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CURSO DE PÓS- GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PLANEJAMENTO AMBIENTAL Faculdade SENAI de Tecnologia- Instituto Venturi ESTUDO DE CASO: “A QUESTÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO MORRO SÃO JOÃO DO MONTENEGRO” Montenegro - 2011 Cláudio Eduardo da Costa Alves

“A QUESTÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO MORRO SÃO JOÃO … · Defesa do Meio ambiente – COMDEMA – acerca da do uso e ocupação em direção ao topo do morro, ... (APP' S). And

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CURSO DE PÓS- GRADUAÇÃO LATO SENSU EM

PLANEJAMENTO AMBIENTAL

Faculdade SENAI de Tecnologia- Instituto Venturi

ESTUDO DE CASO:

“A QUESTÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO

MORRO

SÃO JOÃO DO MONTENEGRO”

Montenegro - 2011

Cláudio Eduardo da Costa Alves

2

ESTUDO DE CASO:

“A QUESTÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO

MORRO

SÃO JOÃO DO MONTENEGRO”

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Pós Graduação Lato Sensu em

Planejamento Ambiental para obtenção do título acadêmico de Especialista em Planejamento

Ambiental.

Orientadora: Professora Thaís Castro Souza

Montenegro - 2011

3

CIP – CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI PORTO ALEGRE

Diretor: Clóvis Leopoldo Reichert

Coordenador: Alexandre Gaspary Haupt

Leandro José Cassol

Bibliotecária: Patrícia Redel Nunes Teixeira

Cláudio Eduardo da Costa Alves

ALVES, Cláudio Eduardo da Costa

Estudo de Caso: “A questão do uso e ocupação do Morro

São João do Montenegro”/ Cláudio Eduardo da Costa Alves;

orientação [por] Thaís Castro Souza. – Porto Alegre:

Faculdade de Tecnologia SENAI Porto Alegre, 2011.

xx f.: il.

1. Planejamento Ambiental. 2. Uso e Ocupação Morro

São João. I. Alves, Cláudio Eduardo da Costa. II. Estudo de

Caso: “A questão do uso e ocupação do Morro São João do

Montenegro”.

4

ESTUDO DE CASO:

“A QUESTÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO MORRO SÃO JOÃO DO MONTENEGRO”

Este trabalho de conclusão de curso foi julgado adequado como parte dos requisitos para

obtenção do título acadêmico de Especialista em Planejamento Ambiental, Faculdade de

Tecnologia SENAI. Porto Alegre.

Porto Alegre, 17 de dezembro de 2011.

Avaliadora:

______________________________________________________

Profª Orientadora: Thaís Castro Souza

5

Dedico esta obra primeiramente aos meus pais, por todo o

auxílio e apoio incalculáveis.

Dedico também a toda minha família e em especial ao

meu filho Vicente que herdará este mundo, juntamente

com seus contemporâneos.

Dedico, da mesma forma, a todos os beneficiários que

uma proposta como esta trará.

Por fim, dedico ao inominável criador de tudo e todos,

inteligência amorosa que nos supre.

6

AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente a todos os professores, secretários e coordenadores que de

uma forma ou de outra se dispuseram a ofertar-nos todas as possibilidades de crescimento e

aprendizagem.

Agradeço muito a todos os colegas, tanto os que ficaram até o fim como os que por

razões diversas saíram antes da conclusão do curso. Foi uma oportunidade maravilhosa nos

conhecermos e nos tornarmos a família que somos. Por certo não nos esqueceremos dos

momentos que passamos juntos, em detrimento a outras atividades pessoais e familiares nos

intermináveis fins de semana sem lazer nem descanso no decorrer do curso. Agradeço a

paciência e o carinho de todos em nossas relações sociais.

Agradeço à minha esposa e filho por compreenderem e apoiarem minhas ausências

nos fins de semana.

Obrigado.

7

“Seja um Colombo para novos continentes e mundos

inteiros dentro de você, abrindo novos canais, não de

comércio, mas de pensamento. Todo Homem é o senhor de

um reino ao lado do qual o império terreno do Czar não

passa de um estado insignificante, um montículo deixado

pelo gelo.”

Henry David Thoreau.

Walden, 1854.

8

RESUMO

A situação descrita neste roteiro diz respeito às discussões sobre o uso e ocupação

do conjunto de morros no centro da cidade de Montenegro, situada a cerca de 63 km de Porto

Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Neste momento, estão ocorrendo discussões

extremamente importantes no âmbito do executivo municipal e no Conselho Municipal de

Defesa do Meio ambiente – COMDEMA – acerca da do uso e ocupação em direção ao topo

do morro, em áreas de mata nativa e de preservação permanente (APP’S). E é neste sentido

que se percebe que aspectos culturais e ambientais importantes estão sendo deixados de lado,

em favor de pontos puramente econômicos. A relevância do assunto é notável e as discussões

necessárias, haja vista que o Morro São João do Montenegro deu nome à cidade e está

presente no imaginário da população como o “gigante adormecido”, formado por um conjunto

de morros próximos uns aos outros. Este trabalho tem por finalidade assegurar a preservação

de parte significativa do patrimônio natural e cultural de Montenegro, principalmente os

morros da região e criar de maneira legítima e oficial a Área de Proteção Ambiental do Morro

São João, conectado também às áreas sujeitas à alagamentos, consideradas Preservação

Permanente, nas margens do Rio Caí em Montenegro, pertencente à Bacia Hidrográfica do

Rio Caí. Da mesma forma, busca-se utilizar o instrumento Parque Linear Urbano, dissertação

de Mestrado da Arquiteta e Urbanista Daniela Friedrich (FRIEDRICH, 2007), como projeto

piloto para o Vale do Caí em relação ao uso e ocupação das suas áreas naturais,

principalmente junto aos corpos d’água. O instrumento Parque Linear está sendo apontado

pela bibliografia atual como medida sustentável de uso e ocupação das áreas de fundo de vale

urbanas, nos âmbitos ambientais, sociais, econômicos e culturais. Compõe uma visão onde a

base das intervenções prioriza a manutenção, regeneração e recuperação dos aspectos físicos e

bióticos. Vê a idéia de uma organização do espaço a partir da integração dos ecossistemas, a

qual pressupõe a linearidade e conectividade entre as estruturas, que promovam a

biodiversidade animal e vegetal, a drenagem e outros eventos, garantindo a manutenção dos

sistemas envolvidos. Objetiva-se reconhecer os elementos integradores da paisagem, assim

como as potencialidades regionais a fim de implementar um modelo de gestão ambiental da

bacia hidrográfica do rio caí adequada, onde as condições fisiográficas e biogeográficas

formam um complexo homogêneo e extensivo, se estendendo às áreas social, cultural e

econômica. Para tanto, almeja-se a criação de uma Unidade de Conservação de Uso

Sustentável, na categoria de Área de Proteção Ambiental (APA) no Morro São João,

conectado também aos outros morros locais, já protegidos pela Lei Orgânica Municipal, bem

como as áreas sujeitas à alagamentos (banhados), consideradas de preservação permanente

nas margens do Rio Caí em Montenegro, pertencente à Bacia Hidrográfica do Rio Caí,

tornando possível, desta maneira, uma infraestrutura capaz de garantir um trabalho realmente

consistente e eficaz de gestão ambiental.

Palavras-chave: Uso e ocupação de morros, Planejamento Ambiental, Unidade de

Conservação de Uso Sustentável - APA.

9

ABSTRACT

The situation described in this theoretical document comes to discussions about

the use and occupation of the range of hills in the centre of the city of Montenegro, located 63

km from Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. In this moment, extremely

important discussions are occurring in the scope of the municipal executive and in the

Municipal Council for the Protection of the Environment – COMDEMA (Conselho Municipal

de Defesa do Meio Ambiente) -about the use and occupation in direction to the top of the hill,

in areas of native forest and of permanent preservation (APP' S). And it is in this sense that

cultural and important environmental aspects are perceived as having been left aside, in

favour of purely economic points. The relevance of the issue is remarkable and a discussion

necessary, due to the fact that Morro São João do Montenegro gave its name to the city and is

present in the imaginary of the population as the "sleeping giant", formed by a range of hills

close to each other. This work is aimed at ensuring the preservation of a significant part of the

natural and cultural heritage of Montenegro, mainly the hills of the region and at creating in a

legitimate and official way the Area of Environmental Protection of the Morro São João,

connected also to areas subject to flooding, considered of Permanent Preservation, on the

banks of the River Caí in Montenegro, belonging to the River Caí watershed. Similarly seeks

to use the instrument Linear Urban Park, Master Thesis. of the Architect and Urban Planner

Daniela Friedrich (FRIEDRICH, 2007), as pilot project for the Vale do Caí in relation to the

use and occupation of its natural areas, especially near the water bodies. The instrument

Linear Park is being pointed out by the present bibliography as a measure of sustainable use

and occupation of the areas of the urban bottom of valley areas, in the environmental, social,

economic and cultural scope. It composes a vision where the basis of the intervention gives

priority to the maintenance, regeneration and recuperation of the physical and biotic aspects.

It sees the idea of a space organization from the integration of the ecosystems, which

presumes the linearity and connectivity between the structures, which promote the animal and

vegetable biodiversity, the drainage and other events, guaranteeing the maintenance of the

systems involved. It aims to recognize the integrity of the landscape, as well as the regional

potentials in order to implement an adequate model of environmental management of the river

Caí watershed, where the geo-morphological and bio-geographical conditions form a

homogeneous and extended complex that extends to areas such as the social, cultural and

economic. Therefore, one aims to create a Conservation Unit for Sustainable Use, in the

Environmental Protection Area category (APA) in the Morro São João, connected also to the

other local hills, already protected by the Municipal Organic Law, as well as the areas subject

to flooding (swamps), considered of permanent preservation on the banks of Rio Caí in

Montenegro, belonging to the Rio Caí Watershed, making possible, in this way, an

infrastructure capable of guarantee a really consistent and effective environmental

management work.

Key-words: Use and occupation of hills; Environmental Planning; Conservation Units for

Sustainable Use - APA.

10

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Vista do “complexo de morros”, da esquerda para a direita: Morro da

Pedreira, Morro São João e Morro dos Fagundes, formando a imagem de um gigante

deitado, com cabeça, barriga e pés .......................................................................................

18

Figura 2 – Complexo de Morros: Morro da Pedreira; Morro São João e Morro dos

Fagundes (da esquerda para a direita), formando o “gigante”..............................................

18

Figura 3 – Localização do Município de Montenegro no Estado do Rio Grande do Sul ... 77

Figura 4 – Localização do Município de Montenegro no Estado do Rio Grande do Sul ... 78

Figura 5 – Mapa das regiões fitogeográficas e a localização do município de

Montenegro ...........................................................................................................................

79

Figura 6 – (A) Morro São João; (B) Morro Montenegro; (C) Rio Caí e (D) Área Urbana

do município..........................................................................................................................

96

Figura 7 – (A) Morro São João; (B) Rio Caí; (C) Área Urbana do

município...............................................................................................................................

96

Figura 8 – Morro Montenegro............................................................................................ 97

Figura 9 – Área sujeita a alagamento (Banhado do Cambuí) à direita. À esquerda Morro

da Mariazinha. Ao fundo, Morro Montenegro......................................................................

97

Figura 10 – Complexo de Morros: Morro da Pedreira, Morro São João e Morro dos

Fagundes (da esquerda para a direita), formando o “gigante”..............................................

98

Figura 11 – Área sujeita a alagamento (Banhado do Baixio Velho) à direita. Ao fundo,

Morro Montenegro................................................................................................................

98

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Fase de instrumentalização ............................................................................

87

Tabela 2 – Fase de campo e reuniões ............................................................................... 88

12

LISTA DE SIGLAS

ANA – Agência Nacional das Águas.

APA – Área de Proteção Ambiental.

APE – Área de Proteção Especial.

APP – Área de Preservação Permanente.

CBERS – Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres.

CE – Corredor Ecológico.

CF – Constituição Federal.

COMDEMA – Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente.

CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente.

CONSEMA – Conselho Estadual de Meio Ambiente.

CNPF – Conselho Nacional de Proteção à Fauna

CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.

Convenção sobre Diversidade Biológica.

DEC – Decreto.

DF – Distrito Federal.

DIREC – Diretoria de Ecossistema do IBAMA.

DLG – Decreto Legislativo.

DMA – Departamento Municipal do Meio Ambiente.

FEPAM – Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler – RS.

GPS – Geographic Position System. Sistema de Posicionamento Geográfico.

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.

INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

ITR – Imposto Territorial Rural.

MDT – Modelo Digital do Terreno.

m – Unidade de medida em metros.

MP – Medida Provisória.

MP – Ministério Público.

PCA – Plano de Controle Ambiental

PNMA – Política Nacional de Meio Ambiente.

PNRH – Política Nacional de Recursos Hídricos.

PROCONVE – Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar por Veículos

Automotores.

PRONABIO – Programa Nacional da Diversidade Biológica.

PRONAR – Programa nacional de Controle da Qualidade do Ar.

SEEC – CPC – Secretaria Estadual de Educação e Cultura / Coordenadoria do Patrimônio

Cultural.

SEUC – Sistema Estadual de Unidades de Conservação.

SISNAMA – Sistema Nacional de Meio Ambiente.

SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.

UC – Unidade de Conservação.

ZA – Zona de Amortecimento.

ZEE – Zoneamento Econômico – Ecológico .

13

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 17

2. ASPECTOS LEGAIS DISCUTIDOS .................................................................... 17

3. BREVE HISTÓRICO ............................................................................................. 19

4. ENQUADRAMENTO LEGAL (não exaustivo) ................................................... 20

4.1 O Direito Ambiental entendido como direito de terceira geração ............ 21

4.2 Conceito de Meio Ambiente ....................................................................... 22

4.3 Definição de Degradação da qualidade ambiental e poluição ................. 23

4.4 Quem pode ser considerado poluidor pela legislação Brasileira ............. 23

4.5 Natureza pública da proteção ambiental - princípios que informam

o Direito Ambiental .........................................................................................

23

4.6 Os princípios da Prevenção e o da Precaução .......................................... 24

4.7 Grandes marcos referenciais da legislação ambiental brasileira – visão

de Edis Millaré ..................................................................................................

25

4.8 Patrimônio Ambiental Nacional – composição ......................................... 26

4.9 Componentes do patrimônio ambiental natural que são objeto de

proteção legal ....................................................................................................

26

4.10 Patrimônio Cultural Brasileiro - fundamento legal constitucional ....... 29

4.11 Formas de promoção dos bens culturais, além do tombamento ............. 29

4.12 PRONABIO - fundamento legal .............................................................. 30

4.13 SNUC/SEUC - o conceito legal de Unidade de Conservação – UC ....... 31

4.14 Meio Ambiente Urbano e o Estatuto da Cidade ...................................... 37

4.15 Lei dos Crimes Ambientais (L. 9.605/98) - infração administrativa ...... 38

4.16 Sanções administrativas aplicáveis - fundamento legal ......................... 39

4.17 PNMA – Política Nacional do Meio Ambiente (L. 6938/81) –

instrumentos: Intervenção, Controle e os de Repressão .................................

39

4.18 Lei Orgânica do Município de Montenegro ............................................ 40

4.19 Código Ambiental do Município de Montenegro - Lei n.º 4.293, de 20

de outubro de 2005 ...........................................................................................

41

4.20 Resoluções CONAMA............................................................................... 45

4.21 Tratados internacionais em que o Brasil é signatário ............................ 47

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 48

14

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 49

ANEXO – PROPOSTA DE CRIAÇÃO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO ... 50

APRESENTAÇÃO DO PROJETO ........................................................................... 50

TÍTULO ....................................................................................................... 50

LOCALIZAÇÃO ........................................................................................ 50

DURAÇÃO .................................................................................................. 50

RESUMO DO PROJETO .......................................................................... 50

APRESENTAÇÃO DA INSTITUIÇÃO PROPONENTE E PARCEIRAS .......... 51

Identificação da Instituição Proponente ................................................... 51

Instituição ..................................................................................... 51

Representante .............................................................................. 51

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 52

CONTEXTUALIZAÇÃO E DIAGNOSTICO ......................................................... 52

JUSTIFICATIVA ........................................................................................................ 55

O parque linear urbano como instrumento de planejamento e

gestão de áreas de fundo de vale urbanas ......................................................

57

Definições de parque urbano ......................................................... 59

O conceito de parque linear urbano como alternativa no século

XXI ................................................................................................

59

O Parque Linear Urbano como objeto estruturador de programas

sócio-ambientais em áreas de fundo de vale urbanas ....................

61

Funções dos parques lineares ........................................................ 62

A função de drenagem .................................................. 62

A função de proteção e manutenção do sistema natural 62

A função de lazer, educação ambiental e de coesão

social .............................................................................

63

A função de estruturação da paisagem urbana ............... 64

A função de desenvolvimento econômico .................... 64

A função política ........................................................... 65

A função de corredor multifuncional ............................ 65

A visão ambiental no planejamento e gestão de parques lineares

urbanos em áreas de fundo de vale urbanas ..................................

66

Impactos da urbanização sobre as áreas de fundo de

15

vale ................................................................................ 67

Impactos da urbanização sobre o meio físico ............... 67

Impactos da urbanização sobre o meio biótico ............. 70

A visão ambiental no planejamento e gestão de áreas

de fundo de vale urbanas ...............................................

70

A visão social no planejamento e gestão de parques lineares

urbanos em áreas de fundo de vale urbanas ................................................

72

A visão social no planejamento do espaço público ....................... 72

O parque linear como instrumento de planejamento e gestão

social das áreas de fundo de vale urbana ......................................

73

O lazer e a educação/cultura ......................................... 74

O lazer e as relações sociais .......................................... 74

O lazer e o desenvolvimento econômico ...................... 75

O parque como local de lazer ........................................ 75

O parque marginal ao curso d’água como local de

lazer ...............................................................................

75

A circulação não-motorizada ........................................ 76

ENQUADRAMENTO GEOMORFOLÓGICO E FITOGEOGRÁFICO DA

REGIÃO ......................................................................................................................

76

REGIÃO GEOMORFOLÓGICA ............................................................................. 77

REGIÃO FITOGEOGRÁFICA ................................................................................ 78

PARTICIPAÇÃO SOCIAL E BENEFICIÁRIOS ................................................... 79

Benefícios Ambientais ................................................................................. 80

Benefícios Sociais ......................................................................................... 80

Benefícios Econômicos ................................................................................ 80

OBJETIVOS ................................................................................................................ 81

METAS ........................................................................................................................ 81

MÉTODO E INSUMOS ............................................................................................. 82

METODOLOGIA PARA CRIAÇÃO DE UMA UNIDADE DE

CONSERVAÇÃO .......................................................................................................

85

Plano de Manejo .......................................................................................... 85

PROGRAMAÇÃO DE EXECUÇÃO FINANCEIRA ESTIMADA ...................... 87

Fase de instrumentalização ........................................................................ 87

16

Fase de Campo e reuniões .......................................................................... 88

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 89

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 90

ANEXO – FOTOS AÉREAS ..................................................................................... 96

17

1. INTRODUÇÃO

A situação a ser descrita sucintamente neste roteiro diz respeito às discussões sobre o

uso e ocupação do conjunto de morros no centro da cidade de Montenegro, situada a cerca de

63 km de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.

Neste momento, estão ocorrendo discussões extremamente importantes no âmbito do

executivo municipal e no Conselho Municipal de Defesa do Meio ambiente – COMDEMA –

acerca da do uso e ocupação em direção ao topo do morro, em áreas de mata nativa e de

preservação permanente (APP’S), como loteamentos residenciais e outros empreendimentos.

Milton Santos (1991, p. 69) cita que a paisagem deve ser pensada paralelamente às

condições políticas, econômicas e também culturais. Desvendar essa dinâmica social é

fundamental, as paisagens nos restituem todo um cabedal histórico de técnicas, cuja era

revela; mas ela não mostra todos os dados, que nem sempre são visíveis.

E é neste sentido que se percebe que aspectos culturais e ambientais importantes estão

sendo deixados de lado, em favor de pontos puramente econômicos, através da especulação

imobiliária.

A relevância do assunto é notável e as discussões necessárias, haja vista que o Morro

São João do Montenegro deu nome à cidade e está presente no imaginário da população como

o “gigante adormecido”, formado por um conjunto de morros próximos uns aos outros.

2. ASPECTOS LEGAIS DISCUTIDOS

Na revisão do Plano Diretor do município, sob orientação do antigo Diretor de Meio

Ambiente André Venâncio, juntamente com a comissão que avaliou a proposta da empresa

contratada Vertrag para o Plano Diretor, a questão do uso e ocupação do morro foi

enquadrada na Resolução CONAMA nº 303/2002, que dispõe sobre parâmetros, definições e

limites de Áreas de Preservação Permanente, onde foram considerados os cumes do morro

São João e do morro da Pedreira a menos de 500 m de distância, o que resultava num

"conjunto de morros"; tal fato poderia estabelecer a área de preservação permanente (APP)

pela cota do menor morro (morro da Pedreira com cota 60).

Quando a discussão deu entrada no CONDEMA, em função da aprovação do

condomínio fechado, foi levantada a informação de que os cumes possuem, na verdade, 540

m de distância um do outro, ou seja, não se enquadrariam em “conjunto de morros”, logo, a

APP do morro São João foi enquadrada acima da cota 140 e não da 60 (morrote menor –

18

Morro da Pedreira). Como base do morro foi utilizada a cota 5, que é a mais baixa da cidade,

no rio.

É importante salientar que a empresa Vertrag propôs área de preservação muito maior

e mais restritiva do que a da comissão.

Figura 1 - Vista do “complexo de morros”, da esquerda para a direita: Morro da Pedreira,

Morro São João e Morro dos Fagundes, formando a imagem de um gigante deitado, com

cabeça, barriga e pés.

Figura 2 - Complexo de Morros: Morro da Pedreira; Morro São João e Morro dos Fagundes

(da esquerda para a direita), formando o “gigante”.

19

3. BREVE HISTÓRICO

A topografia de Montenegro é realmente encantadora. O conjunto de morros é cantado

até mesmo em verso e prosa, como pode ser percebido no Hino do Município de Montenegro:

“Como é bela a visão sublimada! (...) Deste rio – deste morro “São João” (...) Na moldura

das belas paisagens, Sobressai um belo perfil (...)”.

Somado a isso, existe todo um conjunto ideológico que forma uma identidade local.

Milton Santos (1997, apud SUERTEGARAY, 2000) cita que “lugar” constitui a dimensão da

existência que se manifesta através de um cotidiano compartilhado entre as mais diversas

pessoas, firmas e instituições. Ele segue, explicando didaticamente que o conceito de lugar

induz a uma análise geográfica a uma outra dimensão – a da existência – pois refere-se a um

tratamento geográfico do mundo.

Este tratamento vem assumindo diferentes dimensões: de um lado, o lugar se

singulariza a partir de visões subjetivas vinculadas a percepções emotivas, a exemplo do

sentimento topofílico (experiências felizes) do que se refere Yu-Fu Tuan (1975). De outro, o

lugar pode ser lido através do conceito de geograficidade, termo que, segundo Relph (1979),

“encerra todas as respostas e experiências que temos dos ambientes nos quais vivemos, antes

de analisarmos e atribuirmos conceitos a essas experiências” (SUERTEGARAY, 2000).

Neste sentido, observa-se que o Morro São João do Montenegro, que deu nome à

cidade, está presente no imaginário da população como o “gigante adormecido”, formado por

um conjunto de morros próximos uns aos outros, como podemos analisar na lenda descrita

abaixo, presente como patrimônio cultural do município:

A história do gigante de pedra

Esta é a lenda que explica o formato quase humano dos morros próximos à

cidade:

Há muitos e muitos anos, bem antes da descoberta do Brasil, esta região era um

vale, onde existiam índios, animais e muitas flores.

Vivia, por entre as árvores do vale do rio Caí, um enorme gigante, feio e muito

mau. Os índios fugiam dele apavorados, e os pássaros não ousavam chegar

perto dele, tão grande era sua maldade.

O gigante andava muito, sempre perseguindo alguma vítima. Um dia, depois de

muitas caminhadas, ficou tão cansado que,ao chegar perto do rio caí, deitou-se,

a fim de repousar. Acomodou o corpo imenso sobre o chão e adormeceu.

Uma fada que vinha observando o gigante e conhecia todas as suas malvadezas,

resolveu acabar com tanta ruindade. A fada se aproximou dele e, aparecendo-

20

lhe em sonhos, disse-lhe que havia chegado seu fim. Tocou-o com sua varinha

mágica, transformando-o em pedra. Pedra para sempre.

E até hoje o gigante malvado dorme, próximo à cidade. Seu corpo forma os

morros que nos cercam: o Morro da Pedreira é a cabeça; o Morro São João

constitui o corpo com sua enorme barriga e seus braços; o Morro dos Fagundes

– mais conhecido como morro da Formiga – forma as pernas e os pés.

E, assim, o gigante adormecido, coberto de terra e de vegetação, hoje, enfeita a

paisagem montenegrina e atrai visitantes.

4. ENQUADRAMENTO LEGAL (não exaustivo)

“Direito é o conjunto das normas gerais e positivas que regulam a vida social”.

Radbruck.

- Conjunto significa que o trabalho é comum, integrado, onde os elementos devem ser

vistos como um todo e destinados a uma mesma finalidade, ou seja, de forma holística.

- Normas são as ferramentas que regulam procedimentos ou atos.

- Gerais significam aquelas que abrangem a totalidade ou a maioria de um conjunto de

coisas ou pessoas, ou seja, que busca a universalidade.

- Positivas no sentido de REAL, concreta, que é aplicável por ser válida e eficaz.

- Regulam ou regem o funcionamento da instituição.

- Vida Social é o mecanismo ordenado e integrado das instituições que regem a vida

do homem em estado gregário.

Apesar de ainda ser bastante difícil a conceituação de Direito, como cita Kant, esta

ótima frase de Radbruck pode ser aplicada neste estudo de caso perfeitamente.

No caso do Morro São João, as decisões que estão sendo tomadas afetarão a todos

indistintamente, sejam estes ricos ou pobres, instruídos ou carentes de conhecimentos, atentos

ou ignorantes ao fato em questão.

A forma “legal” que decidirá a forma de uso/ocupação do solo se fará na forma de

regras ou normas (resoluções, etc.) que as instituições políticas implementarão, sempre com a

fundamentação e embasamento de todas as outras leis que se relacionem ao assunto.

Ela é dita geral quando abrange a totalidade ou a maioria de um conjunto de coisas ou

pessoas, ou seja, que busca a universalidade. É exatamente o que está prestes a ocorrer caso

seja autorizada a expansão urbana no morro. Será liberado para condomínios de alto luxo por

um lado, mas do outro também deverá ser permitida a ocupação de casebres e favelas.

21

São ditas positivas, pois realmente serão reais e concretas as decisões tomadas, ou seja, não

ficarão apenas no plano das idéias. Sendo a vida social do homem regrado por instituições

políticas e culturais que regem o funcionamento do modus operandi, denota-se a força que o

Direito exerce sobre a totalidade da população envolvida na questão.

4.1 O Direito Ambiental entendido como direito de terceira geração

1ª Geração Liberdades políticas (1789)

2ª Geração Estado do Bem Estar Social (Social Democracia)

3ª Geração Direitos Transindividuais (Relação de consumo/Meio Ambiente)

Em virtude do Meio Ambiente ser inerente a tudo e a todos, não havendo fronteiras

políticas ou privadas para delimitá-lo, ele se enquadra na categoria de Direitos

Transindividuais.

Direito ao meio ambiente sadio e equilibrado é, basicamente, direito à vida. Ele

ultrapassa qualquer direito individual, de privacidade ou propriedade.

Neste sentido, é importante relembrar a degradação absurda e exponencial em que o

ambiente está sofrendo. É preciso constatar que o espaço é fragmentado, resultando em

diversas configurações de uso da terra (matriz), ao mesmo tempo em que forma habitats

naturais distintos e separados. Por conseguinte, existem habitats favoráveis e outros

desfavoráveis à instalação ou manutenção de espécies.

A fragmentação de habitats é uma das mais importantes e difundidas conseqüências da

atual dinâmica de uso da terra pelo Homem (BROOKS et al, 2002). Almeida et al. (1998)

comentam que quando as características originais de um habitat são alteradas, muitos

elementos essenciais à manutenção das espécies da comunidade local desaparecem, tornando

assim, inviável a permanência e sobrevivência de uma ou várias espécies.

O processo ou modelo de desenvolvimento atual está levando à formação de paisagens

contendo apenas manchas pequenas de áreas naturais. Estas manchas pequenas acabam por se

tornar ambientes extremamente nevrálgicos para populações reduzidas, pois estas são

altamente susceptíveis à extinção por uma série de razões.

Se, somado a isso, pousar um olhar atento à pressão que o processo urbanístico exerce

sobre estas áreas, principalmente nas pequenas e médias cidades, ver-se-á a verdadeira

magnitude do problema e a importância que as sociedades locais dão à ele. As aglomerações

vão saturando o espaço urbano ao ponto de sua expansão ser inevitável. No Brasil se observa

22

claramente conflitos de interesses quanto ao uso e ocupação do solo urbano, quase sempre

resultando em degradação urbana e ambiental.

Os principais problemas observados referem-se basicamente a uma adequação do

espaço às necessidades das populações, onde o produto final das interações Homem –

Ambiente podem ser resumidos em geração de resíduos sólidos e efluentes (domésticos e

industriais), degradação dos mananciais, aumento dos riscos das áreas de abastecimento de

água com poluição orgânica e química, contaminação dos rios pelos esgotos domésticos,

industrial e pluvial, enchentes urbanas geradas pela inadequada ocupação do espaço e pelo

gerenciamento inadequado da drenagem urbana e falta de coleta e disposição do lixo urbano.

As transformações decorrentes do uso mal planejado do ambiente causam, em última

análise, a impossibilidade do Planeta executar seus processos naturais de maneira harmônica,

prejudicando, desta forma, as condições tênues de homeostase da vida na Terra, o que, em

outras palavras, seria o mesmo que dizer que estas áreas deixarão de cumprir com sua função

ecológica no equilíbrio delicado da vida o e na regulação do clima no Planeta Terra.

4.2 Conceito de Meio Ambiente

Meio Ambiente – Conceito Legal Presente na Lei da Política Nacional de Meio

Ambiente. Lei n° 6.938/81 – art. 3°, inciso I.

“Art. 3° - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I – meio ambiente: o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem

física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas

formas;”

Além da definição legal, ainda existe o conceito doutrinário, de Ávila Coimbra:

“Meio ambiente é o conjunto de elementos abióticos (físicos e químicos) e bióticos

(flora e fauna), organizados em diferentes ecossistemas naturais e sociais em que se

insere o Homem, individual e socialmente, num processo de interação que atenda ao

desenvolvimento das atividades humanas, à preservação dos recursos naturais e das

características essenciais do entorno, dentro das leis da natureza e de padrões de

qualidade definidos.”

23

4.3 Definição de Degradação da qualidade ambiental e poluição

Degradação da qualidade ambiental e poluição – Conceito Legal Presente na Lei da

Política Nacional de Meio Ambiente. Lei n° 6.938/81 – art. 3°, inciso II e III.

Glossário da FEPAM Poluição: é toda matéria ou forma de energia colocada em

excesso no meio ambiente, que provoca uma mudança negativa na qualidade de alguma

parte da biosfera,podendo causar doenças, morte ou mesmo extinção de alguma espécie

(www.fepam.rs.gov.br/glossario).

Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características

do meio ambiente;

III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que

direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais

estabelecidos;

4.4 Quem pode ser considerado como poluidor pela legislação brasileira?

Poluidor - Conceito Legal Presente na Lei da Política Nacional de Meio Ambiente.

Lei n° 6.938/81 – art. 3°, inciso IV.

IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável,

direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;

4.5 Natureza pública da proteção ambiental - princípios que informam o Direito

Ambiental

24

A natureza pública desta proteção se relaciona com a competência do Poder Público

com esta empreitada. Como o bem é de fruição pública, ou seja, de uso comum do povo, ele

deve ser submetido a um controle ou a uma ordem pública.

Fundamentação legal: Constituição Federal. Art. 225. § 1°:

Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de

uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e

futuras gerações.

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo

ecológico das espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e

fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus

componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão

permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a

integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente

causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto

ambiental, a que se dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e

substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização

pública para a preservação do meio ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem

em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os

animais a crueldade.

4.6 Os princípios da Prevenção e o da Precaução

De maneira geral, o princípio da Precaução ultrapassa o da Prevenção. Impõe às

autoridades a obrigação de agir em face de uma ameaça de danos irreversíveis à saúde,

mesmo que os conhecimentos científicos disponíveis não confirmem o risco. A precaução

atua na incerteza científica e não existe por ela mesma, ou seja, se constrói a cada contexto.

25

Alguns doutrinadores não reconhecem a separação entre os princípios da Prevenção e

da Precaução (Ex: Edis Milaré). Contudo, em uma análise mais minuciosa, é possível

estabelecer algumas diferenças, listadas abaixo:

PREVENÇÃO São conhecidas as consequências de iniciar, prosseguir ou

suprimir determinado ato. É possível estabelecer um NEXO CAUSAL entre o ato em si e a

degradação ambiental, cientificamente comprovado. Em algumas situações é perfeitamente

possível, através da lógica, se prever determinada conseqüência.

PRECAUÇÃO Não é possível estabelecer quais as conseqüências que

determinado ato ou empreendimento ou aplicação científica causarão ao meio ambiente no

espaço e/ou tempo, bem como quais os reflexos ou conseqüências. Há incerteza científica não

sanada. Aplicável o Princípio 15 da Declaração do Rio de Janeiro/1992:

Princípio 15 De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da

precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas

capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência

absoluta de certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar

medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.

4.7 Grandes marcos referenciais da legislação ambiental brasileira - visão de Edis

Millaré

Marcos modernos da Legislação Ambiental:

Lei n° 6.938/81 – Lei da PNMA – Política Nacional do Meio Ambiente

- Meio ambiente como conceito jurídico específico e bem sujeito à proteção.

- Institui o SISNAMA = planeja ações integradas dos diversos órgãos governamentais

com uma política para o setor.

- Responsabilidade objetiva – art. 14, § 1°

- Enfatiza a educação ambiental

Lei n° 7.347/85 – Ação civil pública de Responsabilidade

26

- Responsabilização por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e

direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

- Atividade jurisdicional diferenciada, por vezes entrando no mérito da atividade da

Administração Pública.

- Além da jurisdição individual, abrange os interesses difusos e os coletivos.

- MP e Associações ganham força na legitimidade para defesa desses interesses.

Constituição Federal de 1988

- Meio ambiente ganha capítulo próprio em um dos textos mais avançados do mundo

Título VIII – Da Ordem Social; Capítulo VI – Do Meio Ambiente – Art. 225.

- Constituições Estaduais – CE/RS = Capítulo IV – Do Meio ambiente – arts. 250 a

259.

- Leis orgânicas municipais.

Lei nº 9.605/98 - Lei de Crimes Ambientais

- Dispõe sobre as sanções penais e administrativas aplicáveis às condutas e atividades

lesivas ao meio ambiente.

- Regulamenta instrumentos importantes da legislação ambiental como a

desconsideração da personalidade da pessoa jurídica e a responsabilização penal da

pessoa jurídica.

4.8 Patrimônio Ambiental Nacional – composição

Por Patrimônio Ambiental Nacional considera-se o conjunto de bens caracterizados

como tal, destinados ao uso coletivo da comunidade. Não envolve a definição de propriedade

do bem e revela sua caracterização por valores ambientais específicos e destinação à fruição

social.

Componentes:

Patrimônio Ambiental Natural

Patrimônio Ambiental Cultural

Patrimônio Ambiental Artificial

4.9 Componentes do patrimônio ambiental natural que são objeto de proteção legal

Elementos bióticos e abióticos, descritos a seguir:

27

• AR

– Programas Nacionais sobre a Qualidade do Ar

• PROCONVE – Res. CONAMA n.º 018/86 – Programa Nacional de

Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores

• PRONAR – res. CONAMA n.º 005/89 – Programa nacional de

Controle da Qualidade do Ar

• Res. CONAMA – 018/86; 003/90; 018/95; 013/95 e outras

– Atividades de monitoramento e controle de qualidade

– Repressão com tipos penais – lei n.º 9.605/98

• ÁGUA

– CF/88 –

• Art. 20, III – Águas de propriedade da União

• Art. 26, I – Águas de propriedade dos Estados

– Proteção de seus usos múltiplos e da qualidade dos recursos hídricos.

– Política Nacional de Recursos Hídricos, PNRH– Lei n.º 9.433/97.

– Regulação na lei n.º 9.984/00 – Cria a ANA e os Comitês de Bacias

Hidrográficas.

– Lei Estadual nº 10.350/1994 – Institui o Sistema Estadual de Recursos

Hídricos, regulamentando o artigo 171 da Constituição do Estado do Rio

Grande do Sul.

– Resolução CONAMA nº 274/2000 – Estabelece a Política Nacional do Meio

Ambiente, a Política Nacional de Recursos Hídricos e o Plano Nacional de

Gerenciamento Costeiro.

• SOLO

– Solo como recurso natural e solo como espaço social

– Proteção em geral sob o enfoque da atividade humana

• Agricultura e a lei de Política Agrícola

• Códigos de Obras e Edificações

• Tutela da Vegetação como meio de proteção ao solo

• Disposição de resíduos

28

• Extração mineral

• Outros

• FLORA BRASILEIRA E LEGISLAÇÃO APLICÁVEL

- Tratamento legal e preocupação ecossistêmica recentes, posteriores ao

desbravamento e devastações

- CF/88 – art. 23, VII – Competência comum da União, Estados, Municípios e DF

na preservação das florestas e da flora.

- CF/88 – art. 24, VI – Competência concorrente da União, Estados, Municípios e

DF para legislar sobre as florestas.

- CF/88 – art. 225 – “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado” – inclui-se aí a flora como elemento natural – “bem de uso comum do

povo e essencial à sadia qualidade de vida”.

- CÓDIGO FLORESTAL – L. 4.771/65 – recepcionado pela CF/88

Áreas Verdes Urbanas – Leis municipais de uso do solo, Plano Diretor e outras

- (*) Aplicação do art. 2.º do Cód. Florestal, para áreas de preservação permanente

é discutível.

Crimes contra a Flora – Lei 9.605/98 – art. 38 e ss.

• FAUNA

- Caça e pesca, inicialmente regulamentadas como práticas de lazer, sem

preocupação com ecossistemas.

- CF/88 – art. 23, VIII e 24, VI – competência concorrente

- CF/88 – ART. 225, § 1.º, VII – proteção à fauna

- Código de Pesca – D.L. n.º 221/67

- Código de Caça – Lei 5.197/67

- Art. 36 – CNPF – Cons. Nacional de Proteção à Fauna

- Caça profissional proibida e a caça amadora depende de aspectos regionais

- Lei 9.605/98 – art. 37 - descriminaliza a caça sob certas condições (alimentação,

proteção de lavouras e rebanhos, nocividade)

- ZOOLÓGICOS – Res. CONAMA 011/87 – são considerados como UC-

Unidades de Conservação

- Fauna Exótica e Fauna Silvestre em cativeiro – Empreendimentos licenciados cf.

IN IBAMA 03/99; Portaria IBAMA 102/98, Res. CONAMA 239/97.

29

4.10 Patrimônio Cultural Brasileiro - fundamento legal constitucional

O patrimônio Cultural Brasileiro é constituído pelos bens materiais e imateriais

que se referem à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da

sociedade brasileira.

O patrimônio cultural tem como principal fundamento legal, perante o Direito

Brasileiro, a Constituição da República de 1988, que, diferentemente de cartas

constitucionais passadas, reconhecem a importância dos bens, bastando que os mesmos sejam

"bens portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos diversos grupos que

compõem a sociedade brasileira".

4.11 Formas de promoção dos bens culturais, além do tombamento.

O inventário é a primeira forma para o reconhecimento da importância dos bens

culturais e ambientais, através do registro de suas características principais.

Os Planos Diretores das cidades também estabelecem formas de preservação do

patrimônio em nível municipal, através do planejamento urbano. Os municípios devem

promover o desenvolvimento das cidades sem a destruição do patrimônio. As Leis Orgânicas

municipais podem prover o município de instrumentos de preservação do Patrimônio

Cultural/ambiental. Podem, ainda, criar leis específicas que estabeleçam incentivos à

preservação como a redução de impostos municipais aos proprietários de bens declarados de

interesse cultural ou tombados.

Na escala municipal, é possível que feito o levantamento dos bens de interesse de

conservação, mesmo que não tombados, o departamento municipal responsável pela emissão

de alvarás de construção, demolição e alteração das edificações tenha um aviso na

documentação de cada bem alertando que ele é de interesse ao patrimônio cultural/ambiental,

de modo que se possa negociar com o proprietário a conservação do bem ou medidas

mitigatórias em suas intervenções. Nesse sentido as câmaras, prefeituras, departamentos ou

casas de cultura municipais podem firmar acordos de cooperação técnica com a SEEC – CPC.

A CPC também orienta as câmaras e secretarias municipais de cultura na criação da

legislação e gestão do Patrimônio Cultural que mesmo não sendo significativo para o estado,

é significativo para o município ou região.

No caso do Patrimônio Ambiental e proteção de ecossistemas, existe uma ampla

Coletânea da legislação ambiental estadual e federal que está à disposição do público na

30

Secretaria Estadual de Meio Ambiente/IAP, sendo a Ação civil pública via Ministério Público

um dos principais instrumentos de exercício da cidadania. O tombamento também pode ser

um instrumento de reforço à proteção do em torno de áreas protegidas pela legislação

ambiental estadual e federal.

4.12 PRONABIO - fundamento legal

Programa Nacional da Diversidade Biológica – PRONABIO.

O Decreto Federal nº 4.703, publicado no Diário Oficial da União de 22 de maio de

2003, dispõe sobre o Programa Nacional da Diversidade Biológica- PRONABIO e sua

Comissão Coordenadora, a Comissão Nacional de Biodiversidade.

– A Constituição Federal em seu art. 225, § 1.º, III , estabelece a criação, por lei, de espaços

territoriais especialmente protegidos em todas as unidades da Federação.

Segundo Édis Millare, os espaços territoriais especialmente protegidos são:

“Espaços geográficos, públicos ou privados, dotados de atributos ambientais

relevantes, que, por desempenharem papel estratégico na proteção da diversidade

biológica existente no território nacional, requerem sua sujeição, pela lei, a um

regime de interesse público, através da limitação ou vedação do uso dos recursos

ambientais da natureza pelas atividades econômicas.”

a) Área de Proteção Especial – APE

– Lei de Parcelamento do Solo Urbano (Lei Federal n.º 6.766/1979) – Art. 13, I

– Estatuto da Cidade (Lei Federal n.º 10.257/2001) – Art. 39 a 42 – Plano Diretor

– Decreto Estadual n.º 38.814/ 1998 – Regulamenta o SEUC no RS

b) Área de Preservação Permanente

– Estabelecidas no Código Florestal (Lei Federal 4.771/65)

– Pelo art. 1.º, II, são as áreas protegidas nos termos dos arts. 2.º e 3.º, do Cód.

Florestal

– (*) aplicabilidade do art. 2.º às áreas urbanas e municipais

31

c) Reserva Legal

– Também estabelecidas no Código Florestal

– Pelo art. 1.º, § 2.º, III – “área localizada no interior de uma propriedade ou posse

rural

– Regime de uso : arts. 16 e 44, do Código Florestal

– MEDIDAS DE RECOMPOSIÇÃO DA APP

– Lei 8171/91, art. 99 – revogada por descompasso social

– MP 2166 – permanece a responsabilidade para quem diretamente desmatou.

d) Unidades de Conservação

• CF/88 foi o divisor de águas

• Lei n.º 9.985/2000 – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza –

SNUC

4.13 SNUC/SEUC - o conceito legal de Unidade de Conservação – UC

SNUC é o sistema nacional de unidades de conservação. O decreto 4.340 de 2002

regulamenta os artigos da lei 9985 de 2000, a lei de criação do Sistema Nacional de

Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências.

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) foi

instituído, no Brasil, através da Lei Nº 9.985 de 18 de julho de 2000 e está se

consolidando de modo a ordenar as áreas protegidas, nos níveis federal, estadual e

municipal.

Unidade de Conservação (inciso I do art. 2o da Lei n.º 9.985, de 18 jul. 2000):

segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, 'unidade de conservação' é o

"espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com

características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos

de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam

garantias adequadas de proteção”

O SNUC divide as Unidades de Conservação em dois grupos, as de Proteção

Integral e as de Uso Sustentável. As UCs são legalmente constituídas pelo poder público nas

esferas municipal, estadual e federal.

32

Unidades de Proteção Integral: cujo objetivo básico é preservar a natureza, sendo

admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos

nesta lei;

Unidades de Uso Sustentável: cujo objetivo básico é compatibilizar a conservação da

natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais.

Salienta-se no art. 4o os seguintes objetivos:

I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no

território nacional e nas águas jurisdicionais;

II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional;

III - contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas

naturais;

IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;

V - promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no

processo de desenvolvimento;

VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;

VII - proteger as características relevantes de natureza geológica,

geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;

VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;

IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;

X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e

monitoramento ambiental;

XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;

XII - favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a

recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;

XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações

tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as

social e economicamente.

Da mesma forma, salienta-se no art. 5o que o SNUC será regido por diretrizes

que:

I - assegurem que no conjunto das unidades de conservação estejam representadas

amostras significativas e ecologicamente viáveis das diferentes populações, habitats e

33

ecossistemas do território nacional e das águas jurisdicionais, salvaguardando o patrimônio

biológico existente;

II - assegurem os mecanismos e procedimentos necessários ao envolvimento da

sociedade no estabelecimento e na revisão da política nacional de unidades de conservação;

III - assegurem a participação efetiva das populações locais na criação, implantação e

gestão das unidades de conservação;

IV - busquem o apoio e a cooperação de organizações não-governamentais, de

organizações privadas e pessoas físicas para o desenvolvimento de estudos, pesquisas

científicas, práticas de educação ambiental, atividades de lazer e de turismo ecológico,

monitoramento, manutenção e outras atividades de gestão das unidades de conservação;

VI - assegurem, nos casos possíveis, a sustentabilidade econômica das unidades de

conservação;

VII - permitam o uso das unidades de conservação para a conservação in situ de

populações das variantes genéticas selvagens dos animais e plantas domesticados e recursos

genéticos silvestres;

VIII - assegurem que o processo de criação e a gestão das unidades de conservação

sejam feitos de forma integrada com as políticas de administração das terras e águas

circundantes, considerando as condições e necessidades sociais e econômicas locais;

IX - considerem as condições e necessidades das populações locais no

desenvolvimento e adaptação de métodos e técnicas de uso sustentável dos recursos naturais;

XI - garantam uma alocação adequada dos recursos financeiros necessários para que,

uma vez criadas, as unidades de conservação possam ser geridas de forma eficaz e atender aos

seus objetivos;

XII - busquem conferir às unidades de conservação, nos casos possíveis e respeitadas

as conveniências da administração, autonomia administrativa e financeira; e

XIII - busquem proteger grandes áreas por meio de um conjunto integrado de unidades

de conservação de diferentes categorias, próximas ou contíguas, e suas respectivas zonas de

amortecimento e corredores ecológicos, integrando as diferentes atividades de preservação da

natureza, uso sustentável dos recursos naturais e restauração e recuperação dos ecossistemas.

Esta lei do SNUC (9985/2000) é regulamentada pelo Decreto nº 4.340/2002 que

ressalta os seguintes pontos:

Art. 2o O ato de criação de uma unidade de conservação deve indicar:

34

I - a denominação, a categoria de manejo, os objetivos, os limites, a área da

unidade e o órgão responsável por sua administração;

II - a população tradicional beneficiária, no caso das Reservas Extrativistas e das

Reservas de Desenvolvimento Sustentável;

III - a população tradicional residente, quando couber, no caso das Florestas

Nacionais, Florestas Estaduais ou Florestas Municipais; e

IV - as atividades econômicas, de segurança e de defesa nacional envolvidas.

Art. 3o A denominação de cada unidade de conservação deverá basear-se,

preferencialmente, na sua característica natural mais significativa, ou na sua denominação

mais antiga, dando-se prioridade, neste último caso, às designações indígenas ancestrais.

Art. 4o Compete ao órgão executor proponente de nova unidade de conservação

elaborar os estudos técnicos preliminares e realizar, quando for o caso, a consulta pública e os

demais procedimentos administrativos necessários à criação da unidade.

Art. 5o A consulta pública para a criação de unidade de conservação tem a

finalidade de subsidiar a definição da localização, da dimensão e dos limites mais adequados

para a unidade.

§ 1o A consulta consiste em reuniões públicas ou, a critério do órgão ambiental

competente, outras formas de oitiva da população local e de outras partes interessadas.

§ 2o No processo de consulta pública, o órgão executor competente deve indicar,

de modo claro e em linguagem acessível, as implicações para a população residente no

interior e no entorno da unidade proposta.

SEUC é o Sistema Estadual de Unidades de Conservação, instituído pelo Decreto

nº 34.256/1992 e regulamentado pelo Decreto Estadual n° 38.814, de 26 de agosto de 1998.

Em seu Art. 2º (Decreto nº 34.256/1992) cita que a estrutura do SEUC será

estabelecida de forma a incluir comunidades bióticas geneticamente significativas,

abrangendo a maior diversidade possível de ecossistemas naturais existentes no território

estadual e nas águas jurisdicionais, dando-se prioridade àqueles que se encontrarem mais

ameaçados de degradação ou eliminação.

Em seu Art. 7º (Decreto nº 34.256/1992) ressalta que a seleção das áreas a serem

incluídas no SEUC será baseada em critérios técnico-científicos, sendo prioritárias a criação

daquelas que constituírem ecossistemas ainda não representados no SEUC, ou em iminente

35

perigo de eliminação ou degradação ou, ainda, pela ocorrência de espécies ameaçadas de

extinção.

Já o Decreto Estadual n° 38.814/1998 destaca as seguintes finalidades:

I. - promover a criação, implantação e manutenção de unidades de conservação de

forma a proteger ecossistemas naturais representativos, no território estadual, e

suas águas juridiscionais, garantindo a conservação ou preservação da

biodiversidade nelas contida;

II. - promover a preservação e restauração de ecossistemas, manejo ecológico das

espécies e uso direto ou indireto dos recursos naturais contidos nas unidades de

conservação de acordo com a legislação existente e as diretrizes estabelecidas;

III.- fortalecer os serviços destinados à preservação do patrimônio ecológico,

faunístico, florístico, histórico, paisagístico, arqueológico, paleontológico,

cultural e científico contido nas áreas legalmente protegidas, prevendo sua

utilização em condições que assegurem sua conservação;

IV. - promover a política de criação, implantação, valorização e utilização de

unidades de conservação no Estado;

V. - cadastrar as unidades de conservação no Estado do Rio Grande do Sul,

estabelecendo os critérios para o cadastramento conforme a legislação

pertinente;

VI.- priorizar áreas onde devam ser criadas unidades de conservação,

especialmente aquelas que contiverem ecossistemas ainda não

representados no Sistema Estadual de Unidades de Conservação - SEUC, e

onde ocorra perigo de eliminação ou degradação ou, ainda, onde ocorram

espécies raras, endêmicas ou ameaçadas de extinção;

VII.- incentivar e coordenar a pesquisa científica, estudos, monitoramento,

atividades de educação e interpretação ambiental nas unidades de conservação;

VIII.- fomentar a cooperação entre os órgãos públicos estaduais e municipais e

as Organizações Ecológicas Não Governamentais;

IX. proteger e recuperar recursos hídricos.

36

O Art. 10 cita: Os municípios que possuírem unidades de conservação, poderão

receber recursos previstos em Lei a título de estímulo e compensação da preservação e

conservação ambiental, desde que:

- a utilização da unidade de conservação seja compatível com o que determina

a legislação em vigor para a categoria;

- a unidade de conservação conste no Cadastro de Unidades de Conservação

publicada no Diário Oficial do Estado, referendada pelo Conselho Estadual de Meio

Ambiente - CONSEMA.

Parágrafo único - A Unidade de Conservação estadual, para efeitos do benefício

previsto neste Decreto, terá sua área multiplicada por um fator de conservação, cujo cálculo

será definido por portaria específica, resultando na área de preservação ambiental.

O artigo 12 conceitua Área de Proteção Ambiental (APA) como: Área de domínio

público e privado, sob administração pública, com o objetivo de proteger recursos hídricos e

bacias hidrográficas, preservar belezas cênicas e atributos culturais relevantes, criar condições

para o turismo ecológico, incentivar o desenvolvimento regional integrado, fomentar o uso

sustentado do ambiente e servir de zona tampão para as categorias mais restritivas. Os

objetivos específicos do manejo, bem como as restrições de uso dos recursos naturais nela

contidos, serão estabelecidos no ato legal de criação, compatibilizando o desenvolvimento

sócio econômico com as necessidades de conservação.

Demais Legislações aplicáveis às Unidades de Conservação:

- LEI No 6.902, DE 27 DE ABRIL DE 1981 - Dispõe sobre a criação de Estações

Ecológicas, Áreas de Proteção Ambiental e dá outras providências.

- DECRETO FEDERAL Nº 89.336 DE 31 DE JANEIRO DE 1984 – Dispõe sobre as

Reservas Ecológicas e Áreas de Relevante Interesse Ecológico, e dá outras

providências.

- DECRETO ESTADUAL Nº 34.573 DE 16 DE DEZEMBRO DE 1992 – Aprova o

regulamento dos Parques do Estado do Rio Grande do Sul.

- DECRETO ESTADUAL Nº 34.550 DE 23 DE NOVEMBRO DE 1992 –

Regulamenta o Fundo de Desenvolvimento Florestal e dá outras providências.

- RESOLUÇÕES CONAMA – Ver capítulo específico adiante.

37

4.14 Meio Ambiente Urbano e o Estatuto da Cidade

O conceito de meio ambiente no espaço urbano contempla tanto o ambiente

natural quanto o ambiente construído. Ambiente construído abrange os aspectos social,

econômico, cultural e da infra-estrutura urbana.

Espaço Verde Urbano: Toda área urbana coberta por vegetação com valor social,

seja para produzir alimentos, conservação ou preservação de ecossistemas, valor estético,

cultural e/ou lazer passivo ou ativo.

Os Ecossistemas Urbanos também se compõem de árvores de rua, gramados e

parques, florestas urbanas, terras cultivadas, áreas alagáveis, córregos, lagos, mar, etc.

Quando bem distribuídos desvendam importante papel na sanidade urbana e bem estar da

população, além de patrimônio para a municipalidade (QUEIROZ, 1938).

Relacionam-se à prestação de serviços locais e diretos, relacionados à filtração do

ar, regulação microclimática, redução do ruído, drenagem de água pluvial, tratamento de

efluentes, recreação e valores culturais.

É importante lembrar que é nos espaços urbanos que os recursos hídricos estão

mais vulneráveis à degradação ambiental, portanto é essencial o respeito às limitações legais e

o uso adequado dos instrumentos de proteção destas áreas.

Relacionado à função social e ambiental da propriedade urbana e das cidades como

um todo, já postuladas no Estatuto da Cidade (Lei Federal n°10.257/2001), quando visa à

sustentabilidade urbana e a garantia do meio ambiente ecologicamente equilibrado como bem

de uso comum do povo.

Uso e ocupação do solo urbano: no ordenamento do território, sob a ótica

ambiental, é importante delimitar as áreas onde a edificação deve ser condicionada ou mesmo

impedida. Estas áreas são constituídas pelas zonas de maior sensibilidade ecológica, ou seja,

aquelas que assegurarão uma maior sustentabilidade da paisagem.

Podemos especificar como sendo zonas de maior sensibilidade ecológica:

nascentes; margens de cursos d’água; encostas de morro; topos de morro; banhados; dunas;

mangues; mata nativa,etc.

As zonas de maior sensibilidade ecológica possuem funções importantes no meio

urbano, tais como: fornecer conforto ambiental (redução da temperatura e manutenção do teor

de umidade do ar); controle da poluição e proteção dos ventos; circulação de água; criação de

habitats tendo em vista a biodiversidade; possibilidade de realização de longos percursos a pé

ou de bicicleta em contato com a natureza.

38

Destacam-se atualmente duas orientações principais de uso/ocupação de zonas de

maior sensibilidade ecológica:

a de proibição integral ou parcial do desenvolvimento de usos urbanos nestas áreas

(geram custos de desapropriação);

a de controle da urbanização através da regulação e disciplinamento do processo de

uso e ocupação do solo na bacia e de dispositivos de controle da poluição e infra-estruturas

geram custos com controle e fiscalização.

As áreas de preservação situadas em zona urbana têm seus usos especificados

conforme a classificação ambiental, que as divide em:

Parques urbanos: são áreas com atividades esportivas, recreação infanto-juvenil,

funções cívicas, e possuem inter-relacionamento da área livre com a área construída do

entorno.

Reservas ecológicas: são áreas de valor natural com intervenção do homem em uso

restrito ou rarefeito. No uso restrito os usos permitidos são exclusivamente os de acordo com

as potencialidades do solo, e no uso rarefeito a ação do homem poderá ocorrer em total

convívio com a natureza, com taxas de até 25% de ocupação.

Reservas biológicas: são as áreas de preservação permanente, proibidas de

ocupação.

4.15 Lei dos Crimes Ambientais (L. 9.605/98) - infração administrativa

A lei 9605 de 1998 dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de

condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.

Dentro das responsabilidades pelos danos ambientais, (responsabilidades que são

independentes entre si), existe a responsabilidade administrativa que, resulta da infração, (não

necessariamente que venha a acarretar dano) à normas administrativas públicas, esta é

aplicada à pessoas físicas ou jurídicas que violem direta ou indiretamente normas e são

sancionadas também por penas de natureza administrativa, tais como advertência, multa

simples, interdição de atividade, suspensão de benefício. É aplicada pelo poder Executivo e

Órgãos competentes, mas pode ser levada ao Judiciário.

A lei 9605 coloca em seu artigo 70 como sendo infração administrativa ambiental

toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e

recuperação do meio ambiente. (SILVA, 2003 p. 302-303).

39

4.16 Sanções administrativas aplicáveis - fundamento legal

O artigo 72 da lei 9605 de 1998 estabelece as punições para as infrações

administrativas considerando as circunstâncias de gravidade, antecedentes e situação

econômica. É importante acrescentar que a legislação estadual e municipal também podem

prever sanções administrativas às infrações às suas normas. (SILVA, 2003 p. 302-303).

Sanções:

I - Advertência;

II - Multa simples;

III - Multa diária;

IV - Apreensão dos animais, produtos e sub-produtos da fauna e flora, instrumentos,

petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração;

V - destruição ou inutilização do produto;

VI - suspensão de venda e fabricação do produto;

VI - suspensão de venda e fabricação do produto;

VII - embargo de obra ou atividade;

VIII - demolição de obra;

IX - suspensão parcial ou total de atividades.

4.17 PNMA – Política Nacional do Meio Ambiente (L. 6938/81) – instrumentos:

Intervenção, Controle e os de Repressão

Intervenção instrumentos de intervenção:

I – o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental. Ex: emissões

atmosféricas de fábricas de cimento.

II – Zoneamento ambiental. Ex: zoneamento econômico – ecológico (ZEE) de uma

região ou Estado.

Controle instrumentos de controle:

III - Avaliação de impactos ambientais. Ex: Pré-requisito para licenciamentos de

atividades potencialmente poluidoras ou degradantes ao meio ambiente.

IV – Licenciamento ambiental. Ex: Processo administrativo realizado pelo órgão

público para normatizar e disciplinar atividades impactantes ao meio ambiente.

40

Repressão Basicamente a Lei n° 9.605/98. Lei dos crimes ambientais, onde está

previsto a responsabilização, independente de culpa, dos envolvidos em degradação

ambiental, sujeitos a diversas penas, como multa ou até prisão, por exemplo.

4.18 Lei Orgânica do Município de Montenegro

SEÇÃO VI - DA POLÍTICA DO MEIO AMBIENTE

Art. 206. O Município deverá atuar no sentido de assegurar a todos os cidadãos o

direito a meio ambiente ecologicamente saudável e equilibrado, bem de uso comum do povo e

essencial à qualidade de vida.

Parágrafo Único – Para assegurar efetividade a esse direito, o Município deverá

articular-se com os órgãos estaduais, regionais e federais competentes e ainda, quando for o

caso, com outros municípios, objetivando a solução de problemas comuns relativos à proteção

ambiental.

Art. 207. A implantação ou execução de atividades públicas ou privadas que possam

representar grande risco, direto ou indireto, de modificação significativa da qualidade dos

recursos ambientais, da biota, da segurança ou do bem-estar da população, na área do

Município, dependerão, além das exigências estabelecidas em lei, também de consulta à

população, mediante plebiscito.

Art. 208. O Município, ao promover a ordenação de seu território, definirá

zoneamento e diretrizes gerais de ocupação que assegurem a proteção dos recursos naturais,

em consonância com o disposto na legislação estadual pertinente.

Art. 209. A política urbana do Município e o seu plano diretor deverão contribuir

para a proteção do meio ambiente, através da adoção de diretrizes adequadas de uso e

ocupação do solo urbano.

Art. 215. O Município concederá incentivos para a preservação de áreas de interesse

ecológico em propriedades privadas.

Art. 216. O Município assegurará a participação das entidades representativas da

comunidade no planejamento e na fiscalização da proteção ambiental, garantindo amplo

acesso dos interessados às informações sobre as fontes de poluição e degradação ambiental ao

seu dispor.

Art. 217. Visando à proteção do patrimônio, o Município definirá Áreas Especiais de

Preservação, em locais de relevante interesse ecológico, histórico e paisagístico.

41

Parágrafo Único – O Morro São João, o Morro Montenegro, o Morro dos

Crisóis, o Morro Fagundes e a margem do Rio Caí ficam definidos como áreas Especiais

de Preservação e a sua utilização far-se-á na forma da lei, dentro de condições que

assegurem a manutenção das suas características, inclusive quanto ao uso dos recursos

naturais.

SEÇÃO V - DA POLÍTICA URBANA

Art. 198. A política urbana, a ser reformulada no âmbito do processo de planejamento

municipal, terá por objetivo o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e o bem-

estar dos seus habitantes, em consonância com as políticas sociais e econômicas do

Município.

Parágrafo Único – As funções sociais da cidade dependem do acesso de todos os

cidadãos aos bens e aos serviços urbanos, assegurando-se-lhes condições de vida e moradia

compatíveis com o estágio de desenvolvimento do Município.

Art. 199. O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, é o instrumento básico da

política urbana a ser executada pelo Município.

§ 1.º – O plano diretor fixará os critérios que assegurem a função social da

propriedade, cujo uso e ocupação deverão respeitar a legislação urbanística, a proteção do

patrimônio ambiental natural e construído e o interesse da coletividade.

§ 3.º – O plano diretor definirá as áreas especiais de interesse social, urbanístico ou

ambiental, para as quais será exigido aproveitamento adequado nos termos previstos na

Constituição Federal.

4.19 Código Ambiental do Município de Montenegro - Lei n.º 4.293, de 20 de

outubro de 2005

CAPÍTULO I - DA POLÍTICA AMBIENTAL

Art. 1. O Meio Ambiente é patrimônio da coletividade, bem de uso comum do povo, e

sua proteção é dever do Município e de todas as pessoas e entidades que, para tanto, no uso da

propriedade, no manejo dos meios de produção e no exercício de atividades, deverão respeitar

as limitações administrativas e demais determinações estabelecidas pelo Poder Público, com

42

vistas a assegurar um ambiente sadio e ecologicamente equilibrado, para as presentes e

futuras gerações.

Art. 3. Compete ao Poder Executivo através do Departamento Municipal do Meio

Ambiente – DMA:

I – executar, direta ou indiretamente a política ambiental do município;

II – coordenar ações e executar planos, projetos e atividades de preservação e

recuperação ambiental;

III – estudar, definir e expedir normas técnicas, legais e procedimentos, visando a

proteção ambiental do Município;

IV – identificar, implantar e administrar unidades de conservação e outras áreas

protegidas, visando a conservação dos mananciais, ecossistemas naturais, flora e fauna,

recursos genéticos e outros bens e interesses ecológicos, estabelecendo normas a serem

observadas nessas áreas;

VI – elaborar e revisar planejamentos locais, quanto aos aspectos ambientais do

controle da poluição, com a expansão urbana e propor a criação de novas unidades de

conservação e de outras áreas protegidas;

VII – participar na elaboração do zoneamento e de outras atividades de uso e

ocupação do solo;

VIII – aprovar e fiscalizar a implantação de áreas, setores e instalações para fins

industriais, agropecuárias e parcelamentos de qualquer natureza, bem como quaisquer

atividades que utilizem recursos ambientais renováveis e não renováveis;

IX – autorizar, supletivamente, de acordo com a legislação Federal e Estadual, o corte

e a exploração racional ou quaisquer outras alterações de cobertura vegetal nativa, original,

regenerada e exótica no perímetro urbano;

XII – participar da elaboração e execução de medidas adequadas à preservação

do patrimônio urbanístico, paisagístico, espeleológico, paleontológico e geológico;

XV – acompanhar e analisar os estudos de impacto ambiental e análises de risco, das

atividades que venham a se instalar no Município;

XVI – conceder licenciamento ambiental para a instalação de atividades sócio-

econômicas potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras de recursos ambientais;

XVIII – promover a identificação e o mapeamento das áreas de poluição e as

ambientalmente frágeis, visando o correto manejo das mesmas;

43

XIX – exigir projeto técnico e/ou plano de controle ambiental – PCA, para a

instalação de atividade sócio-econômicas, que utilizam recursos naturais ou degradam o

meio ambiente;

XX – exigir estudo de Impacto Ambiental para implantação de atividades sócio-

econômicas, pesquisas e difusão e implantação de tecnologias que, de qualquer modo

possam degradar o Meio Ambiente;

XXIV – convocar audiências públicas, quando necessárias, nos termos das leis

vigentes;

CAPÍTULO II - DA PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE

Art. 9. A construção, instalação, ampliação, conservação e funcionamento de

estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados

efetivamente ou potencialmente poluidores, bem como empreendimentos capazes, sob

qualquer forma de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento do

Departamento Municipal do Meio Ambiente - DMA, para posterior concessão do competente

Alvará de localização e funcionamento por parte da Secretaria Municipal da Fazenda, sem

prejuízo de outras licenças exigíveis.

Art. 26. Toda a atividade que envolva projetos de engenharia civil, tais como,

trabalhos de terraplanagens, aterros e escavações no Município, que impliquem na

descaracterização da morfologia natural da área, deverá ser submetida a exame par

parte do Departamento Municipal do Meio Ambiente - DMA, com posterior

licenciamento conforme termo de referência do DMA.

Art. 27. As edificações em forma de condomínio horizontal e ou vertical, deverão

captar as águas das chuvas através de seus telhados e armazená-las em cisternas, esta medida

visa suprir a falta de água ou não, permitindo o uso para os mais variados fins desde que não

sejam destinadas ao consumo humano.

Art. 32. Fica proibido o corte ou a destruição parcial ou total de essências florestais

nativas no âmbito do Município sem a autorização prévia do órgão florestal competente.

Art. 33. A autorização para exploração de florestas nativas nos termos da Resolução

n.° 016, de 7 de dezembro de 2001, do Conselho Estadual de Meio Ambiente – CONSEMA,

somente será concedida através do licenciamento, havendo a obrigatoriedade de reposição nos

termos da lei estadual e federal vigente.

44

§ 1.º Quando ocorrer o corte raso, devidamente licenciado, a reposição florestal

obrigatória deverá ser feita com mudas nativas, na proporção de 15 (quinze) por metro cúbico

(m³) de lenha.

Art. 34. Visando a preservação de espécimes raros ou em extinção e árvores matrizes,

compete ao Departamento Municipal do Meio Ambiente – DMA, catalogar e declará-las

imunes de corte.

Art. 39. O Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente – COMDEMA,

dentre suas atribuições será o órgão competente para recebimento, julgamento e

decisões sobre as infrações ambientais do Município.

CAPÍTULO III - DAS PENALIDADES

Art. 41. Considera-se infração a inobservância dos dispositivos e normas

regulamentadoras deste Código e outras que, por qualquer forma se destinem à

promoção, preservação, recuperação e conservação do Meio Ambiente.

Art. 43. Para a aplicação da pena de multa a que se refere o inciso II, do art. 42, as

infrações são classificadas em:

II – grupo II – eventuais ou permanentes, as que provoquem efeitos significativos,

embora reversíveis, sobre o Meio Ambiente ou população, podendo vir a causar danos

temporários à integridade física e psíquica;

III – grupo III – eventuais ou permanentes, as que provoquem efeitos significativos,

irreversíveis, ao Meio Ambiente ou à população, podendo causar danos definitivos à

integridade física e psíquica.

§ 1.º São considerados efeitos significativos àqueles que:

I – conflitem com planos de preservação ambiental da área onde está localizada a

atividade;

II – gerem dano efetivo ou potencial à saúde pública ou ponham em risco a

segurança da população;

III – degradem os recursos hídricos superficiais e subterrâneos;

IV – contribuam para a violação de padrões de emissão e de qualidade ambiental em

vigor;

V – interfiram substancialmente na reposição das águas de superfície e ou subterrânea;

VI – causem ou intensifiquem a erosão dos solos;

VII – exponham pessoas ou estruturas aos perigos eventuais geológicos;

45

IX – afetem substancialmente espécies animais e vegetais ou em vias de extinção

ou degradem seus “habitats” naturais;

X – interfiram no deslocamento e/ou preservação de quaisquer espécies animais

migratórias;

XI – induzam a um crescimento ou concentração anormal de alguma população

animal e/ou vegetal;

§ 3.º São considerados efeitos significativos irreversíveis aqueles que, após sua

aplicação de tratamento convencional de recuperação e com decurso do tempo,

demarcado para cada caso, não conseguem converter ao estado anterior.

Art. 47. O Poder Executivo, juntamente com o Conselho Municipal do Meio

Ambiente, fica autorizado a determinar medidas de emergência a fim de evitar episódios

críticos de poluição ou degradação ambiental ou impedir sua continuidade.

4.20 Resoluções CONAMA

RESOLUÇÃO CONAMA Nº 11, DE 3 DE DEZEMBRO DE 1948. - Dispõe

sobre a declaração das Unidades de Conservação, várias categorias e sítios ecológicos

de relevância cultural.

RESOLUÇÃO CONAMA Nº 11, DE 6 DE DEZEMBRO DE 1990. - Dispõe

sobre a revisão e elaboração de planos de manejo e licenciamento ambiental na Mata

Atlântica.

RESOLUÇÃO CONAMA Nº 369, DE 28 DE MARÇO DE 2006. - Dispõe sobre

casos excepcionais de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental

que possibilitam a intervenção ou supressão de vegetação em Área de Preservação

Permanente – APP.

RESOLUÇÃO Nº 303, DE 20 DE MARÇO DE 2002. - Dispõe sobre parâmetros,

definições e limites de Áreas de Preservação Permanente.

RESOLUÇÃO CONAMA Nº 004/1985 - "Dispõe sobre definições e conceitos

sobre Reservas Ecológicas E Áreas de Relevante Interesse Ecológico". - Alterada pela

Resolução nº 10, de 1993. Revogada pela Resolução nº 303, de 2002.

46

RESOLUÇÃO CONAMA Nº 011/1987 - "Dispõe sobre a declaração da Unidades

de Conservação, várias categorias e sítios ecológicos de relevância cultural". -

Revogada pela Resolução nº 428, de 2010..

RESOLUÇÃO CONAMA Nº 428/2010 - "Dispõe, no âmbito do licenciamento

ambiental sobre a autorização do órgão responsável pela administração da Unidade de

Conservação (UC), de que trata o § 3º do artigo 36 da Lei nº 9.985 de 18 de julho de

2000, bem como sobre a ciência do órgão responsável pela administração da UC no

caso de licenciamento ambiental de empreendimentos não sujeitos a EIA-RIMA e dá

outras providências”.

RESOLUÇÃO CONAMA Nº 010/1988 - "Dispõe sobre a regulamentação das

APAs". - Data da legislação: 14/12/1988 - Revogada pela Resolução nº 428, de 2010.

RESOLUÇÃO CONAMA Nº 011/1988 - "Dispõe sobre as queimadas nas

Unidades de Conservação" - Data da legislação: 14/12/1988.

RESOLUÇÃO CONAMA Nº 012/1989 - "Dispõe sobre a proibição de atividades

em Área de Relevante Interesse Ecológico que afete o ecossistema".

RESOLUÇÃO CONAMA Nº 013/1990 - "Dispõe sobre a área circundante, num

raio de 10 (dez) quilômetros, das Unidades de Conservação". - Data da legislação:

06/12/1990 - Revogada pela Resolução nº 428, de 2010.

RESOLUÇÃO CONAMA Nº 004/1993 - "Considera de caráter emergencial, para

fins de zoneamento e proteção, todas as áreas de formações nativas de restinga".

RESOLUÇÃO CONAMA Nº 002/1996 - "Determina a implantação de unidade

de conservação de domínio público e uso indireto, preferencialmente Estação

Ecológica, a ser exigida em licenciamento de empreendimentos de relevante impacto

ambiental, como reparação dos danos ambientais causados pela destruição de florestas

e outros ecossistemas, em montante de recursos não inferior a 0,5 % (meio por cento)

dos custos totais do empreendimento. Revoga a Resolução CONAMA nº 10/87, que

47

exigia como medida compensatória a implantação de estação ecológica". - Data da

legislação: 18/04/1996 - Revogada pela Resolução nº 371, de 2006.

4.21 Tratados internacionais em que o Brasil é signatário

DECRETO LEGISLATIVO Nº 2, DE 3 DE FEVEREIRO DE 1994.

DECRETO LEGISLATIVO Nº 2.519, DE 16 DE MARÇO DE 1998.

Convenção sobre Diversidade Biológica. Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento - CNUMAD, em 1992.

DECRETO Nº 3, DE 13 DE FEVEREIRO DE 1948.

Aprova a Convenção para a proteção da Flora, da Fauna e das Belezas Cênicas

Naturais dos países da América. Washington, 12 de outubro de 1940.

CONVENÇÃO DE RAMSAR - DLG nº 33, de 16/06/1992, publicado em

17/06/1992. DEC nº 1.905, de 16/05/1996.

48

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de toda fundamentação legal exposta ao longo deste estudo de caso pode-se

constatar que a criação de uma Unidade de Conservação é uma alternativa competente para

atingir os objetivos de conservação, recuperação e disciplinamento do uso e ocupação do solo.

Configura-se como passo fundamental para a gestão dos recursos disponíveis em

tamanha abundância, não somente relacionado ao patrimônio cultural, mas também com a

questão de qualidade e quantidade de água de sua Bacia.

Desta forma, apresenta-se em ANEXO a este estudo projeto completo de criação de

uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável, na categoria de Área de Proteção

Ambiental – APA para a região.

49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, D.R.; Carvalho, L.C.; Rocha, C.F.D. As bromélias da Mata Atlântica da Ilha

Grande, RJ: composição e diversidade de espécies em três ambientes diferentes.

Bromélia. 1998. P.5:55-65.

BROOKS, T. M.; MITTERMEIER, R. A.; MITTERMIEIER, C. G.; FONSECA, G. A. B.;

RYLANDS, A. B.; KONSTNAT, W. R.; FLICK, P. e HILTON-TAYLOR, C. (2002).

Habitat loss and extinction in the Hotspots of Biodiversity. Conservation Biology. 16 (4):

P. 909-923.

RELPH, E. C. As bases fenomenológicas da geografia. Geografia. V. 4, n° 7, AGETEO, Rio

Claro, São Paulo, 1979.

SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Editora Hucitec, 1991.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço. Técnica e tempo, razão e emoção. 2ª Ed. São

Paulo: Editora Hucitec, 1997.

SUERTEGARAY, Dirce M. A. Espaço Geográfico uno e múltiplo. In: Ambiente e lugar no

urbano: a grande Porto Alegre. (org.) SUERTEGARAY, Dirce M. A.; BASSO, Luís

Alberto; VERDUM, Roberto. Editora da Universidade UFRGS Porto Alegre, 2000. p 13 – 34.

TUAN, Yu-Fu. Space and place: humanistic perspective. Progress in Geography. V.1, n° 6,

1975.

50

ANEXO – PROPOSTA DE CRIAÇÃO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO

APRESENTAÇÃO DO PROJETO

TÍTULO

Criação da Área de Proteção Ambiental do Morro São João do Montenegro.

LOCALIZAÇÃO

O referido projeto será implementado na Bacia Hidrográfica do Rio Caí, município

de Montenegro, mais especificamente no Morro São João do Montenegro, Morro da Pedreira,

Morro dos Fagundes (Morro da Formiga), Morro Montenegro e nas áreas de preservação

pernamente (banhados, áreas alagadiças e mata ciliar) do Rio Caí.

BIOMA

A Bacia Hidrográfica do Rio Caí está inserida no bioma Mata Atlântica Subtropical.

DURAÇÃO

Indeterminada. Dependente do pré-diagnóstico e do diagnóstico.

RESUMO DO PROJETO

Este trabalho tem por finalidade assegurar a preservação de parte significativa do

patrimônio natural de Montenegro, principalmente os morros da região e criar de maneira

legitima e oficial a Área de Proteção Ambiental do Morro São João, conectado também às

áreas sujeitas à alagamentos e de banhados, consideradas Preservação Permanente nas

margens do Rio Caí em Montenegro, pertencente à Bacia Hidrográfica do Rio Caí.

Da mesma forma, busca-se utilizar o instrumento Parque Linear Urbano, dissertação

de Mestrado da Arquiteta e Urbanista Daniela Friedrich (FRIEDRICH, 2007), como projeto

piloto para o Vale do Caí em relação ao uso e ocupação das suas áreas naturais,

principalmente junto aos corpos d’água. O instrumento Parque Linear está sendo apontado

51

pela bibliografia atual como medida sustentável de uso e ocupação das áreas de fundo de vale

urbanas, nos âmbitos ambientais, sociais, econômicos e culturais.

Compõe uma visão onde a base das intervenções prioriza a manutenção, regeneração e

recuperação dos aspectos físicos e bióticos. Vê a idéia de uma organização do espaço a partir

da integração dos ecossistemas, a qual pressupõe a linearidade e conectividade entre as

estruturas, que promovam a biodiversidade animal e vegetal, a drenagem e outros eventos,

garantindo a manutenção dos sistemas envolvidos.

Objetiva-se reconhecer os elementos integradores da paisagem, assim como as

potencialidades regionais a fim de implementar um modelo de gestão ambiental da bacia

hidrográfica do rio caí adequada, onde as condições fisiográficas e biogeográficas formam um

complexo homogêneo e extensivo, se estendendo às áreas social, cultural e econômica.

Para tanto, almeja-se a criação de uma Unidade de Conservação na categoria de Área

de Proteção Ambiental (APA) no Morro São João, conectado também aos outros morros

locais, já protegidos pela Lei Orgânica Municipal, bem como as áreas sujeitas à alagamentos

(banhados), consideradas de preservação permanente nas margens do Rio Caí em

Montenegro, pertencente à Bacia Hidrográfica do Rio Caí, tornando possível uma infra-

estrutura capaz de garantir um trabalho realmente consistente e eficaz de gestão ambiental.

APRESENTAÇÃO DA INSTITUIÇÃO PROPONENTE

Identificação da Instituição Proponente

Instituição

Associação Acaang, com sede no município de Santa Maria, na Rua Lobo da Costa,

n° 55, bairro Camobi, CNPJ n°: 05.535.213/0001-31 e registro n°: 2.942. Endereço

eletrônico: [email protected].

Representante

Cláudio Eduardo da Costa Alves, Médico Veterinário, com n° de registro no

Conselho Federal de Medicina Veterinária (CRMV-RS) sob n°: 554, inscrito no Cadastro de

Pessoas Físicas (CPF) sob o n°: 931.369.940/00 Carteira de Identidade (RG) sob n°:

52

3038.659326 SJS/II, residente na Estrada Paquete n° 5049, município de Capela de Santana,

distrito de Paquete. Endereço eletrônico: [email protected].

INTRODUÇÃO

Já se pode prever que entre os padrões de reconhecimento do nível de

desenvolvimento de um país devam figurar a capacidade de seu povo em termos de

preservação dos recursos, o nível de exigência e o respeito ao zoneamento de atividades,

assim como a própria busca de modelos para uma valorização e renovação correta dos

recursos naturais.

Mais do que simples espaços territoriais, os povos herdam paisagens e ecologias,

pelas quais certamente são responsáveis, ou deveriam ser. Esta Herança da Paisagem se

relaciona não somente a processos fisiográficos e biológicos, mas também como patrimônio

coletivo dos povos que historicamente herdaram como território de atuação de suas

comunidades.

Desta forma, um melhor conhecimento das limitações de uso específicas de cada

espaço e paisagem permite identificar determinadas potencialidades paisagísticas regionais,

tornando possível a elaboração de um modelo de desenvolvimento alternativo para as

comunidades locais.

Por conseguinte, a aplicação de instrumentos de gestão territorial de grandes

paisagens pode, efetivamente, permitir a conservação e a representatividade de geossistemas

únicos, através do uso não predatório e planejado.

CONTEXTUALIZAÇÃO E DIAGNOSTICO

A transformação progressiva da conformação social dos povos primitivos em cidades

urbanizadas explica o processo de “desenvolvimento” atual, o qual está se expandindo na

razão de mais de 2% ao ano, nos países da América do Sul, acarretando, inevitavelmente, uma

compressão insuportável às diferentes populações de animais selvagens e seus habitats

naturais (TERBORGH, 1992).

Esta expansão da ocupação humana, com este crescimento exponencial, tem levado à

redução e à fragmentação de vários biomas do país, podendo levar uma infinidade de

organismos ao caminho irreversível da extinção. O resultado prático desta “evolução” humana

manifesta-se na unidade básica dos problemas ambientais: a fragmentação de habitats.

53

A fragmentação de habitats é uma das mais importantes e difundidas conseqüências da

atual dinâmica de uso da terra pelo Homem (BROOKS et al, 2002). ALMEIDA et al. (1998)

comentam que quando as características originais de um habitat são alteradas, muitos

elementos essenciais à manutenção das espécies da comunidade local desaparecem, tornando

assim, inviável a permanência e sobrevivência de uma ou várias espécies.

As causas da degradação ambiental também estão associadas à situações históricas e

atuais de iniqüidade social. No Brasil, a fragmentação e redução progressiva de florestas,

sobretudo pela ação antrópica, se iniciou na época do “descobrimento” e acentuou-se

principalmente nos últimos 200 anos, com a ampliação de áreas destinadas às atividades

agropecuárias, industriais e à especulação imobiliária (LEITÃO FILHO, 1982).

A partir da década de 70, o governo brasileiro (receoso do interesse internacional pelas

riquezas do país, principalmente Amazônia) percebeu a necessidade política de se estabelecer

uma definitiva e reconhecida soberania nacional sobre o território, até mesmo nas suas

porções mais isoladas e distantes. Com isso, iniciou um projeto de desenvolvimento e

integração do interior do país, que priorizava a ocupação da região com a função de integrá-la

ao mercado nacional. Um elemento central para materializar esta integração foi o

planejamento e abertura de grandes rodovias que, juntamente com políticas públicas de

incentivo ao setor agropecuário, deram uma nova dimensão no acesso às áreas florestais

anteriormente inacessíveis.

Na mesma década de 70 tiveram inicio as primeiras discussões sobre a necessidade de

se diminuir os impactos antrópicos no planeta e também sobre a importância da

biodiversidade e dos riscos de sua perda. Assim, questões como: o que conservar, onde

conservar, qual a melhor abordagem, etc, começaram a dominar as pesquisas (SHIMBORI et

al., 2003).

Conceitos recentes como Ecologia da Paisagem e estudos sobre biogeografia de ilhas

e metapopulações, por exemplo, fundamentam-se na constatação de que o espaço é

fragmentado, resultando em diversas configurações de uso da terra (matriz), ao mesmo tempo

em que forma habitats naturais distintos e separados. São conceitos indispensáveis para o

entendimento e gestão territorial de grandes paisagens.

O processo ou modelo de desenvolvimento atual está levando à formação de paisagens

contendo apenas manchas pequenas de áreas naturais. Estas manchas pequenas acabam por se

tornar ambientes extremamente nevrálgicos para populações reduzidas, pois estas são

altamente susceptíveis à extinção por uma série de razões.

54

A persistência de espécies nestas paisagens depende de uma dinâmica regional,

interconectando as distintas manchas, caso contrário estarão fadadas à erosão genética

(endogamia) e ao desaparecimento. Esta dinâmica local está diretamente relacionada aos

conceitos de local habitável e distância de dispersão, fatores extremamente importantes na

persistência e sobrevivência das populações.

Essa necessária ligação entre as diferentes manchas e suas comunidades se revela um

desafio para diversos grupos, pois obriga estes a atravessarem a matriz em busca de melhores

locais de sobrevivência, alimentação, reprodução, etc. Isto pode limitar o potencial de

dispersão das espécies e a colonização, uma vez que, como atestam Fernandes & Rodrigues

(2003), muitas espécies do interior da mata não atravessam nem mesmo faixas estreitas de

ambiente aberto devido o perigo de predação.

O problema é que quanto mais áreas forem desmatadas, somado às variáveis de

distância entre os fragmentos, tipo de matriz, vulnerabilidade e adaptabilidade das espécies à

esta, grau de dispersão, etc., menor será a taxa migratória proveniente das áreas fonte para os

fragmentos.

Quando a dispersão animal é reduzida, plantas que dependem dos animais para

dispersão de suas sementes também são afetadas. Desta forma, os fragmentos isolados de

habitats não serão colonizados por muitas espécies nativas.

Em relação às espécies raras e endêmicas, estas apresentam maior suscetibilidade

ainda ao desaparecimento devido ao seu alto grau de vulnerabilidade, decorrente de

características intrínsecas à espécie, como distribuição restrita ou esparsa, além de relações

extremamente complexas com o meio biótico e abiótico (BERKENBROCK et al., 2003),

inclusive com outras espécies, possivelmente já extintas localmente.

Grande parte dos recursos genéticos, antes mesmo de seu completo conhecimento,

vem sendo destruída de forma irreversível, com alterações profundas e conseqüências

desastrosas nos ecossistemas, exigindo medidas urgentes de conservação (KAGEYAMA,

1987 apud BERKENBROCK et al., 2003).

Segundo o mesmo autor, a variabilidade genética das populações está diretamente

ligada ao fluxo gênico e, consequentemente, a estrutura genética das populações. A

interrupção ou redução deste fluxo por diversos tipos de barreiras pode tornar as populações

total ou parcialmente isoladas geneticamente, promovendo a endogamia (MARTINS, 1987

apud BERKENBROCK et al., 2003).

Este fato resulta em maior propiciamento de doenças deletérias e aumento da

fragilidade da população em questão, muitas vezes pelo simples fato de não possuir mais

55

adaptabilidade para enfrentar desafios. A conseqüência mais importante disso é a extinção de

espécies.

Outra questão é que na ausência de alguns elementos de fauna que funcionem como

agentes de dispersão e polinização, muitos fragmentos florestais podem ser transformados em

florestas vazias (REDFORD, 1992 apud GRELLE, 2003). O referido autor descreve o fato

como “ecologia da exploração”, indicando a ocorrência de grandes alterações tanto na

estrutura como na composição das florestas, a longo prazo. Isto certamente tem efeitos

perniciosos sobre o equilíbrio ou estabilidade do ecossistema, assim como sobre as

expectativas sobre sua sustentabilidade (AHRENS, 1997).

Uma possível conseqüência, em decorrência da perda destes grupos funcionais é o

desaparecimento de cerca de 80 % das arvores nos trópicos, as quais são extremamente

dependentes da dispersão realizada por vertebrados (GENTRY, 1982 apud GRELLE, 2003).

JUSTIFICATIVA

A perda da floresta tropical, juntamente com os fatores que contribuem para a sua

degradação e as possíveis soluções, é um dos principais objetivos dos estudos atuais sobre

conservação do ambiente, da mesma forma que interações e fatores que influenciam a

distribuição e abundância de organismos são o foco principal da Ecologia como ciência

(KREBS, 1994).

O resultado visível da fragmentação do ambiente para as populações selvagens denota

a importância da conectividade entre os remanescentes florestais habitados por estas

populações. Uma das alternativas é a implementação de corredores ecológicos. Corredores

ecológicos podem contribuir significativamente para a conservação da biodiversidade no

Brasil.

Esta nova abordagem permite aumentar o fluxo gênico entre populações, através da

conectividade entre as áreas, uma vez que esses corredores fornecem cobertura de mata,

inclusive agindo como proteção quanto à alteração abrupta da mancha com a matriz (efeito de

borda). Metzger et al. (1999 apud BREDA et al., 2003) comentam que os corredores servem

também como suplemento de habitat e atuam como áreas de refúgio para a fauna, em caso de

perturbação nos fragmentos.

Se ocorrer fluxo gênico entre as populações espacialmente isoladas, a chance de

sobrevivência a longo prazo é bem maior que sem fluxo gênico. Este “efeito resgate” reduz a

probabilidade de extinção local, quando ocorre migração substancial entre as populações.

56

O pior cenário ocorre quando uma população é fragmentada em sub-populações

espacialmente isoladas com pouca ou nenhuma migração entre elas, cada uma sendo tão

pequena que os acidentes demográficos (flutuações de n) rapidamente conduzem à extinção

(PIMM, 1991 apud SCARIOT, 1998).

O estudo da estrutura genética e da diversidade permite o conhecimento da

organização e distribuição da variabilidade genética entre e dentro de populações naturais.

Este entendimento é imprescindível para a escolha de estratégias que visem a conservação e

manejo de populações naturais em seu habitat natural, com a perspectiva de manutenção da

diversidade e garantia de sua sustentabilidade (OYAMA, 1993 apud BERKENBROCK et al.,

2003).

Com isso, busca se evitar o empobrecimento geral da mancha, sua redução no

tamanho, no grau de isolamento das populações, redução nas taxas de imigração ou mudanças

nos padrões de dispersão, assim como mudanças na estrutura da comunidade e aumento nos

efeitos de borda (SAUNDERS et al., 1991).

Dentre os vários temas possíveis de investigação, está o planejamento e

implementação de técnicas sustentáveis, ou seja, um mosaico de usos da terra complementar e

gerenciado de forma integrada, que permita conservar a diversidade e manter tanto a dinâmica

dos processos ecológicos como a dinâmica sócio ambiental de um determinado território.

A criação de áreas protegidas pelo sistema de Unidades de Conservação Federal

(UC’s) tem sido a estratégia principal de proteção da diversidade biológica, sendo que tal

pratica foi oficialmente assumida pelos paises integrantes da Convenção sobre Diversidade

Biológica (MMA, 1999 apud MACHADO et al., 2003).

É neste contexto que se torna premente a necessidade de conhecer a relação das

comunidades residentes em áreas contíguas às áreas protegidas e de que maneira afetam e são

afetadas pela existência destas áreas. É necessário que a população entenda seu valor e possua

um sentimento de pertencimento à natureza, para entender os motivos de preservar.

Por lei, as propriedades privadas são obrigadas a manter uma parcela específica da sua

área como reserva legal, bem como áreas de preservação permanente (APP – se houver).

Nestas áreas podem até mesmo serem empreendidas atividades de manejo, desde que seja

mantida a cobertura florestal. Da mesma forma, proprietários rurais podem manter áreas para

fins de conservação, obtendo assim, redução ou até isenção do Imposto Territorial Rural

(ITR).

57

Os mais recentes estudos têm utilizado a percepção ambiental como forma de entender

as diferentes relações do ser humano com o meio em que está inserido, principalmente em

comunidades próximas à áreas de preservação da natureza (FONTANA & IRVING, 2003).

Segundo MacDowell & Sparks (1989 apud GUIMARÃES & DE MARCO, 2003),

conhecer a atitude e o comportamento de proprietários rurais em relação à conservação é um

importante passo na pesquisa sobre a conservação de ecossistemas naturais em propriedades

rurais.

O desenvolvimento econômico de uma região sempre modificará a estrutura e o

funcionamento dos ecossistemas naturais, porém uma melhor compreensão do funcionamento

do ecossistema, aliada ao manejo e investimento apropriados poderá diminuir os efeitos

ambientais negativos.

O mundo enfrenta o desafio de conciliar conservação com desenvolvimento e o

paradigma dominante de desenvolvimento econômico, baseado no crescimento infinito, é

fundamentalmente incompatível com a sustentabilidade social e ecológica (REES, 2003).

A aliança do conhecimento científico com políticas públicas, relacionadas ao uso e

ocupação do solo, é extremamente necessária para evitar uma degradação ambiental

impetuosa e violenta, bem como para manejar as áreas naturais que irão enfrentar grande onda

de pressão no futuro.

As ações econômicas, sociais, políticas e ambientais decidirão sobre o destino das

espécies e dos mecanismos que sustentam a vida.

O Parque Linear Urbano como instrumento de planejamento e gestão de áreas de

fundo de vale urbanas

Os cursos d’água em ambiente urbano, tais como rios e arroios, são indicadores e

reveladores da relação entre sociedade e natureza. Num primeiro momento, os cursos d’água

foram considerados apenas pelo seu aspecto utilitário, e se tornaram suporte de quase todas as

redes de infra-estrutura urbana (água, drenagem, esgotamento, energia, transporte ferroviário

e rodoviário, etc.).

Num período posterior, estes passam a se constituir em problemas para o bom

funcionamento das cidades, sendo geralmente responsabilizados por enchentes,

congestionamentos no trânsito, incômodo causado pelos detritos que carregam em seu leito,

carências nos abastecimentos de água e luz, até a sua presença se tornar insuportável. Neste

58

momento aparecem as propostas de sua desaparição dentro dos canais de drenagem sob o

sistema viário.

Quanto mais difícil o convívio da sociedade com os elementos naturais, mais é

necessária a presença de aparatos tecnológicos entre estes, afastando a sociedade de sua base

natural e reproduzindo ambientes cada vez mais artificiais. No entanto, os cursos d’água e

suas margens podem ser portadores de apropriação e coesão social, pelo conteúdo afetivo e

coletivo que a sua paisagem representa dentro das cidades, além dos benefícios ambientais

que estes proporcionam ao meio e à sociedade, constituindo-se este o paradigma que vem

sendo buscado pelo período atual.

A crescente consciência ambiental no Brasil juntamente com o renascimento de um

interesse pela vivência pública da cidade, tem revigorado o uso dos parques pelas populações

urbanas. Estas mudanças comportamentais, aliadas às transformações econômicas, sociais e

culturais, forçam as autoridades municipais a investirem em programas e projetos de melhoria

do espaço público urbano e na construção e manutenção de áreas verdes urbanas. Segundo

Sepúlveda (2006, apud SANTOS & CAMPOS, 2006), o valor ambiental, na maioria das

vezes, não está inserido na consciência da população e a criação de uma área de lazer

funciona como artifício motivador da adoção e proteção do espaço.

Segundo Tucci (2005), dentre as possíveis formas de encontrar o equilíbrio entre o

processo de urbanização contemporâneo e a preservação do meio ambiente, o parque urbano

surge com novos contornos culturais e estéticos, desenhando o perfil, entorno e identidades,

devendo ser encarado nos seus diferentes tempos, funções e usos.

Na busca em adaptar o espaço natural das áreas de fundo de vale a uma realidade

possível de ser mantida, ressurge na atualidade a proposta de readequação do uso deste espaço

desocupado através dos parques lineares, inspirados nas tendências européias e norte-

americanas de renaturalização, greenways e parkways. Segundo Barros (2004), a solução de

implantação de parques, praças e equipamentos sociais nas áreas de fundo de vale, apesar de

muitas vezes não cumprirem a risca a legislação específica, vem apresentando bons resultados

no que se refere a promover esporte e lazer para a comunidade, inibindo as invasões, além de

colaborar para que as margens voltem a serem preservadas.

Recentemente, o Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA baixou a

Resolução 369, de 28 de março de 2006 (CONAMA, 2006) que discorre sobre os casos

excepcionais em que são permitidas intervenções de utilidade pública, interesse social ou

baixo impacto ambiental. Esta nova regulamentação apenas regularizou uma situação que há

tempos já vinha acontecendo, possibilitando a intervenção ou supressão de vegetação em Área

59

de Preservação Permanente – APP para a implantação de área verde de domínio público,

assim como outros usos, com algumas considerações e restrições.

No Brasil, a proposta de implantação de parques lineares ao longo de cursos d’água

ainda vem sendo praticada através de casos isolados principalmente a nível municipal, com

alguns poucos projetos à nível regional, fundamentalmente pela necessidade dos municípios

de dar uso às áreas urbanas proibidas de edificação. Estas experiências buscam principalmente

utilizar-se dos cursos d’água como elementos potencializadores da paisagem urbana e não

somente como condicionantes restritivos.

Definições de parque urbano

Segundo Garabini (2004), os parques são equipamentos públicos urbanos difundidos a

partir de experiências inglesas, francesas e americanas, no final do século XVIII e início do

século XIX. Em Kliass (2006) apud Scalise (2002), os parques urbanos são espaços públicos

com dimensões significativas e predominância de elementos naturais, principalmente

cobertura vegetal, destinados a recreação. Para Scalise (2002), o parque é um grande espaço

aberto público, que ocupa uma área de pelo menos um quarteirão urbano, normalmente

vários, localizado em torno de acidentes naturais, tais como ravinas e córregos, fazendo divisa

com diversos bairros.

Quanto às formas de tratamento, compreendem desde a linguagem formal até a

ambiência naturalista. Quanto aos equipamentos, variam dos que tem seu ponto alto nos

equipamentos culturais, esportivos e recreativos aos que possuem como atração principal os

caminhos e as áreas de estar sob uma densa arborização. Quanto às funções dos parques, não

existe um padrão, pois alguns são vinculados à proteção ambiental, apresentando uso restrito,

e outros atraem multidões.

Os limites principais de um parque urbano são as ruas, e sua organização espacial

busca um equilíbrio entre áreas pavimentadas e ambiências naturais. A provisão de parques

públicos é função do município e ocorre a partir da necessidade de existência de tais

equipamentos, de sua presença nos planos diretores e da tendência contemporânea das

reivindicações por parques e áreas verdes.

O conceito de parque linear urbano como alternativa no século XXI

60

Devido ao crescente estado de degradação sócio-ambiental encontrado na maioria das

áreas urbanas no século XXI, principalmente nos países considerados em desenvolvimento,

instituições governamentais e não-governamentais, comissões técnicas e a população em geral

estão pressionando os órgãos públicos municipais a executarem programas e projetos

sócioambientais em suas áreas urbanas, principalmente no que tange à preservação e

recuperação dos seus cursos d’água e áreas marginais e ao desenvolvimento de programas de

recreação pública e circulação não-motorizada, dentro dos preceitos do conceito de

desenvolvimento sustentável.

Segundo Medeiros (1975), além da responsabilidade do planejamento e gestão

ambiental, também compete ao poder público municipal a reserva de áreas para recreação

assim como o recolhimento de tributos para serem aplicados na aquisição, instalação e

conservação destas áreas. Compete a ele, também, incentivar as entidades privadas a

contribuir nestes ofícios.

Dentro deste contexto, o equipamento parque linear torna-se atualmente um objeto

estruturador de programas ambientais em áreas urbanas, sendo muito utilizado como

instrumento de planejamento e gestão das áreas marginais aos cursos d’água, buscando

conciliar tanto os aspectos urbanos e ambientais presentes nestas áreas como as exigências da

legislação e a realidade existente. Neste pensamento, os parques isolados e as faixas verdes

dão lugar a um sistema contínuo de áreas verdes localizado nas áreas residuais provenientes

dos fundos de vale urbanos.

Para Magalhães (1996), o conceito contemporâneo de parque linear pretende preservar

as estruturas fundamentais da paisagem, que em meio urbano penetram no tecido edificado de

modo tentacular e contínuo, assumindo diversas formas e funções cada vez mais urbanas, que

vão desde o espaço de lazer e recreio, ao enquadramento de infra-estruturas e edifícios, à

simples rua ou praça arborizada.

Este objetivo é alcançado tanto através da criação de novos espaços como da

recuperação dos existentes. Considera-se atualmente que a maior força residente neste

conceito esteja justamente no fato de agregar o uso humano em áreas naturais, pois até então o

que normalmente se observa é uma dissociação entre homem e ambiente natural.

Segundo Gonçalves (1998), é fundamental e urgente re-elaborar o modo de produção e

gerenciamento dos espaços urbanos a partir dos espaços livres públicos. Para o autor, as

tendências contemporâneas do planejamento urbano dão ênfase ao espaço livre público como

principal elemento estruturador das cidades, pois é nele que se constrói a cidade e a cidadania,

promovendo a cidade para todos.

61

O Parque Linear Urbano como objeto estruturador de programas sócio-

ambientais em áreas de fundo de vale urbanas

Conforme Galender (2005), o conceito de parque linear é contrário ao de parque

isolado, de desenho geométrico regular e limites finitos. Através de planos urbanísticos, busca

promover o desenho da paisagem através do estabelecimento de uma continuidade espacial,

relacionando os espaços construídos e os espaços abertos, ou seja, vinculando-se com a

paisagem urbana.

Em Garabini (2004), o parque linear agregado a áreas de fundo de vale apresenta-se

como o espaço aberto, livre e de pouca manutenção, onde os subespaços recreativos são de

outra natureza, nos quais os playgrounds e jogos lúdicos são preteridos pela preservação

ambiental, pelo culto ao corpo, pela prática de longas caminhadas e pelo lazer contemplativo.

Segundo Giordano (2004), os parques lineares são áreas lineares destinadas tanto à

conservação como a preservação dos recursos naturais, tendo como principal característica a

capacidade de interligar fragmentos florestais e outros elementos encontrados em uma

paisagem, assim como os corredores ecológicos. Porém, neste tipo de parque têm-se a

agregação de funções de uso humano, expressas principalmente por atividades de lazer e

como rotas de locomoção humana não-motorizada, compondo desta forma princípios de

desenvolvimento sustentável.

Segundo Ahern (1995), o termo parque linear é utilizado para áreas de configuração

linear que são planejadas, desenvolvidas e manejadas com múltiplos propósitos, tais como:

ecológicos, recreacionais, culturais, estéticos e outros condizentes com o uso sustentável do

solo.

Conforme Little (1990), os parques lineares podem ser classificados em cinco

categorias gerais:

(a) Parques lineares criados como parte de programas de recuperação ambiental,

geralmente ao longo de rios e lagos;

(b) Parques lineares criados como espaços recreacionais, geralmente ao longo de

corredores naturais de longas distâncias, tais como canais, trilhas ou estradas abandonadas;

(c) Parques lineares criados como corredores naturais ecologicamente significantes, ao

longo de rios ou linhas de cumeada, que podem possibilitar a migração de espécies, estudo da

natureza e caminhadas a pé;

(d) Parques Lineares criados como rotas cênicas ou históricas, ao longo de estradas,

rodovias, rios e lagos;

62

(e) Rede de parques, baseada em formas naturais como vales ou pela união de parques

lineares com outros espaços abertos, criando infraestruturas verdes alternativas.

Funções dos parques lineares

A função de drenagem

O Parque Linear tem como um dos princípios fundamentais garantir a permeabilidade

do solo das margens dos cursos d’água, permitindo a infiltração e a vazão mais lenta da água

durante as inundações. Estes são apresentados como alternativa a tão combatida canalização,

que consiste em retificar, tornar impermeável e muitas vezes tampar o leito de um curso

d’água, embora seja possível existir um parque linear em um rio canalizado.

O conceito de parque linear incorpora técnicas de drenagem urbana que já apareciam

na primeira proposta que se tem notícia de bacias de acumulação de água para controlar

enchentes em cidades, desenvolvida por técnicos franceses para as cidades do norte da África

que faziam parte do Império Colonial Francês (Manuel d’Urbanisme, 1983).

Segundo Mascaró (1991), ao longo do tempo esta técnica denominada Bacias de

Estocagem toma uma forma mais urbana, agregando usos alternativos diversos em épocas de

estiagem. Hoje, as bacias de estocagem ainda são propostas como medida não-estrutural de

controle das cheias, tal como podemos observar no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano

e Ambiental de Porto Alegre (1999).

As medidas de controle de inundações podem ser classificadas em estruturais e não-

estruturais. No primeiro caso, o homem promove modificações no rio pela construção de

obras hidráulicas, como barragens, diques, canalizações, etc. No segundo caso, o homem

promove a convivência com o rio, na forma de medidas preventivas (MAIDMENT, 1993).

A função de proteção e manutenção do sistema natural

Para autores como Searns (1995), Frischenbruder & Pellegrino (2006), o conceito de

parque linear insere as necessidades de proteção e manutenção da diversidade biológica, dos

recursos hídricos, da qualidade da água, da redução dos prejuízos das cheias e de melhoria de

outras infra-estruturas urbanas através da conexão entre áreas verdes urbanas e cursos d’água,

também chamadas por Pellegrino (2003) como infraestruturas verde e azul.

63

Diversos autores colocam como funções principais dos parques lineares a proteção dos

cursos d’água e de sua vegetação ciliar.

Em vez de atuar como ilhas ou pontos isolados, os parques lineares podem conectar-se

uns com os outros, mediante passeios lineares, para permitir a interação entre as espécies,

atuando como corredor migratório para plantas e aves. Da mesma forma, este espaço promove

medidas para mitigar os riscos de inundações e erosão, reduzindo os custos públicos. Além

disto, estes parques podem preservar a paisagem e os recursos naturais, assim como as vistas

cênicas em meio urbano.

No que se refere aos aspectos ecológicos, o parque deve englobar ações de prevenção

e correção de impactos. Na prática, encontramos atualmente alguns exemplos nos países

denominados desenvolvidos, tais como a Alemanha, Estados Unidos e Espanha, onde a

proposta de implantação de parques lineares está articulada a estratégias de renaturalização

dos rios e córregos urbanos, em busca do resgate de seus cursos naturais, hoje canalizados e

retificados, colocando-os à vista da população.

Experiências realizadas na Europa, a exemplo da Alemanha, demonstram que é

factível a recomposição de rios ao seu estado mais natural possível, apesar dos obstáculos

impostos pela urbanização (SELLES, 2001).

Em Portugal, existem algumas experiências sendo desenvolvidas através dos

denominados Planos Verdes, peça fundamental do Plano Diretor de Lisboa que busca um

reordenamento do território através da integração da estrutura ecológica da paisagem com a

estrutura construída, com base nos conceitos de Continuum Naturale, ou seja, sistema

contínuo (corredor) de ocorrências naturais, que permite o funcionamento e desenvolvimento

dos ecossistemas e a permanência do potencial genético ou biodiversidade; Continuum

Culturale, sistema contínuo de espaços edificados e seus vazios; Genius Loci, lugar que para

além do espaço físico, possui valor simbólico, histórico, telúrico, paisagístico e ambiental,

que justifiquem um significado próprio na cidade e no território em geral; e Mobilidade

Sustentável, circulação não-motorizada (pedestres e ciclistas) integrada com os meios de

transporte coletivos menos poluentes (TELLES, 2001).

A função de lazer, educação ambiental e de coesão social

Aliado às funções anteriores, está o aproveitamento desse espaço para o lazer,

buscando evitar a ocupação humana irregular destas áreas. Segundo Santos & Campos (2006),

64

quando se faz a opção por manter um curso d’água em leito natural é importante dar um uso a

essa área garantindo que ela não seja ocupada.

Searns (1995), Frischenbruder & Pellegrino (2006), colocam que o parque linear

insere as necessidades urbanas de promoção recreacional, educacional e de coesão social,

podendo oferecer uma diversidade de atividades de recreação de baixo custo para a

população. No que se refere aos aspectos sócio-culturais, o parque deve englobar

principalmente ações de educação ambiental, cidadania, culturais e de pesquisa, além dos usos

mais freqüentes tais como o lazer ativo e contemplativo e a circulação não-motorizada.

Os passeios lineares provocam um efeito positivo na sociedade, que pode ser

observado pela quantidade de pessoas que caminham ou pedalam em eixos viários lineares

existentes. Estes espaços buscam promover na sociedade o reconhecimento da importância

dos espaços abertos e naturais para o melhoramento da qualidade de vida urbana.

A função de estruturação da paisagem urbana

Pesci (1999) considera que a estrutura de um sistema de espaços coletivos de

propriedade pública deveria orientar a configuração urbana. Para Magalhães (1996) e Scalise

(2002), a proposta de implantação de parques lineares ao longo de cursos d’água situados em

meio urbano exige uma relação coerente e equilibrada entre a estrutura ecológica e o tecido

edificado.

Para Franco (2001), a proposta de implantação de parques lineares ao longo de cursos

d’água situados em meio urbano incorpora princípios do planejamento ambiental ao campo da

arquitetura e do planejamento urbano, pois inter-relacionam aspectos de drenagem,

circulação, transporte, áreas verdes, gerenciamento de resíduos, esgotos, cidadania e educação

ambiental, em busca da qualidade ambiental urbana e conseqüente qualidade de vida.

Para Mazzaferro (2004), esta proposta pode ser percebida como interface física, onde

os espaços coletivos podem ocorrer como elementos articuladores e limitadores do tecido

urbano; e como interface social, onde estes espaços se conformam como lugares

caracterizados por elevada centralidade social, onde existem as maiores possibilidades de

encontro e troca entre pessoas, pressupondo a acessibilidade garantida de todas as pessoas e

legitimação social.

A função de desenvolvimento econômico

65

Os valores ambientais, funcionais e paisagísticos encontrados nas margens de cursos

d’água, manguezais ou faixas de mata não são objeto de atenção imediata, nem para o

empreendedor nem para a maioria do público consumidor, sendo geralmente eliminados ou

desconectados da paisagem urbana (BRASIL, 2004).

Segundo Scalise (2002), o projeto de parque linear em áreas de fundo de vale, hoje

utilizadas na sua maioria como depósitos de lixo, é um projeto modesto, exeqüível e

democrático, e que apresenta possibilidades econômicas que compensam os investimentos

necessários para criá-los e mantê-los, visto que este beneficia várias áreas da mesma cidade.

Para o autor, tais corredores apresentam possibilidades econômicas que compensam os

investimentos necessários para criá-los e mantê-los. Surge como elemento que produz

atratividade, valorização das terras no seu entorno e melhoria da qualidade de vida urbana.

Promovendo caminhadas e ciclismo através de ligações com áreas esportivas, culturais

e de lazer, os parques lineares podem ser utilizados também para ir ao trabalho, à escola ou às

compras.

A função política

Apesar de todos os aspectos positivos proporcionados à sociedade pelo conceito de

parques lineares, esta proposta precisa estar inserida dentro de uma política pública a nível

governamental, articulada com a iniciativa privada. Outra maneira de facilitar a implantação

destes parques se dá através da regulamentação na legislação municipal e do planejamento

antecipado, quando ainda não são necessários altos custos com desapropriações.

Segundo Scalise (2002), é de fundamental importância para o seu adequado

desempenho sócio-cultural que estes projetos levem em conta aspectos relativos à

participação de todos os segmentos da sociedade na sua concepção.

A função de corredor multifuncional

Segundo Magalhães (1996), o período pós-moderno impôs aos parques lineares um

caráter multifuncional, através do resgate das características ambientais, culturais, econômicas

e sociais, agregando funções de mobilidade urbana sustentável, diversificação dos usos do

solo urbanos, controle das cheias, recreio, produção de hortas, requalificação da imagem

urbana e de definição de zonas susceptíveis de serem ocupadas pelas construções.

66

Conforme Saraiva (1999), os parques lineares correspondem às redes de áreas

protegidas, baseadas em sistemas de caráter predominantemente linear, preservadas ou

geridas com objetivos ecológicos, estéticos, culturais, históricos e recreativos, nas quais se

pretende proteger, principalmente, as zonas ecologicamente frágeis ao longo dos cursos

d’água. Estes cursos d’água constituem elementos preponderantes neste tipo de rede, quer

pelo seu caráter linear e estruturador da paisagem, quer pela ativação biológica associada à

presença da água e ecossistemas ripícolas, quer pela existência de patrimônio cultural e

humanizado testemunhando uma adequação mútua entre sociedade e natureza.

Para Martí (2002), atualmente, os parques lineares são considerados as novas artérias

ambientais das cidades, que, na forma de corredores de espaços abertos, geralmente

acompanhando rios, arroios ou córregos, são protegidos e manejados para a conservação do

meio ambiente e recreação da sociedade. Estes espaços verdes lineares geralmente se

desenvolvem em áreas de valor ecológico, histórico e cultural, e são lugares de uma

diversidade de árvores nativas, refúgio de aves nativas, e ao mesmo tempo, servem como um

local de recreio e tranqüilidade para a população urbana.

“São áreas lineares naturais de uso público” (MARTÍ, 2002), “são alternativa para

ocupação das margens dos rios sem degradar, trata-se de dar um uso social às margens

compatível com a natureza, evita a ocupação irregular (SANTOS & CAMPOS, 2006), “é uma

unidade de lazer que acompanha a linha de um curso d’água” (CHAMPS, 2006 apud

SANTOS & CAMPOS, 2006), “tem como princípio a permeabilização da margens do

córrego, permitindo a infiltração e a vazão da água durante as inundações” (MAGALHÃES,

2006 apud SANTOS & CAMPOS, 2006), “o valor ambiental, na maioria das vezes, não está

inserido na consciência da população, e a criação de uma área de lazer funciona como artifício

motivador da adoção e proteção desse espaço” (SEPÚLVEDA, 2006 apud SANTOS E

CAMPOS, 2006).

A visão ambiental no planejamento e gestão de parques lineares em áreas de

fundo de vale urbanas

De acordo com Hough (1998), os fundos de vale são laços insubstituíveis entre os

processos naturais e o urbano, e através da implantação de parques lineares estas áreas podem

configurar-se como uma oportunidade histórica e educativa para as cidades, no que diz

respeito à preservação e recuperação do ambiente natural característico, propiciando o contato

físico e visual destes espaços pela população.

67

No entanto, a implantação destes parques em áreas de fundo de vale deve seguir

critérios ambientais de planejamento, projeto e gestão, que busquem prevenir e corrigir os

impactos causados pela urbanização sobre estas áreas.

Impactos da urbanização sobre as áreas de fundo de vale

Sob o ponto de vista ambiental, a relação das cidades com os sistemas naturais e com

os recursos disponibilizados requer atenção, tendo em vista os impactos causados pelo

consumo desses recursos para satisfazer as necessidades da população e pela produção de

resíduos e esgotos que solicitam espaço para serem descartados e absorvidos. Considerando

também a escala dos impactos associada à taxa populacional e à quantidade de área

demandada pelas aglomerações urbanas, os danos causados sobre os sistemas naturais

integram a problemática da cidade contemporânea.

Segundo Rutkowski (1999), o tratamento que vem sendo dado ao meio natural é

resultado de uma perspectiva de desenvolvimento, que entende os bens naturais renováveis

como recursos inesgotáveis, tendo seu uso ampliado pela capacidade humana em transformá-

los e otimizá-los através do desenvolvimento de processos tecnológicos. Entretanto, este

estilo de desenvolvimento que privilegia as relações econômicas da sociedade com o meio,

tem uma resultante antrópica que coloca em risco as possibilidades futuras dos diversos

segmentos sociais.

Impactos da urbanização sobre o meio físico

Diversos são os usos para as águas no espaço urbano: higiene, alimentação, transporte,

lazer, recreação, construção e processos produtivos industriais, comerciais e agrícolas, entre

outros, e todos demandam qualidade e quantidade hídrica diferenciada.

Segundo Bonn (1992), as atividades antrópicas que afetam os sistemas fluviais podem

ser divididas em níveis diferenciados: (a) global; (b) de bacia hidrográfica; (c) de corredores

fluviais e (d) de intra-leito. Ao nível global, podem ser caracterizadas pelas mudanças

climáticas, chuvas ácidas e transferências entre bacias hidrográficas. Ao nível de bacia

hidrográfica, podem ser caracterizadas pela florestação e desflorestação, urbanização,

drenagem de solos e defesa contra cheias. Ao nível de corredores fluviais, podem ser

caracterizadas pela regularização fluvial (retificação, canalização e cobertura), construção de

barragens, limpezas e desobstruções de cursos d’água e remoção da vegetação ripícola. E a

68

nível intra-leito, podem ser caracterizadas pela poluição orgânica, inorgânica e térmica,

captação, navegação, exploração de espécies autóctones e introdução de espécies exóticas.

Conforme Rutkowski (1999), as atividades de lazer e recreação demandam águas que

não contenham elementos químicos e biológicos nocivos à saúde; o abastecimento e a

manutenção de áreas verdes nas áreas urbanas precisam de volumes consideráveis de água

para irrigação; as obras de construção civil demandam areia e cascalho retirados dos leitos de

corpos d’água além de impermeabilizarem extensões variadas de solo quando prontas; a

drenagem urbana reconfigura a drenagem natural do espaço, onde a figura tradicional em

espinha de peixe de uma bacia hidrográfica perde o seu sentido, dificultando em muito o seu

entendimento como um sistema dinâmico, cujas alterações são promovidas pelas ações e

reações antrópicas e reações e ações ecológicas em modo contínuo.

Conforme Tundisi (2003), os problemas decorrentes da urbanização que incidem sobre

a quantidade e a qualidade das águas provêem de duas fontes: o aumento da densidade das

construções e da cobertura asfáltica e o aumento da densidade populacional.

A primeira provoca principalmente:

(a) o aumento de área impermeabilizada;

(b) o aumento do escoamento superficial direto;

(c) alterações no sistema de drenagem;

(d) o aumento da velocidade de escoamento; e

(e) alterações do clima urbano.

A segunda provoca:

(a) o aumento do volume de águas residuárias;

(b) a deteriorização dos rios à jusante da área urbana;

(c) a deteriorização da água de escoamento pluvial;

(d) a deteriorização da qualidade da água;

(e) o aumento da demanda de água;

(f) a redução da quantidade de água disponível;

(g) a diminuição da recarga subterrânea;

(h) o aumento das enchentes e dos picos das cheias na área urbana; e

(i) o aumento dos problemas de controle da poluição e das enchentes.

Segundo o autor, o problema não se restringe somente ao impacto inicial, mas

principalmente ao efeito posterior. Com relação à infra-estrutura urbana, os principais

impactos sobre os recursos naturais ribeirinhos podem ter sua origem no:

(a) sistema de esgoto;

69

(b) sistema de drenagem pluvial, dependendo do tipo de solo, do tipo de

pavimento, da área permeável e impermeável e da topografia;

(c) disposição do lixo urbano e

(d) índice de áreas verdes.

No Brasil, segundo TUCCI (2005), os riscos de inundação e a deteriorização da

qualidade da água dos cursos d’água se devem principalmente: à contaminação dos

mananciais superficiais e subterrâneos com os efluentes urbanos, tais como o esgoto cloacal,

pluvial e os resíduos sólidos; à disposição inadequada dos esgotos cloacais, pluviais e

resíduos sólidos nas cidades; às inundações nas áreas urbanas devido à urbanização; à erosão

e sedimentação, gerando áreas degradadas; à ocupação de áreas ribeirinhas, com risco de

inundações e de áreas de grandes inclinações, como morros, sujeitos a deslizamentos após

período chuvoso.

Conforme Botkin & Keller (1995) e Tucci & Machado (1998), outra característica da

urbanização brasileira é transformar o fenômeno natural de inundação das várzeas em um

problema social – as enchentes, ao canalizar ou envelopar a maioria dos riachos e córregos,

aumentando a impermeabilização do solo e, consequentemente, a velocidade de escoamento

das águas precipitadas. A impermeabilização do solo altera os processos de

evapotranspiração, infiltração profunda, infiltração superficial e escoamento superficial do

ciclo hidrológico das águas pluviais, elevando em até seis vezes o pico de cheia em relação ao

pico da mesma bacia em condições naturais enquanto que, no período de estiagem, reduz a

recarga dos aqüíferos (TUCCI e GENZ, 1995).

Conforme o Plano Diretor de Drenagem Urbana de Porto Alegre (2000), a utilização

de condutos pluviais para drenar o excesso de água das superfícies urbanas colabora para a

ocorrência de inundações, como também para a aceleração do processo de erosão, transporte

de sedimentos e deterioração da qualidade da água.

Quanto à qualidade da água, o problema da utilização de condutos pluviais está na

potencialização da contaminação provocada pela sedimentação e pelo uso de sistemas mistos

os quais misturam os esgotos pluvial e cloacal. A maioria deste esgoto é conduzido

diretamente para os rios, lagos e arroios sem passar por estações de tratamento, e mesmo

quando passam, corre-se o risco de na ocorrência de transbordamento, estas descargas

provocarem a contaminação do solo.

A reserva de áreas permeáveis em meio urbano torna-se uma medida preventiva e/ou

corretiva muito utilizada em estudos de impacto ambiental, no entanto, a quantidade de água

70

recolhida também depende das características filtrantes da terra, que estão relacionadas com a

topografia, com os tipos de solo e com as espécies de vegetação existentes em cada área.

Segundo Magalhães (1996), o solo também tem sido em todo o mundo objeto de

destruição, quer pela edificação, quer por práticas culturais incorretas que aceleram a sua

perda por erosão, pela redução de seus índices de fertilidade ou por contaminação.

Impactos da urbanização sobre o meio biótico

O modelo de urbanização adotado até o momento afeta as comunidades naturais de

plantas e a fauna, que encontram dificuldades em se adaptarem a estas novas condições. As

mudanças no clima e no solo também interferem na distribuição e sobrevivência das plantas.

As mudanças climáticas estão associadas às alterações nas condições de ventilação,

temperatura e umidade, e à disseminação de contaminantes na atmosfera, que interferem nos

processos de transpiração e respiração das plantas. As mudanças no solo estão associadas à

qualidade, à compactação e a ocupação superficial com edificações e áreas pavimentadas.

Estas características podem resultar na redução da penetração de nutrientes e de água

em nível superficial e subterrâneo; na intervenção na transferência de ar e gases; na redução

de área de solo disponível; e na interferência constante sobre as comunidades de plantas,

devido às atividades construtivas e de manutenção das áreas construídas.

Também o rompimento da conectividade da paisagem pode acarretar danos à fauna e a

flora através das perdas de corredores que conectam os tecidos urbanos e que os ligam às

áreas rurais, sendo responsáveis pelo movimento de animais e plantas. Consequentemente, as

condições de vida das espécies que necessitam fazer estes percursos para se alimentarem ou

reproduzirem são alteradas. Estes corredores, também colaboram para a manutenção de outros

importantes processos ecológicos, como a prevenção contra erosão e proteção da água em

áreas ribeirinhas. Todo o ecossistema, em alguma escala, sofre alteração quando muda a

interação entre espécies ou quando alguma delas deixa de existir no mesmo.

A homogeneização da paisagem também influencia para o decréscimo da diversidade

das espécies. Tecidos heterogêneos suportam mais espécies que os homogêneos, e ainda,

quanto maior for o tamanho do tecido, maior serão suas condições ambientais de

heterogeneidade.

A visão ambiental no planejamento e gestão de áreas de fundo de vale urbanas

71

Atualmente, as premissas de desenvolvimento estão sendo reavaliadas, incorporando

os limites de uso dos bens naturais, impostos pelas relações ambientais e os valores dos

diversos segmentos sociais. Desenvolvimento passa ser discutido pela perspectiva de sua

sustentabilidade.

Para Tucci (2005), o ambiente urbano relacionado com as águas pluviais tem sido a

base da nova concepção de intervenção para a ocupação do solo. Neste cenário, a ocupação

urbana deve compreender como solo, água e planta estão integrados na natureza, em busca de

mitigar os efeitos adversos da introdução de superfícies impermeáveis como telhados,

passeios, ruas, estacionamentos, entre outros.

“O uso e ocupação do solo devem preservar os condicionantes da

natureza; o abastecimento de água deve ser realizado de fontes não

contaminadas por outras à montante; o esgoto sanitário deve ser tratado para

que o sistema hídrico tenha condições de se recuperar e não contamine as

águas à jusante; a drenagem urbana deve preservar as condições naturais de

infiltração, evitar transferência à jusante de aumento da vazão, volume e carga

de contaminação no escoamento pluvial e erosão do solo; e os resíduos sólidos

devem ser reciclados e a disposição do restante deve ser minimizada” (TUCCI,

2005, p. 109).

Para Tucci (2005), o plano diretor urbano municipal atual deve incluir, junto ao

planejamento do uso e ocupação do solo, o abastecimento de água e saneamentos, a drenagem

urbana (controle de inundações e erosão do solo), o esgoto sanitário, os resíduos sólidos e os

transportes.

Algumas recomendações são feitas pelo mesmo autor para a execução do Plano

Diretor Urbano, dentre as quais cita “cada usuário urbano não deve ampliar a cheia natural,

através da impermeabilização do solo, movimentação de terras e desmatamento”; “os

impactos causados em uma bacia hidrográfica não devem ser transferidos nem compensados

em outras bacias, devem ser resolvidos na mesma bacia”; “o plano diretor deve contemplar o

planejamento das áreas a serem desenvolvidas assim como o da densificação das áreas

atualmente loteadas”; “o controle deve ser realizado considerando a bacia hidrográfica como

um todo, e não atuar em trechos isolados”; “nenhum espaço de risco deve ser desapropriado

se não houver uma imediata ocupação pública que evite a sua invasão”; “os custos de

implantação de medidas estruturais, operação e manutenção da drenagem devem ser

72

transferidas aos proprietários dos lotes, proporcionalmente a sua área impermeável” (TUCCI,

2005, p. 10).

O autor destaca ainda que o desenvolvimento urbano não pode ocorrer sem a busca da

sustentabilidade do espaço após a ocupação da população, sugerindo uma gestão coletiva e

integrada que se inicia pela educação.

A visão social no planejamento e gestão de parques lineares em áreas de fundo de vale

urbanas

Segundo Magalhães (1996), a morfologia da paisagem é resultante da interação entre a

lógica dos processos do suporte biofísico e a lógica dos processos sócio-culturais. É uma

combinação entre a natureza e a sociedade, trata-se de um sistema único, complexo e

evolutivo. Ela tem aparência e dinâmica, representa uma solução para questões ambientais

enquanto lugar seguro, agradável e salutar, ou pode significar um problema quando estampa

um lugar inestável, degradado e pouco salubre. Moldar um lugar, intervir em uma paisagem

organizando nela espaços e ambientes para usos diversos, envolve trabalho multidisciplinar.

A visão social no planejamento do espaço público

Trabalhos alternativos, flexibilização do tempo de trabalho, mais horas livres, estes

fatos da vida contemporânea conduzem a uma tendência de diminuição dos anos de serviço

reais nos principais paises industrializados, exatamente no momento de um substancial

aumento da expectativa de vida. A saída do mercado de trabalho já não é mais critério

definidor de velhice, uma vez que cerca de um terço da vida pode ocorrer depois disto.

Surge, então, uma nova categoria social e potencialmente usuária de espaços de lazer.

Se há mais tempo para o lazer, os espaços urbanos destinados a ele tornam-se mais

importantes e disputados. Mesmo para aqueles que ainda têm o tempo tomado pelo trabalho, é

maior a necessidade de lazer hoje, principalmente por questões de saúde física e psíquica.

Porém, a expectativa é de que o tempo de lazer seja qualificado.

As novas preocupações com a qualidade de vida urbana revelam a necessidade de

renovação das comunidades de vivência humana em espaço urbano, aumentando, deste modo,

o interesse relativo aos ambientes de lazer e de circulação de pedestres e ciclistas. Conforme

Merino (2006), inicia na década de 90, aproximadamente, uma mudança cultural na

sociedade, caracterizada pela valorização ambiental e pelo exercício físico.

73

Segundo Cabral (2005), o meio urbano melhora a sua qualidade através da existência

de áreas verdes. As suas funções são diversas, contudo, podem-se condensar em alguns itens,

tais como:

(a) melhoria do microclima urbano, circulação do ar, balanço da umidade, captura de

poeiras e gases (THE DOBRIS ASSESSMENT, 1995). Constituem espaços de grandes

potencialidades em constituir zonas de tampão que melhorem o ambiente urbano em áreas

industriais ou densamente urbanas (GROOME, 1990);

(b) contribuição para a reciclagem de compostos urbanos e manutenção da qualidade

da água (THE DOBRIS ASSESSMENT, 1995);

(c) vetor recreativo para as populações urbanas (THE DOBRIS ASSESSMENT,

1995);

(d) palco natural em meio urbano, propício à manifestações culturais de conservação

da natureza, educação ambiental e investigação científica (THE DOBRIS ASSESSMENT,

1995);

(e) experiência de alto valor em pleno ambiente urbano, através da possibilidade de

desfrute pelas populações urbanas das mudanças de estação, de cores e odores (THE DOBRIS

ASSESSMENT, 1995);

(f) locais repousantes, com contribuição para o escape de tensões psíquicas, muito

freqüentes em meios urbanos (GROOME,1990).

Para Scalise (2002), nas duas últimas décadas do século XX a exigência de

requalificar a cidade conduz ao renascimento do jardim público, objetivando melhorar a

qualidade física e ambiental de áreas intersticiais degradadas ou em processo de

deteriorização, quer por exigências físicas ou psíquicas do homem.

O parque linear como instrumento de planejamento e gestão social das áreas de

fundo de vale urbanas

Segundo Garabini (2004), o tipo parque linear, agregado a fundos de vale, apresenta-

se como o espaço aberto, livre e de pouca manutenção, onde os playgrounds e jogos lúdicos

se integram à preservação ambiental, culto ao corpo praticado por longas caminhadas e pelo

lazer contemplativo.

Especificamente em relação às áreas verdes lineares, Groome (1990) diz que estes

correspondem a espaços livres por onde as pessoas podem circular sem perturbações de

74

ruídos, poluição ou perigos vários, escapando da dureza do ambiente urbano. Para Cabral

(2005) as áreas verdes lineares contribuem para a coerência e legibilidade do tecido urbano.

Em The Dobris Assesment (1995), as áreas verdes lineares possibilitam a inclusão de

redes peatonais e cicloviárias, contribuindo como alternativa aos sistemas de transporte

poluentes e melhorando a acessibilidade urbana, pois este não beneficia só um lugar da

cidade.

O lazer e a educação/cultura

Em Brasil (2004), no uso das margens de cursos d’água a população busca um lazer

alternativo às suas atividades do cotidiano urbano. Este espaço abriga as mesmas funções

sociais de lazer de um parque, como jogos, repouso, caminhadas, contemplação e encontros,

propiciando o contato constante e direto com o ambiente mais natural, com a segurança e

vitalidade de estar próximo do movimento urbano.

Conforme Medeiros (1975), a responsabilidade dos educadores e administradores é

cuidar para que o tempo disponível dos cidadãos seja utilizado não apenas de uma maneira

prazerosa, mas também de modo construtivo para a sociedade, reforçando o lazer como fonte

capital social, transformando o lazer em força social positiva. Os programas de recreação têm

objetivos de persuadir as pessoas a ocuparem de forma construtiva o seu lazer, de forma a

elevarem seu espírito e cultura.

A educação sistemática é importante para o bom aproveitamento do lazer, com o

desenvolvimento precoce de atitudes favoráveis a atividades recreativas, pela consciência de

seu valor pra o indivíduo e sua contribuição para o bem estar social. Conforme Medeiros

(1975), a participação cresce com maior educação.

O lazer e as relações sociais

O lazer também tem o objetivo de integrar o indivíduo ao grupo a que pertence na

comunidade, desenvolvendo, por intermédio de iniciativas educacionais e recreativas, boas

relações humanas, nas quais tenta instigar sentimentos de segurança emocional e geração de

capital social.

A prática esportiva pode ser uma forma de criar relações horizontais, independentes do

status econômico da população, simplesmente pelo gosto e afinidade pelo esporte. A

recreação leva intrínseca a noção de fator de progresso social. Segundo Salgueiro (1995), o

75

lazer ajuda a definir cada estilo de vida, é parte da identidade de grupos, e multiplica-se o

leque de atividades que cada um pode escolher.

O lazer e o desenvolvimento econômico

O capital cultural das cidades é hoje reconhecido como fonte de riqueza alternativa,

pelo que as cidades se empenham em o valorizar através da respectiva produção, conservação

e marketing. O lazer funciona como elemento de atração turística, seja pela influência de

público ou pela captação de recursos econômicos.

Ao se estabelecer as características dos bens ou serviços oferecidos por estes espaços e

seu entorno, existem questões relativas à qualidade do bem ou serviço, que podem variar. As

características do consumidor são igualmente importantes, sua renda, o ócio que dispõe,

idade, educação, ocupação, seus gastos, com que freqüência reflete sua experiência passada,

etc.

O parque como local de lazer

Segundo Hass (2000), o espaço público está sempre relacionado com algo prazeiroso,

onde as pessoas gostam de ir para sair da rotina do trabalho e aproveitar um local que pode

oferecer diversas opções de uso e atividades, bem como promover relações sociais. Para a

autora, os parques são verdadeiros centros sociais abertos, reduto das interações horizontais e

verticais num mundo cada vez mais individualista.

Os parques, juntamente com as praças e campos esportivos, também têm a função de

serem elementos estruturadores da paisagem urbana. O parque moderno destina-se ao lazer de

grande massa, mas é um espaço urbano a mais para o desfrute da população nos tempos de

ócio, concorrendo com um leque diverso de opções.

O parque marginal ao curso d’água como local de lazer

O espaço marginal ao curso d’água consiste em um local onde se desenvolvem formas

de lazer ativo e passivo. Torna-se então palco de uma série de situações de relacionamento

social. Esta apropriação social exige uma estruturação espacial diferente para cada situação,

variando de organização muito simples, rústicas, até outras altamente elaboradas, como os

calçadões de grandes cidades.

76

A circulação não-motorizada

De acordo com Laurie (1983, apud GARABINI, 2004), na disposição de um parque é

evidente que o fator determinante das superfícies ou espaços abertos serão as redes de

percursos circulatórias. Uma mera análise põe em manifesto que a circulação, além de

interligar lugares e instalações diversas, de fato é capaz de concretizar e segregar superfícies e

de conformar outras. No desenho paisagístico, a circulação de pedestres é um tema de

primeira ordem.

As características físicas de um espaço aberto são quase sempre secundárias com

relação aos fatores locacionais. Estes fatores podem ser caracterizados pelo nível de atração

ou animação dos lugares, que podem ser representados pela diversidade de usos do solo,

pontos de interesse, eventos, quantidade e freqüência de pessoas paradas ou circulando; e pelo

nível de acessibilidade ao local, que pode ser representado pela articulação com os demais

espaços significativos da cidade e pela articulação com o transporte público. O tempo e o

custo de deslocamento entre os locais de lazer público devem ser mínimos, mas a existência

de uma rota segura também tem grande importância.

ENQUADRAMENTO GEOMORFOLÓGICO E FITOGEOGRÁFICO DA REGIÃO

O Município de Montenegro, fundado em 5 de maio de 1873, pertence a Mesorregião

Metropolitana de Porto Alegre e à Microrregião de Montenegro. Está situado a uma altitude

de 31 metros e possui uma área total de 420.017 Km². Sua população, segundo IBGE (2010),

é de 59.436 habitantes.

Para o enquadramento geomorfológico e fitogeográfico da região estudada, foi

utilizado o projeto RADAMBRASIL (1986) responsável, nos anos 70 e 80, pelo levantamento

dos recursos naturais de todo o território brasileiro, 8.514.215 km2. A equipe que realizou

este levantamento e todo o acervo técnico encontram-se, atualmente, incorporados ao Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

Na Figura 3 pode-se avaliar a localização do Município de Montenegro no Estado do

Rio Grande do Sul.

77

Figura 3 - Localização do Município de Montenegro no Estado do Rio Grande do Sul.

REGIÃO GEOMORFOLÓGICA

O território do Município de Montenegro está localizado na região geomorfológica

denominada de Depressão Central Gaúcha que é caracterizada por apresentar altitudes

máximas de 250 a 300 m e mínima de aproximadamente 10 m acima do nível do mar. O

relevo é homogêneo, em forma de coxilhas, com presença de morros testemunhos. Os Morros

testemunhos, também conhecidos como Inselbergs, são formações de características

geomorfológicas específicas que se destacam por apresentar uma grande diferença de

elevação em relação a outras áreas do relevo. Essa característica é facilmente identificada em

Montenegro através da presença do Morro São João que é avistado de longe pelos que

chegam ao município. Localizado no centro da cidade, possui uma estrada de acesso e dois

mirantes. É considerado “Morro Testemunho”, após o recuo da cordilheira da Serra Geral.

MONTENEGRO

78

Na Figura 4 pode-se notar a localização do Município de Montenegro no Estado do

Rio Grande do Sul.

Figura 4 - Localização do Município de Montenegro no Estado do Rio Grande do Sul

A região possui rochas dos períodos Permiano, Triássico e Jurássico, sendo que ao

longo da rede fluvial predominam depósitos aluvionares do Quaternário.

REGIÃO FITOGEOGRÁFICA

Segundo o projeto RADAMBRASIL (1986), região fitogeográfica é uma área de

florística típica, com formas biológicas características, submetida a um mesmo clima,

podendo ocorrer em litologias variadas, porém com relevo bem demarcado. O município de

Montenegro está entre uma área de Tensão Ecológica formada pela interpenetração de flora

característica das regiões de Savanas e de Floresta Estacional e uma área de Floresta

Estacional Decidual. O relevo varia de suavemente ondulado a ondulado.

Na figura 5 é possível avaliar p mapa das regiões fitogeográficas e a localização do

município de Montenegro.

MONTENEGRO

79

Figura 5 – Mapa das regiões fitogeográficas e a localização do município de Montenegro

A Área de Tensão Ecológica ocupa solos distróficos (Triássico, Juracretáceo). A Área

de Floresta Estacional Decidual abrange os terraços aluviais (Quaternário) ao longo dos rios

que drenam a Depressão Central Gaúcha e o Planalto da Campanha, sobre solos azonais.

Nestas áreas encontram-se espécies desde herbáceas até arbóreas, com ocorrência de diversas

formas biológicas, adaptadas às diferentes condições edáficas aí reinantes. As formações

encontradas são de influência marinha (restinga) e de influência fluvial.

PARTICIPAÇÃO SOCIAL E BENEFICIÁRIOS

Atingidos os objetivos listados, espera-se que haja uma redução na pressão antrópica

sobre os ambientes naturais, da mesma forma que possam servir de estímulo para o

fortalecimento dos Conselhos de Defesa do Meio Ambiente, Associações Comunitárias,

Associações de Pequenos Produtores, etc., assim como crescimento e evolução de estudantes,

o incremento da pesquisa e de um melhor conhecimento destes recursos genéticos.

MONTENEGRO

80

Quando se valoriza os recursos naturais, abre-se uma gama de possibilidades de

interações com o meio, inclusive podendo obter ganhos financeiros mensuráveis, através do

turismo, por exemplo, em áreas consideradas prioritárias para a biodiversidade.

Pode-se listar:

Benefícios Ambientais

Manutenção dos processos ecológicos e ambientais, garantindo a integridade dos

ecossistemas e a conservação das espécies que compõem a nossa biodiversidade.

Melhor conhecimento das espécies e entendimento de suas inter-relações com o

ambiente, por meio dos estudos taxonômicos, biogeográficos e ecológicos.

Manutenção da distribuição geográfica original das espécies;

Garantia da não extinção das espécies.

Recuperação de áreas degradadas, tendo em vista a utilização da fauna como

polinizadora e dispersora de sementes.

Valorização das propriedades rurais, com base na integridade física e no status de

conservação dos recursos e ambientes naturais.

Benefícios Sociais

Valorização de uma identidade local.

Melhoria da qualidade de vida, segurança emocional e cidadania.

Desenvolvimento de uma série de princípios e valores que possibilitará uma visão

mais crítica e ampla sobre a temática ambiental, propiciando um crescimento

ideológico sensato e engajado com os acontecimentos atuais, elevando a consciência

individual e coletiva, baseada em princípios morais e atitudes adequadas.

Benefícios Econômicos

Acréscimo na oferta de alternativas para a subsistência das populações isoladas e

tradicionais.

Geração de novas tecnologias a serem utilizadas e replicadas em comunidades rurais

organizadas, na busca de um desenvolvimento sustentável.

81

Acréscimo de divisas e de investimentos no ramo do turismo voltado para a

contemplação dos ambientes naturais, das belezas cênicas, da flora nativa, da fauna em

vida livre e/ou da fauna submetida ao manejo.

Proporcionar um acréscimo adicional de recursos na renda das pessoas, das famílias e

das comunidades, urbanas ou rurais, pela valorização da cultura e gastronomia local.

OBJETIVOS

A finalidade principal deste trabalho é ajudar na consolidação e implementação de

estratégias já definidas por muitos órgãos ambientais para minimização e/ou solução do

problema exposto.

Objetiva-se reconhecer os elementos integradores da paisagem, assim como as

potencialidades regionais a fim de se implementar um modelo de gestão ambiental da bacia

hidrográfica do rio caí adequado, onde as condições fisiográficas e biogeográficas formam um

complexo homogêneo e extensivo, se estendendo às áreas social, cultural e econômica.

Para tanto, almeja-se a criação de uma Unidade de Conservação na categoria de Área

de Proteção Ambiental (APA) nos Morros São João, Morro da Pedreira, Morro dos Fagundes

e Morro Montenegro, interligada ao banhados e áreas alagadiças de Montenegro, tornando

possível uma infra-estrutura capaz de garantir um trabalho realmente consistente e eficaz de

gestão ambiental.

O objetivo inicial é manter as características originais dos morros e banhados, bem

como realizar a recuperação das margens e da mata ciliar, através de conhecimento técnico

específico, tanto através do plantio de árvores, arbustos, gramíneas, sementeiras e plantas

aquáticas como através de enrocamento com estacas e microestacas.

No decorrer do trabalho, esperamos gradativamente ir obtendo resultados satisfatórios,

que certamente serão demonstrados na redução dos dados apresentados anteriormente. A

situação desejada em sua totalidade, ou seja, a mudança de paradigma é um fato que

certamente leva gerações para ser alcançado, devido à sua subjetividade e dinamismo.

METAS

A serem definidas conjuntamente com as entidades participantes.

82

MÉTODO E INSUMOS

A definição do método a ser utilizado depende do planejamento, implementação e

gestão das áreas a serem trabalhadas, assim como características físicas, bióticas e antrópicas

existentes no local e na sua área de influência, bem como da comunidade envolvida.

Para um bom andamento do trabalho e obtenção do resultado esperado, é necessário

que o projeto seja divido em etapas. Deste modo, a Instituição Proponente acredita que se

deva realizar primeiramente um pré-diagnóstico através de sobrevôo da região seguido de

descida de barco.

Neste momento, serão tiradas fotos das situações emergentes, fixando ponto de

localização através de GPS de navegação e procedendo a descrição preliminar pontual.

Esta avaliação inicial do assunto permitirá nortear o planejamento e as ações do

diagnóstico verdadeiro, mais completo e complexo, evidenciado pela diversidade de usos do

solo e aspectos culturais e históricos, principalmente.

O diagnóstico verdadeiro, ou seja, a completa investigação da área onde este será

implantado, e o envolvimento com o público devem compreender basicamente:

O inventário e análise dos recursos naturais e culturais do corredor, englobando o

levantamento dos aspectos de propriedade da terra; levantamento ambiental; acesso

e transportes, análise sócioeconômica; recursos históricos e culturais; recreação

comunitária; infra-estruturas públicas e privadas; impactos na comunidade; gestão e

operação; análise subjetiva do corredor.

Elaboração de Mapas Temáticos digitais como layers sobrepostos na imagem de

satélite georreferenciada e ortoretificada. Exemplos: rede viária, atrativos turísticos,

hidrográfico, vegetação, urbanização, áreas de preservação permanente (APP's),

hipsométrico (altitudes), clinográfico (declividades), hierarquia fluvial, orientação

de vertentes, uso e ocupação do solo, coroa de proteção de nascentes, perfil de

relevo, mapas sócio-econômicos, atrativos turísticos, propriedades, etc.

Algumas técnicas devem ser observadas com atenção no planejamento de parques

lineares urbanos, tais como:

(a) identificação e quantificação de flora, fauna, elementos da paisagem e

antrópicos;

(b) percepção ambiental;

83

Após a etapa do diagnóstico vem a elaboração do Plano de Ação ou Plano

Conceitual, com objetivos, metas e ações. O plano conceitual deve apresentar alternativas de

desenvolvimento com objetivos humanos, ambientais, de implantação, de gestão futura e

aspectos econômicos.

A quarta etapa do trabalho engloba a preparação do Documento Final especificando

e alocando todas as modificações propostas para a área. Deve ser apresentada a forma de

desenvolvimento escolhida, contendo localização, medidas de proteção e conservação, formas

de acesso e infra-estruturas disponíveis, especificação de manejo, estimativa de custos e

estratégias de desenvolvimento.

A aquisição de uma imagem de satélite Quickbird (resolução 0,60m), melhor

imagem de satélite existente hoje no mercado, possui propriedades e características que

permitem a execução de um trabalho de altíssima qualidade; contudo requer certo custo de

aquisição.

A segunda opção são as imagens CBERS que são gratuitas. Sua resolução

corresponde a 20 m onde através de programa de computador pode-se interpretar as bandas e

faixas da imagem identificando automaticamente aspectos importantes do território como

cobertura vegetal e hidrografia, por exemplo.

As imagens obtidas por sensoriamento remoto (satélites) contêm erros e distorções

causados por uma variedade de fatores. De forma a obter uma escala real de representação da

terra (solo) é necessário remover distorções na imagem, e o processo de ortorretificação

resolve estes problemas, permitindo o uso dos dados da imagem em aplicações técnicas com

alta precisão.

Salienta-se que o serviço descrito obedece as normas técnicas da cartografia

nacional, de acordo com o decreto nº 89.817 de 20 de junho de 1984, assim como o material

disponibilizado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, através do Instituto Nacional de

Pesquisas Espaciais - INPE.

Abaixo são listadas algumas das etapas da fase de instrumentalização:

Georreferenciamento e Vetorização das Cartas Topográficas da 1ª Divisão de

Levantamento do Exército Brasileiro: processo de georreferenciamento das cartas

topográficas que cobrem o território a ser trabalhado, bem como o desenho de todos os itens

contidos nas mesmas (curvas de nível, hidrografia, rede viária, manchas urbanas, vegetação,

redes elétricas, banhados, entre outros) com a finalidade de construir o Modelo Digital do

Terreno (MDT) para realizar o processo de ortorretificação e gerar os mapas de declividade e

de altimetria da área rural.

84

Mosaicagem e Equalização da Imagem de Satélite: as imagens brutas do satélite

vêm em pedaços (“quebra-cabeça”); e assim será necessário georreferenciar para uni-las uma

a uma. Para melhorar a qualidade visual da imagem, será necessário aplicar um processo de

equalização.

Planejamento e Coleta de Pontos de Controle no Terreno: com a finalidade de

georreferenciar a imagem de satélite, são obtidos pontos de controle em campo. Esses pontos

são identificados na imagem e ocupados no campo por receptores GPS geodésico para a

obtenção das coordenadas geográficas dos mesmos. É coletado o maior número de pontos

possíveis por cada Km², bem distribuídos pela imagem de satélite. Sempre é utilizado um par

de receptores GPS para a obtenção destes pontos, ficando um receptor sobre uma base criada

e o outro receptor ocupando o ponto de controle selecionado.

Georreferenciamento da Imagem de Satélite: com a utilização de software

específico para este fim, inserem-se os pontos de controle sobre a imagem de satélite e se

aplica o processo de georreferenciamento, ligando a mesma ao sistema geodésico brasileiro,

definindo o sistema de referência (Datum) e sistema de coordenadas.

Software para visualização de Mapas e Banco de Dados: disponibilização de um

software para os técnicos visualizarem todo o banco de dados geográficos.

Geração do Modelo Digital do Terreno (MDT): processo realizado com software

específico para transformar as curvas de nível (linhas de mesma altitude) obtidas pela

vetorização das cartas topográficas do exército (área rural), em modelo digital de altitudes.

Ortorretificação da Imagem de Satélite: a imagem de satélite georreferenciada se

junta o Modelo Digital do Terreno (MDT) gerado a partir do levantamento topográfico (área

urbana) ou das cartas topográficas (área rural). Este processo corrige os erros e distorções

existentes na imagem, deixando-a pronta para servir como base cartográfica.

Vetorização: com a imagem de satélite georreferenciada e ortorretificada, todos os

itens presentes na imagem serão vetorizados (desenhados), tais como: estradas, rodovias, ruas,

limites municipais e distritais, cursos d'água, vegetação, lavouras, áreas urbanas, redes

elétricas, pontos de referência, construções, etc.; informações fornecidas pela prefeitura

(linhas de energia, tubulação de água e esgoto, telefonia, etc.); assim como qualquer

informação que se deseje espacializar no mapa.

85

METODOLOGIA PARA CRIAÇÃO DE UMA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO

O “Roteiro Metodológico de Planejamento: Parque Nacional Reserva Biológica e

Estação Ecológica”, elaborado em 2002 pela Diretoria de Ecossistema do IBAMA (DIREC),

processo que contou com a participação de diversos segmentos da sociedade e comunidade

científica, pode servir de base para o planejamento.

Por força de lei, toda Unidade de Conservação deve possuir um Plano de Manejo,

definido pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) como “documento

técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de

conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e

o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação de estruturas físicas necessárias à

gestão da Unidade”.

Plano de Manejo

O Plano de Manejo é um documento oficial, fundamentado em critérios técnicos onde

se estabelece zoneamento e normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos

naturais da Unidade. Consiste de um instrumento de planejamento, elaborado em 10 etapas,

onde se constroem os seguintes encartes: Encarte 1 – Contextualização da UC; Encarte 2 –

Análise Regional; Encarte 3 – Análise da Unidade de Conservação e Encarte 4 –

Planejamento.

Os objetivos do Plano de Manejo são:

Levar a Unidade de Conservação – UC – a cumprir com os objetivos estabelecidos na

sua criação.

Definir objetivos específicos de manejo, orientando a gestão da UC.

Dotar a UC de diretrizes para o seu desenvolvimento.

Definir ações específicas para o manejo da UC.

Promover o manejo da Unidade, orientado pelo conhecimento disponível e/ou gerado.

Estabelecer a diferenciação e intensidade de uso mediante zoneamento, visando à

proteção de seus recursos naturais e culturais.

Destacar a representatividade da UC no SNUC frente aos atributos de valorização dos

seus recursos como: biomas, convenções e certificações internacionais.

86

Estabelecer, quando couber, normas e ações específicas visando compatibilizar a

presença de populações residentes com os objetivos da Unidade, até que seja possível

sua indenização ou compensação e realocação.

Estabelecer normas específicas regulamentando a ocupação e o uso dos recursos da

Zona de Amortecimento – ZA – e dos Corredores Ecológicos – CE, visando à

proteção da UC.

Promover a reintegração sócioeconômica das comunidades do entorno com a UC.

Orientar a aplicação dos recursos financeiros destinados à UC.

O processo de construção do Plano de Manejo geralmente passa por 10 etapas,

dependendo do grau de conhecimento existente, dos meios e recursos financeiros e humanos

disponíveis. Inicia-se com a primeira reunião técnica visando à organização do planejamento

(1ª etapa), seguida da coleta e análise das informações básicas disponíveis (2ª etapa) e do

reconhecimento de campo (3ª etapa). A quarta etapa consiste na realização da oficina de

planejamento, contando com a participação de representantes de diversos segmentos da

sociedade.

Mediante as informações levantadas, geram-se os seguintes encartes: encarte 1 –

Contextualização da UC, Encarte 2 – Análise Regional e o Encarte 3 – Análise da Unidade de

Conservação. Esta é a quinta etapa do processo.

Com base nas análises dos encartes, realiza-se a segunda reunião técnica de

planejamento (6ª etapa), procedendo as correções que se fizerem necessárias, traçando-se os

objetivos específicos da UC e discutindo uma proposta preliminar de zoneamento.

Como sétima etapa, realiza-se a terceira reunião técnica voltada para a estruturação do

planejamento, estabelecendo-se as diretrizes gerais do Plano de Manejo, consolidando o

zoneamento, definindo-se as áfreas estratégicas internas e externas e as ações e normas

relevantes à proteção da UC.

A etapa seguinte (8ª etapa) consiste na geração do Encarte 4 – Planejamento, e da

versão resumida. Uma vez encaminhado e analisado este encarte, procede-se a quarta reunião

técnica para avaliar o Plano de Manejo revisado, apontando e consolidando os ajustes

necessários (9ª etapa). A décima etapa refere-se a entrega e aprovação oficial do Plano de

Manejo.

Os critérios de zoneamento do Roteiro Metodológico de Planejamento são por demais

extensos para se incluir nesta proposta de trabalho.

87

Adianta-se que inclui critérios físicos mensuráveis ou espacializáveis (grau de

conservação da vegetação, variabilidade ambiental), critérios indicativos de valores para

conservação (representatividade, riqueza e/ou diversidade de espécies, áreas de transição,

suscetibilidade ambiental, presença de sítios arqueológicos e/ou paleontológicos), critérios

indicativos pra vocação de uso (potencial de visitação e conscientização ambiental, presença

de infraestrutura, uso conflitante, presença de população), bem como critérios de inclusão e

não inclusão da Zona de Amortecimento.

PROGRAMAÇÃO DE EXECUÇÃO FINANCEIRA ESTIMADA

Na Tabela 1 abaixo é possível avaliar pormenorizadamente os itens necessários à

fase de instrumentalização.

Fase de instrumentalização

Aquisição ou disponibilização da imagem Depende

Mosaicagem e Equalização da Imagem de Satélite. Depende

Implantação de Bases Geodésicas. Depende

Planejamento e Coleta de Pontos de Controle no Terreno

(aproximadamente 450 Pontos distribuídos para 110 Km²).

Depende

Geração do Modelo Digital do Terreno (MDT) com o uso das

Curvas de Nível.

Depende

Georreferenciamento da Imagem de Satélite. Depende

Ortorretificação da Imagem de Satélite. Depende

Vetorização de todos os elementos presentes nas Imagens de

Satélite (Áreas Urbanas).

Depende

Inserção do Banco de Dados Espacial (Dados sócioeconômicos). Depende

Elaboração de Mapas Temáticos Depende

Software para visualização de Mapas e Banco de Dados Depende

Elaboração de Relatório Técnico. Depende

Tabela 1 - Fase de instrumentalização.

88

Fase de Campo e reuniões

Na Tabela 2 abaixo é possível avaliar pormenorizadamente os itens necessários à

fase de campo e reuniões.

Equipes com questionários Depende

Deslocamentos, sobrevôos e descidas de barcos Depende

Alimentação e hospedagem Depende

Elaboração e impressão de documentos Depende

Logística geral Depende

Tabela 2 - Fase de campo e reuniões.

89

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que foi exposto ao longo do projeto pode-se constatar que a criação de uma

Unidade de Conservação é eficaz para atingir os objetivos citados. A oficialização do caráter

de conservação, recuperação e disciplinamento do uso e ocupação do solo é passo

fundamental para a gestão dos recursos naturais disponíveis em tamanha abundância, como a

questão de qualidade e quantidade de água, por exemplo.

É importante sempre observar como mínimos esforços de conservação podem

beneficiar todas as formas de vida, bem como providenciar métodos de se trabalhar

diretamente a causa do problema: a conscientização ecológica da humanidade.

Neste sentido, é importante considerar as palavras de Góes (1973):

“Não se pode falar em potencialidades paisagísticas sem pensar no

grande dilema dos tempos modernos: o economismo e o ecologismo.

Enquanto que o economismo é de um imediatismo por vezes criminoso, o

ecologismo, tomado nos seus termos mais simples, é de uma ingenuidade tão

grande que chega a prejudicar qualquer causa que vise à proteção dos

recursos naturais ditos renováveis, ou, na maioria dos casos, de difícil

reconstrução.

Portanto, nem o economismo nem o ecologismo extremos. O

ecologismo manda conservar a natureza, reservando-a à função de paraíso

ambiental. O economismo manda transformar o capital ecológico em

consumo, acelerando o esgotamento dos recursos.

O ponto de equilíbrio só será encontrado na planificação racional

que compatibilize os objetivos de crescimento da economia com proteção e

desenvolvimento da constelação de recursos naturais, em proveito de metas

a um só tempo econômicas e ecológicas” (GÓES, 1973).

Espera-se sinceramente que preocupações sobre a fragmentação florestal, o declínio

populacional de espécies da fauna selvagem, juntamente com a degradação de seus habitats,

sejam traduzidos futuramente em considerável aumento da participação e apoio a trabalhos de

conscientização, bem como difundir conhecimentos e informações gerados.

90

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ANEXO – FOTOS AÉREAS

Figura 6 - (A) Morro São João; (B) Morro Montenegro; (C) Rio Caí e (D)

Área Urbana do município.

Figura 7 - (A) Morro São João; (B) Rio Caí; (C) Área Urbana do município.

97

Figura 8 - Morro Montenegro.

Figura 9 - Área sujeita a alagamento (Banhado do Cambuí) à direita. À esquerda

Morro da Mariazinha. Ao fundo Morro Montenegro.

98

Figura 10 - Complexo de Morros: Morro da Pedreira; Morro São João e Morro

dos Fagundes (da esquerda para a direita), formando o “gigante”.

Figura 11 – Área sujeita a alagamento (Banhado do Baixio Velho) à direita. Ao

fundo Morro Montenegro.