analisados, procurou-se estabelecer uma comparação quanto à qualidade das informações de cada um deles, principalmente quanto aos comentários em suas conclusões, sobre qual ou quais formas de apresentação de laudo irá contribuir para dirimir as dúvidas dos magistrados. As considerações quanto ao conteúdo dos elementos apresentados nos laudos foram estritamente baseadas nas normas emanadas pelo Conselho Federal de Contabilidade, na doutrina e no Código de Processo Civil.

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1 DAS PROVAS E DO CONTRADITÓRIO

1.1 Das Provas

A prova tem por finalidade servir de elemento de convicção do julgador, o qual deverá ser sempre motivado, capaz de justificar a decisão tomada. Provar é em seu sentido mais amplo, convencer o espírito da verdade respeitante a alguma coisa. A prova judiciária tem, um destinatário ou seja, o juiz da causa e como finalidade ,a formação de seu convencimento. Os objetos da prova judiciária são os fatos da causa, alegados pelas partes como fundamento da ação. Entretanto, nem todos os fatos carecem de provas. Quando das afirmações das partes se apurar que os fatos são reconhecidos ou admitidos como verdadeiros, ou quando se trate de fatos notórios, não há necessidade de sua demonstração, independem, pois, de prova. Necessitam de prova os fatos controversos e de elevada importância. Em conseqüência, reclamam de prova os fatos contestados ou não admitidos como verdadeiros pela parte contrária à que os alega. Da mesma forma, os fatos por provar devem ser relevantes, em condições de poder influir na decisão da causa Em Direito tem-se como pacífico que em um “processo” busca-se a verdade sobre os fatos. Todavia esse conceito deve ser mais amplo visto que a verdade é um conceito abstrato, relativo e até inatingível concretamente, ou seja, a verdade é um instrumento, e não um fim, em busca de outros valores, tais como a efetividade, a realização do direito material, a justiça e a pacificação social.

Na causa, a prova deve ser apreciada obedecendo à tese do livre convencimento e, embora admita a liberdade judicial na avaliação probatória, impõe-se ao juiz a observância de regras lógicas e das máximas de experiência comum. Alguns doutrinadores defendem a tese segundo a qual o julgador deve fundamentar sua decisão, indicando os motivos e as circunstâncias que o levaram a admitir a veracidade dos fatos em que o mesmo baseara sua decisão.

Cumpre-lhe indicar, na sentença, os elementos de prova com que formou a sua convicção, de tal modo que a conclusão sentencial guarde coerência lógica com a prova constante dos autos.

Ao avaliar o contexto probatório, o juiz invariavelmente ficará diante de um quadro de provas no qual poderão ser indicadas as seguintes situações:

Existe prova, e esta se orienta, de forma inequívoca, em direção ao posicionamento de uma das partes; Existem provas, mas estas não tem orientação definida, inclinando-se ora num ora noutro sentido; Ou não existe prova ocasião em que deverá usar as regras de julgamento do ônus da prova (Mendes, 1961).

Observa-se que nas duas últimas hipóteses, o juiz, com sua ação, cria um caminho. Seja optando entre uma das duas linhas probatórias, seja aplicando as regras do ônus da prova, caso em que penalizará uma das partes por não ter

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provado o que lhe cabia. Nesse caso cabe uma indagação: Como o juiz será controlado para que suas decisões dentro do processo sejam jurídicas e não apenas fruto do puro arbítrio?

Esse questionamento ganha relevância quando se nota que o juiz não exerce, propriamente, uma atividade criadora, até porque ele não pode ir além do material constante nos autos.

Portanto, reflexão maior deve ser feita sobre os ensinamentos que deixou (Kelsen, 1998) quando ele afirma que: “A interpretação feita pelo órgão aplicador do Direito é sempre autêntica. Ela cria Direito.”

Fica claro que o juiz não cria fatos, porquanto ele não deve administrar concretamente as lides e sim se apresentar como o homem a quem cabe a honra de decidir sobre relações jurídicas tornadas litigiosas entre pessoas. De igual forma, também, a decisão judicial não estabelece a verdade absoluta sobre a matéria discutida. Trata-se, apenas, da verdade possível, muito embora a prática às vezes demonstra, que isso é muito pouco.

Na seção I do título VIII do livro I do Código de Processo Civil, art.332 apresenta as disposições gerais relativas às provas, é dito que: “Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa”.

Os meios legais e legítimos, hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa especificadas no Código de Processo Civil, nas seções seguintes são: O depoimento pessoal, a confissão, a exibição de documentos ou coisas, a prova documental, a prova testemunhal, a prova pericial e a inspeção judicial.

O depoimento pessoal é resultante da interrogação das partes litigantes pelo juiz. Como fator de distinção entre esse tipo de prova e a pericial têm-se que enquanto a primeira recai sobre fatos de qualquer natureza e sem a total isenção de ânimo do agente ativo, a segunda somente recairá sobre os fatos cuja apreciação dependa de conhecimentos técnicos ou científicos, necessariamente observados por quem é isento em relação ao resultado da ação.

Conforme o Código de Processo Civil (art. 348 a 354), Confissão é a declaração que uma parte faz da verdade dos fatos que, a um tempo, lhe são desfavoráveis e favoráveis ao adversário.

A confissão é admissível como tal sob determinadas condições , quais sejam: admitir como verdadeiro fato contrário a seu interesse e favorável a outra parte, não se referir a fatos relativos a direitos indisponíveis, e o caráter de indivisibilidade desta prova.

Provar-se-ão também os fatos pela exibição de documentos ou de coisas. A exibição será elemento de prova por si ou por sua ausência, ou seja, se exibida a coisa ou documento trará aos autos um elemento probante, ou se não exibida, fará com que o Juiz admita como verdadeiros os fatos que, por meio daqueles, a parte pretendia provar.

A chamada prova documental tem força probante e é, das provas plenas, a mais utilizada, já que as partes, ao fundamentar o direito alegado ou direito contestado, se valerão da prova que, normalmente, está mais a mão, ou seja, dos

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documentos sobre os quais desenvolver-se-ão a causa de pedir e as razões de contestar.

A prova pericial liga-se à prova documental, seja quando recai sobre o próprio documento, ou quando se vale de documentos como alicerce do exame pericial, ou seja, ou o documento é o próprio objeto da perícia ou é elemento de prova dentro da perícia.

A testemunha é uma pessoa distinta dos sujeitos do processo que, convidada na forma da lei, passa conhecimento do fato ou ato controvertido entre as partes, depõe sobre este em juízo, para atestar a sua existência.

O testemunho é a transmissão da opinião de quem tem o conhecimento e é admitido pelo Juiz porém com algumas restrições conforme preceitua o Código de Processo Civil em seus artigos 401 ao 404, Verbis:

“Art. 401 - A prova exclusivamente testemunhal só se admite nos contratos cujo valor não exceda ao décuplo do maior salário mínimo vigente no País, ao tempo em que foram celebrados. Art. 402 - Qualquer que seja o valor do contrato, é admissível a prova testemunhal, quando: I – Houver começo de prova por escrito, reputando-se tal o documento emanado da parte contra quem se pretende utilizar o documento como prova; II – O credor não pode ou não podia, moral ou materialmente, obter a prova escrita da obrigação, em casos como o de parentesco, deposito necessário ou hospedagem em hotel. Art. 403 – As normas estabelecidas nos artigos antecedentes aplicam-se ao pagamento e à remissão da dívida. Art. 404 – É lícito à parte inocente provar com testemunhas: I – Nos contratos simulados, as divergências entre a vontade real e a vontade declarada; II – Nos contratos em geral, os vícios de consentimento.”.

Inspeção Judicial é um ato do Juiz, pessoal e direto, de examinar ou vistoriar pessoas ou coisas, com o intuito de encontrar esclarecimentos suficientes ao leslinde da controvérsia. Neste caso, se julgar necessário, o Juiz poderá, no ato da inspeção, ser assistido por perito. Diferentemente das demais provas já vistas, que podem ser elementos utilizáveis na prova pericial, aqui é a perícia que pode vir a ser elemento acessório da prova de inspeção judicial. As provas produzidas com a interveniência do perito contador são qualificadas como provas periciais contábeis e estão delineadas pelos fatos de natureza contábil, identificados como aqueles relativos as alterações do patrimônio das entidades, abordados nos autos sobre os quais o expert deverá debruçar-se para proferir seu pronunciamento. É o brilhante (D’Auria,1962) que, fundamentando suas conclusões quanto à função da prova pericial, posiciona-se quanto a sua origem, ressaltando que:

“Não raro, entram em litígio partes interessadas em determinados negócios e, dada a oposição de interesses, cada uma defende critério próprio coadunando à sua conveniência. Surgem dúvidas de interpretação que somente podem ser

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dirimidas por uma apreciação imparcial fundada em adequado conhecimento do assunto. Vem, então, o exame pericial, que conclui por um laudo ou parecer em que a questão é colocada em seus justos termos, discriminando e definindo os interesses das partes em oposição”.

O uso das expressões “prova pericial” e “perícia” praticamente são sinônimos, deve-se observar que o sentido jurídico do vocábulo “prova” pode igualmente significar meio de prova considerando em si mesmo, numa acepção na qual se diz: Prova testemunhal, prova documental, prova pericial.

Prova, portanto, é verificação de afirmações formuladas pelas partes, é realizada com a utilização de fontes, as quais são levadas ao processo por determinados meios, ou seja, a verificação de afirmações se leva a cabo com as fontes de que as partes dispõem e com a utilização dos meios acordados pelo juiz.

A prova pericial contábil é uma das espécies do gênero prova pericial que visa à demonstração da verdade, a formar a convicção do magistrado quanto a existência dos fatos.

Em sua obra “Perícia Contábil” (Ornelas, 2000) citando Milhomens diz que “a prova tem por finalidade demonstrar a verdade ou não-verdade de uma afirmação.” Portanto, os fatos em que exista controvérsia dependem de prova a fim de produzir a convicção necessária ao julgamento da lide pelo magistrado. Note-se, ainda, que a prova pericial contábil tem como característica essencial o emprego de conhecimento técnico e científico. Esse é o cerne, a base da prova pericial, científicos ou técnicos, que a instância a qual se dirige não possui, ou, ainda que os possua não possa emprega-los especificamente ao caso, seja em razão do cargo ou em razão do respeito à ética, independência e equidade. Oportuno também distinguir as espécies de perícia contábil, são elas: Exame, vistoria e avaliação. O exame pericial é a espécie de perícia contábil mais comum. É desenvolvida através da análise de livros e documentos. Vistoria pericial é mais adotada em perícia médica ou de engenharia, sendo definida na Norma Brasileira Contábil – Técnica (NBC.T.13) como “a verificação ou constatação de situação, coisa ou fato, de forma circunstanciada”. Por fim, tem-se a avaliação contábil, como o próprio nome indica, é a valorização ou estimação em moeda, de coisas, de acervos patrimoniais ou de bens, direitos e obrigações.

1.2 Do Contraditório

Por ser inerente a prova o contraditório, necessário fazer algumas considerações desse princípio, considerando que o mesmo está previsto no ordenamento jurídico pátrio.

É notório que a prova documental costuma ser a mais significativa na maioria dos casos, por sua força probatória. Muitas vezes, porém, a maior ou menor eficiência da prova documental para provar os fatos alegados pelas partes

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pode ensejar, a necessidade da utilização de outros meios de prova que venham a reforçar ou completar aquilo que a prova documental deixou ainda duvidoso ou não cabalmente demonstrado. De acordo com o Código de Processo Civil, no que se refere à prova documental, as partes, conforme sejam autor e réu, devem trazer juntamente com a inicial e a contestação os documentos que entendam necessários para provar os fatos objeto de suas alegações. Segundo o princípio do contraditório, sobre os documentos acostados à inicial será dada oportunidade ao réu para manifestar-se quando do oferecimento da contestação; da mesma forma, sobre aqueles juntados pelo réu em sua resposta, abrir-se-á vista ao autor para que a respeito dos mesmos se manifeste. Em se tratando de procedimento ordinário não existirá problemas. Todavia, no procedimento sumário é que algumas indagações surgem, considerando que na própria audiência de conciliação, caso esta não logre êxito, o réu apresentará sua defesa e, com ela, juntará documentos. Sendo assim questiona-se se deverá ser aberto prazo ao autor para que se manifeste sobre os documentos juntados pelo réu nessa oportunidade, ou se aquele deverá faze-lo na própria audiência, ainda que não se sinta em condições. Segundo (Mendes, 1961) Louvável é o espírito e iniciativa dos órgãos judiciais no sentido de oferecer aos seus usuários uma maior celeridade e economia processual, todavia observa-se ser inadequado impor a uma das partes, ou seja, no caso o autor uma manifestação imediata quando, por razoáveis fundamentos, não lhe seja possível,é simplesmente transformar tal manifestação em mera formalidade, desrespeitando a garantia do contraditório, que não se resume a apenas oferecer a oportunidade de manifestação, mas de zelar para que esta seja realmente efetiva. Para o jurista (Barroso,2000), O Código de Processo Civil permite a juntada de novos documentos pelas partes em qualquer fase processual que não na inicial e na defesa, desde que exista razão justificada e não se tratem de documentos indispensáveis à propositura da ação ou da defesa. Nesse caso, deverá sempre ser aberto prazo de cinco dias para que a outra parte tome conhecimento e se manifeste sobre os documentos juntados. Isso se verifica em respeito ao princípio do contraditório, até porque a decisão proferida sem que tal providência seja tomada é acoimada de nulidade. Com relação à prova pericial tem-se que esta é da mesma forma cercada de cuidados quanto à asseguração do contraditório. Assim as partes podem indicar assistentes técnicos que oferecerão seus pareceres após a apresentação do laudo pelo perito nomeado pelo juiz. Podendo ainda recusar o perito ou mesmo o assistente técnico indicado pela parte contrária por impedimento ou suspeição. Não obstante a lei não o diga de forma expressa, cada parte poderá impugnar os quesitos impertinentes oferecidos pela outra. Assim sendo, na eventualidade de juntada de quesitos suplementares por uma parte, à outra deverá ser dado conhecimento. A perícia judicial somente poderá ser dispensada no caso do art.427 do Código de Processo Civil se, e somente se, não vier a comprometer o contraditório. Quanto a esse aspecto, há que se dizer que o indeferimento da perícia que se

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revele essencial ao deslinde da controvérsia posta em juízo implica em cerceamento de defesa.

2 PERÍCIA JUDICIAL

2.1 Origem e evolução

A palavra perícia é originária do latim: Perítia, que significa conhecimento, experiência. Segundo (Ferreira, 1975), perícia é: “Vistoria ou exame de caráter técnico e especializado”. Já o ilustre (D’Áuria,1962), diz que perícia é: “O conhecimento e experiência das coisas”. A função pericial é portanto, aquela pela qual uma pessoa conhecedora e experimentada em certas matérias e assuntos, examina as coisas e os fatos, respeitando sua autenticidade e opinando sobre as causas e efeitos da matéria examinada. A perícia existe desde os mais remotos tempos da humanidade. Todavia, no âmbito do direito pátrio ela somente surge de maneira ordenada e com regras básicas válidas para todo o território nacional, a partir do advento do Decreto Lei 1.608 de 18.09.1939 que cria o Código de Processo Civil, esse decreto foi alterado em 08.01.1946 através do Decreto Lei 8.570 que modifica a forma da produção da prova pericial bem como o papel do perito. Outra alteração veio ocorrer com a Lei 8.455 de 24.08.1992 que também altera dispositivo do Código de Processo Civil art. 421, que fixa os prazos para entrega de laudo, indicação de perito assistente pelas partes e apresentação de quesitos. A última mudança foi procedida através da Lei 9.245, de 26.12.1995 que também modifica alguns dispositivos do Código de Processo Civil relacionados com a atuação do Perito. No âmbito do Conselho Federal de Contabilidade, somente em 1992 através da Resolução 731 foi aprovada a primeira norma sobre perícia contábil (NBC.T.13) cuja conceituação foi transcrita em seu item 13.1.1, assim: “A perícia contábil é o conjunto e procedimentos técnicos que tem por objetivo a emissão de laudo sobre questões contábeis, mediante exame, vistoria, indagação, investigação, arbitramento, avaliação ou certificação”.

Essa norma foi reformulada em 1999 através da Resolução 857 de 21.10.1999, passando o conceito de perícia contábil a ter a seguinte redação:

“A perícia contábil constitui o conjunto de procedimentos técnicos e científicos destinados a levar à instância decisória, elementos de prova necessários a subsidiar a justa solução do litígio, mediante laudo pericial contábil, e/ou parecer pericial contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais, e a legislação específica, no que for pertinente”.

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Como já mencionado, perícia é o trabalho realizado por pessoa entendida em determinada matéria, com o objetivo de elucidar questões relativas à mesma, trabalho esse pautado nos requisitos técnicos e obedientes aos preceitos legais. Conclui-se, portanto, que não é qualquer trabalho que poderá ser considerado como perícia, pois, ausentes, certos requisitos, teremos um trabalho que, não caracterizará perícia. Assim sendo, para que se possa caracterizar um trabalho como sendo pericial, esse deverá essencialmente ser conduzido por pessoa entendida na matéria. Segundo (Alberto, 2002) A perícia distingue-se da prova pericial, visto que a primeira é por definição um instrumento especial de constatação, prova ou demonstração, científica ou técnica, da verdade de situações, coisas ou fatos, enquanto a segunda é um dos aspectos de utilização da perícia, mais restrita, portanto, pode se dizer que a perícia contém a prova pericial, mas esta não tem a abrangência daquela.

Toda perícia envolve uma questão, ou seja, um pedido de opinião ou informação de quem é competente para dar. Se a questão está em litígio, em juízo, existem partes que se conflitam, o autor reclama direitos por conseguinte a outra parte ou seja, o réu defende-se obviamente com suas armas disponíveis, que é o seu argumento. O perito, para participar da perícia, deve conhecer tudo sobre o que motivou a questão, os argumentos de cada um, os documentos apresentados em fim todo o processo.

Destarte, enfatizar que os fatos, são ocorrências que não se confundem com as razões que motivaram uma perícia, mas é preciso e necessário ao perito ter pleno conhecimento de ambos, a fim de que possa melhor planejar e executar o seu trabalho.

Oportuno ressaltar a diferença entre perícia judicial contábil de natureza civil e a criminal. A primeira é direcionada a verificação de valores econômicos com o fim de levantar o montante a ser ressarcido por uma das partes. Já a criminal interessa a comprovação, ou não, de irregularidades apontadas em levantamento prévio apresentado pela entidade ou parte denunciante, objetivando fazer prova do delito, que vem a ser a lesão ao patrimônio ou prejuízo causado pelos envolvidos na fraude.

2.2 Fases da Perícia Conforme ensinamentos (Sá, 2002) a perícia contábil divide-se em três fases: Preliminar, operacional e final. Na fase Preliminar a perícia é solicitada ao Juiz pela parte interessada na mesma, nessa fase o Juiz defere a perícia e escolhe seu perito; As partes formulam quesitos e indicam seus assistentes; Os peritos são cientificados da indicação, propõem seus honorários e requerem o depósito dos mesmos, o Juiz estabelece prazo, local e hora para início. Na fase seguinte, ou seja, operacional, inicia-se efetivamente a perícia com diligências, averiguações, tomada de depoimento, cálculos em fim tudo que for

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necessário para a apuração e conclusão dos trabalhos e elaboração do laudo. Por último tem-se a fase final que consiste na assinatura do laudo, entrega através de petição protocolada junto ao juízo ao qual o processo esteja vinculado, levantamento dos honorários e caso seja necessário será prestados os devidos esclarecimentos conforme determina o Código de Processo Civil. A perícia judicial contábil é, portanto, o exame hábil com o objetivo de resolver demandas contábeis originárias de controvérsias, indagações e de lides correlatas. Segundo (Sá, 2002):

“Perícia Judicial Contábil é a que visa servir de prova, esclarecendo o Juiz sobre assuntos em litígio que merecem seu julgamento, objetivando fatos relativos ao patrimônio aziendal ou de pessoas.”

A perícia judicial contábil pode ser realizada em diversas áreas da sociedade, desde que estejam presentes controvérsias de origem patrimonial. Conforme (Alberto, 2002) Dentre essas controvérsias pode-se citar: Avaliações, verificações e apreciações de haveres em ações de alimentos, ações de inventário, dissolução de sociedade, desapropriação, reclamação trabalhista e fundo de comércio. Análises de valores patrimoniais: consignatórias, verificação de livros e documentos, ações executivas, impugnações de créditos, indenizatórias, ações trabalhistas. Exame, análise e identificação de erros ou fraudes: Em inquéritos, em concordatas e falências, reclamatórias trabalhistas, extras judicialmente.

2.3 O Contador O Decreto Lei nº 9.295, de 27 de maio de 1946, considera trabalhos técnicos de contabilidade as perícias judiciais ou extrajudiciais, as regulamentações judiciais ou extrajudiciais de avarias grossas ou comuns e quaisquer outras atribuições de natureza técnica conferidas por lei aos profissionais de contabilidade (art. 25, e), que somente poderão exercer a profissão depois de regularmente registrado no órgão competente do Ministério de Educação e Cultura e no Conselho Regional de Contabilidade a que estiverem sujeitos (art. 12). A resolução do Conselho Federal de Contabilidade nº 560/83, de 28 de outubro de 1983, deixa claro que o contabilista pode exercer as suas atividades na condição de profissional liberal ou autônomo, de empregado regido pela Consolidação das leis trabalhistas, de servidor público, de militar, de sócio de qualquer tipo de sociedade, de diretor ou de conselheiro de quaisquer entidades, ou, em qualquer outra situação jurídica definida pela legislação, exercendo qualquer tipo de função, que pode ser a de perito (art. 2º).

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Ainda relacionado à resolução 560/83 do Conselho Federal de Contabilidade tem-se o estabelecimento das atribuições privativas dos profissionais da contabilidade as perícias contábeis, judiciais e extrajudiciais (art. 35), sendo que tais atribuições são privativas dos contadores (art.3º § 1º), ou seja, o técnico de contabilidade não poderá exercer tal função. No mesmo sentido as Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC.T.13), aprovadas pela resolução Conselho Federal de Contabilidade nº 731, de 22 de outubro de 1992, que tratam da perícia contábil, dizem que a perícia contábil judicial, extrajudicial e arbitral, é de competência exclusiva de contador, registrado no Conselho Regional de Contabilidade (item 13.1.2). Já as normas profissionais do Perito Contábil (NBC.P.2), aprovadas pela resolução Conselho Federal de Contabilidade nº 733, de 22 de outubro de 1992, também determinam que o perito contábil deve comprovar sua habilitação, mediante apresentação de certidão específica emitida pelo Conselho Regional de Contabilidade (item 2.1.1.). Oportuno ressaltar que Egrégio Superior Tribunal de Justiça já se pronunciou no sentido de que “a perícia contábil deverá ser feita por profissional de nível superior, qualidade que não tem o técnico em contabilidade”. Essas normas (NBC.T.13 e NBC.P.2) foram revisadas em 1999, através da resolução 857/99 e 858/99 de 2 de outubro de 1999. Observa-se, entretanto, que a legislações específicas que regulamentam as profissões exigem, para o exercício profissional, o registro junto aos respectivos órgãos de classe, sob pena de exercício ilegal da profissão. Não basta, portanto, estar o profissional devidamente inscrito no órgão de classe competente, (art. 145 CPC), mister se faz também que o profissional esteja no pleno gozo e exercício de seus direitos profissionais.

2.4 O Perito Judicial Contábil Perito, palavra originária do latim peritus, formada do verbo perior, que quer dizer experimentar, saber por experiência, pessoa que possui grandes conhecimentos ou muita experiência em determinada coisa. (Ferreira,1975)

É o perito uma pessoa que, pelas qualidades especiais que possui, geralmente de natureza científica ou artística, supre as insuficiências do juiz no que tange à verificação ou apreciação daqueles fatos controversos da causa que para tal exijam conhecimentos especiais ou técnicos. Suprindo deficiências do juiz, não o substitui, porém, nas suas atividades; apenas auxilia, isto é, colabora na formação do material probatório.

O exercício profissional da função pericial contábil realiza-se sob duas formas de atuação técnica. A primeira oportunidade surge quando o profissional contábil, de nível superior, ou o equiparado, é nomeado pelo magistrado para assumir o encargo de perito judicial. Outra forma de atuação ocorre quando o profissional contábil é indicado pela parte para funcionar como assistente técnico.

Considerando que é o magistrado quem nomeia o perito e a parte indica o assistente técnico. Isso vale dizer que, do ponto de vista processual, o assistente técnico precisa, para funcionar em determinado processo, ser aceito pelo

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magistrado. Pode, portanto, ser recusado se assim o entender o magistrado.

Para (Sá, 2002) o profissional que executa a Perícia contábil precisa

ter um conjunto de capacidade, que são suas qualidades e, dentre essas qualidades inerentes a esse tipo de profissional, pode-se citar as principais que são: Legal - É a que lhe confere o título de Bacharel em Ciências Contábeis e o registro no Conselho Regional de Contabilidade. Profissional - Essa qualidade caracteriza-se por:

o Conhecimento técnico da contabilidade;

o Conhecimento prático da tecnologia contábil;

o Experiência em perícia;

o Perspicácia;

o Perseverança;

o Sagacidade;

o Conhecimento geral das ciências afim à contabilidade;

o Indole criativa e intuitiva. Ética - é a capacidade que está estabelecida no Código de Ética profissional do Contador e na norma emanada do Conselho Federal de Contabilidade.

Moral – é a capacidade estribada na virtude das atitudes pessoais do profissional. O perito judicial contábil é o profissional habilitado e nomeado pelo juiz de um feito para realizar perícias sobre questões de sua especialidade. Portanto, o Perito Contábil deve ser um profissional experimentado, perspicaz, especializado em efetuar perícias em escritas contábeis e exímio conhecedor da matéria objeto da lide, além de ter conhecimento dos procedimentos judiciais para a produção da prova pericial a fim de realizar a contendo o seu trabalho e contribuir para a célere marcha processual. Sendo auxiliar da justiça, o perito é nomeado por força da confiança do juiz da causa, sempre que a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico fora da área jurídica (Código de Processo Civil art. 145). Essa nomeação independe de qualquer compromisso formal de fiel cumprimento das atribuições a ele destinadas, pois sua responsabilidade decorre pura e simplesmente da lei. O ilustre Ornelas (2000) destaca algumas qualidades que o perito contábil deve possuir:

“Deve possuir cultura geral e contábil profunda, que lhe permitam colaborar com o magistrado na verificação ou apreciação dos fatos contábeis objeto da lide, de modo a supri-lo daqueles conhecimentos técnicos ou científicos que este não possua”.

Também se deve citar como uma das características essenciais ao perito contábil: a imparcialidade. Ser imparcial é desempenhar a função pericial sem ser tendencioso para qualquer uma das partes envolvidas no processo judicial, ou

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como magistralmente ensina o ilustre mestre (D`Auria, 1962).

“O perito não deve se arrecear de fazer afirmações que contrariem interesses alheios, portanto ele nada inventa ou imagina, limitando-se a reportar coisas e fatos autênticos e opinando, sempre, com integral imparcialidade”.

Mesmo quando indicado pela parte para funcionar como assistente técnico, o perito judicial deve formular opinião sempre com imparcialidade e absoluta isenção de ânimo, honrando sua função, procurando seguir as normas e preceitos constantes do Código de Ética de sua profissão. Portanto, a missão do perito não é advogar ou patrocinar a parte que o contratou ou nomeou, é de fato e simplesmente expor a sua opinião livre sobre os pontos e questionamentos a cerca da lide e que foram submetidos ao seu exame.

2.4.1 Impedimento e Suspeição do Perito Conforme determina o artigo 138, III do Código de Processo Civil, aplicam-se também os motivos de impedimento e de suspeição a atuação do perito. Esses impedimentos estão previstos nos artigos 134 e 135, ambos do Código de Processo Civil. Diz o artigo 134 do Código de Processo Civil:

“é defeso ao perito (impedimento) exercer as suas funções no processo contencioso ou voluntário nos seguintes casos”:

I. Quando for parte; II. Quando interveio como mandatário da parte; III. Quando funcionou como órgão do Ministério Público; IV. Quando prestou depoimento como testemunha; V. Quando estiver postulando, como advogado da parte, o

seu cônjuge ou qualquer parente seu, consangüíneo ou afim, em linha reta; ou na linha colateral até o segundo grau;

VI. Quando cônjuge, parente, consangüíneo ou afim, de alguma das partes, em linha reta ou, na linha colateral, até o terceiro grau;

VII. Quando for órgão de direção ou de administração de pessoa jurídica, parte na causa.

2.4.2 Escusa do Perito De acordo com o dispositivo no artigo 146 parágrafo único do Código de Processo Civil, o perito pode escusar-se do encargo alegando motivo legítimo, isso dentro do prazo de cincos dias, contados da intimação efetuada pelo juiz ou do impedimento superveniente, sob pena de se reputar renunciando o direito a alegá-lo. Nesse sentido diz o artigo 423 do Código de Processo Civil “o perito pode

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escusar-se (art.146), ou ser recusado por impedimento ou suspeição (art. 138, III)”. Ao aceitar a escusa ou julgar procedente a impugnação, o juiz nomeará novo perito. Escusar é recusar, ou seja, o perito pode recusar o encargo que lhe foi atribuído pelo juiz, alegando motivo legítimo. Motivo legítimo para que o perito possa recusar o encargo que lhe foi atribuído pelo juiz é aquele que, dentro do razoável, justifica a recusa. Dentro dessa razoabilidade encontramos vários fatores a considerar, tais como fatores profissionais e pessoais. Constituem motivos legítimos para a escusa, entre outros: a ocorrência de força maior; tratar-se de perícia relativa à matéria sobre a qual se considere inabilitado para apreciá-la seja por falta de um melhor domínio sobre o assunto controverso, ou ainda se o assunto não tiver pertinência com sua especialidade ; versar a perícia sobre questão a que não possa responder sem grave dano a si próprio, bem como ao seu cônjuge e aos parentes consangüíneos ou afins, em linha reta, ou na colateral em segundo grau; versar a perícia sobre assunto em que interveio como interessado; estar ocupado com outra perícia, no mesmo lapso de tempo, e em condições de não poder aceitar aquela para a qual venha a ser nomeado ou indicado. Ressalta-se, portanto, que o perito tem o dever de cumprir o ofício para o qual fora nomeado, todavia, conforme explicitado acima, poderá escusar-se alegando motivo legítimo, no prazo de cinco dias, que será apreciado pelo magistrado e caso o acate nomeará outro profissional em substituição. 2.5 Responsabilidade do Perito O artigo 147 do Código de Processo Civil diz o seguinte: “o perito que, por dolo ou por culpa, prestar informações inverídicas, responderá pelos prejuízos que causar à parte, ficará inabilitado, por 2 (dois) anos, a funcionar em outras perícias e incorrerá sanção que a lei penal estabelecer”.

Já o artigo 424 inciso II do mesmo diploma legal em seu parágrafo único, diz: “No caso previsto no inciso II, o juiz comunicará a ocorrência à corporação profissional respectiva, podendo, ainda, impor multa ao perito, fixada tendo em vista o valor da causa e o possível prejuízo decorrente do atraso no processo”. Portanto, é de se notar que a responsabilidade do perito se dá nas esferas civis, penais, administrativas e processuais. Na esfera civil, o perito responderá pelos prejuízos que causar à parte. Na esfera penal, incorrerá na sanção que a lei penal estabelecer. Na esfera administrativa, será comunicada a ocorrência à corporação profissional, ficará inabilitado, por dois anos, a funcionar em outras perícias e ainda pagará multa imposta pelo juiz. 2.5.1 Responsabilidade do Perito na Esfera Penal A lei penal a que se refere o art. 147 do Código de Processo Civil é na verdade o Código Penal, mais especificamente o seu artigo 342, verbis:

“Art.342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade, como testemunha, perito, tradutor ou interprete em processo judicial, policial ou

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administrativo, ou em juízo arbitral:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. § 1º As penas aumentam-se de um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. § 2º O fato deixa de ser punível, se antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito o agente se retrata ou declara a verdade”.

Segundo os penalistas, os crimes tipificados no artigo 342 do Código Penal “são do tipo formal, unissubsistentes, dolosos, de dolo genérico, não existindo na modalidade culposa e não admitindo tentativa. Sendo doloso, não se admite como típica, a realização culposa do tipo”. Assim sendo, quando o perito, que por culpa, prestar informações inverídicas, não incorrerá em qualquer sanção penal, pois a lei penal não a estabelece para este caso.

2.5.2 Responsabilidade do Perito na Esfera Civil Já na esfera civil o perito é obrigado a indenizar a parte pelos prejuízos que lhe causar, ou seja, será cabível contra o perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas, ação de indenização, inclusive por danos morais. Não se tratando de lei penal, que exige o dolo para a aplicação da sanção ao perito, mas, sim, de lei civil, a qual estabelece que aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano de outrem, ainda, que exclusivamente moral, comete ato ilícito (artigo 186 Código Civil/2002). 2.5.3 Responsabilidade do Perito na Esfera Processual Sem que haja motivo legítimo ou relevante, o perito deixe de cumprir o encargo no prazo que lhe foi assinado, poderá sofrer multa a ser fixada pelo juiz, tendo em vista o valor da causa e o possível prejuízo decorrente do atraso no processo (Código de Processo Civil artigo 424, II e parágrafo único). E caso preste informações inverídicas, ficará inabilitado, por dois anos, a funcionar em outras perícias, obviamente judiciais(Código de Processo Civil, artigo 147). 2.6 Poderes do Perito Após aceitar o encargo, o perito deve dar início aos trabalhos, devendo para isso inteirar-se dos autos do processo e, caso haja necessidade, poderá solicitar documentos e informações que estejam em poder das partes ou repartição pública, conforme dispõe o art. 429 do Código de Processo Civil, Verbis:

“Art. 429 para o desempenho das suas funções, podem o perito e os assistentes técnicos utilizar-se de todos os meios

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necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos que estejam em poder da parte ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo com plantas, desenhos, fotografias e outras quaisquer peças”.

O rol do artigo 429 do Código de Processo Civil, portanto deve ser considerado exemplificativo, e não taxativo, pois, com efeito, em algumas oportunidades faz-se necessária a produção de outras provas que complementariam ou elucidariam vários aspectos para o deslinde da questão. Ainda segundo o Código de Processo Civil em seu artigo 332, verbis: “Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa”. Analisando este artigo, conclui-se que, em suas diligências poderá o perito utilizar-se de todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, mesmo que não constantes do Código de Processo Civil, para apurar e apreciar os fatos sobre os quais deverá emitir a sua opinião. 2.7 Honorários e sua Cobrança O perito é um profissional que realiza um trabalho técnico, auxiliando dessa forma o juiz na solução dos conflitos. Assim sendo, pelo seu trabalho, o perito deve ser remunerado condignamente. A essa remuneração chama-se de honorários periciais. Apesar das dificuldades existentes para a fixação da justa remuneração dos peritos, entende-se que, independentemente de qualquer coisa, os honorários periciais não podem ser fixados aleatoriamente, com base em critérios subjetivos, devem sim, ser avaliados os serviços prestados ou a serem prestados, adotando-se para tanto critérios objetivos, tais como a relevância, complexidade e vulto do serviço; a responsabilidade inerente ao desempenho da função; o prazo de entrega e tempo necessário a execução; o valor da causa; a localização; a competência e o renome do profissional ou empresa; os custos de recursos materiais utilizados ou a utilizar, sendo tudo justificado através de um demonstrativo simples ou detalhado dos custos periciais, indicando ainda o número de horas despendidas ou a despender e os fatos decorrentes do trabalho pericial. Com esses dados, o perito terá condições de indicar um valor estimativo dos seus honorários ao juiz, mas a este compete arbitrar os honorários que serão devidos. Geralmente os honorários são depositados pelas partes, antecipadamente ao início dos trabalhos periciais, todavia, considerando que esta prática não ocorra, nesse caso deve-se recorrer ao que preceitua o Código de Processo Civil na seção III do capítulo II do título II do livro I que trata das despesas e das multas processuais. A remuneração do perito é considerada despesa, nos termos do artigo 33 do referido diploma legal. Nessa situação, e não tendo sido proferida decisão judicial aprobatória dos honorários periciais antes da sentença, o dever de pagar a remuneração do perito deverá constar da mesma.

Conclui-se, portanto, que o “título” executivo será a decisão judicial, não

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necessariamente sentença, mas decisão “lato sensu”. Após o trânsito em julgado da sentença, o perito poderá então promover a execução do seu crédito, ou, em outras palavras, poderá cobrar os seus honorários , tudo conforme prevê o artigo 19 e seguintes do Código de Processo Civil.

3 LAUDO PERICIAL 3.1 Laudo e Parecer Técnico O resultado do trabalho realizado pelo “expert” durante a perícia deve ser relatado através de instrumento próprio denominado Laudo Pericial. É nele que o perito irá descrever e documentar, de forma mais objetiva possível, os fatos com base nos quais pretende desenvolver sua argumentação e, afinal expor suas conclusões. De acordo com a etimologia, a palavra laudo tem origem latina, deriva do verbo, laudo, laudar, laudare, lauda, que em sentido próprio, significa louvar, aprovar, celebrar, exaltar. Laudo Pericial Contábil é a peça escrita, na qual os peritos contábeis expõem, de forma circunstanciada, as observações e estudos que fizeram e registram as conclusões fundamentadas da Perícia (Alberto, 2002). O Laudo Pericial é um documento completo, desenvolvido pelo perito, onde nele materializa-se a prova pericial, é também sobre ele que as partes irão oferecer seus comentários, aceitando-o ou criticando-o.

Consta no Código de Processo Civil, artigo 435 .verbis:“A parte que desejar esclarecimento do perito, requererá ao juiz que mande intimá-lo a comparecer à audiência, formulando desde logo as perguntas, sob forma de quesitos”. Quanto ao parecer técnico este tem uma infinidade de utilização, o seu conteúdo é bastante genérico, sua análise, por conseguinte pode versar fatos concretos ou até situações hipotéticas. Difere o parecer técnico do laudo pericial em razão de ser um documento conseqüente e de uma análise sobre determinado fato específico, contendo a emissão de uma opinião técnica sobre aquele caso estudado. Outro aspecto que pode bem caracterizar o parecer técnico é a sua requisição e respectivos destinatários. Ele só ocorrerá porque alguém necessita de esclarecimento sobre determinado assunto que não detenha conhecimento ou competência legal para realizá-lo. E, obviamente, terá sempre um destinatário específico que, geralmente, é quem o requisitou. Finalmente pode-se concluir que o parecer técnico é um documento particular que independe de qualquer compromisso legal e que é aceito ou faz fé, pelo renome, competência e qualidade morais de quem o subscreve. 3.2 Estrutura do Laudo Pericial Contábil O laudo pericial contábil deve necessariamente conter algumas qualidades essenciais para uma melhor apresentação, bem como validade dos seus resultados. Partindo deste princípio, deve o perito, organizar e desenvolver o conteúdo do laudo contábil de forma lógica e tecnicamente correta, sem abusar dos termos para oferecer aos leitores e usuários um perfeito entendimento da matéria em

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exame. O laudo é a opinião do perito, onde o mesmo produz seu ponto de vista e o justifica, oferecendo, também, os critérios e metodologia aplicados para chegar ao resultado que lhes levou a oferecer aquela opinião. São requisitos de um laudo (Sá,2002):

“Identificação completa do caso (Processo n.º, lugar, data, partes envolvidas etc); Identificação do Perito; Identificação da autoridade a quem se destina; Metodologia adotada; Identificação de quesito por quesito ou do caso sobre o qual se opina; Resposta a cada um dos quesitos; Anexos que comprovem os casos que merecem análises; Data e assinatura do perito.”

Se não for possível a conclusão, o perito dará sua negativa, isto pode ocorrer no caso de impertinência (matéria fora do alcance contábil) ou de falta de convicção. Se a conclusão só puder ser dada com ressalvas, esta deve ficar expressa e muito bem identificada. Os manuais e a legislação pertinentes ao assunto não determinam uma forma rígida para a estruturação do laudo pericial contábil, todavia, a doutrina estabeleceu alguns aspectos que deverão ser observados na elaboração dessa peça. Assim sendo, o laudo deve possuir alguns determinados requisitos tais como: ser completo, claro, circunscrito ao objeto da perícia e fundamentado. Seu conteúdo deve possibilitar a apreensão de duas grandes partes: uma expositiva, outra conclusiva, ou melhor, relatório e parecer. (Ornelas, 2000) A parte expositiva deve iniciar-se com um primeiro tópico denominado “considerações preliminares”. É a parte introdutória da peça técnica pericial, devendo ser dividida em sub-tópicos, onde o perito contábil irá descrever, sucintamente, o pedido formulado pelo proponente da ação constante da petição inicial. Em seguida oferece, de forma breve, os fatos relatados na contestação da parte contrária, aspectos fundamentais para se estabelecer o ponto controvertido sobre qual recairá o exame pericial. Ainda nas “considerações preliminares”, em um segundo sub-tópico, deve ser relatada as diligências realizadas pelo perito contábil. Nessa ocasião são informados os modos como foi desenvolvido o trabalho de campo, tais como: diligências para exibição de determinados livros e documentos. A seguir, de forma concisa, deve-se abordar os principais procedimentos técnicos adotados pelo perito contábil e os exames efetuados com a finalidade de solucionar a questão submetida a apreciação do perito contábil. Segue-se a estruturação com a transcrição dos quesitos formulados pelo juiz e pelas partes, na ordem que foram juntadas aos autos. As respostas devem seguir a ordem que mencionaremos adiante no título “Quesitos”. Os quesitos devem ser respondidos com clareza de detalhe suficiente para serem entendidos, não se admitindo as respostas consistentes em simples “sim” e “não”.

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Seguindo na construção do laudo contábil, após a oferta das respostas aos quesitos, prossegue-se com as conclusões técnicas, ou seja, o parecer que pode denominar-se de “Considerações Finais”. Consoante ensinamento (Ornelas, 2000), nessa parte do laudo, devem ser abordadas as conclusões a que a perícia chegou, os fatos contábeis observados, oferecendo opinião técnica a respeito da globalidade da matéria tratada. Por fim, deve constar do trabalho pericial a exposição formal de estar encerrado o laudo, com a descrição da constituição física do laudo, como a quantidade de páginas, textos, anexos; indicação do local e a data em que foi concluído o laudo, assinatura do perito e sua identificação. O perito contábil, naturalmente, pode ainda valer-se da juntada de anexos e documentos. Ressalte-se de forma não menos importante, a questão da estética do laudo pericial contábil, de modo a permitir ao seu destinatário uma leitura atrativa e agradável do mesmo. 3.3 Quesitos e sua Formulação Os quesitos deverão ser redigidos dentro das características e padrões da redação oficial, com forma de natureza técnico-científica, por se tratar de uma comunicação técnica-científica de natureza oficial. Convém observar, entretanto, que não é toda e qualquer pergunta que pode ser considerada quesito. Quesito é uma pergunta formulada aos peritos e aos assistentes técnicos sob determinada forma. A forma, portanto, é que conferirá à pergunta formulada a natureza de quesito, ou seja, o quesito pressupõe uma forma, sem a qual não se caracterizará o mesmo (Zarzuela, 2000).

Estas observações pertinem na medida em que o magistrado poderá indeferir os quesitos não só pela pertinência dos mesmos, mas, sobretudo pela utilização da linguagem. Daí, quesitos ininteligíveis, imprecisos ou com dúbias interpretações, mesmo que pertinentes, poderão ser indeferidos.

Os quesitos portanto, devem ser formulados de forma que suas respostas sejam dadas em uma seqüência lógica, assim sendo ajudará o advogado obter êxito na sua causa. Quesitos são questionamentos “perguntas” de natureza técnica que deverá ser respondidas pelo perito e apreciadas pelo juiz e pelas partes. O perito deve também avaliar a pertinência ou não dos quesitos. Sobre essa questão vale citar o comentário do ilustre João Carlos Pestana de Aguiar, (Revista dos tribunais,1974):

“Evidentemente, encontra-se o perito apto para afirmar, no mais das vezes, se um quesito é manifestamente impertinente ou não. De outro modo não se acha preparado para o exercício da sua função. Se tiver dúvidas, sobretudo nas perguntas cuja impertinência não seja manifesta, nada impede se dirija ao magistrado, por petição nos autos ou verbalmente, para que este decida ou o oriente a respeito. Estas cautelas não devem ser postergadas, pois uma má quesitação pode condenar uma boa perícia e até mesmo abalar o conceito do perito”.

Oportuno observar quanto a inadmissibilidade relativa as respostas

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do tipo “sim” ou “não” devendo todas positivas ou negativas ser circunstanciadas de razões técnicas que as comparem.

As respostas devem ainda seguir-se os quesitos e por uma questão hierárquica, são oferecidas, primeiramente, as respostas aos quesitos formulados pelo magistrado, em seqüência as respostas aos quesitos oferecidos pelas partes, na ordem de juntada das mesmas aos autos do processo.

O perito deve respeitar, ainda, uma segunda ordem, não podendo responder de forma aleatória, obedecendo, rigorosamente, a ordem em que foram formuladas, ou seja, do quesito um (01) até o último.

Na eventualidade de não haver formulação de quesitos tanto pelo magistrado quanto pela parte, a perícia será orientada pelo objeto da matéria, se assim decidir quem a determinar. (NBC. T.13, item 13.5.1.3).

4 ANÁLISE DA QUALIDADE DOS LAUDOS PERICIAIS CONTÁBEIS

4.1 A Qualidade de Um Laudo Pericial Contábil

Dentre as várias peças técnicas, pode-se dizer que o Laudo Pericial é o documento mais completo, em razão da sua origem, que é um exame de natureza pericial, realizado por peritos. O laudo pericial contábil deve conter algumas qualidades essenciais para uma melhor apresentação dos resultados do trabalho pericial. O perito deve organizar e desenvolver o conteúdo do laudo pericial contábil de forma lógica e tecnicamente correta, sem abusar dos termos para oferecer aos leitores perfeito entendimento da matéria posta em exame. Conforme ensina (Sá, 2002) para que um laudo possa classificar-se como de boa qualidade, precisa atender aos requisitos mínimos tais como: Objetividade, rigor tecnológico, concisão, argumentação, exatidão e clareza, precisão, fidelidade, confiabilidade e plena satisfação da finalidade. A objetividade é um princípio que se baseia no preceito acolhido pelas ciências, qual seja, a exclusão do julgamento “pessoal” ou “subjetivo”. O perito ao opinar não se deve basear em suposições, mas nos conhecimentos científicos adquiridos em sua especialidade. O perito não deve emitir opiniões vagas e imprecisas em matéria definida no conhecimento contábil, devendo ater-se à questão com realidade e dentro dos parâmetros da contabilidade. Dessa forma, um laudo prima pelo rigor tecnológico, ou seja, deve limitar-se ao que é reconhecido como científico no campo da especialidade. Um laudo deve evitar o prolixo, com palavras e argumentos inúteis ao caso. A concisão, entretanto, não deverá inviabilizar a argumentação. Quanto a argumentação, o perito quando concluir deve alegar suas razões fundamentando sua opinião. E finalmente, o laudo deve apresentar-se com clareza porque o perito deve entender que o laudo é feito para terceiros que não são especialistas e que não possuem obrigação de entender a terminologia tecnológica e científica da contabilidade. A precisão consiste em oferecer respostas pertinentes e adequadas às

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questões formuladas ou finalidades propostas. A clareza está em usar em sua opinião de uma linguagem acessível a quem vai utilizar-se de seu trabalho, embora possa conservar a terminologia tecnológica e científica em seus relatos. A fidelidade caracteriza-se por não deixar-se influenciar por terceiros, nem por informações que não tenham materialidade e consistência confiáveis. A confiabilidade consiste em estar a perícia apoiada em elementos inequívocos e válidos legal e tecnologicamente. A plena satisfação da finalidade é, exatamente, o resultado de o trabalho estar coerente com os motivos que o ensejaram. Destaque-se o ensinamento de (D’Auria, 1962) ao pronunciar-se quanto à elaboração do laudo:“São prejudiciais à eficiência do laudo pericial as formas literárias impregnadas de figuras retóricas, os termos inadequados, a prolixidade desnecessária, tudo aquilo, em fim, que dificulte a leitura e interpretação das respostas”.

Ressalte-se, portanto, que a qualidade do laudo é fator de extrema importância para formar a convicção do juiz quanto à matéria fática sob exame. De forma que, embora tenha realizado um excelente trabalho de campo, o perito que não respeitar os requisitos mínimos comprometerá a qualidade do laudo, não permitirá o descobrimento da verdade tão almejada no processo, inviabilizando a célere promoção da justiça pelo Estado-Juiz.

4.2 Conclusão da Análise

Foi realizado uma pesquisa, onde foram analisados 20 laudos apresentados por peritos nomeados pelo juiz em diversos autos de processos em tramitação perante 3ª, 4ª, 7ª, 9ª, 10ª e 12ª varas da justiça federal de 1º instância em Pernambuco. Cabe aqui uma breve explicação do que seriam os objetos das ações as quais os laudos referem-se, para um melhor entendimento. Ações ordinárias e as declaratórias são tidas como procedimento comum no Código de Processo Civil, assim sendo, são largamente utilizadas em toda espécie de litígio, tais como, ação de repetição de indébito, cobrança de reajuste em contas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, anulatória de débito fiscal. A consignatória é o procedimento especial dentro do Código de Processo Civil, sendo mais utilizada quando a parte discordando do valor cobrado pelo credor resolve depositar a quantia tida como justa em juízo até que o magistrado decida qual o valor correto a ser pago pela parte, como por exemplo, o mutuário que financia casa própria e discorda do valor da prestação que vem sendo cobrado pela instituição financeira. Nos embargos à execução o devedor quer discutir, geralmente, o valor cobrado pelo credor em execução tanto do título judicial, quanto de títulos extrajudiciais, os conhecidos títulos de crédito com força executiva. Os laudos analisados durante a pesquisa apresentaram-se incompletos quanto à estrutura formal recomendada, deixando de incluir partes essenciais,

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prejudicando o desenvolvimento do conteúdo dessa peça técnica. A inobservância de alguns aspectos prejudicou a qualidade dos laudos analisados posto que pecaram pela clareza, argumentação, exatidão e rigor tecnológico, requisitos fundamentais para a boa qualidade de um laudo contábil. Apenas 30% dos laudos analisados observaram os requisitos mínimos para uma satisfatória apresentação dessa peça técnica pericial, conforme se observa no quadro “análise da qualidade dos laudos” sempre com a indicação de “inexistência de pendências”. 40% dos laudos não apresentavam conclusões, enquanto que os 30% restantes apresentavam falhas do tipo: Emitir opinião em matéria de competência do juiz, inexistência de relatório, respostas aos quesitos utilizando apenas as expressões “sim”/”não”, etc. O resultado do trabalho realizado pelo expert durante a perícia deve ser relatado através de instrumento próprio denominado laudo pericial. É nele que o perito irá descrever e documentar, da forma mais objetiva possível, os fatos com base nos quais pretende desenvolver sua argumentação e, afinal expor suas conclusões. Um exame pericial deve se pautar pela mais completa constatação do fato, análise e interpretação e, como resultado final, a opinião de natureza técnico-científica sobre os fatos examinados. O Laudo Pericial é, portanto, o resultado final de um completo e detalhado trabalho levado a efeito por perito, cujo objetivo é o de subsidiar a justiça em assuntos que ensejam dúvidas no processo.

5 CONCLUSAO

A forma de realização dos trabalhos durante a perícia, conduzida pelo “expert” bem como a qualidade do laudo pericial, reveste-se de grande importância para seu usuário final. Isso se deve a alguns fatores tais como: O laudo é instrumento da perícia que esclarece acerca da matéria em litígio, é através dele que o perito apresenta seus resultados na tarefa de elevada importância, qual seja, auxiliar o magistrado na prestação de jurisdição. Sua eficácia em cumprir com seu objetivo depende do desenvolvimento e organização ao elaborá-lo.

Assim sendo, trouxe a luz à realidade a qualidade dos laudos apresentados em perícias, bem como sua importância para um melhor aperfeiçoamento da função pericial, tomou-se como exemplo os laudos acostados aos autos de Processos perante a Justiça Federal de 1ª Instância seção Judiciária de Pernambuco.

A elaboração da perícia Judicial está relacionada com o exercício profissional, motivo pelo qual, a indicação e nomeação do profissional que a conduzirá deve obedecer não só à legislação processual, como também à legislação regulamentadora da profissão.

Como regra geral, as partes têm o direito de indicar assistentes técnicos e apresentar quesitos, podendo ainda, em qualquer caso, recusar o perito nomeado por impedimento, suspeição ou inabilitação.

Por fim ficou evidente que é necessário o empenho de todos, profissionais

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e estudantes, no sentido de promover a função pericial através do aperfeiçoamento dos procedimentos utilizados na produção e elaboração do laudo, principalmente quando se nota a carência de material didático sobre o assunto, o que tem levado as universidades brasileiras a graduarem estudantes com conhecimentos insuficientes para exercerem a Perícia Contábil, fato constatado durante a pesquisa realizada nos laudos Periciais acostados aos autos integrantes dos processos analisados, onde apenas 30% dos laudos preencheram em sua totalidade os requisitos doutrinários e normativos.

Aos profissionais experientes que já laboram na função pericial caberia o compromisso de divulgar através de trabalhos científicos as melhores técnicas empregadas, contribuindo assim, para uma superior qualidade na apresentação do laudo.

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