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A RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPRESÁRIO, DO CONTADOR E DO ADMINISTRADOR Professor Gustavo Oliveira Chalfun Advogado, formado pela Faculdade de direito de Varginha, MG. (1996/2000). Presidente da OAB/MG, 20ª Subseção da OAB/MG, gestão 2007/2012. Titular de cadeiras de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito de Varginha e da Faculdade Cenecista de Varginha. Mestrando em direito pela Faculdade de Direito do Sul de Minas/FDSM.

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPRESÁRIO, DO …ipecont.com.br/blog/wp-content/uploads/2013/06/CHALFUN2.pdf · 2014-08-12 · Maria Helena Diniz define responsabilidade civil como

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A RESPONSABILIDADE CIVIL DO

EMPRESÁRIO, DO CONTADOR E DO

ADMINISTRADOR

Professor Gustavo Oliveira Chalfun Advogado, formado pela Faculdade de direito de Varginha, MG. (1996/2000). Presidente da OAB/MG, 20ª Subseção da OAB/MG, gestão 2007/2012. Titular de cadeiras de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito de Varginha e da Faculdade Cenecista de Varginha. Mestrando em direito pela Faculdade de Direito do Sul de Minas/FDSM.

1- CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL:

Inicialmente, de uma forma breve e singela, podemos

definir responsabilidade civil como a obrigação imposta a todos de reparar

um mal cometido.

De forma mais apurada, Silvio Rodrigues conceitua

a responsabilidade civil como a "obrigação que pode incumbir uma pessoa a

reparar o prejuízo causado a outra, por fato próprio, ou por fato de pessoas

ou coisas que dela dependam".

Maria Helena Diniz define responsabilidade civil como

"aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar o dano moral

ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato próprio imputado,

de pessoas por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob

sua guarda ou, ainda, de simples imposição legal"

Arnoldo Wald, entende que a responsabilidade civil é

definida como "a situação de quem sofre as conseqüências

da violação de uma norma (Marton), ou como a obrigação

que incumbe a alguém de reparar o prejuízo causado a

outrem, pela sua atuação ou em virtude de danos

provocados por pessoas ou coisas dele dependentes

(Savatier)".

2- ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Os elementos da responsabilidade civil se consubstanciam em três

pressupostos :

AÇÃO

DANO

NEXO CAUSAL

Para ensejar responsabilidade civil, é imperioso que aliada à

conduta perpetrada pelo agente decorra um dano. Logo, não basta o

exercício de uma ação ou omissão antagônica ao ordenamento para

emergir o dever de indenizar. Tal obrigação só se aperfeiçoa caso a conduta

praticada pelo sujeito albergue lesão ou prejuízo a outrem.

É necessário que haja entre a conduta praticada

pelo agente e o dano suportado pela vítima uma relação

física de causa e efeito, ou seja, UM NEXO DE

CAUSALIDADE. Em outras palavras, o dano

experimentado pela vítima deve ter origem na conduta,

comissiva ou omissiva, praticada pelo autor do evento

3- ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL

Atualmente, como é cediço, o ordenamento jurídico pátrio trabalha com

dois grandes grupos de responsabilidade civil:

Quanto ao fato gerador a responsabilidade poderá ser

CONTRATUAL OU EXTRACONTRATUAL

Quanto ao fundamento, esta poderá ser:

SUBJETIVA OU OBJETIVA.

A- RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL

• A responsabilidade contratual deriva das relações contratuais

pré-estabelecidas,

• A responsabilidade extracontratual decorre de um ato ilícito,

independentemente de qualquer vínculo anterior entre os sujeitos

envolvidos.

"

• Para Maria Helena Diniz:

" Na responsabilidade extracontratual, o agente infringe um

dever legal, e, na contratual, descumpre o avençado,

tornando-se inadimplente. Nesta, existe uma convenção

prévia entre as partes, que não é cumprida.

Na responsabilidade extracontratual, nenhum vínculo existe

entre a vítima e o causador do dano, quando este pratica o

ato ilícito"

De acordo com ordenamento jurídico, enquanto o artigo

186, conjugado com o artigo 927, do Código Civil disciplina,

genericamente, as conseqüências derivadas da responsabilidade

aquiliana (extracontratual), o artigo 389 do mesmo Código cuida

dos efeitos resultantes da responsabilidade contratual.

RESPONSABILIDADE CONTRATUAL RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL

- Origem na violação contratual - Origem na violação de um dever legal

- No ônus da prova, a vítima fica dispensada

de provar culpa do agente causador do dano

- No ônus da prova, a vítima fica obrigada a

comprovar a culpa do agente causador do dano

- Validade, excepcional, da incidência de

cláusulas de não-responsabilidade ou

deresponsabilidade atenuada ou

condicionada

- Invalidade de quaisquer ajustes que visem a

não responsabilidade ou

a responsabilidadecondicionada no inadimplemento

normativo

- Necessidade de constituição em mora do

causador do dano

- Mora resultante de pleno direito, em decorrência do

ato ilícito praticado

B- RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA E OBJETIVA

Como já visto, levando-se em conta o fundamento

da responsabilidade civil, esta poderá ser considerada

subjetiva ou objetiva.

Sendo a culpa indispensável para a caracterização da responsabilidade civil,

estaremos diante da modalidade subjetiva.

Diz-se, pois, ser subjetiva a responsabilidade quando se esteia na idéia de

culpa. Essa teoria, também chamada de teoria da culpa, ou "subjetiva",

pressupõe a culpa como fundamento da responsabilidade civil. Em não

havendo culpa, não há responsabilidade.

• De acordo com Washington de Barros Monteiro,

"a teoria clássica e tradicional da culpa, também

chamada teoria da responsabilidade subjetiva, que pressupõe

sempre a existência de culpa (latu sensu), abrangendo o dolo

(pleno conhecimento do mal e direta intenção de o praticar) e

a culpa (stricto sensu), violação de um dever que o agente

podia conhecer e acatar, mas que descumpre por negligência,

imprudência ou imperícia"

A responsabilidade civil objetiva leva em conta o dano e o nexo causal da

conduta do agente, independente de culpa

É a responsabilidade advinda da prática de um ilícito ou de uma violação

ao direito de outrem que, para ser provada e questionada em juízo,

independe da auferição de culpa, ou de gradação de envolvimento, do

agente causador do dano.

4- A RESPONSABILIDADE CIVIL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Como é cediço, o Código Civil de 1916 não abordava a

matéria de forma satisfatória, pois,"no final do século XIX e inicio do

século XX, quando elaborado o diploma, a matéria ainda não havia

atingido um estágio de maturidade teórica e jurisprudencial".

Diferentemente do anterior, o novo Código Civil de 2002

abordou de forma mais ampla o instituto, conforme se verifica do

artigo 186:

"Aquele que, por ação ou omissão voluntária,

negligência ou imprudência, violar direito e causar

dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,

comete ato ilícito".

E complementou, nos termos do art. 927, parágrafo único:

"Haverá obrigação de reparar o dano,

independentemente de culpa, nos casos especificados

em lei, ou quando a atividade normalmente

desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua

natureza, risco para os direitos de outrem".

• Silvio de Salvo Venosa alerta que

"esse alargamento da noção de responsabilidade constitui,

na verdade, a maior inovação do Código deste século em

matéria de responsabilidade e requerer, sem dúvida, um

cuidado extremo da jurisprudência"

Noutro norte, em que pese a inovação do estatuto civilista, nunca é

demais lembrar que, antes mesmo da promulgação do novo Código Civil, já haviam

dispositivos, inclusive de ordem constitucional, estipulando a responsabilidade

objetiva em várias situações a Constituição Federal de 1988 fez alusão expressa a esta

possibilidade no art. 37, §6º:

"As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que

seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,

assegurado o direito de regresso contra o responsável nos

casos de dolo ou culpa".

Tão importante quanto à previsão constitucional, foi a menção

expressa da responsabilidade objetiva dos fornecedores de produtos e

serviços no CDC:

"Art. 12 - "o fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o

importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela

reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de

projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,

apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por

informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos".

Neste ponto, urge salientar que o Código de Defesa do

Consumidor, diferentemente do Código Civil, adotou como regra a

responsabilidade objetiva, relegando a responsabilidade

subjetiva à hipóteses pontuais e excepcionais.

Na mesma esteira também dispõem o Código Brasileiro

de Aeronáutica (Decreto Lei n.º 483/38), a Lei de Acidentes do

Trabalho (Lei n.º 8.213/91), a Lei de Política Nacional de Meio

Ambiente (Lei n.º 6.938/81), a Lei de Atividades Nucleares (Lei n.º

6.453/97) e uma série de diplomas legislativos que procuram

alargar o âmbito de alcance da responsabilidade civil tornando

dispensável a comprovação da culpa

5- DA FIGURADO DO EMPRESÁRIO E SUA RESPONSABILIDADE CIVIL:

Considera-se empresário aquele que exerce

profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou

circulação de bens e serviços, tal como prescreve o artigo 966 do Código

Civil de 2002.

Com o advento do novo Código Civil, foi instituída a figura do

empresário substituindo a do comerciante (firma individual), sendo

assim considerado quem exerce profissionalmente atividade

econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou

serviços (Código Civil, art. 966).

.

O citado artigo 966 que conceitua o que seja empresário superou

a idéia de atos de comércio que antigamente era fruto de debate

doutrinário. O empresário, atualmente, tem uma conceituação fechada e

definida dentro do mercado. O empresário nada mais é do que aquele que

exerce em nome próprio atividade empresarial.

A figura do empresário está ligada a uma empresa, e como se

sabe, existe o empresário individual e o empresário coletivo, sendo este a

sociedade empresária e aquele a pessoa física que exerce a empresa

individualmente atuando como administrador.

.

No ramo empresarial com a aplicação do Código de Defesa do

Consumidor, que traz consigo a inversão do ônus da prova e a

responsabilidade objetiva – ou seja, o EMPRÉSARIO é que deverá provar que

os fatos alegados pelo autor não são verdadeiros, e o autor da ação não

precisa comprovar culpa do réu, mas, somente, a inexecução do contrato ou

serviço, o dano e o nexo causal (provar que o dano sofrido é conseqüência da

inexecução contratual).

.

O Código Civil também prevê expressamente a

responsabilidade do empregador pelos atos de seus prepostos,

portanto qualificá-los e prepará-los é de fundamental importância

(e econômico para a empresa).

No mundo dos negócios, não estar atento à

responsabilidade civil empresarial pode trazer prejuízos

incalculáveis. Se o empresário não estiver corretamente orientado

poderá sofrer um considerável impacto financeiro gerado por

condenações em ações judiciais.

É importante observar que existem alguns fatores que

podem gerar todos esses impactos, como, por exemplo:

• a falta de treinamento aos funcionários

• ausência de constante observação dos setores que mais

desencadeiam a insatisfação dos clientes ou fornecedores. o

prognóstico de todo o passivo da empresa

• fazer reserva de valores é o ideal para que a empresa nunca

sofra um impacto financeiro grave em função de ações judiciais.

Algumas proposições rápidas para solucionar ou minimizar as ações

judiciais decorrente de responsabilidade civil empresarial:

1) contratação de seguro que dê cobertura para esse tipo de ação

judicial;

2) treinamento constante dos funcionários responsáveis por

atendimentos aos clientes e fornecedores;

3) auditoria semestral ou anual para identificar os principais focos e os

setores da empresa que mais geram ações judiciais;

4) treinamentos específicos para os setores mais problemáticos

identificados;

5) postura conciliatória extrajudicial – criação de Serviço de Atendimento

ao Consumidor (SAC) e departamento de conciliação para os casos mais

críticos.

6- DA FIGURA DO CONTADOR E SUA RESPONSABILIDADE CIVIL:

Contador é o profissional que lida com a área financeira,

econômica e patrimonial. Ele é responsável pela elaboração das

demonstrações contábeis e pelo estudo dos elementos que

compõem o patrimônio monetário das companhias.

A Lei Federal nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Novo

Código Civil), fixa normas para a responsabilidade daquele que,

por ação ou omissão voluntária, violar um direito ou causar

prejuízo a alguém. Esse tipo de conduta é classificado pela lei civil

como ato ilícito.

• O autor do ato ilícito é, em regra,

responsável pelo ressarcimento do dano que causar.

• No Código Civil, a matéria está prevista nos artigos 186

e 927, além dos artigos 1.177 e 1.178.

Estes últimos tratam especificamente do

Contabilista e o exercício de sua profissão.

Eles estabelecem a responsabilidade civil

pelos atos relativos à escrituração contábil

quando esta causar dano a terceiro.

Estes últimos tratam especificamente do

Contabilista e o exercício de sua profissão.

Eles estabelecem a responsabilidade civil

pelos atos relativos à escrituração contábil

quando esta causar dano a terceiro.

Há responsabilidade do contabilista perante seus atos,

sejam eles culposos ou dolosos, praticados no exercício de sua

função sendo responsável, inclusive perante terceiros quando

há intenção de cometer ato que cause danos àqueles. No caso

de ato culposo, não há a intenção de cometer ato prejudicial a

outrem e doloso quando há a intenção de cometê-lo.

.

No entanto, cabe ressaltar que o exercício da profissão contábil

também está sujeita às normas do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078 de

11 de setembro de 1990) que entre outras regras estabelece em seu artigo 14

parágrafo quarto que "A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será

apurada mediante a verificação de culpa.“

Está claro, portanto, que a responsabilização do profissional contábil

em suas atribuições está sujeita a teoria subjetiva, o que pode levar o fato

consumado ficar sujeito a opiniões pessoais que podem variar de acordo com o

conhecimento técnico daquele que o fizer..

-JURISPRUDENCIA:

EMENTA: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS - PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO - RAZÕES DISSOCIADAS DA SENTENÇA - NÃO VERIFICAÇÃO - RESPONSABILIDADE CIVIL DO CONTADOR - ART. 14, §4º DO CDC - COMPROVAÇÃO DA NEGLIGÊNCIA QUANDO DO EXERCÍCIO DE SUA ATIVIDADE - RESSARCIMENTO DOS PREJUÍZOS OCASIONADOS - DEVER - SENTENÇA MANTIDA. -Não se conhece do recurso de apelação que, apresentando razões desconexas, não enfrenta os fundamentos que embasaram a r. sentença hostilizada, não sendo este o caso dos autos. -A responsabilidade do contador, será apurada mediante a verificação de culpa, por trata-se de profissional liberal, nos termos do art. 14, §4º do CPC. -A culpa, neste caso, abrange tanto o dolo, quanto a prática de atos negligentes, imprudentes e com imperícia. -Comprovada a negligência na conduta profissional do réu, patente é o dever de ressarcimento das despesas oriundas de tais atos. Data da publicação da súmula30/05/2011 Órgão Julgador / CâmaraCâmaras Cíveis Isoladas / 11ª CÂMARA CÍVEL SúmulaSúmula: Negar provimento ao recurso Comarca de OrigemBelo Horizonte Data de Julgamento25/05/2011 Apelação Cível 1.0024.06.234099-7/001 2340997-96.2006.8.13.0024 (1) Relator(a)Des.(a) Wanderley Paiva

A partir do novo Código Civil, que tem vigência desde 2003, a responsabilidade dos contabilistas passou a ser solidária, desde que decorrente de atos praticados com má-fé. Frise-se que a responsabilidade civil não se confunde com a responsabilidade tributária, regulamentada pelo Código Tributário Nacional. Por isso, para que o contabilista seja responsabilizado pelos créditos tributários (tributos ou penalidades decorrentes de obrigações tributárias), há que se enquadrar entre as pessoas listadas no artigo 135 do Código Tributário Nacional.

Art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte, respondem solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis: I - os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores; II - os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados ou curatelados; III - os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes; IV - o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio; V - o síndico e o comissário, pelos tributos devidos pela massa falida ou pelo concordatário; VI - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos tributos devidos sobre os atos praticados por eles, ou perante eles, em razão do seu ofício; VII - os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas. Parágrafo único. O disposto neste artigo só se aplica, em matéria de penalidades, às de caráter moratório. Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos: I - as pessoas referidas no artigo anterior; II - os mandatários, prepostos e empregados; III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado.

Em síntese, haverá responsabilização do profissional de contabilidade se constatada infração à lei ou prática de atos com excesso de poderes, infração ao contrato social ou estatuto. Em sede de decisões judiciais, não se tem, ainda, muitos amparos de teses consolidadas, de forma a ilustrar a responsabilidade tributária do contador. Contudo, há decisões sobre crimes contra a ordem tributária, onde impera a necessidade de comprovação da conduta delituosa do contador, a exemplo do que segue:

EMENTA

CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. ART. 1º, INC. I, DA LEI N.º 8.137/90. REDUÇÃO/SUPRESSÃO DE TRIBUTOS FEDERAIS. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. ADMINISTRADOR E CONTADOR. DOLO GENÉRICO. DOSIMETRIA DA PENA. VALOR VULTOSO. 1. Comete crime contra a ordem tributária o agente que, com o propósito de suprimir ou reduzir o pagamento de tributos, omite informações ou presta declarações falsas diretamente ao fisco. 2. A materialidade do crime contra a ordem tributária pode ser aferida em procedimento fiscal, que possui presunção de veracidade dos atos administrativos, podendo, contudo ser elidida por meio de provas produzidas pelo acusado. 3. A autoria do crime é atribuída ao sócio-gerente do empreendimento, que detém o controle final do fato e decide sobre a prática, circunstância e interrupção do crime. [...] 6. A tese de que o Contador contratado foi o único responsável pela supressão dos tributos, restou afastada ante a comprovação de que os réus prestaram declarações falsas ao fisco quando da declaração do imposto de renda. 7. Essa Corte assentou o entendimento no sentido de que no crime previsto no art. 1º da Lei nº 8.137/90, a sonegação fiscal de valor superior a R$ 100.000,00 (cem mil reais) legitima, na dosimetria da pena, o reconhecimento como desfavorável da circunstância judicial pertinente às consequências do crime. À míngua de apelo do Ministério Público Federal, vedado o agravamento da pena imposta pelo juízo de primeiro grau. APELAÇÃO CRIMINAL Nº 0001393-18.2009.404.7009/PR

O que não contempla a lei é a responsabilização do contabilista pelos créditos tributários quando não figure como representante legal da empresa, salientando que esta responsabilidade tributária é matéria afeta ä Lei Complementar. Por força das disposições da legislação civil que abarca a responsabilidade bem como as normas de ordem penal tributária, não está isento de possível imputação de tais ordens.

7 - A FIGURA DO ADMINISTRADOR DE EMPRESAS E SUA RESPONSABILIDADE CIVIL:

Responsável por garantir o bom funcionamento das

organizações, o administrador de empresas pode atuar em

áreas distintas como finanças, recursos humanos, logística,

qualidade de processos e gestão de produção

No que tange à responsabilidade civil do administrador,

impende, inicialmente, registrar que o Código Civil de 2002 inovou

substancialmente o direito anterior com a inserção do Livro II da Parte

Especial concernente ao chamado Direito de Empresa, bem como ao

trazer, desta feita na Parte Geral, regramento próprio para as

associações, a quem deu tratamento técnico correto, distinto das

sociedades.

• Essas novas regras, entretanto, restringiram em

diversos aspectos a liberdade contratual, além de impor

aos administradores de tais pessoas jurídicas maior

responsabilidade pela prática de seus atos.

• Diversos são os dispositivos que ampliam a responsabilidade do

administrador. E aqui faz-se mister ressaltar que, ao se referir a

administrador, o Código Civil está se dirigindo a quem foi alçado ao cargo de

direção da pessoa jurídica, quer pelo contrato social, quer por ato

separado, pouco importando a sua condição de sócio (como aliás já havia

feito a Lei das S.A., onde a figura do administrador ou diretor não se

confunde com a do acionista).