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ano XV | nº 67 | novembro de 2013 - distribuição gratuita CCSA Homenagens a servidores nas comemorações de 40 anos do mais antigo Centro Acadêmico da UFRN Páginas 6 e 7 Ensino Como desconhecidos doadores de corpos ajudam na formação dos profissionais de saúde Página 5 Esplendor que atravessa séculos ora como vanguarda ora como tradição ARTE BARROCA Interior A beleza do sertão nordestino como potencial turístico e econômico no Seridó Página 10 Página 3

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ano XV | nº 67 | novembro de 2013 - distribuição gratuita

CCSA Homenagens a servidores nas

comemorações de 40 anos do mais

antigo Centro Acadêmico da UFRN

Páginas 6 e 7

EnsinoComo desconhecidos doadores

de corpos ajudam na formação

dos profi ssionais de saúde

Página 5

Esplendor que atravessa séculos

ora como vanguardaora como tradição

A R T E B A R R O C A

InteriorA beleza do sertão nordestino

como potencial turístico e

econômico no Seridó

Página 10

Página 3

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Por JOãO PAULO DE LIMA

Quando se fala na produção de biocombustíveis é comum a as-sociação com vegetais oleagi-

nosos como a mamona e o girassol. No entanto, Graco Aurélio Câmara de Melo Viana, professor e diretor do Centro de Biociências (CB) da Universidade Feder-al do Rio Grande do Norte (UFRN), tem desenvolvido projeto em parceria com a Petrobras, mostrando que as microalgas obtêm alta produtividade como matéria prima para biocombustíveis e represen-tam uma alternativa na geração de ener-gia limpa para o Brasil e, principalmente, para o Rio Grande do Norte.

Intitulada “Cultivo de microalgas para produção de biodiesel”, a iniciativa é inédita no nordeste brasileiro e desen-

volve a produção vegetal em larga escala na estrutura do Centro Tecnológico de Aquicultura (CTA), instalado na Fazenda Samisa, no município de Extremoz-RN.

“A alta produtividade é uma das prin-cipais características das microalgas, que, além disso, utilizam em seu cultivo áreas marginalizadas para produção de biocombustíveis”, afi rma Graco Aurélio, coor denador do projeto. Para ele, esta é uma iniciativa de ponta, que insere o estado no contexto nacional na área de Aquicultura e biocombustíveis.

Em relação à produção de óleos em laboratórios, as microalgas oferecem um rendimento pelo menos 15 vezes maior do que a palma, oleaginosa mais produtiva atualmente. Com isso, a extração do biodiesel a partir desse procedimento se apresenta como uma alternativa vantajosa.

Além disso, a área ocupada no seu

cultivo é 100 vezes inferior à área das cul-turas tradicionais. Em média, são utiliza-dos apenas 2.500 hectares para abastecer uma refi naria de 250 mil toneladas, en-quanto são necessários 500 mil hectares de soja e 250 mil de girassol para produ-zir a mesma quantidade de óleo.

A Planta Piloto do projeto ocupa uma área com mais de 3 mil metros quadra-dos. Em laboratórios comuns, o trabalho é feito em garrafões de até 20 litros, mas os tanques fotobiorreatores do CTA, onde as microalgas são cultivadas, armazenam uma capacidade útil de 4 mil litros. Toda essa infraestrutura gera uma produção de 500 quilos de biomassa por mês, quanti-dade sufi ciente para fabricar aproximada-mente 2 mil litros de biodiesel.

BioComBUstÍVeisDiante dos esforços globais por uma

sociedade sustentável, a busca por com-

bustíveis menos degradantes para a at-mosfera é uma questão urgente. Nos grandes centros urbanos, principal-mente, o carvão mineral e os derivados do petróleo (gasolina e diesel) são fontes importantes de poluição.

Em Curitiba, testes feitos em ônibus do transporte coletivo movidos total-mente a biodiesel mostram que houve redução de 30% no índice médio de monóxido de carbono e queda de 25% de fumaça expelida no ar.

Indagado sobre a possibilidade de, no futuro, a utilização dos biocombustíveis ser maior do que o consumo dos com-bustíveis fósseis, Graco Aurélio responde que “com as crescentes questões de con-fl itos entre nações e outras problemáticas que envolvem o petróleo, os biocom-bustíveis se apresentam como um clamor da sociedade mundial por um modo de vida sustentável”.

Jornal da UFRN

EXPEDIENTEReitora Ângela Maria Paiva CruzVice-reitora Maria de Fátima Freire de Melo XimenesSuperintendente de Comunicação José Zilmar Alves da CostaDiretor da Agência de Comunicação Francisco de Assis Duarte GuimarãesEditora Enoleide FariasJornalistas Antônio Farache, Cledna Bezerra, Enoleide Farias, HellenAlmeida, Juliana Holanda, Luciano Galvão, Marcos Neves Jr., Regina Célia CostaFotógrafos Anastácia Vaz e Wallacy MedeirosRevisoras Regina Célia Costa e Karla Jisanny (bolsista)Foto de capa Wallacy Medeiros

Diagramação Setor de Artes/ComunicaBolsistas de Jornalismo Aline Nagy, Ana Clara Dantas, Auristela Oliveira, Catarina Freitas, Ingrid Dantas, João Paulo de Lima, Júnior Marinho, Kalianny Bezerra, Rozana Ferreira, Silvia Paulo, Taís Ramos, � yara DiasBolsista de Letras Karla JisannyArquivo Fotográfi co Saulo Macedo (bolsista)Endereço Campus Universitário - Lagoa Nova, Natal/RN - CEP 59072-970Telefones (84) 3215-3116/3132 - Fax: (84) 3215-3115E-mail [email protected] – Home-page www.ufrn.brImpressão EDUFRN Tiragem 6.000 exemplares

ano XV | nº 67 | novembro de 20132

Microalgas podem ser opção na produçãode biocombustível no Rio Grande do Norte

ENERGIA

Graco Aurélio

Cultivo de microalgas no CTA, Extremoz - RN

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Por KALIANNY BEZERRA

O que Chacrinha, Carmen Miranda e Luiz Gonzaga têm em comum? Com suas ornamentações e um

certo exagero no momento de comunicar, todos esses personagens que fi zeram parte da cultura popular brasileira são barrocos. É o que afi rma o professor do Departa-mento de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Fran-cisco Ivan da Silva.

Estudioso do barroco há mais de 30 anos, o docente afi rma que o fazer desse estilo artístico está cada dia mais vivo, constituindo todo um período histórico com um modo próprio de entender o mundo, o homem e a religião. “A tradição dessa arte não se fecha num só século, ela abre horizontes para a compreensão ampla da sociedade”, afi rma Francisco Ivan.

O barroco teve seu berço na Itália, du-rante o século XVII, e logo se espalhou por outros países da Europa, chegando ao continente americano graças aos colonizadores portugueses e espanhóis. No Brasil, foi diretamente infl uenciado por artistas portugueses, adquirindo ca-racterísticas próprias.

A grande produção artística barroca no país ocorreu nas cidades auríferas de Minas Gerais, no século XVIII, o denomi-nado século de ouro. Com forte caráter religioso, as obras eram feitas em madeira e pedra-sabão, principais materiais usados pelos artistas brasileiros. Com o tempo, esse estilo continuou vivo e, aos poucos, foi se modelando, adaptando-se à reali-dade de cada época.

Para Francisco Ivan, o barroco pode ser considerado um precursor do moder-nismo surgido no século XX. Ele acredita que a proposta moderna recicla ideologi-camente o estilo como um fator de identi-dade cultural. “Nessa época, os modernis-tas são os primeiros a descobrirem Ouro Preto e retomar essa arte como identifi ca-ção da sociedade”, coloca.

“As vanguardas sempre resgatam fun-damentos do barroco como os poetas Fe-derico García Lorca, Oswald de Andrade e Haroldo de Campos”, diz o professor. Seja de forma funcional ou estética, tal estilo dialoga com outros formando pers-pectivas únicas como nas construções de Oscar Niemeyer.

Inspirado em características como o antagônico e o exagero, o arquiteto ca-

rioca projetou o Conjunto da Pampulha, em 1940, em Belo Horizonte. O bairro que tinha a proposta de fornecer lazer, com di-reito a cassino, clubes, igrejas e restauran-tes, tem como particularidade as curvas que marcam o barroco. O maior modelo está na Igreja de São Francisco de Assis que traz curvas e linhas oblíquas, atribuin-do um caráter assimétrico e fl exível.

“Os artistas atuais se apropriam do barroco e criam em cima dele uma nova produção sem deixar morrer toda a he-rança desse estilo. Isso é reciclagem”, diz. Apai xonado por essa arte, Francisco Ivan ressalta que a vê em tudo. “Ela está na minha vida. Se estou triste e depois feliz, se sorrio ou choro”, declara.

estUDar e reVitaLiZarO barroco foge dos vazios, decora su-

perfícies e espalha fi guras. As manifesta-ções artísticas revelam um movimento dinâmico, plural e fl exível, fazendo voltar o que está no futuro. Com essa perspec-tiva, o Grupo de Pesquisa Ponte Literária Hispano Brasileira da UFRN realiza anual-mente um encontro que reúne alunos, es-tudantes e pesquisadores de diversas áreas interessados no assunto.

O IX Colóquio de Estudos Barro-cos idealizado pelo grupo aconteceu em outubro. Com o tema “O eterno retorno do Barroco”, o encontro trouxe a diversos lugares da instituição discussões sobre o que esse estilo artístico representa nos dias atuais. Para tanto, foram promovidas pa-lestras, mesas-redondas, saraus poéticos,

lançamento de livros, conferên-cias e mostra de fi lmes.

Segundo o coordenador geral do evento, o professor Francisco Ivan da Silva, o colóquio pro-porciona a troca de conhe-cimento. “Essa é uma ação tão grande que envolve pro-fessores até de fora do Brasil. É impressionante o número de pesquisas exemplares que conseguimos juntar em apenas três dias”, diz.

Para o docente, esse tipo de encontro também se faz ne-cessário para envolver os alunos e mostrá-los que esse não é um estudo de algo antigo, mas, um fenômeno que está entre a socie-dade e que é percebido por poucos. “A tradição barroca só tem sentido se a comunidade acadêmica estiver envol-vida. Nós nos aliamos ao estudante uni-versitário para dar continuidade a esses estudos”, aponta.

eXposição No Núcleo de Arte e Cultura (NAC)

da UFRN, os participantes do Colóquio puderam apreciar a Exposição Coletiva “O Eterno Retorno do Barroco”, com obras do acervo de arte sacra e popu-lar dos artistas Antônio Marques de Carvalho, Erasmo Andrade, Jota Medeiros, Dorian Gray, Francisco Magno, Ébeson Rolim, Cristi R. Paiva e Marcos Câmara Jr.

Pesquisador estuda há 30 anos o Barroco,“expressão eterna” da arte

ARTE

ano XV | nº 67 | novembro de 20133Jornal da UFRN

Francisco Ivan: As vanguardas sempre resgatam fundamentos do barroco

Fotos: Wallacy Medeiros

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Jornal da UFRN

NOTASTecnologia O secretário de Desenvolvimento Econômico do RN, Rogério Marinho, visitou a reitora Ângela Paiva para discutir a parceria com a UFRN para implantação do Parque Tecnológico do Rio Grande do Norte. Segundo ele, a parceria com a Universidade é muito importante porque “com o parque inserido no ambiente acadêmico, o mercado vai estar diretamente ligado à pesquisa”.

MudançaO CONSEPE aprovou o novo Regulamento dos Cursos de Graduação da UFRN, que entrará em vigor em 2014. As principais mudanças são o novo sistema de avaliação nas disciplinas, a flexibilização de pré-requisitos e a criação de turmas de reposição específica – para estudantes que já cursaram o componente curricular. InteriorizaçãoO CONSEPE aprovou também o Argumento de Inserção Regional para o Sistema de Seleção Unificada (SiSU) 2014. Segundo o pró-reitor de Graduação, Adelardo Adelino, a mudança beneficia alunos que concluíram o Ensino Fundamental e cursaram todo o Ensino Médio nas regiões para as quais candidatem-se a cursos de graduação.

InclusãoA Escola de Música realizou na UFRN, o I Encontro sobre Ensino de Música para Pessoas com Deficiência Visual, iniciativa que amplia os passos da Universidade rumo à inclusão. O Esperança Viva, grupo de flauta doce, composto por deficientes visuais, abriu o encontro, tocando clássicos da MPB, como “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga, “Anunciação”, de Alceu Valença e “Love me Tender”, de Elvis Presley.

AdeusA UFRN deu adeus ao talento do professor Edson Claro, do Departamento de Artes, que faleceu no dia 30 de outubro. Junto com o professor Henrique Amoedo, Edson Claro se destacou também pela criação da Roda Viva Cia. de Dança, uma das primeiras iniciativas em Natal a trabalhar com bailarinos portadores de deficiências.

FotografiaOs estudantes levaram a melhor no “Concurso de Fotografia Somos UFRN”, promovido pela PROGESP. Yanna Beatriz de Medeiros, de Ciências Sociais, levou o primeiro lugar; Johnston Evangelista, de Comunicação Social, ficou em segundo e Catarina Zulmira de Souza Lira, de Fisioterapia, em terceiro.

Por JOHNSTON EVANGELISTA

Ensinar um deficiente visual exige qualificação. Com a ajuda de alunos, professores e servidores, a Escola de

Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN), mantém o “Grupo Esperança Viva”, um curso de flau-ta doce voltado para pessoas com cegueira total ou com baixo grau de visão.

Coordenado pela professora Catarina Shin, o Esperança Viva proporciona aos participantes a oportunidade de se desen-volver musicalmente, por meio de ativi-dades rítmicas, melódicas, expressivas, instrumentais, teóricas e de introdução ao estudo da musicografia Braille – código que permite aos cegos perceber a notação musical por meio de células marcadas com pontos em alto relevo. “A importância do aprendizado da música por portadores de deficiência visual se justifica pela opor-tunidade de desenvolver sentidos como o

tato e a audição, que guiam essas pessoas na ausência da visão”, explica Catarina.

Entre outros lugares, o grupo já fez apresentações no Instituto Federal de Ciên-cia e Tecnologia (IFRN) de Ipanguaçu, na Coope rativa Cultural do Centro de Con-vivência da UFRN, na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), em Mos-soró, e na Televisão Universitária (TVU).

Os encontros do “Esperança Viva” acontecem todas as segundas-feiras e são divididos em dois momentos: estudos de musicografia Braille, das 14h às 15h30, e aulas de flauta doce, das 15h45 às 17h15. Sobre o processo da representação escrita de música, a professora Catarina esclarece que “as partituras escolhidas são digitadas no software “Musibraille” pelos professo-res e estagiários do curso e, em seguida, são enviadas ao Laboratório de Acessibili-dade para serem impressas em Braille”.

Iniciado em 2011, com o nome “Flauta Doce”, o projeto quer desmistificar es-tereótipos e preconceitos em torno da pes-soa com deficiência visual. No começo, o

curso trabalhava com alunos do Instituto de Educação e Reabilitação de Cegos do Rio Grande do Norte (IERC) e da Asso-ciação de Deficientes Visuais (ADEVIRN). Hoje, o projeto recebe qualquer pessoa que tenha interesse em participar.

O nome “Esperança Viva” surgiu em 2012 e veio da inspiração de um dos alu-nos. Pedro Marcelino de Lira, autor da proposta, argumenta que o curso propor-cionou mais alegria e confiança a todos. “É uma esperança viva de algo bom que está acontecendo conosco, mas que também se projeta para o futuro”, afirma Pedro.

Além do espaço físico para a realiza-ção das aulas, a EMUFRN disponibiliza veículo e motorista para o deslocamento da maioria dos alunos. O projeto conta ainda, com ajuda da Comissão Perman-ente de Apoio a Estudantes com Neces-sidades Educacionais Especiais (CAENE) da UFRN.

O “Grupo Esperança Viva” foi uma das atrações na Mostra de Corais e Música de Câmara da CIENTEC Cultural 2013.

Grupo Esperança Viva leva experiências de educação musical para pessoas com deficiência visual

INCLUSÃO

Anastácia Vaz

Projeto da Escola de Música da UFRN promove inclusão social por meio da música

ano XV | nº 67 | novembro de 20134Jornal da UFRN

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Por JULIANA HOLANDA

A aposentada Rosa Félix da Silva já comunicou à família: além de ser doadora de órgãos e tecidos, quer

que seu corpo seja utilizado para o ensi-no e a formação de profissionais. Com 64 anos, a potiguar diz que enfrentou dificul-dades em convencer familiares e amigos de sua decisão. “Infelizmente, as pessoas ainda são muito ligadas à matéria. Para mim, o sentido da vida é contribuir para a sociedade mesmo após a morte”, acredita.

Rosa da Silva faz parte de uma lista de 68 moradores do Rio Grande do Norte que pretendem ceder o corpo para o De-partamento de Morfologia (DMOR) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde são realizadas aulas de anatomia humana.

“A iniciativa é pouco conhecida, mas é um procedimento simples que auxilia na formação de muitos profissionais”, explica o professor de Anatomia e chefe do DMOR, Expedito Silva do Nascimento Júnior.

Todos os anos, a disciplina forma cerca de 1.600 alunos dos cursos de Nu-trição, Educação Física, Biomedicina, Farmácia, Enfermagem, Ciências Biológi-cas, Fisioterapia, Odontologia, Medicina, Engenharia Biomédica, Fonoaudiologia, Biologia (Licenciatura e Bacharelado), Dança e Psicologia.

O número de doadores cadastrados na UFRN é ínfimo se comparado às listas de universidades europeias – que chegam a ter mais de dez mil pessoas. A quanti-dade é insuficiente para suprir as necessi-dades da Instituição. “Estive na Espanha e vi uma turma que tinha dois alunos por cadáver. Algo impensável para a nossa re-

alidade. Já houve turmas com 50 alunos com acesso a apenas um corpo”, relata Expedito Júnior.

O próprio professor é um dos doadores da lista. Ele explica que os cadáveres benefi-ciam principalmente os estudantes de Me-dicina, que são os responsáveis pela disse-cação. “Entregamos os corpos inteiros para os alunos porque eles precisam desenvolver a habilidade da cirurgia. As peças mais bem dissecadas são armazenadas e disponibili-zadas para outras turmas”, conta.

Professora de anatomia, Sheila Ramos de Miranda Henriques Tarrapp, enfatiza que a dissecação é um dos momentos mais importantes do curso. “Uma coisa é estudar por uma peça que já está pre-parada, outra é o aluno se esforçar passo a passo, descobrir ele mesmo como pre-

parar a peça para estudo. O aprendizado é bem melhor”, destaca.

Sheila Tarrapp também pretende ce-der o corpo para a Universidade. “A gente tem muita dificuldade na aquisição de cadáveres. Isso atrapalha não só os fu-turos médicos, mas alunos de todos os cursos porque também cria uma defi-ciência de peças anatômicas para outras disciplinas”, avalia.

Os estudantes do 3º período de Medi-cina, Agábio Diógenes Pessoa Neto e Tiago Tavares de Freitas estão cursando anatomia neste semestre. Ambos ressaltam a dificul-dade de estudar com poucos exemplares anatômicos. “Fica um aglomerado de gente tentando observar e todo mundo tem que ver tudo bem direitinho para aprender. Te-mos que ficar revezando e montar uma es-

cala para cada um poder fazer uma parte”, conta Tiago. “Isso atrapalha nosso estudo. Temos que fazer sempre um acordo entre o grupo”, complementa Agábio.

Monitores da disciplina e alunos do 7º período de Medicina, Vinícius Dan-tas Ferreira Lopes e Fábio Santos Esteves Júnior destacam o zelo com que os cadá-veres são tratados. “Temos muito res-peito, pois é graças a essas pessoas que podemos estudar”, afirma Vinícius Lopes. “Quem doa, contribui para melhorar a qualidade de vida da sociedade, já que possibilita a formação de médicos bem preparados”, analisa Fábio Esteves.

DoaçãoO procedimento para ceder o corpo

para o ensino é simples e não impede que também seja feita a doação de órgãos e teci-dos para transplante. O próprio interessado pode ir ao Departamento de Morfologia da UFRN, onde assina um documento, regis-trado em cartório, em que declara sua von-tade e recebe um cartão de identificação.

A família ou o representante legal também pode fazer a doação de quem não tenha sido registrado. “O ideal é que após a morte ser declarada, o cadáver seja enviado para a Universidade o mais rá-pido possível, para iniciarmos o processo de conservação”, explica Expedito Júnior.

Após a utilização dos corpos, algumas estruturas são guardadas para estudo e os restos mortais são sepultados. “Avisamos à família. Caso ela tenha interesse, pode realizar o sepultamento, ou, se preferir, nós mesmos fazemos o enterro”, esclarece o professor.

Mais informações podem ser obtidas no site do DMOR: (http://www.cb.ufrn.br/dmor/doacao.htm), pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone: (84) 3215-3431.

ano XV | nº 67 | novembro de 20135Jornal da UFRN

SAÚDE

Doação de corpos para ensino possibilita formação de médicos mais capacitados

Expedito Silva, professor de Anatomia da UFRN

Wallacy Medeiros

Dissecação é um dos momentos mais importantes para alunos da área de Saúde

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Por LUCIANO GALVãO

Há 23 anos, Erivaldo trabalha no Al-moxarifado do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Uni-

versidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). De aspecto sereno, conversa fácil e óculos com armação em estilo esportivo, o chefe do setor responsável pelo controle do patrimônio da unidade opera seu com-putador em uma pequena sala, de frente para uma grande janela de vidro através da qual é cumprimentado pelos que passam no corredor.

Dez minutos em que deixou o que es-tava fazendo para atender ao pedido de en-trevista do repórter foram suficientes para que Erivaldo dos Santos Ferreira fosse in-terrompido por dois telefonemas – que fa-ziam soar dois aparelhos ao mesmo tempo no ambiente diminuto – enquanto à frente da porta se formava uma pequena fila de funcionários do Centro, que esperavam para receber garrafões de água mineral, res-mas de papel e itens de material de limpeza.

“Eu acho bom esse trabalho. É um pou-co estressante, porque as pessoas às vezes acham que a gente quer burocratizar o ser-viço. Mas são recursos públicos e é minha responsabilidade gerenciar tudo isso”, argu-mentou o servidor.

Em novembro, Erivaldo foi um dos co-laboradores do Centro homenageados du-rante as comemorações dos quarenta anos do CCSA. “Não vou dizer se mereço ou não a lembrança, mas a direção do Centro deve ter reconhecido minha contribuição”, co-mentou ao responder como se sentia ao ser escolhido para receber o tributo. “Acho le-gal, porque recompensa o funcionário que se dedica mais”.

As homenagens a servidores e professo-res de cada departamento fizeram parte das celebrações do quadragésimo aniversário. A programação estendeu-se entre os dias 11 e 14 deste mês, e contou também com a produção de um documentário e de um livro sobre a data, o lançamento de uma

revista, a reinauguração da galeria de fotos dos ex-diretores da unidade, a realização de exames de saúde no jardim do Centro e ainda exposições de painéis no hall de en-trada do prédio.

Para a diretora do CCSA, Maria Arlete Duarte de Araújo, comemorar a ocasião é importante não apenas para congregar as pessoas, mas para “criar sentidos compar-tilhados”. “Em uma unidade onde somos tão diferentes uns dos outros, pensar-se como Centro de Ciências Sociais Aplicadas é necessário para o imaginário da nossa co-munidade”, analisa a professora.

Arlete lembra que a história do CCSA foi construída com o esforço de muitos que já passaram pela administração, e que isso precisa ser reconhecido. “Quarenta anos não se faz só com quem está à frente hoje, mas são frutos de várias decisões tomadas no passado que definem a configuração que hoje o Centro assume”, considera a ges-tora, que ressalta também a contribuição

coti diana dos que compõem o quadro. “A gente faz tanta coisa, com tantas dificuldades no dia-a-dia, mas isso às vezes passa invisível. Esses momentos são importantes porque são

espaços para retribuir o trabalho, às vezes duro, que cada pessoa realiza”.

“CaChaça”Antônio Sales Mascarenhas é professor

na UFRN desde 1978. Mascarenhas, como é chamado pelos colegas, já soma tempo de serviço suficiente para aposentar-se, mas segue em atividade como chefe do Depar-tamento de Ciências Contábeis. “Isso aqui é uma cachaça, sabe?”, compara o docente – entre risos – quando perguntado porque permanece trabalhando.

“É muito gratificante transmitir co-nhecimento”, continua. “Tive uma vida profissional fora da Universidade, minha formação é de bancário, então quis trazer a experiência do mercado para o nosso curso – que é muito voltado para o mercado”, con-ta o professor, escolhido pelos colegas do departamento para ser homenageado du-rante as comemorações dos quarenta anos.

“Achei que o pessoal foi muito genero-so ao me escolher, mas não posso de jeito nenhum recusar essa homenagem. Eu me sinto muito honrado” declara Mascarenhas. “Dentro das minhas possibilidades, fiz o que pude pela Instituição”.

Carmem Gabrielli Ferreira de Oliveira é secretária do Departamento de Economia. Com pouco menos de três anos de casa, a

assistente em administração foi indicada pela unidade em que atua como a servidora que colaborou de forma mais expressiva com o setor. “Fiquei surpresa. Tem pessoas aposentadas, outras que estão aqui há mui-to tempo, então eu nem contava com isso”, confessa com a voz baixa, tímida em razão da entrevista.

A servidora auxilia a chefia do Depar-tamento nas atividades administrativas da unidade e diz gostar do que faz, apesar dos problemas que surgem vez ou outra. “Ainda estou no meu estágio probatório, então achei legal ser escolhida. Considero sinal de reconhecimento. Fiquei orgulho-sa”, comenta.

“Eu adoro a Universidade. Adoro o que eu faço”, diz com entusiasmo Lindalva Melchuna Madruga, secretária do Departa-mento de Ciências Administrativas. “Gosto do pessoal que trabalha comigo, dos profes-sores, desse tipo de serviço”, conta.

Modesta, Lindalva não concorda com o fato de ser a homenageada da unidade. “Eu não queria ser eleita, porque acho que tem outras pessoas merecedoras, que tra balham tanto quanto eu e que gostam do que fa-zem”, justifica. “Como tinham que esco-lher alguém, então me escolheram. Mas eu havia citado o nome de amigas que vão se aposentar e que mereciam até mais”.

Solenidade no Auditório da Reitoria reuniu servidores e docentes do CCSA

ano XV | nº 67 | novembro de 20136Jornal da UFRN

ANIVERSÁRIO

Wallacy Medeiros

Professores e servidores recebem homenagens durante comemorações dos 40 anos do CCSA

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Professores e servidores recebem homenagens durante comemorações dos 40 anos do CCSA

7Jornal da UFRN ano XV | nº 67 | novembro de 2013

Desenvolto, com microfone em pu-nho, o professor discursava para a plateia espremida no corredor. “O que une as oito pessoas nesse quadro transcende as nossas profissões”, dizia em pé, diante de um pai-nel que expunha breves currículos de oito docentes do CCSA – dentre os quais estava o próprio orador. “Somos todos apaixona-dos pelo magistério e tenho certeza que, se a vida nos desse uma chance de reiniciar tudo, escolheríamos fazer exatamente o que temos feito até hoje”, falou, imprimindo força às palavras e com breves pausas após cada segmento da frase.

José Arimatés de Oliveira é professor colaborador voluntário do Programa de Pós-graduação em Administração (PPgA). Voluntário porque, desde 2010, Arimatés está aposentado. “Continuar após a apo-sentadoria é uma experiência interessante, porque a gente, sem buscar, recebe certas honras”, contou. “Sinto que as pessoas nos olham como alguém que tem experiência de vida, com um olhar muito especial e que faz bem à gente como ser humano”.

José Arimatés e mais sete docentes voluntários foram lembrados durante as comemorações dos 40 anos do CCSA. Um painel com depoimentos dos homenageados foi afixado no hall de entrada do prédio da unidade, e outro igual no Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais Aplicadas (NEPSA), es-paço vizinho ao Centro.

Na solenidade em que se inaugurou o quadro, intitulado “Um pouco de muita história”, discursaram também a diretora Maria Arlete Duarte de Araújo e a coor-denadora do Programa de Pós-graduação em Serviço Social, Silvana Mara de Morais dos Santos.

Para Arlete Araújo, o aniversário do Centro era a ocasião adequada para a ho-menagem. “São pessoas que deram uma enorme contribuição em todo o período de sua vinculação efetiva e continuam aqui, cumprindo mais uma vez com um esforço de formação dos nossos alunos”, comentou.

CompromissoDjalma Freire Borges é professor da

UFRN desde 1977. Aposentado em 2004, o pesquisador segue atuando como cola-borador do Mestrado Profissional em Gestão Pública. “Quando entrei na Univer-sidade, fui trabalhar na então Pró-reitoria de Planejamento e tive a honra e a felicidade de trabalhar na elaboração do projeto do Mes-trado em Administração”, recordou.

O amor pelo ensino, segundo o docente, é que o faz permanecer em atividade. “É aquela gratificação de sempre, de estar em contato com os novos, de saber as preocupa-ções deles e de ver o crescimento de alguns. Isso é muito interessante”, disse.

José Arimatés concorda com o colega de profissão. “Quanto mais a gente conversa, quanto mais interage com o estudante, mais a gente cresce” apontou Arimatés, que foi pró-reitor de Administração entre 1991 e 1995. “Sei que tenho conhecimento acumu-lado, por isso não devo deixar de contribuir com a Instituição em que eu passei quarenta anos”, afirmou.

Para Maria da Penha Machado de Me-deiros, também voluntária no PPgA, o medo de ficar longe da sala de aula foi o que a motivou a continuar lecionando após a aposentadoria. “Isso, de uma certa forma, me apavorava porque eu adoro o ambiente acadêmico e gosto muito de lidar com alu-nos. É a minha realização”, comentou.

Docente da Universidade desde 1984 – e aposentada em 2012 –, Maria da Penha lembra das vezes em que foi homenageada em formaturas de turmas das quais foi pro-fessora. “Recordo – sem nenhuma vaidade, porque isso é uma consequencia natural do tabalho do professor – dos dois anos em que eu fui paraninfa”, relatou. “Isso me emocio-nou tanto, que quando fui fazer o discurso, as lágrimas vieram, engasguei, quase não saía, na frente de quase mil pessoas”, contou, sem conseguir disfarçar o embargo na voz.

Segundo Penha, não há diferença no tra-balho após a aposentadoria. “Não é só quan-do a gente é pago que nos realizamos, mas quando fazemos o que relamente gostamos. O papel do professor, o envolvimento, têm

o mesmo sentido. Você dá aquilo que você tem de melhor, dá seu sangue”, ressaltou.

Jomária Mata de Lima Alloufa aposen-tou-se em 1997, quando era Departamento de Educação. Desde então, colabora com o PPgA e diz que o compromisso com a Insti-tuição é o que faz com que siga no exercício do magistério. “Sou pesquisadora por amor. Tenho uma energia muito grande, apesar da idade, e continuo aqui porque me sinto muito comprometida em devolver para a sociedade tudo aquilo que ela me proporcio-nou”, disse.

A docente participou das implantações do mestrado e do doutorado em Educa-ção na UFRN, chefiou o departamento em que era lotada, coordenou o programa de pós-graduação, assim como fez parte da criação de núcleos de pesquisa na Univer-sidade. “Como estou aqui desde o nasci-mento do CCSA, acompanhei todo o seu desenvolvimento, tanto estrutural quanto também nas área de ensino, pesquisa e ex-tensão”, apontou.

Devido ao tempo em que Jomária exer ce a função voluntária, seus colegas de Centro brincam que terão de aposentá-la nova-mente. A professora não se incomoda: “es-pero ainda continuar mais alguns anos. Me sinto com muita energia e tenho que aplicar naquilo que eu amo fazer que é ensinar, pes-quisar e contribuir para a formação dos pro-fissionais do nosso estado. O prazer é o mes-mo de continuar servindo à Universidade. Isso aqui é minha identidade profissional, à ela devo muito”.

Também receberam a homenagem os professores Odair Lopes Garcia, Severina Garcia de Araújo, Paulo Lopo Saraiva e Odí-lia Sousa de Araújo, que faleceu em agosto.

Aposentados agora trabalham como voluntários1973Ano de fundação do Centro, fruto da reestruturação da UFRN que transformou a Escola de Serviço Social e as faculdades de Direito e Ciências Econômicas no Centro de Ciências Sociais Aplicadas/CCSA

1977Criação do Programa de Pós-Graduação em Educação do CCSA, o primeiro da UFRN

10Cursos de graduação são oferecidos atualmente, sendo dois de educação tecnológica e um de ensino a distância

7Programas de pós-graduação são abrigados no Centro

4500Número de alunos de graduação que tem hojeo CCSA

900Quantidade de estudantes que ingressam todos os anos no Centro

70%Dos discentes do CCSA concluem seus cursos

50%Dos alunos de especialização da UFRN são do Centro

36Grupos de pesquisa estão alocados no CCSA

350Número aproximado de mestres e doutores formados no Programa de Pós-graduação em Administração do CCSA

“Um pouco de muita história”, painel afixado no hall do NEPSA

Anastácia Vaz

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Por LUCIANO GALVãO

“A UFRN é a grife top do Rio Grande do Norte no setor ener-gético”, afi rma o pa lestrante

sem querer deixar dúvidas. Para Jean-Paul Prates, presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (CERNE) – entidade mantida por empresas do seg-mento para fomentar atividades relaciona-das à exploração de fontes energéticas –, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) é consi derada pelo mercado uma instituição de excelência na formação de profi ssionais para a indústria de energia.

“Mesmo no Sul e no Sudeste, a UFRN é muito bem vista. É preciso trabalhar junto às empresas para torná-la ainda mais conhe-cida”, diz Prates, que acredita ser necessário aumentar o diálogo com as organizações para dar destaque a programas e resultados alcançados pela Instituição.

A opinião foi emitida durante o 2º Fórum Estadual de Energia do Rio Grande do Norte (FEERN), que aconteceu entre os dias 17 e 18 de outubro em Natal. Realizado em par-ceria pela UFRN, pelo CERNE, pelo Centro

de Tecnologia do Gás e Energias Renováveis e pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, o Fórum discutiu o panorama econômico do estado nos segmentos de petróleo, gás natural, biocombustíveis e e nergias solar e eólica.

A capacitação e a inserção de profi ssio-nais no setor energético foi tema de debate durante o último dia do Fórum. Wilson da Mata, professor do Departamento de En-genharia de Petróleo, representou a UFRN na ocasião. “Mostramos o que temos feito nos últimos tempos na formação de pessoas para a área de energia, especifi camente no segmento de petróleo, que é o nosso carro-chefe”, conta Wilson.

Segundo o docente, a Universidade sai do 2º FEERN com a missão de se fortalecer no setor de energias renováveis. “Com a in-serção do estado – com grande potencial – no setor de energias eólica e solar, a Institui-ção terá que se qualifi carpara que tenhamos liderança também nesse campo”, destaca.

A falta de receptividade para profi ssio-nais formados no Rio Grande do Norte foi um dos pontos levantados durante o debate. “Essa questão não atinge a UFRN, feliz-mente. Nós já temos um nome no mercado e grandes empresas vêm fazer seleção interna

na nossa Instituição para recrutar profi ssio-nais”, conta Wilson da Mata.

Para Jean-Paul Prates, é preciso que a visibilidade que a Universidade possui se estenda às demais instituições de ensino do estado. “É importante nos juntarmos para fazer uma grife no Rio Grande do Norte. Queria muito ver alguém no escritório de uma empresa no Rio de Janeiro dizer que quer um profi ssional daqui, porque confi a que essa pessoa foi bem formada”, afi rma. “Isso resultaria em empregabilidade imedia-ta e, em outro estágio, em uma remuneração melhor”, diz o presidente do CERNE.

Os participantes do evento concordaram que é necessária a criação de um banco de dados que envolva universidades, centros de formação técnica e empresas do setor para aperfeiçoar o processo de inserção dos pro-fi ssionais no mercado. “Vamos relacionar essas defi nições a que chegamos para que no ano que vem a gente traga boas notícias nesse aspecto”, espera Jean-Paul.

Além de Wilson da Mata e Jean-Paul Prates, compuseram a mesa do debate re-presentantes do Instituto Federal de Educa-ção, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), do Centro de Tecnologia do Gás e Energias Renováveis, da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte e de ins-tituições de ensino privadas do estado.

partiCipação estratÉGiCaValter Fernandes, pró-reitor de Pesquisa

da UFRN, conta que o 2º Fórum Estadual de Energia do Rio Grande do Norte foi uma “construção conjunta” das entidades, e sur-giu da iniciativa do CERNE em reunir insti-tuições, pesquisadores, profi ssionais e em-presários do setor em torno do tema.

O pró-reitor diz que é preciso ampliar o horizonte da Universidade para alcançar também o segmento de energias renováveis. “Já temos uma boa participação em áreas mais tradicionais, e a Universidade precisa aprofundar a pesquisa e a formação no cam-po das energias eólica e solar”.

Além da discussão sobre a formação e a inserção de profi ssionais no mercado, o pró-reitor destaca a importância do Fórum em trazer o debate das energias renováveis, ressaltando o potencial que possuem para subsituir o petróleo como combustível. “Se tivermos alternativas ao petróleo, pode-mos utilizá-lo para fi ns mais nobres – como a produção de plásticos – e não somente queimá-lo”, exemplifi ca. “A participação da Universidade é estratégica nessa discussão”, aponta o pró-reitor.

SUSTENTABILIDADE

ano XV | nº 67 | novembro de 20138Jornal da UFRN

Engenharia de Petróleo debate capacitação profi ssional durante Fórum Estadual de Energia

Jean-Paul Prates: UFRN é instituição de excelência na formação de profi ssionais na área de energia

Wallacy Medeiros

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Por AURISTELA OLIVEIRA

Aventura, diversão e muito apren-dizado fazem parte do movimento escoteiro, há 32 anos presente na

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), com o Grupo Escoteiro Universitário (GEU) - 31RN, fundado em maio de 1981, pelo professor Marcos Tor-res, do Departamento de Administração da UFRN e por sua esposa Avanilde Co-centino e com sede na Praça do Conjunto dos Professores.

O surgimento do GEU é devido ao Capelão da UFRN à época, monsenhor João Penha Filho, um entusiasta do movi-mento, o mais antigo escotista do estado e que por mais de 30 anos presidiu a Regio nal dos Escoteiros no Rio Grande do Norte.

Nestes 32 anos de funcionamento do GEU, cerca de 3 mil pessoas já passaram pelo grupo e, algumas permanecem no movimento até hoje, como Renata Swany, que ingressou no ano 1982, a pedido de uma tia que chefiou os lobinhos. Renata é professora do Departamento de Ciências Biológicas da UFRN e atual coordenadora do ramo Sênior, que reúne os jovens com idade entre 15 a 17 anos.

Segundo Renata, o GEU é uma orga-nização que trabalha com a educação não formal de crianças e jovens, completando a formação dada pela escola e pela famí-lia, além de fortalecer os laços de amizades entre os participantes. As atividades de-senvolvidas no escotismo, explica, visam a trabalhar valores que estimulem o in-telectual, o emocional, o físico, o moral, o social e o espiritual, independente da re-ligião que o jovem e a sua família seguem.

A professora explica que no caso do GEU as atividades não se restringem ao Campus Universitário. Quem participa do grupo aprende que a função do esco-timo é “servir e ajudar ao próximo”, então muitos dos jovens que integram o grupo escoteiro da UFRN desenvolvem serviços junto à comunidade.

As atividades são diversificadas, podem incluir a participação em uma campanha de vacinação, por exemplo, ou ainda em ou-tras ações voltadas à valorização da socie-dade ou à conservação do meio ambinente. Alguns já participaram ou participam de ações como o plantio de mudas ou do Pro-jeto Sala Verde, desenvolvido pela Superin-tendência de Infraestrutura (SIN). Outros fazem a visitação de creches, entidades de

assistência a idosos ou a hospitais.Além das atividades locais, o grupo

também se destaca em nível regional e nacional, por exemplo, no Jamboree do Ar – JOTA, uma atividade mundial que ocorre há mais de meio século reunindo milhares de jovens de diferentes etnias, credos, ideologias. Em 2015, Natal sediará o Jamboree Nacional Escoteiro.

Djalma de Amaro Neto, 15 anos, diz o que o motivou a fazer parte do grupo foi o fato de gostar muito da natureza. Depois de buscar informações sobre os grupos de escoteiros existentes na ci-dade, Djalma escolheu o GEU, onde está há sete meses. O jovem ainda conta que os seus pais o apoiaram quando decidiu ingressar no escotismo, principalmente a sua mãe, que sempre procura informa-ções sobre seu entrosamento no grupo. “Gosto muito dos acampamentos, pois me permitem ter contato com a natureza e apren der como cuidar dela. Ele destaca alguns valores que diz, levará ainda, “o cuidado pela natureza e o respeito pelas pessoas, independente de condição social ou religião”, afirma o jovem.

A coordenadora Renata Swany reco-nhece que o acompanhamento dos pais é fundamental para o bem-estar físico dos filhos junto ao grupo de escoteiros. Ela ex-

plica que a participação nas reuniões e até mesmo nos acampamentos é importante porque permite a organização do GEU sa-ber aspectos como o rendimento escolar, as relações familiares e até sentimental.

Luciano Fábio, pai de escoteiro, diz que no início não queria que seu filho en-trasse no escotismo, porém sua percepção mudou com o tempo. Passados quase cin-co anos ele diz ser perceptível as mudanças no comportamento do filho: melhorou as notas na escola, o relacionamento em casa e está mais atento às suas tarefas diárias, como manter o quarto organizado.

Atualmente, cerca de 200 pessoas es-tão envolvidas nas atividades do GEU, que tem como presidente Clodoaldo Freitas. O professor Ivan Nascimento, do De-partamento de Ciências Contábeis, res-ponde pela coordenação da equipe e pela presidência da Regional dos Escoteiros no Rio Grande do Norte.

para toDas as iDaDesO escotismo não tem idade e perdura

por gerações. Bráulio André, Conselheiro Nacional da União de Escoteiros do Bra-sil (UEB) e membro do GEU há 50 anos, conta que ingressou no escotismo com 12 anos de idade, e permanece até hoje. O movimento proporciona experiência

de vida muito rica, principalmente no que concerne a autodisciplina e autode-senvolvimento e valores. “Eu tenho os fa-mosos ‘amigos de fé e irmãos camaradas, fruto do escotismo”, conta.

Daniel Capistrano, 20 anos, escoteiro pioneiro, está há quatro anos no grupo e diz que o escotismo o ensinou muitas coisas, como respeitar as pessoas, inde-pendente da origem, condição social e re-ligião. “Os valores aprendidos que levarei para a vida são: respeitar o próximo, res-peitar a natureza, ser leal, ter uma só pala-vra, ser amigos de todos”, ressalta animado o jovem.

Há oito anos o GEU faz parte dos grande projetos da Pró-Reitoria de Exten-são (PROEX). Alunos dos diversos cursos da UFRN podem participar como instru-tores e escoteiros. Os instrutores atuam no trabalho de conscientização e esclare-cimento, podendo contribuir, em alguns casos na escolha de futuras profissões.

As reuniões do GEU acontecem todos os sábados, das 14h às 17h, na Casa de Pe-dra, localizada na Praça Cívica do Campus Universitário, por trás do palco principal do Anfiteatro. O projeto ainda dispõe de uma página no Facebook: (https://www.facebook.com/geu31rn) e de um perfil no Twitter: (@geu31rn).

Respeito à natureza e ao próximo são pontos fundamentais no Grupo de Escoteiros da UFRN

CIDADANIA

ano XV | nº 67 | novembro de 20139Jornal da UFRN

Natal sediará o Jamboree Nacional Escoteiro em 2015

Anastácia Vaz

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ano XV | nº 67 | novembro de 201310Jornal da UFRN

Por JULIANA HOLANDA

Os pontos turísticos do Seridó po-tiguar estão sendo mapeados para identificar os principais atrativos

da região e promover o turismo ecológico por meio de trilhas na natureza.

Idealizada pelo curso de Turismo do Centro de Ensino Superior do Seridó (CE-RES) de Currais Novos, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a atividade busca divulgar e preservar a natureza do sertão nordestino e desen-volver a economia local.

“As pessoas que se propõem a fazer trilhas ecológicas normalmente têm uma conscientização ambiental maior. Preten-demos contribuir para a preservação do Seridó, mostrando a importância cultural e a beleza desse ecossistema”, destaca a co-ordenadora do projeto, a professora Clébia Bezerra da Silva.

Currais Novos, Acari, Carnaúba dos Dantas e Cerro Corá foram os municípios escolhidos inicialmente para participar do programa. Lagoas, pinturas rupestres, for-mações rochosas, áreas naturais, vegetação e clima característicos fazem parte das at-rações dessas cidades.

Para sugerir e organizar as trilhas, foi feito um levantamento, por meio de pes-quisa bibliográfica sobre a região. Itens como duração do percurso, proximidade e acessibilidade foram analisados pelos turismólogos, e servirão de parâmetros

na construção dos roteiros para excursões aos pontos turísticos, com a supervisão de guias locais.

Ednaja Faustino da Silva, aluna do 8º período de Turismo em Currais Novos, participa do projeto desde o início de 2013, e ficou responsável pela organização da trilha de Cerro Corá. “Além de ser uma paisagem muito bonita, tem todo o ecos-sistema da caatinga e do Seridó, mas com aspectos diferenciados por ser uma região serrana”, explica.

A estudante destaca o aprendizado nos âmbitos acadêmico e social. “A gente aprende como trabalhar com a comuni-dade local e a importância da inserção das pessoas no projeto para que ele realmente funcione”, conta. Ednaja destaca ainda a integração das cidades. “O turista virá conhecer o Seridó e não apenas um mu-nicípio, dando visibilidade aos atrativos diferentes que eles têm”, analisa.

Há dois anos, estudando o potencial do Seridó, a equipe pretende lançar em dezembro deste ano um site para divul-gar as trilhas ecológicas e a infraestrutura turística dos lugares, como pousadas e contatos de guias locais.

“Nosso objetivo é ajudar a organizar o turismo no Seridó para que as trilhas possam ser comercializadas pela própria comunidade, virando uma fonte de renda para a população”, explica a coordenadora.

Para despertar o interesse de visitantes e facilitar a escolha das trilhas, a página também vai contar com fotos das atrações e mapas produzidos pelos pesquisadores

da UFRN, bem como informações sobre a geografia e a história dos municípios.

“Queremos atrair pessoas do próprio estado e turistas que vêm conhecer as belezas naturais do Rio Grande do Norte. O maior foco de visitações é o litoral, mas o interior tem um grande potencial que pode ser desenvolvido”, avalia Clébia Silva.

empreenDeDorismoA equipe da UFRN vai capacitar a

população local por meio de cursos de empreendedorismo. Com duração de 20 horas, as primeiras turmas já estão sendo formadas, começando pela cidade de Acari.

“A ideia é habilitar a população para que ela possa gerenciar as atividades, gerando ren-da e, ao mesmo tempo cuidando da nature-za”, afirma a coordenadora da iniciativa.

Há sete anos trabalhando como guia turístico em Cerro Corá, Ronivon Pereira de Araújo aprova as ações da UFRN. Ele espera que a divulgação não só aumente o número de turistas na região, como tam-bém daqueles que procuram maior con-tato com a natureza. “Esperamos receber mais pessoas interessadas em ecotrilhas. As paisagens daqui são convidativas para esse tipo de atividade, mas a procura ainda é baixa”, diz.

UFRN promove desenvolvimento do turismo ecológico e da economia na região do Seridó

EXTENSÃO

Ednaja Faustino e Clébia Silva: Cursos de empreendendorismo capacitam população local

Wallacy Medeiros

Atividade busca divulgar e preservar a natureza do sertão

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Por LUCIANO GALVãO

Qual a im­portância do marco regulatório da co­municação social para a sociedade?

Queria começar a responder saudando o fato de, na Argenti-na, a Suprema Corte ter considerado le-gais quatro artigos do marco regulatório argentino que eram

contestados desde 2009, pelo Clarín, um grupo de dimensões semelhantes à Glo-bo no Brasil. Isso significa que a Lei de Meios argentina pode ser colocada toda em funcionamento, e a principal questão que ela aborda é determinar que canais de televisão e rádio – a lei não mexe com a imprensa escrita – devem ser concedidos um terço para emissoras estatais, um terço para as privadas e um terço para emissoras comunitárias. Portanto, o Clarín continua dono, embora não mais com o número de licenças que tem hoje.

No Brasil, a Constituição também de-termina que deve haver complementari-dade entre os sistemas público, privado e estatal, mas não temos leis para colocar isso em prática. O exemplo argentino demonstra a importância de uma le-gislação para ampliar a liberdade de ex-pressão, na contra-mão do que dizem as empresas de comunicação: para elas, um marco regulatório é sempre uma forma de censura, quando, na verdade, é uma maneira de acabar com a censura que os veículos fazem.

A concentração dos meios de comuni-cação é um problema histórico no Brasil. Cada vez menos famílias concentram um número maior de veículos, e isso traz con-sequências graves para nossa democracia, porque as vozes de outros grupos não conseguem ser ouvidas. Para usar uma ex-pressão clássica, as ideias da classe domi-nante acabam sendo as ideias dominantes da sociedade.

Para combater essa situação é necessária uma regulação como a que foi feita na Ar-

gentina. Nossa Constituição tem cinco arti-gos que tratam muito bem da comunicação social e proíbem os oligopólios, mas eles nunca foram regulamentados. Uma Lei de Meios não seria nenhum fantasma, mas a penas a regulamentação do que prevê a Constituição Brasileira.

em que estágio se encontra a ela­boração de um marco regulatório para o Brasil?

Em 25 anos, desde 1988, foram ela-borados pelo Executivo, em governos diferentes, 19 anteprojetos de lei para regulamentação da comunicação social. Nenhum deles foi enviado ao Congresso Nacional. Alguns até foram discutidos, ainda que minimamente, mas sempre houve um temor dos governos de mandar para o Parlamento uma proposta que os

colocasse em conflito com as empresas de comunicação. Esse temor se deve ao fato de que os meios de comunicação têm o poder de enfraquecer as gestões e até de derrubá-las.

Mas isso precisa ser enfrentado por uma lei democrática, que permita a ou-tras vozes falar na sociedade. Já que o Exe cutivo não a faz, e o Legislativo tam-bém não – há uma bancada dos radiodi-fusores que impede qualquer avanço na luta pela democratização da comunica-ção por meio do Parlamento – a socie-dade organizada começou a fazê-la. Há uma proposta para levar ao Congresso Nacional um projeto de Lei de Meios de iniciativa popular, e estão sendo coleta-das as assinaturas para torná-la possível, mais ou menos nos moldes do que acon-teceu com a Lei da Ficha Limpa.

Como se dá a participação dos ci­dadãos nesse processo?

Isso tem a ver com a discussão da Lei de Meios de iniciativa popular, que con-templa em um dos artigos do projeto a criação de órgãos reguladores como os que existem na Europa, nos Estados Uni-dos e, agora, na Argentina. A proposta é fazer a mediação entre a sociedade e os meios de comunicação, por meio de conselhos que integram representantes da sociedade.

Também é relevante falar da im-portância de se criar um conselho es-tadual de comunicação no Rio Grande do Norte. A Constituição Federal deter-mina a criação do Conselho Nacional de Comunicação, que depois de muita luta foi instalado e funciona como um órgão auxiliar do Congresso. A partir daí, todos os estados têm o poder de criar seus con-selhos estaduais, nos mesmos moldes do Conselho Nacional.

Em dez constituições estaduais há a figura do Conselho Estadual de Co-municação. Dessas dez, apenas quatro criaram os Conselhos. Dos quatro, so-mente um funciona, na Bahia. No Rio Grande do Norte, a constituição esta-dual não prevê o conselho, mas isso não impede que parlamentares apresentem projetos para sua instalação. Eu insisto na importância de os deputados toma-rem a frente nesse processo.

Os conselhos permitem, de forma institucionalizada, a participação dos ci-dadãos na definição das políticas públi-cas para a comunicação social. O Estado não tem orçamento para anúncios? Não tem trabalhos de comunicação rural? Não pode ter projetos de comunicação nas es-colas? Todos esses são temas que devem ser debatidos pela sociedade no conselho estadual. É um espaço público para a dis-cussão das políticas de comunicação.

Qual o papel da academia nesse debate?

É fundamental, tanto do ponto de vista político quanto da perspectiva da construção do conhecimento. Volto para o exemplo da Argentina: a Lei de Meios daquele país foi construída praticamente pela academia. É uma lei com embasa-mento científico, fruto de pesquisas de universidades argentinas sobre as le-gislações de meios mais democráticas do mundo. Além da formulação da Lei, a participação das instituições foi im-portantíssima do ponto de vista político, porque foi nas universidades onde o de-bate cresceu, onde foi fomentado por es-tudantes e professores, que depois foram às ruas com outros setores da sociedade para exigir do Congresso a aprovação da Lei de Meios.

No Brasil, infelizmente, esse é um as-sunto – salvo raras e honrosas exceções – invisível. Quase um tabu. Em algumas escolas, formam-se pessoas para aceitar as coisas como estão, de maneira passiva, mas acredito que começar a discutir uma Lei de Meios na academia é o primeiro passo. Não apenas nos cursos de Comuni-cação Social, mas também nos cursos de Direito é preciso debater a legislação de meios existente em vários países. Os Es-tados Unidos, a pátria do liberalismo, têm uma lei de 1933 sobre o assunto. Equa-dor, Venezuela, Bolívia, Uruguai, França, Inglaterra e os países nórdicos também. Aqui, quando falamos nisso, dizem que é censura. Há censura na Inglaterra? A In-glaterra é uma ditadura? Não é. E ela tem uma excelente legislação de meios, apri-morada depois de escândalos com escu-tas telefônicas irregulares. Penso que esse é um tema da academia. A Universidade tem que entrar nisso.

“A academia é fundamental no debate sobre regulação dos meios de comunicação”

entrevista

ano XV | nº 67 | novembro de 201311Jornal da UFRN

Laurindo Leal Filho. professor da USP

Wallacy Medeiros

Laurindo Leal Filho, carinhosamente tratado por Lalo entre os colegas, é livre-docente em Comunicação Social. O professor da Universidade de São Paulo (USP) esteve em Natal em outubro, quando participou do 8º Mutirão Brasileiro de Comuni-cação – evento sediado no Campus Central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) entre os dias 27 e 31, sob a coordenação acadêmica do professor Juciano Lacerda, do Departamento de Comunicação Social.

Em entrevista ao Jornal da UFRN, Lalo discorreu sobre a necessidade de serem

criadas leis que definam regras para a atividade das empresas de rádio e de televisão no Brasil. Para o pesquisador, uma legislação que discipline a atuação dos veículos de comunicação – no jargão jurídico, chamada de marco regulatório – é uma ferramenta para democratizar os meios, apesar de o discurso das empresas taxar qualquer inicia-tiva do tipo como censura. O professor destaca o protagonismo das universidades no debate, tanto politicamente, no papel de inaugurar a discussão da temática, quanto na produção do conhecimento necessário para o enfrentamento da questão.

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Por MARCOS NEVES JR.

Seja por sua relevância artística e social ou por sua presença ostensiva em lo-cais públicos, é impossível ignorar o

impacto que as imagens do grafi te causam no espaço urbano. As fi guras multicolori-das, os traços peculiares e a expressividade característica dessa arte das ruas cada vez mais fazem parte do cotidiano das cidades.

No Campus Natal da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), tal fenômeno também pode ser observado. Basta uma simples caminhada, ainda que distraída, por locais como o Setor II de au-las, o Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA) e o Departamento de Artes (DEART) e lá estão os grafi tes como parte integrante da paisagem.

Essa fusão do espaço público com a arte é uma das características mais marcantes do grafi te. É como se muros e paredes se transformassem em grandes telas ao ar livre prontas para receber as pinturas e, uma vez utilizadas, tornassem esses locais enormes galerias. Não é à toa que essa capacidade do grafi te tem despertado o interesse de críti-cos de arte e estudiosos da área.

De acordo com Laurita Salles, professo-ra de Gravura e Área Gráfi ca e vice-coorde-nadora do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da UFRN, o grafi te, em comparação

a um quadro, estabelece uma relação bas-tante diferente com aquele que o observa.

“O quadro confi gura o que se chama de uma zona de fi cção autônoma, ligada ao abstrato. Já o grafi te não cabe e nem se limita ao quadro, ele se coloca diretamente no espaço do mundo concreto. Duas jane-las podem ser dois olhos de um rosto. Es-teticamente tem uma riqueza enorme” – explica Laurita.

Porém, com todo seu valor estético, o grafi te ainda é, muitas vezes, tratado com preconceito enquanto manifestação artística. “É uma atividade de minorias e isso ressalta a marginalidade da cor do movimento, mas o importante é a arte”, afi rma Pedro Ivo, recém-graduado em Le-tras na UFRN e grafi teiro produtivo em Natal, tanto no Campus quanto fora dele.

Em virtude dessa marginalidade atribuída à arte dos grafi teiros, as inter-venções praticadas por eles são eventu-almente apagadas por proprietários ou administradores desses espaços, sejam públicos ou privados. O confl ito se dá por compreensões divergentes sobre o que são e como devem ser utilizados esses locais.

“Há uma fricção insolúvel entre grafi -teiros e instituições. No pensamento do grafi teiro, as paredes são espaços que es-tão naturalmente disponíveis para que ele se expresse, enquanto a instituição tem de cuidar do patrimônio público. E ambos têm razão”, analisa Laurita Salles, que vem

se interessando pela manifestação nos úl-timos anos, inclusive ensinando técnicas aplicáveis ao grafi te em disciplinas minis-tradas no DEART.

Pedro, no entanto, não teve problemas ao realizar suas pinturas na Universidade. Embora reconheça que o grafi te não é uma unanimidade no Campus e nos demais es-paços urbanos, o artista é categórico quan-do fala sobre suas intervenções na UFRN. “Não encontrei resistência, pois tenho aceitação positiva do meu trabalho. Eu não danifi co objetos, dou-lhes tom de arte, pinto-os com as técnicas do grafi te”, afi rma.

Num exercício de associações, é pos-sível perceber que a palavra grafi te tem semelhanças com outras que fazem parte do cotidiano, como ortografi a, caligrafi a e gráfi ca, ligadas ao registro sobre uma su-perfície. A origem é o termo grego “graphe-in”, que signifi ca sulcar, técnica usada para escrever nos tempos da Grécia Antiga.

Atualmente, não mais por meio de sulcos, mas com o uso das tintas, os grafi -teiros registram fatos, inquietações e senti-mentos. Nesse sentido, Laurita Salles afi r-ma que o grafi te é uma forma de marcar posição, uma maneira de dizer que existe e deixar isso bem registrado. Justamente como Pedro faz, afi rmando que nunca se sabe onde a intervenção vai acontecer e que a escolha é ao acaso.

“As motivações são pessoais, mas con-fi guro relações com a sociedade, trocando

o espaço conjunto pela oportunidade de lhes dar arte. O grafi te não é político e nem apenas artístico. Na verdade, é como criar uma poesia, não se sabe bem porque se faz, mas pulsa do artista para o muro”, explica Pedro.

Desde seu surgimento como mani-festação artística urbana, na década de 1970, em Nova Iorque, o grafi te transmite uma mensagem de protesto, de refl exão. Nos anos 1980, auge da Guerra Fria, Ber-lim e o muro que separava os dois lados da capital alemã, também conheceram a força dessa arte. O reconhecimento do grafi te é tão grande que um trecho de 1,3 km do antigo monumento à divisão, forma atu-almente a East Side Gallery, espaço total-mente dedicado a grafi teiros de 20 países diferentes, pintado em 1990.

Por enquanto, a arte de rua produzida no Brasil ainda não alcançou o nível de prestígio obtido nos Estados Unidos e na Alemanha. Mas o que pode parecer um cenário distante vai exatamente ao encon-tro do discurso de Pedro Ivo, que nutre es-peranças de uma realidade diferente para a sua arte.

“A cidade é alvo do descontrole huma-no. Talvez um dia o caos se organize por si só, num lugar com pessoas preocupadas conjuntamente com esse tema, e, assim, produza arte de grafi te em lugares pensa-dos, com diálogo mais aproximativo entre estado e artista”, idealiza Pedro.

ano XV | nº 67 | novembro de 201312Jornal da UFRN

GRAFITE

Arte das ruas dá cores diferentesa prédios do Campus Central da UFRN

Wallacy Medeiros