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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA A RELAÇÃO ENTRE AS EMOÇÕES E O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA IMUNOLÓGICO. JUCEMARA GERVASIO Itajaí, (SC) 2009

A RELAÇÃO ENTRE AS EMOÇÕES E O ...siaibib01.univali.br/pdf/Jucemara Gervasio.pdf5 A RELAÇÃO ENTRE AS EMOÇÕES E O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA IMUNOLÓGICO. Orientador: Eduardo

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

A RELAÇÃO ENTRE AS EMOÇÕES E O FUNCIONAMENTO DO

SISTEMA IMUNOLÓGICO.

JUCEMARA GERVASIO

Itajaí, (SC) 2009

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JUCEMARA GERVASIO

A RELAÇÃO ENTRE AS EMOÇÕES E O FUNCIONAMENTO DO

SISTEMA IMUNOLÓGICO.

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientador: Prof. Dr. Eduardo José Legal.

Itajaí SC, 2009.

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Dedicatória

Dedico este trabalho à minha sobrinha Caroline,

que trouxe alegria e esperança para minha vida.

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AGRADECIMENTOS

A toda minha família que, com muito carinho e dedicação, não mediram esforços para que

eu chegasse até esta etapa de minha vida.

Ao professor e orientador Eduardo José Legal por seu apoio e incentivo que tornaram

possível a conclusão desta monografia.

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SUMARIO

RESUMO ................................................................................................................ 6

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................7

2 EMBASAMENTO TEÓRICO ............................................................................. 11

2.1 As relações entre saúde, doença e comportamento ................................... 11

2.2 Sistema Imunológico ................................................................................... 14

2.2.1 Células do sistema imune ........................................................................ 16

2.2.2 Fisiologia do sistema imune ..................................................................... 19

2.2.2.1 Fases da resposta imunológica .............................................................. 20

2.3 As relações entre sistema imune, endócrino e nervoso ............................... 22

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS ...................................................................... 25

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................ 27

4.1 Stress .......................................................................................................... 27

4.2 Depressão ................................................................................................... 33

4.3 Ansiedade ................................................................................................... 36

4.4 Emoções positivas ...................................................................................... 38

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 40

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 42

7 APÊNDICES ..................................................................................................... 45

7.1 Apêndice 1 .................................................................................................... 45

7.2 Apêndice 2 ......................................................................................................50

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A RELAÇÃO ENTRE AS EMOÇÕES E O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA IMUNOLÓGICO.

Orientador: Eduardo José Legal. Defesa: Novembro de 2009.

Resumo: Emoções e sistema imune foram os dois eixos norteadores desta pesquisa. Este trabalho teve por intuito investigar na literatura especializada a relação existente entre as emoções (e sua mediação pelo sistema nervoso) e as respostas neurofisiológicas que são desencadeadas em todo o organismo através desta experiência, com foco principal apontado para sua influência no funcionamento do sistema imune. Em razão da grande importância da relação entre estes dois sistemas, a psiconeuroimunologia tornou-se uma área crescente da pesquisa em neurociências e tem apontado a influência das emoções no surgimento, manutenção ou imunidade e melhora das doenças. O estudo caracteriza-se como uma revisão bibliográfica, baseado no levantamento da literatura especializada, a qual foi buscada em bases de dados, bibliotecas universitárias e particulares, livros, artigos, teses, dissertações e monografias produzidas no Brasil sobre o tema. Após a recuperação, seleção, leitura e análise dos estudos foram apresentadas as principais descobertas, teorias e hipóteses desta relação (emoções x sistema imune). Os resultados obtidos confirmaram a relação entre as emoções e o funcionamento do sistema imunológico, o que nos levou a concluir o quanto é importante para o profissional psicólogo se apropriar deste conhecimento para incrementar suas práticas tanto no nível de tratamento e prevenção, quanto de promoção da saúde. PALAVRAS-CHAVE: Emoções; Sistema Imune; Psiconeuroimunologia SUB-ÁREA DE CONCENTRAÇÃO (CNPQ):

Membros da Banca ______________________________________ Prof. Dr. Telmo José Mezadri

______________________________________ Prof. Dr. Márcia Ghisi Mezadri

___________________________________ Prof. Dr. Eduardo José Legal (Orientador)

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1 INTRODUÇÃO

Não há um consenso sobre o que são as emoções. Como relata Ledoux

(1996), elas podem ser interpretadas como reações físicas que se desenvolveram

com finalidades de adaptação durante nossa história evolutiva; podem também ser

considerados estados mentais decorrentes das respostas corporais processadas

pelo cérebro; ou ainda, que sejam reações neuroquímicas e o que realmente é

importante se processam no interior do cérebro, sendo as reações físicas apenas

sua manifestação.

Psicólogos e filósofos discutem a mais de um século sobre o significado

específico do termo emoção, que pode manifestar-se como sendo um sentimento,

que implica em pensamentos distintos, estados psicológicos e biológicos e que

resultam em diferentes ações (GOLEMAN; 1995).

Todas as emoções são, em essência, impulsos para agir, planos

instantâneos para lidar com a vida que a evolução nos infundiu. A própria

raiz da palavra emoção é movere, “mover” em latim, mais o prefixo “e”,

para denotar “afastar-se”, indicando que uma tendência está implícita em

toda emoção (p. 20).

Contudo, de modo geral, podemos afirmar que as emoções são padrões de

respostas fisiológicas e de comportamentos específicos da espécie, em resposta a

um evento (situação) que a desencadeia. A resposta emocional pode ser dividida

didaticamente em três componentes: comportamental, autonômico e hormonal

(CARLSON, 2002).

O componente comportamental consiste nas ações musculares apropriadas

à situação que estamos vivenciando (afastamento ou aproximação). A excitação

ou relaxamento de órgãos dos sentidos, vísceras e músculos são modulados pelo

sistema nervoso autônomo, que é o componente autonômico. Por fim, os vários

hormônios que são liberados pelas glândulas e que atuam sobre o tecido

muscular, cérebro e outros órgãos compõem a resposta hormonal das emoções.

7

De fato, ao expressarmos uma emoção, apresentamos alterações

fisiológicas na freqüência cardíaca, na pressão sangüínea e nas secreções

hormonais, além de reações faciais (expressões) que comunicam nosso estado

motivacional para os outros (CARLSON, 2002; KOLB; WISHAW, 2002; LEGAL,

1996).

Podemos atribuir três grandes utilidades para as emoções: a primeira delas

seria a sobrevivência do indivíduo em um caso de vida ou morte, em que as

emoções geram comportamentos para lutar ou fugir; a segunda envolve os

comportamentos emocionais adequados para a reprodução e a garantia da

sobrevivência da espécie; e finalmente, a expressão emocional como forma de

comunicação social, que adquiriu grande importância para os seres humanos, pois

seu repertório comportamental, que abrange as necessidades atuais da espécie,

ultrapassa o estreito vínculo com as atividades de sobrevivência (LENT, 2002).

Apesar de algumas diferenças (RUSSELL, 1991,1995 apud MYERS, 1999),

culturas e linguagens partilham muitas semelhanças na maneira como

categorizam emoções – raiva, medo e assim por diante. Os indicadores

fisiológicos da emoção também cruzam as fronteiras culturais (LEVENSON et al.,

1992 e MESQUITA; FRIJDA, 1992 apud MYERS, 1999). Em diferentes culturas

podemos observar expressões faciais universais para as emoções básicas, a

diferença está em como e quanto essas emoções são expressas.

As ações desencadeadas pelas emoções são mais facilmente observadas

em crianças e animais, porém os adultos “civilizados” normalmente apresentam

reações divorciadas dos impulsos provocados por determinadas emoções

(LEDOUX, 1996).

Em ação, as emoções tornam-se importantes fatores de motivação para

atitudes futuras, pois irão definir o rumo de cada ação e dar a partida nas

realizações de longo prazo. Mas nossas emoções também podem nos trazer

problemas. A saúde mental está intrinsecamente ligada ao quanto e ao que

fazemos para nos sentirmos bem emocionalmente (higiene emocional) e, em sua

maioria, os problemas emocionais acabam refletindo o colapso da organização

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emocional, que pode ter conseqüências tanto úteis quanto patológicas (LEDOUX,

1996).

Sobre a dimensão psicológica, Ballone (2001 apud ALVES et al., 2005)

comenta que as motivações causadas pelas emoções têm origem impulsiva, e

controlam as condutas humanas. Nesse sentido, são consideradas, de um ponto

de vista geral, como provindas de substratos biológicos causando influências

sobre a saúde e a doença através de suas propriedades psicofisiológicas.

Emoções estas que podem ter vários sentidos para o corpo e são classificadas a

priori, como sendo agradáveis ou desagradáveis. Entre elas podemos citar a

alegria, medo, ansiedade, raiva, etc.

O único elemento comum entre as diferentes emoções é o reforço, isto é,

um estímulo positivo (prazeroso) ou negativo (desagradável) que resulta na

motivação por prolongar ou interromper a experiência emocional (LENT, 2004).

Algumas emoções como a raiva e a melancolia (ambas presentes no

estresse) podem estar associadas a vários transtornos de ordem psicofisiológicas,

como por exemplo, hipertensão e transtornos cardiovasculares (TENNANT, 2001;

WILLIAMS et al., 2000), cefaléias, asma, síndrome pré-menstrual, doenças

dermatológicas, transtornos digestivos e de alimentação, debilidade do sistema

imunológico e tantos outros distúrbios (BALLONE, 2001 apud ALVES et al., 2005).

É importante observar que ao reprimirmos as emoções podemos causar danos

profundos aos tecidos, uma vez que a repressão contínua das mesmas gera

desequilíbrio homeostático, que eleva o estresse até que todo o sistema esteja

comprometido, tanto física quanto psiquicamente (BALLONE; PEREIRA NETO;

ORTOLANI, 2001).

Os estímulos disparadores das emoções estão relacionados às respostas

autonômicas e comportamentais que ocorrem logo no início de uma emoção e

recebem o nome de respostas emocionais imediatas. Quando as respostas

emocionais tornam-se crônicas, seja porque os estímulos disparadores

permanecem ou porque o indivíduo apresenta um distúrbio afetivo, ocorrem as

respostas prolongadas, geralmente mantidas com o envolvimento de hormônios e

do sistema imunitário, causando também ansiedade e estresse (LENT, 2004).

9

Segundo Ballone, Pereira Neto e Ortolani (2002, p.205),

[...] o estresse, seja ele de natureza física, psicológica ou social, é um

termo que compreende um conjunto de reações fisiológicas, as quais,

quando exageradas em intensidade e duração, acabam por causar

desequilíbrio no organismo, freqüentemente com efeitos danosos.

Por serem as emoções negativas mais conhecidas que as positivas (LENT,

2004; MYERS, 1999), seus mecanismos neurais também se tornam mais

conhecidos. A amígdala, estrutura localizada no lobo temporal desempenha o

papel de principal estrutura controladora das emoções (negativas). Por meio de

suas conexões com o córtex e tálamo essa estrutura recebe informações

sensoriais e tem a função de filtrar e avaliar a natureza dessas emoções. Em

seguida, a amígdala comanda as regiões responsáveis pelos comportamentos e

ajustes fisiológicos adequados (no hipotálamo e no tronco encefálico).

As emoções positivas ainda não possuem uma base neural segura; por

serem pouco conhecidas suas definições encontram-se ainda no âmbito

experimental.

Em termos de definições operacionais, Kolb e Wishaw (2002) ressaltam que

primeiramente devemos especificar os tipos de comportamentos apresentados em

uma determinada emoção, para em seguida explorar o controle neural da mesma.

Diferentes comportamentos sugerem a influência de diferentes sistemas neurais.

O hipotálamo e estruturas associadas estão relacionados à resposta autônoma; a

amígdala e algumas regiões dos lobos frontais estão relacionadas aos

sentimentos; as cognições (pensamentos ou planos relacionados à experiência)

devem ser controladas no nível cortical.

A junção de todas estas peças pode lançar luz sobre o funcionamento das

emoções e sua complexa relação com os demais processos psicológicos básicos,

incluindo suas bases neurais. Este conhecimento, por sua vez, pode também

gerar novos recursos para que o psicólogo e o neuropsicólogo possam

desenvolver novas estratégias de intervenção nos mais diversos cenários de

atuação, além de permitir compreender a relação entre o comportamento

10

emocional e outros estados fisiológicos que acompanham as doenças de modo

geral.

Embora os estudos sobre a ligação entre os fatores psicológicos e as

doenças pareçam bastante adiantados, muitas respostas ainda não são

conhecidas (SARDÁ; LEGAL; JABLONSKI, 2004).

O levantamento das publicações realizadas recentemente dará uma noção

ainda mais ampliada do quanto às respostas emocionais crônicas mantidas com o

envolvimento de hormônios do sistema imunitário contribuem de maneira cada vez

mais evidente para o surgimento de doenças (LENT, 2004).

Esta pesquisa é relevante do ponto de vista social, porque através de seus

resultados será possível uma reflexão mais aprimorada acerca do processo

saúde/doença, com o intuito de repensar os aspectos psicossociais como o

controle do estresse, as estratégias de enfrentamento, o apoio social, e os hábitos

e estilos de vida que podem estar associados a este processo. Visando também a

redução do impacto econômico, social e pessoal das doenças.

Deste modo, o objetivo deste trabalho foi investigar na literatura

especializada as relações entre os estados emocionais e a função imunológica.

Para tanto, foram levantadas em bases de dados, bibliotecas universitárias e

particulares, livros, artigos, teses, dissertações e monografias versando sobre as

relações entre emoções e o funcionamento do sistema imune. Dentre estes

materiais encontrados foram selecionados aqueles que versavam especificamente

sobre definições operacionais de emoções, biologia das emoções e do

comportamento emocional, funcionamento e regulação do sistema imune,

relações entre estados emocionais e sistema imunológico. Sobre este material se

conduziu uma análise na tentativa de se identificar como se dão as relações entre

as emoções e a regulação do sistema imune.

11

2 EMBASAMENTO TEÓRICO

2.1 As relações entre saúde, doença e comportamento .

Desde os tempos de Hipócrates já existia uma crença de que os fatores

psicológicos influenciam a expressão dos sintomas físicos e de que podem afetar

o curso das doenças, sendo esta uma suposição básica na prática da medicina da

época (STOUDEMIRE; HALES, 2000).

Muitas denominações foram dadas à este campo de estudo. Inicialmente,

pelo início dos anos 30 do século XX, foi chamada de medicina psicossomática ou

ainda de medicina mente-corpo (STOUDEMIRE; HALES, 2000; STRAUB, 2005).

Estas denominações implicavam em um conhecimento predominantemente

médico, porém, na década de 70 e 80 o campo passa a ser denominado também

de psiconeuroendocrinoimunologia e psiconeuroimunologia (KIELCOLT-GLASER;

GLASER, 1997; SARDÁ, LEGAL; JABLONSKI, 2004).

A medicina psicossomática estuda a inter-relação entre os aspectos

psicológicos e fisiológicos do funcionamento normal e anormal do corpo. Suas

principais tendências derivam das três grandes áreas de teoria e da investigação

científica: psicanálise, psicofisiologia e psicobiologia (LIPOWSKI apud

STOUDEMIRE; HALES, 2000).

Atualmente considera-se que a relação entre fatores psicológicos e as

condições médicas é complexa e pode ser afetada globalmente por numerosas

variáveis biológicas e psicossociais. Deste modo, torna-se difícil pensar em uma

atividade ou comportamento que não influencie a saúde de alguma forma, de

maneira direta ou indireta, imediatamente ou a longo prazo, seja para melhor ou

para pior (STRAUB, 2005).

De acordo com Vasconcellos (2001), alinhada com este pensamento

encontra-se a perspectiva biopsicossocial, que ressalta as múltiplas influências

entre os contextos biológicos, psicológicos e sociais da saúde, e está

fundamentada na teoria sistêmica do comportamento. Nesta teoria, a saúde assim

12

como toda a natureza é melhor compreendida como uma hierarquia de sistemas,

em que cada uma deles é simultaneamente composto por subsistemas e por uma

parte de sistemas maiores e mais abrangentes, os quais, per se, são sistemas

vivos e como tal, exercem e recebem influência dos outros sistemas com os quais

interagem.

Aplicada ao ser humano, cada um de nós é um sistema, um corpo formado

por sistemas em interação, como o sistema endócrino, o cardiovascular, o nervoso

e o imunológico. Quando aplicada à saúde, essa abordagem destaca uma questão

fundamental: um sistema qualquer, em determinado nível, é afetado por sistemas

em outros níveis e também os afeta. Como exemplo, podemos citar o sistema

imunológico que enfraquecido afeta órgãos específicos no corpo de uma pessoa,

o que, por sua vez, afeta a saúde geral, e, dessa maneira, os relacionamentos

dessa pessoa com sua família e seus amigos (STRAUB, 2005).

A queda da defesa imunológica pode estar associada a quaisquer tipos de

ações estressantes. Exemplificando: a perda de emprego, eventos existenciais

decorrentes de situações de perda, sentimentos de rejeição, rupturas de

casamentos, baixa auto-estima, reprovação em concursos, ansiedade diante de

provas, dificuldade de adaptação e ainda outras condições existenciais nocivas.

Todos são eventos que poderão levar o indivíduo que as sofre a uma queda de

sua defesa imunológica, e desenvolver quaisquer doenças oriundas de tais

situações clínicas (MOREIRA, 2003).

Os eventos, independentes de sua origem psicológica ou emocional, ou

orgânica e física, irão desencadear, no organismo, as mesmas reações, os

mesmos fenômenos médicos de natureza funcional ou orgânica (MOREIRA, 2003;

PELLETIER, 1996). De acordo com o mesmo autor, fica evidente que as

agressões à personalidade, assim como as suas defesas, sejam elas somáticas

ou psíquicas, orgânicas ou emocionais, são, em essência, de mesma natureza.

Ainda de acordo com o mesmo autor, amor familiar, apoio psicossocial, elevada

auto-estima, fé religiosa e alegria de viver são consideradas estimulantes naturais

para o bom funcionamento do sistema imunológico, que servirá como defesa

contra eventos nocivos. Para indivíduos sem estas características os eventos

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estressantes poderão representar situações de risco à manutenção da saúde.

Desta forma o mesmo estressor que acometeu a todos igualmente, pode causar

maiores prejuízos aos que estiverem mais vulneráveis aos seus efeitos.

O modo como as pessoas lidam com o estresse ou ainda o conjunto de

estratégias utilizadas para isso, são conhecidas tecnicamente como coping (ou

sua tradução, não tão bem adaptada: enfrentamento). Estas estratégias são

utilizadas pelas pessoas para adaptarem-se às circunstâncias adversas. Estas

estratégias podem ser classificadas em dois tipos, dependendo do foco de sua

ação. O coping focado na emoção, definido como um esforço para regular o

estado emocional que está associado ao estresse, e o coping focado no problema,

que se constitui em um esforço para atuar na situação que deu origem ao

estresse, com a intenção de mudá-la (ANTONIAZZI et al., 1998, LAZARUS;

FOLKMAN, 1984).

Variados esforços têm sido utilizados pelos indivíduos para lidar com

situações estressantes, crônicas ou agudas, se constituindo em objeto de estudo

da psicologia social, clínica e da personalidade e estão associados ao estudo das

diferenças individuais.

Estratégias negativas (aquelas que não permitem uma resolução eficaz de

uma situação) podem contribuir para a imunossupressão. Caño-Vindel (apud

BALLONE, PEREIRA NETO; ORTOLANI, 2002) indica que a repressão das

emoções negativas (evitar a demonstração da raiva e da tristeza, por exemplo)

pode provocar uma alta ativação do Sistema Nervoso Autônomo levando a um

padrão de reposta deficitária do sistema imunológico, semelhante aquele citado

para o estresse. Esta condição mantida por um longo tempo pode provocar

alterações no Sistema Imunológico tornando a pessoa vulnerável a enfermidades

infecciosas ou a doenças auto-imunes.

Do mesmo modo que os estados emocionais e as situações sociais nos

quais tais estados ocorrem modificam as respostas físicas, o contexto ecológico

também é uma variável importante, dado que determinadas circunstâncias

ambientais poderiam se dar em um ambiente, mas jamais, ou muito dificilmente,

em outros. Como aponta Angerami-Camon; Feijoo (2001) ambientes mais rurais

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ou próximos de grandes centros urbanos podem interferir de modo diferente na

saúde das pessoas.

Há muitos indícios da existência das ligações diretas entre o sistema

nervoso central e o sistema imunológico, partes do organismo que por muito

tempo foram consideradas independentes. Porém existe ainda uma grande

controvérsia, com relação a esta influência da mente sobre o corpo e sobre a

natureza específica dessa ligação (PELLETIER, 1997). Algumas questões

incluindo os tipos precisos de fatores psicológicos e comportamentais, assim como

os tipos de indivíduos aptos a eles, os tipos específicos de doenças nas quais

esses efeitos são importantes e até que ponto, durante o curso da doença física

eles são os principais operantes, ainda estão sem resposta (STOUDEMIRE;

HALES, 2000).

No entanto, alguns estudos têm revelado não só a natureza destas ligações

como também os seus modos de atuação. É sobre estes estudos, da área de

medicina mente-corpo, medicina psicossomática, medicina comportamental e suas

derivações que este trabalho se fundamenta na tentativa de encontrar os nexos

causais entre fatores psicológicos e a saúde.

2.2 Sistema Imunológico

Este sistema tem a função de defender o corpo contra invasores. Os

micróbios (germes ou microrganismos), as células cancerosas e os tecidos ou

órgãos transplantados são interpretados pelo sistema imune como algo agressivo,

do qual o corpo deve ser defendido. Para isto o sistema imune precisa distinguir

entre células próprias e não próprias e, em seguida destruir, neutralizar ou eliminar

as que forem consideradas como não próprias que naturalmente não fazem parte

do organismo (KIECOLT-GLASER; GLASER, 1997).

O sistema imunológico é determinante à sobrevivência humana. Na

ausência de um sistema que funcione de maneira apropriada, mesmo as infecções

leves podem conter o hospedeiro e se mostrar fatais (PARHAM, 2001).

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As células do sistema imune derivam originalmente da medula óssea; no

entanto, os linfócitos T migram da medula óssea para o timo, onde são

selecionados apenas aqueles que reconhecem moléculas que não são próprias

com alta afinidade. Ao viajarem pelo corpo, pequenos exércitos dessas células

ficam em alerta nos nódulos linfáticos e no baço, que possuem compartimentos

especializados para diferentes tipos de células do sistema imunológico

(BALESTIERI, 2006; PARHAM, 2001).

Todas estas células, após o aprendizado de suas funções na medula óssea

ou no timo, migram através dos vasos linfáticos para áreas especiais (linfonodos,

tonsilas, baço, fígado, pulmões e intestinos) de onde é possível recrutar, mobilizar

e deslocar linfócitos até zonas específicas como parte da resposta imune

(BALESTIERI, 2006).

Para determinar se as moléculas que são encontradas são próprias ou não,

o sistema imunológico utiliza inúmeras moléculas solúveis e receptores de

superfície celular e mantém o seu próprio sistema de circulação na forma de uma

rede de capilares, nódulos linfáticos (glândulas) e dutos que compõem o sistema

linfático (os vasos linfáticos) (DOAN, 2001; STRAUB, 2005).

O sistema linfático pode ser descrito como:

[...] uma rede de linfonodos conectados por vasos linfáticos. Os

linfonodos contêm uma malha de tecido em que linfócitos estão

intimamente unidos. Esta malha de linfócitos filtra, ataca e destrói

organismos nocivos que causam infecções. Os linfonodos

freqüentemente estão aglomerados em áreas onde os vasos

linfáticos se ramificam, como o pescoço, as axilas e virilhas

(MERCK, 2009, http://www.msd-

brazil.com/msdbrazil/patients/manual_Merck/mm_sec16_167.html)

A linfa contém uma mistura de substancias que são absorvidas dos eptélios

e dos tecidos, a medida que passa pelos linfonodos, as células que apresentam

16

antígenos podem examinar os antígenos dos patógenos (causam doenças) que

possam ter entrado nos tecidos (ABBAS; LICHTMAN, 2007).

Outros órgãos e tecidos do corpo - timo, fígado, baço, apêndice, medula

óssea e pequenos aglomerados de tecido linfático (como as tonsilas na garganta e

as placas de Peyer no intestino delgado) também fazem parte do sistema linfático.

Essas estruturas também ajudam o corpo no combate às infecções (MERCK,

2009).

Figura 1 . Sistema linfático

Fonte : http://www.manualmerck.net/?url=/artigos/%3Fid%3D193%26cn%3D1624

2.2.1 Células do sistema imune

As células do sistema imunológico são potentes e possuem funções

diferenciadas com um objetivo comum: eliminação de invasores. As principais são

os línfócitos, pequenos leucócitos que atacam de diversas formas as ameaças ao

organismo, assim como os monócitos, neutrófilos e células Natural Killers (células

17

assassinas naturais), que atuam no combate as infecções (KIECOLT-GLASER;

GLASER, 1997).

Figura 2 . Leucócitos componentes do sistema imune.

Fonte: http://www.manualmerck.net/?url=/artigos/%3Fid%3D193%26cn%3D1624

Os linfócitos, por sua vez, são subcategorizados como linfócitos B, os quais

produzem anticorpos e linfócitos T, que ajudam o corpo a diferenciar entre o que

lhe é próprio do que não o é.

Os linfócitos B fazem parte da imunidade adquirida e são derivados de uma

célula-tronco (célula-mãe) da medula óssea onde amadurecem e passam a

produzir anticorpos específicos para diversos tipos de moléculas. Os anticorpos,

produzidos pelos linfócitos B ou células B, são pequenas proteínas membros da

família de proteínas chamadas imunoglobulinas que atacam bactérias, vírus e

outros invasores externos (chamados antígenos). Os mesmos se encaixam as

18

moléculas de antígenos que atacam como uma chave que se ajusta à fechadura,

sendo que, cada linfócito B produz apenas um tipo de anticorpo que ataca apenas

um tipo de antígeno. Por exemplo, um linfócito procura e destrói o vírus do

resfriado comum, enquanto outro ataca uma bactéria que causa pneumonia

(KIECOLT-GLASER; GLASER, 1997; ABBAS; LICHTMAN, 2007).

Os linfócitos T são formados quando as células-tronco migram da medula

óssea para o timo, onde eles dividem-se e amadurecem. Os linfócitos T aprendem

como diferenciar o que é próprio do organismo do que não o é no timo, porém

estes linfócitos não produzem anticorpos, sua função é entrar no sistema linfático,

e atuar como vigilante do sistema imune (KIECOLT-GLASER; GLASER, 1997).

De acordo com os autores citados acima, os vários grupos diferentes de

células – T possuem diferentes funções. As células T citotóxicas, junto com outras

células sanguíneas chamadas células citotóxicas naturais (NK- natural killer),

patrulham constantemente o organismo em busca de células perigosas. Quando

as encontram, essas células T associam-se às células invasoras e liberam

substâncias químicas microscópicas que as destroem.

As células Natural Killers assim como as células T e B linfocíticas, derivam

de um precursor da medula, mas até o momento pouco se sabe sobre como se

desenvolve. Sabe-se apenas que as necessidades para o desenvolvimento destas

células são nitidamente distintas das observadas para as células T e B. Acredita-

se que as células NK são responsáveis pela imunidade contra células infectadas

por vírus e tumores de surgimento espontâneo. O “natural” de seu nome se refere

a sua capacidade para destruir uma variedade de células-alvo assim que são

formadas, em vez de exigirem a maturação e o processo educativo que os

linfócitos B e T necessitam. As células assassinas naturais produzem ainda

algumas citocinas, substâncias mensageiras que regulam algumas das funções

dos linfócitos T, dos linfócitos B e dos macrófagos (BALESTIERI, 2006;

MOREIRA, 2003).

Passaremos a descrever algumas características de dois tipos de fagócitos

circulantes: os neutrófilos e os monócitos, tendo como referência Abbas; Lichtman

(2007):

19

Neutrófilos: é o primeiro grupo celular a responder á maioria das

infecções, particularmente ás infecções bacterianas e fúngicas. Eles ingerem os

microorganismos na circulação e entram rapidamente nos tecidos extravasculares

nos locais de infecção, onde também ingerem os patógenos, morrendo depois de

algumas horas.

Monócitos: são menos abundantes que os neutrófilos e também têm a

função de ingerir microorganismos no sangue e nos tecidos. Ao contrário dos

neutrófilos, os monócitos que entram nos tecidos extravasculares sobrevivem por

longos períodos, e se diferenciam em células chamadas macrófagos. Dependendo

do tecido os macrófagos recebem denominação diferente: histócitos no tecido

conjuntivo; células de Kupffer no fígado; células de micróglia no cérebro;

macrófagos alveolares nos alvéolos pulmonares; e osteoclastos nos ossos.

2.2.2 Fisiologia do sistema imune

O sistema imunológico tem como função fisiológica prevenir e erradicar as

infecções estabelecidas. Para isto utiliza-se de mecanismos de defesa que são

constituídos pela imunidade inata, responsável pela proteção inicial contra

infecções, e pela imunidade adquirida, que é aprendida e se desenvolve

posteriormente, apesar de ser mais tardia também é mais eficaz contra as

infecções (ABBAS; LICHTMAN, 2007).

Para explanar sobre imunidade inata e imunidade adquirida, iremos utilizar

como fonte a descrição dos autores citados acima:

Imunidade Inata : está sempre presente em indivíduos saudáveis, seus

mecanismos são responsáveis pela defesa inicial contra as infecções e pela

estimulação das respostas da imunidade adquirida contra os agentes infecciosos.

Alguns de seus mecanismos são utilizados para prevenir as infecções (por ex.,

barreiras epiteliais) e outros eliminam os microorganismos (p.ex., fagócitos,

células NK e o sistema do complemento).

20

O sistema do complemento atua para destruir substâncias estranhas, seja

diretamente ou em conjunto com outros componentes do sistema imune.

Com o passar do tempo houve uma evolução dos microorganismos

patogênicos para os seres humanos (capazes de causar doença) que se tornaram

mais resistentes aos mecanismos de defesa da imunidade inata. A defesa contra

esses agentes infecciosos é função da resposta imunológica adquirida.

Imunidade Adquirida : a imunidade adquirida é aprendida. Quando o

indivíduo nasce, seu sistema imunológico possui apenas a imunidade inata. Ao

iniciar o contato com o mundo exterior o sistema imunológico começa a formar seu

arquivo de memória e aprende a responder a cada novo antígeno que ele

encontra. Portanto, a imunidade adquirida é específica contra os antígenos

encontrados por um indivíduo durante a vida, por sua capacidade de aprender, de

adaptar-se e de lembrar-se de um antígeno encontrado anteriormente.

Neste sentido Parham (2001) cita a vacinação, que proporciona ao sistema

imune à experiência necessária para elaborar uma resposta protetora com pouco

risco para a saúde ou a vida.

De modo geral, pode-se dividir as reações imunológicas em duas

categorias amplas: imunidade não-específica e imunidade específica. As defesas

imunológicas não-específicas defendem o corpo contra qualquer antígeno,

incluindo algum que nunca tenha sido encontrado. As defesas imunológicas

específicas ocorrem somente quando o antígeno já foi encontrado anteriormente,

gerando um tipo de memória imunológica para o intruso (STRAUB, 2005).

2.2.2.1 Fases da resposta imunológica

As fases da resposta imunológica serão explicadas a partir de sua

seqüência segundo os autores Abbas; Andrew (2007): reconhecimento do

antígeno, ativação do linfócito, eliminação do antígeno, declínio e memória.

21

Reconhecimento do antígeno : nesta fase, linfócitos virgens, específicos

para cada antígeno, localizam e reconhecem os antígenos do patógeno. Esta

ativação requer pelo menos dois tipos de sinais. Inicialmente, a ligação do

antígeno aos receptores de antígenos dos linfócitos (conhecida como sinal 1) para

iniciar todas as respostas imunológicas. E o sinal conhecido coletivamente como

(sinal 2), que são fornecidos pelos microorganismos e pela resposta imunológica

inata aos patógenos, necessários para a ativação dos linfócitos na resposta

imunológica primária. Isto garante que as respostas do sistema imunológico

adquirido sejam desencadeadas pelos patógenos e não por antígenos não-

infecciosos inofensivos.

Ativação do linfócito : na fase de ativação, os clones de linfócitos que

encontraram os antígenos passam por divisões celulares rápidas, gerando uma

grande prole; esse processo é chamado de expansão clonal. Ao se diferenciarem,

alguns linfócitos, passam de células virgens para células conhecidas como

linfócitos efetores, produzindo substâncias que eliminam os antígenos. Como

exemplo, podemos citar os linfócitos B que se diferenciam em células efetoras

secretando anticorpos, enquanto alguns linfócitos T se diferenciam em células que

destroem células do hospedeiro infectadas.

As células conhecidas como efetoras, juntamente com os seus produtos,

eliminam o patógeno, geralmente com o auxílio dos componentes do sistema

imunológico inato; essa fase na qual ocorre a eliminação do antígeno é chamada

de fase efetora da resposta imunológica.

Declínio e memória : assim que a infecção é eliminada, o estímulo para a

ativação dos linfócitos é suspenso, em seguida a maioria das células que foram

ativadas pelos antígenos também é eliminada, através de um processo regulado

de morte celular, chamado de apoptose. As células mortas são rapidamente

retiradas pelos fagócitos sem desencadear uma reação danosa.

Após o término da resposta imunológica, as células que permanecem são

os linfócitos de memória, que podem sobreviver em um estado de repouso por

22

meses ou anos e são capazes de responder rapidamente a um novo encontro com

o mesmo patógeno.

Figura 2: Fases da resposta imunológica.

Fonte: http://www.lia.ufsc.br/Introdu_bio.ppt

2.3 As relações entre sistema imune, endócrino e ne rvoso.

No início da década de 1970 começaram a ser acumuladas evidências

sobre o fluxo de informações entre o sistema imune e o eixo hipotálamo-hipófise-

adrenal, que exerce a função de governar as reações do corpo diante de

mudanças metabólicas e do estresse ambiental. Fundamentado nesses resultados

desenvolveu-se a psiconeuroendocrinologia, área que têm como objetivo estudar

como as emoções (alegria, raiva, medo) podem vir a modificar a produção de

hormônios e neurotransmissores e interferir na resposta imune a agentes

infecciosos, tumores e ainda no desenvolvimento de doenças auto-imunes

(BALESTIERI, 2006).

A concepção do sistema imunológico, notadamente a partir dos anos

oitenta, deixou de ser considerado como um sistema fisiológico autônomo de

funcionamento exclusivamente químico, destinado a reconhecer o que é e não é

23

do próprio organismo, passando a ser reconhecido como um sistema que interage

com outros sistemas sendo sensível à regulação dos sistemas nervoso e

endócrino (MAIA, 2002).

Demonstrou-se que os órgãos do sistema imunológico, conhecidos também

como órgãos linfóides, por produzirem linfócitos, contêm redes de células

nervosas, que servem como um caminho até o cérebro e o sistema nervoso

central, e que influenciam a imunidade (KIECOLT-GLASER; GLASER, 1997).

O impulso inicial para o estudo das relações entre o sistema imune e o

sistema nervoso central (SNC) advém de trabalhos clínicos relacionados a

estados físicos e psicológicos de humanos, tais como períodos que antecedem as

provas, problemas em família, luto e desemprego, estão intimamente ligados à

atividade de neutrófilos e macrófagos, e, entre outros, à redução na atividade de

células natural killer (NK) e na resposta de linfócitos a mitógenos (VISMARI et al.,

2008).

A relação entre o sistema nervoso central (SNC), o endócrino (SE) e o

imune (SI) foi demonstrada com o seguinte experimento: ratos imunizados com

hemácias de carneiros apresentaram, de forma simultânea o aumento máximo no

número de linfócitos B no baço (SI), pico de produção de cortisol sérico (SE) e

aumento na ativação dos neurônios no núcleo ventromedial do hipotálamo (SNC)

(BALESTIERI, 2006). Neste caso, uma resposta imune foi seguida de ativação

nervosa e endócrina.

A função exercida pelo sistema imune é semelhante à dos sistemas

nervoso e endócrino, porém sua atuação ocorre em um nível mais sutil. Pois suas

células não são fixas, exercem suas funções circulando pelas mucosas e tecidos

internos, identificando a entrada de moléculas e microorganismos estranhos e

possíveis alterações em células próprias (BALESTIERI, 2006).

As interações entre o sistema nervoso central, endócrino e imune

provavelmente ocorrem a partir do sistema límbico, por se tratar do local em que

as informações do córtex cerebral e do hipotálamo interagem e um dos locais de

controle das emoções. Estudos realizados a partir de dados neurológicos indicam

que embora o sistema límbico seja o responsável pelo impulso emocional, a

24

maneira como expressamos as emoções são reguladas por regiões situadas no

córtex pré-frontal. Sendo que, cada lado do córtex pré-frontal processa um

conjunto diferente de reações emocionais, por exemplo, as emoções que nos

fazem ter medo ou repulsa são reguladas pelo lado direito do córtex, e

sentimentos como a felicidade, pelo esquerdo. (BALESTIERI, 2006).

A autora supra-citada, menciona estudos que revelaram uma diferença em

relação a atividade cerebral. Pessoas com a região anterior esquerda mais ativada

demonstraram atitudes mais positivas a respeito de sua vida, em geral ou em

resposta a desafios, ao contrário daquelas com maior atividade do hemisfério

direito exibem respostas mais negativas. Com base em seus

eletroencefalogramas, fez-se uma avaliação da atividade das células NK, e pode-

se constatar que pessoas com maior atividade no hemisfério esquerdo

apresentaram maior atividade das células NK, sugerindo que as atitudes positivas

em resposta a desafios são importantes para melhorar a resposta celular.

A partir destes dados podemos confirmar a interação entre os sistemas:

endócrino, nervoso e imunológico, e ainda a necessidade de novas pesquisas que

ampliem o conhecimento entre os aspectos comportamentais e a resposta imune.

25

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

Neste trabalho utilizamos à metodologia de pesquisa bibliográfica para

atingir os objetivos propostos. Foram recuperados, selecionados, lidos e

analisados estudos referentes à temática pesquisada encontrada em livros, bases

de dados (on-line), artigos, monografias e teses já publicadas. As obras foram

buscadas em livros na Biblioteca Setorial da UNIVALI, em bases de dados

científicas como o SCIELO na internet, artigos e monografias disponíveis na

universidade e on-line. As palavras chaves utilizadas para a recuperação foram:

emoções, sistema imunológico, psiconeuroimunologia. Utilizou-se como ponto de

corte temporal as publicações entre 1990 e 2008, dado que o estabelecimento

desta temática no campo das neurociências recebeu um grande suporte neste

período temporal por conta da década do cérebro (1990-2000) onde se

concentram a maior parte das descobertas mais importantes.

A identificação e a fase de reconhecimento do assunto basearam-se no

levantamento das obras já publicadas, livros e periódicos verificando o índice das

mesmas e as obras contidas neste material.

Depois do levantamento bibliográfico e da identificação das obras, buscou-

se a localização do material bibliográfico. Por tratar-se de um estudo realizado na

UNIVALI esta foi a principal biblioteca pesquisada. A compilação é a reunião deste

material contido nos livros, revistas e publicações que foram encontrados.

O fichamento foi utilizado, então, para condensar os dados obtidos na

pesquisa, contendo o autor, ano da obra, cidade, editora e edição. Também foram

utilizadas tabelas contendo o nome do autor, o ano de publicação, as principais

descobertas e a sustentação atual das mesmas. Foram também levantadas as

teorias e hipóteses desta relação (emoções x sistema imune), bem como os

centros de pesquisa e pesquisadores (ou grupo de) mais produtivos e importantes

na área, no Brasil.

A análise e interpretação dos dados foi dividida em quatro fases, conforme

proposto por Lakatos e Marconi (1991). A primeira, a crítica do material

26

bibliográfico interno (interpretação e valor interno do conteúdo) e externa (texto,

autenticidade e proveniência). A segunda fase consistiu na decomposição dos

elementos essenciais e sua classificação. Na terceira fase, as informações foram

reunidas por semelhança de conteúdo permitindo agrupamento e classificação. A

quarta fase, a análise crítica do material encontrado, foi realizada assim que a

seleção do material (fases 1 a 3) foram completadas.

27

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Como proposto nos objetivos desta monografia, os resultados da pesquisa

bibliográfica empreendida serão apresentados de acordo com os temas

levantados.

As pesquisas que visam estudar as relações entre emoções e o

funcionamento do sistema imunológico se concentram em três processos

patológicos nos quais os aspectos emocionais são determinantes das suas

manifestações: estresse, depressão e ansiedade. Classicamente, estas três

condições sempre foram foco de estudo na área dado seu alto impacto sobre as

funções imunes e endócrinas. Contudo, uma nova linha de trabalho focando as

emoções positivas (alegria, otimismo, etc) tem demonstrado sua relação com o

funcionamento adequado dos vários sistemas corporais, apontado uma nova

perspectiva de trabalho para os profissionais de saúde, principalmente para os da

Psicologia.

Na revisão realizada para este trabalho mantemos a tendência da literatura

especializada e começamos enfocando a influência das emoções negativas sobre

o sistema imune e depois, ao final, sobre as emoções positivas e suas

descobertas, no que diz respeito à mesma função.

4.1 Stress

De acordo com González (2001) existem duas vias importantes pelas quais

esta fundamentada a ação do stress. A primeira age sobre o hipotálamo e, em

grande parte, sua ação está regulada pelos estímulos nervosos que procedem do

córtex cerebral, a formação reticular e o sistema límbico. Os estímulos nervosos

alcançam certas células neuroendócrinas que agem como transdutoras para

transformar os sinais nervosos em mensagens hormonais (SELYE, 1976 apud

GONZÁLEZ, 2001). O fator liberador de corticotropina (atualmente denominado de

28

hormônio liberador de corticotropina - CRH) provoca uma descarga de hormônio

adrenocorticotrópico (ACTH) desde a hipófise, que alcança o córtex adrenal. Esta

glândula que produz a liberação de corticóides. Estes, por sua vez, facilitam a

glicólise que oferece energia necessária para a realização das adaptações

exigidas, além de possibilitar outras respostas adaptativas reguladas por enzimas,

assim como também imunológicas. Esta cadeia de eventos é regulada por

mecanismos de retroalimentação.

A outra via importante é a mediada pelas catecolaminas as que, liberadas

pela influência de descargas de acetilcolina nas terminações nervosas

autonômicas e na medula adrenal, agem sobre a pressão sanguínea, sobre o

metabolismo e sobre o sistema nervoso propriamente dito.

Ainda de acordo com o autor citado acima, a comunicação intercelular pode

ser endócrina (por hormônios gerais), paracrina (por hormônios locais) e neuronal

(mediante substâncias químicas denominadas neurotransmissores). Sendo que as

principais substâncias que agem como neurotransmissores são: a dopamina, a

noradrenalina, a serotonina, a acetilcolina, a glicina e o ácido gama-aminobutírico

(GABA).

A excitação fisiológica desencadeada pelo stress pode ser medida através

de mudanças na freqüência cardíaca, pressão sanguínea, velocidade de

respiração, ou resposta galvânica da pele, que é uma medida da eletricidade da

pele em resposta ao aumento da sudorese (STRAUB, 2005).

Um dos modelos para se entender o stress implica em dividi-lo em fases. O

mais conhecido é do de Hans Selye que dividiu a resposta do organismo ao stress

em três fases: alarme, resistência e exaustão. No Brasil, a pesquisadora Marilda

N. E. Lipp acrescentou um fase a mais entre a resistência e exaustão, chamando-

a de quase-exaustão. Este é conhecido como modelo quadrifásico do stress

(LIPP, 2003). Suas fases são descritas da seguinte forma:

Fase de alerta : Inicia-se o processo auto-regulatório com um desafio ou ameaça

percebida, ativando o mecanismo de luta ou fuga segundo Cannon (1939 apud

Lipp, 2003) dando início a produção de noradrenalina pelo sistema nervoso

29

simpático e adrenalina pela medula da supra-renal. Em seguida as células do

córtex das supra-renais descarregam seus grânulos de secreção hormonal na

corrente sanguínea, com isso ocorre o gasto das reservas de hormônio das

glândulas. Nessa fase, pode-se observar a dilatação do córtex da supra-renal e o

sangue se torna mais concentrado. As mudanças hormonais que resultam dessa

fase, contribuem para que haja aumento da motivação, entusiasmo e energia, o

que pode, desde que não excessivo, gerar maior produtividade no ser humano,

conforme Lipp e Malagris(1995 apud LIPP, 2003).

Fase de Resistência : Este estágio caracteriza-se pelo aumento na capacidade de

resistência acima do normal, o córtex das supra-renais acumula grande

quantidade de grânulos de secreção hormonal segregados e, com isso, o sangue

se apresenta diluído. Frente a isso Lipp e Malagris (1995 apud LIPP, 2003)

afirmam que, nesta fase, há sempre uma busca pelo equilíbrio, acarretando uma

grande utilização de energia, o que pode com frequencia gerar uma sensação de

desgaste generalizado sem causa aparente e dificuldades com a memória, dentre

outras conseqüências.

Fase de Quase-Exaustão : As defesas do organismo começam a ceder e ele já

não consegue resistir às tensões e restabelecer a homeostase interior.

Normalmente a pessoa começa a sentir que oscila entre momentos de bem-estar

e tranqüilidade e momentos de desconforto, cansaço e ansiedade. Algumas

doenças começam a surgir nesta fase demonstrando que a resistência já não esta

tão eficaz.

Fase de Exaustão : Quando o stress alcança este estágio, há uma quebra total da

resistência e alguns sintomas são semelhantes ao da fase de alarme, porém sua

magnitude é maior. Há um aumento das estruturas linfáticas, exaustão psicológica

em forma de depressão e exaustão física, ocasionando o aparecimento de

doenças, podendo ocorrer a morte como resultado final. Quando o stress é

prolongado, afeta diretamente o sistema imunológico reduzindo a resistência da

30

pessoa e tornando-a vulnerável ao desenvolvimento de infecções e doenças

contagiosas. Algumas doenças que permaneciam latentes podem ser

desencadeadas em conseqüência da queda do sistema imunológico. Úlceras,

hipertensão arterial, diabete, problemas dermatológicos, alergias, impotência

sexual, e obesidade podem surgir.

O stress afeta quase todos os sistemas do corpo, e por isso é considerado

um dos problemas de saúde que mais atinge a civilização moderna (GONZÁLEZ,

2001; STRAUB, 2005), pois não altera apenas a fisiologia do organismo, mas

também as disposições motivacionais do mesmo, alterando seus comportamentos

(SARDÁ; LEGAL; JABLONSKI, 2004; STRAUB, 2005).

A união do funcionamento destes sistemas envolvidos no stress (nervoso,

endócrino e comportamental) permitiu o desenvolvimento de ciências

multidisciplinares que estudam as relações entre os mesmos, como a

psiconeuroendocrinologia e neuroendocrinologia (GONZÁLEZ, 2001)

De acordo com o autor supra-citado, os hormônios têm entre outras ações,

a regulação da resposta imune e mediação das ações entre os sistemas imune e

endócrino. Isto tem permitido a adoção de um novo termo e ao mesmo tempo o

nome de um ramo de estudo das neurociências chamado de

Psiconeuroendocrinoimunologia ou Psiconeuroimunologia.

Figura 3: A reação de estresse e suas vias de ação no organismo.

Fonte: http://www.lia.ufsc.br/Introdu_bio.ppt

31

Pesquisas realizadas na área de Psiconeuroendocrinologia estão

fornecendo evidências mecanicistas sobre as maneiras como os estressores - e

as emoções negativas que eles geram - podem ser traduzidas em alterações

fisiológicas. Para isto têm utilizado modelos animais e humanos, com o intuito de

saber como o sistema imunológico se comunica bidirecionalmente com os

sistemas nervoso central e sistema endócrino e como essas interações geram

impacto sobre a saúde (KIECOLT-GLASER; GLASER, 2005).

A principal conseqüência da reação do stress sobre o sistema imune é

descrita por Gonzalez (2001) como sendo:

[...] a imuno-supressão. Os glicocorticóides liberados sob stress

são os mediadores principais dessa imunossupressão. Este efeito

se produz já que estes hormônios podem inibir a maturação dos

linfócitos durante seu desenvolvimento, tirá-los da corrente

sanguínea e até destruí-los. Outro dos efeitos dos glicocorticóides

sobre a supressão linfocitária manifesta-se inibindo a liberação de

citokinas ou diminuindo o número de seus receptores (p.89).

Há uma comunicação simultânea entre vida psicossocial e os sistemas

nervoso e endócrino. Sendo que, para os fins da pesquisa do stress, os mesmos

formam uma unidade indivisível que só é analisada isoladamente com propósitos

didáticos ou de controle metodológico (Idem).

Dentro dessa perspectiva Epstein (1984 apud AZAMBUJA, 1992) explica

que a mente, influenciada por fatores psicológicos, afeta o sistema endócrino, o

sistema nervoso simpático e o parassimpático, o fluxo sangüíneo, a contratura

muscular e a eficácia da resposta imunológica, tudo ligado a alterações no

hipotálamo, substância reticular, sistema límbico e núcleo caudado. Deste modo,

conclui que existe estreita relação entre corpo e mente, sendo as vias de

integração tão numerosas que seria surpreendente encontrar qualquer aspecto

físico ou psicológico sem antecedentes ou consequências em todo o corpo como

unidade holística.

González (2001) demonstra através de estudos a ação do stress sobre o

sistema imune. Dentre eles, estão os de Glaser e Kielcolt-Glaser, que

32

constataram, em candidatos a exame, que o nível de anticorpos, o número de

células citotóxicas naturais (células NK) e de linfócitos no sangue, diminuía antes

da prova. Keller, que verificou a queda da defesa orgânica que resultou em

aumento de mortalidade e de morbidade, em homens cujas esposas faleceram de

câncer de mama, o que o levou a concluir que as células imunológicas devem

tomar conhecimento de estados de solidão e de tristeza por sinais químicos.

Felten e Felten, especializados em feixes nervosos, que comprovaram a

existência de feixes que estimulam os linfócitos durante sua maturação nos

gânglios linfáticos, no timo, na medula e no baço e que liberam seus mediadores

químicos, principalmente noradrenalina, a uma distância de seis milionésimos de

milímetro dos linfócitos e macrófagos. E que ao serem bloqueados esses feixes

nervosos contribuíram para a queda da resposta imunológica em 80%.

Bartrop et al (1977apud Azambuja, 1992) realizaram uma pesquisa com

26 mulheres duas semanas antes e seis semanas depois do falecimento de seus

maridos. Durante este período foram observados o número e a função de linfócitos

T e B e as concentrações hormonais. O resultado foi uma diminuição da resposta

celular à estimulação pela fito-hemaglutinina (estimulante de proliferação

linfocitária) e pela concanavalina A (indutora de divisão celular em linfócitos) na

segunda ocasião. Esta foi considerada a primeira demonstração prospectiva de

que o stress psicológico intenso pode produzir uma anormalidade mensurável na

função imunológica.

Em uma outra pesquisa Godbout; Glaser (2006) constataram que o stress

crônico pode aumentar a produção periférica de citocinas pró-inflamatórias, como

interleucina (IL) -6. Níveis séricos elevados de IL-6 podem ser associadas a riscos

para várias condições, como doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, as

complicações de saúde mental, e alguns cânceres.

Além do stress psicológico, outra grande fonte de alterações no sistema

imune e endócrino está associada aos transtornos do afeto, especificamente a

depressão e também a ansiedade.

33

4.2 Depressão

A definição de depressão como apresentada pela Organização Mundial de

Saúde (1993), via Classificação Internacional de Doenças (CID - 10), implica que

devam estar presentes em graus variados de intensidade, nos episódios típicos,

humor deprimido, perda de interesse e prazer nas atividades, energia diminuída

levando a uma fadiga aumentada e atividade diminuída.

A tristeza agrega uma resposta às situações de perda, derrota ou outros

desapontamentos, sendo que, as situações de perda, por exemplo, podem causar

danos cognitivos, comportamentais e fisiológicos, tornando-se um forte preditor da

afetação da função de supressão linfocitária (ANGELOTTI, 2001; Bartrop et al.,

1977 apud GONZALEZ,2001).

Acredita-se que eventos estressores vivenciados na infância, possam

contribuir para o aumento do risco de depressão na vida adulta. A base biológica

para essa vulnerabilidade parece ser mediada pela resposta aumentada dos

neurônios que produzem o CRH (hormônio liberador de corticotropina),

desenvolvendo uma hiper-reatividade do eixo HHA (hipotálamo-hipófise-adrenais),

cuja conseqüência, além do aumento do cortisol, pode ser observada sobre o

sistema imune (GONZALEZ, 2001).

Pode-se observar que os quadros depressivos encontram-se associados à

presença de fatores biopsicossociais que influenciam sua etiologia, curso e

prognóstico. Neste contexto, descreve-se o envolvimento do sistema imune. Como

um sistema que pode influenciar as características dos diferentes quadros

depressivos ou ser influenciado ou modulado por eles em função desta linguagem

bidirecional (FRAGUAS, 2001).

Vismari et al.(2008), comenta sobre as conexões existentes entre o eixo

hipotálamo-hipófise-adrenais (HHA) e as estruturas do sistema límbico, como o

hipocampo e a amígdala. Sabe-se que no decorrer de situações de estresse

crônico, assim como na depressão maior, ocorre também maior liberação de CRH

e mais estimulação de estruturas do locus coeruleus, com ativação do sistema

nervoso simpático. Em situações como esta, são liberadas catecolaminas que

34

modulam uma série de atividades das células imunes, tais como proliferação de

linfócitos e produção de citocinas e anticorpos. Nessas condições foram relatadas

ainda a estimulação do núcleo dorsal da rafe com aumento do turnover de

serotonina no hipotálamo, ambos já relacionados a alguns dos sintomas de

ansiedade.

De acordo com Fraguas (2001), existem várias perspectivas pelas quais

podemos compreender a associação entre cérebro, comportamento, sistema

imune e depressão. A influência que o sistema imunológico exerce sobre o

cérebro, da depressão na função imunológica relacionada com saúde e doença e

também o uso de células desse sistema como marcadores periféricos das

alterações do sistema nervoso central na depressão. As novas técnicas de

pesquisa e o imenso conhecimento do sistema neuroimune-endócrino alcançado

nos últimos anos, passaram a dar suporte científico em nível molecular aos

resultados.

Em um estudo realizado em pacientes com depressão maior Vismari et al,

(2008), pode-se observar um aumento no número de leucócitos sangüíneos

periféricos, incremento da razão CD4+/CD8+, elevação na concentração

plasmática de proteínas de fase aguda, como a haptoglobina e a proteína C

reativa, queda na resposta celular a mitógenos, redução do número de linfócitos e

da atividade de células NK, alteração na expressão de antígenos, além de um

aumento nos níveis sangüíneos de citocinas pró-inflamatórias e seus receptores,

tais como IL-6 e IL-23,6. Diante disto, tem-se sugerido que o aumento na

produção de citocinas pró-inflamatórias e um desequilíbrio na resposta Th1/Th2

poderiam desempenhar um papel relevante na fisiopatologia da depressão.

Teorias distintas têm implicado a depressão como um fenômeno

psiconeuroimunológico. Incluindo modelos ligados ao sistema imunoinflamatório,

passando pela hipótese citocinérgica da depressão, até a chamada teoria

macrofágica. Todas baseadas na idéia de que o aumento na produção de

citocinas pró-inflamatórias observado na depressão, levanta a hipótese de que a

depressão seria um tipo de comportamento doentio (VISMARI et al., 2008).

35

De fato, achados significantes de imunossupressão tem sido relacionados

aos quadros depressivos. Por exemplo, o padrão de linfócitos circulantes mostrou-

se diferente entre os sexos quando pesquisado em pacientes com depressão

maior e distimia. As células NK circulantes foram achadas em maior número em

pacientes do sexo masculino em depressão típica (sintomas afetivos referidos e

relatados pelo paciente que está ciente de sua condição clínica) do que em

depressão atípica (apresenta-se sem que a pessoa se perceba deprimida). Foram

achadas também menos células NK em pacientes com depressão maior do que

nos distimicos (FRAGUAS, 2001).

Há também evidências de uma taxa aumentada de apoptose (morte celular

programada) em leucócitos periféricos de pacientes com depressão maior quando

comparados aos controles, confirmando o envolvimento do sistema nervoso

central nos mecanismos imune. Por influenciar diretamente no número e na

qualidade das células imunes disponíveis, uma função alterada deste processo de

apoptose pode expor o organismo, a diversas patologias. (FRAGUAS, 2001).

O aparecimento de doenças cardíacas, infecções parasitárias ou alguma

outra doença física. Pode ser facilitada, através das modificações que

acompanham os estados depressivos (MOREIRA, 2003).

Em um estudo de revisão Weisse (1992 apud Moreira, 2003), concluiu que

alterações linfocitárias estão sempre presentes em pacientes deprimidos,

principalmente nos mais velhos e que, comparados aos bipolares, os pacientes

unipolares são sempre mais atingidos pelas alterações imunológicas.

Há evidências crescentes de que a depressão pode estimular diretamente a

produção de citocinas pró-inflamatórias que, por sua vez, influenciam em

condições associadas com o envelhecimento, incluindo doenças cardiovasculares,

osteoporose, artrite, diabetes tipo 2, alguns tipos de câncer, doença periodontal,

fragilidade e declínio funcional. (KIECOLT-GLASER; GLASER, 2002).

Spiegel e cols (1989 apud Moreira, 2003) constataram que mulheres com

câncer metastático de pulmão, prolongaram duas vezes mais o tempo de vida por

teram participado de terapias de grupo onde podiam expressar seus sentimentos,

apoiando-se umas as outras.

36

Estudos recentes demonstram que, em pessoas que se permitem sentir e

expressar suas mágoas, tristezas e aflições, as respostas proliferativas

imunológicas aumentam, enquanto que nas que reprimem os sentimentos,

observou-se uma diminuição desta resposta (MOREIRA, 2003).

4.3 Ansiedade

Anterior ao pensamento da ansiedade como sendo patológica, deve-se

considerar a ansiedade normal como um processo biológico necessário à

sobrevivência do ser humano. Este potencial ansioso manteve-se sempre

fisiologicamente presente agregando a si o sentimento do medo (BALLONE et al,

2002).

A ansiedade apresenta-se como um sinal de alerta que adverte sobre a

necessidade de adaptação iminente, dando capacidade a pessoa para medidas

eficientes de enfrentamento. A ansiedade passou a ser considera a causa de

distúrbios desde que o ser humano colocou-a, não a serviço de sua sobrevivência,

como fazia antes e continuam fazendo os animais, e sim a serviço de sua

existência, como um leque de exigências quantitativas e qualitativas desta

existência (BALLONE et al, 2002).

Spielberger (1985 apud BAPTISTA, 2005) classificou as manifestações

desencadeadas pela ansiedade em dois conjuntos sintomáticos: a ansiedade-

estado (reações episódicas e situacionais) e ansiedade-traço (quando é um modo

habitual e consistente de reação). A ansiedade pode incluir ainda a tristeza, a

vergonha e a culpa, assim como, pode ser composta por cólera, curiosidade,

interesse ou excitação.

De acordo com Moreira (2003), se processos neurológicos regulam os

comportamentos imunitários, há uma via pela qual fatores psicológicos, como a

ansiedade, causam impacto imunitário. Por exemplo, a ansiedade que envolve

exames acadêmicos, torna-se um estímulo agressivo a vigilância imunológica e

37

em alguns casos provoca privação de sono, que, por sua vez, aumenta o impacto

agressivo às defesas imunitárias.

Farber et al.(1987 apud AZAMBUJA, 1992) realizaram uma pesquisa com

2144 pacientes, encontraram em 40% deles referências de instalação da psoríase

em épocas de tensão e 37°% de exacerbação em situaç ões de ansiedade.

Até o presente, foi explanado sobre os efeitos das emoções negativas

(depressão, ansiedade) e da pressão (stress) sobre o organismo. Contudo, a

intenção neste trabalho não foi apenas mostrar como os sentimentos negativos

afetam a imunidade, mas também entender como estes mecanismos podem ser

revertidos, ou mais, como promover o funcionamento otimizado do sistema imune.

Destacamos a seguir, o que se tem descoberto no campo das emoções positivas

(otimismo, felicidade, resiliência) e como estas podem afetar de modo favorável à

imunidade biológica.

4.4 Emoções positivas

O principal desafio encontrado pelos profissionais que trabalham com bem-

estar e qualidade de vida tem sido, sem dúvida nenhuma, mudar o comportamento

das pessoas na sua relação com a saúde e estilo de vida, reduzindo os

comportamentos e os fatores psicossociais que interferem no equilíbrio

biopsicossocial, antes que esses se transformem em doença (OGATA; SIMURRO,

2008).

A OMS define saúde como “um completo estado de bem-estar físico,

mental e social, e não simplesmente como a ausência de doenças ou

enfermidades”. De acordo com esta definição, ter saúde compreende um estado

positivo e de equilíbrio multidimensional do ser humano que envolve a dimensão

física, emocional e social (Idem).

Nosso estado emocional pode ser determinante fundamental para nossa

saúde física e integral como já discutimos nos tópicos sobre stress, depressão e

ansiedade.

38

A associação entre saúde física e felicidade também já foi bastante testada

e, a esse respeito, Salovey et al. (2000) publicaram uma revisão, na qual

concluem que muito mais se sabe acerca de como estados psicológicos negativos

afetam a saúde física (especialmente fragilizando o sistema imunológico) do que

como estados positivos podem protegê-la. Ainda assim, argumentam que

substituir emoções negativas por emoções positivas pode ter efeitos terapêuticos

e preventivos.

Em revisão realizada por Reblin e Uchino (2008), apontam que o suporte

social e emocional competente (efetivo) tem sido associado com melhoras na

qualidade de vida de pacientes crônicos e, isto por sua vez, tem implicações sobre

suas respostas imunes. Os mesmos autores apontam uma gama diversa de

estudos que tem encontrado uma relação bastante significativa entre a qualidade

e quantidade de redes de suporte social e a diminuição do risco de morbidade e

mortalidade para várias doenças como diabetes, cardiopatias, artrite, enfisema e

hipertensão. Pessoas que apresentam melhor e maior suporte social têm menor

risco de morbidade (apresentação da doença), mesmo quando os dados são

estatisticamente corrigidos pelo status prévio de saúde das amostras. O

isolamento social, por sua vez, é considerado o principal fator de risco para todas

as causas de mortalidade (HOUSE; LANDIS; UMBERSON, 1988 apud REBLIN;

UCHINO, 2008).

Confirmando os dados de Reblin e Uchino (2008), Strine et al. (2008)

demonstraram que pessoas que consideravam seu suporte social e emocional

como pouco ou inexistente apresentaram risco aumentado para doenças,

insatisfação com a vida, sintomas de stress, depressão, ansiedade, problemas

com sono e dor. Também tinham mais chances de demonstrar comportamentos

não saudáveis como fumar, consumir bebidas alcoólicas excessivamente,

obesidade e sedentarismo.

Como apontam Solovey et al. (2000), Reblin e Uchino (2008) e Strine et al.

(2008), ainda não se conhece como estes fatores positivos se relacionam ao

funcionamento fisiológico e controle comportamental. Vários estudos apontados

demonstram relações com componentes do sistema imune como as citocinas e

39

interleucinas (IL-6 e IL-8) (LOUCKS et al., 2006; MARSLAND et al., 2007 apud

REBLIN; UCHINO, 2008), bem como com o engajamento e motivação para

manter comportamentos saudáveis (REBLIN; UCHINO, 2008; SOLOVEY et al.,

2000).

De modo geral, podemos destacar que o fluxo de informações entre o

sistema imune, o nervoso e o autônomo ocorre principalmente no eixo hipotálamo-

hipófise-adrenal (HHA). Desta forma, as interações entre estes sistemas devem

ser reguladas primariamente pelo sistema límbico, local em que as informações do

córtex cerebral e do hipotálamo interagem e um dos principais locais de controle

das emoções e dos comportamentos de manutenção básica do organismo

(comportamento alimentar, sexual, motivação, etc).

Desta forma, alterações tanto fisiológicas quanto comportamentais parecem

se refletir diretamente umas sobre as outras. Contudo, suas relações mais íntimas

ainda carecem de maiores investigações, dada a complexidade destes sistemas e

de suas múltiplas determinações.

40

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O que se apresentou neste trabalho é o fruto de uma reflexão acerca da

relação entre emoções e o funcionamento do sistema imunológico, documentada

a partir dos estudos mencionados ao longo de um corte temporal de

aproximadamente 10 anos. De comum acordo, não há divergências quanto a

possibilidade das emoções afetarem o funcionamento do sistema imune. Dúvidas

existem sobre os mecanismos protetivos, as emoções positivas e o estilo de vida

saudável, associado a melhora no funcionamento dos sistemas endócrino e

imune. As pesquisas ainda se encontram na sua “infância”, parafraseando Solovey

et al. (2000), e por isso pouco se sabe sobre a sua fisiologia.

Apesar dos resultados bastante robustos, as pesquisas relacionadas a este

tema possuem amostras e métodos bastante diferentes, e com controle de

variáveis limitado, dado que os estudos foram realizados em humanos, com

afecções ou ainda, geralmente, estudantes universitários. Contudo, é fundamental

levar em consideração que se trata de um vasto campo de investigações em que

ainda há muito por ser descoberto.

Acreditamos na importância da psicologia e do profissional psicólogo estar

se apropriando deste conhecimento para auxiliar na condução e no planejamento

de suas intervenções, bem como, na prevenção e promoção da saúde.

Destacamos ainda a interdisciplinaridade e a integralidade como fatores

primordiais frente ao objetivo de se alcançar uma melhor qualidade de vida, diante

da constatação de que os processos de adoecimento não constituem apenas o

fator médico-biológico, que sua amplitude abrange a história de vida do indivíduo,

da família e da sociedade como um todo.

Do mesmo modo nos reportamos as emoções positivas, em especial as

pesquisas realizadas na área da Psicologia Positiva com o objetivo de desenvolver

políticas de promoção de saúde mental, apoiados na concepção de que com o

estudo das características humanas positivas, a ciência aprenderá a prevenir

doenças físicas e mentais.

41

Gostaríamos de mencionar o trabalho realizado pelos Terapeutas da

Alegria e de um antigo projeto coordenado pela professora Dra. Josiane da silva

Delvan da Silva (criando um espaço lúdico para crianças no Hospital Universitário

Pequeno Anjo) como sendo algumas das poucas intervenções realizadas neste

âmbito e que produziu e produz resultados importantes seja na vida do paciente,

como no próprio ambiente de trabalho, dado ser um local classicamente

estressante pela natureza de sua atividade.

Ao término deste trabalho, podemos dizer que o seu desenvolvimento foi

extremamente desafiador e enriquecedor, por se tratar de um assunto pouco

explorado durante a graduação, ainda que o adoecimento físico, de acordo com os

dados obtidos, possa estar intimamente relacionado ao sofrimento psíquico.

Sabemos que são inúmeros os conteúdos a serem abordados durante a

graduação, porém nossa sugestão não é de que o conhecimento acerca das

doenças seja tão aprofundado como na área médica, mas o necessário para que

os futuros psicólogos possam atuar, por exemplo, em uma equipe interdiciplinar,

dando a sua contribuição a partir de um conhecimento técnico biológico prévio

(principalmente nas áreas básicas: imunologia, histologia, bioquímica) a ser

adquirido na graduação.

42

6 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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45

7 APÊNDICES

7.1 Apêndice 1

Fichamento: As relações entre saúde, doença e comportamento.

Autor Ano Título do trabalho e capítulo utilizado

Principais idéias sobre a relação entre estas variáveis

Limitações dos estudos

Straub, Richard

2005

Psicologia da Saúde. Comportamento e saúde.

De acordo com o autor, seria difícil conceber uma atividade ou comportamento que não influencie a saúde de alguma forma, ainda que direta ou indiretamente, imediatamente ou a longo prazo, para melhor ou para pior. A perspectiva biopsicossocial ressalta as múltiplas influências entre os contextos biológicos, psicológicos e social da saúde. A mesma esta fundamentada na teoria sistêmica do comportamento. Segundo essa teoria, a saúde – de fato toda a natureza- é melhor compreendida como uma hierarquia de sistemas, na qual cada um deles é simultaneamente composto por subsistemas e por uma parte de sistemas maiores e mais abrangentes. Assim, cada um de nós é um sistema, um corpo formado por sistemas em interação, como o sistema endócrino, o cardiovascular, o nervoso e o imunológico. Aplicada à saúde, essa abordagem enfatiza uma questão fundamental: o

46

sistema, em determinado nível, é afetado por sistemas em outros níveis e também os afeta. Por exemplo, o sistema imunológico enfraquecido afeta órgãos específicos no corpo de uma pessoa, o que, por sua vez, afeta a sua saúde biológica geral, afetando, por sua vez, os relacionamentos dessa pessoa com sua família e seus amigos. Conceituar a saúde e a doença conforme a abordagem sistêmica permite que compreendamos o indivíduo de forma integral.

Ballone , Neto e Ortolani.

2002 Da Emoção à Lesão. O humor e as doenças. Pág. 67.

O estilo repressivo de enfrentamento das emoções negativas também é um fator que pode introduzir um certo grau de imunossupressão (Cano- Vindel, 1999). Uma alta ativação do Sistema Nervoso Autônomo, determinada pelo estilo pelo estilo repressivo de enfrentamento das emoções, mantida por um longo tempo pode provocar alterações no Sistema Imunológico que tornam a pessoa vulnerável a enfermidades infecciosas ou à doenças auto-imunes. Segundo Cano, as pessoas com hipertensão essencial têm níveis maiores de raiva interna que os grupos controle, sem hipertensão. Os pacientes com asma, por exemplo, apresentam níveis maiores de raiva externa do que as pessoas sem asma. A raiva, neste caso, ajudaria a

47

manter níveis altos de ativação fisiológica do SNC (Cano-Vindel & Fernández Rodriguéz, 1999). Cont.

Moreira, Mario S.

2003 Psiconeuroimunologia Devemos ter em mente que quaisquer tipos de ações stressantes- stress psicossocial, perda de emprego, eventos existenciais decorrentes de situações decorrentes de perda, sentimentos de rejeição, rupturas de casamentos, baixa auto-estima, reprovação em concursos, ansiedade expectante diante de provas, dificuldades de adaptação e todos os nóxios existenciais nocivos- levarão o indivíduo que os sofre a uma queda de sua defesa imunológica, podendo sobrevir daí qualquer doenças oriundas de tal situação clínica. Tanto os eventos de origens psicológicas e emocional, ou orgânica e física, vão desencadear, no organismo, as mesmas reações, os mesmos fenômenos médicos de natureza funcional ou orgânica. Fica, pois, evidente na síndrome geral da adaptação (SGA), que as agressões à personalidade, bem, como as suas defesas, quer sejam somáticas ou psíquicas, orgânicas ou emocionais, são, em essência, de mesma natureza.Pensamos que o indivíduo que tem elevada auto-estima, apoio psicossocial, amor familiar,

48

fé religiosa e alegria de viver, naturalmente estará estimulando o seu sistema imunológico, que o defenderá contra eventos nocivos, os quais podem representar situações de grave stress para outros que não estejam assim tão bem protegidos, tornando-se facilmente vulneráveis aos efeitos do stressor que acometeu a todos igualmente.

Camon, Valdemar, A. A. Org.

2002 Psicologia da saúde-Um novo significado para a prática clínica.

A teoria sistêmica tem difundido com grande ênfase a necessidade da compreensão da interação de todos os sistemas abertos, os quais, per se, são sistemas vivos e, como tal, exercem e recebem influência dos outros sistemas com os quais interage. Na verdade numa concepção sistêmica geral – que se estende para muito além das fronteiras da área da saúde-diríamos que todos os sistemas sem exceção, não apenas estão interligados e interagem entre si, como também, e em virtude dessa interação, se encontram em permanente mutação. Se consideramos válido o postulado que afirma que o estado físico se altera em conseqüência das emoções e das circunstâncias sócias, da mesma forma é permitido afirmar que todos esses estados são alterados pelo contexto ecológico em que o homem se encontra inserido.

49

A saúde ou a doença configura-se sempre de maneira diferente e terá não apenas uma etiologia, como tb uma dinâmica totalmente diversa, caso o indivíduo viva na selva amazônica ou no centro urbano com altos índices de poluição, trânsito e densidade populacional. O mesmo pode ser afirmado para e sobre as posturas, crenças e práticas espirituais, portanto a respeito da espiritualidade.Saúde e doença têm sempre a ver com tudo isso. E como essa interação se influencia mútua e reciprocamente, a saúde e a enfermidade dos sistemas extracorporais tb dependem do tipo, forma e qualidade dessa interação.

50

7.2 Apêndice 2

TERMO E CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Gostaria de convidá-lo (a) para participar de

uma pesquisa cujo objetivo é (descrever)..........

.......... .......... .......... .......... .......... .......... ..........

..........

Sua tarefa consistirá na participação em

uma (entrevista, observação, questionário,

escala, etc.) .......... .......... .......... .......... ..........

.......... ..........

Quanto aos aspectos éticos, gostaria de

informar que:

a) seus dados pessoais serão mantidos em

sigilo, sendo garantido o seu anonimato;

b) os resultados desta pesquisa serão utilizados

somente com finalidade acadêmica podendo

vir a ser publicado em revistas

especializadas, porém, como explicitado no

item (a) seus dados pessoais serão

mantidos em anonimato;

c) não há respostas certas ou erradas, o que

importa é a sua opinião;

d) a aceitação não implica que você estará

obrigado a participar, podendo interromper

sua participação a qualquer momento,

mesmo que já tenha iniciado, bastando,

para tanto, comunicar aos pesquisadores;

e) você não terá direito a remuneração por sua

participação, ela é voluntária;

f) esta pesquisa é de cunho acadêmico e não

visa uma intervenção imediata.

g) durante a participação, se tiver alguma

reclamação, do ponto de vista ético, você

poderá contatar com o responsável por esta

pesquisa.

Pesquisador responsável: Profº. Dr. Rui Ferreira E-mail: [email protected] Telefone: 341 7688 Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí – CCS R: Uruguai, 448 – bloco 25b – Sala 401.