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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A PREVIDÊNCIA SOCIAL X PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR PRIVADA: A QUEM ELAS BENEFICIAM DE FATO Por: Maria Sandra Carneiro Pinheiro Orientador: Prof. Jorge Tadeu Rio de Janeiro 2008 Universidade Cândido Mendes

A QUEM ELAS BENEFICIAM DE FATO - MBA Presencial e … · em janeiro de 1923, com a aprovação da Lei Elói Chaves, que criou as Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP). As CAP’s

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A PREVIDÊNCIA SOCIAL X PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR

PRIVADA:

A QUEM ELAS BENEFICIAM DE FATO

Por: Maria Sandra Carneiro Pinheiro

Orientador: Prof. Jorge Tadeu

Rio de Janeiro

2008

Universidade Cândido Mendes

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A PREVIDÊNCIA SOCIAL X PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR

PRIVADA:

A QUEM ELAS BENEFICIAM DE FATO

Apresentação de monografia à Universidade

Cândido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós Graduação “Lato

Sensu” em Finanças e Gestão Corporativa.

Por: Maria Sandra Carneiro Pinheiro

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AGRADECIMENTOS

A todos aqueles que direta ou indiretamente,

colaboraram para que fosse possível realizar

este trabalho.

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SUMÁRIO

1. Introdução 05

2. Previdência Social no Brasil: Antecedentes, Evolução e Situação Atual 06

2.1. Antecedentes e Evolução 07

2.2. Situação Atual 09

3. Previdência Complementar Privada no Brasil 18

3.1. Antecedentes, estrutura e tipos de planos 18

3.2. Aspectos técnicos legais da previdência complementar privada 22

3.2.1 . Entidades abertas de previdência complementar 22

3.2.2. Entidades fechadas de previdência complementar 26

3.3. As principais alterações mais recentes na legislação sobre previdência

complementar privada 33

3.3.1 . As leis 108 e 109/2001 33

3.3.2 . Órgão regulador normativo da previdência complementar privada 33

4. A previdência social pública e previdência complementar privada 34

4.1. Aspecto populacional brasileiro 34

4.2. Previdência Pública e Previdência Complementar Privada: a quem elas

beneficiam 39

Conclusão 45

Referências 48

Índice 50

Folha de Avaliação 51

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1. Introdução

A previdência social ou pública é um tema de reconhecida importância por

sua repercussão sobre diversos segmentos da sociedade, num momento em que o

sistema previdenciário encontra-se sob intenso questionamento em todo o mundo

capitalista.

No caso da Previdência Social brasileira a situação é bastante complexa,

resultado das especificidades do país relacionadas ao seu modelo de

desenvolvimento excludente e gerador de graves distorções sociais e econômicas e

às relações do Estado com a sociedade.

A proteção social pública para os que não dispõem de meios de

subsistência é crucial para o bem-estar dos cidadãos e suas famílias, para a coesão

social e o bom funcionamento da economia. Isto porque além da dignidade e

independência que a previdência possibilita aos seus beneficiários, os recursos por

ela distribuídos são importantes para a manutenção da capacidade de consumo.

A previdência pública incorpora atualmente um grande contingente de

pessoas, sejam aquelas que em algum momento para ela já contribuíram – situando-

se entre 6 ou 7 milhões de pessoas - ou as que nunca para ela contribuíram – cerca

de 14 milhões de pessoas. Estas últimas contribuem para o desequilíbrio das contas

da previdência pública, que vem sofrendo constantes reformas nos últimos anos.

É neste contexto que ganha impulso a previdência complementar privada

no país, tema desta monografia, que objetiva absorver a camada da população que,

a cada nova reforma da previdência pública, vê dilapidar-se sua renda futura de

aposentadoria.

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Para a abordagem do tema estruturou-se a presente monografia em

capítulos. Após a presente Introdução, no segundo capítulo são apresentados os

antecedentes históricos da previdência social pública, um breve resumo sobre sua

atual situação, e os fatores que a cada ano vêm contribuindo para a elevação de

seus déficits.

O terceiro capitulo aborda a previdência complementar privada,

apresentando um breve histórico sobre a mesma e alguns aspectos relacionados à

sua estrutura e funcionamento operacional, técnico e legal.

No quarto e principal capítulo da monografia, apresenta-se a distribuição

da população brasileira segundo faixas de idade e de renda, para em seguida avaliar

os que potencialmente encontram-se cobertos pela previdência social pública, e

somente a ela podem recorrer em sua aposentadoria; e aqueles que estão buscando

a previdência complementar privada como forma de manter, ao menos em parte, sua

renda na aposentadoria.

Diante destes aspectos, sem pretender quantificar os potenciais

participantes dos dois tipos de previdência, a presente monografia procura

responder a seguinte indagação a quem se destina a previdência complementar

privada e para quem a previdência pública é a única saída no momento em que

pararem de trabalhar e forem pensar em aposentar-se.

2. Previdência Social no Brasil: Antecedentes, Evolução e Situação Atual

Este capítulo apresenta um breve resumo histórico relativo ao surgimento

e evolução da previdência social no Brasil, e destaca algumas causas responsáveis

pela crise em que hoje se encontra.

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2.1 – Antecedentes e Evolução

No Brasil, o primeiro esforço no sentido de instituir a Previdência Social

ocorreu à época do Império. Em 1 de outubro de 1821, o príncipe regente, D. Pedro

de Alcântara, assinou um decreto concedendo aposentadoria aos mestres e

professores aos 30 anos de serviço, e assegurando aos que continuasse em

atividade um abono de 25% sobre os vencimentos correspondentes. Além da

aposentadoria por tempo de serviço, registram-se dois outros fatos: o benefício é

concedido a uma categoria profissional, bem como possibilita o aposentado voltar à

atividade.

A primeira instituição de previdência criada no Brasil, em 10 de janeiro de

1835, foi o Montepio Geral de Economia dos Servidores do Estado - MONGERAL,

proposto pelo Barão de Sepetiba, então Ministro da Justiça. Seu propósito original

era patrocinar seus associados, servidores do Estado, mediante contribuições, um

conjunto de benefícios de natureza previdenciária.

Entre o final do século XIX e o início da década de 1920, o

desenvolvimento da Previdência no Brasil foi eminentemente privado e centrado nas

empresas. A organização previdenciária se dava pela ação dos empregados de uma

mesma empresa, através de um fundo mútuo ou pela ação da empresa, através de

caixas beneficentes mantidas pelas contribuições, nem sempre voluntárias, dos

empregados.

A Previdência Social no Brasil somente viria se estabelecer formalmente

em janeiro de 1923, com a aprovação da Lei Elói Chaves, que criou as Caixas de

Aposentadoria e Pensão (CAP). As CAP’s mais importantes congregavam

empregados do governo ou de empresas prestadoras de serviços públicos, sendo,

em todos os casos, sociedades civis independentes do governo. A partir de 1933,

com a criação do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Marítimos (Decreto n.º

22.872, de 29/6/1933), inicia-se a transformação do sistema. A congregação dos

trabalhadores no plano previdenciário deixa o âmbito da empresa empregadora e

passa para a categoria profissional. A consolidação dessa organização corporativista

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se dá através da Constituição Federal promulgada em 1934. Entretanto, pelos

interesses públicos dominantes, o corporativismo ficou submetido ao controle do

Estado.

O sistema previdenciário era mantido por contribuições do trabalhador, da

empresa e do Estado. As duas primeiras contribuições eram definidas como

percentual dos salários, enquanto a do Estado era residual, isto é, quanto fosse

necessário para cobrir as despesas do Instituto. Nesse sistema, o regime de gestão

é o de repartição; isto é, a receita arrecadada é usada para cobrir as despesas com

os benefícios distribuídos, bem como as despesas com a administração do Instituto.

Em 1947, o Legislativo retoma o problema da uniformização do sistema

previdenciário, através do projeto da Lei Orgânica da Previdência Social. Esta lei

viria a ser aprovada em 1960, juntamente com o Regulamento Geral da Previdência

Social. A Lei Orgânica estende a participação no sistema previdenciário aos

trabalhadores autônomos, profissionais liberais e empregadores, esses últimos de

forma compulsória.

Em 1966, a Lei Orgânica da Previdência Social foi completamente

alterada pelo Executivo através de dois decretos-lei. Os seis institutos de

aposentadoria e pensão então existentes foram reunidos em um único instituto, o

Instituto Nacional de Previdência e Assistência Social (INPS). A extensão da

proteção aos trabalhadores rurais, iniciada timidamente em 1963, é ampliada em

1968. Porém, sua efetiva implementação somente ocorreu em 1971, através da Lei

Complementar nº 11, que instituiu o Programa de Assistência ao Trabalhador Rural

(Prorural).

Destaca-se que a Previdência Social a cada reforma tornava-se mais

abrangente, tanto em termos de trabalhadores segurados, como de funcionários por

ela empregados e do volume de recursos por ela administrado.

Em 1960, o Ministério do Trabalho passou a denominar-se Ministério do

Trabalho e da Previdência Social. Posteriormente, em 1974, a previdência e a

assistência social foram destacadas num ministério próprio: o Ministério da

Previdência e Assistência Social (MPAS), que absorveu o INPS, a Central de

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Medicamentos (CEME), a Empresa de Processamento de Dados da Previdência

Social (DATAPREV), a Fundação Legião Brasileira de Assistência (LBA), a

Fundação Nacional para o Bem-Estar do Menor (FUNABEM) e a Fundação Abrigo

do Cristo Redentor.

O MPAS passou a ser o órgão responsável pela elaboração e execução

das políticas nacionais de previdência e assistência social na sua concepção mais

ampla. Em 1977, através da Lei nº. 6.349, foi criado o Sistema Nacional de

Previdência e Assistência Social (SINPAS) e também duas novas autarquias: o

Instituto de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), como único

provedor de assistência médica do sistema; e o Instituto de Administração

Financeira da Previdência e Assistência Social (IAPAS), como gestor financeiro da

Previdência Social.

Em 1990, no governo Collor, o MPAS foi extinto e dividido entre os

Ministérios do Trabalho, da Saúde e da Ação Social. Com essa reforma o novo

Ministério do Trabalho e da Previdência Social absorveu o IAPAS e o INPS,

formando o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que até a atualidade é o

responsável pela previdência social no país.

2.2 – Situação Atual

“A previdência é, entre nós, como na maior parte das nações, o complexo orgânico de expressão mais relevante, que vai até agigantando-se à medida que evolui na direção da seguridade social. E por seguridade social se há de entender, conforme síntese de eminentes doutrinadores, o conjunto de medidas obrigatórias, cujo objetivo é proteger, indistintamente, a todo individuo e sua família, das conseqüências de uma inevitável calamidade socioeconômica, como implícito na declaração universal dos direitos do homem" (Moreira e Lustosa, 1977, p.15).

A previdência social objetiva garantir renda aos seus contribuintes no

momento em que não possam trabalhar, por motivo de: saúde; velhice, morte de

segurado, que deixa pensão para o dependente; e, acidente que torne o trabalhador

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incapaz ao trabalho. A previdência evita, assim, a falta de recursos (penúria) e a

pobreza involuntária da classe trabalhadora.

No Brasil, o sistema de previdência social pública funciona em “regime de

caixa”, com as contribuições ao INSS destinando-se a um fundo comum, do qual

sairá a renda de aposentadoria de cada brasileiro.

Segundo dados no sistema de previdência oficial não há equilíbrio entre

as contribuições pagas e a renda mensal de aposentadoria que o contribuinte irá

receber no futuro. Caso existisse no país uma proporção de, por exemplo, cinco

trabalhadores contribuintes para cada aposentado, a contribuição paga ao INSS

seria suficiente para garantir uma aposentadoria digna aos brasileiros. Porém as

contribuições não crescem no mesmo ritmo do montante de benefícios que devem

ser pagos. De acordo como o MPAS (Ministério da previdência e assistência social)

há um número cada vez menor de contribuintes para um número cada vez maior de

segurados, sendo hoje esta proporção de quase um para um (Gráfico 1).

Gráfico 1

Relação Contribuinte/Beneficiário do Setor Privado (1950 – 2002)

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Gráfico 2: Evolução da Despesa com Benefícios Previdenciários e Assistenciais emrelação ao PIB ( 1996 a 2005 )

Em paralelo à queda na relação contribuinte/beneficiário, houve um

aumento dos gastos com benefícios, considerando-se tanto o número de

beneficiários quanto o valor médio por eles recebido. Nos últimos nove anos

ocorreram sucessivos aumentos nos gastos previdenciários, elevando a participação

destes em relação o PIB, que atingiu 8,5%, em 2005 (Gráfico 2).

De acordo com os dados do MPAS, as mudanças na Constituição Federal

de 1988 elevaram o total de benefícios pagos pelo governo, que se expandiu em

cerca de 40%, elevando-se de R$ 16,5 milhões, em 1996, para R$ 23,1, em 2004. O

Gráfico 3 a seguir apresenta o resultado previdenciário e as receitas e despesas

com benefícios previdenciários, no período 1995/2002, que demonstram um

descompasso entre a arrecadação líquida e as despesas receitas.

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Em 2006, o déficit previdenciário atingiu R$ 42 bilhões, sendo o resultado da

subtração entre a arrecadação com contribuições sobre a folha de salários e o gasto

com o pagamento de benefícios.

Em contraposição, a professora Denise Gentil, do Instituto de Economia

da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, argumenta que esta não é a

maneira correta de se calcular o resultado previdenciário. Isto porque o ministério

não leva em conta a arrecadação de contribuições destinadas à Seguridade Social

como Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), CSLL

(contribuição sobre o lucro liquido) e CPMF (contribuição provisória sobre a

movimentação financeira)1, da qual a Previdência é parte constituinte, juntamente

1 Considere-se, ainda, o fato de que a Previdência perde arrecadação por conta de isenções concedidas pelo governo a alguns setores da economia, tais como: pequenas empresas, entidades filantrópicas e exportadores.

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com a Assistência Social e a Saúde Ao elaborar seus cálculos considerando estas

receitas, Gentil chega a um superávit da Seguridade Social de R$ 1,25 bilhões, em

2006.

Em medida contraditória ao propagado déficit da Previdência, o Executivo

enviou ao Congresso Nacional a Proposta de Emenda Constitucional - PEC n°

50/2007, que prorroga até o final de 2011 a Desvinculação das Receitas da União-

DRU. A DRU é uma medida que permite ao governo federal utilizar para outros fins -

geralmente para manutenção do superávit primário das contas públicas e o

pagamento de juros da dívida pública - 20% da arrecadação previdenciária. Isto

significa que o governo é incoerente já que ele mesmo retira da Previdência recursos

para alocar em outros fins.

Diante do déficit do previdenciário surgiram propostas para contê-lo,

entre elas a redução do valor dos benefícios e o aumento das alíquotas de

contribuição que incidem tanto sobre o trabalhador como sobre o empregador.

A primeira alternativa seria muito impopular e de difícil negociação

política. Já em relação à segunda proposta, existiria um limite para o aumento das

alíquotas, que projetaria o crescimento do mercado informal a partir de uma

determinada contribuição máxima. O aumento das alíquotas em um modelo de

repartição tende a ter um efeito na arrecadação cada vez mais reduzido, podendo

até agravar o déficit da Previdência.

A partir da Constituição Federal de 1988, além de cuidar das

aposentadorias e pensões a Previdência passou a ser a gestora de um amplo

programa de renda mínima e de transferências diretas de renda a pessoas que, em

última instância, acabam sendo custeados com recursos do Tesouro Nacional.

Como observa-se no Gráfico 4, nos últimos anos vem ocorrendo um

aumento contínuo dos benefícios previdenciários, tanto da classe urbana quanto da

classe rural, merecendo ser destacado o aumento dos benefícios relacionados à

assistência social.

“Em fevereiro deste ano, o MPAS mudou a forma de cálculo do resultado previdenciário para incluir na soma das receitas do INSS o que deixa de ser arrecadado por conta das isenções. Por este critério, o déficit cai pela

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Fonte: Anuário Estatístico da Previdência Social – AEPS; Boletim Estatístico da Previdência

Social – BEPS Elaboração: SPS/MPS Dos atuais 20 milhões de aposentados e pensionistas do INSS,

excetuando-se os 6 milhões que efetivamente contribuíram para usufruir dos

benefícios previdenciários; 2 milhões estão escritos na Lei Orgânica da Assistência

Social (LOAS); 6 milhões são pobres urbanos que jamais contribuíram para a

Previdência Social e que participam de algum tipo de programa de renda mínima; e,

os restantes 6 milhões, são beneficiários de aposentadorias rurais, para as quais

também jamais contribuíram. (Fonte: INSS, 2004)

Este cenário tende a agravar-se ainda mais devido às seguintes razões:

- aumento na expectativa de vida dos brasileiros, o que levará a

um aumento do número de aposentados;

metade". (Magalhães, em Correio da Cidadania, jul.2007).

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Tabela 1

Expectativa de Vida por Idade - Brasil

1930 - 1940 1970 - 1980 1980 - 1995 2000 Idade

Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher

0 39 43 55 60 65 71 64 72

10 45 48 53 57 58 65 58 65

20 38 40 45 48 49 55 48 55

40 24 26 29 32 32 36 31 36

50 18 20 22 24 24 28 23 27

55 16 17 19 21 20 24 19 23

60 13 14 16 17 17 20 16 19

65 11 11 13 14 14 16 13 15

70 8 9 11 11 11 13 10 12

Fonte: Previdência em Dados 1930/1940, 1970/1980 e 1980/1995. PNAD 2000 - IBGE

- queda do índice de natalidade no país, o que levará à diminuição

do número de futuros contribuintes;

Tabela 2

Taxa brasileira de fecundidade total - Brasil

Década 1930/40 1940/50 1950/60 1960/70 1970/80 1980/91 2000

Taxa de fecundidade total

6,20 6,16 6,28 5,76 4,35 2,60 2,3

Fonte: Anuário Estatístico do IBGE

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- ampliação da economia informal e do desemprego, que

provocam redução do número de contribuintes.

- tendência de ampliação do número de trabalhadores que vêm

sendo remunerados pelas empresas com um menor salário fixo e, em compensação,

obtendo uma maior participação nos lucros através de gratificação, bônus, comissão

e etc.. Isso ocorre sem que haja a incidência de contribuição previdenciária tanto

sobre empregado quanto sobre o empregador.

- elevação considerável da participação das mulheres no mercado

de trabalho. As mulheres podem se aposentar 5 anos mais cedo do que os homens

(65 anos de idade). Em paralelo, como demonstra a Tabela 1, a expectativa de vida

das mulheres é superior a dos homens. Logo, o déficit atuarial é maior nas

aposentadorias e pensões das mulheres que na dos homens.

Diversas causas explicariam as dificuldades por que passa o regime de

repartição. No caso brasileiro, estas se referem aos efeitos perversos para o sistema

previdenciário acarretado pelas mudanças demográficas e do mercado de trabalho,

neste último caso com o aumento da informalidade, e pelo baixo crescimento da

economia.

Os efeitos negativos das mudanças demográficas podem ser verificados

com o auxílio da relação entre o número de contribuintes ativos do Regime Geral da

Previdência Social e o número de beneficiários inativos. Essa relação era de 2,5 em

1990 e, em 2002, apenas doze anos depois, a mesma havia declinado para 1,2,

conforme apresentado no Gráfico 1.

O crescimento do desemprego está associado, entre outras causas, ao

fraco desempenho da economia brasileira nos últimos anos. Um longo período de

baixas taxas de crescimento do PIB, particularmente influenciada pelo desempenho

do setor industrial, acarretou uma redução no emprego e, portanto, do número de

contribuintes ativos da Previdência. Isto também acarretou um maior uso do seguro-

desemprego, cujas contas encontram-se entrelaçadas com as da seguridade social.

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Por outro lado, como para a empresa cada real pago como salário

corresponde outro pago como encargo trabalhista, ocorreu a substituição de postos

de trabalho por máquinas e equipamentos. Essa substituição foi ainda incentivada

pelos benefícios fiscais concedidos pelo governo aos investimentos realizados pelas

empresas.

A conjugação dessas forças reduziu de forma expressiva o percentual de

trabalhadores formais – que recolhem contribuições previdenciárias – no total da

força de trabalho. A informalidade atinge diretamente o equilíbrio do sistema

previdenciário, já que trabalhadores informais, por definição, não são contribuintes

da Previdência.

O sucessivo déficit acumulado pela Previdência Social fez com que esta

tomasse medidas injustas em relação a quem contribui a vida inteira para garantir

sua aposentadoria, como por exemplo: fixar um teto máximo para o pagamento de

benefícios (10 salários mínimos); conceder aumentos distintos para quem ganha o

salário mínimo (acima da correção da inflação) e para quem ganha mais do que o

mínimo (somente a correção da inflação); aumentar a faixa etária para a

aposentadoria integral e vinculá-la ao tempo de contribuição (de 60 para 65 anos no

caso dos homens e de 55 para 60 anos no caso das mulheres, concomitantemente à

exigência de 35 e 30 anos de contribuição para os homens e mulheres,

respectivamente).

Estes fatores fizeram com que segmentos da população que possuíssem

recursos disponíveis passassem a se preocupar com o futuro a partir da

aposentadoria, levando-os a aderir cada vez mais ao sistema de previdência

complementar privada.

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3 – A Previdência Complementar Privada no Brasil

3.1 – Antecedentes, estrutura e tipos de Plano da Previdência Complementar

Privada no Brasil

O marco inicial da previdência privada no Brasil se deu em 16 de abril de

1904, com a fundação da Caixa Montepio dos Funcionários do Banco do Brasil,

precursora da atual Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil –

PREVI.

Dada a dificuldade em prover uma aposentadoria segura e que

mantivesse o nível e qualidade de vida semelhante ao momento em que os

trabalhadores não mais estivessem na ativa, impulsionou-se o desenvolvimento de

novos instrumentos de proteção de natureza previdenciária.

“A expressão previdência privada, no sentido usado no Brasil, objetivou identificar o espaço não coberto pela previdência social, de forma a proporcionar ao participante um benefício adicional ao oferecido pela previdência social pública, visando manter sua renda nos mesmos níveis de quando estava em plena capacidade laborativa." (Martins, 2006, pág. 14).

Entretanto, no passado recente, a inflação corroía o valor real dos

benefícios, o que impedia a manutenção do padrão de vida dos trabalhadores após

a aposentadoria. Destaca-se, ainda, a deficiência técnica de alguns planos privados

de benefícios, o que acabava tornando-os insustentáveis financeiramente, bem

como a ocorrência de uma série de fraudes em montepios, envolvendo aplicações

em ativos de solvência duvidosa ou empreendimentos inviáveis.

Pelos motivos expostos, o governo federal interveio no mercado através

da Lei n° 6.435, de 1977, que regulamentou a previdência privada no Brasil. Até

então, a previdência complementar privada no país era incipiente, merecendo

destaque os fundos contábeis criados por algumas poucas empresas para

complementar a aposentadoria e pensão de seus empregados, e os chamados

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Estrutura da Previdência

Complementar

Aberta EAPP

Fechada EFPP

Fundos de Pensão (sem fins lucrativos)

Sociedades Anônimas

(com ou sem fins)

montepios, instituições abertas que ofereciam planos individuais de complementação

das aposentadorias públicas.

Objetiva-se com a regulamentação da Previdência Complementar Privada

no país estruturar um sistema que acumule recursos que possam garantir no futuro

uma renda mensal após a aposentadoria que permita ao trabalhador manter o

padrão de vida da ativa.

Num primeiro momento esta era vista como uma poupança extra, mas

como o beneficio da previdência oficial, conforme já visto, tende a reduzir-se cada

vez mais, muitos trabalhadores têm adquirido um plano privado como forma de

garantir sua renda ao fim de sua carreira profissional.

Tecnicamente falando, o processo de previdência privada consiste de

duas fases: na primeira, o poupador acumula durante certo período um capital,

através de depósitos mensais ou de aporte de capital e, durante todo esse período,

este capital receberá rendimentos; na segunda fase, cujo início coincide com a

aposentadoria na previdência oficial, o trabalhador passará a receber os benefícios

da previdência complementar correspondente ao capital acumulado.

Há dois tipos de previdência complementar no Brasil, definida através da

Lei n° 6.435, de 1977: a fechada, que é da competência do Ministério da Previdência

Social; e a aberta, que é da alçada do Ministério da Fazenda.

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A previdência complementar fechada é destinada aos profissionais

ligados a empresas, sindicatos ou entidades de classe. O trabalhador contribui com

uma parte mensal do salário durante certo período e a empresa banca o restante do

valor, que normalmente é dividido em partes iguais. Contudo, há casos raros de

empresas que bancam toda a contribuição. Acrescenta-se, ainda, que o regime de

previdência fechado ou fundo de pensão não visam a distribuição de seus lucros.

Uma vantagem imediata desse tipo de previdência é a possibilidade do

participante deduzir 12% da renda bruta na declaração anual do Imposto de Renda.

Estima-se que as empresas de previdência complementar possuam cerca de 130 mil

participantes que já desfrutem de seus benefícios.

O regime de capitalização sobre o qual se acham organizados os Fundos

de Pensão é que lhes dá grande vitalidade e eficiência, comparativamente ao regime

da Previdência Social Pública, que é o de repartição simples. No primeiro caso, o

participante durante o período laborativo é responsável pelo total de recursos que

garantirão seus benefícios futuros. Já o segundo consiste no custeio por uma

geração dos benefícios concedidos à geração que a antecedeu.

Em face da acumulação de poupança, os Fundos de Pensão, além da

atividade-fim, que é nitidamente social, possuem uma função econômica relevante

como investidores. Eles são hoje no Brasil o sustentáculo do mercado de ações e

do mercado imobiliário e estão aptos a alavancar muitos outros segmentos

econômicos, oferecendo-lhes financiamento de longo prazo.

Os Fundos de Pensão brasileiros adquiriram grande maturidade

conceitual e institucional. Estão aptos a oferecer à totalidade dos trabalhadores do

país a proteção efetiva contra as incertezas futuras, ao mesmo tempo em que cria

uma massa de novos consumidores de grande importância para a formação do

mercado interno brasileiro.

Por sua vez, a previdência aberta é oferecida por seguradoras ou por

bancos. Um dos principais benefícios dos planos abertos é a sua liquidez, já que os

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depósitos podem ser sacados a cada dois meses. O número total de participantes de

planos abertos é atualmente estimado entre 5 e 6 milhões de pessoas.

Ambas as entidades operam em regime de capitalização individual ou

coletiva, e nas abertas os planos são sempre de capitalização individual, ou seja,

através da aplicação dos recursos arrecadados sob a forma de contribuição de seus

integrantes, visando à formação de um capital que garantirá o pagamento de

benefícios futuros. Nas entidades fechadas, todo o rendimento das aplicações se

reverte, necessariamente, aos participantes. Já nas entidades abertas sem fins

lucrativos, o patrimônio que se forma é exclusivamente de propriedade dos

participantes. Nas entidades abertas com fins lucrativos, o excedente sobre as

reservas matemáticas é geralmente apropriado pelos acionistas, e não pelos

participantes. Mais recentemente, repartir os excedentes vem se tornando regra

entre os planos ofertados pelas entidades abertas, sendo usualmente revertido ao

participante metade ou alguma fração pré-acordada.

Um plano de benefícios previdenciários baseia-se na acumulação de

contribuições do participante e da patrocinadora, acrescida de rendimentos, para

posterior pagamento de benefícios (rendas ou pecúlios). Esses planos classificam-

se nos seguintes tipos:

Benefício definido - modalidade em que, a priori, a regra de cálculo do

valor do benefício a ser pago é, geralmente, função da idade, do tempo de serviço

ou da remuneração. No âmbito dos Fundos de Pensão, o valor exato do benefício

somente será possível de ser determinado na época de seu requerimento. Este

benefício é pouco previsível quando da entrada de um novo participante no plano.

Contribuição definida - modalidade em que, a priori, se estabelecem os

patamares contributivos do participante e da patrocinadora. O valor do benefício

dependerá do montante de contribuições, que são preponderantemente

influenciadas pela rentabilidade alcançada pelos investimentos da entidade.

Misto - modalidade híbrida que conjuga características da contribuição

definida às aposentadorias programadas. O benefício de risco (aposentadoria por

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invalidez ou pensão por morte) comporta-se como um benefício definido, sendo

coberto pela patrocinadora e, eventualmente, pelos participantes.

3.2. Aspectos técnicos e legais da Previdência Complementar Privada

A previdência complementar compreende duas modalidades, que são

atendidas pelas Entidades Abertas de Previdência Complementar (EAPCs) e pelas

Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPCs).

No caso brasileiro, as entidades fechadas têm participação

substancialmente maior, tanto em número de participantes, quanto em volume de

ativos. A dimensão relativamente pequena do segmento aberto decorre da escassa

tradição da previdência privada como opção voluntária de poupança. Porém, mais

recentemente, o setor vem registrando crescimento acentuado.

Por sua vez, as entidades fechadas, sobretudo as patrocinadas por

empresas estatais ou de economia mista, sempre atraíram grande interesse,

motivado, entre outros fatores, pelas fortes contribuições da patrocinadora, pela

possibilidade de acesso a financiamentos imobiliários e pela garantia concreta de

complementação da aposentadoria.

3.2.1 - Entidades Abertas de Previdência Complementar Privada

As Entidades Abertas de Previdência Complementar funcionam como

administradoras de poupanças de pessoas físicas, as quais podem aderir livremente

aos planos, ao contrário do que acontece com os fundos de pensão, onde somente

os empregados das empresas patrocinadoras podem dele participar. Nos planos

abertos, prevalece o sistema de contribuição definido e as instituições que os

oferecem podem auferir lucro, com a ressalva de que "... não poderão distribuir

lucros ou quaisquer fundos correspondentes às reservas patrimoniais, desde que

essa distribuição possa prejudicar os investimentos obrigatórios do capital e reserva,

de acordo com os critérios estabelecidos na presente Lei" (Lei 6.435/1977, art. 18).

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Cabe aos participantes uma parte residual do lucro total, remunerada a juros

atuariais, que será incorporada ao fundo.

A previdência privada aberta é constituída por sociedades civis, com ou

sem fins lucrativos, e por companhias seguradoras. Estas últimas detêm a maior

participação relativa do setor 2004 (94,02%), como indica a Tabela 1. A

administração dos investimentos dos fundos constituídos pelas entidades, pode ser

por elas próprias realizadas ou delegada a instituições financeiras habilitadas pelo

Banco Central.

TABELA 1 PARTICIPAÇÃO DOS DIFERENTES TIPOS DE ENTIDADES ABERTAS DE PREVIDÊNCIA

COMPLEMENTAR – DEZ/004 Entidades Participação

Entidades Abertas com Fins Lucrativos 0,05% Entidades Abertas sem Fins Lucrativos 5,93% Seguradoras 94,02% Fonte: Susep, Internet,

Atualmente, o tipo de plano mais comum segundo a Associação Nacional

da Previdência Privada - ANAPP, é o chamado Plano Geral de Benefícios Livres

(PGBL), regulamentado pela Resolução nº 006 do CNSP (Conselho Nacional de

Seguros Privados), de novembro de 1997.

Nesta modalidade, o participante pode decidir sobre o perfil das

aplicações do fundo constituído para financiar seus benefícios individuais, bem como

optar por contribuições mensais, bimestrais, semestrais ou anuais.

O benefício pode ter a forma de renda vitalícia ou temporária, sendo

também possível o resgate do saldo acumulado. O valor do benefício é calculado ao

término do período de contribuições, com base no valor do saldo da reserva

matemática de benefícios a conceder acumulado pelo participante (Item 24, do

Regulamento Anexo à Resolução CNSP 25/1994; e art.16, §1º e art. 1º,

Regulamento Anexo à Resolução CNSP 0006/1997.

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O crescimento significativo nos últimos anos se deve a estabilização

monetária posterior ao Plano Real e à possibilidade, a partir de 1996, de dedução

das contribuições a esses planos até o limite de 12% da renda bruta anual declarada

à Receita Federal para fins de tributação. (FENAPREVI, disponível em

http://www.fenaprevi.org.br/Site/secao/729).

A Tabela 2 a seguir evidencia a carteira de investimentos da Previdência

Privada Aberta no Brasil, entre os anos de 1998 e 2004.

TABELA 2 – RECEITA E CARTEIRA DE INVESTIMENTOS DA PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA NO BRASIL – 1998 a 2004

Anos Receita de Planos Previdenciários

Variação (%)

Carteira de Investimentos

Variação (%)

1998 3.185 47,20 8.376 33,92 1999 3.803 19,42 12.72 51,93 2000 5.093 33,91 16.557 30,11 2001 7.344 44,19 24.220 46,26 2002 9.426 28,34 32.012 32,17 2003 14.615 55,05 48.473 51,42 2004 18.779 28,49 65.988 36,13

Fonte: ANAPP

A regulamentação e a fiscalização das entidades abertas de previdência

complementar no Brasil são de responsabilidade da Superintendência de Seguros

Privados - SUSEP. Os fundos de investimento constituídos em seus planos, bem

como as instituições financeiras que os administram, são fiscalizados pelo Banco

Central. Os bens garantidores das reservas são custodiados e não podem ser

alienados ou agravados sem prévia autorização oficial. Alterações nas tabelas e

disposições regulamentares dos planos dependem do consentimento dos órgãos

normativos e são vedadas operações comerciais ou financeiras com os dirigentes,

seus familiares e empresas de que participem.

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Os investimentos das entidades abertas de previdência complementar

estão regulamentados pela Resolução do Conselho Monetário Nacional nº 2.286, de

junho de 1996, alterada pela Resolução nº 2.639, de agosto de 1999. De acordo

com esta resolução, os recursos garantidores das reservas técnicas não

comprometidas das entidades podem ser aplicados da seguinte forma:

- até 100% em títulos de emissão do Tesouro Nacional ou do Banco

Central do Brasil;

- até 80% em instrumentos de renda fixa: títulos públicos estaduais ou

municipais, depósitos a prazo, cadernetas de poupança, fundos de investimento,

ouro, fundos de investimento no exterior, debêntures de emissão pública, letras de

câmbio, letras hipotecárias e certificados de privatização, entre outros;

- até 50% em investimentos de renda variável: ações ou quotas em

fundos mútuos de investimento em ações;

- até 30% em imóveis urbanos ou em quotas de fundos de investimento

imobiliário;

- até 10% em empréstimos concedidos a participantes.

A parcela comprometida dos recursos garantidores das reservas pode ser

aplicada de acordo com os seguintes limites:

- até 100% em títulos de emissão do Tesouro Nacional ou do Banco

Central do Brasil;

- até 60% em instrumentos de renda fixa: depósitos a prazo, cadernetas

de poupança, letras de câmbio, letras hipotecárias, fundos de investimento, ouro e

fundos de investimento no exterior;

- até 50% em investimentos de renda variável.

São permitidas, ainda, as aplicações em derivativos, dentro de condições

especificadas pela SUSEP.

Existem limites para o investimento em títulos, ações, debêntures ou

fundos de investimento de uma única instituição financeira, empresa ou unidade da

federação. É vedada a aplicação em empresas coligadas ou nas quais os

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administradores ou seus parentes até o segundo grau possuam participação

superior a 10%. As entidades abertas de previdência complementar não podem

atuar como instituição financeira, concedendo empréstimos ou adiantamentos a

pessoas físicas ou jurídicas, ressalvadas as exceções previstas nesta

regulamentação. É proibida a aplicação dos recursos fora do país, a não ser por

meio dos fundos de investimento no exterior.

3.2.2 - Entidades Fechadas de Previdência Complementar Privada

As Entidades Fechadas de Previdência Complementar, também

denominadas fundos de pensão, são entidades sem fins lucrativos, com adesão

somente permitida a empregados de uma empresa ou grupo de empresas,

denominada(s) patrocinadora(s). Há, portanto, a necessidade legal de vínculo

empregatício e de contribuições da empresa patrocinadora, conforme condições

contratuais. Tais entidades recebem contribuições dos empregados e da empresa, e

realizam investimentos com a finalidade de garantir aos participantes o pagamento

de benefícios complementares aos da previdência social pública. Neste segmento,

predomina o sistema de benefício definido, embora haja tendência crescente de

migração para modelos de contribuição definida, especialmente em fundos

patrocinados por empresas privadas. As entidades fechadas são fiscalizadas pela

Secretaria de Previdência Complementar, do Ministério da Previdência e Assistência

Social (SPC/MPAS).

Os fundos de pensão são formadores de um sistema endógeno de

poupança interna e se caracterizam como detentores de poupança de longo prazo.

O desenvolvimento do setor pode contribuir favoravelmente para a expansão da taxa

de poupança interna, fator fundamental para viabilizar os investimentos necessários

à sustentação do crescimento econômico. A exemplo do que ocorre com os

investidores institucionais em outros países, os fundos de pensão efetivamente têm

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assumido importância crescente na economia brasileira, com significativa expansão

de seus ativos. A proporção desses recursos em relação ao PIB avançou

rapidamente ao longo da década, atingindo R$ 321,6 bilhões em 2005, valor

equivalente a 16,5% do PIB (MPAS, disponível em: http://www.mpas.gov.br/spc). A

evolução dos ativos dos fundos de pensão em relação ao PIB está representada na

Tabela 3 a seguir.

TABELA 3 – ATIVOS DE FUNDO DE PENSÃO DE 1996 a 2005

Ano Ativos dos Fundos de Pensão (R$ Bilhões)

Ativo / PIB (%)

1996 74,7 11,1 1997 90,9 11,6 1998 93,3 11,1 1999 126,0 12,9 2000 144,3 13,1 2001 170,0 14,3 2002 188,0 14,1 2003 239,7 15,4 2004 281,8 15,9 2005 321,6 16,5

Fonte: Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Privada (ABRAPP)

Em abril de 2001, havia 361 entidades fechadas de previdência

complementar, as quais contavam com 2,3 milhões de participantes, dos quais 1,7

milhões de ativos e 539 mil inativos.

Os grandes fundos das empresas estatais têm mantido a administração a

cargo de equipes próprias, mas aumentou nos últimos anos a opção pela

terceirização da gestão dos recursos, que pode envolver a entrega direta de

recursos, aplicações em fundos exclusivos ou gestão compartilhada.

Esse processo foi iniciado pelos fundos de pensão patrocinados por

empresas multinacionais com base no modelo adotado em seus países de origem,

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sendo seguido pelos fundos menores, que têm dificuldades para arcar com os

custos de uma equipe própria.

Por serem investidores de longo prazo e por administrarem recursos de

terceiros, os fundos de pensão realizam suas aplicações de acordo com o princípio

básico de minimização do risco. A Tabela 4 apresenta a distribuição e a evolução

desses investimentos.

TABELA 4 – DISTRIBUIÇÃO DOS ATIVOS DAS ENTIDADES FECHADAS DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR – 1998 a 2005 (%)

Discriminação 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005*

Ações 19,2 26,3 23,6 18,5 15,8 19,0 20,0 20,3 Imóveis

10,7 8,8 8,0 6,8 6,7 5,4 4,5 4,2 Depósitos à Prazo

9,7 4,6 3,2 3,1 2,3 1,2 0,9 1,1 Fundos – Renda Fixa

22,8 31,6 36,7 40,4 41,0 44,6 46,6 46,4 Fundos – Renda Variável

10,2 12,2 11,4 10,5 11,9 10,0 10,1 10,4 Empréstimos a Participantes

1,9 1,6 1,8 1,8 1,9 1,8 1,9 1,9 Financiamento Imobiliário

4,4 3,4 2,9 2,5 2,0 1,6 1,2 0,8 Debêntures

3,6 2,5 2,0 2,1 2,2 1,7 1,4 1,2 Títulos Públicos

6,5 6,3 6,6 11,3 13,3 12,7 11,7 12,1 Outros 2,6 2,6 3,6 2,9 2,7 2,1 1,7 1,6

Operações com Patrocinadoras 8,4 0,1 0,2 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0

Fonte: ABRAPP

* Dados de Setembro-2005

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Pode-se notar substancial aumento da participação das aplicações em

renda fixa e decréscimo relativo da importância dos investimentos em imóveis e do

financiamento imobiliário.

As modificações observadas decorrem da evolução do cenário

econômico-financeiro e, também, do direcionamento das aplicações realizado

através de legislação específica.

Inicialmente, os fundos de pensão estavam sujeitos às exigências de

limites mínimos de aplicação em determinados ativos, o que implicava a

compulsoriedade destes investimentos. A Resolução 460, de 1978, consolidada na

Resolução CMN 1.362, de 1987, fixou percentuais mínimos de aplicação para as

diversas modalidades de investimentos, a maioria até então pouco utilizada pelos

fundos, que foram compelidos a diversificar sua carteira. Percebe-se nesta

legislação uma preocupação com a excessiva concentração das carteiras das

entidades de previdência.

Adicionalmente, a Resolução 460 estabeleceu limites para o

relacionamento dos fundos com as empresas patrocinadoras, visando impedir que

estas subordinassem as entidades de previdência privada aos seus interesses. A

norma também vedou às entidades o controle acionário de qualquer empresa,

restringiu a atuação dos fundos ao território nacional e estabeleceu que no mínimo

75% da carteira dos fundos deveriam ser constituídas por papéis emitidos por

empresas nacionais.

O processo de diversificação das carteiras dos fundos previdenciários

privados beneficiou-se do desenvolvimento verificado nos mercados financeiros

nacionais e internacionais. As entidades passaram a contar com novos instrumentos

financeiros, alguns dos quais capazes de expô-las a níveis elevados de risco. A

Resolução CMN 2.109, de 1994, foi editada nesse contexto, estabelecendo limites

máximos para as aplicações, ao invés de definir limites mínimos, e fixando restrições

à aplicação dos recursos no mercado de derivativos.

A Resolução CMN 2.206, de 1995, introduziu outras restrições à

alavancagem de recursos por meio de derivativos. Essa norma limitou a proporção

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do valor total dos ativos que podem ser aplicados a descoberto nesses mercados,

procurando induzir os fundos de pensão a atuar nos mercados de derivativos como

hedgers (segurança) e não como especuladores. Para que os fundos se

qualificassem para participar do Programa Nacional de Desestatização - PND,

exigiu-se que as aplicações em ações fossem realizadas exclusivamente em

companhias de capital aberto. Esse dispositivo permitiu participação intensa dos

fundos de pensão mais capitalizados no PND.

As aplicações no exterior dos fundos de pensão foram possibilitadas pela

Resolução 2.109, de 1994, que permitiu investimentos na área do MERCOSUL.

A partir da Resolução 2.114, de 1994, foram também permitidas

aplicações de recursos em fundos de investimento no exterior. Já a Resolução CMN

2.324, de 1996, introduziu alterações nos limites de aplicações dos fundos de

pensão:

- redução do limite máximo dos empréstimos pessoais aos participantes,

de 7% para 3% dos ativos;

- redução do limite máximo dos financiamentos imobiliários aos

participantes, de 10% para 7% dos ativos;

- redução do limite para aplicações em imóveis, de 20% para 15% dos

ativos;

- redução do limite para compra de terrenos, de até 5% para até 2% dos

ativos;

- redução do limite para aplicações em ações de uma única companhia,

de 25% para, no máximo, 20% do capital da mesma;

- redução do limite para aplicações em cotas de fundos mútuos de

investimento em empresas emergentes, de 50% para 5%, sendo que essas

aplicações não podiam exceder 20% do patrimônio líquido do fundo de investimento;

- redução do limite para aplicações em fundos de investimento imobiliário,

de 50% para 10%, não podendo exceder 20% do patrimônio líquido do fundo de

investimento;

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- redução do limite máximo de empréstimos às patrocinadoras, de 30%

para 10% dos ativos;

- aplicações em ações e bônus de subscrição de ações de uma única

companhia não podiam exceder 5% dos recursos, nem representar mais de 20% do

capital votante ou do capital total da mesma;

- aplicações em cotas de um único fundo de investimento imobiliário ou

fundo mútuo de investimento em empresas emergentes foram limitadas a 20% do

patrimônio líquido do fundo.

A Resolução 2.720, de 24 de abril de 2000, restringiu ainda mais as

operações com imóveis e entre os fundos e suas patrocinadoras, e manteve a

exigência de rentabilidade nas aplicações realizadas pelos fundos.

Prevaleceu o cuidado com a exposição ao risco, verificada tanto ao

estipular limites máximos prudenciais para a posse dos ativos, como por contemplar

a utilização de derivativos em busca de proteção (hedge) contra a posição de risco

dos demais investimentos. Uma inovação foi a introdução do segmento especial,

que compreendia investimentos em projetos de infra-estrutura nas áreas de energia

e saneamento e em ações ou debêntures de companhias abertas em processo de

reestruturação.

A Resolução 2.720 foi suspensa pelas Resoluções 2.791, de novembro

de 2000, e 2.810, de dezembro do mesmo ano, "... até que concluídos os estudos

relativos à revisão das disposições da referida Resolução..." (Resolução 2.791/2000,

art. 1), voltando a vigorar a Resolução 2.324, de 1996.

A nova regulamentação referente às aplicações dos fundos de pensão foi

estabelecida pela Resolução 2.829, de março de 2001, que prevê investimentos em

quatro segmentos: renda fixa, renda variável, imóveis e empréstimos e

financiamentos. Cada segmento deve ser administrado de forma independente,

como se fosse um fundo de investimento distinto.

Essas diretrizes reforçam tendências verificadas nas resoluções

anteriores, entre as quais: estipulação de limites prudenciais para os diversos

segmentos de aplicações; restrições às operações com a patrocinadora e com

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imóveis, incluindo a redução gradual dos investimentos imobiliários e a eliminação, a

partir de 2005, dos investimentos em terrenos; e exigência de rentabilidade mínima

em aplicações nos segmentos de imóveis e de empréstimos e financiamentos.

Entre as principais novidades, vale destacar o incentivo ao investimento

em ações de empresas que estejam em conformidade com as práticas requeridas de

governança corporativa, por meio da fixação de limites máximos mais elevados para

as aplicações em tais companhias. As entidades fechadas de previdência

complementar devem também manter contrato com serviço de auditoria

independente e agente custodiante, incumbido do controle e movimentação dos

títulos e valores mobiliários, da liquidação financeira das operações e da

documentação e das informações relativas às aplicações em renda fixa e em renda

variável.

Os administradores dos fundos passam a responder "... por ação ou

omissão, pelos danos ou prejuízos que causarem à entidade fechada de previdência

privada, inclusive em razão da não observância da política de investimento de seus

recursos, ou pela utilização de critérios inconsistentes de avaliação de risco"

(Resolução 2.829, Art. 54).

O Decreto 3.721, de janeiro de 2001, alterou a idade mínima para a

concessão de aposentadoria nos fundos de pensão. Esse limite mínimo, que era de

55 anos, será estendido em seis meses a cada ano, nos planos de contribuição

definida, até alcançar 60 anos, em 2010. Para os demais planos, a idade mínima

será estendida no mesmo ritmo, porém, até 2020, atingindo 65 anos. De acordo com

a Secretaria de Previdência Complementar, em janeiro de 2001, 51,7% dos planos

de previdência complementar fechada já adotavam idades mínimas para

aposentadoria iguais ou superiores a 60 anos. Entre esses planos, encontravam-se

86,4% dos planos com patrocinadoras estrangeiras e 52,4% dos planos com

patrocinadoras privadas nacionais, mas apenas 5,1% dos planos patrocinados por

empresas públicas federais (Ministério da Previdência e Assistência Social, 2000,

págs. 5 e 6).

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3.3. Principais alterações mais recentes na legislação sobre a Previdência

Complementar Privada

3.3.1 - As Leis 108 e 109/2001

Em 30 de maio de 2001, foram sancionadas as Leis 108 e 109 que

dispõem sobre o regime de previdência complementar no país.

A Lei 108 trata das relações entre os fundos de pensão dos órgãos

públicos e seus patrocinadores, determinando a paridade entre as contribuições dos

patrocinadores e dos participantes, inibindo o controle dos fundos pelos

patrocinadores e estabelecendo quarentena para os administradores dos fundos ao

deixarem seus cargos.

A Lei 109 define as normas gerais para o funcionamento das entidades

fechadas de previdência complementar. Uma das principais novidades é o

estabelecimento de normas para a implantação dos institutos do benefício

proporcional diferido (vesting) e da portabilidade. O benefício proporcional diferido

consiste no direito, facultado ao participante, de ao abdicar do vínculo com a

patrocinadora antes de adquirir o direito ao benefício pleno, usufruir um benefício de

aposentadoria proporcional ao tempo de participação no plano (Lei 109, art. 13).

A portabilidade, por sua vez, refere-se à possibilidade de transferência,

pelo participante, das reservas constituídas em seu nome, por ele e pela

patrocinadora, para outra entidade de previdência complementar, aberta ou fechada.

3.3.2. Órgão Regulador e Normativo da Previdência Complementar Privada

As entidades fechadas de previdência privada (EFPPs) foram

consideradas complementares ao sistema oficial de previdência e assistência social.

A constituição depende da autorização da Secretaria de Previdência Complementar

(SPC), sendo esta subordinada ao Ministério da Previdência e Assistência Social

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(MPAS). O órgão normativo do sistema é o Conselho de Gestão da Previdência

Complementar (CGPC) e o órgão executivo é a SPC.

Já as entidades abertas de previdência privada (EAPPs) foram integradas

ao Sistema Nacional de Seguros Privados (SNSP), que é subordinado à

Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), e ambos vinculados ao Ministério

da Fazenda. O órgão normativo é o CNSP e o executivo é a SUSEP.

As atribuições dos órgãos normativo e executivo, tanto das EFPPs quanto

das EAPPs, são bastante semelhantes. Aos órgãos normativos cabe fixar diretrizes

e normas; regular a constituição, organização, funcionamento e fiscalização;

estipular as condições de custeio e investimento; estabelecer as características

gerais para planos de benefícios e as normas gerais da atuária e contabilidade;

entre outras atribuições.

Os órgãos executivos são responsáveis por processar os pedidos para

autorização, constituição, funcionamento, fusão, incorporação, grupamento,

transferência de controle e reformas de estatutos das entidades, bem como por

fiscalizarem a execução das normas fixadas pelos órgãos normativos e a política de

investimentos fixada pelo CMN, inclusive aplicando as penalidades previstas na

própria lei no caso de constatação de alguma irregularidade.

4. Previdência Social Pública e Previdência Complementar Privada

4.1 – Aspecto populacional brasileiro

O último censo populacional brasileiro realizado pelo IBGE foi no ano de

2000, censo este que ocorre de dez em dez anos, apontou que o Brasil possui

aproximadamente 169.799.170 habitantes. A população brasileira nas últimas três

décadas é mostrada na tabela abaixo:

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Tabela 1: números da população total brasileira

População Homens Mulheres Zona Rural Zona Urbana

1980 119.002.706 49,68 50,32 32,41 67,59 1990 146.825.475 49,36 50,64 24,41 75,59 2000 169.799.170 49,22 50,78 18,75 81,25

Fonte: IBGE

Em janeiro de 2004, a população brasileira ultrapassou os 180 milhões de

habitantes, segundo projeções do IBGE. Na última década o crescimento

populacional brasileiro ficou na marca de 1,6%, ou seja, houve uma redução no ritmo

de crescimento da mesma, devido a queda na taxa de natalidade, ao avanço da

mulher no mercado de trabalho e a massificação da utilização de métodos

contraceptivos.

Outra característica da população brasileira é o fato de ser composta em

sua maioria por mulheres, em números absolutos o excedente feminino foi de 2,5

milhões em 2000 e a tendência é de esse número só aumentar com o passar dos

anos, como notamos ao analisar a tabela 1.

Dos 180 milhões de habitantes que o País possuía em 2004, 81,25%

encontravam-se na zona urbana (algo em torno de 146 milhões) e 18,75% na área

rural (em torno de 34 milhões de pessoas). Podemos visualizar na tabela 1 na qual

demonstra que o percentual da população da zona rural vem diminuindo a cada

década, ou seja, com o passar dos anos mais pessoas vão para a zona urbana.

A população brasileira também vem mudando o seu perfil em relação a

sua composição etária. Podemos representar a estrutura da população em forma de

pirâmide classificada em base larga da pirâmide, corpo afunilado e o ápice da

pirâmide. A base larga da mesma corresponde às pessoas com faixa etária entre 15

e 64 anos, representando 65% da população, o corpo afunilado da pirâmide

corresponde aos jovens do país, indivíduos com faixa etária de 0 a 14 anos, que

representam aproximadamente 30% da população brasileira e o ápice da pirâmide

corresponde às pessoas com idade superior a 65 anos, perfazendo 5% da

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população. Nas últimas décadas houve uma mudança nessa estrutura etária que foi

decorrente de vários fatores, como a queda das taxas de natalidade e mortalidade e

elevação da expectativa de vida, provocando um acréscimo no crescimento

vegetativo.

Tabela 2: População por faixa etária e tipo de zona Faixa etária População Zona Urbana Zona Rural

10 – 14 17.348.067 13.530.190 3.817.877

15 – 19 17.939.815 14.403.539 3.536.276

20 – 24 16.141.515 13.352.132 2.789.383

25 – 29 13.849.665 11.570.969 2.278.696

30 – 39 25.290.473 21.244.667 4.045.806

40 – 49 19.268.235 16.222.640 3.045.595

50 – 59 12.509.316 10.221.654 2.285.662

60 em diante 14.536.029 11.825.829 2.710.200

Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2000.

A base larga da pirâmide, que engloba a população com faixa etária de 15

a 64 anos, corresponde à população que está apta para trabalhar ou

economicamente ativa para o mercado de trabalho. População economicamente

ativa (PEA) compreende o potencial de mão-de-obra com que pode contar o setor

produtivo, isto é, a população ocupada e a população desocupada, que podemos

definir assim: população ocupada são aquelas pessoas que num determinado

período de referência, trabalharam ou tinham trabalho. As pessoas ocupadas

dividem-se em empregados, aqueles que trabalham por conta própria,

empregadores e os não remunerados (assistência social). Já a população

desocupada são aquelas pessoas que não tinham trabalho, num determinado

período de referência, mas estavam dispostas a trabalhar, e que para isso, tomaram

alguma providência efetiva (consultando pessoas, jornais, ou seja, correndo atrás).

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A taxa de participação mede a pressão da oferta de trabalho sobre o

mercado de trabalho. Essa taxa resulta da relação entre a PEA e a população em

idade ativa (PEA/PIA) indicando, portanto, a proporção de pessoas com dez anos ou

mais que fazem parte do mercado de trabalho, como ocupadas ou desempregadas.

No Brasil, considera-se a idade de 10 anos como limite inferior de idade

para demarcar a população economicamente ativa. Visualiza-se, no gráfico 1, a

distribuição da população economicamente ativa por faixa de idade.

Gráfico 1: População Economicamente ativa 2004

Fonte: IBGE (PNAD 2004)

Observa-se que a faixa inicial agrupa o menor índice de pessoas

ocupadas (faixa de 10 a 14 anos), enquanto o auge de pessoas ocupadas encontra-

se na faixa etária de 30 a 39 anos.

A reorganização econômica, caracterizada pelo processo de globalização,

provocou alterações nas estruturas produtivas da economia brasileira e,

consequentemente, mudanças no mercado de trabalho. Essas mudanças refletiram-

se nas características setoriais de emprego, trazendo uma grande preocupação

quanto às relações de trabalho e a crescente taxa de desemprego. A reorientação

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do modelo de desenvolvimento, que transitou de proteção ao setor industrial para

uma economia aberta com estabilidade de preços, a partir de 1993, originou

profundas mudanças no mercado de trabalho brasileiro. Os postos de trabalho no

setor primário e secundário foram reduzidos, enquanto que, no setor terciário houve

aumento dos empregos, mas não suficiente para absolver todos os trabalhadores

liberados dos demais setores. A participação dos trabalhadores no mercado informal

no ano de 2004 representou cerca de 54% da população economicamente ativa,

dado este que nos leva o concluir que a proporção de trabalhadores na

informalidade é superior a quantidade de trabalhadores no mercado formal2.

Com os dados citados, podemos perceber que o mercado de trabalho no

Brasil apresenta muitos problemas, que se agravam com o nível de qualificação dos

trabalhadores, que é deficiente, com pessoas com baixo nível de escolaridade e que

não possuem cursos de qualificação profissional. Os dados da tabela 3 sobre os

rendimentos da população por faixas de rendimentos refletem esses problemas. A

população ocupada brasileira (população esta que junta as pessoas que trabalham

no mercado formal e informal) concentra-se na faixa salarial de até dois salários

mínimos que chega a alcançar a incrível marca de 67% da população ocupada

(considerando as pessoas que não possuem rendimento), enquanto as pessoas que

possuem qualificação e elevado grau de instrução concentram-se na faixa salarial de

mais de cinco salários mínimos, faixa esta que não chega a atingir 11% da

população brasileira.

2 Mercado formal engloba as pessoas que trabalham com carteira assinada, militares e estatutários e o mercado informal os empregados sem carteira assinada, os trabalhadores por conta própria

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Tabela 3: População ocupada por faixa de rendimento

Por faixa Salarial População Percentual sobre o total

Até 1 salário mínimo 23.355.490 27,61

Mais de 1 a 2 salários 24.116.435 28,51

Mais de 2 a 5 salários 17.778.233 20,97

Mais de 5 a 10 salários 5.551.794 6,56

Mais de 10 salários 3.119.752 3,69

Sem rendimento 9.444.814 11,16

Sem declaração 1.269.776 1,50

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD, IBGE, 2004.

4.2 – Previdência Pública e Previdência Complementar Privada: a quem elas

beneficiam

Analisando os dados anteriores, referentes à PEA, nível de renda, tipo de

área onde mora, é possível tirar algumas conclusões em relação às pessoas que

fazem adesão a um plano de previdência complementar privada, o que no país

refere-se a poucas pessoas, ou seja, um conjunto a que se pode chamar de

privilegiado.

A tabela 1 mostrou que o país possui uma maioria de pessoas do sexo

feminino. As mulheres, segundo a ANAPP, não eram o alvo do mercado de

previdência privada por ser o homem o chefe da casa, sendo ele que tomava a

frente dos investimentos e aplicações da família. Essa mentalidade veio mudando

nos últimos anos com a intensificação da presença feminina no mercado de trabalho,

em algumas vezes chegando a receber salários maiores que dos homens. Dessa

forma, as operadoras de previdência privada começaram a buscar maneiras de atrair

as mulheres para um de seus planos.

(autônomos), os empregados domésticos e os trabalhadores não remunerados.

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Outro aspecto importante a ser levado em conta é com relação ao tipo de

área em que as pessoas residem. De acordo com os dados da tabela 1, o país

possui 18,75% de sua população na área rural, o que representa aproximadamente

34 milhões de pessoas. Essa população não faz parte da previdência privada por

vários motivos: não detêm informações sobre esse assunto; e também não possuem

renda para aderir a um plano deste e, em grande parte, não contribuem nem mesmo

para a previdência pública porque trabalham com agricultura ou pecuária, não

possuindo carteira assinada e, além disso, o trabalho é sazonal, ou seja, tem um

período em que iram trabalhar e outros que ficaram sem o que fazer, e por este

motivo não consegue contribuir para a previdência social. Não ficarão descobertos

quanto chegarem à idade de se aposentarem, pois o governo criou planos na

previdência pública para dar um salário mínimo a essas pessoas.

Agora olhando a tabela 3, que divide a PEA por faixa de rendimento,

notamos que 27% das pessoas ocupadas no mercado de trabalho brasileiro

recebem até um salário mínimo. Essas pessoas não podem nem sonhar em aderir a

um plano de previdência complementar, talvez nem saibam do que se trata, pois sua

renda só lhe permite pensar em como fazer para pagar suas contas e alimentar-se.

Para esta população que ocupa essa faixa de rendimento, a previdência pública é a

única saída, se for pensar no futuro, até porque ela é obrigatória.

Na segunda faixa da tabela 3, que integra as pessoas que recebem mais

de um salário até dois salários mínimos, esta faixa chega a atingir quase 29% das

pessoas ocupadas. Podemos concluir que essas pessoas também se encontram

fora da previdência complementar, apesar de já terem ouvido falar ou conhecerem

superficialmente. O fato é que sua renda não lhe permite fazer a adesão a um plano

de previdência complementar. Esta camada da população também é coberta,

integralmente, pela previdência pública.

Temos de olhar ainda a faixa da mesma tabela que expõe a população

que se encontra sem rendimento, que chega a marca de 11% das pessoas que

podem trabalhar, ou seja, podemos inferir que esta população encontra-se

desempregada ou por algum motivo não consegue trabalho. As pessoas que esta

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faixa engloba estão fora da previdência complementar e ao mesmo tempo estão fora

da previdência pública por não possuírem renda, porém esse grupo de pessoas não

ficará sem renda quando alcançarem à idade mínima para se aposentarem, pois o

governo irá proteger essa camada da população através dos planos assistenciais da

previdência social, plano este que como vimos no capítulo 1 vem crescendo com o

passar dos anos.

As pessoas que possuem rendimentos na faixa salarial de mais de dois

salários até cinco salários mínimos, como demonstra a tabela 3, é equivalente a 21%

da população ocupada. Nesta camada, todas as pessoas estão cobertas pela

previdência pública (por coberta, entende-se que contribuem para a mesma) e como

sabem que a previdência social vem passando por dificuldades e que a cada nova

reforma limita ainda mais o teto máximo de aposentadoria, elas começam a buscar

alternativas para que possam manter sua renda ao aposentarem-se e recorrem à

previdência complementar. Mas dentro desta camada da população não são todos

que irão poder aderir a um plano deste, pois sua adesão dependerá de uma série de

fatores, dentre os quais: se há recursos disponíveis em seu orçamento familiar

mensal, do número de pessoas que daquela renda dependem; do nível de

informação que possuem sobre a previdência privada, o que segundo a ANAPP está

geralmente associado ao grau de instrução que as pessoas possuem; e

principalmente da cultura de cada pessoa em pensar no futuro, o que, no caso

brasileiro, ainda é muito pequena. Porém, de todos os fatores listados acima, o que

realmente irá pesar é o fato de sobrar ou não recursos no orçamento mensal, já que

as operadoras de previdência privada, já preocupadas em atender a uma faixa mais

baixa da população, oferecem planos a partir de cinqüenta reais por mês.

Do pessoal que ocupa a faixa da tabela 3, que compreende quem ganha

mais de cinco salários a dez salários mínimos, estamos falando de 6,56% da

população ocupada brasileira, faixa esta que é coberta pela previdência pública e

que também é disputada pela previdência complementar, este é o publico que as

operadoras de previdência privada estão buscando no momento. Essas pessoas

contribuem para a previdência pública, mas já enxergam que terão problemas no

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futuro quanto forem requerer sua aposentaria pelos motivos já citados no capitulo

anterior, logo a manutenção do padrão de vida que essas pessoas detinham fica

seriamente comprometido e é nessa insegurança com relação ao futuro que terão é

que entra a previdência complementar. Esta é encarada, para essa população, como

uma maneira de manter seu padrão de vida quando do recebimento dos benefícios

da previdência pública. Abaixo temos algumas simulações de quanto é necessário

pagar por mês, por quanto tempo, para produzir seus rendimentos futuros, nesta

simulação consideraremos que o beneficiário quer manter uma renda de dez salários

mínimos (R$ 3800,00) por mês e levando em conta que o teto máximo do INSS é de

R$ 2800,00 (aproximadamente) ele precisaria buscar R$ 1000,00 reais no mercado

privado de previdência.

Simulação para a população que ganha mais de 5 a 10 salários

Contribuição

Mensal

Idade Atual Idade de

Aposentadoria

Reservas

Acumuladas

Renda Mensal

Estimada

51,53 18 65 153.900,00 1000,00

80,28 25 65 153.900,00 1000,00

111,50 30 65 153.900,00 1000,00

157,16 35 65 153.900,00 1000,00

226,46 40 65 153.900,00 1000,00

337,76 45 65 153.900,00 1000,00

Fonte: Icatu Hartford *considerando que a contribuição seja feita mensalmente e que a rentabilidade anual seja de 6% * que o tipo de renda seja vitalícia * e que não seja feito nenhum tipo de aporte de capital durante o período

Para a população que ganha mais de dez salários mínimos, que como

mostra a tabela 3 corresponde a 3,69% da população ocupada (algo em torno de

três milhões e duzentas mil pessoas) a previdência complementar privada é,

praticamente, uma obrigação porque esta camada da população ultrapassa o teto

máximo de concessão de beneficio do INSS, logo terão seus rendimentos reduzidos

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e para não terem reduzido o seu padrão de vida, recorrem à previdência

complementar. Abaixo segue algumas simulações sobre a previdência privada para

que possamos ter uma noção de quanto ela é importante para a complementação da

renda das pessoas desta faixa. Nesta simulação levaremos em conta que ao se

aposentarem, essas pessoas queiram receber uma renda equivalente a quinze

salários mínimos (R$ 5700,00) levando em conta que R$ 2800,00 viriam da

previdência pública eles teriam de buscar algo em torno de R$ 2900,00 na

previdência complementar.

Simulação para a população que ganha mais de 10 salários

Contribuição

Mensal

Idade Atual Idade de

Aposentadoria

Reservas

Acumuladas

Renda Mensal

Estimada

232,82 25 65 446.310,00 2900,00

323,35 30 65 446.310,00 2900,00

455,76 35 65 446.310,00 2900,00

656,74 40 65 446.310,00 2900,00

979,51 45 65 446.310,00 2900,00

1548,03 50 65 446.310,00 2900,00

Fonte: Icatu Hartford *considerando que a contribuição seja feita mensalmente e que a rentabilidade anual seja de 6% * que o tipo de renda seja vitalícia * e que não seja feito nenhum tipo de aporte de capital durante o período

Complementando esta análise, muitos jovens que hoje ingressam no

mercado de trabalho e que já enxergam as dificuldades que a previdência social tem

de manter o padrão dos benefícios e que também recebem remuneração que lhe

proporciona a retirada de uma quantia fixa por mês destinada a esse fim recorrem à

previdência complementar até porque, quanto mais cedo aderirem ao plano, mais

barato será o prêmio a ser pago e mais cedo ele poderá usufruir dos benefícios da

mesma.

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Há também pessoas com faixa etária considerada já avançada para aderir

a um plano de previdência complementar (de 45 anos em diante) que já o fazem,

mas é claro são pessoas que no momento atual estão com a sua vida financeira

equacionada e possuem uma ocupação que lhe proporciona remuneração que lhes

permite possuir uma reserva de valor suficiente para fazer adesão a um plano de

previdência privada, pois o mesmo vai fazer com que ele pague um prêmio mensal

bastante elevado ou que faça um aporte de capital no seu plano, para que possa vir

a ter uma boa remuneração mensal no futuro.

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Conclusão

Em face dos dados apresentados no decorrer desta monografia, viemos a

confirmar a importância da previdência pública para a quase totalidade da população

brasileira, pois a previdência vem proteger uma grande camada da população que

não conseguiria obter recursos suficientes para que pudessem vir a manter o padrão

de vida que os mesmos levavam na época em que estavam ativos no mercado de

trabalho. A previdência pública brasileira possui a especificidade, a qual já citada no

capitulo 2, de além de proteger economicamente as pessoas que contribuíram para

a mesma, protege também as pessoas que nunca contribuíram para ela.

Porém, também vimos que ela vem passando por dificuldades que levam

a mesma a tomar medidas que não são justas com quem contribuiu a vida inteira:

dificuldades estas como benefícios definidos em regime de repartição, as altas e

crescentes taxas sobre a folha de pagamento, o mau emprego de recursos públicos,

oportunidades perdidas de aumento de poupança a longo prazo, inexistência de

redistribuição aos grupos de baixo rendimento, crescimento de uma grande dívida

publica previdenciária oculta e implícita e a inviabilidade fiscal, isso fez-se

necessário buscar novas formas de previdência que possam gerar melhorias e

sustentação do padrão de vida após a aposentadoria já que a previdência pública já

não é mais capaz de garantir.

Os benefícios da Previdência Social, em qualquer parte do mundo, não

permitem que a família, ao cessar a atividade laboral do seu chefe e provedor,

disponha da mesma renda. O fato de parar de trabalhar é uma angustiante

perspectiva. Quanto maior é o rendimento, maior será a queda. Esse risco é gerador

de intranqüilidade; é a preocupação diante das incertezas e inseguranças do

amanhã.

Como alternativa para a manutenção da renda dessa camada da

população surgiu à previdência complementar privada que é um instituto de grande

importância e de absoluta necessidade para um País moderno e urbano como o

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Brasil, que apresenta uma classe média que vem crescendo novamente, cujos níveis

de bem estar extrapolam os limites da cobertura da previdência pública.

Assim como, o mecanismo de poupança e investimento da previdência

complementar, como já citado anteriormente, é um precioso instrumento de política

econômica capaz de prestar uma valiosa contribuição ao processo de

desenvolvimento do País.

A Previdência Privada é hoje o maior investidor institucional no Brasil. Seus

ativos financeiros estão a serviço da economia nacional, fortalecendo as atividades

produtivas e servindo à política econômica, direcionadas que são suas aplicações

pelos órgãos governamentais. Aplicando compulsoriamente volumosas parcelas em

títulos públicos, ações de companhias e outras modalidades financeiras, a poupança

gerada pela Previdência Privada é o mais forte capitalizador de longo prazo da

empresa nacional e instrumento de regulagem da política econômica.

A previdência privada no Brasil tem como característica principal o fato de

complementar a renda das pessoas que alcançam o teto máximo de benefícios do

INSS e dessa forma criar uma alternativa para que as pessoas possam vir a

desfrutar de uma aposentadoria decente e digna do padrão de vida que gozaram a

vida inteira.

Acredita-se que nos próximos anos, em virtude não só da nova estrutura

do mercado de trabalho, como também das dificuldades e reformas constantes que

passa a previdência pública, a previdência complementar privada crescerá ainda

mais, tanto pelo setor fechado, a partir da criação da figura do instituidor e da

imposição de teto de benefícios para o funcionalismo público (caso o governo crie

fundos complementares para os respectivos funcionários), quanto para o segmento

aberto, em virtude da crescente flexibilização das relações trabalhistas e confiança

no setor por parte do público em geral.

No entanto, para que todas essas vantagens se materializem, é

indispensável que a previdência complementar brasileira se encontre assentada em

bases financeiras sólidas, para o que se requer, no cenário nacional, uma inteligente

regulamentação e uma adequada fiscalização da atividade, tanto nas entidades

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abertas quanto nas fechadas, uma política realista e uma administração austera dos

benefícios, uma determinação atuarialmente correta e uma cobrança eficiente das

contribuições e por fim uma gestão racional e honesta de seus ativos.

Com isso, podemos concluir que as duas formas de previdência são

necessárias para que um País, como o Brasil, possa garantir a sua população uma

vida honrosa no momento em que decidem parar de trabalhar, porém a previdência

pública tem que passar por uma reforma que leve em conta o bem estar do cidadão,

uma melhor gestão e não permita que se desvinculem recursos que são destinados

a este fim.

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- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Síntese de Indicadores

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ÍNDICE

5. Introdução 05

6. Previdência Social no Brasil: Antecedentes, Evolução e Situação Atual 06

6.1. Antecedentes e Evolução 07

6.2. Situação Atual 09

7. Previdência Complementar Privada no Brasil 18

7.1. Antecedentes, estrutura e tipos de planos 18

7.2. Aspectos técnicos legais da previdência complementar privada 22

3.2.1 . Entidades abertas de previdência complementar 22

3.2.2. Entidades fechadas de previdência complementar 26

7.3. As principais alterações mais recentes na legislação sobre previdência

complementar privada 33

3.3.1 . As leis 108 e 109/2001 33

3.3.2 . Órgão regulador normativo da previdência complementar privada 33

8. A previdência social pública e previdência complementar privada 34

8.1. Aspecto populacional brasileiro 34

8.2. Previdência Pública e Previdência Complementar Privada: a quem elas

beneficiam 39

Conclusão 45

Referências 48

Índice 50

Folha de Avaliação 51

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Pós-Graduação “Lato Sensu”

Título: PREVIDÊNCIA SOCIAL x PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR

PRIVADA

A QUEM ELAS BENEFICIAM DE FATO

Data da Entrega: 02/10/2008

Avaliado por: Jorge Tadeu Vieira Lourenço Grau: _____________ Rio de Janeiro, ______ de ___________ de 2008.