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RBEN NEVES DA SILVA VILAS BOAS
CO-ORIENTADORES: PROF. DR. JOS FERNANDO GONALVES E ARQ. RUI LOBO
A RUA LARGA DE COIMBRA
DAS ORIGENS ACTUALIDADE
DISSERTAO DE MESTRADO INTEGRADO EM ARQUITECTURA
DEPARTAMENTO DE ARQUITECTURA DA FCTUC
DEZEMBRO DE 2010
Rua Larga sculo XX
I
Agradecimentos:
Arq. Rui Pedro Mexia Lobo, pelo interesse, empenho e grande disponibilidade para ajudar e
orientar o trabalho.
Prof. Dr. Jos Fernando Gonalves por ter aceite ser co-orientador.
Prof. Ctia Marques, pela cedncia de documentos digitalizados da CAPOCUC.
Prof. Dr. Ana Paula Santana Rodrigues, pelo emprstimo de livros e vdeo.
Prof. Maria Joo Simes pela cedncia de documentos digitalizados da DGEMN.
Escola Bsica Dr Maria Alice Gouveia, pelo emprstimo prolongado de livros.
Prof. Jorge de Alarco pela disponibilidade em prestar esclarecimentos.
Prof. Antnio Pimentel pela disponibilidade em prestar esclarecimentos.
Arq. Carlos Martins, pela cedncia de imagens.
Centro de Cpias L.j.c.r. pelos ptimos servios prestados.
Agradeo tambm minha Me, ao meu Irmo, ao Tiago Nunes, Maria Eduarda, Catarina
Miranda, Ana Brett, s minhas fisioterapeutas Sara e Marina, Sandra, ao Dr. Pscoa e ao Dr.
Dionsio. Sem vocs teria sido bem mais difcil.
Abreviaturas:
CAPOCUC Comisso Administrativa do Plano de Obras da Cidade Universitria de
Coimbra
CIDUC Centro de Interpretao e Divulgao da Universidade de Coimbra
DGEMN Direco Geral dos Edifcios e Monumentos Nacionais
FBNRJ Fundao Biblioteca Nacional Rio de Janeiro
GCI Gabinete de Comunicao e Identidade
UC Universidade de Coimbra
1
Sumrio
Agradecimentos, abreviaturas I
Introduo 3-9
1: Origens 10-15
2: 1377 A cidade medieval 16-23
3: 1678 Os Colgios Universitrios 24-33
4: 1799 As reformas e projectos do sculo XVIII 34-39
5: 1934 O legado de vrios sculos 40-47
6: 1966 O projecto da Cidade Universitria 48-53
7: 2010 A actualidade 54-58
Documentos grficos:
A: 1377 A cidade medieval 59-64
B: 1678 Os Colgios Universitrios 65-70
C: 1799 As reformas e projectos do sculo XVIII 71-76
D: 1934 O legado de vrios sculos 77-82
E: 1966 O projecto da Cidade Universitria 83-88
F: 2010 A actualidade 89-94
Concluso 95-98
Bibliografia 99-104
Fontes das imagens 105-108
ndice 109
3
Introduo
O objectivo principal desta investigao foi fazer uma reconstituio grfica da Rua Larga, em
Coimbra, ao longo dos tempos, desde as suas origens at actualidade.
As razes que levaram escolha deste tema so resumidamente duas. Por um lado o ter
nascido e vivido em Coimbra, e querer descobrir mais sobre a minha cidade. Por outro, o
interesse pelo carcter histrico e evolutivo da arquitectura que possvel analisar e expor na
investigao desta rua, que se considera ser um caso especial.
Existem j feitos vrios estudos sobre Coimbra, a Alta e a Baixa da cidade, e edifcios na Rua
Larga. Alguns so vises orientadas para edifcios ou arquitecturas especficas, como por exemplo
a anlise de Antnio Pimentel do Pao Real / Pao das Escolas, enquanto outros se debruam
sobre determinadas pocas e sobre a escala da cidade, como as de Jorge de Alarco em Coimbra,
a montagem do cenrio urbano ou Walter Rossa em Divercidade, que focam a urbe at aos
sculos XIII e XVI, respectivamente.
No foi encontrada bibliografia especfica sobre Ruas Largas, tendo-se constatado no ser
um topnimo muito comum em Portugal. No entanto esta designao encontra-se, por exemplo
na antiga Rua Larga de S. Joaquim1 no Rio de Janeiro (sculo XVIII), ou na equivalente Broad
Street2 em Oxford (sculo XVI). J Lusa Trindade, na sua tese Urbanismo na composio de
Portugal estuda os processos de formao das cidades na Idade Mdia fazendo referncia s ruas
Nova de Lisboa e do Porto (abertas no sculo XIV) 3
A Rua Larga, embora seja referida em vrias obras, ainda no teve uma abordagem prpria.
Sendo assim, este trabalho justifica-se pela importncia desta na cidade, mais propriamente na
Almedina. um eixo estruturador da Alta de Coimbra que, talvez remontando ao tempo da
ocupao romana, tem sofrido permanentes e profundas transformaes at aos dias de hoje. Ao
longo desta via estabeleceram-se edifcios notveis, de diferentes funes, escalas, relacionando-se
de modos diferentes com a Rua, que foram construindo e alterando a sua identidade.
que poderiam bem ter-se chamado Ruas
Largas, pois a largura era o que as destacava das outras.
1 RABAA Carlos, SERRA M. V. Rua Larga. 2009. 2 Broad Street, Oxford [Em linha] [actual. 2010] Disponvel em http://en.wikipedia.org/wiki/Broad_Street,_Oxford 3 TRINDADE, Lusa Urbanismo na composio de Portugal. 2009. p. 175, 715
4
Fig. 1 Broad Street, Oxford, referenciada no sculo XVI.
Fig. 2 Rua Larga de S. Joaquim, com 20 metros de largura aberta em 1763, Rio de Janeiro.
Fig. 3 Reconstituio da Rua Nova do Porto, com 19 metros de largura aberta em 1395.
5
Se em alguns casos, o objectivo compor uma imagem da Rua atravs da recolha e reunio de
material j conhecido, noutros espera-se formular hipteses mais ou menos especulativas de como
seria a realidade. No caso de reconstrues como a do sculo XVIII, ou do projecto integral da
Cidade Universitria do Estado Novo, a questo que se coloca de como poderia ter sido, caso
alguns projectos tivessem sido realizados.
Conseguindo obter um alargado conjunto grfico com valor documental, sero lanadas pistas
para uma compreenso mais aprofundada sobre esta parte da cidade. O resultado final poder ser
de interesse, no s para pessoas ligadas Arquitectura e Histria, mas tambm para a populao
de Coimbra, pondo a descoberto mais um pedao da sua cidade.
Atravs da anlise de fotografias, desenhos e textos, produziram-se elementos grficos
rigorosos que proporcionam uma viso de conjunto da Rua Larga.
Para a anlise do objecto de estudo, a Rua Larga, foi necessrio estabelecer limites temporais e
geogrficos.
Em termos espaciais, abrangida a Rua Larga nas suas diferentes identidades e o conjunto
edificado que a caracteriza. No entanto, importante ter em conta os espaos de continuao, que
se articularam e articulam com a rua, marcando o seu incio e fim. De um lado temos a Ladeira
do Castelo, nome ainda usado no sculo XX4, ao acesso sudeste que ascende cidade, e mais
tarde, a Praa D. Dinis e as Escadas Monumentais. Do outro, num plateau sobranceiro ao Rio
Mondego temos o Pao das Escolas, outrora Pao Real e Alcova.5
O foco cronolgico escolhido foi entre 1377 e a actualidade (2010), contudo, no primeiro
captulo do corpo principal, (1 Origens) faz-se referncia a tempos anteriores, onde esta via ter
tido a sua gnese. Assim, desde o sculo XIV at hoje, quer-se focar a Rua Larga nas suas fases
mais caractersticas, correspondentes aos captulos apresentados.
Nos captulos do corpo principal, alm de haver uma pequena anlise de base documental,
so feitos desenhos representativos da Rua na respectiva poca, nomeadamente perfis norte e sul,
plantas de cobertura, plantas dos pisos trreos e plantas de funes urbanas. Estes elementos,
especialmente os perfis, aqui expostos em altura de tamanho A4, so passveis de serem
reproduzidos num tamanho superior, dado o pormenor que lhes foi atribudo.
4 Associao dos Antigos Estudantes de Coimbra A Velha Alta... desaparecida. 1991. p. 15 5 JORGE, Filipe, BANDEIRINHA, Jos Antnio Coimbra vista do Cu. 2003. p. 16
6
Fig. 4 Miniatura dos perfis Sul da Rua Larga. De cima para baixo: 1377, 1678, 1799, 1934, 1966,
2010.
7
Para os documentos grficos foi adoptado um critrio de representao diferente consoante os
objectos representados. As representaes exactas ou muito prximas da realidade esto a cor;
aquilo em que h reservas quanto sua verosimilhana est em escala de cinzentos e os projectos
de edifcios so representados apenas em linhas.
Cada momento histrico estudado d-nos uma identidade diferente da Rua, que se traduz na
evoluo da arquitectura dos edifcios, na sua escala, tipologia e tambm na morfologia dos
espaos exteriores. As datas para cada caracterizao foram escolhidas de acordo com
acontecimentos especficos que marcaram a Rua Larga.
A representao da Rua data de 1377, d-nos uma ideia bastante especulativa de como ter
sido o aspecto urbano do local, menos monumental, antes das mudanas significativas que se
deram sculos depois. Os edifcios que marcariam a Rua Larga seriam o Castelo, o Pao Real
reformado por D. Afonso IV e os Estudos Gerais mandados edificar por D. Dinis6
Nos sculos XVI e XVII, surgem ao longo da Rua Larga vrios colgios universitrios. Alguns
foram transferidos da Rua da Sofia e por vezes de incio, funcionaram em habitaes.
. A Alta, com a
presena da Universidade, seria predominantemente habitacional e comercial.
7
O sculo XVIII, destacou-se pela execuo de obras como, a Via Latina, a Biblioteca ou a
Torre da Universidade no Pao das Escolas, mas tambm por projectos que no foram concludos
ou sequer comeados, como o Observatrio ao Largo do Castelo, o Colgio de S. Paulo Eremita,
ou o Colgio de S. Paulo de Giacomo Azzolini. Em 1799, concludo o Observatrio Astronmico
no Ptio das Escolas, e na sequncia da Reforma Pombalina, imaginada uma Rua Larga,
pontuada tanto pelos edifcios consumados, como pelos idealizados.
Os
Colgios: Real de S. Paulo, S. Pedro, S. Joo Evangelista, S. Boaventura, S. Jernimo e de S.
Bento, constituiram parte do ncleo universitrio que se situava na Alta de Coimbra, dos quais se
pretende mostrar o seu aspecto original. Foi escolhido o ano de 1678, quando se deu a concluso
do Colgio de S. Boaventura.
Quanto ao incio do sculo XX, embora no se trate de uma poca que se tenha destacado por
grandes alteraes, representa e acumula a histria, que dentro de pouco tempo, ser apagada. No
ano de 1934, cristalizado na Planta Topogrfica de Coimbra, muitos edifcios, quer habitacionais,
6 VASCONCELOS, Antnio de Escritos vrios relativos Universidade Dionisiana. 1938-41. vol. 1. 7 VASCONCELOS, Antnio Os Colgios Universitrios de Coimbra. 1938. p. 91
8
Fig. 5 Miniatura das plantas dos pisos trreos da Rua Larga. 1678 em cima, projecto da Cidade
Universitria em baixo.
9
quer de outros tipos, tinham atravessado sculos e chegaram at aqui mais ou menos alterados.
Nesta altura, a Rua Larga era palco de uma vida intensa, fruto da diversidade de actividades a
desenvolvidas: comerciais, habitacionais, lazer, ensino.
A variedade de estilos arquitectnicos foi suprimida pela construo da Cidade Universitria
do Estado Novo. Com o plano de Cottinelli Telmo, responsvel pela revoluo urbanstica
realizada ao longo dos anos 40 a 708
A informao necessria para esta investigao foi recolhida em livros, mas tambm em
processos de arquivo, desenhos e at pela observao directa no local. Tambm foram pedidos
esclarecimentos adicionais a alguns autores como Jorge de Alarco e Antnio Pimentel.
, a Alta de Coimbra e a Rua Larga mudaram a sua identidade.
A ltima mudou a sua configurao, no s no alinhamento como na largura, comprimento e
elevao. Instalaram-se grandes edifcios de aulas, regulados por um plano geomtrico, axial,
monumental, numa esttica representativa do regime de ento. Contudo, o conjunto como se v
no Plano Geral dos anos 50/60 e no perfil de 1966, no foi realizado na sua totalidade. A
construo do novo hospital no local do Colgio de S. Jernimo e dos prticos a ligar os vrios
edifcios em torno da Praa D. Dinis dariam ao espao um carcter bastante diferente do que
existe. Finalmente a Rua representada na actualidade (2010).
O registo fotogrfico do livro A Velha Alta... desaparecida foi de extrema importncia, no
s para a reconstituio da Rua na data de 1934, pois tambm d pistas para pocas anteriores.
Outras obras importantes so as de Antnio de Vasconcelos, que escreveu sobre os Colgios
Universitrios de Coimbra, e Nuno Rosmaninho sobre a Cidade Universitria do Estado Novo.
J Walter Rossa ou Jorge de Alarco analisam a evoluo geral da cidade de Coimbra; Antnio
Pimentel estudou o Pao Real e a sua transformao desde as origens at ao estabelecimento da
Universidade. Estas obras, embora visem assuntos mais abrangentes ou mais especficos, quer no
espao, quer no tempo, juntas, contriburam com informao essencial para a anlise da Rua
Larga.
Dado o assunto do trabalho, praticamente toda a bibliografia foi consultada em Coimbra:
Biblioteca Geral e Arquivo da Universidade de Coimbra, Biblioteca Municipal, bibliotecas de
alguns departamentos da Universidade de Coimbra e Museu Machado de Castro.
8 ROSMANINHO, Nuno, outros Evoluo do Espao fsico de Coimbra. 2006. p. 75-76
10
Figura 6 Possveis arruamentos de Aeminium, Jorge Alarco
11
1: Origens
Uma das primeiras referncias via urbana em estudo, actualmente chamada Rua Larga, data
do sculo XIII. Era a que, em 1262, D. Afonso III designava por via publica que vadit de meo
alcaar ad Portam Solis".9 Em 1374 identificada por Rua da Alcova que vai para o Castelo.
J em 1511 aparece-nos como Rua da Alcova. Todavia, na documentao conhecida, s nas
dcadas depois de consolidada a instalao definitiva da Universidade de Coimbra (1537), que
este percurso comea a surgir designado por Rua Larga. Mesmo assim, em 1603, a rua era ainda
designada por expresses como rua que vai das Escolas Gerais para o Castelo. 10
Como se percebe, era prtica normal, desde tempos medievais, que o nome das ruas reflectisse
a sua funo, as actividades econmicas a desenvolvidas, nomes de edifcios importantes como
igrejas ou castelos, ou qualquer outra particularidade.
11
Em Coimbra existem ou existiram vrios
exemplos desses: a Rua da Moeda ou a Rua Direita (directa) na Baixa, e na Alta a Rua dos Lios
ou a Rua dos Estudos. Sendo assim, a Rua Larga recebeu este nome, pois seria na poca a rua
mais larga da parte elevada da cidade, como se explicar melhor, mais frente no trabalho. No
de surpreender, por isso, que haja inmeras Ruas Largas em todo o mundo.
Apesar dos primeiros registos documentais surgirem na Idade Mdia, presume-se que este eixo
tenha origens bem mais antigas, possivelmente romanas. 12
O espao onde se viria a desenvolver o ncleo da cidade romana Aeminium, era j habitado
antes. Contudo, pouco se sabe sobre esse povoado, que em pouco se pareceria com uma cidade. A
cidade nasceu com os romanos.
Assim essencial perceber como a
situao geogrfica, as sucessivas ocupaes e os edifcios mais importantes, contriburam para o
aparecimento deste eixo.
13 O lugar escolhido, uma forma de mamoa gigante, que veio
sendo aplanada no topo pela eroso e pelo Homem possui vertentes vincadas a norte, a oeste e a
sul, e um acesso mais suavizado a leste. 14
9 ALARCO, Jorge Coimbra: a montagem do cenrio urbano. 2008. p. 114
10 ROSSA, Walter Divercidade. 2001. p. 806 11 Gropecunt Lane [Em Linha] actual. 2010. Disponvel em: http://en.wikipedia.org/wiki/Gropecunt_Lane 12 ALARCO, Jorge Coimbra: a montagem do cenrio urbano. 2008. p. 14 13 Ibidem. p. 11 14 JORGE, Filipe, BANDEIRINHA, Jos Antnio Coimbra vista do Cu. 2003. p. 15
12
Figura 7 Reconstituio do Alccer, de Antnio Pimentel.
13
precisamente a partir deste ponto, ligando a entrada na cidade parte oeste do morro,
que pode ter havido um arruamento correspondente, com alguma diferena Rua Larga que nos
chegou at ao incio dos anos 1940. Na imagem de Jorge Alarco pode ver-se os arruamentos da
cidade de Aeminium, sendo um deles, mais ou menos coincidente com a Rua Larga. Segundo
este, no ser improvvel, que, sendo romano, este alinhamento constitusse um eixo ao longo do
qual se tero disposto algumas das domus das principais famlias da cidade. 15
Aps a ocupao suevo-visigtica, vieram os muulmanos, e mais tarde, os cristos e a
fundao da nacionalidade. Na presena dos dois ltimos surgem, ento, construes que vo
definir com maior clareza os pontos de amarrao da, futuramente, Rua Larga. Durante o
domnio rabe foi construdo o Alccer. Este poder datar de meados do sculo VIII, aps a
conquista rabe por Abdul Aziz, mas tambm tem sido atribuda a sua construo a Almanor,
em 994. A evoluo arquitectnica da Alcova, com as suas torres circulares e cubelos, resultava
na mais notvel expresso de arquitectura militar, porventura de toda a pennsula Al Andaluz.
16
Esta estrutura, um vasto quadriltero, com cerca de 80 metros de lado, cujas bases das torres ainda
hoje se observam, possua a entrada a oriente, onde hoje se situa a Porta Frrea.17
Em oposio ao ponto de entrada na Alcova, situava-se o ponto de entrada na cidade: a
Porta do Sol e o Castelo. E assim, a ligar a porta da Alcova porta do Castelo temos a via
descrita por D. Afonso III, referida anteriormente. Um percurso com mais de 240 metros de
comprimento, subindo suavemente de oeste para este e depois descendo, que daqui para a frente
viria a sofrer maiores ou menores alteraes, decorrentes da construo e reconstruo dos
edifcios que foram estabelecendo os seus limites.
Viria depois, a
transformar-se em Pao ou Palcio Real, e mais tarde, na morada da sabedoria.
15 ALARCO, Jorge Coimbra: a montagem do cenrio urbano. 2008. p. 14 16 Coimbra Rota da 1 Dinastia parte4: Aqui se fez Portugal. [Em Linha] 2009. Disponvel em: http://www.rotas.turismodecoimbra.pt/visita_guiada.html 17 ALARCO, Jorge Coimbra: a montagem do cenrio urbano. 2008. p. 72
http://www.rotas.turismodecoimbra.pt/visita_guiada.html14
Figura 8 Excerto de planta de Coimbra de finais do sculo XVIII, autor desconhecido.
15
A Rua Larga, situada na parte alta da cidade, a Almedina, foi ao longo dos tempos, um dos
eixos mais importantes e estruturadores deste espao. Todavia, esta rea da cidade foi oscilando
em termos de importncia quanto s actividades a desenvolvidas pela populao.
medida que as ameaas almadas deixavam de ser um problema para a cidade, esta, que j
tinha galgado a muralha, foi progressivamente escorregando em direco ao rio. Assim se ter
consolidado, no arrabalde, o principal sistema urbanstico da cidade a Praa Velha e a actual
Rua Ferreira Borges que concentravam a maior parte da produo artesanal e comrcio da
cidade. 18 A parte baixa da cidade, animada pelo florescimento da burguesia e pela dinmica trans-
-urbana que a importante via Lisboa - Braga proporcionava19
Para contrariar esta tendncia, foram vrios os reis portugueses que procuraram inverter a
situao, nomeadamente D. Dinis e, mais tarde, outros monarcas como D. Joo III, que atravs
da instalao de edifcios de ensino universitrio e habitaes para os estudantes foram dando
nova vida alta de Coimbra e consequentemente Rua Larga.
, contrastava com uma certa
estagnao da parte alta, de difcil acesso e cada vez mais despovoada.
20
18 ROSSA, Walter Divercidade. 2001. p. 423-426 19 Ibidem p. 429 20 Ibidem p. 504, p.512
16
Fig. 9 Fragmento do desenho de Baldi, onde se observam as torres do castelo, 1669
Fig. 10 Planta do Castelo de Coimbra e espaos envolventes, Guilherme Elsden, 1772
Fig. 11 Reconstituio do Castelo de Coimbra, Jorge Alarco
17
2: 1377 A cidade medieval
Numa altura em que a via estudada ainda no tinha a designao de Rua Larga, pois
provavelmente a largura ainda no seria um factor relevante de diferenciao das outras, o Castelo
e a Residncia Real, dominavam pela sua escala o conjunto urbano da parte alta da cidade.
Nesta poca, as ltimas obras de carcter defensivo no Castelo j teriam sido realizadas e este
era o ltimo ano em que a Universidade estaria em Coimbra,21
para depois s regressar em 1537.
Os Estudos Gerais marcavam presena perto do Pao Real, mas apesar desta excepo, o eixo seria
estruturado pelo medieval aglomerado habitacional e talvez alguma actividade comercial.
Parte do castelo foi edificada por D. Afonso Henriques e D. Sancho I, nos sculos XI e XII. 22
A Porta do Sol, voltada a nascente, referida em documentos do tempo de D. Sesnando, em
1087/88.23 Esta teria em 1176, dois cubelos quadrados e foi refeita a mando da Condessa D.
Teresa, aps o ataque muulmano de 1117. 24 Do castelo da cidade, no restam hoje seno
memrias escritas ou desenhadas, pois os poucos vestgios que se conservaram at meados do
sculo XX, desapareceram com as obras da Cidade Universitria. Do conjunto fortificado
sobressaam duas torres: a torre quadrada, no centro do castelo a mais antiga: a torre de
menagem de D. Afonso Henriques, que teria cerca de 22 metros de altura. A torre pentagonal ou
quinria, foi construda por D. Sancho I em 1198, sendo-lhe atribuda a altura de cerca de 26,5
metros. A torre de menagem era feita de blocagem argamassada, dura como ferro, apertada entre
revestimentos, interno e externo, de silharia gravada e siglada. Teria a sua entrada muito alta,
servida por escadas de madeira amovveis, como era prprio destas torres. A estrutura defensiva
possuiria ainda, um fosso. 25
Todavia, no reinado de D. Fernando, o Castelo sofreu novas transformaes. Alm do adarve
que ligaria as Torres de Afonso Henriques e Sancho I, tero sido construdas duas novas torres: a
21 Enciclopdia Luso-Brasileira de Cultura Universidade. 1980. vol.18 p.483 22 ALARCO, Jorge Coimbra: a montagem do cenrio urbano. 2008. p. 113 23 Coimbra Rota da 1 Dinastia parte3: As muralhas e os castelos de Coimbra. [Em Linha], 2009. Disponvel em: http://www.rotas.turismodecoimbra.pt/visita_guiada.html 24 ALARCO, Jorge Coimbra: a montagem do cenrio urbano. 2008. p. 204 25 ALARCO, Jorge Coimbra: a montagem do cenrio urbano. 2008. p. 199, 201, 203
http://www.rotas.turismodecoimbra.pt/visita_guiada.html18
Fig. 12 Planta de reconstituio do Pao Real no tempo de D. Afonso IV, Antnio Pimentel
Fig. 13 Reconstituio tridimensional do Pao Real, Antnio Pimentel
Fig. 14 Claustro do Convento de Celas.
19
torre das Mulheres e a partir de 1374 comeou a ser erigida a torre nova, que marcaria a
entrada na cidade, substituindo a antiga Porta do Sol. 26
Fez-se, ento, na seco de documentos grficos a reconstituio do castelo, tendo em conta o
desenho de Baldi de 1669, a planta do sculo XVIII de Guilherme Elsden, aquando da demolio
promovida pelo Marqus de Pombal, e a reconstituio feita por Jorge Alarco.
Anteriormente s obras de D. Fernando no Castelo, j no incio do sculo XIV, os Estudos
Gerais se tinham implantado na Alta da cidade. Aps a transferncia da Universidade de Lisboa
para Coimbra em 1308,27 a instituio ver construdo um edifcio digno. Intramuros,
especialmente na parte mais alta, havia muitas casas abandonadas, arruinadas, e de aluguer. Era,
pois, a ocasio, para no bairro alto, stio sossegado, se construir os Estudos Gerais, e para alugar
ou construir habitaes para albergar estudantes. No local onde no sculo XVI se construiu o
Colgio Real de S. Paulo, os Estudos instalaram-se primeiro em casas, enquanto o edifcio prprio
no estava concludo.28
Sobre o edifcio em si, cr-se que ter tido um claustro, pois algumas das belas colunas com as
suas bases e capitis do claustro do Convento de Celas tero sido de l trazidas
29
Por volta de 1340, tambm estaria concluda a reforma do Pao Real por parte de D. Afonso
IV. Contudo, desde as primeiras dcadas do sculo XIV, que se vinha assistindo construo de
estruturas utilitrias palatinas que se acrescentaram capela e aula do palatium primitivo
sesnandino. Consumava-se,assim, um Pao Real da Alcova, inquestionavelmente cabea da urbe,
pousado na colina. Afastado, pouco a pouco, o perigo muulmano e esbatida a importncia
militar do recinto fortificado, a moradia rgia inaugurava uma relao crescentemente aberta com
. Com a
informao do local, da organizao funcional, e de uma dimenso aproximada para a arcaria do
claustro, tentou-se formular uma hiptese de como os Estudos Velhos Dionisianos poderiam ter
sido. Sem certezas sobre a sua rea de implantao e volumetria, props-se um edifcio com dois
pisos e alguma escala no conjunto urbano.
26 ALARCO, Jorge Coimbra: a montagem do cenrio urbano. 2008. p. 202 27ALFAIATE, Augusto Universidade. [Em linha] s.d. Disponvel em: http://www.regiaocentro.net/lugares/coimbra/universidade/index.html 28VASCONCELOS, Antnio de Escritos vrios relativos Universidade Dionisiana. 1938-41. vol. 1. 29Ibidem
20
Fig. 15 Possvel arruamento que atravessaria a Rua Larga na Idade Mdia.
21
a cidade e as suas necessidades.30
Sobre o espao em frente aos Estudos Gerais, alguns autores, sem referir dados concretos
afirmam que, na segunda metade do sculo XIII, era conhecido por mouraria.
A reconstituio do Palcio feita por Antnio Pimentel foi a base
da sua representao nos documentos grficos.
31
Rossa, constata que depois da conquista definitiva da cidade pelos cristos, a relao destes com os
muulmanos era pacfica, sendo pouco provvel que houvesse segregao.
Porm Walter
32 Alm disso, as
mourarias ou as judiarias localizavam-se em locais mais perifricos e menos atractivos.33 Por outro
lado, Jorge Alarco desmente o facto, de que tambm no sculo XIII, tenha havido uma mouraria
perto da Igreja de S. Cristvo. Os documentos no se referem a uma mauraria, de mouros,
mas sim a uma moraria, ou seja um local com amoreiras, pelo que possa ter havido alguma
confuso neste sentido.34 Assim, mas sem grandes certezas, pe-se a hiptese de o local, que se
chamava Alameda de S. Paulo, aquando da existncia do colgio com esse nome, fosse j um
espao aberto, como era comum existir perto das alcovas, como local de manifestaes
comerciais,35
Resta tambm, imaginar como seria o tecido urbano data. Nos documentos de
reconstituio, desenhou-se um hipottico traado para a rua que ligava o Castelo ao Palcio Real
(futuramente Rua Larga), tendo em conta que talvez fosse mais estreita e menos rectilnea.
Todavia, a densidade urbana no seria to grande como na agitada Baixa da cidade. A Rua seria
obviamente cortada por outras, mas difcil saber onde, excepo de um eixo que ligava as
igrejas de S. Joo de Almedina e S. Pedro, com possveis origens romanas.
quem sabe com presena de amoreiras.
36
Quanto s habitaes nas cidades medievais, elas eram construdas em pedra e cal, madeira,
adobe e outros. Era frequente terem um ou mais andares com sacada, projectando-se sobre a rua.
30PIMENTEL, Antnio Filipe A Morada da Sabedoria. 2005. p. 279, 283 31 CORREIA, Antnio Toponmia Coimbr. 1952. vol. 2. p. 6 32 ROSSA, Walter Divercidade. 2001. 33 GASPAR, Jorge A Cidade Portuguesa na Idade Mdia. La Ciudad Hispanica. [Em Linha] 1985. p. 136. Disponvel em: http://www.rotadoromanico.com/SiteCollectionDocuments/PerfilHistoriador /A_Cidade_Portuguesa_na_Idade_Media.pdf 34 ALARCO, Jorge Coimbra: a montagem do cenrio urbano. 2008. p. 97 35 GASPAR, Jorge A Cidade Portuguesa na Idade Mdia. La Ciudad Hispanica. [Em Linha] 1985. p. 134. Disponvel em: http://www.rotadoromanico.com/SiteCollectionDocuments/PerfilHistoriador /A_Cidade_Portuguesa_na_Idade_Media.pdf 36 ALARCO, Jorge Coimbra: a montagem do cenrio urbano. 2008. p. 65
22
Fig. 16 Casa medieval, Baixa de Coimbra.
Fig. 17 Casas medievais imaginrias de Coimbra por Jorge Alarco.
Fig. 18 Esquemas de casas medievais de Coimbra, Lusa Trindade.
23
Por vezes, havia nas traseiras das casas ptios e jardins, onde se encontravam animais domsticos,
como a galinha e o porco. 37
Em Coimbra, na Baixa, subsiste ainda hoje um exemplo de habitao medieval. Apesar de ser
do sculo XV d uma ideia de como poderiam ser as casas desta poca. A casa elevada atravs da
sobreposio de um sobrado e obedece a princpios bsicos de abrigo e armazenamento. Com ps-
-direitos reduzidos, no rs-do-cho fica a loja, e a habitao em si, nos andares superiores. As
paredes erguem-se em enxaimel, a cobertura de telha, e as aberturas so em nmero diminuto.38
Jorge Alarco e tambm Lusa Trindade do exemplos de como podiam ter sido as casas
medievais em Coimbra: com um ou mais andares, com quintais, escadas exteriores e pisos
parcialmente ou totalmente sobradados, sobre arcos, esteios ou colunas.
39
Era possvel que, nesta altura ainda se pudesse observar restos do aqueduto romano, sobre o
qual se viria a erguer o Aqueduto de S. Sebastio.
37 FREITAS, Maria A Vila Medieval. [Em Linha], actual. 2009. Disponvel em: http://www.cm-castromarim.pt/site/ndex.php?module=ContentExpress&func=display&ceid=25 38 Gabinete para o Centro Histrico Casa Medieval. [Em Linha], s.d. Disponvel em: http:www.cm-coimbra.pt/ndex.php?option=com_content&task=view&id=190&Itemid=468 39 TRINDADE, Lusa A Casa Corrente em Coimbra, dos finais da Idade Mdia aos incios da poca Moderna. 2002. p. 76
24
Fig 19 Traado urbano da alta, com um traado tendencialmente ortogonal, planta de 1873-74.
Fig. 20 Rua dos Lios, que intersecta a Rua Larga, vista da Rua do Borralho, sc. XX
Fig. 21 Reconstituio do Pao Real depois da reforma manuelina, ainda com a Torre do Rei.
25
3: 1678 Os Colgios Universitrios
Nesta poca, certamente j designado como Rua Larga, o eixo teria praticamente estabelecida
a estrutura que apresentar at a Alta ser arrasada pelo Estado Novo.
As alteraes a nvel urbanstico consumadas no reinado de D. Joo III, no sculo XVI,
decorrentes da construo de casas para os escolares e do desgnio de edificao de um edifcio
prprio para a Universidade, tero conferido Alta de Coimbra um novo traado urbano, mais
regularizado. Contudo, foi atravs da sucessiva implantao de Colgios Universitrios, tambm
no sculo XVII, que a malha urbana se consubstanciou, e a Rua Larga aumentou a sua rea de
influncia.40
No mbito do povoamento da Alta Universitria, a Rua Larga acabou por desempenhar o seu
papel estruturador natural, sendo cruzada por dois eixos paralelos. Um formado pelas ruas de S.
Pedro e S. Joo, o outro, composto pelas ruas dos Lios e do Borralho, ter sido resultante de dois
propsitos de fundo urbanstico: a implantao segundo uma paralela ao primeiro e o rigoroso
enfiamento a partir do centro da principal fachada da quadratura das escolas (projecto no
concretizado, situado em parte no local onde se edificou o Colgio de Jesus).41
Ter sido atribuda a vrias ruas, abertas, ou ajustadas nesta altura, como por exemplo a Rua
dos Estudos
42, a largura de 30 palmos. J Rua Larga concedeu-se 45 palmos, estando assim
justificada e apropriada a sua designao.43
Mais frente no captulo far-se- uma anlise aos colgios que vo modificar a imagem da
Rua, mas antes h a referir as transformaes profundas que o Pao Real, sofrera at data, desde
o sculo XVI, comeando pelo Manuelino, passando pelo Renascimento, at ao Barroco. Na
poca de D. Manuel, entre 1517 e 1522, o corpo do palcio foi reformado, salientando-se
tambm a capela real e a sala grande de Marcos Pires, e os torrees de defesa embelezados.
44
40 ROSSA, Walter Divercidade. 2001. p. 807, 810, 811
J no
reinado de D. Joo III, em 1535, os Estudos mudam para os Paos Reais e em 1537, a
Universidade estabelece-se definitivamente em Coimbra. Em 1561 edificada a torre horria de
41 Ibidem p. 807 42 BRANDO, Mrio Documentos de D. Joo III. 1938. vol. 2. 43 ROSSA, Walter Divercidade. 2001. p. 792, 809 44 PIMENTEL, Antnio Filipe A Morada da Sabedoria. p. 320
26
Fig. 22 e 23 Representao da torre horria de Joo de Ruo por Laprade e excerto da vista de
Coimbra de Pier Maria Baldi (1669) onde tambm se v a torre.
Fig. 24 Plantas sobrepostas do piso trreo e 1 andar do Colgio Real de S. Paulo
Fig. 25 Fachada Rua Larga do Colgio Real de S. Paulo
27
Joo de Ruo, situada no ngulo noroeste do terreiro, representada na vista de Coimbra por Pier
Maria Baldi, e figurada numa porta dos Gerais por Laprade.45
Em 1570, o Colgio de S. Pedro instala-se na ala nascente do Pao e em 1634, a antiga porta
fortificada substituda pela Porta Frrea. Posteriormente ainda reformada a sala do exame e
reconstruda a Sala dos Capelos.
46
Os colgios em seguida analisados, construdos entre 1550 e 1678 (da a data escolhida para
este captulo), eram bastante diversificados, quer pelo seu modo de funcionamento, quer pela
organizao espacial e relao com o espao exterior, por vezes tendo capelas interiores ou igrejas
servindo o pblico.
Nos documentos grficos as representaes do Pao das
Escolas, foram feitas a partir das reconstituies de Antnio Pimentel, tendo em conta as novas
adies at data.
O Colgio Real de S. Paulo Apstolo, comeou a ser construdo a partir de 1550 a mando de
D. Joo III, no terreno onde existiam os Estudos Velhos e as suas casas arruinadas. A inaugurao
deu-se em 1563, e dele saram homens eminentes, de grande importncia para o pas.47 Atravs
dos desenhos das plantas e das fachadas do Colgio pelo arquitecto Azzolini e do permetro de
implantao do edifcio visveis na planta de 1873-74, figura 13 deste trabalho, foi feita uma
reconstituio que se aproximar bastante do seu aspecto original. Era um colgio secular por
oposio aos colgios regulares, das ordens. Organizava-se em torno de um ptio central, que
curiosamente no tinha nenhuma arcaria de distribuio para as vrias dependncias. Ocupava
praticamente um quarteiro e tinha capela interior. 48
O Colgio de S. Jernimo comeou a funcionar em 1550, numas casas adquiridas a norte do
Castelo, mas em 1565 adquiriram mais terreno e projectaram um edifcio condigno. A sua
fachada oriental ergueu-se sobre a muralha da cidade, desde a porta do Castelo, qual ficou
encostada a igreja, obra de Diogo de Castilho, continuando-se o dormitrio em direco ao
Norte.
45 PIMENTEL, Antnio Filipe Antnio Canevari e a torre da Universidade de Coimbra. Artistas e Artfices. VII Colquio Luso-Brasileiro de Histria da Arte. 2005. p. 50 46 BONIFCIO, Horcio, outros Paos da Universidade de Coimbra. [Em Linha], 1991, 1997, 2003. Disponvel em: http://www.monumentos.pt/Monumentos/forms/002_B1.aspx 47 VASCONCELOS, Antnio Os Colgios Universitrios de Coimbra. 1938. p. 81 48 LOBO, Rui Pedro Os colgios universitrios de Coimbra. Monumentos. (2006), vol. 25. p. 40
28
Fig. 26 Reconstituio do Colgio de S. Jernimo e axonometria da igreja, Rui Lobo
Fig. 27 Vista do Colgio de S. Jernimo, Vivian, segunda metade do sculo XVIII.
Figs. 28 e 29 Planta e alado da Igreja do Colgio de S. Bento, por Albrecht Haupt, e fotografia.
29
Fig. 30 - Planta truncada do Colgio de So Bento, aquando de profundas alteraes, 1764.
Fig. 31 Aqueduto de So Sebastio.
Fig. 32 - Colgio de S. Joo Evangelista, fachada ao Largo da Feira.
30
Fig. 33 - Colgio de S. Joo Evangelista, fachada ao Largo da Feira.
Fig. 34 Fachada do Colgio de S. Boaventura no incio do sc. XX. e planta do piso trreo, sc.XIX.
Fig. 35 Planta do piso trreo do Colgio de S. Boaventura, sc. XIX.
31
Ainda hoje se reconhece bem delimitado o edifcio, com seus cubelos de reforo na
fachada oriental.49
do colgio por Rui Lobo na obra Os Colgios de Jesus, das Artes e de S. Jernimo atravs de
plantas e axonometria. Todavia o alado Sul modificado em funo da j referida presena da
torre da porta do Castelo.
A representao feita nos documentos grficos tem como base a reconstituio
O Colgio de S. Bento era o maior e mais importante colgio na alta da cidade, exceptuando
o Colgio de Jesus. Em 1576 haviam comeado as obras do edifcio, sendo que a igreja foi a
ltima parte a ser construda, tendo sido sagrada em 1634. O projecto inicial do colgio talvez
fosse constitudo por dois ptios, mas entre 1568 e 1570 foi construdo o aqueduto de S.
Sebastio, do engenheiro Filipe Terzio, em parte na propriedade dos beneditinos, o que os
obrigou a fazer uma parede no lado nascente para encerrar o conjunto.50 Quanto Igreja, toda a
nave um primor de arquitectura, que desde logo detm os olhos de quem entra. A sua abbada
em forma de bero, formando caixotes, de uma riqueza e formosura singulares no dizer do
crtico alemo Albrecht Haupt.51
Na parte grfica do trabalho tentou-se aproximar o colgio do seu aspecto original atravs de
uma planta truncada de 1764, que revela parte do colgio, mas tambm pelo desenho de Baldi
(Fig. 8), onde se v a parte ocidental, revelando a existncia duma galeria com vista para o rio.
O Colgio de S. Joo Evangelista ou dos Lios instalou-se em 1548 no arrabalde da cidade.
Contudo viriam a mudar-se para o bairro alto da cidade. Adquiridos os terrenos, o colgio
construiu-se entre 1631 e 1638. 52
fotogrfica encontrada, reconstituiu-se em planta o permetro e o claustro, e imaginou-se uma
fachada para a Rua Larga.
O edifcio, em parte com organizao claustral, estende-
se,contudo, at ao Largo da Feira, mostrando a a sua fachada principal de 5 pisos, bastante
trabalhada. Pelo contrrio, s outras fachadas no se concedeu a mesma dignidade. Da Rua Larga,
tendo aqui apenas dois andares, far-se-ia o acesso directo ao claustro. A partir da documentao
A primeira pedra do Colgio de S. Boaventura foi colocada em 1665 e em 1678 deu-se por
concluda a obra.53
49 VASCONCELOS, Antnio Os Colgios Universitrios de Coimbra. 1938. p. 92-95
O edifcio organizava-se em torno de um claustro e tinha a serventia principal
50 Ibidem p. 100-101 51 ROSMANINHO, Nuno O Poder da Arte. 2001. p. 284 52 VASCONCELOS, Antnio de Os Colgios Universitrios de Coimbra. 1938. p. 77-79 53 Ibidem p. 91-92
32
Fig. 36 Casa com pormenores de arquitectura renascentista.
Fig. 37 Desenho de adaptao da Torre de Menagem do Castelo a observatrio, G. Elsden, 1772.
33
para a Rua dos Lios, tanto do colgio como da igreja, como descreve o inventrio aquando da
extino.54 A planta do sculo XIX revela provavelmente uma realidade prxima da original e uma
fotografia permite ver o aspecto de parte do edifcio antes da transformao que sofreu no sculo
XX. Restou, assim, criar uma possvel imagem para a igreja, sendo que o portal do sucessor
Instituto de Antropologia, segundo Antnio Vasconcelos, no ter sido aproveitado do antigo
colgio.55
A par da construo dos colgios universitrios, tambm se construram casas particulares sob
uma forma renovadora. O fundo construtivo corresponde a um tipo de casas que apresenta como
caracterstica prpria, janelas de avental rectangular, correspondendo estas, segunda metade do
sculo XVI, a todo o sculo XVII e ainda aos comeos do sculo XVIII.
56
O Castelo, destitudo das suas funes defensivas, utilizou-se para vrias funes de interesse
para a cidade. Foi priso e quartel, nos sculos XVI e XVII. Num desenho do sculo XVIII, de
Guilherme Elsden, em que este adapta a Torre de Menagem a observatrio, so visveis, uma
janela gtica, e duas aberturas superiores que se podem observar na figura 36 deste trabalho.
Desenho que contribuiu para a reconstituio do Castelo nesta poca.
54 GAMA, Antnio Mendes Descripo e Depozito dos Bens deste Collegio de S. Boaventura da Feira. 1834. Disponvel no Arquivo da Universidade de Coimbra. 55 VASCONCELOS, Antnio de Os Colgios Universitrios de Coimbra. 1938. p. 162 56 ROSMANINHO, Nuno O princpio de uma revoluo urbanstica no Estado Novo. 1996. p. 18
34
Fig. 38 Pao das Escolas aps grandes modificaes no sculo XVIII.
Fig. 39 Perfil pela Rua Jos Falco: Biblioteca Joanina e Observatrio Astronmico.
Fig. 40 Reconstituio do alado do Observatrio Astronmico, Guilherme Elsden.
35
4: 1799 As reformas e projectos do sculo XVIII
Neste captulo abordar-se- no s as alteraes consumadas ao longo da Rua Larga, mas
tambm os projectos que no chegaram a ser executados ou foram interrompidos, que lhe dariam
um carcter mais monumental.
Desde o incio de Setecentos que o crescimento econmico-demogrfico e o desenvolvimento
cientfico-tcnico vinham impulsionando importantes alteraes sociais e culturais. A filosofia
iluminista, racional, humanista, defendia o progresso com base no desenvolvimento da cincia e
da tcnica.57 Em Coimbra, a Reforma Pombalina da Universidade teve esse papel, introduzindo
tambm uma nova linguagem arquitectnica, a do neoclassicismo.58
Contudo, o incio do sculo
foi marcado ainda pelo barroco e as suas influncias nas obras do Pao das Escolas.
O Pao das Escolas, no decorrer do sculo XVIII ver grandes modificaes, que lhe daro um
aspecto prximo daquilo que encontramos hoje. As obras mais importantes foram a Via Latina, a
construo da Biblioteca, a nova torre da Universidade e, inseridas na Reforma Pombalina, a
remodelao dos Gerais do alado norte do terreiro.
O frontispcio da Via Latina, com a composio escultrica de Laprade construdo em
1700/01, garantindo um corpo central com dignidade quela fachada. A construo da
Biblioteca, entre 1716 e 1728, juntamente com as Escadas de Minerva,59
constituem uma
significativa adio pela sua envergadura, fechando o conjunto edificado da ala poente. A
sumptuosidade da decorao barroca do interior da biblioteca, contrasta com a simplicidade da
prpria organizao espacial e do exterior. Substituindo a antiga torre de Ruo, Antnio
Canevari, arquitecto romano, concebe uma nova, com cerca de 34 metros de altura. Torre sineira
e horria, de linhas severas quebradas apenas pelo delicado fronto, teve um raro acabamento em
57 PINTO, Ana, outros Histria da Arte ocidental e portuguesa, das origens ao final do sculo XX. 2001. p. 624 58 ROSMANINHO, Nuno, outros Evoluo do Espao fsico de Coimbra. 2006. p. 23 59 BONIFCIO, Horcio, outros Paos da Universidade de Coimbra. [Em Linha], 1991, 1997, 2003. Disponvel em: http://www.monumentos.pt/Monumentos/forms/002_B1.aspx
36
Fig. 41 Planta do Observatrio Astronmico de Guilherme Elsden.
Fig 42 Alado da verso abandonada do Observatrio Astronmico, Guilherme Elsden
Fig. 43 Desenhos do Observatrio Astronmico do Ptio da Universidade, Macomboa
37
terrao, a fim de nele instalar um observatrio. Alm das funes para a comunidade escolar, um
smbolo de identidade.60 Entre 1770 e 1779 foi construdo todo o alado norte do Terreiro da
Universidade. O velho edifcio ganhava assim uma nova fachada.61
O plano de interveno da Reforma Pombalina, embora se tenha feito sentir em outras obras
como o Laboratrio Qumico, a transformao do Colgio de Jesus ou o Jardim Botnico
62, ficou
aqum da expresso de autonomia e monumentalidade que poderia ter tido, se o colossal
Observatrio Astronmico, no incio da Rua Larga, tivesse sido concludo.63
Guilherme Elsden desenvolve, em duas verses conhecidas, o projecto do edifcio. A segunda
verso, a definitiva, representada no conjunto grfico deste captulo, aprovada em 1773 um
volume com dois pisos, porticado no piso trreo, e encimado por um corpo recuado onde se
eleva, ao centro da composio, a torre do Observatrio. O edifcio, confrontando o Colgio de S.
Jernimo, abrir-se-ia ao extenso territrio que se desenvolvia a Norte e a Nascente. A galeria do
piso trreo, em cantaria de junta fendida, clarificava a funo urbana de porta: iniciar o acesso
Rua Larga e prolongar o Passeio Pblico que vinha desde o j idealizado Jardim Botnico. A
primeira verso, um volume com trs pisos, organizava-se a partir do aproveitamento das duas
torres do antigo castelo de Coimbra, enquadradas nos topos. Uma soluo que foi abandonada
pela dificuldade em integr-las.
64
No entanto, aps a demolio do castelo medieval e a concluso do piso trreo do novo
edifcio, interrompeu-se o ambicioso projecto. Por razes financeiras e tcnicas, optou-se por
construir um outro Observatrio, de menor dimenso, no topo Sul do Ptio das Escolas. Da
colaborao do arquitecto Manuel Alves Macomboa com o professor Jos Monteiro da Rocha,
surgir o projecto definitivo. A forma final constituda por um corpo horizontal com um piso e
cobertura plana, e uma torre com trs pisos definida a partir do vo central, tambm com
cobertura plana. Em 1791 o projecto aprovado, em 1799 o edifcio concludo.
65
60 PIMENTEL, Antnio Filipe Antnio Canevari e a torre da Universidade de Coimbra. Artistas e Artfices. VII Colquio Luso-Brasileiro de Histria da Arte. 2005 p.49-58.
61 LOBO, Rui Pedro Os Colgios de Jesus, das Artes e de S. Jernimo. 1999. 62 FRANCO, Matilde Riscos das Obras da Universidade de Coimbra. 1983. 63 ROSMANINHO, Nuno, outros Evoluo do Espao fsico de Coimbra. 2006. p. 23 64 MARTINS, Carlos, FIGUEIREDO, Fernando O Observatrio Astronmico da Universidade de Coimbra, 1772-1799. Rua Larga. (2008), vol. 21. p. 58-59 65 Ibidem p. 59-61
38
Fig. 44 Planta do piso trreo do Colgio de S. Paulo de Giacomo Azzolini
Fig. 45 Alado da fachada principal do Colgio de S. Paulo de Giacomo Azzolini
Fig. 46 e 47 Colgio de S. Paulo Eremita no sculo XX e plantas do 1 andar e guas-furtadas.
39
Outro projecto de grande dimenso que no chegou a ser realizado foi o de um novo Colgio
de S. Paulo, idealizado por Giacomo Azzolini, arquitecto bolonhs que viveu em Coimbra entre
1755 e 1764. Em termos de organizao espacial, a colocao da capela a eixo do claustro/ptio,
em localizao perpendicular ala em que se insere, e na frente oposta entrada do colgio,
derivada do modelo medieval do Collegio di Spagna. Todavia, a diferena mais notria a falta de
presena volumtrica da capela, ficando esta envolta pelo permetro regular do edifcio, processo
imposto pela implantao na quadrcula da Alta. 66
Com uma rea total de cerca de 3500m2, e sem informaes precisas sobre o local da sua
implantao, o arquitecto dever ter previsto uma praa em frente ao colgio, semelhana do
que acontecer com a Faculdade de Letras construda no incio do sculo XX. Tendo em conta a
sua dimenso e a sua planta perfeitamente ortogonal, o seu limite sul ficaria alinhado com o muro
que encerra o Ptio das Escolas e o edifcio em si traria alguma modificao no alinhamento da
Rua de S. Pedro.
O Colgio de S. Paulo o Eremita, fundado em 1779, foi o ltimo dos colgios universitrios
de Coimbra a ser construdo. Tinha um portal nobre na sua extremidade esquerda, pois no
chegou a ser edificada a ala lateral nascente.67 No inventrio feito em 1834, aquando da sua
extino, eram referidos os seus espaos interiores: no piso trreo, lojas, dispensa, uma pequena
cavalaria e um ptio com serventia para a Rua do Guedes; no primeiro piso a capela, dormitrio,
celas, livraria, refeitrio e cozinha e por fim, as guas furtadas.68 Ainda com a informao de que
as janelas do rs-do-cho da fachada da Rua Larga foram prolongadas para baixo no fim do sculo
XIX, pois at ento eram simples frestas superiores,69
O Colgio de S. Bento sofreu profundas alteraes no sculo XVIII,
fez-se, nos desenhos deste captulo, uma
proposta de reconstituio do Colgio, prevendo a construo da ala que faltava. 70
66 LOBO, Rui Pedro Os colgios universitrios de Coimbra. Monumentos. (2006), vol. 25. p. 42
o que lhe ter dado um
aspecto diferente, ganhando novas fachadas e tendo o seu permetro sido regularizado.
67 Associao dos Antigos Estudantes de Coimbra A Velha Alta... desaparecida. 2. ed. 1991. p. 34 68 PAIXO, Antnio Miguel Autos de Inventrio do Collegio de S. Paulo Ermit. 1834. caixa 3 69 VASCONCELOS, Antnio de Os Colgios Universitrios de Coimbra. 1938. p. 17 70 ROSSA, Walter Divercidade 2001. p.813
40
Fig 48 Aspecto da sala central da Faculdade de Letras do Arq. Silva Pinto
Fig. 49 Planta do piso trreo da Faculdade de Letras.
Fig. 50 Hospitais do Colgio das Artes e de S. Jernimo, 1868
41
5: 1934 O legado de vrios sculos
Dois dos principais aspectos que se destacam nesta poca so a multiplicidade de funes
urbanas que se pode encontrar ao longo da Rua e a variedade de arquitecturas presentes em
edifcios que tiveram a sua origem sculos atrs.
de realar a presena forte de edificado ligado ao ensino, principalmente universitrio. Alm
de existirem alguns servios pblicos, de grande relevncia o conjunto habitacional que vai
ladeando a Rua e que, no raras vezes, possui estabelecimentos comerciais nos pisos trreos.
Um dos edifcios mais emblemticos deste perodo a Faculdade de Letras do Arq. Silva
Pinto, construda a partir de 1912 e acabada em 1929. Anteriormente neste local, ainda
funcionaram dois teatros acadmicos. Fundada em 1838, a Nova Academia Dramtica instalou-se
no Colgio de S. Paulo, tendo sido construda a sala de espectculos no ptio do edifcio. Por
volta de 1888 o colgio foi demolido e mais tarde iniciou-se a construo de um novo Teatro
Acadmico.71 Os alicerces do projecto interrompido do arquitecto italiano Nicolau Bigaglia,
viriam a servir de base para a Faculdade de Letras de Silva Pinto. Este manteve o grande vo
central do teatro e destinou-o a sala de leitura.72 A planta curvilnea e o levantamento em vrias
varandas ou camarotes, denunciam caractersticas dos teatros de raiz italiana.73 A Faculdade
possua sobre esta sala, uma notvel clarabia que alis, manteve-se aps a interveno do Estado
Novo, mas tambm eram assinalveis os portes de ferro, vitrais, candeeiros, e as escadas que
caracterizavam a frente do edifcio74
Um conjunto de edifcios que tambm caracterizava a Rua Larga nesta data era o dos
Colgios. Aps a extino das ordens religiosas em 1834, assistiu-se ao abandono e pilhagem
destes e durante dcadas houve alguma indeciso no destino a dar-lhes.
e faziam uma harmoniosa transio entre a faculdade e a Rua
Larga, suavemente inclinada.
75
O Colgio de S. Jernimo passou a funcionar como hospital a partir de 1848. A planta
publicada por Costa Simes, mostra como se procedeu ocupao do antigo colgio. O volume
71 VASCONCELOS, Antnio de Os Colgios Universitrios de Coimbra. 1938. p. 85-86 72 ROSMANINHO, Nuno O princpio de uma revoluo urbanstica no Estado Novo. 1996. p. 179 73 CARNEIRO, Lus Soares Teatros portugueses de raiz italiana. 2002. vol. 2 p.20 74 Associao dos Antigos Estudantes de Coimbra A Velha Alta... desaparecida. 2. ed. 1991. p. 47 75 ROSMANINHO, Nuno O Poder da Arte. 2001. p. 136, 188
42
Fig. 51 - Planta do andar superior do Instituto de Antropologia
Figs. 52 e 53 Instituto de Antropologia. Sala de Etnografia e edifcio em demolio.
Fig. 54 A Rua Larga vista do Largo do Castelo
43
da igreja foi dividido em trs pisos, convenientemente iluminados pelas novas aberturas, tendo-se
acrescentado posteriormente um quarto piso, de guas furtadas. Para ligar o hospital lavandaria,
que funcionava no rs-do-cho do que podia ter sido o Observatrio Astronmico, escavou-se no
arco construdo aps o terramoto de 1755, uma escada.76
Este arco marcava a transio entre a Ladeira e o Largo do Castelo, definindo o momento de
entrada na cidade alta.
O Colgio de S. Boaventura aps a reforma universitria de 1911, recebeu o Instituto de
Antropologia, sendo ento submetido a uma profunda remodelao que apenas poupou o
claustro. 77
semelhana de outros colgios, o Colgio de S. Joo Evangelista, ou dos Lios, ganhou,
aps a sua extino, novas funes. Para as receber, ter sofrido obras de adaptao. Uma das mais
notrias foi a abertura de vos regulares ao longo das fachadas sul e poente. Em 1938, e graas ao
seu generoso espao interior funcionavam l vrios servios pblicos: o Governo Civil, a Auditoria
Administrativa, a Junta de Provncia da Beira Litoral, a Direco de Finanas e a PSP.
No s se dividiu o espao de forma a adaptar-se s novas funes, como o prprio
volume sofreu alteraes. A rea de implantao expandiu-se, e no lado norte, foi criada uma
ampla sala de p-direito duplo. Nas fachadas do edifcio, as aberturas so todas abertas de novo e
este, que anteriormente era acedido pela Rua dos Lios, passou a ter a sua frente principal para a
Rua Larga, com um portal encimado por um fronto curvo e quebrado.
78
No incio do sculo o Colgio de S. Paulo Eremita era a casa da Associao Acadmica de
Coimbra e no Colgio de S. Bento estiveram sucessivamente instalados os Liceus Jos Falco,
Jlio Henriques e Feminino Infanta Dona Maria.
79
Ao longo da Rua, no que diz respeito aos prdios de habitao pode deduzir-se, pela presena
de janelas de avental rectangular
80 e pelo seu aspecto, que uma boa parte deles ter a sua gnese
em sculos anteriores. Pode ainda observar-se alguns imveis que possuem notveis varandas de
ferro forjado ou fundido81
76 LOBO, Rui Pedro Os Colgios de Jesus, das Artes e de S. Jernimo. 1999. p. 55, 145, 146
, com motivos de decorao vegetalista, possivelmente de inspirao
Arte Nova.
77 ROSMANINHO, Nuno O Poder da Arte. 2001. p. 362 78 VASCONCELOS, Antnio de Os Colgios Universitrios de Coimbra. 1938. p. 80 79 Associao dos Antigos Estudantes de Coimbra A Velha Alta... desaparecida. 2. ed. 1991. p. 10, 35 80 ROSMANINHO, Nuno O princpio de uma revoluo urbanstica no Estado Novo. 1996. p. 18 81 Idem p. 18
44
Fig. 55 Excerto da Planta Topogrfica da cidade de Coimbra, 1934
Fig. 56 Rua Larga, dcada de 1940
Fig. 57 Rua Larga em poca de frias, vista no sentido poente - nascente.
45
Fig. 58 Rua Larga, evidenciando o intenso convvio acadmico.
Fig. 59 Rua Larga, vista do alto da Torre da Universidade.
Fig. 60 Rua Larga, j em obras de demolio.
46
Fig. 61 Jardim do Ptio das Escolas.
Fig. 62 Largo de Cames, cerca de 1911.
Fig. 63 Elctrico na Ladeira do Castelo.
47
A caracterizar e a valorizar o espao pblico da Rua Larga, estavam ainda os transportes
elctricos e os espaos verdes adjacentes. A dcada da 1920 representa o perodo de ouro dos
elctricos. 82 A linha subia a Ladeira do Castelo e servia a Alta, passando pela Rua Larga em duas
linhas paralelas, seguindo para a Rua de S. Joo, onde estas convergiam numa. Os espaos verdes
eram trs: o Ptio da Universidade, o Largo de Cames e a Ladeira do Castelo. O jardim do Ptio
da Universidade, apresentava-se j desde 1877, bastante cuidado.83 Orientado por um traado
geomtrico, com grande nmero de rvores e uma grande araucria no centro, proporcionava
frescura e amenizava o ambiente do terreiro. O Largo de Cames, do lado direito da Rua Larga
para quem se dirigia para a Porta Frrea, opunha-se Faculdade de Letras, alargando o campo
visual e conferindo mais importncia quela. No centro erguia-se o monumento a Cames,
erguido por volta de 1880, e daqui se tinha uma bela panormica sobre o Mondego e os campos
de Montemor. 84
Complementando o acesso Alta da cidade pelo lado nascente, so abertas no sculo XIX
umas escadas, decorrentes da urbanizao da Quinta de Santa Cruz, que ficaram conhecidas como
Escadas do Liceu.
Por fim, a Ladeira do Castelo era ladeada por um luxuriante arvoredo que
acompanhava o Aqueduto.
82 ROSMANINHO, Nuno O Poder da Arte. 2001. p. 166 83 Ibidem p. 424 84 Associao dos Antigos Estudantes de Coimbra A Velha Alta... desaparecida. 2. ed. 1991. p. 54
48
Fig. 64 Plano de Conjunto da Cidade Universitria, final dos anos 50 ou incios de 60.
Fig. 65 Alta em demolio com a abertura da nova Rua Larga.
49
6: 1966 O projecto da Cidade Universitria
A partir da dcada de 40 do sculo passado, a Rua Larga vai sofrer a maior transformao da
sua histria. Pode afirmar-se, alis, que surgir uma nova Rua Larga. O regime do Estado Novo,
que vigorava na altura, encetou a partir de 1942 um vasto projecto de reconstruo das instalaes
universitrias, que ocasionou a demolio de mais de duzentos prdios e a construo de grandes
blocos destinados a faculdades,85
De aqui em diante, parte da Alta de Coimbra perde a sua matriz polifuncional, a sua vida
nocturna e a diversidade social. A habitao e comrcio desaparecem e a funo do local passa a
ser, praticamente s de ensino universitrio.
alterando por completo a escala do local.
Pretende-se neste captulo expor a proposta da Cidade Universitria na sua verso completa,
ou seja, incluindo as intenes do arquitecto Cristino da Silva, que veio a substituir Cottinelli
Telmo na direco arquitectnica da CAPOCUC, em 1966. 86
O projecto da C.U., visvel tambm no Plano de Conjunto da Cidade Universitria de finais
dos anos 50, incios de 60, foi essencialmente gizado por Cottinelli Telmo, arquitecto lisboeta,
que pouco sabia e sentia da realidade tradicional coimbr. Era adepto de um vanguardismo
arquitectnico, com as suas disciplinadas linhas rectas e a sua monumentalidade classicista,
influenciado pela arquitectura nazi alem e fascista italiana.
87 A C.U. acabou por adoptar uma
linguagem mais despida e grandiloquente, prpria dos regimes autoritrios e totalitrios da
Europa, 88 afastando-se do gosto portugus da proposta inicial de Raul Lino, e por certo, do
gosto de Salazar. 89
A composio urbana do projecto estruturada segundo um eixo principal Este / Oeste, que
integra em si, quatro momentos: as Escadas Monumentais, a Praa D. Dinis, a Rua Larga e a
Praa da Porta Frrea.
85 ROSMANINHO, Nuno, outros Evoluo do Espao fsico de Coimbra. 2006. p. 75 86 ROSMANINHO, Nuno O Poder da Arte. 2001. p. 231 87 ROSMANINHO, Nuno O princpio de uma revoluo urbanstica no Estado Novo. 1996. p. 4 88 ROSMANINHO, Nuno O Poder da Arte. 2001. p. 33 89 ROSMANINHO, Nuno O princpio de uma revoluo urbanstica no Estado Novo. 1996. p. 4
50
Fig. 66 Perfil Norte pelo eixo principal do projecto da Cidade Universitria, 1966
Fig. 67 Maquete onde se observam o Hospital e os prticos, no concretizados.
Fig. 68 Planta de pavimentao da Praa D. Dinis.
51
A Rua Larga propriamente dita, com caractersticas de rua, limita-se agora ao espao entre as
novas Faculdades de Cincias e de Medicina. Acerca deste eixo, e especialmente sobre as Escadas
Monumentais, C. Telmo refere a sua importncia numa memria justificativa: O eixo principal do
conjunto da C. U. determinado pela Porta Frrea, a actual Rua Cndido dos Reis, (Rua Larga) a
projectada Praa D. Dinis e uma escadaria de que se junta o projecto. Com a sua construo o
conjunto ganha grandeza: pela acentuao mais forte do eixo da composio e porque uma escadaria
sempre um elemento de monumentalidade. () O granito foi a pedra escolhida para a construo
desta escadaria. Embora no seja um material da regio de grande durao e tem nobreza. 90
O segundo momento deste percurso a Praa D. Dinis, que pela sua escala o mais
imponente e espectacular, como se pode observar pelos perfis deste captulo.
A praa D. Dinis, de acordo com este projecto ficaria delimitada por vrios edifcios de
grande escala que se ligavam entre si, abraando-a em forma de U: a Faculdade de Matemtica
esquerda, o Hospital direita e, em frente um grande prtico que marcava a entrada na Rua
Larga, suportando um tico que unia superiormente as Faculdades de Medicina e de Cincias.
Todavia, nem o Hospital nem os prticos foram avante. Para construir o Hospital teria sido
necessrio demolir o Colgio de S. Jernimo e o Colgio das Artes, e essas demolies, segundo o
ministro das obras pblicas seriam utpicas.91 Alm disto, Jos Pedro Barata, dentro da
CAPOCUC, hostiliza os prticos de C. Telmo, que presidiam tambm ao esprito de Cristino da
Silva: os elementos horizontais, espcie de entablamento suportado por pilares tem um volume tal,
que a sua presena torna ridculos e diminutos os elementos do conjunto do Pao das Escolas que se
apercebem ao fundo da Rua Larga a Praa D. Dinis uma porta, uma antecmara da
Universidade, e se atendermos ao valor, volumes e significado dos edifcios que esto para l desta
entrada, sente-se que esta os domina em ostentao e presena plstica. parece chocante a imposio
de elementos de raiz vagamente neoclssica, quase evocando uma vontade de poder que no deve ser
caracterstica de um ambiente universitrio. 92
A estrita simetria que presidiu idealizao da Praa D. Dinis, obrigou Lucnio Guia da Cruz,
autor do projecto da Faculdade de Matemtica, a aceitar uma crcea e uma disposio de andares
semelhantes s do Hospital do arquitecto alemo Walter Distel, apesar de serem muito diferentes
90 ROSMANINHO, Nuno O Poder da Arte. 2001. p. 213 91 Ibidem p. 232 92 Ibidem p. 235
52
Fig. 69 Desenho da Praa da Porta Frrea com o seu pavimento.
Fig. 70 Escultura no cunhal da Biblioteca Geral, por Leopoldo de Almeida e Antnio Duarte
Fig 71 Projecto de candeeiro para a Praa da Porta Frrea, 1952.
53
as finalidades e os ps-direitos exigidos. 93 O edifcio da Matemtica, com os seus altos 7 andares,
acabou por ser construdo entre 1964 e 69. 94
Em seguida temos a Rua Larga, com cerca de 24 metros de largura e 100 metros de
comprimento, que faz a ligao entre a Praa D. Dinis e a Praa da Porta Frrea. A delimit-la, as
Faculdades de Medicina e de Cincias, a par do Hospital so os maiores edifcios da Cidade
Universitria. Curiosamente, no seguindo a simetria que caracteriza todo o eixo, as fachadas dos
dois blocos que ladeiam a Rua Larga so manifestamente diferentes, sendo obra do mesmo
arquitecto. Do lado direito, a slida e fechada frente de Medicina, do lado esquerdo a mais
recuada e permevel fachada das Cincias. Nesta ltima, a criao da arcaria a todo o
comprimento da Rua, dando-lhe um largo panorama sobre o Mondego, suscitou, na altura
palavras de aplauso, embora infundadas, uma vez que da Rua, s era possvel avistar o corpo sul
do edifcio.
95
Aps a Rua Larga o espao abre-se novamente para uma praa, tendo como pano de fundo o
Pao das Escolas e a Porta Frrea, e dos lados, frente a frente a Biblioteca Geral e a Faculdade de
Letras.
A busca paradoxal por um estilo simultaneamente clssico e moderno, monumental e
funcional, est patente nas memrias dos projectos da Faculdade de Letras e da Biblioteca
Geral, assinados por Alberto Pessoa. 96 A Biblioteca Geral surgiu da transformao da antiga
Faculdade de Letras de Silva Pinto. Oliveira Salazar inclua esta nas imponentes massas que
deveriam sobressair, 97
Ao longo do eixo monumental de salientar a presena de relevos e esttuas, quer nos
edifcios, quer a pontuar as praas, e dos candeeiros, contrastando com a pouca importncia dada
ao elemento vegetal. Quanto ao pavimento, houve vrios projectos de lajeados e calcetados, (na
Praa da Porta Frrea e D. Dinis), mas no fim optou-se por asfaltar.
mas no final acabou por ser um dos blocos menos volumosos.
98
93 Idem p. 602 94 ROSMANINHO, Nuno, outros Evoluo do Espao fsico de Coimbra. 2006. p. 75-76 95 ROSMANINHO, Nuno O Poder da Arte. 2001. p. 602 96 GRANDE, Nuno Coimbra: 3 plos universitrios, 3 faces da arquitectura portuguesa. Rua Larga. (2010), vol. 29. p. 58 97 ROSMANINHO, Nuno O Poder da Arte. 2001. p. 345 98 ROSMANINHO, Nuno O Poder da Arte. 2001. p. 621
54
Fig. 72 Alta Universitria, em que o eixo integrado pela Rua Larga, assume o protagonismo.
Fig. 73 Plano de pormenor da alta universitria de Gonalo Byrne, 1998.
55
7: 2010 A actualidade
Como se sabe, o Plano da CAPOCUC para a alta universitria no foi levado at ao fim, e
aps a concluso em 1975 do ltimo grande edifcio de aulas,99
Contudo, nos ltimos anos, em sequncia do Plano de reconverso da Alta Universitria do
Arq. Gonalo Byrne e da candidatura da Universidade de Coimbra a Patrimnio Mundial da
Unesco, prev-se nos prximos tempos que haja mudanas substanciais no espao correspondente
ao eixo que se analisa, e tambm na Alta em geral.
que hoje alberga os
departamentos de Fsica e Qumica no foram grandes as modificaes at nossa data.
At data, algumas obras dignas de registo foram a repavimentao da Rua Larga e da Praa
da Porta Frrea, que limitou em parte a circulao automvel, em 2000 a concluso do Auditrio
da Faculdade de Direito do Arq. Fernando Tvora, 100
O plano de Gonalo Byrne, com cerca de 15 anos visa a regenerao do espao da Alta, mas
ao longo dos anos muito mudou na realidade da UC e da prpria cidade.
e mais recentemente algumas obras de
recuperao do patrimnio construdo, no Pao das Escolas e em alguns Colgios.
101 Neste plano esto
inseridos projectos como: uma nova Praa D. Dinis com um estacionamento subterrneo, o
CIDUC, que funciona como porta de entrada na Universidade recebendo os turistas, situado
entre a Faculdade de Medicina e o Colgio de S. Jernimo, o arranjo dos espaos verdes na cerca
deste Colgio, salas de estudo e lazer nocturno no ptio de Fisico-Qumica, 102
Quanto ao conjunto do Pao das Escolas, este continua em evoluo. Na viragem do sculo
conclui-se a mais recente adio: o Auditrio da Faculdade de Direito. Revela-se objectual na sua
relao com a envolvente construda e com a topografia, salientando a ideia de acrpole onde se
apoiam objectos soltos. Fernando Tvora, atravs da simplicidade da composio, orientada
a reconverso da
Faculdade de Medicina em espaos habitacionais e comerciais, entre outros.
99 ROSMANINHO, Nuno, outros Evoluo do Espao fsico de Coimbra. 2006. p. 75-76. 100 Fernando Tvora. [Em Linha] actual. 2010. Disponvel em http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_T%C3%A1vora 101 PIARRA, Sofia Prepara-se uma revoluo na Alta Universitria. [Em Linha] 2009. 102 Coimbra, Requalificao da alta universitria, Gonalo Byrne [Em Linha], 2010. Disponvel em: http://www.arquitectura.pt/forum/f29/coimbra-requalifica-da-alta-universit-ria-gon-alo-byrne-14748/
56
Fig. 74 A Rua Larga em 2005.
Fig. 75 Maquete do projecto de Gonalo Byrne, exposio em 2006.
Fig. 76 Praa D. Dinis, imagem do projecto Alta Co(n)vida, do autor e outros colegas de turma.
57
por eixos ortogonais e simetria, concebe um volume moderno, mas em continuidade com a
histria que o rodeia.
Tambm a Alta de Coimbra foi alvo da disciplina de Projecto V, orientada pelo Arquitecto
Byrne no ano lectivo de 2008/09 no Departamento de Arquitectura da FCTUC. No projecto de
grupo Alta Co(n)vida desenvolvido por mim e outros colegas de turma, foi dada especial
importncia aos espaos pblicos, sendo um dos objectivos fundamentais, consolidar formal e
funcionalmente, o eixo constitudo pelas Escadas Monumentais, Praa D. Dinis, Rua Larga e
Praa da Porta Frrea.103 Este e outros projectos foram apresentados na exposio Vises Urbanas
para a Alta de Coimbra em 2009, no Museu Machado de Castro, 104
possibilitando fazer um
debate e colocar questes sobre o futuro deste ncleo da cidade.
103 VILAS BOAS, Rben, NUNES, Tiago, FERNANDES, Patrcia, NEVES, Marina Alta Co(n)vida. 2009. 27 diapositivos : color. 104 dARQ/FCTUC Vises Urbanas para a Alta de Coimbra. (exposio), 2009. Disponvel em http://mnmachadodecastro.imc-ip.pt/pt-PT/exposicoes/jarealizadas/ContentDetail.aspx?id=950
59
A: 1377 A cidade medieval
Planta de cobertura
Planta dos pisos trreos
Planta de funes
Perfis Norte e Sul
65
B: 1678 Os Colgios Universitrios
Planta de cobertura
Planta dos pisos trreos
Planta de funes
Perfis Norte e Sul
71
C: 1799 As reformas e projectos do sculo XVIII
Planta de cobertura
Planta dos pisos trreos
Planta de funes
Perfis Norte e Sul
77
D: 1934 O legado de vrios sculos
Planta de cobertura
Planta dos pisos trreos
Planta de funes
Perfis Norte e Sul
83
E: 1966 O projecto da Cidade Universitria
Planta de cobertura
Planta dos pisos trreos
Planta de funes
Perfis Norte e Sul
89
F: 2010 A actualidade
Planta de cobertura
Planta dos pisos trreos
Planta de funes
Perfis Norte e Sul
95
Concluso
Os documentos grficos so de grande importncia para demonstrar em termos concretos a
evoluo da Rua Larga e da arquitectura que a caracterizou ao longo dos oito sculos abrangidos.
Atravs deles possvel tirar concluses sobre aquilo que foi modelando este eixo e este ncleo da
cidade.
Um dos aspectos essenciais a referir o papel da Universidade. Desde o sculo XIV, que o
ensino universitrio foi aumentando a sua importncia, e foi ele o grande dinamizador e
renovador do espao urbano. Comeou com um edifcio, os Estudos Gerais, em1308 e em1537
apoderou-se do Palcio Real. Ao longo dos sculos XVI e XVII os colgios foram-se
multiplicando at que, j em meados do sculo XX, surgiu uma nova cidade na alta, quase que
exclusivamente universitria. Apesar da importncia do ensino na vida da Rua Larga e da Alta,
hoje em dia verifica-se que a excessiva monofuncionalidade pode trazer aspectos negativos como
congestionamento e sazonalidade, sendo desejvel resgatar algumas das funes que se foram
perdendo.
Outro aspecto que se pode observar, nomeadamente atravs da comparao das plantas das
vrias pocas a natureza e organizao funcional do aglomerado urbano. Um tipo mais orgnico
que poder ter existido no perodo medieval, transforma-se, a partir do Renascimento em
arruamentos tendencialmente ortogonais, sendo a Rua Larga dominante. Com a interveno de
raiz do Estado Novo, o conjunto passa a ser perfeitamente axial.
Mais bvias, mas tambm relevantes, so as consideraes de escala que se podem fazer. Por
exemplo o Pao Real, que por muito tempo foi um dos maiores edifcios, actualmente no se
consegue destacar dos imensos blocos de faculdades. Um tambm forte aumento de escala se
podia ter concretizado atravs dos edifcios projectados no sculo XVIII.
Como se referiu na introduo, a Rua Larga um caso especial, tendo em conta toda a sua
existncia. Com a elaborao dos desenhos foi possvel fazer quase que uma sntese da
arquitectura da cidade. Comeou-se pela arquitectura romana, passando pela islmica, gtica,
renascentista e barroca at neoclssica, fascista e moderna.
96
Fig. 77 Miniatura das plantas de funes da Rua Larga. De cima para baixo: 1377, 1934, 2010. Em
tons alaranjados, habitao e comrcio. Em azul, ensino e outros servios.
97
Tendo em conta o carcter de recolha, exposio e sntese que o trabalho evidencia, este pode
vir a ser o ponto de partida para outras investigaes. Sabendo que ainda h muita informao
por descobrir, principalmente relativa aos tempos mais antigos, ser possvel rectificar ou
pormenorizar as reconstituies que aqui foram feitas.
99
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105
Fontes das imagens
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Fig. 1 - http://en.wikipedia.org/wiki/File:Broad_Street,_Oxford.jpg
Fig. 2 - http://www.alerj.rj.gov.br/livro/pag_29.htm
Fig. 3 - http://imagemcognitiva.blogspot.com/2007/10/blog-post_15.html
Fig. 4 e 5 - imagens do autor
Fig. 6 - ALARCO, Jorge Coimbra: a montagem do cenrio urbano. 2008. p.65
Fig. 7 - PIMENTEL, Antnio Filipe A Morada da Sabedoria. 2005. p.161
Fig. 8 - ROSMANINHO, Nuno, outros Evoluo do Espao fsico de Coimbra. 2006. p.132
Fig. 9 - ALARCO, Jorge Coimbra: a montagem do cenrio urbano. 2008. p.8
Fig. 10 - Ibidem p.196
Fig. 11 - ALARCO, Jorge Coimbra: a montagem do cenrio urbano. 2008. p.198
Fig. 12 - PIMENTEL, Antnio Filipe A Morada da Sabedoria. 2005. p.282
Fig. 13 - Ibidem p.283
Fig. 14 - http://ccscoimbra.blogspot.com/2009/01/o-departamento-de-cultura-promove.html
Fig. 15 - ALARCO, Jorge Coimbra: a montagem do cenrio urbano. 2008. p.65
Fig. 16 - disponvel a partir de http:www.cm-coimbra.pt/ndex.php?option=com_content&task
=view&id=190&Itemid=468
Fig. 17 - ALARCO, Jorge Coimbra: a montagem do cenrio urbano. 2008. p.85
Fig. 18 - TRINDADE, Lusa A Casa Corrente em Coimbra. 2002. p.76
Fig. 19 - ALARCO, Jorge Coimbra: a montagem do cenrio urbano. 2008. p.16
Fig. 20 - Associao dos Antigos Estudantes de Coimbra A Velha Alta... desaparecida. 1991. p.37
Fig. 21 - PIMENTEL, Antnio Filipe A Morada da Sabedoria. 2005. p.479
Fig. 22 - Fotografia do autor, 2010
Fig. 23 - ALARCO, Jorge Coimbra: a montagem do cenrio urbano. 2008. p.8
Fig. 24 e 25 - Coleco do Museu Nacional Machado de Castro
Fig. 26 - LOBO, Rui Pedro Os Colgios de Jesus, das Artes e de S. Jernimo. 1999. p.63 e 65
Fig. 27 - Ibidem p.64
Fig. 28 - VASCONCELOS, Antnio de Os Colgios Universitrios de Coimbra. 1938. p.103
Fig. 29 - Associao dos Antigos Estudantes de Coimbra A Velha Alta... desaparecida. 1991. p.10
Fig. 30 - ROSSA, Walter Divercidade 2001. p.813
Fig. 31 - Fotografia do autor, 2009
106
Fig. 32 - http://bloguecentelha.blogspot.com/2007/12/o-governo-civil-desaparecido.html
Fig. 33 - VASCONCELOS, Antnio de Os Colgios Universitrios de Coimbra. 1938. p.79
Fig. 34 - http://guitarradecoimbra.blogspot.com/2007/03/priso-acadmica-fachada-principal-do.html
Fig. 35 - LOBO, Rui Pedro Os colgios universitrios de Coimbra. Monumentos. (2006), vol. 25.
p.41
Fig. 36 - Associao dos Antigos Estudantes de Coimbra A Velha Alta... desaparecida. 1991. p.66
Fig. 37 - Documento digital cedido pelo Prof. Carlos Martins, Arquivo da FBNRJ
Fig. 38 e 39 - http://www.monumentos.pt/Monumentos/forms/002_B2.aspx?CoHa=2_B1
Fig. 40 - a partir de FRANCO, Matilde Riscos das Obras da Universidade de Coimbra. 1983. p.45
Fig. 41 - FRANCO, Matilde Riscos das Obras da Universidade de Coimbra. 1983. p.43
Fig. 42 - http://mnmachadodecastro.imc-ip.pt/pt-PT/coleccoes/Desenho/ContentDetail.aspx?id=115
Fig. 43 - https://bdigital.sib.uc.pt/bg6/UCBG-MS-3377-5/UCBG-MS-3377-5_item1/UCBG-MS-
3377-5_JPG/UCBG-MS-3377-5_JPG_24-C-R0120/UCBG-MS-3377-5_0001_1_t24-C-R0120.jpg
Fig. 44 e 45 - Coleco do Museu Nacional Machado de Castro
Fig. 46 - Associao dos Antigos Estudantes de Coimbra A Velha Alta... desaparecida. 1991. p.34
Fig. 47 ROSMANINHO, Nuno O Poder da Arte, 2001. p.IV-27
Fig. 48 Imagoteca da Casa Municipal da Cultura, Coimbra
Fig. 49 - http://www1.ci.uc.pt/illp/historico/index.html
Fig. 50 - LOBO, Rui Pedro Os colgios universitrios de Coimbra. Monumentos. (2006), vol. 25.
p.124
Fig. 51 - HOUART, outros Cem anos de Antropologia em Coimbra. 1985. p.98
Fig. 52 - Ibidem p.130
Fig. 53 - Associao dos Antigos Estudantes de Coimbra A Velha Alta... desaparecida. 1991. p.40
Fig. 54 - Ibidem p.32
Fig. 55 - Documento digital possudo pelo dARQ, FCTUC
Fig. 56 - Imagoteca da Casa Municipal da Cultura, Coimbra
Fig. 57 - Associao dos Antigos Estudantes de Coimbra A Velha Alta... desaparecida. 1991. p.44
Fig. 58 - Ibidem p.38
Fig. 59 - Ibidem p.5
Fig. 60 - Ibidem p.48
Fig. 61 - http://www.monumentos.pt/Monumentos/forms/002_B2.aspx?CoHa=2_
Fig. 62 - Associao dos Antigos Estudantes de Coimbra A Velha Alta... desaparecida. 1991. p.53
Fig. 63 - B1http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=368636
107
Fig. 64 - Documento digital cedido pela Prof. Ctia Marques, Arquivo da Universidade
Fig. 65 - Associao dos Antigos Estudantes de Coimbra A Velha Alta... desaparecida. 1991. p.49
Fig. 66 - Documento digital cedido pela Prof. Ctia Marques, Arquivo da Universidade
Fig. 67 - http://4.bp.blogspot.com/_LPKiUIBcZPE/R0hWSuv3CII/AAAAAAAAE_4/10vamVWBCi
M/s1600-h/Cidade+Universitaria+ANunes.jpg
Fig. 68 - ROSMANINHO, Nuno O Poder da Arte, 2001. p.III-25
Fig. 69 - Ibidem p.VI-3
Fig. 70 - Fotografia do autor, 2010
Fig. 71 - ROSMANINHO, Nuno O Poder da Arte, 2001. p.VI-30
Fig. 72 - JORGE, Filipe, BANDEIRINHA, Jos Antnio Coimbra vista do Cu. 2003. capa
Fig. 73 - Documento possudo pelo autor, autoria de Gonalo Byrne
Fig. 74 - http://en.wikipedia.org/wiki/File:Rua_Larga_at_Coimbra_University.jpg
Fig. 75 - http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=401918&page=2
Fig. 76 - Projecto Alta Co(n)vida do autor e outros colegas de turma, 2008/09
Fig. 77 - imagem do autor
109
ndice
Aeminium 10,11,12
Alarco, Jorge 3,9,16,19,21
Alberto Pessoa 53,86,88,92,94
Alcova 5,11,12,13,21,62,64
Antonio Canevari 35,74,76
Aq. de S. Sebastio 23,29,31,68,70,80,82
Biblioteca Geral 53,86,88,92,94
Biblioteca Joanina 34,35,74,92
Byrne, Gonalo 54,55,56
CAPOCUC I,49,51,55
Casas medievais 21,22,23,63,64
Castelo 5,11,13,16,17,33,62,64,68,70
Cidade Universitria 9,48,49,50,85,91
Colgio Real de So Paulo 26,27,68,70
C. de S. Paulo (Azzolini) 38,39,74,76
C. de S. Paulo Eremita 38,39,43,74,76,82
C. de S. Pedro 27,68,80,92
C. de S. Bento 28,29,31,68,70,74,76,80,82
C. de S. Boaventura 30,31,43,68,70
C. de S. Jernimo 27,28,41,68,70,80,92
C. de S. Joo Evangelista 29,31,43,68,80
Cottinelli Telmo 49,51,86,88,92,94
Cristino da Silva 49,51
D. Afonso Henriques 17
D. Afonso IV 7,19
D. Dinis 15,19
D. Fernando 17,19
D. Joo III 15,25,27
D. Manuel I 25
D. Sancho I 17
Diogo de Castilho 27
Escadas de Minerva 35,74,76,92,94
Escadas do Liceu 47,80,82
Escadas Monumentais 50,51,86,92
Estado Novo 9,49
Praa D. Dinis 50,51,85,91
Estudos Gerais 7,17,19,62,64
Faculdade de Cincias 53,86,88,92,94
F. Letras (Alberto Pessoa) 53,86,88,92,94
F. Letras (Silva Pinto) 40,41,80,82
F. Matemtica 51,53,86,88,92,94
F. Medicina 51,53,86,88,92,94
Idade Mdia 3,11,17
Instituto de Antropologia 42,43,80,82
Lobo, Rui I,28,31
Lucnio Guia da Cruz 51,86,88,92,94
Marcos Pires 25,68,70
Monumento a Cames 46,47,80,82
O. Astronmico (Elsden) 34,36,37,74,76
O. Astronomico (Macomboa) 36,37,74,82
Pao Real 3,13