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N 0 39 | Maio / Junho | 2013 | Ano 7 | www.grupolet.com A revista do Grupo LET Recursos Humanos News DOMENICO DE MASI "O PAPA DA SOCIOLOGIA DO TRABALHO" CAPA/DEPOIMENTO EXCLUSIVO faz uma análise das novas dinâmicas de um mercado de trabalho em transformação – Pág. 16 ATUALIDADE SE REINVENTAR Marcelo Arantes, Vice-Presidente de Pessoas & Organizações, TI e Suprimentos da BRASKEM, revela como cumprir este desafio – Pág. 8 POR DENTRO DO RH Os diferenciais da TERCEIRA IDADE para as organizações competitivas – Pág.12

A revista do Grupo LET Recursos Humanos Let 39.pdf · vadoras. Nossa missão é fazer o grupo compreender que para atingir os objeti-“O valor do TREINAMENTO que fuja ao ÓBVIO”

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Page 1: A revista do Grupo LET Recursos Humanos Let 39.pdf · vadoras. Nossa missão é fazer o grupo compreender que para atingir os objeti-“O valor do TREINAMENTO que fuja ao ÓBVIO”

N0 39 | Maio / Junho | 2013 | Ano 7 | www.grupolet.com

A revista do Grupo LET Recursos Humanos

News

DOMENICO DE MASI"O pa pa d a s O c i O l O g i a d O t r a b a l h O"

capa/dEpOiMENtO EXclUsiVO

faz uma análise das novas dinâmicas de um mercado de trabalho em transformação – pág. 16

ATUALIDADE SE REINVENTARMarcelo Arantes, Vice-Presidente de Pessoas & Organizações, TI e Suprimentos da BRASKEM, revela como cumprir este desafio – Pág. 8

POR DENTRO DO RHOs diferenciais da TERCEIRA IDADE para as organizações competitivas – Pág.12

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“Arqueiros da Excelência – Filosofia e Arte para Acertar Seus Alvos” de Sergio Hage, Qualitymark EditoraMuita gente imagina a Filosofia como algo nebuloso, atmosférico, distante da praticidade. Mas esta obra traz clareza e objetividade, explicando ao leitor como entender e usar esta ciência do conhecimento para se obter precisão no atingimento de um alvo, queremos dizer, objetivo, meta. Sérgio Hage, com grande percepção sobre a arte e filosofia dos Arqueiros, desenvolveu o Método Archery, aplicado aos interesses pessoais e empresariais na con-quista de resultados.

“Aposentadoria: Ponto de Mutação?”, de Dulcinéa da Mata, Qualitymark EditoraAtire a primeira pedra quem nunca se viu perdido ou curioso quanto à aposentadoria e todo o seu processo. Quando é a hora de parar de trabalhar? Como será o relacionamento com a família? Qual o impacto causado por esta parada no orçamento da casa? Se aposentar não significa mais ter que parar com tudo. Esta obra ajuda as pessoas a quebrar mitos e preconceitos, ressignificando o ato de se aposentar e aos RHs a lidar com o tema nas em-presas e redes sociais.

“O Instinto do Sucesso”, de Renato Grinberg – Editora GenteJá se arrependeu de ter tomado uma decisão por puro impulso ou, ao contrário, de não ter agido de acordo com sua intuição? Apesar de termos evoluído, somos guiados por instintos primitivos e isto se reflete de maneira contundente no trabalho. Entender como esses instintos nos influenciam e como usá-los ao nosso favor é fundamental para o sucesso. Esta tomada de consciência proporciona agir de maneira mais apropriada de acordo com cada situação.

Editorial

Caros leitores,

Pode parecer estranho, mas não é. Surpresa não deve ser mais uma palavra que nos traga espanto, estranhamento. A cada dia devemos ter a capacidade de fazermos algo diferente do que produzimos no dia anterior. Mais do que se reinventar, isto é buscar novos significados para este termo. Uma das matérias mais importantes da edição traz Marcelo Arantes da Braskem (e também do Comitê Temático do CONARH), além de Manlio Vetorazzo, do Bar Luiz. Ambos reinventaram as suas trajetórias e as de muita gente bacana. São histórias que se complementam e que valem a pena serem conhecidas.Nossa edição também lança olhares estratégicos ao tema Educação e traz, para engrandecer a abor-dagem, dois ícones neste sentido: o italiano Domenico de Masi (capa desta edição) e a carioca An-dréa Ramal. Ele, referência mundial da Sociologia do Trabalho e autor do best seller “O Ócio Criativo” (em setembro estará lançando no Brasil, “O Futuro já Chegou”); e ela, Consultora da TV Globo e referência nacional em Educação e Pedagogia, nos concedem duas entrevistas exclusivas e, sem exagero, históricas à nossa publicação, cada vez mais intensa na qualidade de seu conteúdo.Como intenso é o espaço que também dedicamos aos profissionais que estão “se desaposentan-do”. Isto mesmo, não cabe mais a cena do sujeito em casa, de pijama, lendo jornal e assistindo à TV. Conheça, em nossas páginas, RHs e empresas que estão aumentando a valorização aos profissionais com mais de 50, 60, 70 anos.Nossa edição tem muito mais informação e o melhor é que basta você folhear para curtir.

Boa leitura! Joaquim Lauria

Diretor Executivo do Grupo LET Recursos Humanos

“Se REINVENTE...sempre diferente”

Papo com o leitor

Dicas NewsLet - Livros

Expediente

O Grupo Let Recursos Humanos parabeniza o Rio de Janeiro pela conquista do título de Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco!

Foto: Zuh Ribeiro / Army Agency

NononoEntrEvistaEntrEvista EspEcial

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ção

Metódica, pragmática e su-ave ao tratar dos temas de RH, Ana Claudia Par-reira vem conquistando

sua posição no mercado. “Lisonjeada pelo convite à entrevista”, como re-velou, faz questão de incluir Joaquim Lauria entre um dos líderes inspirado-res que teve em sua carreira. Em 2006 atuou no Grupo LET como Analista de RH. Também se inspirou em Andrea Giorgi, sua gestora durante os quatro anos em que atuou na Amil.

Chegou ao Grupo Technos em 2011, como Coordenadora de RH, para o start up de um grande traba-lho: alavancar a área de desenvolvi-mento organizacional. Apoiada por seus líderes, implementou novas prá-ticas. Com Thiago Picolo, Diretor Fi-nanceiro Administrativo, adquiriu co-nhecimentos para transformar ações em resultados estratégicos.

Os números do crescimento da em-presa nos últimos anos mostram que ela fez a aposta certa: em 2011 eram apenas cinco marcas no Grupo. Hoje já são 19. O olhar fixo e a fala precisa, sem um erro sequer na pontuação, transmite a noção de uma profissional que tem sob suas ré-deas o controle do estresse, algo muito complexo para a atualidade. Talvez fruto da vivência dos muitos treinamentos que ela tem estruturado e implementado.

NEWSLET – Por que é importante um treinamento sair do lugar-comum, do óbvio?

Ana Claudia Parreira – Para que possa-mos propor uma dinâmica diferente da realidade das pessoas como, por exem-plo, um treinamento ao ar livre. Quando a pessoa está no local de trabalho já conhece cada cantinho e se comporta exatamente da mesma maneira no dia a

dia. Desta forma, favorecemos a obten-ção de melhores resultados, através de atitudes vencedoras e postura pró-ativa em situações de alto impacto. Este tipo de treinamento também estimula a maior adesão e assiduidade, já que se o parti-cipante estiver na empresa, alguém vai chamar, ele vai atender ao telefone, res-ponder a um e-mail. No treinamento ex-terno a frequência destas ações diminui.

NEWSLET – O desconhecido ajuda as pessoas a aproveitar o melhor de-las mesmas?

Ana Claudia Parreira – Sim. Porque quando saímos do habitual em um trei-namento ajudamos as pessoas a inter-nalizar novas situações. Se as pessoas se acostumam demais com uma zona do conhecimento não há experiências ino-vadoras. Nossa missão é fazer o grupo compreender que para atingir os objeti-

“O valor do TREINAMENTO que fuja ao ÓBVIO”

Grupo LET Recursos Humanos Membro Oficial

Matriz – Rio de Janeiro (RJ) - Barra

Centro Empresarial Barra Shopping Av. das Américas 4.200, Bloco 09, salas 302-A, 309-A – Rio de Janeiro – RJ – tel.: (21) 3416-9190 CEP – 22640-102 Site: http://www.grupolet.com

Escritório LET – Rio de Janeiro (RJ) Centro – Avenida Rio Branco 120, grupo 607, sala 14, Centro, Rio de Janeiro (RJ), CEP: 20040-001 tel.: (21) 2252-0780 / (21) 2252-0510.

Escritório LET – São Paulo (SP) Rua 7 de Abril, 127, Conj.42, Centro – São Paulo – SP – CEP:01043-000 – Tel: (11) 2227-0898 ou (11) 5506-4299.

Escritório Juiz de Fora (MG) Rua Fernando Lobo 102, sala 804, Ed. Europa Central Tower, Centro Juiz de Fora (MG) – Brasil, CEP: 36016-230 Tel: (32) 3211-5025

Escritório Belo Horizonte (MG) Rua São Paulo 900, Salas 806 e 807, Centro, Belo Horizonte - CEP: 30170-131 Tel.: (31) 3213-2301

Diretor Executivo: Joaquim LauriaDiretor Adjunto: Kryssiam Lauria

Revista

Publicação bimestral Maio / Junho 2013 Ano 7 – Nº 39 Tiragem 1.500 exemplares Jornalista responsável (redação e edição):

Alexandre Peconick (Comunicação Grupo LET) Mtb 17.889 / e-mail para [email protected] Diagramação e Arte: Murilo Lins ([email protected])

Foto da Capa: Divulgação Braskem

OPORTUNIDADES:Cadastre seu currículo diretamente em nossas vagas clicando www.grupolet.com/vagas/candidato e boa sorte!

GRUPO LET NAS REDES SOCIAIS: Acesse nossas páginas no Facebook e no Twitter Impressão: Walprint Gráfica e Editora Ltda. Endereço: Rua Frei Jaboatão 295, Bonsucesso – Rio de Janeiro – RJ E-mail: [email protected] Tel: (21) 2209-1717

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Ana Claudia ParreiraCoordenadora de RH do GRUPO TECHNOS

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PersonagemEntrevista Especial

“Proporcionar e criar a sensação

de pertencimento aos funcionários

é o principal objetivo de nossos

treinamentos”

vos e metas a equipe precisa trabalhar de forma integrada e sinérgica através que traz um alto grau de comprometi-mento com os resultados do dia a dia.

NEWSLET – A experiência inovadora é atraente para alguns e não para ou-tros. Como o RH dá suporte às pesso-as para que vençam barreiras?

Ana Claudia Parreira – Demonstramos que, em equipes de alta performance, todos dependem de todos para obter resultado. Por isto, ao final de cada ati-vidade questionamos cada um: “O que você sentiu em relação à atividade pro-posta?”; “O que poderia fazer diferen-te?”; “O que aprendeu com isto?”. O RH proporciona ao funcionário uma autorre-flexão acerca do que cada um faz e do que pode realizar de novo.

NEWSLET – O primeiro treinamento implementado enfrentou resistências?

Ana Claudia Parreira – Sim. Houve uma natural desconfiança. “O que eu vou fa-zer lá?” “Para que vai servir isto?”. Mas este foi um sentimento muito efêmero, porque nos primeiros cinco minutos da primeira palestra, as pessoas já se sen-tiam parte daquela prática e percebiam a sua importância.

NEWSLET – Qual é o objetivo pri-mordial do treinamento aplicado por vocês?

Ana Claudia Parreira – Proporcionar e criar a sensação de pertencimento aos funcionários abordando assuntos referentes ao alinhamento estratégico, planejamento e acompanhamento de metas, engrenagem Technos e gestão de pessoas, e equipe de alta perfor-mance num ambiente descontraído, favorecendo a integração de nossos colaboradores do Brasil inteiro, desper-tando o interesse e especialização nos assuntos abordados, multiplicando as informações apreendidas e aplicando, na prática, os conceitos fundamentais.

NEWSLET – Como os treinamentos se estruturam?

Ana Claudia Parreira - Temos uma aca-demia de treinamentos para os líderes à qual nomeamos “Trilha de Desenvol-vimento”. Esta trilha consiste em en-contros mensais nos quais reunimos os 40 coordenadores de todas as áre-as em unidades do Brasil e adotamos como temas principais: Engrenagem do Grupo Technos (conhecer o todo e a importância de cada um neste todo), Desdobramento e Gestão de Metas (Política Meritocrática) e Liderança. Permeamos os encontros nesses te-mas. Neste ano temos alguns módu-los virtuais intercalados com os módu-los presenciais.

NEWSLET – Conte para nós algum tipo de treinamento que vocês fize-ram...

Ana Claudia Parreira – Em 2012, realiza-mos dois eventos utilizando a metodolo-gia TEAL (Treinamento ao Ar Livre). O pri-meiro abordou gestão de equipes de alta performance, com atividades práticas desafiadoras ao longo de oito horas em um espaço externo amplo e encantador. Experimentamos a superação de desa-fios. O segundo foi um grande encerra-mento de todos os módulos aplicados no ano com os nossos coordenadores; uma forma ideal de mostrar a apreen-são prática, integradora e inspiradora do conteúdo. Mesmo entendendo que tenho grandes profissionais sob o pon-

to de vista técnico, preciso engajá-los no alcance do resultado. Faço isto reco-nhecendo, valorizando o esforço diário, comemorando o sucesso, e, quando oportuno, dividindo as fraquezas. Preci-so mostrar as lacunas que precisamos preencher. E o TEAL faz isto: exibe a difi-culdade em alcançar metas e como cada um deve tratar estas dificuldades.

NEWSLET – E o resultado?

Ana Claudia Parreira – O pessoal pediu mais! Eles adoraram trocar experiências. Este tipo de atividade ajuda a transformar a atitude das pessoas no trabalho, dos líderes e dos liderados. O líder precisa estimular pessoas a superar os desafios, orientando o caminho a ser seguido para o alcance dos objetivos. Nossos treina-mentos deixam explícito que a união de esforços coletivamente nos leva a resul-tados inimagináveis.

NEWSLET – Como definir o tipo de treinamento que um grupo irá preci-sar?

Ana Claudia Parreira – Fazemos um le-vantamento de necessidades de trei-namento técnico, comportamental ou específico. Quando fechamos um ano, mais ou menos em outubro, já come-çamos a pensar que tipos de treina-mentos temos que fazer para o ano seguinte, sempre aplicando os valores da empresa: gente, ética, qualidade, empreendedorismo e meritocracia.

NEWSLET – Você faz benchmarking?

Ana Claudia Parreira – Com certeza! Buscamos as melhores práticas e tro-camos informações com empresas de expressão. Do brainstorm ao bench-marking nosso foco está pautado em superar as expectativas dos funcio-nários. Selecionamos instrutores que possam retratar a nossa realidade. Existem treinamentos em que se fa-lam muitas coisas bonitas, mas que não funcionam na prática. No Grupo Technos isto não acontece, pois ali-nhamos as expectativas no momento de preparação do treinamento.

Dedicada e mergulhada no universo da transformação pela Educação, a carioca Andrea Ramal tem uma

trajetória cujos números e letras não se limitam a uma biblioteca. Em uma realidade digital, não poderia. Apenas para pontuá-la..., que ousadia, seus comentários sobre a realidade do ensino brasileiro no Bom Dia Rio (TV Globo) são sempre precisos e cons-trutivos, ora reflexivos, para quem os assiste.

Defensora da sinergia entre escola e família como propulsora da qualida-de na educação e de uma formação do estudante voltada para a autono-mia intelectual, entre outros pontos de impacto em sua expertise, ela, com base em suas convicções, já influiu na construção coletiva do conhecimento de muita gente não apenas no Brasil, mas em diversos países da América Latina, onde, além de publicar livros, realizou palestras, implantou progra-mas de formação docente e de lide-ranças em escolas.

Seu último livro “Filhos Bem Suce-didos - Sete maneiras de ajudar seu filhos a se realizar na escola e na vida (Sextante)”, intensifica e oferece no-vos e brilhantes insights que ajudam a fomentar os tais “agentes transforma-dores” dos quais o mercado tanto fala.

Andrea Ramal educadora, escritora,

Comentarista de educação para a tV Globo e Sócia-Fundadora

da ID Projetos educacionais

“As estratégias devem estar alinhadas

às novas formas de aprender”

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NEWSLET – O Brasil está recebendo milhares de turistas, não apenas por conta de megaeventos. Virou “lugar-comum” dizer: “queremos gente com inglês fluente”. Louvável. Mas há mui-ta gente esquecendo que 90% dos brasileiros leva autênticos “tombos” no português, nosso idioma. O in-ternetês, por exemplo, não contribui para exacerbar a desvalorização da língua? Como a aplicação da Língua Portuguesa pode ser melhorada?

Andrea Ramal – Acredito que estudan-tes e profissionais brasileiros podem e devem investir nas duas frentes: apri-morar o uso correto da língua portugue-sa e, ao mesmo tempo, aprofundar-se no estudo de pelo menos um idioma estrangeiro. O próprio programa Ci-

ência sem Fronteiras vem mostrando uma debilidade de muitos candidatos com relação a idiomas, o que acaba impedindo que aproveitem boas opor-tunidades de estudos no exterior. Um levantamento feito este ano pelo portal Terra mostrou que 13% dos estudantes beneficiados com cursos no exterior estão em Portugal, devido ao idioma. E no final do ano passado, num ranking internacional de habilidade de inglês, o Brasil ficou em 46º lugar em 54 nações pesquisadas. Todas as regiões brasilei-ras ficaram com desempenho “baixo” ou “muito baixo”. Para que o Brasil seja competitivo num cenário global, é fun-damental avançar na aprendizagem de idiomas estrangeiros desde a educação básica. Ao mesmo tempo, usar a língua portuguesa corretamente é fundamen-

tal. O Jornal Nacional (TV Globo) exibiu em abril deste ano uma matéria com os resultados de uma pesquisa de teste ortográfico realizada pelo Núcleo Brasi-leiro de Estágios (NUBE). O estudo, re-alizado com 7219 estudantes, mostrou que 28,8% dos candidatos a estágio em empresas foram reprovados na etapa de seleção em função do desempenho linguístico. Em 2012, um pesquisador da Universidade Católica de Brasília entrevistou 800 universitários e chegou à conclusão de que mais da metade poderiam ser classificados como “anal-fabetos funcionais”. Não creio que a internet seja a culpada com relação a este fenômeno. A língua pode ser usa-da de diversas formas, dependendo do contexto. Basta que os usuários saibam fazer distinções. As soluções passam pela melhoria da qualidade da educa-ção básica, desde a alfabetização até o ensino médio e pela criação de hábi-tos de leitura e escrita, tanto na escola como em casa.

NEWSLET – Muitos RHs dizem: “es-tou de saco cheio de ouvir o tal do falta gente qualificada”. Como em-presas podem, no curto prazo, cobrir as carências que vêm do ensino bási-co? E como podem, no longo prazo, projetar melhores profissionais para o futuro? Parceria empresa-escola contribui? Andrea Ramal – Conheço boas inicia-tivas, como, por exemplo, a do Projeto NATA - Núcleo Avançado de Educação em Tecnologia de Alimentos e Gestão de Cooperativismo, desenvolvida pelo Grupo Pão de Açúcar numa escola do Rio de Janeiro. No sistema de ensino médio integrado, a escola oferece um modelo educacional voltado para gerar conhecimentos locais e criar oportu-nidades de emprego para os jovens. A formação técnica é em leite e derivados, panificação e confeitaria. Conheço de perto esta bela experiência e a minha empresa participou como consultoria implementadora do modelo. Mas não é possível generalizar estes bons resulta-dos. O investimento na educação básica e profissionalizante é, sem dúvida, uma

das saídas para as empresas. Outra é a implementação de sistemas eficientes e eficazes de formação continuada dentro da organização, sejam ou não chama-dos de “universidades corporativas”. O caminho é mapear as competências que precisam ser desenvolvidas, definir itinerários de formação para as pessoas / cargos / funções e ministrar internamen-te, nas mais diversas modalidades, tudo o que envolver conhecimento crítico e específico da organização, usando as estratégias educacionais mais adequa-das e mais alinhadas com as novas for-mas de aprender.

NEWSLET – Mesmo considerando que no Brasil há ações para valorizar os professores, os resultados são insuficientes para gerar a qualidade que precisamos. O que está faltando para que tenhamos o mesmo modelo de valorização do professor que há, por exemplo, na Coréia do Sul e na Espanha, onde a Educação têm status estratégico?

Andrea Ramal – Os números não são animadores. O piso salarial de um pro-fessor no Brasil é de R$ 1.567,00 com 40 horas de dedicação por semana. É muito difícil atrair jovens talentos para o magis-tério e não perdê-los para outras carrei-ras ao longo da vida profissional. Afinal, das profissões com ensino superior, a de professor é a mais mal remunerada. Sem falar que as condições de trabalho nas escolas não são boas. Faltam recursos, computadores... Em de 10 mil escolas brasileiras falta até água potável, de acor-do com o censo escolar de 2012. É possí-vel uma parceria entre educadores, RHs e líderes de empresas para sensibilizar governos? Sim, mas parece algo de difí-cil execução. Acredito na necessidade de construir um projeto de país que passe necessariamente pela educação, como foi o caso da Coreia do Sul. Isso requer, mais do que ações e políticas pontuais. Exige mudanças estruturais em todos os segmentos da educação; iniciadas, des-de já, para obter resultados concretos em até duas décadas. Lamentavelmente a gestão da Educação não é feita com horizontes de médio e longo prazo.

NEWSLET – O ensino fundamental é suporte para a formação do ser huma-no e, por consequência, do profissio-nal do futuro. Quais são os equívocos que você ainda identifica na relação entre família, escola e aluno, criando obstáculos ao aprendizado? Como corrigi-los?

Andrea Ramal – O maior equívoco é a falta de uma relação de parceria entre família e escola. Isso significa, da parte da família, conhecer bem o projeto pe-dagógico da escola, apoiá-lo e reforçá-lo em casa; participar da vida escolar, acompanhando os estudos dos filhos; e conscientizar as crianças e os jovens sobre a importância do estudo, para que se comprometam com o autodesenvolvi-mento, com hábitos de leitura e estudo, com uma atitude empreendedora diante da vida. Da parte da escola, é necessário que ela se abra ao diálogo com as famí-lias, ajudando-as a enfrentar os desafios da educação de hoje, que não são os mesmos de outras décadas.

NEWSLET – Como Educadora qual é a sua posição sobre a Lei de Cotas?

Andrea Ramal – Muitas críticas podem se fazer a esta lei, por ferir a autonomia das universidades, colocar em risco (mas não necessariamente extinguir) o padrão mínimo de exigência para a seleção, querer corrigir uma desigual-dade histórica “por decreto”. Por outro lado, ela tem muito valor pela acelera-ção de um processo de democratiza-ção do acesso ao ensino superior e de inclusão que demoraria séculos – como, aliás, demorou até agora. Ela

não é para sempre: em dez anos será reavaliada. E vai forçar a elevação da qualidade do ensino básico, para que os alunos cheguem mais bem prepara-dos. Por tudo isso, num balanço geral, e, levando em conta variáveis sociais, econômicas e históricas do nosso país, creio que seja uma política com mais pontos positivos do que negativos. NEWSLET – Sobre o recente caso das redações do ENEM, cheia de er-ros de Português, que levaram nota dez e sobre o fato de alguns gra-máticos dizerem que “se entrou na Língua Portuguesa está certo: pre-cisamos evoluir”, qual é o seu posi-cionamento?

Andrea Ramal – Não creio que esta hi-potética frase de alguns gramáticos se refira nem se aplique a este caso das avaliações do ENEM. A Língua Portu-guesa, como qualquer outra, certamente é dinâmica e muda conforme os tempos, grupos sociais e contextos em que é usada. Acredito que, no caso do ENEM, houve uma aplicação problemática de certos critérios de correção que, pelo que sei, serão revisados. O fato, no en-tanto, ajudou a confirmar mais uma vez um conjunto de problemas que preci-sam ser enfrentados no nosso sistema educacional. A começar pelas deficiên-cias na formação básica: basta dizer que a rede estadual mais bem colocada no IDEB 2011 (Índice de Desempenho da Educação Básica), Santa Catarina, ficou com nota 4,3 no ensino médio. E mais de uma rede não atingiu sequer a nota 3,0 - num indicador que avalia habilidades mínimas de matemática e português. O sistema ensina pouco, mas muitos alu-nos vão sendo aprovados sem dominar os conhecimentos mínimos. Chegam à universidade e tudo se repete: concluem os cursos com notas apenas regulares. Mas a roda da não-aprendizagem tem vida curta: os mesmos jovens que o sis-tema aprova são aqueles que o mercado de trabalho reprova nos testes de recru-tamento e seleção. É justamente o para-doxo do país: muitas oportunidades de trabalho, e pouca gente qualificada para aproveitá-las.

“Da parte da escola, é necessário que ela se abra ao diálogo com

as famílias, ajudando-as a enfrentar os desafios da educação de hoje, que não são os mesmos

de outras décadas.”

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AtuAlidAdE

Para fazer diferente todos os dias, é preciso acreditar que isto não depende de poder econômico, “nome forte na

praça” ou mesmo da sorte. Acreditar, no entanto, não é tudo. Investir esfor-ços para fazer acontecer o sonho é mandatório. Virou chavão dizer “preci-samos nos reinventar”. O interessante é ressignificar, ou seja, buscar novos significados para o que deve ser a “reinvenção” de nós mesmos.

Trazemos dois personagens que buscam, o tempo todo, o mesmo ca-minho, o da felicidade, de diferentes formas, dando a si mesmos novas chances: Marcelo Arantes, hoje Vice-Presidente de Pessoas & Organização, TI e Suprimentos da Braskem e Manlio

Vettorazzo, Gerente de Operações do Bar Luiz. Suas histórias comprovam que sempre existe uma nova chance. Somos, em geral, condicionados a fa-zer as mesmas coisas todos os dias, pegarmos os mesmos caminhos, fa-larmos com as mesmas pessoas… Hábitos podem levar ao aprisiona-mento inconsciente. Mudar a rotina, se permitindo novas experiências, é um exercício que nos direciona a grandes realizações.

Também podemos entender REIN-VENTAR-SE como desaprender para aprender e colocar, de fato, um novo comportamento para funcionar. Quem se reinventa utiliza a experiência como fonte de maturidade e não como única verdade. Reinventar-se é não buscar a

inovação somente no que existe, mas desafiar-se a começar de novo.

O verso da música do cantor Fá-bio Jr. “quero saber bem mais que os meus 20 e poucos anos” se aplica bem à primeira vez que Marcelo Arantes, em 1993, precisou se reinventar profissio-nalmente ao participar de uma equipe encarregada de repensar o modelo de gestão, revendo processos de relacio-namento com os clientes da AVB, em-presa para a qual trabalhava. Caiu-lhe a ficha: ele era muito voltado para o RH, mas pouco entendia de Finanças. Como reconhece, foi uma oportunida-de para amadurecer e abrir a mente, percebendo que estar em RH é fazer parte de um todo. “Desde aquele ano eu sabia que para entender o impacto

da minha atuação eu deveria saber di-mensionar o valor das outras funções”, esclarece o executivo.

Simples e direto, ao falar sobre “reinvenção”, Marcelo entende que existe o “senso de urgência” e o “senso de oportunidade”. Às vezes muda-se a forma de atuar porque há o senso da urgência, ou seja, mudou o cenário externo, mudou o ambien-te, o negócio precisa ser mudado. Nesse caso, ele defende que o papel do RH é o de estar junto à lideran-ça, apoiando a transição e protago-nizando alguma frente de mudança. Por outro lado, pode haver o senso de oportunidade, quando o RH iden-tifica uma demanda interessante para a empresa investir.

Profissional do Ano em 2005 pela ABRH-RJ e em 2011 pela revista VOCÊ S.A., Marcelo diz que o RH, vem, nos últimos anos, ganhando cada vez mais conexão com a empresa ao engajar suas pessoas e estabelecendo com elas o que chama “vínculos de pro-pósito”. “Quero trazer para a Braskem pessoas que vejam sentido no trabalho que podemos oferecer a elas”, traduz. “Com emocionalidade e sensibilidade, a capacidade de leitura do contexto so-cial e econômico no qual a empresa se insere passou a ser uma competência essencial ao novo RH que se reinventa com cada vez mais frequência”, argu-menta o VP da Braskem que também já passou pela Fiat do Brasil, Reckitt Benckiser e Intelig.

Marcelo avalia que o RH, ao longo dos últimos 20 anos, vem passando por momentos dolorosos e necessá-rios à reinvenção que exigem reflexão, mas, em seguida, ações imediatas. Uma grande oportunidade de rein-venção ocorre, segundo ele, nos pro-cessos de fusões e aquisições entre organizações, devido ao choque de culturas, que mostra às pessoas dife-rentes ângulos de se lidar com uma mesma questão. Por sua vez, as em-presas são demandadas a criar novas formas de lidar com suas pessoas pelo simples fato delas estarem em menor quantidade do que a oferta de vagas. “Hoje é o emprego que perde a pessoa e não o contrário”, explica.

O olhar abrangente do executi-vo tem sido importante para que ele, como membro do Comitê Temático, ajude a engrandecer o conteúdo do 39º Congresso Nacional sobre Ges-tão de Pessoas, que entre 19 e 22 de agosto próximo, trará o tema “Rein-ventar a Gestão: Uma Construção Co-letiva”. Segundo Marcelo, o CONARH (da ABRH-Nacional) é importantíssimo para que gestores de todos os estados do País possam debater sobre como li-dar com o processo de transformação que vem por aí, reforçando, por exem-plo, as conectividades e os princípios éticos e morais que avançam em todas as regiões. “No Brasil, a evolução dos serviços é notória; se não nos ante-

narmos às mudanças, em 10 anos as organizações não serão os melhores lugares para se trabalhar”, alerta.

Fazer o “dever de casa” da rein-venção, se pudermos assim chamar, tem sido comum na Braskem, empre-sa petroquímica que tem 51% de seu controle acionário com a Odebrecht. Ao termo “Se reinventar”, na empre-sa, renomeia-se “empresariar” — eles querem dizer: criar e entregar. Com ba-ses em princípios como Simplicidade, Humildade, Confianças e Espírito de Servir, cada um dos 7600 funcionários têm espaço para as falhas, para não saber determinados pontos e para bus-car o novo, quando assim entenderem que é preciso.

Marcelo lembra que em seus 69 anos a Odebrecht — a Braskem tem

Três PASSOS para SE

REINVENTAR!

1 Dissolva o problema - Quando há um problema, a saída é tentar resolver. Se

já fez isso e não deu certo, aceite a questão e dê tempo ao tempo. Assim conseguirá compreender melhor o contexto.

2 Redescubra-se - O que aprendeu com seus erros? Quem é você agora? Acei-

te as mudanças impostas pelas circunstâncias. Conscientizar-se de que és um ser inacabado é o primeiro passo para a felicidade.

3 Recomece o voo - Cair e levantar é natural. Re-gistre suas experiências,

faça as mudanças necessárias e recomece de onde parou. Fracas-sar não é errar, mas não tentar de novo e ter medo de perder!

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Se ReinventarReSSIGnIFICanDO O DeSaFIO

EMOCIONALIDADE E SENSIBILIDADE

Estas são, segundo Marcelo Arantes,

competências essenciais de quem sabe Se reinventar

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Nesta edição, salientamos a importância da preven-ção de doenças surgidas (ocasionadas) no trabalho.

O dia 28 de abril é considerado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho. A data foi escolhi-da como um marco internacional dos trabalhadores que foram mortos no trabalho ou sofreram acidentes e do-enças em suas atividades. O objetivo é o de reforçar a capacidade dos países em melhorar e promover a saúde e a integridade física dos trabalhadores, visando a prevenção de doenças ocu-pacionais.

Conforme informação do relatório divulgado pela OIT, acontecem 2,34

milhões de mortes em decorrência do trabalho em todo o mundo, sendo 2,02 milhões (86,3%) causadas por diversas doenças profissionais e 321 mil em consequência de acidentes. São 6.300 mortes diárias relacionadas ao trabalho e 5.500 delas causadas por doenças.

Hoje a maior vilã dos trabalhadores são as doenças ocupacionais. Elas provocam muito mais danos e mortes por serem menos divulgadas do que os acidentes de trabalho. O cenário mais contundente está na China, onde em 2010 foram registrados 27.240 casos de enfermidades profissionais, incluin-do 23.812 provocadas por exposição a partículas de pó no local de trabalho.

O Brasil não possui uma estatística especifica para esses tipos de ocorrên-

cias, dificultando o um estudo que fa-voreça a prevenção. No país calcula-se que 6,6 milhões de trabalhadores estão expostos a partículas de pó de sílica. “Estudos feitos na América Latina re-velam uma taxa de prevalência de si-licose entre os mineiros (trabalhadores na mineração) de 37%, a 50% entre os mineiros com mais de 50 anos”, afir-ma. A preocupação aumenta, porque o mercado de construção civil cresce mais a cada dia.

A Organização também chama a atenção para os riscos das mudanças em função da “rápida globalização que vivemos”. A cada momento surgem novos tipos de enfermidades profis-sionais sem que se apliquem medidas de prevenção e controle adequadas. Como exemplo, as nanotecnologias e determinadas biotecnologias, que comportam novos e não identificados riscos. Entre os perigos emergentes, se incluem as condições ergonômicas deficientes, a exposição à radiação ele-tromagnética e os riscos psicossociais.

Os tipos de doenças são diversos, fazendo com que a preocupação au-mente, pois não podemos pensar em apenas um tipo de risco para a saúde do trabalhador, e sim um campo exten-so de possibilidades. Na maioria das vezes, até mesmo o empregador não tem ciência das possíveis medidas de prevenção e controle mais adequados para o tipo de situação que estão en-frentando. É importante ressaltar que os acidentes e doenças ocupacionais, possuem um alto custo para todas as partes (trabalhadores, empregadores e poder público). Repito: precisamos, então, enfatizar a importância na pre-venção.

*Vanessa de Paula, é

a Técnica de Segurança

no Trabalho do Grupo

LET Recursos Humanos

SegurancaColuna Saúde e Segurança no Trabalho

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Doença Ocupacional é a GRanDe VILã DOS tRabaLHaDOReS *Vanessa de Paula

uma década — se reinventou várias vezes. Pesquisa recém- realizada pela Braskem aponta que 87% dos funcio-nários dizem que seu trabalho tem um sentido especial. “Quando há um am-biente estimulante os profissionais tem prazer em se reinventar”, diz.

Ambientes estimulantes foi justa-mente o sempre buscou ao longo de sua trajetória o carioca, filho de paulis-tas oriundi, Manlio Vettorazzo. Em re-lação a Marcelo Arantes ele é o outro lado da moeda do tema “Se Reinven-tar”. Sem nunca ter exercido uma fun-ção formal em RH — é graduado em Marketing — Vettorazzo, descobriu, aos poucos, que lidar com pessoas era algo apaixonante de se fazer como tra-balho. Nos últimos dois anos ela refor-mulou a questão “cuidar de pessoas” no tradicionalíssimo Bar Luiz, na Rua da Carioca, coração do Rio de Janeiro. O resultado virou case finalista do Prê-mio Ser Humano ABRH-RJ em 2012.

Vettorazzo, com 50 anos, tem traços carrancudos, mas basta um minuto de bate-papo com ele para se chegar às primeiras gargalhadas e ter a certe-za de que bom humor é fundamental. Desde cedo já trabalhava. O pai, um ex-diretor da De Millus, apaixonado por iatismo, comprou um barco com o dinheiro que recebeu da indenização da empresa e, pouco tempo depois, fabricava e vendia barcos ao lado dos filhos. Manlio, o filho mais extrovertido, não gostava da parte técnica da fábri-ca, mas adorava vender, falar com as pessoas.

Um dia o pai desistiu da loja e ele, Manlio, decidiu abrir com a ex-esposa, uma loja para vender apenas as peças dos barcos. Até que um dia um vendedor

de planos de saúde bateu à sua porta e o convenceu de que este era um bom ne-gócio. Resultado: Vettorazzo se reinven-tou de novo. Tirou barba, colocou terno e gravata e foi às ruas. Aprendeu muito.

“Sempre tive facilidade em vestir no-vos personagens”, admite. Vettorazzo conta que, aos 37 anos se considerava gordo e fumava dois maços de cigarro por dia. Em visita a um amigo dentista se admirou ao ver uma prancha de sur-fe no consultório e decidiu “entrar nes-sa onda”. Começou a surfar, parou de fumar e emagreceu 20 quilos. Não foi fácil. Na primeira tentativa revela que quase morreu afogado. Não desistiu. Em pouco tempo a prática do surfe o renovou, como ele descreve: “O con-tato espiritual com o oceano mostra que não temos poder sobre nada e, ao mesmo tempo, fazemos parte do todo, somos responsáveis pelo nosso corpo e nossos relacionamentos”. Saía da água o Vettorazzo brand new.

Anos mais tarde, vendendo um pla-no de saúde para Rosana Santos, pro-prietária do Bar Luiz, Vettorazzo des-pertou na empresária a admiração pelo seu “carinho no lidar com gente”. Ele conta que ficou surpreso com o convite para ser “o braço-direito” da proprietá-ria do bar frequentado por personalida-de como Leonel Brizola, Sérgio Cabral (pai), Ziraldo, entre outros. “Ela me disse que precisava de alguém com inteligência, cultura, bom humor e que não entendesse nada de restaurante”, lembra Vettorazzo.

O salário que pediu, ela não acei-tou. Então impôs: não poderia parar de surfar. Fechado. Transparente, usou a estratégia simples, mas eficaz, de ou-vir os garçons, aos quais perguntou: o

que temos que fazer? Das centenas de pedidos, elegeu os dez mais urgentes e colocou na mesa da proprietária. Em pouco tempo a motivação dos funcio-nários, hoje 43, o faturamento e a fre-quência ao Bar Luiz aumentaram verti-ginosamente.

Falar a linguagem dos funcionários e tratá-los “como se estendesse um tape-te vermelho para pisarem”, na visão de Vettorazzo, é uma forma interessante de fazê-los se reinventarem também. Sem os gráficos, cálculos e termos em inglês usados por um RH mais formal, ele con-segue resultados rápidos pela esponta-neidade a autenticidade com as quais lida com qualquer pessoa, da dona do bar ao funcionário que tira o chope con-siderado o mais querido do Rio.

Para Vettorazzo a base de qualquer empresa, independente do tamanho, que se reinventa é a alegria das pes-soas. “Aqui no Bar Luiz, quando algum cliente reclama por algum motivo, falo meia dúzia de besteiras no ouvido dele, faço-o rir, mostro para ele que está certo e busco, sempre de um jeito diferente, uma solução que o surpreenda”, conta.

Há pessoas ao redor de Vettorazo que confundem o seu estilo como o de alguém “que deixa as coisas pela me-tade”. Ele refuta este rótulo, dizendo que isto é priorizar situações. No fecha-mento desta matéria revelou: “Minha próxima reinvenção está prontinha; não aguento ficar muito tempo fazendo a mesma coisa”.

As histórias de Marcelo e de Vetto-razzo mostram que a felicidade é algo até simples, que não custa caro, mas é passageira e requer, atualmente, rein-venções.

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SEM GRÁFICOS E TERMOS EM INGLÊSVettorazzo (à direita), com João Natal

Polessa (garçom com 24 anos “de casa”), trouxe mais humanização ao

tradicional Bar Luiz

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O surfe proporcionou a maior das reinvenções

de Vettorazzo

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Por dENtro do rH Por dENtro do rH

Jessé Guimarães de Brito trabalha em uma empresa de arquitetura em Belo Horizonte (MG) afinada com o que há de melhor em ter-

mos de tecnologia. Mas a sua mesa não dispensa as antigas pranchetas, os rascunhos e a sensibilidade humana. Jessé tem 77 anos de idade. De arqui-teto, seus 53 anos chegam ao dobro de alguns colegas na Arquitetura Oscar Ferreira. “Sinto-me pleno, desenvol-vendo projeto nos quais coloco todo o meu conhecimento, com muito mais assertividade do que no passado”, en-fatiza ele, que recebeu com surpresa o convite do antigo concorrente e aluno de UFMG, Oscar Ferreira para trabalhar. O motivo? Havia se aposentado fazia 10 anos. Hoje ele reconhece que foi a me-lhor coisa que fez não ter ido trabalhar em casa, pois a troca de conhecimentos com os mais jovens “é muito rica”.

Segundo Oscar Ferreira, sócio-di-retor da empresa, o arquiteto precisa,

no seu dia a dia, “ser um pouco psicó-logo” para perceber a necessidade do cliente. Nesse sentido, por exemplo, o papel do profissional de terceira idade é fundamental para ajudar a “temperar” o mais jovem, como ele explica.

A história de Jessé não é pontual. Não sai da curva. Ao contrário: reflete uma tendência de muitas organiza-ções em buscar nos “profissionais se-niores” um viés de consultoria, trans-missão de conhecimentos, pontos de referência e elementos de busca do diferencial em projetos que requerem conhecimentos muito além do domí-nio de um software. Some-se a isto uma evolução contínua dos sistemas de saúde e a diminuição da taxa de nascimentos e temos um mercado, com muito mais gente idosa preci-sando trabalhar porque faz bem para a autoestima, para o projeto pesso-al de realização e, porque não dizer, para o bolso também.

Recente pesquisa feita, em 2012, no Brasil pelo Hays Group aponta: 20% das companhias contratam profissio-nais aposentados. Desse total, 75% para cargos técnicos, 33% para a dire-toria e 28% para a gerência. O motivo: falta de mão de obra qualificada, redu-ção de custos e, principalmente, amplo conhecimento técnico. Além de domi-narem perfeitamente a sua área, os sêniores trazem resultados imediatos.

Segundo Dulcinéia da Mata, consul-tora e autora de “Aposentadoria — Pon-to de Mutação?” (Qualitymark Editora), com o envelhecimento perde-se em força física, mas ganha-se na visão es-tratégica, perde-se em rapidez de racio-cínio, mas lucra-se na escolha e seleção da ação para situações específicas. Ela defende que o fato de vivermos em uma sociedade que vive em rede favorece muito ao aposentado, pois valoriza o conhecimento acumulado, ligado, por exemplo, a fatores socioculturais.

A consultora reforça que o atual pa-pel do profissional da terceira idade pode transformar parâmetros de rela-ções entre as pessoas e produtividade de uma empresa. “Pesquisas confir-mam que pessoas mais velhas têm o melhor cérebro de suas vidas no que-sito solucionar situações de impasse”, completa Dulcineia.

“Hoje, aos 69 anos, o que eu melhor faço vem da minha experiência, torna a solução dos problemas mais fácil; sei lidar de forma mais eficaz com a ansie-dade e tenho mais tolerância, o que, reconheço, é pouco comum quando se é jovem”, relata Sérgio Rodrigues de Al-meida, que há 52 anos está no mercado técnico naval e há pouco mais de cinco meses foi contratado pela Radix. Detalhe: empresa número 1 do País em ambiente de trabalho (entre médias e pequenas), a Radix era conhecida, até então, como organização típica da juventude recém-formada pelas melhores universidades.

“Pela complexidade dos projetos que assumimos não podemos prescin-dir do excelente resultado gerado pelo somatório do feeling do profissional

com mais idade e a energia e talen-to dos mais jovens”, considera Flavio Guimarães, Diretor de Operações da Radix. Sérgio é referência no mercado naval, um segmento que sofreu, por al-gumas décadas um hiato na formação de profissionais. Perfeitamente adap-tado ao ambiente da Radix, que inclui sessões pipoca e atividades esporti-vas ao ar livre, Sérgio assegura ser um grande amigo dos mais jovens. “A nos-sa troca tem acelerado e diversificado as soluções nos projetos”, traduz.

Flavio cita um fato curioso: quan-do Sérgio ingressava no mercado de trabalho, ele, Flavio, ainda não havia nascido. Como gestor, ele vê como fundamental a atitude positiva dos mais idosos em gostar de transmitir o conhecimento aos mais jovens, cena que ele assegura, é muito comum de ser vista na Radix.

A capacidade de trabalhar bem só melhora com o contínuo exercício. Este foi um aprendizado que o ex-desenhista e hoje empresário Oscar Ferreira ado-rou vivenciar. Até por isto, ele alerta os mais jovens para que saibam buscar

o conhecimento com profissionais de mais idade e não apenas com a internet.

Oscar conta que o mercado passou uma década inteira apenas valorizando a chamada Geração Y, “porque eles vão chegar e fazer acontecer”, “vão oxige-nar a empresa” e viu-se que esse mais jovem, individualista, em sua maioria, pulava de empresa em empresa, não deixando maiores contribuições às or-ganizações. “O jovem tem pressa de-mais em subir a escada da vida, mas, ao conviver com os profissionais mais velhos começa a perceber que é saudá-vel para a carreira vivenciar diferentes situações que trarão o amadurecimento e aprendizado”, explica Oscar que diz ter uma filosofia de nunca aposentar. “Quem realiza trabalho intelectual preci-sa estar sempre ativo”, justifica.

Nesse sentido, para o professor Mar-cos Jardim Freire, do Instituto da Psico-logia da UFRJ, o profissional da terceira idade contribui para a formação do mais jovem ao chamar a sua atenção para a revalorização dos elementos da própria natureza. Para exemplificar a questão, mencionou a situação de um documen-tário baseado em fato real e exibido pelo Discovery Channel em que um jovem piloto de um Boeing fica desorientado ao perceber que os instrumentos da ca-bine de voo entram em pane. Como úl-timo recurso, ele faz contato com um pi-loto mais idoso, de um monomotor, que havia sido escoteiro e sabia se orientar pelas estrelas. Resultado: com o passo a passo transmitido, o avião pousou com segurança.

“Valorizar a experiência não signifi-ca reviver o passado, mas ajudar a lidar com as incertezas e inseguranças do mundo moderno; a crise que se vive hoje é de confiança, conhecimento e liderança”, argumenta Marcos, que é o Coordenador do Projeto de Valoriza-ção do Envelhecimento (PROVE). Ele acrescenta que o mais idoso também ensina ao jovem o quanto é importante, em certos momentos, saber ficar sozi-nho. “Um jovem, em geral, não sabe ficar sozinho; tem que estar com o twit-ter, fazer parte de um grupo; ele abriu mão da necessidade de se conhecer, saber qual é o seu projeto de vida; isto

Terceira? Não... “IDaDe Da COnSCIÊnCIa”

Porque o MeRCaDO começa a valorizar, de fato, profissionais com 50, 60, 70 anos ou mais...

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PLENITUDEAos 77 anos, Jessé Guimarães de Brito

oferece os diferenciais do seu trabalho à Arquitetura Oscar Ferreira

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“FEELING”Flavio Guimarães (à esquerda) e Sérgio Rodrigues (á direita): troca muito interessante para os resultados da Radix

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Saúde

Um simples sorriso, seja o espontâneo, o que quebra o gelo, o que provoca a gargalhada, ou até mes-

mo aquele “amarelo”, diminui o rit-mo cardíaco, aumenta o relaxamento muscular e reduz o estresse a níveis baixíssimos. Sorrir também combate a depressão, melhora a digestão, es-panta dores e deixa a sua pele muito mais bonita. Consequência imediata: um up grade no sistema imunológico.

“Achismo”? Não. Trata-se de estudo científico com resultados comprova-dos, publicado pela revista americana “Psychological Science”. O estudo, que envolveu 170 participantes, fez as pessoas sorrirem sem estarem cien-tes de que o estavam fazendo. Numa das situações, forçava as pessoas a manterem expressão neutra, na ou-tra provocava um sorriso polido e, na terceira, resultava num amplo sorriso

que utiliza os músculos no entorno da boca e dos olhos.

“Percebemos um grande declínio dos batimentos cardíacos e uma recu-peração fisiológica do estresse mais rápida quando elas estavam sorrin-do, mesmo quando os participantes não estavam cientes de que estavam fazendo expressões faciais”, disse Sa-rah Pressman, coautora do estudo e professora assistente de psicologia da Universidade da Califórnia. Os partici-pantes que deram um amplo sorriso se saíram melhor do que o grupo que sorriu educadamente, mas a diferença não foi significante.

De acordo com Eduardo Lambert, Clínico Geral e homeopata, o riso es-timula a contração de 28 músculos fa-ciais e ativa no cérebro a produção de endorfina e serotonina (substâncias antidepressivas que dão a sensação de relaxamento e bem-estar). Uma

boa risada promove uma vibração que atinge todos os órgãos do cor-po como uma onda de alívio, criando proteções contra males físicos e psi-cológicos. A diferença da qualidade desse impacto positivo no organis-mo está na intensidade do sorriso. “Quanto mais intenso, maior a sínte-se de endorfina, maior o relaxamento dos músculos e vasos e melhor será a proteção contra infartos e derrames cerebrais”, avalia.

“Nós sorrimos porque não nos sentimos ameaçados”, dizem alguns pesquisadores americanos. Com o passar do tempo, esta mensagem dos músculos maxiliares ao cérebro evo-lui, sinalizando segurança, reduzindo os níveis de cortisol no sangue. “Nós já sabemos qual é o seu efeito no rit-mo cardíaco, queremos agora verificar como ele reage com outros níveis de estresse no corpo”, disse Sarah Pres-sman ao The Wall Street Jounal.

Outros estudos descobriram que a intensidade do sorriso de uma pessoa pode ajudar a prever a satisfação de vida ao longo do tempo e até mesmo a longevidade. O que não fica claro é se o sorriso reflete a felicidade geral da pessoa ou se o ato de sorrir con-tribui para essa felicidade. Marianne LaFrance, professora de Psicologia na Universidade de Yale, acredita que é um pouco de ambos. “Provavelmente é bidirecional”, diz ela. “Pessoas que sorriem mais tendem a obter mais co-nexões positivas com outras pesso-as”, o que por sua vez ajuda a tornar você mais feliz e mais saudável.

Muito mais do que manifestação de felicidade, o riso e suas variações emanam conforto, revelam-se uma verdadeira terapia para corpo e alma. Desperta um bem-estar quase indes-critível tanto em quem dá quanto em quem o recebe. Rimos para externar sensações agradáveis e aprendemos que o riso também ameniza situações adversas, sinaliza o desejo de paz. Ele pode ser uma mensagem clara de disposição para o diálogo ou para a reconciliação.

O sábio e folclórico palhaço Bozo já dizia: “pra viver o melhor é sorrir”.

Tá estressado né?...SORRIa!

precisa ser resgatado”, alerta Marcos, que foi também Presidente da ABRH-RJ.

Pesquisadora do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFRJ (CFCH) e também integrante da equipe do PROVE, a professora Fany Mailin Tchai-kovsky considera que há dois aspectos a serem considerados em qualquer es-tudo exploratório que envolva o tema da aposentadoria com o enfoque do saber continuar a trabalhar: o primei-ro é a importância que as pessoas em idade de aposentadoria estão ganhan-do para as empresas e o segundo, o ponto de vista das pessoas que estão passando por esta fase, muitas delas ainda focadas em deixar um legado. No caso de Fany, o legado responde por suas inúmeras contribuições à área da Educação e Ciências Humanos. Ela se aposentou formalmente, mas desde então sua agenda está mais repleta de trabalhos do que a de muitos profissio-nais.

Buscando precisamente identificar o que sente e o que quer o profissional que se aposenta, Fany conduziu em 2011, junto com o Instituto de Psicologia

da UFRJ e a ABRH-RJ um estudo explo-ratório sobre a Motivação para a realiza-ção na Terceira Idade. “De certa maneira esta pesquisa indica uma orientação em-preendedora impulsionada pela motiva-ção”, destaca Fany. Segundo a professo-ra, o estudo mostrou que a maioria dos profissionais em idade de aposentadoria consultador estava entre os que sentem prazer em trabalhar e aqueles que têm a autoestima afetada pelo fim do trabalho. “Há que se ter o respeito pela mudança gradativa de cada um de nós e a acei-tação da mudança; é importante para a pessoa da terceira idade e também para quem lida com este profissional”, acen-tua a professora.

Não apenas trabalhar, mas envelhe-cer bem deve ser o foco daquele que chega aos 60 anos com muitos projetos ainda a desenvolver. O jornalista Rober-to Irineu Marinho, que aos 75 anos esta-va em seu auge intelectual e produtivo e o arquiteto Oscar Niemeyer foram dois grandes ícones referenciais que estimu-lam muitos profissionais da atualidade.

Por outro lado, como o envelhe-cimento chega a um grupo cada vez maior que, segundo estimativas, em

2050 será majoritário no Brasil, muita gente tem dúvidas sobre esta fase da vida. “Aprender a ser idoso é algo con-tínuo e desafiador; quem se aposenta aos 60 e vai viver até os 90 ou 100, não pode ficar 30 ou até 40 anos sem fazer quase nada”, avalia Marcos, que recusa o termo “Melhor Idade” para se referir a esta fase da vida. No PROVE a equi-pe coordenada por Marcos tem como linhas de atuação orientações sobre o autocuidado, o planejamento urbano e os relacionamentos sociais. “O nosso papel é criar condições para que os idosos troquem informações e experi-ências, avaliando novas possibilidades de lidar com esta fase da vida”, destaca.

Mudar a mentalidade e fazer uma “cirurgia de ideias” são termos usados por Dulcineia da Mata para se referir ao novo modelo de aposentado que há no mercado. O professor Marcos diz que, nesta fase, vale a pena “curtir o que você gosta e tolerar o que não gosta”.

A maturidade de casar trabalho com oportunidade, com desejo e com feli-cidade remete-nos à uma citação de Fernando Pessoa: “Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for.”

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VIVÊNCIAA trajetória do arquiteto

Oscar Ferreira comprova que este é um ingrediente que o jovem “não pode pular” se

quiser ser bem sucedido

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cAPA/dEPoiMENto ExcluSivo – 1ª PArtE

Autor do célebre pensamen-to, “O burocrata acerta nove vezes em dez. O criativo erra nove vezes e acerta uma.

Entretanto, uma vez que acerta, abre caminhos para a humanidade.”, o ita-liano Domenico De Masi, considerado por nove entre dez altoexecutivos, o “Papa da Sociologia do Trabalho”, nos concede um depoimento exclusivo tão profundo sobre as relações de trabalho que, pela primeira vez, nos fez decidir por publicar um material em duas par-tes — nesta e na próxima edição.

Profundamente apaixonado pela arte, aos 75 anos, “bem vividos”, como gosta de reforçar, este Presi-dente da Associação Italiana de Edu-

cadores e professor de sociologia das profissões da Universidade La Sapien-za, em Roma, se orgulha de ser “meio italiano, meio brasileiro” — tem o título de cidadão honorário do Rio de Janei-ro. Em um momento em que a Igreja Católica troca de Papa, a Europa está em profunda crise, os EUA já não tem as rédeas do mundo e as relações de trabalho passam “pelo divã”, seria na-tural que buscássemos oferecer aos nossos leitores a visão daquele que enxerga o trabalho bem além das en-trelinhas.

Para quem ainda não o conhece, De Masi é o criador do famoso con-ceito do “Ócio Criativo”, que ele, aliás, também esclarece nesta entrevista

NEWSLET – Por que está tão mais difícil alguém ser de fato feliz no tra-balho?

Domenico - No século 19 e na primei-ra metade do 20, quando a maioria dos trabalhadores realizou trabalhos de natureza física, repetitiva, perigosa, enfadonha e banal, as condições de trabalho eram muito piores que as atu-ais. Desde a Segunda Guerra Mundial, em grande parte devido ao progresso tecnológico e da globalização, houve diminuição dos deveres de nature-za física, cada vez mais delegado às máquinas, e aumento dos deveres de natureza intelectual, que hoje respon-dem por 70% de todos os empregos,

metade dos quais é de caráter criati-vo. A infelicidade no trabalho depen-de, sobretudo, da incapacidade dos gestores em inovar radicalmente a organização, fundada nas fábricas, a fim de adaptar-se às atividades do tipo intelectual.

NEWSLET – Esvaziar a mente, não pensar em nada, ter momentos em que não se faz nada por cobrança, de fato, favorece a geração de novas ideias?

Domenico - A mente nunca fica vazia. As ideias vêm de nossa imaginação e são realizados graças à nossa concre-tude. Fantasia e concretude, por sua

vez, são os ingredientes que com-põem a criatividade.

NEWSLET – E o que é o “ócio criati-vo” e como você chegou à conclusão de que esta postura gera muitos re-sultados?

Domenico - Ao longo dos anos, a pa-lavra “trabalho” pareceu-me cada vez mais inadequada para definir toda a variedade de trabalho assalariado existente. No século 19 e na primeira metade do século 20, a maioria dos trabalhadores era composta daqueles que realizavam tarefas físicas nas fá-bricas de manufatura. Daí a tendência, incluindo a linguagem, para identificar todo o trabalho com o cansaço físico. Mas, desde meados do século 20, gra-ças a cinco novos fatores (desenvol-vimento tecnológico organizacional, globalização, educação generalizada e meios de comunicação) a socieda-de centrou-se na produção de bens intangíveis: informação, serviços, sím-bolos, valores, estética. Hoje, apenas um terço de força de trabalho tem na-tureza de força física, o restante se di-vide em intelectual e criativo. Enquan-to o trabalho é diferenciado em uma série de atividades profundamente diferentes, continuamos a utilizar um único termo - “trabalho” - para definir todos eles. Eu, no entanto, para pôr fim a esta confusão, eu prefiro chamar de “trabalho” fadiga física do trabalha-dor e chamar de “ócio criativo” ativi-dade intelectual do poeta, jornalista, sociólogo, artista, gerente, etc. Eu desenvolvi o conceito de ócio criativo para estudar a dinâmica de psicosso-cial da organização, de grupos criati-vos, científicos e artísticos, do Instituto Pasteur em Paris, na Cavendish Lon-don, de equipes de filmagem de Fede-rico Fellini para os editores de jornais. Agora eu estou estudando comparati-vamente os modelos mais importan-tes da vida de experiência no mundo: Índia, católicos chineses, japoneses, clássico, muçulmanos, judeus, pro-testantes, iluminista, liberal, etc. O li-vro no qual eu os descrevo é intitulado “O Futuro já Chegou” e vou publicá-lo,

em primeiro lugar, no Brasil, depois na Itália e nos Estados Unidos.

NEWSLET – Você costuma se referir ao relógio como um “aprisionador da capacidade criativa”. Como é possí-vel nos livrarmos do relógio em nos-so dia a dia?

Domenico – O relógio é uma ferramen-ta utilíssima. Mas é só uma ferramenta e deve ser tratado como tal. Não deve tornar-se o nosso mestre. Deve limitar-se a medir o tempo, o que não signi-fica orientá-lo e dominá-lo. Em cada ser humano, independente da época ou geração, tenho tido a sensação de que o tempo necessário e desejado é menor que o tempo realmente disponí-vel. “Tempus fugit”, diziam os antigos romanos. “A vida é curta”, repetiam os monges da Idade Média, recomendan-do que o progresso das tarefas acon-tecia de acordo com a regra “Festina Lente”, ou seja, gradativamente. Mas, durante toda a época rural (até o sécu-lo 18), os ritmos da vida tinham cum-prido ciclos imutáveis: o dia e a noite, as quatro estações do ano. Com o advento da sociedade industrial (me-ados do século 18 a meados do sé-culo 20), entramos no ritmo acelerado das máquinas, da tecnologia, o ritmo estressante das fábricas, cidades e seres humanos. Agora, na sociedade pós-industrial, a situação é estrutural-mente diferente. Cronologicamente, a vida média é o dobro em comparação com a dos nossos bisavós. Temos em nossas máquinas eliminação para poupar tempo (como o telefone), para enriquecer o tempo (como o rádio no carro), para armazenar o tempo (como o correio de voz), para projetar o tem-po (como os PDAs). No plano objeti-vo, os seres humanos nunca tinham tido tanto tempo à disposição.

NEWSLET – Por que, então, parece que não temos tempo e estamos fi-cando cada vez mais estressados?

Domenico – Por motivos psicológicos e econômicos. Estamos acostumados há dois séculos a andar sempre mais

DOMenICO De MaSISociólogo italiano, autor de “O Ócio Criativo” e que, em setembro, irá lançar no Brasil o livro “O Futuro já Chegou”

“tRabaLHO é PaLaVRa InaDequaDa, MeLHOR DIzeR que é uM... ÓCIO CRIATIVO”

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Notas acoNNotas - acoNtecimeNtos

POR AGORA...

rápido, mas agora não há mais esta necessidade e precisamos desacele-rar. É imperativa uma educação rigo-rosa de nossa mente, ou seja, adotar um ritmo mais lento. No passado fo-mos estimulados a um consumismo alienante estímulo, o que nos leva a comprar mais e mais bens e serviços, mesmo aqueles reconhecidamente inúteis. Para comprar mais, precisa-mos de mais dinheiro, para ter mais di-nheiro, é preciso trabalhar ainda mais. Em uma necessária “contramão”, para escapar da ditadura de pressa, você precisa de inteligência, cultura, sabe-doria e austeridade.

NEWSLET – O Sr. parece dizer que o “ócio criativo é mais para os ricos ou uma classe mais favorecida, pois os pobres lutam pela sobrevivência”...

Domenico – O ócio criativo não é para os ricos: é para qualquer um que re-aliza uma atividade para a qual de-senvolva a sua mente (intelectual) ou criativa. Assim acontece com os alu-nos, os professores e 70% dos traba-lhadores. Valorizar a ociosidade não

é um privilégio reservado para a elite econômica, mas conquistado por uma elite intelectual que, assim como em um jogo, entendeu a necessidade de conciliar trabalho com o estudo. Ao mesmo tempo, os aristocratas ricos descansavam criativamente, enquan-to o proletariado trabalhou duro. Hoje, paradoxalmente, os ricos (empresá-rios, gestores, políticos, profissionais) trabalham de forma tão estressante que muitos deles não conseguem fazer do lazer um momento lúdico e viável, enquanto que os menos abas-tados (estudantes, artistas, entre ou-tros.) conseguem ter uma vida mais equilibrada, ociosa e, de fato, criativa.

NEWSLET – Esta edição de NEWS-LET aborda o tema “devemos nos reinventar”. Que significado este tema lhe traz? É possível, para qual-quer um, “se reinventar”? Quais são os obstáculos que o Sr. vê a esta postura? Por que?

Domenico – Reinventar a empresa, a sociedade e reinventar-se, de forma equilibrada, é completar a transição

da sociedade industrial para a so-ciedade pós-industrial. Aos poucos estamos, todos, conseguindo. Na vida industrial existe uma clara se-paração entre trabalho e lazer. Henry Ford, o pai da linha de montagem, dizia: “Quando trabalhamos, temos de trabalhar. Quando jogamos temos que jogar. Não adianta tentar mistu-rar os dois. O único objetivo deve ser fazer o trabalho e ser pago por isso. Quando o trabalho for concluído, en-tão pode ser o jogo, mas não antes.” Em vez disso, na vida pós-industrial, organizada para produzir ideias, é quase impossível distinguir trabalho de lazer. Como afirmou um mestre zen: “quem é mestre na arte de vi-ver difere pouco entre o trabalho e o seu lazer, entre sua mente e seu corpo, sua educação e sua religião. Com dificuldade, ele sabe o que é o quê. Simplesmente persegue a sua visão de excelência em tudo que faz, deixando para os outros a resposta à pergunta: afinal, ele está traba-lhando ou se divertindo? Ele sempre pensa em fazer as duas coisas jun-tas.” Em síntese: todo mundo pode se reinventar, se eles têm a vontade necessária e a indispensável consci-ência cultural.

NEWSLET – Vivemos mergulhados em uma sociedade de consumo que nos obriga a assumirmos comporta-mentos distantes de nossa essência. Como um ser humano que foi educa-do por repetição, e não por estímulo à reflexão, pode se insurgir contra este modelo?

Domenico – A sociedade de con-sumo nos encoraja a priorizar três necessidades: o poder, a posse de bens materiais e o dinheiro. No en-tanto, devemos cultivar seis neces-sidades qualitativas: a introspecção, amizade, jogo, amor, beleza e hospi-talidade. Torna-se, nesta reorienta-ção do foco, vital educar os jovens para reduzir cada vez mais a tensão para as necessidades e quantitativos e passar a dar maior prioridade às necessidades de qualidade.

“quem é mestre na arte de viver difere pouco

entre o trabalho e o seu lazer,...Simplesmente

persegue a sua visão de excelência..., deixando

para os outros a resposta à pergunta: afinal, ele

está trabalhando ou se divertindo?”

cAPA/dEPoiMENto ExcluSivo – 1ª PArtE

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também registramos...“Quando o RH entender que o a fun-ção dele não está escrita em um papel irá muito mais além do que imagina.” Anna Cherubina (FGV)

“Se chegamos até aqui no estado do Rio, muito foi por conta dos profissio-nais de RH.”Alfieri Casalecchi (Amil)

“O futuro dos negócios compreende não gerar lucro somente para o acionis-ta, mas também para o cara que está na

nesta edição: Congresso RH-RIO 2013 organizado pela abRH-RJ nos dias 22 e 23 de maio

De Alexandre Peconick

| 2012 | Maio / Junho | 19

Marina Silva – líder socioambientalista

“No Brasil criou-se uma ilusão

de que existe classe política; isto é uma distorção; classe política não existe; o que existe é má qualidade e quantidade em nossa representação política.”

“Não há como fazermos ruptura abrupta; algo deve ser preservado e o novo precisa ser criado do que for preservado.”

“É a nossa forma inadequada de ser, e não a de fazer, que precisa ser questionada.”

“O Brasil é o país no mundo que

reúne as melhores condições para chegarmos à Sustentabilidade como modo de vida.”

Marina Silva

Grupo Let marca sua presença e parceria...Joaquim Lauria, Kryssiam Lauria e equipe do Grupo LET marca-ram sua participação no segundo maior evento de Gestão de Pesso-as da América Latina. Nas imagens, estão ao lado de Paulo Sardinha (Presidente da ABRH-RJ) e Leyla Nascimento (Presidente da ABRH-

Chambinho do acordeon: show de vida...O ator protagonista de “Gonzaga – De Pai pra Filho”, Chambinho do Acordeon, foi um dos destaques des-te Congresso no Cine Fórum, da Di-retora Cultural Myrna Brandão. Além da belíssima lição de vida, brindou o público ao tocar clássicos do baião, como “Asa Branca” e “Sabiá”, levan-tando o público. Também tirou fotos com dezenas de congressistas nos estandes. Gol de placa da ABRH-RJ !

Frases from RH-RIO 2013...mesa ao seu lado; não somos uma em-presa, somos OP, ou, outra parada.”Fred Gelli (Tátil Design)

“Todo mundo quer ter um senso de pertencimento e um de distinção.”Vania Somavilla (Vale)

“Infelizmente não temos em nossa cul-tura de trabalho a valorização da ex-celência, a maior mudança do carioca tem que ser a cultural.”Sergio Besserman Vianna (econo-mista)

Nacional). O Grupo LET contratou 18 recepcionistas que trabalharam atendendo aos congressistas. Na imagem, com elas, Alessandra Mota e Lourdes Moreira (do Grupo LET).

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Page 11: A revista do Grupo LET Recursos Humanos Let 39.pdf · vadoras. Nossa missão é fazer o grupo compreender que para atingir os objeti-“O valor do TREINAMENTO que fuja ao ÓBVIO”

Matriz - Rio: Centro Empresarial Barra Shopping Avenida das Américas, 4.200 – BL.9 –salas 302 A e 309 A, Barra da Tijuca – Rio de Janeiro (RJ) – CEP 22640-102

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