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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL PROJETO VEZ DO MESTRE A RELAÇÃO FAMÍLIA/ESCOLA NO BOM DESEMPENHO DO ALUNO GRAÇA MARIA TEREZA DA COSTA ORIENTADOR(A): PROF. CELSO SANCHEZ RIO DE JANEIRO JUNHO / 2008

A RELAÇÃO FAMÍLIA/ESCOLA NO BOM DESEMPENHO DO … · interação família/escola, não tendo nenhuma pretensão de esgotar o assunto. Caetano (2004) ressalta a relevância de reflexões

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

PROJETO VEZ DO MESTRE

A RELAÇÃO FAMÍLIA/ESCOLA NO BOM

DESEMPENHO DO ALUNO

GRAÇA MARIA TEREZA DA COSTA

ORIENTADOR(A):

PROF. CELSO SANCHEZ

RIO DE JANEIRO JUNHO / 2008

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

PROJETO VEZ DO MESTRE

A RELAÇÃO FAMÍLIA/ESCOLA NO BOM

DESEMPENHO DO ALUNO

GRAÇA MARIA TEREZA DA COSTA

Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialista em Orientação Educacional.

RIO DE JANEIRO JUNHO / 2008

AGRADECIMENTOS

Um agradecimento especial a Marcelo Grosso Couto, por

acreditar em mim – VENTO DE FEIÇÃO QUE ME ENSINOU

A NAVEGAR.

A meu orientador Prof. Celso Sanchez, por suas preciosas

intervenções – CORRIGINDO RUMOS.

À minha família, com quem sempre pude contar.

RESUMO

O objetivo deste trabalho é refletir sobre as influências e a

importância do papel da relação família/escola no cotidiano dos

alunos.

A relação família/escola é, nos dias de hoje, uma das mais

palpitantes questões discutidas por pesquisadores. Observa-se

uma exaltação da necessidade de se estabelecer um efetivo

diálogo entre a família e a escola. Partindo-se do princípio da sua

presença em documentos do sistema de ensino e da grande

relevância dessas instituições na formação das novas gerações,

influenciando diretamente no desenvolvimento escolar dos alunos,

faz-se mister uma maior reflexão sobre o tema, sabendo que esta

pode provocar benefícios ou prejuízos no processo ensino-

aprendizagem. Proclama-se, na contemporaneidade, uma gestão

democrática e participativa na escola, onde pais participem

diretamente nas decisões que possam afetar a vida de seus

filhos. Acredita-se que a questão do aprendizado escolar é um

trabalho a ser construído a quatro mãos, fato este já

demonstrado na legislação, projetos de gestão e em pesquisas de

cunhos sociológico e psicopedagógico. O trabalho deverá abordar

questões como o significado do conceito de família e sua função

social durante diferentes momentos históricos. Far-se-á um curto

retrospecto da interação da família com a escola, pontuando

alguns aspectos que influenciam sua participação e o seu

significado. Não há, porem, a pretensão de esgotar o tema, posto

que as relações entre a família e a escola refletem as condições

sócio-históricas onde se estabelecem.

METODOLOGIA

O presente trabalho advém das inquietações do meu

próprio ofício ao lidar com alunos (crianças e

adolescentes) e seus pais ou responsáveis. Por isso, far-

se-à um levantamento das inúmeras e diversas teorias

sobre FAMÍLIA; da sua interação com o ambiente

escolar; e como obter resultados satisfatórios no

processo ensino-aprendizagem a partir do binômio

família-escola.

Portanto, serão retomados conceitos e mencionadas

importantes observações de estudiosos do tema, como

(Piaget, Vygotsky, Aquino, Bello). Desta vasta gama

bibliográfica certamente irão se abrir caminhos para

uma reflexão com meus pares psicopedagogos e

professores, na intenção de obtermos resultados

animadores com nossos alunos.

Como ainda com minha observação participante, posto

que lido com alunos numa instituição privada.

PASSÁRO CATIVO

Armas num galho de árvore um alçapão

E em breve uma avezinha descuidada

Batendo as asas cai na escravidão.

Dá-lhe, então, por esplendida morada.

A gaiola dourada.

Dá-lhe alpiste, água fresca, ovos e tudo.

Por que é que tendo tudo

Há de ficar passarinho mudo

Arrepiado e triste sem cantar?

È que, crianças, os pássaros não falam,

Gorjeando apenas sua dor exalam

Sem que os homens os possam entender.

Se os pássaros falassem,

Talvez os teus ouvidos escutassem

Esse cativo pássaro dizer:

Não quero teu alpiste,

Gosto mais do alimento que procuro

Na mata, livre, em que voar me viste.

Não quero tua esplendida gaiola

Pois nenhuma riqueza me consola

De ter perdido aquilo que perdi.

(Olavo Bilac)

SUMÁRIO

Introdução................................................................... 01

Capitulo I - Família: conceitos e funções.......................... 03

Capitulo II – Escola....................................................... 11

Capítulo III – Processo ensino-aprendizagem.................... 15

Capitulo IV – Interação família/ escola no bom

desempenho do aluno................................................... 23

Conclusão ................................................................... 34

Bibliografia.................................................................. 38

Introdução

O objetivo deste trabalho monográfico é colaborar com as reflexões sobre a

interação família/escola, não tendo nenhuma pretensão de esgotar o assunto.

Caetano (2004) ressalta a relevância de reflexões sobre a relação família e escola e

salienta a ausência de uma tradição de estudos sobre o tema.

A relação entre família escola é inscrita sob uma dualidade formada de

antagonismos e tensões. É, sobretudo nos dias de hoje, uma das mais palpitantes questões

discutidas por pesquisadores e gestores dos sistemas de ensino em quase todo o mundo.

Apesar de que a área de conhecimentos que mais se dedica ao estudo e ao entendimento das

relações entre a escola e a família é a sociologia

A relação família/escola é, na contemporaneidade, uma instigante questão de

dedicação de grandes pesquisadores. Observa-se, em seus relatos, uma exaltação da

necessidade de se estabelecer um efetivo diálogo entre a família e a escola. Partindo-se do

princípio da sua presença em documentos do sistema de ensino e da grande relevância

dessas instituições na formação das novas gerações, influenciando diretamente no

desenvolvimento escolar dos alunos, torna-se mister uma maior reflexão sobre o tema,

sabendo que esta pode provocar benefícios ou prejuízos no processo ensino-aprendizagem.

Para entendermos por que essa política de interação da família com a escola parece

legítima e desejável, convêm examinar brevemente a construção histórica da família,

sumariamente, a função da escola e as relações entre ambas.

Em um primeiro capitulo abordaremos questões como o conceito e significado de

família, sua função social e os modelos nos quais se apresentam nos diferentes momentos

históricos.

No segundo capítulo trataremos da história da escola e do seu papel no decorrer dos

anos.

Sentimos a necessidade de um maior esclarecimento sobre o processo de ensino-

aprendizagem, para um maior entendimento da relação família/escola e sua influência neste

processo. Por isso, trataremos das definições de aprendizagem e algumas reflexões sobre o

processo no terceiro capítulo.

E finalmente no quarto capítulo trataremos da relação família/escola, suas

contribuições e as melhores formas de alcançarmos êxito através dessa relação.

CAPITULO I – Família: conceitos e funções

“As crianças aprendem o que elas vivem”. Se uma criança vive com criticismo, ela aprende a condenar. Se uma criança vive com hostilidade, ela aprende a brigar. Se uma criança vive no ridículo, ela aprende a ficar envergonhada. Se uma criança vive na desonra, ela aprende a sentir-se culpada.

Se uma criança vive com tolerância, ela aprende a ser paciente. Se uma criança vive com encorajamento, ela aprende a ter confiança.

Se uma criança vive sendo elogiada, ela aprende a apreciar. Se uma criança vive com imparcialidade, ela aprende a ser justa. Se uma criança vive com segurança, ela aprende a ter fé.

Se uma criança vive com aprovação, ela aprende a gostar de si mesma. Se uma criança vive com aceitação e amizade, ela aprende a encontrar amor em todas as partes do mundo!!!

( Dorothy Law Notte)

Acatamos a idéia da família como o primeiro e principal núcleo social da qual

fazemos parte, onde o indivíduo inicia suas experiências de interação. A família constitui a

“unidade micro” de um todo maior que compõe o tecido social. Acredita-se na sua enorme

influência na formação do sujeito. E em como a relação família/aprendizagem pode

influenciar no bom desempenho do aluno.

Desde Freud, a família, em especial a relação mãe/filho, tem aparecido como

referencial explicativo para o desenvolvimento emocional da criança.

Há ainda uma justificativa legal, que consta do Estatuto da Criança e do

Adolescente – ECA, como medida aplicável aos pais ou responsáveis “obrigação de

matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua freqüência e aproveitamento escolar” (

artigo 129 parágrafo V). Portanto, fica claro na exigência da lei a participação dos pais no

desenvolvimento escolar dos filhos, sendo até mesmo passível de punição.

E não se pode falar em família sem situarmos algumas conceituações atribuídas a

este conceito. Estas conceituações nos permitem refletir sobre as várias transformações

pelas quais a família tem passado com o transcorrer do tempo. Então se pode compreender

a família como uma criação humana mutável, sujeita a determinações culturais, históricas e

sujeita aos avanços da sociedade.

Na reconstrução histórica da representação da família feita por Philippe Áries

(1981), o autor elucida que as primeiras representações iconográficas da família datam do

século XV, mas ainda não é demonstrada a presença das crianças. Somente no século XVI

as crianças começam a fazer parte nas iconografias, relacionadas à vida familiar. E o autor

ainda acrescenta que o aparecimento da família não é um simples episódio, é considerada

uma evolução maciça que arrasta toda a iconografia dos séculos XVI e XVII. Porém o

espírito sentimental familiar só é retratado no século XIX, sentimento desconhecido na

Idade Média.

Segundo Áries (1981), até o século XV a família era:

“(...) uma realidade moral e social, mais do que sentimental. (...) A família quase não existia sentimentalmente entre os pobres, e, quando havia riquezas e ambição, o sentimento se inspirava no mesmo sentimento provocado pelas antigas relações de linhagem. (p.231).

Entretanto, a conceituação de família de Áries diverge da adotada na modernidade.

A idéia era de que os laços de sangue não constituíam um único grupo e sim dois distintos,

mas concêntricos: a família, que pode ser comparada à nossa família conjugal moderna e a

linhagem, que incluía todos os descendentes de um mesmo ancestral, que se caracterizavam

por vários casais que viviam em uma mesma propriedade, incluindo sobrinhos, primos, etc.

Esta tendência deu origem a grande família patriarcal do século XIX. A família conjugal

moderna é, portanto, uma conseqüência de uma evolução, um enfraquecimento da

linhagem.

A definição de família constitutiva do ECA é bastante simplista, considera família

como“aquela constituída, basicamente, pelos pais e seus filhos”. Entretanto considera a

família a “primeira instituição social responsável pela efetivação dos direitos básicos da

criança”.

Entretanto, a definição de família pode advir de várias áreas: Antropologia,

Sociologia e Psicologia, mais comumente.

Nas definições antropológicas o foco de interesse é a estrutura das suas relações. A

estrutura elementar de parentesco inclui três tipos de vínculos: o consangüíneo (entre

irmãos), de aliança (marido e esposa) e de filiação (pais e filhos).

As definições sociológicas centralizam-se mais na tipologia familiar, que as

classifica como família nuclear ou de orientação, hoje a mais comum, que subsiste sob duas

formas: monoparental e socioparental; família de procriação (formada pela pessoa, seu

marido/esposa e filhos), ou a possibilidade de outras configurações, quando algum elo

dessa estrutura é quebrado. Portanto a família pode ser compreendida a partir do número de

seus componentes, essa definição recai na de Áries (1981), mas suscetível a mudanças,

após reorganizações provocadas por mortes, divórcios ou novos casamentos, que vão

alterar a composição do grupo familiar.

A psicologia descreve o grupo familiar como o conjunto de relações entre os

membros que a compõem, portanto são relações que podem ocorrer entre parentes ou

pertencentes a um mesmo contexto.

Engels (1979) remontando à história esclarece que o termo família é derivado de

famulus (escravo doméstico) e que esta foi uma expressão inventada pelos romanos para

designar:

“um novo organismo social que surge entre as tribos latinas, ao serem caracterizava-se pela presença de um chefe que mantinha sob seu poder a mulher, introduzidas à agricultura e a escravidão legal. Este novo organismo os filhos e um certo número de escravos, com poder de vida e de morte sobre todos eles ‘paterpotestas’” (p.23).

Assim, reconstituindo-se historicamente a utilização do termo é atribuída a

instituições e agrupamentos sociais bastante diferentes entre si, tanto em relação à estrutura

quanto a função. Bruschini (1981) acrescenta que a história da família não é linear, é

descontínua e não-homogênea, consiste em padrões familiares distintos, cada um com sua

própria história e suas próprias explicações.

Alencar relembra que a instituição família teve um papel importantíssimo na

história brasileira. Gilberto Freyre, em algumas de suas obras, descreve a relevância que a

“grande família extensa” dos “senhores de engenho” teve na formação social e

econômica do país. Freyre mostra que as relações familiares não passavam somente pela

égide da afetividade e da confiabilidade, mas como relações de poder. Na história

brasileira, com a escravidão, uma parte da população podia ter família e valorizava essas

relações, enquanto a outra não tinha o direito à instituição familiar. Eram propriedade de

terceiros e não podiam constituir família, seus filhos seriam propriedade de seus donos.

Este fato repercute, segundo o autor, até hoje, na camada social menos favorecida

economicamente. Formando um paradoxo: favoreceu a eliminação da responsabilidade

paterna e a suposição, para a mulher pobre de que, tendo filhos, manteria junto a ela o

homem, o pai de seus filhos. E uma outra idéia que persiste é a idéia da proliferação dos

filhos como aumento da mão-de-obra disponível.

Entretanto, não se pode esquecer que à medida que a sociedade se complexifica,

passa a haver uma crescente especialização institucional. Instituições consideradas, por

alguns, mais aptas a assumirem certas funções, entre estas surge a escola. Durkheim (em

Bilac, 2003) já discutia a “contração da família” em conseqüência da “especialização

funcional“.

Carvalho (2003) corrobora afirmando que há na política social contemporânea do

país um particular interesse nas microssolidariedades e sociabilidades sociofamiliares pela

sua potencial condição de assegurar proteção. A família é revalorizada na sua função

socializadora, é convocada pela própria sociedade a exercer autoridade e definir limites aos

seus.

A autora elucida que nas últimas décadas, quando a família ficou no limbo, em

relação as suas funções, o Estado assumiu o seu papel formador. Nas escolas surgiram

fontes precípuas de formação, sujeitos como “tia ou tio”, e não mais os pais. Porém, hoje

acredita-se na revalorização da família e na restituição de suas funções, o mesmo não

significando um recuo na proteção do Estado:

“à luz de inúmeros trabalhos dos últimos 5 anos, vê-se claramente que solidariedade familiar e serviço coletivo funcionam em complementaridade e não podem substituir-se um ao outro. No entanto, não é essa, hoje em dia, a conclusão mais freqüente. Parece que as pessoas preferem congratular-se com a existência deste ‘manancial de solidariedade natural’ que exibem como alternativa ou como ameaça sempre que surge a preocupação com o individualismo crescente”(p.19).

A Constituição brasileira de 1988 refere-se à família em vários de seus artigos: 5º,

7º, 201º, 208º e de 226 a 230. O artigo 206 traz algumas inovações em relação ao conceito

de família, considera família a união estável entre homem e mulher – parágrafo 3º. E ainda

a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes – parágrafo 4º.

A Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9394/96 também refere-se à

participação da família no desenvolvimento do aluno em seus Artigos 1º, 2º, 6º e 12º:

“Art. 1º - A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa nos movimentos sociais e organização da sociedade civil e nas manifestações culturais”. “Art. 2º - A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”. “Art. 6º - è dever dos pais ou responsáveis efetuar a matricula dos menores, a partir dos sete anos de idade, no ensino fundamental.”. “Art. 12º - Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de”: (...) VII – informar aos pais e responsáveis sobre a freqüência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica”.

E não se pode deixar de mencionar a recente iniciativa do MEC, que instituiu o Dia

Nacional da Família na Escola, onde todas as escolas devem convidar os familiares dos

alunos a participarem das atividades pedagógicas por pelo menos um dia.

As definições até aqui apresentadas pré-supõem uma visão de família organizada.

Contudo, sabe-se que no mundo conturbado da modernidade a dificuldade de se encontrar

uma família bem estruturada está cada vez mais difícil, principalmente, no que se refere a

famílias de baixa renda.

Em quase todas as definições, não se tem dúvida de que a imagem construída é a da

família nuclear burguesa, composta por pai, mãe e algumas crianças vivendo em uma casa.

Porém, o que se tem visto hoje é a elaboração de novas percepções de família, Bilac (2003)

atribui este fato a contínuas negociações e acordos entre seus membros. Alguns autores,

como Szymanski (2003) nomeia o afastamento do modelo de família como família

“desestruturada” ou “incompleta”. Por isso não vamos falar de família, em um conceito

especifico, mais tradicional, mas falaremos de famílias, para que possamos contemplar a

diversidade de relações que convivem em nossa sociedade. Mas de uma caracterização não

podemos fugir, entendemos família como o lugar indispensável para a garantia da

sobrevivência e da proteção integral dos filhos, desempenhando um papel decisivo na

educação formal e informal.

Considerar a família desestruturada é colocar o foco da questão na sua estrutura e

não na qualidades das suas inter-relações. E a essas famílias são dadas responsabilidades

por problemas emocionais, desvios de comportamento do tipo delinqüencial e fracasso

escolar1.

Há vários estudos sobre as transformações ocorridas e suas implicações nos padrões

familiares. Transformações essas advindas de separações matrimoniais, recasamentos,

sobre as concepções de parentescos, como os estudos de Bilac (2003). Porém, não se faz

necessário uma maior elucidação sobre o assunto, já que não é este o foco deste trabalho.

A família reflete os problemas da sociedade, assim como a presença ou ausência de

valores nos diversos contextos humanos, por isso, é importantíssimo refletir a sua relação

com o desempenho escolar.

O que levanta a preocupação sobre o quanto estas desestruturações podem afetar no

cotidiano dos membros da família. Zamberlan & Freitas (2003) ressaltam a importância do

papel da família na vida do ser humano, o quanto podem afetar direta ou indiretamente,

assim como positiva ou negativamente a vida de todos os integrantes.

São várias as funções da família na vida de uma criança ou adolescente, variam

desde os cuidados fisiológicos e a socialização primária, que é sua exclusividade, até a

escolarização e a aquisição de valores socioculturais, que dependem da interferência de

outras instituições sociais para auxiliar.

Zamberlan & Feitas (2003) considera a família como um microsistema, inserido em

um sistema mais amplo. Sendo o microsistema familiar o primeiro sistema no qual o ser

humano interage, “este possui um padrão de papéis, de atividades e de relacionamentos,

que são associados a determinados comportamentos e expectativas, de acordo com a

sociedade no qual está inserido” (p.21).

A Psicopedagogia ainda designa uma outra modalidade de família a “família

hospedeira”. É um termo que indica um sistema familiar que adota ou hospeda um membro

1 O tema é bastante interessante e polêmico, mas por não ser o mote deste trabalho não nos deteremos em reflexões sobre este assunto, ficando para uma próxima ocasião.

de outra família, recurso que costuma ser usado quando a família de origem não tem

condições, emocionais, ou sociais ou materiais disponíveis para cuidar de uma criança ou

adolescente. São famílias que abrigam definitivamente ou temporariamente ou ainda podem

dar suporte auxiliar à família sem estruturas.

Caetano (2004) acrescenta que o fato de a família não ir bem, influencia

negativamente o desenvolvimento escolar do aluno e justifica com depoimentos obtidos em

reuniões de pais: “como o aluno pode ir bem na escola, se seu pai bebe, se sua mãe o

abandonou?”. Paro (2000) ressalta o importante papel da família no desempenho escolar

dos filhos, além de chamar a atenção para as transformações visíveis pelas quais passam,

ultimamente, a escola e a família, em relação as suas dinâmicas internas. Fato que atua

diretamente sobre o comportamento dos filhos/alunos.

Pamplona Morais (2002) acrescenta que, apesar de existirem vários fatores que

podem vir a influenciar negativamente no desempenho escolar do aluno, os fatores

familiares, tais como a organização familiar e as relações que se desenvolvem entre os

membros da família, contribuem para o fracasso escolar. Segundo o autor não há dúvidas

sobre os efeitos negativos no cotidiano escolar do aluno, causados por formações familiares

autoritárias, permissivas, hiper-protetoras, em comparação com os efeitos causados por

uma família democrática.

Com todas as transformações ocorridas no decorrer do tempo, muda também a

função atribuída a família. Entretanto, Carvalho (2003) ressalta que a expectativa em

relação à família está impregnada no imaginário coletivo, impregnada de idealizações. A

maior expectativa é quanto à produção de cuidados, proteção, aprendizado dos afetos,

construção de identidades e vínculos relacionais de pertencimento, capazes de promover

melhor qualidade de vida e efetiva socialização na comunidade e sociedade em que vivem.

Corroborando com os pressupostos de Vygotsky, que acredita ser a família o primeiro meio

de interação com o mundo, o primeiro local de aprendizagem. O desenvolvimento do ser

humano ocorre simultaneamente nos níveis emocional, físico, de pensamento e linguagem.

Durante os primeiros anos, a criança aprende habilidades que serão importantes para

a vida toda, tais como andar, comunicar-se por meio da fala, controlar esfíncter, comer

utilizando as próprias mãos, entre outras. Nas situações que ocorrem essas aprendizagens,

segundo Bello (2005), encontra-se geralmente no ambiente familiar, onde são também

desenvolvidas formas de aprender que influenciarão a aprendizagem futura, podendo

exercer influência ate a vida adulta.

Carvalho (2004) reitera que a educação formal tem um papel fundamental na

produção e reprodução cultural e social, porém começa no lar/família a construção das

condições básicas de toda vida social e produtiva. E salienta que o processo de socialização

e a educação têm duas dimensões: “social – transmissão de uma herança cultural às novas

gerações através do trabalho de várias instituições; e individual – formação de disposições

e visões, aquisição de conhecimentos, habilidades e valores” (p.47).

Meira (2005) salienta que “as atitudes destes (a família) frente às emergências de

autoria do aprendente, se repetidas constantemente, irão determinar a modalidade de

aprendizagem dos filhos”.

A autora classifica algumas famílias como “famílias possibilitadoras de

aprendizagem”, onde exclui as famílias de classes baixas, já que considera que estas não

podem fornecer uma qualidade de vida satisfatória, uma alimentação adequada, acesso às

diversas formas de cultura, fatores que segundo a autora facilitam a aprendizagem.

Para Fernandez (2001), existam famílias de classe baixa que podem ser

consideradas facilitadoras da aprendizagem, e o que as caracteriza é a criação de um espaço

favorável para que cada membro possa escolher responsabilizar-se pelo escolhido,

propiciando um espaço para a autoria de pensamento.

Família e escola são pontos de apoio e sustentação do ser humano, são marcos de

referência. Tanto que a convivência e o relacionamento familiar são fatores fundamentais

para o desenvolvimento individual, para a inserção da criança no universo coletivo. É a

mediação entre ela e o mundo, entre ela e o conhecimento e responsável por sua adaptação

ao ambiente escolar, o relacionamento com os professores e funcionários da escola, a

convivência com os colegas, que serão fatores decisivos para o seu desenvolvimento social.

CAPITULO II – Escola: seu papel na sociedade

“Criar uma nova cultura não significa apenas fazer

individualmente descobertas ‘originais’; significa também, e

sobretudo, difundir criticamente verdades já descobertas,

‘socializá-las’ por assim dizer; transformá-las, portanto em base

de ações vitais, em elementos de coordenação e de ordem

intelectual e moral” (Gramsci, 1981) 2

Para este trabalho optamos pela definição de escola apresentada por Mizukami

(1986), segundo a abordagem sócio-cultural, que considera a escola como um espaço

mútuo de crescimento, do professor e do aluno em um processo de conscientização,

abordagem esta que assume a posição de Paulo Freire, que entende a escola como uma

instituição existente dentro de um contexto histórico de uma determinada sociedade.

Bastante diferente da abordagem tradicional que, segundo a autora, é o lugar por excelência

2 Retirado do texto de Bastos (1999:7)

onde se realiza educação, a qual se restringe, em sua maior parte, a transmissão de

informações em sala de aula.

Manacorda (2000) remonta à definição do termo, a palavra schola significa lugar de

reunião, segundo a autor, mais do que o lugar onde se estuda, uma congregação.

Segundo Paiva (2004), a escola surge por volta do século XIII, atendendo as

necessidades dos novos atores sociais – homens de negócio, comerciantes, banqueiros,

contadores, etc, fomentadas pelas novas experiências, o comércio revelando um novo

entendimento de mundo e, conseqüentemente, novas organizações sociais. Fazia-se, então,

necessário uma nova instituição que acatasse essa demanda.

Schmidt (2005) considera a escola como um fenômeno recente na história da

humanidade. Surge com a ascensão da burguesia, que exigia os mesmos direitos à educação

dos “bem nascidos”. Entretanto, a nobreza européia não mandava seus filhos à escola,

contratava tutores para que os iniciassem no mundo das artes e das ciências.

Alencar considera a consolidação da escola a partir de 1600, embora concorde que

existiam estabelecimentos de ensino anteriormente, porém eram religiosos.

A instituição escolar só toma força, na realidade, como prática corrente, por causa

das exigências da industrialização, que demandava trabalhadores mais bem preparados para

lidar com as novas tecnologias. Alencar justifica a expansão da escola, também, como

conseqüência da complexidade dos conhecimentos e pela demanda das classes mais

afortunadas, o que acarretava na maior parte da população continuar analfabeta.

Entretanto, a escola estatal, de massa só surge no ocidente no final do século XIX.

Uma escola elementar, pública, gratuita e leiga.

Carvalho (2004) esclarece que este fato representou o triunfo da influência

formativa das instâncias públicas sobre as privadas na vida social e no desenvolvimento

individual, o reconhecimento da obsolescência da família como educadora, sua

inadequação para cuidar e treinar as crianças da sociedade moderna. A autora remota-se a

Durkheim que apontou a superioridade da escola sobre a família na função da socialização

para a vida moderna.

Somente no século XX a escola toma grandes proporções, com a inserção cada vez

maior de homens e mulheres no mundo do trabalho. O século XX ficou marcado pela

implantação dos grandes sistemas educacionais. Neste período, a escola é estruturada em

três níveis:

• O elementar – onde se aprendia a ler, escrever e contar;

• O secundário – no qual outras disciplinas eram estudadas;

• Universitário ou superior.

Na concepção de Alencar, ainda hoje, a escola é dividida em escola para rico e para

pobre – a particular e a pública: uma que forma e encaminha para o mercado de trabalho

capitalista e a outra que seleciona, que exclui, formando a mão-de-obra desqualificada e

oprimida.

Carvalho (2004) elucida que a constituição da escola moderna está relacionada à

emergência da classe média, desde o momento que a burguesia passou a utilizar-se da

educação formal como sinal de distinção, identificando-se com a aristocracia e

diferenciando-se das classes baixas. A burguesia não podia sustentar a educação de seus

filhos com professores particulares, e assim criaram as escolas-internatos, que proveriam

educação formal coletiva aos filhos de várias famílias num mesmo local público.

Com a especialização da instituição e com a separação da vida pública e da privada,

fica mais definida a função da escola e da família. Fica definida como função da escola a

reprodução da cultura letrada, dos valores sócio-políticos e da qualificação para o trabalho,

assumindo assim, as funções econômicas e ideológicas. E a família era vista como local de

reprodução sexual, física e psíquica.

Como a oferta da educação formal era responsabilidade do Estado, algumas famílias

se confundiram com a concepção e passaram a reforçar a idéia de que os especialistas eram

os únicos responsáveis pelos resultados alcançados por seus filhos na escola, eximindo-se

de todas as responsabilidades da vida escolar de seus filhos.

A escola deve ser entendida como a responsável pela educação escolar. Como

espaço destinado ao trabalho pedagógico formal, à formação de valores, ao exercício da

cidadania, à experimentação de sentimentos.

Leite (2005) ressalta que o lugar da escola:

“(...) se encontra em educar para a democracia no sentido da construção de um ser humano reflexivo, critico, criativo, participativo, comprometido socialmente e transformador da realidade, garantindo a aprendizagem de

certas habilidades e conhecimentos necessários para a vida em sociedade, contribuindo no processo de inserção social das novas gerações” (p.5).

Cabe à escola transmitir os conteúdos programáticos, que possibilitem o

desenvolvimento cognitivo da criança, a aquisição de informações e a utilização dessas

informações em seu cotidiano. Do ambiente familiar espera-se a contribuição de no mínimo

valorizar o conhecimento institucionalizado através da escola.

A escola pública manteria um contrato implícito com a sociedade, oferecendo um

espaço para aquisição de um conhecimento secular, não familiar, que apagaria as distinções

culturais e sociais ligadas à família, classe social, etnia e religião de origem, “consolidando

a nova origem democrática” (Carvalho, 2004: 51).

Bourdieu e Passeron (1977) consideram o papel da escola a reprodução das desigualdades

sociais de classe, raça e gênero, referendam a escola como responsável pela inflação ou

deflação do capital cultural dos estudantes trazido da família . Os autores:

“mostram como a escola constitui um mercado simbólico mediado entre a desigualdade individual e familiar precedente e as estruturas econômicas e simbólicas mais amplas, paralelas e subseqüentes, portanto a escola e educadores têm autonomia para influenciar os processos e resultados de sua própria produção” (p.57).

A escola, como um novo modelo, irá ampliar o mundo dos alunos, convidando-os a

olhar suas experiências com uma nova lente, que não a familiar, o que alterará os

significados dos símbolos já conhecidos.

Paro (2000) afirma que professores esperam que a família dê continuidade à

educação oferecida na escola. E acreditam que a escola amplie as ações que se iniciadas na

família.

Em pesquisa realizada pelos órgãos do Ministério da Educação, detectou-se que

escolas onde a comunidade, em condição de associações, os recursos se multiplicam, o

desempenho dos alunos melhora e sua administração se torna mais independente, como

prescreve a Lei de Diretrizes e Bases – Lei 9394/96.

Paro (2000) acata como papel da escola entender o indivíduo como parte de um

sistema, ou todo, organizado, com elementos que interagem entre si, influenciando cada

parte e sendo por ela influenciado; traz uma luz à compreensão acerca do desenvolvimento

humano, contribuindo para a reflexão sobre os contextos familiar e escolar, que tanto

podem ser elementos de continência, inclusão e segurança, como fontes de conflitos, com

ênfase nas perdas que se podem apresentar no percurso.

CAPITULO III – Processo ensino-aprendizagem

“O que pode ser controlado não é nunca totalmente real,

o que é real não pode ser rigorosamente controlado”.

(Prigogine)

Nos últimos anos muito se tem discutido sobre o processo de aprendizagem, o que

torna inócuo repetir tudo o que se descobriu sobre ela ou o que ainda permanece lacunar.

Porém, objetiva-se referenciar a aprendizagem diretamente à situação da relação

professor/aluno.

Encontra-se um número bastante grande de teorias da aprendizagem, mas como não

é esse o mote principal deste estudo, far-se-á algumas considerações a respeito de algumas

teorias mais marcantes, até mesmo para sintonizar a teoria que mais se adequa ao

referencial teórico do trabalho.

As teorias podem ser genericamente reunidas em duas categorias: as teorias do

condicionamento e as teorias cognitivistas.

As classificadas como teorias do condicionamento definem a aprendizagem pelas

suas conseqüências comportamentais e enfatizam as condições ambientais como forças

propulsoras da aprendizagem. A aprendizagem é a conexão entre o estímulo e a resposta.

As do segundo grupo definem a aprendizagem como um processo de relação do

sujeito com o mundo externo e que tem conseqüências no plano da organização interna do

conhecimento.

Segundo estas teorias a aprendizagem é um processo de organização das

informações e de integração do material à estrutura cognitiva. E ainda a égide destas teorias

a aprendizagem é diferenciada em aprendizagem mecânica e significativa. A mecânica

refere-se à aprendizagem de novas informações com poucas ou nenhumas associações com

conceitos já existentes na estrutura cognitiva. E a significativa processa-se quando um novo

conteúdo relaciona-se com conceitos relevantes e disponíveis na estrutura cognitiva, sendo

assim assimilados por ela.

Moreira (1983) distingue três enfoques teóricos para a aprendizagem: o

comportamentalista, o cognitivista e o humanístico.

A corrente comportamentalista, que tem como exemplo de teórico, Skinner,

considera o aprendiz como um ser que responde a estímulos fornecidos pelo meio externo,

não considera o que ocorre no interior da mente do indivíduo.

A linha cognitivista preocupa-se com o processo de compreensão, transformação,

armazenamento e o uso da informação envolvida na cognição, ocupa-se particularmente

dos processos mentais. São exemplos cognitivistas Piaget e Ausubel.

A orientação humanista, representada por Rogers, considera o aprendiz

principalmente como pessoa, o importante é a auto-realização da pessoa, o crescimento

pessoal. O indivíduo visto sempre como um todo, não só o intelecto.

Diante destas teorias faz-se necessária a conceituação de aprendizagem segundo

alguns importantes teóricos3:

Para Skinner, a aprendizagem ocorre devido ao reforço.

Para Gagné, a aprendizagem é uma mudança de comportamento, resultante de

estimulação do meio ambiente e diferencia-se da concepção de Skinner, porque para o

autor, ocorre dentro da cabeça do indivíduo.

Brunner, não define explicitamente a aprendizagem, entretanto acredita-se que

aceite a aprendizagem como uma mudança de comportamento advinda da experiência.

Piaget acredita que só ocorra aprendizagem quando, ou aumento de conhecimento,

quando o esquema de assimilação sofre acomodação.

Segundo Ausubel, aprendizagem significa organização e integração do material na

estrutura cognitiva.

Rogers define aprendizagem significante: uma aprendizagem que provoca uma

modificação quer seja no comportamento do indivíduo, na orientação da ação futura que

escolher ou nas suas atitudes e na sua personalidade.

Porém, em todas as teorias há uma concordância à predisposição para aprender é

condição para que ocorra a aprendizagem. Assim como o papel do professor, que também

apresenta destaque em todas as teorias, mas nunca como fonte de informação.

Acredita-se que é pela ocorrência da aprendizagem que se desenvolvem as

habilidades, apreciações, raciocínios, assim como as aspirações, atitudes e os valores do

homem, que o torna capaz de conduzir-se convenientemente em uma sociedade complexa

como a sociedade do conhecimento.

3 Essas conceituações constam da obra de MOREIRA (1983)

Para Vygotsky (2003), um aspecto essencial na aprendizagem é o fato dela

desencadear vários processos internos de desenvolvimento, que só são capazes de operar

quando a criança interage com adultos e quando em cooperação com seus companheiros.

Para Jardim (2001) a aprendizagem não ocorre naturalmente, é um acontecimento

que ocorre sobre determinadas condições que podem ser observadas, alteradas e

controladas.

O autor, acima citado, destaca três elementos que tem relação com a aprendizagem:

• Pessoa que aprende: nela os aspectos mais importantes são os órgãos dos

sentidos, o sistema nervoso central e os músculos. A atividade nervosa

transformada em ação, dentro de certas seqüências e padrões que alteram

a natureza do próprio processo organizador, se manifesta como

aprendizagem;

• Situação estimuladora: é a soma dos fatores que estimulam os órgãos dos

sentidos da pessoa que aprende ou estímulo;

• Resposta: ação que resulta da estimulação e da atividade nervosa

subseqüente.

Tipos e Formas de Aprendizagem

De acordo com alguns psicopedagogos construtivistas, como Pain e Grossi (em

Ferreira 1998), vários são os fatores que interferem na aprendizagem: o intelectual ou

lógica, simbólica ou dramática, o corpo e o organismo. Em tentativas de explicar a

construção do conhecimento, esses fatores em algumas ocasiões foram valorizados e em

outras excluídos. Uma versão bastante conhecida é a da “tábula rasa”, que concebe a

inteligência como uma folha em branco, onde os ensinamentos iam sendo escritos, neste

caso a competência da formação do conhecimento era da inteligência. Alguns professores

mais tradicionais, ainda que inconscientemente utilizam desta teoria na sua forma de

trabalhar.

Em um outro momento, posterior, valorizou-se o movimento para o funcionamento

da inteligência, responsabilizando quase que exclusivamente a ação motora para a

organização do pensamento, esquecendo entre outros fatores importantes o afetivo.

Com o advento da Psicanálise de Freud, descobriu-se a importância do afeto, dos

desejos, da motivação.

Hoje, na visão construtivista considera-se que para aprender é necessária a

manutenção do vínculo, entre dois personagens principais: quem aprende e quem ensina.

Que Fernandez (1990) denomina de aprendente e ensinante.

Jardim (2001) considera alguns tipos de aprendizagem, sempre relacionadas a

situações estimuladoras, que atingem o aprendente através dos órgãos dos sentidos, e uma

resposta ou série de respostas que são resultados identificáveis produzidas pelos estímulos:

• Aprendizagem de sinal – neste caso as respostas são gerais, difusas e

emocionais. Um estímulo incondicionado provoca uma resposta

incondicionada. Trata-se de aprendizagem com caráter involuntário e as

respostas também não se acham sob o controle voluntário, podem ser

prontamente adquiridas em conexão com determinados sinais, por

exemplo: reações de medo ou outras emoções. A relação entre o estímulo e

a resposta não se relaciona com a inteligência. As condições que podem

controlar externamente as respostas são a contigüidade e a repetição. Uma

característica importante da aprendizagem de sinais é sua grande

resistência ao esquecimento.

• Aprendizagem do tipo estímulo-resposta – trata-se da aprendizagem

motora, compreende a execução de movimentos musculares muito precisos

e a resposta a estímulos muito específicos. Neste tipo de aprendizagem

deve haver um consumatório que leve à satisfação (ou reforço), este tipo de

relação é essencial à aprendizagem neste caso. Quando se omite o reforço

pode ocorrer o fenômeno da desaprendizagem. Quanto mais curto for o

tempo entre a ocorrência da resposta aprendida e o reforço, mais rápida

será a aprendizagem. A repetição também é condição essencial para que

ocorra a aprendizagem. É também bastante resistente ao esquecimento.

• Aprendizagem em cadeia – trata-se de fazer uma ligação entre dois ou mais

estímulos-resposta. Deve haver contigüidade entre cada elo e o seguinte,

que deve ser executada com proximidade temporal, assim haverá aquisição

da cadeia de uma só vez. Deve ocorrer repetição com a função de

regularizar os aspectos destoantes. O reforço não pode ser omitido, para

que não ocorra à extinção do elo final, o reforço deve ser imediato a fim de

que a aprendizagem ocorra de maneira rápida.

• Aprendizagem de associações verbais. – podem ser classificadas como um

subtipo de aprendizagem de cadeia, porém possui características especiais.

Neste tipo as respostas já aprendidas servem como código associativo para

o novo aprendizado, o código de associação depende da seleção de

habilidades do aprendente. A aprendizagem será mais rápida quanto maior

for o suprimento de conexões em código, também deve haver reforço para

proporcionar satisfação e incentivo para continuidade da aprendizagem. E

para prevenir o esquecimento das seqüências verbais é necessário a

repetição.

• Aprendizagem de discriminações múltiplas – a aquisição de discriminações

múltiplas deve-se identificar algo em série, o indivíduo aprende a dar

várias e diferentes respostas a diferentes estímulos, que devem, porém

assemelhar-se em menor ou maior grau. Alguns fenômenos de

interferência, como a interferência de novas cadeias na conservação de

outras já aprendidas, é talvez o mecanismo básico do esquecimento, sendo

essa uma das características importantes deste tipo de aprendizagem. Este

efeito pode ser superado através da repetição.

• Aprendizagem de conceitos – é um tipo que depende de maneira crítica dos

processos de representação interna, essa função utiliza-se da linguagem,

aprender um conceito significa aprender a responder a estímulos. Neste

tipo de aprendizagem deve ser proporcionado ao aprendente uma variedade

de situações estimuladoras, incorporando a propriedade conceitual a ser

aprendida. Para realizar este tipo de aprendizagem é necessário a utilização

de outros tipos.

• Aprendizagem de princípios – um princípio é uma cadeia de dois ou mais

conceitos, o mais importante são os requisitos prévios para que a

aprendizagem ocorra. Este método é rápido e eficiente, mas ainda muito

discutido.

• Aprendizagem de resolução de problemas - a resolução de problemas

resulta na aquisição de novas idéias que multiplicam a aplicabilidade dos

princípios já aprendidos, este meio conduz a novas habilidades para o

pensamento ulterior.

Motivação

Quando se opta pelas teorias cognitivistas não se pode abster-se de falar em

motivação, que continua a ser um complexo tema para a Psicologia Educacional.

A motivação é um processo que mobiliza o organismo para a ação, a partir da

relação entre o ambiente, a necessidade e o objeto de satisfação. Para Bock e outros (1993)

o estudo da motivação considera três tipos de variáveis: o ambiente; as forças internas do

indivíduo – como necessidade, desejo, vontade, interesse, impulso, instinto; o objeto – que

atrai o indivíduo por ser fonte de satisfação da força interna que o mobiliza.

Rossini (2003) acredita que a inteligência se desenvolve pelas vias da motivação,

são principalmente os motivos interiores que levam a ação. A autora divide a motivação em

dois tipos: a motivação interna – instintos, hábitos, atitudes, ideais, prazer; e a motivação

externa – estímulos do meio.

• Motivação interna (ou intrínseca)

1- Instinto – fenômeno biológico inerente ao ser humano, bastante relevante na

fase da escolaridade. A autora subdivide em: instinto de grupo – a tendência do

ser humano de agrupar-se, o que proporciona maior consistência nos

elementos, o trabalho em grupo é sempre mais motivador para os aprendentes;

instinto lúdico – toda criança adora jogar, este instinto deve ser explorado em

qualquer disciplina, com o objetivo de fixar algum conteúdo; rivalidade – o

instinto das crianças para a competição deve ser aproveitado com intuito de

promover cooperação e as regras de convivência; curiosidade – o desejo de

descobrir o mundo estimulo o desejo de tudo saber, esse instinto quando bem

trabalhado vai despertar no aprendente a vontade de investigar, de saber cada

vez mais sobre os fenômenos naturais, por exemplo.

2- Hábitos – é uma disposição que se torna duradoura depois de incorporada,

estes diferentemente dos instintos só é adquirido depois de muita repetição.

Deve-se estimular a aquisição de bons hábitos, que deverão favorecer a

aplicação da consciência em aspectos mais elevados.

3- Atitudes – são padrões de comportamentos aprendidos, que predispõem a ação

do ser humano, a forma de agir está diretamente ligada à aprendizagem,

desenvolvendo-se por meio de satisfações ou frustrações. As atitudes são

elaboradas e incorporada à personalidade do ser humano, na maioria das vezes

são adquiridas através de exemplos positivos.

4- Ideais – todo ser humano tem seus ideais de vida, objeto das mais altas

inspirações. Deve-se cultivar ideais nobres nos aprendentes como estímulo à

busca dos melhores objetivos.

5- Prazer – é destacado como maior fonte de motivação para o ser humano, pois é

claro que o ser humano procura o que lhe dá prazer e foge do que lhe causa

desprazer e uma das formas de dar maior prazer é o elogio.

• Motivação externa (ou extrínseca)

1- Professor/educador – alguns pecados cometidos comumente em relação à

personalidade dos ensinantes:

a) Abuso de autoridade, esquecendo da relação entre os objetivos do

aprendente e a tarefa a ser realizada.

b) Priorização das suas necessidades ao invés das dos aprendentes

c) Com raridade casos de agressão física.

d) Atitudes de desprezo ou descaso para com os aprendentes, considerada

agressão psicológica.

O professor dentre os itens de motivação externa é talvez o mais importante, ele é o

mediador entre o mundo real e o mundo ideal para o desenvolvimento de seus aprendentes.

2- Toque – é de suma importância no trabalho com crianças e jovens. O toque

pode ter efeito positivo ou negativo sobre as pessoas, porém sempre geram

algum tipo de reação que vai provocar uma ação.

3- Meio social e cultural – também é fundamental na motivação do ser humano,

para que a aprendizagem seja significativa para o aprendente é preciso que os

assuntos façam sentido, façam parte do mundo deles.

4- Ambiente físico e recursos – são importantes desde que bem explorados pelo

professor.

CAPITULO IV - Interação família/escola no bom desempenho

do aluno

“Participação não é o resultado de processos automáticos

e espontâneos, mas de uma conquista diária e conseqüência do

fortalecimento da responsabilidade dos indivíduos”

(Pellegrini)4

Desde a década de 1990, a família tem sido chamada a participar na escola e está

sendo responsabilizada pelo sucesso ou fracasso escolar. Numa tentativa de valorizar e

estimular esta participação, o Ministério da Educação e Desporto – MEC instituiu o “Dia

Nacional da Família na Escola” e publicou a cartilha “Educar é uma tarefa de nós: um guia

para a família participar no dia-a-dia da educação de nossas crianças” (Brasil 2000). Este

novo parâmetro segue uma política educacional originada dos países hegemônicos,

particularmente os Estados Unidos, em prol do discurso educacional da globalização

neoliberal, que entre outras medidas prioriza a eficácia escolar e o sucesso individual em

detrimento a justiça social e a felicidade pessoal.

Para Carvalho (2004):

“Essa política de envolvimento dos pais na escola e seu modelo de relações família-escola adquirem legitimidade precisamente por seu vínculo à classe média, já que é formulada por profissionais e representa as aspirações de ascensão

4 PELLEGRINI, M. Zanella. Administração participativa da teoria à práxis. Polígrafo, PUC/ADERGS,

1991.

social de muitos grupos excluídos, que acreditam na promessa da educação escolar e sonham com o estilo de vida das classes médias. Tem obtido adesão à direita e à esquerda do espectro político, de conservadores, que defendem a coesão familiar (a família unida em torno dos filhos/as fazendo dever de casa), e de progressistas, que defendem a participação democrática dos pais/mães na melhoria da escola pública (Casanova, 1996; Carvalho, 2000). De acordo com estes últimos, necessitamos passar de um modelo de relações família-escola de delegação –aquele em que o Estado assumia o papel parental no contexto da educação compulsória – para um modelo de parceria” (p.78).

A autora elucida que o modelo tradicional de delegação é aquele em que há uma

clara divisão de responsabilidades: à escola cabe a educação acadêmica e à família a

educação doméstica. Hoje devido às mudanças estruturais da família, estas estão

requerendo da escola mais do que a transmissão de conhecimento acadêmico, estão

requisitando a extensão de seu papel, requerem que a escola assuma papel na assistência

biopsicossocial.

No passado, a escola não requisitava a participação da família, considerando-se

auto-suficiente no sentido de educar e subestimando a educação familiar. Atualmente a

política educacional está formalizando a interação com a família/escola na escola pública,

valorizando a contribuição educacional da família para o sucesso escolar. Compreender a

interdependência social significa compreender relacionamentos e valorizar a importância

que eles tem na formação e no desenvolvimento da pessoa.

O modelo adotado pelo Estado é o modelo de parceria, preterindo-o a um modelo de

educação compulsória.

Carvalho (2004) elucida que há duas histórias relacionadas à interação

familia/escola. Uma é aquela da valorização da escola como extensão da família e a outra é

aquela em que a escola, um modo de educação não familiar é imposta como meio de

salvação.

Partindo-se do pressuposto de que a escola é a extensão do lar e de que a precisa de

um ambiente que o faça sentir segura e tranqüila para um bom desenvolvimento, deve ser

construída e intensificada a interação entre a escola e a família. O trabalho integrado entre

os pais e a escola torna-se essencial, para que ambos falem a mesma linguagem auxiliando

na aprendizagem do educando. Reconhecendo que a aprendizagem é construída a partir da

interação de conhecimentos, na realidade e vivência social e familiar. As instituições,

escola e família, devem tornar-se parceiras no processo ensino-aprendizagem.

Adotando os pressupostos de Vygostky (1988) entende-se que nenhum homem

existe sem uma realidade que o envolva; qualquer comportamento implica integração, que é

feita a partir das interações que cada sujeito estabelece com o meio ambiente desde o seu

nascimento.

Neste contexto o indivíduo vivencia e estabelece os limites da sua atuação no

contato com os outros, numa continua interação intra e intergrupal. Chama-se, então, essa

interação de socialização. E os dois maiores núcleos de socialização na vida do indivíduo

são família e a escola.

Apesar de serem de suma importância na formação cognitiva e social do indivíduo,

são estruturalmente diferentes, como visto anteriormente. As crianças na família possuem

relações prolongadas, personalizadas e emocionais; já na escola são tratadas como

pertencentes a um grupo, sendo as suas relações transitórias, racionais e impessoais.

Carvalho (2004) enuncia que, quando se convoca a família para a construção de

uma parceria, como estratégia de promoção do sucesso escolar, alguns fatores devem ser

considerados: as relações de poder variáveis, relações de classe, raça, etnia, gênero e idade,

que vão estruturar os agentes das duas instituições; diversidade nos arranjos familiares e a

precariedade materiais e culturais das famílias, e a divisão de trabalho na família, com que

tipo de família, com relação à estruturação, se está tratando.

A autora salienta, ainda, que esta interação não deve se transformar num jogo de

culpas. Geralmente as professoras recorrem à família quando se sentem frustradas e

impotentes – quando os estudantes encontram dificuldades de aprendizagem e/ou de

comportamento. Culpam a família, em relação à ausência dos pais. Porém quando os

estudantes apresentam bom rendimento se vangloriam da tarefa, demonstrando que a

participação dos pais não é condição necessária para a aprendizagem e o sucesso escolar.

Portanto a constituição da interação família/escola será variável, é uma via de mão dupla,

será afetada pela satisfação ou insatisfação dos professores e de familiares e pelo

rendimento do estudante.

As condições favoráveis à participação dos pais na educação formal apontam para

um modelo de família, onde há um adulto, geralmente a mãe, com tempo livre,

conhecimento e uma disposição especial para educar. Modelo que não corresponde às

condições de vida da maioria das famílias pobres, que é o que encontramos na grande parte

do contingente das escolas públicas. Nas famílias de classe média existe um outro

agravante, o ingresso das mulheres em ocupações remuneradas.

Leite (2005) complementa quando afirma que o interesse em participar vem se

expandindo nos últimos anos no Brasil e no mundo, o fato pode ser percebido através da

criação de cada vez mais associações, movimentos, grupos e comunidades, entre outros. E

recorremos a Demo (1993) “ Participação é em essência autopromoção e existe enquanto

conquista processual. Não existe participação suficiente, nem acabada. Participação que

se imagina completa, nisto mesmo começa a regredir” (p.18).

Costa (2005) salienta que o desenvolvimento de atitudes favoráveis ao sucesso

escolar dos filhos depende do amor destinado pelos pais aos seus filhos e ao desejo natural

e irreprimível de que eles tenham sucesso na sala de aula e na vida. O autor vê como uma

iniciativa de educação familiar. E entende como atitudes favoráveis:

‘o conjunto de iniciativas e reações que, por palavras, gestos, olhares, observações, sorrisos, conselhos e outras formas de expressão possibilitem aos pais, tios, avós, padrinhos e amigos fornecer as crianças e adolescentes, elementos capazes de permitir-lhes estabelecer uma relação positiva, harmoniosa e saudável com a escola, através da assimilação profunda de seu significado para a realização do seu querer-ser” (p.2).

A presença da relevância da relação entre a família e a escola no cotidiano do aluno

vem sendo ressaltada desde o inicio do século XX, como foi comprovado em pesquisa

realizada por Faria Filho (1999). Segundo o autor aparece sob diversas formas e em vários

textos uma clara consciência da importância da família na educação. Nos textos aparece

uma constante: a relação entre a família e a escola é, sempre, relacionada às mudanças

sociais em curso, á vida na cidade e a necessidade do concurso de ambas para a formação

do cidadão-trabalhador, higiênico e ordeiro. Para comprovar sua assertiva o autor

apropria-se de um texto de Firmino Costa, sobre o Calendário Escolar:

“A vida social completa está na cidade. A família e a escola são suas partes mais importantes. A cidade há de interessar-se por elas, cooperando em seu desenvolvimento, pois que de outra forma não podem progredir. Onde não houver

famílias bem constituídas, onde não existir escolas bem organizadas, aí não se encontrará a civilização (...)” (em Faria Filho, 1999: 130).

Neste mesmo período é também detectado por Faria Filho (1999) a desconfiança da

sociedade em relação à família, por isso, apesar da valorização da interferência da família,

fica destinado a ela uma ação complementar a da escola e a ela subordinada. Outro

problema concomitante é a falta de interesse dos pais em participar da escola, estes

encontram-se bastante afastados, já que é atribuído à família a falta de competência em bem

educar seus filhos. O que os faz repassar toda a responsabilidade da educação a escola.

Neste contexto a escola assume um papel preponderante na reforma social.

Caetano (2004) enumera a existência de vários aspectos preponderantes na relação

família escola, principalmente de ordem afetiva e moral. Embora a escola ainda não

sustente a posição de substituta da família na função educadora, não lhe cabe assumir uma

postura de resistência e rivalidade nesta interação, baseando em uma possível incapacidade

ou ignorância da família para educar e socializar. Portanto é mister planejar e estabelecer

compromissos e acordos mínimos que levem ao fim deste impasse.

Esta parceria deve substanciar o papel da família no desempenho escolar de seus

filhos e o papel da escola na construção de personalidades autônomas moralmente e

intelectualmente. Macedo (1996) acrescenta “a determinação conjunta em oferecer uma

experiência construtiva, que torne a criança melhor, tanto em relação aos conhecimentos

escolares, quanto aos valore e princípios que nortearão a sua conduta” (p.13).

A escola deve entender que a família coloca filhos na escola e não alunos, mas esta

recebe alunos, dicotomia que pode fazer muita diferença na maneira de ver o tratar o aluno.

Estas duas instituições devem compreender suas diferenças e tentar amenizá-las.

Paro (2000) chama a atenção para a influência da formação intelectual dos pais e as

suas realidades sócio-culturais:

“Quanto à falta de um necessário conhecimento e habilidade dos pais para incentivarem e influenciarem positivamente os filhos a respeito de bons hábitos de estudo e valorização do saber, o que se constata é que os professores, por si, não têm a iniciativa de um trabalho a esse respeito junto aos pais e mães. Mesmo aqueles que mais enfaticamente afirmam constatar um maior reparo dos pais para ajudarem seus filhos em casa se mostram omissos no tocante à orientação que eles poderiam oferecer, especialmente nas reuniões de pais, que é quando há um encontro que se poderia considerar propicio para isso” (p.65).

Podemos, então entender a relevância da parceria das instituições no processo

ensino-aprendizagem.

Moraes & Kude (2005) acredita que as crianças que mantém um bom desempenho

em sala de aula é devido à motivação que vem de casa, na educação delas de casa e na

preocupação dos pais em relação ao seu desempenho. Assim como aqueles que apresentam

fraco desempenho entre outros fatores comportamentais, possuem problemas com os pais.

Além disso, dificilmente alguém da família comparece à escola para saber sobre a vida

escolar do aluno, mesmo quando solicitado.

A autora acrescenta que os alunos considerados de rendimento satisfatório: são de

família que têm consciência da importância do estudo, que têm a noção da real

importância da escola, e por isso incentivam bastante seus filhos.

Moraes & Kude (2005) ressaltam ainda, que há dois tipos de famílias:

“aquelas que demonstram interesse pela vida escolar de seus filhos e filhas, integrando-se ao processo educacional e participando ativamente das atividades da escola, sempre que possível, e aquelas que consideram que sua participação é dispensável ou inadequada e preferem simplesmente omitir-se ao processo escolar” (p.23).

A escola deve se aproveitar de todas as oportunidades de contatos com os pais para

passar informações relevantes sobre seus objetivos, recursos, problemas e também sobre as

questões pedagógicas. Pois fica difícil para os pais tão distantes da realidade escolar

entender novos métodos e estratégias pedagógicas. E ainda há uma dificuldade por parte de

alguns professores de manterem um dialogo com os pais. Como reafirma Paro (2000):

Parece haver, por um lado, uma incapacidade de compreensão por parte dos pais a

respeito daquilo que é transmitido pela escola. Por “outro lado, há uma falta de

habilidade dos professores em promover essa comunicação” (p.38).

O que acontece normalmente, como salienta Macedo (1996) é que “uma ou duas

vezes por semestre, os pais são convocados para reuniões (...) e resume-se nisso, quase

sempre, as relações família/escola. No mais os pais mantém-se bastante afastados dos

acontecimentos da esfera escolar” (p.35).

É necessário se ter em mente que há um conflito histórico de fronteiras entre as

instituições família e escola, cujas funções educativas algumas vezes se confundem e se

sobrepõem. Aquino (2002) acrescenta que são instituições vizinhas, mas bastantes díspares

em suas práticas.

Na atualidade existem várias associações que facilitam a intercessão entre a escola e

a família, as Associações de Pais e Mestres – APM, as Associações de Amigos da Escola -

AAE, e nas escolas públicas a Associação de Apoio a Escola – AAE. Estas associações,

dependendo da escola, podem assumir outros nomes, mas o que é fato, segundo Paro

(2000) é que elas crescem rapidamente de número. O importante é que elas estão aí para

fomentar a participação cada vez maior e para proporcionar um melhor espaço para atuação

dos pais e responsáveis diretamente nas atividades escolares, sabendo, obviamente,

resguardar os seus limites.

Mendonça (em Domingos, 2005) corrobora:

“Apesar de ser um fato que a influência das famílias é fator determinante no aprendizado das crianças, é também uma necessidade da escola reconhecer que um grande número de famílias não tem condições objetivas de acompanhamento das crianças escolarizadas”.

O autor ressalta que para crianças em fase de desenvolvimento ou até mesmo na

adolescência a participação dos pais no dia-a-dia da escola faz muita diferença. Porém se a

família não consegue oferecer um acompanhamento de boas condições é papel da escola

preencher esta lacuna. E afirma: ” ao mesmo tempo em que a gente reconhece a influência

dos pais, da escolaridade dos pais, o ambiente cultural onde a criança está imersa, é

necessário reconhecer que a escola precisa se estruturar por si mesma na aprendizagem.

Bencini (2005) levanta algumas sugestões de como melhorar a relação entre a

família e a escola. A autora enuncia que a discussão deve avançar na busca de melhores

oportunidades de que esta relação ocorra de maneira positiva, trazendo benefícios. E chama

a atenção para a dedicação sobre a reflexão de algumas idéias preconcebidas, que dever ser

revistas:

• Perceba a construção da família atual e não mistifique o modelo do passado

como ideal

• Tenha claro que é direito dos responsáveis pelos estudantes opinar, fazer

sugestões e participar de decisões sobre questões administrativas e

pedagógicas da escola. “A educação é um serviço público, e o pai, um

cidadão que deve acompanhar e trabalhar pela melhoria da qualidade

ensino”, afirma a consultora pedagógica Raquel Volpato (em Bencini,

2003).

• Apóie a Associação de Pais e Mestres, para que ela não se restrinja a

apenas arrecadar dinheiro. Não dá para contar com os pais apenas na

organização de festas.

• Para que as reuniões tenham quorum, é preciso ter objetivos bem definidos

e conhecer as famílias e a comunidade em que a escola está inserida.

Planejamento é essencial. “A reunião não pode ser vista como uma

prestação de contas” diz a pedagoga Márcia Argenti Perez (em Bencini,

2003).

• Reflita sobre os preconceitos e as discriminações existentes na escola. Não é

necessariamente o grau de instrução do pai e da mãe que motiva uma

criança ou um adolescente a estudar, mas o interesse em participar de suas

lições de casa e da vida escolar. “Como muitos pais têm um histórico de

exclusão e fracasso escolar, existe medo e vergonha de trocar idéias e

conversar com educadores” afirma Márcia.

• Não parta do principio de que a família precisa ser ajudada pela escola e

sim de que a escola precisa dela.

• Todo diretor tem que dar conta da participação familiar e para isso a

gestão não pode ser autoritária.

A reunião de pais pode ser considerada um importante instrumento de aproximação

entre a família e a escola. Porém não é o único, nem tão pouco o mais importante dos

instrumentos, mas pode ser fundamental, para que haja um maior entrosamento entre os

membros da escola e os pais, em busca de um objetivo comum, as dificuldades, desafios e

soluções da educação. Esta relação, alem dos supostos ideais comuns, envolvem

expectativas recíprocas.

As reuniões são uma excelente oportunidade de divulgação pela escola de seu

projeto de educação, e dos pais de opinarem a respeito. Um projeto educacional não é só da

escola, é dos pais É o melhor momento para que pais e mestres possam assumir uma

parceria. Porém é mais gratificante que outros membros da equipe pedagógica, que não os

professores somente, participem das reuniões – coordenador, orientador ou a própria

direção.

Mas diante da vida conturbada que a maioria dos pais são obrigados a manter, atraí-

los para a escola não é uma tarefa das mais fáceis. Macedo (1996) sugere, que o melhor

caminho é promover projeto com os alunos que envolvam os pais. O autor elucida que os

pais são atraídos para a escola quando percebem que têm voz ativa, que são ouvidos pela

equipe, que suas queixas e dicas têm retorno.

A reunião de pais sozinha não faz a qualidade da relação entre a família e a escola,

há outros artifícios. Porém, em pesquisa divulgada na Folha de São Paulo em 01/08/2004,

elucida-se que filhos de pais que costumam freqüentar reunião de pais, apresentam

rendimento escolar em torno de 62% enquanto os filhos de pais que quase nunca vão as

reuniões a porcentagem cai para 48%.

É uma parceria entre instituições com fins distintos. Para que a parceria seja eficaz,

ambas devem reconhecer suas características e seus papéis e tentar descobrir possíveis

pontes para um bom relacionamento. Esta relação precisa ser analisada sob vários pontos, o

cultural é de suma importância, implica em visões de mundo diferenciadas, tanto em

relação aos valores, quanto a realidade econômica.

A parceria entre família e escola, pais e professores, também comportam tensões e

conflitos, ressalta Carvalho (2004). Algumas famílias participam mais do que outras, se as

professoras requisitam ajuda dos pais, em contrapartida se ressentem quando estes

interferem no seu trabalho pedagógico, na sua autoridade profissional.

Na instituição escolar, algumas vezes, existem profissionais responsáveis por

fomentar a relação entre a família e a escola – o orientador educacional – profissional da

equipe de gestão. Ele trabalha diretamente com os alunos, ajudando em seu

desenvolvimento pessoal e com os professores para compreender o comportamento dos

estudantes, alem de interagir com os pais, ouvindo-os e dialogando com eles em busca de

uma maneira adequada de relacionar-se com os alunos. Segundo Paura (2005) o

compromisso do orientador educacional é com a formação permanente no que diz respeito

a valores, atitudes, emoções e sentimentos, sempre discutindo, analisando e criticando.

Outro fator que estimula a participação da família ou até mesmo da comunidade na

escola é a abertura das escolas públicas, para eventos culturais, nos finais de semana. Marta

Porto, diretora regional da UNESCO em entrevista ao jornal do Brasil de 28/01/2001,

enuncia que o amadurecimento de uma sociedade pode se expressar pela forma como sua

população participa da escola e acrescenta que, hoje, o governo tem plena clareza, que é

necessário que a sociedade participe do processo educacional. A diretora acredita que o

projeto de abrir a escola para a comunidade abre também a comunidade para a escola e

possibilita que professores repensem a função da educação e da escola.

Um outro instrumento de ponderável importância na inserção de pais na escola

como co-responsáveis do projeto educacional são as associações de pais. Para Milheiro

(2005) os pais podem e devem intervir, desde que de forma construtiva, nos diversos

aspectos da escola que estejam relacionados a educação de seus filhos e ao funcionamento

da escola. E confirma que esta intervenção não precisa necessariamente ser através de

associações, embora estas sejam uma organização representativa. Para o autor, que é

conselheiro de uma associação de pais, há algumas ações desenvolvidas na escola, como

identificação e resoluções de problemas referentes ao bom funcionamento da escola, que

podem ser interferidos pelos pais ou por seus representantes, como por exemplo:

substituição de professores, qualidade das instalações, equipamento e material escolar,

horários escolares, segurança e qualidade da merenda entre outros.

Leite (2005) sugere como mecanismo de mobilização de pais a “escola de pais”,

mecanismo que vivenciou em sua pesquisa. A escola de pais tem como objetivo facilitar o

acesso dos pais aos problemas relacionados à educação de um modo geral, isto é, tratar de

assuntos relacionados à educação das crianças, adolescentes e jovens, na busca de uma

melhor comunicação e um melhor relacionamento entre as diferentes gerações. Alguns

assuntos a serem discutidos de interesse mútuo, por pais e filhos podem ser a sexualidade,

relacionamentos, drogas, aborto, entre outros.

A autora, ainda, discutindo a participação da família na escola pública detectou

algumas discrepâncias entre o discurso da participação da família na escola e a realidade

vivenciada. E enumerou alguns condicionantes que relacionados ao problema:

• A falta de tempo da família em participar de reuniões e festas programadas pela escola, já que a maioria dos pais trabalham em horário integral

• Convocações para reuniões bimestrais, enviadas na última hora • Reuniões sem uma prévia programação e planejamento • Reunião utilizada apenas como “puxão de orelha aos pais” procurando-se o culpado pelo fracasso

e pela indisciplina do aluno • Reunião apenas para prestação de contas e fins lucrativos • Falta de comunicação entre pais e professores, já que muitas vezes as reuniões com os pais são

realizadas fora do horário do professor, ficando a reunião sob responsabilidade de outrem • Comodismo das famílias que não querem mais um compromisso

Entre os possíveis condicionantes há um de suma importância, que é a falta de

conscientização dos pais sobre a importância da sua participação na escola e a sua

contribuição para o trabalho de tantos profissionais envolvidos no processo ensino-

aprendizagem. Mas em contrapartida também existem muitos professores que ainda não

acreditam na contribuição da participação dos pais, acreditando que a efetiva participação

acarretaria mais problemas e muito mais trabalho.

Demo (1993) ressalta que a falta de compromisso em participar e interagir dentro da

escola e acrescenta:

“É um traço profundamente negativo o fato de a população não se sentir compromissada com suas próprias soluções, atirando-as sobre o governo, por exemplo. A escola não é reconhecida como interesse próprio, como direito fundamental, mas tão somente como dever do Estado” (p.68).

Podemos constatar com a contribuição de Demo (1993) que não se pode desvincular

a participação da família na escola da questão política social, pois a participação tem como

condicionante a própria história da sociedade brasileira, que se acomoda, invariavelmente,

com o poder e controle vindo de cima. E, como afirma o autor à participação é o eixo

principal para que se alcance uma sociedade democrática. Diante desta constatação

sentimos a necessidade de tecermos alguns comentários sobre a categoria Gestão

Democrática.

A gestão democrática apesar de estar intimamente relacionada à administração

escolar por suas teorias, demanda de uma forma ou de outra a participação da família, que

faz parte da comunidade, nos seus processos. Mesmo entendendo a gestão democrática

como uma proposta de democratizar a esfera da administração escolar, é fundamental que

atinja a todas as esferas da escola e chegue a sala de aula, afirma Bastos (1999), deve

funcionar como uma perfeita engrenagem, fruto de um processo interativo.

A gestão democrática faz parte de um processo coletivo e totalizante, cujo requisito

principal é a participação de todos. O princípio da gestão democrática já aparece sacramentado na Constituição de 1988

em seu Artigo 206, inciso VI, o que denota a sua importância. E vem a ser ratificado pela

Lei 9394/96, no Artigo 3º inciso VIII, e no Artigo 14. Neste Artigo é destacada a

participação das comunidades escolar e local em Conselhos Escolares ou equivalentes,

assim como dos profissionais da educação, na elaboração do projeto pedagógico da escola.

Portanto a gestão da escola como um trabalho coletivo em busca da qualidade e

democratização da educação, é também conseqüentemente uma contribuição escola para a

democratização da sociedade.

Conclusão

Na contemporaneidade torna-se imprescindível a interação da escola com a família

de modo a gerar uma colaboração qualitativa no desenvolvimento do processo

ensino/aprendizagem. E o objetivo maior deste trabalho e levantar as reflexões sobre os

benefícios desta parceria.

Conte (1996) reitera a hipótese do trabalho, quando observou em seus dados de

pesquisa que a auto-estima e a competência tem origem no relacionamento de pais e filhos.

Em pesquisa realizada pelo Instituto nacional de Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira, do Ministério da Educação – Inep/MEC – ficou comprovado que fatores externos

à vida escolar influenciam diretamente ao desempenho do aluno em sala de aula. Além dos

dados do questionário sócio-economico aplicados junto às provas do Sistema de Avaliação

da Educação Básica – SAEB/2003 que demonstraram que 36,8% dos estudantes com mães

que nunca estudaram, tiveram resultados muito críticos nos exames, enquanto 10,5 % dos

alunos que tinham mães com ensino superior completo obtiveram resultados negativos.

Portanto reforça a hipótese deste trabalho, quanto à veracidade da família ser fator

determinante no aprendizado das crianças, entendendo que ela é o núcleo central da

aprendizagem sócio-afetiva. Lembrando, ainda, que há uma necessidade da escola

reconhecer que um grande número de famílias não tem condições objetivas de

acompanhamento das crianças escolarizadas, ficando somente a escola encarregada de

preencher esta lacuna.

Também ficou comprovado através do SAEB de 1999, que nas escolas que contam

com a parceria dos pais, onde há uma intercessão com os professores e com diretores, os

alunos aprendem melhor.

Bencini (2005) compara também com os índices da pesquisa realizada pelo Instituto

La Fabbrica do Brasil, parceria do Ministério da Educação, que ouviu mais de100 pais e

educadores da rede pública e privada de todo o país e constatou que 13% das escolas

públicas mantêm um relacionamento próximo da família. Porém 43,7% dos pais de alunos

da rede pública acreditam, que se fossem promovidos mais encontros e palestras

interessantes, haveria maior integração com a escola.

Em pesquisa realizada por Moraes e Kude (2005) também ficou evidente que alunos

que as famílias não se envolvem nas suas vidas escolares estão constantemente sem

motivação e, na maioria das vezes, possuem baixo rendimento, o que indica, segundo as

autoras, uma associação direta entre o envolvimento da família e o desempenho do aluno na

escola. O que reforça a idéia de fomentar a interação da família e da escola para o beneficio

do desempenho escolar dos alunos.

Como observamos anteriormente, a família sofreu e sofre intensas modificações no

decorrer do tempo e também a escola, em relação ao direcionamento de suas atribuições.

Faz-se então necessário uma maior reflexão a respeito do lugar ocupado por estas

instituições na formação das novas gerações e na possibilidade de um efetivo diálogo entre

a escola e a família.

Historicamente, no que tange à relação da família com a escola, poderíamos partir

de uma fase em que a primeira confiava plenamente na segunda, estabelecendo até uma

certa cumplicidade, para uma outra fase em que a família passa de um lado a criticar a

escola e de outro, contraditoriamente, a transferir suas responsabilidades para a mesma.

Apesar da valorização da interação família/escola, deve ficar claro que cada uma

das instituições deve ter a sua função, devem ser vistas como instituições cooperantes e não

concorrentes, próximas, mas separadas, por isso chamadas à interação. O serviço público,

em geral, vem colocando uma ênfase maior na escuta das queixas da família ou de alguns

de seus membros.

Entretanto, para que ocorra uma efetiva participação da família na escola é

necessário construir estratégias. E a sugerida por Faria Filho (1999) é a de utilizar o próprio

aluno como intermediário. Idéia compartilhada por Perrenoud (1987), usa-se o aluno como

eixo articulador, o que o autor designa como go-between, isto é, “o aluno como mensageiro

e mensagem na relação escola e família”.

Portanto, não se pode deixar de reconhecer que a família independente do modelo

como se apresente, pode ser um espaço de afetividade e segurança, mas também de medos

e incertezas, rejeições e preconceitos e até de violência. O que sustenta a hipótese de que

devemos conhecer o mais profundamente possível os alunos com que lidamos.

Caetano (2004) acrescenta que essa parceria deve ser construída através de uma

intervenção planejada e consciente. A escola deve criar espaços de reflexões e estabelecer a

aproximação entre as duas instituições. Aquino (2002) chama de “educar a quatro mãos”.

O que pudemos observar é que escola e família constituem organismos intrínsecos.

Dessa forma, cabe a toda a sociedade, não só aos setores ligados à educação, transformar

através das pequenas ações o cotidiano da escola e da família, para que esta compreenda a

importância dos objetivos traçados pela escola, assim como o seu lugar como co-

responsável neste processo.

A escola e a família precisam conciliar-se ainda para compreender o movimento do

jovem, para decidirem juntas como ajudá-los nos diversos dilemas que atravessam, para

orientá-los quanto as suas novas opções de vida e o que elas possam vir a acarretar, para lhe

mostrar seu papel social, seu poder de transformar a si mesmo e aquilo que estiver a seu

alcance. Informações formais, como notas, faltas, horários, compromissos, disciplina,

podem ser passadas através por cadernetas.

O objetivo não é apenas que professores ensinem e que alunos aprendam, mas que

toda a comunidade educativa – professores, pais e alunos – participem de uma nova relação

entre a família e a escola – uma “comunidade de aprendizagem” (Aquino, 2002).

Esta complementaridade entre família e escola só poderá funcionar bem se os pais e

professores partilharem a responsabilidade sobre a educação a dar a criança ou jovem.

A escola cumpriu algumas de suas promessas, em particular de acolher a todas as

crianças. Mas quantas não foram cumpridas?

Na tentativa de responder a este questionamento recorremos a Ramos (2001):

“Junto com a determinação política da melhoria da qualidade do ensino é necessário um movimento social com a comunidade para fortalecer a escola, buscando participação nas suas diretrizes, recriando sua ação pedagógica. Neste movimento a participação dos pais é fundamental”.

Para Leite (2005) a parceria entre a família só acontece na realidade quando a

família cria um espaço de necessidades de sua presença na escola e com isso criam uma

parceria, dando um novo significado ao processo ensino-aprendizagem. E acrescenta

enumerando algumas orientações básicas para uma boa participação dos pais:

• Agendar no calendário escolar todas as reuniões do ano • Indicar um horário compatível com os pais • Cada professor deverá entregar com antecedência uma pauta dos assuntos a serem

tratados nas reuniões • Enviar um lembrete aos pais com 15 dias e depois reforçar co 24 horas de antecedência • Aproveitar as reuniões para valorizar o aluno • Criar um clima agradável onde os pais se sintam a vontade para questionar, propor

sugestões • As reuniões não devem se estender-se por mais que uma hora, dependendo é claro do

interesse das pessoas no que está sendo tratado e discutido

• A reunião não deve tratar somente de temas referentes à criança (como nota e comportamento), deve-se aproveitar esse momento para uma maior integração entre os pais e os professores.

E para concluir, evocamos Piaget (2000):

“Uma ligação estreita e continuada entre os professores e os pais leva, pois a muita coisa mais que a uma informação mútua: este intercambio acaba resultando em ajuda recíproca e, freqüentemente, em aperfeiçoamento real dos métodos. Ao aproximar a escola da vida ou das preocupações profissionais dos pais, e ao proporcionar, reciprocamente, aos pais um interesse pelas coisas da escola, chega-se até mesmo a uma divisão de responsabilidades” ( p.50).

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