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1 ______________________________________ 1 Acadêmica do 10º período do curso de Direito, da Faculdade São Lucas Unidade II [email protected] 2 Acadêmica do 10º período do curso de Direito, da Faculdade São Lucas Unidade II [email protected] 3 Acadêmica do 10º período do curso de Direito, da Faculdade São Lucas Unidade II [email protected] 4 Acadêmico do 10 º período de curso de Direito da Faculdade São Lucas Unidade II- [email protected] 5 Acadêmico do 10 º período de curso de Direito da Faculdade São Lucas Unidade II- [email protected] A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA NAS AÇÕES DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE THE RELAXATION OF THE JUDGED THING IN PATERNITY INVESTIGATION ACTIONS Clisele Guarathe Rabelo¹ Bianca Rodrigues dos Santos² Thaíse Mendes Martins³ Ronildo Ferreira da Silva 4 Waldir Rodrigues de Aguiar 5 RESUMO: O presente trabalho apresenta os procedimentos de uma pesquisa bibliográfica exploratória com relação aos casos em que pode ou não haver a relativização da coisa julgada nas ações de investigação de paternidade, demonstrando as causas que levam à sua possibilidade, observando ainda, a evolução científica e o posicionamento jurisprudencial sobre o tema. Com o surgimento do exame de DNA, a certeza sobre a veracidade da paternidade se tornou mais sólida, comprovando em 99,9% a real identidade biológica. Ocorre que, as ações de investigação de paternidade julgadas anteriormente a nova prova pericial (DNA), fundamentadas em suposições, indícios e presunções não absolutas, julgadas em favor do investigado por falta de provas, ou a favor do investigante com uma certeza que jamais existiu, embora a existência do exame de DNA, o qual é capaz de demonstrar em seu resultado a veracidade da paternidade quase absoluta, esbarram na coisa julgada para a sua renovação. Palavras-Chave: Coisa julgada, paternidade, DNA, relativização. ABSTRACT: The present work presents the procedures of an exploratory bibliographical research in relation to the cases in which there may or may not be the relativization of the thing judged in the actions of paternity investigation,

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______________________________________

1Acadêmica do 10º período do curso de Direito, da Faculdade São Lucas – Unidade II –

[email protected] 2 Acadêmica do 10º período do curso de Direito, da Faculdade São Lucas – Unidade II –

[email protected] 3 Acadêmica do 10º período do curso de Direito, da Faculdade São Lucas – Unidade II –

[email protected] 4 Acadêmico do 10 º período de curso de Direito da Faculdade São Lucas – Unidade II-

[email protected] 5 Acadêmico do 10 º período de curso de Direito da Faculdade São Lucas – Unidade II-

[email protected]

A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA NAS AÇÕES DE

INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE

THE RELAXATION OF THE JUDGED THING IN PATERNITY

INVESTIGATION ACTIONS

Clisele Guarathe Rabelo¹

Bianca Rodrigues dos Santos²

Thaíse Mendes Martins³

Ronildo Ferreira da Silva4

Waldir Rodrigues de Aguiar5

RESUMO: O presente trabalho apresenta os procedimentos de uma pesquisa

bibliográfica exploratória com relação aos casos em que pode ou não haver a

relativização da coisa julgada nas ações de investigação de paternidade,

demonstrando as causas que levam à sua possibilidade, observando ainda, a

evolução científica e o posicionamento jurisprudencial sobre o tema. Com o

surgimento do exame de DNA, a certeza sobre a veracidade da paternidade se

tornou mais sólida, comprovando em 99,9% a real identidade biológica. Ocorre

que, as ações de investigação de paternidade julgadas anteriormente a nova

prova pericial (DNA), fundamentadas em suposições, indícios e presunções não

absolutas, julgadas em favor do investigado por falta de provas, ou a favor do

investigante com uma certeza que jamais existiu, embora a existência do exame

de DNA, o qual é capaz de demonstrar em seu resultado a veracidade da

paternidade quase absoluta, esbarram na coisa julgada para a sua renovação.

Palavras-Chave: Coisa julgada, paternidade, DNA, relativização.

ABSTRACT: The present work presents the procedures of an exploratory

bibliographical research in relation to the cases in which there may or may not be

the relativization of the thing judged in the actions of paternity investigation,

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demonstrating the causes that lead to its possibility, noting also the scientific

evolution and the jurisprudential positioning on the subject. With the advent of the

DNA test, the certainty about the veracity of the paternity became more solid,

proving in 99.9% the real biological identity. It occurs that the paternity

investigation actions judged previously the new expert evidence (DNA), based on

assumptions, clues and non-absolute assumptions, judged in favor of the

investigated for lack of evidence, or in favor of the investigator with a certainty

that never existed , although the existence of the DNA examination, which is

capable of demonstrating in its result the veracity of almost absolute paternity,

hinders the res judicata for its renewal.

Keywords: Thought judged, paternity, DNA, relativization.

INTRODUÇÃO

Relevante se faz o assunto ora trabalhado, pois muitos casos pretéritos

solucionados pelo judiciário findados apenas em suposições e indícios quanto à

paternidade, não tiveram a motivação e fundamentação jurisdicional necessária

para uma real convicção dos fatos, muito embora, atualmente tenha-se o exame

de DNA (prova pericial imprescindível nas ações de investigação de

paternidade), o qual demonstra quase em certeza absoluta a veracidade da

paternidade biológica.

O surgimento do exame de DNA e o desenvolvimento da biologia

genética gerou um grande impacto no mundo jurídico, pois deixou para trás as

dúvidas anteriormente existentes, trazendo com mais certeza a comprovação da

paternidade biológica.

A busca da justiça nas ações de investigações de paternidade já

julgadas, há de se observar que se esbarra no conflito entre a autoridade da

coisa julgada e a prevalência da verdade real, mesmo sendo o convívio familiar

protegido pelo princípio da dignidade da pessoa humana e o direito à filiação um

direito personalíssimo, indisponível e imprescritível.

O principal objetivo da relativização nas ações de investigação de

paternidade é o da descoberta da filiação por exame pericial, que tenha sido

desprezada pelo Direito em face de uma apreciação processual pretérita sob o

manto da coisa julgada.

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Será observado as opções sobre a relativização da coisa julgada nas

demandas investigatórias de paternidade, uma vez que o assunto não se

encontra pacificado, motivo pelo qual, serão expostas as principais teses

desenvolvidas pelos doutrinadores e os posicionamentos jurisprudenciais

dominantes.

O presente artigo buscará fazer o leitor entender sobre as possibilidades

da mitigação da coisa julgada, que nasce num contexto de dúvidas acerca da

influência de novas técnicas periciais sobre findadas ações de

investigação de paternidade declaradas sem precisão técnica-jurídica.

1. UMA ABORDAGEM SOBRE A COISA JULGADA

Sustenta-se a ideia de que a coisa julgada teve início antes do direito

romano, sendo mantida na forma consuetudinária, ou seja, pelos costumes.

Porém, é em Roma que a coisa julgada encontra-se arraigada.

Os romanos afirmaram eminentemente em questões práticas, de valor

social, que para que a vida em sociedade se desenvolva mais segura e

pacificamente, faz-se necessário impor certeza ao usufruto dos bens da vida, e

resguardar o resultado do processo (CHIOVENDA, 2003, p. 447).

De acordo com o ensinamento de Luiz Eduardo:

A proibição de se ajuizar pela segunda vez a ação,

relativamente ao mesmo direito, é bastante antiga. Seu

aparecimento relaciona-se à regra bis de eadem re ne sit

actio, da qual se encontram traços em diversos fragmentos

do direito romano antigo. Essa vedação, de tão remota,

passou para a consciência pública sob a forma de vetus

proverbium. Tão vetus que Quintiliano não teria descoberto

a origem da expressão ne bis in idem. Acredita-se que essa

proibição se refira a uma regra anterior à Lei das XII

Tábuas, que foi consagrada pelo uso e transformada em

provérbio popular, tendo sido aplicada ao direito romano

por obra de interpretação dos jurisconsultos (MOURÃO,

2008, p. 65).

Pode-se dizer que foi no período processual romano denominado formulário

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que surgiu o instituto da coisa julgada. Para os romanos a coisa julgada servia

como garantia do resultado do processo, pois com ela a certeza surgiria e o gozo

dos bens concedidos pela sentença também.

Passado o período romano, os jurisconsultos da Idade Média e

começo da modernidade, entendiam a coisa julgada como sendo a verdade

encerrada na decisão judicial.

Segundo Guilherme Estellita, “O fundamento jurídico do instituto,

que no direito romano era a regra bis de eadem re ne sit iudicium cumprida

através do efeito consumativo da actio, passou-se a ver na verdade da decisão

ponto de vista novo imposto pelas tendências escolásticas da época”

(ESTELITA, 1936, p. 23).

No Brasil, precisamente no império, após a República, as primeiras

legislações a cuidar da coisa julgada, foram o Regulamento n. 737, de 25 de

novembro de 1850, que tratava do processo comercial, e o Decreto n. 763 de 19

de setembro de 1890, que orientava as causas cíveis em geral.

No período da República, a primeira a tratar do instituto foi a Lei n.

3.071, de 1º de janeiro de 1916, a chamada Lei de Introdução ao Código Civil,

sendo alterada pela Lei n. 3.725, de 15 de janeiro de 1919, que estabelecia em

seu artigo 3º que: “A Lei não prejudicará, em caso algum, o direito adquirido, o

ato jurídico perfeito ou a coisa julgada.”

Do aludido dispositivo, ainda em seu artigo 3º, § 3º, o legislador

pátrio

definia a coisa julgada nos seguintes termos: “Chama-se coisa julgada ou caso

julgado, a decisão judicial de que não caiba recurso.”

Nas demais Constituições brasileiras (artigo 179, §3º, da

Constituição Imperial de 1824; e no artigo 11, §3º, da Constituição Republicana

de 24 de fevereiro de 1891), a coisa julgada apareceu, porém não

pormenorizada, como na Constituição de 16 de julho de 1934. Sobre a questão,

Celso Bastos afirma:

A partir de 1934 a matéria sofreu relativa alteração.

Abandonou-se a condenação incondicionada e absoluta à

retroatividade das leis e passou-se a cristalizar sob o manto

tutelar da irretroatividade as situações jurídicas

qualificáveis como coisa julgada, ato jurídico perfeito e

direito adquirido (BASTOS, 2004, p. 202).

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A regra sobre a coisa julgada, na Carta de 1934, não teve duração

longa, pois foi eliminada pela Carta de 1937, além de outros direitos e garantias

fundamentais.

Bastos leciona, ainda:

“Salvo a Constituição de 1937, todas as demais mantiveram-se fiéis à

sacrossanta irretroatividade, respeitada, sempre, a formulação técnica

consistente no resguardo da já clássica trilogia” (BASTOS, 2004, p. 202).

Em 1939, no Código de Processo Civil, foram editados os artigos 287

e 288,

que assim asseguravam:

Artigo 287. A sentença que decidir total ou parcialmente a

lide terá força de lei nos limites das questões decididas.

Parágrafo único. Considerar-se-á decididas todas as

questões que constituam premissa necessária à

conclusão.

Artigo 288. Não terão efeito da coisa julgada os despachos

meramente interlocutórios e as sentenças proferidas em

processo de jurisdição voluntária e graciosa, preventivos e

preparatórios e de desquite por mútuo consentimento.

Como se vê, neste momento, a coisa julgada continuava em vigência,

porém

sem a proteção constitucional, apenas sendo prevista pelo Código de Processo

Civil daquela época.

Contudo, ressurgiu nove anos depois, pelo artigo 141, §3º, da

Constituição

de 1946, sendo confirmada pelas constituições de 1967 e 1969, em seus artigos

150, §3º e 153, §3º, respectivamente.

O Decreto- Lei n.4.647 de 1942 que revogou a Lei. N 3.725/16 tirou a

definição do parágrafo 3º, do artigo 3º, tipificando em seu artigo 6º que: “a lei em

vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito

adquirido e a coisa julgada.”

O Código Civil de 1916 estabelecia regras que faziam referência à

coisa

julgada, em seus artigos 1030, 1036 e 1525.

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No Código de Processo Civil de 1939, a coisa julgada era disciplinada

em

seus artigos 182, II; 287; 288; 289; 290 e 597.

Em 1964 fora apresentado ao então Ministro da Justiça, Celso Neves,

o Anteprojeto de Código de Processo Civil, que tinha por finalidade a reforma do

CPC de 1939, o qual trazia em seus artigos 507 a 515, matéria relacionada à

coisa julgada.

No Código de Processo Civil de 1973, a definição deu-se pelo texto

do

artigo 301, § 3º: “Há coisa julgada, quando se repete ação que já foi decidida por

sentença, de que não caiba recurso.”

E em seu artigo 467: “Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que

torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou

extraordinário.”

1.2 EVOLUÇÃO DOUTRINÁRIA

No ano de 1936, o Tribunal de Apelação do Distrito Federal, deparou-

se

com questão envolvendo a coisa julgada:

Em seus embargos à execução sustenta, ainda uma vez, o

réu agravante, que nada deve ao autor agravado e só

agora exibe o documento, tardiamente descoberto em que

apoia essa asseveração. É o recibo de fls. 219, que já

figurara à fls. 143 destes autos, dali desentranhados, como

posteriormente, dos autos de ação sumária rescisória,

proposta e julgada incabível na espécie [...] É certo que a

consciência do julgador se impõe meditação demorada

sobre as realidades jurídicas, afastados os preconceitos de

acanhado fetichismo.

Para Affonso Fraga, na década de 1940, havia duas hipóteses em que não

ocorria a coisa julgada: nos processos simulados, mas não fraudulentos; e nas

pretensões jurídicas contrárias à lei.

“O processo simulado, portanto, pode ser de simulação inocente ou

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fraudulenta. O primeiro lugar sempre que seu objeto é uma pretensão legítima,

como quando as partes o atuavam com interesse científico” (FRAGA, 1940,

p.11).

Em 1946, João Bonumá, um dos maiores processualistas da época,

fazendo

uma relação entre segurança jurídica e a coisa julgada afirmava que:

Segurança jurídica é apenas a razão prática pela qual a lei

outorga a determinadas sentenças a qualidade de

indiscutíveis; razão que varia conforme a natureza do

direito que está na base da decisão, e que varia no tempo

e no espaço para a mesa categoria de julgados. (...) Tudo

isso leva naturalmente, à conclusão de que o esforço

doutrinário para encontrar um fundamento ou justificação

jurídica da autoridade da coisa julgada é um labor penoso

e vão. Teoricamente se poderão imaginar as mais

sedutoras explicações, mas é certo que a realidade das

coisas as desmentirá. Não obstante, o estudioso do

processo precisa adotar ou criar uma doutrina para

preencher o vácuo na sistematização da matéria, da

mesma forma que o cientista é forçado a formular uma

hipótese quando não pode atingir uma certeza.

Continua explicando o instituto no foco da sua intangibilidade:

Por outro lado, a modificabilidade dos comandos legal e

jurisdicional obedecem a critérios perfeitamente

diferenciados. Porque a lei é promulgada para regular

situações futuras e suas normas visam a estabelecer a

normalidade das relações jurídicas da sociedade, seu

comando pode ser modificado na medida em que exigirem

as transformações sociais, políticas, econômicas,

religiosas e jurídicas. Quanto à sentença não regem os

mesmos princípios. (....) Contudo, é preciso abrir uma

exceção ao princípio geral da imodificabilidade da sentença

transitado em julgado. Se os efeitos jurídicos do comando

judicial não se esgotam pela simples prolação do julgado,

mas perseveram na constituição de um estado ou situação

nova, tornada posteriormente incompatível com o sistema

jurídico, ou dominante, ou se transforma em uma injustiça

evidente e intolerável, sua modificação e tão necessária

como a modificação da lei em casos semelhantes.(...) Isso

importa em afirmar, pelo menos no terreno da teoria do

processo civil, que a cláusula rebus sic standibus é, até

certo ponto, implícita no comando jurisdicional e que a

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imodificabilidade dos julgados só é possível e aconselhável

quando a produção da certeza jurídica das relações

privadas não ferem princípios superiores de ordem pública,

nem se transforma, com o tempo, em estado de insofrível

injustiça (BONUMÁ, 1946)

Pelo acima exposto, nota-se que a discussão acerca da

modificabilidade da

coisa julgada não nasceu nos tempos atuais. Porém, hoje em dia a discussão é

mais intensa.

Em se tratando de relações jurídicas continuativas, como o que ocorre

na

fixação de pensão alimentícia, pode-se dizer que não há a formação de coisa

julgada definitiva.

Atualmente, a coisa julgada mantém seu status de norma

constitucional,

encontrando-se tipificada no artigo 5º, inciso XXXVI, da Constituição da República de

1988, o qual dispõe: “A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico

perfeito e a coisa julgada.”

Está prevista no Código de Processo Civil, de 11 de janeiro de 1973

(Lei

n.5.869) Capítulo VIII, Seção II, arts. 467 a 475.

Há grande discussão entre os doutrinadores modernos acerca do

tratamento

constitucional da coisa julgada. A divergência está em definir se a coisa julgada

é ou não um direito ou garantia fundamental e se o princípio da imodificabilidade,

inerente a ela, é constitucional ou infraconstitucional.

1.3 COISA JULGADA: ASPECTOS GERAIS

Apesar do instituto da coisa julgada possuir raízes milenares, ainda

hoje não foi possível chegar a um consenso sobre o seu conceito. Tal imprecisão

causa dificuldades na elaboração doutrinária que se realiza acerca do tema,

alimentando dúvidas quanto à sua aplicação prática.

Barbosa Moreira assim se pronunciou:

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Impossível pretender, na problemática da coisa julgada,

uma convergência de orientações, se não há sequer

unanimidade de vistas quanto à delimitação conceptual do

objeto pesquisado. Como esperar que se harmonizem as

vozes, antes de ter-se a certeza de que todas se referem a

uma única e definida realidade? (MOREIRA, 1971, p. 133)

A origem do conceito de coisa julgada encontra-se no postulado latino

bis eadem re ne sit actio, sendo assim traduzida por Ribeiro Mourão: “Sobre uma

mesma relação jurídica não se pode exercer duas vezes a ação da lei, isto é, o

processo” (MOURÃO, 2008, p. 28).

Sob a influência dos romanos, a coisa julgada foi sendo definida,

gradativamente, como sendo um ato eminente do processo: primeiro com a litis

contestatio, depois com a sentencia (MOURÃO, 2008, p. 28).

Hoje em dia essa corrente foi mantida, surgindo teorias que

identificam a

coisa julgada com a própria sentença; os efeitos da sentença; uma qualidade dos

efeitos da sentença; e uma qualidade do conteúdo da sentença. Desta forma,

vocábulos como,

“indiscutibilidade,” “imutabilidade” e “incontrovertibilidade” são na maioria das

vezes empregados para se caracterizar a res iudicata (MOURÃO, 2008, p. 29).

Para o citado doutrinador Ribeiro Mourão, a coisa julgada, res udicata

ou

caso julgado pode ser definida como:

Uma situação jurídica que se caracteriza pela proibição de

repetição do exercício da mesma atividade jurisdicional,

sobre o mesmo objeto, pelas mesmas partes (e,

excepcionalmente, por terceiros), em processos futuros.

Para alcançar esse desidrato, vale-se o legislador de duas

técnicas processuais: (a) veda a repetição da demanda; (b)

imutabiliza as decisões judiciais transitadas em julgado

(MOURÃO, 2008, p. 29).

A coisa julgada, nos tempos atuais, encontra previsão constitucional

no

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artigo 5º, inciso XXXVI, sendo elencada dentre os direitos e garantias

fundamentais: “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a

coisa julgada.”

Tal limitação pretende obstaculizar os efeitos negativos das leis

retroativas

sobre a esfera do indivíduo, que tiverem sido consolidadas na vigência da lei

passada, determinadas relações jurídicas (MAIA, 2006, p. 142).

O direito adquirido, na visão doutrinária de Celso Bastos, assim pode

ser

conceituado:

Constitui-se num dos recursos de que se vale a

Constituição para limitar a retroatividade da lei. Com efeito,

esta está em constante mutação; o Estado cumpre o seu

papel exatamente na medida em que atualiza as suas leis.

No entretanto, a utilização da lei em caráter retroativo, em

muitos casos, repugna porque fere situações jurídicas que

já tinham por consolidadas no tempo, e esta é uma das

fontes principais da segurança do homem na terra

(BASTOS, 1994, p. 43)

O ato jurídico perfeito pode ser assim entendido:

É aquele que se aperfeiçoou, que reuniu todos os elementos necessários a sua formação, debaixo da lei velha. Isto não quer dizer, por si só, que ele encerre em seu bojo um direito adquirido. Do que está o seu beneficiário imunizado é de oscilações de forma aportadas pela lei nova.

A coisa julgada, por sua vez, pode ser entendida como a qualidade

que torna

a parte dispositiva da sentença imutável, indiscutível dentro do mesmo processo

e fora dele. É o impedimento de que a mesma ação, com as mesmas partes e

que já tenha passada em julgado, seja reproposta. Surge em decorrência do

trânsito em julgado. A sentença torna-se transitada em julgado, quando todos os

possíveis recursos cabíveis se esgotaram ou porque houve a perda de prazo

para a interposição de recurso, ou pelo não uso da faculdade de recorrer, a

chamada preclusão.

O instituto da coisa julgada encontra-se disciplinado precisamente no

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Código de Processo Civil, em seus artigos 467 a 475, e resguardada pela nossa

atual

Constituição de 1988, em seu art. 5º, inciso XXXVI, que dispõe: “A lei não

prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.”

Desta forma, vê-se que a coisa julgada está elencada entre os direitos

e

garantias fundamentais, possuindo o status de cláusula pétrea.

Nas palavras de Fredie, Paula e Rafael, a coisa julgada pode assim

ser

conceituada:

A coisa julgada é instituto jurídico que integra o conteúdo

do direito fundamental à segurança jurídica, assegurado

em todo Estado Democrático de Direito, encontrando

consagração expressa, em nosso ordenamento jurídico, no

art. 5º, XXXVI, CF. Garante ao jurisdicionado que a decisão

final dada à sua demanda será definitiva, não podendo ser

rediscutida, alterada ou desrespeitada- seja pelas partes,

seja pelo próprio Poder judiciário (DIDIER JR, 2010, p.408).

Marcus Vinicius sobre a função que exerce a res iudicata, assim

leciona:

A função da coisa julgada é assegurar que os efeitos

decorrentes das sentenças judiciais não possam mais ser

modificados, que se tornem definitivos. É fenômeno

diretamente associado à segurança jurídica, quando o

conflito ou a controvérsia são definitivamente solucionados

(GONÇALVES, 2011, p. 425).

Segundo Alexandre Freitas Câmara, citando a Lei de Introdução às

Normas

do Direito Brasileiro, antiga LICC:

“Pode-se conceituar a coisa julgada como o faz a Lei de Introdução

às

Normas do Direito Brasileiro, em seu art.6º, §3º, onde se lê que “chama-se coisa

julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso”

(CAMARA, 2009, p. 457).

Liebman, por sua vez, conceitua a coisa julgada como sendo “a

imutabilidade do comando emergente de uma sentença” (LIEBMAN, 1981, p. 54).

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Importante identificar a natureza jurídica da coisa julgada, podendo-

se

afirmar que a coisa julgada é uma situação jurídica adquirida pela decisão judicial.

1.3.1 Espécies da coisa Julgada

Pode-se afirmar que há dois tipos de coisa julgada, que são ligados

intimamente, sendo um o pressuposto lógico de existência do outro: a coisa

julgada formal e a coisa julgada material ou substancial.

Coisa julgada formal é a imutabilidade e indiscutibilidade da sentença

dentro de um mesmo processo, ou seja, possui a característica de

endoprocessual. Seu efeito ocorre no interior da relação jurídica processual, não

sendo lançado para fora do processo em que a sentença foi prolatada. Sua

função é meramente processual. Opera para o processo e em função deste.

Ocorre em todos os tipos de sentenças, sejam elas terminativas,

declarativas,

condenatórias etc.

Cândido Dinamarco teceu o seguinte entendimento sobre o caráter

interno

da res iudicata formal:

A coisa julgada formal é um dos dois aspectos do instituto

da coisa julgada e opera exclusivamente no interior do

processo em que se situa a sentença sujeita a ela. Tem,

portanto, uma feição e uma missão puramente

técnicoprocessual.Toda e qualquer sentença é apta a

receber a coisa julgada formal, porque todas elas têm o

efeito programado de extinguir o processo e, quando

nenhum recurso tem cabimento ou o cabível não é

interporto, o processo se extingue por força dela e

nenhuma outra se proferirá naquele processo

(DINAMARCO, 2005, p. 295).

Patente o entender de Marcus Vinicius sobre a coisa julgada formal:

É fenômeno interno ao processo, a impossibilidade de

modificar-se a sentença ou acórdão, quando já não caiba mais

recursos contra eles, seja porque foram esgotadas as possibilidades

recursais, seja porque o recurso adequado não foi interposto no prazo

legal. Todas as sentenças e acórdãos, em determinado momento,

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tornar-se-ão imutáveis, pois é limitado o stoque de recursos no

ordenamento jurídico. Chegará o momento em que eles se esgotarão:

todo processo há de ter um fim. Quando isso ocorre, e não couberem

mais recursos, ou porque se esgotaram, ou porque transcorreu o

prazo de interposição, haverá a coisa julgada formal (GONÇALVES,

2011, p. 426).

Todas as sentenças e os acórdãos que se tornaram imutáveis em

decorrência

do trânsito em julgado, estão sujeitos aos efeitos da coisa julgada formal, o que

não ocorre com a material. Em outras palavras, a sentença que extingue o

processo, sem julgamento de mérito, é alcançada pela res judicata formal, mas

em maneira alguma pela material.

A coisa julgada material, por sua vez, é a que ocorre fora do processo.

Seu

efeito dá-se externamente ao processo, de maneira que a pretensão deduzida

e dirimida definitivamente não mais poderá ser discutida em outros em

decorrência do trânsito em julgado.

Aduz Marcus Vinicius:

Consiste não mais na impossibilidade de modificação da

sentença no processo em que foi proferida, mas na

projeção externa dos seus efeitos, que impede que a

mesma ação, já decidida em caráter definitivo, volte a ser

discutida em outro processo. É sobretudo essa

manifestação da coisa julgada que se presta a trazer a

segurança jurídica aos litigantes, aos quais não basta

apenas que o processo se encerre, mas que a questão

litigiosa seja definitivamente dirimida, não podendo mais

ser discutida, em nenhum outro processo, assegurada a

pacificação do conflito (GONÇALVES, 2011, p. 426).

A coisa julgada material seria um espelho do princípio da segurança

jurídica, pois com ela há o surgimento da certeza da resolução da celeuma,

fazendo com que as partes litigantes tenham a paz de uma relação resolvida

definitivamente.

O Código de Processo Civil, em seu artigo 467, define a coisa julgada

material como “a eficácia que torna imutável e indiscutível a sentença não mais

sujeita a recurso ordinário ou extraordinário.” E o artigo 468 completa a noção

exposta pelo dispositivo antecedente:” a sentença, que julgar total ou

parcialmente a lide, tem força de lei nos limites da lide e das questões decididas.

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Importante registrar que, para que haja a coisa julgada material, necessário

se faz a presença de sentença de mérito, ou seja, nas sentenças que julgam o

processo sem resolução do mérito, não há a incidência da res judicata material.

Com isso, um dos pressupostos de existência da coisa julgada

material é que

sejam decisões de mérito, como demonstram Fredie, Paula e Rafael:

Somente decisões de mérito estão aptas a ficar imunes

com a coisa julgada. Reputam-se decisões de mérito

aquelas em que o magistrado resolve o objeto litigioso (lide,

mérito, pedido/causa de pedir), proferidas, com base em

um dos incisos do art. 269 do CPC (decisões que

certifiquem a existência ou inexistência de algum direito). O

legislador brasileiro optou por restringir a ocorrência da

coisa julgada material a tais decisões, conforme a letra do

art. 468 do CPC (DIDIER JR, 2010, p. 2015).

Pertinente mostra-se a didática de Liebman, citado por Câmara, ao

diferenciar a formal da material de forma precisa:

A coisa julgada, segundo esta doutrina, deve ser

considerada em dois aspectos: formal e substancial (ou

material). Assim sendo, chamar-se-ia coisa julgada formal

a imutabilidade da sentença, e coisa julgada material, a

imutabilidade dos seus efeitos. A coisa julgada formal seria,

assim, comum a todas as sentenças, enquanto a coisa

julgada material só poderia se formar nas sentenças de

mérito. Poder-se-ia,assim dizer que todas as sentenças

transitam em julgado (coisa julgada formal), mas apenas as

sentenças definitivas alcançam a autoridade de coisa

julgada(coisa julgada material) (LIEBMAN, 1981, p. 60).

Eis a diferença entre as duas modalidades de Coisa julgada.

1.3.2 Limites Objetivos e Subjetivos da Coisa Julgada

Pela leitura dos artigos 468, 469 e 470, do Código de Processo Civil

extrai-

se o entendimento de que os limites da coisa julgada encontram-se na parte

dispositiva da sentença, abrangendo todas as questões decididas pelo

magistrado, nos limites do pleito. Analisando-se precisamente o art. 469, vê-se

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que a res iudicata não abrange os motivos, a verdade dos fatos estabelecida

como fundamentação da sentença, e a questão prejudicial, analisada e decidida

incidentemente no processo, porém, pelo texto do art. 470, se a parte requerer,

o juiz sendo competente em razão da matéria e constituir pressuposto

necessário para o julgamento da lide, faz sim coisa julgada.

Dispõe os artigos 468, 469 e 470, in verbis:

Art.468. A sentença, que julgar total ou parcialmente a lide,

tem força de lei nos limites da lide e das questões

decididas.

Art.469. Não fazem coisa julgada: I- os motivos, ainda que

importantes para determinar o alcance da parte dispositiva

da sentença; II- a verdade dos fatos, estabelecida como

fundamento da sentença; III- a apreciação da questão

prejudicial, decidida incidentemente no processo.

Art.470. Faz, todavia, coisa julgada a resolução da questão

prejudicial, se a parte o requerer (arts.5º e 325), o juiz for

competente em razão da matéria e constituir pressuposto

necessário para o julgamento da lide.

Greco Filho, sobre a matéria, afirma:

“Completa-se este sistema com o que vem disposto nos artigos 469 e

470,

do CPC. Com base nestes dispositivos, pode-se afirmar que apenas o dispositivo

da sentença transita em julgado” (GRECO, 1997, p. 295).

Pertinente o que é dito na obra de Fredie, Paula e Rafael, que assim

entendem:

Somente se submete à coisa julgada material a norma

jurídica concreta, contida no dispositivo da decisão, que

julga o pedido (a questão principal, conforme o art. 468,

CPC). A solução das questões na fundamentação

(incluindo a análise das provas) não fica indiscutível pela

coisa julgada (art. 469, CPC), pois se trata de decisão

sobre questões incidentes (DIDIER JR, SARNO BRAGA,

OLIVEIRA, 2010).

Com relação aos limites subjetivos da res iudicata, pelo disposto no artigo 472,

do mesmo CODEX, extrai-se o entendimento de que esses limites são as partes

que compuseram a relação jurídica processual, não prejudicando e nem

beneficiando terceiros.

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Aduz, ainda, o supracitado artigo, que “nas causas relativas ao estado da

pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário,

todos os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a terceiros.”

Contudo, a eficácia da sentença é válida para todos podendo atingir,

de

maneira reflexa, credores ou herdeiros, pessoas que tenham diretamente

interesse na resolução da lide. Não são atingidos pela coisa julgada, mas sofrem

seus efeitos civis, de modo reflexo.

Outra hipótese que merece consideração é a da sucessão (entre vivos

ou

mortis causa) na relação jurídica deduzida no processo onde se formou a coisa

julgada.

Não pode haver dúvidas de que a coisa julgada impede nova discussão sobre o

que já foi decidido também para o sucessor.

Mais uma vez, leciona Rios Gonçalves, agora no âmbito do limite

subjetivo:

A regra fundamental é que a coisa julgada alcança as

partes, mas não terceiros. São várias as razões: ela impede

a repropositura da mesma demanda, e isso só ocorrerá se

as partes forem as mesmas, pois elas são elementos

identificadores da ação; e não seria possível, sob pena de

ofensa ao princípio do devido processo legal e do

contraditório, que alguém não pudesse mais discutir uma

decisão judicial sem ter tomado parte no processo em que

ela foi proferida (GONÇALVES, 2011, p. 431).

Na legitimidade extraordinária, sendo conceituada como aquela em à

parte

não é a dona do direito, tanto o substituído, quanto o substituto são atingidos

pela força do manto da coisa julgada se houver sentença de mérito.

Atinge, também, os litisconsortes necessários.

2 DA RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA

Atualmente há quem entenda que pode haver a flexibilização ou

relativização da coisa julgada. Todavia, há grande divergência na doutrina, sendo

que alguns entendem que a coisa julgada é tida como absoluta, e outros seguem

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o entendimento de que o princípio da segurança jurídica sofre uma mitigação,

levando-se em conta alguns aspectos de relevante valor social. Tal polêmica

iniciou-se com o Ministro do Superior Tribunal de Justiça, José Augusto Delgado.

Os direitos e garantias fundamentais são relativos, vez que os direitos

humanos fundamentais não podem ser utilizados como verdadeiros obstáculos

que visam a proteger a prática de atividades tidas como ilícitas, muito menos

como argumento para afastar ou amenizar a responsabilidade civil ou penal por

atos criminosos, correndo-se o risco de consagrar-se o desrespeito ao Estado

de Direito. Os direitos e garantias fundamentais resguardados por nossa

Constituição de 1988, dessa forma, não são ilimitados, porquanto encontram

limites nos demais direitos de igual valor previstos e assegurados pela Magna

Carta, como, o princípio da relatividade ou conveniência das liberdades públicas

(MORAIS, 2011, p. 169).

Para Alexandre de Moraes:

Quando houver conflito entre dois ou mais direitos ou

garantias fundamentais, o intérprete deve utilizar-se do

princípio da concordância prática ou da harmonização, de

forma a coordenar e combinar os bens jurídicos em conflito,

evitando o sacrifício total de uns em relação aos outros,

realizando uma redução proporcional do âmbito de alcance

de cada qual (contradição dos princípios), sempre em

busca do verdadeiro significado da norma e da harmonia

do texto constitucional com suas finalidades precípuas

(MORAIS, 2011, p. 169).

Como dito em linhas anteriores, havendo conflito entre dois ou mais

princípios, há que ser feito uma valoração, uma pesagem, equilibrando-se a

incidência de cada, não excluindo nem um e nem outro.

A relativização não pode ser feita de qualquer jeito, porquanto se

assim

fosse implementada, afetaria a estrutura da coisa julgada, protetora do princípio

constitucional da segurança jurídica, que serve de base ao Estado Democrático

de Direito. Para que haja a relativização de forma equilibrada, como dito antes,

necessário seja feita a ponderação de interesses com base na

proporcionalidade.

Para o respeitável doutrinador Humberto Theodoro Júnior:

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Sempre que se fala em decisão judicial, à míngua de

literatura a respeito, tem-se a falsa impressão de que o seu

controle de constitucionalidade, no Direito brasileiro, é

possível apenas enquanto não operada a coisa julgada,

através do último recurso cabível que é o extraordinário

previsto no artigo 102, III, da CF.(...) A coisa julgada não

pode suplantar a Lei em tema de inconstitucionalidade, sob

pena de transformá-la em um instituto mais elevado e

importante do que a lei e a própria Constituição. Se a lei

não é imune, qualquer que seja o tempo decorrido desde

sua entrada em vigor, aos efeitos negativos da

inconstitucionalidade, por que o seria a coisa julgada?

(THEODORO JUNIOR, RT 795/22, p. 143).

Continua afirmando o seguinte:

A inferioridade hierárquica do princípio da intangibilidade

da coisa julgada, que é uma noção processual e não

constitucional, traz como consectário a ideia de sua

submissão ao princípio da constitucionalidade. Isto nos

permite a seguinte conclusão: a coisa julgada será

intangível enquanto tal apenas quando conforme a

Constituição. [...] A relação, portanto, que existe entre o

princípio da constitucionalidade e o da imutabilidade da

coisa julgada é de antecedente e consequente, ou melhor,

de prejudicialidade, mormente no direito brasileiro em que

se está diante de um princípio de natureza constitucional e

outro de natureza ordinária. Assim, para que se fale na

tutela da intangibilidade da coisa julgada e, por

conseguinte, na sua sujeição a um regime excepcional de

impugnação, é necessário que antes se investigue sua

adequação à Constituição (THEODORO JUNIOR, RT

795/22, p. 143).

A coisa julgada, em se tratando de uma garantia fundamental do

Estado de Direito, não pode ser vista como absoluta, pois, como visto, sofre

certa relativização se confrontada com outras garantias fundamentais de igual

ou superior importância. A sua intangibilidade, como esclarece Humberto

Theodoro Júnior, revela-se como interpretação mais processual do que

constitucional, motivo a mais para não ser vista como algo intocável em

qualquer hipótese. É claro que não se está a tirar a sua importância

fundamental que leva à certeza, contudo o que se pretende demonstrar é que

também sofre mitigação.

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Analisando a questão da flexibilização da coisa julgada, para o

eminente Dinamarco, há que se analisar alguns fatores relacionados à

imutabilidade das decisões judiciais, como:

I- o princípio da razoabilidade e da proporcionalidade como

condicionantes da imunização dos julgados pela

autoridade da coisa julgada material; II- o zelo pela

cidadania e direitos do homem, também residente na

Constituição Federal, como impedimento à perenização de

decisões inaceitáveis em detrimento dos particulares; III- a

fraude e o erro grosseiro como fatores que, contaminando

o resultado do processo, autorizam a revisão da coisa

julgada; IV- a garantia constitucional do acesso à ordem

jurídica justa, que repele a perenização de julgados

aberrantemente discrepantes dos ditames da justiça e da

equidade; V- o caráter excepcional da disposição a

flexibilizar a autoridade da coisa julgada, sem o qual o

sistema processual perderia utilidade e confiabilidade,

mercê da insegurança que isso geraria (DINAMARCO,

2003).

Valores e questões elencadas acima, não devem ser desconsideradas

somente porque a coisa julgada não deve ser revista, mantendo-se situações

absurdas e consequentemente injustas.

3 DA FILIAÇÃO

Segundo Carlos Roberto Gonçalves (GONÇALVES, 1999, p. 100)

“filiação é a relação de parentesco consanguíneo, em primeiro grau e em linha

reta, que liga uma pessoa àquela que a gerou”.

É inegável que a filiação é um fato jurídico, o qual implica em inúmeros

efeitos, pois dela decorrem os direitos protetivos da família, sucessão, poder

familiar e direitos assistenciais de modo geral.

A ordem jurídica, introduzida pela Constituição Federal de 1988, em seu artigo

227, parágrafo 6º, prioriza o princípio da dignidade da pessoa humana

pondo fim às discriminações relativas à filiação, assegurando igualdade de

direitos e qualificações aos filhos havidos fora da relação de casamento ou por

adoção. Em seu artigo 1.596 o código civil acata o princípio Constitucional da

Absoluta Isonomia entre os filhos (RIZZARDO, 2004, p. 405), o qual diz que “os

filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos

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direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias

relativas à filiação”.

A Constituição de 1988, alargou o conceito de entidade familiar,

protegendo não apenas a família constituída pelo casamento, mas também à

união estável e a família monoparental e, como consequência, os conceitos de

sexo e procriação se desatrelaram. O desenvolvimento de novas técnicas de

reprodução permitiu que a concepção não mais decorra exclusivamente do

contato sexual, trazendo mudanças ao conceito da paternidade, que passa a ser

vista como um fato de opção, que extrapola os aspectos meramente biológicos

ou presumidamente biológicos, adentrando com força e veemência na área

afetiva (DIAS, 2009, p. 325).

4 DA INVESTIGAÇÃO DA PATERNIDADE

A investigação de paternidade é um instituto jurídico que surgiu com o

fim de assegurar e demonstrar a paternidade biológica, com todos os meios de

provas possíveis, muito embora seja importante, a origem biológica não se

sobrepõe à hipótese de filiação não biológica, decorrente da convivência familiar

duradoura. De acordo com o jurista Paulo Luiz Netto Lobo:

.

A verdade biológica nem sempre é a verdade real da

filiação. O direito deu um salto à frente do dado da

natureza, construindo a filiação jurídica com outros

elementos. A verdade real da filiação surge na dimensão

cultural, social e afetiva, donde emerge o estado de filiação

efetivamente constituído. Como já vimos, tanto o estado de filiação ope legis quanto a posse de estado de filiação

podem ter origem biológica ou não.

Quanto aos meios de provas anote-se que, na ação de investigação de

paternidade, são permitidos todos os tipos de provas existentes, a fim de se

provar a verdade e convencer o magistrado.

Nesse sentido, quando ainda não se falava na realização do exame

pericial de DNA, a paternidade era comprovada por meio de exame de sangue

ou prova testemunhal quando este era controvertido ou insuficiente. Tendo que

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se o exame de sangue do investigado fosse igual ao do investigante existia a

possibilidade da paternidade ser verdadeira.

No entanto, a perícias científica realizada para estes casos sofrer

grandes avanços, saindo de uma prova incerta, para um prova científica

indiscutível, a qual demonstra, atualmente, a probabilidade de 99% de certeza

da paternidade real, chamada de DNA.

Venosa, em sua obra Direito de Família bem ressalta que:

“As modernas provas genéticas permitem excluir com

certeza a paternidade de um indivíduo com relação a outro

e a afirmar com quase certeza, com elevado grau de

probabilidade, essa mesma paternidade. Há necessidade

de que o legislador pátrio, como feito por outras

legislações, como em Portugal, na França e em vários

outros ordenamentos europeus, introduza modificações na

legislação tradicional, não somente fazendo referência a

este estágio da ciência genética, modernizando o conceito

da ação de investigação de maternidade, como também

resolvendo dúvidas trazidas à paternidade pela

problemática da inseminação artificial. Até mesmo o

tradicional princípio mater semper certa est é colocado em

xeque perante a possibilidade de úteros de aluguel ou

emprestados, fenômeno também denominado maternidade

subrogada”.

Em recente decisão, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça,

considerou que a recusa do réu em realizar a prova pericial de DNA implica na

presunção relativa de existência de paternidade. Vejamos:

Direito civil. Recurso especial. Ação de investigação de

paternidade. Exame pericial (teste de DNA). Recusa.

Inversão do ônus da prova. Relacionamento amoroso e

relacionamento casual. Paternidade reconhecida.

- A recusa do investigado em se submeter ao teste de

DNA implica a inversão do ônus da prova e consequente

presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor.

- Verificada a recusa, o reconhecimento da paternidade

decorrerá de outras provas, estas suficientes a demonstrar

ou a existência de relacionamento amoroso à época da

concepção ou, ao menos, a existência de relacionamento

casual, hábito hodierno que parte do simples 'ficar', relação

fugaz, de apenas um encontro, mas que pode garantir a

concepção, dada a forte dissolução que opera entre o

envolvimento amoroso e o contato sexual. Recurso

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especial provido. (Resp 557365. Rel. Min. NANCY

ANDRIGHI. 03/06/2005.).

Para a Relatora do recurso, há de ser “considerada, em especial, a

recusa do réu e a prova evidenciada de relacionamento casual entre a genitora

e o suposto pai, é de ser julgada procedente a ação de investigação de

paternidade”.

Contudo, apesar do peso que o exame de DNA trouxe para a

comprovação real da filiação nas ações de investigações de paternidade, ele não

é o único meio de prova existente, assim não há o que se falar em hierarquia de

provas.

5 DA RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA NAS AÇÕES DE

INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE

A doutrina posiciona-se pacificamente sobre a finalidade da coisa julgada

de trazer segurança às relações jurídicas, sendo assim, imutável. Mas no ponto

de vista particular, há alguns casos em que ela não poderá ser assegurada a

qualquer modo, largando dos valores maiores da imutabilidade e uma sentença,

como o direito à filiação. Vale destacar as palavras de Daniele Vicentini:

“O exame de DNA permite que ações de investigação de

paternidade julgadas em desfavor dos autores possam ser

rediscutidas, pois os exames determinam com uma certeza

quase absoluta (99,999 %) a paternidade. Através do

mencionado exame surgiu a possibilidade de realização de

nova perícia médica para determinação do estado de

filiação, ensejando a discussão sobre a pertinência e a

legalidade da desconstituição da coisa julgada, no cotejo

de diversos princípios constitucionais” (VINCENTINI,

2007).

Com o advento do Exame de DNA, este passou a ser a prova mais

contundente da ação de investigação de paternidade, já que se trata de um

exame cada vez mais exato, trazendo maior clareza quanto à determinação da

paternidade, contribuindo, dessa forma, para o descobrimento da verdade real,

visto que uma sentença proferida sem a utilização desta revolucionária

tecnologia é desconstituída de comprovação científica da verdade biológica

(WELTER, 2000, p. 62).

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Theodoro Júnior (1999, p. 10), fala sobre a verdade real:

Embora a verdade real, em sua substância absoluta, seja

um ideal inatingível pelo conhecimento limitado do homem,

o compromisso com sua ampla busca é o farol que, no

processo, estipula a superação das deficiências do sistema

procedimental. E é com o espírito de servir à causa da

verdade que o juiz contemporâneo assumiu o comando

oficial do processo integrando nas garantias fundamentais

do Estado Democrático e Social de Direito (THEODORO

JUNIOR, 1999, p. 10)

Desse modo, se faz possível a busca pela verdade real em determinado

processo, quando esta não é alcançada, não devendo assim, prevalecer a

autoridade da coisa julgada em decisão posterior do juízo julgador competente.

Quando envolve os direitos de personalidade, nas ações de

investigação, os interesses sociais ressaltam-se, devendo a prova nas ação

investigatória, ser robusta e convincente, ocasião que a perícia do DNA poderá

retirar quaisquer dúvidas surgidas com a prova testemunhal, documental, ou

outros exames genéticos, não tão precisos.

No entanto, mesmo com a não realização de tal prova pericial e com

base apenas em outras provas, que não formam convicção fática da veracidade

da paternidade biológica, tais como documentais e testemunhais, o juiz decidir

que o réu não é pai do autor, esta decisão merece ser selada pelo manto da

imutabilidade?

Essa situação leva a se questionar qual o interesse prevalente. De um

lado, há o interesse público na composição dos conflitos, que leva à consagração

da coisa julgada. De outro, o direito fundamental à identidade, um dos atributos

da personalidade. No conflito entre esses princípios, o instituto da coisa julgada

não pode se sobrestar ao direito de livre acesso à justiça para o reconhecimento

da filiação. Trata-se de uma adequação a uma nova realidade. Assim, a coisa

julgada deve ceder toda vez que contra ela sobrelevem razões mais altas e

princípios de maior alcance (DIAS, 2009).

Vladimir Brega Filho expressa brilhantemente sobre a relativização da

coisa julgada:

O direito individual relativo à coisa julgada não pode ser

observado isoladamente. O princípio da dignidade humana

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(art. 1º, III) é valor supremo na ordem jurídica e deve ser

observado na interpretação das normas constitucionais.

Também o direito fundamental da criança à dignidade, ao

respeito e a convivência familiar (art. 227, caput) deve ser

considerado na solução da questão e no conflito entre este

direito e o direito à coisa julgada, observando-se o princípio

da dignidade humana, a única solução aceitável é a que

torna relativa a coisa julgada, permitindo a rediscussão da

paternidade nas ações em que não tenha sido excluída a

paternidade (BREGA FILHO, 2001).

O bem estar da criança e do adolescente, sem sombra de dúvidas, deve

sempre estar acima de qualquer formalismo imutável, mesmo que seja a

consagrada coisa julgada, sob pena de priva-la de um futuro feliz e tranquilo. A

jurisprudência vem se consolidando a respeito:

Direito Processual Civil – Ação de investigação de

Paternidade – Coisa julgada – Renovação do Pedido –

possibilidade – Exame de DNA.

1- A jurisprudência tem atenuado a rigidez da coisa

julgada nas hipóteses de investigação de paternidade, para

possibilitar a realização do exame de DNA, dando uma

solução mais justa à matéria. Precedentes.

2- O personalíssimo, indisponível e imprescritível,

tornando-se necessário apurar a veracidade dos fatos,

para não deixar um filho sem pais ou pai sem filho,

admitindo, na mesma linha de raciocínio das ações de

alimentos, a ocorrência apenas da coisa julgada formal e

não material, impeditiva do reexame da matéria no

processo. Recurso conhecido e provido. Unânime.

Conhecer e dar provimento. Unânime. (APC

19990910029102. 5ª T. Cív., TJDF, Relatora

Desembargadora Haydevalda Sampaio, DJV 22.11.2000,

p.42, votação unânime.)

O STJ posicionou-se acerca da relativização da coisa julgada para os

casos de ação anteriormente ajuizada e que teve seu pedido julgado

improcedente por falta de provas, em especial os Exames de DNA, vejam:

Investigação de paternidade – Repetição de ação

anteriormente ajuizada, que teve seu pedido julgado

improcedente por falta de provas – Coisa julgada – Recurso

acolhido. Não excluída expressamente a paternidade do

investigado na primitiva ação de investigação de

paternidade, diante da precariedade da prova e da

ausência de indícios suficientes a caracterizar tanto a

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paternidade como a sua negativa, e considerando que,

quando do ajuizamento da primeira ação, o exame de DNA

ainda não era disponível nem havia notoriedade a seu

respeito, admite-se o ajuizamento de ação investigatória,

ainda que tenha sido aforada uma anterior com sentença

julgando improcedente o pedido. Nos termos da orientação

da Turma, “sempre recomendável a realização de perícia

para investigação genética (HLA e DNA), porque permite

ao julgador um juízo fortíssima probabilidade, senão de

certeza”, na composição de conflitos. Ademais, o progresso

da ciência jurídica, em matéria de prova, está na

substituição da verdade ficta pela verdade real. A coisa

julgada, em se tratando de ações de estado, como no caso

de investigação de paternidade, deve ser interpretada

modus in rebus. Nas palavras de respeitável e avançada

doutrina, quando estudiosos hoje se aprofundam no

reestudo do instituto, na busca, sobretudo, da realização do

processo justo, “a coisa julgada existe como criação

necessária à segurança prática das relações jurídicas, e as

dificuldades que se opõem à sua ruptura se explicam pela

mesmíssima razão. Não se pode olvidar, todavia, que,

numa sociedade de homens livres, a justiça tem de estar

acima da segurança, porque sem justiça não há liberdade”.

Este Tribunal tem buscado, em sua jurisprudência, firmar

posições que atendam aos fins sociais do processo e às

exigências do bem comum (STJ, 4ª T., REsp 226.436/PR

(1999/0071498-9) rel. Min. Sálvio de Figueira Teixeira, j.

28.06.2001).

Juntamente com a relativização da coisa julgada nas ações de

investigação de paternidade, muitos problemas podem surgir, no entanto, esta

nova leitura sobre a autoridade da res iudicata deverá ser buscada apenas nos

casos em que a paternidade deixar dúvidas e incertezas. Muitas pessoas, que

são contra a mutabilidade dessa formalidade dirão que trata-se de uma injustiça,

mas outros dirão: agora, sim eu sou o verdadeiro pai de meu filho! Ou ainda,

agora, sim eu tenho certeza de que ele é meu pai! (BOHENA, 2006)

Diante da possibilidade de descoberta da verdade real, através do

exame de DNA, a doutrina e a jurisprudência começam a repensar a garantia

constitucional e o instituto técnico processual da coisa julgada nas demandas

filiatórias, na consciência de que não é legítimo eternizar injustiças a pretexto de

evitar a eternização de incertezas (DINAMARCO, 2003, p. 227).

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O retorno do filho ou do pai a juízo passou a ser admitido, nas ações

investigatórias, sempre que o resultado da demanda resultar de ausência de

provas ou quando não houver sido realizado o exame pericial de DNA. Pois,

impedir que o filho, em prol da segurança jurídica, possa descobrir quem é o seu

verdadeiro pai, é ferir por completo uma gama de valores protegidos

constitucionalmente (DIAS, 2009, p. 366).

Segundo Maria Cristina de Almeida a possibilidade de relativizar a coisa

julgada não deve ser descartada, pois, com o advento do DNA, tornou-se

possível a verificação da filiação biológica nas ações de investigação de

paternidade. Refere ser uma verdadeira insegurança jurídica a decisão proferida

sem embasamento científico, sendo preciso repensar a aplicação do instituto da

coisa julgada para que o direito não se desencontre da justiça (ALMEIDA, 2003).

Para os adeptos da relativização da coisa julgada, o fenômeno de

imutabilidade só ocorre se no processo de investigação de paternidade tiverem

sido produzidas todas as provas permitidas em lei, inclusive o exame científico

de DNA. Em outras palavras, não faz coisa julgada material a decisão judicial em

ações filiatórias nas quais não foram exauridos todos os meios de prova, seja

por falta de condições das partes interessadas, seja por incúria dos advogados,

seja por inércia do Estado-juiz (MOURA, 2004, p. 91).

Por fim é possível concluir que a relativização do instituto da coisa

julgada é defendida somente em situações excepcionais. As ações de

investigação de paternidade, nas quais não foram exauridos todos os meios de

prova, não tendo ocorrido a edificação da filiação socioafetiva, são um exemplo

concreto desta possibilidade.

6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O método de pesquisa para a elaboração do presente trabalho foi o

dedutivo, partindo-se do geral para o particular. Constituiu-se pela busca de

casos concretos para o entendimento prático daquilo que ocorre de fato em

relação ao tema. Foram realizadas pesquisas em sites jurídicos, jurisprudências,

leis, doutrinas.

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CONCLUSÃO

É indispensável a coisa julgada ao Estado Democrático de Direito pois, caso

não incidisse nos provimentos jurisdicionais, jamais os sujeitos de uma relação

jurídica veriam seu litígio resolvido, uma vez que sempre haveria a possibilidade

de rescindir o que foi objeto de decisão, constituindo-se na qualidade a que ele

se agrega e não somente no efeito da sentença.

As sentenças proferidas nas ações de investigação de paternidade

que não houvesse respaldo no exame de DNA, raramente se enquadram nas

hipóteses legalmente previstas de quebra da coisa julgada, pois a maioria foi

julgada antes da existência do exame genético. Quanto às ações que não

utilizaram como prova o exame de DNA quando já era possível fazê-lo, estas

poderiam ser atacadas por meio da ação rescisória, por infringência à disposição

normativa, a partir da ciência da parte a respeito da existência da prova pericial.

Porém, tal previsão carece de previsão legislativa, na medida em que a própria

fixação de prazo, necessária para a segurança das relações, é objeto de

incontáveis dúvidas, pois sequer há opinião uníssona a respeito do início da sua

contagem.

Quanto à teoria da relativização ou quebra da coisa julgada, pode ser

vista

como um mecanismo pelo qual a segurança jurídica e a coisa julgada são

mitigadas, amenizadas, diante de outras garantias constitucionais de igual ou até

maior valor e importância, porquanto devem ser aplicadas de modo razoável e

proporcional, sob pena de pôr em xeque valores igualmente relevantes e sem os

quais haveria um desequilíbrio evidente e prejudicial.

São inúmeras as vantagens da relativização da coisa julgada, dentre

elas pode-

se citar, a subsistência de mais de uma garantia constitucional dentro de uma

mesma decisão judicial, o aumento da possibilidade de a justiça ser alcançada,

fazendo com que não sejam eternizadas injustiças, nulidades absolutas, fraudes

cometidas ao longo do processo, dentre outras ocorrências.

Porém todos esses argumentos são combatidos pelos contrários à

tese da

flexibilização, gerando grandes polêmicas, pois afirmam que com esta prática os

princípios da segurança jurídica e da coisa julgada seriam afetados diretamente,

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fazendo com que o litígio perdurasse eternamente, além de não propiciar ao

cidadão jurisdicionado, a certeza sobre a resolução da lide.

Quanto ao exame de DNA, cumpre ressaltar que a valoração

desmedida da

prova em detrimento das demais pode ser um grande equívoco. O exame pericial

tem grande importância, principalmente naquelas demandas em que a prova é

praticamente impossível, devendo ser esclarecida a paternidade biológica como

forma de ser instituída a filiação.

Assim, os processos que findaram com base em suposições, indícios

e meios

não científicos de prova, como a testemunhal, poderão pugnar pela relativização

da coisa julgada, utilizando-se do exame de DNA, para buscar a verdade real e

a prevalência de princípios constitucionais outros como o da dignidade da

pessoa humana, do respeito à convivência familiar e do direito fundamental à

identidade genética.

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ABSTRACT: This paper presents the procedures of an exploratory literature with

respect to cases which may or may not be the relativization of res judicata in

actions paternity investigation, demonstrating the causes that lead to this

possibility, noting further scientific developments and positioning jurisprudence

on the subject. With the advent of DNA testing, to make sure about the veracity

of fatherhood became more solid, showing 99.9% to real biological identity. That

occurs, the actions of investigation of paternity previously judged the new expert

evidence (DNA), based on assumptions, presumptions and not absolute

evidence, judged in favor of the investigation for lack of evidence, or in boon of

investigating with a certainty that never existed although the existence of the DNA

test, which is able to show its result in the almost absolute truth of paternity, res

judicata bump in for renewal.

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Keywords: Thing judges, paternity, DNA, relativization.