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TENDÊNCIA SOCIEDADE 58 v 8 DE SETEMBRO DE 2011 Cada vez mais portugueses substituem o carro pela bicicleta, em nome de uma vida saudável. Mas essa aventura suscita muitas questões – desde levar as crianças à escola até à colaboração de automobilistas e operadores de transportes. Reportagem com as respostas essenciais POR POR PEDRO MIGUEL SANTOS E SUSANA SILVA OLIVEIRA A revolução ciclista A repórter, do Porto, nunca tinha pensado em andar de bicicleta na cidade. Mas acom- panhar a Massa Crítica, nome da iniciativa que reúne os adeptos do transporte suave, na última sexta-feira de cada mês, em várias localidades do País, integrava o plano da reportagem. Desafio aceite. Montados na bicicleta, aguardámos a chegada do grupo. Sérgio Azevedo, 24 anos, daquele movimento, é um dos ci- clistas urbanos que há muito ultrapassaram o receio de ser abalroados. O pânico esfu- mou-se quando Sérgio começou a falar das artes e manhas que usa para se defender, nas «guerras» do asfalto, na portuense Av. de França, a dois passos da Casa da Música. «Ando sempre a um metro dos carros.» E são já milhares os que resolveram também reivindicar o seu lugar no es- paço público, em todo o País. Ainda estamos longe de atingir o número de ciclistas urbanos de Copenhaga, na Di- namarca, onde cerca de 50% da popula- ção usa a bicicleta para se deslocar. Mas a tendência vai nesse sentido. Entre 2007 e 2011, a Federação Portuguesa de Ci- clismo registou um crescimento de 69%

A Revolução Ciclista

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Cada vez mais portugueses substituem o carro pela bicicleta, em nome de uma vida saudável. Mas essa aventura suscita muitas questões – desde levar as crianças à escola até à colaboração de automobilistas e operadores de transportes. Reportagem com as respostas essenciais. Com Susana Silva Oliveira

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TENDÊNCIA SOCIEDADE

58 v 8 DE SETEMBRO DE 2011

Cada vez mais portugueses substituem o carro pela bicicleta, em nome de uma vida saudável. Mas essa aventura suscita muitas questões – desde levar as crianças à escola até à colaboração de automobilistas e operadores de transportes. Reportagem com as respostas essenciaisPOR POR PEDRO MIGUEL SANTOS E SUSANA SILVA OLIVEIRA

A revoluçãociclista

A repórter, do Porto, nunca tinha pensado em andar de bicicleta na cidade. Mas acom-panhar a Massa Crítica, nome da iniciativa que

reúne os adeptos do transporte suave, na última sexta-feira de cada mês, em várias localidades do País, integrava o plano da reportagem. Desafio aceite.

Montados na bicicleta, aguardámos a chegada do grupo. Sérgio Azevedo, 24 anos, daquele movimento, é um dos ci-clistas urbanos que há muito ultrapassaram o receio de ser abalroados. O pânico esfu-mou-se quando Sérgio começou a falar das artes e manhas que usa para se defender, nas «guerras» do asfalto, na portuense Av. de França, a dois passos da Casa da Música. «Ando sempre a um metro dos carros.»

E são já milhares os que resolveram também reivindicar o seu lugar no es-paço público, em todo o País. Ainda estamos longe de atingir o número de ciclistas urbanos de Copenhaga, na Di-namarca, onde cerca de 50% da popula-ção usa a bicicleta para se deslocar. Mas a tendência vai nesse sentido. Entre 2007 e 2011, a Federação Portuguesa de Ci-clismo registou um crescimento de 69%

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de filiados, como praticantes de lazer. A inscrição na Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores da Bicicleta segue a mesma linha: em cinco anos, du-plicou o número de membros, chegando aos 30 mil.

Sérgio Azevedo aconselha «ruas menos movimentadas», para «ganhar confian-ça». Estudante de Arquitetura, no Porto, faz o percurso entre Aldoar, onde vive, e

a faculdade, no Campo Alegre, em 20 mi-nutos. De autocarro seriam quarenta.

Ficámos tentados a trocar o carro pela bicicleta, embora não fosse pera doce fa-zer os quilómetros que separam a casa da repórter da redação: 30, bem puxados. A oportunidade para encostar o auto-móvel surgiu dias mais tarde, a pretex-to de uma consulta hospitalar, na Baixa portuense. À boleia da ciclovia, percor-

remos a distância entre a delegação da VISÃO, em Matosinhos-Sul, e a estação de Metro mais próxima.

As carruagens do metro seguiam quase vazias. A meio da viagem, de uma assen-tada, entram mais três passageiros com bicicleta. A troca de olhares é inevitável. Acomodam-se os ciclistas urbanos, qua-se cúmplices. O espaço aperta-se. Che-gados à Trindade, uma das estações com

30 milNúmero de inscritos

na Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de

Bicicleta. Há cinco anos eram metade

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TENDÊNCIA SOCIEDADE

estacionamento para veículos de duas ro-das, percebemos que nos esquecemos do cadeado. A caminho da consulta, busca-mos alternativas. «Não pode deixar isso aqui, dá mau aspeto», diz um porteiro do hospital. Essa agora! «O melhor é ficar no estacionamento», insiste. Nas trasei-ras do edifício, outro porteiro aguardava. A bicicleta acabaria no parque privativo

do hospital, entre dois automóveis de alta cilindrada, qual luta de classes.

UM PÉ NA CIDADE, OUTRO NO PEDAL À saída do hospital, para a viagem de re-gresso, dava jeito um roteiro «ciclável» do Porto. Por agora, só há na net. Miguel Barbot, 35 anos, consultor de profissão, ciclista urbano e mentor do blogue 1 Pé

no Porto e Outro no Pedal, está a ultimar a edição de bolso. O mapa inclui a «mar-cação de percursos de utilizadores habi-tuais, indicação do tipo de piso, zonas de aparcamento e oficinas».

Miguel Barbot trocou o seu «sofá com rodas» pela bicicleta, há cerca de ano e meio. Ganhou uma «relação mais huma-na» com o Porto. «Vivo a cidade numa

O País sobre duas rodas

FONTE Autarquias e www.ciclovia.com.pt INFOGRAFIA MT/VISÃO

Roteiro das urbes que dispõem de ciclovias urbanas e incentivam o uso da bicicleta como meio de transporte

Ciclovias ou pistas cicláveis existentes ou em

construção/projeto

Sistemas públicos de uso partilhadoou de aluguer de bicicleta existentes

ou em concretização

SÃO BRÁS DE ALPORTELSILVES

TORRESVEDRAS

VIANA DO CASTELO

VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO

MONTIJO

BEJASERPA

LOURES

BARREIRO

GRÂNDOLA

MOITA

FARO

PORTIMÃO

Funchal

OVAR

MARINHA GRANDE

ABRANTESRIO MAIOR

FIGUEIRA DA FOZ

MATOSINHOS

SESIMBRAOEIRAS

beÁgueda: sistema de dez bicicletas elétricas partilhadas disponível para qualquer cidadão, residente ou turista. Para isso, basta preencher um impresso na Câmara e pagar três euros, relativos ao seguro de acidentes pessoais. Funciona das 9 às 19 horas

Projeto de ciclovias em toda a cidade, num investimento estimado em 340 mil euros. O objetivo é ligar equipamentos sociais e novas urbanizações às vias já existentes, em torno do rio Lis. Há um sistema gratuito de utilização de bicicletas, chamado Biclis

Foi o primeiro município a ter bicicletas de utilização gratuita, em 2000. Para usar uma das 200 'bugas' é necessário um registo e um euro de caução. Estuda-se a criação de uma rede de ecovias a ligar os 11 municípios nas imediações da ria de Aveiro

Oito ciclovias ligam as principais infraestruturas turísticas, como a marina e o parque de campismo, aos equipamentos sociais e culturais, numa extensão superior a 11 km

Sempre a andar

Uma ‘pedalada’ à frente Rede de ciclovias que ligam o tecido urbano a áreas de lazer. Há também vias para bicicletas nas estradas nacionais, num total de 20 km. A autarquia possui 60 bicicletas, estando prevista, para breve, a compra de mais cem. Desde este ano, a Câmara disponibiliza 'biclas' aos seus funcionários, para pequenas deslocações de trabalho

A vila das ‘biclas’

Circular por aí

À beira-Lis

Em maio, foi inaugurada uma rede com 80 bicicletas de uso partilhado, a BIP. Um mês depois, havia já mais de meio milhar de inscritos, com uma média de 50 utilizações diárias, durante a semana, e mais do dobro, ao sábado e ao domingo. O sistema abrange um percurso de cerca de 22 km. Os residentes pagam uma quota anual de cinco euros e os visitantes dois euros por semana. Funciona das 8 às 24 horas

‘BIP’, ‘BIP’...

Bicicletas para o povo

As vias reservadas às bicicletas não param de aumentar desde 2007: há quatro ciclovias e dois canais «cicláveis», onde se incluem a marginal atlântica e a ligação entre o parque da cidade e a zona ribeirinha. Em construção está a 1.ª fase da ciclovia da Av. da Boavista, e, em projeto, o percurso da Circunvalação ao Polo Universitário da Asprela. Neste último, será criado um projeto-piloto de aluguer de bicicletas

Lisboa possui cerca de 40 km de novas ciclovias, e outras projetadas e em construção, além de 300 lugares em parques de estacionamento específicos. O projeto para a rede partilhada de 2 500 bicicletas aguarda um patrocinador privado

Três ciclovias em funcionamento e duas em construção. Almeirim on bike: a autarquia fornece bicicletas à população a preços reduzidos. Desde 2007, já foram vendidos 525 veículos, mas o projeto está, este ano, suspenso. A venda social deverá ser retomada em 2012

Circuito urbano, que percorre o centro da vila, com quase 4 km e uma ciclovia até à praia do Guincho. biCas: bicicletas de utilização gratuita são disponibilizadas pelo município em três quiosques; podem ser usadas por qualquer pessoa

Do quiosque ao êxito

Tudo ligado

Patrocinador, procura-se

ÁGUEDA

ALMEIRIM

PORTO

LEIRIA

MURTOSA

PAREDES

AVEIRO

ALBUFEIRA

LISBOA

CASCAIS

Dicas Equipe-se!Lista e preços de material para quem quer fazer da bicicleta o seu meio de transporte

BICICLETA Pode ser mais ou menos completa, mas as mais baratas, por norma, não trazem componentes de série importantes, como luzes, apoio de descanso, para-lamas, campainha ou proteção de corrente. O facto de se gastar pouco, inicialmente, pode, mais tarde, sair caro.

5 LUZES Há sistemas a pi-

lhas, a dínamo exterior ou de cubo, portáteis ou para fixar. Cruciais para ser visto, à noite.De €20 a €350

Corta-vento ou casaco com capuz, impermeável Para os dias de chuva e ventania.De €10 a €150

Luvas Evitam que as mãos suadas escor-reguem nos punhos, aumentam a tração, protegem em caso de queda e servem de aquecedor, no tempo mais frio.De €10 a €50

Cadeados Aconselham-se dois tipos di-ferentes: ou em U, para prender o quadro e uma roda, ou em cabo de aço, para a outra roda e o selim. De €25 a €200

Espelho retrovisor Aumenta a observa-ção do trânsito, torna a condução mais fácil e confortável, permitindo antecipar manobras e evitar surpresas. De €7 a €22

Óculos Protegem do vento, das poeiras, dos insetos e do sol.

Seguro Aconselha-se o de Acidentes Pessoais e Responsabilidade Civil, dispo-nibilizado pela Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, que custa €28 de quota anual.

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E ainda...

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outra escala. Encontro os amigos na rua, paro para entrar numa loja.» Reconhe-cendo a «difícil topografia da Baixa», diz que o segredo está em «planear bem os percursos».

A viagem entre Aldoar, onde Miguel Barbot também vive, e o escritório, na Praça da Galiza, deixou de ser uma dor de cabeça. Faz-se em 20 minutos, a pe-dalar suavemente. De carro «seria o do-bro». Na cidade, o ritmo é de passeio, «ninguém anda aqui a tentar vencer pré-mios da montanha». Assim, se olharmos a bicicleta enquanto meio de transporte e não como «máquina de fazer exercí-cio», nem a falta de duche no escritório se torna problemática.

João Taborda, 28 anos, engenheiro, nunca se sentou ao volante. Os avós de-ram-lhe dinheiro para tirar a carta de condução, mas ele comprou uma bicicle-ta. «É a maneira mais rápida e económica de me deslocar.» Oito anos depois, conti-nua militante. «Vivemos num mundo de hábitos e, quanto mais pessoas usarem,

mais vão usar.» O contágio já se nota. Na Avenida da Boavista isso é visível, a qual-quer hora. De bicicleta, nem a rotunda do Castelo do Queijo nos assusta. Basta seguir junto ao passeio, respeitar as re-

gras de trânsito e manter a distância de segurança em relação aos automóveis. Ao fim de uma semana, íamos jurar que nascemos em cima de uma bicla.

A ‘MATILHA’Por Lisboa, a ideia de ir de casa para o trabalho a dar ao pedal – cerca de 18 qui-lómetros, entre Arroios e Paço de Arcos – tão depressa entusiasmou o escriba como rapidamente o fez desfiar a ladai-nha de quem procura desculpas para não se mexer: «Não vai ser fácil por causa das colinas»; «Vou chegar suado ao traba-lho»; «Tenho de me levantar muito mais cedo»; «Se chover estou feito...» Tudo falso. Lisboa é tão ciclável como o Porto ou qualquer outra cidade do País. E, se chover, usa-se um impermeável.

É na net que se espalha a boa nova da revolução ciclista. Blogues, sites e fó-runs são o ponto de encontro desta co-munidade urbana, empenhada em con-vencer os que ainda não se renderam às duas rodas. Miguel Barroso, 38 anos,

PREÇOS MÉDIOS CONVENCIONAL De €200 a €1 000

DOBRÁVEL De €300 a €2 000

ELÉTRICA De €700 a €3 000

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1 TRANSPORTE DE BAGAGEM

Depende do que pretende carregar: há mochilas, cestos, malas, sacos – e, também, alternativas low cost, como uma caixa de plástico da fruta, fixada ao porta-bagagem traseiro com cordas elásticas. Para as compras, há cestos e alforges maiores ou rebo-ques (de €100 a €250). De €20 a €150

2 CADEIRA DE CRIANÇA

Varia consoante o modelo, a idade e o veículo. É possível instalar duas cadeiras numa bicicleta mas, para famílias com três crianças, por exemplo, há soluções, con-soante as idades, como reboques e extensões (de €250 a €750).De €35 a €125

3 CAPACETE Só é obrigatório

para as crianças, sobretudo quando vão no lugar de passageiro. De €10 a €100

4 CAMPAINHA Importante

acessório de segurança, é fundamental para se fazer notar no trânsito.De €5 a €30

‘MASSA CRÍTICA’ O movimento promove passeios de sensibilização em todo o País – como este, no Porto

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CP Comboios de Portugal

A bicicleta pode viajar sem custo adicional, todos os dias, em qualquer

horário, nos urbanos de Lisboa, Porto e Coimbra e nas composições Regionais e Inter-regionais. Há parques de estacionamento em 23 estações das linhas de Sintra, Cascais e Azambuja.

As carruagens específicas para as bicicletas, nas linhas urbanas, não são

identificáveis, e não há suporte para os veículos.

Carris

Criou um serviço específico, o Bike Bus. Há seis carreiras em que é permitido o

transporte gratuito. São elas: 21 (Saldanha- -Moscavide Centro), 25 (Estação do Oriente- -Prior Velho), 31 (Av. José Malhoa-Moscavide Centro), 708 (Martim Moniz-Parque das Nações), 723 (Desterro-Algés) e 724 (Alcântara-Pontinha).

Metro de Lisboa

É permitido levar bicicletas nos com-boios, nos dias úteis, após as 20h00, e

aos fins de semana e feriados, caso não haja aglomeração de passageiros.

É proibido transportar bicicletas nos tapetes rolantes e elevadores das

estações. Não há calhas nas escadas.

Metro do PortoPermite a livre circulação de bicicle-tas, a qualquer hora e sem custos.

Inaugurou estacionamentos nas estações da Trindade, Fórum da Maia e Póvoa de Varzim. O acesso ao nível subterrâneo do cais pode fazer-se, desde a superfície, por elevador.

Transtejo/Soflusa O transporte é gratuito, todos os dias da semana, mas está sujeito

a condicionantes, por causa da lotação dos barcos. São elas: Montijo-Cais do Sodré, 3 bicicletas; Seixal-Cais do Sodré, 3

Transportes Prós e contrasOnde as coisas correm melhor ou pior, na conjugação entre bicicleta e operadores públicos

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TENDÊNCIA SOCIEDADE

arquiteto, é o fundador do movimento Lisbon Cycle Chiq, que defende uma coisa tão simples como «gente normal, vesti-da normalmente, a fazer coisas normais, de bicicleta». É o que ele faz.

Quando instalou o seu ateliê em Al-gés (Oeiras), em 2007, o critério para a escolha do local foi poder pedalar do trabalho para casa, em Miraflores, ali perto. Um ano depois, vendeu os dois carros e a mota, e comprou uma Brompton, coqueluche das bicicletas dobráveis, que custa cerca de 800 eu-ros. Na bicicleta que já possuía, mon-tou uma extensão, para transportar os dois filhos, de 4 e 6 anos, e as compras. «Sou francamente mais feliz!», resu-me. «A bicicleta mudou a minha vida para melhor.»

E está também a mudar a capital – os novos quilómetros de ciclovias vieram mostrar que é possível pedalar nas sete colinas. A separação do trânsito motori-zado aumenta a sensação de segurança e isso faz as pessoas equacionarem uma solução de mobilidade que, antes, era quase impensável. Se for conciliada com transportes públicos, ainda melhor (ver caixa Prós e contras).

À beira-rio, nas Avenidas Novas, no Rossio, pedala-se às centenas. O que os ciclistas urbanos querem é festejar o es-paço público, como aconteceu no Jardim da Estrela, no domingo, 4. Os anfitriões foram a Matilha Cycle Crew, grupo de cin-co amigos que tem uma página no Face-book com mais de 400 apoiantes.

Trabalham todos na Brandia Central, em Alcântara. À conta de uma ciclovia, quase já não há estacionamento para as dezenas de colegas que passaram a ir de bicicleta para aquela agência de publi-cidade. Nem as saídas para noitadas no

Bairro Alto são exceção. Micaela Neto, 24 anos, designer, explica: «Deixamos as bicicletas num poste e vamos diver-tir-nos. Desde que tenhas um bom ca-deado, não há problema.»

Quase tudo o que se faz de carro, pode

bicicletas; Trafaria-Porto Brandão-Belém, 15 bicicletas. Na Trafaria, para navios de classe Cacilhense, a lotação é de 6 bicicletas. Na ligação Cacilhas-Cais do Sodré, a lotação é de 3 bicicletas – mas, nos dias úteis, este transporte está interdito nos navios cacilheiros, entre as 06h30 e as 09h30 (sentido sul/norte) e as 17h00 e as 20h00 (percurso norte/sul).

Na classe ferry desta ligação, o transporte de bicicletas não tem limite nem restrições

de horário. Na travessia Barreiro-Terreiro do Paço, a lotação é de 5 bicicletas, mas fica limitada a

2 entre as 06h30 e as 09h30 (sentido sul/norte) e as 17h00 e as 20h00 (percurso norte/sul).

Fertagus

O transporte – gratuito – é possível dia-riamente, exceto nas horas de ponta (das

07h00 às 10h00, sentido sul/norte, e das 17h00 às 20h30, norte/sul) dos dias úteis, e num máxi-mo de duas bicicletas por carruagem.

É proibido usar as escadas mecânicas e os elevadores das estações. E não há calhas

nas escadas. No comboio, as bicicletas devem ser colocadas nas áreas destinadas às cadeiras de rodas, mas não existem suportes.

STCP

A entrada de bicicletas está proibida em toda a rede.

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fazer-se a pedalar. Como levar o filho à escola, antes de ir para o trabalho. João Camolas, 30 anos, assessor do vereador Sá Fernandes, na Câmara de Lisboa, não podia estar mais comprometido com aquela ideia. Por um lado, passa a vida a tentar transformar a capital numa cida-

de mais amiga das bicicletas; por outro, os pedais são o seu meio de transporte durante a semana. Mora na Quinta das Conchas, apanha a ciclovia do Campo Grande, deixa o filho no infantário, na Av. das Forças Armadas, e segue daí até à Praça do Município. «É uma opção de

vida e torna-se viciante. O que custa é pegar no carro.»

Para ele, o truque é estar atento à mete-orologia, para escolher a roupa antes de sair de casa: «Qualquer smartphone tem aplicações que preveem o tempo.» A úni-ca coisa que João Camolas ainda não con-seguiu foi emagrecer. Já Ana Santos, 47 anos, professora universitária, não podia sentir-se mais feliz com a sua condição física. Desde que começou a deslocar-se em duas rodas, há ano e meio, perdeu cin-co quilos. «Tentava há cinco anos e nada. Só isto resultou.» Faladora q.b, descre-ve a nova vida como quem descobriu um mundo desconhecido e tem de o parti-lhar: «Ando sempre com a bicicleta, até no shopping; as minhas amigas querem todas experimentar – perceberam que as-sim emagrecem!»

À falta de um hino que una esta tribo, aqui se propõe a música que um bando de miúdos assobiava, montado nas suas bicicletas, no genérico da série espanho-la Verão Azul, transmitida pela RTP, nos anos 1980. Basta ouvir a melodia uma vez – não mais sai da cabeça.

JOÃO CAMOLAS A rotina até já é «viciante»: sai de casa, leva o filho ao infantário e segue para o trabalho, na Câmara de Lisboa – sempre de bicicleta

FESTA No domingo, 4, um jardim da capital acolheu um concorrido encontro da tribo de ciclistas – o Cycle Brunch

PROCLAMAÇÃO «Sou francamente mais feliz», diz o arquiteto Miguel Barroso. «A bicicleta mudou a minha vida para melhor»

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