A questão do gênero na arte e nos quadrinhos

Daniervelin Pereira

A questão do gênero na arte

Elementos formais de uma imagem Linhas: podem ser sugeridas, ao invés de delimitadas

formalmente. Cor: um dos elementos mais poderosos e versáteis.

Podemos usar uma só ou combinar cores (mais quentes ou mais frias). Até a ausência de cor é significativa.

Luz e sombra: os efeitos entre luz e sombra com mais ou menos contraste provocam sensações, impressões.

Formas: mais ou menos definidas, com linhas, cores ou luzes e sombras, dependendo do efeito buscado.

Espaço: área organizada em fundo e assunto (enfoque), com maior ou menor profundidade. É com ele que definimos como o olhar da pessoa vai “navegar” pela imagem. De preferência parando nos assuntos principais.

Um exemplo

Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901). Pintor pós-impressionista e litógrafo francês. Frequentador assíduo do Moulin Rouge, tornou

esse espaço e sua vida boêmica o tema principal de suas pinturas e cartazes.

●“Toulouse-Lautrec revolucionou o design gráfico dos cartazes publicitários, ajudando a definir o estilo que seria posteriormente conhecido como Art Nouveau” (http://modernidadeartes.blogspot.com.br/2013/03/toulouse-lautrec-o-pequeno-gigante.html)

●A partir de suas produções, podemos entender um pouco sobre a visão da mulher na época retratada e refletir sobre ela.

Auto-retrato caricaturado (1882)http://pt.wikipedia.org/wiki/Henri_de_Toulouse-Lautrec#mediaviewer/File:Lautrec_karikatura2.jpg

http://nabidirc.rotaractsetelagoas.com.br/wp-content/uploads/2014/08/moulin_rouge.jpg

Moulin Rouge.Fonte: https://cache-graphicslib.viator.com/graphicslib/thumbs674x446/5022/SITours/moulin-rouge-show-paris-in-paris-116546.jpg

http://4.bp.blogspot.com/_rksLb8Da6r0/TSxLPxmr5FI/AAAAAAAABH0/dpyEPXaUEKw/s400/16.jpg Cartaz de Toulouse-Lautrec

http://artmight.com/albums/2011-02-07/art-upload-2/t/Toulouse-Lautrec-Henri-De/lautrec-la-troupe-de-mlle-eglantine-poster-1895-6.jpg

Cartaz de Toulouse-Lautrechttp://3.bp.blogspot.com/_rksLb8Da6r0/TSxK08s8BXI/AAAAAAAABHs/qyg02hp02rs/s1600/15+Joyeux_Moulin_Rouge.jpg

Cartaz de Toulouse-Lautrec

http://www.shafe.co.uk/crystal/images/lshafe/Toulouse_Lautrec_Moulin_Rouge.jpg

Cartaz de Toulouse-Lautrec

http://pt.wikipedia.org/wiki/Henri_de_Toulouse-Lautrec#mediaviewer/File:Lautrec_reine_de_joie_%28poster%29_1892.jpg

A Inspeção Médica no Prostíbulo da Rue des Moulins (1894), de Toulouse-Lautrec.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Henri_de_Toulouse-Lautrec#mediaviewer/File:Lautrec_rue_des_moulins,_the_medical_inspection_1894.jpg

Femme enfilant son bas (1894), de Toulouse-Lautrechttp://modernidadeartes.blogspot.com.br/2013/03/toulouse-lautrec-o-pequeno-gigante.html

As Duas Namoradas (c. 1894–95), de Toulouse-Lautrec.http://pt.wikipedia.org/wiki/Henri_de_Toulouse-Lautrec#mediaviewer/File:Lautrec_the_two_girlfriends_c1894-5.jpg

Salão na Rue des Moulins (1894), de Toulouse-Lautrec.http://pt.wikipedia.org/wiki/Henri_de_Toulouse-Lautrec#mediaviewer/File:Henri_de_Toulouse-Lautrec_012.jpg

Representação do absinto, bebida popular na boemia parisiense. Atentar para os elementos femininos que são utilizados nesse caso.Fonte: http://1.bp.blogspot.com/_1A_PuosX7X0/TTWmQSVms1I/AAAAAAAAABM/VwwHGsQx2i0/s1600/fada+verde.jpg

A fada verde

“O Absinto é um licor alcoólico de cor verde produzido a partir da planta "artemísia absinthum” ou losna. Devido ao altíssimo teor alcoólico dá causa à doença chamada de absintismo. Foi proibido na França partir de 1915 voltando recentemente a ser liberado na Europa após análises do princípio ativo "Thujone" e depois de reduzido o teor alcoólico. Acreditava-se que o Absinto era afrodisíaco e potencializador da criatividade. Como causava efeitos alucinógenos era conhecido como A Fada Verde, a fada que visita o pensamento de quem bebe. O licor era muito consumido por artistas e intelectuais durante o século XIX como Van Gogh, Degas, Verlaine, Lautrec, e outros tão famosos quanto.”

Fonte: http://magoexcelsiorluz.blogspot.com.br/2009/07/absinto-bebida-dos-magos.html

Estética e crítica feminista

Tradução livre: As mulheres precisam estar nuas para entrar no Museu Metropolitano?1989.Fonte: http://jpress.jornalismojunior.com.br/2013/12/arte-mulher-feminismo-alem-frida-kahlo-parte-1/metmuseum/

Guerrilla Girls

●“As mulheres têm de estar nuas para entrar nos museus dos EUA?”. A pergunta, que põe o dedo na ferida no domínio da história de arte, é uma das frases fortes do material artístico de sensibilização das Guerrilla Girls.

●Guerrilla Girls são mulheres em máscaras de gorila que denunciam a discriminação de gênero no mundo artístico, através do humor corrosivo e da arte visual. As imagens da sua luta viraram, entretanto, peças de museu, ilustrando a vertente feminista da arte política.

Fonte: http://obviousmag.org/archives/2011/07/guerrilla_girls_gorilas_justiceiras_no_mundo_da_arte_1.html

Paródia

● O Cartaz mencionado faz referência à pintura à óleo “A Grande Odalisca” (1814), de Jean-Auguste Dominique Ingres.

● “As Guerrilla Girls utilizam a paródia como recurso para elaborar esse pôster por meio da citação da referida pintura neoclássica”, de Ingres. (http://deploy.extras.ufg.br/projetos/seminariodeculturavisual/images/anais_2012/31_o_confinamento.pdf)

“A Grande Odalisca”, de Jean-Auguste Dominique Ingres (1814).

A pintura do neoclassicismo “A Grande Odalisca” é de autoria de Dominique Ingres. A obra foi encomendada pela rainha Carolina de Nápolis, irmã de Napoleão. Com a queda deste último, Ingres jamais recebeu o pagamento pela obra, nem concluiu um segundo quadro que faria par com este. Seria o nu de uma pessoa dormindo.

Odalisca: 1. Escrava do harém, ao serviço das mulheres dos antigos sultões. 2. Espécie de divã para o centro das salas."odalisca", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [online], 2008-2013, http://www.priberam.pt/DLPO/odalisca [consultado em 21-01-2015].

Femme Maison (“Dona de Casa”, em francês), 1994, de Louise Bourgeois.Fonte: https://louise-bourgeois.tumblr.com/post/103412581773/louise-bourgeois-femme-maison-1947-1994-this

Bourgeois, Louise, Femme-Maison, 1947, ink on paper, 9-15/16 x 7-1/8 in., Solomon R. Guggenheim Museum, New York. Fonte: https://louise-bourgeois.tumblr.com/post/103412581773/louise-bourgeois-femme-maison-1947-1994-this

Louise Bourgeois

Os desenhos de Louise Bourgeois são muito populares no movimento feminista. As mulheres com uma casa no lugar da cabeça são uma declaração direta sobre as mulheres que, tradicionalmente, espera-se que permaneçam como figuras domésticas na casa. É também um diálogo sobre o conflito entre papéis domésticos e sexuais para as mulheres. Há também uma sensação de mente e corpo na relação entre arquitetura e figura. Eles trazem o problema da identidade entre as mulheres quando estão presas na casa. Como visto aqui, Bourgeois usou esse conceito em desenho e escultura. Ela tem muitas outras obras de figuras femininas com uma casa em vez de uma cabeça em inúmeras outras peças também.

Adaptado de: https://louise-bourgeois.tumblr.com/post/103412581773/louise-bourgeois-femme-maison-1947-1994-this

Louise Bourgeois

A escultora une o feminino ao doméstico, construindo assim uma crítica que discute as visões que limitam os pensamentos da mulher ao âmbito doméstico. Nessa escultura, o artista mostra uma mulher não só dividida, mas fundida ao lar. O lugar da casa é proposital: o rosto, espaço da figura pública, é confundido com a casa, o privado, mostrando que o espaço da mulher em nossa sociedade é essencialmente um papel doméstico.

Déjeuner sur l'herbe (“Almoço sobre a relva”, em francês), 1862-1863 – Manethttp://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/90/Edouard_Manet_-_Luncheon_on_the_Grass_-_Google_Art_Project.jpg

Rejeitada pelo juri do Salão de 1863, “Déjeuner sur l'herbe” foi exposta por Manet sob o título “Le Bain” no "Salão dos Rejeitados". Ela constituiu, então, a principal atração, objeto de brincadeiras e fonte de escândalo. Hoje ela está exposta no Musée d'Orsay, em Paris.

A presença de uma mulher nua no meio de homens vestidos não era justificável por nenhum pretexto mitológico ou alegórico, como ocorria em outras de suas obras.

Com esse quadro, Manet não respeita nenhuma das convenções admitidas, mas impõe uma liberdade nova em relação ao sujeito e aos modos tradicionais de representação.

http://www.musee-orsay.fr/fr/collections/oeuvres-commentees/recherche/commentaire_id/le-dejeuner-sur-lherbe-7123.html?no_cache=1&cHash=6b4639e212

Representações femininas nas histórias em quadrinhos

Referência principal:

BOFF, Edilene de Oliveira. De Maria a Madalena: representações femininas nas histórias em quadrinhos. Tese (doutorado). Escola de Comunicações e Artes. Universidade de São Paulo, 2014. 320f

A Marcha das Vadias é uma manifestação que se iniciou em Toronto, Canadá, a partir de um protesto, que aconteceu no dia 3 de abril de 2011.

A respeito de uma série de estupros que estavam acontecendo na universidade, o policial teria recomendado às mulheres que, se quisessem evitar o estupro naquela localidade deveriam “parar de vestirem-se como vadias”.

Nas manifestações da Marcha das Vadias, as mulheres vestem pouca ou nenhuma roupa e carregam frases de protesto pintadas no corpo e em cartazes que fazem referência à liberdade sexual e de se vestir (BOFF, 2014, p. 44).

A campanha se manifesta contra o assédio sexual em espaços públicos, mas podem-se observar dois motes que não são apresentados de maneira clara. O primeiro mote diz respeito ao assédio físico e psicológico que sofrem as mulheres em situações corriqueiras do cotidiano. Nesse campo está qualquer tipo de contato físico, o toque ao corpo da mulher de maneira autoritária e o assédio verbal que rebaixa a condição social da mulher e causa dano psicológico para a vítima.

O segundo mote diz respeito a inserção de qualquer tipo de manifestação sexual masculina no campo do assédio. Estas manifestações iriam desde cantadas em tom elogioso até xingamentos de sentido sexual ou de gênero.

O autor da personagem Mulher-Maravilha, William Moulton Marston, percebeu o cenário predominantemente masculino das histórias em quadrinhos da época e propôs a criação de uma super-heroína para atender às demandas das mulheres e modificar o quadro representativo do gênero.

Criada em 1941, quase uma década depois da criação de Super-Homem, e apenas três anos depois de sua publicação, a personagem tem um fundo mítico inspirado na ideia da amazona.

Uma contradição na criação do personagem Mulher-Maravilha é o fato de que, apesar da personagem ter sido pensada para o feminino, ela passou 46 anos sendo desenhada apenas por homens. Foi em 1986 que Trina Robbins foi contratada para desenhar uma parte da minissérie The Legend of Wonder Woman. Pouco tempo depois, a DC realizaria um número especial com os desenhos de 10 artistas mulheres a respeito da personagem (BOFF, 2014, p. 98).

O norteamericano Robert Crumb é acusado de apresentar as mulheres em situações degradantes e humilhantes, tanto em suas narrativas quanto nos desenhos, como no exemplo anterior, no qual a personagem feminina é reduzida a pernas e órgão sexual.

Esses textos apresentam uma suposta misoginia, embora também sejam contraditórias em alguns momentos, quando as figuras de mulheres aparecem em grande proporção, esmagando o artista, autorrepresentado nos desenhos (Livro Meu problema com as mulheres, de 2010).

Figura 41 - King Kong

O tradicional masculinismo diz a ela que seu comportamento está errado. Rê Bordosa se culpa, introjetando o pensamento masculinista. Tomada por otimismo, ela decide adaptar-se ao padrão, certamente o oposto do que ela era, o que poderia facilitar sua vida. Mas a personagem, que não segue padrões, não sabe como uma mulher deve ser. A pergunta “como uma mulher deve ser?” gera uma crítica ao discurso que dita o comportamento feminino.

A figura mencionada faz parte de uma série: Y, O último homem. A série, iniciada em 2003, escrita por Brian K. Vaughan e desenhada por Pia Guerra, narra a história de uma sociedade afetada por um tipo de vírus que matou todos os homens da terra, restando apenas um. Nessa composição, são as mulheres que dominam todos os setores sociais.

Na história Menina com Menina, a figura 41 anuncia a inversão dos tradicionais lugares sociais de gênero, a partir da referência a uma cena muito conhecida no cinema e nos quadrinhos.

Referências

BOFF, Ediliane de Oliveira. De Maria a Madalena representações femininas nas histórias em quadrinhos. 2014. 320f. Tese. (Doutorado em Ciências da Comunicação) - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, 2014.

Imagens e textos da internet foram citados nos slides.

Slides "A questão do gênero na arte e nos quadrinhos", de Daniervelin Pereira, membro do REALPTL, estão licenciados com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.

https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR