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A relevância da literatura infantil no processo de alfabetização de crianças nos anos iniciais do Ensino Fundamental Thaluan Rafael Debarba Baumbach 1 (UNIOESTE) Sandra Jouris Dias 2 (UNIOESTE) Vilmar Malacarne 3 (UNIOESTE) Resumo: O objetivo desse artigo é discutir a relevância da literatura infantil no processo de alfabetização de crianças nos anos iniciais do Ensino Fundamental. O artigo analisa as contribuições que a literatura infantil pode proporcionar na construção do conhecimento e como instrumento da compreensão e socialização das crianças. Como resultados, identificamos as relações entre a literatura, o professor, e a escola, bem como sua contribuição para o desenvolvimento cognitivo da criança. Nesse processo, destaca-se a importância e colaboração da família. Como conclusões apontamos para a importância de que o ambiente das crianças, quer seja escolar ou familiar, esteja rodeado de boa leitura, de bons livros, a leitura não vista como obrigação, mas como um incentivo natural a busca pelo conhecimento. Palavras-chave: Literatura; alfabetização; aprendizagem. Abstract: The purpose of this article is to discuss the relevance of children’s literature in the process of children’s literacy in the initial years of elementary school. The article analyzes the contributions that children's literature can provide in the construction of knowledge and as an instrument of children's understanding and socialization. As results, we identify the relationships between literature, teacher, and school, as well as their contribution to the child's cognitive development. In this process, the importance and collaboration of the family stands out. As conclusions, we point out that it is important for children's environment, whether school or family, to be surrounded by good reading, good books, reading not seen as an obligation, but as a natural incentive to search for knowledge. Keywords: Literature; literacy; learning. Introdução Este artigo é um estudo teórico sobre a literatura infantil, e seus possíveis subsídios ao processo de aprendizagem das crianças. Parte de constatações que apontam para um avanço considerável do papel da literatura infantil e suas prováveis contribuições no desenvolvimento escolar nesta fase de desenvolvimento. 1 Aluno do 4º ano do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE. [email protected] [email protected]@gmail.com 2 Aluna do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE. [email protected] 3 Doutor em Educação. Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação. [email protected]

A relevância da literatura infantil no processo de ...A relevância da literatura infantil no processo de alfabetização de crianças nos anos iniciais do Ensino Fundamental Thaluan

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A relevância da literatura infantil no processo de alfabetização de crianças nos anos

iniciais do Ensino Fundamental

Thaluan Rafael Debarba Baumbach 1(UNIOESTE)

Sandra Jouris Dias 2(UNIOESTE)

Vilmar Malacarne 3(UNIOESTE)

Resumo: O objetivo desse artigo é discutir a relevância da literatura infantil no processo de

alfabetização de crianças nos anos iniciais do Ensino Fundamental. O artigo analisa as

contribuições que a literatura infantil pode proporcionar na construção do conhecimento e

como instrumento da compreensão e socialização das crianças. Como resultados, identificamos

as relações entre a literatura, o professor, e a escola, bem como sua contribuição para o

desenvolvimento cognitivo da criança. Nesse processo, destaca-se a importância e colaboração

da família. Como conclusões apontamos para a importância de que o ambiente das crianças,

quer seja escolar ou familiar, esteja rodeado de boa leitura, de bons livros, a leitura não vista

como obrigação, mas como um incentivo natural a busca pelo conhecimento.

Palavras-chave: Literatura; alfabetização; aprendizagem.

Abstract: The purpose of this article is to discuss the relevance of children’s literature in the

process of children’s literacy in the initial years of elementary school. The article analyzes the

contributions that children's literature can provide in the construction of knowledge and as an

instrument of children's understanding and socialization. As results, we identify the

relationships between literature, teacher, and school, as well as their contribution to the child's

cognitive development. In this process, the importance and collaboration of the family stands

out. As conclusions, we point out that it is important for children's environment, whether school

or family, to be surrounded by good reading, good books, reading not seen as an obligation,

but as a natural incentive to search for knowledge.

Keywords: Literature; literacy; learning.

Introdução

Este artigo é um estudo teórico sobre a literatura infantil, e seus possíveis subsídios ao

processo de aprendizagem das crianças. Parte de constatações que apontam para um avanço

considerável do papel da literatura infantil e suas prováveis contribuições no desenvolvimento

escolar nesta fase de desenvolvimento.

1 Aluno do 4º ano do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE.

[email protected] [email protected]@gmail.com 2 Aluna do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da Universidade Estadual do Oeste do

Paraná/UNIOESTE. [email protected] 3 Doutor em Educação. Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação.

[email protected]

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Compreende-se que toda criança precisa ser estimulada a ler, portanto precisa estar

sujeita a um ambiente acessível a livros diversos e a um ensino-aprendizagem direcionado a

esses aspectos. Nesta direção, Antunes (2004. p. 25) afirma que “[...] é imprescindível que as

crianças tenham contato com o livro, e não apenas com textos copiados. O objeto livro é em si

mesmo atrativo fascinante e provoca um prazer especial, exercendo um efeito especial sobre a

curiosidade das crianças”. Da mesma forma, o livro infantil, escolhido pelos professores ou

pais, precisa ser adequado a faixa etária das crianças, pois as crianças desenvolvem atitudes e

comportamentos de afeto e maneira de perceber e interpretar a si mesmo, relacionados a sua

imaginação. Segundo Fernandes (2003), a Literatura Infantil pode provocar no leitor prazer,

sentimentos e diversão, pois trabalha com uma linguagem de ideias.

Nosso objetivo é mostrar como a escola pode ser motivadora da leitura e a utilização de

literatura infantil pode ser indicada na facilitação do processo ensino e aprendizagem.

Buscamos apontar também para a importância da colaboração da família nesse processo de

motivação à leitura e o quanto o ambiente familiar tem influência nesse processo.

A importância da parceria entre pais e escola no incentivo à leitura para alunos de séries

iniciais do Ensino Fundamental

Ler é descobrir mundos novos e abrir a mente para coisas novas, a leitura tem que ser

prazerosa, em um hábito diário, como se fizesse parte da rotina. Geralmente essa motivação à

leitura, em se tratando de crianças, de todas as idades, nos parece compromisso somente dos

professores e das escolas para com os alunos, porém de nada adianta a escola, juntamente com

os educadores, assumir essa “missão” se a família também não fizer sua parte no incentivo e

gosto pela leitura desde cedo.

O ambiente das crianças precisa estar rodeado de boa leitura, de bons livros, a leitura

não vista como obrigação, mas como um incentivo natural, a televisão muitas vezes substitui

esses momentos de leitura, trazendo um conhecimento já pronto onde não se precisa pensar e

imaginar. As crianças podem desenvolver sua identidade através da leitura e construção do

“eu” no mundo através das histórias infantis. Silva (1981, p. 42) aponta que a “[...] leitura é

uma atividade essencial a qualquer área do conhecimento e mais essencial ainda à própria vida

do Ser Humano”. A criança que lê desde cedo, se torna um adulto mais crítico, consegue

escrever com mais facilidade e se prepara melhor para atuar na sociedade, mas como fazer com

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que esse hábito de leitura se torne frequente e prazeroso? E qual o papel da escola nesse

compromisso social?

Segundo Bortolom et al. (1998, p. 118) “No Brasil a escola talvez seja o único lugar

onde a grande maioria das pessoas tem contato com o livro.” As famílias, pais, avós, tios das

crianças, nem sempre tem ou tiveram contato com livros e condições para adquiri-los, é na

escola onde surgem as possibilidades de ler, contudo, o grande incentivo tem que vir de casa,

na família, neste sentido a família tem responsabilidades educacionais muito grande. Parolin

(2007, p. 14) destaca que “[...] sabemos que a família está precisando da parceria das escolas,

que essa instituição sozinha não dá conta da educação e socialização dos filhos”, ou seja, essa

relação escola e família está muito próxima, a escola apontando caminhos e a família

incentivando. Neste sentido o autor afirma que:

Antigamente, a tarefa de construir valores e atitudes era exclusivamente da

família. Hoje, as crianças vão cedo para as creches, berçários e escolas de

Educação Infantil, originando uma nova filosofia para os educadores e para a

escola, que é a grande parceira da família. (PAROLIN, 2010, p.46).

A Literatura Infantil compõe uma fonte muito rica a ser trabalhada pelo professor que,

através de uma atividade interdisciplinar, poderá proporcionar aos alunos o acesso a outras

linguagens, histórias, e o aumento crítico e criativo, podendo enriquecer o processo de

alfabetização. Para Frantz, (2001, p.16). “[...] a literatura infantil é também ludismo, é fantasia,

é questionamento, e dessa forma consegue ajudar a encontrar respostas para as inúmeras

indagações do mundo infantil, enriquecendo no leitor a capacidade de percepção das coisas.”

Entretanto, a maioria dos livros infantis são escritos por adultos. O escritor tem a finalidade de

transmitir, através de suas histórias infantis, preceitos que acredita ser importantes para a

criança leitora. De acordo com Meirelles:

De modo que, em suma o “o livro infantil”, se bem que dirigido à criança, é

de invenção e intenção do adulto. Transmite os pontos de vista que este

considera mais úteis à formação de seus leitores. E transmite-os na linguagem

e no estilo que adulto igualmente crê adequados à compreensão e ao gosto do

seu público (MEIRELES, 1984, p. 29, grifo do autor).

Alguns escritores escrevem para criança subestimando a capacidade intelectual, e

proporcionam uma linguagem simples, e que não acrescenta um significado, ou definição do

tema. Em alguns casos, escritores tentam introduzir uma lição de moral na sua obra. A autora

Zilberman (1985) expõe que por meio dos contos de fadas, mitos, fábulas e lendas folclóricas

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o leitor reconhece o meio que está inserido e com o qual compartilha sucessos e dificuldades.

As fábulas, por exemplo, enquanto gênero trazem, por vezes, um ensinamento meramente

moral. As fábulas são narrativas curtas, os personagens são plantas, animais, ou objetos

animados que ganham particularidades de humanos, esse recurso literário é muito utilizado no

trabalho com as séries iniciais do Ensino Fundamental. Para Sosa (1978) não é a moral da

história que fica contida como experiências de conhecimento, entretanto o que fica registrada

na mente da criança é a passagem dramática da fábula, as espertezas e as astucias das ações das

personagens. Assim, a educação moral não é proporcionada a criança através das leituras que

elas fazem, mas por meio de suas experiências social. É o drama representado na fábula que

contribuirá no conhecimento para o seu desenvolvimento. Para Dohme:

Tomar cuidado com as circunstâncias que envolvem a história; pode

acontecer que o protagonista tenha ações nobres, mas seja pouco cortês ou

arrogante. Tudo estará sendo absorvido pela criança e nem sempre podemos

controlar a intensidade com que isto está sendo absorvido; assim, devemos

estar atentos a todos os tipos de mensagens que estamos transmitindo

(DOHME, 2007, p. 8).

A literatura infantil, quando trabalhada na escola, pode e deve ser explorada de diversas

formas. Compete ao professor aderir as diversas soluções por meio das histórias lidas ou

contadas, tendo a clareza de que está utilizando um subsídio importante e confiável para a

aprendizagem.

A maneira mais corriqueira dos professores trabalharem atividades direcionadas a

leitura em sala de aula, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, é optar por selecionar alguns

livros, de literatura infantil, distribuí-los entre os alunos e pedir para que façam a leitura

silenciosa. Sobre esse direcionamento pedagógico Duarte e André afirmam que:

A leitura silenciosa é um importante meio de ajuda para que a criança se

desprenda do aspecto sonoro da escrita. O ritmo da leitura silenciosa é mais

adequado que o ritmo da leitura oral. A vocalização atrasa e dificulta a

atenção e a compreensão. A Vocalização dos signos visuais dificulta a leitura

porque o ato de falar atrasa a percepção e trava e fraciona atenção. Durante a

leitura silenciosa a percepção das letras e o movimento dos olhos tornam-se

mais rápidos, dando mais ritmo à leitura. Além disso, os movimentos de

retorno dos olhos tornam-se menos frequentes. A compreensão é maior

quando a leitura é mais ligeira e ritmada, o que ocorre na leitura silenciosa

(DUARTE e ANDRÉ, 2008, p. 7-8).

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Cada atividade de leitura, em sala de aula, apresenta uma especificidade, porém todas

com o mesmo objetivo ”[...] ao professor cabe o desencadear das múltiplas visões que cada

criação literária sugere, enfatizando as variadas interpretações pessoais, porque decorrem da

compreensão que o leitor alcançou do objeto artístico, em razão de sua percepção singular do

universo representado”. (ZILBERMAN, 2003, p. 28), ou seja, o professor deve estar preparado

para extrair do aluno, da história e da circunstância o que há de melhor para potencializar o

crescimento individual e coletivo da sala de aula.

O que é a leitura e suas possíveis contribuições para construção do conhecimento

Podemos observar que a leitura promove reflexão cognitiva, proporciona um

melhoramento intelectual e enriquece nosso vocabulário, pois quando se prática a atividade de

leitura tentamos desvendar informações e construir opiniões daquilo que se está lendo, nesta

perspectiva possibilita o sujeito a ser crítico.

A leitura pode ser mencionada como um ato de formulação de fantasias e imaginação

sobre a escrita. A definição da palavra leitura é muito abrangente, com muitas definições para

Resende, (1993) a leitura é vista como interação com o mundo de informações e

aprofundamento sobre si mesmo. Segundo Barros e Gomes (2008, p.336):

A leitura é um ato complexo, que abrange processos perceptuais, cognitivos,

linguísticos, comunicativos, sociais e emocionais. É muito importante

considerar as condições afetivas, interesse e motivação em relação ao ato de

ler, para que se possa garantir prazer e gosto pela leitura no dia da vida.

Qualquer alteração em um destes aspectos pode causar prejuízos no processo

de desenvolvimento e aprendizagem.

Observa-se que a leitura é um exercício de entender e atribuir significados a aspectos de

origem pessoal, isso acontece através da interpretação e percepção. De acordo com Souza,

(1992, p. 22 ):

Leitura é basicamente, o ato de perceber e atribuir significados através de uma

conjunção de fatores pessoais com o momento e o lugar, com as

circunstâncias. Ler é interpretar uma percepção sob as influências de um

determinado contexto. Esse processo leva o indivíduo a uma compreensão

particular da realidade.

Abromovich (1997) afirma que no período de formação da criança é necessário que ela

possa escutar muitas histórias, essa relação com histórias poderá aumentar na criança o gosto

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pela leitura, neste intento compete destacar que não há uma receita para se formar um leitor.

A sala de aula é um espaço para a construção de bons leitores, que valorizem a leitura pelo

simples prazer de viajar pelas histórias.

Cabe as escolas e aos professores promover as mais diversas atividades de interação

com os alunos e os processos de leitura. Quanto mais a leitura for praticada pelos alunos, maior

será sua chance de aumentar seu conhecimento de mundo. O que deve ser estimulado é o gosto

pela leitura, onde as crianças sintam encanto quando estão interagindo com as diferentes

histórias infantis e além do espaço organizado para a leitura descontraída,

Referindo-se a literatura infantil a autora Costa (2007, p. 33) explica que “[...] a leitura

da literatura pode exercer diferentes funções na escola, como informar, educar, entreter,

persuadir ou expressar uma opinião ou ideia”. A literatura infantil, necessita estar dentro das

salas de aula como atividades pedagógicas. Esses trabalhos pedagógicos não implicam

somente em usar o livro para produzir atividades didáticas, mas que seja voltado a proporcionar

momentos lúdicos de leitura e escrita, visto que muito pode ser explorado dessa leitura, tanto

do professor como pelo aluno. Segundo Faria (2004), O professor precisa perceber a riqueza e

a estrutura do livro de literatura infantil como uma das opções para não restringir a literatura a

um enfoque simplesmente pedagógico. Ler é essencial, mas a leitura literária é essencial

garante Lajolo:

É à literatura, como linguagem e como instituição, que se confiam os

diferentes imaginários, as diferentes sensibilidades, valores e

comportamentos através dos quais uma sociedade expressa e discute,

simbolicamente, seus impasses, seus desejos, suas utopias. Por isso a

literatura é importante no currículo escolar: o cidadão, para exercer,

plenamente sua cidadania, precisa apossar-se da linguagem literária,

alfabetizar-se nela, tornar-se seu usuário competente, mesmo que nunca vá

escrever um livro: mas porque precisa ler muitos (LAJOLO, 2008, p. 106).

A leitura promove o prazer, capaz de fazer com que o leitor entre em um mundo

maravilhoso, o livro acaba sendo para a criança como um brinquedo, despertando seu lado

lúdico, e descobrindo as maravilhas e surpresas em cada página. A leitura pode transformar-se

no caminho do mundo real para o mundo encantado dos livros. “Através do livro e da leitura,

a humanidade pode divinizar-se, homens e mulheres podem ser deuses, porque imantados pelas

verdades expostas nas escrituras.” (PERROTTI, 1990, p. 39). É através da leitura que as

crianças expõem suas mais variadas emoções, medos, sentimentos, desejos escondidos e nesta

motivação de superação de suas desordens pessoais, acredita-se que alcançam a estabilidade

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para que tenha um possível crescimento no conhecimento. Para Sosa, (1978, p.19) “O espírito

da criança precisa do drama, da movimentação das personagens, da soma das experiências

populares e tudo isso dito por meio das mais elevadas formas de expressão e com inegável

elevação de pensamento”. Da mesma forma, Carvalho diz:

A criança é criativa e precisa de matéria-prima sadia, e com beleza, para

organizar seu “mundo mágico”, seu universo possível, onde ela é dona

absoluta: constrói e destrói. Constrói e cria, realizando tudo o que ela deseja.

A imaginação bem motivada é uma fonte de libertação, com riqueza. É uma

forma de conquista de liberdade, que produzirá bons frutos, como a terra

agreste, que se aduba e enriquece, produz frutos sazonados. (1989, p.21, grifo

do autor).

A literatura infantil permite à criança vivenciar alguns sentimentos e emoções que

fazem parte das pessoas (ABRAMOVICH, 1997). Neste intento, o mesmo autor salienta que o

docente poderá proporcionar a ideia de que a leitura pode trazer consigo descobertas e

conhecimentos:

É através de uma história que se pode descobrir outros lugares, outros tempos,

outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética, outra ótica. É ficar

sabendo história, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia, etc. sem

precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula

(ABRAMOVICH, 1997, p.17).

Neste sentido, a criança que tiver contato com livros mais cedo percebe com mais

facilidade o prazer que essa leitura produz, e maior será a possibilidade dela tornar-se um adulto

leitor. Voltando-se à educação, Dohme (2007, p. 9) afirma que “As histórias são importantes

em um processo educacional primeiramente porque as crianças gostam delas. E todas as vezes

que estamos trabalhando com algo que é do agrado do público, começamos com vantagem,

aumentam as possibilidades de sucesso”.

A formação do leitor assíduo, não é tão fácil, por isso preservar as relações entre a

escola e a literatura é tão importante, ambas tem interesse de natureza formativa. Zilberman

(2003 p. 25) ressalta que “De fato, tanto a obra de ficção como a instituição do ensino estão

voltadas à formação do individuo ao qual se dirigem”. Portanto, o uso da literatura infantil na

escola estabelece uma relação com seu leitor, convertendo-o em um leitor crítico, assim

também o livro poderá ter uma função de transformação, que pode dentro do ensino e

aprendizagem trazer para a realidade os alunos.

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A importância da literatura infantil na metodologia de alfabetização

Os primeiros livros voltados exclusivamente para crianças foram registrados durante o

século XVII e XVIII, antes desse período não escreviam livros direcionados a elas, pois não

existia infância com suas particularidades, estas eram tratadas como adultos.

Aproximadamente em meio a idade moderna surge a compreensão mais clara das

especificidades da faixa etária da criança, diferenciada e que necessitava de uma formação

específica (ZILBERMAN, 2003).

O aparecimento da Literatura Infantil tem características próprias, pois

decorre da ascensão da família burguesa, do novo “status” concedido à

infância na sociedade e da organização da escola. Sua emergência deveu-se,

antes de tudo, à sua associação com a Pedagogia, já que as histórias eram

elaboradas para se converterem em instrumento dela (PALO e OLIVEIRA,

2006, p. 2-3).

Neste sentido, passa-se a dar atenção a percepção sobre a criança, ela finalmente estava

sendo tratada como um individuo que merecia atendimentos especiais e que a família poderia

se organizar de forma que a sua maior responsabilidade fosse consentir que seus filhos

crescessem com cuidados específicos como: saúde e formação intelectual (NICOLAU, 1995).

Para Zilberman (2003, p. 3) “Literatura infantil e escola, inventada a primeira e reformada a

segunda, são convocadas para cumprir essa missão”. A mesma autora aponta que “A

aproximação entre a instituição e o gênero literário não é fortuita”, afirmando também que a

“Sintoma disso é que os primeiros textos para crianças são escritos por pedagogos e

professoras, com marcante intuito educativo”. (ZILBERMAN, 2003, p. 3)

Nesta direção, é que é apontada a literatura infantil como um instrumento de

conhecimento. Para Solé (1987), a interpretação daquilo que é lido, depende, muitas vezes, do

objetivo que se tem com essa leitura. Em se tratando de ensinar as crianças a escrever, ler e

compreender os objetivos da leitura precisa ser elementos importantes. Cagneti diz que:

Que a leitura é um processo de continuo aprendizado, assim, salienta-se que

desde cedo, é preciso formar um leitor que tenha um envolvimento integral

com aquilo que ele lê. De maneira que cada leitura, se possa adquirir mais

profundidade e intimidade com o texto, que se consiga estabelecer um

diálogo, fazendo perguntas e buscando respostas, seja o texto uma história,

literatura ou fábula. (1986, p.23).

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Solé (1987) afirma que dentre os diversos desafios enfrentados pela escola, um deles é

fazer com que os alunos aprendam a ler corretamente. O mesmo autor aponta que os professores

de todos os níveis de educação tem tentando utilizar algumas estratégias e métodos, tanto para

promover a leitura, quanto para compensar os déficits de alguns alunos e fazer com que os

alunos aprendam a ler corretamente.

Os professores como agentes da educação, necessitam desenvolver algumas atividades,

relacionadas à leitura na escola, para que esses alunos desenvolvam o habito frequente. Se os

professores conhecerem a realidade dos seus alunos e possibilitarem espaços para que

primeiramente as crianças mostrem do que elas gostam, possivelmente criará um prazer maior

em ler, pois muitas vezes o problema é a maneira como o processo da leitura acontece, ou seja,

de uma modo obrigatório, que o aluno não gosta, criando assim, por vezes, tabus com a

disciplina de literatura. Para Meireles (1984, p. 32) “A literatura não é, como tantos supõem,

um passatempo. É uma nutrição”. A importância para o desenvolvimento do hábito da

leitura, esta no fato de que se deva ler tudo o que possa produzir uma assimilação com a vida

diária desse aluno, a leitura não deve ser somente para produzir informações literárias, mas

sim leitura com prazer, com direcionamento pelos professores dentro da sala de aula e pelos

pais em casa. Entretanto, o hábito da leitura se desenvolve com mais facilidade em ambientes

onde as leituras são constantemente praticadas, porém nem todo pai leitor forma filho leitor,

neste sentido, é importante que além da família haja também a participação efetiva da escola e

de todos os envolvidos no processo da leitura.

As escolas que praticam a leitura constantemente, tornam esse momento algo prazeroso,

onde as crianças tem a opção de escolher o livro que querem ler, e para que querem ler, tornam

esses momentos didáticos atraente para todos os envolvidos no processo.

O livro é para ser sentido tocado, cheirado, desejado, amassado pelo uso,

gasto, lido!...Se não houver ralação livro leitor, se o livro escolhido pelo

adulto não corresponder às expectativas da criança levando-a ao prazer

através da leitura, se não for adequado ao desenvolvimento psicológico,

intelectual e emocional do leitor, a leitura a ser feita nem sempre produzirá os

efeitos esperados, nem sempre atingirá as metas e os objetivos desejados

(ARAÚJO, 2010, p. 78).

A biblioteca deveria ser um ambiente onde o aluno possa sentir-se a vontade para pegar

vários livros e escolher o livro favorito, é importante que o professor faça o direcionamento

dessa leitura, e se possível, cobrar essa atitude da família. Segundo Darton (1992, p. 218) [...]

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“a leitura não é simplesmente uma habilidade, mas uma maneira de estabelecer significado que

deve variar de cultura para cultura é um conjunto de sociais variáveis, onde todos devem ter

acesso, independente da cultura de cada indivíduo”. E neste patamar é que o professor esta

inserido desenvolvendo projetos de leitura, onde seus alunos compartilham ativamente desde

projeto.

Os professores precisam inovar, porque alunos querem novidades, novas metodologias

para que possam ver a leitura com olhos de leitor. As tecnologias estão ganhando espaço muito

rápido na cabeça de uma criança e a leitura acaba sendo deixada de lado. Para Cunha (2003, p.

54) as “Formas de motivação verdadeira e um acompanhamento estimulante são sempre modos

de ajudar o aluno a sentir-se em casa com o livro (e com qualquer outro objeto de arte)”. Ruth

Rocha aprova essa perspectiva quando diz que:

[...] a leitura não deveria ser encarada como uma obrigação escolar, nem

deveria ser selecionada, vamos dizer, na base do que ela tem de ensinamento,

do que ela tem de ‘mensagem’. A leitura deveria ser posta na escola como

educação artística, ela devia posta na escola como uma atividade e não como

uma lição, como uma aula, como uma tarefa. O texto não devia ser usado, por

exemplo, para a aula de gramática, a não ser que fosse de uma maneira muito

criativa, muito viva, muito engraçada, muito interessante, porque se assim

não for faz com que a leitura fique parecendo uma obrigação, fique parecendo

uma tarefa e aquela velha frase de Monteiro Lobato – É capaz de vacinar a

criança contra a leitura para sempre (1983, p. 4).

Na maioria das vezes a seleção de obras literárias é feito as pressas e sem critérios de

seleção. Alguns dos professores indicam algo que não leram, simplesmente porque é um

clássico. Outros ainda preferem os clássicos visto que registram a realidade, os ideais, tradições

e costumes, numa combinação de fantasia com realidade, como se fossem capazes de responder

às exigências de conhecimentos impostos pela escola. O mais importante para escolher os

livros para a turma, não é se a obra é consagrada ou não, mas se ela colabora para fazer com

que os alunos encare seus temores, suas aflições, desenvolva sua imaginação.

Considerações finais

Destacamos que o ato de ler desde os primeiros anos deve ser influenciado pelos pais e

professores, e o quanto esse processo é importante para o desenvolvimento pessoal e social de

uma criança. Deveria existir a preocupação da escola em formar parceria com os pais

incentivando os alunos á leitura sendo ela uma das formas de construir a personalidade de cada

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um e isso reflete positivamente na aprendizagem. Concluímos que o ambiente das crianças

precisa estar rodeado de boa leitura, de bons livros, a leitura não vista como obrigação, mas

como um incentivo natural. Nesta perspectiva, a leitura propõe curiosidade ao leitor,

estimulando a produção de novos conhecimentos.

Compreendemos que a família desenvolve um papel muito significante no processo de

leitura, sendo que, geralmente quando o aluno é acompanhado de perto pela família a atuação

escolar dele é superior, comparando com os alunos em que a família encontra-se alheia as

atividades escolares.

Destacamos também que esta relação entre literatura infantil e alfabetização está muito

próxima, na sala de aula. Entretanto para que essa aproximação seja possível, temos que estar

atentos de que a literatura infantil não deveria ser usada somente com finalidade de atividades

pedagógicas para criar hábitos de leitura, mas com a intencionalidade de dar espaço para o

imaginário e a fantasia da criança, sem ficar tão atrelado a mera leitura e da escrita. Assim é

importante o papel do professor, em parceria com a família, nesse artifício de envolver as

crianças no processo do imaginário, a literatura infantil, de modo pleno como um recurso a

mais no processo de alfabetização dentro das salas de aula.

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