If you can't read please download the document
Upload
phungdung
View
216
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURDICA DE DIREITO
PBLICO NOS CRIMES AMBIENTAIS1
Aznia Marize Valmerate Gonalves2
RESUMO A maioria das pessoas sabe que o Brasil um pas reconhecido internacionalmente, pelo rico ecossistema que possui. Atualmente, a riqueza dos recursos naturais brasileiros tem uma posio de destaque nas preocupaes das lideranas mundiais sobre o meio ambiente. Uma das maiores apreenses o elevado ndice de degradao ambiental praticada pela sociedade e pelas pessoas jurdicas, incluindo as que esto a servio da Administrao Pblica. Em razo deste problema, a Constituio Federal de 1988, em seu Art.225, caput e 3 e a Lei n 9.605/98, mais conhecida como a Lei dos Crimes Ambientais instituram maneiras de conter os crimes ao meio ambiente com a reparao do dano causado e a responsabilidade penal. O objetivo deste artigo cientfico narrar a evoluo da tutela ambiental no mundo e em nosso pas, e apresentar discusso acerca da responsabilidade penal s entidades coletivas nos casos de crimes ambientais, principalmente as de direito pblico. Trata-se de um trabalho com mtodo de abordagem dedutivo, com o procedimento histrico. Verifica-se que um tema no pacificado na jurisprudncia e na legislao, e tem recebido pouca ateno por parte dos juristas, pela importncia que ele tem que garantir que o meio ambiente equilibrado para o bem estar das presentes e das futuras geraes.
Palavras-chave: Crimes ambientais. Pessoa Jurdica de Direito Pblico. Responsabilidade Penal.
INTRODUO
Todos sabem que o Brasil historicamente tem um ecossistema muito frgil e sob
riscos. A degradao ambiental no uma ao atual, ela praticamente sempre existiu em
nosso territrio e demorou muitos anos para ser reconhecida como prejudicial aos seres vivos.
Em razo disto, foram planejadas tardiamente formas de combate e controle para os crimes
ambientais.
Uma dessas formas de proteo criadas foi a responsabilidade penal da pessoa
jurdica. Essa responsabilidade penal surgiu como uma resposta aos anseios da sociedade 1 Artigo cientfico baseado no Trabalho Final de Concluso: A Responsabilidade Penal da Pessoa Jurdica de Direito Pblico nos Crimes Ambientais, elaborado e defendido na Faculdade de Direito de Santa Maria no ano 2013. 2Autora. Bacharela em Direito pela Faculdade de Direito de Santa Maria - FADISMA. Ps-Graduanda em Especializao em Educao Ambiental pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. Endereo eletrnico: [email protected].
internacional que fez diversas recomendaes sobre o meio ambiente ecologicamente
equilibrado, de como cuid-lo e defend-lo.
O objetivo deste trabalho refletir sobre o tema da responsabilidade penal da pessoa
jurdica de direito pblico que ainda encontra muita dificuldade de ser estabelecida no
ordenamento jurdico brasileiro, mesmo depois de tantos anos criada. Assim, o presente
trabalho compe-se, alm desta introduo, de trs tpicos. O segundo dedicado aos fatos
histricos do sculo XX que geraram a responsabilidade penal da pessoa jurdica de direito
pblico no mundo e no Brasil, pois o tema surgiu depois de algumas conferncias
internacionais, e depois foi uma ideia adotada em nosso pas.
O terceiro tpico contempla as pessoas jurdicas de direito privado e pblico,
principalmente esta ltima; tambm disserta a respeito do artigo 225, 3 da Constituio
Federal que o dispositivo legal que trata do meio ambiente e da responsabilidade penal da
pessoa jurdica. Para melhor compreender este tipo de responsabilidade penal analisa-se o
conceito, as penas e as exigncias que sero necessrias ela incida. O ltimo tpico dedica-se
a concluir os escritos.
A proposta deste trabalho se encaixa perfeitamente na rea de concentrao Direito,
Sociedades Globalizadas e Dilogo entre Culturas Jurdicas porque de conhecimento notrio
que o Direito Ambiental no depende de fronteiras territoriais para existir. Todos os
continentes do planeta e a grande maioria dos pases se preocupam com ele, determinam
estratgias para conserv-lo e buscam meios para punir os entes que destroem o meio
ambiente. Ainda, o Direito Ambiental disciplina o relacionamento dos homens com o meio
ambiente e acolhido pelos inmeros sistemas de direito por essa razo, acredita-se que ele
capaz de criar vnculos com os todos tipos de culturas jurdicas, seres humanos e entidades
coletivas.
Tambm o trabalho est inserido na linha de pesquisa Meio Ambiente, Ecologia e
Transnacionalizao de Direitos; pois o meio ambiente um tema amplo, multidisciplinar,
infinito e as perspectivas para o futuro no so positivas; se algumas atitudes de proteo e
combate da devastao ambiental no forem bem executadas. O referido bem jurdico est
sendo seriamente ameaado pelo homem e torna-se necessrio compreend-lo, estud-lo e
propor alternativas que o deixem sempre ecologicamente equilibrado e saudvel para as
presentes e futuras geraes.
1. A HISTRIA DA RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL NO BRASIL E NO
MUNDO
1.1 O surgimento da responsabilidade penal ambiental no mundo
Historicamente a partir do sculo XX surgiu a discusso sobre o direito ambiental.
Este novo direito tornou-se um mecanismo para atenuar a degradao ambiental j existente.
O direito ambiental ratificou a necessidade de se punir os agressores do meio ambiente com
seus conceitos, princpios e limites.
Foi um longo caminho para o direito ambiental ser idealizado. E o debate ambiental
que de alguma forma fundamenta este direito de 3 dimenso ou gerao segundo Fernando
Estenssoro (2014) sofreu um processo de construo nada fcil, nem pacfico a nvel global.
Felizmente, a discusso sobre o meio ambiente cresceu entre o final da dcada de 60 e meados
dos anos 70.
Foi nesta poca que apareceu uma preocupao expressiva sobre o meio ambiente, o
esgotamento de seus recursos naturais, e qual seria a sua condio no futuro. Alm disso,
refletiram-se como as futuras geraes poderiam sobreviver no Planeta Terra sem um meio
ambiente ecologicamente estvel. Ento, abordando estas questes foram realizadas
conferncias para discorrer sobre este tema to emergente.
Primeiramente, no ano 1968 como lembra Estenssoro (2014), aconteceu a Conferncia
sobre a Conservao e o Uso Racional dos Recursos da Biosfera, em Paris, que tratou
especificamente da responsabilidade internacional sobre as condies do meio ambiente
universal. Seguindo este objetivo, de acordo com o referido autor desenvolveu-se o programa
O Homem e a Biosfera3, que institui as reservas de biosfera; e incentivou a ONU a lanar um
encontro mundial que debatesse sobre o meio ambiente humano que a Conferncia de
Estocolmo.
As conferncias de 1968 e 1972 foram inditas ao discutir sobre o meio ambiente.
Entretanto, a Conferncia do Meio Ambiente Humano de Estocolmo de 1972 e a Declarao
3 Programa apoiou a Organizao das Naes Unidas a realizar um encontro mundial sobre meio ambiente humano no de 1972.
do Meio Ambiente contemplaram de forma profunda sobre o assunto e garantiu uma proteo
jurdica impositiva ao meio ambiente, atravs da responsabilidade penal ambiental e a
reparao dos danos sofridos. A partir desta postura proposta aos pases participantes da
Conferncia, aceitou-se internacionalmente a responsabilidade penal e a conteno dos delitos
contra meio ambiente. Mas esta ideia s tornou-se concreta, segundo Arajo (2005) com o
Conselho da Europa, em 1977 na Resoluo 77-28. E pela Organizao das Naes Unidas,
em 1979, no VI Congresso para a Preveno do Delito e do Tratamento Delinquente que
transmitiram recomendaes aos Estados - membros presentes. Dentro destas recomendaes
revelava-se a pessoa jurdica de direito pblico em polticas de responsabilizao penal por
crimes das corporaes.
A Associao Internacional de Direito Penal, no XV Congresso Internacional de
Direito Penal realizado em 1994, tambm fez uma recomendao especfica que consta que
consta a sujeio criminal das pessoas jurdicas, a seguir transcrita:
Onde for possvel, nos termos da lei bsica de um pas responsabilizar as entidades pblicas por delitos penais cometidos no curso do desempenho de funes pblicas ou em outras circunstncias, deve ser possvel a persecuo dessas autoridades pblicas por crimes contra o meio ambiente ainda que a responsabilidade pelo delito no possa ser diretamente imputada a um elemento dessa entidade.
Esta recomendao deveria ser includa nas legislaes de cada pas, de acordo com a
realidade de cada Estado-membro, a responsabilidade das entidades por delitos penais
exercidos no desempenho de suas funes ou em outras circunstncias. Aps o delito ser
praticado, a persecuo penal dos entes pblicos por crimes contra o meio ambiente se
desenvolveria. Destaca-se que essa responsabilidade penal recai tanto sobre, o ente particular,
a Administrao Pblica, ou os seus servidores pblicos efetivados ao servio da mesma.
Em resposta a essas mobilizaes internacionais, muitos pases como a Venezuela no
ano de 1992, acrescentaram a responsabilidade penal das pessoas jurdicas, inclusive as de
direito pblico em seus cdigos ou legislaes. Alguns pases da Amrica do Norte como o
Canad e os Estados Unidos, e os da Amrica do Sul assim como na Oceania e na Nova
Zelndia tambm a estabeleceram. Como diz Da Silva (2009). interessante notar que nos
pases que adotam o sistema jurdico Common Law a responsabilidade penal da pessoa
jurdica considerada normal.
Mundialmente, o reconhecimento da importncia da preservao do meio ambiente foi
um processo desigual e independente para a maioria dos pases. Eles em grande parte
levaram alguns anos para adotar um novo tipo tratamento para com o meio ambiente no que
tange ao descobrimento de sua funo, proteo e combate aos danos. E cada pas era
autnomo para decidir sobre as formas de preveno e punio para a devastao ambiental, o
que interfere muito na manuteno do meio ambiente, como foi dito anteriormente no tem
fronteiras. Assim, afirma-se que as recomendaes sobre meio ambiente debatidas nas
conferncias acima citadas foram eficazes at um ponto, pois provocaram mudanas no
debate mundial da questo ambiental, mas infelizmente no conseguiram fazer com que as
naes conservassem o meio ambiente de forma equilibrada e homognea em todas as partes
do mundo.
1.2 O processo da responsabilidade penal ambiental no Brasil
O Brasil, a partir da dcada de 80, desenvolveu o debate sobre a temtica do meio
ambiente que ganhou densidade e contou com a contribuio e orientao das convenes
internacionais, principalmente da Conveno de Estocolmo de 1972, e da ECO-92. A tutela
do meio ambiente por aqui era fragmentada, isto , a mesma estava em segundo plano dentro
da tutela da sade. O meio ambiente por si s como se verificou no era protegido.
Retrospectivamente, vale lembrar que essa situao comeou a ser alterada, obtendo
ganhos na sua caminhada, pois como diz Sirvinskas (2002, p.4): houve um desenvolvimento
enorme em nosso pas no que tange proteo ao meio ambiente, vrios livros e artigos
doutrinrios foram publicados. Inmeras leis foram criadas neste perodo.
No ano de 1985, a Lei n 7.347/85 estabelece que, o meio ambiente seja melhor
protegido. Com efeito, conferido ao cidado e ao Ministrio Pblico o direito de interferir
nos problemas referentes ao meio ambiente.
Em 1992, aconteceu no Rio de Janeiro, a Conferncia das Naes Unidas. Em 1997,
ocorreu o 2 Congresso Internacional de Direito Ambiental que seguindo as discusses da
ECO-92, tentou visualizar polticas pblicas governamentais para colocar em prtica os
compromissos assumidos, nesse espao legalmente constitudo. Entretanto, nem sempre esses
esforos foram efetivados.
O Brasil definitivamente adotou a tendncia da responsabilidade penal da pessoa
jurdica, como dizem Figueiredo e Teles da Silva (1998), atravs da promulgao da Lei n
9.605 de 12 de fevereiro de 1998, em seu art.3 que, por sua vez, preconiza sobre as sanes
penais e administrativas geradas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, para a
responsabilidade da pessoa jurdica nos casos de agresso ao meio ambiente.
Aproximadamente nos anos 2000, a teoria da responsabilidade penal foi aceita pelos
tribunais, principalmente os da regio sul. Foi impetrado o Mandado de Segurana
2002.04.01.013843-04 no Tribunal Regional Federal da 4 Regio. Este mandado de
segurana indito, nas palavras de Ribeiro (2009), indeferiu a ordem que buscava trancar a
ao penal em que a pessoa jurdica era o polo passivo. Alm disso, a jurisprudncia brasileira
possui a deciso memorvel do julgamento do Recurso Especial n56960/SC5de 2005, sob a
relatoria do Ministro Gilson Dipp do Superior Tribunal de Justia.
Nesta deciso conforme Alves ( 2009.) ,afirmou a superao das barreiras dogmticas
impostas pela teoria clssica do delito em favor da realizao do preceito constitucional dado
pelo Art.225, 3 , da Constituio Federal de 1988 que dispe o seguinte:
incabvel de fato, a aplicao da teoria do delito tradicional pessoa, jurdica, o que no pode ser considerado um obstculo sua responsabilizao, pois o direito uma cincia dinmica, cujos conceitos jurdicos variam de acordo com um critrio e no naturalstico.
Destaca-se neste precedente que a teoria do delito at pode no pode ser aplicada da
forma como , pois a pessoa jurdica diferente da pessoa jurdica. Todavia, no devem ser
considerados impedimentos para a responsabilidade penal da pessoa jurdica. Esse recurso
reconheceu que o direito dinmico, e os conceitos por ele estabelecidos so de fora
normativa definitivamente.
Nesse sentido, o Recurso Especial n564960/SC um instrumento bem importante
para a abertura de jurisprudncia a nvel de Superior Tribunal de Justia quanto
4 Mandado de Segurana impetrado no Paran que foi julgado pela stima turma do TRF da 4 Regio no dia 10/12/2002, e o relator foi o Desembargador Luiz Carlos Canalli. A impetrante foi a Petrleo Brasileiro S/A - PETROBRAS e o impetrado foi o Juzo substituto da 2 Vara Federal Criminal e Especializada em Crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional de Curitiba. 5A quinta turma do STJ apreciou este recurso no dia 02/06/2005. O recorrente foi o Ministrio Pblico de Santa Catarina e o recorrido era o Auto Posto 1270 LTDA-ME.
responsabilidade penal das pessoas jurdicas. Como Alves (2009) explica, a convico da
dupla imputao obrigatria da pessoa jurdica e fsica. A isto cabe demonstrar que o ente
coletivo somente pratica a ao ou omisso se for auxiliado por interveno humana.
O Superior Tribunal de Justia acatou a mesma linha de raciocnio, como prova o
Recurso Especial n 8898528-SC no ano de 2006, com a relatoria do Ministro Flix Fischer a
seguir transcrita:
Admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurdica em crimes ambientais desde que haja a imputao simultnea do ente moral e da pessoa fsica que atua em seu nome ou em seu benefcio, uma vez que "no se pode compreender a responsabilizao do ente moral dissociada da atuao de uma pessoa fsica, que age com elemento subjetivo prprio.
O precedente em questo julga a responsabilidade penal da empresa Reunidas S/A
Transportes Coletivos que praticou crimes contra o meio ambiente. Alves (2009), j tinha
mencionado a imputao tanto para o ente administrativo, e tanto para a pessoa fsica ou
jurdica que exerce atividades em seu nome e em prol das suas vantagens. Mas sempre
relembrando que, na viso do Superior Tribunal de Justia a dupla imputao condio
essencial para a responsabilidade penal da pessoa jurdica de direito pblico, pois quando esta
gera o dano, atravs de interveno humana.
Ainda o Supremo Tribunal Federal, pela relatoria do ministro Ricardo Lewandoski,
tambm refletiu sobre a responsabilidade penal da pessoa jurdica no Habeas Corpus n
92.921/ BA, impetrado por Curtume Campelo S/A e outros(as) em face da 5 Turma do
Superior Tribunal de Justia, requerendo o trancamento da ao penal por via deste remdio
constitucional. O pedido foi denegado pelo Supremo Tribunal Federal em razo dos fatos
descritos no afastarem o crime ambiental, a punibilidade e a presena no polo passivo da
ao.
Atualmente pelo que se tem conhecimento, apesar da evoluo terica dessa temtica,
a responsabilidade penal da pessoa jurdica de direito privado e direito pblico no Brasil ainda
muito contestada. Este um assunto muito delicado que merece ser objeto de estudo por
simplesmente estremecer o princpio da individualizao da pena do direito penal. Por esta
razo, o conflito em questo tem que ser melhor observado e discutido, a fim de que os
juristas e os tribunais brasileiros se preocupem mais com o assunto e proponham um
posicionamento definitivo sobre esta temtica to importante que h anos vem arrastando-se.
2. A PESSOA JURDICA DE DIREITO PBLICO E O ARTIGO 225, PARGRAFO
3 DA CONSTITUIO FEDERAL DE 1988
2.1 A pessoa jurdica e a responsabilidade penal do artigo 225, pargrafo 3 da
Constituio Federal de 1988
Todo homem, dotado de capacidade jurdica, e definido como uma pessoa. Mas o
ser humano no totalmente independente dos outros seres humanos. Muitas vezes eles
precisam formar um grupo para atingir melhor as suas realizaes pessoais e investimentos.
Quando o empreendimento acaba tornando-se realidade, de acordo com Venosa
(2003), a partir da surgiria conquista da capacidade jurdica por entes abstratos assim
criados atravs da vontade e da necessidade do homem. Alm disso, percebe-se que a pessoa
jurdica resumidamente um conjunto de pessoas ou um destaque patrimonial para alcanar
um determinado fim apto a contrair direitos e obrigaes. O autor conclui que:
A necessidade da sociedade em constituir pessoas jurdicas surge desde a criao de uma associao de bairro para defender o interesse de seus moradores ou de uma associao esportiva para reunir adeptos de determinada prtica esportiva at a criao do prprio Estado, entidade jurdica que transcende a prpria noo singela que ora damos. (VENOSA, 2003, p.249)
A pessoa jurdica tem origem na maioria dos casos pela reunio de algumas pessoas,
fato que conhecido como a constituio de sociedade. Somente a criao de um
empreendimento no obsta para que as mesmas queiram formar um grupo. Existem pessoas
para criar as associaes de moradores dos bairros e de esportes e at mesmo as empresas. J
com relao ao Estado, essa concluso vai mais alm, pois para torn-lo pessoa jurdica no
bem esse caminho que seguido.
de conhecimento geral a existncia da classificao das pessoas jurdicas. Elas
podem ser pessoas jurdicas de direito privado ou de direito pblico. A pessoa jurdica de
direito privado nada mais que [...] toda entidade originria da vontade individual,
destinando-se realizao de interesses e fins privados, em benefcio dos prprios
instituidores ou de determinada parcela da coletividade. (OLIVEIRA, 2010, p.4). A pessoa
jurdica de direito privado resulta de um conjunto de vontades humanas e individuais apenas
para atender interesses particulares, e dentro destes, satisfazer os indivduos que a
constituram ou apenas uma parte do agrupamento de pessoas.
J a pessoa jurdica de direito pblico totalmente diferente da pessoa jurdica de
direito privado e se revela como cada organismo da Administrao Pblica Direta e da
Indireta. As pessoas jurdicas de direito pblico nada mais so aquelas destinadas atender as
finalidades do Estado, criadas pela Constituio Federal ou por lei, gozando do jus empirii, e
tratando de interesses pblicos ou preponderantemente de todos. (RIZZARDO, 2007, p.257)
A pessoa jurdica de direito pblico designada a perseguir os objetivos designados
pelo Estado, em razo da mesma ter origem na Constituio Federal, ou atravs de lei que
aproveita todo o seu direito de impor-se no Estado Democrtico de Direito; e cuida dos fins
pblicos para a coletividade. Nesse sentido, as pessoas jurdicas de direito pblico existem a
partir dos entes que contribuem para a organizao poltica do Estado, ou das entidades
institudas para atender os interesses pblicos.
A pessoa jurdica tanto de direito privado como a direito pblico, est presente na vida
de todos. A pessoa jurdica de direito pblico revela-se mais perto em virtude das atribuies
que devem produzir resultados que alcancem o cidado. Tem uma funo social
importantssima, pois ajuda na economia e presta o maior nmero de servios pblico
possveis.
Entretanto, o envolvimento em alguns tipos de atividade, principalmente nas
comerciais, tem provocado muita devastao ambiental. Em razo disto, necessrio entender
a relao da pessoa jurdica de direito pblico com Art. 225, caput e o pargrafo 3 da
Constituio Federal, e para com a responsabilidade penal nos crimes ambientais.
A grande ocorrncia dos crimes ambientais incomodaram os constituintes de 1988,
que acabaram prevendo a responsabilidade da pessoa jurdica, caso cometa condutas e
atividades ofensivas ao meio ambiente. A Constituio Federal trata sobre a responsabilidade
penal da pessoa jurdica no Art. 225, 3 ao determinar que as condutas e atividades
consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitaro os infratores, pessoas fsicas ou jurdicas, a
sanes penais e administrativas, independentemente da obrigao de reparar os danos
causados.
A Constituio Federal de 1988 possibilitou o surgimento da proteo ambiental de
forma mais ampla e especializada. As constituies anteriores pouco valorizavam a questo
ambiental, tanto que em seus textos a expresso meio ambiente sequer foi redigida. Apenas
esta omisso demonstra como inexistia um compromisso com a matria ambiental em si, e o
meio ambiente era deixado de lado. Agora com a vigncia da Magna Carta de 1988, a
proteo do meio ambiente reconhecida como fundamental qualidade de vida dos
cidados.
A questo ambiental acabou por ganhar um dispositivo indito que o artigo 225, mas
existem outros dispositivos que tratam da matria ambiental especificamente e outros que os
seus termos levam questo ambiental. O artigo 225, caput da Constituio Federal de 1988
considerado pela doutrina o dispositivo referencial para o tema da responsabilidade penal da
pessoa jurdica como menciona Arajo (2005, p.5): a referida disposio constitucional
encerra uma valorao poltico-criminal do constituinte, determinando ao legislador
infraconstitucional a edio de lei que sujeite as pessoas fsicas e jurdicas responsveis por
leses ao meio ambiente a sanes de natureza penal.
A valorao poltico-criminal do constituinte transmitida ao legislador
infraconstitucional. A misso de elaborar leis que apliquem sanes penais s pessoa fsicas
ou jurdicas que lesionem o meio ambiente. O papel do constituinte ao reconhecer o aumento
expressivo dos danos ambientais causados no termina com a redao do dispositivo
constitucional taxativo, tem apoio de diversas leis, como a Lei de Crimes Ambientais de
1998, por exemplo.
Dessa maneira, verifica-se que as constituies anteriores no Brasil no davam a
ateno devida matria ambiental, no sentido do aspecto da qualidade de vida a ser levada.
Na realidade, foi necessrio o avano da degradao ambiental, para que o legislador
promovesse o combate mesmo partindo da elaborao de uns dispositivos constitucionais e
outras leis especficas.
2.2 A repreenso constitucional da pessoa jurdica de direito pblico por crimes
ambientais
A disposio constitucional de 1988 resulta de uma nova conscientizao sobre o meio
ambiente. Com esta nova compreenso, ele passa a ser considerado um bem jurdico tutelado
indispensvel garantia da vida humana das geraes atuais e futuras. Para que a manuteno
da qualidade de vida esteja assegurada, necessrio que todos os cidados e entes coletivos
preservem e defendam o meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Neste sentido a tutela ambiental foi ampliada. Alm da defesa do meio ambiente, a
constituio cria a previso de responsabilizao da pessoa jurdica em matria penal,
portanto a pessoa jurdica de direito pblico pode estar sujeita as sanes penais. A respeito
da pessoa jurdica, percebe-se que esta um gnero que demonstra a capacidade outorgada s
entidades coletivas, e a as pessoas jurdicas de direito privado e pblico so espcies do
mesmo. Assim dispe, o Art.225 da Constituio Federal de 1988 todos tm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo essencial sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Pblico e a coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo
para as presentes e futuras geraes.
Num primeiro momento, o Poder Pblico est unido com a sociedade para prover
sade, o primeiro objeto da tutela ambiental. Depois desempenhar esforos para defender e
preservar o meio ambiente em que se vive. Resta afirmar como Arajo (2005, p. 4) que uma
obrigao objetiva, e necessria que a sociedade e as pessoas jurdicas de direito pblico
movimentem-se para evitar o crime ambiental.
Contudo, fica implcito que vedado praticar atividades que levem degradao
ambiental. O poder pblico interage com esta proibio pelo simples fato de ser representado
pelas pessoas jurdicas de direito pblico. Consequentemente, a sociedade atravs das pessoas
fsicas ou pessoas jurdicas de direito privado.
Alm disso, Poder Pblico para Jos Afonso da Silva (2002, p.75) [...] expresso
genrica que se refere a todas as entidades territoriais pblicas, pois uma das caractersticas do
Estado Federal, como o nosso, consiste em distribuir o Poder Pblico por todas as entidades
autnomas que o compem, para que cada qual o exera nos limites das competncias que
lhe foram outorgadas pela Constituio. O Poder Pblico nada mais consiste que as
entidades territoriais pblicas, que funcionam de forma autnoma entre si, pelos poderes que a
Constituio Federal transmitiu.
Desta maneira pelo art.225, 3 da Constituio Federal de 1988, recai para as
entidades pblicas a responsabilidade caso pratiquem conduta ofensiva ao meio ambiente.
Segundo Arajo, (2005, p.5) [...], sob a perspectiva da concepo de Estado de Direito as
pessoas jurdicas pblicas se sujeitam lei tanto quanto as pessoas privadas. J que a
sociedade e o Poder Pblico encontram-se num Estado de Direito consolidado, a
Administrao Pblica no pode ficar excluda de cumprir e respeitar as leis, as quais se
submete, sob pena de colocar em risco o Estado de Direito institudo.
O Poder Pblico pelas palavras de Alves (2009) no apenas sujeito passivo da
determinao do pargrafo 3 do art.225; tambm deve atuar diretamente na defesa do meio
ambiente ecologicamente equilibrado impondo-se perante toda a sociedade e em face do
prprio Estado. Refora-se a partir da concepo autor que o Estado no enfrenta o
constrangimento de repreender a sociedade e at a si mesmo, j ele recai o dever de prevenir e
combater os danos ambientais imediatamente. Conforme Queiroz, Gurgel e Costa (2013,
p.313) o Estado-legislador pode criar sanes que sero aplicadas ao Estado-administrador
pelo Estado-juiz.
Assim, o art. 225 da Carta Constitucional chama tanto a sociedade como o Poder
Pblico para a defesa do meio ambiente. Este ltimo est na condio de pessoa jurdica de
direito pblico, e por esta condio, deve submeter-se as regras do nosso Estado Democrtico
de Direito, uma vez que tambm anuiu com as normas elaboradas. Cabe aos entes coletivos
cumprir e respeitar o que a legislao determina para evitar que se ocorra danos ao equilbrio
entre legislador e destinatrios.
2.3 A responsabilidade penal da pessoa jurdica de direito pblico: os conceitos, as penas
e as exigncias
Existe o conhecimento de que entre os sculos XX e XXI a pessoa jurdica foi a que
mais contribuiu para a devastao ambiental. Em relao quantidade de poluio o Estado
um dos entes que mais a pratica. Sob esta tica, a legislao penal esparsa por influncia, do
dispositivo constitucional do art.225, pargrafo 3 quer impedir a degradao ambiental,
aplicando a responsabilidade penal principalmente para as pessoas jurdicas.
Na ideia de Colombo (2008), fcil entender que em qualquer caso de desrespeito a
bens ou interesses protegidos pelo ordenamento jurdico caracterizado como crime. Assim,
na responsabilidade penal da pessoa jurdica de direito pblico, segundo Alves (2009), o
Estado tambm possui a capacidade de realizar arbitrariedades, ofendendo os direitos
individuais, difusos e coletivos que tinha a atribuio de resguardar, incluindo-se nesses casos
a degradao ambiental. O Estado mesmo impondo regras e deveres jamais deve esquecer-se
que tambm manifesta vontades e que tambm pode prejudicar a sociedade, se no respeitar o
meio ambiente.
Por esta consequncia, os crimes cometidos pelas pessoas jurdicas, inclusive as da
Administrao Pblica, esto longe de ser iguais aos de uma pessoa fsica. Os requisitos
legais exigidos para as infraes ao meio ambiente tambm no so os mesmos, de outros
delitos to famosos como o homicdio, leso corporal, e estelionato e etc.
O conhecimento das exigncias legais que possibilitam a responsabilidade penal da
pessoa jurdica essencial. Dentro das condies principais encontra-se o delito cometido que
para Sirvinskas (2002), pode ser fruto de decises do representante legal, contratuais e at
mesmo por rgos colegiados. A infrao praticada para degradar o meio ambiente deve ter
como fundamento a aquisio de uma vantagem para a pessoa jurdica, benefcios que podem
ser lucros materiais ou financeiros.
Examina-se que h muitos outros requisitos, mas explcitos segundo Arajo (2006)
So eles: o poder de determinao no mbito do ente coletivo, o autor material ter relao
com a pessoa jurdica que a causalidade da deciso escolhida com o crime ambiental
concreto.Tambm existe na opinio do autor algumas condies implcitas, como a pessoa
jurdica pertencer a espcie de direito privado o autor tem estar agindo sob o respaldo da
pessoa jurdica, e finalmente que as atividades realizadas por esta entidade omitam o
verdadeiro dinamismo da mesma.
Considerando que as exigncias legais sejam cumpridas, muitos questionam de como
seria a aplicabilidade da pena para as pessoas jurdicas nos danos ou crimes ao meio
ambiente. As sanes penais so previstas pelo Art. 21 da Lei dos Crimes Ambientais, a Lei
9.605/98 incidem isoladamente, alternativamente, cumulativamente ou alternativamente,
podem ser multa, pena restritiva de direitos e de prestao de servios comunidade
(Colombo, 2008).
Em matria penal, a Lei n 9.605/98 ameaa uma das questes mais relevantes do
ordenamento penal brasileiro que a aplicabilidade individual da pena. Para Sirvinskas
(2002) o nosso cdigo penal passaria a dividir-se entre a responsabilidade penal da pessoa
fsica e da pessoa jurdica. A responsabilidade penal no que tange a pessoa fsica
plenamente aceitvel, mas para pessoa jurdica, e principalmente a de direito pblico est
longe de ser aceita pelo princpio do direito penal da individualizao da pena que prev
segundo Faria (2006), penas so isentas de padronizaes quando aplicadas.
O desafio que a responsabilidade penal da pessoa jurdica traz muito longo, dura
aproximadamente 17 anos. No fcil debater sobre este assunto porque o princpio da
individualizao da pena, no admite que pessoas jurdicas sozinhas possam cometer delitos e
cumprir as penas propostas pelo Cdigo Penal como as pessoas fsicas; com urgncia que
devem ser definidos critrios para a aplicao de penas para pessoas jurdicas de direito
privado e de direito pblico, pois de conhecimento geral que elas contribuem significativa
para a poluio do meio ambiente. Por outro lado, realiza-se tentativas para conservar o meio
ambiente ecologicamente equilibrado, o mesmo Estado tolera altos ndices de poluio e at
se beneficia com eles atravs dos impostos e das taxas por exemplo. Mesmo com a riqueza
que a legislao ambiental possua necessrio, coloc-la em prtica e descobrir maneiras
efetivas de proteger o bem jurdico meio ambiente.
CONSIDERAES FINAIS
O tema sobre a responsabilidade penal da pessoa jurdica de direito pblico nos crimes
ambientais se faz presente nos atos legais. Entretanto, observa-se que a tutela ambiental levou
muitos anos para ser reconhecida como um direito fundamental, indispensvel vida do
homem por causa da degradao ambiental. O Brasil e inmeros pases criaram mecanismos
de preveno ao meio ambiente. Cresceu, de um lado, o rigor sobre a interao do homem
com o meio ambiente natural em que vive e de outro, muitos pases como o Brasil mudaram
ou criaram legislaes para melhor resguardar o meio ambiente, que um precioso bem
jurdico.
O Brasil teve de encontrar meios de defender o meio ambiente, e preocupar-se em
medidas de controle e combate para a degradao ambiental. Com relao questo,
verificou-se que, as pessoas jurdicas contriburam muito para a grande ocorrncia dos
problemas ambientais em nosso pas, nos ltimos anos. Destaque especial tem sido dado para
as pessoas jurdicas de direito pblico. Neste caso, foi necessrio aumentar a responsabilidade
das pessoas jurdicas com relao ao mal praticado ao meio ambiente com um dispositivo
constitucional indito.
Assim, o Art.225, pargrafo 3, da Constituio Federal de 1988 previu a
criminalizao da pessoa jurdica pelos danos ambientais cometidos, mas no se refere
pessoa jurdica de direito pblico propriamente dita. O legislador constituinte postergou s
leis infraconstitucionais, a regulamentao da responsabilidade penal pessoa jurdica.
Percebe-se que, por inmeros motivos a previso legal do dispositivo constitucional
mencionado anteriormente, no recai sobre as pessoas jurdicas que trabalham em favor dos
interesses do poder pblico.
Alm disso, a legislao ambiental brasileira, principalmente a Lei dos Crimes
Ambientais n 9605/98 muito rica, mas pouco eficaz e omissa em determinados assuntos.
Principalmente no que tange as penas que nestes casos, so destinadas a quem causou, e neste
caso analisa-se que somente a pessoa jurdica como gnero. To pouco esta lei explicitou os
procedimentos a serem seguidos para se recuperar o ambiente pelo poluidor-pagador.
No se pode afirmar, com certeza, que apelando responsabilidade penal da pessoa
jurdica de direito pblico, a degradao ambiental seja diminuda porque inexistem
dispositivos legais que comprometam efetivamente a Administrao Pblica a reparar os
danos e os crimes ambientais causados. Enquanto no forem adotados posicionamentos firmes
dos juristas, dos tribunais, da legislao constitucional, a respeito da responsabilidade penal
da pessoa jurdica de direito pblico, se esta vlida ou no, bem difcil afirmar que o meio
ambiente brasileiro est plenamente protegido, porque, percebe-se que todos tem o dever de
protege-lo, mas nem todos so definidos como responsveis por ele, e obrigados a responder
caso a devastao ambiental ocorra.
Em sntese, o estudo em questo de grande relevncia, visto que se trata de direito
humano ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, de direito de 3 gerao, uma rea
ainda pouco investigada. H 17 anos existe uma longa discusso sobre este assunto polmico,
se cabvel ou no a responsabilidade penal da pessoa jurdica de direito pblico que de
extrema importncia, pois de acordo com que a doutrina, os tribunais e a legislao posterior
entenderem, este princpio pode desestabilizar um dos maiores princpios do direito penal
brasileiro. Ento este no debate sem valor e merece novos estudos para esclarecer maiores
detalhes sobre a relao estatal com o meio ambiente e sobre a imputabilidade pessoa jurdica
de direito pblico nos crimes que lesam o meio ambiente.
REFERNCIAS
ALVES, Rodrigo Ribeiro de Magalhes. Responsabilidade penal da pessoa jurdica por crimes ambientais. 2009. 53 p. Trabalho de Concluso de Curso (Graduao)- Faculdade de Direito, Universidade de Braslia, 2009. Disponvel em: < http://www.fesmpdft.org.br/arquivos/rodrigo_ribeiro.pdf.> Acesso em: 21 ago, 2013. ARUJO, Lus Eduardo Marrocos de. A responsabilidade penal do estado por condutas lesivas ao meio ambiente. Fund. Esco. Sup. Minist. Pblico, Dist. Feder. Territ, p.1-13, abr. 2005. Disponvel em: http://www.escolamp.org.br/arquivos/Artigo_Responsabilidade%20Penal.pdf> Acesso em: 12, set. 2013. ARUJO, Moacir Martini de Arajo de. Da responsabilidade penal da pessoa jurdica de direito pblico como efetivao do direito fundamental ao meio ambiente. 2006. 172 f. Dissertao (Mestrado em Direito), Centro Universitrio FIEO. Osasco, 2006.