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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO RELATÓRIO TÉCNICO 1 A QUALIDADE DO TRANSPORTE DE PACIENTES PARA TRATAMENTO ELETIVO FORA DO MUNICÍPIO Luciana Gomes Lourenço [email protected] UFF/ICHS Resumo Após a Constituição de 1988 e com a criação do SUS em 1990 a saúde tomou novos rumos de atuação principalmente em relação ao atendimento à população. Todavia, os municípios que não dispõe de uma rede de atendimento de alta complexidade, encaminham seus munícipes para cidades que atendem esses usuários através do Tratamento Fora do Domicilio (TFD). Este Relatório Técnico pretende analisar as deficiências do transporte de pacientes para tratamento eletivo fora do município, buscando a otimização do serviço. O estudo será de natureza qualitativa e quantitativa, a partir de um conjunto de informações obtidas por meio de pesquisa realizada através de inquérito amostral. Esses resultados, apresentados através de gráficos, ajudaram a mostrar a atual situação em que se encontra o transporte na região estudada, e também como está sendo realizada a gestão da saúde pública municipal. Palavras-chave: Otimização de processos, gestão da saúde pública, Sistema Único de Saúde, Tratamento Fora do Domicílio. 1 Introdução O direito à saúde é parte de um conjunto de direitos chamados de direitos sociais, que têm como inspiração o valor da igualdade entre as pessoas. No Brasil este direito apenas foi reconhecido na Constituição Federal de 1988, antes disso o Estado apenas oferecia atendimento à saúde para trabalhadores com carteira assinada e suas famílias, as outras pessoas tinham acesso a estes serviços como um favor e não como um direito. Durante a Constituinte de 1988 as responsabilidades do Estado são repensadas e promover a saúde de todos passa a ser seu dever. Após a Constituição de 1988 e com a criação do SUS em 1990 a saúde tomou novos rumos de atuação principalmente em relação ao atendimento à população. A partir da implementação do Sistema Único de Saúde (SUS), mudanças de ordens tecnológica, organizacional e política, passaram a estabelecer novas formas de organização do trabalho na saúde, determinadas pela hierarquização por nível de complexidade, descentralização e democratização do sistema, imprimindo novas características ao modelo de gestão e atenção. O Sistema Único de Saúde (SUS) é o maior sistema público de saúde do mundo, tendo atuação efetiva em todo o país e abrangendo todos os tipos de tratamento e graus de complexidade, desde um pequeno atendimento ambulatorial até um transplante de órgãos. Dentro desse complexo sistema de atendimento à população encontra-se o Tratamento Fora de Domicílio (TFD); instrumento legal que visa garantir, pelo SUS, o tratamento médico

A QUALIDADE DO TRANSPORTE DE PACIENTES PARA … Gomes Lourenço... · ... que tem sua base estabelecida no município de Paraíba do Sul/RJ. ... Sapucaia e Vassouras, tem ... e Lei

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

1

A QUALIDADE DO TRANSPORTE DE PACIENTES PARA TRATAMENTO

ELETIVO FORA DO MUNICÍPIO

Luciana Gomes Lourenço – [email protected] – UFF/ICHS

Resumo

Após a Constituição de 1988 e com a criação do SUS em 1990 a saúde tomou novos rumos de

atuação principalmente em relação ao atendimento à população. Todavia, os municípios que

não dispõe de uma rede de atendimento de alta complexidade, encaminham seus munícipes

para cidades que atendem esses usuários através do Tratamento Fora do Domicilio (TFD).

Este Relatório Técnico pretende analisar as deficiências do transporte de pacientes para

tratamento eletivo fora do município, buscando a otimização do serviço. O estudo será de

natureza qualitativa e quantitativa, a partir de um conjunto de informações obtidas por meio

de pesquisa realizada através de inquérito amostral. Esses resultados, apresentados através de

gráficos, ajudaram a mostrar a atual situação em que se encontra o transporte na região

estudada, e também como está sendo realizada a gestão da saúde pública municipal.

Palavras-chave: Otimização de processos, gestão da saúde pública, Sistema Único de Saúde,

Tratamento Fora do Domicílio.

1 – Introdução

O direito à saúde é parte de um conjunto de direitos chamados de direitos sociais, que

têm como inspiração o valor da igualdade entre as pessoas. No Brasil este direito apenas foi

reconhecido na Constituição Federal de 1988, antes disso o Estado apenas oferecia

atendimento à saúde para trabalhadores com carteira assinada e suas famílias, as outras

pessoas tinham acesso a estes serviços como um favor e não como um direito. Durante a

Constituinte de 1988 as responsabilidades do Estado são repensadas e promover a saúde de

todos passa a ser seu dever.

Após a Constituição de 1988 e com a criação do SUS em 1990 a saúde tomou novos

rumos de atuação principalmente em relação ao atendimento à população. A partir da

implementação do Sistema Único de Saúde (SUS), mudanças de ordens tecnológica,

organizacional e política, passaram a estabelecer novas formas de organização do trabalho na

saúde, determinadas pela hierarquização por nível de complexidade, descentralização e

democratização do sistema, imprimindo novas características ao modelo de gestão e atenção.

O Sistema Único de Saúde (SUS) é o maior sistema público de saúde do mundo, tendo

atuação efetiva em todo o país e abrangendo todos os tipos de tratamento e graus de

complexidade, desde um pequeno atendimento ambulatorial até um transplante de órgãos.

Dentro desse complexo sistema de atendimento à população encontra-se o Tratamento

Fora de Domicílio (TFD); instrumento legal que visa garantir, pelo SUS, o tratamento médico

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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de média e alta complexidade a usuários portadores de doenças não tratáveis no município de

origem, quando esgotados todos os meios existentes na microrregião e houver possibilidade

de recuperação total e/ou parcial da saúde do paciente.

A presente pesquisa, aos Usuários SUS, foi desenvolvida com o objetivo de avaliar,

sob a ótica destes usuários, a qualidade do Transporte para Tratamento Fora do Domicílio,

mediante inquérito amostral.

2 - Método de Pesquisa

O estudo será de natureza qualitativa e quantitativa, a partir de um conjunto de

informações obtidas por meio de pesquisa realizada através de questionário elaborado a partir

das queixas feitas pelos usu

Na primeira etapa será realizada a pesquisa através de questionário semiestruturado

(apêndice I), em formulário, com perguntas abertas e fechadas, disponibilizado na recepção

do setor de exames do Hospital Nossa Senhora da Piedade.

A partir da ssegunda etapa será realizado o tratamento dos dados de natureza

qualitativa e quantitativa, que ocorrerão, respectivamente por meio de Análise de Conteúdo

Temático e através de estatística descritiva com distribuição absoluta e relativa das respostas

nas categorias investigadas.

A escolha de um trabalho qualitativo e quantitativo baseou-se nos estudos

apresentados por Egberto Ribeiro Turato (Métodos qualitativos e quantitativos na área da

saúde: definições, diferenças e seus objetos de pesquisa - 2005) e Hartmut Günther (Pesquisa

Qualitativa Versus Pesquisa Quantitativa: Esta É a Questão?- 2006).

Hartmut Günther (2006) argumenta que “ambas as abordagens têm suas vantagens,

desvantagens, pontos positivos e pontos negativos, considerando que o método escolhido

deve se adequar à pergunta de uma determinada pesquisa.” Seu trabalho aponta a

complexidade da pesquisa qualitativa em termos de coleta, transcrição e análise de dados.

Para Egberto Turato (2005), apresenta definições dos métodos qualitativos usados nas

Ciências do Homem e nas Ciências da Saúde e os compara com os métodos quantitativos

comuns das Ciências da Saúde.

Pretende-se através desta pesquisa levantar informações importantes sobre a qualidade

do transporte dos pacientes/acompanhantes para o tratamento fora do domicílio.

3 – Apresentação do Caso

Regulado pela Portaria da Secretaria da Saúde nº 55, de 24/02/99, o Programa TFD

tem por finalidade garantir aos pacientes o acesso de ter o tratamento combatível a sua doença

em centros de maiores recursos ou devido às regiões metropolitanas em que se situam não

terem os serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em outras palavras,

pacientes atendidos na rede pública ou conveniados ao SUS de um município poderão gozar

de serviços assistenciais de outro município quando estiverem esgotadas todas as formas de

tratamento naquele em que o paciente reside. Da mesma forma, pacientes que residem em

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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locais em que não possuem atendimento prestado pelo SUS poderão deslocar-se a regiões

cobertas por esse serviço.

As despesas abrangidas por esse benefício são aquelas relativas a transporte (aéreo,

terrestre e fluvial), diárias para alimentação e, quando necessário, pernoite para paciente e

acompanhante, sendo certo ainda que abrange também as despesas com preparação e traslado

do corpo, em caso de óbito em TFD. Assim, se o paciente e seu acompanhante retornarem ao

município de origem no mesmo dia, serão conferidas, apenas, a passagem e a ajuda de custo

para alimentação.

A Região Centro Sul Fluminense realiza o agendamento desses serviços através do

Consórcio Intermunicipal de Saúde – CIS-CS/RJ, e os encaminha, em veículos próprios, para

a realização de exames e consultas.

O presente relatório será utilizado para avaliação da qualidade do serviço de transporte

dos pacientes e acompanhantes atendidos na Região Micro I (denominação atribuída pelo

CIS-CS/RJ), que tem sua base estabelecida no município de Paraíba do Sul/RJ.

3.1 Coleta dos dados

Os dados foram coletados através de questionário semiestruturado, em formulário,

com perguntas abertas e fechadas, disponibilizado na recepção do setor de exames do

Hospital Nossa Senhora da Piedade, localizado no município de Paraíba do Sul/RJ, no

período de 27 de julho a 11 de setembro do ano de 2015.

3.2 Público-alvo

O público-alvo foi composto por cidadãos, Usuários do SUS - pacientes e ou

acompanhantes, com idade entre 18 e 100 anos, que tenham comparecido para realização de

exames no Hospital Nossa Senhora da Piedade, entre os dias 27 de julho e 11 de setembro de

2015.

3.3 Entrevistas realizadas

Participaram da pesquisa 658 usuários do SUS, de sete municípios distintos,

pertencentes a Região Centro Sul Fluminense.

3.4 Instrumento de coleta

Os usuários SUS receberam o questionário e foram convidados a participar da

pesquisa, de cunho restritamente acadêmico, na recepção do Hospital, no ato da confirmação

do exame agendado.

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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3.5 Resultados da pesquisa

Gráfico 1: Municípios atendidos

Fonte: Dados extraídos de pesquisa realizada pela autora.

Foram atendidos, na base da Região Micro I, sete municípios (gráfico 1), entre eles, o

município sede da base – Paraíba do Sul.

Dos sete municípios pesquisados, apenas três – Mendes, Sapucaia e Vassouras, tem

obrigatoriedade em custear o transporte e a alimentação de pacientes e acompanhantes, pois

segundo o parágrafo 5º, da Portaria/SAS/Nº 055, de 24.02.99, é vedado o pagamento de TFD em

deslocamentos menores do que 50 Km de distância.

Gráfico 2: Exames realizados

Fonte: Dados extraídos de pesquisa realizada pela autora.

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

5

São realizados oito tipos de exames no hospital, destes quatro foram realizados pelos

usuários SUS que participaram da pesquisa. Observou-se maior índice de realização do exame

de Mamografia (gráfico 2), atribui-se o grande número ao fato de 80% destes usuários serem

do sexo feminino (gráfico 3).

Gráfico 3: Gênero

Fonte: Dados extraídos de pesquisa realizada pela autora.

Gráfico 4: Faixa Etária

Fonte: Dados extraídos de pesquisa realizada pela autora.

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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Infere-se do gráfico 4 que os maiores índices dada a faixa etária encontra-se acima dos

41 anos fato este relacionado a idade mínima para o início da realização do exame de

mamografia que é 40 anos.

Gráfico 5: Tipo de transporte utilizado pelo paciente/acompanhante

Fonte: Dados extraídos de pesquisa realizada pela autora.

Os 25% de pacientes que utilizaram transporte coletivo (gráfico 5), assim como o fato

de 81% dos que utilizaram transporte próprio (gráfico 6) não ter sido custeado pela Secretaria

Municipal de Saúde, dá-se ao fato de 26% dos entrevistados (gráfico 1) serem do município

onde os exames foram realizados.

Gráfico 6: Transporte custeado pelo Município

Fonte: Dados extraídos de pesquisa realizada pela autora.

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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Quadro 1: Transporte realizado pela Secretaria de Saúde

Se utilizou transporte da Secretaria de

Saúde: Sim Não NI

O transporte foi agendado no ato da

marcação do procedimento? 78% 21% 1%

O transporte saiu na hora agendada? 77% 22% 1%

O transporte utilizado era seguro? 99% 0% 1%

O transporte estava em boas condições de

uso? 97% 2% 1%

O motorista do veículo, dirigiu

adequadamente, respeitando as normas do

transito?

99% 0% 1%

Foi solicitado aos pacientes e

acompanhantes a colocação do cinto de

segurança?

5% 93% 2%

O paciente chegou ao destino na hora

agendada para a realização do

procedimento?

74% 24% 1%

Fonte: Dados extraídos de pesquisa realizada pela autora.

Dos 658 usuários SUS que participaram da pesquisa 75% se identificaram como

paciente e 16% como acompanhante, e os demais, 9%, não se identificaram.

Dentre aqueles que utilizaram o transporte disponibilizado pela Secretaria Municipal

de Saúde de seu município, houve uma associação positiva em relação a qualidade do serviço

(quadro 1).

O espaço reservado na pesquisa para críticas, elogios e sugestões apresentou respostas

variadas. Entre as que merecem destaque está a sugestão para o agendamento de pacientes em

grupos menores para que os mesmos tenham condições de levar seus acompanhantes e

também não necessitem ficar esperando o último atendimento. Nesses casos observou-se que

o paciente que tem exame agendado para o primeiro horário (8h00’), tem que esperar o

paciente agendado para o ultimo horário (16h00’). Além do desconforto, em se tratando dos

casos em que o exame necessita de preparo específico, há também o problema com o custeio

da alimentação, que fica por conta do paciente.

Outro ponto importante trata-se da questão do horário e local de saída dos veículos dos

municípios. Os carros normalmente são agendados para os primeiros horários (entre 5h00’ e

6h00’) e o local de saída, no centro das cidades, porém alguns munícipes moram afastados,

em locais que não tem transporte público nesse horário, e até mesmo em zona rural, onde o

transporte é mais precário. Ocorreram relatos de pacientes que saíram de suas residências as

4h00’ da manhã e caminharam por cerca de 1h30’ para chegar ao local agendado para saída

do veículo. A sugestão desses munícipes é que as Secretarias de Saúde disponibilizem carros

que possam pegar esses pacientes em suas residências.

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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4 – Referencial Teórico

Garantido por lei – Artigos 196 a 200 da Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988; e Lei orgânica da Saúde número 8.080, de 19 de setembro de 1990, o direito à

saúde é parte de um conjunto de direitos chamados de direitos sociais, que têm como

inspiração o valor da igualdade entre as pessoas.

No Brasil este direito apenas foi reconhecido na Constituição Federal de 1988, antes

disso o Estado apenas oferecia atendimento à saúde para trabalhadores com carteira assinada e

suas famílias, as outras pessoas tinham acesso a estes serviços como um favor e não como um

direito.

Durante a Constituinte de 1988 as responsabilidades do Estado são repensadas e

promover a saúde de todos passa a ser seu dever. Essa intenção fica clara em seu artigo 196:

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas

sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros

agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a

promoção, proteção e recuperação.

O Artigo 196, da CF/88 não deve ser lido apenas como uma promessa ou uma

declaração de intenções, este é um direito fundamental do cidadão. A saúde é um direito de

todos por que sem ela não há condições de uma vida digna, e é um dever do Estado por que é

financiada pelos impostos que são pagos pela população. Desta forma, para que o direito à

saúde seja uma realidade, é preciso que o Estado crie condições de atendimento em postos de

saúde, hospitais, programas de prevenção, medicamentos, etc., e, além disto, é preciso que

este atendimento seja universal (atingindo a todos os que precisam) e integral (garantindo

tudo o que a pessoa precise).

A criação do SUS (Sistema Único de Saúde) está diretamente relacionada à tomada de

responsabilidade por parte do Estado. De acordo com o Artigo 2°, da Lei 8.080/90: “A saúde é

um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu

pleno exercício”.

A ideia do SUS é maior do que simplesmente disponibilizar postos de saúde e

hospitais para que as pessoas possam acessar quando precisem, a proposta é que seja possível

atuar antes disso, através dos agentes de saúde que visitam frequentemente as famílias para se

antecipar os problemas e conhecer a realidade de cada família, encaminhando as pessoas para

os equipamentos públicos de saúde quando necessário. Desta forma, organizado com o

objetivo de proteger, o SUS deve promover e recuperar a saúde de todos os brasileiros,

independentemente de onde moram, se trabalham e quais os seus sintomas.

Segundo André da Silva Ordacgy (2007 apud Petrel, 2010):

A Saúde encontra-se entre os bens intangíveis mais preciosos do ser

humano, digna de receber a tutela protetiva estatal, porque se

consubstancia em característica indissociável do direito à vida. Dessa

forma, a atenção à Saúde constitui um direito de todo cidadão e um dever do

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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Estado, devendo estar plenamente integrada às políticas públicas

governamentais.

Conforme Petrel (2000), para os cidadãos, deve ser indiferente como o Estado se

organiza para promover o direito à saúde. O importante é que efetivamente o assegure.

Subsiste o direito das pessoas de exigir que o Estado intervenha ativamente para garanti-lo.

Não é passível de omissão.

O Poder Público, qualquer seja a esfera institucional no plano da organização

federativa brasileira, não pode se mostrar indiferente ao problema da saúde da população, sob

pena de incidir, ainda que por censurável omissão, em grave comportamento inconstitucional

(MELLO, 2000)

A interpretação da norma constitucional não pode se dar no sentido de uma simples

promessa inconsequente. O SUS não deve atuar como uma rede sem sentido, sem

compromisso social.

O Sistema Único de Saúde (SUS) é o maior sistema público de saúde do mundo, tendo

atuação efetiva em todo o país e abrangendo todos os tipos de tratamento e graus de

complexidade, desde um pequeno atendimento ambulatorial até um transplante de órgãos

(MS, 2015).

Dentro desse complexo sistema de atendimento a população encontra-se o TFD -

Tratamento Fora de Domicílio, conceituado como um instrumento legal que visa garantir,

pelo SUS, o tratamento médico de média e alta complexidade a usuários portadores de

doenças não tratáveis no município de origem, quando esgotados todos os meios existentes na

microrregião e houver possibilidade de recuperação total e/ou parcial da saúde do paciente.

Regulado pela Portaria da Secretaria da Saúde nº 55, de 24/02/99, o Tratamento Fora

do Domicílio (TDF) tem por finalidade garantir aos pacientes o acesso de ter o tratamento

combatível a sua doença em centros de maiores recursos ou devido às regiões metropolitanas

em que se situam não terem os serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em

outras palavras, pacientes atendidos na rede pública ou conveniados ao SUS de um município

poderão gozar de serviços assistenciais de outro município quando estiverem esgotadas todas

as formas de tratamento naquele em que o paciente reside. Da mesma forma, pacientes que

residem em locais em que não possuem atendimento prestado pelo SUS poderão deslocar-se a

regiões cobertas por esse serviço.

Este procedimento assistencial será concedido exclusivamente a usuários da rede

pública de saúde ou conveniada/contratada do SUS, e consiste no custeio do paciente e do

acompanhante (se necessário e previsto em legislação), encaminhados para as Unidades de

Saúde de outro município ou Estado, limitando-se ao período estritamente necessário e os

recursos orçamentários existentes.

O Tratamento Fora do Domicilio (TFD) inicia sua atuação quando o paciente já

passou pela unidade de atenção básica, foi encaminhado ou não para um especialista

(dependendo do diagnóstico) e foram esgotadas todas as possibilidades de tratamento efetivo

dentro de sua Regional de Saúde, necessitando assim, ser encaminhado para um serviço de

referência em outra localidade.

As despesas abrangidas por esse benefício são aquelas relativas a transporte (aéreo,

terrestre e fluvial), diárias para alimentação e, quando necessário, pernoite para paciente e

acompanhante, sendo certo ainda que abrange também as despesas com preparação e traslado

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

10

do corpo, em caso de óbito em TFD. Assim, se o paciente e seu acompanhante retornarem ao

município de origem no mesmo dia, serão conferidas, apenas, a passagem e a ajuda de custo

para alimentação.

5 – Plano de Ação

O plano de ação aqui apresentado tem por objetivo levar aos Gestores Municipais da

Região Micro I sugestões para amenizar os problemas apontados na pesquisa feita aos

usuários SUS, com base na avaliação feita sob a perspectiva dos usuários.

Quadro 2 – Plano de Ação

What - O que Fazer Wey - Por

quê

Where -

Onde

Who -

Quem

When -

Quando How - Como

How

Much -

Quanto

Custa

Solicitar o

agendamento dos

pacientes em grupos

menores e em horários

próximos.

Diminuir o

tempo de

espera entre

um horário

e outro.

Setor de TFD. O

responsável

pelo

agendament

o dos

exames.

No ato do

agendament

o dos

exames

junto ao

CIS-CS/RJ.

Dividir os

pacientes em

dois grupos, os

que realizariam

os exames e

consultas nos

horários entre

8h00’ e 12h00’;

e os que

realizariam

entres as

13h00’ e as

17h00’.

Sem

custos

adicionais

.

Disponibilizar um

lanche básico para os

pacientes.

Para que os

mesmos

não

permaneça

m em jejum

até o

retorno de

sua

residência.

Na

clínica/hospit

al onde será

realizado o

exame.

O

responsável

pela

copa/cozinh

a.

Após a

realização

dos exames.

Será oferecido,

ato término do

exame, aos

pacientes que

estejam em

jejum, em

espaço

disponibilizado

pela

clínica/hospital.

R$ 0,01

centavos

por

habitante.

Palestra de

treinamento/qualificaç

ão para os motoristas.

Aperfeiçoar

o

tratamento

e cuidado

com os

passageiros

e também

para

garantir a

qualidade e

segurança

do serviço.

No auditório

Municipal ou

sala destinada

a

treinamentos.

O

responsável

pelo setor de

transporte e

um agente

de trânsito.

Uma vez ao

ano, ou de

acordo com

a

necessidade

de cada

município.

Será oferecida

uma palestra

com instruções

de transito e

cuidados/atençã

o com os

passageiros.

R$

1.000,00

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

11

Fonte: Dados extraídos de pesquisa realizada pela própria autora.

Nota: Modelo de plano baseado em: HERNANDEZ, C. T. – Planejamento de Metas; aula 12; in:

Empreendedorismo Governamental

6 – Conclusão

O TFD é uma importante ferramenta para os gestores de saúde, pois possibilita o

acesso a tratamentos que antes eram inviáveis e sobrecarregavam a Atenção Básica da Rede

de Saúde Municipal.

O programa de agendamento é de suma importância para os municípios, pois

possibilita o tratamento especializado de média e alta complexidade àqueles que não possuem

recursos em sua Regional de Saúde ou em sua microrregião.

A pesquisa apresentou mais pontos favoráveis que desfavoráveis em relação ao tema

abordado. A maioria dos entrevistados está satisfeito com o serviço oferecido pelas

Secretarias Municipais de Saúde e as poucas reclamações são de fácil solução e algumas de

custo zero, como sugerido no plano de ação.

Observou-se, que mesmo sem a obrigatoriedade legal, tendo em vista que dos sete

municípios pesquisados apenas três se enquadram na referida lei, há uma preocupação dos

gestores em garantira do direito à saúde de todos os cidadãos.

O sistema atual, informatizado e centralizado, e o empenho dos gestores municipais,

tem facilitado o acesso para o encaminhamento e o tratamento efetivo dos pacientes que

necessitam de deslocamento, porém, faz-se necessário um trabalho conjunto, para a

otimização do serviço de transporte desses pacientes/acompanhantes, garantindo assim mais

qualidade e a satisfação de todos.

7 - Referências

BRASIL. Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990. Disponível em: <http://www.planalto.

gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm>. Acesso em: 10 out. 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Portaria/SAS/Nº 055 de 24

de fevereiro de 1999. Disponível em: <http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS

/Port99/PT-055.html>. Acesso em: 10 out. 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/

cidadao/entenda-o-sus>. Acesso em: 10 out. 2015.

BRASIL. Secretaria de Estado de Saúde. Resolução SES n° 171 de 28 de novembro de 2011.

Disponível em: <http://www.legislacaodesaude.rj.gov.br/component/content/article/9-

resolucoes/5971-resolu%C3%A7%C3%A3o-ses-n%C2%B0-171-de-28-de-novembro-de-

2011.html?highlight=WzE3MSwiZGUiLDI4LCIxNzEgZGUiLCIxNzEgZGUgMjgiLCJkZS

AyOCJd&Itemid=235>. Acesso em: 10 out. 2015.

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso

em: 10 out. 2015.

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MALLMANN, Eduarda. Direito à Saúde e a responsabilidade do Estado. Disponível em:

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Único de Saúde – SUS e as exigências para os Assistentes Sociais. Disponível em:

<http://www.fnepas.org.br/pdf/servico_social_saude/texto2-4.pdf>. Acesso em: 10 out. 2015.

PETREL, Mariana. O direito constitucional da saúde e o dever do Estado de fornecer

medicamentos e tratamentos. Disponível em: <http://www.oabsp.org.br/subs

/santoanastacio/institucional/artigos/O-direito-constitucionalda-saude-e-o-dever-do>. Acesso

em: 10 out. 2015.

Tratamento fora do domicílio – artigos 197 e 198 da Constituição Federal de 1988; Lei

Orgânica da Saúde nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, disciplinada pela Portaria Federal nº

055, de 24 de fevereiro de 1999 da Secretaria de Assistência à Saúde/Ministério da Saúde.

Disponível em: <http://www.sbn.org.br/leigos/pdf/ Tratamento_fora_do_domicilio.pdf>.

Acesso em: 10 out. 2015.

TURATO, Egberto Ribeiro. Métodos qualitativos e quantitativos na área da saúde:

definições, diferenças e seus objetos de pesquisa. Revista Saúde Pública, vol. 39, n° 3. São

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Acesso em: 10 out. 2015.

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Acesso em: 10 out. 2015.

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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APÊNDICE I

Pesquisa de Satisfação do Transporte para Tratamento Fora do Domicílio

Informações do Paciente:

Cidade: _____________________________________________________________

Data de Nascimento: ______ / ______ / ______.

Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

Especialidade / procedimento: (Preencha abaixo qual especialidade foi utilizada no atendimento)

Tipo de transporte utilizado:

( ) Da Secretaria de Saúde ( ) Próprio ( ) Coletivo

( ) Outro - Qual? ____________________________________________________

Se não utilizou o transporte da Secretaria de Saúde, a viagem foi custeada pelo Município:

( ) Sim ( ) Não

Se utilizou transporte da Secretaria de Saúde: Sim Não

O transporte foi agendado no ato da marcação do procedimento?

O transporte saiu na hora agendada?

O transporte utilizado era seguro?

O transporte estava em boas condições de uso?

O motorista do veículo, dirigiu adequadamente, respeitando as normas do

transito?

Foi solicitado aos pacientes e acompanhantes a colocação do cinto de

segurança?

O paciente chegou ao destino na hora agendada para a realização do

procedimento?

Quem respondeu a este questionário? ( ) Paciente ( ) Acompanhante

Faça seus comentários (críticas, elogios, sugestões)

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Esta pesquisa é de cunho acadêmico e de total responsabilidade de seus autores.