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UNISUAM CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA PROJETO DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO A relação da igreja cristã alemã com o nazismo de Hitler Professor: Giovanni Codeça RIO DE JANEIRO JUNHO/2008

A relação da igreja cristã alemã com o nazismo de Hitler

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Page 1: A relação da igreja cristã alemã com o nazismo de Hitler

UNISUAM CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA

PROJETO DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO A relação da igreja cristã alemã com o nazismo de Hitler

Professor: Giovanni Codeça

RIO DE JANEIRO JUNHO/2008

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CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

A RELAÇÃO DA IGREJA CRISTÃ ALEMÃ COM O NAZISMO DE HITLER

FABIO DE CARVALHO RAPOSO 05203343

RIO DE JANEIRO

JUNHO/2008

Page 3: A relação da igreja cristã alemã com o nazismo de Hitler

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FABIO DE CARVALHO RAPOSO

A RELAÇÃO DA IGREJA CRISTÃ ALEMÃ COM O NAZISMO DE HITLER

Trabalho de conclusão de curso elaborado pelo acadêmico Fabio de Carvalho Raposo como exigência para a titulação como licenciado do curso de graduação em História do Centro Universitário Augusto da Motta, sob a orientação do professor Giovanni Codeça.

RIO DE JANEIRO

JUNHO/2008

Page 4: A relação da igreja cristã alemã com o nazismo de Hitler

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SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO.............................................................................................................4

2 - OBJETIVOS.................................................................................................................8

3 - JUSTIFICATIVA...........................................................................................................9

4 - HIPÓTESE.................................................................................................................12

5 - METODOLOGIA.........................................................................................................13

6 - REFERENCIAL TEÓRICO.........................................................................................14

7 - PLANO DE REDAÇÃO..............................................................................................17

8 - CRONOGRAMA.........................................................................................................18

9 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS...........................................................................19

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1. INTRODUÇÃO

É fato que houve uma estranha e obscura relação entre a igreja cristã alemã

e o Estado nazista de Adolf Hitler, e isso não há como negar. Porém esta relação

quando é vista sem uma busca profunda dos fatos que a constitui nos parece passiva e

de total cumplicidade. Muitos de nós desconhecemos que dentro da própria igreja

houve resistência, mesmo que pequena, a esta aliança feita com o Partido Nacional

Socialista de Hitler, onde católicos e protestantes sofreram por serem contra as idéias

nazistas de purificação da raça ariana. O autoritarismo, o racismo e o assassinato de

judeus em massa eram as bandeiras na busca por uma raça pura alemã, porém,

infelizmente, a maior parte da igreja cristã ignorou o antagonismo e a incompatibilidade,

do evangelho de Cristo com as idéias de Hitler. Este antagonismo fica explicito em Mein

Kampf1 onde Hitler expõe elementos fundamentais da ideologia nacional-socialista,

como o “sangue” e sua “pureza”. Outro aspecto importante é o posicionamento político

anticomunista, e uma preocupação evidente com a expansão da ideologia marxista, tida

por Hitler como uma idéia tão judaica quanto o próprio capitalismo. Ele usou como tese

principal o “Perigo Judeu”, que fala sobre a conspiração dos judeus para liderar a

Alemanha.

O crescimento que o nazismo alcançou na Alemanha pós Primeira Guerra

Mundial está ligado ao crescimento do nacionalismo, o medo do comunismo e a

necessidade de uma solução para crise econômica mundial causada pela Crise de

1929, ou Grande Depressão. Este fenômeno foi determinado por uma crise de

superprodução e foi um dos maiores colapsos vividos pelo capitalismo e que persistiu

durante a década de 1930, trazendo uma grande desconfiança sobre o sistema

capitalista. Esta crise causou altas taxas de desemprego, bem como a queda do

produto interno bruto e da produção industrial, assim como uma grande desvalorização

no valor das ações no mercado financeiro, ou seja, esta crise afetou toda atividade

econômica em escala mundial.

1 Mein Kampf [Minha Luta] é o título do livro no qual Adolf Hitler expressou suas idéias. Escrito na prisão e editado inicialmente em 1924, tornou-se um guia ideológico e de ação para o nacional-socialismo.

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Para Alemanha, a Grande Depressão de 1929 foi um multiplicador do real

estado de derrota e humilhação em que o país já se encontrava desde o Armistício de

Novembro de 1918, que marcou o fim dos confrontos da guerra, logo depois ratificado

com o Tratado de Versalhes em Julho de 1919 encerrando, assim, oficialmente a

Primeira Guerra Mundial. Os termos impostos à Alemanha através do Tratado de

Versalhes como grande derrotado da guerra incluíam altas indenizações, perda de

parte de seu território para algumas nações fronteiriças, incluindo suas colônias, além

de sofrer restrições ao tamanho do seu exército, sendo obrigado a diminuir

drasticamente seu poder bélico.

Com grande indignação, os alemães ao longo dos anos que se seguiram

após o fim da primeira grande guerra tiveram que se acostumar com a fome, o

desemprego, a hiperinflação e a conseqüente desvalorização do Marco Alemão. Para

eles, o grande responsável por esta situação em que a Alemanha se encontrava era o

Tratado de Versalhes, portanto o povo alemão ansiava por um governo forte,

centralizador e intervencionista que fosse de encontro aos seus anseios, um governo

que trouxesse novamente a dignidade perdida da sua raça, chamada de ariana. Assim

em 1933 a República de Weimar deu lugar ao Terceiro Reich sob a liderança do

austríaco Adolf Hitler, que tomava posse de um país arruinado, mas que em menos de

uma década seria à nação mais poderosa do mundo. A missão de Hitler foi facilitada

por circunstâncias históricas, pois exclusivamente neste período todos os outros países

preocupavam-se com seus problemas internos causados pela “Crise de 29”, o que

permitiu a Hitler intervir política, econômica e socialmente em todo Estado alemão, além

de reconstruir o seu poderio bélico em busca de uma futura vingança contra seus

inimigos.

Para este povo, Hitler era o “messias”, e o nazismo a religião que veio

“salvar” a Alemanha, pois ele se mostrou um líder com grande carisma e força. E o

próprio Führer declarava que ele próprio guiava o nacional-socialismo na luta pela

“pureza racial”, transformando-se num herói, redentor do sangue ariano. Hitler alegava

que seu movimento havia descoberto o verdadeiro sentido do Novo Testamento. O

antigo estava excluído por ser “semítico”, e a lei de Deus deveria ser identificada com o

racismo. Ele se apresentava como o profeta dessa doutrina, cujo sentido fora pervertido

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pela Igreja Católica; e o “cristianismo positivo” 2 a que se referia o programa do partido

nazista tinha como objetivo sanar o problema das divisões confessionais entre católicos

e protestantes alemães, unindo a nação na luta contra os judeus, através de uma igreja

única, a Igreja Nacional do Reich.

O povo estava encantado com o sucesso de Hitler, e para eles o que

importava era que o Estado alemão estava forte novamente. Falavam do ressurgimento

político como se fosse um avivamento, um tempo de renovação e fortalecimento

espiritual. A Alemanha estava unida em torno do ódio contra os seus inimigos: o

humilhante Tratado de Versalhes; a elite liberal, que acreditava na democracia da

República de Weimar; os comunistas e principalmente os judeus, todos estes eram

vistos como ameaça à recuperação da Alemanha. Mesmo para quem se denominava

cristão, a Alemanha forte era ainda mais valorizada que o testemunho cristão. As

igrejas obtinham forças das melhorias econômicas e do otimismo simplista de um dia

melhor para Alemanha e não paravam para pensar em nome de quem os benefícios

eram concedidos. Para eles o que era bom para a Alemanha era bom para a igreja.

Neste período a Alemanha era formada por um terço de católicos e dois

terços de protestantes. Hitler sabia que a Igreja Católica tinha uma organização que se

espalhava por muitos países, então, inicialmente preferiu manter uma política de boa-

vizinhança com o Vaticano pelo maior tempo possível. Estabeleceu-se então, em 1933,

entre a igreja de Roma e o governo da Alemanha nazista uma concordata3 que

obscureceria por uma década as intenções da política do Vaticano. O então cardeal

secretário de estado e futuro Papa Pio XII, Eugênio Pacelli, por ordem do Papa Pio XI,

negociou todos os itens da concordata que fundamentava juridicamente as relações

entre a Igreja Católica e a Alemanha. A concordata excluía o clero das atividades

político-partidárias, porém desde a sua assinatura o tratado foi violado pelos nazistas,

ignorando assim o conceito de reciprocidade. Isso levanta a questão acerca dos

2 Erwin Lutzer. A cruz de Hitler: como a cruz de Cristo foi usada para promover a ideologia nazista. 1ª ed. São Paulo: Vida, 2003, p. 141-142. 3 “Concordatas”, segundo a própria definição de Pacelli, “são acordos que possuem força de obrigatoriedade no direito internacional e estabelecem vínculos entre os Estados, com o propósito de equilibrar e esclarecer – de modo justo e de forma de tratados – os interesses religiosos e eclesiásticos, de um lado, e os interesses do Estado, do outro, de modo a garantir completa reciprocidade.” (Peter Godman. O Vaticano e Hitler: a condenação secreta. 1ª ed. São Paulo: Marins Fontes, 2007, p. 11-12)

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motivos para que se celebrasse um tratado com os nazistas, na qual Roma tinha todas

as razões para considerar traiçoeiro.

O fato é que grande parte da igreja cristã alemã, seja ela católica ou

protestante, apesar dos choques de idéias entre o nazismo e o cristianismo, se colocou

ao lado do nacional-socialismo e seguiu Hitler, não questionando seus métodos

autoritários e anti-semitas, nem por ocasião da chamada “solução final”, que ocasionou

o extermínio de milhões de judeus nos campos de concentração, sem contar ciganos,

homossexuais e todos aqueles que se opuseram ao seu projeto expansionista.

Protestantes e católicos trocaram a cruz de Cristo pela suástica se unindo a Hitler em

sua “religião política” 4. Essa relação entre a igreja e seus interesses, o nazismo e suas

idéias e o desenrolar de 12 anos de governo de Hitler que queremos abordar nesta

pesquisa, mostrando as conseqüências para própria igreja que apoiou esta relação e

para aqueles que foram contra, desafiando o governo do Führer.

4 Peter Godman. O Vaticano e Hitler: a condenação secreta. 1ª ed. São Paulo: Marins Fontes, 2007, p. 17.

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2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Analisar a relação existente entre a igreja cristã alemã, tanto do lado católico

quanto do lado protestante, com o governo nazista de Adolf Hitler durante os doze anos

de duração do Terceiro Reich.

2.2 Objetivos Específicos

2.2.1 Explicar os motivos pelo qual a igreja de Roma assinou uma concordata de

reciprocidade com o governo nazista, apontando as conseqüências desta concordata

para o Vaticano.

2.2.2 Analisar assinatura de acordo semelhante ao feito com os nazistas, anos antes,

com Mussolini na Itália e sua influência dentro da igreja para ratificação da concordata

de 1933.

2.2.3 Analisar os papéis dos papas Pio XI e Pio XII, como líderes da igreja de Roma,

nesta relação com o governo nazista de Hitler.

2.2.4 Identificar os motivos pelo qual a maior parte da igreja cristã alemã seguiu as

idéias nazistas de Hitler e o aceitou como “redentor” da nação durante os 12 anos de

poder, de 1933 a 1945.

2.2.5 Descrever este apoio, analisando tanto a igreja católica quanto a igreja

protestante, traçando um paralelo entre as duas correntes do cristianismo na Alemanha.

2.2.6 Descrever e analisar os movimentos de oposição ao nazismo existentes dentro da

igreja alemã, suas principais ações e conseqüências.

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3. JUSTIFICATIVA

Adolf Hitler, um líder carismático e enérgico reergueu a Alemanha em menos

de uma década, e fez desta nação, naquele momento da história, a mais poderosa do

mundo. Sua capacidade administrativa era reconhecida tanto dentro quanto fora da

Alemanha. Porém havia um preço a ser pago, e este preço era uma ditadura totalitária

alcançada de forma legal, e a partir daí o governo nazista começou a colocar em prática

suas idéias fascistas, que a priori defendem um nacionalismo exacerbado, onde a

nação, sagrada, é o bem supremo. Os interesses fascistas exigem uma tripla coesão

interna: política, social e étnica, além de também exigir a supressão dos antagonismos

que dividem e enfraquecem a nação, e um destes antagonismos para o nacional-

socialismo é o cristianismo.

A pergunta é, porque a grande maioria da igreja cristã alemã não levantou a

voz contra as crueldades do racismo, a brutalidade do totalitarismo e a repressão à

liberdade do Terceiro Reich? Este trabalho tem como objetivo responder a esta

pergunta mostrando uma leitura desta relação igreja-nazismo que se afaste de

polêmicas como as do livro de John Cornwell onde o papa Pio XII é o centro das

atenções, pois afirma ser ele uma voz única no Vaticano. Sobre o “papa de Hitler”5,

Peter Godman (2007) demonstra ser crítico as conclusões de Cornwell: O pressuposto de semelhança entre o Vaticano e o mítico monólito do Estado totalitário serve a

um propósito determinado. Por insinuar simpatia, ele torna possível a apresentação do “Papa de

Hitler” como chefe de uma organização semelhante à do Führer e à do Duce. Assim, parece

oferecer-lhe uma explicação para o suposto fato de que o autoritário Pio XII manteve-se do lado do

ditador. Essa estratégia tem vantagens óbvias. Uma vez identificado o Vaticano com a pessoa do

Papa, o pesquisador está livre para se concentrar em um indivíduo bem conhecido, deixando de

lado outros lados mais obscuros e difíceis de pesquisar. Assim, tem bastante tempo disponível

para as denúncias, já que o trabalho mais árduo foi evitado. (p. 3)

Portanto o objeto da presente pesquisa se justifica pela necessidade em

esclarecer fatos obscuros da relação entre a igreja cristã alemã e o Estado nazista de

5 Jonh Cornwell. O papa de Hitler: a história secreta de Pio XII. 2 ed. Rio de Janeiro: Imago, 2000.

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Hitler, não pela ótica de um homem, no caso Eugênio Pacelli o papa Pio XII, como fez

Cornwell, mas sim pelas opiniões dos líderes eclesiásticos que estavam divididas desde

o início. Do lado protestante, que tinha como fortes opositores ao regime nazista

Dietrich Bonhoeffer, Martin Niemöller e Karl Barth, lideres da Liga Pastoral de

Emergência e fundadores da chamada “Igreja Confessante”6, grupo oposto ao

Movimento Cristão Alemão que era associado à Igreja Nacional do Reich e seu

“Cristianismo Positivo”. No lado do Vaticano também havia divergências de opiniões

sobre o nazismo alemão. Alguns dos seus membros viam Hitler como inimigo mortal do

cristianismo, enquanto outros o viam como um católico conservador e um homem cuja

palavra era confiável. Ora a Santa Sé condenava os erros morais e doutrinais do

nacional-socialismo ora apoiava Hitler na sua luta contra o bolchevismo.

Não há como negar que o cristianismo, em seus vários segmentos, por ser a

religião com o maior número de seguidores no mundo é uma formadora de opinião e

um agente que tem um papel social no processo de construção desta sociedade ainda

nos dias de hoje. Assuntos como: fascismo, racismo, anti-semitismo, nacionalismo,

governos totalitários, religião e etc., são temas atuais no nosso tempo em todo mundo.

Daí a relevância em se estudar tal tema justifica-se, tanto no meio acadêmico quanto

para sociedade, aja vista que são poucos os estudos que abordem este assunto.

O racismo, que é um dos pilares do nazismo, é uma realidade em nossa

sociedade e enganam-se os que pensam que este problema estaria superado. O

nazismo, como fenômeno histórico, continua vivo com uma nova roupagem, porém com

suas velhas idéias e atitudes, denominado hoje como: neonazismo. Podemos ver a

influência neonazista em várias áreas da nossa sociedade como: na música, na política,

nas artes e etc.. Os seguidores do neonazismo são na sua maioria jovens entre 16 e 25

anos de idade e que geralmente tem o seu primeiro contato com a ideologia neonazista

via internet, por onde também são recrutados para promoverem atos preconceituosos e

até violentos contra grupos específicos como: homossexuais, negros, índios, judeus e

comunistas. Eles minimizam ou negam o Holocausto, dizendo que o genocídio

6 Sob a liderança de Bonhoeffer e Niemöller, a Liga Pastoral de Emergência formou o núcleo do que seria chamado de Igreja Confessante. Bonhoeffer pregara que a igreja deveria assumir sua posição e dissera: Confesse! Confesse! Confesse! (Erwin Lutzer. A cruz de Hitler: como a cruz de Cristo foi usada para promover a ideologia nazista. 1ª ed. São Paulo: Vida, 2003, p. 167-168)

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deliberado de mais de seis milhões de judeus é uma mentira ou um tremendo exagero.

Estes grupos são mantidos por partidos de extrema direita sediados na Europa e em

outros países.

Há uma necessidade de se preocupar com o posicionamento da igreja cristã

frente a estes acontecimentos, pois de acordo com o rumo apontado pelos líderes

cristãos, sejam católicos ou protestantes, essa massa de fiéis os seguirão. A partir

daquele período da história, quando houve a ascensão ao poder russo do bolchevismo,

a igreja declarou guerra ao comunismo. Hitler sabia que, além da ameaça comunista,

ele teria que neutralizar o poder histórico exercido pelo cristianismo na Alemanha, para

que assim alcançasse seus objetivos. Lutzer (2003) descreve as idéias daquele que foi

designado pelo próprio Führer como responsável da formação espiritual do partido

nazista, Alfred Rosenberg: O objetivo de Rosenberg, [...] era a criação da igreja alemã, onde não houvesse espaço para os

ensinamentos de Cristo. Ele asseverava que “as verdades eternas não poderiam ser encontradas

nos evangelhos [...], mas nos ideais alemães sobre o caráter. A educação na Alemanha deveria,

no futuro, fundamentar-se no “fato” de que o caráter alemão, e não o cristianismo, é a fonte de

toda virtude. (p. 167)

Finalizo a justificativa desta pesquisa citando o teólogo protestante alemão

Martin Niemöller, que inicialmente concordava com o governo nazista até este interferir

diretamente na igreja luterana, quando enfim passou a conflitar com este governo: Quando os nazis levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista.

Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-

democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era

sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando

eles me levaram, não havia mais quem protestasse.7

7 http://pt.wikipedia.org/wiki/Martin_Niem%C3%B6ller

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4. HIPÓTESE

A maior parte da igreja cristã alemã, seja ela católica ou protestante, era

movida nesta relação igreja e nazismo por acreditar que as idéias do nacional-

socialismo levariam à nação a redenção. Já o Vaticano, onde a cúpula da Igreja

Católica Apostólica Romana reside, acreditava que a assinatura da concordata com o

Partido Nazista da Alemanha obteria o mesmo resultado de sucesso que o acordo

assinado com o governo de Mussolini na Itália. Além disso, contou positivamente para

Hitler, o fato de serem junto ao Papa Pio XI, os únicos personagens no cenário

internacional a fazer frente ao “perigo mundial do bolchevismo”, o que lhe rendeu

elogios em 1933, ano da assinatura da concordata.

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5. METODOLOGIA

Considerando os pressupostos descritos anteriormente num conjunto de

hipóteses que se completam e que embasam os objetivos propostos no presente

projeto, a metodologia a ser adotada será a interpretação, a reflexão e a análise das

obras bibliográficas através da leitura de livros, dos periódicos e de material coletado

na internet.

Esta análise será feita mediante a decodificação das construções

historiográficas produzidas acerca da temática.

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6. REFERENCIAL TEÓRICO

A derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial levou ao caos

econômico e social, onde o Tratado de Versalhes, um tratado de paz e humilhação, fez

com que esta nação se curvasse diante dos inimigos abrindo grande espaço para o

nazismo anos depois. Nascia em Versalhes o revanchismo alemão determinando que a

década de 30 fosse uma preparação para uma nova guerra, a Segunda Guerra

Mundial. A peça principal do tratado, sua coroação, era a criação de uma organização

internacional com a finalidade de fazer-se cumprir o Tratado de Versalhes, a Sociedade

das Nações8, também chamada de Liga das Nações, embrião da futura ONU,

Organização das Nações Unidas.

Em 1933, sob a liderança de Adolf Hitler, os nazistas chegam ao poder na

Alemanha. Com o seu governo tem início à perseguição aos judeus e o fechamento de

todos os partidos políticos, restando somente o partido nazista. Além disso, neste

mesmo ano Hitler retira a Alemanha da Sociedade das Nações, o que, como dissemos

anteriormente, apontava para uma nova guerra em breve. Em meio a todos estes fatos,

é assinado uma concordata entre o Vaticano e o Estado nazista de Hitler. A igreja se

posicionou de forma neutra em relação às claras posições do modelo de Estado

nazista? Porque a igreja de Roma assinou esta concordata?

Raras vezes a igreja, seja ela católica ou protestante, se opôs às

perseguições aos judeus. Essa política da igreja para com os judeus deve ser analisada

em uma perspectiva histórica, pois para esta igreja os judeus eram os assassinos de

Jesus. Peter Godman comenta que “em 1928, um movimento católico chamado Amigos

de Israel [...] apresentou uma petição ao Vaticano para que se removesse da liturgia

latina da Sexta-Feira Santa as expressões “pérfidos judeus” e “a perfídia judaica” (2007,

p.33). É claro que a liturgia não foi retirada pelo Santo Ofício por serem consideradas,

além de tradicionais pela igreja, inspiradas e consagradas por Deus.

O que era apenas um discurso anti-semita transformou-se em perseguição,

8 HISTÓRIA VIVA. Versalhes: o tratado de paz que curvou a Alemanha e abriu espaço para o nazismo. São Paulo, SP, ano 3, nº. 33, p. 36-37, Julho de 2006.

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como o boicote organizado pelos nazistas às lojas dos judeus na Alemanha e que

contou com o apoio de boa parte da população, inclusive de cristãos que foram atraídos

pela intensa propaganda nazista convocando para o boicote de 1º de abril de 1933.

Outro fato que marcou o início das perseguições aos judeus na Alemanha foi a

chamada “Noite de Cristal”, que foi uma onda de violência anti-semita, que nas

primeiras horas de 10 de novembro de 1938, levou a destruição de mais de mil

sinagogas, o saque de dezenas de milhares de lojas e lares judaicos e a prisão de 30

mil judeus, levados para campos de concentração. Segundo Martin Gilbert (2006), Hitler

seguiu o conselho do pai do protestantismo que disse: Quase quatrocentos anos antes, em 1543, Martinho Lutero, em sua carta pastoral Dos judeus e

suas mentiras, recomendava que as sinagogas dos judeus “deveriam ser incendiadas e tudo

aquilo que não queimasse deveria ser coberto ou manchado com areia, de modo que ninguém

pudesse ver uma cinza ou uma pedra do que restou. E isto deveria ser feio em honra de Deus...”.

(p. 12-13)

Os autores Jonh Cornwell e Peter Godman divergem do papel de Eugênio

Pacelli, então cardeal secretário de estado de Pio XI na assinatura do acordo entre a

igreja de Roma e Hitler. Pacelli foi quem criou e intermediou toda negociação para

assinatura da concordata entre o Vaticano e os nazistas. Jonh Cornwell (2000), autor

do livro “O Papa de Hitler: a história secreta de Pio XII” define Eugenio Pacelli como: O homem que foi Pio XII, o mais influente sacerdote do mundo do início da década de 1930 ao

final da década de 1950. Pacelli, mais do que qualquer autoridade do Vaticano de sua época,

ajudou a projetar a ideologia do poder papal – o poder que ele próprio assumiu em 1939, na

véspera da Segunda Guerra Mundial, (...) ele fez um acordo com Hitler, que ajudou o Führer a

alcançar a ditadura legal, ao mesmo tempo em que neutralizava o potencial dos 23 milhões de

católicos na Alemanha (34 milhões depois do Anschluss) para protestar e resistir. (p. 15)

Já para Godman (2007, p.14-15), existia uma pressão para assinatura da

concordata pelo lado do governo nazista e também pelo lado da igreja, onde

entusiastas como o cardeal Michael Faulhaber, de Munique, amigo de Pacelli,

defendiam o acordo entre a igreja e o Estado nazista. Para ele, Pacelli não era o dono

das decisões no Vaticano, participando sim da criação e das negociações da assinatura

da concordata, porém ele obedecia às ordens de seu mentor espiritual, o Papa Pio XI,

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que “A partir de março de 1933, [...] passara a adotar uma visão mais positiva de Hitler.

A razão disso era o comunismo, que aos olhos do Vaticano, tratava-se da pior das

ameaças” (GODMAN, 2007, p.14).

É certo que a oposição a este regime, mesmo que pequena, veio tanto da

igreja católica alemã, quanto da igreja protestante, onde a atuação da “Igreja

Confessante e dos companheiros da conspiração” (BONHEIFFER, 2003, p.11) contra

Hitler e seu “cristianismo positivo” pregado na Igreja Nacional do Reich tiveram papel

importante na divulgação da real situação dos judeus e outras minorias étnicas na

Alemanha para o resto do mundo.

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7. PLANO DE REDAÇÃO

Capítulo I – Ascensão do 3º Reich: descrever os fatores que antecederam e que

foram determinantes para a ascensão nazista ao poder na Alemanha, passando pela

derrota alemã na Primeira Guerra Mundial, Tratado de Versalhes, crescimento da

ameaça comunista, Crise de 29 e etc.

Capítulo II – A concordata de 1933 e suas conseqüências: entender as questões

envolvidas e suas conseqüências na assinatura da concordata entre o Vaticano e o

governo nazista, buscando relacionar este acordo e o que fora assinado por esta

mesma igreja com Mussolini na Itália em 1929. Capítulo III – Os Papas Pio XI e Pio XII e seus papéis: traçar o perfil dos Papas Pio

XI e Pio XII, buscando definir o papel que cada um deles exerceu nesta relação entre

igreja e Estado nazista alemão.

Capítulo IV – O apoio da igreja católica alemã ao 3º Reich: além do apoio dos

líderes da igreja de Roma que foi formalizado com a assinatura da concordata, existiu

uma pressão do clero alemão sobre Eugenio Pacelli para ratificação do acordo entre a

igreja e o Estado alemão, pois estes tinham no Führer Adolf Hitler a figura do salvador Capítulo V – O apoio da igreja protestante alemã ao 3º Reich: o apoio da igreja

protestante não veio através de uma concordata como os católicos e sim com a adesão

dos seus pastores ao cristianismo positivo da Igreja Nacional do Reich, criada para unir

católicos e protestantes em uma luta contra os judeus. Também viam, assim como os

católicos, Hitler como salvador do povo alemão.

Capítulo VI – A pequena oposição dentro da igreja: uma pequena oposição, onde

muitos católicos e protestantes contrariaram a política nazista, e ajudaram a divulgar as

atrocidades nazistas dentro da própria Alemanha e também para o mundo.

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8. CRONOGRAMA

MÊS/ETAPAS Fev/08

Mar/08 Abr/08 Mai/08 Jun/08 Jul/08 Ago/08

Set/08

Out/08

Nov/08 Dez/08

Escolha do

Tema

X

Levantamento

bibliográfico

X

X

Elaboração do

Projeto

X

X

Apresentação do

projeto

X

Coleta dos

Dados

X

X

X

X

X

Análise dos

Dados

X

X

X

Organização do

roteiro/partes

X

Redação do

Trabalho

X

X

Revisão e

redação final

X

Entrega da

monografia

X

Defesa da

monografia

X

Page 20: A relação da igreja cristã alemã com o nazismo de Hitler

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9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BONHOEFFER, Dietrich. Resistência e submissão: cartas e anotações escritas na prisão. 1ª ed. São Leopoldo, RS: Sinodal, 2003. CORNWELL, John. O papa de Hitler: a história secreta de Pio XII. 2 ed. Rio de Janeiro: Imago, 2000. GILBERT, Martin. A Noite de Cristal: a primeira explosão do ódio nazista contra os judeus. 1ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006. GODMAN, Peter. O Vaticano e Hitler: a condenação secreta. 1ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. HISTÓRIA VIVA. Versalhes: o tratado de paz que curvou a Alemanha e abriu espaço para o nazismo. São Paulo, SP, ano 3, nº. 33, p. 28-51, Julho de 2006. LUTZER, Erwin. A cruz de Hitler: como a cruz de Cristo foi usada para promover a ideologia nazista. 1ª ed. São Paulo: Vida, 2003. MARRUS, Michael R.. A assustadora história do holocausto. 4 ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.

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