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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIOS E MEIO AMBIENTE MESTRADO EM SISTEMAS DE GESTÃO ISABELLA STROPPA RODRIGUES A REALIDADE DA UNIVERSIDADE EMPREENDEDORA: UMA VISÃO A PARTIR DA TRIPLA HÉLICE NO CASO UFJF Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de concentração: Organizações e Estratégia. Linha de pesquisa: Gestão pela Qualidade Totaol. Orientador: Prof. Emmanuel Paiva de Andrade, D.Sc. Universidade Federal Fluminense Co-orientador: Prof. Angelo Brigato Ésther, D.SC. Universidade Federal de Juiz de Fora Niterói 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIOS E MEIO AMBIENTE

MESTRADO EM SISTEMAS DE GESTÃO

ISABELLA STROPPA RODRIGUES

A REALIDADE DA UNIVERSIDADE EMPREENDEDORA: UMA VISÃO A PARTIR

DA TRIPLA HÉLICE NO CASO UFJF

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistemas

de Gestão da Universidade Federal Fluminense, como

requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em

Sistemas de Gestão. Área de concentração: Organizações e

Estratégia. Linha de pesquisa: Gestão pela Qualidade

Totaol.

Orientador:

Prof. Emmanuel Paiva de Andrade, D.Sc.

Universidade Federal Fluminense

Co-orientador:

Prof. Angelo Brigato Ésther, D.SC.

Universidade Federal de Juiz de Fora

Niterói

2016

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R696r Rodrigues, Isabella Stroppa.

A realidade da universidade empreendedora : uma visão a partir da Tripla

Hélice no caso UFJF / Isabella Stroppa Rodrigues. – Niterói, RJ, 2016.

92 f.

Orientador: Emmanuel Paiva de Andrade

Co-orientador: Angelo Brigato Ésther

Dissertação (Mestrado em Sistemas de Gestão ) - Universidade Federal

Fluminense, Escola de Engenharia., 2016.

1. Universidade empreendedora. 2. Tripla Hélice. 3. Universidade brasileira. I.

Andrade, Emmanuel Paiva de, orient. I. Título.

CDD 658.421

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AGRADECIMENTOS

Como não poderia ser diferente, meu agradecimento primeiro é a Deus. Não há

momento de dúvida ou dificuldade que Seu Amor não seja capaz de fazer passar e se tornar

brisa e felicidade.

Aos meus anjos na Terra, meus Pais, que em todos os momentos, desde o pré-primário,

apoiaram meus projetos e não foi diferente neste. A jornada foi extenuante, mas seria impossível

se não fossem vocês com as palavras certas na hora certa sempre!

Ao meu marido, Ewerton, que desde o envio do projeto, foi um porto seguro de incentivo

e persistência. Sem a sua dedicação e paciência, certamente esse caminho não estaria concluído!

Ao meu orientador, Emmanuel, que acreditou na ideia do estudo da universidade e me

deu impulso e ideias borbulhantes para dar andamento ao trabalho.

Ao meu co-orientador, Angelo, que esteve junto nessa jornada para uma orientação

holística. Minha vida acadêmica não existiria não fosse o primeiro passo dado há 10 anos atrás

sob a orientação no padrão PAQ!

À UFF, especialmente à querida Bianca, que desde sempre demonstrou seu carinho

especial por cada um dos batalhadores nesta louca jornada acadêmica, dona da voz e dos e-

mails fonte de muitas alegrias e calmarias!

À UFJF, que abriu as portas desde minha formação na graduação, posteriomente, para

minha atuação profissional e para minha pesquisa acadêmica e a todos aqueles que se

dispuseram a participar através das entrevistas, dedicando parte importante de suas pesadas

jornadas para estar comigo nas entrevistas.

À FIEMG, na figura de seu Presidente da Regional Zona da Mata, pela disponibilidade

e pela importante participação neste trabalho.

Aos colegas do Mestrado que fizeram a jornada ser menos exaustiva e bem mais

divertida.

A todos os meus amigos e amigas, inclusive os companheiros do GECOPI, por entender

profundamente o que foi essa caminhada.

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RESUMO

Esta pesquisa visou contribuir para a compreensão da complexidade de fatores envolvidos no

relacionamento entre a universidade e outros entes, sendo, neste caso específico, o foco

direcionado para as empresas e o governo, a partir das perspectivas da Tripla Hélice e da

Universidade Empreendedora. A universidade brasileira, inserida desde sua criação em um

contexto de constantes modificações e reformas, passa constantemente pelo questionamento

acerca do seu papel. Recebendo inicialmente a atribuição de ser formadora de mão de obra,

inquietações começam a surgir no sentido de enriquecer a atuação da universidade com a

possibilidade de formação crítica dos indivíduos e criação de conhecimentos inovadores. Este

conflito de percepções perpassa décadas e chega aos dias atuais inserido em um cenário onde

se vislumbra o desinvestimento no ensino público brasileiro, o que torna atrativo para as

universidades trilhar o caminho de formação de profissionais de acordo com o perfil requisitado

pelo mercado, bem como direcionar as pesquisas da universidade para as necessidades das

empresas devido à possibilidade de serem elas as potenciais financiadoras das atividades da

universidade. No entanto, esta concepção não é linear e nem homogênea no cenário

universitário em geral, e também não o é no contexto que envolve a Universidade Federal de

Juiz de Fora, onde se aplicou a presente pesquisa utilizando o método do estudo de caso. O

intuito desta pesquisa foi compreender como a Universidade Federal de Juiz de Fora se

relaciona com a indústria e o governo e, ao mesmo tempo, identificar se ela está demonstrando

possuir as características prescritas pelo modelo de Universidade Empreendedora. Neste

sentido, foram analisados os três entes envolvidos a partir do estudo de seus posicionamentos

oficiais e também, no caso da indústria e da universidade, de entrevistas realizadas com atores

institucionais. Este estudo se balizou pela busca da produção de conhecimento capaz de

contribuir para o enriquecimento da compreensão acerca desse complexo fenômeno de

aproximação da esfera pública com a iniciativa privada, não se limitando apenas a descrições,

mas também a explorar as problemáticas decorrentes do tema.

Palavras-chave: Universidade Empreendedora. Tripla Hélice. Universidade brasileira.

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ABSTRACT

This research aimed to contribute to the comprehension of the complexity of factors involved

in the relationship between the university and other entities, being, in this specific case, the

focus directed to companies and to the government, from the perspectives of Triple Helix and

Entrepreneurial University. The Brazilian university, inserted since its creation in a context of

constant changes and reforms, constantly goes through the questioning about its role. Initially

receiving the assignment of being a trainer of labor, concerns begin to emerge in order to enrich

the performance of the university with the possibility of critical formation of individuals and

creation of innovative knowledge. This conflict of perceptions goes through decades and

reaches the current days inserted in a scenario where the disinvestment in the Brazilian public

education is envisaged, which makes it attractive for universities to follow the path of

professional training according to the profile required by the market, as well as to direct

university research to the needs of companies due to the possibility that they are the potential

financiers of university activities. However, this conception is neither linear nor homogeneous

in the university scenario in general, nor is it in the context involving the Federal University of

Juiz de Fora, where the present research was applied using the case study method. The purpose

of this research was to understand how the Federal University of Juiz de Fora relates to industry

and government and, at the same time, to identify if it is demonstrating the characteristics

prescribed by the Entrepreneurial University model. In this sense, the three entities involved in

the study were analyzed from their official positions and also, in the case of industry and

university, from interviews with institutional actors. This study was based on the search for the

production of knowledge capable of contributing to the enrichment of the understanding about

this complex phenomenon of approaching the public sphere with the private initiative, not only

being limited to descriptions, but also exploring the problems arising from the theme.

Key-words: Entrepreneurial University. Triple Helix. Brazilian university.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 –

Quadro 1–

Figura 2 –

Figura 3 –

Gráfico 1 –

Quadro 2 –

Quadro 3 –

Quadro 4 –

Quadro 5 –

Percentual do PIB gasto em P&D no mundo em 2007....................................

Polos e Unidades EMBRAPII..........................................................................

O Triângulo de Sábato......................................................................................

HT III ...............................................................................................................

Patentes do tipo PI registradas no Brasil..........................................................

Incentivos à cooperação entre universidade e empresa....................................

Barreiras à integração universidade-empresa...................................................

Codificação dos entrevistados..........................................................................

Temas pesquisados e elementos analisados.....................................................

16

29

30

33

37

41

45

50

50

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Evolução mundial do investimento em P&D (2007, 2009, 2011 e 2013) ............... 18 Tabela 2- Evolução no número de pedidos e concessões de patentes (1999-2015) ................. 36 Tabela 3- Depósitos de Patentes do Tipo Patente de Invenção (PI) pela UFJF – 1º Depositante

.................................................................................................................................................. 53 Tabela 4- Os papeis que a universidade assume hoje .............................................................. 55 Tabela 5- Atual relacionamento entre a universidade, as empresas e o governo ..................... 57 Tabela 6- Comprometimento da UFJF com o intercâmbio de conhecimentos com a indústria,

a sociedade e o governo ........................................................................................................... 59 Tabela 7- Incentivos oferecidos pela UFJF para que seus funcionários promovam iniciativas

de integração com o empresas .................................................................................................. 61 Tabela 8- Entendimento acerca do termo Universidade Empreendedora ................................ 63 Tabela 9- Motivos que levariam a universidade a buscar a aproximação com o governo e as

empresas ................................................................................................................................... 64 Tabela 10- Fontes de financiamento das atividades da universidade ....................................... 66 Tabela 11- Mecanismos para quebrar fronteiras e fomentar novos relacionamentos da

universidade com as empresas ................................................................................................. 68 Tabela 12- Papel exercido pelo CRITT .................................................................................... 68 Tabela 13- Autonomia das faculdades e unidades para estabelecer parcerias com empresas . 69 Tabela 14- Possíveis influências das partes interessadas externas na estruturação e

desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem ........................................................ 70 Tabela 15- Mecanismos instititucionais da UFJF que regulam a relação com entes externos 71 Tabela 16- Atuação das políticas educacionais e econômicas governamentais no sentido da

integração ................................................................................................................................. 73 Tabela 17- Forma como o governo visualiza a construção da relação entre as universidades e

as empresas ............................................................................................................................... 75 Tabela 18- Possíveis benefícios para a universidade em uma relação mais próxima com o

ambiente externo ...................................................................................................................... 75 Tabela 19- Possíveis riscos para a universidade em uma relação mais próxima com o

ambiente externo ...................................................................................................................... 76 Tabela 20- Postura das empresas com relação à integração ..................................................... 77

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 9

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ........................................................................................... 9

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ................................................................................... 13

1.3 OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS ................................................................. 13

1.4 DELIMITAÇÃO ....................................................................................................... 14

1.5 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO .............................................................................. 14

2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................... 15

2.1 A INTERAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA NO CONTEXTO LATINO-

AMERICANO .......................................................................................................................... 15

2.2 AS MUDANÇAS DA UNIVERSIDADE NO CENÁRIO BRASILEIRO............... 19

2.3 OS MODELOS DE INTEGRAÇÃO ENTRE A UNIVERSIDADE E O AMBIENTE

EXTERNO ............................................................................................................................... 30

2.3.1 O Triângulo de Sábato .......................................................................................... 30

2.3.2 A Tripla Hélice ....................................................................................................... 32

2.3.3 A Universidade Empreendedora .......................................................................... 37

2.4 ASPECTOS ATRATIVOS E DISTANCIADORES NO VÍNCULO

UNIVERSIDADE-EMPRESA ................................................................................................ 41

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS ......................................................................... 48

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................. 52

4.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES .................................................................... 52

4.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ......................................................................... 55

5 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 79

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 83

ANEXO A ................................................................................................................................ 90

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1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

O processo histórico de criação e desenvolvimento das universidades ocidentais, bem

como sua relação com a sociedade, estabelece um cenário de reflexão para a realidade do ensino

superior no Brasil e para o sentido da instituição “universidade” no país.

As universidades brasileiras, hoje inseridas em um contexto caracterizado pelas

propostas de ajuste fiscal e tensões quanto à concretização dos projetos estabelecidos no Plano

Nacional da Educação (BRASIL, 2014), foram sistematicamente atingidas pelo que se

caracteriza como crise. Mesmo antes da criação da primeira universidade no Brasil, “[...] a

instrução pública – incluindo o ensino superior – passa por diversas crises e reformas”

(TORGAL; ÉSTHER, 2014, p. 123).

Segundo estes autores, após a Proclamação da República, numerosos projetos propostos

para criação da universidade foram negados reiteradamente, já que a elite dirigente não

identificava nenhuma vantagem - e talvez alguma ameaça à ordem vigente - com a instalação

de uma universidade. Em 1920, foi enfim criada a primeira universidade do país, a Universidade

do Rio de Janeiro, devido a uma oportunidade encontrada no Código Civil Brasileiro, o qual

afirmava em seu artigo 6º: “O governo federal, quando achar oportuno, reunirá em

Universidades as Escolas Politécnica e de Medicina do Rio de Janeiro, incorporando a elas uma

das Faculdades Livres de Direito (...)” (BRASIL, 1916).

Segundo Cunha (2007), a partir desse momento ocorreu a transformação de algumas

faculdades em federações, as quais foram posteriormente convertidas em universidades, estas

caracterizadas por seu prestígio e plena liberdade de decisão quanto a diversas questões, como

a abertura de cursos e o aumento do número de vagas oferecidas.

A partir de então, a instituição “universidade” passou a ter sua atuação continuamente

questionada, sendo atribuída a ela, ao mesmo tempo, de um lado a responsabilidade de

formação técnica de mão de obra para atendimento ao mercado, enquanto, de outro, defendia-

se a sua manutenção como um centro de criação de ciência e de conhecimento.

A discussão sobre essa dicotomia de papéis, bem como sobre todas as complexas

possibilidades que surgem entre esses dois pontos começou a tomar espaço, sendo que, com o

decorrer do tempo, foram realizadas diversas adaptações e mudanças na atuação da

universidade, bem como na compreensão de seus papéis, formas de gestão, ensino e pesquisa.

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Na década de 1950, percebeu-se a universidade pública latino-americana iniciando o

desenvolvimento de atividades de vinculacionismo sob o argumento de que seria propício fazer

chegar aos potenciais usuários os resultados da pesquisa científica e tecnológica por ela

desenvolvida (DAGNINO et. al, 2011).

O vinculacionismo seria a forma de gerar laços entre o setor produtivo e a universidade

pública através das instituições de pesquisa e de transferência da tecnologia. Segundo Dagnino

et. al (2011), ele esteve presente na realidade da América Latina até a década de 1970. Neste

período, particularmente a partir de 1968, as diretrizes oficiais atinentes à universidade

brasileira delimitaram que esta instituição deveria atuar como instrumento de formação de mão

de obra, proposição que passou a ser estimulada, mesmo com a existência de experiências

contrárias a esta orientação, como os casos da Universidade de São Paulo (USP) e da

Universidade do Distrito Federal (ÉSTHER, 2016b).

Por volta de 1975, surge o neovinculacionismo trazendo a transdução de fatos e teorias

dos países desenvolvidos relativos à integração universidade-empresa para o contexto dos

países em desenvolvimento. A transdução consiste em um processo auto-organizado de

modificação de sentido que ocorre quando uma ideia ou mecanismo é transladado de um

contexto para outro. Esta ação, segundo Dagnino e Thomas (2001, p. 208), “(...) insere um

mesmo significante (instituição, instrumento de política, etc.) num outro sistema (conjunto

sociotécnico, sistema nacional de inovação, estrutura governamental, etc.) e faz que novos

sentidos se originem (funções, disfuncionalidades, efeitos não desejados, etc.)” (DAGNINO;

THOMAS, 2001, p. 208).

A aplicação do processo de transdução no contexto latino-americano naquele momento

se manifestou com o surgimento de propostas de criação de parques tecnológicos, incubadoras

de empresas e escritórios de transferência de tecnologia como mecanismos de fortalecimento

dos laços propostos pelo vinculacionismo (DAGNINO; THOMAS, 2001). No entanto, a

percepção e defesa da universidade como formadora de mão de obra se manteve ainda até o

período da ditadura militar, sendo que, com a queda desta e, posteriormente, a realização da

reforma de Estado no governo Fernando Henrique Cardoso - marcada pela intensa atuação de

Bresser Pereira - passou-se a verificar o princípio da implementação do gerencialismo com a

tendência da denominada “Nova Gestão Pública”, responsável por trazer para o contexto

universitário e para a administração pública em geral a aplicação de modelos de gestão baseados

em premissas das empresas privadas (PAULA, 2005).

Nos mandatos do governo Lula, segundo Paula (2005), mesmo com as modificações

ocorridas na política educacional e adoção de políticas sociais para acesso, o gerencialismo se

manteve com suas métricas de eficiência e de resultados, passando-se a defender, inclusive, que

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a universidade deveria adotar uma nova missão: promotora do desenvolvimento (CUNHA,

2007; ÉSTHER, 2016).

Os atuais projetos de modificação no contexto das universidades guardam estreita

relação com estas propostas, e vêm reforçando a tendência da suposta necessidade de adequação

da universidade aos requisitos das empresas inseridas no mercado, as quais buscariam

aproveitar o potencial de contribuição do conhecimento concentrado nas universidades para a

inovação como, segundo Melo (2002, p. 57), “(...) instrumento de atualização permanente (...)”

capaz de produzir valor que se concretizaria de forma financeira e/ou social.

Neste sentido, evidencia-se com Etzkowitz (1994) a Tripla Hélice, e com Clark (1998)

a corrente da Universidade Empreendedora, sendo estes significativos expoentes dos estudos e

das propostas de integração entre universidades e empresas como um movimento propulsor do

desenvolvimento econômico.

Por um lado, Etzkowitz (1994) propõe a relação dinâmica entre universidade, indústria

e governo como caminho para intensificar os processos inovativos e assim contribuir para o

desenvolvimento econômico regional. Por outro, Clark (1998) elabora o modelo de

Universidade Empreendedora como um projeto de manutenção e expansão da universidade a

partir do fortalecimento de suas competências, que foram divididas nas seguintes dimensões:

Núcleo de Direção Fortalecido, Periferia de Desenvolvimento Expandida, Base de

Financiamento Diversificada, Centro Acadêmico Estimulado e Cultura Empreendedora

Integrada. Este processo de robustecimento seria capaz de garantir sua sobrevivência, criar

conhecimentos úteis à indústria e assim influenciar diretamente no desenvolvimento econômico

regional e no avanço social, o que denota claramente a coerência entre os modelos da

Universidade Empreendedora (CLARK, 1998) e da Tripla Hélice (ETZKOWITZ, 1994).

Apesar de tais argumentos já terem encontrado eco no contexto latino-americano e

brasileiro, inclusive sendo adotados por instituições de grande representatividade, como a

ANDIFES (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior),

que atualmente possui uma comissão direcionada ao estudo do empreendedorismo nas

Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES, 2015), é cabível que a análise da aplicação

destes modelos seja realizada sob a ótica da transdução descrita por Dagnino e Thomas (2001),

uma vez que as realidades em que tais teorias foram construídas diferem da latino-americana e,

assim, abrangem também instituições que não assumem a mesma identidade nestes diferentes

cenários, sendo, para este estudo, o governo, as empresas e a universidade são as que estão em

foco.

Na prática, o contexto econômico, social, legal e tecnológico em que se inserem as

instituições possui capacidade de influenciar no comportamento das mesmas, em seus

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processos de funcionamento e interação e, consequentemente, no movimento de inovação

construído sob aquela conjuntura. Conforme afirmam Dagnino e Davyt (2011), uma dinâmica

existente em um determinado contexto somente consegue alcançar aplicabilidade em outro

quando é construída e exercida considerando o tecido de relações1 e o campo de relevância

atinentes a cada sociedade específica e não simplesmente quando busca reproduzir

acriticamente o que foi elaborado para outro contexto.

Na América Latina, surgem questionamentos sobre diversos aspectos referentes a essa

aproximação da universidade com o ambiente externo, como a discussão acerca do

financiamento das universidades pela iniciativa privada. Neste contexto, o assunto provoca

controvérsias e resistência, o que, nos países desenvolvidos, segundo Dagnino e Davyt (2011),

é prática comum, bem aceita e responsável por construir um “ciclo virtuoso” com ganhos para

ambas as partes envolvidas na interação, argumento reforçado por Ipiranga, Freitas e Paiva

(2010).

Tal conduta, quando da ocorrência em instituições públicas latino-americanas, começa

a criar inquietamentos sobre a real natureza da universidade pública, situação esta que foi

inclusive recentemente sinalizada pela discussão da Proposta de Emenda Constitucional 395/14

(PEC 395/14), a qual debate a possibilidade de cobrança nas universidades públicas para oferta

de cursos de extensão, pós-graduação lato sensu e mestrados profissionais.

A aprovação do texto-base desta proposta pelo Senado Federal em outubro de 2015

legitimando a cobrança pelos cursos supracitados gerou diversas manifestações de

descontentamento por parte de órgãos representativos, como a ANDIFES (2015), a Associação

Nacional de Pós-Graduandos (2016), a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a UBES (União

Brasileira dos Estudantes Secundaristas), os quais defendem a gratuidade do ensino público,

preceito presente no dispositivo 206 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988). Tais

manifestações resultaram na primeira modificação da PEC 395, a qual, na votação em Plenário

no Senado Federal em fevereiro deste ano, já excluiu a possibilidade de cobrança pelos cursos

de Mestrado Profissional.

Este conflito levanta uma questão muito mais ampla do que a busca pela gratuidade do

ensino público; ele pode estar demonstrando justamente as percepções do campo educacional

que demonstra não admitir o capitalismo acadêmico capaz de mercantilizar o ensino e o

conhecimento.

1 Segundo Dagnino e Davyt (2011), o termo “tecido de relações” corresponde aos conceitos utilizados para explicar

processos de mudança tecnológica que buscam abarcar a complexidade sociotécnica, como, por exemplo, o de

sistema nacional de inovação ou o de redes tecno-econômicas. O conceito de “sociotechnical ensembles” [Bijker,

1995] é um dos que guarda maior afinidade com o “tecido de relações”.

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Ao afirmar que um dos seus princípios é a autonomia, disposição presente na

Constituição Federal em seu artigo 207 (BRASIL, 1988) e na Lei nº 9.394/96, denominada “Lei

de Diretrizes e Bases da Educação” (BRASIL, 1996), um dos pilares da educação brasileira

poderia ser diretamente afetado caso se permita que os financiamentos por parte de agentes

privados abra possibilidades para que eles interfiram ou determinem de alguma forma as

agendas de pesquisa ou até mesmo direcionem os cursos oferecidos.

Considerando que tanto a Universidade Empreendedora (CLARK, 1998) quanto a

Tripla Hélice (ETZKOWITZ, 1994) levantam a possibilidade de outras fontes de financiamento

da universidade que não o próprio Estado, descortina-se aqui mais um fator capaz de denotar a

complexidade contextual de aplicação de tais modelos no Brasil. Neste sentido é que esse

trabalho buscará trazer suas contribuições, almejando compreender qual efetivamente está

sendo o caminho trilhado na estruturação desta relação, levantando, para isto, a situação

específica de uma universidade brasileira.

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

A partir do contexto apresentado, essa pesquisa foi direcionada no sentido de buscar

explorar como as três instituições estão se comportando frente ao movimento de fortalecimento

das tendências de integração entre as entidades universidade-empresa-governo. Assim, busca-

se alcançar a seguinte questão: como é concebida a relação universidade-empresa-governo no

caso da UFJF, a partir da perspectiva de cada ente da Tripla Hélice?

1.3 OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS

Levando em conta as correntes e reflexões até então apresentadas, este trabalho buscará,

como objetivo geral, compreender como é concebida a relação universidade-indústria-governo

no caso da Universidade Federal de Juiz de Fora, sendo que, para isto, será necessário:

Identificar, com base nas categorias “Base de Financiamento Diversificada”, “Núcleo

de Direção Fortalecido”, “Periferia de Desenvolvimento Expandida”, “Núcleo

Acadêmico Estimulado” e “Cultura Empreendedora Integrada”, se a UFJF tem sido

estruturada como uma universidade empreendedora;

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Identificar a configuração e a dinâmica de interação entre a UFJF, a indústria e o

governo, a partir do discurso formal desses entes, bem como dos sujeitos que os

representam.

1.4 DELIMITAÇÃO

Este estudo foi construído com foco nas universidades públicas brasileiras, não

contemplando as demais instituições que atuam no setor de ensino que não assumem a

identidade de universidades ou que são pertencentes ao setor privado. Dessa maneira, por não

possuírem as características descritas no presente estudo de caso, os dados empíricos e téoricos

aqui apresentados podem até ser utilizados em pesquisas correlatas por estas instituições, porém

é necessário que sejam adaptados à sua realidade específica.

1.5 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

O Capítulo 1 dessa pesquisa apresenta a introdução do trabalho que contempla, além da

presente seção, a contextualização do tema, o problema de pesquisa, os objetivos pretendidos e

as delimitações do trabalho. Este capítulo, ao descrever o contexto e demonstrar a importância

da pesquisa para o campo universitário, atua como um norteador para o restante do trabalho.

O Capítulo 2, por sua vez, contém a revisão da literatura. Nele é apresentado o panorama

da relação universidade-empresa no contexto latino-americano, bem como os modelos que

propõem esta aproximação, dentre os quais destacam-se o Triângulo de Sábato, a Tripla Hélice

e a Universidade Empreendedora. Analisando estas propostas, o capítulo contempla a revisão

de aspectos considerados favoráveis e outros descritos como distanciadores no âmbito da

relação universidade-empresa, buscando construir um painel sobre os pontos positivos e

negativos desta aproximação.

O Capítulo 3 contempla a metodologia aplicada à pesquisa, a qual foi de natureza

qualitativa, abordando um estudo de caso. Apresenta-se também o contexto sob estudo, e os

métodos de coleta e análise dos dados obtidos.

O Capítulo 4, por sua vez, é direcionado para a análise e discussão dos resultados.

Através dele, será possível compreender e explorar empiricamente os temas que são objeto

desta pesquisa.

O Capítulo 5 contempla as considerações finais do trabalho, a indicação quanto ao

atendimento dos objetivos propostos, bem como as perspectivas abertas para realização de

pesquisas futuras. Por fim, apresentam-se as referências utilizadas no estudo.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 A INTERAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA NO CONTEXTO LATINO-

AMERICANO

A interação entre universidade e empresa corresponde a uma questão que vem sendo

abordada de forma recorrente, sendo que, no cenário latino-americano, essa discussão tomou

corpo desde a década de 1950, protagonizada por autores da área de Ciência, Tecnologia e

Sociedade (CTS), como Sábato e Botana (1968) e Herrera (1995).

Segundo Herrera (1995), já a partir da Segunda Guerra Mundial começaram a ser

implementados esforços no sentido de promover a capacidade científica e tecnológica dos

países subdesenvolvidos, o que se reforçou a partir de 1975 com ações de cunho político e

também financeiro protagonizadas por orgãos internacionais, como as Nações Unidas, a OEA

(Organização do Estados Americanos) e o Banco Internacional de Desenvolvimento.

Entretanto, a atuação de agentes privados pertencentes às nações desenvolvidas também passou

a ocorrer no intuito de incrementar o progresso científico e tecnológico do “Terceiro Mundo”.

A atividade de fomento ao desenvolvimento científico se manifestou de diversas formas,

inclusive pela ajuda direta caracterizada por “(...) doações e empréstimos especiais de

equipamento científico, subsídios para projetos específicos de pesquisa, envio de pessoal

qualificado para participar na formação de novas equipes de assessoramento para a formulação

da política científica (...)” (HERRERA, 1995, p. 3).

No entanto, apesar dos esforços empregados, ao analisar o resultado dessas empreitadas,

não se encontram indicativos de sucesso. Isso se deve, segundo Herrera (1995), a fatores como

o baixo investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no contexto dos países latino-

americanos que direcionavam em torno de 0,2% de seu PIB para essas atividades, enquanto

outros com PIB semelhante ou até mesmo menor, como Israel e China, investiam entre 1 e 2,2%

em ciência e tecnologia.

Adicionalmente, pode-se ainda atribuir o baixo impacto das iniciativas anteriormente

elencadas devido à suposta desconexão entre os direcionamentos de P&D e a sociedade em que

se inserem. Segundo Herrera (1995, p. 03):

Nos países desenvolvidos, com efeito, a maior parte do P&D se realiza em relação a

temas que direta ou indiretamente estão conectados com seus objetivos nacionais,

sejam estes de defesa, de progresso social, de prestígio, etc. O progresso científico se

reflete de forma imediata em sua indústria, em sua tecnologia agrícola e, em geral, no

contínuo incremento da produção. Na América Latina, ao contrário, a maior parte da

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investigação científica que se realiza guarda muito pouca relação com os problemas

básicos da região. Esta falta de correspondência entre os objetivos da investigação

científica e as necessidades da sociedade é uma característica distintiva do

desenvolvimento ainda mais importante que a escassez de pesquisa e é, por outro lado,

suficientemente conhecida para que não seja necesário demonstrá-la.

Neste sentido, Herrera (1995) atribui o escasso ou até mesmo estancado

desenvolvimento científico e tecnológico das nações subdesenvolvidas principalmente à falta

de interação entre estas iniciativas e as reais demandas da sociedade onde elas se inserem, sendo

que, algumas vezes, estes esforços são vistos como mais coerentes até mesmo com as linhas

adotadas pelos países desenvolvidos devido à influência que eles exercem sobre a atividade dos

centros de pesquisa por serem fonte de boa parte de seus fundos de financiamento, dentre outros

fatores que podem aumentar seu potencial de interferência.

Este autor destaca ainda que, considerando o perfil de Pesquisa & Desenvolvimento

(P&D) presente nas empresas da América Latina, o próprio estilo de desenvolvimento

econômico e social local foi capaz de exercer poder limitador no nível de integração dos

sistemas de P&D, devido à baixa demanda por conhecimento.

Ao visualizar o panorama atual de investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento,

ainda é perceptível a discrepância entre os países e regiões no sentido que Herrera (1995)

destaca, como pode-se observar no mapeamento abaixo realizado com base em dados da

UNESCO (Fig. 1).

Figura 1 - Percentual do PIB gasto em P&D no mundo em 2007

Fonte: Adaptado de Teixeira (2012)

Enquanto o Brasil apresentava investimentos em P&D representando 1,095% de seu

Produto Interno Bruto (PIB) e sendo considerados crescentes já neste quantitativo, a Coreia do

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Sul destinou 3,21% do PIB, alcançando a participação de 3,4% no total mundial de dispêndios

brutos em P&D, enquanto o Brasil representou 2,1% neste mesmo ano (UNESCO, 2015).

Percebe-se ainda um indicativo do que Herrera (1995) afirmou sobre o estilo de

desenvolvimento local ao analisar que países como Alemanha, Coreia do Sul e China

apresentam altos índices de financiamento de suas atividades de P&D provenientes do setor

privado, sendo 66%, 73% e 75%, respectivamente, enquanto Rússia, Argentina e Brasil, dentre

outras nações, demonstram dependência direta da injeção de recursos públicos, sendo este

capital responsável por, respectivamente, 73%, 69% e 53% do financiamento de P&D nestes

países. Segundo a UNESCO (2015), “[...] a participação da GERD2 executada pelo setor

empresarial (BERD3) tende a ser maior nas economias com mais foco na competitividade de

base tecnológica da indústria [...]”.

Ao analisar evolutivamente o panorama de investimento em P&D, obtém-se o cenário

apresentado pela Tabela 1. Ao se comparar o desempenho da América Latina com a América

do Norte percebe-se que, em termos de investimento, de 2007 a 2013, a América Latina

aumentou em aproximadamente 41,2% o montante, enquanto a América do Norte, somente

11,6%. No entanto, ainda assim, ao comparar o valor investido por ambas, a quantia direcionada

pela América Latina que, em 2007, representava 9,3% do total investido pela América do Norte,

em 2013, aumentou para apenas 11,7%, o que, apesar de demonstrar um crescimento, denota

ainda uma grande diferença.

Analisando especificamente o Brasil em contraste com outras nações que têm

representatividade significativa no montante de P&D mundial, o país investe apenas 8,2% se

comparado aos Estados Unidos e 10,8% se comparado à China. Entretanto, merece destaque o

fato de que, no período analisado, o Brasil expandiu em 31% esses investimentos, o que, por

um lado, denota seu empenho em direcionar esforços neste sentido, mas, por outro, ao ser

comparado com a China, que aumentou em 150% seu montante investido, demonstra que o país

ainda necessita de mais projetos nesta direção.

2 Dispêndios brutos em P&D. 3 Participação do GERD executada pelo campo empresarial.

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Tabela 1- Evolução mundial do investimento em P&D (2007, 2009, 2011 e 2013)

Fonte: UNESCO (2015, p.8)

Para compreender esse distanciamento de desempenho entre o Brasil e as demais

nações, é essencial que se explorem suas possíveis causas, dentre as quais pode ser enumerada

a atuação da universidade, um dos atores centrais neste processo devido ao seu potencial de

criação e inovação. Assim, um aspecto essencial para tornar possível a compreensão deste

interação consiste então na busca pelo entendimento acerca da colaboração da universidade

com o ambiente produtivo e vice-versa, sendo que, para isso, é preciso, em primeiro plano,

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trazer à tona a atuação e as transformações ocorridas no papel da universidade com o decorrer

das mudanças socioeconômicas do ambiente em que se insere, sendo que aqui estará em foco o

contexto brasileiro.

2.2 AS MUDANÇAS DA UNIVERSIDADE NO CENÁRIO BRASILEIRO

Desde os primeiros ímpetos de criação da universidade no Brasil, o movimento foi

marcado por diversas crises, as quais, segundo Torgal (2010), são características das sociedades

em movimento, sendo assim primordiais para o processo de transição entre uma situação e

outra. No Brasil, elas foram representadas pelas inúmeras reformulações e reformas para a

adequação dessa instituição aos diferentes cenários que se apresentaram.

A primeira universidade implementada no país foi a chamada “URJ” (Universidade do

Rio de Janeiro), em 1920. Porém, antes da proclamação da República, já haviam movimentos

com este objetivo, sendo que a última tentativa ocorreu em 1881, quando o que se conseguiria

seria um modelo de universidade de “(...) caráter centralista, subordinando a futura universidade

ao ministro” (TORGAL; ÉSTHER, p. 126, 2014).

Esta exigência de controle da instituição demonstrava a visão de Portugal sobre a função

política que a educação é capaz de exercer, motivando transformações e mudanças culturais, o

que não era de forma alguma coerente com os ideiais do Império, a quem interessava, acima de

tudo, manter o status quo de dominação e subserviência da colônia.

Com a República sendo proclamada em 1889, o presidente do governo provisório,

Marechal Deodoro da Fonseca, percebe a premente necessidade de reconstrução do ensino

diante da realidade de uma população com 70% de analfabetos frente à implantação de um

regime democrático que não concedia o direito de voto àqueles que estavam nesta condição.

Sendo assim, os esforços foram inicialmente dedicados ao nível básico.

No entanto, com a renúncia do Marechal Deodoro da Fonseca, os demais presidentes até

Nilo Peçanha, nos idos de 1909, passaram a destacar a necessidade de investimento no ensino

profissional capaz de capacitar a mão de obra livre. Neste sentido, Prudente de Morais afirmou

que “São idéias triunfantes em todos os países, onde a instrução tem merecido particular

cuidado, o ensino objetivo ou intuitivo e prático, com exclusão, tanto quanto possível, de teorias

sem aplicação imediata à vida social [...]” (MEC; INEP, 1987, p. 26).

Desta forma, percebe-se a valorização do ensino de apelo prático, capaz de contribuir de

forma direta e indubitável para o desempenho da lógica mercadológica, sendo tomada como

sem valor qualquer contribuição no sentido da construção do conhecimento como uma

finalidade em si mesma. A educação é vista, então, como importante maneira de instruir a

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população no que tange à prática das profissões para que, assim, estas possam contribuir

diretamente para a atividade econômica do país. Atualizando-se este argumento para o contexto

atual, esse tipo de ensino seria denominado como “ensino instrumental” (CHAUÍ, 1999).

No rol das prioridades dos governos inseridos em um cenário de atividade

predominantemente agrária, encontra-se a instalação das escolas de artíficies em vários estados

como saída para qualificação da mão de obra, inclusive rural, através dos Institutos Técnicos

Profissionais. Somente em 1910, vinte e um anos após a Proclamação da República, surge com

o Marechal Hermes da Fonseca, mesmo que incipiente, o cuidado com um outro viés da

educação, conforme se pode observar no pronunciamento feito por ele:

(...) é necessário reorganizar o ensino, principalmente, no sentido de: dar autonomia

ao ensino secundário, libertando-o da condição subalterna de mero preparatório de

ensino superior; organizá-lo de maneira a fazê-lo eminentemente prático, a fim de

formar homens capazes para todas as exigências da vida social, ao mesmo tempo que

aptos, caso queiram, para seguir os cursos especiais e superiores; criar programas que

desenvolvam a inteligência da juventude e não que a aniquilem por uma sobrecarga

de estudos exageradamente inútil e, por isso, antes nociva do que proveitosa (...)

Particular atenção dedicarei ao ensino técnico profissional, artístico, industrial e

agrícola que, ao par da parte propriamente prática e imediatamente utilitária,

proporcione também instrução de ordem ou cultura secundária, capaz de formar o

espírito e o coração daqueles que amanhã serão homens e cidadãos. (MEC; INEP,

1987, p. 49)

Assim, se manifesta, pela primeira vez, a preocupação com a educação como instrumento

capaz de “(...) formar o espírito e o coração (...)”, atribuindo, desta forma, um papel mais amplo

ao ensino do que a pura preparação para uma profissão, foco que não deixa de existir, mas que,

ao que indica em sua mensagem, seria levado de forma paralela à formação dos alunos como

seres pensantes dotados de capacidade analítica. Entretanto, ao verificar suas manifestações nos

anos seguintes, percebe-se que seria realmente somente um pequeno impulso que se perdeu

com a ainda muito presente visão da necessidade de capacitação de mão de obra.

Neste momento marcado também pela Reforma Rivadávia4, a qual, segundo Torgal e

Ésther (2014), bem como Cury (2009), afirmam ter sido mais danosa que proveitosa, alguns

estados, diante do pressuposto da liberdade de ensino, perceberam então a oportunidade de criar

suas universidades estaduais, o que ocorreu no Amazonas (1909), em São Paulo (1911) e no

4 Segundo Cury (2009), a Reforma Rivadávia abrangeu o período entre 1911 e 1915 e, “Por meio dela, o governo

do presidente Hermes da Fonseca, tendo como seu ministro da Justiça o jurista Rivadávia Corrêa, ambos

seguidores da doutrina positivista, buscaram o fim do status oficial do ensino.” (CURY, 2009, p. 717). Tomando

como base a interpretação por eles realizada de um artigo da Constituição de 1891, através de um decreto, o

governo federal determinou que as escolas, tanto de ensino secundário quanto de ensino superior, iriam perder seu

status de oficial e se tornariam entidades corporativas autônomas. Dessa forma, o Estado não mais detém “(...) a

titularidade do monopólio da validade oficial dos diplomas e certificados e tal prerrogativa passa a ser dessas

entidades.” (CURY, 2009, p. 717). Assim, ocorreu o que se denominou como a desoficialização do ensino

(TORGAL; ÉSTHER, 2014).

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Paraná (1912). Nesta época, também se multiplicaram as escolas de ensino privado, o que

deixou clara a tendência de privatização da educação neste período entre 1911 e 1914.

Posteriormente a esta reforma, veio, em 1915, o decreto nº 11.530, de 18 de março de

1915, que reorganizou o ensino secundário e o superior na República, reativando a questão da

vinculação com a União para as autorizações e criações de instituições. É neste sentido que tal

decreto estabeleceu em seu artigo 6º que a competência para criação de universidades seria

exclusiva do governo federal, como segue transcrito abaixo:

Art 6º O Governo Federal, quando achar oportuno, reunirá em Universidade as

Escolas Politécnica e de Medicina do Rio de Janeiro, incorporando a elas uma das

Faculdades Livres de Direito dispensando-a da taxa de fiscalização e dando-lhe

gratuitamente edifício para funcionar. (BRASIL, 1915)

Cria-se então a que foi denominada efetivamente como a primeira universidade do país

em 1920: a Universidade do Rio de Janeiro. As anteriormente citadas de âmbito estadual não

receberam o título de pioneiras devido ao fato de seus diplomas não possuírem validade real

(TORGAL; ÉSTHER, 2014).

Após a edição deste decreto, manifestou-se a preocupação com a formalização de um

plano definitivo para o ensino, que seria, no entanto, um plano permanente e formal para a

educação no sentido de novamente reafirmar a percepção do papel do ensino como ferramenta

de capacitação de pessoal. Neste sentido, afirma o então presidente Epitácio Pessoa, que ocupou

o cargo até 1922:

[...] é o ensino público, em todos os seus graus, elemento básico e primordial da

grandeza e prosperidade da Nação. Do preparo eficiente dos cidadãos dimanam a

regularidade e perfeição de todos os serviços, o aproveitamento das riquezas

naturais do solo, o desenvolvimento da fortuna nacional, em suma, o progresso e

o renome da Pátria sob todos os aspectos material, intelectual e moral. O Governo

da União não pode nem deve conservar-se impassível ante os prejuízos decorrentes

da falta desse preparo. Urge providenciar contra os efeitos do analfabetismo

dominante em muitos Estados da República, os quais, por falta de recursos próprios,

estão deixando sem remédio eficaz esse grande mal e contribuindo, assim, para

agravar cada vez mais o nosso atraso social e político. (Grifo nosso) (MEC; INEP,

1987, p.79-80)

Atribui-se, desta forma, o atraso social, político e econômico à falta de preparo de mão

de obra. Seria esta a visão a ser difundida muitas décadas depois por diversos autores, dentre

os quais se destaca neste trabalho Etzkowitz (1994), ao defender a atuação integrada da

universidade com a indústria e o governo com agente de desenvolvimento econômico.

Artur Bernardes, presidente na época de 1922 a 1926, período da reforma educacional

seguinte, reconduziu ao seu discurso aquela preocupação uma vez demonstrada pelo ex-

presidente Marechal Hermes da Fonseca quanto à educação abranger mais do que apenas

ensinamentos de ordem prática. Desta forma, Bernardes se dirige ao Congresso afirmando que:

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O problema da instrução é o mais relevante para qualquer povo. A cultura geral é a

base do progresso moral e econômico. Descurar o ensino ou sofisma-lo, em qualquer

dos seus graus, é empecer o progresso da nação. Nem se diga que a tendência

moderna é para menosprezar a cultura literária, fazendo-a ceder o passo ao

aprendizado prático das ciências aplicadas. Certamente à tecnologia cabe lugar

relevante na educação dos povos que marcham na dianteira da civilização, mas

fora erro afirmar que o estudo das humanidades deve ser hoje considerado

desperdício de tempo. Nos países tidos como “práticos” e que se assinalam pelo seu

grande desenvolvimento industrial, é onde, exatamente, vemos cultivados, com mais

apreço e profundeza, os estudos clássicos. (...) Em síntese, o que inspirou essa reforma

foi o desejo de moralizar e tornar eficiente o ensino, pela ampliação dos estudos

propedêuticos de humanidades (...) Era evidente que uma legislação nova, com

semelhante finalidade, havia de despertar a oposição de quantos preferissem, de

acordo com seus interesses pessoais de momento, permanecer sob o regime antigo,

que foi revogado precisamente porque se reconheceu não mais corresponder às

exigências de ensino, e tampouco aos nossos foros de cultura [...] (MEC; INEP, 1987,

p. 95-96)

Entretanto, não houve muito tempo para que tal esforço fosse implementado, uma vez

que, em 1930, com o golpe de estado, assume Getúlio Vargas, com a intenção de instalação da

denominada “Universidade Técnica” (FRANCO; MOROSINI, 2011).

Prevalece, portanto, a visão de que educação superior deveria ser do tipo utilitário e

restrito às profissões, deixando-se de lado sua função de formadora da cultura nacional

e da cultura científica desinteressada (TEIXEIRA, 1989). Em outras palavras, quando

criada, a universidade significa formação para o trabalho e para o mercado [...]

Interessa, portanto, a ideia de universidade profissional. É assim que Getúlio Vargas,

em 1930, irá propor, final e claramente, o conceito de universidade técnica, dentro da

lógica autoritária que irá marcar seu governo. (TORGAL; ÉSTHER, 2014, p. 159)

A partir de então, a realidade universitária brasileira foi marcada por aberturas e

fechamentos de universidades, criação de universidades privadas, abertura da primeira

universidade brasileira assim concebida (a Universidade de Brasília – UnB), ao mesmo tempo

em que, com a Segunda Guerra, tomaram importância os esforços de pesquisa que culminaram

com a estruturação de entidades como o Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) e a Campanha

para Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES). O ideal de formação

profissional para capacitação técnica continuou a inspirar o ensino universitário, inclusive na

época da Ditadura Militar, quando ganhou espaço a Teoria do Capital Humano (TORGAL;

ÉSTHER, 2014).

Logo após a queda do regime militar, o Brasil aprova sua nova Constituição em 1988

(CF/88), que traz alguns princípios basilares para a área de educação e para a atuação da

universidade. A CF/88 estabelece em seu artigo 205 que “A educação, direito de todos e dever

do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando

ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e a qualificação

para o trabalho” (BRASIL, 1988).

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Assim, passa a receber destaque a questão da formação do indivíduo enquanto cidadão,

e não apenas de sua capacitação para o exercício de uma atribuição operacional ou tecnicista,

capacidade que é também considerada pelo dispositivo mas que não restringe o papel da

educação.

No que tange à universidade, o artigo 206 delimita que “As universidades gozam de

autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão

ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” (BRASIL, 1988).

Neste sentido, posteriormente reforçou ainda a Lei nº 9394/96, conhecida como Lei de

Diretrizes e Bases da Educação, complementando o direcionamento legal da autonomia ao

afirmar em seu artigo 53 que:

Art. 53. No exercício de sua autonomia, são asseguradas às universidades, sem

prejuízo de outras, as seguintes atribuições:

I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e programas de educação superior

previstos nesta Lei, obedecendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do

respectivo sistema de ensino;

II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, observadas as diretrizes gerais

pertinentes;

III - estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa científica, produção artística

e atividades de extensão;

IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacidade institucional e as exigências

do seu meio;

V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos em consonância com as normas

gerais atinentes;

VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;

VII - firmar contratos, acordos e convênios;

VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos de investimentos referentes a

obras, serviços e aquisições em geral, bem como administrar rendimentos conforme

dispositivos institucionais;

IX - administrar os rendimentos e deles dispor na forma prevista no ato de

constituição, nas leis e nos respectivos estatutos;

X - receber subvenções, doações, heranças, legados e cooperação financeira resultante

de convênios com entidades públicas e privadas. (BRASIL, 1988)

Dessa forma, a partir da interpretação literal da letra da lei, seria factível depreender que

a autonomia universitária brasileira é plena, uma vez que a instituição goza de poderes absolutos

para realizar a administração de sua atividade. No entanto, esta interpretação, segundo Durham

(1989), não é a mais adequada ao se tratar de entidades do Estado ou da Sociedade Civil, uma

vez que estas são criadas para cumprir fins sociais pré-definidos.

Assim, a autonomia universitária brasileira não deveria ser confundida com soberania,

já que aquela determina que a instituição “[...] é restrita ao exercício de suas atribuições e não

tem como referência o seu próprio benefício, mas uma finalidade outra, que diz respeito à

sociedade” (DURHAM, 1989, p.2).

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Para que se garanta a consecução destes fins, no Brasil são elaborados direcionamentos

por parte do poder legislativo, do poder executivo e de seus órgãos, como o Ministério da

Educação (MEC), no sentido de indicar procedimentos de organização dos cursos de graduação,

formas de alocação dos recursos, dentre outros trâmites que permitem a constatação de que esta

autonomia é relativa, uma vez que se refere à capacidade da instituição se reger por suas normas

próprias desde que estas sejam coerentes com os fins sociais aos quais se destina e às

regulamentações superiores que a atingem. Umas dessas regulamentações consiste no Plano

Nacional da Educação (Lei 13.005/14), referenciado no artigo 214 da CF/88. Este dispositivo

estabelece que:

Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o

objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e

definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a

manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e

modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas

federativas que conduzam a:

I - erradicação do analfabetismo;

II - universalização do atendimento escolar;

III - melhoria da qualidade do ensino;

IV - formação para o trabalho;

V - promoção humanística, científica e tecnológica do País.

VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como

proporção do produto interno bruto. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 59, de

2009)

Com relação ao financiamento, a Constituição de 1988 trouxe também direcionamentos,

os quais estão presentes em seu artigo 212, que delimita o percentual mínimo de aplicação de

recursos provenientes de impostos para o desenvolvimento do ensino nas esferas federal,

estadual e municipal. Estas regulamentações, segundo Panizzi (2014), construíram, em termos

econômicos, políticos e ideológicos, uma universidade durante muitas décadas subserviente aos

interesses do Estado e do Governo, já que as políticas de financiamento e ampliação estiveram

sendo por eles delimitadas, como, por exemplo o REUNI, Programa de Apoio a Planos de

Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, que visou o aumento do número de

vagas para ingresso, redução da evasão, dentre outras medidas.

Chauí (2014), ao analisar a construção e as mudanças atinentes à universidade, constrói

um panorama sobre a universidade brasileira alocando seu desenvolvimento em três fases: i.

universidade funcional; ii. universidade pautada em resultados; iii. universidade operacional.

Nas palavras da autora, esta fases seriam assim caracterizadas:

A universidade funcional, dos anos 70, foi o prêmio de consolação que a ditadura

ofereceu à sua base de sustentação político-ideológica, isto é, a classe média

despojada de poder. A ela foram prometidos prestígio e ascensão social por meio do

diploma universitário. A universidade de resultados, dos anos 80, foi aquela gestada

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pela etapa anterior, mas trazendo duas novidades. Em primeiro lugar, a expansão para

o ensino superior da presença crescente de escolas privadas, encarregadas de

continuar alimentando o sonho social da classe média; em segundo lugar, a introdução

da ideia de parceria entre as universidades públicas e as empresas privadas. A

universidade operacional de nossos dias que difere das formas anteriores (...) [E, esta,]

voltada diretamente para o mercado de trabalho (...) Regida pelos contratos de gestão,

avaliada por índices de produtividade, calculada para ser flexível, a universidade

operacional está estruturada por estratégias e programas de eficácia organizacional e,

portanto, pela particularidade e instabilidade dos meios e dos objetivos (CHAUÍ,

2014, p. 5-6)

Assim, esta autora manifesta sua percepção crítica acerca do caminho percorrido pela

universidade brasileira até os dias de hoje, sendo ressaltado que, em todos os momentos, esta

instituição teve sua autonomia enfraquecida: no primeiro período, pelo governo; no segundo

pelas empresas; e no terceiro, pela lógica mercadológica entronizada em seu funcionamento.

Na realidade, a universidade operacional descrita por Chauí (2014) foi articulada com a reforma

gerencial responsável por trasladar para a administração pública a lógica de gerenciamento

privado, com a instituição de objetivos ligados a: “[...] indicadores de desempenho para avaliar

resultados e níveis de satisfação de clientes (internos e externos); e estimular a criatividade, o

trabalho em equipe, a cooperação e a participação dos servidores públicos” (PAULA, 2005, p.

131), marca do governo Fernando Henrique Cardoso iniciado em 1995.

O governo FHC implementou ainda ações que estimulavam a articulação do poder

público com a iniciativa privada, como os Fundos Setoriais e a Lei de Inovação Tecnológica

com oportunidades para as empresas utilizarem as instalações de laboratórios universitários,

bem como para os pesquisadores da universidade atuarem em projetos inovativos

comercializáveis (TORGAL; ÉSTHER, 2014).

Dessa maneira, já se encontravam indicativos de coerência em alguma extensão com o

movimento de integração universidade-empresa-governo, que se fortaleceu com a universidade

operacional e o gerencialismo. Conforme Silva, Martins e Ckagnazaroff (2013, p. 251):

O advento da Administração Pública Gerencial (APG) ou New Public Management

(NPM), a partir dos anos 1980, trouxe uma nova abordagem para a gestão pública ao

implementar ferramentas gerenciais até então utilizadas apenas na esfera privada,

enfatizando a eficiência e o resultado (HOOD, 1995; PACHECO, 2010; SECCHI,

2009). A APG pode ser entendida como um modelo pós-burocrático e está inserida

nos quadros de reformas da administração pública (SECCHI, 2009). A nova gestão

pública gerou forte mudança na cultura das organizações, invertendo a antiga

orientação de inputs (entradas) para outputs (resultados).

A universidade pública brasileira até então vista como anacrônica, ineficiente e

desperdiçadora de recursos, ao ser inserida nesta nova lógica de funcionamento, passaria a ter

seu desempenho avaliado de forma semelhante a uma empresa, neste caso, prestadora de

serviços tanto para a iniciativa pública, quanto para a iniciativa privada, dinâmica

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caracterizadora da crise institucional da universidade. O efeito disto sobre a autonomia é

assolador, pois

[...] a instituição universitária perde uma das características definidoras de sua

identidade institucional, a autonomia, a qual é transferida para outra instância que não

a própria universidade. Ela passa a ser considerada uma prestadora de serviços que,

embora não orientada para o lucro, passa a ser determinada por decisões externas e

condicionada a um contrato de prestação de serviços, em que a instituição é, na

prática, obrigada a aderir para receber os recursos. (TORGAL; ÉSTHER, p. 200,

2014)

Ao buscar a reprodução de comportamentos da empresa na universidade, sendo estas

duas instituições com características e modos de operação díspares (PANIZZI, 2014), a crise

institucional se constitui. Segundo Boaventura Santos (1995), tal crise ocorre justamente

quando uma nova lógica de funcionamento tida como mais eficiente é entronizada numa

instituição que teve seu modelo administrativo questionado. Na universidade brasileira, isto foi

observado em um cenário de progressivo desinvestimento público na educação superior e

crescente mercantilização do ensino, reflexo da adoção do modelo de desenvolvimento

neoliberal.

Segundo Paula (2005), mesmo com as mudanças na política educacional e a ampliação

do acesso ao ensino superior nos mandatos do governo Lula, manteve-se a abordagem do

gerencialismo, sendo defendido, inclusive, que a universidade adotasse uma nova missão:

promotora do desenvolvimento (CUNHA, 2007; ÉSTHER, 2016).

Neste sentido, à época do governo Lula, foi sancionada a lei 10.973/04, conhecida como

Lei da Inovação, elaborada com o intuito de estabelecer incentivos à inovação e à pesquisa

científica e tecnológica capazes de favorecer a autonomia tecnológica e o desenvolvimento do

sistema de produção nacional. Com ela, houve o incentivo formal à aproximação entre

empresas, instituições de ciência e tecnologia e universidades para, juntas, desenvolverem

inovações.

Com a atribuição da nova missão à universidade, toma força nesse momento a discussão

acerca das contribuições da universidades para a sociedade, partindo-se do reconhecimento de

que havia um relacionamento claro entre a atuação desta instituição e o desenvolvimento

econômico e social, premissa reforçada quando do governo Dilma, no qual foi sancionado o

novo Marco da Ciência, Tecnologia e Inovação, através da Lei 13.243/16, além de instituídas

medidas e programas como a EMBRAPII (EMBRAPII, 2016a) e o Brasil Mais Produtivo

(Brasil Mais Produtivo, 2016).

A Lei 13.243/16 trouxe modificações para a Lei da Inovação (Lei 10.973/04), para as

determinações sobre isenções e reduções no Imposto de Importação (Lei 8.010/90), para o

regime de dedicação exclusiva dos professores do ensino superior público (Lei 12.772/12), para

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as permissões de pesquisadores estrangeiros (Lei 6.815/80), dentre outras legislações

anteriormente sancionadas, sendo as mudanças implementadas no sentido de facilitar a

aproximação entre a universidade e a estrututura produtiva como forma de aumentar a

competitividade das empresas e contribuir para o desenvolvimento de inovações.

Destacam-se assim algumas mudanças na Lei 10.973/04, à qual foram incluídas

determinações tais como: o estímulo à cooperação entre o setor público e privado; o incentivo

à criação e instalação de parques e polos tecnológicos no Brasil e a busca pela competitividade

empresarial tanto no mercado nacional quanto no internacional. O artigo 4º desta lei passou a

determinar, conforme as modificações implementadas pela Lei 13.243/16, que:

Art. 4º. A ICT pública poderá, mediante contrapartida financeira ou não financeira e

por prazo determinado, nos termos de contrato ou convênio:

I - compartilhar seus laboratórios, equipamentos, instrumentos, materiais e demais

instalações com ICT ou empresas em ações voltadas à inovação tecnológica para

consecução das atividades de incubação, sem prejuízo de sua atividade finalística;

II - permitir a utilização de seus laboratórios, equipamentos, instrumentos, materiais

e demais instalações existentes em suas próprias dependências por ICT, empresas ou

pessoas físicas voltadas a atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação, desde

que tal permissão não interfira diretamente em sua atividade-fim nem com ela

conflite;

III - permitir o uso de seu capital intelectual em projetos de pesquisa, desenvolvimento

e inovação. (BRASIL, 2016)

Aos entes federativos se concedeu a permissão para participar, ainda que

minoritariamente, do capital social de empresas que tenham como objetivo o desenvolvimento

de processos ou produtos inovadores. À Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT)

outorgou-se a possibilidade de prestar serviços técnicos especializados tanto para instituições

públicas quanto para instituições privadas, com o intuito de conferir maior competitividade às

empresas, sendo que os profissionais envolvidos neste contrato poderão receber bolsas como

contrapartida de seus serviços (BRASIL, 2016).

Adiciona-se a este panorama de novas permissões para vínculos entre universidades

públicas e instituições privadas a Proposta de Emenda Constitucional nº 55, que institui o Novo

Regime Fiscal. Já aprovada na Câmara em 25 de outubro de 2016, esta PEC propõe o

congelamento dos gastos públicos nas áreas de saúde e ensino pelos próximos vinte anos

(BRASIL, 2016), o que pode se constituir como mais um fator favorável a aproximação das

instituições de ensino superior da iniciativa privada sendo, neste cenário, com o intuito de

conseguir complementações para o financiamento de suas atividades.

Em harmonia com estes novos ímpetos de integração, observou-se em 2013 a iniciativa

de criação da EMBRAPII, Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, caracterizada

como Organização Social do Poder Público Federal. Seu financiamento é proporcionado em

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partes iguais pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações – MCTIC e

pelo Ministério da Educação – MEC (EMBRAPII, 2016a).

A EMBRAPII foi estruturada no sentido de construir relações sinérgicas entre empresas

industriais e instituições de pesquisa tecnológica capazes de fortalecer o potencial inovativo

brasileiro. Desta forma, sua missão corresponde a “contribuir para o desenvolvimento da

inovação na indústria brasileira através do fortalecimento de sua colaboração com institutos de

pesquisas e universidades” (EMBRAPII, 2016b).

A EMBRAPII atua por meio da cooperação com instituições de pesquisa científica e

tecnológica, públicas ou privadas, tendo como foco as demandas empresariais e como

alvo o compartilhamento de risco na fase pré-competitiva da inovação. Ao

compartilhar riscos de projetos com as empresas, tem objetivo de estimular o setor

industrial a inovar mais e com maior intensidade tecnológica para,

assim, potencializar a força competitiva das empresas tanto no mercado interno como

no mercado internacional. (EMBRAPII, 2016a)

Assim, quando da demanda por um projeto na EMBRAPII, que trabalha com fluxo

contínuo, ela aporta, no máximo, um terço dos recursos necessários para o desenvolvimento do

mesmo, sendo que os demais dois terços são divididos entre o Polo/Unidade EMBRAPII e a

empresa envolvida. Os polos e unidades da EMBRAPII são preparados em termos de

infraestrutura e de equipe para atendimento das demandas por inovação. Atualmente, o país

apresenta 28 destes pólos, como demonstrado no Quadro 01.

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Quadro 1 - Polos e Unidades EMBRAPII

CNPEM

Embrapa Agroenergia

IPT BIO

REMA/UFSC

Mecânica e Manufatura

Materiais e Química

Tecnologias Aplicadas

Biotecnologia

COPPE/UFRJ

LAMEF/UFRGS

IF Fluminense

IFBA - Salvador

INT

IPT MAT

SENAI Polímeros

POLI/USP

IFES - Vitória

CERTI

SENAI/CIMATEC

ITA

FIMEC/UFU

POLO/UFSC

INATEL

Área de Competência Tecnológica Polos e Unidades

Tecn. de Informação e Comunicação

UFCG/CEEI

LACTEC

ELDORADO

IFCE - Fortaleza

IFMG - Formiga

DCC-UFMG

CPqD

CESAR

TECGRAF/PUC-Rio

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da EMBRAPII (EMBRAPII, 2016b)

Esta vinculação da universidade com o setor produtivo como motor de inovação guarda

estreita relação com as correntes que defendem a aproximação da universidade com a empresa,

como a universidade empreendedora proposta por Clark (1998). Ipiranga, Freitas e Paiva (2010,

p. 678) afirmam que:

(...) a Universidade passa a ser o lócus de criação e apoio a um sujeito apto a

revolucionar um sistema de produção. As mudanças decorrentes de tais inovações

seriam a força fundamental de desenvolvimento da economia dos países.

Estes ímpetos de um relacionamento de integração entre universidade e empresa estão

presentes no contexto mundial como propostas de promoção de desenvolvimento econômico e

social das nações há um período considerável. Assim, passa-se ao estudo de três desses modelos

que alcançaram maior representatividade.

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2.3 OS MODELOS DE INTEGRAÇÃO ENTRE A UNIVERSIDADE E O AMBIENTE

EXTERNO

2.3.1 O Triângulo de Sábato

No contexto da América Latina, a abordagem de Sábato e Botana (1968) toma

importância. Cientes das dificuldades apresentadas pelos países desta região para promover a

inovação científico-tecnológica devido à ausência de tradição e escassez de recursos materiais

e humanos, dentre outros fatores, propuseram um modelo que valoriza a interrelação entre a

estrutura produtiva, o governo e a infraestrutura científico-tecnológica como forma de

proporcionar o desenvolvimento tecnológico e superar o subdesenvolvimento da América

Latina. Este modelo é representado pelo denominado “Triângulo de Sábato”, representado na

Figura 02.

Figura 2 - O Triângulo de Sábato

Fonte: SÁBATO; BOTANA (1968, p. 7)

Nesta concepção, o vértice “estrutura produtiva” abrange os setores produtivos que

oferecem os serviços e bens requisitados pela sociedade, enquanto o vértice “infraestrutura

científico-tecnológica” representa o sistema educacional, incluindo ainda a infraestrutura de

laboratórios e centros de pesquisa, o sistema de planejamento e estímulo à pesquisa e os

mecanismos jurídico-administrativos que regulamentam as atividades de pesquisa, além dos

recursos financeiros destinados ao seu funcionamento. O vértice “governo”, por sua vez,

abrange o conjunto de instituições às quais são atribuídas a elaboração e implementação de

políticas públicas, bem como o provisionamento dos recursos necessários aos outros dois

vértices por meio de sua atuação legislativa e administrativa (SÁBATO; BOTANA, 1968).

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Nesta abordagem, a infraestrutura científico-tecnológica recebe destaque dos autores

como elemento diferencial entre as nações desenvolvidas e subdesenvolvidas. A esta

infraestrutura, organizada de forma sustentatada, séria e permanente, é atribuída a capacidade

de transformação e evolução de uma nação, bem como de sua participação ativa no

desenvolvimento social, político e cultural do mundo no futuro.

Na visão de Sábato e Botana (1968, p. 02-03), o desenvolvimento científico tecnológico

consiste no instrumento capaz de “[...] promover novas relações de igualdade entre as nações e

as regiões, de modo que o desenvolvimento dos países marginalizados permita uma redefinição

da atual distribuição de poder, do bem-estar e do prestígio no cenário da comunidade

internacional”, o que ofereceria novas e amplas possibilidades de inserção e participação das

nações das nações latino-americanas no contexto mundial.

Entretanto, como pode-se depreender do modelo, não basta o investimento apenas em

um dos vértices, uma vez que todos devem atuar de forma conjunta. Assim, entre cada um dos

agentes, formando pares de vértices, ocorrem as interrelações; no interior de cada um deles,

intrarrelações; e ainda com a sociedade, extrarrelações, as quais devem ser todas direcionadas

no mesmo sentido (SÁBATO; BOTANA, 1968). Os autores reforçam que:

Não basta uma vigorosa infra-estrutura científico-tecnológica para assegurar que um

país será capaz de incorporar a ciência e a técnica ao seu processo de

desenvolvimento; é necessário também, transferir para a realidade os resultados da

pesquisa; acoplar a infra-estrutura científico-tecnológica à estrutura produtiva da

sociedade. (SÁBATO; BOTANA, 1968, p. 04)

Desta forma, a interrelação entre os agentes assume importância no sentido de

possibilitar uma ação direcionada ao mesmo fim, que seria, neste caso, a inovação. Segundo

estes autores, o que se denomina como inovação consiste em incorporar o conhecimento com

o intuito de gerar ou aprimorar um processo produtivo. Os fatores responsáveis por impulsionar

a inovação abrangem, na visão dos mesmos, a guerra (real ou potencial), as necessidades do

mercado, a escassez de matérias-primas, , a substituição de importações, a maior ou menor

disponibilidade de mão de obra qualificada e a necessidade de otimização de investimentos.

Na relação entre os vértices é que ocorrem as diversas trocas de elementos e demandas

capazes de promover a inovação. No entanto, neste modelo, a infraestrutura científico-

tecnológica possui uma dependência direta do governo, sobretudo no que se refere ao

provisionamento de recursos; é também ele que direciona as demandas que poderão ser, por

sua vez, atendidas, transformadas ou eliminadas caso ocorram contra-demandas que a

substituam (SÁBATO; BOTANA, 1968).

Bem como Herrera (1995), Sábato e Botana (1968) já identificavam obstáculos capazes

de comprometer este processo de integração entre os vértices que poderiam reduzir o potencial

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de inovação. Dentre eles, destacam-se aspectos sócio-culturais, econômicos, financeiros,

políticos e científicos, representados por predomínio de ações rotineiras, escassez de capital e

falta de otimização dos recursos existentes, infra-estrutura técnico-científica insuficiente ou

inexistente, entre outros, que podem ser em grande parte identificados na América Latina.

Adicionalmente, a visão de alguns autores, como Plonski (1995), ressalta que as

interrelações correspondem ao elemento que envolve maior complexidade, uma vez que, para

que se estruturem em torno de um objetivo comum, é preciso que internamente os três entes

estejam direcionados de forma homogênea para que isto se reflita na forma como eles

construirão suas relações com agentes externos. Na visão de Panizzi (2014), isto se torna

particularmente difícil quando se abordam os vértices de Infra-estrutura científico-tecnológica,

representado pela Universidade, e Estrutura Produtiva, representada pela Indústria, uma vez

que correspondem a organizações com natureza e missões distintas.

Além disso, observa-se que as relações entre os diferentes vértices se constroem ora de

forma vertical, ora de forma horizontal: quando envolve o governo, o fluxo é vertical; ao

envolver as interrelações recíprocas entre os vértices estrutura produtiva e infra-estrutura

científico-tecnológica, o fluxo é horizontal. Assim, a intenção de construir com o modelo uma

relação de intercooperação acaba enfraquecida devido ao fato do governo ocupar uma posição

proeminente, inclusive com o exercício de poder sobre as demais partes, tornando-as

subservientes a ele e delimitando suas perspectivas de atuação.

Ao perceber essa restrição do modelo, outros autores, também interessados na dinâmica

de construir inovação através da sinergia entre diferentes entes da sociedade, começaram a

elaborar novas propostas, dentre as quais se ressalta a Tripla Hélice de Etzkowitz (1994).

2.3.2 A Tripla Hélice

Diante das diversas críticas ao modelo elaborado por Sábato e Botana (1968), Etzkowitz

e Leydesdorff (1996) propõem novas abordagens de interação entre universidade-empresa-

governo, trazendo então o conceito da Tripla Hélice, que estrutura a interação entre os agentes

em todos os sentidos e não mais de forma horizontal ou vertical, mas sim em espiral. Este

modelo, inicialmente elaborado como HT1, foi também sofrendo evoluções ao longo do tempo

a partir das constantes modificações que envolvem seus atores e as formas de relacionamento

entre eles.

A proposta inicial, representando a fase I ou HT1, sugeria o governo como ente que

envolveria a universidade e a indústria, exercendo um papel central no processo. Desta forma,

o governo assumiria a atribuição de conduzir as relações entre os outros dois agentes e as

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diretrizes seriam por ele elaboradas. Sendo assim, a inovação, nesta abordagem, assumia um

caráter normativo.

A propagação cada vez mais ampla do sistema capitalista no cenário mundial provocou

a evolução do modelo para a denominada “fase 2”, onde buscou se elaborar uma proposta mais

adequada ao novo contexto caracterizado por, ao menos teoricamente, os três agentes possuírem

liberdade e autonomia. Assim, os autores buscaram se aproximar do laissez-faire, reduzindo o

papel do governo preponderante na primeira proposta.

Na fase 2, os agentes passaram a estar ligados por uma pequena conexão, cada um

exercendo seu papel de maneira clara e bem definida em um contexto com menor autoritarismo

por parte do governo com relação aos direcionamentos de inovação. A evolução seguinte do

modelo (HT III) propõe, como pode-se perceber na Figura 03, que os entes encontrem-se até

mesmo sobrepostos em algumas situações, o que possibilita pontos comuns de atuação com um

agente interferindo e contribuindo na área do outro. Assim, não há exatamente uma delimitação

de fronteiras, já que o intuito deste novo modelo corresponde exatamente à construção de uma

interação dinâmica, intensa e constante entre todos os envolvidos a fim de promover a

construção de arranjos institucionais diversos e causar a intensificação dos processos

inovativos.

Figura 3 - HT III

Fonte: Adaptado de Etzkowitz; Leydesdorff (2000)

Este modelo vem sendo difundido com o objetivo de compreender a estruturação das

relações entre a Universidade, a Indústria e o Governo como uma estrutura trilateral de

promoção de desenvolvimento econômico regional com base no conhecimento. Nesta proposta,

a universidade passa a exercer, além das atribuições fundamentais de ensino e pesquisa, uma

terceira missão: contribuir para o desenvolvimento econômico da região onde se insere,

desencadeando o avanço social (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000).

Assim, a instituição universitária deveria, neste sentido, oferecer estrutura e apoio para

criação e desenvolvimento de iniciativas capazes de revolucionar sistemas produtivos, sendo

tais inovações a força propulsora de desenvolvimento da economia dos países. Para isto, as

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fronteiras tradicionalmente existentes entre os componentes da Tripla Hélice não devem mais

se apresentar como barreiras, mas sim como limites permeáveis capazes de favorecer a

contrução de vínculos de cooperação e a criação de espaços colaborativos para desenvolvimento

de conhecimento e inovação, o que, na visão de Etzkowitz e Leydesdorff (2000), resultará em

um desenvolvimento regional mais relevante do que o que ocorreria caso os agentes envolvidos

trabalhassem individualmente.

Na visão de Ranga e Etzkowitz (2013), está acontecendo nas últimas décadas um

processo de mudança de foco da inovação em esferas institucionais únicas para a valorização

desta interação entre esferas como um novo espaço de construção de inovação organizacional

e relacionamento social. Com esta modificação, o desenvolvimento do produto, antes atribuído

unicamente à indústria, a formulação de políticas, inicialmente de responsabilidade exclusiva

do governo, e a criação de conhecimentos como competência privativa da academia, passam a

ser atividades compartilhadas entre todos esses entes. Desta forma, o sistema de Tripla Hélice

passa a construir uma visão dos agentes de inovação considerando as relações e fluxos entre

eles como uma transição dinâmica. Sua constituição é definida como um conjunto de

componentes, suas relações e funções.

(i) Componentes (as esferas institucionais da Universidade, Indústria e Governo, com

uma grande variedade de atores); (ii) os relacionamentos entre os componentes

(colaboração e moderação de conflito, liderança colaborativa, substituição e rede de

contatos); e (iii) funções, descritas como os processos que ocorrem no que

descrevemos como ‘Conhecimento, Inovação e Espaços de Consenso’. (RANGA;

ETZKOWITZ, p. 2, [s. d.])

O sistema da Tripla Hélice defende que diretrizes comuns e compartilhadas entre seus

componentes são capazes de reforçar a colaboração entre os mesmos; transcendendo os limites

setoriais e tecnológicos, a Tripla Hélice foca na permeabilidade das fronteiras entre tais esferas

institucionais como uma fonte para a criatividade organizacional, estimulando os indivíduos a

se moverem dentro e entre elas e se envolverem na recombinação de elementos a fim de criar

novos tipos de organizações, o que promove, de acordo com Ranga e Etzowitz (2013), uma

combinação dos recursos locais bem mais profícua no sentido de realização de objetivos

comuns e de formatação de novos modelos organizacionais no que tange a Conhecimento,

Inovação e Espaços de Consenso.

A relação Universidade – Empresa – Governo passa então a ser tratada tendo como base

este argumento da Tripla Hélice, o qual, segundo Dagnino (2003), consiste na combinação da

Segunda Revolução Acadêmica com a proposta da Política Científica e Tecnológica, como os

Pólos e Parques Tecnológicos, decorrente da difusão da primeira.

A Segunda Revolução Acadêmica delineia um processo de sinergia entre Universidade

e Empresa que, conforme Dagnino (2003) e Etzkowitz (2002), estaria acontecendo de forma

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crescente. Este movimento pode ser identificado através da ampliação quantitativa e qualitativa

dos relacionamentos entre essas instituições, sendo o aumento do número de contratos entre

universidades e empresas e o alcance de resultados econômicos mais satisfatórios no campo de

ambas possíveis resultados dessa aproximação.

Essa ampliação estaria denotando uma maior eficiência da relação U-E-governo, fruto

do estabelecimento daquele novo contrato social entre a universidade e seu entorno

que estaria levando a universidade a incorporar as funções de desenvolvimento

econômico às suas já clássicas atividades de ensino e pesquisa, e a redefinir suas

estruturas e funções (Etzkowitz, 1994). Estaria ocorrendo, assim, a generalização de

um padrão de relação caracterizado pelo maior impacto econômico das pesquisas

realizadas na universidade. (DAGNINO, 2003, p. 272-273)

Um outro fator que seria diretamente impacto pela sinergia Universidade-Empresa seria

o nível de inovação, do qual se espera uma crescente conforme se aproximam estas instituições.

No caso do Brasil, entretanto, este panorama não é muito positivo. Hoje o país ocupa o 69º

lugar no ranking do Índice de Inovação, estudo realizado pela Organização Mundial de

Propriedade Intelectual em conjunto com a Johnson Cornell University e o INSEAD, da França.

Mesmo tendo aumentado o número de patentes solicitadas e concedidas no Brasil quando se

analisa sua evolução nos últimos anos, a comparação com o desempenho de outros paises já

enfraquece este argumento.

Como pode-se observar na tabela a seguir (Tab. 2), nos últimos quinze anos houve, no

grupo de países selecionados para a pesquisa, um aumento de aproximadamente 111% no

número de pedidos de patentes e de 90% na concessão das mesmas. O Brasil, por sua vez,

apresenta um panorama surpreendente neste sentido ao apresentar um crescimento de 335%

nos pedidos e de 267% nas concessões. Entretanto, ainda com este esforço, o país representa

apenas 0,16% dos pedidos de patentes e 0,12% das concessões dentre aqueles estudados.

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Tabela 2- Evolução no número de pedidos e concessões de patentes (1999-2015)

Fonte: Adaptado de Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (2016)

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Pedidos 179 209 231 241 224 246 197 231 252 265 318 320 339 328 415 375 ...

Concessões 110 111 120 113 112 100 87 109 82 91 93 116 123 142 161 152 166

Pedidos 16978 17715 19900 20418 18890 19824 20664 22369 23608 25202 25163 27702 27935 29195 30551 30193 ...

Concessões 9337 10235 11260 11280 11444 10779 9011 10005 9051 8914 9000 12363 11920 13835 15498 16550 16529

Pedidos 96 137 137 95 125 103 94 117 150 138 146 134 156 141 160 126 ...

Concessões 44 54 51 54 63 46 24 38 37 32 45 45 49 63 75 71 66

Pedidos 1462 1800 1995 2160 2310 3000 2919 2928 3412 3976 3699 3739 3767 3603 3676 3516 ...

Concessões 707 705 876 859 902 953 910 1325 1265 1291 1221 1748 1921 1525 1631 1693 1627

Pedidos 186 220 219 243 259 287 295 341 375 442 464 568 586 679 769 810 ...

Concessões 91 98 110 96 130 106 77 121 90 101 103 175 215 196 254 334 323

Pedidos 6149 6809 7221 7375 7750 8202 8638 9652 10421 10307 10309 11685 11975 13560 13675 12963 ...

Concessões 3226 3419 3606 3431 3427 3374 2894 3572 3318 3393 3655 4852 5014 5775 6547 7043 6802

Pedidos 257 469 626 888 1034 1655 2127 3768 3903 4455 6879 8162 10545 13273 15093 18040 ...

Concessões 90 119 195 288 297 403 402 659 770 1223 1654 2655 3174 4637 5928 7236 8116

Pedidos 460 632 786 807 771 879 919 1143 1188 1266 1225 1540 1564 1688 1722 1869 ...

Concessões 144 218 296 410 427 449 346 412 393 399 436 603 647 810 797 946 966

Pedidos 5033 5705 6719 7937 10411 13646 17217 21685 22976 23584 23950 26040 27289 29481 33499 36744 ...

Concessões 3562 3314 3538 3786 3944 4428 4351 5908 6295 7548 8762 11671 12262 13233 14548 16469 17924

Pedidos 464 549 601 564 606 696 701 844 966 1216 1162 1422 1501 1641 1707 1640 ...

Concessões 222 270 269 303 309 264 273 295 268 303 317 414 469 642 711 789 818

Pedidos 149825 164795 177511 184245 188941 189536 207867 221784 241247 231588 224912 241977 247750 268782 287831 285096 ...

Concessões 83906 85068 87600 86971 87893 84270 74637 89823 79526 77502 82382 107791 108622 121026 133593 144621 140969

Pedidos 6216 6623 6852 6825 6603 6813 6972 7176 8046 8561 9331 10357 10563 11047 11462 11947 ...

Concessões 3820 3819 4041 4035 3868 3380 2866 3431 3130 2163 3140 4450 4532 5386 6083 6691 6565

Pedidos 271 438 643 919 1164 1303 1463 1923 2387 2879 3110 3789 4548 5663 6600 7127 ...

Concessões 112 131 178 249 342 263 384 481 546 634 679 1098 1234 1691 2424 2987 3355

Pedidos 2577 2704 2967 2980 3011 2997 2993 3274 3376 3805 3940 4156 4282 4516 4580 4764 ...

Concessões 1492 1714 1709 1751 1722 1584 1296 1480 1302 1357 1346 1798 1885 2120 2499 2628 2645

Pedidos 47821 52891 61238 58739 60350 64812 71994 76839 78794 82396 81982 84017 85184 88686 84967 88691 ...

Concessões 31104 31295 33223 34858 35515 35346 30340 36807 33354 33682 35501 44813 46139 50677 51919 53848 52409

Pedidos 147 190 196 157 185 179 180 213 212 248 220 295 306 355 357 481 ...

Concessões 76 76 81 94 85 86 80 66 56 54 60 101 90 133 155 172 172

Pedidos 28 17 28 27 20 30 33 42 57 84 91 111 91 118 133 145 ...

Concessões 5 11 12 11 12 17 10 16 13 11 17 28 30 40 60 36 56

Pedidos 6948 7523 8362 8391 7700 7792 7962 8342 9164 9771 10568 11038 11279 12547 12807 13157 ...

Concessões 3565 3959 3955 3829 3619 3441 3141 3579 3291 3085 3173 4298 4292 5211 5806 6488 6417

Pedidos 388 382 433 377 341 334 366 412 444 547 522 606 719 888 959 1007 ...

Concessões 181 183 234 200 203 169 148 172 188 176 196 271 298 331 417 444 440

Pedidos 245485 269808 296665 303388 310695 322334 353601 383083 410978 410730 407991 437658 450379 486191 510963 518691 ...

Concessões 141794 144799 151354 152618 154314 149458 131277 158299 142975 141959 151780 199290 202916 227473 249106 269198 266365

China

PAÍSES

Itália

Japão

México

África do Sul

Alemanha

Argentina

Austrália

Brasil

Canadá

TOTAL

Portugal

Reino Unido

Rússia

Cingapura

Coréia do Sul

Espanha

Estados Unidos

França

Índia

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37

Adicionalmente, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Propriedade

Industrial (INPI), o país apresentou uma queda significativa no número de patentes do tipo PI

(patentes de invenção) nos últimos anos, como demonstrado no Gráfico 1. Enquanto em 2000

foram registradas 649 patentes dessa especificação, em 2012, último ano do levantamento do

Instituto, foram contabilizadas apenas 363, o que representa 56% do total do ano 2000.

Gráfico 1 - Patentes do tipo PI registradas no Brasil

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do INPI (2012)

Desta forma, a partir do panorama apresentado, ainda que não conte com todos os

indicadores posíveis dedicados à inovação, percebe-se que o tema relativo à integração

universidade-indústria-governo, apesar de já estar sendo estudado há aproximadamente meio

século na América Latina, ainda requer atenção, uma vez que não estão claramente perceptíveis

os impactos esperados por esta relação como elaborado por Etzkowitz e Leydesdorff (2000),

particularmente no que se refere ao Brasil.

A Universidade Empreendedora de Clark (1998) se apresenta como um modelo

complementar à abordagem da Tripla Hélice no momento de modificações conjunturais e legais

vivido atualmente pela universidade brasileira, o qual traz a tendência da instituição de ensino

se aproximar da estrutura produtiva como uma forma de incrementar o processo inovativo e

obter fontes alternativas para dar aporte às suas atividades.

2.3.3 A Universidade Empreendedora

O modelo de Universidade Empreendedora difundido por Clark (1998) está vinculado

a um projeto de manutenção e expansão da universidade com base no fortalecimento das

competências internas desta instituição como forma de garantir sua sobrevivência em meio a

um período de grave crise mundial, o qual remete ao início da década de 1990.

649

379337

403

279247 231

198233

340 313380 363

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

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Este momento, caracterizado pelas ondas de automação e robotização, trouxe à tona um

conjunto de inovações tecnológicas com potencial para tranformar a estrutura do sistema

produtivo então vigente. Tais mudanças, segundo Dagnino (2011), estariam associadas, por sua

própria natureza, a uma exigência cada vez maior de domínio sobre o conhecimento, o que

aumentaria “(...) a importância da universidade na definição dos rumos futuros da sociedade

(...).” (DAGNINO, 2011, p. 31).

Diante desta realidade, Clark (1998) fundamenta seu trabalho em estudos de caso

realizados em cinco instituições europeias, localizadas na Inglaterra, Holanda, Escócia, Suécia

e Finlândia, nas quais estrevistou o corpo gestor e analisou documentos. A partir de suas

pesquisas neste conjunto de instituições, ele constrói então medidas que, associadas, são

entendidas como vitais à manutenção das entidades acadêmicas.

As cinco dimensões, denominadas por ele de ‘Entrepreneurial Pathways of University

Transformation’ ou simplesmente ‘Pathways of Transformation’, são entendidas como comuns

aos casos analisados e de suma importância para a compreensão dos passos que levaram as

mencionadas instituições ao sucesso e ao reconhecimento social. São elas: Núcleo de Direção

Fortalecido, Periferia de Desenvolvimento Expandida, Base de Financiamento Diversificada,

Centro Acadêmico Estimulado e Cultura Empreendedora Integrada (CLARK, 1998).

O Núcleo de Direção Fortalecido, conforme Clark (1998), merece atenção pois uma

melhor capacidade administrativa livre de defiências de gerenciamento é essencial para o

desenvolvimento da universidade. Para melhor compreender as competências necessárias a

cada tipo de instituição, o autor categoriza-as em entidades ambiciosas (ou concentradas) e não

ambiciosas. Estas últimas geralmente se caracterizam pela sua tradição e grande poder de

influência decorrente do seu alto status, e assim, para elas são suficientes os recursos

tradicionais. Por outro lado, as ambiciosas precisam direcionar esforços para garantir sua

sobrevivência, cabendo então a estas buscar por formas organizativas mais flexíveis e

adaptáveis ao que lhes é demandado. Este posicionamento reforça a necessidade do referido

núcleo de direção fortalecido, que denota a preocupação com a forma de gestão da instituição,

a qual deve, frente aos desafios impostos pela gestão orçamentária e pela busca por novas

formas de financiamento de suas atividades, conseguir conciliar em seu cotidiano operacional

os novos valores gerenciais com a tradição acadêmica.

Os novos valores gerenciais se relacionam diretamente também à Periferia de

Desenvolvimento Expandida. Este aspecto se refere ao fato de que universidades que assumem

a perspectiva empresarial defendida apresentam relacionamentos mais diretos com as

organizações ao seu redor, sendo assim utilizado o termo “periferia”. Para Clark (1998, p. 6):

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[...] estas unidades são escritórios de extensão profissionalizados que trabalham na

transferência de conhecimentos, contato com a indústria, desenvolvimento de

propriedade intelectual, educação continuada, captação de recursos e até mesmo no

relacionamento com ex-alunos [...]

Esses, segundo o autor, seriam uma segunda forma de orientar o trabalho acadêmico,

transcendendo a estrutura departamental clássica. Nesse ponto, Clark (1998) direciona sua

crítica a essa concepção tradicional de arranjo do trabalho acadêmico. Mesmo reconhecendo a

importância da clássica estrutura departamental, dividida em áreas do conhecimento, o autor

afirma que essa, embora permita concentrar o domínio sobre as áreas, não é suficiente para

atender esta nova concepção de universidade, cuja força motriz reside em problematizações de

ordem prática e, por si só, interdisciplinares, o que realça a importância dos citados “centros de

pesquisa”.

Eles trazem à universidade a orientação por projetos de outsiders que estão

preocupados em resolver sérios problemas práticos de ordem econômica e de

desenvolvimento social. Eles detém certa flexibilidade, sendo relativamente fáceis de

iniciar e desarticular. Construídos para cruzar as fronteiras, os centros mediam os

departamentos com o mundo exterior. (CLARK, 1998, p. 6)

Clark (1998) questiona também os modelos de financiamento tradicionais baseados em

repasses governamentais para propor a Base de Financiamento Diversificada, que considera

estruturas de autofinanciamento. Na visão do autor, isto signicaria considerar:

(...) um vasto e profundo portfólio de fontes de financiamento pelo terceiro setor que

se estendem desde a indústria, governos locais e fundações filantrópicas, até a real

receita oriunda da propriedade intelectual, rendimentos obtidos a partir de serviços

prestados, taxas estudantis e contribuições de ex-alunos. (CLARK, 1998, p. 6)

Esse novo sistema de financiamento, além de possibilitar montantes significativos para

subsidiar o desenvolvimento de pesquisas, garante também, pelo seu caráter discricionário, a

possibilidade de acesso facilitado a recursos financeiros que, no modelo tradicional de

financiamento, demandariam procedimentos burocráticos morosos devido à sua fonte ser estatal

(CLARK, 1998).

A estruturação dessa nova sistemática de financiamento seria ainda favorecida, na visão

do autor, pela quarta dimensão proposta: o Centro Acadêmico Estimulado. Sendo considerada

a universidade, em seus departamentos e unidades acadêmicas, como locus de criação de

conhecimento e de realização das atividades institucionais, um ponto chave para a promoção

de todas as mudanças propostas seria o adequado gerenciamento destes espaços que contêm em

si os valores acadêmicos em sua essência conforme os novos pressupostos. Assim, “Para a

mudança se estabelecer, departamentos e faculdades, uns após os outros, precisam tornar-se

unidades empreendedoras, focando-se com mais afinco em novos programas e relacionamentos

e promovendo o financiamento pelo terceiro setor” (CLARK, 1998, p. 7).

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Abre-se espaço para a quinta dimensão, denominada Cultura Empreendedora Integrada,

a qual representaria o esforço de fazer vigorar no ambiente acadêmico o sentido comum de

mudança nos moldes de um modelo empreendedor. Neste sentido,

Universidades Empreendedoras, tal como empresas da indústria de alta tecnologia,

desenvolvem uma cultura que envolve mudança. Essa nova cultura pode iniciar-se

como uma ideia institucional relativamente simples sobre mudança que mais tarde se

torna elaborada em um conjunto de crenças que, se difundidas no centro da instituição,

se transforma em uma vasta cultura universitária. Culturas robustas estão enraizadas

em práticas robustas. Conforme ideias e práticas interagem entre si, o lado simbólico

ou cultural das universidades se torna particularmente importante na busca por

cultivar uma identidade institucional e uma reputação distinta. (CLARK, 1998, p.8)

Frente a este panorama de mudanças da universidade, se descortina a necessidade e a

importância de novos modos de construção do conhecimento efetivamente capazes de

contribuir para a criação de inovações. É neste sentido que ganha representatividade o “Modo

2 de Produção do Conhecimento” elaborado por Gibbons, Limoges, Nowotny, Schwartzman,

Scott e Trow (1994), o qual é denominado como uma nova forma de produção do conhecimento

na sociedade contemporânea.

Gibbons et. al (1994) descrevem dois modos existentes para a estrutura do ensino e das

ciências nas instituições de ensino superior: o Modo 1 e o Modo 2. O primeiro faz referência à

estruturação do ensino dividido em disciplinas, enquanto o segundo abrange a

transdisciplinaridade como elemento essencial, bem como a interação constante entre os atores

envolvidos no processo de produção do conhecimento. Conforme afirmam Nowotny, Scott e

Gibbons (2003, p. 179):

O velho paradigma de descoberta científica ("Modo 1") - caracterizado pela

hegemonia do teórico ou, de qualquer modo, pela ciência experimental; por uma

taxonomia internamente orientada de disciplinas; e pela autonomia dos cientistas e

suas instituições de acolhimento , as universidades - foi sendo substituído por um novo

paradigma de produção de conhecimento (“Modo 2”), que foi socialmente distribuída,

orientada para a aplicação, transdisciplinar, e sujeito a múltiplas responsabilidades.

Adicionalmente, o Modo 2 abrange outras particularidades importantes, conforme

afirma Videira (2008, p. 36):

(a) não existe respeito por fronteiras: o conhecimento “vaza” da ciência para a

sociedade e desta para a primeira; (b) possui estruturas organizacionais flexíveis,

hierarquias horizontais e cadeias de comando abertas; (c) exige responsabilidade

institucional e coletiva; (d) exige manter uma constante preocupação com o controle

de qualidade. Em suma, o Modo 2 preocupa-se com a geração de um conhecimento

que seja socialmente robusto.

Os autores do conceito destacam ainda que, quando aplicado, para que haja um

adequado desenvolvimento do conhecimento, é necessário que ele seja produzido sob uma

dinâmica de contínua negociação, o que faz com que o conhecimento gerado seja resultado de

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um processo de interação e de oferta e demanda da sociedade e dos especialistas com relação

às instituições de ensino superior (GIBBONS et. al, 1994).

Este relacionamento entre os diversos atores para a geração de inovações pode trazer

benefícios e riscos para todas as partes envolvidas, aspectos que serão explorados na próxima

seção.

2.4 ASPECTOS ATRATIVOS E DISTANCIADORES NO VÍNCULO UNIVERSIDADE-

EMPRESA

Ao explorar essa aproximação entre diferentes entes para geração de conhecimento e

inovação, Etzkowitz (2002) afirma que cooperação entre sociedade, especialistas, empresas e

IES permitiria, segundo uma aproximação da universidade com a realidade técnica, econômica

e social em que ela se insere e ainda possibilitaria a incorporação de novos elementos coerentes

com esta nos currículos dos cursos, o que viria a contribuir ainda mais para a transformação

não somente tecnológica, mas também social das universidades. Por outro lado, analisando a

perspectiva das empresas, elas, através do modelo de Universidade Empreendedora, passam a

ter acesso a recursos que são em seu contexto de difícil acesso ou aquisição, como infraestrutura

laboratorial, mão de obra qualificada e disponibilidade para solução de problemas de ordem

tecnológica. Sbragia et. al (2006) levantam então alguns fatores que levam à cooperação entre

universidade e empresa (Quadro 2).

Quadro 2 - Incentivos à cooperação entre universidade e empresa

UNIVERSIDADE EMPRESA

Obtenção de novos recursos para pesquisa Acesso a recursos humanos qualificados

Aumento da relevância da pesquisa

acadêmica ao lidar com necessidades da

indústria ou da sociedade, e o consequente

impacto no ensino

“Janela ou antena tecnológica”, que

significa conhecer os avanços em sua área

de atuação

Possibilidade de emprego para estudantes

graduados

Acesso precoce a resultados de pesquisa

Possibilidade de futuros contratos de

consultoria para pesquisadores

Solução de problemas específicos

Possibilidade de futuros contratos de pesquisa Acesso a laboratórios e instalações

Formação de funcionários

Melhoria de sua imagem e prestígio na

sociedade

Aumento da competitividade

Redução de custos com pesquisa Fonte: Adaptado de Ipiranga, Freitas e Paiva (2010)

Embora os fatores elencados remetam para possíveis arranjos colaborativos, quando se

observa, por exemplo, a questão da “formação de funcionários”, há uma possibilidade real da

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universidade pública sofrer um tipo de distorção que a direcione para uma espécie de

universidade corporativa (EBOLI, 1999; ÉSTHER, 2016a), podendo até mesmo entrar na

lógica do cenário de comercialização e competição mercadológica.

Segundo Tavares Filho e Bernardes (2005), o principal motivador para a existência das

universidades corporativas (UCs) consiste no propósito de direcionar os profissionais para as

estratégias do negócio. Desta forma, seus objetivos de aprendizagem são absolutamente

sintonizados com as demandas daquela organização em particular que promove ou patrocina a

formação de seus funcionários. A educação corporativa objetiva, desta forma, preparar os

recursos humanos para que estejam constantemente atualizados no que se refere às

competências de seus cargos e a algumas capacidades básicas gerais atinentes aos negócios da

empresa, se constituindo como fontes contínuas de vantagem competitiva.

Ao refletir sobre este conceito adaptado de universidade, Silva e Balzan (2006, p. 235)

afirmam que:

À primeira vista, essas soluções educacionais parecem bastante positivas, no sentido

de beneficiarem todos os envolvidos. Entretanto, constatamos que essas UCs

desenvolvem suas atividades para viabilizar os conhecimentos requeridos pelo setor

produtivo da empresa, excluindo qualquer tipo de disciplina que possa abranger uma

formação mais humanística, que forneça ao aluno condições de análises e leituras

políticas e sociais.

Ao considerar que as instituições de ensino superior inseridas na perspectiva da Tripla

Hélice (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000) e impulsionadas pelos conceitos difundidos

pela Universidade Empreendedora (CLARK, 1998) buscarão ao máximo se adequar aos

direcionamentos traçados pelas empresas existentes no mercado, percebe-se uma arriscada

tendência de modificação do modelo de universidade amplamente conhecido como espaço

difusor do conhecimento, impulsionador da crítica e berço de formação ampla, para uma

universidade focada na inovação das condições de lucro industriais, sendo assim subserviente

em relação ao capitalismo (SILVA; BALZAN, 2006). Diante desta realidade, afirma Santomé

(2003, p. 32) que:

(...) a sociedade corre o risco de ver as instituições de ensino como valiosas e

necessárias apenas na medida em que oferecem uma formação adequada a esse novo

mercado, para obter um posto de trabalho no setor privado. Dessa maneira, certas

instituições de caráter público e, portanto, com interesses públicos, como as de ensino,

são sugadas por serviços privados, transformadas em apêndices de empresas para as

quais preparam gratuitamente mão-de-obra.

Dias Sobrinho (1999), no entanto, argumenta que talvez essa modificação da

universidade esteja ocorrendo devido à necessidade da instituição se adaptar às novas

exigências demonstradas pela sociedade através de pesadas pressões relacionadas aos níveis de

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43

empregabilidade dos egressos e, assim, se reformar para construir um modelo de ensino descrito

por Chauí (1980 apud Silva e Balzan, 2006, p. 249) da seguinte forma:

A universidade tem hoje um papel que muitos não querem desempenhar, mas que é

determinante para a existência da própria universidade: criar incompetentes sociais e

políticos, realizar com a cultura o que a empresa realiza com o trabalho, isto é,

parcelar, fragmentar, limitar o conhecimento e impedir o pensamento, de modo a

bloquear toda a tentativa concreta de decisão, controle e participação, tanto no plano

da produção material quanto no da produção intelectual. Se a universidade brasileira

está em crise, é simplesmente porque a reforma do ensino inverteu seu sentido e

finalidade – em lugar de criar elites dirigentes, está destinada a adestrar mão-de-obra

dócil para um mercado sempre incerto. E ela própria não se sente bem treinada para

isto, donde sua “crise”.

O impacto da globalização tem provocado, então, o constante questionamento acerca do

papel das universidades, visto que o mercado espera delas uma postura de fabricar

mecanicamente mão de obra para atender suas necessidades, o que cria, no contexto da

educação superior, um cenário de hiperindividualismo, onde cada aluno considera os demais

colegas como seus rivais (SANTOMÉ, 2003), e assim a lógica capitalista consegue ser

reproduzida cada vez mais cedo nas mentes dos que irão compor futuramente a população

economicamente ativa do país.

Percebe-se, neste caso, um possível conflito no sentido de integração entre universidade

e empresa, uma vez que, devido a cada uma ter objetivos particulares, corre-se o risco de, se

concretizada, esta modificação no sistema de ensino comprometer a possibilidade da educação

trabalhar o homem em sua totalidade, englobando não somente dimensões técnicas, mas

também sociais, culturais e políticas (SILVA; BALZAN, 2006).

Outra demanda conflituosa que desponta com relação ao assunto se refere à legitimidade

da Universidade Empreendedora com relação à Universidade Pública, onde a escassez de

recursos advindos do governo pode estar sendo uma das forças impulsionadoras para a difusão

e adoção deste novo paradigma no Brasil (COSTA, 2009).

Conforme afirma Finlay (2004), seria até previsível que a capacidade de financiamento

do governo para a educação não fosse suficiente para acompanhar a evolução da demanda por

ensino superior e para subsidiar as pesquisas solicitadas pelas indústrias. Mesmo com o

lançamento de editais e programas de incentivos por parte do governo que poderiam de alguma

forma suprir parte desta carência, este novo modelo de universidade está conquistando cada vez

mais destaque por estar sendo progressivamente compreendido como algo mutuamente atrativo

devido à troca de interesses (SBRAGIA et. al, 2006; IPIRANGA, FREITAS, PAIVA, 2010).

Segundo Lima e Fialho (2001), as pesquisas científicas no Brasil estão majoritariamente

hospedadas no âmbito das instituições acadêmicas públicas e estas, no que tange a

financiamentos, estão recebendo recursos escassos, mesmo sendo essenciais ao

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desenvolvimento do conhecimento. Assim, a busca por novas fontes pode estar se configurando

como um estímulo para que as universidades e os institutos de pesquisa participem da

cooperação com o mundo empresarial, inclusive sendo legitimada por instrumentos legais,

como pretende a PEC 395/14 (BRASIL, 2014) e como já atuou a Lei 13.243/16 (BRASIL,

2016). Esta Proposta de Emenda Constitucional busca garantir, através da modificação do

dispositivo 206 da Constituição Federal, a legalidade na cobrança pelos cursos de treinamento,

aperfeiçoamento e especialização promovidos por instituições de ensino público. A justificação

desta proposta gira em torno do tema de cooperação entre universidade e empresa, e, assim,

abrange os pressupostos da Universidade Empreendedora (CLARK, 1998) e da Tripla Hélice

(ETZKOWITZ, 1994), conforme pode-se observar através do trecho a seguir.

De fato, a oferta dessas atividades frequentemente deriva da demanda de segmentos

específicos do mercado produtivo e de serviços, encomendadas inclusive sob a forma

corporativa de organização acadêmica: cursos precipuamente destinados a promover

qualificação especializada de profissionais de determinadas organizações.

As instituições públicas de ensino são procuradas por essas empresas em função da

expertise que alcançaram a partir de suas atividades de pesquisa e de excelência

acadêmica. E seguramente os recursos advindos da oferta desses cursos revertem em

benefício da qualidade da rede pública de educação superior (BRASIL, 2014).

Tal possibilidade traz à tona a problemática da universidade pública receber recursos de

empresas privadas para realizar atividades de ensino, pesquisa e extensão correlatas às

necessidades destas organizações, que poderiam então passar a ter domínio sobre a agenda de

pesquisa e assim causar o desvio do papel intrínseco dessa entidade pública, que consistiria no

desenvolvimento de ensino, pesquisa e extensão com o objetivo de beneficiar a sociedade,

conforme previsto na LDB e na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1996; BRASIL, 1988).

Outras barreiras à construção de uma relação de cooperação entre a universidade e a

empresa foram levantadas por Mancini e Lorenzo (2006) e Guarnica, Ferreira-Júnior e Fonseca

(2005), conforme seguem no Quadro 3.

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Quadro 3 - Barreiras à integração universidade-empresa

UNIVERSIDADE EMPRESA

Falta de regulamentação ou excesso de

rigidez

Reconhecimento escasso de tecnologia

nos planos empresariais

Diferenças culturais e de atitudes de trabalho,

dificultando a comunicação, além de

diferentes concepções de tempo

Preferência por licenciar tecnologia em

vez de desenvolvê-la

Visão do setor produtivo como somente

interessado em seus benefícios próprios e não

em retribuir à universidade e à sociedade

Visão imediatista dos negócios, que não

inclui a pesquisa

Docentes despreparados para a realização de

projetos de P&D e com formação

unidisciplinar

Exigência de segredo e propriedade dos

resultados da pesquisa

Pesquisadores isolados da realidade sem

compreender as necessidades do setor

produtivo

Ambientes e estruturas organizacionais

inaquedas à vinculação, além da falta de

recursos financeiros para financiar

projetos

Maior valorização da pesquisa básica do que

da pesquisa tecnológica aplicada e sua

comercialização

Desconhecimento do potencial da

universidade

Lentidão nos trâmites burocráticos para

aprovação de parcerias Aversão ao risco

Fonte: Adaptado de Ipiranga, Freitas e Paiva (2010)

Certamente, não é de difícil constatação que, para as empresas, os benefícios desta

integração são inúmeros, ainda mais diante do contexto de revolução tecnológica em que elas

estão atualmente inseridas, o qual faz com que os processos e produtos se tornem obsoletos

cada vez mais rapidamente (SBRAGIA et. al, 2006). Assim, a Universidade surgiria como uma

opção capaz de suprir a necessidade de inovação que permite a sobrevivência destas empresas,

uma vez que seria mais barato contratá-la do que implementar um setor próprio de P&D e,

assim, a empresa ainda teria à sua disposição uma equipe com maior conhecimento do que os

funcionários da própria organização.

Para que esta integração seja alcançada, no entanto, seria preciso superar alguns

estigmas, tais como a chamada “desconfiança mútua” ou ainda “diferença de linguagens” ou

“choque de culturas distintas”. Ele ocorre devido à dificuldade de, pelo próprio modelo da

academia, conseguir compatibilizar as demandas da empresa e seus prazos com os serviços que

a universidade é capaz de oferecer. Dessa forma, a visão imediatista da empresa não permitiria

que a pesquisa acadêmica se concretizasse em plenitude ao restringir prazos e, assim, tolher

suas possibilidades de exploração de temas e arestas que poderiam ser interessantes para o

desenvolvimento de novos conhecimentos, uma vez que o interesse empresarial seria a

obtenção de resultados rápidos e comercializáveis. Neste sentido, a aversão ao risco por parte

da iniciativa privada atua também como um distanciador nesta relação, uma vez que é

plenamente possível que uma determinada pesquisa ou projeto estruturado não chegue aos

resultados esperados, demore mais do que o projetado ou até mesmo traga conclusões

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completamente discrepantes das expectativas. Para a academia, este é o processo normal da

pesquisa, no entanto, na percepção da empresa, isto pode ser visualizado como um prejuízo de

grande monta.

Tais diferenças se manifestam como traços que podem vir a impactar diretamente a

cultura do ambiente universitário, atuando de forma a modelá-lo de acordo com as necessidades

empresariais, ainda mais estando sujeito ao modelo gerencialista. Além disso,

Alguns autores acham que as relações com a indústria criaram uma atmosfera

empresarial na universidade, que está modificando o ethos da ciência. Normas

de comportamento da comunidade acadêmica estão sendo alteradas para

acomodar as ligações mais estreitas com empresas. Além disso, a sociedade

sofre outras perdas mais sutis quando os principais professores passam a ter

interesse financeiro na comercialização da pesquisa que desenvolvem. Na

tentativa de assegurar novas fontes de recursos, os professores e

administradores universitários estão adotando os valores éticos da indústria,

tais como o sigilo, a propriedade e a hierarquia. (SBRAGIA et. al, 2006, p.

94)

Pode ocorrer inclusive o que Stal (1995) denomina como “conflito de

comprometimento”, conhecido também como conflito de interesses, diante do qual o professor

sente dificuldade para realizar a distribuição de tempo e esforço entre as suas obrigações

acadêmicas e a participação em atividades externas, tais quais aquelas que são direcionadas

para atender as demandas das empresas.

Neste sentido, percebe-se que a universidade, com este esforço de integração com as

empresas, pode sofrer consequênias capazes de afetar sua própria condição de centro de

construção e difusão de conhecimento, modificando-o para um centro de criação e venda do

mesmo, sendo que esta cultura pode passar a ser disseminada entre seus departamentos, setores

e professores de forma que não mais os profissionais se sintam atraídos pela função precípua

da universidade e passem a priorizar as atividades pelas quais receberão remuneração e

compensações extras àquelas já referentes ao seus cargos. Esta é a tendência descrita pelo

capitalismo acadêmico, conforme afirmam Rhoades e Slaughter (2004, p. 37): “ O que estamos

chamando de ‘capitalismo acadêmico na nova economia’ é um regime que implica faculdades

e universidades envolvidas com o mercado e comportamentos de mercado semelhantes” .

O regime de capitalismo acadêmico provoca alterações na tomada de decisão dentro das

universidades, as quais passam a priorizar oportunidades potenciais de geração de receita, como

a produção de conhecimento para gerar patentes e a criação de materiais didáticos sujeitos à

proteção por meio de direitos autorais para posterior comercialização. Assim, de acordo com

Rhoades e Slaughter (2004), ao invés da instituição direcionar seus esforços e suas condutas

para a expansão do conhecimento acima de qualquer outra proposta, ela foca suas negociações

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e decisões estratégicas e acadêmicas para a busca de fontes de recursos adicionais, o que é ainda

mais impulsionado quando as instituições se inserem em um cenário de redução de recursos

públicos para financiamento de suas atividades, como o contexto brasileiro atual.

As críticas em torno desta possibilidade levantam as potencialidades das universidades

públicas passarem a atender prioritariamente as demandas do setor produtivo, subordinando

assim a agenda universitária a estas questões, o que poderia prejudicar sobremaneira a

autonomia e liberdade acadêmicas, ferindo a heteronomia e a autonomia, questão anteriormente

levantada (SGUISSARDI, 2011).

O quadro aqui traçado aponta para posições, tanto teóricas quanto empíricas, que

parecem caminhar em trajetórias que se afastam. Apesar disso, as políticas públicas construídas

em torno da ciência, tecnologia e inovação, que vieram inclusive a dar nome aos órgãos gestores

tais como Ministérios da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC), ou mesmo

nas universidades, cujas pró-reitorias de pesquisa e pós-graduação se tornaram Pró-Reitorias de

Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação, parecem acreditar na possibilidade de uma espécie de

parceria público-privada (PPP) ou de algum outro tipo de formalização de vínculo capaz de

acomodar os interesses em jogo. Fica, no entanto, a pergunta se é possível algum tipo de

convergência e cooperação entre as duas perspectivas presentes no cenário institucional com

relação ao papel da universidade, e que modelos poderiam suportar tal convergência.

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3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

Para a realização deste trabalho de natureza qualitativa, adotou-se o o estudo de caso, a

fim de, conforme Triviños (1992), conhecer e compreender de forma aprofundada a realidade

delimitada no contexto da Universidade Federal de Juiz de Fora.

O “estudo de caso” é associado à pesquisa qualitativa e, neste sentido, permite a geração

de perspectivas diversas, “seja por meio de vários métodos de coleta de dados, seja pela criação

de muitas descrições por meio de um único método” (GRAY, 2012, p. 138). A comparação e

integração dessas diferentes perspectivas permitem a construção de uma compreensão

detalhada e rica sobre um determinado contexto, o qual corresponde à unidade de análise do

estudo de caso. Neste método, como os instrumentos de coleta de dados podem ser variados,

há igual flexibilidade na análise (YIN, 2015).

Ao se considerar a forma particular com que cada universidade lida com as modificações

que as atingiram com o decorrer do tempo, a abordagem qualitativa é capaz de atuar de forma

compreensiva, inclusive investigando fenômenos que não necessariamente se comportam

conforme uma lei geral, mas sim como elementos originais e específicos (BRUYNE;

HERMAN; SCHOUTHEETE, 1991). O modelo compreensivo busca então apreender a

realidade a partir do interior, buscando alcançar a verdade vivenciada (CHANLAT, 2000).

Comparando as pesquisas de levantamento com o método de estudo de caso, Gray

(2012, p. 200) afirma que:

Enquanto as pesquisas de levantamento tendem a coletar dados sobre uma gama

limitada de tópicos, mas de muitas pessoas, os estudos de caso podem explorar muitos

temas e assuntos, mas de uma faixa muito mais direcionada de pessoas, organizações

e contextos. (...) os estudos de caso se mostram valiosos ao acrescentar entendimento,

ampliar a experiência e aume ntar a convicção sobre um tema.

Neste sentido, as questões foram elaboradas com o intuito de investigar os fenômenos

em sua complexidade natural, tomando como base um arcabouço teórico que atuou como

direcionador para a coleta de dados e para a análise dos mesmos.

Com a finalidade de construir o estudo de caso, foram consideradas como fontes de

dados primários as entrevistas, as quais foram realizadas tanto na Universidade Federal de Juiz

de Fora, quanto na Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais. No interior da UFJF,

as entrevistas foram realizadas com integrantes do Conselho Superior, instância máxima

decisória da universidade, que ocupam cargos na administração superior, na administração

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média, no Núcleo de Inovação Tecnológica e em órgãos de representação docente, dicente e

dos técnicos administrativos em educação, além de ocupantes de cargos de confiança. Assim,

na universidade foram realizadas 13 (treze) entrevistas, sendo os indivíduos envolvidos

ocupantes dos cargos de: Reitor, Pró-Reitor de Planejamento, Orçamento e Finanças, Pró-

Reitor de Extensão, Presidente da FADEPE (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do

Ensino, Pesquisa e Extensão), Diretor de Inovação, Diretores de cinco Unidades Acadêmicas,

além do Presidente da APES-JF (Associação dos Docentes de Ensino Superior de Juiz de Fora),

do Presidente do SINTUFEJUF (Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em

Educação das Instituições Federais de Ensino no Município de Juiz de Fora-MG) e do

Coordenador Geral do DCE (Diretório Central das e dos Estudantes da UFJF). Na FIEMG,

como forma de complementação aos dados obtidos através de documentos, foi também

entrevistado o Presidente da FIEMG Regional Zona da Mata.

Com o intuito de coletar evidências para a presente investigação, foram ainda

consideradas as fontes de dados secundários. No que concerne ao ente “universidade”, foi

analisado o Plano de Desenvolvimento Institucional da Universidade Federal de Juiz de Fora

que apresenta, para o período compreendido entre 2016 a 2020, os políticas inseridas no Projeto

Pedagógico, as quais possibilitam entender os direcionamentos da UFJF enquanto instituição.

Com relação ao ente “governo”, documentos como leis, decretos e propostas de emenda

constitucional foram analisados a fim de compreender o direcionamento governamental e suas

políticas oficiais. No âmbito da indústria, o levantamento de documentações e registros de

arquivos, como relatórios da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e do Instituto

Euvaldo Lodi (IEL) foram responsáveis por descrever o discurso formal do ente “indústria”.

Além disso, obteve-se também a percepção da FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de

Minas Gerais), que atua como órgão representativo das indústrias da região da Zona da Mata,

sendo que nesta foi inclusive possível, como anteriormente descrito, captar a visão da

instituição acerca do tema pesquisado também através de entrevista com seu Presidente.

Nas entrevistas, a identidade dos indivíduos será mantida em sigilo conforme informado

a todos através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO A). Esta escolha foi

realizada com o intuito de permitir aos participantes maior liberdade de expressar suas

percepções e opiniões, sem receio de posterior retaliação. Fragmentos dos registros serão

utilizados na apresentação do caso, uma vez que entendeu-se que tais apontamentos seriam

importantes no sentido de validar a apresentação das evidências acerca do tema estudado. No

entanto, a fim de possibilitar a utilização de excertos das entrevistas preservando o sigilo dos

entrevistados, os indivíduos participantes da pesquisa serão identificados somente por códigos,

os quais seguem relacionados no Quadro 4.

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Quadro 4 - Codificação dos entrevistados

Característica do entrevistado Código

Membro da Administração Superior da

Universidade Federal de Juiz de Fora AS1, AS2, AS3, ...

Membro da Administração Média da

Universidade Federal de Juiz de Fora AM1, AM2, AM3, ...

Membro de órgão representativo de

dicentes, docentes e técnicos REP1, REP2, REP3...

Representante da Indústria de Juiz de Fora

e região IND

Fonte: Elaboração própria

Para obter os dados nas entrevistas, foi adotado um roteiro semiestruturado aplicado de

forma individual, sendo que as questões abordadas foram estabelecidas a partir das categorias

teóricas atinentes ao estudo da cooperação universidade–empresa–governo. A opção pela

entrevista semiestruturada ocorreu devido às possibilidades que este desenho oferece de realizar

um maior “[...] aprofundamento das visões e das opiniões onde for desejável que os

respondentes aprofundem suas respostas” (GRAY, 2012, p. 302).

As questões elaboradas consideraram mais de uma categoria temática do estudo em seu

bojo, abrangendo uma rede de conceitos subjacentes que permitiram a posterior interpretação

das respostas. Sendo assim, algumas questões puderam ser utilizadas para analisar mais de uma

perspectiva conceitual sendo que, para auxiliar na compreensão da estruturação deste estudo, o

Quadro 5 demonstra a relação dos temas explorados com seus respectivos elementos analisados.

Quadro 5 - Temas pesquisados e elementos analisados

TEMA ELEMENTO ANALISADO

Percepção geral da universidade

1. Os papeis que a universidade assume hoje;

15. Possíveis benefícios para a universidade em uma relação

mais próxima com o ambiente externo;

16. Possíveis riscos para a universidade em uma relação mais

próxima com o ambiente externo;

17. Entendimento acerca do termo Universidade

Empreendedora.

Tripla Hélice

2. Atual relacionamento entre a universidade, as empresas e o

governo;

11. Comprometimento da UFJF com o intercâmbio de

conhecimentos com a indústria, a sociedade e o governo.

Periferia de Desenvolvimento

Expandida

2. Atual relacionamento entre a universidade, as empresas e o

governo;

3. Motivos que levariam a universidade a buscar a

aproximação com o governo e as empresas;

6. Mecanismos para quebrar fronteiras e fomentar novos

relacionamentos da universidade com as empresas;

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9. Possíveis influências das partes interessadas externas na

estruturação e desenvolvimento do processo de ensino e

aprendizagem;

10. Papel exercido pelo CRITT.

Cultura Empreendedora

Integrada

5. Autonomia das faculdades e unidades para estabelecer

parcerias com empresas;

8. Incentivos oferecidos pela UFJF para que seus funcionários

promovam iniciativas de integração com o empresas;

10. Papel exercido pelo CRITT.

Base de Financiamento

Diversificada

5. Autonomia das faculdades e unidades para estabelecer

parcerias com empresas;

7. Fontes de financiamento das atividades da universidade.

Núcleo de Direção Fortalecido

4. Mecanismos instititucionais da UFJF que regulam a relação

com entes externos;

6. Mecanismos para quebrar fronteiras e fomentar novos

relacionamentos da universidade com as empresas;

9. Possíveis influências das partes interessadas externas na

estruturação e desenvolvimento do processo de ensino e

aprendizagem.

Centro Acadêmico Estimulado

5. Autonomia das faculdades e unidades para estabelecer

parcerias com empresas;

9. Possíveis influências das partes interessadas externas na

estruturação e desenvolvimento do processo de ensino e

aprendizagem.

Percepção acerca do governo

12. Atuação das políticas educacionais e econômicas

governamentais no sentido da integração;

13. Forma como o governo visualiza a construção da relação

entre as universidades e as empresas.

Percepção acerca das empresas 14. Postura das empresas com relação à integração.

Fonte: Elaboração própria

Na análise das informações coletadas, foi utilizada a técnica da Análise Temática, a qual

se insere no âmbito das técnicas de Análise de Conteúdo, cujo objetivo consiste em promover

a identificação dos itens de significação a partir do conjunto de enunciados obtidos tendo como

base o conteúdo das entrevistas e dos documentos para posteriormente interpretar os elementos

obtidos relacionados ao tema da pesquisa (BARDIN, 2004). Para isto, foram realizadas as

seguintes etapas: i) transcrição, constituição do conteúdo e realização de pré-análise; ii) leitura

e exploração do material para estabelecimento de categorias e de itens de significação; iii)

tratamento dos dados através de interpretação e inferência; iv) confronto dos resultados obtidos

com as teorias articuladas.

A seguir apresenta-se, então, o caso que está sob estudo neste trabalho, de onde advirão

as análises frente às teorias anteriormente apresentadas.

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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) é uma instituição com sessenta e seis

anos de história, tendo sido fundada em 1960 pelo então Presidente Juscelino Kubitschek com

o objetivo de se tornar um pólo acadêmico e cultural no sudeste do estado de Minas Gerais,

região que contava, no período citado, com 2,5 milhões de habitantes (UFJF, 2015).

Atualmente, a UFJF abrange uma diversidade de cursos, sendo que, no total, são

oferecidos trinta e sete cursos superiores de graduação, agrupados em dezesseis unidades

acadêmicas que abrangem ciências humanas, exatas e a área de saúde. Além das graduações,

são ofertados ainda vinte e seis cursos de mestrados acadêmicos, três mestrados do tipo

profissional e nove cursos de doutorado. O quadro de funcionários é composto por 1.000

professores, 1.144 servidores técnico-administrativo educacionais e 20.000 estudantes (UFJF,

2015).

A estrutura administrativa da universidade atualmente apresenta 8 (oito) Pró-reitorias e

6 (seis) Diretorias, sendo todas diretamente subordinadas ao Reitor. As Pró-reitorias são:

Extensão; Gestão de Pessoas; Assistência Estudantil e Educação Inclusiva; Planejamento,

Orçamento e Finanças; Infraestrutura e Gestão; Pós-Graduação e Pesquisa; Graduação; e

Cultura. As diretorias, por sua vez, se referem às áreas de Inovação; Relações Internacionais;

Ações Afirmativas; Imagem Institucional; e Avaliação Institucional.

A equipe que atualmente está à frente da gestão da instituição assumiu em 16 de abril

deste ano e, assim, a universidade está passando por um momento de transformação e também

reconstrução em algumas áreas, como é característico de mudanças de administração. Um dos

campos que se destaca neste sentido é a área de Inovação, que, na gestão anterior foi alocada

em conjunto com a Pró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, recebendo a denominação de

Pró-reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação e, atualmente, é representada por uma

diretoria exclusiva da área. O Diretor de Inovação assumiu também a Direção do Centro

Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (CRITT), sendo que este abrange o NIT

(Núcleo de Inovação Tecnológica) da instituição. Entre as atribuições do Núcleo, constam o

gerenciamento da política de inovação da UFJF e a coordenação da Incubadora de Base

Tecnológica (IBT). Com sua qualificação como NIT, o CRITT passou a ser responsável pela

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manutenção da política institucional de estímulo à proteção de criações, licenciamento,

inovação e outras formas de transferência de tecnologia. O CRITT atua também no sentido de

prospectar projetos da universidade para empresas e empreendedores interessados no

aprimoramento de processos de produção ou criação de produtos novos em diversas áreas

(UFJF, 2016).

Ainda sob a responsabilidade do CRITT e da UFJF, está em construção o Parque

Científico e Tecnológico de Juiz de Fora e Região (PCTJFR), cujo principal objetivo, segundo

a UFJF (2016), consiste em criar um ambiente de inovação e sinergia entre os empreendimentos

instalados.

O intuito da estruturação do PCTJFR consiste em torná-lo um espaço para empresas,

centros públicos e privados de pesquisa, desenvolvimento e inovação (P,D&I), prestadores de

serviços tecnológicos complexos e de apoio às atividades tecnológicas. Além disso, em seu

escopo, o Parque ainda descreve a intenção de aproximar as universidades e centros de pesquisa

da Região da Zona da Mata Mineira às empresas e à sociedade de forma a incentivar de maneira

mais contundente o empreendedorismo e a inovação, bem como a geração de empregos e renda.

Nos últimos anos, no entanto, mesmo com iniciativas como o princípio da estruturação

do Parque Tecnológico, a UFJF apresentou esforços incipientes no sentido da inovação. Como

indicador desta situação, pode-se citar, por exemplo, os dados do Anuário Estatístico do INPI,

no qual identificou-que a a universidade entrou somente com 07 (sete) depósitos do tipo patente

de invenção em 2012. O desempenho da instituição segue demonstrado na Tabela 3, com os

dados provenientes do INPI referentes ao período entre 2000 e 2012.

Tabela 3- Depósitos de Patentes do Tipo Patente de Invenção (PI) pela UFJF – 1º Depositante

ANO NÚMERO DE DEPÓSITOS

2000 0

2001 0

2002 0

2003 1

2004 1

2005 1

2006 1

2007 0

2008 5

2009 17

2010 4

2011 14

2012 7

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do INPI (2012)

Em um panorama de doze anos, a universidade deu entrada em 51 pedidos, enquanto

outras instituições de ensino superior, como a USP, entraram com 58 pedidos em apenas um

ano, totalizando, no período selecionado, 468 pedidos. No entanto, como anteriormente

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ponderado, a UFJF se encontra em um momento de transição e percebe-se que esforços de

diversos aspectos estão sendo empregados para modificar este panorama, inclusive com a

discussão do Marco Legal da Inovação da UFJF (UFJF, 2016).

Para melhor compreender como efetivamente a universidade se coloca neste processo

de aproximação com as empresas, é preciso que se explore também o panorama do outro ator

envolvido: as indústrias.

Para isto, elegeu-se neste estudo, como representante desta perspectiva, a Confederação

Nacional da Indústria (CNI) por ser o órgão máximo do sistema sindical patronal industriário.

Fundada em 1938, ela atualmente representa 1.250 sindicatos patronais e 27 federações de

indústrias, como a FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), FIRJAN

(Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), FIESP (Federação das Indústrias do

Estado de São Paulo), dentre outras (CNI, 2016).

A CNI é responsável por administrar diretamente o SESI (Serviço Social da Indústria),

o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e o IEL (Instituto Euvaldo Lodi), em

conjunto com os quais compõe o denominado “Sistema Indústria”. Sua atuação ocorre no

sentido de participar e propor “[...] sugestões para a construção e o aperfeiçoamento de políticas

e leis que fortaleçam o setor produtivo e modernizem o país” (CNI, 2015), além de estimular o

desenvolvimento, a pesquisa e a inovação na indústria. No âmbito da zona da mata mineira, a

entidade representativa da indústria corresponde à FIEMG, que atua na defesa dos interesses

industriais desta região (FIEMG, 2016). O IEL, por sua vez, foi criado em 1969 especificamente

para promover a interação entre a indústria e a universidade e seu intuito era aproximar estas

duas instituições de modo a criar uma relação de mão dupla: a indústria se renovando com as

inovações proporcionadas pela universidade e a universidade realizando adequações em seus

currículos para atender as demandas da indústria (IEL, 2009).

Estas entidades representativas atuam continuamente junto ao governo com o intuito de

influir na estruturação de mecanismos que favoreçam a competitividade da indústria. O

governo, por seu lado, vem, conforme pode ser percebido pelas leis e regulamentações,

buscando estimular o fortalecimento deste vínculo entre a indústria e a universidade como

caminho interpretado como capaz de incrementar o desempenho empresarial.

Recentemente, foi sancionado o novo Marco da Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei

13.243/16), que autoriza o professor universitário a dedicar 8 (oito) horas semanais e até 416

(quatrocentos e dezesseis) horas por ano para realização de atividades dentro de empresas. Além

dessa determinação, o Marco também reforçou a possibilidade de que o professor pesquisador

que atue neste sentido possa receber diretamente contrapartidas remuneratórias através de

bolsas ou por outros instrumentos jurídicos, como contratos, convênios e outros.

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Há possibilidade também de estabelecimento de vínculos voltados para gerar “produtos,

processos e serviços inovadores e a transferência e a difusão de tecnologia” entre empresas,

ICTs e instituições privadas sem fins lucrativos contando com o apoio dos entes federativos e

das agências de fomento, sendo que, aos Núcleos de Inovação Tecnológica, atribuiu-se a

responsabilidade de “promover e acompanhar o relacionamento da ICT com empresas”

(BRASIL, 2016).

Dessa forma, percebe-se que, diante das novas determinações, o NIT, que, na UFJF, é

representado pelo CRITT, pode ser considerado como o ator institucional representativo dos

vínculos da universidade com a iniciativa privada e, assim, corresponde a objeto significativo

de análise com relação ao aspecto de Periferia de Desenvolvimento Expandida, apresentado

anteriormente no modelo de Universidade Empreendedora de Clark (1998).

A pesquisa de campo buscou então trazer à tona as percepções dos atores sobre esta

relação entre a universidade, a indústria e o governo no âmbito de atuação da Universidade

Federal de Juiz de Fora.

4.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A partir do referencial discutido, foi possível perceber a importância da postura da

universidade para que os relacionamentos com as empresas e o governo sejam profícuos.

Assim, é preciso, em primeiro plano, que se aprofunde o conhecimento acerca dos papeis que

ela exerce ou deveria exercer. Desta forma, para promover a compreensão inicial das

expectativas dos entrevistados com relação à atuação da universidade, questionou-se, na

percepção deles, quais seriam os papeis que a universidade exerce atualmente. As respostas dos

atores institucionais da universidade seguem tabuladas segundo as categorias temáticas

construídas a partir dos discursos no tabela a seguir (Tab. 4), onde vale ressaltar que a

porcentagem total ultrapasssa 100% devido ao fato dos sujeitos poderem fornecer mais de uma

resposta.

Tabela 4- Os papeis que a universidade assume hoje

Absoluta %

7 54%

4 31%

3 23%

3 23%

2 15%

2 15%

FrequênciaRespostas

A tríade Ensino, Pesquisa e Extensão

Ensino, Pesquisa, Extensão e outras dimensões, como a inovação e a visualização de demandas externas

Agente de desenvolvimento econômico e social

Questionamento sobre o papel ideal e o papel real

A tríade Ensino, Pesquisa e Extensão, mas aquém das possibilidades

Produtora e difusora de conhecimento

Fonte: Elaboração própria

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Percebe-se que a maioria dos entrevistados atribui à universidade os papeis legalmente

delimitados como de sua responsabilidade. Entretanto, merece destaque a percepção da

universidade como agente de desenvolvimento econômico e social, bem como desenvolvedora

de inovação. Os participantes que ressaltaram essas duas atuações adicionais totalizam 54% das

respostas e, dentre estes, estão incluídos quatro dos cinco entrevistados da Administração

Superior. O posicionamento de um desses respondentes desperta interesse.

De certa forma, nós construímos uma estrutura desse papel da universidade em dois

grandes eixos: um eixo é o do papel da universidade enquanto agente que

contribui no desenvolvimento econômico através de relações com o mundo

empresarial, a possibilidade da conversão das nossas pesquisas na área de ciência e

tecnologia em inovação, o desenvolvimento através do fornecimento de quadros, de

profissionais pro mercado, então é um papel de desenvolvimento econômico e um

papel de desenvolvimento social, que também é uma demanda fortíssima da

nossa sociedade em função de todos os nossos déficits sociais, então a

universidade precisa atuar junto a movimentos sociais, desenvolvendo políticas

e criando condições pra desenvolvimento de politicas sociais, então são os dois

grandes eixos que a universidade precisa atuar, acho que não dá pra você pensar a

universidade que atue apenas em um desses, que seja descomprometida socialmente,

por um lado, ou que não exerça seu papel e assuma sua função em termos de

desenvolvimento econômico. (Grifo nosso). (AS1)

A universidade recebe, então, como atribuição ser agente de desenvolvimento

econômico e desenvolvimento social, percepção compartilhada por 31% dos entrevistados.

Ainda neste sentido, um outro membro da Administração Superior ressalta que houve

indicação, em pronunciamento da reitoria, das funções da universidade serem entendidas como

“[...] ensino, pesquisa, extensão e inovação [...]” (AS4), demonstrando, desta forma, a

importância conferida à atividade inovativa e desenvolvimentista da universidade pela gestão

atual.

No campo da indústria, o Instituto Euvaldo Lodi (IEL) demonstra reconhecer as funções

destacadas pela tríade Ensino, Pesquisa e Extensão, mas sua atuação, desde a criação do IEL

até hoje, ressalta os esforços de aproximação entre a universidade e as empresas como fonte de

inovação e consequente aumento da competitividade, como é possível observar no fragmento

retirado de manifestação da Confederação Nacional da Indústria (CNI) publicada no princípio

deste ano.

Ao estimular a inovação, aperfeiçoar a gestão de empresas e academia e melhorar a

formação da mão-de-obra, a interação da indústria com universidades potencializa a

geração de ativos econômicos ricos em conhecimento e promove o crescimento da

competitividade de um segmento produtivo, região e país. Ocorre nesses locais um

efeito multiplicador e a geração de um ciclo virtuoso de inovação: currículos

acadêmicos com conteúdos mais inovadores e formação de profissionais que geram

produtos inovadores e são mais empreendedores. Mais produtos e empresas bem

sucedidas geram mais empregos, arrecadação de tributos, riquezas que, por sua vez,

geram melhores ambientes e demanda para universidades e empreendimentos

inovadores. (Grifo nosso). (CNI, 2016)

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O representante regional da indústria entrevistado fez menção ao esforço atual da

Universidade Federal de Juiz de Fora no sentido de integração, porém, destacou o histórico foco

direcionado para o ensino que deixa em segundo plano a pesquisa aplicada e a transferência de

tecnologia, percepção confirmada também por um dos membros da Administração Superior e

por integrantes da Administração Média. Essa percepção acerca da atuação da UFJF se refletiu

nas respostas à indagação quanto ao relacionamento da instituição com as empresas e o

governo, como é possível observar na Tabela 5.

Tabela 5- Atual relacionamento entre a universidade, as empresas e o governo

Absoluta %

11 85%

3 23%

1 8%

Sim, mas não controle social sobre o processo de interação com as empresas 1 8%

RespostasFrequência

1 8%

Relacionamento ainda restrito

Mais interação da universidade com o governo do que com as empresas

Há uma preocupação da reitoria atender a todas as demandas da sociedade (movimentos sociais e setor

empresarial)

O relacionamento com as empresas é visto de forma perigosa e atualmente gera conflitos de percepção

dentro da universidade

Fonte: Elaboração própria

Esta dificuldade de aproximação e o foco direcionado para a atividade de ensino foi,

como anteriormente comentado, atribuída por um dos membros da Administração Superior à

forma como foi criada e estruturada a UFJF, como é possível observar no fragmento de

entrevista abaixo.

A Universidade de Juiz de Fora ela não é propriamente uma universidade que teve

origem numa área de conhecimento muito determinada ou em um conjunto de áreas

de conhecimento próximas que permitissem que esse processo acontecesse de maneira

mais “natural”. A Universidade de Juiz de Fora é uma universidade que nasceu desde

os anos 70, é universidade de formação de mão de obra, uma universidade pra formar

pessoas pro mercado de trabalho, tanto assim que a nossa pós graduação só ganha

fôlego nos anos 90 e as nossas estruturas de ensino de graduação sempre foram mais

fortes que a pós e mais fortes que a extensão [...] (AS3)

Dentre os entrevistados, 23% consideraram como um agravante para esse

distanciamento entre a universidade e os demais entes a indicação de que, por uma parte da

comunidade acadêmica, esta aproximação pode ser considerada arriscada, como pondera um

dos membros da Administração Média:

[...] e isso é visto por alguns com maus olhos, e eu às vezes percebo nas pessoas o

medo de uma interação com o mercado como se fosse algo, digamos, ligado a uma

certa privatização da universidade, uma ameaça ao financiamento público, então isso

na minha visão é perceptível e eu não vejo isso como ruim, pelo contrário, eu acho

que essa interação é interessante [...] (AM5)

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Os atores institucionais universitários que apoiam a postura de aproximação alegam

ainda sofrer com críticas dos que que visualizam perigos na relação universidade-indústria:

“[...] porque você tem hoje também dentro da universidade dois mundos, eu sou considerado

um indivíduo privatizante, que só pensa em recursos privados e não é bem assim. É uma visão

um tanto quanto deturpada” (AS5).

Outro integrante da Administração Média destaca ainda que esse relacionamento pouco

próximo não necessariamente deve ter suas causas atribuídas exclusivamente à universidade,

uma vez que, para que a interação aconteça, é essencial que haja o interesse de todas as partes

envolvidas. Assim, o entrevistado considera a possibilidade de que não há vínculos mais

estreitos entre esses entes também por conta de barreiras provenientes dos outros agentes, como

a falta de interesse ou de conhecimento do potencial da universidade, e até mesmo o medo de

aproximação por considerar que a universidade é superior e que nem toda pessoa teria

capacidade intelectual para se relacionar diretamente com quem consideram ser os detentores

do saber. Adicionalmente, levanta-se a possibilidade de que este afastamento possa ser até

mesmo uma consequência da falta de valorização do conhecimento na cultura brasileira, do

“[...] preconceito contra o saber [...]” (AM3) que a sociedade possui.

O representante regional da indústria, por sua vez, destaca que, no contexto da UFJF,

esse distanciamento pode estar sendo agravado devido à falta de demanda por parte das

empresas.

Legislação existe, capacidade intelectual tem [...] De repente, não está sendo feito

também porque Juiz de Fora não tem indústria de ponta. Como nós temos

pouquíssimas indústrias de ponta e quem demanda pesquisa são indústrias de ponta,

pode ser que por isso também não existe pesquisa. [...] Nós temos 1284 indústrias em

Juiz de Fora, dessas 1284 nós temos 5 empresas grandes, dessas 5 empresas grandes,

posso ter aqui Beckton Dickson, Mercedes-Benz e Votorantim que é de ponta [...]

(IND)

Percebe-se que, na opinião deste entrevistado, a interação da universidade com as

empresas ocorreria essencialmente através de pesquisa, o que, na atualidade, não estaria

acontecendo devido ao fato delas não demandarem por novos conhecimentos. Desta forma,

inicia-se a construção do indício de que, no contexto da UFJF, talvez não se observe a tripla

hélice consolidada e não se confirme a característica de Periferia de Desenvolvimento

Expandida, sendo que, para esta, são necessárias ainda análises a partir de outras formas de

interação, como, por exemplo, o NIT.

No sentido de explorar mais esse ponto do relacionamento da universidade com os entes

externos, indagou-se ainda aos entrevistados sobre o comprometimento da universidade com o

intercâmbio de conhecimentos com a sociedade, a indústria e o governo, sendo as respostas

dispostas na Tabela 6.

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Tabela 6- Comprometimento da UFJF com o intercâmbio de conhecimentos com a indústria,

a sociedade e o governo

Absoluta %

5 38%

3 23%

3 23%

1 8%

1 8%

1 8%

São iniciativas pontuais

É comprometida, mas algumas vezes se distancia de seu foco por buscar atender demandas externas

Institucionalmente não há comprometimento, isto é realizado mais pelas empresas juniores

É comprometida com a sociedade e realiza o intercâmbio por meio de pesquisa e extensão

Não há, mas a UFJF está buscando aumentar este contato através da aproximação com o mercado e com

a comunidade

Respostas

2 15%

Frequência

Através das iniciativas da Pró Reitoria de Extensão

Através das iniciativas da Direitoria de Inovação

Fonte: Elaboração própria

Apesar da questão anterior (Tab. 5) denotar uma postura de pouca proximidade da

universidade com entes externos, nesta questão 62% dos respondentes consideram a UFJF

comprometida com o intercâmbio de conhecimentos com o ambiente externo, sendo que mais

8% ainda abordam que há este relacionamento, porém, por considerar que ocorre

majoritariamente por meio das empresas juniores, afirmam faltar algo que seja de nível

institucional (Tab. 6).

Dessa forma, constituiu-se uma tensão de percepções: a universidade teria um

relacionamento restrito com as empresas e o governo, mas, ao mesmo tempo, seria

comprometida com o intercâmbio de conhecimentos com entes externos. Percebe-se que uma

parte deste compromisso é atribuído às iniciativas de extensão, que priorizam as demandas

sociais e não empresariais, o que poderia, até certo ponto, justificar parte da discrepância entre

as percepções coletadas nas duas últimas perguntas (Tab. 5 e Tab. 6), porém, ainda assim, a

afirmação não guarda completa coerência com as opiniões demonstradas anteriormente, uma

vez que, nesta questão apenas 38% dos entrevistados alegaram perceber iniciativas pontuais,

enquanto na anterior, 85% perceberam um relacionamento restrito entre as instituições.

Esta tensão denota que há possibilidade de que a UFJF ainda não tenha desenvolvido o

Centro Acadêmico Estimulado e a Periferia de Desenvolvimento Expandida citados por Clark

(1998); o primeiro devido ao fato da percepção de que as iniciativas existentes estão ainda

concentradas em partes específicas da universidade, como as pró-reitorias, e o segundo devido

à baixa integração entre a instituição e os entes externos supracitados.

Os discursos indicam que uma hipótese para esta distância entre as respostas pode ser

uma demonstração de desejo versus realidade da universidade. Os entrevistados, ao analisarem

os vínculos atuais, percebem que os mesmos são restritos, mas que, ainda assim, a universidade

deseja estar comprometida com esse compartilhamento de conhecimentos com agentes

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externos. O aprimoramento deste vínculo foi indicado por três entrevistados como necessário,

não somente citando iniciativas de aproximação com o ambiente empresarial, mas também com

a sociedade, favorecendo assim o já citado impacto social e econômico da atividade da

universidade.

Por parte das indústrias, a percepção é de que este relacionamento ainda é incipente,

como foi declarado pelo representante regional ao afirmar que o único a se aproximar da

instituição representativa das indústrias, após muito tempo de distanciamento, foi o atual

responsável pelo Núcleo de Inovação Tecnológica da UFJF, porém, ainda assim, o entrevistado

afirma que esta iniciativa não é suficiente; na percepção dele, para que haja o efetivo

intercâmbio de conhecimentos entre a universidade e a indústria, a cultura de compartilhamento

deve ser algo divulgado e internalizado na conduta nos professores e alunos da universidade

para que efetivamente seja explorado o potencial da universidade e ocorram pesquisas de

relevante contribuição, o que provocaria a disseminação da Cultura Empreendedora Integrada

do modelo de Clark (1998). Esta mudança, segundo a CNI (2016), poderia ser guiada pela

incorporação à universidade dos princípios empresariais.

A base da sociedade moderna é a troca e a negociação. Essa premissa, do ambiente

empresarial, poderá contribuir para a reformulação da gestão das universidades,

sobretudo as públicas, tornando-as mais eficientes e integradas ao sistema econômico.

É necessário reconhecer que tanto as invenções quanto a própria formação de

profissionais têm um valor social e econômico. Alunos formados no sistema público

precisam, por exemplo, oferecer uma contrapartida pela educação financiada pela

sociedade.

Percebe-se que tanto o discurso formal do órgão representativo quanto o ponto de vista

do entrevistado da indústria indicam a visão, por parte deles, de que a melhor postura para a

universidade é aquela que a aproxima ao modelo empresarial: profissionais comprometidos

com a inovação e com o desempenho da instituição serão valorizados, a universidade deve ser

capaz de acompanhar e se adaptar às demandas do mercado e oferecer profissionais em número

e em qualificação que estejam de acordo com as necessidades apresentadas pelo ambiente

externo à instituição. Neste sentido, manifesta-se, no discurso destes, a reprodução do

comportamento das empresas no âmbito público, como preconizado pela Nova Gestão Pública

(Paula, 2005), como sinônimo de desempenho satisfatório eficiência no âmbito público.

Diante do exposto, nota-se que o segmento aparenta buscar imprimir ao cerne do meio

acadêmico uma lógica concorrencial, como se a este coubesse uma roupagem mercadológica

típica das empresas privadas, como se as universidades rivalizassem entre si um melhor

posicionamento de mercado, postura esta que já encontra algum eco dentro da própria

universidade, inclusive demonstrado, entre os entrevistados, por um dos membros da

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Administração Superior ao afirmar, de maneira coerente com essa posição, que o professor

precisa cuidar para que não fique obsoleto ou pouco competitivo:

A dedicação exclusiva ela engessa e elas fazem com que nós não tenhamos

informações frutíferas pra repassar e essa geração Y que tá aí, a Z que tá chegando, já

diz: “professor, você é muito acadêmico, eu quero conhecimento”. Então a gente tem

que entender que isso também é uma mudança de postura porque as leis estão aí, já se

flexibiliza, professor já pode prestar consultoria, professor já pode ir pra dentro de

empresa fazer pós-doutorado, pra poder fazer com que você saia do teu limbo, da tua

zona de conforto, e busque esse conhecimento, porque você corre o risco de se tornar

obsoleto e pouco competitivo enquanto professor já nos primeiros anos da tua carreira,

então eu acho que isso daí é fundamental pra oxigenar nosso conhecimento e as nossas

técnicas e as informações que a gente repassa. Aprender a aprender sempre. (AS5)

A adoção desta abordagem de gestão ressalta a importância do Núcleo de Direção

Fortalecido, para que a universidade, se considerar pertinente, realize as adequações desejadas

em sua atuação, mas não deixe de exercer seus papeis essenciais. Neste sentido, a fim de

identificar a existência de iniciativas institucionais da universidade de alguma forma coerentes

com essa postura de aproximação com o mercado, questionou-se sobre a existência de algum

incentivo para que os funcionários da UFJF busquem promover a integração com o mundo dos

negócios. As respostas obtidas seguem na Tabela 7.

Tabela 7- Incentivos oferecidos pela UFJF para que seus funcionários promovam iniciativas

de integração com o empresas

Absoluta %

4 31%

3 23%

3 23%

2 15%

1 8%

1 8%

1 8%

Poucos incentivos, mas a aproximação não depende exclusivamente da possibilidade de recompensas financeiras

Poucos incentivos, mas a universidade está buscando aprimorar sua conduta nesse sentido

Não há incentivo

Existem incentivos, mas este contato é algo preocupante

RespostasFrequência

Através de editais e bolsas para projetos de extensão, de iniciação científica, dentre outras bolsas

São percebidos e realizados de formas diferentes a depender da área do conhecimento

A aproximação não depende disso e sim da característica do pesquisador

Fonte: Elaboração própria

Neste sentido, as respostas obtidas denotaram uma certa dedicação da instituição em

estimular os atores institucionais universitários para a aproximação com a indústria, o que pode

facilitar essa replicação de comportamentos no interior da universidade, porém 31% dos

entrevistados ressaltaram que a operacionalização destas iniciativas ocorre de forma diferente

a depender da área do conhecimento. Neste sentido, afirmam alguns dos representantes da

Administração Média: “ [...] eu acho que não é e nem pode ser homogêneo em toda a

universidade, as áreas são diferentes e vão se relacionar com as entidades externas de modo

diferente” (AM1)

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[...] Eu vejo que em algumas áreas que tem mais apelo, que seus produtos são mais

aplicados de maneira mais imediata, porque essa é uma questão também: o acadêmico

às vezes ele demora muito a chegar no público, o produto da academia às vezes ele

demora muito tempo pra ser transformado num produto que vai ser utilizado de

maneira imediata pra população, então em áreas, por exemplo, como a medicina,

odontologia, farmácia, essas pesquisas, de certa forma, chegam mais rápido. Mas se

você pegar, por exemplo, a matemática, [...] é muito difícil. A matemática pura você

não consegue chegar imediatamente no público externo, ela é uma pesquisa que acaba

muito aplicada às próprias outras áreas da universidade, mas há setores, por exemplo,

que a gente pode transformar isso num produto mais utilizável de maneira mais rápida,

por exemplo, a matemática aplicada (...) ela usa a matemática pra resolver problemas

que vem da indústria, por exemplo, que vem de empresas, como, por exemplo,

otimização, computação, estatística, então isso poderia ser utilizado por empresas,

talvez pra melhorar seus processos e gerar talvez melhores produtos a custos mais

baixos, então eu vejo que isso é possível. (AM5)

Assim, essa distinção de incentivos para diferentes áreas do conhecimento pode ser

relacionada à particularidade de cada área no seu relacionamento com o ambiente externo,

sendo que, quanto mais imediatamente conectadas ao mercado, mais permeáveis elas são e

estão mais passíveis de receber influências e incentivos provenientes da própria iniciativa

privada, como financiamento que permite a compra de equipamentos modernos para

laboratórios, concessão de bolsas para alunos da pós-graduação, dentre outras possibilidades.

Adicionalmente, percebe-se que nas visões apresentadas, para que ocorra a aproximação

com a indústria, é preciso que se apresentem atrativos coerentes com a cultura empresarial:

apresentação de produtos com aplicabilidade imediata, propostas de redução de custos e de

aumento da eficiência. A internalização desses comportamentos em determinadas áreas pode,

ao mesmo tempo em que fortalece a cultura empreendedora, passar a requerer da universidade

um núcleo de direção cada vez mais atento à essa diversidade, de forma que possa também

elaborar mecanismos capazes de atenuar as desigualdades entre as diferentes áreas de

conhecimento que provocam inclusive discrepâncias quanto à obtenção de recursos externos.

O novo Marco da Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei 13.243/16) neste caso de

incentivos, como anteriormente citado, e particularmente os financeiros, talvez seja atrativo

para pesquisadores que valorizam este aspecto, uma vez que legitima a base de financiamento

diversificada por parte dos centros de pesquisa, universidades, dentre outros. A preocupação

que se revela neste sentido com relação às áreas que não têm essa relação direta e imediata com

a aplicação mercadológica dos seus conhecimentos levanta sugestões como a criação de “[...]

um fundo que permita que parte desses recursos dêem sustentação a áreas que são igualmente

importantes, mas que não tem essa conexão com o mercado” (AS4).

Por outro lado, um dos integrantes da Administração Média afirmou que este incentivo

para a aproximação não deve vir da instituição, pois a conduta é algo extremamente particular

de cada profissional e pesquisador e assim, nenhum tipo de estímulo externo é capaz de forçar

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este comportamento, nem mesmo recompensas financeiras. Nesse sentido, outro membro da

Administração Média relativiza essa questão das recompensas ao afirmar que:

[...] dentre os incentivos, o maior pro professor nem é o financeiro, é a coisa do

reconhecimento, é aquele coisa de você poder, por exemplo, ir a um congresso e

conhecer pessoas, seus pares, que estão pesquisando e fazer esse intercâmbio, ser

recebido em outras instituições, receber pessoas de outras instituições, então pra gente

vale muito mais do que o que você recebeu em termos de remuneração. Talvez você

não recebeu nada, mas você pode ir a um congresso importante, pode conhecer outras

pessoas, pode ver pessoalmente aqueles autores que você leu pro seu trabalho,

conversar com eles ou então trazer pessoas de fora, pessoas importantes, isso é o

incentivo maior que a gente tem, de ver seu trabalho publicado, ver seu trabalho

reconhecido. (AM3)

Com o intuito de enriquecer a análise sobre essa questão da aproximação com o

ambiente externo motivada por diversos aspectos, indagou-se aos entrevistados sobre o

movimento da Universidade Empreendedora e as respostas estão sintetizadas na Tabela 8.

Tabela 8- Entendimento acerca do termo Universidade Empreendedora

Fonte: Elaboração própria

A resposta mais frequente trata da institucionalização do empreendedorismo na

universidade, o que fortaleceria as dimensões do Centro Acadêmico Estimulado e da Cultura

Empreendedora Integrada no modelo de Universidade Empreendora. A questão de produção de

inovação, por sua vez, se faz presente não somente não somente na análise dos entrevistados na

universidade, como também por parte do governo e da indústria, como um dos benefícios mais

significativos desta relação. Ressaltou-se também a abertura da universidade às influências do

mercado, uma marca do movimento de Universidade Empreendedora no que concerne à

Periferia de Desenvolvimento Expandida, sendo também um traço coerente com a abertura do

campo universitário público à replicação da cultura empresarial, algo que já é implementado

em plenitude pelas empresas juniores, citadas aqui também como um dos entendimentos dos

entrevistados sobre o significado do termo, as quais seriam inclusive um exemplo de Periferia

de Desenvolvimento Expandida. A postura empreendedora dos profissionais apresentou

relevância nesta questão e foi defendida por representantes da Administração Média.

E aí é um exemplo de que quando a gente não fica parado, só esperando o que já é

previsível, a gente ganha, então quando você consegue se mobilizar, mobilizar seus

recursos, investir toda as suas capacidades pra fazer um bom projeto, por exemplo,

com a FINEP, você traz recursos para universidade também. (AM3)

Absoluta %

5 38%

4 31%

4 31%

2 15%

2 15%

RespostasFrequência

É a universidade que institucionaliza o empreendedorismo no seu interior

Se refere à produção de inovação na universidade

Se refere à conduta dos professores que tomam iniciativa ao invés de esperar algo chegar do governo

É ligado ao desenvolvimento de empresas juniores na universidade

Abrir a universidade às interferências externas provenientes do mercado

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No entanto, um representante da Administração Média ressaltou que, em sua percepção,

a atuação empreendedora da universidade não se limitaria somente à capacidade de

comercialização do conhecimento gerado na instituição:

E não empreendedora no sentido mercantil apenas, mas ser empreendedora na

produção de conhecimento relevante que não vai necessariamente ter aplicações que

são economicamente lucrativas, mas você tem conhecimento que gera, que é um

conhecimento empreendedor, que gera benefícios sociais muito grandes, acho que

isso é, não só deveria, como é parte do que é uma universidade.(AM1)

Desta forma, talvez o empreendedorismo mereça ser compreendido e até mesmo

resignificado no âmbito da universidade, incorporando não somente esta visão que vem sendo

atribuída a ele como mercantilizador, mas também com a perspectiva do empreendorismo

social, capaz de gerar benefícios para a sociedade como um todo e não somente para uma

parcela que deseja a contrapartida do lucro pela sua atividade.

Ao identificar essa diversidade de opiniões no sentido de aproximação da universidade

com o ambiente externo, indagou-se os entrevistados a fim de explorar a temática referente aos

motivos que levariam a universidade a se aproximar do governo e das empresas, o que resultou

no seguinte panorama (Tab. 9).

Tabela 9- Motivos que levariam a universidade a buscar a aproximação com o governo e as

empresas

Absoluta %

6 46%

5 38%

3 23%

2 15%

2 15%Aproximação do objeto de estudo e maior aplicabilidade dos conhecimentos

Contribuir no desenvolvimento econômico e social

FrequênciaRespostas

Obtenção de financiamentos na iniciativa privada

Alcance de legitimidade social se aproximando da sociedade como um todo

Proporcionar maior inserção dos alunos no mercado

Fonte: Elaboração própria

Como o primeiro motivador da iniciativa da universidade, percebe-se o destaque da

questão da aproximação como uma “saída econômica” (AM1). Um diretor de unidade afirma

que “Essa é uma forma, via indústria, de você poder produzir, por exemplo, um fármaco novo,

porque, às vezes, só com verba de pesquisa que a gente recebe de agência de fomento, a gente

não consegue avançar muito” (AM2).

Um dos entrevistados provenientes da Administração Superior que já esteve à frente de

cursos de pós-gradução lato sensu citou inclusive que, quando a universide oferecia estes cursos

e recebia por eles, “[...] equipamos salas de aula, montamos laboratórios, toda uma

infraestrutura advinda de recursos privados [...]” (AS5). Como atualmente a universidade vive

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a realidade de questionamento sobre estas cobranças, moldada pela PEC 395/14, estes recursos

não estão mais disponíveis e, assim, este participante pondera que, até mesmo aquelas pessoas

contrárias à aproximação da universidade com fontes de recursos privados, “[...] estão sofrendo

e entendendo, hoje eu acho até que aprenderam quando viram que todo o recurso se foi e na

realidade elas poderiam ter uma estrutura de trabalho muito melhor [...]” (AS5).

Interessante notar que este entrevistado afirma que, com a suspensão dos cursos de

MBA, “todo o recurso se foi” (grifo nosso), quando se sabe que a fonte de recursos da

universidade é mista (Tab. 10), mas esta manifestação denota o sentimento do profissional que

tinha recursos em mãos para utilizar e investir com certa folga e atualmente passa por situações

de restrição.

Neste sentido, vale ressaltar que mais da metade dos entrevistados entendem como

insuficientes os recursos atuais e, ainda mais, diante da PEC 55, os futuros para o financiamento

da atividade da universidade. Assim, este seria um motivo determinante para se aproximar da

iniciativa privada, o que demonstra uma tendência de desenvolvimento da dimensão de Base

de Financiamento Diversificada.

É, na medida em que, por exemplo, há um rebaixamento de recursos públicos da

educação, financiamento da educação superior pelo fundo público, e cada vez mais

são transferidos recursos públicos para o setor privado, isso, vamos dizer assim, tende

a pressionar as universidades pra preservar os seus mecanismos de manutenção, do

desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extensão, a captar recursos via parcerias,

sem dúvida nenhuma. (REP3)

Porque com o orçamento engessado governamental [...] quando você olha os

investimentos em pesquisa no Brasil, que chega a 1,2%, quase 80% é público, só 20%

privado. Essa equação vai ter que inverter. Se inverter, a gente consegue, se não

inverter, fica um pouco complicado, porque se a gente conseguir inverter, vindo 80%

do privado e 20% público, tudo bem, nós vamos ter uma injeção de recursos, não

vindo do governo, mas vindo do setor privado. (AM4)

Atualmente, os atores institucionais universitários percebem a atividade da universidade

sendo financiada por fontes mistas: públicas e privadas, além das fontes próprias de arrecação,

sendo que atualmente, 69% dos entrevistados entende que o principal financiador da atividade

universitária é o Poder Público, como pode-se observar na Tabela 10. No entanto, a partir das

respostas anteriormente analisadas, a diversificação de fontes de financiamento e a inversão da

proporção de participação de cada fonte – pública e privada – no total estão sendo vistas como

uma possibilidade para que a universidade tenha condições de manter suas atividades.

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Tabela 10- Fontes de financiamento das atividades da universidade

Absoluta %

3 23%

3 23%

3 23%

3 23%

1 8%

1 8%

1 8%

RespostasFrequência

Governo federal, parcerias público-públicas e público-privadas

Majoritariamente, recursos de fontes públicas, e uma parte importante proveniente de fontes próprias de arrecadação

Majoritariamente recursos públicos, sendo valores de projetos ligados a empresas irrelevantes no montante

Recursos públicos e uma parte significativa proveniente da iniciativa privada

Majoritariamente recursos públicos, mas a aproximação com a iniciativa privada deve ser estimulada

Somente do governo federal

Majoritariamente recursos públicos, sendo a Fundação de Apoio responsável por buscar outras fontes

Fonte: Elaboração própria

A indústria reconhece a atratividade dessa aproximação para as universidades como uma

fonte extra de recursos, mas demonstra um pensamento claro também no sentido de que essa

interação permitiria a formação de profissionais com maior potencial de inserção no mercado,

o que legitimaria não somente o papel da universidade, como também a função social da

empresa.

Atualmente ativo, o programa Futuros Engenheiros, uma iniciativa estruturada pelo IEL

em conjunto com o Serviço Social da Indústria (SESI) e com o Serviço Nacional de

Aprendizagem Industrial (SENAI), busca atuar justamente no sentido de “[...] aliar

conhecimentos teóricos, práticos e simular a rotina de trabalho na Indústria” (FIEMG, 2016),

com o intuito de promover para o estudante universitário das áreas de Engenharia uma

oportunidade de desenvolvimento de competências técnicas e comportamentais que o tornem

mais apto para atuar na indústria. Esta formação com o viés mais aplicado, segundo o CNI

(2016), seria também capaz de incrementar o desenvolvimento econômico e social, fatores

compartilhados entre 53% dos atores universitários como estímulo para a aproximação entre a

universidade as empresas5. Dentre eles, destacam-se as percepções de dois dos entrevistados da

Administração Superior de que este desenvolvimento diferenciado é configurado a partir da

adoção de uma nova forma de competição das empresas, como é possível observar no

fragmento abaixo.

As empresas no Brasil, elas foram levadas a competir tendo como diferencial redução

de custos por conta das condições de trabalho que ela oferecia pros seus trabalhadores,

baixos salários, baixas remunerações, descomprometimento com a sustentabilidade,

[...] então essa redução de custos, de condições de trabalho e de pouca

sustentabilidade, criava condiçõess competitivas, ou seja, é a competição dos países

subdesenvolvidos. Nós precisamos competir é com outra forma. Nós temos que

competir porque os nossos produtos precisam ter tecnologia embarcada, serem

produtos efetivamente inovadores, termos processos inovadores de produção. Então,

nós estamos num momento de virada. As empresas tem que ter essa consciência, e

aonde é que elas podem buscar isso? Elas só podem buscar isso numa estrutura de

5 Foram somadas as participações das respostas “Contribuir no desenvolvimento econômico e social” e

“Proporcionar maior inserção dos alunos no mercado”, presentes na Tabela 9.

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pesquisa desenvolvida, que é a universidade. E nós, pelo nosso lado, a universidade,

nós também temos que romper a inércia, são dados aí, lamentavelmente são dados

conhecidos, a ciência no Brasil hoje ela ocupa uma posição hoje em torno de décimo

segundo lugar em rankings mundiais de publicações indexadas e os indicadores de

capacidade inovativa no país colocam o país em 70, 60, uma coisa desse tipo, então

claramente as universidades estão produzindo ciência, mas não tão conseguindo

transformar essa ciência em inovação para criar condição de desenvolvimento

econômico, desenvolvimento econômico diferenciado. Acho que é o nosso desafio, o

desafio de você conseguir despertar as empresas: “olha, você não pode mais competir

desse jeito porque senão nós vamos ser eternos exportadores de commodities” e as

universidades, você tem que acordar a universidade e falar o seguinte: “olha, nós

temos que ir além de simplesmente gerar o conhecimento e nós temos que conseguir

transformar o conhecimento em inovação”. A direção de gestão universitária passa

muito naquele eixo de desenvolvimento econômico pra conseguir superar esse abismo

entre essas duas coisas e aproximá-las. (AS1)

Acompanhando esta percepção, seria possível organizar um novo arranjo concorrencial

entre os países, o que contribuiria, no Brasil, para a “redução das desigualdades regionais” e

para a “promoção da competitividade empresarial nos mercados nacional e internacional”,

objetivos elencados pelo novo Marco da Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei 13.243/16) diante

das novas propostas de incentivo à pesquisa científica e à inovação no ambiente produtivo.

Sábato e Botana (1968), ao elaborar seu modelo de relação da universidade com outros entes,

já consideravam que o desenvolvimento científico tecnológico seria capaz de remodelar as

relações entre os países, inclusive, como consequência, modificando a configuração das

estruturas de poder mundiais.

No entanto, atribuir a reorganização internacional da economia somente a um fator é

algo um tanto quanto restrito e perigoso. Não está se afirmando aqui que a reestruturação dos

processos produtivos e a atividade inovativa não são capazes de promover mudanças no

patamar competitivo de um país, porém, fato é que atribuir a responsabilidade pela modificação

em todo um sistema global de competição somente a esse aspecto deixa de considerar

complexas questões políticas, conjunturais, econômicas, forças regulatórias, dentre diversos

outros fatores que tornam esta análise muito mais complexa do que simplesmente um processo

linear que descreve que, caso se modifique a cultura produtiva de um país, há o potencial para

reorganizar toda a dinâmica internacional.

Para melhor explorar as visões acerca desta temática de aproximação, questionou-se

também aos entrevistados sobre a busca por quebra de barreiras no relacionamento da

universidade com os agentes externos. Como respostas, foram obtidos os seguintes horizontes

(Tab. 11).

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Tabela 11- Mecanismos para quebrar fronteiras e fomentar novos relacionamentos da

universidade com as empresas

Absoluta %

6 46%

4 31%

3 23%

3 23%

2 15%

RespostasFrequência

Incentivo à inovação através de Incubadoras e Parques Tecnológicos

As parcerias público-privadas

O novo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação

Políticas públicas e programas do governo

Há dificuldades neste sentido devido ao isolamento por parte da universidade

Fonte: Elaboração própria

É perceptível que atribui-se diretamente às Incubadoras de empresas e aos Parques

Tecnológicos a responsabilidade por se aproximar das entidades externas, o que foi confirmado

também na questão que indaga sobre o papel do CRITT, cujas respostas seguem na tabella 12.

Tabela 12- Papel exercido pelo CRITT

Absoluta %

8 62%

6 46%

4 31%

2 15%

1 8%

1 8%Não tenho conhecimento sobre a atuação do CRITT

Proteção ao conhecimento

Transferência de tecnologia

Incubação de empresas

RespostasFrequência

Buscar uma articulação direta da universidade com a iniciativa privada

Estimular iniciativas empreendedoras

Fonte: Elaboração própria

Percebe-se, dessa forma, uma adequação das percepção dos atores universitários com a

real proposta do CRITT, que, por corresponder ao NIT da UFJF, tem como uma de suas

atribuições a busca por essa relação mais próxima com as demandas do mercado. No entanto,

no modelo de Clark (1998), valoriza-se a existência do Centro Acadêmico Estimulado e da

Cultura Empreendedora Integrada, aspectos que, a partir dessas questões, apresentaram indícios

de estarem praticamente ausentes da UFJF.

Esta postura de concentração da responsabilidade de integração na Incubadora ou

Núcleo de Inovação fica nítida também na percepção do representante regional da indústria,

como anteriormente citado, como um fator que denota o quão ocasional é a presença de

indivíduos empreendedores na universidade, já que não há a disseminação da cultura

empreendedora, fator que poderia ser diretamente relacionado, segundo os entrevistados, ao

nível potencial de desenvolvimento social e econômico de uma região ou país.

Na visão da CNI, esta questão do empreendedorismo efetivamente merece destaque no

campo universitário.

O empreendedorismo, que promove o surgimento e crescimento de novas empresas,

deve ser estimulado no ambiente acadêmico. Nos Estados Unidos, há muitas escolas

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de negócios que são referência no mundo, como Harvard e Wharton, em que

professores continuam trabalhando em empresas. No Brasil, o enfoque está mais em

administração do que em negócios e, muitas vezes, os professores não são

incentivados a conciliar a vida acadêmica com o dia-a-dia nas indústrias. (CNI, 2016)

Este comportamento “ilhado” dos professores é evidenciado por um dos membros da

Administração Superior ao afirmar que o Centro Regional de Inovação e Transferência de

Tecnologia está buscando atuar também no sentido de identificar:

[...] quais são as expertises e os conhecimento que são gerados aqui [na universidade],

chamar o profissional para alcançar o mercado, porque às vezes o pesquisador fica lá

ilhado na sua atividade, não tem nem muita percepção da utilidade daquilo que

produz, então esse setor vai buscar no meio empresarial, no mercado, qual é o tipo de

utilização que o conhecimento aqui gerado pode ter. (AS4)

A partir da análise das respostas obtidas, foi possível identificar que uma possibilidade

de incrementar esta aproximação talvez pudesse ser atribuída a uma maior autonomia dos atores

institucionais universitários para a construção destes vínculos, fator que buscou ser analisado

na Tabela 13.

Tabela 13- Autonomia das faculdades e unidades para estabelecer parcerias com empresas

Fonte: Elaboração própria

Neste caso, apesar de praticamente metade dos entrevistados afirmar que há autonomia,

87% deles destacam que a formalização requer a participação de algum outro órgão, seja de

apoio, seja da Administração Superior, o que, geralmente, na visão de um dos representantes

da Administração Média, envolve um processo burocrático e que retira o poder da unidade ou

faculdade atuar nos termos do contrato após a formalização do mesmo, uma vez que o controle

fica concentrado nos órgãos que reconheceram este vínculo institucionalmente (AM1).

Esta falta de autonomia, que afeta negativamente as dimensões do Centro Acadêmico

Estimulado e da Cultura Empreendedora Integrada, pode estar se configurando como um dos

fatores capazes de influenciar no maior distanciamento do relacionamento entre a universidade

e os atores presentes no ambiente externo, como as empresas e o governo, prejudicando assim

também as possibilidades de consolidação da Periferia de Desenvolvimento Expandida.

A Tabela 14 compila as percepções dos atores universitários sobre o engajamento desses

partes externas com a estruturação do processo de ensino-aprendizagem e, como é possível

Absoluta %

4 31%

1 8%

1 8%

1 8%

Há autonomia, o que algumas vezes beneficia a individualidade do pesquisador

As próprias unidades podem estabelecer esses vínculos

Há autonomia, mas deve haver cuidado com esses vínculos

Há autonomia, mas para formalizar, a depender do tipo de vínculo e de projeto, deve passar por

algumas instâncias (Procuradoria, Pró-reitorias, CRITT, FADEPE),

RespostasFrequência

Não, tudo passa pela Reitoria ou pela FADEPE

6 46%

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observar, 77% dos entrevistados considera não haver a influência das demandas dessas partes

sobre o citado processo.

Tabela 14- Possíveis influências das partes interessadas externas na estruturação e

desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem

Fonte: Elaboração própria

Apesar de atualmente esta tradução das necessidades do mercado não ser manifesta no

campo da UFJF, percebe-se que 46% dos entrevistados consideram atrativa a possibilidade

desta interferência, o que, na percepção dos mesmos, possibilitaria a formação de profissionais

mais aptos para atuar no mercado. No entanto, é importante observar que esta abordagem

levanta a formação universitária como educação instrumental, capacitando pessoas para atender

o mais plenamente possível as necessidades mercadológicas, postura coerente com a Teoria do

Capital Humano (COSTA, 2009). Um dos membros da Administração Média ressalta inclusive

que as empresas de Juiz de Fora e região visualizam a universidade apenas como um local de

fonte de mão de obra.

No princípio do século XX, à epoca de presidentes como Afonso Pena, Nilo Peçanha e

outros contemporâneos, se justificaria facilmente a inserção de um modelo de ensino voltado

para atender as necessidades de inserção de mão de obra no mercado, uma vez que, sendo o

Brasil um país de atividade predominantemente agrária, não oferecia condições de alocar outros

tipos de atividades que seriam até mesmo necessárias para sua consolidação e crescimento

agora como República e não mais como colônia.

No cenário atual, entretanto, com uma nação caracterizada pela busca cada vez maior

pelo ensino superior6, talvez não seja tão fácil compreender porque ainda são reproduzidos

6 O último Censo da Educação Superior publicado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),

datado de 2012, identificou que a Taxa Líquida Ajustada de Escolarização na Educação Superior evoluiu de 9,8%

em 2002 para 15,1% em 2012, sendo que a Taxa Bruta de Escolarização na Educação Superior subiu de 16,6%

para 28,7% no mesmo período (IBGE, 2012). A Taxa Taxa Líquida Ajustada de Escolarização na Educação

Superior corresponde ao indicador que demonstra o percentual de pessoas de 18 a 24 anos que frequentam cursos

de graduação na educação superior ou já os concluíram em relação à população total de 18 a 24 anos; e a Taxa

Absoluta %

2 15%

1 8%

1 8%

1 8%

RespostasFrequência

As parcerias com entes externos não influenciam no processo de ensino-aprendizagem

Alguns professores buscam a produção de conhecimentos articulados com as demandas sociais

Nada institucional, essa atualização de conhecimentos e abordagens depende do professor

6 46%

O financiamento de pesquisas por parte da iniciativa privada interfere no processo de ensino-

aprendizagem, direcionando esforços no sentido que as empresas desejam 1 8%

Não deve haver essa interferência; a universidade tem autonomia neste processo

Não há, mas deveria haver uma melhor interface a fim de aprimorar o processo e possibilitar a

realização de pesquisas e preparação de profissionais mais coerentes com as demandas do mercado

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discursos com foco na educação instrumental, que retira os elementos considerados como

“inúteis” do processo educacional, sendo estes os aspectos téoricos e críticos, e deixa

permanecer apenas aqueles que efetivamente atenderão as necessidades da indústria, aqui sendo

entendida como o conjunto de empresas que se inserem no cenário atual.

Desta forma, vale refletir sobre a questão de como um país subdesenvolvido pode

desejar chegar a algum outro patamar mais elevado, como demonstrado na busca pela

redefinição da dinâmica de competição internacional, se se limita a reproduzir a lógica e os

conhecimentos vigentes, ao invés de estimular a criação, o questionamento e a crítica do status

quo para então provocar as crises, que são precursoras da mudança (TORGAL, 2010). Essa

inquietação deveria provocar ao menos movimentos capazes de buscar um equilíbrio entre a

tendência entendida como alguns por mercantilização do conhecimento e a viabilização de

financiamento diversificado do ensino. Em um contexto em que o governo está recolhendo

verbas de todos os lados, não se pode deixar de considerar as parcerias com as empresas como

uma alternativa viável de financiamento das pesquisas, o que, se contemplar um contrato claro,

de cláusulas específicas, inclusive no que tange à limitação da dedicação do professor para que

não prejudique suas atividades acadêmicas, não necessariamente provocará a completa

subordinação da agenda de pesquisa.

Recebeu destaque, então, nessa condição, a questão da regulação desse relacionamento

da universidade com a indústria, aspecto que gerou as seguintes percepções pelos entrevistados

(Tab. 15).

Tabela 15- Mecanismos instititucionais da UFJF que regulam a relação com entes externos

Absoluta %

4 31%

2 15%

2 15%

1 8%

1 8%

1 8%

1 8%

1 8%

1 8%

Há mecanimos, mas deve ser aprimorados considerando as partes favoráveis e contrárias a essa relação

Algumas situações podem ser resolvidas pelo própria Unidade Acadêmica

A Fundação de Apoio é o intermediário nesse sentido

Os mecanismos variam para promover a proteção do conhecimento

Há mecanismos, mas devem ser aperfeiçoados para uma relação cada vez mais ética e próxima

Não há mecanismo, atualmente esse relacionamento é feito diretamente pelos professores e pelas

empresas juniores

RespostasFrequência

Há mecanismos, mas envolvem muita burocracia e pouca eficiência

Busca-se a participação dos envolvidos através de fóruns e conselhos

Isto é operacionalizado pela Administração Superior

Fonte: Elaboração própria

Bruta de Escolarização na Educação Superior é o índice que identifica o percentual de pessoas que frequentam

cursos de graduação na educação superior em relação à população de 18 a 24 anos.

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Assim, observa-se que este é um aspecto que hoje não está muito claro para os atores

institucionais entrevistados na universidade. Mesmo ao tentar explorar o assunto questionando

quais seriam estes mecanismos, diversos entrevistados apenas afirmaram que os mesmos

existiam, mas não conseguiram explicar exatamente como funcionavam. Um deles, ao tentar

descrever os mecanismos existentes, afirmou inicialmente que, para se estabelecer o vínculo

com entes externos “Não, nem precisa passar pelo Conselho Supeior, algumas coisas podem

passar pelo próprio Conselho de Unidade apenas” (AM3), mas posteriormente complementou

“É, agora, quando envolve negócio de recurso financeiro, aí é um pouco mais complicado. Aí

você tem que fazer via FADEPE” (AM3). Ao ser indagado sobre como exatamente o processo

ocorreria, as indefinições quanto ao procedimento se tornaram mais nítidas, pois até mesmo o

CRITT foi levantado como entidade intermediária. Considerar essas esferas como interventoras

não está incorreto, no entanto o que se revela é que diversos entrevistados demonstraram,

através de suas falas, que o processo para eles ainda é nebuloso, não sendo possível delimitar

claramente o papel de cada parte envolvida ou o trâmite exato de como isto ocore.

Um outro entrevistado ocupante de cargo na Administração Média, ao ser indagado

sobre esta questão do mecanismo regulatório dos vínculos, afirmou que “Aqui dentro da

universidade, tem o setor de cooperação, de convênios, então é tudo feito via Administração

Superior [...] aí vai ser avaliado pelo setor de convênios, passa pela procuradoria da

universidade, então tem toda uma coisa jurídica [...]”. É perceptível a distância entre os

discursos apresentados quanto ao entendimento sobre o procedimento adotado pela

universidade já que os atores citam órgãos diferentes e caminhos diferentes para o mesmo

processo. Assim, alguns outros entrevistados, tanto provenientes da Administração Média

quanto da Administração Superior, afirmaram, a partir da sua experiência e convívio, que

muitos professores da universidade não têm esclarecimento quanto aos procedimentos para se

elaborar e executar um projeto de cooperação com entes externos e, inclusive, levantaram esse

desconhecimento como um fator capaz de enviesar a concepção destes profissionais acerca dos

reais riscos e benefícios que se apresentam nestas relações.

Um outro ponto que merece atenção nesta questão é o fato de que, apesar de afirmarem

que os mecanismos existem, quatro dos cinco membros da Administração Superior

entrevistados ressaltaram que eles devem ser aprimorados com base na regulação, instrumento

que, internamente, é de responsabilidade do núcleo de direção da instituição.

A regulação foi levantada como instrumento de minimização de risco, uma vez que,

através da delimitação clara das condutas e responsabilidades de cada parte envolvida no

vínculo, ela cumpriria sua atribuição de proteção do bem público. No entanto, a questão da

inversão da matriz de financiamento, de majoritariamente pública para majoritariamente

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privada, foi elecanda como fator preocupante com relação à regulação, como é possível

perceber pelo trecho a seguir obtido na fala de um dos membros da Administração Superior:

Eu concordo com a tese de que, se o Estado não garante o financiamento mínimo das

universidades, e obrigar as universidades a buscar integralmente ou uma parcela muito

significativa do seu financiamento, é muito difícil, a regulação se torna mais

complicada. Uma coisa é você regular quando se trata de complementações de

financiamento. Um laboratório vai comprar equipamentos novos, mas os

equipamentos novos ele já tem, vai sofisticar um pouco seus equipamentos,

eventualmente, você vai garantir boas remunerações pros pesquisadores, pros

professores, você ter pequenas complementações de remuneração, nada muito

expressivo, aí é relativamente fácil você regular. Agora, por exemplo, nós vivemos

um momento na universidade que você, por exemplo, você faz uma redução forte de

remunerações, uma pressão sobre remuneração e estimula as complementações, aí

você, porque se os pesquisadores e os professores estiverem dependendo muito dessa

complementação de renda, a tendência é você acabar flexibilizando nas

regulamentações pra que ele tenha mais acesso, é um perigo mesmo. (AS1)

A Lei 10.973/04, com a nova redação dada pela Lei 13.243/16, estabeleceu em alguns

de seus artigos, como o artigo 5º e parágrafos e o parágrafo 2º do artigo 9º, formas de regular

essa relação no campo da proteção do conhecimento, levantando instrumentos possíveis para

garantir aos entes federativos, ao professor pesquisador e às instituições de pesquisa a devida

participação e reconhecimento pelos conhecimentos gerados. No entanto, o participante acima

citado, bem como um outro membro da Administração Superior, expressa a preocupação com

a aplicabilidade da regulação em um contexto em que o recurso hoje tido como complementar

se tornará principal.

No campo da indústria, por sua vez, parece haver clareza com relação a estes

mecanismos, até mesmo porque a construção deste vínculos é, na percepção deste ator,

realizada formalmente, através de projetos e programas de interação universidade-empresa,

além de convênios com o governo (FIEMG, 2016).

As políticas públicas educacionais e econômicas exercem, neste sentido, uma

participação importante para estimular a aproximação com o setor privado, como foi possível

observar através das respostas compiladas na Tabela 16.

Tabela 16- Atuação das políticas educacionais e econômicas governamentais no sentido da

integração

Fonte: Elaboração própria

Absoluta %

6 46%

4 31%

2 15%

1 8%Não tenho conhecimento

RespostasFrequência

Existem, mas não são adequadas

Existem e estão propondo uma maior integração da universidade com os entes externos

Não existem políticas públicas neste sentido

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Na percepção de um dos integrantes da Administração Superior, não há dificuldade de

identificar políticas públicas neste sentido.

Por exemplo, o Ministério da Ciência e Tecnologia desenvolveu a EMBRAPII, e o

quê que ela faz? Ela estabelece unidades quando ela consegue estabelecer relações

entre universidades e empresas, pra que laboratórios de universidade possam realizar

algum tipo de serviço, de apoio a alguma empresa, a algum conjunto de empresas, é

um exemplo claro de uma política governamental; é uma estrutura de financiamento

tanto do governo em parte, quanto das empresas, empresas obrigatoriamente tem que

colocar, universidade tem que colocar parte de recursos. A secretaria do Ministério da

Ciência e Tecnologia que trabalha no desenvolvimento de parques tecnológicos: a

ideia de parques tecnológicos é fundamentalmente uma política pública em que você

cria condições pra que as universidades estabeleçam essa interação, então eu não teria

dificuldade de identificar políticas públicas nesse sentido de aproximação da

universidade. (AS1)

A EMBRAPII, citada no discurso desse ator universitário, foi uma iniciativa conjunta

do CNI com o então Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com a Finep

(Financiadora de Estudos e Projetos) e o Ministério da Educação (MEC). Em termos de

políticas públicas, a atuação dos órgãos industriais, como a CNI, junto ao governo é bastante

marcante e tem como característica a busca por aproximação entre as indústrias e as instituições

de ensino e pesquisa.

De acordo com CNI (2016), a criação do Inova Empresa, programa de fomento a

projetos de inovação para elevação da produtividade e da competitividade da indústria

brasileira, bem como uma rede de Núcleos de Inovação nos estados, foram decorrentes de

iniciativas de parceria entre o CNI, o MCTI, dentre outros órgãos, como a Finep, BNDES e

CNPq.

No entanto, a adequação dessas políticas às necessidades de desenvolvimento social e

econômico do país foi questionada por um dos membros da Administração Superior,

ressaltando o fato de que, somente as políticas em si não são suficientes. É preciso que haja a

complementação das mesmas com a regulação no interior das universidades,

institucionalmente, inclusive para promover um equilíbrio entre as citadas diferenças de áreas

de conhecimento.

No âmbito da UFJF, como já citado, está em discussão o Marco da Inovação da UFJF,

o que sugere que, assim que houverem os direcionamentos finais neste sentido, a universidade

terá fortalecido seu Núcleo de Direção e terá constituído um importante instrumento de

regulação para permitir maior segurança e garantia nos seus contatos com outras entidades.

Pode-se perceber que em termos de políticas e programas governamentais, parece haver

um estímulo real à aproximação da universidade principalmente com o mercado, como foi

possível observar no discurso de um dos membros da Administração Superior:

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Eu já ouvi do atual governo um estímulo feito aos reitores em uma das reuniões de

criar totais condições de captação de recursos, até por conta de um cenário de crise,

um cenário de redefinição do Estado com essa PEC que tá sendo discutida de nível

de gastos, então é natural que o governo estimule esse tipo de interação com o

objetivo de financiamento. (AS1)

Assim, buscou-se identificar a percepção dos entrevistados acerca da visão do governo

referente a esta relação da universidade com as empresas, cujas respostas seguem compiladas

na Tabela 17.

Tabela 17- Forma como o governo visualiza a construção da relação entre as universidades e

as empresas

Fonte: Elaboração própria

Assim, para o governo, os respondentes visualizam um importante benefício: sua

desobrigação em termos de agente financiador da universidade pública, o que, em um cenário

de proposta de emenda constitucional para congelamento dos gastos públicos, estaria em

coerência absoluta com os direcionamentos que ele pretende adotar.

Esta possibilidade de captação de recursos fora da matriz pública é visualizada como

benefício na construção da relação da universidade com o ambiente externo, como pode-se

observar na Tabela 18.

Tabela 18- Possíveis benefícios para a universidade em uma relação mais próxima com o

ambiente externo

Fonte: Elaboração própria

Bem como já identificado em outras questões, os participantes identificaram aqui

novamente, dentre os benefícios, o potencial inovativo e a possibilidade de captação de

recursos, além da formação de profissionais com maior conhecimento aplicado.

Absoluta %

5 38%

5 38%

5 38%

4 31%

4 31%

RespostasFrequência

A aproximação favorece a inovação

Aumenta a legitimidade social da universidade

Possibilidade de financiamentos provenientes de outras fontes além dos recursos públicos

Aproximação da formação do profissional da real necessidade de mercado

Maior aplicabilidade do conhecimento construído na universidade

Absoluta %

5 38%

5 38%

1 8%

1 8%

1 8%

Parece ser uma possível solução para o desinvestimento público em educação

Seria uma possibilidade de desenvolvimento social se houvessem estímulos no sentido desta integração

RespostasFrequência

Ele obstaculiza para proteger o bem público

Prefiro não opinar por desconhecer essa relação específica

Seria benéfico, pois auxiliaria no desenvolvimento econômico e social

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Não acredito que vá ser tão forte no curto prazo, mas pro projeto de desenvolvimento

que de alguma maneira permita que o país possa desenvolver tecnologia e, ao mesmo

tempo, capacidade de interferência sobre a própria condição de vida, eu acho que a

relação com as empresas tem que ser ampliada. (AS3)

[...] ela é sempre muito positiva, porque ela tem impacto na formação dos nossos

alunos, no rumo da produção do conhecimento acadêmico, na construção de

inovações tecnológicas pra sociedade que mantém a universidade. (AS2)

Destaca-se também, na percepção dos entrevistados, que esta aproximação pode

favorecer a legitimidade social da universidade, o que foi anteriormente abordado quando da

análise da universidade empreendedora que poderia implantar o empreendedorismo com foco

também no desenvolvimento de conhecimentos que provocassem impacto social. Nesse

sentido, afirmaram os entrevistados:

Querendo ou não, ninguém paga mensalidade pra estudar aqui, então acho que

também tem essa relação: de fazer uso do recurso público de forma responsável, de

saber a qualidade do profissional que tá sendo formado e, além disso, o que ele vai

poder contribuir pra sociedade, dar um pouco de retorno do que foi investido mesmo.

(REP1)

[...] promover essa interação universidade-sociedade no sentido da universidade ser o

centro onde vai produzir/difundir esse conhecimento e os setores da sociedade

também absorverem esse conhecimento em prol do desenvolvimento social. (AM3)

Ao mesmo tempo, por outro lado, ao analisar os riscos dessa relação, se reforça a

preocupação com a ameaça de subordinação, exposto pelos entrevistados conforme frequência

compilada na Tabela 19.

Tabela 19- Possíveis riscos para a universidade em uma relação mais próxima com o

ambiente externo

Fonte: Elaboração própria

Dentre aqueles que não visualizam riscos, destaca-se o fato de que cinco dos seis que

afirmaram ter esta percepção, demonstraram os benefícios da aproximação a partir da questão

de possibilidades de financiamento alternativas para a universidade pública e, assim, talvez a

importância desses recursos esteja sobrepondo os riscos na relação de custo-benefício dessa

aproximação com o mercado na percepção destes atores.

Absoluta %

6 46%

3 23%

1 8%

1 8%

1 8%

RespostasFrequência

A universidade corre o risco de entrar com todos os ônus e as empresas ficarem com os bônus

Não visualizo riscos

5 38%

Risco de priorizar somente a ligação com algum setor da sociedade, como as empresas

Os riscos dependem da forma como essa relação é regulamentada

Benefícios somente para áreas que possuem maior ligação e coerência com as demandas de mercado

No caso de receber recursos de fontes privadas, desviar-se de suas finalidades públicas para atender

demandas particulares

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Os participantes que afirmaram vislumbrar algum tipo de perigo neste relacionamento

destacaram novamente os conflitos acerca de cultura. Na percepção dos atores universitários, a

troca de culturas colocada como um dos benefícios deste vinculo pela CNI, pode ser vista como

perigosa para a universidade.

Os riscos são sempre associados à perda de referência daquilo que é a função básica

de cada ente. Então, não é papel exclusivo da universidade produzir apenas pra atender

as empresas, então é preciso que na regulamentação dessa relação, você crie

mecanimos pra preservar a qualidade do ensino e da pesquisa básica. (AS4)

O que a gente debate é o seguinte: exemplo: se a universidade ela tem, o recurso de

uma universidade federal, ele vem obviamente do governo, então tem essa

prerrogativa de que ela seja financiada, sustentada pelo governo, então, a partir do

momento que ela fica dependente do capital de empresas, dessa relação, eu acho que

pode começar a se tornar uma relação um pouco perigosa principalmente no que tange

justamente no objetivo da universidade, porque, a partir do momento que você

depende financeiramente, uma coisa é você ter suas atividades realizadas a partir do

dinheiro do governo federal, do dinheiro que é repassado, e ter esse complemento de

verba, por exemplo, com iniciativas aqui dentro relacionadas a empresas, mas, se a

universidade começar a se tornar dependente disso, acho que fica essa relação de,

aquela coisa mesmo: a dependência financeira com empresa ela é perigosa justamente

porque ela pode significar o enviesamento da universidade ou o uso da universidade

pra que, por exemplo, o interesse de alguma pesquisa ou de alguma empresa seja

atendida, por exemplo. Não é demonizar o contato que existe com o setor empresarial,

mas também entender que existem algumas ressalvas que devem ser feitas, porque o

principal objetivo da universidade não é servir a uma empresa, ao setor empresarial,

a uma empresa específica, e sim ter a formação de profissionais [...] (REP1)

A questão de que a universidade mantenha suas funções essenciais, bem como sua

autonomia, é uma preocupação de parte signicativa dos entrevistados na instituição, tendo

inclusive ressaltado os receios de privatização decorrentes desta (REP3), mesmo que alguns

outros atores não tenham conseguido enxergar aparentes perigos nessa relação.

Para as empresas, na visão dos atores universitários, parece que elas consideram este

relacionamento bastante proveitoso, como é possível observar na Tabela 20.

Tabela 20- Postura das empresas com relação à integração

Absoluta %

6 46%

3 23%

2 15%

2 15%

1 8%

1 8%

RespostasFrequência

Podendo usufruir somente dos bônus desta relação, sem os ônus

É positivo para seu desempenho no mercado

São beneficiadas pelo conhecimento produzido na universidade

Promove o desenvolvimento conjunto das universidades com as empresas

Há um certo distanciamento histórico entre as empresas e as universidades, o que dificulta esta integração

Reduz os custos de suas atividades de pesquisa e desenvolvimento

Fonte: Elaboração própria

É inegável que às empresas são atribuídos benefícios decorrentes deste vínculo de

maneira muito mais direta do que à universidade, uma vez que eles são mais fáceis de identificar

por serem tangíveis: lançamento de um novo produto, redução de custos ou falhas no processo,

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aumento da participação no mercado, dentre outros. Neste sentido, a percepção dos atores

universitários acerca da posição das empresas parece ser convergente com aquela efetivamente

adotada pela indústria, presente tanto em seus discursos formais, iniciativas e também no

discurso do presidente regional.

Para que as empresas possam usufruir desses benefícios, no entanto, são necessários

instrumentos, como as políticas públicas, que atuam buscando amenizar o distanciamento entre

a iniciativa privada e as universidades públicas. A CNI, neste sentido, destaca ainda que a

construção de vínculos mais estreitos pode vir a modificar a própria cultura e comportamento

das indústrias, tornando-as também ambientes de aprendizagem:

As universidades são ambientes educacionais por natureza, enquanto as empresas são

vistas como locais de treinamento. No entanto, a interação com o mundo acadêmico

poderá incentivar indústrias a se tornarem ambientes educacionais, com projeto de

pedagógico e de desenvolvimento de novas habilidades e competências. (CNI, 2016b)

Por outro lado, sugere-se que o relacionamento provoque consequências de mão dupla:

a cultura da aprendizagem nas empresas e a cultura mercadológica nas universidades:

Tanto o ambiente empresarial quanto o acadêmico têm seu próprio conjunto de

crenças e valores. Ao interagirem, indústrias e universidades podem harmonizar suas

culturas e aperfeiçoá-las ao incorporar o que há de melhor em cada uma delas.

Como ambientes naturais onde o conhecimento é incentivado e valorizado, as

universidades podem transmitir esse valor ao ambiente de negócios. A partir daí,

também aprendem a captar recursos ao negociar as invenções para que se tornem

inovações. (CNI, 2016b)

Em termos de definição de papeis, essa é uma postura preocupante, pois aproxima

instituições com objetivos e atuações distintas, simplificando as complexidades e conflitos que

este processo envolve. Diante disto, se faz necessário um Núcleo de Direção Fortalecido que

tenha, assim como a UFJF está buscando, definições claras sobre a regulação a ser

implementada nesta relação.

Desta maneira, a partir das análises, percebe-se que, na UFJF, apresentam-se visões

diferentes com relação aos aspectos da universidade empreendedora, bem como sobre a

possível aproximação da instituição com o mercado. No entanto, é justamente essa diversidade

de opiniões e posicionamentos que contrói a universidade em toda a sua complexidade.

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5 CONCLUSÃO

A universidade brasileira passou por diversos momentos que marcaram a estruturação

desta instituição em toda a sua multiplicidade de papeis. Historicamente responsável por formar

mão de obra, como se observou com a Universidade Técnica de Getúlio (TORGAL; ÉSTHER,

2014), a universidade, já a partir de 1950, começou também a se aproximar da iniciativa

privada, inicialmente pelo vinculacionismo e, logo após, pelo neovinculacionismo que trouxe

para o cenário latino-americano as incubadoras e os parques tecnológicos como forma de

fortalecimento do relacionamento entre aqueles entes (DAGNINO et. al, 2011).

Após a ditaduta militar, com a reforma protagonizada pelo governo FHC

implementando a Nova Gestão Pública, veio a transferência dos princípios da administração do

campo privado para o ambiente da gestão pública (PAULA, 2005), sendo que no governo Lula,

foi dada continuidade a este movimento, e à universidade foi ainda atribuída uma nova missão:

ser promotora de desenvolvimento.

Esta pluralidade de papeis atribuídos à universidade acaba por refletir na diversidade de

percepções dos diferentes atores envolvidos neste processo, os quais passam a construir visões

variadas sobre as tendências de aproximação da universidade com a indústria e igualmente

sobre a efetiva atuação da universidade. No caso da UFJF, essa multiplicidade se revelou

nitidamente nesta pesquisa, que oportunizou captar as percepções de diversos atores

institucionais.

A UFJF foi identificada tanto pelos atores universitários quanto pela indústria como

uma universidade com foco em formação de mão de obra, o que se atribuiu, até certo ponto, à

forma como foi constituída e às expectativas quanto a sua atuação no contexto regional. Este

papel, em si, não corresponde a um problema ou fragilidade, uma vez que a universidade

efetivamente deve capacitar pessoas para que possam se tornar profissionais atuantes nas mais

diversas áreas. Porém, sua atuação esperada é mais ampla do que isso e alguns pontos de tensão

foram encontrados nas concepções sobre este tema, bem como sobre a relação da universidade

com a indústria e o governo.

Na UFJF, destaca-se a percepção coerente com aquela difundida pelo governo Lula, uma

vez que à universidade atribuiu-se o papel de agente de desenvolvimento econômico e social.

Atualmente passando por um processo de transição de gestão, a UFJF está estruturando seus

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mecanismos internos para se relacionar com o ambiente externo, assim fortalecendo seu Núcleo

de Direção, atualmente enfraquecido pela troca de gestão.

Neste sentido, a regulação por determinações internas e externas à universidade exerce

destacada importância, uma vez que seria o mecanismo capaz de determinar limites para

atuação dos agentes envolvidos nesta relação, oferecendo, ao mesmo tempo, possibilidade para

que as empresas constituam um vínculo atrativo para elas, e, para as universidades, a segurança

de manutenção de sua autonomia.

Entretanto, percebe-se que o instrumento regulatório também gera tensões de percepção

devido ao questionamento de sua real aplicabilidade. Como no Brasil, o corpo legal em geral é

bastante denso e carece de aplicação, os atores universitários que ressaltam os riscos da

aproximação receiam que isto também ocorra com os esforços de regulação do relacionamento

entre as universidades públicas e a iniciativa privada, e a universidade acabe por se tornar

demasiadamente permeável às influências da indústria.

É perceptível que as vantagens desse tipo de vínculo são bastante nítidas para a indústria.

Esta cooperação entre governo, empresas e Instituições de Ensino Superior (IES) permitiria,

segundo Etzkowitz (2002) e de acordo com a pesquisa empírica realizada, que as empresas

passassem a ter acesso a recursos que inicialmente não possuíam, tais como mão de obra

qualificada e infraestrutura avançada, o que lhes permitiria a solução de problemas de ordem

técnica e científica de maior complexidade com menor custo, proporcionando assim, ganho de

competitividade.

Para o governo brasileiro, a aproximação das indústrias com a universidade poderia

oportunizar uma fonte alternativa de financiamento que descentralizaria esta responsabilidade

inicialmente nele concentrada e, posteriormente, poderia desobrigá-lo deste aporte, fator visto

com preocupação por alguns membros da UFJF, já que, uma vez desvinculado o governo da

obrigação de financiamento, a universidade teria que se aproximar cada vez mais da iniciativa

privada, ampliando os riscos de subordinação a ela e afetando diretamente a autonomia

universitária, princípio disposto na Constituição (BRASIL, 1988) e também na Lei de Diretrizes

e Bases (BRASIL, 1996).

Por outro lado, essa relação poderia proporcionar à universidade uma maior proximidade

com o contexto que a abrange, englobando a realidade técnica, econômica e social. Na UFJF,

no entanto, este vínculo com as empresas ainda não é consolidado e está presente pontualmente

em setores da universidade que são mais diretamente relacionados ao mercado, como as áreas

de engenharia e saúde, além das empresas juniores, mas a percepção compartilhada é que a

responsabilidade formal por buscar esse tipo de relação está atualmente concentrada no CRITT.

Em termos de extensão, a nova gestão está trabalhando no sentido de elaborar diversos

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programas que fortaleçam esta área da universidade, criando uma aproximação maior da

instituição com a sociedade. Assim, o traço de Periferia de Desenvolvimento Expandida ainda

merece ser fortalecido no âmbito da UFJF.

O fato de se compreender que a responsabilidade por criação de vínculos externos se

concentra em alguns órgãos da universidade pode também denotar a fragilidade da Cultura

Empreendedora hoje presente na instituição, a qual parece estar presente quase que

exclusivamente nas áreas que se relacionam diretamente com o mercado.

O CRITT recebe atualmente a atribuição de estimular a visão dos pesquisadores para o

ambiente externo, demonstrando a aplicabilidade de suas pesquisas e estimulando sua

participação em conjunto com os alunos para solução de desafios propostos por empresas da

região. Este pode ser entendido como um esforço da nova gestão para promover a dimensão de

Centro Acadêmico Estimulado. No entanto, para que haja o real fortalecimento deste aspecto,

é preciso trabalhar a questão da autonomia para os pesquisadores no âmbito da universidade,

fator que foi problematizado pelos atores entrevistados e é essencial no sentido de se promover

a cultura empreendedora e o centro acadêmico estimulado, os quais impactam diretamente

sobre a capacidade de obter financiamentos de bases diversificadas.

Esta última dimensão é até relativamente encontrada na UFJF, uma vez que a instituição

recebe recursos tanto de fontes públicas, quanto de fontes privadas, além de seu

autofinanciamento. No entanto, como percebido durante a apresentação dos resultados, a

tendência, diante do novo contexto em que as universidades públicas se inserem é que isto seja

cada vez mais desenvolvido a fim de propiciar às mesmas o adequado aporte de suas atividades.

Neste sentido, ao considerar os elementos que inicialmente constituiriam uma

universidade como empreendedora, ainda não se pode afirmar que a UFJF assume esta conduta,

apesar de serem perceptíveis as iniciativas da nova gestão no sentido de fortalecimento dessas

categorias. No entanto, o que se constatou é que diversos elementos novos surgiram quando da

interação dos entrevistados com os aspectos que inicialmente estruturariam esta Universidade

Empreendedora.

O estudo desenvolvido abriu portas para considerar uma nova perspectiva do

empreendedorismo na universidade, que considera não apenas o aspecto de mercantilização de

novos conhecimentos, mas também do impacto social que eles são capazes de exercer. A

dimensão do desenvolvimento social assumiu importância nesta pesquisa, uma vez que foi

abordada inúmeras vezes por diversos atores como uma consequência da atuação da

universidade e do professor que busca estimular e construir conhecimentos articulados com a

demanda social e que tenham impactos diretos sobre a sociedade. Dessa forma, no âmbito da

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universidade, que tem como funções essenciais o ensino, a pesquisa e a extensão, e no campo

da UFJF, ainda a inovação, talvez seja importante ressignificar o que seria empreendedorismo.

A compreensão acerca do relacionamento da UFJF no contexto da Tripla Hélice, por sua

vez, também apresentou complexidades, uma vez que os atores envolvidos apresentam entre si

inconsistências de postura e de visão. Dessa forma, este vínculo é algo que ainda carece de

discussões e debates com partes favoráveis e contrárias à integração para que seja possível

elaborar uma postura institucional, o que vem sendo buscado através de diversas iniciativas da

nova gestão, como a discussão do Marco Legal da Inovação da universidade.

Desta forma, este trabalho ofereceu contribuições no sentido de compreender melhor as

complexidades envolvidas no âmbito da UFJF para a construção de um direcionamento

institucional com relação ao papel da universidade e seu relacionamento com o ambiente

externo. Como o momento atual vivido pela UFJF é de transição, uma vez que a nova

Administração Superior assumiu recentemente, há a indicação de que sejam realizados estudos

futuros a fim de buscar identificar se os indícios de estruturação pretendida dos relacionamentos

externos efetivamente irão ter se consolidado, se a gestão continuará com a mesma abordagem

acerca da inovação e se haverá alguma mudança de percepção por parte de atores institucionais

a partir do posicionamento adotado pela Administração Superior. Ao realizar este novo estudo,

será possível acompanhar temporalmente a evolução da UFJF com relação aos aspectos

pesquisados, inclusive considerando as mudanças de conjuntura econômica e social que podem

vir a ocorrer neste período.

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ANEXO A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

O (A) Sr. (a) está sendo convidado (a) a participar voluntariamente da pesquisa que trata sobre

o “A realidade da Universidade Empreendedora: uma visão a partir da Tripla Hélice no caso

UFJF”, cujo objetivo consiste em compreender como é concebida atualmente a relação universidade-

indústria-governo no contexto que envolve a Universidade Federal de Juiz de Fora.

Sua participação envolve participar de uma entrevista, que será gravada de acordo com seu

consentimento, com duração aproximada de trinta minutos. A participação nesse estudo é voluntária e

se você decidir não participar ou quiser desistir de continuar em qualquer momento, tem absoluta

liberdade de se manifestar neste sentido, o que não acarretará qualquer tipo de penalidade.

Os dados e instrumentos utilizados na pesquisa ficarão arquivados com o pesquisador

responsável por um período de 5 (cinco) anos, e após esse tempo serão destruídos. Na publicação dos

resultados desta pesquisa, sua identidade será mantida no mais rigoroso sigilo. Serão omitidas todas as

informações que permitam identificá-lo(a). O (A) Sr. (a) poderá ter acesso a todos os resultados da

pesquisa quando finalizada.

Mesmo não tendo benefícios diretos em participar, indiretamente o (a) Sr. (a) estará

contribuindo para a compreensão do fenômeno estudado e para a produção de conhecimento científico.

Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pelo (a) pesquisador (a) Isabella

Stroppa Rodrigues, pelo e-mail [email protected] ou telefone (32) 99925-5367. Este termo de

consentimento encontra-se impresso em duas vias originais, sendo que uma será arquivada pelo

pesquisador responsável e a outra será fornecida ao Sr. (a).

Eu, _____________________________________________, portador do documento de Identidade

____________________ fui informado (a) dos objetivos da pesquisa “A realidade da Universidade

Empreendedora: uma visão a partir da Tripla Hélice no caso UFJF”, de maneira clara e detalhada

e esclareci minhas dúvidas. Sei que a qualquer momento poderei solicitar novas informações e modificar

minha decisão de participar se assim o desejar.

Declaro que concordo em participar. Recebi uma via original deste termo de consentimento livre e

esclarecido e me foi dada à oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.

Juiz de Fora, _________ de __________________________ de 20 .

__________________________________

Assinatura do Participante

__________________________________

Assinatura do (a) Pesquisador (a)

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