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CURSO DE PÓS- GRADUAÇÃO LATO SENSU EM
PLANEJAMENTO AMBIENTAL
Faculdade SENAI de Tecnologia- Instituto Venturi
ESTUDO DE CASO:
“A QUESTÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO
MORRO
SÃO JOÃO DO MONTENEGRO”
Montenegro - 2011
Cláudio Eduardo da Costa Alves
2
ESTUDO DE CASO:
“A QUESTÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO
MORRO
SÃO JOÃO DO MONTENEGRO”
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Pós Graduação Lato Sensu em
Planejamento Ambiental para obtenção do título acadêmico de Especialista em Planejamento
Ambiental.
Orientadora: Professora Thaís Castro Souza
Montenegro - 2011
3
CIP – CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI PORTO ALEGRE
Diretor: Clóvis Leopoldo Reichert
Coordenador: Alexandre Gaspary Haupt
Leandro José Cassol
Bibliotecária: Patrícia Redel Nunes Teixeira
Cláudio Eduardo da Costa Alves
ALVES, Cláudio Eduardo da Costa
Estudo de Caso: “A questão do uso e ocupação do Morro
São João do Montenegro”/ Cláudio Eduardo da Costa Alves;
orientação [por] Thaís Castro Souza. – Porto Alegre:
Faculdade de Tecnologia SENAI Porto Alegre, 2011.
xx f.: il.
1. Planejamento Ambiental. 2. Uso e Ocupação Morro
São João. I. Alves, Cláudio Eduardo da Costa. II. Estudo de
Caso: “A questão do uso e ocupação do Morro São João do
Montenegro”.
4
ESTUDO DE CASO:
“A QUESTÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO MORRO SÃO JOÃO DO MONTENEGRO”
Este trabalho de conclusão de curso foi julgado adequado como parte dos requisitos para
obtenção do título acadêmico de Especialista em Planejamento Ambiental, Faculdade de
Tecnologia SENAI. Porto Alegre.
Porto Alegre, 17 de dezembro de 2011.
Avaliadora:
______________________________________________________
Profª Orientadora: Thaís Castro Souza
5
Dedico esta obra primeiramente aos meus pais, por todo o
auxílio e apoio incalculáveis.
Dedico também a toda minha família e em especial ao
meu filho Vicente que herdará este mundo, juntamente
com seus contemporâneos.
Dedico, da mesma forma, a todos os beneficiários que
uma proposta como esta trará.
Por fim, dedico ao inominável criador de tudo e todos,
inteligência amorosa que nos supre.
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço imensamente a todos os professores, secretários e coordenadores que de
uma forma ou de outra se dispuseram a ofertar-nos todas as possibilidades de crescimento e
aprendizagem.
Agradeço muito a todos os colegas, tanto os que ficaram até o fim como os que por
razões diversas saíram antes da conclusão do curso. Foi uma oportunidade maravilhosa nos
conhecermos e nos tornarmos a família que somos. Por certo não nos esqueceremos dos
momentos que passamos juntos, em detrimento a outras atividades pessoais e familiares nos
intermináveis fins de semana sem lazer nem descanso no decorrer do curso. Agradeço a
paciência e o carinho de todos em nossas relações sociais.
Agradeço à minha esposa e filho por compreenderem e apoiarem minhas ausências
nos fins de semana.
Obrigado.
7
“Seja um Colombo para novos continentes e mundos
inteiros dentro de você, abrindo novos canais, não de
comércio, mas de pensamento. Todo Homem é o senhor de
um reino ao lado do qual o império terreno do Czar não
passa de um estado insignificante, um montículo deixado
pelo gelo.”
Henry David Thoreau.
Walden, 1854.
8
RESUMO
A situação descrita neste roteiro diz respeito às discussões sobre o uso e ocupação
do conjunto de morros no centro da cidade de Montenegro, situada a cerca de 63 km de Porto
Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Neste momento, estão ocorrendo discussões
extremamente importantes no âmbito do executivo municipal e no Conselho Municipal de
Defesa do Meio ambiente – COMDEMA – acerca da do uso e ocupação em direção ao topo
do morro, em áreas de mata nativa e de preservação permanente (APP’S). E é neste sentido
que se percebe que aspectos culturais e ambientais importantes estão sendo deixados de lado,
em favor de pontos puramente econômicos. A relevância do assunto é notável e as discussões
necessárias, haja vista que o Morro São João do Montenegro deu nome à cidade e está
presente no imaginário da população como o “gigante adormecido”, formado por um conjunto
de morros próximos uns aos outros. Este trabalho tem por finalidade assegurar a preservação
de parte significativa do patrimônio natural e cultural de Montenegro, principalmente os
morros da região e criar de maneira legítima e oficial a Área de Proteção Ambiental do Morro
São João, conectado também às áreas sujeitas à alagamentos, consideradas Preservação
Permanente, nas margens do Rio Caí em Montenegro, pertencente à Bacia Hidrográfica do
Rio Caí. Da mesma forma, busca-se utilizar o instrumento Parque Linear Urbano, dissertação
de Mestrado da Arquiteta e Urbanista Daniela Friedrich (FRIEDRICH, 2007), como projeto
piloto para o Vale do Caí em relação ao uso e ocupação das suas áreas naturais,
principalmente junto aos corpos d’água. O instrumento Parque Linear está sendo apontado
pela bibliografia atual como medida sustentável de uso e ocupação das áreas de fundo de vale
urbanas, nos âmbitos ambientais, sociais, econômicos e culturais. Compõe uma visão onde a
base das intervenções prioriza a manutenção, regeneração e recuperação dos aspectos físicos e
bióticos. Vê a idéia de uma organização do espaço a partir da integração dos ecossistemas, a
qual pressupõe a linearidade e conectividade entre as estruturas, que promovam a
biodiversidade animal e vegetal, a drenagem e outros eventos, garantindo a manutenção dos
sistemas envolvidos. Objetiva-se reconhecer os elementos integradores da paisagem, assim
como as potencialidades regionais a fim de implementar um modelo de gestão ambiental da
bacia hidrográfica do rio caí adequada, onde as condições fisiográficas e biogeográficas
formam um complexo homogêneo e extensivo, se estendendo às áreas social, cultural e
econômica. Para tanto, almeja-se a criação de uma Unidade de Conservação de Uso
Sustentável, na categoria de Área de Proteção Ambiental (APA) no Morro São João,
conectado também aos outros morros locais, já protegidos pela Lei Orgânica Municipal, bem
como as áreas sujeitas à alagamentos (banhados), consideradas de preservação permanente
nas margens do Rio Caí em Montenegro, pertencente à Bacia Hidrográfica do Rio Caí,
tornando possível, desta maneira, uma infraestrutura capaz de garantir um trabalho realmente
consistente e eficaz de gestão ambiental.
Palavras-chave: Uso e ocupação de morros, Planejamento Ambiental, Unidade de
Conservação de Uso Sustentável - APA.
9
ABSTRACT
The situation described in this theoretical document comes to discussions about
the use and occupation of the range of hills in the centre of the city of Montenegro, located 63
km from Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. In this moment, extremely
important discussions are occurring in the scope of the municipal executive and in the
Municipal Council for the Protection of the Environment – COMDEMA (Conselho Municipal
de Defesa do Meio Ambiente) -about the use and occupation in direction to the top of the hill,
in areas of native forest and of permanent preservation (APP' S). And it is in this sense that
cultural and important environmental aspects are perceived as having been left aside, in
favour of purely economic points. The relevance of the issue is remarkable and a discussion
necessary, due to the fact that Morro São João do Montenegro gave its name to the city and is
present in the imaginary of the population as the "sleeping giant", formed by a range of hills
close to each other. This work is aimed at ensuring the preservation of a significant part of the
natural and cultural heritage of Montenegro, mainly the hills of the region and at creating in a
legitimate and official way the Area of Environmental Protection of the Morro São João,
connected also to areas subject to flooding, considered of Permanent Preservation, on the
banks of the River Caí in Montenegro, belonging to the River Caí watershed. Similarly seeks
to use the instrument Linear Urban Park, Master Thesis. of the Architect and Urban Planner
Daniela Friedrich (FRIEDRICH, 2007), as pilot project for the Vale do Caí in relation to the
use and occupation of its natural areas, especially near the water bodies. The instrument
Linear Park is being pointed out by the present bibliography as a measure of sustainable use
and occupation of the areas of the urban bottom of valley areas, in the environmental, social,
economic and cultural scope. It composes a vision where the basis of the intervention gives
priority to the maintenance, regeneration and recuperation of the physical and biotic aspects.
It sees the idea of a space organization from the integration of the ecosystems, which
presumes the linearity and connectivity between the structures, which promote the animal and
vegetable biodiversity, the drainage and other events, guaranteeing the maintenance of the
systems involved. It aims to recognize the integrity of the landscape, as well as the regional
potentials in order to implement an adequate model of environmental management of the river
Caí watershed, where the geo-morphological and bio-geographical conditions form a
homogeneous and extended complex that extends to areas such as the social, cultural and
economic. Therefore, one aims to create a Conservation Unit for Sustainable Use, in the
Environmental Protection Area category (APA) in the Morro São João, connected also to the
other local hills, already protected by the Municipal Organic Law, as well as the areas subject
to flooding (swamps), considered of permanent preservation on the banks of Rio Caí in
Montenegro, belonging to the Rio Caí Watershed, making possible, in this way, an
infrastructure capable of guarantee a really consistent and effective environmental
management work.
Key-words: Use and occupation of hills; Environmental Planning; Conservation Units for
Sustainable Use - APA.
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Vista do “complexo de morros”, da esquerda para a direita: Morro da
Pedreira, Morro São João e Morro dos Fagundes, formando a imagem de um gigante
deitado, com cabeça, barriga e pés .......................................................................................
18
Figura 2 – Complexo de Morros: Morro da Pedreira; Morro São João e Morro dos
Fagundes (da esquerda para a direita), formando o “gigante”..............................................
18
Figura 3 – Localização do Município de Montenegro no Estado do Rio Grande do Sul ... 77
Figura 4 – Localização do Município de Montenegro no Estado do Rio Grande do Sul ... 78
Figura 5 – Mapa das regiões fitogeográficas e a localização do município de
Montenegro ...........................................................................................................................
79
Figura 6 – (A) Morro São João; (B) Morro Montenegro; (C) Rio Caí e (D) Área Urbana
do município..........................................................................................................................
96
Figura 7 – (A) Morro São João; (B) Rio Caí; (C) Área Urbana do
município...............................................................................................................................
96
Figura 8 – Morro Montenegro............................................................................................ 97
Figura 9 – Área sujeita a alagamento (Banhado do Cambuí) à direita. À esquerda Morro
da Mariazinha. Ao fundo, Morro Montenegro......................................................................
97
Figura 10 – Complexo de Morros: Morro da Pedreira, Morro São João e Morro dos
Fagundes (da esquerda para a direita), formando o “gigante”..............................................
98
Figura 11 – Área sujeita a alagamento (Banhado do Baixio Velho) à direita. Ao fundo,
Morro Montenegro................................................................................................................
98
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Fase de instrumentalização ............................................................................
87
Tabela 2 – Fase de campo e reuniões ............................................................................... 88
12
LISTA DE SIGLAS
ANA – Agência Nacional das Águas.
APA – Área de Proteção Ambiental.
APE – Área de Proteção Especial.
APP – Área de Preservação Permanente.
CBERS – Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres.
CE – Corredor Ecológico.
CF – Constituição Federal.
COMDEMA – Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente.
CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente.
CONSEMA – Conselho Estadual de Meio Ambiente.
CNPF – Conselho Nacional de Proteção à Fauna
CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Convenção sobre Diversidade Biológica.
DEC – Decreto.
DF – Distrito Federal.
DIREC – Diretoria de Ecossistema do IBAMA.
DLG – Decreto Legislativo.
DMA – Departamento Municipal do Meio Ambiente.
FEPAM – Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler – RS.
GPS – Geographic Position System. Sistema de Posicionamento Geográfico.
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
ITR – Imposto Territorial Rural.
MDT – Modelo Digital do Terreno.
m – Unidade de medida em metros.
MP – Medida Provisória.
MP – Ministério Público.
PCA – Plano de Controle Ambiental
PNMA – Política Nacional de Meio Ambiente.
PNRH – Política Nacional de Recursos Hídricos.
PROCONVE – Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar por Veículos
Automotores.
PRONABIO – Programa Nacional da Diversidade Biológica.
PRONAR – Programa nacional de Controle da Qualidade do Ar.
SEEC – CPC – Secretaria Estadual de Educação e Cultura / Coordenadoria do Patrimônio
Cultural.
SEUC – Sistema Estadual de Unidades de Conservação.
SISNAMA – Sistema Nacional de Meio Ambiente.
SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.
UC – Unidade de Conservação.
ZA – Zona de Amortecimento.
ZEE – Zoneamento Econômico – Ecológico .
13
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 17
2. ASPECTOS LEGAIS DISCUTIDOS .................................................................... 17
3. BREVE HISTÓRICO ............................................................................................. 19
4. ENQUADRAMENTO LEGAL (não exaustivo) ................................................... 20
4.1 O Direito Ambiental entendido como direito de terceira geração ............ 21
4.2 Conceito de Meio Ambiente ....................................................................... 22
4.3 Definição de Degradação da qualidade ambiental e poluição ................. 23
4.4 Quem pode ser considerado poluidor pela legislação Brasileira ............. 23
4.5 Natureza pública da proteção ambiental - princípios que informam
o Direito Ambiental .........................................................................................
23
4.6 Os princípios da Prevenção e o da Precaução .......................................... 24
4.7 Grandes marcos referenciais da legislação ambiental brasileira – visão
de Edis Millaré ..................................................................................................
25
4.8 Patrimônio Ambiental Nacional – composição ......................................... 26
4.9 Componentes do patrimônio ambiental natural que são objeto de
proteção legal ....................................................................................................
26
4.10 Patrimônio Cultural Brasileiro - fundamento legal constitucional ....... 29
4.11 Formas de promoção dos bens culturais, além do tombamento ............. 29
4.12 PRONABIO - fundamento legal .............................................................. 30
4.13 SNUC/SEUC - o conceito legal de Unidade de Conservação – UC ....... 31
4.14 Meio Ambiente Urbano e o Estatuto da Cidade ...................................... 37
4.15 Lei dos Crimes Ambientais (L. 9.605/98) - infração administrativa ...... 38
4.16 Sanções administrativas aplicáveis - fundamento legal ......................... 39
4.17 PNMA – Política Nacional do Meio Ambiente (L. 6938/81) –
instrumentos: Intervenção, Controle e os de Repressão .................................
39
4.18 Lei Orgânica do Município de Montenegro ............................................ 40
4.19 Código Ambiental do Município de Montenegro - Lei n.º 4.293, de 20
de outubro de 2005 ...........................................................................................
41
4.20 Resoluções CONAMA............................................................................... 45
4.21 Tratados internacionais em que o Brasil é signatário ............................ 47
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 48
14
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 49
ANEXO – PROPOSTA DE CRIAÇÃO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO ... 50
APRESENTAÇÃO DO PROJETO ........................................................................... 50
TÍTULO ....................................................................................................... 50
LOCALIZAÇÃO ........................................................................................ 50
DURAÇÃO .................................................................................................. 50
RESUMO DO PROJETO .......................................................................... 50
APRESENTAÇÃO DA INSTITUIÇÃO PROPONENTE E PARCEIRAS .......... 51
Identificação da Instituição Proponente ................................................... 51
Instituição ..................................................................................... 51
Representante .............................................................................. 51
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 52
CONTEXTUALIZAÇÃO E DIAGNOSTICO ......................................................... 52
JUSTIFICATIVA ........................................................................................................ 55
O parque linear urbano como instrumento de planejamento e
gestão de áreas de fundo de vale urbanas ......................................................
57
Definições de parque urbano ......................................................... 59
O conceito de parque linear urbano como alternativa no século
XXI ................................................................................................
59
O Parque Linear Urbano como objeto estruturador de programas
sócio-ambientais em áreas de fundo de vale urbanas ....................
61
Funções dos parques lineares ........................................................ 62
A função de drenagem .................................................. 62
A função de proteção e manutenção do sistema natural 62
A função de lazer, educação ambiental e de coesão
social .............................................................................
63
A função de estruturação da paisagem urbana ............... 64
A função de desenvolvimento econômico .................... 64
A função política ........................................................... 65
A função de corredor multifuncional ............................ 65
A visão ambiental no planejamento e gestão de parques lineares
urbanos em áreas de fundo de vale urbanas ..................................
66
Impactos da urbanização sobre as áreas de fundo de
15
vale ................................................................................ 67
Impactos da urbanização sobre o meio físico ............... 67
Impactos da urbanização sobre o meio biótico ............. 70
A visão ambiental no planejamento e gestão de áreas
de fundo de vale urbanas ...............................................
70
A visão social no planejamento e gestão de parques lineares
urbanos em áreas de fundo de vale urbanas ................................................
72
A visão social no planejamento do espaço público ....................... 72
O parque linear como instrumento de planejamento e gestão
social das áreas de fundo de vale urbana ......................................
73
O lazer e a educação/cultura ......................................... 74
O lazer e as relações sociais .......................................... 74
O lazer e o desenvolvimento econômico ...................... 75
O parque como local de lazer ........................................ 75
O parque marginal ao curso d’água como local de
lazer ...............................................................................
75
A circulação não-motorizada ........................................ 76
ENQUADRAMENTO GEOMORFOLÓGICO E FITOGEOGRÁFICO DA
REGIÃO ......................................................................................................................
76
REGIÃO GEOMORFOLÓGICA ............................................................................. 77
REGIÃO FITOGEOGRÁFICA ................................................................................ 78
PARTICIPAÇÃO SOCIAL E BENEFICIÁRIOS ................................................... 79
Benefícios Ambientais ................................................................................. 80
Benefícios Sociais ......................................................................................... 80
Benefícios Econômicos ................................................................................ 80
OBJETIVOS ................................................................................................................ 81
METAS ........................................................................................................................ 81
MÉTODO E INSUMOS ............................................................................................. 82
METODOLOGIA PARA CRIAÇÃO DE UMA UNIDADE DE
CONSERVAÇÃO .......................................................................................................
85
Plano de Manejo .......................................................................................... 85
PROGRAMAÇÃO DE EXECUÇÃO FINANCEIRA ESTIMADA ...................... 87
Fase de instrumentalização ........................................................................ 87
16
Fase de Campo e reuniões .......................................................................... 88
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 89
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 90
ANEXO – FOTOS AÉREAS ..................................................................................... 96
17
1. INTRODUÇÃO
A situação a ser descrita sucintamente neste roteiro diz respeito às discussões sobre o
uso e ocupação do conjunto de morros no centro da cidade de Montenegro, situada a cerca de
63 km de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
Neste momento, estão ocorrendo discussões extremamente importantes no âmbito do
executivo municipal e no Conselho Municipal de Defesa do Meio ambiente – COMDEMA –
acerca da do uso e ocupação em direção ao topo do morro, em áreas de mata nativa e de
preservação permanente (APP’S), como loteamentos residenciais e outros empreendimentos.
Milton Santos (1991, p. 69) cita que a paisagem deve ser pensada paralelamente às
condições políticas, econômicas e também culturais. Desvendar essa dinâmica social é
fundamental, as paisagens nos restituem todo um cabedal histórico de técnicas, cuja era
revela; mas ela não mostra todos os dados, que nem sempre são visíveis.
E é neste sentido que se percebe que aspectos culturais e ambientais importantes estão
sendo deixados de lado, em favor de pontos puramente econômicos, através da especulação
imobiliária.
A relevância do assunto é notável e as discussões necessárias, haja vista que o Morro
São João do Montenegro deu nome à cidade e está presente no imaginário da população como
o “gigante adormecido”, formado por um conjunto de morros próximos uns aos outros.
2. ASPECTOS LEGAIS DISCUTIDOS
Na revisão do Plano Diretor do município, sob orientação do antigo Diretor de Meio
Ambiente André Venâncio, juntamente com a comissão que avaliou a proposta da empresa
contratada Vertrag para o Plano Diretor, a questão do uso e ocupação do morro foi
enquadrada na Resolução CONAMA nº 303/2002, que dispõe sobre parâmetros, definições e
limites de Áreas de Preservação Permanente, onde foram considerados os cumes do morro
São João e do morro da Pedreira a menos de 500 m de distância, o que resultava num
"conjunto de morros"; tal fato poderia estabelecer a área de preservação permanente (APP)
pela cota do menor morro (morro da Pedreira com cota 60).
Quando a discussão deu entrada no CONDEMA, em função da aprovação do
condomínio fechado, foi levantada a informação de que os cumes possuem, na verdade, 540
m de distância um do outro, ou seja, não se enquadrariam em “conjunto de morros”, logo, a
APP do morro São João foi enquadrada acima da cota 140 e não da 60 (morrote menor –
18
Morro da Pedreira). Como base do morro foi utilizada a cota 5, que é a mais baixa da cidade,
no rio.
É importante salientar que a empresa Vertrag propôs área de preservação muito maior
e mais restritiva do que a da comissão.
Figura 1 - Vista do “complexo de morros”, da esquerda para a direita: Morro da Pedreira,
Morro São João e Morro dos Fagundes, formando a imagem de um gigante deitado, com
cabeça, barriga e pés.
Figura 2 - Complexo de Morros: Morro da Pedreira; Morro São João e Morro dos Fagundes
(da esquerda para a direita), formando o “gigante”.
19
3. BREVE HISTÓRICO
A topografia de Montenegro é realmente encantadora. O conjunto de morros é cantado
até mesmo em verso e prosa, como pode ser percebido no Hino do Município de Montenegro:
“Como é bela a visão sublimada! (...) Deste rio – deste morro “São João” (...) Na moldura
das belas paisagens, Sobressai um belo perfil (...)”.
Somado a isso, existe todo um conjunto ideológico que forma uma identidade local.
Milton Santos (1997, apud SUERTEGARAY, 2000) cita que “lugar” constitui a dimensão da
existência que se manifesta através de um cotidiano compartilhado entre as mais diversas
pessoas, firmas e instituições. Ele segue, explicando didaticamente que o conceito de lugar
induz a uma análise geográfica a uma outra dimensão – a da existência – pois refere-se a um
tratamento geográfico do mundo.
Este tratamento vem assumindo diferentes dimensões: de um lado, o lugar se
singulariza a partir de visões subjetivas vinculadas a percepções emotivas, a exemplo do
sentimento topofílico (experiências felizes) do que se refere Yu-Fu Tuan (1975). De outro, o
lugar pode ser lido através do conceito de geograficidade, termo que, segundo Relph (1979),
“encerra todas as respostas e experiências que temos dos ambientes nos quais vivemos, antes
de analisarmos e atribuirmos conceitos a essas experiências” (SUERTEGARAY, 2000).
Neste sentido, observa-se que o Morro São João do Montenegro, que deu nome à
cidade, está presente no imaginário da população como o “gigante adormecido”, formado por
um conjunto de morros próximos uns aos outros, como podemos analisar na lenda descrita
abaixo, presente como patrimônio cultural do município:
A história do gigante de pedra
Esta é a lenda que explica o formato quase humano dos morros próximos à
cidade:
Há muitos e muitos anos, bem antes da descoberta do Brasil, esta região era um
vale, onde existiam índios, animais e muitas flores.
Vivia, por entre as árvores do vale do rio Caí, um enorme gigante, feio e muito
mau. Os índios fugiam dele apavorados, e os pássaros não ousavam chegar
perto dele, tão grande era sua maldade.
O gigante andava muito, sempre perseguindo alguma vítima. Um dia, depois de
muitas caminhadas, ficou tão cansado que,ao chegar perto do rio caí, deitou-se,
a fim de repousar. Acomodou o corpo imenso sobre o chão e adormeceu.
Uma fada que vinha observando o gigante e conhecia todas as suas malvadezas,
resolveu acabar com tanta ruindade. A fada se aproximou dele e, aparecendo-
20
lhe em sonhos, disse-lhe que havia chegado seu fim. Tocou-o com sua varinha
mágica, transformando-o em pedra. Pedra para sempre.
E até hoje o gigante malvado dorme, próximo à cidade. Seu corpo forma os
morros que nos cercam: o Morro da Pedreira é a cabeça; o Morro São João
constitui o corpo com sua enorme barriga e seus braços; o Morro dos Fagundes
– mais conhecido como morro da Formiga – forma as pernas e os pés.
E, assim, o gigante adormecido, coberto de terra e de vegetação, hoje, enfeita a
paisagem montenegrina e atrai visitantes.
4. ENQUADRAMENTO LEGAL (não exaustivo)
“Direito é o conjunto das normas gerais e positivas que regulam a vida social”.
Radbruck.
- Conjunto significa que o trabalho é comum, integrado, onde os elementos devem ser
vistos como um todo e destinados a uma mesma finalidade, ou seja, de forma holística.
- Normas são as ferramentas que regulam procedimentos ou atos.
- Gerais significam aquelas que abrangem a totalidade ou a maioria de um conjunto de
coisas ou pessoas, ou seja, que busca a universalidade.
- Positivas no sentido de REAL, concreta, que é aplicável por ser válida e eficaz.
- Regulam ou regem o funcionamento da instituição.
- Vida Social é o mecanismo ordenado e integrado das instituições que regem a vida
do homem em estado gregário.
Apesar de ainda ser bastante difícil a conceituação de Direito, como cita Kant, esta
ótima frase de Radbruck pode ser aplicada neste estudo de caso perfeitamente.
No caso do Morro São João, as decisões que estão sendo tomadas afetarão a todos
indistintamente, sejam estes ricos ou pobres, instruídos ou carentes de conhecimentos, atentos
ou ignorantes ao fato em questão.
A forma “legal” que decidirá a forma de uso/ocupação do solo se fará na forma de
regras ou normas (resoluções, etc.) que as instituições políticas implementarão, sempre com a
fundamentação e embasamento de todas as outras leis que se relacionem ao assunto.
Ela é dita geral quando abrange a totalidade ou a maioria de um conjunto de coisas ou
pessoas, ou seja, que busca a universalidade. É exatamente o que está prestes a ocorrer caso
seja autorizada a expansão urbana no morro. Será liberado para condomínios de alto luxo por
um lado, mas do outro também deverá ser permitida a ocupação de casebres e favelas.
21
São ditas positivas, pois realmente serão reais e concretas as decisões tomadas, ou seja, não
ficarão apenas no plano das idéias. Sendo a vida social do homem regrado por instituições
políticas e culturais que regem o funcionamento do modus operandi, denota-se a força que o
Direito exerce sobre a totalidade da população envolvida na questão.
4.1 O Direito Ambiental entendido como direito de terceira geração
1ª Geração Liberdades políticas (1789)
2ª Geração Estado do Bem Estar Social (Social Democracia)
3ª Geração Direitos Transindividuais (Relação de consumo/Meio Ambiente)
Em virtude do Meio Ambiente ser inerente a tudo e a todos, não havendo fronteiras
políticas ou privadas para delimitá-lo, ele se enquadra na categoria de Direitos
Transindividuais.
Direito ao meio ambiente sadio e equilibrado é, basicamente, direito à vida. Ele
ultrapassa qualquer direito individual, de privacidade ou propriedade.
Neste sentido, é importante relembrar a degradação absurda e exponencial em que o
ambiente está sofrendo. É preciso constatar que o espaço é fragmentado, resultando em
diversas configurações de uso da terra (matriz), ao mesmo tempo em que forma habitats
naturais distintos e separados. Por conseguinte, existem habitats favoráveis e outros
desfavoráveis à instalação ou manutenção de espécies.
A fragmentação de habitats é uma das mais importantes e difundidas conseqüências da
atual dinâmica de uso da terra pelo Homem (BROOKS et al, 2002). Almeida et al. (1998)
comentam que quando as características originais de um habitat são alteradas, muitos
elementos essenciais à manutenção das espécies da comunidade local desaparecem, tornando
assim, inviável a permanência e sobrevivência de uma ou várias espécies.
O processo ou modelo de desenvolvimento atual está levando à formação de paisagens
contendo apenas manchas pequenas de áreas naturais. Estas manchas pequenas acabam por se
tornar ambientes extremamente nevrálgicos para populações reduzidas, pois estas são
altamente susceptíveis à extinção por uma série de razões.
Se, somado a isso, pousar um olhar atento à pressão que o processo urbanístico exerce
sobre estas áreas, principalmente nas pequenas e médias cidades, ver-se-á a verdadeira
magnitude do problema e a importância que as sociedades locais dão à ele. As aglomerações
vão saturando o espaço urbano ao ponto de sua expansão ser inevitável. No Brasil se observa
22
claramente conflitos de interesses quanto ao uso e ocupação do solo urbano, quase sempre
resultando em degradação urbana e ambiental.
Os principais problemas observados referem-se basicamente a uma adequação do
espaço às necessidades das populações, onde o produto final das interações Homem –
Ambiente podem ser resumidos em geração de resíduos sólidos e efluentes (domésticos e
industriais), degradação dos mananciais, aumento dos riscos das áreas de abastecimento de
água com poluição orgânica e química, contaminação dos rios pelos esgotos domésticos,
industrial e pluvial, enchentes urbanas geradas pela inadequada ocupação do espaço e pelo
gerenciamento inadequado da drenagem urbana e falta de coleta e disposição do lixo urbano.
As transformações decorrentes do uso mal planejado do ambiente causam, em última
análise, a impossibilidade do Planeta executar seus processos naturais de maneira harmônica,
prejudicando, desta forma, as condições tênues de homeostase da vida na Terra, o que, em
outras palavras, seria o mesmo que dizer que estas áreas deixarão de cumprir com sua função
ecológica no equilíbrio delicado da vida o e na regulação do clima no Planeta Terra.
4.2 Conceito de Meio Ambiente
Meio Ambiente – Conceito Legal Presente na Lei da Política Nacional de Meio
Ambiente. Lei n° 6.938/81 – art. 3°, inciso I.
“Art. 3° - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I – meio ambiente: o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem
física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas
formas;”
Além da definição legal, ainda existe o conceito doutrinário, de Ávila Coimbra:
“Meio ambiente é o conjunto de elementos abióticos (físicos e químicos) e bióticos
(flora e fauna), organizados em diferentes ecossistemas naturais e sociais em que se
insere o Homem, individual e socialmente, num processo de interação que atenda ao
desenvolvimento das atividades humanas, à preservação dos recursos naturais e das
características essenciais do entorno, dentro das leis da natureza e de padrões de
qualidade definidos.”
23
4.3 Definição de Degradação da qualidade ambiental e poluição
Degradação da qualidade ambiental e poluição – Conceito Legal Presente na Lei da
Política Nacional de Meio Ambiente. Lei n° 6.938/81 – art. 3°, inciso II e III.
Glossário da FEPAM Poluição: é toda matéria ou forma de energia colocada em
excesso no meio ambiente, que provoca uma mudança negativa na qualidade de alguma
parte da biosfera,podendo causar doenças, morte ou mesmo extinção de alguma espécie
(www.fepam.rs.gov.br/glossario).
Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características
do meio ambiente;
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que
direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos;
4.4 Quem pode ser considerado como poluidor pela legislação brasileira?
Poluidor - Conceito Legal Presente na Lei da Política Nacional de Meio Ambiente.
Lei n° 6.938/81 – art. 3°, inciso IV.
IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável,
direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;
4.5 Natureza pública da proteção ambiental - princípios que informam o Direito
Ambiental
24
A natureza pública desta proteção se relaciona com a competência do Poder Público
com esta empreitada. Como o bem é de fruição pública, ou seja, de uso comum do povo, ele
deve ser submetido a um controle ou a uma ordem pública.
Fundamentação legal: Constituição Federal. Art. 225. § 1°:
Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais a crueldade.
4.6 Os princípios da Prevenção e o da Precaução
De maneira geral, o princípio da Precaução ultrapassa o da Prevenção. Impõe às
autoridades a obrigação de agir em face de uma ameaça de danos irreversíveis à saúde,
mesmo que os conhecimentos científicos disponíveis não confirmem o risco. A precaução
atua na incerteza científica e não existe por ela mesma, ou seja, se constrói a cada contexto.
25
Alguns doutrinadores não reconhecem a separação entre os princípios da Prevenção e
da Precaução (Ex: Edis Milaré). Contudo, em uma análise mais minuciosa, é possível
estabelecer algumas diferenças, listadas abaixo:
PREVENÇÃO São conhecidas as consequências de iniciar, prosseguir ou
suprimir determinado ato. É possível estabelecer um NEXO CAUSAL entre o ato em si e a
degradação ambiental, cientificamente comprovado. Em algumas situações é perfeitamente
possível, através da lógica, se prever determinada conseqüência.
PRECAUÇÃO Não é possível estabelecer quais as conseqüências que
determinado ato ou empreendimento ou aplicação científica causarão ao meio ambiente no
espaço e/ou tempo, bem como quais os reflexos ou conseqüências. Há incerteza científica não
sanada. Aplicável o Princípio 15 da Declaração do Rio de Janeiro/1992:
Princípio 15 De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da
precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas
capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência
absoluta de certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar
medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.
4.7 Grandes marcos referenciais da legislação ambiental brasileira - visão de Edis
Millaré
Marcos modernos da Legislação Ambiental:
Lei n° 6.938/81 – Lei da PNMA – Política Nacional do Meio Ambiente
- Meio ambiente como conceito jurídico específico e bem sujeito à proteção.
- Institui o SISNAMA = planeja ações integradas dos diversos órgãos governamentais
com uma política para o setor.
- Responsabilidade objetiva – art. 14, § 1°
- Enfatiza a educação ambiental
Lei n° 7.347/85 – Ação civil pública de Responsabilidade
26
- Responsabilização por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
- Atividade jurisdicional diferenciada, por vezes entrando no mérito da atividade da
Administração Pública.
- Além da jurisdição individual, abrange os interesses difusos e os coletivos.
- MP e Associações ganham força na legitimidade para defesa desses interesses.
Constituição Federal de 1988
- Meio ambiente ganha capítulo próprio em um dos textos mais avançados do mundo
Título VIII – Da Ordem Social; Capítulo VI – Do Meio Ambiente – Art. 225.
- Constituições Estaduais – CE/RS = Capítulo IV – Do Meio ambiente – arts. 250 a
259.
- Leis orgânicas municipais.
Lei nº 9.605/98 - Lei de Crimes Ambientais
- Dispõe sobre as sanções penais e administrativas aplicáveis às condutas e atividades
lesivas ao meio ambiente.
- Regulamenta instrumentos importantes da legislação ambiental como a
desconsideração da personalidade da pessoa jurídica e a responsabilização penal da
pessoa jurídica.
4.8 Patrimônio Ambiental Nacional – composição
Por Patrimônio Ambiental Nacional considera-se o conjunto de bens caracterizados
como tal, destinados ao uso coletivo da comunidade. Não envolve a definição de propriedade
do bem e revela sua caracterização por valores ambientais específicos e destinação à fruição
social.
Componentes:
Patrimônio Ambiental Natural
Patrimônio Ambiental Cultural
Patrimônio Ambiental Artificial
4.9 Componentes do patrimônio ambiental natural que são objeto de proteção legal
Elementos bióticos e abióticos, descritos a seguir:
27
• AR
– Programas Nacionais sobre a Qualidade do Ar
• PROCONVE – Res. CONAMA n.º 018/86 – Programa Nacional de
Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores
• PRONAR – res. CONAMA n.º 005/89 – Programa nacional de
Controle da Qualidade do Ar
• Res. CONAMA – 018/86; 003/90; 018/95; 013/95 e outras
– Atividades de monitoramento e controle de qualidade
– Repressão com tipos penais – lei n.º 9.605/98
• ÁGUA
– CF/88 –
• Art. 20, III – Águas de propriedade da União
• Art. 26, I – Águas de propriedade dos Estados
– Proteção de seus usos múltiplos e da qualidade dos recursos hídricos.
– Política Nacional de Recursos Hídricos, PNRH– Lei n.º 9.433/97.
– Regulação na lei n.º 9.984/00 – Cria a ANA e os Comitês de Bacias
Hidrográficas.
– Lei Estadual nº 10.350/1994 – Institui o Sistema Estadual de Recursos
Hídricos, regulamentando o artigo 171 da Constituição do Estado do Rio
Grande do Sul.
– Resolução CONAMA nº 274/2000 – Estabelece a Política Nacional do Meio
Ambiente, a Política Nacional de Recursos Hídricos e o Plano Nacional de
Gerenciamento Costeiro.
• SOLO
– Solo como recurso natural e solo como espaço social
– Proteção em geral sob o enfoque da atividade humana
• Agricultura e a lei de Política Agrícola
• Códigos de Obras e Edificações
• Tutela da Vegetação como meio de proteção ao solo
• Disposição de resíduos
28
• Extração mineral
• Outros
• FLORA BRASILEIRA E LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
- Tratamento legal e preocupação ecossistêmica recentes, posteriores ao
desbravamento e devastações
- CF/88 – art. 23, VII – Competência comum da União, Estados, Municípios e DF
na preservação das florestas e da flora.
- CF/88 – art. 24, VI – Competência concorrente da União, Estados, Municípios e
DF para legislar sobre as florestas.
- CF/88 – art. 225 – “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado” – inclui-se aí a flora como elemento natural – “bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida”.
- CÓDIGO FLORESTAL – L. 4.771/65 – recepcionado pela CF/88
Áreas Verdes Urbanas – Leis municipais de uso do solo, Plano Diretor e outras
- (*) Aplicação do art. 2.º do Cód. Florestal, para áreas de preservação permanente
é discutível.
Crimes contra a Flora – Lei 9.605/98 – art. 38 e ss.
• FAUNA
- Caça e pesca, inicialmente regulamentadas como práticas de lazer, sem
preocupação com ecossistemas.
- CF/88 – art. 23, VIII e 24, VI – competência concorrente
- CF/88 – ART. 225, § 1.º, VII – proteção à fauna
- Código de Pesca – D.L. n.º 221/67
- Código de Caça – Lei 5.197/67
- Art. 36 – CNPF – Cons. Nacional de Proteção à Fauna
- Caça profissional proibida e a caça amadora depende de aspectos regionais
- Lei 9.605/98 – art. 37 - descriminaliza a caça sob certas condições (alimentação,
proteção de lavouras e rebanhos, nocividade)
- ZOOLÓGICOS – Res. CONAMA 011/87 – são considerados como UC-
Unidades de Conservação
- Fauna Exótica e Fauna Silvestre em cativeiro – Empreendimentos licenciados cf.
IN IBAMA 03/99; Portaria IBAMA 102/98, Res. CONAMA 239/97.
29
4.10 Patrimônio Cultural Brasileiro - fundamento legal constitucional
O patrimônio Cultural Brasileiro é constituído pelos bens materiais e imateriais
que se referem à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira.
O patrimônio cultural tem como principal fundamento legal, perante o Direito
Brasileiro, a Constituição da República de 1988, que, diferentemente de cartas
constitucionais passadas, reconhecem a importância dos bens, bastando que os mesmos sejam
"bens portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos diversos grupos que
compõem a sociedade brasileira".
4.11 Formas de promoção dos bens culturais, além do tombamento.
O inventário é a primeira forma para o reconhecimento da importância dos bens
culturais e ambientais, através do registro de suas características principais.
Os Planos Diretores das cidades também estabelecem formas de preservação do
patrimônio em nível municipal, através do planejamento urbano. Os municípios devem
promover o desenvolvimento das cidades sem a destruição do patrimônio. As Leis Orgânicas
municipais podem prover o município de instrumentos de preservação do Patrimônio
Cultural/ambiental. Podem, ainda, criar leis específicas que estabeleçam incentivos à
preservação como a redução de impostos municipais aos proprietários de bens declarados de
interesse cultural ou tombados.
Na escala municipal, é possível que feito o levantamento dos bens de interesse de
conservação, mesmo que não tombados, o departamento municipal responsável pela emissão
de alvarás de construção, demolição e alteração das edificações tenha um aviso na
documentação de cada bem alertando que ele é de interesse ao patrimônio cultural/ambiental,
de modo que se possa negociar com o proprietário a conservação do bem ou medidas
mitigatórias em suas intervenções. Nesse sentido as câmaras, prefeituras, departamentos ou
casas de cultura municipais podem firmar acordos de cooperação técnica com a SEEC – CPC.
A CPC também orienta as câmaras e secretarias municipais de cultura na criação da
legislação e gestão do Patrimônio Cultural que mesmo não sendo significativo para o estado,
é significativo para o município ou região.
No caso do Patrimônio Ambiental e proteção de ecossistemas, existe uma ampla
Coletânea da legislação ambiental estadual e federal que está à disposição do público na
30
Secretaria Estadual de Meio Ambiente/IAP, sendo a Ação civil pública via Ministério Público
um dos principais instrumentos de exercício da cidadania. O tombamento também pode ser
um instrumento de reforço à proteção do em torno de áreas protegidas pela legislação
ambiental estadual e federal.
4.12 PRONABIO - fundamento legal
Programa Nacional da Diversidade Biológica – PRONABIO.
O Decreto Federal nº 4.703, publicado no Diário Oficial da União de 22 de maio de
2003, dispõe sobre o Programa Nacional da Diversidade Biológica- PRONABIO e sua
Comissão Coordenadora, a Comissão Nacional de Biodiversidade.
– A Constituição Federal em seu art. 225, § 1.º, III , estabelece a criação, por lei, de espaços
territoriais especialmente protegidos em todas as unidades da Federação.
Segundo Édis Millare, os espaços territoriais especialmente protegidos são:
“Espaços geográficos, públicos ou privados, dotados de atributos ambientais
relevantes, que, por desempenharem papel estratégico na proteção da diversidade
biológica existente no território nacional, requerem sua sujeição, pela lei, a um
regime de interesse público, através da limitação ou vedação do uso dos recursos
ambientais da natureza pelas atividades econômicas.”
a) Área de Proteção Especial – APE
– Lei de Parcelamento do Solo Urbano (Lei Federal n.º 6.766/1979) – Art. 13, I
– Estatuto da Cidade (Lei Federal n.º 10.257/2001) – Art. 39 a 42 – Plano Diretor
– Decreto Estadual n.º 38.814/ 1998 – Regulamenta o SEUC no RS
b) Área de Preservação Permanente
– Estabelecidas no Código Florestal (Lei Federal 4.771/65)
– Pelo art. 1.º, II, são as áreas protegidas nos termos dos arts. 2.º e 3.º, do Cód.
Florestal
– (*) aplicabilidade do art. 2.º às áreas urbanas e municipais
31
c) Reserva Legal
– Também estabelecidas no Código Florestal
– Pelo art. 1.º, § 2.º, III – “área localizada no interior de uma propriedade ou posse
rural
– Regime de uso : arts. 16 e 44, do Código Florestal
– MEDIDAS DE RECOMPOSIÇÃO DA APP
– Lei 8171/91, art. 99 – revogada por descompasso social
– MP 2166 – permanece a responsabilidade para quem diretamente desmatou.
d) Unidades de Conservação
• CF/88 foi o divisor de águas
• Lei n.º 9.985/2000 – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza –
SNUC
4.13 SNUC/SEUC - o conceito legal de Unidade de Conservação – UC
SNUC é o sistema nacional de unidades de conservação. O decreto 4.340 de 2002
regulamenta os artigos da lei 9985 de 2000, a lei de criação do Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) foi
instituído, no Brasil, através da Lei Nº 9.985 de 18 de julho de 2000 e está se
consolidando de modo a ordenar as áreas protegidas, nos níveis federal, estadual e
municipal.
Unidade de Conservação (inciso I do art. 2o da Lei n.º 9.985, de 18 jul. 2000):
segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, 'unidade de conservação' é o
"espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com
características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos
de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam
garantias adequadas de proteção”
O SNUC divide as Unidades de Conservação em dois grupos, as de Proteção
Integral e as de Uso Sustentável. As UCs são legalmente constituídas pelo poder público nas
esferas municipal, estadual e federal.
32
Unidades de Proteção Integral: cujo objetivo básico é preservar a natureza, sendo
admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos
nesta lei;
Unidades de Uso Sustentável: cujo objetivo básico é compatibilizar a conservação da
natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais.
Salienta-se no art. 4o os seguintes objetivos:
I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no
território nacional e nas águas jurisdicionais;
II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional;
III - contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas
naturais;
IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;
V - promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no
processo de desenvolvimento;
VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;
VII - proteger as características relevantes de natureza geológica,
geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;
VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;
IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e
monitoramento ambiental;
XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;
XII - favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a
recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;
XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações
tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as
social e economicamente.
Da mesma forma, salienta-se no art. 5o que o SNUC será regido por diretrizes
que:
I - assegurem que no conjunto das unidades de conservação estejam representadas
amostras significativas e ecologicamente viáveis das diferentes populações, habitats e
33
ecossistemas do território nacional e das águas jurisdicionais, salvaguardando o patrimônio
biológico existente;
II - assegurem os mecanismos e procedimentos necessários ao envolvimento da
sociedade no estabelecimento e na revisão da política nacional de unidades de conservação;
III - assegurem a participação efetiva das populações locais na criação, implantação e
gestão das unidades de conservação;
IV - busquem o apoio e a cooperação de organizações não-governamentais, de
organizações privadas e pessoas físicas para o desenvolvimento de estudos, pesquisas
científicas, práticas de educação ambiental, atividades de lazer e de turismo ecológico,
monitoramento, manutenção e outras atividades de gestão das unidades de conservação;
VI - assegurem, nos casos possíveis, a sustentabilidade econômica das unidades de
conservação;
VII - permitam o uso das unidades de conservação para a conservação in situ de
populações das variantes genéticas selvagens dos animais e plantas domesticados e recursos
genéticos silvestres;
VIII - assegurem que o processo de criação e a gestão das unidades de conservação
sejam feitos de forma integrada com as políticas de administração das terras e águas
circundantes, considerando as condições e necessidades sociais e econômicas locais;
IX - considerem as condições e necessidades das populações locais no
desenvolvimento e adaptação de métodos e técnicas de uso sustentável dos recursos naturais;
XI - garantam uma alocação adequada dos recursos financeiros necessários para que,
uma vez criadas, as unidades de conservação possam ser geridas de forma eficaz e atender aos
seus objetivos;
XII - busquem conferir às unidades de conservação, nos casos possíveis e respeitadas
as conveniências da administração, autonomia administrativa e financeira; e
XIII - busquem proteger grandes áreas por meio de um conjunto integrado de unidades
de conservação de diferentes categorias, próximas ou contíguas, e suas respectivas zonas de
amortecimento e corredores ecológicos, integrando as diferentes atividades de preservação da
natureza, uso sustentável dos recursos naturais e restauração e recuperação dos ecossistemas.
Esta lei do SNUC (9985/2000) é regulamentada pelo Decreto nº 4.340/2002 que
ressalta os seguintes pontos:
Art. 2o O ato de criação de uma unidade de conservação deve indicar:
34
I - a denominação, a categoria de manejo, os objetivos, os limites, a área da
unidade e o órgão responsável por sua administração;
II - a população tradicional beneficiária, no caso das Reservas Extrativistas e das
Reservas de Desenvolvimento Sustentável;
III - a população tradicional residente, quando couber, no caso das Florestas
Nacionais, Florestas Estaduais ou Florestas Municipais; e
IV - as atividades econômicas, de segurança e de defesa nacional envolvidas.
Art. 3o A denominação de cada unidade de conservação deverá basear-se,
preferencialmente, na sua característica natural mais significativa, ou na sua denominação
mais antiga, dando-se prioridade, neste último caso, às designações indígenas ancestrais.
Art. 4o Compete ao órgão executor proponente de nova unidade de conservação
elaborar os estudos técnicos preliminares e realizar, quando for o caso, a consulta pública e os
demais procedimentos administrativos necessários à criação da unidade.
Art. 5o A consulta pública para a criação de unidade de conservação tem a
finalidade de subsidiar a definição da localização, da dimensão e dos limites mais adequados
para a unidade.
§ 1o A consulta consiste em reuniões públicas ou, a critério do órgão ambiental
competente, outras formas de oitiva da população local e de outras partes interessadas.
§ 2o No processo de consulta pública, o órgão executor competente deve indicar,
de modo claro e em linguagem acessível, as implicações para a população residente no
interior e no entorno da unidade proposta.
SEUC é o Sistema Estadual de Unidades de Conservação, instituído pelo Decreto
nº 34.256/1992 e regulamentado pelo Decreto Estadual n° 38.814, de 26 de agosto de 1998.
Em seu Art. 2º (Decreto nº 34.256/1992) cita que a estrutura do SEUC será
estabelecida de forma a incluir comunidades bióticas geneticamente significativas,
abrangendo a maior diversidade possível de ecossistemas naturais existentes no território
estadual e nas águas jurisdicionais, dando-se prioridade àqueles que se encontrarem mais
ameaçados de degradação ou eliminação.
Em seu Art. 7º (Decreto nº 34.256/1992) ressalta que a seleção das áreas a serem
incluídas no SEUC será baseada em critérios técnico-científicos, sendo prioritárias a criação
daquelas que constituírem ecossistemas ainda não representados no SEUC, ou em iminente
35
perigo de eliminação ou degradação ou, ainda, pela ocorrência de espécies ameaçadas de
extinção.
Já o Decreto Estadual n° 38.814/1998 destaca as seguintes finalidades:
I. - promover a criação, implantação e manutenção de unidades de conservação de
forma a proteger ecossistemas naturais representativos, no território estadual, e
suas águas juridiscionais, garantindo a conservação ou preservação da
biodiversidade nelas contida;
II. - promover a preservação e restauração de ecossistemas, manejo ecológico das
espécies e uso direto ou indireto dos recursos naturais contidos nas unidades de
conservação de acordo com a legislação existente e as diretrizes estabelecidas;
III.- fortalecer os serviços destinados à preservação do patrimônio ecológico,
faunístico, florístico, histórico, paisagístico, arqueológico, paleontológico,
cultural e científico contido nas áreas legalmente protegidas, prevendo sua
utilização em condições que assegurem sua conservação;
IV. - promover a política de criação, implantação, valorização e utilização de
unidades de conservação no Estado;
V. - cadastrar as unidades de conservação no Estado do Rio Grande do Sul,
estabelecendo os critérios para o cadastramento conforme a legislação
pertinente;
VI.- priorizar áreas onde devam ser criadas unidades de conservação,
especialmente aquelas que contiverem ecossistemas ainda não
representados no Sistema Estadual de Unidades de Conservação - SEUC, e
onde ocorra perigo de eliminação ou degradação ou, ainda, onde ocorram
espécies raras, endêmicas ou ameaçadas de extinção;
VII.- incentivar e coordenar a pesquisa científica, estudos, monitoramento,
atividades de educação e interpretação ambiental nas unidades de conservação;
VIII.- fomentar a cooperação entre os órgãos públicos estaduais e municipais e
as Organizações Ecológicas Não Governamentais;
IX. proteger e recuperar recursos hídricos.
36
O Art. 10 cita: Os municípios que possuírem unidades de conservação, poderão
receber recursos previstos em Lei a título de estímulo e compensação da preservação e
conservação ambiental, desde que:
- a utilização da unidade de conservação seja compatível com o que determina
a legislação em vigor para a categoria;
- a unidade de conservação conste no Cadastro de Unidades de Conservação
publicada no Diário Oficial do Estado, referendada pelo Conselho Estadual de Meio
Ambiente - CONSEMA.
Parágrafo único - A Unidade de Conservação estadual, para efeitos do benefício
previsto neste Decreto, terá sua área multiplicada por um fator de conservação, cujo cálculo
será definido por portaria específica, resultando na área de preservação ambiental.
O artigo 12 conceitua Área de Proteção Ambiental (APA) como: Área de domínio
público e privado, sob administração pública, com o objetivo de proteger recursos hídricos e
bacias hidrográficas, preservar belezas cênicas e atributos culturais relevantes, criar condições
para o turismo ecológico, incentivar o desenvolvimento regional integrado, fomentar o uso
sustentado do ambiente e servir de zona tampão para as categorias mais restritivas. Os
objetivos específicos do manejo, bem como as restrições de uso dos recursos naturais nela
contidos, serão estabelecidos no ato legal de criação, compatibilizando o desenvolvimento
sócio econômico com as necessidades de conservação.
Demais Legislações aplicáveis às Unidades de Conservação:
- LEI No 6.902, DE 27 DE ABRIL DE 1981 - Dispõe sobre a criação de Estações
Ecológicas, Áreas de Proteção Ambiental e dá outras providências.
- DECRETO FEDERAL Nº 89.336 DE 31 DE JANEIRO DE 1984 – Dispõe sobre as
Reservas Ecológicas e Áreas de Relevante Interesse Ecológico, e dá outras
providências.
- DECRETO ESTADUAL Nº 34.573 DE 16 DE DEZEMBRO DE 1992 – Aprova o
regulamento dos Parques do Estado do Rio Grande do Sul.
- DECRETO ESTADUAL Nº 34.550 DE 23 DE NOVEMBRO DE 1992 –
Regulamenta o Fundo de Desenvolvimento Florestal e dá outras providências.
- RESOLUÇÕES CONAMA – Ver capítulo específico adiante.
37
4.14 Meio Ambiente Urbano e o Estatuto da Cidade
O conceito de meio ambiente no espaço urbano contempla tanto o ambiente
natural quanto o ambiente construído. Ambiente construído abrange os aspectos social,
econômico, cultural e da infra-estrutura urbana.
Espaço Verde Urbano: Toda área urbana coberta por vegetação com valor social,
seja para produzir alimentos, conservação ou preservação de ecossistemas, valor estético,
cultural e/ou lazer passivo ou ativo.
Os Ecossistemas Urbanos também se compõem de árvores de rua, gramados e
parques, florestas urbanas, terras cultivadas, áreas alagáveis, córregos, lagos, mar, etc.
Quando bem distribuídos desvendam importante papel na sanidade urbana e bem estar da
população, além de patrimônio para a municipalidade (QUEIROZ, 1938).
Relacionam-se à prestação de serviços locais e diretos, relacionados à filtração do
ar, regulação microclimática, redução do ruído, drenagem de água pluvial, tratamento de
efluentes, recreação e valores culturais.
É importante lembrar que é nos espaços urbanos que os recursos hídricos estão
mais vulneráveis à degradação ambiental, portanto é essencial o respeito às limitações legais e
o uso adequado dos instrumentos de proteção destas áreas.
Relacionado à função social e ambiental da propriedade urbana e das cidades como
um todo, já postuladas no Estatuto da Cidade (Lei Federal n°10.257/2001), quando visa à
sustentabilidade urbana e a garantia do meio ambiente ecologicamente equilibrado como bem
de uso comum do povo.
Uso e ocupação do solo urbano: no ordenamento do território, sob a ótica
ambiental, é importante delimitar as áreas onde a edificação deve ser condicionada ou mesmo
impedida. Estas áreas são constituídas pelas zonas de maior sensibilidade ecológica, ou seja,
aquelas que assegurarão uma maior sustentabilidade da paisagem.
Podemos especificar como sendo zonas de maior sensibilidade ecológica:
nascentes; margens de cursos d’água; encostas de morro; topos de morro; banhados; dunas;
mangues; mata nativa,etc.
As zonas de maior sensibilidade ecológica possuem funções importantes no meio
urbano, tais como: fornecer conforto ambiental (redução da temperatura e manutenção do teor
de umidade do ar); controle da poluição e proteção dos ventos; circulação de água; criação de
habitats tendo em vista a biodiversidade; possibilidade de realização de longos percursos a pé
ou de bicicleta em contato com a natureza.
38
Destacam-se atualmente duas orientações principais de uso/ocupação de zonas de
maior sensibilidade ecológica:
a de proibição integral ou parcial do desenvolvimento de usos urbanos nestas áreas
(geram custos de desapropriação);
a de controle da urbanização através da regulação e disciplinamento do processo de
uso e ocupação do solo na bacia e de dispositivos de controle da poluição e infra-estruturas
geram custos com controle e fiscalização.
As áreas de preservação situadas em zona urbana têm seus usos especificados
conforme a classificação ambiental, que as divide em:
Parques urbanos: são áreas com atividades esportivas, recreação infanto-juvenil,
funções cívicas, e possuem inter-relacionamento da área livre com a área construída do
entorno.
Reservas ecológicas: são áreas de valor natural com intervenção do homem em uso
restrito ou rarefeito. No uso restrito os usos permitidos são exclusivamente os de acordo com
as potencialidades do solo, e no uso rarefeito a ação do homem poderá ocorrer em total
convívio com a natureza, com taxas de até 25% de ocupação.
Reservas biológicas: são as áreas de preservação permanente, proibidas de
ocupação.
4.15 Lei dos Crimes Ambientais (L. 9.605/98) - infração administrativa
A lei 9605 de 1998 dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.
Dentro das responsabilidades pelos danos ambientais, (responsabilidades que são
independentes entre si), existe a responsabilidade administrativa que, resulta da infração, (não
necessariamente que venha a acarretar dano) à normas administrativas públicas, esta é
aplicada à pessoas físicas ou jurídicas que violem direta ou indiretamente normas e são
sancionadas também por penas de natureza administrativa, tais como advertência, multa
simples, interdição de atividade, suspensão de benefício. É aplicada pelo poder Executivo e
Órgãos competentes, mas pode ser levada ao Judiciário.
A lei 9605 coloca em seu artigo 70 como sendo infração administrativa ambiental
toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e
recuperação do meio ambiente. (SILVA, 2003 p. 302-303).
39
4.16 Sanções administrativas aplicáveis - fundamento legal
O artigo 72 da lei 9605 de 1998 estabelece as punições para as infrações
administrativas considerando as circunstâncias de gravidade, antecedentes e situação
econômica. É importante acrescentar que a legislação estadual e municipal também podem
prever sanções administrativas às infrações às suas normas. (SILVA, 2003 p. 302-303).
Sanções:
I - Advertência;
II - Multa simples;
III - Multa diária;
IV - Apreensão dos animais, produtos e sub-produtos da fauna e flora, instrumentos,
petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração;
V - destruição ou inutilização do produto;
VI - suspensão de venda e fabricação do produto;
VI - suspensão de venda e fabricação do produto;
VII - embargo de obra ou atividade;
VIII - demolição de obra;
IX - suspensão parcial ou total de atividades.
4.17 PNMA – Política Nacional do Meio Ambiente (L. 6938/81) – instrumentos:
Intervenção, Controle e os de Repressão
Intervenção instrumentos de intervenção:
I – o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental. Ex: emissões
atmosféricas de fábricas de cimento.
II – Zoneamento ambiental. Ex: zoneamento econômico – ecológico (ZEE) de uma
região ou Estado.
Controle instrumentos de controle:
III - Avaliação de impactos ambientais. Ex: Pré-requisito para licenciamentos de
atividades potencialmente poluidoras ou degradantes ao meio ambiente.
IV – Licenciamento ambiental. Ex: Processo administrativo realizado pelo órgão
público para normatizar e disciplinar atividades impactantes ao meio ambiente.
40
Repressão Basicamente a Lei n° 9.605/98. Lei dos crimes ambientais, onde está
previsto a responsabilização, independente de culpa, dos envolvidos em degradação
ambiental, sujeitos a diversas penas, como multa ou até prisão, por exemplo.
4.18 Lei Orgânica do Município de Montenegro
SEÇÃO VI - DA POLÍTICA DO MEIO AMBIENTE
Art. 206. O Município deverá atuar no sentido de assegurar a todos os cidadãos o
direito a meio ambiente ecologicamente saudável e equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à qualidade de vida.
Parágrafo Único – Para assegurar efetividade a esse direito, o Município deverá
articular-se com os órgãos estaduais, regionais e federais competentes e ainda, quando for o
caso, com outros municípios, objetivando a solução de problemas comuns relativos à proteção
ambiental.
Art. 207. A implantação ou execução de atividades públicas ou privadas que possam
representar grande risco, direto ou indireto, de modificação significativa da qualidade dos
recursos ambientais, da biota, da segurança ou do bem-estar da população, na área do
Município, dependerão, além das exigências estabelecidas em lei, também de consulta à
população, mediante plebiscito.
Art. 208. O Município, ao promover a ordenação de seu território, definirá
zoneamento e diretrizes gerais de ocupação que assegurem a proteção dos recursos naturais,
em consonância com o disposto na legislação estadual pertinente.
Art. 209. A política urbana do Município e o seu plano diretor deverão contribuir
para a proteção do meio ambiente, através da adoção de diretrizes adequadas de uso e
ocupação do solo urbano.
Art. 215. O Município concederá incentivos para a preservação de áreas de interesse
ecológico em propriedades privadas.
Art. 216. O Município assegurará a participação das entidades representativas da
comunidade no planejamento e na fiscalização da proteção ambiental, garantindo amplo
acesso dos interessados às informações sobre as fontes de poluição e degradação ambiental ao
seu dispor.
Art. 217. Visando à proteção do patrimônio, o Município definirá Áreas Especiais de
Preservação, em locais de relevante interesse ecológico, histórico e paisagístico.
41
Parágrafo Único – O Morro São João, o Morro Montenegro, o Morro dos
Crisóis, o Morro Fagundes e a margem do Rio Caí ficam definidos como áreas Especiais
de Preservação e a sua utilização far-se-á na forma da lei, dentro de condições que
assegurem a manutenção das suas características, inclusive quanto ao uso dos recursos
naturais.
SEÇÃO V - DA POLÍTICA URBANA
Art. 198. A política urbana, a ser reformulada no âmbito do processo de planejamento
municipal, terá por objetivo o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e o bem-
estar dos seus habitantes, em consonância com as políticas sociais e econômicas do
Município.
Parágrafo Único – As funções sociais da cidade dependem do acesso de todos os
cidadãos aos bens e aos serviços urbanos, assegurando-se-lhes condições de vida e moradia
compatíveis com o estágio de desenvolvimento do Município.
Art. 199. O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, é o instrumento básico da
política urbana a ser executada pelo Município.
§ 1.º – O plano diretor fixará os critérios que assegurem a função social da
propriedade, cujo uso e ocupação deverão respeitar a legislação urbanística, a proteção do
patrimônio ambiental natural e construído e o interesse da coletividade.
§ 3.º – O plano diretor definirá as áreas especiais de interesse social, urbanístico ou
ambiental, para as quais será exigido aproveitamento adequado nos termos previstos na
Constituição Federal.
4.19 Código Ambiental do Município de Montenegro - Lei n.º 4.293, de 20 de
outubro de 2005
CAPÍTULO I - DA POLÍTICA AMBIENTAL
Art. 1. O Meio Ambiente é patrimônio da coletividade, bem de uso comum do povo, e
sua proteção é dever do Município e de todas as pessoas e entidades que, para tanto, no uso da
propriedade, no manejo dos meios de produção e no exercício de atividades, deverão respeitar
as limitações administrativas e demais determinações estabelecidas pelo Poder Público, com
42
vistas a assegurar um ambiente sadio e ecologicamente equilibrado, para as presentes e
futuras gerações.
Art. 3. Compete ao Poder Executivo através do Departamento Municipal do Meio
Ambiente – DMA:
I – executar, direta ou indiretamente a política ambiental do município;
II – coordenar ações e executar planos, projetos e atividades de preservação e
recuperação ambiental;
III – estudar, definir e expedir normas técnicas, legais e procedimentos, visando a
proteção ambiental do Município;
IV – identificar, implantar e administrar unidades de conservação e outras áreas
protegidas, visando a conservação dos mananciais, ecossistemas naturais, flora e fauna,
recursos genéticos e outros bens e interesses ecológicos, estabelecendo normas a serem
observadas nessas áreas;
VI – elaborar e revisar planejamentos locais, quanto aos aspectos ambientais do
controle da poluição, com a expansão urbana e propor a criação de novas unidades de
conservação e de outras áreas protegidas;
VII – participar na elaboração do zoneamento e de outras atividades de uso e
ocupação do solo;
VIII – aprovar e fiscalizar a implantação de áreas, setores e instalações para fins
industriais, agropecuárias e parcelamentos de qualquer natureza, bem como quaisquer
atividades que utilizem recursos ambientais renováveis e não renováveis;
IX – autorizar, supletivamente, de acordo com a legislação Federal e Estadual, o corte
e a exploração racional ou quaisquer outras alterações de cobertura vegetal nativa, original,
regenerada e exótica no perímetro urbano;
XII – participar da elaboração e execução de medidas adequadas à preservação
do patrimônio urbanístico, paisagístico, espeleológico, paleontológico e geológico;
XV – acompanhar e analisar os estudos de impacto ambiental e análises de risco, das
atividades que venham a se instalar no Município;
XVI – conceder licenciamento ambiental para a instalação de atividades sócio-
econômicas potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras de recursos ambientais;
XVIII – promover a identificação e o mapeamento das áreas de poluição e as
ambientalmente frágeis, visando o correto manejo das mesmas;
43
XIX – exigir projeto técnico e/ou plano de controle ambiental – PCA, para a
instalação de atividade sócio-econômicas, que utilizam recursos naturais ou degradam o
meio ambiente;
XX – exigir estudo de Impacto Ambiental para implantação de atividades sócio-
econômicas, pesquisas e difusão e implantação de tecnologias que, de qualquer modo
possam degradar o Meio Ambiente;
XXIV – convocar audiências públicas, quando necessárias, nos termos das leis
vigentes;
CAPÍTULO II - DA PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE
Art. 9. A construção, instalação, ampliação, conservação e funcionamento de
estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados
efetivamente ou potencialmente poluidores, bem como empreendimentos capazes, sob
qualquer forma de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento do
Departamento Municipal do Meio Ambiente - DMA, para posterior concessão do competente
Alvará de localização e funcionamento por parte da Secretaria Municipal da Fazenda, sem
prejuízo de outras licenças exigíveis.
Art. 26. Toda a atividade que envolva projetos de engenharia civil, tais como,
trabalhos de terraplanagens, aterros e escavações no Município, que impliquem na
descaracterização da morfologia natural da área, deverá ser submetida a exame par
parte do Departamento Municipal do Meio Ambiente - DMA, com posterior
licenciamento conforme termo de referência do DMA.
Art. 27. As edificações em forma de condomínio horizontal e ou vertical, deverão
captar as águas das chuvas através de seus telhados e armazená-las em cisternas, esta medida
visa suprir a falta de água ou não, permitindo o uso para os mais variados fins desde que não
sejam destinadas ao consumo humano.
Art. 32. Fica proibido o corte ou a destruição parcial ou total de essências florestais
nativas no âmbito do Município sem a autorização prévia do órgão florestal competente.
Art. 33. A autorização para exploração de florestas nativas nos termos da Resolução
n.° 016, de 7 de dezembro de 2001, do Conselho Estadual de Meio Ambiente – CONSEMA,
somente será concedida através do licenciamento, havendo a obrigatoriedade de reposição nos
termos da lei estadual e federal vigente.
44
§ 1.º Quando ocorrer o corte raso, devidamente licenciado, a reposição florestal
obrigatória deverá ser feita com mudas nativas, na proporção de 15 (quinze) por metro cúbico
(m³) de lenha.
Art. 34. Visando a preservação de espécimes raros ou em extinção e árvores matrizes,
compete ao Departamento Municipal do Meio Ambiente – DMA, catalogar e declará-las
imunes de corte.
Art. 39. O Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente – COMDEMA,
dentre suas atribuições será o órgão competente para recebimento, julgamento e
decisões sobre as infrações ambientais do Município.
CAPÍTULO III - DAS PENALIDADES
Art. 41. Considera-se infração a inobservância dos dispositivos e normas
regulamentadoras deste Código e outras que, por qualquer forma se destinem à
promoção, preservação, recuperação e conservação do Meio Ambiente.
Art. 43. Para a aplicação da pena de multa a que se refere o inciso II, do art. 42, as
infrações são classificadas em:
II – grupo II – eventuais ou permanentes, as que provoquem efeitos significativos,
embora reversíveis, sobre o Meio Ambiente ou população, podendo vir a causar danos
temporários à integridade física e psíquica;
III – grupo III – eventuais ou permanentes, as que provoquem efeitos significativos,
irreversíveis, ao Meio Ambiente ou à população, podendo causar danos definitivos à
integridade física e psíquica.
§ 1.º São considerados efeitos significativos àqueles que:
I – conflitem com planos de preservação ambiental da área onde está localizada a
atividade;
II – gerem dano efetivo ou potencial à saúde pública ou ponham em risco a
segurança da população;
III – degradem os recursos hídricos superficiais e subterrâneos;
IV – contribuam para a violação de padrões de emissão e de qualidade ambiental em
vigor;
V – interfiram substancialmente na reposição das águas de superfície e ou subterrânea;
VI – causem ou intensifiquem a erosão dos solos;
VII – exponham pessoas ou estruturas aos perigos eventuais geológicos;
45
IX – afetem substancialmente espécies animais e vegetais ou em vias de extinção
ou degradem seus “habitats” naturais;
X – interfiram no deslocamento e/ou preservação de quaisquer espécies animais
migratórias;
XI – induzam a um crescimento ou concentração anormal de alguma população
animal e/ou vegetal;
§ 3.º São considerados efeitos significativos irreversíveis aqueles que, após sua
aplicação de tratamento convencional de recuperação e com decurso do tempo,
demarcado para cada caso, não conseguem converter ao estado anterior.
Art. 47. O Poder Executivo, juntamente com o Conselho Municipal do Meio
Ambiente, fica autorizado a determinar medidas de emergência a fim de evitar episódios
críticos de poluição ou degradação ambiental ou impedir sua continuidade.
4.20 Resoluções CONAMA
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 11, DE 3 DE DEZEMBRO DE 1948. - Dispõe
sobre a declaração das Unidades de Conservação, várias categorias e sítios ecológicos
de relevância cultural.
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 11, DE 6 DE DEZEMBRO DE 1990. - Dispõe
sobre a revisão e elaboração de planos de manejo e licenciamento ambiental na Mata
Atlântica.
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 369, DE 28 DE MARÇO DE 2006. - Dispõe sobre
casos excepcionais de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental
que possibilitam a intervenção ou supressão de vegetação em Área de Preservação
Permanente – APP.
RESOLUÇÃO Nº 303, DE 20 DE MARÇO DE 2002. - Dispõe sobre parâmetros,
definições e limites de Áreas de Preservação Permanente.
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 004/1985 - "Dispõe sobre definições e conceitos
sobre Reservas Ecológicas E Áreas de Relevante Interesse Ecológico". - Alterada pela
Resolução nº 10, de 1993. Revogada pela Resolução nº 303, de 2002.
46
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 011/1987 - "Dispõe sobre a declaração da Unidades
de Conservação, várias categorias e sítios ecológicos de relevância cultural". -
Revogada pela Resolução nº 428, de 2010..
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 428/2010 - "Dispõe, no âmbito do licenciamento
ambiental sobre a autorização do órgão responsável pela administração da Unidade de
Conservação (UC), de que trata o § 3º do artigo 36 da Lei nº 9.985 de 18 de julho de
2000, bem como sobre a ciência do órgão responsável pela administração da UC no
caso de licenciamento ambiental de empreendimentos não sujeitos a EIA-RIMA e dá
outras providências”.
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 010/1988 - "Dispõe sobre a regulamentação das
APAs". - Data da legislação: 14/12/1988 - Revogada pela Resolução nº 428, de 2010.
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 011/1988 - "Dispõe sobre as queimadas nas
Unidades de Conservação" - Data da legislação: 14/12/1988.
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 012/1989 - "Dispõe sobre a proibição de atividades
em Área de Relevante Interesse Ecológico que afete o ecossistema".
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 013/1990 - "Dispõe sobre a área circundante, num
raio de 10 (dez) quilômetros, das Unidades de Conservação". - Data da legislação:
06/12/1990 - Revogada pela Resolução nº 428, de 2010.
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 004/1993 - "Considera de caráter emergencial, para
fins de zoneamento e proteção, todas as áreas de formações nativas de restinga".
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 002/1996 - "Determina a implantação de unidade
de conservação de domínio público e uso indireto, preferencialmente Estação
Ecológica, a ser exigida em licenciamento de empreendimentos de relevante impacto
ambiental, como reparação dos danos ambientais causados pela destruição de florestas
e outros ecossistemas, em montante de recursos não inferior a 0,5 % (meio por cento)
dos custos totais do empreendimento. Revoga a Resolução CONAMA nº 10/87, que
47
exigia como medida compensatória a implantação de estação ecológica". - Data da
legislação: 18/04/1996 - Revogada pela Resolução nº 371, de 2006.
4.21 Tratados internacionais em que o Brasil é signatário
DECRETO LEGISLATIVO Nº 2, DE 3 DE FEVEREIRO DE 1994.
DECRETO LEGISLATIVO Nº 2.519, DE 16 DE MARÇO DE 1998.
Convenção sobre Diversidade Biológica. Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento - CNUMAD, em 1992.
DECRETO Nº 3, DE 13 DE FEVEREIRO DE 1948.
Aprova a Convenção para a proteção da Flora, da Fauna e das Belezas Cênicas
Naturais dos países da América. Washington, 12 de outubro de 1940.
CONVENÇÃO DE RAMSAR - DLG nº 33, de 16/06/1992, publicado em
17/06/1992. DEC nº 1.905, de 16/05/1996.
48
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de toda fundamentação legal exposta ao longo deste estudo de caso pode-se
constatar que a criação de uma Unidade de Conservação é uma alternativa competente para
atingir os objetivos de conservação, recuperação e disciplinamento do uso e ocupação do solo.
Configura-se como passo fundamental para a gestão dos recursos disponíveis em
tamanha abundância, não somente relacionado ao patrimônio cultural, mas também com a
questão de qualidade e quantidade de água de sua Bacia.
Desta forma, apresenta-se em ANEXO a este estudo projeto completo de criação de
uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável, na categoria de Área de Proteção
Ambiental – APA para a região.
49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, D.R.; Carvalho, L.C.; Rocha, C.F.D. As bromélias da Mata Atlântica da Ilha
Grande, RJ: composição e diversidade de espécies em três ambientes diferentes.
Bromélia. 1998. P.5:55-65.
BROOKS, T. M.; MITTERMEIER, R. A.; MITTERMIEIER, C. G.; FONSECA, G. A. B.;
RYLANDS, A. B.; KONSTNAT, W. R.; FLICK, P. e HILTON-TAYLOR, C. (2002).
Habitat loss and extinction in the Hotspots of Biodiversity. Conservation Biology. 16 (4):
P. 909-923.
RELPH, E. C. As bases fenomenológicas da geografia. Geografia. V. 4, n° 7, AGETEO, Rio
Claro, São Paulo, 1979.
SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Editora Hucitec, 1991.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço. Técnica e tempo, razão e emoção. 2ª Ed. São
Paulo: Editora Hucitec, 1997.
SUERTEGARAY, Dirce M. A. Espaço Geográfico uno e múltiplo. In: Ambiente e lugar no
urbano: a grande Porto Alegre. (org.) SUERTEGARAY, Dirce M. A.; BASSO, Luís
Alberto; VERDUM, Roberto. Editora da Universidade UFRGS Porto Alegre, 2000. p 13 – 34.
TUAN, Yu-Fu. Space and place: humanistic perspective. Progress in Geography. V.1, n° 6,
1975.
50
ANEXO – PROPOSTA DE CRIAÇÃO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO
APRESENTAÇÃO DO PROJETO
TÍTULO
Criação da Área de Proteção Ambiental do Morro São João do Montenegro.
LOCALIZAÇÃO
O referido projeto será implementado na Bacia Hidrográfica do Rio Caí, município
de Montenegro, mais especificamente no Morro São João do Montenegro, Morro da Pedreira,
Morro dos Fagundes (Morro da Formiga), Morro Montenegro e nas áreas de preservação
pernamente (banhados, áreas alagadiças e mata ciliar) do Rio Caí.
BIOMA
A Bacia Hidrográfica do Rio Caí está inserida no bioma Mata Atlântica Subtropical.
DURAÇÃO
Indeterminada. Dependente do pré-diagnóstico e do diagnóstico.
RESUMO DO PROJETO
Este trabalho tem por finalidade assegurar a preservação de parte significativa do
patrimônio natural de Montenegro, principalmente os morros da região e criar de maneira
legitima e oficial a Área de Proteção Ambiental do Morro São João, conectado também às
áreas sujeitas à alagamentos e de banhados, consideradas Preservação Permanente nas
margens do Rio Caí em Montenegro, pertencente à Bacia Hidrográfica do Rio Caí.
Da mesma forma, busca-se utilizar o instrumento Parque Linear Urbano, dissertação
de Mestrado da Arquiteta e Urbanista Daniela Friedrich (FRIEDRICH, 2007), como projeto
piloto para o Vale do Caí em relação ao uso e ocupação das suas áreas naturais,
principalmente junto aos corpos d’água. O instrumento Parque Linear está sendo apontado
51
pela bibliografia atual como medida sustentável de uso e ocupação das áreas de fundo de vale
urbanas, nos âmbitos ambientais, sociais, econômicos e culturais.
Compõe uma visão onde a base das intervenções prioriza a manutenção, regeneração e
recuperação dos aspectos físicos e bióticos. Vê a idéia de uma organização do espaço a partir
da integração dos ecossistemas, a qual pressupõe a linearidade e conectividade entre as
estruturas, que promovam a biodiversidade animal e vegetal, a drenagem e outros eventos,
garantindo a manutenção dos sistemas envolvidos.
Objetiva-se reconhecer os elementos integradores da paisagem, assim como as
potencialidades regionais a fim de implementar um modelo de gestão ambiental da bacia
hidrográfica do rio caí adequada, onde as condições fisiográficas e biogeográficas formam um
complexo homogêneo e extensivo, se estendendo às áreas social, cultural e econômica.
Para tanto, almeja-se a criação de uma Unidade de Conservação na categoria de Área
de Proteção Ambiental (APA) no Morro São João, conectado também aos outros morros
locais, já protegidos pela Lei Orgânica Municipal, bem como as áreas sujeitas à alagamentos
(banhados), consideradas de preservação permanente nas margens do Rio Caí em
Montenegro, pertencente à Bacia Hidrográfica do Rio Caí, tornando possível uma infra-
estrutura capaz de garantir um trabalho realmente consistente e eficaz de gestão ambiental.
APRESENTAÇÃO DA INSTITUIÇÃO PROPONENTE
Identificação da Instituição Proponente
Instituição
Associação Acaang, com sede no município de Santa Maria, na Rua Lobo da Costa,
n° 55, bairro Camobi, CNPJ n°: 05.535.213/0001-31 e registro n°: 2.942. Endereço
eletrônico: [email protected].
Representante
Cláudio Eduardo da Costa Alves, Médico Veterinário, com n° de registro no
Conselho Federal de Medicina Veterinária (CRMV-RS) sob n°: 554, inscrito no Cadastro de
Pessoas Físicas (CPF) sob o n°: 931.369.940/00 Carteira de Identidade (RG) sob n°:
52
3038.659326 SJS/II, residente na Estrada Paquete n° 5049, município de Capela de Santana,
distrito de Paquete. Endereço eletrônico: [email protected].
INTRODUÇÃO
Já se pode prever que entre os padrões de reconhecimento do nível de
desenvolvimento de um país devam figurar a capacidade de seu povo em termos de
preservação dos recursos, o nível de exigência e o respeito ao zoneamento de atividades,
assim como a própria busca de modelos para uma valorização e renovação correta dos
recursos naturais.
Mais do que simples espaços territoriais, os povos herdam paisagens e ecologias,
pelas quais certamente são responsáveis, ou deveriam ser. Esta Herança da Paisagem se
relaciona não somente a processos fisiográficos e biológicos, mas também como patrimônio
coletivo dos povos que historicamente herdaram como território de atuação de suas
comunidades.
Desta forma, um melhor conhecimento das limitações de uso específicas de cada
espaço e paisagem permite identificar determinadas potencialidades paisagísticas regionais,
tornando possível a elaboração de um modelo de desenvolvimento alternativo para as
comunidades locais.
Por conseguinte, a aplicação de instrumentos de gestão territorial de grandes
paisagens pode, efetivamente, permitir a conservação e a representatividade de geossistemas
únicos, através do uso não predatório e planejado.
CONTEXTUALIZAÇÃO E DIAGNOSTICO
A transformação progressiva da conformação social dos povos primitivos em cidades
urbanizadas explica o processo de “desenvolvimento” atual, o qual está se expandindo na
razão de mais de 2% ao ano, nos países da América do Sul, acarretando, inevitavelmente, uma
compressão insuportável às diferentes populações de animais selvagens e seus habitats
naturais (TERBORGH, 1992).
Esta expansão da ocupação humana, com este crescimento exponencial, tem levado à
redução e à fragmentação de vários biomas do país, podendo levar uma infinidade de
organismos ao caminho irreversível da extinção. O resultado prático desta “evolução” humana
manifesta-se na unidade básica dos problemas ambientais: a fragmentação de habitats.
53
A fragmentação de habitats é uma das mais importantes e difundidas conseqüências da
atual dinâmica de uso da terra pelo Homem (BROOKS et al, 2002). ALMEIDA et al. (1998)
comentam que quando as características originais de um habitat são alteradas, muitos
elementos essenciais à manutenção das espécies da comunidade local desaparecem, tornando
assim, inviável a permanência e sobrevivência de uma ou várias espécies.
As causas da degradação ambiental também estão associadas à situações históricas e
atuais de iniqüidade social. No Brasil, a fragmentação e redução progressiva de florestas,
sobretudo pela ação antrópica, se iniciou na época do “descobrimento” e acentuou-se
principalmente nos últimos 200 anos, com a ampliação de áreas destinadas às atividades
agropecuárias, industriais e à especulação imobiliária (LEITÃO FILHO, 1982).
A partir da década de 70, o governo brasileiro (receoso do interesse internacional pelas
riquezas do país, principalmente Amazônia) percebeu a necessidade política de se estabelecer
uma definitiva e reconhecida soberania nacional sobre o território, até mesmo nas suas
porções mais isoladas e distantes. Com isso, iniciou um projeto de desenvolvimento e
integração do interior do país, que priorizava a ocupação da região com a função de integrá-la
ao mercado nacional. Um elemento central para materializar esta integração foi o
planejamento e abertura de grandes rodovias que, juntamente com políticas públicas de
incentivo ao setor agropecuário, deram uma nova dimensão no acesso às áreas florestais
anteriormente inacessíveis.
Na mesma década de 70 tiveram inicio as primeiras discussões sobre a necessidade de
se diminuir os impactos antrópicos no planeta e também sobre a importância da
biodiversidade e dos riscos de sua perda. Assim, questões como: o que conservar, onde
conservar, qual a melhor abordagem, etc, começaram a dominar as pesquisas (SHIMBORI et
al., 2003).
Conceitos recentes como Ecologia da Paisagem e estudos sobre biogeografia de ilhas
e metapopulações, por exemplo, fundamentam-se na constatação de que o espaço é
fragmentado, resultando em diversas configurações de uso da terra (matriz), ao mesmo tempo
em que forma habitats naturais distintos e separados. São conceitos indispensáveis para o
entendimento e gestão territorial de grandes paisagens.
O processo ou modelo de desenvolvimento atual está levando à formação de paisagens
contendo apenas manchas pequenas de áreas naturais. Estas manchas pequenas acabam por se
tornar ambientes extremamente nevrálgicos para populações reduzidas, pois estas são
altamente susceptíveis à extinção por uma série de razões.
54
A persistência de espécies nestas paisagens depende de uma dinâmica regional,
interconectando as distintas manchas, caso contrário estarão fadadas à erosão genética
(endogamia) e ao desaparecimento. Esta dinâmica local está diretamente relacionada aos
conceitos de local habitável e distância de dispersão, fatores extremamente importantes na
persistência e sobrevivência das populações.
Essa necessária ligação entre as diferentes manchas e suas comunidades se revela um
desafio para diversos grupos, pois obriga estes a atravessarem a matriz em busca de melhores
locais de sobrevivência, alimentação, reprodução, etc. Isto pode limitar o potencial de
dispersão das espécies e a colonização, uma vez que, como atestam Fernandes & Rodrigues
(2003), muitas espécies do interior da mata não atravessam nem mesmo faixas estreitas de
ambiente aberto devido o perigo de predação.
O problema é que quanto mais áreas forem desmatadas, somado às variáveis de
distância entre os fragmentos, tipo de matriz, vulnerabilidade e adaptabilidade das espécies à
esta, grau de dispersão, etc., menor será a taxa migratória proveniente das áreas fonte para os
fragmentos.
Quando a dispersão animal é reduzida, plantas que dependem dos animais para
dispersão de suas sementes também são afetadas. Desta forma, os fragmentos isolados de
habitats não serão colonizados por muitas espécies nativas.
Em relação às espécies raras e endêmicas, estas apresentam maior suscetibilidade
ainda ao desaparecimento devido ao seu alto grau de vulnerabilidade, decorrente de
características intrínsecas à espécie, como distribuição restrita ou esparsa, além de relações
extremamente complexas com o meio biótico e abiótico (BERKENBROCK et al., 2003),
inclusive com outras espécies, possivelmente já extintas localmente.
Grande parte dos recursos genéticos, antes mesmo de seu completo conhecimento,
vem sendo destruída de forma irreversível, com alterações profundas e conseqüências
desastrosas nos ecossistemas, exigindo medidas urgentes de conservação (KAGEYAMA,
1987 apud BERKENBROCK et al., 2003).
Segundo o mesmo autor, a variabilidade genética das populações está diretamente
ligada ao fluxo gênico e, consequentemente, a estrutura genética das populações. A
interrupção ou redução deste fluxo por diversos tipos de barreiras pode tornar as populações
total ou parcialmente isoladas geneticamente, promovendo a endogamia (MARTINS, 1987
apud BERKENBROCK et al., 2003).
Este fato resulta em maior propiciamento de doenças deletérias e aumento da
fragilidade da população em questão, muitas vezes pelo simples fato de não possuir mais
55
adaptabilidade para enfrentar desafios. A conseqüência mais importante disso é a extinção de
espécies.
Outra questão é que na ausência de alguns elementos de fauna que funcionem como
agentes de dispersão e polinização, muitos fragmentos florestais podem ser transformados em
florestas vazias (REDFORD, 1992 apud GRELLE, 2003). O referido autor descreve o fato
como “ecologia da exploração”, indicando a ocorrência de grandes alterações tanto na
estrutura como na composição das florestas, a longo prazo. Isto certamente tem efeitos
perniciosos sobre o equilíbrio ou estabilidade do ecossistema, assim como sobre as
expectativas sobre sua sustentabilidade (AHRENS, 1997).
Uma possível conseqüência, em decorrência da perda destes grupos funcionais é o
desaparecimento de cerca de 80 % das arvores nos trópicos, as quais são extremamente
dependentes da dispersão realizada por vertebrados (GENTRY, 1982 apud GRELLE, 2003).
JUSTIFICATIVA
A perda da floresta tropical, juntamente com os fatores que contribuem para a sua
degradação e as possíveis soluções, é um dos principais objetivos dos estudos atuais sobre
conservação do ambiente, da mesma forma que interações e fatores que influenciam a
distribuição e abundância de organismos são o foco principal da Ecologia como ciência
(KREBS, 1994).
O resultado visível da fragmentação do ambiente para as populações selvagens denota
a importância da conectividade entre os remanescentes florestais habitados por estas
populações. Uma das alternativas é a implementação de corredores ecológicos. Corredores
ecológicos podem contribuir significativamente para a conservação da biodiversidade no
Brasil.
Esta nova abordagem permite aumentar o fluxo gênico entre populações, através da
conectividade entre as áreas, uma vez que esses corredores fornecem cobertura de mata,
inclusive agindo como proteção quanto à alteração abrupta da mancha com a matriz (efeito de
borda). Metzger et al. (1999 apud BREDA et al., 2003) comentam que os corredores servem
também como suplemento de habitat e atuam como áreas de refúgio para a fauna, em caso de
perturbação nos fragmentos.
Se ocorrer fluxo gênico entre as populações espacialmente isoladas, a chance de
sobrevivência a longo prazo é bem maior que sem fluxo gênico. Este “efeito resgate” reduz a
probabilidade de extinção local, quando ocorre migração substancial entre as populações.
56
O pior cenário ocorre quando uma população é fragmentada em sub-populações
espacialmente isoladas com pouca ou nenhuma migração entre elas, cada uma sendo tão
pequena que os acidentes demográficos (flutuações de n) rapidamente conduzem à extinção
(PIMM, 1991 apud SCARIOT, 1998).
O estudo da estrutura genética e da diversidade permite o conhecimento da
organização e distribuição da variabilidade genética entre e dentro de populações naturais.
Este entendimento é imprescindível para a escolha de estratégias que visem a conservação e
manejo de populações naturais em seu habitat natural, com a perspectiva de manutenção da
diversidade e garantia de sua sustentabilidade (OYAMA, 1993 apud BERKENBROCK et al.,
2003).
Com isso, busca se evitar o empobrecimento geral da mancha, sua redução no
tamanho, no grau de isolamento das populações, redução nas taxas de imigração ou mudanças
nos padrões de dispersão, assim como mudanças na estrutura da comunidade e aumento nos
efeitos de borda (SAUNDERS et al., 1991).
Dentre os vários temas possíveis de investigação, está o planejamento e
implementação de técnicas sustentáveis, ou seja, um mosaico de usos da terra complementar e
gerenciado de forma integrada, que permita conservar a diversidade e manter tanto a dinâmica
dos processos ecológicos como a dinâmica sócio ambiental de um determinado território.
A criação de áreas protegidas pelo sistema de Unidades de Conservação Federal
(UC’s) tem sido a estratégia principal de proteção da diversidade biológica, sendo que tal
pratica foi oficialmente assumida pelos paises integrantes da Convenção sobre Diversidade
Biológica (MMA, 1999 apud MACHADO et al., 2003).
É neste contexto que se torna premente a necessidade de conhecer a relação das
comunidades residentes em áreas contíguas às áreas protegidas e de que maneira afetam e são
afetadas pela existência destas áreas. É necessário que a população entenda seu valor e possua
um sentimento de pertencimento à natureza, para entender os motivos de preservar.
Por lei, as propriedades privadas são obrigadas a manter uma parcela específica da sua
área como reserva legal, bem como áreas de preservação permanente (APP – se houver).
Nestas áreas podem até mesmo serem empreendidas atividades de manejo, desde que seja
mantida a cobertura florestal. Da mesma forma, proprietários rurais podem manter áreas para
fins de conservação, obtendo assim, redução ou até isenção do Imposto Territorial Rural
(ITR).
57
Os mais recentes estudos têm utilizado a percepção ambiental como forma de entender
as diferentes relações do ser humano com o meio em que está inserido, principalmente em
comunidades próximas à áreas de preservação da natureza (FONTANA & IRVING, 2003).
Segundo MacDowell & Sparks (1989 apud GUIMARÃES & DE MARCO, 2003),
conhecer a atitude e o comportamento de proprietários rurais em relação à conservação é um
importante passo na pesquisa sobre a conservação de ecossistemas naturais em propriedades
rurais.
O desenvolvimento econômico de uma região sempre modificará a estrutura e o
funcionamento dos ecossistemas naturais, porém uma melhor compreensão do funcionamento
do ecossistema, aliada ao manejo e investimento apropriados poderá diminuir os efeitos
ambientais negativos.
O mundo enfrenta o desafio de conciliar conservação com desenvolvimento e o
paradigma dominante de desenvolvimento econômico, baseado no crescimento infinito, é
fundamentalmente incompatível com a sustentabilidade social e ecológica (REES, 2003).
A aliança do conhecimento científico com políticas públicas, relacionadas ao uso e
ocupação do solo, é extremamente necessária para evitar uma degradação ambiental
impetuosa e violenta, bem como para manejar as áreas naturais que irão enfrentar grande onda
de pressão no futuro.
As ações econômicas, sociais, políticas e ambientais decidirão sobre o destino das
espécies e dos mecanismos que sustentam a vida.
O Parque Linear Urbano como instrumento de planejamento e gestão de áreas de
fundo de vale urbanas
Os cursos d’água em ambiente urbano, tais como rios e arroios, são indicadores e
reveladores da relação entre sociedade e natureza. Num primeiro momento, os cursos d’água
foram considerados apenas pelo seu aspecto utilitário, e se tornaram suporte de quase todas as
redes de infra-estrutura urbana (água, drenagem, esgotamento, energia, transporte ferroviário
e rodoviário, etc.).
Num período posterior, estes passam a se constituir em problemas para o bom
funcionamento das cidades, sendo geralmente responsabilizados por enchentes,
congestionamentos no trânsito, incômodo causado pelos detritos que carregam em seu leito,
carências nos abastecimentos de água e luz, até a sua presença se tornar insuportável. Neste
58
momento aparecem as propostas de sua desaparição dentro dos canais de drenagem sob o
sistema viário.
Quanto mais difícil o convívio da sociedade com os elementos naturais, mais é
necessária a presença de aparatos tecnológicos entre estes, afastando a sociedade de sua base
natural e reproduzindo ambientes cada vez mais artificiais. No entanto, os cursos d’água e
suas margens podem ser portadores de apropriação e coesão social, pelo conteúdo afetivo e
coletivo que a sua paisagem representa dentro das cidades, além dos benefícios ambientais
que estes proporcionam ao meio e à sociedade, constituindo-se este o paradigma que vem
sendo buscado pelo período atual.
A crescente consciência ambiental no Brasil juntamente com o renascimento de um
interesse pela vivência pública da cidade, tem revigorado o uso dos parques pelas populações
urbanas. Estas mudanças comportamentais, aliadas às transformações econômicas, sociais e
culturais, forçam as autoridades municipais a investirem em programas e projetos de melhoria
do espaço público urbano e na construção e manutenção de áreas verdes urbanas. Segundo
Sepúlveda (2006, apud SANTOS & CAMPOS, 2006), o valor ambiental, na maioria das
vezes, não está inserido na consciência da população e a criação de uma área de lazer
funciona como artifício motivador da adoção e proteção do espaço.
Segundo Tucci (2005), dentre as possíveis formas de encontrar o equilíbrio entre o
processo de urbanização contemporâneo e a preservação do meio ambiente, o parque urbano
surge com novos contornos culturais e estéticos, desenhando o perfil, entorno e identidades,
devendo ser encarado nos seus diferentes tempos, funções e usos.
Na busca em adaptar o espaço natural das áreas de fundo de vale a uma realidade
possível de ser mantida, ressurge na atualidade a proposta de readequação do uso deste espaço
desocupado através dos parques lineares, inspirados nas tendências européias e norte-
americanas de renaturalização, greenways e parkways. Segundo Barros (2004), a solução de
implantação de parques, praças e equipamentos sociais nas áreas de fundo de vale, apesar de
muitas vezes não cumprirem a risca a legislação específica, vem apresentando bons resultados
no que se refere a promover esporte e lazer para a comunidade, inibindo as invasões, além de
colaborar para que as margens voltem a serem preservadas.
Recentemente, o Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA baixou a
Resolução 369, de 28 de março de 2006 (CONAMA, 2006) que discorre sobre os casos
excepcionais em que são permitidas intervenções de utilidade pública, interesse social ou
baixo impacto ambiental. Esta nova regulamentação apenas regularizou uma situação que há
tempos já vinha acontecendo, possibilitando a intervenção ou supressão de vegetação em Área
59
de Preservação Permanente – APP para a implantação de área verde de domínio público,
assim como outros usos, com algumas considerações e restrições.
No Brasil, a proposta de implantação de parques lineares ao longo de cursos d’água
ainda vem sendo praticada através de casos isolados principalmente a nível municipal, com
alguns poucos projetos à nível regional, fundamentalmente pela necessidade dos municípios
de dar uso às áreas urbanas proibidas de edificação. Estas experiências buscam principalmente
utilizar-se dos cursos d’água como elementos potencializadores da paisagem urbana e não
somente como condicionantes restritivos.
Definições de parque urbano
Segundo Garabini (2004), os parques são equipamentos públicos urbanos difundidos a
partir de experiências inglesas, francesas e americanas, no final do século XVIII e início do
século XIX. Em Kliass (2006) apud Scalise (2002), os parques urbanos são espaços públicos
com dimensões significativas e predominância de elementos naturais, principalmente
cobertura vegetal, destinados a recreação. Para Scalise (2002), o parque é um grande espaço
aberto público, que ocupa uma área de pelo menos um quarteirão urbano, normalmente
vários, localizado em torno de acidentes naturais, tais como ravinas e córregos, fazendo divisa
com diversos bairros.
Quanto às formas de tratamento, compreendem desde a linguagem formal até a
ambiência naturalista. Quanto aos equipamentos, variam dos que tem seu ponto alto nos
equipamentos culturais, esportivos e recreativos aos que possuem como atração principal os
caminhos e as áreas de estar sob uma densa arborização. Quanto às funções dos parques, não
existe um padrão, pois alguns são vinculados à proteção ambiental, apresentando uso restrito,
e outros atraem multidões.
Os limites principais de um parque urbano são as ruas, e sua organização espacial
busca um equilíbrio entre áreas pavimentadas e ambiências naturais. A provisão de parques
públicos é função do município e ocorre a partir da necessidade de existência de tais
equipamentos, de sua presença nos planos diretores e da tendência contemporânea das
reivindicações por parques e áreas verdes.
O conceito de parque linear urbano como alternativa no século XXI
60
Devido ao crescente estado de degradação sócio-ambiental encontrado na maioria das
áreas urbanas no século XXI, principalmente nos países considerados em desenvolvimento,
instituições governamentais e não-governamentais, comissões técnicas e a população em geral
estão pressionando os órgãos públicos municipais a executarem programas e projetos
sócioambientais em suas áreas urbanas, principalmente no que tange à preservação e
recuperação dos seus cursos d’água e áreas marginais e ao desenvolvimento de programas de
recreação pública e circulação não-motorizada, dentro dos preceitos do conceito de
desenvolvimento sustentável.
Segundo Medeiros (1975), além da responsabilidade do planejamento e gestão
ambiental, também compete ao poder público municipal a reserva de áreas para recreação
assim como o recolhimento de tributos para serem aplicados na aquisição, instalação e
conservação destas áreas. Compete a ele, também, incentivar as entidades privadas a
contribuir nestes ofícios.
Dentro deste contexto, o equipamento parque linear torna-se atualmente um objeto
estruturador de programas ambientais em áreas urbanas, sendo muito utilizado como
instrumento de planejamento e gestão das áreas marginais aos cursos d’água, buscando
conciliar tanto os aspectos urbanos e ambientais presentes nestas áreas como as exigências da
legislação e a realidade existente. Neste pensamento, os parques isolados e as faixas verdes
dão lugar a um sistema contínuo de áreas verdes localizado nas áreas residuais provenientes
dos fundos de vale urbanos.
Para Magalhães (1996), o conceito contemporâneo de parque linear pretende preservar
as estruturas fundamentais da paisagem, que em meio urbano penetram no tecido edificado de
modo tentacular e contínuo, assumindo diversas formas e funções cada vez mais urbanas, que
vão desde o espaço de lazer e recreio, ao enquadramento de infra-estruturas e edifícios, à
simples rua ou praça arborizada.
Este objetivo é alcançado tanto através da criação de novos espaços como da
recuperação dos existentes. Considera-se atualmente que a maior força residente neste
conceito esteja justamente no fato de agregar o uso humano em áreas naturais, pois até então o
que normalmente se observa é uma dissociação entre homem e ambiente natural.
Segundo Gonçalves (1998), é fundamental e urgente re-elaborar o modo de produção e
gerenciamento dos espaços urbanos a partir dos espaços livres públicos. Para o autor, as
tendências contemporâneas do planejamento urbano dão ênfase ao espaço livre público como
principal elemento estruturador das cidades, pois é nele que se constrói a cidade e a cidadania,
promovendo a cidade para todos.
61
O Parque Linear Urbano como objeto estruturador de programas sócio-
ambientais em áreas de fundo de vale urbanas
Conforme Galender (2005), o conceito de parque linear é contrário ao de parque
isolado, de desenho geométrico regular e limites finitos. Através de planos urbanísticos, busca
promover o desenho da paisagem através do estabelecimento de uma continuidade espacial,
relacionando os espaços construídos e os espaços abertos, ou seja, vinculando-se com a
paisagem urbana.
Em Garabini (2004), o parque linear agregado a áreas de fundo de vale apresenta-se
como o espaço aberto, livre e de pouca manutenção, onde os subespaços recreativos são de
outra natureza, nos quais os playgrounds e jogos lúdicos são preteridos pela preservação
ambiental, pelo culto ao corpo, pela prática de longas caminhadas e pelo lazer contemplativo.
Segundo Giordano (2004), os parques lineares são áreas lineares destinadas tanto à
conservação como a preservação dos recursos naturais, tendo como principal característica a
capacidade de interligar fragmentos florestais e outros elementos encontrados em uma
paisagem, assim como os corredores ecológicos. Porém, neste tipo de parque têm-se a
agregação de funções de uso humano, expressas principalmente por atividades de lazer e
como rotas de locomoção humana não-motorizada, compondo desta forma princípios de
desenvolvimento sustentável.
Segundo Ahern (1995), o termo parque linear é utilizado para áreas de configuração
linear que são planejadas, desenvolvidas e manejadas com múltiplos propósitos, tais como:
ecológicos, recreacionais, culturais, estéticos e outros condizentes com o uso sustentável do
solo.
Conforme Little (1990), os parques lineares podem ser classificados em cinco
categorias gerais:
(a) Parques lineares criados como parte de programas de recuperação ambiental,
geralmente ao longo de rios e lagos;
(b) Parques lineares criados como espaços recreacionais, geralmente ao longo de
corredores naturais de longas distâncias, tais como canais, trilhas ou estradas abandonadas;
(c) Parques lineares criados como corredores naturais ecologicamente significantes, ao
longo de rios ou linhas de cumeada, que podem possibilitar a migração de espécies, estudo da
natureza e caminhadas a pé;
(d) Parques Lineares criados como rotas cênicas ou históricas, ao longo de estradas,
rodovias, rios e lagos;
62
(e) Rede de parques, baseada em formas naturais como vales ou pela união de parques
lineares com outros espaços abertos, criando infraestruturas verdes alternativas.
Funções dos parques lineares
A função de drenagem
O Parque Linear tem como um dos princípios fundamentais garantir a permeabilidade
do solo das margens dos cursos d’água, permitindo a infiltração e a vazão mais lenta da água
durante as inundações. Estes são apresentados como alternativa a tão combatida canalização,
que consiste em retificar, tornar impermeável e muitas vezes tampar o leito de um curso
d’água, embora seja possível existir um parque linear em um rio canalizado.
O conceito de parque linear incorpora técnicas de drenagem urbana que já apareciam
na primeira proposta que se tem notícia de bacias de acumulação de água para controlar
enchentes em cidades, desenvolvida por técnicos franceses para as cidades do norte da África
que faziam parte do Império Colonial Francês (Manuel d’Urbanisme, 1983).
Segundo Mascaró (1991), ao longo do tempo esta técnica denominada Bacias de
Estocagem toma uma forma mais urbana, agregando usos alternativos diversos em épocas de
estiagem. Hoje, as bacias de estocagem ainda são propostas como medida não-estrutural de
controle das cheias, tal como podemos observar no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano
e Ambiental de Porto Alegre (1999).
As medidas de controle de inundações podem ser classificadas em estruturais e não-
estruturais. No primeiro caso, o homem promove modificações no rio pela construção de
obras hidráulicas, como barragens, diques, canalizações, etc. No segundo caso, o homem
promove a convivência com o rio, na forma de medidas preventivas (MAIDMENT, 1993).
A função de proteção e manutenção do sistema natural
Para autores como Searns (1995), Frischenbruder & Pellegrino (2006), o conceito de
parque linear insere as necessidades de proteção e manutenção da diversidade biológica, dos
recursos hídricos, da qualidade da água, da redução dos prejuízos das cheias e de melhoria de
outras infra-estruturas urbanas através da conexão entre áreas verdes urbanas e cursos d’água,
também chamadas por Pellegrino (2003) como infraestruturas verde e azul.
63
Diversos autores colocam como funções principais dos parques lineares a proteção dos
cursos d’água e de sua vegetação ciliar.
Em vez de atuar como ilhas ou pontos isolados, os parques lineares podem conectar-se
uns com os outros, mediante passeios lineares, para permitir a interação entre as espécies,
atuando como corredor migratório para plantas e aves. Da mesma forma, este espaço promove
medidas para mitigar os riscos de inundações e erosão, reduzindo os custos públicos. Além
disto, estes parques podem preservar a paisagem e os recursos naturais, assim como as vistas
cênicas em meio urbano.
No que se refere aos aspectos ecológicos, o parque deve englobar ações de prevenção
e correção de impactos. Na prática, encontramos atualmente alguns exemplos nos países
denominados desenvolvidos, tais como a Alemanha, Estados Unidos e Espanha, onde a
proposta de implantação de parques lineares está articulada a estratégias de renaturalização
dos rios e córregos urbanos, em busca do resgate de seus cursos naturais, hoje canalizados e
retificados, colocando-os à vista da população.
Experiências realizadas na Europa, a exemplo da Alemanha, demonstram que é
factível a recomposição de rios ao seu estado mais natural possível, apesar dos obstáculos
impostos pela urbanização (SELLES, 2001).
Em Portugal, existem algumas experiências sendo desenvolvidas através dos
denominados Planos Verdes, peça fundamental do Plano Diretor de Lisboa que busca um
reordenamento do território através da integração da estrutura ecológica da paisagem com a
estrutura construída, com base nos conceitos de Continuum Naturale, ou seja, sistema
contínuo (corredor) de ocorrências naturais, que permite o funcionamento e desenvolvimento
dos ecossistemas e a permanência do potencial genético ou biodiversidade; Continuum
Culturale, sistema contínuo de espaços edificados e seus vazios; Genius Loci, lugar que para
além do espaço físico, possui valor simbólico, histórico, telúrico, paisagístico e ambiental,
que justifiquem um significado próprio na cidade e no território em geral; e Mobilidade
Sustentável, circulação não-motorizada (pedestres e ciclistas) integrada com os meios de
transporte coletivos menos poluentes (TELLES, 2001).
A função de lazer, educação ambiental e de coesão social
Aliado às funções anteriores, está o aproveitamento desse espaço para o lazer,
buscando evitar a ocupação humana irregular destas áreas. Segundo Santos & Campos (2006),
64
quando se faz a opção por manter um curso d’água em leito natural é importante dar um uso a
essa área garantindo que ela não seja ocupada.
Searns (1995), Frischenbruder & Pellegrino (2006), colocam que o parque linear
insere as necessidades urbanas de promoção recreacional, educacional e de coesão social,
podendo oferecer uma diversidade de atividades de recreação de baixo custo para a
população. No que se refere aos aspectos sócio-culturais, o parque deve englobar
principalmente ações de educação ambiental, cidadania, culturais e de pesquisa, além dos usos
mais freqüentes tais como o lazer ativo e contemplativo e a circulação não-motorizada.
Os passeios lineares provocam um efeito positivo na sociedade, que pode ser
observado pela quantidade de pessoas que caminham ou pedalam em eixos viários lineares
existentes. Estes espaços buscam promover na sociedade o reconhecimento da importância
dos espaços abertos e naturais para o melhoramento da qualidade de vida urbana.
A função de estruturação da paisagem urbana
Pesci (1999) considera que a estrutura de um sistema de espaços coletivos de
propriedade pública deveria orientar a configuração urbana. Para Magalhães (1996) e Scalise
(2002), a proposta de implantação de parques lineares ao longo de cursos d’água situados em
meio urbano exige uma relação coerente e equilibrada entre a estrutura ecológica e o tecido
edificado.
Para Franco (2001), a proposta de implantação de parques lineares ao longo de cursos
d’água situados em meio urbano incorpora princípios do planejamento ambiental ao campo da
arquitetura e do planejamento urbano, pois inter-relacionam aspectos de drenagem,
circulação, transporte, áreas verdes, gerenciamento de resíduos, esgotos, cidadania e educação
ambiental, em busca da qualidade ambiental urbana e conseqüente qualidade de vida.
Para Mazzaferro (2004), esta proposta pode ser percebida como interface física, onde
os espaços coletivos podem ocorrer como elementos articuladores e limitadores do tecido
urbano; e como interface social, onde estes espaços se conformam como lugares
caracterizados por elevada centralidade social, onde existem as maiores possibilidades de
encontro e troca entre pessoas, pressupondo a acessibilidade garantida de todas as pessoas e
legitimação social.
A função de desenvolvimento econômico
65
Os valores ambientais, funcionais e paisagísticos encontrados nas margens de cursos
d’água, manguezais ou faixas de mata não são objeto de atenção imediata, nem para o
empreendedor nem para a maioria do público consumidor, sendo geralmente eliminados ou
desconectados da paisagem urbana (BRASIL, 2004).
Segundo Scalise (2002), o projeto de parque linear em áreas de fundo de vale, hoje
utilizadas na sua maioria como depósitos de lixo, é um projeto modesto, exeqüível e
democrático, e que apresenta possibilidades econômicas que compensam os investimentos
necessários para criá-los e mantê-los, visto que este beneficia várias áreas da mesma cidade.
Para o autor, tais corredores apresentam possibilidades econômicas que compensam os
investimentos necessários para criá-los e mantê-los. Surge como elemento que produz
atratividade, valorização das terras no seu entorno e melhoria da qualidade de vida urbana.
Promovendo caminhadas e ciclismo através de ligações com áreas esportivas, culturais
e de lazer, os parques lineares podem ser utilizados também para ir ao trabalho, à escola ou às
compras.
A função política
Apesar de todos os aspectos positivos proporcionados à sociedade pelo conceito de
parques lineares, esta proposta precisa estar inserida dentro de uma política pública a nível
governamental, articulada com a iniciativa privada. Outra maneira de facilitar a implantação
destes parques se dá através da regulamentação na legislação municipal e do planejamento
antecipado, quando ainda não são necessários altos custos com desapropriações.
Segundo Scalise (2002), é de fundamental importância para o seu adequado
desempenho sócio-cultural que estes projetos levem em conta aspectos relativos à
participação de todos os segmentos da sociedade na sua concepção.
A função de corredor multifuncional
Segundo Magalhães (1996), o período pós-moderno impôs aos parques lineares um
caráter multifuncional, através do resgate das características ambientais, culturais, econômicas
e sociais, agregando funções de mobilidade urbana sustentável, diversificação dos usos do
solo urbanos, controle das cheias, recreio, produção de hortas, requalificação da imagem
urbana e de definição de zonas susceptíveis de serem ocupadas pelas construções.
66
Conforme Saraiva (1999), os parques lineares correspondem às redes de áreas
protegidas, baseadas em sistemas de caráter predominantemente linear, preservadas ou
geridas com objetivos ecológicos, estéticos, culturais, históricos e recreativos, nas quais se
pretende proteger, principalmente, as zonas ecologicamente frágeis ao longo dos cursos
d’água. Estes cursos d’água constituem elementos preponderantes neste tipo de rede, quer
pelo seu caráter linear e estruturador da paisagem, quer pela ativação biológica associada à
presença da água e ecossistemas ripícolas, quer pela existência de patrimônio cultural e
humanizado testemunhando uma adequação mútua entre sociedade e natureza.
Para Martí (2002), atualmente, os parques lineares são considerados as novas artérias
ambientais das cidades, que, na forma de corredores de espaços abertos, geralmente
acompanhando rios, arroios ou córregos, são protegidos e manejados para a conservação do
meio ambiente e recreação da sociedade. Estes espaços verdes lineares geralmente se
desenvolvem em áreas de valor ecológico, histórico e cultural, e são lugares de uma
diversidade de árvores nativas, refúgio de aves nativas, e ao mesmo tempo, servem como um
local de recreio e tranqüilidade para a população urbana.
“São áreas lineares naturais de uso público” (MARTÍ, 2002), “são alternativa para
ocupação das margens dos rios sem degradar, trata-se de dar um uso social às margens
compatível com a natureza, evita a ocupação irregular (SANTOS & CAMPOS, 2006), “é uma
unidade de lazer que acompanha a linha de um curso d’água” (CHAMPS, 2006 apud
SANTOS & CAMPOS, 2006), “tem como princípio a permeabilização da margens do
córrego, permitindo a infiltração e a vazão da água durante as inundações” (MAGALHÃES,
2006 apud SANTOS & CAMPOS, 2006), “o valor ambiental, na maioria das vezes, não está
inserido na consciência da população, e a criação de uma área de lazer funciona como artifício
motivador da adoção e proteção desse espaço” (SEPÚLVEDA, 2006 apud SANTOS E
CAMPOS, 2006).
A visão ambiental no planejamento e gestão de parques lineares em áreas de
fundo de vale urbanas
De acordo com Hough (1998), os fundos de vale são laços insubstituíveis entre os
processos naturais e o urbano, e através da implantação de parques lineares estas áreas podem
configurar-se como uma oportunidade histórica e educativa para as cidades, no que diz
respeito à preservação e recuperação do ambiente natural característico, propiciando o contato
físico e visual destes espaços pela população.
67
No entanto, a implantação destes parques em áreas de fundo de vale deve seguir
critérios ambientais de planejamento, projeto e gestão, que busquem prevenir e corrigir os
impactos causados pela urbanização sobre estas áreas.
Impactos da urbanização sobre as áreas de fundo de vale
Sob o ponto de vista ambiental, a relação das cidades com os sistemas naturais e com
os recursos disponibilizados requer atenção, tendo em vista os impactos causados pelo
consumo desses recursos para satisfazer as necessidades da população e pela produção de
resíduos e esgotos que solicitam espaço para serem descartados e absorvidos. Considerando
também a escala dos impactos associada à taxa populacional e à quantidade de área
demandada pelas aglomerações urbanas, os danos causados sobre os sistemas naturais
integram a problemática da cidade contemporânea.
Segundo Rutkowski (1999), o tratamento que vem sendo dado ao meio natural é
resultado de uma perspectiva de desenvolvimento, que entende os bens naturais renováveis
como recursos inesgotáveis, tendo seu uso ampliado pela capacidade humana em transformá-
los e otimizá-los através do desenvolvimento de processos tecnológicos. Entretanto, este
estilo de desenvolvimento que privilegia as relações econômicas da sociedade com o meio,
tem uma resultante antrópica que coloca em risco as possibilidades futuras dos diversos
segmentos sociais.
Impactos da urbanização sobre o meio físico
Diversos são os usos para as águas no espaço urbano: higiene, alimentação, transporte,
lazer, recreação, construção e processos produtivos industriais, comerciais e agrícolas, entre
outros, e todos demandam qualidade e quantidade hídrica diferenciada.
Segundo Bonn (1992), as atividades antrópicas que afetam os sistemas fluviais podem
ser divididas em níveis diferenciados: (a) global; (b) de bacia hidrográfica; (c) de corredores
fluviais e (d) de intra-leito. Ao nível global, podem ser caracterizadas pelas mudanças
climáticas, chuvas ácidas e transferências entre bacias hidrográficas. Ao nível de bacia
hidrográfica, podem ser caracterizadas pela florestação e desflorestação, urbanização,
drenagem de solos e defesa contra cheias. Ao nível de corredores fluviais, podem ser
caracterizadas pela regularização fluvial (retificação, canalização e cobertura), construção de
barragens, limpezas e desobstruções de cursos d’água e remoção da vegetação ripícola. E a
68
nível intra-leito, podem ser caracterizadas pela poluição orgânica, inorgânica e térmica,
captação, navegação, exploração de espécies autóctones e introdução de espécies exóticas.
Conforme Rutkowski (1999), as atividades de lazer e recreação demandam águas que
não contenham elementos químicos e biológicos nocivos à saúde; o abastecimento e a
manutenção de áreas verdes nas áreas urbanas precisam de volumes consideráveis de água
para irrigação; as obras de construção civil demandam areia e cascalho retirados dos leitos de
corpos d’água além de impermeabilizarem extensões variadas de solo quando prontas; a
drenagem urbana reconfigura a drenagem natural do espaço, onde a figura tradicional em
espinha de peixe de uma bacia hidrográfica perde o seu sentido, dificultando em muito o seu
entendimento como um sistema dinâmico, cujas alterações são promovidas pelas ações e
reações antrópicas e reações e ações ecológicas em modo contínuo.
Conforme Tundisi (2003), os problemas decorrentes da urbanização que incidem sobre
a quantidade e a qualidade das águas provêem de duas fontes: o aumento da densidade das
construções e da cobertura asfáltica e o aumento da densidade populacional.
A primeira provoca principalmente:
(a) o aumento de área impermeabilizada;
(b) o aumento do escoamento superficial direto;
(c) alterações no sistema de drenagem;
(d) o aumento da velocidade de escoamento; e
(e) alterações do clima urbano.
A segunda provoca:
(a) o aumento do volume de águas residuárias;
(b) a deteriorização dos rios à jusante da área urbana;
(c) a deteriorização da água de escoamento pluvial;
(d) a deteriorização da qualidade da água;
(e) o aumento da demanda de água;
(f) a redução da quantidade de água disponível;
(g) a diminuição da recarga subterrânea;
(h) o aumento das enchentes e dos picos das cheias na área urbana; e
(i) o aumento dos problemas de controle da poluição e das enchentes.
Segundo o autor, o problema não se restringe somente ao impacto inicial, mas
principalmente ao efeito posterior. Com relação à infra-estrutura urbana, os principais
impactos sobre os recursos naturais ribeirinhos podem ter sua origem no:
(a) sistema de esgoto;
69
(b) sistema de drenagem pluvial, dependendo do tipo de solo, do tipo de
pavimento, da área permeável e impermeável e da topografia;
(c) disposição do lixo urbano e
(d) índice de áreas verdes.
No Brasil, segundo TUCCI (2005), os riscos de inundação e a deteriorização da
qualidade da água dos cursos d’água se devem principalmente: à contaminação dos
mananciais superficiais e subterrâneos com os efluentes urbanos, tais como o esgoto cloacal,
pluvial e os resíduos sólidos; à disposição inadequada dos esgotos cloacais, pluviais e
resíduos sólidos nas cidades; às inundações nas áreas urbanas devido à urbanização; à erosão
e sedimentação, gerando áreas degradadas; à ocupação de áreas ribeirinhas, com risco de
inundações e de áreas de grandes inclinações, como morros, sujeitos a deslizamentos após
período chuvoso.
Conforme Botkin & Keller (1995) e Tucci & Machado (1998), outra característica da
urbanização brasileira é transformar o fenômeno natural de inundação das várzeas em um
problema social – as enchentes, ao canalizar ou envelopar a maioria dos riachos e córregos,
aumentando a impermeabilização do solo e, consequentemente, a velocidade de escoamento
das águas precipitadas. A impermeabilização do solo altera os processos de
evapotranspiração, infiltração profunda, infiltração superficial e escoamento superficial do
ciclo hidrológico das águas pluviais, elevando em até seis vezes o pico de cheia em relação ao
pico da mesma bacia em condições naturais enquanto que, no período de estiagem, reduz a
recarga dos aqüíferos (TUCCI e GENZ, 1995).
Conforme o Plano Diretor de Drenagem Urbana de Porto Alegre (2000), a utilização
de condutos pluviais para drenar o excesso de água das superfícies urbanas colabora para a
ocorrência de inundações, como também para a aceleração do processo de erosão, transporte
de sedimentos e deterioração da qualidade da água.
Quanto à qualidade da água, o problema da utilização de condutos pluviais está na
potencialização da contaminação provocada pela sedimentação e pelo uso de sistemas mistos
os quais misturam os esgotos pluvial e cloacal. A maioria deste esgoto é conduzido
diretamente para os rios, lagos e arroios sem passar por estações de tratamento, e mesmo
quando passam, corre-se o risco de na ocorrência de transbordamento, estas descargas
provocarem a contaminação do solo.
A reserva de áreas permeáveis em meio urbano torna-se uma medida preventiva e/ou
corretiva muito utilizada em estudos de impacto ambiental, no entanto, a quantidade de água
70
recolhida também depende das características filtrantes da terra, que estão relacionadas com a
topografia, com os tipos de solo e com as espécies de vegetação existentes em cada área.
Segundo Magalhães (1996), o solo também tem sido em todo o mundo objeto de
destruição, quer pela edificação, quer por práticas culturais incorretas que aceleram a sua
perda por erosão, pela redução de seus índices de fertilidade ou por contaminação.
Impactos da urbanização sobre o meio biótico
O modelo de urbanização adotado até o momento afeta as comunidades naturais de
plantas e a fauna, que encontram dificuldades em se adaptarem a estas novas condições. As
mudanças no clima e no solo também interferem na distribuição e sobrevivência das plantas.
As mudanças climáticas estão associadas às alterações nas condições de ventilação,
temperatura e umidade, e à disseminação de contaminantes na atmosfera, que interferem nos
processos de transpiração e respiração das plantas. As mudanças no solo estão associadas à
qualidade, à compactação e a ocupação superficial com edificações e áreas pavimentadas.
Estas características podem resultar na redução da penetração de nutrientes e de água
em nível superficial e subterrâneo; na intervenção na transferência de ar e gases; na redução
de área de solo disponível; e na interferência constante sobre as comunidades de plantas,
devido às atividades construtivas e de manutenção das áreas construídas.
Também o rompimento da conectividade da paisagem pode acarretar danos à fauna e a
flora através das perdas de corredores que conectam os tecidos urbanos e que os ligam às
áreas rurais, sendo responsáveis pelo movimento de animais e plantas. Consequentemente, as
condições de vida das espécies que necessitam fazer estes percursos para se alimentarem ou
reproduzirem são alteradas. Estes corredores, também colaboram para a manutenção de outros
importantes processos ecológicos, como a prevenção contra erosão e proteção da água em
áreas ribeirinhas. Todo o ecossistema, em alguma escala, sofre alteração quando muda a
interação entre espécies ou quando alguma delas deixa de existir no mesmo.
A homogeneização da paisagem também influencia para o decréscimo da diversidade
das espécies. Tecidos heterogêneos suportam mais espécies que os homogêneos, e ainda,
quanto maior for o tamanho do tecido, maior serão suas condições ambientais de
heterogeneidade.
A visão ambiental no planejamento e gestão de áreas de fundo de vale urbanas
71
Atualmente, as premissas de desenvolvimento estão sendo reavaliadas, incorporando
os limites de uso dos bens naturais, impostos pelas relações ambientais e os valores dos
diversos segmentos sociais. Desenvolvimento passa ser discutido pela perspectiva de sua
sustentabilidade.
Para Tucci (2005), o ambiente urbano relacionado com as águas pluviais tem sido a
base da nova concepção de intervenção para a ocupação do solo. Neste cenário, a ocupação
urbana deve compreender como solo, água e planta estão integrados na natureza, em busca de
mitigar os efeitos adversos da introdução de superfícies impermeáveis como telhados,
passeios, ruas, estacionamentos, entre outros.
“O uso e ocupação do solo devem preservar os condicionantes da
natureza; o abastecimento de água deve ser realizado de fontes não
contaminadas por outras à montante; o esgoto sanitário deve ser tratado para
que o sistema hídrico tenha condições de se recuperar e não contamine as
águas à jusante; a drenagem urbana deve preservar as condições naturais de
infiltração, evitar transferência à jusante de aumento da vazão, volume e carga
de contaminação no escoamento pluvial e erosão do solo; e os resíduos sólidos
devem ser reciclados e a disposição do restante deve ser minimizada” (TUCCI,
2005, p. 109).
Para Tucci (2005), o plano diretor urbano municipal atual deve incluir, junto ao
planejamento do uso e ocupação do solo, o abastecimento de água e saneamentos, a drenagem
urbana (controle de inundações e erosão do solo), o esgoto sanitário, os resíduos sólidos e os
transportes.
Algumas recomendações são feitas pelo mesmo autor para a execução do Plano
Diretor Urbano, dentre as quais cita “cada usuário urbano não deve ampliar a cheia natural,
através da impermeabilização do solo, movimentação de terras e desmatamento”; “os
impactos causados em uma bacia hidrográfica não devem ser transferidos nem compensados
em outras bacias, devem ser resolvidos na mesma bacia”; “o plano diretor deve contemplar o
planejamento das áreas a serem desenvolvidas assim como o da densificação das áreas
atualmente loteadas”; “o controle deve ser realizado considerando a bacia hidrográfica como
um todo, e não atuar em trechos isolados”; “nenhum espaço de risco deve ser desapropriado
se não houver uma imediata ocupação pública que evite a sua invasão”; “os custos de
implantação de medidas estruturais, operação e manutenção da drenagem devem ser
72
transferidas aos proprietários dos lotes, proporcionalmente a sua área impermeável” (TUCCI,
2005, p. 10).
O autor destaca ainda que o desenvolvimento urbano não pode ocorrer sem a busca da
sustentabilidade do espaço após a ocupação da população, sugerindo uma gestão coletiva e
integrada que se inicia pela educação.
A visão social no planejamento e gestão de parques lineares em áreas de fundo de vale
urbanas
Segundo Magalhães (1996), a morfologia da paisagem é resultante da interação entre a
lógica dos processos do suporte biofísico e a lógica dos processos sócio-culturais. É uma
combinação entre a natureza e a sociedade, trata-se de um sistema único, complexo e
evolutivo. Ela tem aparência e dinâmica, representa uma solução para questões ambientais
enquanto lugar seguro, agradável e salutar, ou pode significar um problema quando estampa
um lugar inestável, degradado e pouco salubre. Moldar um lugar, intervir em uma paisagem
organizando nela espaços e ambientes para usos diversos, envolve trabalho multidisciplinar.
A visão social no planejamento do espaço público
Trabalhos alternativos, flexibilização do tempo de trabalho, mais horas livres, estes
fatos da vida contemporânea conduzem a uma tendência de diminuição dos anos de serviço
reais nos principais paises industrializados, exatamente no momento de um substancial
aumento da expectativa de vida. A saída do mercado de trabalho já não é mais critério
definidor de velhice, uma vez que cerca de um terço da vida pode ocorrer depois disto.
Surge, então, uma nova categoria social e potencialmente usuária de espaços de lazer.
Se há mais tempo para o lazer, os espaços urbanos destinados a ele tornam-se mais
importantes e disputados. Mesmo para aqueles que ainda têm o tempo tomado pelo trabalho, é
maior a necessidade de lazer hoje, principalmente por questões de saúde física e psíquica.
Porém, a expectativa é de que o tempo de lazer seja qualificado.
As novas preocupações com a qualidade de vida urbana revelam a necessidade de
renovação das comunidades de vivência humana em espaço urbano, aumentando, deste modo,
o interesse relativo aos ambientes de lazer e de circulação de pedestres e ciclistas. Conforme
Merino (2006), inicia na década de 90, aproximadamente, uma mudança cultural na
sociedade, caracterizada pela valorização ambiental e pelo exercício físico.
73
Segundo Cabral (2005), o meio urbano melhora a sua qualidade através da existência
de áreas verdes. As suas funções são diversas, contudo, podem-se condensar em alguns itens,
tais como:
(a) melhoria do microclima urbano, circulação do ar, balanço da umidade, captura de
poeiras e gases (THE DOBRIS ASSESSMENT, 1995). Constituem espaços de grandes
potencialidades em constituir zonas de tampão que melhorem o ambiente urbano em áreas
industriais ou densamente urbanas (GROOME, 1990);
(b) contribuição para a reciclagem de compostos urbanos e manutenção da qualidade
da água (THE DOBRIS ASSESSMENT, 1995);
(c) vetor recreativo para as populações urbanas (THE DOBRIS ASSESSMENT,
1995);
(d) palco natural em meio urbano, propício à manifestações culturais de conservação
da natureza, educação ambiental e investigação científica (THE DOBRIS ASSESSMENT,
1995);
(e) experiência de alto valor em pleno ambiente urbano, através da possibilidade de
desfrute pelas populações urbanas das mudanças de estação, de cores e odores (THE DOBRIS
ASSESSMENT, 1995);
(f) locais repousantes, com contribuição para o escape de tensões psíquicas, muito
freqüentes em meios urbanos (GROOME,1990).
Para Scalise (2002), nas duas últimas décadas do século XX a exigência de
requalificar a cidade conduz ao renascimento do jardim público, objetivando melhorar a
qualidade física e ambiental de áreas intersticiais degradadas ou em processo de
deteriorização, quer por exigências físicas ou psíquicas do homem.
O parque linear como instrumento de planejamento e gestão social das áreas de
fundo de vale urbanas
Segundo Garabini (2004), o tipo parque linear, agregado a fundos de vale, apresenta-
se como o espaço aberto, livre e de pouca manutenção, onde os playgrounds e jogos lúdicos
se integram à preservação ambiental, culto ao corpo praticado por longas caminhadas e pelo
lazer contemplativo.
Especificamente em relação às áreas verdes lineares, Groome (1990) diz que estes
correspondem a espaços livres por onde as pessoas podem circular sem perturbações de
74
ruídos, poluição ou perigos vários, escapando da dureza do ambiente urbano. Para Cabral
(2005) as áreas verdes lineares contribuem para a coerência e legibilidade do tecido urbano.
Em The Dobris Assesment (1995), as áreas verdes lineares possibilitam a inclusão de
redes peatonais e cicloviárias, contribuindo como alternativa aos sistemas de transporte
poluentes e melhorando a acessibilidade urbana, pois este não beneficia só um lugar da
cidade.
O lazer e a educação/cultura
Em Brasil (2004), no uso das margens de cursos d’água a população busca um lazer
alternativo às suas atividades do cotidiano urbano. Este espaço abriga as mesmas funções
sociais de lazer de um parque, como jogos, repouso, caminhadas, contemplação e encontros,
propiciando o contato constante e direto com o ambiente mais natural, com a segurança e
vitalidade de estar próximo do movimento urbano.
Conforme Medeiros (1975), a responsabilidade dos educadores e administradores é
cuidar para que o tempo disponível dos cidadãos seja utilizado não apenas de uma maneira
prazerosa, mas também de modo construtivo para a sociedade, reforçando o lazer como fonte
capital social, transformando o lazer em força social positiva. Os programas de recreação têm
objetivos de persuadir as pessoas a ocuparem de forma construtiva o seu lazer, de forma a
elevarem seu espírito e cultura.
A educação sistemática é importante para o bom aproveitamento do lazer, com o
desenvolvimento precoce de atitudes favoráveis a atividades recreativas, pela consciência de
seu valor pra o indivíduo e sua contribuição para o bem estar social. Conforme Medeiros
(1975), a participação cresce com maior educação.
O lazer e as relações sociais
O lazer também tem o objetivo de integrar o indivíduo ao grupo a que pertence na
comunidade, desenvolvendo, por intermédio de iniciativas educacionais e recreativas, boas
relações humanas, nas quais tenta instigar sentimentos de segurança emocional e geração de
capital social.
A prática esportiva pode ser uma forma de criar relações horizontais, independentes do
status econômico da população, simplesmente pelo gosto e afinidade pelo esporte. A
recreação leva intrínseca a noção de fator de progresso social. Segundo Salgueiro (1995), o
75
lazer ajuda a definir cada estilo de vida, é parte da identidade de grupos, e multiplica-se o
leque de atividades que cada um pode escolher.
O lazer e o desenvolvimento econômico
O capital cultural das cidades é hoje reconhecido como fonte de riqueza alternativa,
pelo que as cidades se empenham em o valorizar através da respectiva produção, conservação
e marketing. O lazer funciona como elemento de atração turística, seja pela influência de
público ou pela captação de recursos econômicos.
Ao se estabelecer as características dos bens ou serviços oferecidos por estes espaços e
seu entorno, existem questões relativas à qualidade do bem ou serviço, que podem variar. As
características do consumidor são igualmente importantes, sua renda, o ócio que dispõe,
idade, educação, ocupação, seus gastos, com que freqüência reflete sua experiência passada,
etc.
O parque como local de lazer
Segundo Hass (2000), o espaço público está sempre relacionado com algo prazeiroso,
onde as pessoas gostam de ir para sair da rotina do trabalho e aproveitar um local que pode
oferecer diversas opções de uso e atividades, bem como promover relações sociais. Para a
autora, os parques são verdadeiros centros sociais abertos, reduto das interações horizontais e
verticais num mundo cada vez mais individualista.
Os parques, juntamente com as praças e campos esportivos, também têm a função de
serem elementos estruturadores da paisagem urbana. O parque moderno destina-se ao lazer de
grande massa, mas é um espaço urbano a mais para o desfrute da população nos tempos de
ócio, concorrendo com um leque diverso de opções.
O parque marginal ao curso d’água como local de lazer
O espaço marginal ao curso d’água consiste em um local onde se desenvolvem formas
de lazer ativo e passivo. Torna-se então palco de uma série de situações de relacionamento
social. Esta apropriação social exige uma estruturação espacial diferente para cada situação,
variando de organização muito simples, rústicas, até outras altamente elaboradas, como os
calçadões de grandes cidades.
76
A circulação não-motorizada
De acordo com Laurie (1983, apud GARABINI, 2004), na disposição de um parque é
evidente que o fator determinante das superfícies ou espaços abertos serão as redes de
percursos circulatórias. Uma mera análise põe em manifesto que a circulação, além de
interligar lugares e instalações diversas, de fato é capaz de concretizar e segregar superfícies e
de conformar outras. No desenho paisagístico, a circulação de pedestres é um tema de
primeira ordem.
As características físicas de um espaço aberto são quase sempre secundárias com
relação aos fatores locacionais. Estes fatores podem ser caracterizados pelo nível de atração
ou animação dos lugares, que podem ser representados pela diversidade de usos do solo,
pontos de interesse, eventos, quantidade e freqüência de pessoas paradas ou circulando; e pelo
nível de acessibilidade ao local, que pode ser representado pela articulação com os demais
espaços significativos da cidade e pela articulação com o transporte público. O tempo e o
custo de deslocamento entre os locais de lazer público devem ser mínimos, mas a existência
de uma rota segura também tem grande importância.
ENQUADRAMENTO GEOMORFOLÓGICO E FITOGEOGRÁFICO DA REGIÃO
O Município de Montenegro, fundado em 5 de maio de 1873, pertence a Mesorregião
Metropolitana de Porto Alegre e à Microrregião de Montenegro. Está situado a uma altitude
de 31 metros e possui uma área total de 420.017 Km². Sua população, segundo IBGE (2010),
é de 59.436 habitantes.
Para o enquadramento geomorfológico e fitogeográfico da região estudada, foi
utilizado o projeto RADAMBRASIL (1986) responsável, nos anos 70 e 80, pelo levantamento
dos recursos naturais de todo o território brasileiro, 8.514.215 km2. A equipe que realizou
este levantamento e todo o acervo técnico encontram-se, atualmente, incorporados ao Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
Na Figura 3 pode-se avaliar a localização do Município de Montenegro no Estado do
Rio Grande do Sul.
77
Figura 3 - Localização do Município de Montenegro no Estado do Rio Grande do Sul.
REGIÃO GEOMORFOLÓGICA
O território do Município de Montenegro está localizado na região geomorfológica
denominada de Depressão Central Gaúcha que é caracterizada por apresentar altitudes
máximas de 250 a 300 m e mínima de aproximadamente 10 m acima do nível do mar. O
relevo é homogêneo, em forma de coxilhas, com presença de morros testemunhos. Os Morros
testemunhos, também conhecidos como Inselbergs, são formações de características
geomorfológicas específicas que se destacam por apresentar uma grande diferença de
elevação em relação a outras áreas do relevo. Essa característica é facilmente identificada em
Montenegro através da presença do Morro São João que é avistado de longe pelos que
chegam ao município. Localizado no centro da cidade, possui uma estrada de acesso e dois
mirantes. É considerado “Morro Testemunho”, após o recuo da cordilheira da Serra Geral.
MONTENEGRO
78
Na Figura 4 pode-se notar a localização do Município de Montenegro no Estado do
Rio Grande do Sul.
Figura 4 - Localização do Município de Montenegro no Estado do Rio Grande do Sul
A região possui rochas dos períodos Permiano, Triássico e Jurássico, sendo que ao
longo da rede fluvial predominam depósitos aluvionares do Quaternário.
REGIÃO FITOGEOGRÁFICA
Segundo o projeto RADAMBRASIL (1986), região fitogeográfica é uma área de
florística típica, com formas biológicas características, submetida a um mesmo clima,
podendo ocorrer em litologias variadas, porém com relevo bem demarcado. O município de
Montenegro está entre uma área de Tensão Ecológica formada pela interpenetração de flora
característica das regiões de Savanas e de Floresta Estacional e uma área de Floresta
Estacional Decidual. O relevo varia de suavemente ondulado a ondulado.
Na figura 5 é possível avaliar p mapa das regiões fitogeográficas e a localização do
município de Montenegro.
MONTENEGRO
79
Figura 5 – Mapa das regiões fitogeográficas e a localização do município de Montenegro
A Área de Tensão Ecológica ocupa solos distróficos (Triássico, Juracretáceo). A Área
de Floresta Estacional Decidual abrange os terraços aluviais (Quaternário) ao longo dos rios
que drenam a Depressão Central Gaúcha e o Planalto da Campanha, sobre solos azonais.
Nestas áreas encontram-se espécies desde herbáceas até arbóreas, com ocorrência de diversas
formas biológicas, adaptadas às diferentes condições edáficas aí reinantes. As formações
encontradas são de influência marinha (restinga) e de influência fluvial.
PARTICIPAÇÃO SOCIAL E BENEFICIÁRIOS
Atingidos os objetivos listados, espera-se que haja uma redução na pressão antrópica
sobre os ambientes naturais, da mesma forma que possam servir de estímulo para o
fortalecimento dos Conselhos de Defesa do Meio Ambiente, Associações Comunitárias,
Associações de Pequenos Produtores, etc., assim como crescimento e evolução de estudantes,
o incremento da pesquisa e de um melhor conhecimento destes recursos genéticos.
MONTENEGRO
80
Quando se valoriza os recursos naturais, abre-se uma gama de possibilidades de
interações com o meio, inclusive podendo obter ganhos financeiros mensuráveis, através do
turismo, por exemplo, em áreas consideradas prioritárias para a biodiversidade.
Pode-se listar:
Benefícios Ambientais
Manutenção dos processos ecológicos e ambientais, garantindo a integridade dos
ecossistemas e a conservação das espécies que compõem a nossa biodiversidade.
Melhor conhecimento das espécies e entendimento de suas inter-relações com o
ambiente, por meio dos estudos taxonômicos, biogeográficos e ecológicos.
Manutenção da distribuição geográfica original das espécies;
Garantia da não extinção das espécies.
Recuperação de áreas degradadas, tendo em vista a utilização da fauna como
polinizadora e dispersora de sementes.
Valorização das propriedades rurais, com base na integridade física e no status de
conservação dos recursos e ambientes naturais.
Benefícios Sociais
Valorização de uma identidade local.
Melhoria da qualidade de vida, segurança emocional e cidadania.
Desenvolvimento de uma série de princípios e valores que possibilitará uma visão
mais crítica e ampla sobre a temática ambiental, propiciando um crescimento
ideológico sensato e engajado com os acontecimentos atuais, elevando a consciência
individual e coletiva, baseada em princípios morais e atitudes adequadas.
Benefícios Econômicos
Acréscimo na oferta de alternativas para a subsistência das populações isoladas e
tradicionais.
Geração de novas tecnologias a serem utilizadas e replicadas em comunidades rurais
organizadas, na busca de um desenvolvimento sustentável.
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Acréscimo de divisas e de investimentos no ramo do turismo voltado para a
contemplação dos ambientes naturais, das belezas cênicas, da flora nativa, da fauna em
vida livre e/ou da fauna submetida ao manejo.
Proporcionar um acréscimo adicional de recursos na renda das pessoas, das famílias e
das comunidades, urbanas ou rurais, pela valorização da cultura e gastronomia local.
OBJETIVOS
A finalidade principal deste trabalho é ajudar na consolidação e implementação de
estratégias já definidas por muitos órgãos ambientais para minimização e/ou solução do
problema exposto.
Objetiva-se reconhecer os elementos integradores da paisagem, assim como as
potencialidades regionais a fim de se implementar um modelo de gestão ambiental da bacia
hidrográfica do rio caí adequado, onde as condições fisiográficas e biogeográficas formam um
complexo homogêneo e extensivo, se estendendo às áreas social, cultural e econômica.
Para tanto, almeja-se a criação de uma Unidade de Conservação na categoria de Área
de Proteção Ambiental (APA) nos Morros São João, Morro da Pedreira, Morro dos Fagundes
e Morro Montenegro, interligada ao banhados e áreas alagadiças de Montenegro, tornando
possível uma infra-estrutura capaz de garantir um trabalho realmente consistente e eficaz de
gestão ambiental.
O objetivo inicial é manter as características originais dos morros e banhados, bem
como realizar a recuperação das margens e da mata ciliar, através de conhecimento técnico
específico, tanto através do plantio de árvores, arbustos, gramíneas, sementeiras e plantas
aquáticas como através de enrocamento com estacas e microestacas.
No decorrer do trabalho, esperamos gradativamente ir obtendo resultados satisfatórios,
que certamente serão demonstrados na redução dos dados apresentados anteriormente. A
situação desejada em sua totalidade, ou seja, a mudança de paradigma é um fato que
certamente leva gerações para ser alcançado, devido à sua subjetividade e dinamismo.
METAS
A serem definidas conjuntamente com as entidades participantes.
82
MÉTODO E INSUMOS
A definição do método a ser utilizado depende do planejamento, implementação e
gestão das áreas a serem trabalhadas, assim como características físicas, bióticas e antrópicas
existentes no local e na sua área de influência, bem como da comunidade envolvida.
Para um bom andamento do trabalho e obtenção do resultado esperado, é necessário
que o projeto seja divido em etapas. Deste modo, a Instituição Proponente acredita que se
deva realizar primeiramente um pré-diagnóstico através de sobrevôo da região seguido de
descida de barco.
Neste momento, serão tiradas fotos das situações emergentes, fixando ponto de
localização através de GPS de navegação e procedendo a descrição preliminar pontual.
Esta avaliação inicial do assunto permitirá nortear o planejamento e as ações do
diagnóstico verdadeiro, mais completo e complexo, evidenciado pela diversidade de usos do
solo e aspectos culturais e históricos, principalmente.
O diagnóstico verdadeiro, ou seja, a completa investigação da área onde este será
implantado, e o envolvimento com o público devem compreender basicamente:
O inventário e análise dos recursos naturais e culturais do corredor, englobando o
levantamento dos aspectos de propriedade da terra; levantamento ambiental; acesso
e transportes, análise sócioeconômica; recursos históricos e culturais; recreação
comunitária; infra-estruturas públicas e privadas; impactos na comunidade; gestão e
operação; análise subjetiva do corredor.
Elaboração de Mapas Temáticos digitais como layers sobrepostos na imagem de
satélite georreferenciada e ortoretificada. Exemplos: rede viária, atrativos turísticos,
hidrográfico, vegetação, urbanização, áreas de preservação permanente (APP's),
hipsométrico (altitudes), clinográfico (declividades), hierarquia fluvial, orientação
de vertentes, uso e ocupação do solo, coroa de proteção de nascentes, perfil de
relevo, mapas sócio-econômicos, atrativos turísticos, propriedades, etc.
Algumas técnicas devem ser observadas com atenção no planejamento de parques
lineares urbanos, tais como:
(a) identificação e quantificação de flora, fauna, elementos da paisagem e
antrópicos;
(b) percepção ambiental;
83
Após a etapa do diagnóstico vem a elaboração do Plano de Ação ou Plano
Conceitual, com objetivos, metas e ações. O plano conceitual deve apresentar alternativas de
desenvolvimento com objetivos humanos, ambientais, de implantação, de gestão futura e
aspectos econômicos.
A quarta etapa do trabalho engloba a preparação do Documento Final especificando
e alocando todas as modificações propostas para a área. Deve ser apresentada a forma de
desenvolvimento escolhida, contendo localização, medidas de proteção e conservação, formas
de acesso e infra-estruturas disponíveis, especificação de manejo, estimativa de custos e
estratégias de desenvolvimento.
A aquisição de uma imagem de satélite Quickbird (resolução 0,60m), melhor
imagem de satélite existente hoje no mercado, possui propriedades e características que
permitem a execução de um trabalho de altíssima qualidade; contudo requer certo custo de
aquisição.
A segunda opção são as imagens CBERS que são gratuitas. Sua resolução
corresponde a 20 m onde através de programa de computador pode-se interpretar as bandas e
faixas da imagem identificando automaticamente aspectos importantes do território como
cobertura vegetal e hidrografia, por exemplo.
As imagens obtidas por sensoriamento remoto (satélites) contêm erros e distorções
causados por uma variedade de fatores. De forma a obter uma escala real de representação da
terra (solo) é necessário remover distorções na imagem, e o processo de ortorretificação
resolve estes problemas, permitindo o uso dos dados da imagem em aplicações técnicas com
alta precisão.
Salienta-se que o serviço descrito obedece as normas técnicas da cartografia
nacional, de acordo com o decreto nº 89.817 de 20 de junho de 1984, assim como o material
disponibilizado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, através do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais - INPE.
Abaixo são listadas algumas das etapas da fase de instrumentalização:
Georreferenciamento e Vetorização das Cartas Topográficas da 1ª Divisão de
Levantamento do Exército Brasileiro: processo de georreferenciamento das cartas
topográficas que cobrem o território a ser trabalhado, bem como o desenho de todos os itens
contidos nas mesmas (curvas de nível, hidrografia, rede viária, manchas urbanas, vegetação,
redes elétricas, banhados, entre outros) com a finalidade de construir o Modelo Digital do
Terreno (MDT) para realizar o processo de ortorretificação e gerar os mapas de declividade e
de altimetria da área rural.
84
Mosaicagem e Equalização da Imagem de Satélite: as imagens brutas do satélite
vêm em pedaços (“quebra-cabeça”); e assim será necessário georreferenciar para uni-las uma
a uma. Para melhorar a qualidade visual da imagem, será necessário aplicar um processo de
equalização.
Planejamento e Coleta de Pontos de Controle no Terreno: com a finalidade de
georreferenciar a imagem de satélite, são obtidos pontos de controle em campo. Esses pontos
são identificados na imagem e ocupados no campo por receptores GPS geodésico para a
obtenção das coordenadas geográficas dos mesmos. É coletado o maior número de pontos
possíveis por cada Km², bem distribuídos pela imagem de satélite. Sempre é utilizado um par
de receptores GPS para a obtenção destes pontos, ficando um receptor sobre uma base criada
e o outro receptor ocupando o ponto de controle selecionado.
Georreferenciamento da Imagem de Satélite: com a utilização de software
específico para este fim, inserem-se os pontos de controle sobre a imagem de satélite e se
aplica o processo de georreferenciamento, ligando a mesma ao sistema geodésico brasileiro,
definindo o sistema de referência (Datum) e sistema de coordenadas.
Software para visualização de Mapas e Banco de Dados: disponibilização de um
software para os técnicos visualizarem todo o banco de dados geográficos.
Geração do Modelo Digital do Terreno (MDT): processo realizado com software
específico para transformar as curvas de nível (linhas de mesma altitude) obtidas pela
vetorização das cartas topográficas do exército (área rural), em modelo digital de altitudes.
Ortorretificação da Imagem de Satélite: a imagem de satélite georreferenciada se
junta o Modelo Digital do Terreno (MDT) gerado a partir do levantamento topográfico (área
urbana) ou das cartas topográficas (área rural). Este processo corrige os erros e distorções
existentes na imagem, deixando-a pronta para servir como base cartográfica.
Vetorização: com a imagem de satélite georreferenciada e ortorretificada, todos os
itens presentes na imagem serão vetorizados (desenhados), tais como: estradas, rodovias, ruas,
limites municipais e distritais, cursos d'água, vegetação, lavouras, áreas urbanas, redes
elétricas, pontos de referência, construções, etc.; informações fornecidas pela prefeitura
(linhas de energia, tubulação de água e esgoto, telefonia, etc.); assim como qualquer
informação que se deseje espacializar no mapa.
85
METODOLOGIA PARA CRIAÇÃO DE UMA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO
O “Roteiro Metodológico de Planejamento: Parque Nacional Reserva Biológica e
Estação Ecológica”, elaborado em 2002 pela Diretoria de Ecossistema do IBAMA (DIREC),
processo que contou com a participação de diversos segmentos da sociedade e comunidade
científica, pode servir de base para o planejamento.
Por força de lei, toda Unidade de Conservação deve possuir um Plano de Manejo,
definido pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) como “documento
técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de
conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e
o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação de estruturas físicas necessárias à
gestão da Unidade”.
Plano de Manejo
O Plano de Manejo é um documento oficial, fundamentado em critérios técnicos onde
se estabelece zoneamento e normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos
naturais da Unidade. Consiste de um instrumento de planejamento, elaborado em 10 etapas,
onde se constroem os seguintes encartes: Encarte 1 – Contextualização da UC; Encarte 2 –
Análise Regional; Encarte 3 – Análise da Unidade de Conservação e Encarte 4 –
Planejamento.
Os objetivos do Plano de Manejo são:
Levar a Unidade de Conservação – UC – a cumprir com os objetivos estabelecidos na
sua criação.
Definir objetivos específicos de manejo, orientando a gestão da UC.
Dotar a UC de diretrizes para o seu desenvolvimento.
Definir ações específicas para o manejo da UC.
Promover o manejo da Unidade, orientado pelo conhecimento disponível e/ou gerado.
Estabelecer a diferenciação e intensidade de uso mediante zoneamento, visando à
proteção de seus recursos naturais e culturais.
Destacar a representatividade da UC no SNUC frente aos atributos de valorização dos
seus recursos como: biomas, convenções e certificações internacionais.
86
Estabelecer, quando couber, normas e ações específicas visando compatibilizar a
presença de populações residentes com os objetivos da Unidade, até que seja possível
sua indenização ou compensação e realocação.
Estabelecer normas específicas regulamentando a ocupação e o uso dos recursos da
Zona de Amortecimento – ZA – e dos Corredores Ecológicos – CE, visando à
proteção da UC.
Promover a reintegração sócioeconômica das comunidades do entorno com a UC.
Orientar a aplicação dos recursos financeiros destinados à UC.
O processo de construção do Plano de Manejo geralmente passa por 10 etapas,
dependendo do grau de conhecimento existente, dos meios e recursos financeiros e humanos
disponíveis. Inicia-se com a primeira reunião técnica visando à organização do planejamento
(1ª etapa), seguida da coleta e análise das informações básicas disponíveis (2ª etapa) e do
reconhecimento de campo (3ª etapa). A quarta etapa consiste na realização da oficina de
planejamento, contando com a participação de representantes de diversos segmentos da
sociedade.
Mediante as informações levantadas, geram-se os seguintes encartes: encarte 1 –
Contextualização da UC, Encarte 2 – Análise Regional e o Encarte 3 – Análise da Unidade de
Conservação. Esta é a quinta etapa do processo.
Com base nas análises dos encartes, realiza-se a segunda reunião técnica de
planejamento (6ª etapa), procedendo as correções que se fizerem necessárias, traçando-se os
objetivos específicos da UC e discutindo uma proposta preliminar de zoneamento.
Como sétima etapa, realiza-se a terceira reunião técnica voltada para a estruturação do
planejamento, estabelecendo-se as diretrizes gerais do Plano de Manejo, consolidando o
zoneamento, definindo-se as áfreas estratégicas internas e externas e as ações e normas
relevantes à proteção da UC.
A etapa seguinte (8ª etapa) consiste na geração do Encarte 4 – Planejamento, e da
versão resumida. Uma vez encaminhado e analisado este encarte, procede-se a quarta reunião
técnica para avaliar o Plano de Manejo revisado, apontando e consolidando os ajustes
necessários (9ª etapa). A décima etapa refere-se a entrega e aprovação oficial do Plano de
Manejo.
Os critérios de zoneamento do Roteiro Metodológico de Planejamento são por demais
extensos para se incluir nesta proposta de trabalho.
87
Adianta-se que inclui critérios físicos mensuráveis ou espacializáveis (grau de
conservação da vegetação, variabilidade ambiental), critérios indicativos de valores para
conservação (representatividade, riqueza e/ou diversidade de espécies, áreas de transição,
suscetibilidade ambiental, presença de sítios arqueológicos e/ou paleontológicos), critérios
indicativos pra vocação de uso (potencial de visitação e conscientização ambiental, presença
de infraestrutura, uso conflitante, presença de população), bem como critérios de inclusão e
não inclusão da Zona de Amortecimento.
PROGRAMAÇÃO DE EXECUÇÃO FINANCEIRA ESTIMADA
Na Tabela 1 abaixo é possível avaliar pormenorizadamente os itens necessários à
fase de instrumentalização.
Fase de instrumentalização
Aquisição ou disponibilização da imagem Depende
Mosaicagem e Equalização da Imagem de Satélite. Depende
Implantação de Bases Geodésicas. Depende
Planejamento e Coleta de Pontos de Controle no Terreno
(aproximadamente 450 Pontos distribuídos para 110 Km²).
Depende
Geração do Modelo Digital do Terreno (MDT) com o uso das
Curvas de Nível.
Depende
Georreferenciamento da Imagem de Satélite. Depende
Ortorretificação da Imagem de Satélite. Depende
Vetorização de todos os elementos presentes nas Imagens de
Satélite (Áreas Urbanas).
Depende
Inserção do Banco de Dados Espacial (Dados sócioeconômicos). Depende
Elaboração de Mapas Temáticos Depende
Software para visualização de Mapas e Banco de Dados Depende
Elaboração de Relatório Técnico. Depende
Tabela 1 - Fase de instrumentalização.
88
Fase de Campo e reuniões
Na Tabela 2 abaixo é possível avaliar pormenorizadamente os itens necessários à
fase de campo e reuniões.
Equipes com questionários Depende
Deslocamentos, sobrevôos e descidas de barcos Depende
Alimentação e hospedagem Depende
Elaboração e impressão de documentos Depende
Logística geral Depende
Tabela 2 - Fase de campo e reuniões.
89
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi exposto ao longo do projeto pode-se constatar que a criação de uma
Unidade de Conservação é eficaz para atingir os objetivos citados. A oficialização do caráter
de conservação, recuperação e disciplinamento do uso e ocupação do solo é passo
fundamental para a gestão dos recursos naturais disponíveis em tamanha abundância, como a
questão de qualidade e quantidade de água, por exemplo.
É importante sempre observar como mínimos esforços de conservação podem
beneficiar todas as formas de vida, bem como providenciar métodos de se trabalhar
diretamente a causa do problema: a conscientização ecológica da humanidade.
Neste sentido, é importante considerar as palavras de Góes (1973):
“Não se pode falar em potencialidades paisagísticas sem pensar no
grande dilema dos tempos modernos: o economismo e o ecologismo.
Enquanto que o economismo é de um imediatismo por vezes criminoso, o
ecologismo, tomado nos seus termos mais simples, é de uma ingenuidade tão
grande que chega a prejudicar qualquer causa que vise à proteção dos
recursos naturais ditos renováveis, ou, na maioria dos casos, de difícil
reconstrução.
Portanto, nem o economismo nem o ecologismo extremos. O
ecologismo manda conservar a natureza, reservando-a à função de paraíso
ambiental. O economismo manda transformar o capital ecológico em
consumo, acelerando o esgotamento dos recursos.
O ponto de equilíbrio só será encontrado na planificação racional
que compatibilize os objetivos de crescimento da economia com proteção e
desenvolvimento da constelação de recursos naturais, em proveito de metas
a um só tempo econômicas e ecológicas” (GÓES, 1973).
Espera-se sinceramente que preocupações sobre a fragmentação florestal, o declínio
populacional de espécies da fauna selvagem, juntamente com a degradação de seus habitats,
sejam traduzidos futuramente em considerável aumento da participação e apoio a trabalhos de
conscientização, bem como difundir conhecimentos e informações gerados.
90
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96
ANEXO – FOTOS AÉREAS
Figura 6 - (A) Morro São João; (B) Morro Montenegro; (C) Rio Caí e (D)
Área Urbana do município.
Figura 7 - (A) Morro São João; (B) Rio Caí; (C) Área Urbana do município.
97
Figura 8 - Morro Montenegro.
Figura 9 - Área sujeita a alagamento (Banhado do Cambuí) à direita. À esquerda
Morro da Mariazinha. Ao fundo Morro Montenegro.