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A REDE URBANA NORTE-MINEIRA: REFLEXÕES SOBRE OS FLUXOS ESPACIAIS ENTRE JANUÁRIA, PIRAPORA E JANAÚBA E A CIDADE MÉDIA DE MONTES CLAROS NO NORTE DE MINAS GERAIS 1 IARA SOARES DE FRANÇA Doutora em Geografia – Universidade Federal de Uberlândia/UFU Prof a . do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Montes Claros /UNIMONTES [email protected] CAROLINE GABRIELE TRINDADE QUEIROZ Graduanda em Geografia da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES Bolsista de Iniciação Científica da FAPEMIG - UNIMONTES [email protected] i FRANCIELY SILVA SOUZA Graduanda em Geografia da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES Bolsista de Iniciação Científica da FAPEMIG - UNIMONTES [email protected] ii RESUMO As redes urbanas constituem basicamente em um grupo de espaços geográficos distintos que estão conectados e articulados entre si. Nessa conjuntura, este trabalho analisou as interações espaciais entre os municípios de Januária, Janaúba e Pirapora com a cidade média de Montes Claros 2 no Norte de Minas Gerais. Para a obtenção de resultados, realizou-se pesquisas diretas com entrevistas à população, registros iconográficos, confecção de mapas, tabelas e gráficos, com o intuito de obter uma análise interpretativa da dinâmica entre estas cidades e as cidades que que compõem a região em que estão inseridas. Palavras - chave: cidades médias, rede urbana, fluxos, interações espaciais. INTRODUÇÃO O espaço urbano é simultaneamente articulado e fragmentado, uma expressão espacial de processos sociais, sendo, portanto, um reflexo da sociedade que ele abriga. 1 Este artigo resulta das pesquisas Perfil Intra e inter-urbano de uma Cidade Média: Estudo de Montes Claros/MG, financiada pelo CNPq (2007-2009) e coordenado pela Prof a Dr a Anete Marília Pereira, Perfil Intra urbano de uma cidade Média: Estudo de Montes Claros/MG (2008-2010) e A Rede Urbana Norte- Mineira: consolidação, dinâmicas recentes e refuncionalização (1950 a 2010), em desenvolvimento (2012-2014), financiados pela FAPEMIG, coordenado pela Prof a Dr a . Iara Soara de França, desenvolvidas pelos autores no Laboratório de Estudos Urbanos e Rurais/LAEUR, vinculado ao Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Montes Claros/UNIMONTES. Os bolsistas de Iniciação Científica vinculados à esta pesquisa foram: Aline Chelone Maia Aleixo (FAPEMIG), Claudinei dos Santos Ricardo (FAPEMIG), Douglas Leite Medeiros (FAPEMIG) e Iara Vanessa Souto (FAPEMIG). 2 Para a análise de Montes Claros como cidade média, consultar França (2007, 2012).

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A REDE URBANA NORTE-MINEIRA: REFLEXÕES SOBRE OS FLU XOS ESPACIAIS ENTRE JANUÁRIA, PIRAPORA E JANAÚBA E A CI DADE

MÉDIA DE MONTES CLAROS NO NORTE DE MINAS GERAIS 1

IARA SOARES DE FRANÇA Doutora em Geografia – Universidade Federal de Uberlândia/UFU

Profa. do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Montes Claros /UNIMONTES

[email protected]

CAROLINE GABRIELE TRINDADE QUEIROZ Graduanda em Geografia da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES

Bolsista de Iniciação Científica da FAPEMIG - UNIMONTES [email protected]

FRANCIELY SILVA SOUZA

Graduanda em Geografia da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES Bolsista de Iniciação Científica da FAPEMIG - UNIMONTES

[email protected]

RESUMO

As redes urbanas constituem basicamente em um grupo de espaços geográficos distintos que estão conectados e articulados entre si. Nessa conjuntura, este trabalho analisou as interações espaciais entre os municípios de Januária, Janaúba e Pirapora com a cidade média de Montes Claros2 no Norte de Minas Gerais. Para a obtenção de resultados, realizou-se pesquisas diretas com entrevistas à população, registros iconográficos, confecção de mapas, tabelas e gráficos, com o intuito de obter uma análise interpretativa da dinâmica entre estas cidades e as cidades que que compõem a região em que estão inseridas.

Palavras - chave: cidades médias, rede urbana, fluxos, interações espaciais.

INTRODUÇÃO

O espaço urbano é simultaneamente articulado e fragmentado, uma expressão espacial

de processos sociais, sendo, portanto, um reflexo da sociedade que ele abriga.

1Este artigo resulta das pesquisas Perfil Intra e inter-urbano de uma Cidade Média: Estudo de Montes Claros/MG, financiada pelo CNPq (2007-2009) e coordenado pela Profa Dra Anete Marília Pereira, Perfil Intra urbano de uma cidade Média: Estudo de Montes Claros/MG (2008-2010) e A Rede Urbana Norte-Mineira: consolidação, dinâmicas recentes e refuncionalização (1950 a 2010), em desenvolvimento (2012-2014), financiados pela FAPEMIG, coordenado pela Profa Dra. Iara Soara de França, desenvolvidas pelos autores no Laboratório de Estudos Urbanos e Rurais/LAEUR, vinculado ao Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Montes Claros/UNIMONTES. Os bolsistas de Iniciação Científica vinculados à esta pesquisa foram: Aline Chelone Maia Aleixo (FAPEMIG), Claudinei dos Santos Ricardo (FAPEMIG), Douglas Leite Medeiros (FAPEMIG) e Iara Vanessa Souto (FAPEMIG). 2 Para a análise de Montes Claros como cidade média, consultar França (2007, 2012).

(CORRÊA, 1989). Nesse sentido, as cidades tornam-se um reflexo do modo de

produção capitalista, atendendo às exigências da divisão do trabalho, se especializando

e articulando regionalmente. As cidades são diferentes umas das outras em forma e

conteúdo, em alguns casos, recebem a conotação de localidades centrais em escala

regional. A partir da existência de articulações entre os espaços urbanos, tem-se a

constituição de redes urbanas nas mais diversas escalas, que se concretizaram em um

processo de urbanização difusa que interiorizou o fenômeno urbano em direção a

extensos espaços geográficos articulados por cidades médias e metrópoles em formação.

(MATOS, 2005). As redes urbanas são caracterizadas por um grupo de espaços

geográficos distintos interconectados e articulados. Santos (1996) considera que as

redes urbanas resultam de um equilíbrio inconstante entre massas e fluxos que tendem à

concentração e à dispersão, variando no tempo e proporcionando diversas formas de

organização e domínio do espaço. A cidade média de Montes Claros se desenvolveu

economicamente com intervenções públicas estadual e federal, se configurando como

um centro regional do Norte de Minas Gerais. A rede urbana, na qual se insere, tem

exercido autonomia e influência em relações econômicas, políticas e sociais sobre as

diversas cidades que a Montes Claros estão ligadas, especialmente Janaúba, Januária e

Pirapora. As interações espaciais entre esses centros urbanos são intensas e complexas,

ao passo de gerar uma complementaridade funcional onde Montes Claros é o núcleo

com funções mais especializadas e diversificadas, articulando espacialmente com os

demais municípios do Norte de Minas Gerais. Visando compreender a interrelação

existente entre Montes Claros e os municípios de Janaúba, Januária e Pirapora realizou-

se pesquisa de campo nos referidos municípios com aplicação de questionários a

população. No total foram aplicados 50 questionários em cada município, onde eram

indagados sobre o município que buscavam serviços e comércios especializados e

diversificados, e os motivos que os levavam a deslocar-se em busca destes serviços.

Nota-se uma dependência das populações de cidades vizinhas, em relação aos serviços

oferecidos por Montes Claros que oferecem diversidade e especialização funcional. Isso

aumenta a importância de Montes Claros no âmbito regional, definindo o seu papel

como centro regional no Norte de Minas, gerando na região fluxos de capitais,

mercadorias, produtos, informação e pessoas. Para o desenvolvimento do artigo,

realizou-se coletas de informações demográficas, estatísticas e econômicas referentes

aos quatro municípios de estudo em prefeituras, Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística - IBGE, Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – IPEA, Fundação

João Pinheiro – FJP. A pesquisa bibliográfica baseou-se nas temáticas: urbanização

(SANTOS, 2005), cidades médias (GARCIA E NOGUEIRA, 2008; PEREIRA, 2010;

CORRÊA, 2007, AMORIM FILHO, 1976, 1982, 1984, 2001), redes urbanas (BESSA,

2007; CORRÊA, 1994, 2005, 2004; EGLER, 2010; FRESCA, 2009; MOTTA, 2001;

OLIVEIRA, 2009; DIAS, 2007; CASTELLS, 1999; MATOS, 2005), espaço intra e

interurbano (FRANÇA, 2007; VILLAÇA, 2001) e fluxos (GOMES, CASTRO E

VIANA, 2010; SANTOS, 1996). Os resultados obtidos serão representados por meio de

mapas e tabelas, além de registro iconográfico.

Algumas considerações sobre rede urbanas

O conceito moderno de rede se forma na filosofia de Saint-Simon, que formulou um

projeto de melhoria do território francês, que consistia em traçar sobre seu território

redes para assegurar a circulação de todos os fluxos, enriquecendo o país e levando à

melhoria das condições de vida, inclusive da população de baixa renda. (DIAS, 2007).

Segundo Castells (1999, p. 497) apud Dias (2007, p. 18) as redes

constituem a nova morfologia social de nossas sociedades, e a difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura. Embora a forma de organização social em redes tenha existido em outros tempos e espaços, o novo paradigma da tecnologia da informação fornece a base material para a sua expansão penetrante em toda a estrutura social.

A rede é um padrão organizacional que zela pela flexibilidade e pelo dinamismo dentro

de sua própria estrutura, com democracia e descentralização nas tomadas de decisões,

com autonomia de seus membros bem como a horizontalidade das relações entre seus

componentes, operando por um meio radical de desconcentração de poder.

(CASTELLS, 1999). Assim sendo, a rede deve ser pensada como um mecanismo que

ao mesmo tempo conecta seus membros e os dota de autonomia onde, em dado

contexto, cada uma das suas partes é uma centralidade, que é uma parte essencial do

todo. Tentar entender as interações entre as redes e os territórios por elas conectados

pressupõe reconhecer a existência de duas lógicas: a lógica das redes, definidas por

atores que desenham, modelam e regulam e a lógica dos territórios, concebidos como

arenas da oposição entre o mercado que singulariza e as técnicas da produção, a

organização da produção, a geografia da produção e a sociedade civil (DIAS, 2007).

De acordo com Bessa (2007) a dinâmica de transformações da rede urbana deriva dos

processos complexos de criação e evolução dos centros urbanos que a compõem,

sintetizados por uma evolução urbana desigual e originados por uma lógica desigual dos

processos sociais. Assim, as redes urbanas se diferenciam uma das outras, posto que são

definidas pela complexidade genética e pela complexidade de suas estruturas

dimensionais, funcionais e espaciais que juntam e as caracterizam e distinguem. A rede

é uma combinação particular de elementos que se complementam, originando

combinações únicas em um determinado espaço-tempo. Cada rede, dentro de seu

contexto, é singular e única, com padrões particulares de elementos que estruturam

todas as redes. Ainda segundo Bessa (2007, p. 68),

tal dinamismo é o motor da mudança (...), as redes urbanas apresentam diferenças por meio da variabilidade espaço-temporal de seus aspectos estruturais, que podem ser alterados em parte ou em conjunto, reconfigurando a estrutura, o funcionamento e a própria forma espacial da rede.

Bessa (2007, p.70) ainda pontua que

uma rede urbana, a um dado tempo e a uma dada localização, desempenha um papel específico, no qual seus centros possuem atributos igualmente específicos, essenciais às condições gerais de produção, reprodução e acumulação desse período.

A esse respeito, Garcia e Nogueira (2008, p. 5) observam que

segundo Corrêa (1997), no final do século XX e, pode-se acrescentar também no início do presente século, a organização espacial do capitalismo promove o surgimento no mundo de uma grande variedade de redes urbanas. Cada centro urbano pode inserir-se, embora com intensidades variáveis, mas simultaneamente, em diversas redes urbanas e, em cada uma delas exerce um papel distinto, em função do tipo de rede na qual está inserido.

Cada rede urbana, única em sua conformação e individual dentro de cada contexto

possui centros urbanos que direcionam e/ou comandam sua lógica econômica, política,

ambiental e outras. A cidade de São Paulo é o ápice da rede urbana brasileira, bem

como Belo Horizonte é o topo da hierarquia urbana mineira e Montes Claros é o centro

da rede urbana norte-mineira. Sobre esse contexto Egler (2010, p. 91) afirma que

a rede urbana tem uma importância decisiva para a dinâmica espacial e, portanto, para o desenvolvimento regional e nacional, principalmente quando considerado sua dimensão territorial. Não existe região sem um centro que a estruture e organize o território sob sua influência ou jurisdição. A manifestação mais concreta dos níveis de integração territorial em uma determinada região é a estruturação de seu sistema urbano. Pode-se afirmar que o estágio de desenvolvimento da rede urbana nacional revela os níveis de integração produtiva e financeira entre as regiões e, consequentemente, do conjunto do território nacional.

As concepções de rede urbana são numerosas e permitem em várias utilizações. A rede

urbana, na sua maioria é entendida como “um conjunto de centros funcionalmente

articulados, constitui-se em um reflexo social, reflexo de complexos e mutáveis

processos engendrados por diversos agentes sociais” (CORRÊA, 2005, p. 311). A partir

desta complexidade, surge uma significativa variedade de tipos de redes urbanas de

acordo com as características que estas apresentam como o tamanho dos centros, as

funções que desempenham a natureza, a intensidade, periodicidade e alcance espacial. A

centralidade dos núcleos urbanos se caracteriza a partir dos papéis que ele exerce na

distribuição de bens e serviços frente ao espaço urbano em que se insere. Neste

contexto, deve-se considerar a frequência dos bens e serviços oferecidos, evidenciando

localidades diferenciadas quanto ao alcance máximo e mínimo de seus produtos,

configurando uma diferenciação de localidades centrais, que segundo a teoria, é uma

diferenciação de caráter hierárquico na rede urbana. Desta forma

[...] a hierarquia urbana se realizada de modo em que as localidades de mais baixo nível hierárquico distribuem e ofertam apenas bens e serviços de consumo muito freqüente, enquanto as de maior hierarquia, ofertam todos os anteriores e mais alguns para os quais torna-se o único ofertador para uma região ou país (FRESCA, 2009, p. 1).

Tem-se então, a partir da natureza dos bens e serviços produzidos uma hierarquização

de centros urbanos a partir da extensão da área servida. Na teoria desenvolvida por

Walter Christaller (1933) além de núcleos centrais principais têm-se os lugares centrais

secundários que, segundo Ramos e Mendes (2001, p. 13),

exercem somente funções correntes, enquanto que os lugares centrais principais exercem, para além destas, certas funções mais raras que correspondem ao que se denominará por bens e serviços “excepcionais”. Neste caso, a área de influência dos lugares centrais principais engloba várias aglomerações secundárias.

O que se pode entender é que a rede urbana se estabelece a partir de centralidades e,

estas centralidades por sua vez, se configuram como nós que conectam cada cidade à

rede, distribuindo, complementando ou recebendo os fluxos diversos.

A rede urbana brasileira

O Brasil passou por um intenso processo de urbanização após a segunda metade do

século XX, que complexificou suas relações internas, desenvolveu a questão urbana e

transformou o país agrário em urbano-industrial. Segundo Santos (2005, p. 27)

A urbanização brasileira conhece nitidamente, dois grandes regimes, ao longo das diferentes periodizações que se proponham. Após os anos 1940-1950, os nexos econômicos ganham enorme relevo, e impõem-se as dinâmicas urbanas na totalidade do território (...); e, antes desse momento, o papel das funções administrativas tem, na maior parte dos estados, uma significação preponderante.

Oliveira (1977, p. 74) apud Matos (2005, p. 30) conclui que “a urbanização da

economia e sociedade brasileiras nada mais é que a extensão a todos os recantos e

setores da vida nacional, das relações de produção capitalista”. Essa urbanização

estruturou a economia do país para grandes mercados, inseriu o capitalismo industrial

em áreas estratégicas, produziu desenvolvimento e segregação, produziu vultosas

migrações do campo para a cidade, transformando o modo de vida de toda a sociedade.

É interessante ressaltar que as tendências da urbanização brasileira e o sistema urbano

do país incorporam as transformações espaciais da economia, visto que a urbanização

brasileira acompanhou o processo em que o país deixava de ser agrário para se

consolidar como um país urbano a partir do desenvolvimento de seu sistema industrial

(MOTTA e AJARA, 2001, p. 6).

As frequentes transformações pelo qual a rede urbana brasileira vem passando,

desencadeia uma série de questões sobre as interações espaciais entre os centros

constituintes. Dentre estas questões deve-se considerar com alto grau de relevância a

articulação entre estes centros urbanos. As interações espaciais podem ser descritas a

partir de dois tipos principais de informações:

O primeiro resulta de lenta e cara pesquisa envolvendo questionários sobre o comportamento espacial das empresas, instituições e consumidores em relação a numerosos bens e serviços. [...] O segundo tipo considera informações com base em um único indicados, o qual é admitido o conjunto ou grande parte do conjunto das interações espaciais (CORRÊA, 2005, p. 292).

As interações dessa natureza podem ser percebidas no espaço urbano a partir da

circulação intermunicipal de ônibus, fluxos de passageiros nas linhas aéreas e os fluxos

telefônicos. Eles evidenciam na atualidade a necessidade e a capacidade do espaço de

gerar interações de forma rápida, barata e eficaz. Sobre essas transformações nas redes

urbanas, Oliveira (2008, p. 105) afirma que

a rede urbana brasileira não pode mais ser tratada exclusivamente por interações do tipo rígidas, descrita na teoria Christalleriana, mas deve incluir também interações de complementaridade no âmbito da rede urbana, visto que a complexidade da divisão territorial do trabalho leva a numerosas especializações funcionais, que definem diversos centros urbanos.

Motta e Ajara (2001, p. 7) afirmam que “na realidade, os processos econômicos recentes

fizeram com que se estruturassem, nas distintas regiões brasileiras, novos espaços que

contribuíram para uma nova configuração territorial do país”. Esses autores propõem

ainda que

A rede urbana brasileira tem se tornado mais complexa com a configuração de diversas espacialidades, reflexo de distintas articulações socioespaciais que se formaram entre as cidades. Essa complexidade, que expressa a desconcentração das atividades produtivas e o surgimento de novos espaços economicamente dinâmicos, configura-se em função das peculiaridades da estrutura produtiva e de especificidades físico-espaciais que modelam distintamente o território construído (MOTA e AJARA, 2001, p. 20).

No que diz respeito à formação da rede urbana do Brasil

esta apresenta nítidos sinais de transição, evoluindo para o desenvolvimento espacial em forma de eixos. Há que se considerar ainda que deverão ocorrer impactos importantes, decorrentes dos investimentos programados por eixos de desenvolvimento, que poderão contribuir para redesenhar a configuração territorial do país e redefinir o sistema de cidades (MOTTA e AJARA, 2001, p. 21).

As mudanças recentes que vêm reestruturando a rede urbana brasileira têm sido

notáveis.

Dentre as muitas mudanças, destacam-se: a desconcentração, a ampliação e diversificação das atividades industriais, com o surgimento de centros industriais diversificados e especializados; a modernização e subseqüente industrialização e capitalização do campo, com ênfase na constituição de complexos agroindustriais; as inovações organizacionais junto aos setores industriais, comerciais e de serviços, com destaque para a terceirização e para a constituição de grandes corporações empresariais; a ampliação de uma base técnica associada, primordialmente, aos transportes e às comunicações, que possibilitou a diversificação das interações espaciais, e também associada à produção e distribuição de energia; a incorporação de novas áreas ao processo produtivo global e a refuncionalização de outras áreas, com destaque para as especializações regionais das atividades; os novos padrões de mobilidade espacial da população; o aumento quantitativo e qualitativo da urbanização; e uma estratificação social mais ampla e complexa, gerando maior fragmentação social, ampliação das classes médias e aumento do consumo (BESSA, 2005, p. 269).

O país deixou para trás uma estrutura urbana cujo único centro de comando era São

Paulo, visto que atualmente a rede se complexificou e se adensou, conformando novas

configurações com novos núcleos de poder. A metrópole nacional continua a articular a

rede brasileira a nível nacional e global, mas surgiram novos centros que também são

capazes de tal ação sem necessitar de intermediações com a capital paulista.

A Rede Urbana Mineira: O Norte de Minas em análise

O estudo da rede urbana em âmbito regional enseja uma série de análise no plano de

suas especificidades e escala espacial, uma vez que quando menor a escala estudada,

mais detalhamento e análise de mais variáveis são necessários para o entendimento do

objeto de estudo. Nesse sentido “os núcleos urbanos necessariamente não estabelecem

fluxos que possam caracterizar um padrão rígido de hierarquia”. (OLIVEIRA, 2008, p.

104). Sobre a rede urbana mineira destacam-se as centralidades de alguns centros

urbanos:

[...] cidades como Juiz de Fora, Uberlândia, Governador Valadares, Ipatinga, ou, Montes Claros caracterizam-se por serem pólos regionais no comando de suas respectivas regiões em torno, estabelecendo uma vida de relações próprias. São os relais de suas regiões, os pontos da rede que estabelecem o contato entre o mundo rural, sobretudo, e o restante dos outros centros urbanos. (GARCIA e NOGUEIRA, 2008, p. 3).

O Norte de Minas é formado por 89 Municípios, dentre os quais

[...] apenas dez possuem população urbana superior a 20.000 habitantes. Somente Porteirinha, Brasília de Minas, Espinosa, Manga, Coração de Jesus, Espinosa, Itacarambí, Francisco Sá, Jaíba, Monte Azul e Rio Pardo de Minas possuem entre 10.000 e 20.000 habitantes na área urbana. Os demais, uma maioria de 68 municípios, possuem população urbana inferior a 10.000 habitantes, sendo que Santa Cruz de Salinas, Gameleiras, Cônego Marinho, Glaucilândia, Miravânia e Itacambira possuem menos de 1.000 habitantes (PEREIRA, 2007, p. 176).

Neste sentido, deve-se considerar que a rede urbana Norte Mineira é formada

predominantemente por pequenos municípios, três centros emergentes (Pirapora,

Janaúba e Januária) e pela cidade média: Montes Claros. No que se refere aos centros

emergentes, Amorim Filho; Rigotti (2002, p. 6) destacam que neste patamar, os centros

emergentes

[...] encontra-se um número bastante considerável de cidades pertencentes à faixa de transição entre as pequenas e as médias cidades; elas pertenceriam, assim, tanto ao limiar inferior das cidades médias, quanto ao limiar superior das pequenas cidades.

O Norte de Minas Gerais abrange uma área territorial de 128.602 km2, compreendendo

sete microrregiões: Bocaiúva, Grão-Mogol, Janaúba, Januária, Montes Claros, Pirapora

e Salinas. Dentre essas microrregiões, Montes Claros se destaca como o mais

importante centro urbano.

Interações espaciais entre a cidade média de Montes Claros, Pirapora, Janaúba e Januária no Norte de Minas Gerais

Montes Claros está situada na Bacia do Alto Médio São Francisco, ao Norte do Estado

de Minas e localiza-se a 418 km de distância da capital mineira Belo Horizonte tendo

como principal acesso a BR-135. Possui uma área de 3.568,935 km² e população

estimada em 361.915 hab. (IBGE 2010). No que se refere ao setor econômico, Montes

Claros se destaca no setor terciário, apresentando um PIB total de R$ 3.815.101 e um

PIB per capita de R$ 10.503,35. (IBGE, 2009).

O município de Pirapora/MG está inserido no Norte de Minas Gerais, com uma

população estimada em 53.368 habitantes distribuída em uma área de 549, 514 km²

(IBGE, 2010). Pirapora encontra-se a 163 km de Montes Claros e a 357 km da capital

estadual Belo Horizonte, tendo como principal acesso a BR-365. O município possui o

maior PIB total e PIB per capita entre os três centros emergentes norte mineiros: R$

897.917, e R$ 16.716,63, respectivamente. (IBGE, 2009). Possui na indústria sua maior

potencialidade econômica, sendo que esse setor representa 39,4% do seu PIB, já a

prestação de serviços representa 37,7% do PIB. Janaúba está localizada a 137 km de

Montes Claros tendo como principal acesso a BR 122. Possui uma área de 2.181,315

km² e população estimada em 66.803 hab. (IBGE 2010). O município tem na

agricultura e na pecuária sua potencialidade econômica (IBGE 2010). Em 2009 o PIB

total e o PIB per capita foram respectivamente: R$ 510.184 e R$ 7.445 (IBGE, 2009).

A prestação de serviços corresponde a 61% do PIB total, seguida da indústria, com

17,15%. (IBGE, 2009). Januária/MG está localizada à 169 km de Montes Claros/MG

em sentido noroeste. De acordo com o IBGE de 2010, Januária possui uma população

de 65.463 hab. distribuídos numa extensão territorial de 6.661,653 km². O município

possui o PIB total e PIB per capita na ordem de R$ 334.939 e R$, 4.960,88

respectivamente. (IBGE, 2009). Possui na prestação de serviços a principal fonte sua

economia, sendo que esse setor representa 70,52% do seu PIB total, seguido do setor

agropecuário, representando 14,79% do PIB municipal.

Foto 1: Vista Panorâmica de Janaúba/MG (A, B); Pirapora/MG (C, D); e Januária/MG (E, F). Autores: Arquivo Pessoal; Agosto de 2009. Org.: SOUZA, F.S. Junho de 2011.

Mapa 1. Norte de Minas Gerais: Localização da cidade média de Montes Claros e dos centros emergentes Janaúba, Januária e Pirapora.

Ao analisar a configuração de uma rede urbana, deve-se considerar variados elementos

que a configuram como tal. Para a interpretação do papel funcional que cada cidade

exerce na rede urbana deve-se analisar os setores que mais dinamizam a interação entre

as cidades, como saúde, ensino superior, comércio e serviços, além dos meios de

transportes que viabilizam os deslocamentos de pessoas que usufruem destes serviços

A B C

D E F

na sua própria cidade e nas cidades integradas na rede. Neste artigo, analisamos a rede

urbana da qual Montes Claros é núcleo a partir das interações entre ela e as cidades de

Pirapora, Janaúba e Januária. A tabela 1 demonstra os principais locais onde a

população entrevistada de Janaúba, Januária, Janaúba e Pirapora consomem serviços

especializados.

Janaúba

Januária

Pirapora

Montes Claros

74%

Montes Claros

64%

Montes Claros

50%

Janaúba 19%

Januária

27%

Outros

25%

Nova Porteirinha

5%

Brasília - DF

3%

Belo Horizonte

19%

São Paulo - SP

3% Belo Horizonte

2% Manga

3%

Pirapora

6%

Tabela 1: Municípios onde a População Entrevistada Busca Serviços Especializados, 2010. Fonte: Pesquisa Empírica. Org.: QUEIROZ, C. G. T; SOUZA, F. S. Junho de 2012.

A partir da tabela 1, percebe-se que a cidade mais procurada pelos moradores dos

municípios de Januária, Janaúba e Pirapora para o consumo de serviços especializados é

Montes Claros, representando 64%, 74% e 50% da procura, respectivamente. Os

motivos dessa procura demonstram a centralidade de Montes Claros no Norte de Minas

Gerais. Salles (2011) percebe a centralidade urbana além de uma qualidade local, mas a

associa como um processo que compõe áreas centrais no espaço e ao espaço (em

diferentes escalas) através da reunião (multi-combinada) de componentes que

substanciam as práticas cotidianas e empresariais. Desta forma, a centralidade exercida

pela cidade de Montes Claros se destaca pelas facilitações que esta apresenta ao

fornecer serviços e comércios especializados. (Tabela 2). Verifica-se que os principais

motivos para o deslocamento até Montes Claros são: melhor infraestrutura, proximidade

geográfica e melhores possibilidades de consumo. A procura por sistemas de saúde de

melhor qualidade justifica 6,3% da mobilidade dos entrevistados em Januária e 6% em

Pirapora. O consumo em Januária (6,3%) se apresenta como importante fator de

deslocamento populacional. Fatores como proximidade geográfica (27,3% em Janaúba

e 46% em Pirapora), presença da família (2,3% e 6%, em Janaúba e Pirapora,

respectivamente), preços mais acessíveis e maior diversidade comercial também foram

destacados pelos entrevistados em Janaúba (22,7%) e Januária (6,3%).

Janaúba Januária Pirapora

Motivação Motivação Motivação

Melhor infraestrutura 31,8%

Melhor infraestrutura

Não responderam

15,6%

62,5%

Proximidade 46%

Proximidade 27,3%

Maior diversidade de comércio e serviços

6,3%

Infraestrutura necessária

42%

Por atender todas as necessidades de consumo

13,6%

Falta de infraestrutura na

cidade de origem

6,3%

Família

6 %

Maior diversidade de comércio e serviços

9,1% Para utilizar serviços de saúde 6,3%

Preço mais acessível 3% Falta de infraestrutura na cidade de origem

4,5%

Nenhum motivo

Preço acessível

9,1% 2,3%

Família

2,3%

Não responderam 62,5%

Convênio hospitalar

6%

Tabela 2: Motivos da busca por serviços especializados em outros municípios, 2010. Fonte: Pesquisa Empírica de SOUZA, F. S., 2010. Org.: QUEIROZ, C. G. T. 2012.

Verifica-se que os principais motivos para o deslocamento até Montes Claros são:

melhor infraestrutura, proximidade geográfica e melhores possibilidades de consumo.

Nessa perspectiva, percebe-se a interação destes municípios na rede urbana articulados

entre si a partir de vários setores econômicos, materializando o movimento dos fluxos e

dos fixos que são um resultado direto ou indireto das ações que atravessam ou se

instalam nos fixos, modificando a sua significação e o seu valor, ao mesmo tempo em

que, também, se modificam (SANTOS, 1996).Os fluxos, segundo Santos (1996) são um

resultado direto ou indireto das ações que atravessam ou se instalam nos fixos,

modificando a sua significação e o seu valor, ao mesmo tempo em que, também, se

modificam. Em contrapartida, têm-se também os fixos que permitem ações que

modificam o próprio lugar, fluxos novos ou renovados que recriam as condições

ambientais e as condições sociais, e redefinem cada lugar. (SANTOS, 1996, p. 61).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Brasil vem passando por profundas transformações no que se refere ao processo de

urbanização. Dados indicam um aumento considerável da população urbana a partir da

década de 1980. Devido a essa nova configuração no cenário urbano brasileiro, assiste-

se a descentralização de atividades e estruturas produtivas, bem como a desconcentração

industrial para as cidades médias e pequenas marcando novos papéis dos espaços

urbanos não metropolitanos no âmbito nacional. Nesta conjuntura, a cidade média de

Montes Claros localizada no Norte de Minas Gerais exerce um papel singular na rede

urbana regional. Esta cidade média integrada aos centros emergentes de Januária,

Pirapora e Janaúba se materializa como fortes centralidades no Norte de Minas Gerais.

Neste sentido percebe-se a interação destes quando se refere aos variados setores da

economia, da saúde, da educação, entre outros. Esta interação se materializa no espaço

na forma de fluxos, evidenciado pelo deslocamento da população desses centros

emergentes em busca de comércios e serviços especializados. Montes Claros é apontada

como principal referência da população de Janaúba, Januária e Pirapora para suprir

necessidades que seus municípios não oferecem, ou que são insuficientes. Além da

atratividade no que se refere a variedade de serviços e comércios, outro fator que

impulsiona este deslocamento é a proximidade geográfica destes com Montes Claros,

que comparados com outros importantes centros urbanos, é relativamente pequena. A

cidade de Montes Claros se desenvolveu nos últimos anos, tornando-se um centro

regional de destaque, cuja infraestrutura em saúde, transportes, educação, serviços e

saúde, bem como a diversidade presente no setor de comércio e serviços, que é o mais

proeminente na arrecadação municipal, atrai e atende a grande parte da região Norte de

Minas Gerais, o que denota seu papel de centralidade como cidade média regional.

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