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A
RAIZ
DE
TODO
MAL Fillipe Mendes Cotta
© 2018 Fillipe Mendes Cotta
PERMISSÃO
Você é permitido e incentivado a reproduzir e distribuir este material em
qualquer formato, desde que não altere a redação de forma alguma e não
cobre taxas além do próprio custo de reprodução. Para publicação na web
é necessário um link para este documento no site de distribuição. Qualquer
exceção ao acima mencionado deve ser aprovada pelo autor.
Capa: Canva. Uso com permissão.
Fonte do texto: Garamond
Todas as citações bíblicas pertencem à Nova Versão Internacional (NVI).
Todas as ênfases nas citações bíblicas são do autor.
DEDICATÓRIA
Ao Senhor da Palavra, que nos livrou de todo mal
com mão poderosa e salvação.
À minha esposa amada e fiel companheira, Thalita
Cotta e aos meus filhos, herdeiros da promessa, Sofia e
Samuel.
Ao meu irmão em Cristo e ovelha querida no
Senhor, Luiz Gustavo do Nascimento Almeida, pelo
trabalho valioso de transcrição dessa mensagem.
SUMÁRIO
PREFÁCIO ...................................................................... 6
INTRODUÇÃO.............................................................. 7
O PROBLEMA DO HOMEM ................................... 10
A MELODIA DO NOSSO TEMPO ........................ 14
NOSSO PRÓPRIO PECADO ................................... 20
O SURTO AUTÔNOMO ........................................... 23
A QUEBRA PACTUAL .............................................. 29
CONCLUSÃO ............................................................... 32
PREFÁCIO
O texto que está diante de você foi originalmente
pregado, não escrito. Uma mensagem com o título “a raiz
de todo mal”, proclamada pela primeira vez no ano de
2016, na Igreja Presbiteriana de Eldorado, em Contagem
–MG, onde tenho a graça de servir como pastor. Depois
de proclamada, por uma iniciativa de uma ovelha em
Cristo, Luiz Gustavo, que transcreveu o áudio da
mensagem, essa mensagem tornou-se um manuscrito que,
revisado aqui e ali, tomou a forma que o leitor tem em
mãos agora. O propósito se manteve: proclamar a verdade
do evangelho, que nos ensina que o problema humano é
o pecado e que a única solução se encontra em Cristo.
Sendo assim, esse livro tem como propósito alcançar os
perdidos e anunciar o evangelho de modo simples. Minha
oração é que essas palavras possam trazer grande
consciência de pecado, arrependimento sincero e salvação
em Cristo.
INTRODUÇÃO
Qual é o problema com o homem? Qual é o problema
do homem? Ou ainda: Por que nós estamos como
estamos? Por que as coisas estão como estão? Por que
nos sentimos tão desajustados nesse planeta? Por que há
tantas guerras, tanta opressão, tantas confusões, tantas
dificuldades?
Por vezes, somos inclinados a olhar ao redor, buscando
encontrar uma solução para o problema humano. São
tantas as pesquisas, tantas as especulações e filosofias
humanas, tantos os “ajuntamentos” e reuniões a fim de
buscar compreensão acertada sobre o problema da
humanidade e encontrar saídas para resolvê-lo.
Tragicamente, nessa busca para descobrir a raiz do
problema, o pecado é, quase sempre, desconsiderado.
Nessa busca, alguém poderia arriscar, supondo que o
problema talvez estivesse nas conjunturas políticas, ou
mesmo nas circunstâncias sociais: riqueza, pobreza,
exploração, a relação entre o mais forte e o mais fraco,
entre o mais rico e o mais pobre.
Outra opção seria pensar que o cerne do problema está
nas condições psicológicas fragilizadas do homem
contemporâneo. Nesse caso, nossas doenças psicológicas
seriam como que raízes do problema humano: crises,
depressões, melancolias, enfrentamentos diversos, os
quais nos ferem no coração e na psique.
Ainda outra tentativa poderia propor que podemos
encontrar a essência do distúrbio humano nas estruturas
econômicas: “mude a estrutura econômica e tudo voltará ao
normal”, alguém poderia dizer.
As tentativas são diversas e, frequentemente, a busca
por respostas se dá apenas “olhando para fora”, sempre ao
redor, esquecendo-se, com muita frequência, que a
verdadeira tragédia humana, como nos revela as
Escrituras, é o que está no próprio homem: seu pecado.
Bem, deixe-me colocar isso de modo claro: se
voltarmos aos questionamentos: Por que tudo está como
está? Por que as coisas estão indo de mal a pior? Por que
olhamos ao redor e percebemos um mundo sem direção?
A resposta, na verdade, é bem simples e direta: porque
desobedecemos a Deus e, assim como Adão e Eva,
tentamos nos esconder de sua presença e sufocar sua
verdade (Rom 1:18-25). Nós transgredimos a lei de
Deus (I João 3:4) e perdemos nossa retidão original.
“A corrupção pecaminosa do nosso coração é a raiz de
todos os nossos dilemas”.
O PROBLEMA DO HOMEM
“Ouvindo o homem e sua mulher os passos do Senhor Deus que
andava pelo jardim quando soprava a brisa do dia, esconderam-
se da presença do Senhor Deus entre as árvores do jardim. Mas
o Senhor Deus chamou o homem, perguntando: Onde está você?
E ele respondeu: Ouvi teus passos no jardim e fiquei com medo,
porque estava nu; por isso me escondi. ”
Gênesis 3:8-10
Quando olhamos para o capítulo 3 de Gênesis, nas
primeiras páginas da Bíblia, encontramos nessa narrativa
algo que é supremamente importante para a minha e para
a sua compreensão a respeito da raiz de todo mal, ou seja,
a respeito do verdadeiro problema humano.
Na verdade, é extraordinário o fato de que acessamos
a revelação divina, abrindo este livro divino diante de nós
e, de imediato, somos apresentados ao grande problema
do homem e à sua única solução.
Nessas páginas iniciais, somos confrontados por aquilo
que é central sobre o problema que enfrentamos todos os
dias e do qual ninguém pode fugir. Afinal, em Gênesis 3,
descobrimos que o problema principal do homem tem
nome e o nome desse problema é pecado.
Paulo, o apóstolo aos gentios, nos diz, em Romanos 5:19,
que devido ao pecado de um homem, devido à
transgressão de um só homem, o pecado entrou na
história da humanidade e fez de todos pecadores. Por
causa do pecado deste homem, Adão, a presença do
pecado, em culpa e corrupção, se tornou uma realidade
inegável para todos nós.
“Logo, assim como por meio da desobediência de um só homem
muitos foram feitos pecadores, assim também, por meio da
obediência de um único homem muitos serão feitos justos”
(Romanos 5:19 - NVI).
Ainda em Romanos 5:19, descobrimos também qual é o
fundamento do nosso pecado, qual a base de nossa
transgressão, qual a origem de nossa perversão interior.
Paulo usa uma palavra precisa para descrever isso:
desobediência. O problema do homem é o pecado e o
fundamento do pecado é a sua desobediência.
“Logo, assim como por meio da desobediência de um só homem
muitos foram feitos pecadores. (Romanos 5:19 - NVI).
Nesse texto, descobrimos ainda qual é a inclinação ou
pretensão por trás da desobediência: autonomia. Afinal,
a autonomia é o desejo perverso em nosso coração de
realizarmos as coisas do nosso jeito. Autonomia é o
sentimento que nos inclina a querermos ser lei para nós
mesmos, deixando de lado a lei divina, gravada em nosso
coração, não nos sujeitando à vontade de ninguém, a não
ser a nossa própria. A autonomia caminha de mãos dadas
com a desobediência.
A serpente propôs claramente isso a Eva ao questionar
a Palavra de Deus, e Adão acabou seguindo o mesmo
conselho:
“Disse a serpente à mulher: "Certamente não morrerão! ”
(Gênesis 3:4 – NVI)
Foi exatamente o desejo de autonomia, o desejo de
fazer tudo como nós queremos, que levou Adão e Eva a
desobedecerem e pecarem contra o Senhor. Uma
pretensão de sermos divinos, controlando nosso destino.
Michael Horton resume isso de maneira clara e nos ajuda
a concluir esse primeiro tópico:
“Imitando o pai das mentiras a criatura trazida à existência
como a testemunha principal [do Criador] começa a
interpretar a realidade consigo mesma em vez de com Deus
no centro”i.
A MELODIA DO NOSSO TEMPO
Tiago, o irmão do Senhor Jesus, nos propõe questões
desconcertantes em sua epístola:
“De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não
vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês? ” (Tiago 4:1 -
NVI)
De onde procedem as guerras, as contendas? De onde,
senão do problema do nosso coração? De onde procedem
todos os problemas que enfrentamos, rotineiramente?
A doença de nossa sociedade e a corrupção do nosso
coração têm raízes nas inclinações pecaminosas da
natureza humana pervertida. A Palavra de Deus insiste em
nos dizer: nosso problema é o pecado.
“O pecado humano, em pretensa autonomia e
desobediência, é a raiz da decadência humana”.
Entretanto, essa verdade não é recebida facilmente,
tampouco aceita, por muitos ouvidos. Surpreende-nos o
fato de que vivemos em um tempo em que aquilo que a
Bíblia chama de pecado foi elevado a “status de virtude”.
Aquilo que a Escritura condena como pecaminoso e vil,
nossa geração chama de “digno”. Aquilo que na Palavra é
condenável, horrível e desagradável a Deus, nossa cultura
encontra nisso “qualidade e liberdade”.
Olhando para nosso tempo, poderíamos fazer algumas
perguntas:
O que aconteceu com o pecado?
Por que não se fala mais em pecado?
Parece que o pecado anda “fora de moda”. Não que
não pequemos mais – isso não seria mesmo possível - mas
porque não se denomina mais “pecado” aquilo que é
pecado. Outros nomes são usados em substituição, uma
espécie de eufemismo orgulhoso.
A fórmula de como a nossa geração tem lidado com o
pecado é tragicamente simplesii:
1. Não chame mais erros de pecado.
2. Transfira os seus erros para algo não palpável: não
fui eu que pequei foi o mundo; não fui eu que pequei foi a
geração em que fui criado; não fui eu que pequei foi a política;
não fui eu que pequei foram as conjunturas.
3. Terceiro passo, varra para baixo do tapete a culpa
e, então, não existirá mais pecado.
Perceba como é fácil, mude o nome, transfira para alo
não palpável, abandone a culpa, e voilà: já não existe mais
pecado.
O teólogo e pastor americano, John MacArthur Jr., diz:
“O vitimismo ganhou tanta influência que, no que diz
respeito à sociedade, quase não existe mais pecado.
Qualquer pessoa pode escapar da responsabilidade por sua
culpa simplesmente por reivindicar o status de uma
vítima”iii.
Eu não errei, erraram comigo; eu não errei, a minha geração é
que me fez assim. A história que guia nosso tempo é a
história de um homem livre, autônomo, dono de si
mesmo, dono do seu próprio nariz, um homem para o
qual não existe certo, não existe errado, não existe pecado.
Para este homem, a busca da felicidade é o que há de
mais importante e significativo. Afinal, é preciso ser feliz
a qualquer custo. Essa é a melodia do nosso tempo, essa é
a música do nosso tempo. Como diz uma “celebridade”
de nossa música brasileira: ''Vamos viver tudo que há para
viver, vamos nos permitir''1.
“Essa é a história que o mundo conta para nós, mas essa
não é a história de Deus”.
A história a que fomos apresentados aqui, nos
capítulos primeiro, segundo e terceiro de Gênesis é a
história de um Deus, que criou um homem à sua imagem
1 Trecho da música do cantor Lulu Santos: “Tempos modernos”.
e semelhança, tomou-o em suas mãos e o colocou em um
jardim perfeito, dando-lhe tudo quanto precisava: sustento,
morada, companhia, paz, graça, harmonia. Não bastasse tudo
isso, Deus fez com ele um pacto de vida.
O Senhor prometeu vida ao homem, fez promessas e
exigiu obediência perfeita, provando-a a partir de algo tão
pequeno. Afinal, entre tantas árvores que frutificavam no
Éden, uma apenas não devia ser acessada, um fruto
somente não podia ser comido. Através dessa singela
exigência, Adão e Eva poderiam expressar obediência
perfeita a seu Criador, demonstrando gratidão e
submissão. Entretanto, o homem desprezou a Deus.
Muitos olham para a narrativa de Gênesis 3 e
descrevem o pecado de Adão e Eva como apenas terem
comido de um fruto proibido, mas isso simplifica,
demasiadamente, o que aconteceu ali. O pecado deles
pouco teve a ver com o fruto em si, mas tem tudo a ver
com o desprezo pela Lei de Deus.
“O lugar perfeito, circunstâncias perfeitas, um homem
justo, reto e bom, uma exigência mínima, e, ainda assim,
o homem desprezou a Deus”.
Desobedeceram a Deus. Esconderam-se de Deus.
Alienaram-se de Deus: essa é a grande tragédia. Esse é o
cerne do problema. Só assim compreendemos a real
dimensão do conflito humano, afinal o problema do
homem é devido ao seu próprio pecado, à sua pretensa
autonomia e à quebra de seu relacionamento com Deus.
NOSSO PRÓPRIO PECADO
Tudo bem, você pode ler isso e pensar: mas não é tudo
isso óbvio demais? Deveria ser, mas não é.
Deveria ser muito óbvio que o maior problema humano
é devido ao seu próprio pecado, mas há uma tendência em
nós de sempre transferirmos nossos problemas.
Perceba, Adão e Eva estavam em um ambiente perfeito,
com sustento, paz, harmonia, mas mesmo assim pecaram
contra Deus. O problema não está em não assumirmos o
problema, está em não o assumirmos em nós. A questão é
assumirmos o problema, mas não como uma coisa que
está em nós, mas como uma coisa que está fora de nós,
sempre transferindo. Como nos diz Martin Lloyd-Jones:
“os problemas do homem estão nele, e não em seu meio-ambiente”iv.
Davi percebe isso de modo profundamente sincero:
Tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor; por tua grande
compaixão apaga as minhas transgressões. Lava-me de toda a
minha culpa e purifica-me do meu pecado. (Salmos 51:1,2-
NVI)
Sempre empurramos o problema do pecado para não
termos que o assumir como nosso: é mais fácil. Nosso
grande dilema está em transferirmos sempre os nossos
pecados e não assumirmos que a raiz de todo mal é a nossa
própria natureza corrompida.
Caro leitor, essa é uma verdade que devemos encarar,
você sabe bem disso. Você, como eu, sabe que a maior
perturbação que enfrenta está dentro de seu próprio
coração. Sabemos que o maior inimigo que enfrentamos
está mais próximo de nós do que qualquer outra coisa.
Pois eu mesmo reconheço as minhas transgressões, e o meu pecado
sempre me persegue. (Salmos 51:3 - NVI)
Entretanto, preferimos não aceitar isso, preferimos
transferir essa responsabilidade, jogá-la para outro, passá-
la para alguém ou para algo fora de nós.
Isso parece resolver todo o problema. Especialmente
quando escolhemos alguma coisa não palpável: “o problema
não é meu, é o ambiente em que eu vivo”. Se essa transferência
acontecer de maneira adequada, pronto: seu pecado some,
como que no vazio, por que ele foi transferido para algo
não tangível. Ele se desfaz no ar, por assim dizer.
Entretanto, não há escapatória, o problema não se
reconhecerá externamente, mas na corrupção interna do
coração, no aprisionamento humano em si mesmo.
Michael Horton diz:
“Tudo que a Bíblia identifica como pecado, e nossa natureza
reconhece como tal, é algo essencialmente bom que passou
a ser errado. Mais precisamente, é algo que Deus fez e nós
corrompemos. Agostinho definiu a essência do pecado
como sendo virado para dentro de nós mesmos. Em vez de
olhar para cima, para Deus, pela fé e ao nosso próximo em
amor, viramos para dentro de nós. Usamos as boas dádivas
de Deus como armas a serviço de nossa revolta contra ele e
um contra o outro”v.
O SURTO AUTÔNOMO
Gênesis 3 nos diz mais, o texto diz também a nós que
o problema do homem é devido ao nosso próprio pecado
como pretensão de sermos autônomos.
“Autonomia é o desejo em nós de ditarmos leis para nós
mesmos”.
Adão e Eva jogaram fora a lei de Deus. Tomaram o
mandamento de Deus, a ordenança de divina, a orientação
para a vida e simplesmente jogaram na lata do lixo, virando
as costas para seu Senhor e Rei.
No final das contas, todo pecado que cometemos é
contra Deus. É desprezo por Deus. É fruto de estarmos
cansados de Deus. Novamente, Davi nos ajuda aqui:
Contra ti, só contra ti, pequei e fiz o que tu reprovas, de modo
que justa é a tua sentença e tens razão em condenar-me. Sei que
sou pecador desde que nasci, sim, desde que me concebeu minha
mãe. (Salmos 51:4,5 – NVI)
Deus nos diz: “faça assim”, mas preferimos fazer de
outra forma. O plano de Deus para sua vida é “assim e
assim”, mas você prefere guiar a sua vida da forma como
quer. Talvez diga: “deveria pedir orientação a Deus, mas vou
fazer as coisas do meu jeito e arriscar”. O Senhor se entristece
com isso:
O tempo todo estendi as mãos a um povo obstinado, que anda por
um caminho que não é bom, seguindo as suas inclinações; (Isaías
65:2 – NVI)
"Mas o meu povo não quis ouvir-me; Israel não quis obedecer-me.
Por isso os entreguei ao seu coração obstinado, para seguirem os
seus próprios planos. (Salmos 81:11,12 – NVI)
A autonomia humana é obstinação vil, um surto
pecaminoso de autonomia. D.A. Carson resume assim o
“surto autônomo” humano:
O âmago de nossa rebelião ímpia é o fato de que cada um
de nós deseja ser o número um. Fazemos de nós mesmos o
foco de todos os nossos pensamentos, esperanças e
visualizações. Essa ambição de ser o primeiro se expressa
não somente em ódio, guerra, cobiça, imoralidade, malícia,
amargura e outras coisas, mas também em justiça própria,
autopromoção, religiões inventadas e deuses
domesticadosvi.
Esse “surto” está diretamente relacionado à tentação no
jardim. Isso porque a primeira tentação acontece quando
Satanás incita Adão e Eva a deixarem de lado a lei do
Altíssimo. O grande pastor e teólogo Joel Beeke resumiu
as “técnicas” de Satanás de maneira acertada:
1. Satanás colocou a ordem de Deus de modo negativo. Perguntou a
Eva: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore
do jardim?” (Gn 3.1). Deus, na verdade, havia dito que
Adão e Eva podiam comer de todas as árvores do jardim do
Éden, com exceção de uma. Eva corrigiu a Satanás, dizendo:
“Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do
fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus:
Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não
morrais” (Gn 3.2–3).
2. Satanás denegriu a motivação e o caráter de Deus. Ele disse a
Eva: “É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no
dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como
Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gn 3.4–5).
Satanás procurou impugnar o caráter de Deus, persuadindo
Eva a questionar sua bondade. Deus não era bom e justo,
sugeriu, pois restringira sua liberdade e proibira que
comessem da árvore do conhecimento do bem e do mal.
3. Satanás disse que o homem poderia ser como Deus. Satanás
procurou transferir o seu próprio alvo para a raça humana,
quando disse a Eva: “Deus sabe que no dia em que dele
comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis
conhecedores do bem e do mal” (Gn 3.5). Noutras palavras,
Adão e Eva poderiam decidir, por si mesmos, o que era
certo ou errado e o que eles queriam fazer. Não precisavam
ouvir a outros, nem mesmo a Deus. Podiam ser seus
próprios deuses. Mas esta era uma meia verdade, pois
poderiam conhecer o bem e o mal, mas jamais poderiam ser
como Deus. Satanás também não explicou que sem a graça
divina, eles não teriam o poder para fazer o bem, nem para
evitar o mal.
4. Satanás procurou fazer o pecado parecer bom. Gênesis 3.6 nos
diz: “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer,
agradável aos olhos e árvore desejável para dar
entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também
ao marido, e ele comeu”vii.
Veja, é exatamente isso que ele continua fazendo até
hoje. É precisamente isso que o inimigo continua
propondo ao nosso coração, quando nos diz:
- “Não se submeta à vontade de Deus, confie em suas ideias, não
se renda ao mandato de Deus, às ordenanças divinas. Sejam
livres, vocês não precisam temer as consequências, façam como
quiser, não tenham medo do juízo, isso é bobagem. Haja do jeito
que lhe apraz. Deus proibiu comer desse fruto, mas isso é chatice
de Deus...”
O problema do homem é a pretensão em ser dono do
seu próprio nariz. Sua vaidade e falta de temor o
conduzem ao erro.
“Nosso egocentrismo é profundo. É tão brutalmente
idolatrado, que tenta dominar o próprio Deus. Em nossa
insensatez desesperada, agimos como se pudéssemos ser
mais espertos do que Deus, como se Ele nos devesse
explicações, como se fôssemos sábios e determinantes
quanto a nós mesmos, e Deus existisse apenas para
satisfazer nossas necessidades”viii.
Repetidamente, somos tentados a cometer o mesmo
erro de Adão, o erro de rejeitar a lei de Deus e sua vontade
soberana, trocando-a por nossa “esperteza”, por nossos
caminhos, supostamente, melhores. A sabedoria bíblica
diz em Provérbios:
“Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele
são os caminhos da morte”. (Provérbios 14:11,12 – NVI)
E qual seria o fim dessa desobediência autônoma?
Trágico, o homem termina escondido atrás de uma árvore,
alienado de Deus, pois quebrou a aliança de vida com seu
Criador. O Senhor nos deu vida e nós a jogamos fora. Por
fim, é como Agostinho afirma, um homem autônomo que
se perde, buscando encontrar onde nada há:
“é assim que a alma peca, quando se aparta e busca fora de Vós
[Deus] o que não pode encontrar de modo puro e transparente, a não
ser regressando a Vós de novo”ix.
A QUEBRA PACTUAL
Pecado e autonomia e no mais profundo a quebra do
seu relacionamento com Deus.
Quando examinamos Gênesis 1:27: “E criou Deus o
homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher
os criou”, percebemos que Deus não criou o homem e o
abandonou à própria sorte. Não! O texto diz que Deus
criou o homem à sua imagem e semelhança, fazendo-o
refletir algo de si mesmo, de seu caráter reto, de sua beleza,
de sua capacidade, de sua inteligência. Mais que isso:
naquele jardim Deus decidiu se relacionar com o homem.
Isso não é esplêndido?
Quão infinitamente inferiores a Deus nós somos e,
ainda assim, por condescendência e bondade Ele faz uma
aliança com o homem:
“Tão grande é a distância entre Deus e a criatura, que, embora as criaturas racionais lhe devam obediência como ao seu Criador, nunca poderiam fruir nada dele como bem-
aventurança e recompensa, senão por alguma voluntária condescendência da parte de Deus, a qual foi ele servido significar por meio de um pacto”x.
Adão, naquele jardim, não usufruía apenas de
circunstâncias perfeitas, mas da presença gloriosa e da
íntima relação pactual com o Deus Criador do universo.
Afinal, Deus decidiu se relacionar conosco e essa é a vida
eterna.
Como o pecado afetou tudo isso? Quebrou a aliança e
pôs fim ao relacionamento amoroso de Deus com o
homem.
A exigência de Deus era tão pequena: não coma do
fruto de uma única árvore. Isso faz com que a ofensa de
Adão seja ainda maior, afinal é exatamente por ser tão
pequena a exigência que a ofensa se torna tão grande.
Adão e Eva se prenderam à proibição, deixando de lado
as dádivas incontáveis de Deus, presentes naquele jardim.
Desobedeceram a Deus. Quebraram toda a Lei de
Deus, fazendo de sua autonomia seu próprio deus.
Perderam o temor do Senhor e, consequentemente, como
diz o puritano Thomas Watson: “a falta do temor de Deus é a
causa natural de toda a impiedade”xi. Tendo quebrado a
aliança, o homem perdeu sua direção, perdeu sua vida e,
enquanto estivesse separado de Deus, o homem estaria e
está perdido.
Essa é a resposta. Essa é a tragédia. Esse é o cerne do
distúrbio. Essa é a raiz de todo mal no homem e no
mundo. O pecado e seu poder parasitário, que a tudo
corrompe.
CONCLUSÃO
O problema do homem é o seu pecado, sua autonomia
e a quebra do seu relacionamento com Deus.
Sem Deus nós estamos perdidos, sem Deus nós
estamos assim como Adão e Eva estiveram, escondidos,
fugindo da presença divina e alienados de Deus.
Qual foi a resposta deles ao chamado de Deus depois
de pecarem? ''Eu ouvi a tua voz e por isso me escondi, eu ouvi o
Senhor chamando e por isso com medo fui para atrás de uma árvore''
Tenho a tendência de pensar que esse esconderijo de
Adão é, enormemente, ridículo, afinal tentar se esconder
do Deus Criador atrás de uma árvore parece uma coisa
pueril e tola. Entretanto, é exatamente o que fazemos
quando pecamos. É exatamente o que você faz quando
vira as costas para Deus.
Também corremos para trás de alguma coisa ridícula
para nos escondermos de Deus. Tentamos fugir de sua
presença. Sempre um esforço vão. Todavia, assim como
foi com Adão, o Senhor nos chama a responder por nosso
pecado: ''Adão onde estás?'' A voz de Deus foi o chamado
para identificar não a localização, mas em que condição Adão
se encontrava.
Cedo ou tarde, todo homem ouvirá essa pergunta de
novo: ''onde você está?'' Já pensou a esse respeito? Como
poderá responder a essa questão? Quem pode permanecer
diante do Senhor? Adão estava perdido e nós também
estaríamos se não fosse a graça de Deus.
Entretanto, tenho que dizer que essa história não acaba
com essa pergunta, essa história não termina com Adão
perdido e escondido atrás de uma árvore; definitivamente,
não.
Essa história termina com um Deus de graça que provê
salvação a esse homem perdido em pecado, alienado e
fugindo da fonte de vida. Termina com a graça desse
Senhor Eterno, libertando e trazendo vida a esse homem.
“O homem, tendo-se tornado pela sua queda incapaz de
vida por esse pacto, o Senhor dignou-se fazer um segundo
pacto, geralmente chamado o pacto da graça; nesse pacto
ele livremente oferece aos pecadores a vida e a salvação por
Jesus Cristo, exigindo deles a fé nele para que sejam salvos;
e prometendo dar a todos os que estão ordenados para a
vida o seu Santo Espírito, para dispô-los e habilitá-los a
crer”.
Eles se perceberam nus e Deus cobriu a nudez deles,
eles estavam perdidos e Deus foi ao seu encontro, eles
estavam dominados e envolvidos pelo pecado e Deus deu
a eles a direção da vida.
A mensagem de vida é Jesus.
O Senhor Jesus é o descendente santo da mulher (Gen.
3:15), que fez aquilo que Adão não pôde fazer. Adão era
nosso representante naquele jardim, mas Jesus foi o nosso
representante na cruz. Naquilo que Adão falhou, Jesus
venceu; enquanto Adão desobedeceu no jardim, Jesus
obedeceu no deserto e na dor; enquanto Adão pecou,
Jesus foi completamente justo e sem pecado; enquanto
Adão quebrou a lei de Deus, Jesus foi obediente até a
morte e morte de cruz (Filipenses 2:5-9).
Se a solução para todo mal está em Cristo, precisamos,
então, deixar que estas perguntas nos confrontem: ''Onde
nós estamos? Onde você está? Qual é a sua condição?''
Nosso pecado é a raiz de todo mal e não existe
possibilidade alguma de resolvermos esse problema por
nós mesmos. “O pecado produz culpa” e atola o homem em
desgraça. “O pecado contamina”, tomando todo o ser do
homem “e sua infecção penetra profundamente”. “O pecado leva a
insensatez e autoengano”. E sobretudo, “o pecado nos coloca em
perigo”xii afinal o maior de todos os perigos é estar diante
do Deus Eterno, sem Cristo, sem o sangue do cordeiro, e
ouvir sua voz a dizer: onde estás?
Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que
condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está
condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de
Deus. (João 3:17,18 – NVI)
O Senhor o chama, nesse momento, a confessar seus
pecados e a se arrepender de cada um deles, vindo a Cristo
para que possa encontrar nele vida e salvação. Venha a
Cristo, por que só o Senhor Jesus tem o caminho de
salvação (João 14:6). Creia nele, arrependendo-se dos seus
pecados (Marcos 1:15).
É possível que você se considerasse um cristão ou
alguém que estivesse em boa condição diante de Deus,
mas, ao finalizar essa leitura, percebeu que Cristo não é
seu Senhor, que não o abraçou pela fé, não fez dele seu
amado, nem sua cidade refúgio. Diante disso, eu o
convido, também, ao final dessa leitura, a se confessar
diante do Senhor, e clamar a ele por graça, perdão e vida.
i Michael Horton. Doutrinas da Fé Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2017, pg. 434.
ii John MacArthur Jr. The vanishing conscience. Dallas: Word
Pub, 1994, Electronic ed., p. 33. iii Ibid, pg.21. iv Martin Lloyd-Jones. Sermões Evangelísticos. São Paulo:
PES, 2008, pg. 44. v Michael Horton. Simplesmente Crente. São Paulo: Fiel, 2016
(ebook). vi D. A. Carson. A cruz no ministério cristão. São Paulo: Fiel,
2009 (ebook). vii Joel Beeke. Lutando contra Satanás. São Paulo: Fiel, 2018,
pg.11,12 (e-book). viii Michael Horton. Simplesmente Crente. São Paulo: Fiel, 2016
(e-book). ix Agostinho. Confissões. São Paulo: Nova Cultural, pg.71,72. x Confissão de fé de Westminster, VII.1. xi Thomas Watson. The Great Gain of Godliness. Edinburgh,
banner of truth trust, pg. 19. xii Sinclair Ferguson. A graça do arrependimento. São Paulo:
Fiel, 2014 (e-book).
SOBRE O AUTOR
Fillipe Mendes Cotta é pastor na IPB Eldorado -
Contagem - MG, mestre em teologia Sistemática pelo
Centro de pós-graduação Andrew Jumper – SP e
professor no Seminário Presbiteriano RDNE em BH.
Casado com Thalita e pai de Sofia e Samuel.
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