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1 A ROTINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA EXPERIÊNCIA DO PIBID POR MEIO DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL. Brenda Francisco Silva UEL. brenda_s. 2@hotmail.com. Emily Francisco Leandro UEL. [email protected]. Loren Machado C. S. Silva CMEI LAURA VERGÍNEA. [email protected]. Cassiana Magalhães UEL. [email protected] Eixo Temático: Práticas Pedagógicas ROUTINE IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION: A PIBID EXPERIENCE THROUGH HISTORICAL-CULTURAL THEORY Resumo: As crianças pequenas que frequentam a Educação Infantil têm permanecido aproximadamente dez horas nestas instituições, desse modo vivenciam variadas situações que podem ou não, promover o seu desenvolvimento. Este trabalho volta seu olhar especialmente para as crianças de três anos de idade com o seguinte questionamento: Como a rotina na Educação Infantil pode promover o desenvolvimento das crianças de três anos de idade? Com o intuito de responder ao questionamento se delineou como objetivos investigar como o professor das crianças de três anos organiza a rotina e, ainda, evidenciar quais são as ações promotoras do desenvolvimento das crianças neste período. A pesquisa foi desenvolvida em um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) da cidade de Londrina Paraná; os sujeitos foram vinte crianças e dois professores da instituição. Os dados foram coletados por dois alunos bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência Pibid e analisados pelos bolsistas em parceria com o supervisor e o coordenador do programa. Os resultados evidenciaram que não basta ocupar as crianças com ações cotidianas se o objetivo for promover o desenvolvimento. Para isso, são necessárias ações intencionais desde a chegada das crianças, organização do espaço e tempo com as crianças, e, ainda, compromisso com o planejamento, no sentido de ampliar o repertório e criar novas necessidades nas crianças. Palavras-chave: Educação Infantil. Rotina. Teoria Histórico-Cultural. Abstract: Small children who attend early childhood education have remained about ten hours in these institutions, thereby they experience different situations that may or may not promote their development. This work is geared especially towards three-year-old children with the following question: How routine in early childhood education can promote the development of three-year-old children? In order to answer the question,we aimed to investigate how the teacher of such children organizes the routine and also to highlight what are the actions promoting the development of children in this period. The research was developed in a Municipal Center for Early Childhood Education (CMEI) of the city of Londrina Paraná;the subjects of the research were twenty children and two teachers of the institution. Data were collected by two scholarship students from the Institutional Program of Teaching Initiation Scholarships Pibid and analyzed by the scholars in partnership with the program supervisor and its coordinator. The results showed that it is not enough taking the children with daily actions if the goal is to promote development. To make this happen, intentional actions are necessary since the arrival of children, organization of space and time with children, and also commitment to planning, in order to expand the repertoire and create new needs in children. Keywords : Early childhood education. Routine.Historical-Cultural Theory.

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A ROTINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA EXPERIÊNCIA DO PIBID POR

MEIO DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL. Brenda Francisco Silva – UEL. [email protected]. Emily Francisco Leandro – UEL. [email protected]. Loren Machado C. S. Silva – CMEI LAURA VERGÍNEA. [email protected]. Cassiana

Magalhães – UEL. [email protected] Eixo Temático: Práticas Pedagógicas

ROUTINE IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION: A PIBID EXPERIENCE

THROUGH HISTORICAL-CULTURAL THEORY

Resumo: As crianças pequenas que frequentam a Educação Infantil têm permanecido aproximadamente dez horas nestas instituições, desse modo vivenciam variadas situações que podem ou não, promover o seu desenvolvimento. Este trabalho volta seu olhar especialmente

para as crianças de três anos de idade com o seguinte questionamento: Como a rotina na Educação Infantil pode promover o desenvolvimento das crianças de três anos de idade? Com

o intuito de responder ao questionamento se delineou como objetivos investigar como o professor das crianças de três anos organiza a rotina e, ainda, evidenciar quais são as ações promotoras do desenvolvimento das crianças neste período. A pesquisa foi desenvolvida em

um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) da cidade de Londrina – Paraná; os sujeitos foram vinte crianças e dois professores da instituição. Os dados foram coletados por

dois alunos bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid e analisados pelos bolsistas em parceria com o supervisor e o coordenador do programa. Os resultados evidenciaram que não basta ocupar as crianças com ações cotidianas se o objetivo

for promover o desenvolvimento. Para isso, são necessárias ações intencionais desde a chegada das crianças, organização do espaço e tempo com as crianças, e, ainda, compromisso

com o planejamento, no sentido de ampliar o repertório e criar novas necessidades nas crianças.

Palavras-chave: Educação Infantil. Rotina. Teoria Histórico-Cultural.

Abstract: Small children who attend early childhood education have remained about ten hours in these institutions, thereby they experience different situations that may or may not promote their development. This work is geared especially towards three-year-old children

with the following question: How routine in early childhood education can promote the development of three-year-old children? In order to answer the question,we aimed to

investigate how the teacher of such children organizes the routine and also to highlight what are the actions promoting the development of children in this period. The research was developed in a Municipal Center for Early Childhood Education (CMEI) of the city of

Londrina – Paraná;the subjects of the research were twenty children and two teachers of the institution. Data were collected by two scholarship students from the Institutional Program of

Teaching Initiation Scholarships –Pibid and analyzed by the scholars in partnership with the program supervisor and its coordinator. The results showed that it is not enough taking the children with daily actions if the goal is to promote development. To make this happen,

intentional actions are necessary since the arrival of children, organization of space and time with children, and also commitment to planning, in order to expand the repertoire and create

new needs in children. Keywords: Early childhood education. Routine.Historical-Cultural Theory.

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1. Introdução

A maioria das instituições de ensino possuem uma rotina, sendo que por meio desta,

os professores e funcionários desenvolvem seu trabalho. Pode-se dizer que rotina escolar

significa os horários, a organização do tempo e do espaço no dia-a-dia do professor e das

crianças.

Enquanto alunas do curso de Pedagogia, da Universidade Estadual de Londrina e,

bolsistas do Pibid, observamos a rotina das crianças de três anos em diferentes momentos, em

uma determinada turma de um CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil), onde houve a

participação de 20 crianças.

Levando em consideração que as crianças são pequenas e que algumas frequentam a

escola pela primeira vez, há um período de adaptação, em outras palavras, conhecer o espaço,

os profissionais, seus pares, o que demanda tempo e organização por parte do professor.

Segundo Bilória e Metzner (2013),

Não é uma tarefa fácil estabelecer uma rotina, pois para o adulto, muitas vezes, é considerado algo ruim e repetitivo. Porém, para a criança, é fundamental que exista uma rotina para que ela se sinta segura, possa desenvolver a sua autonomia, bem como, ter o controle das atividades que irão acontecer. O primeiro passo para estabelecer a rotina é ver a criança como um sujeito histórico e social, capaz de desenvolver suas curiosidades, afetos, sentimentos, amizades e sua identidade cultural.

Na instituição de Educação Infantil, muitos momentos fazem parte da rotina como:

entrada, alimentação, sono, banho, higiene e outros.

É importante pensar sobre a rotina desde à hora da entrada/chegada, a hora da roda, a

hora da alimentação, em todos os momentos, visando sempre à emancipação da liberdade das

crianças. Bilória e Metzner (2013), afirmam que nas instituições de Educação Infantil, a rotina

torna-se um fator de segurança, pois orienta as ações das crianças e dos professores

favorecendo a previsão de situações que possam vir acontecer.

Pode-se ressaltar que, a rotina como categoria pedagógica na educação infantil, nada

mais é que a organização do ambiente, o uso do tempo, a seleção e o uso dos materiais e a

escolha e proposição das atividades.

Assim, o presente artigo tem o intuito de responder ao seguinte problema: Como a

rotina pode promover o desenvolvimento das crianças de três anos de idade? Para tanto se

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realizou uma pesquisa de campo em um determinado Centro Municipal de Educação Infantil

da cidade de Londrina – PR, com crianças de 3 anos de idade e seus respectivos professores.

Na organização do texto optou-se por discutir brevemente o desenvolvimento das

crianças de três anos de idade, a importância da rotina no contexto da Educação Infantil, com

o intuito de subordinar a discussão e análise de algumas cenas destacadas na rotina, a saber:

Hora da Entrada, Hora da Roda e Hora da Alimentação. Finalmente o papel do professor foi

destacado na organização da rotina para e com as crianças pequenas.

2.Desenvolvimento da criança de três anos de idade

Desenvolvimento humano é um processo de crescimento e mudança a nível físico, do

comportamento, cognitivo e emocional ao longo da vida. Em cada período surgem

características específicas. A criança desde bebê necessita ter uma rotina bem planejada,

organizada e estruturada para que possa sentir segurança, sendo assim proporcionando o

estímulo necessário para seu desenvolvimento. É por volta dos três anos de idade, que

acontece a transição de um período para outro, marcado como crise, pois cada período do

desenvolvimento representa uma mudança qualitativa na relação da criança com o mundo,

configurando um período crítico do desenvolvimento infantil. Vygotsky (1996) ao discutir a

crise do desenvolvimento, escreveu a chamada crise dos três anos1, descrevendo como traços

típicos do comportamento da criança nesse período a oposição ao que lhe propõem os adultos,

a insistência em ser atendido em suas exigências, certa insubordinação generalizada, o

protesto às normas educativas e ao regime de vida imposto a ela e o desejo de fazer tudo por

si mesma.

Esse período é marcado pela crescente independência e atividade da criança, pois

“todos esses sintomas, que giram em torno do ‘eu’ e das pessoas que o rodeiam, demonstram

que as relações da criança com as pessoas a sua volta ou com sua própria personalidade já não

são as mesmas de antes” (VYGOTSKI, 1996, p.373).Até os três anos a criança está unida com

as pessoas à sua volta, e a crise dos três anos marca sua emancipação. A criança sente a

necessidade de agir e realizar seus desejos, participando da vida e do mundo dos adultos,

tomando consciência de suas novas capacidades de ação.

1Quando se trata da transição entre períodos dentro de uma mesma época, a contradição vivida pela criança refere-se

à insuficiência de capacidades intelectuais e operacionais que atendam aos motivos em desenvolvimento. Esses

motivos impulsionam à criança ao desenvolvimento das novas capacidades de ação.

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Pasqualini; Eidt,(2016. p.28)

A análise de Vigotski sobre a crise dos três anos nos permite derivar algumas orientações para a intervenção pedagógica para os períodos de trânsito de um modo geral. O autor explica que a criança nesse período pode se tornar particularmente difícil de educar dada a contradição por ela vivida resultante da ampliação da consciência do eu e do mundo, o que a permite dar-se conta de suas novas possibilidades de ação e ao mesmo tempo dos limites colocados para essa ação. O desafio que se impõe para o professor nesse e em outros momentos críticos do desenvolvimento é fortalecer e dar sustentação à tendência à ação independente a serviço da formação de novas capacidades.

A crise dos três anos de acordo com Pasqualini; Eidt (2016), marca um salto

qualitativo no desenvolvimento da consciência (do eu e do mundo) abre inúmeras novas

possibilidades para a criança em seu novo período do desenvolvimento, marcado pela

tendência à atividade independente. Essa tendência tem papel decisivo para a emergência e

desenvolvimento do jogo de papéis, atividade que guiará o psiquismo da criança pré-escolar

na conquista de novas capacidades. Outro aspecto fundamental desse período, é que a criança

passa, a saber lidar com os desejos não realizáveis de uma outra maneira. É importante

também ressaltar que, os fenômenos imitativos são constantes neste período, a criança está

diretamente envolvida às ações do mundo adulto e a manipulação de objetos.

Conhecer a respeito do desenvolvimento infantil é condição para pensar e organizar a

rotina nos espaços onde as crianças são educadas como veremos no próximo item.

3. A importância da rotina no contexto da Educação Infantil

A rotina da educação infantil é o tempo de trabalho educativo que se tem com as

crianças, no qual deve conter cuidados, brincadeiras e atividades que promovam o

desenvolvimento das crianças. Barbosa (2006) no que se refere à rotina educativa, ela a

considera como um dos fatores responsáveis pela estruturação de modo que, a partir dela,

desenvolve-se o trabalho cotidiano nas instituições. De acordo com a autora, são várias as

denominações dadas à rotina: horário, emprego de tempo, sequência de ações, dentre outros.

Evidencia-se assim que rotina consiste em um importante elemento já que proporciona à

criança e estabilidade e segurança.

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De acordo com Forneiro (1998), ela é a estrutura, a coluna vertebral do cotidiano da

educação infantil, ela está formada pelas práticas educativas recorrentes que são realizadas

nos diferentes momentos do dia, no qual todas as ações intencionais do educador quem

compõem a jornada, desde as mais banais até as mais complexas fazem parte da rotina. Ou

seja, a rotina é a estruturação básica e fundamental, para que a criança possa se situar,

habituar e se relacionar socialmente nos espaços da educação infantil. Logo a rotina tem como

foco organizar o tempo e o espaço.

Segundo Bassedas, Huguet e Sole (1999, p. 2):

[...] a palavra "rotina" tem, no seu sentido habitual, um caráter pejorativo, porque nos faz pensar em conduta mecânica. Trata-se de situações de interação, importantíssimas, entre a pessoa adulta e a criança, em que a criança parte de uma dependência total, evoluindo progressivamente a uma autonomia que lhe é muito necessária.

Nessa perspectiva, percebe-se que a rotina não é algo negativo, regrado, que se deve

seguir corretamente, pois está é na verdade, uma forma de ajudar o professor, tendo como

objetivo organizar o tempo e o espaço na educação infantil, de forma auxiliadora no dia-a-dia

do educador, como por exemplo, a hora da alimentação, a hora do descanso. Está também

serve para a criança pequena se habituar e se situar no tempo, sem falar que, a organização da

rotina cria e estabelece condições que favoreçam para o desenvolvimento infantil, no qual

estimula a capacidade de organização temporal a partir da sensação.

É de suma importância que o professor aproveite desses momentos como: Hora da

Entrada, Hora da Roda da Conversa, Hora da Alimentação, Hora do Banho, estabelecer

vínculos afetivos com as crianças, já que são considerados essenciais no desenvolvimento

infantil. Entretanto, é importante que o professor planeje sua rotina, pois este deve ser um

trabalho pensado e preparado intencionalmente, de maneira que crie novas necessidades nas

crianças pequenas. O planejamento nesse nível consiste em organizar e pensar as atividades e

intervenções realizadas para que criem e possibilitem o desenvolvimento integral dos alunos.

Esse planejamento precisa ser flexível e agradável, organizando o espaço para que crie

interesses e não se torne uma rotina cansativa.

O professor ao planejar suas propostas do dia-a-dia, é importante ver a criança, como

um ser em construção, e segundo Vigostski na Teoria Histórico Cultural, a aprendizagem

humana e o desenvolvimento está atrelado ao fato de o ser humano viver em meio social. É

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necessário pensar também que, a educação infantil pode ser na maioria das vezes, o primeiro

contato que a criança está tendo com outras crianças da mesma faixa etária. Então, o professor

ao elaborar seu planejamento, deve visar à emancipação e o desenvolvimento da criança

pequena em todos os momentos.

A rotina não deve ser um trabalho optativo para os professores, os mesmos devem

usufruir como uma ferramenta importante para a promulgação do desenvolvimento das

crianças.

Segundo Proença (2004, p. 15),

A rotina flexível, que respeita e considera as necessidades de cada grupo, “permite que o educador baseie-se no previsível para lidar com o inesperado, estruturando a intencionalidade da sua ação e exercitando o seu papel de mediador de situações pedagógicas que possibilitem o desenvolvimento e a aprendizagem.

Contudo, a rotina flexível, aquela que não se apresenta caráter rotineiro, que organiza

o espaço e o tempo das crianças tornando-os prazerosos; possibilita o acesso aos diferentes

materiais, proporcionando momentos lúdicos e desafiadores que criam novas necessidades.

Na Educação Infantil a criança está imersa em situações que envolvem cuidados e educação,

no qual contribuem para a construção da sua aprendizagem. A criança precisa de um ambiente

agradável para o desenvolvimento de seu processo de aprendizagem.

O objetivo das cenas a seguir foi refletir sobre os materiais estudados, articulando-os

com as experiências das crianças no dia-a-dia da Educação Infantil.

3.1. Cenas da rotina

3.1.1 hora da entrada

Esse é um dos momentos primordiais para a criança, quando a mesma se sente

acolhida e segura, suas ações se efetivam. A humanização/socialização das crianças com as

outras crianças é de suma importância para seu desenvolvimento. Muitas vezes a criança só

tem contato com outras crianças, na instituição de Educação Infantil. Por isso, esse é um

momento que deve ser explorado pela professora, planejando situações para o bem estar

daquele que será acolhido. Lembrando que existe um momento inicial de adaptação que

segundo Ortiz (2011),

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A adaptação pode ser entendida como o esforço que a criança realiza para ficar, e bem, no espaço coletivo, povoado de pessoas grandes e pequenas desconhecidas. Onde relações, regras e limites são diferentes daqueles do espaço doméstico a que ela está acostumada. Há, de fato, grande esforço por parte da criança que chega e que está conhecendo o ambiente da Instituição de Educação Infantil (IEI), mas, ao contrário do que o termo sugere, não depende exclusivamente dela adaptar-se, ou não, à nova situação. Depende também da forma como é acolhida.

FIGURA 1: ACOLHIDA FONTE: ARQUIVO DAS PESQUISADORAS

Essa cena aconteceu em um dos dias no CMEI, durante a acolhida. São duas

professoras regentes da turma, sendo que, uma fica na porta para recepcioná-los, e a outra

organiza ações com as crianças. Geralmente as crianças escolhem brinquedos de sua

preferência: Legos, massinhas e outros.

Foi possível observar a importância da acolhida nesse momento. Cada criança chega

acompanhada da família e acontece assim, um momento de separação.

Quando o espaço não está preparado para recebê-la, identificamos certo recuso em

entrar (determinadas crianças). O que não ocorre quando o espaço está preparado para recebê-

las.

Vale ressaltar que as crianças chegam à instituição gradativamente. Esperar as

demais crianças envolvidas em ações, certamente é mais produtivo que apenas “esperar”.

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Foi possível identificar também a relevância da fala da professora no momento da

acolhida, “Bom dia”. “Como você está?”. “Já tomou café hoje?”.

3.1.2 Hora da roda

FIGURA 2: RODA DE CONVERSA FONTE: ARQUIVO DAS PESQUISADORAS

Na roda de conversa, o professor recebe as crianças proporcionando sensações como

acolhimento e segurança. Elas podem falar sobre suas vivências, estimulando as crianças a

falarem, e promovendo o respeito pela fala de cada um. A mesma possibilita a exteriorização

dos sentimentos e emoções das crianças, como também de suas preferências e desejos. Neste

contexto, Amorim (2005, p.52) acrescenta: “É na rodinha da conversa que, entre outros

assuntos, planejamos os nossos momentos; inicialmente é realizado por nós e apresentado ao

grupo, mas gradativamente vai sendo feito junto com as crianças”.

Observou-se na turma o salto qualitativo em relação à oralidade das crianças.

Inicialmente poucos expressavam seus desejos verbalmente no momento da roda.

Como gradativamente as professoras foram instigando as crianças e possibilitando novos

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interesses, as crianças ampliavam a participação e com isso, a linguagem oral foi evidenciada

de modo mais claro e com repertório rico.

Vale ressaltar que a hora da roda é um momento construtivo onde a criança expressa

seus interesses, curiosidades e vivências, e então por sua vez, passa a ter voz ativa.

3. 1.3 Hora da alimentação

Partindo da concepção Histórico Cultural, a hora da alimentação é o momento onde o

foco está na promoção do desenvolvimento da autonomia, através das escolhas pessoais,

tornando um individuo independente.

Segundo Kohler, (2012, p.05)

Considerando e respeitando a criança como um sujeito de direitos, histórico e social, autora de sua própria vivência e que é na relação com o outro, na interação, que a criança se constitui como ser humano autônomo e que cabe ao professor ampliar seus conhecimentos e ser mediador nestas descobertas. Percebendo que a hora da alimentação é um dos momentos mais ricos para a comunicação e expressão da criança, além do aspecto de sua autonomia, individuação e sociabilidade, também um espaço em que a criança pode interagir. Este momento, muitas vezes, é esquecido sob este ponto de vista, somente é considerado em seus aspectos de saúde, higiene e alimentação. Dado o relevante papel da Educação Infantil na vida de muitas crianças, reconhecendo que é preciso discutir a autonomia no momento da alimentação, tema significativo na área da Educação Infantil.

Neste contexto, a hora da alimentação é o momento em que o professor orienta suas

crianças para a socialização e liberdade de expressão, auxiliando no desenvolvimento de sua

autonomia.

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FIGURA 3: HORA DA ALIMENTAÇÃO FONTE: ARQUIVO DAS PESQUISADORAS

No que diz respeito a essa imagem, a professora participa com as crianças o

momento da alimentação, incentivando a autonomia para dizer quais alimentos querem

comer, ir repetir quando necessário, aprendendo a se organizar. A professora orienta e cuida,

para que esse momento importante se efetive.

O momento da alimentação se constitui como importante para o desenvolvimento das

crianças de três anos.

De acordo como Marco de referência de educação alimentar e nutricional para as

políticas públicas (2012),

No contexto da realização do Direito Humano à Alimentação Adequada e da garantia da Segurança Alimentar e Nutricional, a Educação Alimentar e Nutricional é um campo de conhecimento e de prática contínua e permanente, que visa promover a prática autônoma e voluntária de hábitos alimentares saudáveis, que promovam saúde e que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambientais, culturais, econômicas e socialmente sustentáveis (BRASIL, 2012).

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Na rotina “A hora da alimentação”, se torna uma rica oportunidade para a criança

entrar em contato com os objetos da cultura, aprendendo a manuseá-los conforme seu uso

social. O que antes precisava da ação do adulto para alimentar-lhe, por exemplo, agora

consegue realizar.

E cabe ao adulto, professor, complexificar cada vez mais tais ações. Como por

exemplo: Ensinar as crianças a porcionar seu próprio alimento.

No processo educativo, a criança aprende a se enxugar com a toalha, a comer com a colher, a beber da xícara, a colocar as meias, a desenhar com lápis e a construir com blocos. Todas essas ações práticas que conduzem a um resultado externo determinado. Ao mesmo tempo, formam-se na criança as ações internas, por meio das quais ela examina os objetos, compreende sua constituição e as relações entre eles, elabora a ideia de um jogo, de um desenho ou de uma construção […]. A formação dessas ações internas constitui o conteúdo principal do desenvolvimento psíquico da criança. São as operações da percepção, da razão, da imaginação e da memória, isso é, são atos psíquicos. (MUKHINA, 1995, p. 44).

Neste sentido, o ato de alimentar-se é também um processo educativo. As crianças

aprendem a utilizar os objetos para o uso social em que foram criados e ainda, vivenciam

situações diversas com outras crianças e seus professores.

4. O papel do professor para a organização da rotina das crianças pequenas

O professor deve proporcionar um ambiente prazeroso e estimulante para as crianças

pequenas. Segundo Barbosa, (2006, p.133), a tentativa de compreender, com maior

profundidade o assunto, os elementos constituintes das rotinas têm como foco possibilitar aos

educadores pensar quais são os conteúdos transmitidos por meio das aprendizagens. De

acordo com a autora, são quatro os elementos constitutivos das rotinas: I) A organização do

ambiente; II) Os usos do tempo; III) A seleção e a oferta de materiais; IV) A seleção e as

propostas de atividades.

A seleção e a oferta dos materiais na Educação Infantil devem ser bem pensadas pelo

professor, pois os materiais devem ser adequados para a faixa etária da criança que irá

trabalhar. Nota-se que o uso de materiais é imprescindível na elaboração da rotina.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010,

p. 19),

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Para efetivação de seus objetivos, as propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil deverão prever condições para o trabalho coletivo e para a organização de materiais, espaços e tempos que assegurem: - A educação em sua integralidade, entendendo o cuidado como algo indissociável ao processo educativo; - A indivisibilidade das dimensões expressivo motora, afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural da criança; - A participação, o diálogo e a escuta cotidiana das famílias, o respeito e a valorização de suas formas de organização; - O estabelecimento de uma relação efetiva com a comunidade local e de mecanismos que garantam a gestão democrática e a consideração dos saberes da comunidade; - O reconhecimento das especificidades etárias, das singularidades individuais e coletivas das crianças, promovendo interações entre crianças de mesma idade e crianças de diferentes idades; Os deslocamentos e os movimentos amplos das crianças nos espaços internos e externos às salas de referência das turmas e à instituição; - A acessibilidade de espaços, materiais, objetos, brinquedos e instruções para as crianças com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/ superdotação; - A apropriação pelas crianças das contribuições histórico-culturais dos povos indígenas, afrodescendentes, asiáticos, europeus e de outros países da América.

O professor tem papel ativo na elaboração da rotina, contudo, a rotina deve ser

planejada visando os fatores biológicos, sociais, ambientais, culturais.

Segundo Lobato, (2013, p. 12),

A escola infantil deve ser norteada por princípios curriculares que a comunidade escolar viva de fato, os elementos constitutivos da rotina tais como a organização do ambiente; os usos do tempo; seleção e propostas de atividades; a seleção e oferta de materiais, devem servir para incentivar um novo olhar à rotina, não apenas como ritual de atividades significativas e desgastantes, mas como instrumento que irá possibilitar o educador abrir caminhos, jogar as primeiras sementes, dando um novo sentido à prática da rotina na educação infantil.

Organizar e planejar o trabalho diário na educação infantil, não é uma tarefa fácil

para o educador, mas sim um grande desafio. Vale destacar que:

As crianças assimilam esse mundo, a cultura humana, assimilam pouco a pouco as experiências sociais que essa cultura contém, os conhecimentos, as aptidões e as qualidades psíquicas do homem. É essa a herança social. Sem dúvida, a criança não pode se integrar na cultura humana de forma espontânea. Consegue-o com a ajuda contínua e a orientação do adulto – no processo de educação e ensino (MUKHINA, 1995, p. 40).

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O processo de educação é, portanto, essencial para a reprodução das qualidades

humanas, nesse sentido, o professor ocupa um lugar primordial na organização do espaço,

planejamento, rotina e na ampliação dos repertórios das crianças.

Considerações finais

A rotina é fundamental para a organização das atividades diárias nas diversas

instituições de educação infantil, promovendo a segurança e a autonomia das crianças. O

professor é o responsável para que o desenvolvimento destes realmente aconteça, pois ele

pode organizar a rotina de sua turma partindo de diversos momentos, como por exemplo, os

discutidos no texto: Hora da acolhida/chegada, Hora da Roda, Hora da alimentação. Cada um

deles tem condições de contribuir para o desenvolvimento das crianças.

A rotina escolar não pode ser planejada de forma mecânica, mas deve ser planejada

de forma a contribuir com o trabalho pedagógico e as necessidades das crianças. Ou seja, a

rotina é a estruturação básica e fundamental para que as crianças possam se situar, se habituar

e se relacionar socialmente nos espaços de Educação Infantil, local que permanece longas

horas do seu dia.

Os resultados evidenciaram que a rotina na Educação Infantil pode contribuir com o

desenvolvimento das crianças pequenas, desde que, sejam criadas as condições para tal.

O que foi observado na preparação do espaço, tempo e especialmente, no

envolvimento das crianças em cada um dos momentos da rotina.

Cabe ao professor, pesquisar, observar e atuar junto às crianças com práticas capazes

de promover o desenvolvimento humano.

Referências

AMORIM, Elizabeth. Organização do Tempo e do Espaço. In: O Cotidiano no Centro de

Educação Infantil. Brasília: UNESCO, Banco Mundial, Fundação Maurício Sirotsky

Sobrinho, 2005.

BARBOSA, Maria Carmen Silveira. "A rotina nas pedagogias da Educação Infantil: dos

binarismos à complexidade". Currículo sem Fronteiras, v.6, n.1, pp.56-69, Jan/Jun 2006.

BARBOSA, Maria Carmen Silveira. "Por amor e por força: rotinas na educação infantil". Porto Alegre: Artmed, 2006.

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BASSEDAS, Eulália; HUGUET, Teresa e SOLE, Isabel. Aprender e Ensinar na Educação

Infantil. Artes Médicas, 1999. Porto Alegre. BILÓRIA, Jéssica Ferreira; METZNER, Andréia Cristina. "A importância da rotina na

Educação Infantil". 2013. p. 7.

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