7/24/2019 A Rosa Do Povo Foi o Primeiro Livro de Poemas Que Me
Pegou de Jeito
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A Rosa do Povofoi o primeiro livro de poemas que me pegou de
jeito. Ainda lembro
que no entendia muito bem as coisas que Drummond me causava. Era
uma alegria
estranha. Um sujeito todo torto bendizendo uma flor desajeitada
e feia que furava o
asfalto, o tdio, o nojo e o !dio." Eu tinha uns vinte anos, eu
j# era um rapaz, fazia
faculdade, mas no sabia bem o que fazer de mim. $omo me%er as
mos& $omo no
machucar' os outros, as coisas, a gente& $omo Ed(ard )os de
*esoura, eu folheava o
livro de Drummond meio delicado, e nos cort#vamos os dois.
Era tambm uma esperan+a desengon+ada. *anta gente andando sem
jeito nas ruas. As
pessoas dizendo minha volta que no sabiam o que queriam, que no
sabiam fazer as
coisas decentemente. - claro' foi o nosso tempo que fez toda
essa gente assim. ome,
toda a sorte de abusos, engana+o, a injusta distribui+o da
terra, os !dios organizados, a
viol/ncia domstica... 0or isso Drummond escrevia que esse tempo
partido 1 tempo
de homens partidos 11 2...3 tempo de muletas 1 tempo de mortos
faladores". Esses versos
foram escritos na primeira metade do sculo passado, mas poderiam
ter sido elaborados
hoje. - o nosso tempo que distribui muletas, que nos espolia de
nosso pr!prio corpo.
Apesar desse tom sombrio,A Rosa do Povome pegou de jeito, como
me fizesse furar o
asfalto, da mesma forma que a flor feia. 0or qu/& Drummond
parecia ter aquela
convic+o de 4alter 5enjamin' da indestrutibilidade suprema da
vida em todas as
coisas". 0ois, se verdade que a escurido estende6se", no mentira
que ela no
elimina o suced7neo da estrela nas mos."
$ertas partes de n!s como brilham8 9o unhas,anis, prolas,
cigarros, lanternas,so partes mais :ntimas,
e pulsa+o, o ofego,e o ar da noite o estritamente necess#rio
para continuar, e continuamos."
A Rosa do Povo, com toda a sua den;ncia apai%onada da misria que
se abate sobre o
nosso tempo, no me dei%ou um gosto amargo.
7/24/2019 A Rosa Do Povo Foi o Primeiro Livro de Poemas Que Me
Pegou de Jeito
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por outro poeta para o pr!prio Drummond, esse escritor t:mido
que em seu pr!prio
filme mudo salvava as palavras'
E nada dizias. E um bolo, um engulhoformando6se. E as palavras
subindo.> palavras desmoralizadas, entretanto salvas, ditas de
novo.0oder da voz humana inventando novos voc#bulos e dando sopros
e%austos.Dignidade da boca, aberta em ira justa e amor
profundo,crispa+o do ser humano, #rvore irritada,contra a misria e
a f;ria dos ditadores,
! $arlito, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu bigodecaminham
numa estrada de p! e de esperan+a."
