A Reabilitação Vestibular na Vertigem

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CEFACCENTRO DE ESPECIALIZAO EM FONOAUDIOLOGIA CLNICA AUDIOLOGIA CLNICA

A REABILITAO VESTIBULAR NA VERTIGEM

VIVIANE MATTES POPPER

ITAJA 2001

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RESUMO

Esta pesquisa terica teve como objetivo analisar a efetividade da reabilitao vestibular no tratamento da vertigem. Verificou-se, ainda, outras formas de tratamento da vertigem como: medicamentoso e cirrgico; suas aplicaes clnicas, indicaes e contra-indicaes Para tanto, foi feito um estudo aprofundado da anatomia e fisiologia vestibular, e outros aspectos relacionados ao quadro vertiginoso (sintomticos, psicolgicos, limitao muscular). O estudo analisou um caso atravs da aplicao dos exerccios de reabilitao vestibular em mulher de 48 anos, na qual foram obtidos resultados, desde supresso dos sintomas patolgicos, restaurao do equilbrio at a provvel cura objetiva da vestibulopatia. Aps analise dos resultados, podemos afirmar que a reabilitao vestibular mostrou-se um mtodo eficaz e adequado, alm de incuo, no tratamento do paciente vertiginoso. As controvrsias em relao etiologia e tratamento da vertigem tem sido tema de grandes discusses, devido a tal polmica este trabalho pode contribuir para que os profissionais da rea possam ampliar sua abordagem teraputica vivenciando um pouco mais sobre os exerccios de reabilitao vestibular, uma importante opo teraputica labirintopatias.

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SUMARY

This exploration theoretical have had like objective to analize the streght vestibular reabilitation in the treatment of dizzy. As certain some athers manners of the treatment of dizzy, like medical and surgical, clinic applications, instructions and against instructions. Consequently, a carried out a study of anathomy and fisiology vestibular and others aspects association in the staff vertiginoso(symton, psychological restraint muscular). The study analyzed a case through application of dries vestibular reabilition in a woman of fourty-eight years old, that results got since suppression of patologics syptons, balance restoration until the problable cure of vestibulopatia. After analysis of results, we can affirm that vestibular rehabilitation showed an efficient and appropriate method harmless in thetreatment patient dizzmess. The controversies in bearing the etology and treatment of dizzy, have being the subject of big discussion, due to controverses this work can contribute fot the profissional majoring in this area, they can extensive thdeal with therapist living a little more about the exercise of vestibular rehabilitation the very important therapist choice.

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SUMRIO 1 - INTRODUO .......................................................................................... 2 - DISCUSSO TERICA 2.1 FISIOPATOLOGIA DO SISTEMA VESTIBULAR .............................. 2.2 VERTIGEM E SINTOMAS ASSOCIADOS ......................................... 2.3 FORMAS DE TRATAMENTO 2.3.1 MEDICAMENTOSO ................................................................ 11 2.3.2 CIRRGICO .......................................................................... 13 4 8 1

2.3.3 REABILITAO VESTIBULAR ............................................... 14 2.3.4 INDICAES E CONTRA-INDICAES ............................... 22 2.4 VERTIGEM E OS ASPECTOS PSICOLGICOS ............................... 24 2.5 INCIDNCIA DE VERTIGEM QUANTO AO SEXO E IDADE ............. 26 3 NA CORDA BAMBA COM O EQUILBRIO: ESTUDO DE CASO ................ 27 4 CONSIDERAES FINAIS ........................................................................ 37 5 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................ 40

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1 - INTRODUO

A palavra vertigem origina-se do latim vertere, rodar, e esse o termo que os pacientes utilizam ao expressar um dos sintomas mais presentes na labirintopatia Doutor est tudo rodando . Diante de erros diagnsticos e tentativas de tratamento fracassados, criou-se o mito de que vertigem no tem cura. Este conceito errneo, e quer-se neste trabalho aprofundar sobre o mesmo. O objetivo desta monografia terica analisar o papel da reabilitao vestibular no tratamento da vertigem. Busca-se verificar quais as principais abordagem teraputicas utilizados no tratamento da vertigem. Pretende-se analisar a efetividade da reabilitao vestibular no tratamento da vertigem; avaliando em quais quadros clnicos de vertigem, seria possvel aplicar a reabilitao vestibular. Busca-se tambm correlacionar os sintomas vertiginosos com outros sintomas otolgicos e psicolgicos. 5

O equilbrio corporal fundamental no relacionamento espacial do organismo com o ambiente. o mais complexo fenmeno sensoriomotor, que nos previne de desequilbrio e quedas ao cho, mesmo quando diante de alteraes estticas (como corpo ereto dentro de um nibus em movimento). Quando h alguma alterao no sistema vestibular, o equilbrio corporal fica comprometido e sintomas como vertigem surgem. Atualmente, com modernos meios diagnsticos e a utilizao correta das diferentes abordagens teraputicas, tornou-se possvel tratar a vertigem. Uma abordagem teraputica que vem destacando-se a reabilitao vestibular. A reabilitao vestibular (RV) foi criada na Inglaterra em 1946 pelo mdico Cawthorne e o fisioterapeuta Cooksey; no Brasil est sendo implantado h duas dcadas. Cawthorne e Cooksey incentivavam pacientes a mexerem a cabea e os olhos em todas as direes mantendo enquanto sentissem a tontura, tendo bom resultados apresentados. Outras experincias foram observadas por outros autores, nesse mesmo perodo, sendo aplicados em pilotos, bailarinos, patinadores e cobaias, todas com xito. Esse tratamento deve ser encarado como uma importante opo, sendo utilizado isoladamente ou associado outros mtodos, e no apenas quando os demais venham a falhar (BARBOSA, 1994). Seu objetivo rever a funo de equilbrio ou torn-lo prximo do normal, permitindo que o paciente novamente execute os movimentos que realizava antes do distrbio vestibular, reintegrando o mesmo as atividades dirias. 6

A RV tem por finalidade orientar a execuo de exerccios que, atravs de estmulos repetitivos, provocaro habituao das vias responsveis pelos sintomas apresentados (BITTAR, 1999). Muitas vezes, torna-se difcil para o profissional das reas correlacionadas, entender o que e quando encaminhar para a reabilitao. Este estudo vem de encontro a tal desinformao, esclarecendo sobre esta proposta teraputica. Para desenvolver este trabalho, que apresenta-se teoricamente,

pesquisou-se em revistas e livros de bibliotecas diversas, acesso a artigos na Internet, anotaes de cursos/congressos e dados obtidos por

otorrinolaringologistas. Apresenta-se em seguida o contedo encontrado sobre a reabilitao vestibular, sendo discutida por diversos autores abrangendo todos seus aspectos.

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2 - DISCUSSO TERICA

2. 1 FISIOPATOLOGIA DO SISTEMA VESTIBULAR

Conhecimentos da fisiopatologia do sistema vestibular e os mecanismos de compensao de equilbrio, so essenciais para entender e implementar um programa de reabilitao vestibular. O equilbrio uma funo sensrio-motora e tem como objetivo estabilizar o campo visual e manter a postura ereta (GANANA & CAOVILHA,1998). Para PEDALINI & BITTAR (1999), o sistema vestibular formado por diversos componentes sensoriais e so eles que auxiliam nosso equilbrio nas atividades dirias como caminhar, pular e at andar de bicicleta. Para que o mesmo ocorra, entram em sintonia os sistemas sensoriais que incluem a viso, a propriocepo e o sistema vestibular, cada um deles contribuem com uma funo especfica, formando nossa orientao espacial. O sistema vestibular informa sobre aceleraes angulares da cabea (direita, esquerda, rotao) e movimentos corporais lineares (frente, trs, cima, 8

baixo), a viso responsvel pela assimilao rpida da movimentao corporal e pela sensao de profundidade. J o sistema proprioceptivo, atravs das estruturas localizadas nos msculos, tendes, etc, que informam sobre o posicionamento das partes do corpo no espao. CASTAGNO (1994) e BENTO (1999) complementam referindo que o sistema vestibular consiste no labirinto, vias e ncleos vestibulares, que se interrelacionam no tronco cerebral com outros ncleos e vias neuronais. No labirinto, os trs canais semicirculares, situados em planos de 90 entre si,

respondem s aceleraes angulares da cabea, enquanto que o sculo e utrculo respondem, principalmente, acelerao linear. Os estmulos do labirinto so conduzidos pelos nervos vestibulares superior e inferior at os diversos ncleos vestibulares, situados no tronco cerebral. A percepo espacial adequada necessita, ainda, da integrao dos centros oculares e proprioceptivos, o que ocorre na substncia retcular e no cerebelo. Projees neurais tambm passam pela substncia retcular para atingir os centros corticais e no sistema oculomotor, resultando no nistagmo. Qualquer alterao nesse intrincado sistema de orientao espacial pode levar a sintomas vertiginosos. GANANA & CAOVILHA (1998) afirmam que os sintomas e sinais de alterao do equilbrio corporal surgem quando h conflito na integrao das informaes vestibulares, visuais e proprioceptivas. Os pacientes vertiginosos diante de situaes como desequilbrio, insegurana fsica e psquicas, provocadas pela tontura, adquirem a postura de no

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se mover, no sair da cama, no abrir os olhos, achando que com o mesmo os sintomas cessam. As bases fisiopatolgicas da RV visam o oposto, ou seja, atravs de exerccios fsicos especficos, provocar fenmenos fisiolgicos que consigam recuperar a orientao espacial e equilbrio esttico e dinmico. Esses fenmenos so chamados de habituao e compensao. Segundo PEDALINI & BITTAR (1999) a habituao, a reduo de respostas sensoriais, baseada na repetio de estmulos sensoriais. um fenmeno obtido por execuo de movimentos repetitivos, que diminuem a resposta vestibular e a amplitude do nistagmo. A repetio alm de promover a adaptao ao movimento, estimula o rgo sensorial, criando novos automatismos. O aspecto mais importante no processo de habituao vestibular a integrao entre as aferncias visuais e vestibulares, alm da fixao ocular. Podemos citar o exemplo de bailarinos, que sofrem repetidos movimentos de exercitatrios do rgo vestibular e que com certeza ao iniciar a carreira precisam treinar muito tais movimentos para habituar seu rgo vestibular aos giros e outros movimentos utilizados em suas apresentaes. Quando giramos

continuamente o corpo e por vrias vezes, provocamos o movimento inercial da endolinfa nos canais semicirculares ao pararmos bruscamente, os lquidos continuam seu movimento, provocando estmulo das ampolas, nistagmo e conseqente desequilbrio. Com o treino repetitivo, girando e fixando o olhar num ponto, a amplitude do nistagmo diminui, mantendo o corpo em equilbrio. 10

BARBOSA (1994) descreve a habituao como um processo de estimulao repetida, ocorrendo um reparo , onde o sistema danificado retorna ao seu estado prvio e funciona normalmente. J o processo de compensao vestibular a mesma autora refere como sendo contnuo e dinmico, onde o Sistema Nervoso Central ( SNC) deve criar uma imitao do labirinto normal. De acordo com PEDALINI & BITTAR (1999), a compensao vestibular o que vem a acontecer quando h uma alterao ou leso no sistema vestibular. Com a perda do funcionamento de um labirinto, comeam a ocorrer os sintomas como nuseas, vertigem e desequilbrio. Se no houver a regenerao do rgo perifrico, o SNC que realiza a compensao. Para que essa compensao acontea o ncleo vestibular, o de maior importncia nessa funo, integra o rgo perifrico o central. Na primeira fase, o crebro inibe a atividade do ncleo vestibular contralateral leso, diminuindo a hiperatividade causada pela falta do outro rgo. Em seguida, devido multiplicidade sensorial do sistema vestibular, criada uma nova atividade intrnseca no ncleo vestibular ipsilateral leso, suprindo a perda do rgo perifrico homolateral. ento efetivada a compensao vestibular, onde os sintomas devem desaparecer. Compensao o mecanismo de recuperao funcional do desequilbrio corporal causado pela leso vestibular. A compensao ocorre nos ncleos vestibulares do tronco enceflico, onde se processa a integrao da informao sensorial visual, proprioceptiva e vestibular (CAOVILHA & GANANA, 1998). 11

Atravs do trabalho readaptivo de habituao e compensao vestibular pode-se chegar a supresso dos sintomas causados pela enfermidade at ao desaparecimento do quadro vertiginoso.

2. 2

VERTIGEM E SINTOMAS ASSOCIADOS

Grande parte da populao j sentiu tontura em algum momento. Podem ser referidas das mais variadas formas e ocorrem em situaes inusitadas. Para ALBERNAZ (1998), as vertigens / tonturas so manifestaes de desorientao espacial advindas do aparelho vestibular e podem ter origem tanto perifrica, central ou psquica. O mesmo afirma CAOVILHA & GANANA (1998) descrevendo que as tonturas podem ser fisiolgicas (no relacionadas com disfunes orgnicas ou psquicas) e no-fisiolgicas (dependentes de disfuno orgnica ou psquica). A estimulao da estruturas sensoriais labirnticas em indivduos sadios pode ocasionar tonturas fisiolgicas. A vertigem das alturas, as cinetoses e as vertigens auditiva, por hiperextenso da cabea, imaginao da viso de objetos em movimento, constituem alguns tipos de tonturas fisiolgicas. 12

A vertigem das alturas devido a falta de referncias visuais fixas prximas, em lugares altos. Geralmente demoram alguns segundos para ocorrer. A intensidade da vertigem depende da postura corporal, sendo maior em p, pela dificuldade de manter o equilbrio nessa posio. possvel impedir seu aparecimento nesses locais, evitando longas permanncias, uso de binculos que ampliam e restringem o campo visual ou olhar para as nuvens que causam iluso de movimento. Nessas situaes h risco de queda, preciso manter os ps firmes no cho e, a olhar para baixo, fixar num alvo estacionrio. As cinetoses fisiolgicas so mais freqentes em crianas com mais de dois anos e em mulheres. Decorrem do conflito sensorial entre os sistemas vestibular e visual locomoo passiva em veculos tais como automveis, barcos, avies, trens, etc.. Nuseas com ou sem vmitos, tontura, medo de cair, aumento de salivao, palidez facial, suor frio e cefalia so os sintomas mais comuns. A recuperao espontnea costuma ocorrer algumas horas depois de cessar a estimulao. Quando o estmulo duradouro, o restabelecimento pode demorar vrios dias. Alm de remdios, a cabea deve ser mantida imvel no mesmo plano da acelerao predominante com os olhos fechados ou fixos no horizonte. Exerccios de reabilitao vestibular por perodo de tempo prolongado podem atenuar ou eliminar a cinetose, bem como evitar o seu aparecimento. A iluso de movimento provocada por uma fonte sonora mvel em torno do paciente constitui a vertigem auditiva, que pode ser acompanhada do assim chamado nistagmo audiocintico. A imaginao de objetos em movimento, com os olhos fechados, pode tambm originar vertigem e nistagmo. 13

As tonturas no-fisiolgicas podem ser oriundas de disfunes em qualquer um dos sistemas estabilizadores do equilbrio corporal (visual,

somatosensorial ou vestibular). A vertigem e outros tipos de tonturas por disfuno vestibular podem ter duas apresentaes diferentes: quadro agudo (crise vertiginosa), representado por intenso episdio vertiginoso de curta durao (algumas horas ou poucos dias) e quadro crnico, configurado por sintomas persistentes ou intermitentes, flutuantes ou no, com ou sem desequilbrio, impresso de desmaio iminente, quedas e manifestaes neurovegetativas, de longa durao. ALBERNAZ (1998) complementa que, a presena de sintomas

associados que, em algumas situaes, so caractersticos de determinadas etiologias faz com que a histria clnica bem feita e a ateno aos detalhes sejam fundamentais para a investigao de pacientes vertiginosos. Segundo um estudo feito por FORMIGONI (1999), o sintoma mais encontrado entre pacientes com quadros vertiginosos, foi a tontura, cerca de 84.6%. Ainda no mesmo estudo, o autor expe que, o segundo sintoma mais comum foi a cefalia em 84.4% dos pacientes. Em toda literatura e relatos de colegas clnicos, podemos observar outros sintomas como: nuseas, vmito, zumbido, desequilbrio, quedas, sensao de desmaio e ainda relatos de cabea vazia ou leve , zonzo e etc. Existem tambm relatos de casos em que os pacientes no apresentam queixas de tontura, mas a ausncia deste sintoma no exclui a possibilidade da vestibulopatia. 14

2. 3 FORMAS DE TRATAMENTO

2. 3. 1 MEDICAMENTOSO

Os pacientes acreditam que sempre haver uma droga para curar sua enfermidade. Atualmente com a divulgao excessiva de algumas marcas de

remdios, as pessoas se auto medicam na esperana de curar sua doena. Ou ainda, o insucesso teraputico atribudo a uma falha mdica e outro mdico ser procurado na certeza de que este possa receitar a droga certa para trat-los. De acordo com RAMOS & RAMOS (1998), a vertigem um sintoma e no uma doena. No tratamento do paciente vertiginoso, o combate dos sintomas o objetivo final, mas no se pode esquecer que a necessidade principal o tratamento da causa quando diagnosticada. Para GANANA (1998), no tratamento da vertigem no h uma droga especfica. No possvel saber qual o melhor remdio para cada doente. A escolha em cada caso depende da experincia clnica e da intuio do mdico. No 15

se deve ignorar a utilidade da medicao antivertiginosa no contexto da mltipla abordagem teraputica. No us-los pode ser erro to grave quanto prioriz-los como nico recurso. Vrias drogas podem tambm ter efeito favorvel, sobre perda auditiva neurosensoriais, associados. Alguns pacientes receiam que suas tonturas possam voltar aps a alta mdica e continuam a tomar o remdio que eliminou as suas tonturas, acreditando que ele o manter sem sintomas. Nesta situao, o uso do remdio antivertiginoso precisa ser descontinuado, pois, alm dos possveis eventos adversos de uma medicao a longo prazo, as tonturas podem reaparecer por um processo de descompensao vestibular induzido pelo prprio medicamento. Para CAOVILHA (1999), a automedicao deve ser sempre condenada, pois pode ser totalmente contraproducente, alm de potencialmente perigosa. O que bom para um paciente pode no ser bom para o outro e pode haver razes de ordem clnica que contra-indiquem o uso de determinado remdio no seu caso. As doses iniciais dos principais medicamentos antivertiginosos devem ser reduzidas gradativamente, assim que houver melhora dos sintomas, para no perturbar os mecanismos da compensao vestibular. Posologias elevadas e terapias medicamentosas a longo prazo podem impedir a adequada compensao vestibular. Casos especiais, no entanto, podem necessitar de medicao prolongada ou permanente. 16 zumbidos, hipersensibilidade rudo e outros sintomas

Em geral, 60 a 90 dias de medicao so suficientes para alcanar o melhor resultado. No final do tratamento, a suspenso da medicao deve ser feita gradativamente para evitar recidivas mais freqentes, quando retirada abruptamente. RAMOS & RAMOS (1998), salientam que o mdico otorrinolaringologista necessita cada vez mais aplicar seus conhecimentos clnicos, para detectar as doenas sistmicas que esto associadas as vestibulopatias. Para isso, os autores recomendam o controle da insulina, da hipertenso arterial e do fumo (dieta nutricional) e exerccios para sade geral. Nos insucessos, a reviso diagnstica e a reformulao da abordagem teraputica deve ser refeitas ou mais precocemente possvel. A cura da vertigem possvel, com modificaes da conduta inicial.

2. 3. 2 CIRRGICO

A vertigem pode ser curada mediante diagnstico correto, tratamento medicamentoso e fisioteraputico. Em outros casos, a doena autolimitada e pode ser bem controlada. A cirurgia indicada quando, apesar do tratamento medicamentoso intensivo, o paciente segue com crises de vertigem incapacitantes. Segundo LAVINSKI & LAVINSKI (1998), a cirurgia torna-se necessria quando a gnese do processo persistente. Nesses casos, o ouvido deve ser 17

corrigido ou abolido. importante notar que, o resultado da cirurgia otolgica depende mais do diagnstico do que da tcnica empregada; como em poucas reas da otorrinolaringologia, essencial que o cirurgio exera plena atividade clnicocirurgica. elevado o nmero de tcnicas disponveis. As indicaes para realizao desse tipo de cirurgias esto relacionadas com as seguintes patologias: doena de Mnire, fstulas perilinfticas, ps-trauma craniano ou cirrgico, vertigens posicionais severas e colesteatomas com fstulas. Para GANANA (2000) os recursos teraputicos fundamentais so os exerccios de reabilitao vestibular e os medicamentos antivertiginosos. A otoneurocirurgia deve ser reservada a situaes especiais, como a exerce de tumores do meato acstico interno e regio do ngulo ponto-cerebelar, ou para tentar atenuar ou eliminar a vertigem em casos incapacitados ou rebeldes a outros tipos de tratamento, como pode ocorrer, por exemplo, na Doena de Menir. A incidncia de cirurgia difcil de precisar, pois varia muito com a populao estudada, nvel socioeconmico e principalmente, em decorrncia da origem dos dados. A incidncia de casos cirrgicos muito baixa entre a populao com que trabalhamos, j que essa populao tem menos acesso medicina e mais tolerante aos sintomas. preciso ter cautela na indicao cirrgica. Os medicamentos disponveis com frequncia permitem abolir os sintomas e esperar que haja compensao espontnea, ou aceler-la com exerccios de compensao vestibular.

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2. 3. 3 REABILITAO VESTIBULAR

Para entendermos o que vem a ser a RV, vamos abordar cada palavra separadamente e ento concluir sobre o tema. Vestibular um termo proveniente do nome vestbulo, que um local dentro do ouvido interno, localizado no rgo que chamamos de labirinto. No Sistema Vestibular existe um conjunto de estruturas sensoriais, que permitem que o nosso corpo mantenha-se em equilbrio tanto parados como em movimento. Reabilitao todo tratamento que requer um treinamento especfico com o objetivo de restabelecer alguma perda de funo motora ou sensorial. Portanto, RV o tratamento usado para treinamento do Sistema Vestibular. Os procedimentos teraputicos de reabilitao procuram restaurar o equilbrio, acelerando e estimulando os mecanismos naturais de compensao, permitindo que o paciente execute o mais perfeitamente possvel os movimentos que estava acostumado a fazer antes de surgir a vertigem. Esses procedimentos visam compensar os distrbios do equilbrio corporal por meio de exerccios repetitivos de estimulao labirntica. Para GANANA (2000), a compensao o processo pelo qual uma funo ajusta-se a uma modificao de sensitividade. Essa compensao depende da idade. Quanto mais jovem o indivduo, mais fcil de obter a compensao vestibular. Para obter resultados similares em idoso, geralmente, necessria total 19

adeso e mxima dedicao ao protocolo da reabilitao, que pode ter durao maior do que no indivduo mais jovem. extremamente importante que o paciente esteja disposto a fazer o que for necessrio para ficar bom, envidando todos os esforos na busca da melhora e da cura. De acordo com BARBOSA (1995), os objetivos da RV so: - Provocar, completar ou melhorar as compensaes vestibulares; - Criar novos automatismos. medida que os conflitos se resolvem, novos esquemas, ento se criam. Para isso a reabilitao dever colocar o indivduo em situaes muito prximas daquelas de sua vida real; - Tornar o indivduo mais seguro possvel. A segurana eleva os limiares de passagem do automatismo ao consciente e facilita a formao de outros. Ou ainda resumindo, a RV tem como objetivo restaurar a funo de equilbrio global ou tornar o comportamento do sistema de equilbrio o mais prximo possvel do normal, permitindo a execuo de movimentos que o paciente queira fazer, e que estava acostumado antes do distrbio vestibular. Desta maneira, os movimentos que compem os exerccios devem ser integrados s atividades da vida diria, sempre que possvel. Segundo PEDALINI & BITTAR (1999), a metodologia mais utilizada a desenvolvida por CAWTHORNE (1944), por aplicar exerccios fceis de serem realizados. Para as autoras, a primeira etapa do tratamento consta de informar ao paciente e familiares quanto anatomia, fisiologia do sistema vestibular e suas alteraes; explicao sobre o efeito que eles provocam, assim como

aconselhamento para mudanas de maus hbitos posturais. A orientao precoce 20

quanto ao prejuzo se adotar estratgias que evitem os sintomas fundamental para que no se tornem crnica. BARBOSA (1995) concorda com a utilizao dos exerccios adotados por Cawthorne, mas sugere outros exerccios e tcnicas desenvolvidas, optando por uma escolha individual de treinamento, seguindo as necessidades de cada caso. Exemplos de tcnicas utilizadas:

* Cawthorne (1944) - olhar para cima e para baixo; - olhar para direita e para esquerda; - aproximar e afastar o dedo, olhando para ele; - mover a cabea (lentamente e depois rapidamente) para

direita/esquerda e para cima/baixo; - sentar e ficar em p (com olhos abertos e depois fechados); - subir e descer escadas; - enquanto de p, fazer voltas de 90 graus; - enquanto caminhando, olhe para direita e para esquerda; - ficar em um p s; - etc.

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* Bologna (1983) - deitar em decbito dorsal e sentar rapidamente; - deitar em decbito dorsal, virar para decbito lateral direita e esquerda; - em p, elevar as mos sobre a cabea olhando para elas; - em p, inclinar o corpo, dobrando-o para frente e voltar; - sentado em uma cadeira que roda, dar duas voltas para direita e para esquerda; - movimentar os olhos em diversas direes; 22

- etc.

* Norr (1976) - sentado, deitar em decbito dorsal; - deitado, rodar todo corpo (em bloco) para esquerda e para direita; - em p girar para direita e depois para esquerda; - inclinar-se para frente e voltar; - seguir um objeto 30 cm de distncia, focalizando-o; - seguir com os olhos a oscilao de um pndulo; - etc.

A mdia total de sesses necessrias varia entre 3 a 4 sesses. O tempo mdio de tratamento de 2 meses aproximadamente com melhora de 80% dos casos. Em alguns casos ser necessrio o trabalho em conjunto com fisioteraputas ou profissionais que auxiliem na reeducao postural, principalmente em relao 23

musculatura do pescoo, pois freqente a falta de flexibilidade desta regio por restrio aos movimentos da cabea (PEDALINI & BITTAR, 1999).

Para GANANA (2000) a vertigem postural, o tipo mais comum de vertigem, merece ateno especial. Todos os pacientes com vertigem postural, isto , vertigem na mudana de posio de sua cabea ou de seu corpo, devem ser submetidos reabilitao vestibular. O paciente solicitado a fazer mudanas abruptas da posio de seu corpo e de sua cabea, na cama ou num sof (ver figura abaixo). Pedimos para o paciente sentar e, rapidamente, movimentar-se para o lado direito com os olhos abertos olhando um ponto a sua frente, ficando nessa posio por dez segundos e, a seguir rapidamente voltando posio inicial. Da mesma maneira, fica mais dez segundos nessa posio e depois repete a manobra para a esquerda. O exerccio deve ser repetido dez vezes parando na posio sentada e dez vezes diretamente de um lado para o outro sem parar no meio, em quatro a cinco sesses dirias at o paciente melhorar substancialmente da vertigem postural. A seguir, o exerccio pode ser realizado apenas pela manh e noite, por mais 30 dias. 24

Mesmo submetido reabilitao vestibular no consultrio, o paciente recebe uma lista com exerccios para efetuar em casa, pela manh e noite. Os exerccios repetitivos visam movimentar os olhos, a cabea, os membros, o tronco, parado e marcha e ao subir e descer. Esses movimentos tornam-se gradativamente mais complexos medida em que o paciente vai melhorando e passa a ter condies para realiz-los. Caminhar tambm um excelente exerccio labirntico. O paciente deve andar pelo menos uma hora fora de sua casa, como parte da prpria reabilitao vestibular.

O paciente vertiginoso tem uma tendncia a ficar de cama onde ele se sente protegido contra as manifestaes da tontura mas, na verdade, quanto mais 25 ele se mexer, melhor. Quanto maior a movimentao fsica, melhor para a resoluo da vertigem.

fisioterapia labirntica sem necessitar de qualquer outro tipo de tratamento. CAOVILHA & GANANA (1998), descrevem que possvel obter cura completa em 30% dos casos ou diferentes graus de melhora em 80% dos pacientes vertiginosos tratados exclusivamente por meio de exerccios de reabilitao. A mudana no estilo de vida como parar de fumar, no ingerir bebidas alcolicas, diminuio da dose diria de caf, evitar situao de stress, ajudam significativamente a melhora. A RV continuar a ser um adjunto para o tratamento mdico e cirrgico de doenas vestibulares e do equilbrio. Atualmente no h padres e cada centro aplica o programa diferenciadamente. 2. 3. 4 INDICAES E CONTRA INDICAES

A RV uma abordagem ainda nova no tratamento das vestibulopatias, e por isso que h discusso sobre em quais casos aplic-la. Nem todos os pacientes com tonturas so candidatos a RV, nem deve ser usada indiscriminadamente para todas formas de tontura ( HAMID,1997). Para PEDALINI & BITTAR (1999), os exerccios de RV so indicados para pacientes que apresentam vertigem crnica e leso aguda no compensada. Embora HAMID descreva contra-indicaes na fase aguda a eventos vestibulares, nos sintomas flutuantes, na leso central e na leso cerebelar, as autoras no concordam com essa postura. Essas contra-indicaes so relativas, pois na prtica tem mostrado benefcios para pacientes atendidos aps um evento agudo, como no caso de labirintectomizados, alm de serem teis na adaptao de pacientes 26

portadores de Sndrome de Mnire. tambm inegvel a melhora dos sintomas residuais de ps-coma, cirurgias neurolgicas e sofrimento cerebral por

insuficincia vascular. GANANA (2000) afirma que os exerccios de reabilitao vestibular, alm de fisiolgicos e altamente eficazes so incuos sem efeitos colaterais . O paciente deve ser acompanhado, por vrias razes, inclusive porque eventualmente o que aparentava ser uma vestibulopatia de origem perifrica no comeo de repente, pode se modificar e passar a apresentar sinais de

comprometimento do SNC, com muito maior gravidade. Alm disso, preciso verificar se a conduta inicial era realmente a mais adequada. Se for necessrio, deve-se modificar o procedimento teraputico; seja a medicao, seja a RV, enfim, tudo que se est fazendo para procurar por todos os meios a resoluo do problema do paciente. O prognstico costuma ser excelente e os resultados so gratificantes, na maioria dos casos. Para cada autor h um parecer, s a experincia em novos casos e a prtica da RV ir nos mostrar qual abordagem a utilizar.

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2. 4 VERTIGEM E OS ASPECTOS PSICOLGICOS

Sabemos que sempre houve grande dificuldade, por parte dos especialista, em diferenciar a vertigem psicognica da orgnica. Essas dificuldades ocorrem com a enorme variedade de termos usados pelos pacientes em descrever seus sintomas. Muitas vezes, sua histria de vida associa o incio da vertigem situaes angustiantes como separao, morte, falncias, abandono, etc. KUHN (1994), descreve que quando a vertigem de origem psicognica, as dificuldades so maiores, devido a sua ligao com as neuroses e a natureza destas. Nas neuroses, os sintomas so a expresso simblica de um conflito psquico que tem razes na infncia e constituem compromissos entre os desejos e as defesas. 28

A ligao entre a ansiedade e vertigem foi sugerida por FREUD (1895), quando descreveu que, metade dos indivduos por ele estudado, apresentaram estado de ansiedade profunda eram exteriorizados e sentidos sob a forma de desequilbrio. O termo desequilbrio utilizado no seu duplo significado tanto fsico quanto psquico, sendo que os pacientes vertiginosos expresso seu desequilbrio psquico atravs do fsico. Na maioria dos casos, a afeco labirntica, deixa os pacientes inseguros e depressivos, levando-os ao isolamento, limitaes nas atividades dirias e sociais. Tal perfil criado pelo medo da tontura, ou seja, as conseqncias que esta pode causar. Com isso, os mesmos tornam-se dependentes dos familiares necessitando deste apoio at para as atividades simples, comprometendo muitas vezes a dinmica familiar. O medo da tontura, ainda leva hbitos posturais, evitando realizar tal movimento que provoca a crise, onde o indivduo mantm o corpo mais rgido, movimentando-se em bloco, gerando grande tenso muscular, podendo piorar o quadro vertiginoso (PEDALINI & BITTAR, 1999). Por essa razo, acredita-se na importncia de explicar ao paciente sua patologia, qual o local da leso, efeito sobre seu equilbrio, os provveis sintomas e orientaes sobre maus hbitos adquiridos.

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2. 5 INCIDNCIA DE VERTIGEM QUANTO AO SEXO E IDADE

Em literaturas diversas e observando na prtica clnica, podemos relatar que a grande maioria dos pacientes com vestibulopatias do sexo feminino. Cerca de 70% dos casos. Para BENTO (1998), a prevalncia deste sexo pode ser considerado fatores como: menopausa, osteoporose, doenas cardiovasculares e metablicas, que so subjacentes aos sintomas de vertigem. J em relao faixa etria, os pacientes vertiginosos variam de 42 60 anos de idade. Considerando raras excees podem ocorrer tambm em crianas, variando de 7 11 anos. Contamos atualmente com profissionais que atendem determinada faixa etria com problemas otoneurolgicos como otoneurologia infantil e otoneurologia geritrica. 30

So poucos os registros e pesquisas em relao a tais aspectos, sendo que a maioria dos autores detm-se mais ao diagnstico e tratamento da afeco labirntica.

3 - NA CORDA BAMBA COM O EQUILBRIO : ESTUDO DE CASO

O sujeito deste estudo, O., um adulto, do sexo feminino, nascido em dezembro de 1952. A mesma casada, formada em Direito, com padro scioeconmico alto. Desde a infncia a paciente apresentava quadros de cinetose (mal do movimento), onde um simples passeio de carro trazia-lhe grande mau estar, tonturas, nuseas e muitas vezes vmitos. Com a adolescncia e fase adulta os sintomas cessaram, mas aps o nascimento do primeiro filho, os episdios de vertigem reapareceram. H dois anos teve uma crise de vertigem, que durou uma semana, onde em qualquer movimento com a cabea, ocorriam tonturas intensas, nuseas, vmitos e desequilbrio, exigindo sua internao em hospital. Na poca, foi atendida 31

por um mdico clnico geral e o mesmo disse-lhe no ter cura para o caso . Passado alguns anos, continuando a ter os episdios de vertigem, consultou um Otorrinolaringologista que solicitou-lhe avaliao otoneurolgica, obtendo tais resultados: Audiometria - normal Imitnciometria - normal Eletronistagmografia - alterado ( Sndrome Vestibular Perifrica Deficitria Direita ) Teste de equilbrio esttico e dinmico - normal

Com o diagnstico da disfuno vestibular, a paciente iniciou tratamento com medicamento antivertiginoso, durante 15 dias, para diminuio imediata dos sintomas ou seja, sair da crise labirntica. Aps melhora do quadro agudo, a paciente foi encaminhada ao fonoaudilogo para o trabalho de reabilitao vestibular at completa cura da doena. O programa da terapia deve ser baseado nas caractersticas clnicas de cada paciente e desenhado especificamente para o seu tipo particular de distrbio labirntico. O tratamento personalizado orientado pela histria clnica e pelos achados otoneurolgicos do paciente. A reabilitao por meio de exerccios vestibulares reajusta as relaes entre os sinais visuais, somatosensoriais e vestibulares. H uma grande variedade

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de mtodos de reabilitao vestibular, tais como os de

Cawthorne & Cooksey,

Ganana e cols, Norr, Epley, etc como j demonstrado anteriormente. Os exerccios costumam ser eficientes e habitualmente no produzem eventos adversos. No caso de O ., a reabilitao tem como objetivo compensar o lado que est lesado (direito), com o hiperfuncionamento do lado contralateral leso. Dessa forma h uma compensao vestibular ao sistema vestibular em disfuno. A terapia otoneulgica, mesmo com a diminuio dos sintomas j ocorrentes devido medicao, procura minimizar ou anular os sintomas, restaurar o equilbrio corporal, normalizar tanto quanto possvel as anormalidades vestibulares funcionais, melhorar a qualidade de vida do paciente e evitar possveis recorrncias. Os atendimentos de terapia otoneurolgica foram feitos em uma Clnica Otorrinolaringolgica, realizado por Fonoaudiloga. A primeira etapa do tratamento constou em informar a paciente quanto anatomia e fisiologia do sistema vestibular e suas alteraes, para que possa entender sobre o que est ocorrendo em seu corpo, objetivo dos exerccios e explicao sobre o efeito que eles provocam no rgo vestibular. Essa etapa foi muito importante, pois diminuiu a ansiedade da paciente em relao s causas, conseqncias e crenas a respeito da tontura.

Orientaes e Aconselhamento

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- Procurar no evitar movimentos corporais. O labirinto precisa do movimento do corpo para retomar seu funcionamento normal. Deixe-se evitar passar a maior parte do tempo deitado ou sentado. - No suspender exerccios se sentir tontura. No incio pode ser pior, melhorando com o passar do tempo. - A melhora comea a surgir em mdia com um ms de treinamento. - As crises vertiginosas, embora desagradveis, usualmente no so graves e no representam risco de vida. - A disciplina e a tolerncia na execuo dos exerccios fundamental para a melhora. Quanto maior a insistncia e regularidade, mais rpida a recuperao. - No sentir medo da tontura e sim enfrent-la. - Atividades esportivas como nadar, jogar tnis, caminhar, jogos de bola, favorecem a melhora.

Pode-se perceber aps orientao, a paciente entendeu que os movimentos corporais que provocam a tontura no so prejudiciais melhora, e ento retornou s atividades normais, inclusive ao trabalho aerbico nas suas caminhadas matinais. Na segunda etapa, iniciou-se a execuo dos exerccios propriamente ditos em terapia, para posteriormente serem usados em casa. Os exerccios foram apresentados sob a forma de desenho e em seguida o terapeuta exemplificava pessoalmente cada passo do exerccio. No caso de idosos e crianas, considera-se 34

importante a presena de um familiar, para que aprendam os exerccios colaborando no treinamento domiciliar. A seguir sero expostos os exerccios utilizados com a paciente do relatado caso.

Exerccio de Cawthorne e Cooksey

A Movimentos de olhos e cabea, sentado: Olhar para cima e para baixo; Olhar para a direita e para a esquerda; Aproximar e afastar o dedo, olhado para ele; Mover a cabea (lentamente e depois rapidamente); Repetir tudo com os olhos fechados.

B Movimentos de cabea e corpo, sentado: Colocar objeto no cho. Apanh-lo e elev-lo acima da cabea e coloc-lo no cho novamente (olhando para o objeto o tempo todo); Inclinar para frente e passar um objeto para trs e para frente dos joelhos. 35

C Exerccio em p: Sentar e ficar em p, sentar e ficar em p novamente; Repetir com os olhos fechados; Repetir, mas girar enquanto em p (dar volta para direita e depois para a esquerda).

Outras atividades para melhorar o equilbrio:

-

Subir e descer escadas; Enquanto de p faa voltas repentinas de 90 graus; Enquanto caminhando, olhe para a direita e para a esquerda; Pratique ficar de um p s, com olhos abertos e fechados; Repetir em superfcie macia; Andar p-ante-p com lhos abertos e depois fechados.

Exerccios de Bologna

-

Deitar em decbito dorsal e sentar rapidamente; Deitar em decbito dorsal, virar para a lateral direita e esquerda; Sentado, virar a cabea para a direita e para a esquerda; Sentado, mover a cabea para frente e para trs; Em p, elevar as mos sobre a cabea olhando para elas; 36

-

Em p, inclinar o corpo, dobrando-o para frente e voltar; Sentado em uma cadeira que roda, dar duas voltas para direita e duas para a esquerda;

-

Movimentar os olhos em diversas direes; Seguir com os olhos a oscilao de um pndulo; Jogar bola para o alto e pegar; Caminhar na ponta dos ps; Caminhar na ponta dos calcanhares.

Exerccios de Norr

-

Deitado, rodar todo o corpo em bloco para a esquerda; Deitado, rodar todo o corpo em bloco para a esquerda; Deitado, retornar posio sentado rapidamente; Sentado, com o nariz no joelho esquerdo, deitar orelha direita sobre o ombro;

-

Inclinar-se para frente; Girar a cabea para direita e depois esquerda; Caminhar com olhos abertos e depois fechados, elevando ao mximo o joelho;

-

Fixar o olhar em um ponto fixo ao centro do campo visual, rodar a cabea para a direita e depois para a esquerda, sem desviar o olhar do ponto. 37

Os exerccios foram aplicados gradativamente em sesses de trinta minutos em mdia e orientado a realizar os mesmos em domiclio. Nas duas primeiras sesses os exerccios provocaram tonturas leves e nuseas, mas com o passar do tempo, os sintomas desapareceram, podendo executar normalmente as atividades propostas. Como descritos na literatura, os exerccios podem provocar vertigens e enjos, mas com o passar do tempo e a repetio consistente, os sintomas diminuem medida que o sistema nervoso central comea a reconhecer e aceitar como sendo normais as informaes que est recebendo do sistema vestibular. Adotou-se o seguimento semanal no primeiro ms e quinzenal no segundo, e uma ltima sesso aps trinta dias para acompanhamento do caso. Dessa forma concluiu-se o tratamento em sete sesses, durante os meses de fevereiro maro de 1999. Para dedicar-se ao tratamento e diminuir stress, O. retirou frias de 30 dias do trabalho. A mudana no estilo de vida de O., como cessar o fumo, no ingerir bebidas alcolicas, diminuio de dose diria de caf, continuidade s atividades fsicas, acredita-se que ajudaram significativamente a melhora, alm da realizao da terapia. Foram prescritos ainda algumas recomendaes (pelo

otorrinolaringologista), quanto alimentao como: comer bem pela manh, menos no almoo e muito menos no jantar; evitar ch, achocolatados, caf, lcool, fumo (agentes estimulantes do SNC) e como j referido, a inatividade fsica. Estas 38

atitudes favoreceram a evoluo clnica e ajudaram a impedir o aparecimento de recidivas. A nicotina irritante para o labirinto por vrias razes, mas o efeito mais importante do fumo em relao ao labirinto a vasoconstrio, similar a cafena. Em geral, para agravar a situao, o fumante tambm ingere diariamente uma quantidade grande de caf, aumentando a vasoconstrio. Por isso, nos casos de labirintopatias, pede-se no fumar. Seguida todas as orientaes, O. foi referindo melhora com o passar dos atendimentos. Seu equilbrio foi restabelecido, as tonturas no mais ocorriam e retornou as atividades dirias normais como o trabalho e curso de ingls. Sentindose mais segura e confiante ao tratamento foi cessando aos poucos o uso da medicao at ficar sem a mesma. A autoconfiana e auto-estima melhoram medida que voc consegue lidar melhor as tonturas. Ao trmino dos atendimentos, a paciente retornou aps 30 dias para monitorizao e reavaliao do caso, onde os aspectos melhorados mantiveram-se. Confirmado o sucesso do trabalho, determinou-se o encerramento do tratamento. Os excelentes resultados obtidos em to pouco tempo, surpreenderam inclusive o otorrinolaringologista que acompanhou o caso, pois o mesmo apresentava dvidas quanto aplicao do tratamento. Alguns autores propem uma reavaliao otoneurolgica aps cessar o tratamento, para que se possa comparar os dados obtidos no exame anterior e atual, observando a melhora objetiva. Mas no foi esse o procedimento utilizado no relatado caso, pois uma vez tratada sua enfermidade, acredita-se ser desnecessrio 39

submeter a paciente em novos exames, j que estes so um tanto desconfortveis de se realizar e provocam a tontura com estimulao calrica na orelha. Recomenda-se ainda, a terapia preventiva ou curativa indicada em pacientes idosos com instabilidade, quedas que podem afetar seriamente a integridade fsica e melhorando tambm a coordenao motora em geral. Pode-se provar com o estudo literrio e a experincia deste caso que, a reabilitao vestibular quando bem indicada, uma arma poderosa no combate s tonturas das mais diversificadas etiologias, havendo propostas diferenciadas para cada tipo de problema apresentado. Dever sempre ser indicada pelo mdico, que seguir o paciente em conjunto com o terapeuta, observando sua evoluo e eventualmente mudando sua conduta teraputica sempre a situao assim determinar. Seu uso adequado propicia ao paciente alvio importante de seus sintomas, que muitas vezes tm anos de durao ou ainda sem algum retorno.

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4 - CONSIDERAES FINAIS

Diante de erros diagnsticos, tentativas de tratamento fracassados e desconhecimento sobre o tema entre os profissionais da rea, optou-se por aprofundar mais sobre a reabilitao vestibular. Assim sendo, buscou-se analisar o papel da RV no tratamento da vertigem. Para tanto, as consideraes de Maurcio Ganana foram fundamentais, j que o mesmo o precursor deste tema e o maior conhecedor de vertigem do Brasil. Com base no material apresentado, pode-se observar que, em nossa rea interdisciplinar, os profissionais esto comeando a se interessar, optando pelo tratamento das labirintopatias atravs da reabilitao vestibular. Os exerccios de RV mostraram-se simples de aplic-los e realiz-los. Foram incuos, indolores, sem posteriores seqelas e com surpreendentes benefcios. 41

O tempo de tratamento coincidiu com o encontrado na literatura, ou seja, de 2 a 3 meses. O surpreendente foi que o indivduo pesquisado teve melhora sem a ajuda da medicao. Observou-se que 90% dos pacientes respondem favoravelmente terapia otoneurolgica (RV). A maioria dos casos fica definitivamente sem os sintomas, outros casos melhoram significativamente e apenas 5% so rebeldes ao tratamento. Seria importante investigar o porqu desta porcentagem de no respostas. Uma hiptese poderia ser a m aplicao dos exerccios de RV, ou a no colaborao do paciente, e ainda um erro diagnstico. Vale lembrar tambm que, a maioria dos profissionais da rea, despreparados para atender tal patologia, encaminham para a RV somente quando os demais mtodos teraputicos falham, comprometendo a conduta desde o incio. Esse tratamento deve ser encarado como uma importante opo, sendo utilizado isoladamente ou associado a outros mtodos. No estudo de caso, pode-se ter um excelente resultado, pois foi encaminhado conduta teraputica no tempo certo baseado num bom diagnstico anterior. Outra questo salientada e discutida pelos profissionais quanto ao diagnstico do distrbio vestibular. Reconhecer e caracterizar a disfuno por meio de uma abordagem diagnstica abrangente fundamental, salientando-se que tal tarefa restringe-se medicina. Com avanos na tecnologia e modernos equipamentos mdicos, pode-se obter diagnsticos apurados. 42

Para ns fonoaudilogos, o sucesso do tratamento (RV) depende da exatido do diagnstico. O erro mais grave ao lidar com o paciente labirntico trat-lo sem diagnosticar corretamente o seu problema. Como exposto

anteriormente, os exerccios de reabilitao vestibular so personalizados, selecionados para cada caso especificadamente. Como aplicar um exerccio direcionado, sem saber sua causa e qual local trabalhar? A RV portanto, um mtodo teraputico de grande utilidade na vertigem e desequilbrio que, no entanto exige criteriosa seleo de doentes e protocolos adaptados fisiopatologia de cada quadro em especial. Constatou-se que na realidade no h um consenso dos profissionais sobre a conduta da RV. Depende da abordagem e critrios de cada equipe clnica. Para cada autor h um parecer, sendo que a RV uma tcnica nova na rea da otoneurologia, s a experincia em novos casos e a prtica iro definir as dvidas ainda existentes.

Questiono qual ser o desenvolvimento e continuidade da RV e quais os profissionais que realmente abraaro tal mtodo.

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5 - REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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