A SELEÇÃO DE CANDIDATURAS NO DEM, PMDB, PSDB E PT NAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS FEDERAIS BRASILEIRAS DE 2010: PERCEPÇÕES DOS CANDIDATOS SOBRE A FORMAÇÃO DAS LISTAS

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    RESUMO

    A SELEO DE CANDIDATURAS NO DEM, PMDB, PSDBE PT NAS ELEIES LEGISLATIVAS FEDERAIS

    BRASILEIRAS DE 2010:PERCEPES DOS CANDIDATOS SOBREA FORMAO DAS LISTAS1

    Bruno Bolognesi

    DOSSIS

    Este trabalho tem por objetivo realizar uma anlise do processo de escolha de candidaturas nos quatro maiores

    partidos brasileiros (DEM, PMDB, PSDB e PT), levando em conta a percepo dos candidatos sobre tal processo uma perspectiva ainda pouco abordada no Brasil. A partir desta anlise, estabeleceram-se critrios empricos paraa mensurao da democracia interna nos partidos polticos. Para tanto, aplicamos um survey a 120 candidatos deputado federal nas eleies de 2010. O marco de anlise utilizado foi o proposto por Freidenberg (2003) para adefinio e mensurao de democracia interna e Hazan e Rahat (2010) para o processo de seleo de candidatos. Ahiptese que selees mais inclusivas e realizadas por meio de votao produzem partidos mais democrticos. Osresultados apontam que partidos com participao de instncias organizativas mdias (como delegados) e quemobilizam o voto para a tomada de deciso nem sempre apresentam melhores ndices de representatividade.

    PALAVRAS-CHAVE:seleo de candidatos; democracia interna; partidos polticos; recrutamento poltico, eleies.

    I. INTRODUO

    Para Prewitt (1970) o recrutamento pode serentendido como a metfora da caixa chinesa: notradicional artefato oriental, as caixas menores socolocadas dentro das maiores, at que o ajuste da ltimadeixe o mnimo de espao possvel. Da mesma forma,a partir de uma populao dispersa, um processo lentoe contnuo estreitaria os caminhos de acesso ao poder.De um grande nmero de elegveis, surgem osinteressados e, em seguida, os politicamente ativos,dos quais somente alguns poucos sero eleitos.Czudnowski (1975) argumenta na mesma linha, ao

    entender que o recrutamento poltico envolve diferentesetapas que podem ter seu incio nos estgios primriosde socializao at culminar com a ocupao de umposto poltico formal. Contudo, diferentemente dasanlises de recrutamento legislativo2que entendem aformao de elites polticas como um todo, o estudo

    de seleo de candidatos tem privilegiado duas

    instncias, sendo a primeira o tempodo processo e asegunda o localonde ocorre.

    Como colocam Rahat e Hazan (2001), a seleo decandidatos se refere ao momento particular no qual osindivduos abandonam sua condio de qualificadospoliticamente e passam a integrar um grupo especficode candidatos responsveis por representareleitoralmente suas filiaes. Ou seja: a dimenso tempo(no sentido de trajetria de vida) crucial na medidaem que oferece o ponto exato em que aspirantespassam a integrar um corpo poltica e legalmente

    habilitado para disputar eleies. A segunda dimenso,a do local, se refere noo de partidos polticos comoinstituies singulares e detentoras legtimas do controlesobre a representao poltica (BRAGA, 2008).

    O ponto de partida aqui que a seleo de candidatos um processo privilegiado para entender o modo comoos partidos polticos elaboram a disputa pelo poder.Essa disputa tem importantes conseqncias para osregimes democrticos e para os partidos polticostomados como organizaes que atuam tanto na arenalegislativa, quanto na eleitoral (RAHAT, 2009). Aseleo de candidatos o modo pelo qual podemos

    ver quem recrutado (GALLAGHER & MARSH, 1988)e que permite observar como ocorre a dinmica intra-

    Rev. Sociol. Polt., Curitiba, v.21, n.46, p. 45-68, jun. 2013Recebido em 15 de dezembro de 2012.Aprovado em 21 de janeiro de 2013.

    1 Este artigo fruto dos terceiro e quarto captulos da tese dedoutorado que apresentamos no programa de ps-graduao emCincia Poltica da Universidade Federal de So Carlos.

    2 importante frisar que a diferena que os estudos de recru-

    tamento esto mais ligados a traos comparativos entre elites epopulaes mais gerais, enquanto que os estudos de seleo decandidatos se voltam para anlises institucionalistas.

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    partidria e os conflitos internos (WARE, 1996). Almdisso, serve como um elemento fundamental paraavaliarmos a democracia em si, j que neste regimeespera-se que suas instituies sejam tambm dotadasinternamente de prticas democrticas (BILLIE, 2001;

    FREIDENBERG, 2003).A seleo de candidatos apontada como uma

    funo central dos partidos polticos, seno como apr inc ipal funo dese mpenha da po r el es .Schattsschneider (1942) chega a afirmar que quemcontrola o processo de seleo de candidatos se tornao dono do partido. Porm, a maior parte dostrabalhos que descrevem a seleo de candidatos comofundamental refere-se usualmente s conseqnciasexternas que dele podem resultar a fim de justificarsua relevncia. Billie (2001) mostra que a participaono processo de seleo de candidatos pode servir comoum indicador para compreender o quo representativasso as instituies polticas de um dado pas. Cross(2008) sugere que a seleo de candidatos o principalfiltro em operao nos partidos e determina na maiorparte a oferta de futuros representantes. Outrosestudos, essencialmente Rahat, Hazan e Katz (2008) eHazan e Rahat (2010), apontam que a seleo decandidatos tem tambm importantes conseqnciaspa ra a vida in te rna dos pa rt idos pol ti cos,incrementando ou diminuindo nveis de accountability,participao e competio. Por fim, Hazan e Rahat

    (2007) e Koop e Bittner (2011) mostram que a seleode candidatos tem impacto no somente para ospartidos tomados como unidades de anlise, mastambm no comportamento dos eleitos e conformaodas bancadas parlamentares.

    Em linhas gerais, a seleo de candidatos afetadiversas esferas da vida poltica nas democraciasrepresentativas. Porm, operacionalmente, a seleode candidatos tem sido mobilizada como indicadorempiricamente vivel para avaliarmos diferentes grausde democracia interna nos partidos polticos. Issoocorre, em grande parte, pela escassez de estudos

    sobre seleo de candidatos fora da Europa e EstadosUnidos, que ainda maior no campo das investigaesque conseguem relacionar empiricamente este processocom comportamentos polticos.

    justamente sob este ltimo aspecto operacionalque centraremos nossa anlise. Saber em que medidaos partidos so mais ou menos democrticos aoescolherem seus candidatos pode ser um bomindicativo de como se do as relaes de poder nointerior do partido. Por um lado, Freidenberg (2003)afirma que os nveis de democracia interna dos partidos

    po l ti cos podem se r efei tos do pr ocesso deinstitucionalizao partidria. A adoo de prticasregulares e da participao de membros do partido de

    forma transparente serviria como referencial para aconduta dos atores partidrios. Institucionalizao,entendida como rotinizao de procedimentos, poderiade fato aumentar os graus de previsibilidade dos atores.Por outro lado, no possvel estabelecer nenhuma

    associao a priorientre institucionalizao partidriae seleo de candidatos. preciso verificarempiricamente se a relao institucionalizao - seleode candidatos - democracia interna encontra apoio nasevidncias empricas. Um partido que adote oclientelismo como procedimento universal a ponto deinstitucionaliz-lo pode no contar com bonsindicadores de democracia em seu interior(DESPOSATO, 2006; LEVITSKY, 2009).

    Ao mesmo tempo, a democracia interna dospartidos polticos pode ser entendida como umaconseqncia da seleo de candidatos. Por exemplo:quando o processo recruta parcelas mais diversas dasociedade ou conta com a entrada de minorias,aumentando nveis de representatividade. A inserode setores diversos da sociedade poderia ser encaradacomo aumento dos nveis de democracia quanto aoseu contedo. Por outro lado, podemos encarar aseleo de candidatos como mais ou menosdemocrtica quanto aos procedimentos mobilizadospara a tomada de deciso: selees realizadas porsistemas de votao ou indicao poderiam caracterizaropostos entre mais ou menos democrticos. O

    envolvimento dos membros e eleitores no processopoderia ser outro elemento procedimental para entenderos nveis de inclusividade e democracia.

    Entretanto, a seleo de candidatos apenas umindicador possvel para mensurarmos democraciainterna. Podemos imaginar que um partido tenha umavanado sistema de votao para determinar acomposio de suas listas eleitorais, mas o lder quemtoma as decises mais importantes do partido, taiscomo distribuio de recursos de campanha(FREIDENBERG, 2006). O que sustentamos que aseleo de candidatos pode ser um sinal que,

    comparativamente, indica quais os partidos maisdemocrticos. Ou seja, este um indicador relativo eno absoluto sobre democracia interna.

    Este artigo apresenta dados referentes aosprocessos de seleo de candidatos conduzidos peloPT, DEM, PSDB e PMDB3durante as eleies paraDeputado Federal em 20104. A partir de um survey

    3 A escolha destes partidos se deve basicamente a trs fatores:i) so celebrados na literatura como os quatro maiores partidos

    do Brasil (VEIGA, 2007); ii) so os partidos que mais lanamcandidatos desde as eleies de 1996 (BRAGA; VEIGA;MIRIADE, 2009); iii) so os quatro partidos que conseguiram

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    aplicado aos candidatos dos quatro partidos, mapeamosas percepes destes quando foram escolhidos paracomporem as listas eleitorais naquele ano. importantesalientar que, como lembram Hazan e Rahat (2010), apesquisa sobre seleo de candidatos deve centrar-se

    num ponto especfico do tempo e deve ter o partidopoltico como unidade de anlise5. Fazemos umacomparao entre as diferenas e similitudes entre osquatro partidos que mais lanam candidatos a deputadofederal no Brasil6, sabendo que esses partidos partilhamde um aparato institucional-legal equivalente, e queoperam num mesmo sistema eleitoral e partidrio coma disputa de um eleitorado comum. Outros estudosevidenciam que a comparao ao longo do tempo podeser til para compreender processos de (des)democratizao e outros movimentos internos dopartido (HAZAN & RAHAT, 2010). Assim, o objetivo

    central realizar uma comparao entre os partidos, apartir do processo de seleo de candidatos, a fim deestabelecer um gradiente de democracia interna nospartidos no ano em questo.

    A hiptese que sustenta esse trabalho, a partir deFreidenberg (2003), que a natureza da seleo decandidatos, sua direo e foco, afetam tambm os nveisde democracia dos partidos. A seleo de candidatos, portanto, a varivel independente7. Assim,analisaremos a democracia interna dos processos deseleo tendo em vista dois componentes: i) os

    processos de seleo de candidatos em si, em termosde quo centralizados e inclusivos eles so; ii) as

    conseqncias do processo de seleo, o nvel derepresentatividade dos outputsresultantes, bem comoquestionar em que medida esse um critrio vlidopara mensurar democracia no interior dos partidos.

    O artigo est dividido em trs grandes partes, que

    se apresentam aps esta introduo, da seguinte forma:a segunda seo do texto traz o debate de como aseleo de candidatos pode servir como um indicadorempiricamente vivel para mensurarmos nveis dedemocracia no interior dos partidos polticos. Emseguida, nas sees 3, 4 e 5, apresentamos os dadosobtidos com o survey,mantendo o foco na questointerna da seleo de candidatos a partir de quatrodimenses que compem selees mais ou menosdemocrticas: requisitos de inclusividade para acandidatura; inclusividade doselectorate; centralizaoe forma de escolha - por votao ou indicao.

    Por fim, as concluses apontam as conseqnciasdas selees de candidatos, as limitaes do uso dessavarivel como critrio nico e sugere uma agenda depesquisa que a leve em conta como um campopromissor para anlise organizacional dos partidospolticos.

    II. SELEO DE CANDIDATOS E DEMOCRACIAINTERNA NOS PARTIDOS POLTICOS.

    consenso na literatura que uma das principaisfunes dos partidos polticos escolher candidatos

    que iro disputar as eleies e representar o partidonos parlamentos8. A importncia de se estudar comoos candidatos chegam at a lista final de nomes sedeve ao fato de que a seleo de candidatos determinaem larga escala a distribuio de poder no interior dopartido (FREIDENBERG, 2003). Quem controla aseleo de candidatos, controla o corao do partido(RANNEY, 1965) e este processo o principal canalpelo qual a sociedade acessa e se converte em elitepoltica (KATZ, 2001). Sobre isso, Gallagher e Marsh(1988) mostram que os processos de nominao decandidatos eliminam 99,96% dos possveis elegveis,

    restando para o crivo do voto apenas 0,04%. Ou seja, na seleo de candidatos que se determina em largamedida qual ser o perfil dos eleitos e quais sero aspolticas pblicas que o partido defender ao longodos mandatos. Desse ltimo ponto de vista, seleesde candidatos mais democrticas deveriam produzirlegislaturas mais representativas, incrementando no

    nas ltimas eleies conquistar, cada um, mais de 10% dos votosdo eleitorado (BRAGA & BOURDOUKAN, 2007).

    4 A fonte dos dados a pesquisa Como se faz um deputado: aseleo de candidatos para Deputado Federal nas Eleies de2010, da qual participaram as seguintes universidades: UFSCar,UFPR, UFS, PUC-RS, UFPA. Foram 120 candidatos deputa-do federal do Paran, So Paulo, Sergipe, Par e Rio Grande doSul que responderam este survey respeitando a proporo de

    candidatos total de cada estado. A amostra representativa paraos quatro partidos analisados, contando com um n mnimo de30 questionrios para cada um, porm no representativa parao Brasil tomado como um todo. O n da amostra deve ser enca-rado como um estudo de caso, o que no nos permiteextrapolaes estatsticas para toda a populao de candidatosnas eleies legislativas para a Cmara Federal em 2010.

    5 importante realizar a distino de que mesmo que a unidadede observaosejam os candidatos dos partidos tomados indi-vidualmente, eles refletem o comportamento do partido polticocomo um todo, tomado ento como unidade de anlise.

    6 Cf. BRAGA & BOLOGNESI (2013).

    7 Mesmo tratada deste modo, propomos algumas explicaespara as diferenas entre os mtodos de seleo de candidatosutilizados pelos partidos ao longo do texto.

    8Uma srie de autores enfatiza que a seleo se tornou cada vezmais importante na medida em que os partidos polticos se dife-rem de outras instituies pelo seu objetivo intrnseco de dispu-

    tar espaos de poder (BILLIE, 2001; FREIDENBERG, 2003;SCHATTSCHNEIDER, 1942; PANEBIANCO, 2005; entreoutros).

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    s a forma com que se conduz o regime, mas tambmo contedo das democracias9.

    Contudo, o que , afinal, democracia interna? Ouso cotidiano deste termo pode levar a confusesconceituais e anlises enfraquecidas ao nos depararmos

    com altos nveis de suposta inclusividade e participao.O movimento dos partidos polticos em clamar porsuas bases em momentos de crise organizativa ouenvolvimentos em escndalos de corrupo, comoapontam Pennings e Hazan (2001), pode refletir-se nummaior controle das elites partidrias sobre as zonas deincerteza dos partidos do em maior democratizao defato. Para cumprir um escrutnio mais completo decritrios que no se restrinjam incluso de novosatores, Freidenberg (2009) define que democraciainterna est associada a trs indicadores: i) a seleode candidatos aos cargos eletivos e partidrios; ii)participao de minorias e setores sub representadosno processo de definio programtica do partido e;iii) prestao de contas dos eleitos do partido aosfiliados. A seleo de candidatos, segundo a autora,merece destaque, j que o processo chave paradeterminarmos nveis de democracia interna. J osoutros dois so parte e conseqncia, respectivamente,do primeiro.

    Como anunciam Hazan e Rahat (2010), no apenasincluindo novos atores no processo de seleo decandidatos que nveis de democracia so aumentados.

    Alm da ampliao da participao (ou seja, dainclusividade), a forma como os novos membrosatuam, por votao ou indicao, reflete tambmindicadores fundamentais para que a democracia internaganhe corpo no interior das agremiaes polticas.Porm, a combinao entre estas duas dimenses podelevar a enganos ao classificarmos os partidos: Rahat(2009) e Katz (2001) sugerem que a incluso de umgrande nmero de filiados ou a abertura da seleo decandidatos na forma de primrias tende a aumentar oespao de manobra das elites partidrias, diluindo o

    poder de instncias intermedirias do partido numamassa de votantes que acaba por somente homologardecises consertadas por elites polticas10. Ou seja,apenas o incremento da participao poltica pode noser exatamente um aumento da democracia nos

    partidos11

    .Por outro lado, do ponto de vista do arranjo

    organizativo, um aumento na participao e nainclusividade de quem seleciona os candidatos seriasuficiente para mensurarmos democracia interna nospartidos. O debate com os defensores da democraciacomo contedo - supondo que o aumento darepresentatividade ou da pluralidade social nos partidos um indicador vlido - conclui que a mensurao dedemocracia interna dependente destes contedos,quando na verdade o inverso o que ocorre. No possvel tomar uma conseqncia de um procedimento,(por exemplo, a seleo de candidatos) como indicadorpara classific-lo.

    A democracia interna s pode ser entendida doponto de vista procedimental do conceito: dizer quemais mulheres compem a lista final de candidatos epor isso a seleo foi mais democrtica tomar aconseqncia pela causa, j que todos os processospolt icos contam com certa dose de incert eza(FREIDENBERG, 2009). Isso no quer dizer que nodevamos direcionar nossos esforos para asconseqncias do processo de seleo de candidatos.

    Somente ao entender a relao entre seleo e os seusefeitos que podemos diagnosticar quais os problemasque podem ser compreendidos, resolvidos oumelhorados (FREIDENBERG, 2002).

    Na tentat iva de cr ia r um equi lbr io en tr einclusividade e democracia, Hazan e Voerman (2006)mostram que processos que descentralizamradicalmente e aumentam severamente a participaoda escolha de candidatos tendem a produzir fenmenosclientelsticos, candidatos personalistas e pouco leaisaos seus partidos. De modo diverso ao da proposta

    inicial de Flvia Freidenberg, optamos por classificarcomo mais democrticas aquelas selees nas quais9As transformaes ocorridas recentemente nos partidos euro-peus mostraram uma tendncia em democratizar procedimentosinternos de tomada de deciso e de escolha de lderes como umapossvel resposta a crises eleitorais e de legitimidade dos parti-dos polticos frente ao eleitorado cada vez mais midiatizado emenos envolvido com o cotidiano partidrio (PENNINGS &HAZAN, 2001). Esse movimento produziu conseqncias tam-bm na Amrica Latina, onde muitos partidos reformaram suasformas de eleies internas e ampliaram a participao dosfiliados nas decises importantes dos partidos (FREIDENBERG,2003). Tal quadro de mudanas abriu fronteira para a avaliaodos nveis de democracia interna nos partidos, tomando por

    conta a proposio de Mainwaring e Scully (1997) que, parasistemas partidrios estveis e democrticos, preciso que exis-tam dentro destes partidos de mesma natureza.

    10 Alm disso, Barnea e Rahat (2007) mostram que fatoresexternos como a insero de um novo partido no sistema eleito-ral, mudanas na estrutura de relaes sociais ou nas dinmicasinternas dos partidos polticos, podem determinar a escolha pordemocratizar o processo de seleo de candidatos.

    11 Freidenberg (2009, p. 290) mostra evidncias de que a aber-tura de processos de seleo para primrias em uma srie departidos latino-americanos no levou a uma melhora imediata na

    qualidade dos representantes eleitos, dando flego emprico tese de que o incremento na participao e na incluso deve sertambm qualificado.

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    predominam instncias intermedirias do partido,como delegados ou colgios de membros com poderde barganha poltica. Essa opo segue a mesma linhaapresentada por Hopkin (2001) que afirma queprocessos de seleo muito inclusivos (como as

    primrias) tendem a diminuir o poder barganha dosparticipantes em relao aos lderes. O aumentodesqualificado de quem seleciona os candidatos criaum ambiente no qual, por um lado, aumentam-se aspossibilidades de o eleito no saber a quem se dirigirpara prestar contas, ou que, por outro, o selecionadovenha a corresponder mdia da preferncia dosselecionadores, o que limita as probabilidades deaumento da representao de minorias - sem falar noaumento de custos monetrios e polticos que seleesrealizadas por primrias acarretam.

    Conseqentemente, o procedimento metodolgicoadotado aqui visa que, atravs da seleo de candidatos,possamos estabelecer indicadores mensurveis paranveis de democracia interna nos quatro grandespartidos brasileiros, tendo em vista os critrios acimaapresentados quanto aosprocedimentosna tomada dedeciso. A hiptese de trabalho que testamos dadapor Freidenberg (2006): ser mais democrtico o partidoque apresenta processo de seleo de candidatos maisinclusivo, com a participao de um maior nmero deatores (desde que empoderados pela organizaopa rt idr ia ) e quando o pr ocesso for mais

    descentralizado. Por outro lado, processos de seleolevados a cabo por um nmero muito restrito de atores(como um nico lder) e mais centralizados so menosdemocrticos.

    Quanto inclusividade, a literatura no faz objeoe no nos parece razovel fazer. Contudo, adescentralizao do processo de seleo de candidatosno est necessariamente aliada democratizao. Billie(2001) frisa que apenas o processo de descentralizaono suficiente para classificar um partido ou umprocesso de seleo como mais democrtico. Podemosimaginar que processos altamente descentralizados,

    realizados em instncias locais do partido, sejamconduzidos por uma liderana nica local, o que ferefrontalmente a inclusividade. Ou seja, essas duasdimenses inclusividade e descentralizao - nodevem ser sobrepostas. Assim, o foco para oestabelecimento de processos que apresentemdemocracia interna deve estar mais preocupado coma inclusividade de candidaturas e de quem escolhe oscandidatos12.

    No Brasil, os estudos de seleo de candidatos somuito recentes (LVARES, 2008; BRAGA, 2008; 2009;ARAJO & BORGES, 2012; PERISSINOTTO &BOLOGNESI, 2009; BRAGA & BOLOGNESI, 2013).Os estudos que levantaram algumas hipteses derivadas

    do arranjo institucional do pas, como Mainwaring(1991), Mainwaring e Scully (1997), Samuels (2008),chegaram a concluses muito focadas ou nocomportamento legislativo dos candidatos eleitos, ounuma suposta inexistncia de controle por parte dospartidos polticos. Braga (2008, 2009) mostrou que acombinao entre sistemas eleitoral proporcional delista aberta com federalismo, sistema presidencial comfoco no executivo e multipartidarismo no acarretamem imediato descontrole dos partidos polticos sobrea representao. Pelo contrrio, os partidos desfrutamde mecanismos institucionais que atestam seu controle

    sobre a formao das listas eleitorais.Tal como evidenciado por Samuels (2008), o

    principal problema evidenciado na anlise da seleode candidatos - tanto pelos seus determinantes (oarranjo partidrio-eleitoral) quanto por suasconseqncias (o comportamento legislativo) - queno foi conduzido nenhum estudo que o analise nointerior dos partidos, que onde tais processos ocorremde fato. Mesmo que aceitemos o que no o caso a hiptese de Hazan e Rahat (2007) do determinismoda seleo de candidatos para o comportamento

    legislativo, em nenhum momento Samuels traz umadiscusso de como so formadas as listas no interiordos partidos. A suposio do carreirismo e ambioprogressiva como explicao para altos nveis depersonalismo13e individualismo dos candidatos estfocada essencialmente na esfera dos eleitos e no emestudos realizados com perdedores e vencedoresanterior ao crivo das urnas.

    Evitando incorrer no mesmo erro, apresentamosaqui uma anlise da seleo de candidatos a partir doframework proposto por Hazan e Rahat (2010). Osautores israelenses tm diversas publicaes sobre o

    12A democracia interna dos partidos poderia ser questionada se

    encontramos partidos onde a total ausncia de controle do pro-cesso de nominao fosse constatada. Partidos que no selecio-nam efetivamente seus candidatos, permitindo que qualquer in-

    teressado se lance como tal, como colocam Siavelis e Morgenstern(2009) e Koop e Bittner (2011), no podem contar com nveisde democracia interna. Os candidatos auto-selecionados so in-dicadores de que o partido no exerce nenhum tipo de atividadeque os leve at a lista. Segundo Samuels (2008, p. 85), a seleodos candidatos neste tipo de partido estaria nas mos do pr-prio candidato.

    13 preciso lembrar que para o autor, o PT no se encaixa nestepadro. Porm chega a este concluso pelos mesmos caminhosque levam a concluir que os outros partidos so personalistas e

    no controlam a nominao de candidatos, pelo comportamentolegislativo e no pela seleo em si. Configura aqui um errolgico de tomar a conseqncia pela causa.

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    tema, incluindo uma simplificao do modelo de anlisepublicado em forma de art igo em 2001. Porm,entendemos que o texto de 2010 traz uma viso maiscompleta e aperfeioada para estudarmos a seleo decandidatos. Assim, a seleo de candidatos ser

    analisada descritivamenteaqui tendo em vista as quatrodimenses propostas pelos autores.

    A primeira dela se refere inclusividade dosrequisitospara candidatura. A imposio de requisitosformais e informais revela o quo inclusivo o partidono que tange s oportunidades para insero decandidatos. Quanto mais inclusivo nesta dimenso, maisdemocrtico o partido. A segunda refere-se inclusividade do selectorate. Feita a ressalva daintensidade de participao dos filiados e a distnciaem relao destes elite do partido, quanto maior oenvolvimento de atores intermedirios na seleo(como delegados de partido), mais democrtico opa rt ido. No se nt ido opos to , quanto maio r oenvolvimento de lderes ou predomnio de um ldernico na seleo, menos democrtico seria. A terceiradimenso se refere descentralizao do processo.Como dissemos antes, essa dimenso no encontrarelao ntima com a democracia interna dos partidospolticos. Contudo, entendemos que a descentralizaoorganizativa, quando os partidos mobilizam diversasinstncias para selecionar seus candidatos, revela umimportante trao de fortalecimento da mquina

    organizativa. Por fim, avaliamos asformas de escolhados candidatos. Candidatos escolhidos por sistemasde votao aproximam os partidos de modelos vistoscomo democrticos, haja vista que votaes sempresupem a participao de um nmero razovel depessoas, mesmo que sejam grupos de lideranas. Poroutro lado, sistemas de indicao reforam prticasclientelsticas e tendem a ligar o candidato s pessoasque tomam a deciso.

    III. QUEM PODE SER CANDIDATO: REQUISITOSFORMAIS E INFORMAIS NOS PARTIDOSPOLTICOS

    Conforme o modelo apresentado, a primeira varivela ser examinada a restrio que regras formais einformais podem impor para que o cidado comumadentre na arena eleitoral. Hazan e Rahat (2010) eGallagher e Marsh (1988) colocam este elemento comopossvel responsvel por eliminar a maior parte dosaspirantes a candidatos. A partir de um continuumquevai da inclusividade excluso, os autores posicionamno plo mais inclusivo a possibilidade que todo cidadocumpra os requisitos necessrios para ser candidato.No extremo opos to encont ramos uma srie de

    restries que podem ser legais e partidrias, formaisou informais.

    A formalidade do processo tem, na maior parte dasvezes, pouco peso para barrar os candidatos. Mesmoem pases onde a legislao mais especfica (comono caso dos EUA) usualmente s se impem restriesquanto idade e a naturalidade do aspirante. As barreiras

    legais no caso brasileiro restringem-se lei eleitoral9.504/97, que estabelece critrios para a elegibilidadede deputados federais: idade mnima de 21 anos,alistamento eleitoral, domiclio eleitoral nacircunscrio do candidato, filiao partidria de, nomnimo, um ano antes da data das eleies e no possuiraes penais pendentes. Do ponto de vista formal, osrequisitos so facilmente cumpridos pela maior partedos interessados. O requisito que mais interessa saberque os partidos detm o monoplio das candidaturas14.Esse primeiro controle permite que os partidos possamimpor suas prprias regras para escolher candidatos

    e, amparados legalmente, os partidos desfrutam depoder para estabelecer estruturas de hierarquia ouhorizontalidade e cadeias de controle sob seuscandidatos e eleitos.

    Mesmo sendo um requisito pouco eficaz paraescolher os candidatos, a idade mdia dos respondentesdo survey aplicado foi de 49,9 anos. Uma idadeavanada em relao ao requisito legal para acandidatura de deputado federal. De sada, este dadomostra que o requisito legal fraco e que outrasvariveis (como, por exemplo, experincia poltica),

    podem ser critrios informais para entrada na listaeleitoral. Outro dado interessante que mesmo com alei de cotas prevendo mnimo de 30% de algum dossexos nas listas eleitorais, apenas 14,2% dosentrevistados eram mulheres. Mesmo se olharmos paraos dados de todos os candidatos registrados, osnmeros no sobem muito. Conforme Braga eBolognesi (2013), a proporo de mulheres candidataspara deputado federal em 2010 no passou de 19,1%.A primeira interpretao poderia sugerir que mulherescandidatam-se pouco para este cargo. Porm, aoobservarmos que a mdia de idade entre as mulheres

    entrevistadas foi de 47,1 anos, enquanto que a doshomens ficou na casa de 50,4 anos, podemos pensarque alguns poucos anos de experincia poltica domaior estofo para as candidaturas masculinas. Esteachado confirmado pelos dados apresentados porArajo e Borges (2012) que mostram que as mulheresrepresentam o sexo definitivamente minoritrio, nochegando a 10%, dentre os potenciais eleitos.Aquelas candidatas que possuem experincia polticae partidria so mais velhas.

    14 Segundo Freidenberg (2003), apenas El Salvador e Equadorpermitem candidaturas independentes dos partidos polticos naAmrica Latina.

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    Adicionalmente a estes requisitos, os partidospodem estabelecer alguma condio formal especficapara a candidatura, que v alm daquela estabelecidana lei nacional. Dentre os partidos aqui analisados,apenas o estatuto do PT traz algum adicional neste

    sentido15

    . PMDB, PSDB e DEM exigem apenas queseus candidatos estejam filiados aos partidos com pelosmenos um ano de antecedncia para que concorram acargos eletivos. J no estatuto petista, preciso que ocandidato esteja em dia com a tesouraria do partido,ou seja, tenha contribudo regularmente com as finanasda legenda; assine e registre em cartrio oCompromisso Partidrio do Candidato Petista, umaforma, mesmo que simblica, que os lderes do partidopodem exercer controle e estabelecer vnculos entrepartido e candidato. Um bom exemplo disso que ocontedo do Compromisso Partidrio do Candidato

    Petistadeixa claro que, no caso de vitria eleitoral, omandato legislativo pertence ao partido e no aocandidato, engrossando o pertencimento do indivduo organizao (BRAGA & BOLOGNESI, 2013). Deforma anloga, Gallagher (1980) mostra que a maiorparte dos partidos da Irlanda exige tambm umadeclarao de lealdade (pledge of loyalty), atrelandoo mandato e o comportamento legislativo ao partido

    pelo qual ir disputar a eleio. Esse tipo de adesosimblica ao partido pode no surtir efeito, sendoapenas mais um critrio formal. Contudo, ela podeeliminar alguns aspirantes que no se sintamconfortveis em abrir mo de suas preferncias

    individuais em nome da organizao (HAZAN &RAHAT, 2010, p. 26).

    Do ponto de vista da competio poltica, a inclusode candidatos sem grandes restries pode ser umaestratgia visando sucesso eleitoral, na qual os partidosesto preocupados somente em amealhar votos. Poroutro lado, requisitos restritivos revelam que o partidoest em busca de maior controle da oferta de candidatose dos seus futuros representantes (idem, p. 20).Portanto, do ponto de vista estritamente formal, apenaso PT est preocupado em ter algum controle inicialsob suas listas, excluindo potenciais candidatos ao exigircontribuio financeira e compromisso partidrio. Osoutros trs partidos analisados so amplamenteinclusivos, j que apenas respeitam o previsto em lei.

    Abandonando as exigncias formais, perguntamosaos candidatos quais seriam, na percepo deles, asprincipais caractersticas que um indivduo deveriapossuir para ser candidato por seu partido16.

    15 Artigo 128 do estatuto do PT.

    16A pergunta feita aos candidatos foi a seguinte: Quais as trsprincipais caractersticas que o senhor julga serem as maisimportantes para ser candidatoa Deputado Federal?. Osentrevistadores fizeram uso de barras de probes para esclareci-mento do contedo das respostas.

    17 O n da amostra aqui salta de 120 indivduos e sobe para 351porque pedimos que cada respondente indicasse trs caracters-

    ticas que o mesmo julgava importante. Assim, esto contabilizadasaqui trs observaes para cada entrevistado, sendo que novedelas no foram respondidas.

    TABELA 1 - REQUISITOS INFORMAIS PARA CANDIDATURA EM 2010

    FONTE: O autor.Coef. Cont. 0,118 =pvalue< 0,0433n: 35117

    Partido (%)

    DEM PMDB PSDB PT Total

    Conhecimento sobre o funcionamento da poltica 12,6 14,9 12,6 8,9 12,3

    Recursos financeiros prprios 10,3 6,9 8 5,6 7,7

    Domnio da oratria e retrica poltica 8 6,9 4,6 2,2 5,4

    Possuir bom trnsito no partido 6,9 9,2 11,5 11,1 9,7

    Possuir boa densidade eleitoral 14,9 10,3 13,8 8,9 12

    Boa reputao pessoal ou prestgio profissional fora da vida poltica 21,8 21,8 21,8 8,9 18,5

    Firmeza ideolgica 10,3 12,6 9,2 22,2 13,7

    Apoio de movimentos sociais e de base 6,9 5,7 11,5 18,9 10,8

    Disponibilidade (tempo) 8 8 6,9 8,9 8

    Outras 0 3,4 0 4,4 2TOTAL 100 100 100 100 100

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    Como mostra a tabela 01 acima, podemos ver queas exigncias informais so bem distribudas entre ospartidos. Na anlise dos resduos padronizados, apenasos trs valores destacados apresentaram nmerosacima de 1,96 ou abaixo de -1,96. (valores que cercam

    o limite crtico dos resduos). O uso dos resduos aquirevela a diferena entre o observado e o esperado docomportamento de uma varivel em determinado grupo- neste caso, partido poltico. Resduos acima de 1,96apontam que aquele valor est acima do esperado, bemcomo o contrrio, para valores abaixo de -1,96.

    Em primeiro lugar, notamos que todos os valoresque tiveram resduos significativos referem-se ao PT.Todos os demais partidos no apresentam diferenassignificativas entre os critrios que os candidatosacreditam ser importantes para fazer parte das listaseleitorais, ou seja, esto distribudos de forma bastantehomognea entre eles. Em segundo lugar, a exignciapossuir boa reputao pessoal ou prestgio fora davida polticaapresentou resduos, para o PT, no valorde -2,1. Isso mostra que os candidatos petistas, emrelao aos dos outros partidos, percebem esta comouma caracterstica significativamente menos importantepara candidatura. Interessante notar tambm o fatodos candidatos petistas darem pouco valor experinciaextra-poltica, possuir bom trnsito no partidoatingiu

    valores muito parecidos para todos os partidos. Pararesumir: o fato de valorizarem pouco a experinciapessoal no faz com que os candidatos do PTapresentem bom trnsito no partido como umaexigncia que difere dos outros partidos. Isto talvez

    seja melhor explicado a seguir pelos resduos positivos.Por outro lado, possuir firmeza ideolgica

    apresentou resduos padronizados na casa de 2,2,revelando que os candidatos deste partido creditam ideologia um papel acima do esperado para lanarem-se no pleito eleitoral pelo PT. Por fim, ter apoio demovimentos sociais e de baseatingiu o valor de 2,3nos resduos, mostrando ser a exigncia informal comvalores muito superiores queles apresentados pelosoutros partidos. Ou seja, apenas para o PT ter estetipo de apoio destacou-se alm do esperado na amostrade observaes. Esperaramos que a oposioautomtica boa reputao pessoal, seria avalorizao dapartidria. Porm, no caso especfico,os dados sugerem que esta diferena est nas basesque fundamentam os partidos polticos e, maisespecificamente para o PT, nos movimentos sociaisena ideologia.

    Aplicando os achados ao modelo de Hazan e Rahat(2010), o continuumda inclusividade da candidaturaficaria como o abaixo18:

    FIGURA 1 INCLUSIVIDADE NA CANDIDATURA

    FONTE: o autor.

    Todos osCidados

    Membrosdo Partido

    Membrosdo Partido

    +ExignciasAdicionais

    Excluso

    PT

    Inclusividade

    DEM / PMDB / PSDB

    18 Nesse sentido, nossas concluses vo na mesma linha queBraga (2008) aponta em seu trabalho.

    O PT foi o nico partido que apresentou critriosformais e informais, diferentes dos demais, para que ofiliado pudesse concorrer ao cargo de deputado federalnas eleies de 2010. Os trs outros partidosencontram-se direita do ponto membros do partidono continuum pois todos exigem, em alguma medida,requisitos informais para a candidatura. O que colocao PT no ponto mais extremo de excluso asignificativa diferena apresentada nos resduos

    padronizados em relao ao esperado comportamentodas variveis em todos os partidos.

    Hazan e Rahat (2010) lembram que partidosorientados eleitoralmente, como partidos cartel e catch-all, tendem a ser menos rigorosos nos critrios decandidaturas, visto que esses tipos de partidos estopreocupados essencialmente com o sucesso eleitoral.O estudo de Suri (2007) sobre partidos do sul da siachega mesma concluso. Partidos do tipo cartel e

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    catch-all de pases como ndia e Paquisto,apresentaram o mesmo comportamento. J partidosde orientao ideolgica esquerda, como o caso doPT do Partido Socialista Belga ou do PartidoComunista Italiano19 (OBLER, 1974; HAZAN &

    RAHAT, 2010), tendem a impor uma quantidade maiorde regras para que os membros sejam candidatos. Essaestratgia, segundo Katz (2001), privilegia um maiorequilbrio entre as arenas eleitorais e partidrias (publicface of the party eparty on the ground,para utilizar aterminologia do autor).

    A organizao de grandes partidos de esquerda,como mostra Panebianco (2005), privilegia aorganizao partidria desde sua fundao. Partidosde trabalhadores tendem a contar com recursos parcosfora das legendas partidrias, o que fortalece (e, aomesmo tempo, constrange) os membros do partido apossuir laos de lealdade mais densos. J partidoslegislativos e orientados de forma ideologicamenteoposta ou de centro, tendem a lanar mo de membrosque portam recursos advindos de outras esferas queno s o partido, o que torna mais difcil aoperacionalizao de constrangimentos para filiao ecandidatura. Podemos pensar que, primeira vista,PMDB, PSDB e DEM aproximar-se-iam mais destetipo de partido (AMES & POWER, 2007).Especificamente sobre o PT, vemos que mesmo diantede mudanas importantes em sua estrutura

    organizacional ao longo dos anos (MARENCO DOSSANTOS & SERNA, 2007; AMARAL, 2011), o partidomantm traos de sua origem e ligaes com as basessociais.

    Alm da constatao acerca dos modelos de partidoe as conseqncias para a seleo de candidatos, opr incipal achado geral que, diferente do queMainwaring (1991) e Samuels (2008) afirmam acercado controle sobre a seleo de candidatos, os partidoscostumam exigir algumas caractersticas importantespara que os pleiteantes integrem suas listas. Mesmoque as evidncias mostrem que a boa reputao

    pessoal ou prestgio profissional fora da vida polticapredomine dentre as exigncias para candidatura,(conforme a tabela 01) e esta seja uma condio extra-partidria, a presena deste requisito reafirma a tesede Braga (2008) de que os partidos polticos controlamminimamente a escolha de candidatos desde a imposiode elementos informais para a candidatura. Caso issono ocorresse, todos os partidos estariam exatamente

    acima do ponto filiados na reta de inclusividade,cumprindo apenas as exigncias legais.

    III.1 Exigncias adicionais.

    Exigncias adicionais podem ser impostas tanto no

    estatuto do partido ou nas leis partidrias, quantoapresentarem-se informalmente, privilegiando este ouaquele grupo de pessoas. Dinheiro, tempo, carreirasflexveis, apoio de bases sociais e/ou geogrficas soelementos que do volume s candidaturas atravs depreconceitos indiretos. Esse background social dosaspirantes capaz de atender ou no s demandas dosresponsveis por fazer a seleo, eliminandoindiretamente grupos especficos que no atendam aosobjetivos do partido ou ao eleitorado (NORRIS &LOVENDUSKI, 1997). Porm, boa parte da literaturasobre recrutamento poltico e seleo de candidatos

    destaca a figura do candidato reeleio como centralpa ra o sucesso el ei to ra l (RUSH, 1969 ;PERISSINOTTO & BOLOGNESI, 2010; BRAGA;VEIGA; MIRADE, 2009; HAZAN & RAHAT, 2010).

    de se esperar que incumbents desfrutem deprivilgios dentre as listas partidrias por razes lgicas.Em primeiro lugar, eles j passaram em alguma vezpe la se leo que todos os desa fi an te s es toexperimentando. Em segundo lugar, contam votos deeleitores j conquistados em eleio ou eleiesanteriores, o que os garante uma boa moeda de trocafrente aos lderes partidrios. Em terceiro lugar,candidatos reeleio podem contar com plataformasde campanha mais slidas, apresentado em seucurrculo sua atuao legislativa para conquista de votos.Por fim, a soma destes recursos reverte em apoio delderes polticos, da mdia e recursos financeiros deapoiadores de campanha (HAZAN & RAHAT, 2010).

    Se por um lado a presena de candidatos reeleiopelo mesmo partido pode indicar estabelecimento delaos de lealdade20, a monotonia nas listas de partidopode prejudicar a imagem do mesmo frente aoseleitores. necessrio um equilbrio entre desafiantes

    e incumbentspara garantir boa quantidade de votos eao mesmo tempo promover a renovao no partido.No Brasil a chamada candidatura nata21, vigente

    19 Fique claro que nosso objetivo aqui no fazer uma compa-

    rao com partidos de mesma orientao ideolgica de outrospases, os exemplos citados so somente ilustrativos de outrosachados semelhantes aos nossos.

    20 Entendemos lealdade aqui nos termos colocados por Siavelise Morgenstern (2009), onde os autores frisam que as lealdadesse do longo prazo e em relao, principalmente, aoselectorate.

    21 A candidatura nata era um direito que os candidatos quedisputavam a reeleio gozavam no Brasil at esta data. Qual-quer candidato que estivesse disputando mais de uma vez con-

    secutiva o mesmo cargo era automaticamente inserido na listaeleitoral de seu partido, independente das vontades ou regulaesda legenda pela qual disputava.

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    A SELEO DE CANDIDATURAS NO DEM, PMDB, PSDB E PT NAS ELEIES

    at 2002, promovia automaticamente os detentores demandato representativo a candidatos, sem que o partidopudesse intervir. Esse trao institucional certamenteserviu para asseverar o papel dos candidatos reeleionos partidos ao longo dos anos.

    Desse ponto de vista, todos os quatro partidosapresentaram valores muito semelhantes quanto quantidade de incumbentse quanto quantidade mdiade vezes que cada um de seus candidatos foi candidatopelo partido antes das eleies daquele ano.

    TABELA 2 - PROPORO DE CANDIDATOS REELEIO POR PARTIDO EM 2010

    Partido (%)

    PT PMDB DEM PSDB Total

    No Incumbent 82,9 83,2 85,9 85,8 84,2

    Std. Res. -0,3 -0,2 0,3 0,3

    Incumbent 17,1 16,8 14,1 14,2 15,8

    Std. Res. 0,6 0,4 -0,6 -0,7

    Total 339 340 191 274 1144

    100 100 100 100 100

    Fonte: TSE (2012). Sig. Coef. Contingncia=pvalue> 0,500.

    Como mostra a tabela 02 acima, no h diferenasignificativa entre os partidos na quantidade decandidatos reeleio. Todos os quatro partidos usamdo potencial destes candidatos para montarem suaslistas eleitorais. Como mostramos, a mdia deincumbentsest na casa de 15,8%, com um mnimode 14,1% para o caso do DEM e um mximo de 17,1%para o PT em 2010.

    Poderamos imaginar ento que os partidosestabeleam a lealdade exigindo que os candidatosconcorram por vrias eleies ao longo de suas filiaespartidrias. Isso poderia estar relacionado ao fato deque o candidato que assume o mandato pela primeiravez ter privilgios para se recandidatar por quantasvezes quiser. Porm, diante da relativamente baixa

    quantidade de candidatos reeleio (tal como expostona tabela 02), podemos pensar que esse nmero decandidaturas tambm um requisito especfico. Norrise Lovenduski (1997) colocam como fundamental apersistncia como recurso do sucesso eleitoral. Rush(1969) frisa que a experincia eleitoral prvia umdos mais importantes critrios para que os indivduossejam escolhidos para disputar as eleies, sendo um

    trao que os lderes partidrios identificam comorelevante na medida em que tomar conhecimento docotidiano da poltica fundamental. Para tanto,perguntamos aos candidatos: O senhor (a) poderianos dizer quantas vezes foi candidato a DeputadoFederal pelo seu partido?, as respostas seguem abaixona tabela 03.

    TABELA 3 ANLISE DESCRITIVA DA QUANTIDADE DE VEZES COMO CANDIDATO A DEPUTADO FEDERAL PORPARTIDO POLTICO EM 2010

    FONTE: O autor.

    Partido Poltico Mean N Std. Deviation Median Minimum Maximum RangeDEM 1,43 30 1,906 1 0 7 7

    PMDB 1,03 30 1,129 1 0 4 4

    PSDB 1,2 30 1,4 1 0 4 4

    PT 1,07 30 1,388 1 0 6 6

    Total 1,18 120 1,472 1 0 7 7

    Como podemos notar na tabela acima, todos ospartidos possuem mdias muito prximas quanto

    quantidade de vezes que seus candidatos concorrerama cargos eletivos por seus partidos, antes das eleies

    de 2010. Apesar das mdias serem muito prximas edo teste de anlise de varincia (ANOVA) no ter

    resultado em significncia estatstica, alguns dadosmerecem ser sublinhados. Em primeiro lugar, notemos

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    que o PMDB o partido com menor desvio padropara este dado, o que mostra que os seus candidatospossuem comportamento mais homogneo e em tornoda mdia do que os outros dois partidos. Isso se refletetambm na amplitude do dado. J PSDB e PT possuem

    mdias e desvios padro muito prximos, sendo que adiferena recai na amplitude, sugerindo que algunscandidatos petistas precisam persistir mais para lograrcandidaturas do que os peessedebistas. O DEM possuiuma mdia mais alta de nmero de candidaturasanteriores. Porm, o desvio padro tambm elevado,revelando que apenas alguns poucos indivduos ajudama ampli-la. Ainda assim, notvel que o partido tenhadentre seus candidatos alguns que se lanaram setevezes pelo partido. Do ponto de vista doestabelecimento de lealdades, parece que o PT e DEMpossuem uma maior capacidade de realiz-la. Destaque-

    se que o PT que consegue imprimir persistncia a umamaior quantidade de candidatos.

    Como um todo, essa primeira seo na qualapresentamos os requisitos para candidatura, aponta oPT como o partido mais excludente no tocante a quempode ser candidato, enquanto os outros trs partidoscumpriram as exigncias previstas na legislao eleitorale algumas exigncias adicionais mais homogneas entresi. Sobre as exigncias adicionais, destacamos aimportncia da presena de incumbentsnas listas departido e tambm a homogeneidade da distribuio da

    proporo deste tipo de candidato entre os analisados.Por fim, o possvel estabelecimento de lealdade entrepartido e candidato estaria na dimenso da persistncia,porm as diferenas foram muito pequenas para quepossamos traar uma dist ino entre as quatroagremiaes.

    Dos critrios que Freidenberg (2003) aponta paraa democratizao, a abertura para a participao estariamuito mais atrelada aos outros trs partidos do que aoPT. Os aspirantes petistas precisam cumprir tantoexigncias formais mais rgidas, quanto informais maisslidas do que seus colegas, o que coloca, neste critrio,

    o PT como o partido menos democrtico entre eles.

    IV. O SELECTORARE: QUEM SELECIONA OSCANDIDATOS

    O termoselectoratefoi cunhado inicialmente porPaterson (1967) para designar o corpo de indivduos,instituies ou instncias burocrticas que detm opoder de influenciar e/ou determinar quem sero oscandidatos dos partidos nas eleies que seguem. Emseu estudo sobre os partidos britnicos (maisespecificamente oLaboure o Conservative), o autorlevanta uma srie de possveis selectoratesque vodesde sindicatos ligados aos partidos, at associaeslocais que influenciam a composio final das listas.

    importante notar que uma traduo livre do termo paraselecionador, selecionadores ou corposelecionador reduziria a dimenso do conceito: falarem selecionador ou selecionadores acaba limitando oescopo da anlise a um grupo de pessoas de qualquer

    natureza que participam em algum momento da escolhados candidatos. A inteno em manter o termose le ctorate designar, por outro lado, o seucomponente abstrato, deixando-o permevel para aparticipao de pessoas, instituies ou um misto dasduas coisas.

    Rahat e Hazan (2001) afirmam que oselectorateo filtro mais importante na seleo de candidatos.Outros autores como Gallagher e Marsh (1988)22 etambm Hazan (2002) notam que justamente comeste elemento que as anlises devem se preocupar. Adefinio de Hazan e Rahat (2010, p.33) deselectorate a seguinte: Ao tratarmos de partidos polticos emgeral e seleo de candidatos especificamente, oselectorate o corpo que seleciona os candidatos dopartido para o cargo pblico23".

    Siavelis e Morgenstern (2009) mostram que emrelao a este elemento que em geral as lealdades soconstrudas. Candidatos selecionados por rgospartidrios tendem a ser mais leais ao partido, enquantoos candidatos nomeados por organizaes associadasao partido tendem a ser leais antes s organizaes doque ao partido em si; candidatos auto-selecionados -

    sem que haja a participao de um selectorate - secomportam de forma independente em sua vida poltica,enquanto candidatos escolhidos por um lder nicodevem sua lealdade somente a ele. Da mesma formaque as conseqncias podem ser individualizadas emrelao ao comportamento dos escolhidos, oselectorate tambm o principal indicador para que possamosauferir nveis de democracia interna dos partidospolticos. atravs dele que podemos verificar quaisso os atores envolvidos, como se d a distribuio depoder no partido e como os envolvidos garantem (oudeixam de garantir) a representatividade nas listas

    eleitorais.

    Em tese, o selectorate age de acordo com umacomplexidade de clculos que levam em conta agarantia do sucesso eleitoral (como vimos com aproporo de incumbentsna tabela 02), o equilbrio deforas no interior do partido e a imagem que o partido

    22 Gallagher e Marsh utilizam participaocomo sinnimo deinclusividade, mas na prtica o significado da dimenso exata-mente o mesmo.

    23 When speaking of political parties in general, and candidateselection in particular, the selectorate is the body that selects thepartys candidates for public office. Traduo do autor.

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    A SELEO DE CANDIDATURAS NO DEM, PMDB, PSDB E PT NAS ELEIES

    pretende projetar durante as campanhas eleitorais. Umindicador simples para que possamos mensurar essacomplexidade de clculos dos lderes do partido analisar o selectorate a partir de um continuum deinclusividade, do mesmo modo como fizemos com a

    anlise dos requisitos para candidatura. Seguindo omodelo de Hazan e Rahat (2010) temos que colocarno plo mais inclusivo os candidatos que seriamselecionados por todos os eleitores habilitados naquela

    eleio. No plo extremo oposto, um nico lder seriaresponsvel pela seleo de todos os candidatos. Numponto de baixa inclusividade, os filiados do partidoseriam responsveis por selecionar os candidatos. Oponto de equilbrio seria aquele no qual os delegados

    do partido realizam a seleo. O altamente exclusivose representa pela escolha feita pela elite partidria. Afigura 02 que segue abaixo apresenta o modelo tericoda inclusividade noselectorate.

    FIGURA 2 SELECTORATE PARTIDRIO

    FONTE: o autor.

    Incluso

    ElitePartidria Lder nico

    EleitoresDelegadosdo Partido

    Excluso

    Filiados

    O problema que modelos tericos dificilmentecorrespondem realidade que encontramos nospart idos pol ticos. A li sta de candidatos que homologada na conveno estadual do partido, no casodo Brasil, pode ser composta pela escolha de diferentestipos deselectorate, combinando as formas com queisso ocorre. Hazan e Rahat (idem), descrevem trspossveis combinaes complexas entre osselectorates

    para realizar a seleo de candidatos: i) mtodo sortido;ii) multi-estgio e; iii) mtodo balanceado.

    Mtodo sortido: neste mtodo diferentes candidatospassam por diferentesselectoratesque distinguemem relao ao seu nvel de inclusividade. Porexemplo, uma parte dos candidatos selecionadapor delegados do partido, enquanto outra parte escolhida por um colgio de lderes.

    Mtodo multi-estgio: neste mtodo o mesmo grupode candidatos passa por mais de um selectorate

    durante a composio da lista. Podemos imaginaruma situao onde num primeiro momento osfiliados do partido apresentem uma lista que sofrercortes e ser filtrada por um lder nico do partido.

    Mtodo balanceado: aqui o mesmo grupo decandidatos passa por dois tipos de seleo que solevadas em conta para, a partir do peso de cadaprocesso de seleo, ter como resultado uma listabalanceada. Podemos pensar que a lista seriacomposta, por exemplo, por candidatosselecionados pelo voto de delegados do partido eao mesmo tempo pelo voto do colgio de lderes,tendo cada um dos selectorates tendo um pesodiferente na escolha.

    A figura 03 abaixo, reproduzida a partir de Hazan eRahat (idem) representa graficamente como cada umdestes mtodos funcionaria no interior dos partidospolticos.

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    FIGURA 3 REPRESENTAO GRFICA DOS MTODOS COMPLEXOS DE SELEO DE CANDIDATOS

    Mtodo Sortido Mtodo Multi-estgio

    Lista Finalde Candidatos

    Aspirantes

    SelectorateA

    CandidatosRestantes

    SelectorateB

    Mtodo Balanceado

    Aspirantes

    SelectorateA

    Lista Final de Candidatos

    SelectorateB

    Aspirantes Aspirantes

    Lista Final de Candidatos

    SelectorateA

    SelectorateB+

    FONTE: o autor.

    Nos partidos aqui abordados, todas as respostasevidenciam que o mtodo de seleo adotado foi osortido. O mesmo corpo de candidatos foi selecionado

    por diferentes selectorates com nveis desiguais deinclusividade. No houve respostas que nos levem aacreditar que o mesmo candidato passou por mais deum mtodo de seleo ou que doisselectoratesdistintosatuaram de forma balanceada para compor as listas. A

    tabela 04 a seguir aponta por quais mtodos osrespondentes afirmaram terem sido selecionados. Paraatribuir esta resposta, perguntou-se aos candidatos o

    seguinte: Tendo em vista sua experincia durante oprocesso de seleo de candidatos a deputado federalem seu partido, o senhor(a) diria que o processo feito por:.

    TABELA 4 - QUEM SELECIONOU OS CANDIDATOS NOS PARTIDOS EM 2010

    Partido Politico (%)

    DEM PMDB PSDB PT Total

    Filiados do Partido 11,1 28,6 22,2 17,9 20,0

    Std. Res. -1 1 0,3 -0,3Delegados do Partido 7,4 0,0 18,5 67,9 23,6

    Std. Res. -1,7 -2,6 -0,5 4,8

    Lderes do Partido 55,6 60,7 51,9 14,3 45,5

    Std. Res. 0,8 1,2 0,5 -2,4

    Lder nico do Partido 25,9 10,7 7,4 0,0 10,9

    Std. Res. 2,4 0 -0,6 -1,7

    n 27 28 27 28 110

    Total 100 100 100 100 100

    FONTE: o autor n missing=1024

    Coef. Contigncia 0,568

    p value< 0,000

    24 Boa parte deste nmero de missingrefere-se aos candidatosque afirmaram terem sidos selecionados por organizaes exter-nas aos partidos polticos, como associaes profissionais, de

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    A SELEO DE CANDIDATURAS NO DEM, PMDB, PSDB E PT NAS ELEIES

    Como no Brasil a seleo de candidatos monopliolegtimo dos partidos polticos, no possvel queeleitores participem do processo. De sada, a legislaoj torna a seleo de candidatos menos inclusiva doque poderia ser. Assim, na prtica, o plo mais inclusivo

    aqui a escolha realizada por filiados do partido. Essaopo deselectoratefoi pouco mobilizada por todosos partidos e, quando ocorreu, no apresentoudiferenas significativas entre os eles. Mesmo no casodo PMDB onde 28,6% dos candidatos afirmaram teremsido escolhidos por este selectorate, a diferena nofoi to grande para que os resduos padronizados ficas-sem acima de 1,96. Majoritariamente, os quatro partidosoptaram por escolherem seus candidatos atravs delderes, 45,5% das respostas indicaram que chegaramat a lista final de candidatos pelas mos destes.

    Chamam a ateno os resduos negativos do PTpara este caso. O valor de -2,4 indica que o partidodifere significativamente de seus pares quanto amobilizar os lderes para a formao das listas. Poroutro lado, o mesmo PT apresentou resduos muitoaltos, na casa de 4,8, quando a opo de escolha decandidatos estava atribuda aos delegados do partido,onde 67,9% das respostam apontaram neste sentido.O oposto ocorre com o PMDB, onde os resduosnegativos de 2,6 atestam a nulidade na mobilizao destemtodo para selecionar candidaturas. O DEMapresentou resduos positivos de 2,4 para a seleo

    por lder nico do partido. 25,9% de seus candidatosforam selecionados por este selectorate . Mesmoadmitindo que este no foi o principal mtodo usadono partido j que outros 55,6% de candidatosafirmaram terem sido selecionador por lderespartidrios importante notar que o DEM o quemais se valeu desse escrutnio. Por fim, o PSDBapresentou uma distribuio equilibrada em relao distribuio dos selectorates. Tendo seus candidatosselecionados majoritariamente por lderes do partido,

    (de acordo com 51,9% das respostas) os outros pontosde inclusividade na seleo no mostraram diferenasreais em relao aos outros partidos.

    Mais uma vez, o debate com os autoresbrasilianistas, essencialmente Mainwaring (1991) e

    Samuels (2008) que, como vimos na primeira seo,atribuem ao sistema eleitoral e partidrio brasileiro osmotivos do baixo controle dos partidos sobre seuscandidatos mostra que tal afirmao no encontrap na realidade quando tratamos de seleo decandidatos. A evidncia contundente de que a maiorparte dos candidatos selecionada por lderes dopartido mostra que existe sim algum mecanismo decontrole (Braga, 2008). Em segundo lugar, aparticipao de filiados e delegados de partido bastantealta, apontando que no h somente controle, mas quergos formais das legendas atuam diretamente numprocesso central como formao de listas. Ou seja,alm de controle, existe distribuio de poder entre ascamadas que compem o partido. Em alguns partidosesse equilbrio mais proporcional, como no caso dePT e PSDB, enquanto nos outros a balana tende apesar mais para os lderes.

    Voltando nossa ateno para os valores mais altosdas respostas, a presena da multiplicidade deselectorates dificulta uma classificao linear nocontinuumde inclusividade. Por exemplo, no casoespecfico do PSDB destas eleies (nas quais a maior

    parte dos candidatos foi selecionada por lderes dopartido), no podemos excluir o fato de que boa partedos que chegaram ao final da lista partidria foramescolhidos por filiados e delegados. Para solucionareste problema analtico da inclusividade, Hazan e Rahat(2010), propem o uso de uma escala de vinte e cincopontos onde podemos classificar mtodos complexosde seleo de candidatos. Abaixo a reproduo da escalacom a distribuio dos partidos de acordo com os dadosdisponveis na tabela acima.

    FIGURA 4 DISTRIBUIO DOS PARTIDOS NO CONTINUUMDE INCLUSIVIDADE DO SELECTORATENASELEIES DE 2010.

    Fonte: Elaborao do autor, a partir do surveye de Hazan e Rahat (2010, p.49)

    classe ou sindicatos. Para fins de anlise, esse dado ser aquitratado como missing e ser retomado quando discutirmos adescentralizao social da seleo de candidatos.

    Incluso

    ElitePartidria Lder nico

    EleitoresDelegadosdo Partido

    Excluso

    Filiados

    24 23 22 21 20 19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0

    PT PSDB PMDB DEM

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    A escala proposta possui dois postulados para oposicionamento dos partidos no continuum. O primeiro,que os intervalos entre cadaselectoraterepresentam oespao para selees complexas, podendo ser do tiposortida, balanceada ou multi-estgio. A cada seis pontos

    na reta podemos aproximar os mtodos de atuao dose lectorat e de acordo com a complexidade emultiplicidade deselectoratesque cada partido contou.O segundo, que o posicionamento dos partidos nocontinuum feito de acordo com a predominncia deumselectoratesobre outros. Por exemplo, no caso doPT a maior parte dos candidatos afirmou ter sidoselecionada por delegados do partido. Se utilizssemosapenas este critrio, o PT estaria posicionadoexatamente acima do ponto doze. Como a participaode filiados foi tambm presente para este partido, oPT ficou no ponto mais inclusivo da reta. O PSDB

    apresentou alguns pontos de maior excluso,mobilizando, na maior parte das vezes, lderes, mascontando tambm com delegados de partido e filiadosnuma forma bastante sortida de atuao doselectorate.Portanto, adotamos o critrio da predominncia delderes para este partido e aproximamos o partido doplo mais inclusivo levando em conta as outras duasformas de seleo apresentadas. J o DEM foiposicionado no ponto mais excludente em relao aosoutros partidos, posto que a maior parte da seleo realizada pela combinao de lideranas do partido ede um lder nico, deixando pouqussimo espao para

    a participao de delegados e filiados do partido.O PMDB merece uma interpretao mais detida. O

    partido no apresentou seleo por delegados. Poroutro lado, a combinao entre predominncia deseleo realizada por lderes do partido (includo aquiseleo por lder nico) e seleo por filiados, aproximao partido do modelo cartel de organizao. Katz (2001)enfatiza a substancial separao entre lderes e basedo partido para definio do modelo cartel de partido esuas conseqncias para a seleo de candidatos. OPMDB aproxima-se deste modelo ao anular

    completamente a possibilidade de existncias deintermedirios capazes de exercer algum controleefetivo sobre a elite do partido. A participao de filiados descolada de meios que empoderam os membrosordinrios do partido, como os delegados. A tese dacartelizao da seleo fica muito evidente no casopeemedebista, onde no h possveis desafiantes parao poderio das elites (idem). Deste modo, os filiadospossuem apenas um poder pulverizado, no sendocapazes de determinar em nada a seleo de candidatos.Essa abordagem nos levou a posicionar o PMDB numponto mais exclusivo do que o PSDB, por exemplo,

    aceitando a tese de que a separao absoluta entre elitepartidria e filiados aumenta ainda mais o espao demanobra das elites do partido.

    Fica muito claro aqui que os partidos controlam aseleo de candidatos de formas diferentes, mas todosexercem algum controle. No preciso retomar, maisuma vez, as teses dos brasilianistas, mas patente queo sistema eleitoral e o sistema partidrio encontram

    um anteparo quando os partidos exercem funes deescopo interno. Nesse sentido, os partidos polticosaqui devem ser entendidos como variveisintervenientes25no processo de seleo de candidatos.Em 69,1% das respostas os candidatos afirmaramterem sido escolhidos por lderes do partido ou pordelegados. Estas duas instncias excluem os plos deinclusividade onde o estabelecimento de lealdades mais enfraquecido. Siavelis e Morgenstern (2009) eHopkin (2001) mostram que a seleo quando realizadapor larga participao de filiados tende a produzircandidatos que atendem ao eleitor mdio do partido e

    so incapazes de identificar para quem devem prestarcontas de suas atividades polticas e seu possvelmandato. Hopkin claro ao notar que a seleo pormembros sem poder real dentro dos partidos podelevar a uma conseqncia inesperada oposta, onde oscandidatos adquirem autonomia total e no seresponsabilizam em relao a nenhum rgo do partido.Um fenmeno parecido ocorreria com a predominnciade seleo de candidatos realizada por um nico lder:os candidatos no teriam incentivos para direcionarsuas lealdades para o partido como organizao, massim para o lder que foi responsvel pela sua chegada

    at a lista eleitoral. Qualquer mudana na orientaodo lder, mesmo que v contra o partido comoinstituio, teria efeitos sobre os candidatos assimselecionados (SIAVELIS & MORGENSTERN, 2009).

    Do ponto de vista dos nveis de democracia interna,a inclusividade do selectorate, baseado nos critriosde Freidenberg (2003), revela que o PT o partidomais democrtico entre os quatro abordados. Almdisso, no incorre nos possveis efeitos inesperadosque a seleo que mobiliza demais os filiados podeapresentar. Por outro lado, o DEM apresentou o perfil

    menos democrtico, focando seu processo de seleomajoritariamente nos lderes do partido - quando nonum lder nico. Isso nos leva a entender que oDemocratas est mais preocupado com as relaesque os candidatos iro estabelecer individualmente comseus lderes do que com o partido em si. O mesmoocorre com o PMDB, que adota um modelo cartelizadode seleo, dando nulidade de voz para agentes

    25 Utilizamos a definio de varivel interveniente propostapor Rosenberg (1976,p. 71): A varivel interveniente [...]

    encarada como conseqncia da varivel independente (aqui osistema eleitoral e partidrio)e como determinante da variveldependente (a seleo de candidatos).

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    A SELEO DE CANDIDATURAS NO DEM, PMDB, PSDB E PT NAS ELEIES

    intermedirios do partido e focando nos laos entrelderes e candidatos sua seleo. A diferena que oPMDB no utilizou to largamente a indicao de umlder nico para apontar os candidatos. O PSDBapresenta nveis mais moderados de democracia, dando

    liberdade para a participao de delegados e filiados.Mas, ao mesmo tempo, preservando o controle doprocesso atravs de seus lderes.

    No resta dvida de que oselectorate a dimensomais importante da seleo de candidatos em qualquerpartido poltico. Contudo, a centralizao do processopode ter conseqncia para os nveis de democraciainterna e, principalmente, para a representao deminorias nos partidos polticos. Volto a lembrar que adimenso do contedo no pode ser utilizada para aclassificao dos partidos em mais ou menosdemocrticos. possvel apenas que se fale emconseqncias nesse sentido. Assim, no basta que aslegendas sejam capazes de controlar o processo pormeio de lderes e de delegados, mas que as escolhastenham tambm contedo democrtico. Deste modo,a (des) centralizao da seleo fundamental paragarantir lista eleitoral a participao de gruposminoritrios como mulheres, minorias tnicas ereligiosas.

    V. DESCENTRALIZAO: ENTRE TERRITRIO EREPRESENTAO POLTICA

    A descentralizao talvez seja o tema de maiorcontrovrsia nos estudos de seleo de candidatos. Htrs tipos de descentralizao possveis. O primeiro a descentralizao territorial, no qual os partidospolticos escolhem seus candidatos de acordo com ograu de participao da executiva nacional no processode seleo (RAHAT & HAZAN, 2001). Pasesfederados, como o Brasil, tendem a escolher seuscandidatos de forma descentralizada, dando maior

    autonomia s instncias regionais dos partidos. Emsegundo lugar, a participao de mltiplosselectoratesno mesmo processo de seleo indica descentralizaoorganizativa. Candidatos que experimentamindividualmente ser escolhidos por mais de um

    selectorate refletem que o partido descentralizaorganizativamente seus rgos internos para estafuno. A descentralizao organizativa pode ou noestar associada territorial. Podemos pensar numprocesso de seleo local no qual todos os candidatosso escolhidos por um nico selectorate, sem co-participao de nenhum tipo (balanceada, sortida oumulti-estgio) (HAZAN & RAHAT, 2010)26. Emterceiro lugar, a descentralizao pode ser social,quando h participao de grupos associados ao partidoou aes afirmativas que garantem a representatividadede grupos minoritrios.

    No caso do Brasil, todos os partidos desfrutam deum grau de descentralizao territorial alto. Isso ocorre,em primeiro lugar, porque a legislao obriga que oscandidatos a deputado federal sejam nomeados pelasexecutivas estaduais dos partidos polticos e que oscandidatos possuam domiclio eleitoral em seus distritoscom pelo menos um ano de antecedncia s eleies(BRAGA, 2009). O segundo motivo que num pascom a dimenso territorial brasileira e um nmero toelevado de candidatos - nas ltimas eleies foram maisde 4.800 para deputado federal segundo o Tribunal

    Superior Eleitoral (TSE) impossvel que asexecutivas nacionais controlem o processo de escolhade candidatos em todos os vinte e sete distritos.

    Ignorando a possvel interveno da executivanacional para as eleies de 2010, supomos que aseleo de candidatos no Brasil, em todos os partidos, descentralizada territorialmente. J a descentralizaosocial pode ser observada na tabela 05:

    TABELA 5 - DESCENTRALIZAO SOCIAL NA SELEO DE CANDIDATOS NAS ELEIES DE 2010

    Partido Poltico (%) DEM PMDB PSDB PT Total

    Seleo por rgos internos do partido 96,7 100 96,7 96,7 97,5

    Indicao por associaes ou instituies ligadas ao partido 3,3 0,0 3,3 3,3 2,5

    n 30 30 30 30 120

    Total 100 100 100 100 100

    FONTE: o autorCoef. Contingncia = p value > 0,795.

    26 Os autores no realizam a separao analtica entredescentralizao territorial e organizativa. Apenas afirmam que

    essa nova perspectiva deve ser entendida a partir da percepodos candidatos como aqui nossa proposta atravs do uso desurvey- e no deve ser confundida com graus de inclusividade,

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    A mesma pergunta27que norteou os dados da tabelaanterior foi utilizada aqui para sabermos em que medidaos candidatos contaram com a participao deorganizaes externas ao partido ao serem indicadosnas listas eleitorais. A nica diferena que na tabela

    04 apresentamos os dados desagregados por rgosinternos do partido e suprimimos o dado acerca dasassociaes externas. Aqui, por outro lado,apresentamos os dados organizativos agregados numas categoria e consideramos para fins de anlise o papeldas instituies ligadas ao partido.

    Como mostra a tabela 05, as associaes ouinstituies externas contam muito pouco no processode indicao de candidatos para deputado federal. Nemmesmo em uma tabulao entre os partidos polticosencontramos alguma correlao estatisticamentesignificativa que nos permita crer que tais associaesexeram algum papel para a descentralizao social daseleo de candidatos. Por outro lado, poderamospensar que a legislao que obriga os partidos polticosa contarem com 30% de candidatos de algum dos sexosresultaria numa descentralizao social e no aumentoda representatividade. Esta afirmao tem lastroemprico apenas em parte: uma forma de

    descentralizao do ponto de vista formal, umaexigncia legal, conforme a lei 9.504/1997. Contudo,como mostra Bolognesi (2012), no havia nas eleiesde 2010 qualquer punio para os partidos que nocumprissem esta determinao. Dentre os nossos

    entrevistados, a quantidade de mulheres ficou na casade 14,2%, no atingindo sequer a metade da exigncialegal. Ou seja: no podemos atribuir a presena demulheres nas listas s cotas. Somente quando seconcretizar de modo claro o cumprimento da exigncialegal, poderemos atribuir descentralizao social paraos partidos brasileiros. Para resumir: a partir destesdois indicadores no possvel falar emdescentralizao social nos partidos analisados. Valenotar, ainda, que o PMDB apresentou nulidade quanto possibilidade de selecionar seus candidatos porassociaes externas.

    Para examinar o ltimo modo possvel dedescentralizao sumarizamos os dados presentes nastabelas 04 e 05 em um quadro que indica apenas o usoou no de determinadoselectorate. A existncia de umamultiplicidade de selectorates indica no somente omtodo de seleo utilizado, como tambm adescentralizao organizativa do mesmo.

    como coloca Lundell (2004). A inclusividade do selectorate dada, como mostramos na seo anterior, pela participao, parausar os termos de Gallagher e Marsh (1988), de indivduos e

    rgos partidrios no processo de seleo, sem importar-se seso mais de umselectorateou vrios combinados. Apesar dereconhecermos que, empiricamente, os mtodos complexos so

    QUADRO 1 - DESCENTRALIZAO ORGANIZATIVA NA SELEO DE CANDIDATOS EM 2010 POR PARTIDO POLTICO

    DEM PSDB PMDB PT

    Filiados Sim Sim Sim Sim

    Delegados do Partido Sim Sim No Sim

    Associaes ou Instituies Ligadas ao Partido Sim Sim No Sim

    Lderes Partidrios Sim Sim Sim Sim

    Lder nico Sim Sim Sim No

    Total de selectorates mobilizados 5 5 3 4

    FONTE: o autor.

    Os dados do quadro acima apontam que DEM e

    PSDB contam com processos de descentralizaoorganizativa mais intensos. Por outro lado, PT e PMDBmobilizaram menos suas esferas partidrias, comdestaque para a maior centralizao do PMDB, utilizando

    apenas trs dos cinco possveisselectorates.O grfico

    abaixo sumariza a distribuio dos partidos quanto descentralizao social e organizacional, j queassumimos que a territorial seria fixa para todos eles.

    mais utilizados, a mobilizao destes reflete tambm o grau dedescentralizao organizativa do partido, quando e somente se,utilizados mais de umselectorate.

    27 Tendo em vista sua experincia durante o processo deseleo de candidatos a deputado federal em seu partido, o se-nhor (a) diria que o processo feito por:

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    A SELEO DE CANDIDATURAS NO DEM, PMDB, PSDB E PT NAS ELEIES

    O PMDB encontra-se no quadrante esquerdoinferior, apresentando nveis mais centralizados paraambas as dimenses. O partido utilizou menos seusrgos internos e sequer mobilizou, para a seleo deum nico candidato, associaes correlatas. Ao centro,temos o PT, que, assim como PSDB e DEM, teve ouso muito restrito de ligaes externas para formar aslistas de candidatos. Por fim, no alto do quadranteinferior direito, encontramos PSDB e DEM, que almda semelhana descentralizadora social mnima comos petistas, mobilizaram todos os nveis internos

    possveis para escolherem seus candidatos.Os dados so muito inconclusivos sobre todos os

    partidos. No possvel estabelecer uma comparaoque defina claramente as fronteiras da descentralizaoentre os mesmos. Neste sentido, podemos dizer que oa inclusividade doselectorate, at agora, a dimensoque mais impacta as diferenas entre os partidostomados como variveis intervenientes. Nesse sentido,concordamos com Hazan e Rahat (2010), quandoafirmam que os altos nveis de descentralizaoterritorial, quando coincidem com a descentralizaodo sistema eleitoral, criam barreiras para que os

    partidos adotem mecanismos de descentralizao social.Por outro lado, a mesma falta de unidade territorial

    nas eleies, onde cada partido goza de autonomiaregional, cria uma multiplicidade deselectoratesqueesto associados aos distritos em que cada candidato recrutado, aumentando nveis de descentralizaoorganizacional.

    Para o estabelecimento de lealdades, Siavelis eMorgenster (2009) afirmam que a descentralizao doprocesso s refora os determinantes da inclusividadedoselectorate. Mesmo aceitando que grupos externosou que a existncia de vriosselectoratespossa mesclara direo da lealdade, em relao a quem seleciona o

    candidato, independente de onde isso ocorra, que aformao de laos ser estabelecida. Desse modo, adescentralizao do processo pode vir a reforar laoscom comunidades locais ou grupos de interesse que ocandidato representa, por exemplo. Mas, taldescentralizao est longe de romper aresponsabilidade que o candidato possui com quem olevou at quele posto.

    A hiptese de Freidenberg (2003) sobre adescentralizao dos processos colocada em xequena medida em que partidos que apresentaram nveis

    muito semelhantes de centralizao, diferenciam-sesubstancialmente quanto inclusividade doselectorate.Partindo desta comparao, concordamos com Billie

    GRFICO 1 DESCENTRALIZAO SOCIAL E ORGANIZACIONAL NA SELEO DE CANDIDATOS

    FONTE: O autor.

    SOCIAL

    CENTR

    ALIZA

    O

    ORGANIZACIONAL

    PMDB

    PT PSDBDEM

    DESCENTR

    ALIZAO

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    REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLTICA V. 21, N 46: 45-68 JUN. 2013

    (2001) ao afirmar que descentralizao e inclusividadeno revelam em conjunto de selees de candidatosmais democrticas.

    VI. COMO SO ESCOLHIDOS OS CANDIDATOS:VOTO OU INDICAO

    Candidatos escolhidos por sistemas de votaotendem a ser legitimados por este, ou seja: tendem autilizar o voto a seu favor, na medida em que ele significauma escolha realizada de forma supostamente maisdemocrtica do que a dos sistemas de indicao. Naliteratura h uma infinidade de discusses sobre a

    frmula de votao utilizada nos partidos polticos(HAZAN & RAHAT, 2010). Desde sistemas de listafechada, voto transfervel e sistemas proporcionais,como apontam, por exemplo, Luca, Jones e Tula(2002) ao analisarem a seleo de candidatos na

    Argentina. Porm, no caso do Brasil, no investigamosse nos sistemas de votao foi mobilizada algumafrmula de voto baseada nas eleies. Apenasperguntamos aos candidatos se eles haviam sidoindicados para a lista ou se passaram por escolhasatravs do voto. As respostas esto apresentadas natabela 06:

    TABELA 6 - FORMA DE ESCOLHA POR PARTIDO NA SELEO DE CANDIDATOS EM 2010

    Partido Poltico (%)

    DEM PMDB PSDB PT Total

    Indicao 73,3 86,7 63,3 23,3 61,7

    Std. Res. 0,8 1,7 0,1 -2,7

    Votao 26,7 13,3 36,7 76,7 38,3

    Std. Res. -1 -2,2 -0,1 3,4

    n 30 30 30 30 120

    Total 100 100 100 100 100

    FONTE: o autor- Coef. Contingncia 0,437 =pvalue< 0,000

    A primeira evidncia clara que os partidos tendem,

    em geral, a indicar os candidatos para suas listas(independente de quem o faa), em vez de votar emseus futuros representantes. 61,7% das respostasrevelam que a indicao a forma de escolhapredominante. Segundo Braga (2008), esse um traofundamental para rebater as concluses queMainwaring (1991) chega sobre o controle dos partidossobre seus representantes. O uso de indicaes seria,segundo a autora, um trao forte de que os partidosesto longe de no controlarem seus processosinternos. No seria correto, portanto, atribuir combinao de lista aberta, fragilidade legislativa e

    multipartidarismo a suposta ausncia de manejo queos partidos teriam sobre as zonas de incerteza.

    O segundo ponto mais geral que, para que umsistema seja classificado como sistema de votao ousistema de indicao, preciso que a forma de escolhaseja nica na determinao da lista de candidatos. preciso ainda que tal forma legitime e justifique acandidatura (RAHAT, 2009). Novamente, nos casosconcretos, temos sistemas mistos de formas deescolha. Nenhum dos quatro partidos apresentouapenas uma forma ou outra de seleo dos candidatos.

    Dito isso, algumas diferenas entre os partidosmerecem ser destacadas.

    Em primeiro lugar, muito interessante o fato de

    que o PSDB no apresente, em todas as anlises que

    conduzimos at agora, resduos padronizados acimados valores crticos para qualquer uma das variveis.O partido tucano no apresenta universalismoprocedimental em qualquer dimenso que analisamosneste trabalho. Em todos os dados apresentados, ospeessedebistas acompanharam as mdias dos outrostrs partidos enquanto no houve diferena entre elese, quando houve, como no caso da inclusividade doselectorate, o partido se destacou por no apresentarpropores inesperadas em relao distribuio dosseus pares. Ignorando os resduos padronizados,podemos dizer que o PSDB, dentre os partidos que

    utilizam majoritariamente sistema de indicao, o maisdemocrtico, contando com 36,7% das respostas deseus candidatos associadas votao como forma desua escolha.

    Seguindo para o DEM (que tambm no apresentouresduos padronizados significativos para estadimenso), h tambm o predomnio de indicaes emvez de votaes para a escolha dos candidatos. Maisacentuado do que o PSDB, porm, a percepo que oscandidatos demistas apresentam coloca o partido emposio muito prxima dos tucanos no que se refere

    a forma de escolha como critrio para avaliao dademocracia interna. 73,3% dos candidatosresponderam que foram indicados para as listas de

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    A SELEO DE CANDIDATURAS NO DEM, PMDB, PSDB E PT NAS ELEIES

    partido acima dos tucanos e ainda abaixo do PMDB,que apresentou ndices de votao muito baixos.

    O PMDB poderia ser classificado, numa perspectivacomparativa entre esses quatro, como o menosdemocrtico quanto forma de escolha. O partido no

    difere significativamente dos demais quanto ao uso deindicao. Porm, os resduos negativos na casa de -2,2 para mobilizao de votos, mostram que , em relaoaos demais, o partido se diferencia muito alm doesperado e no sentido oposto, ou seja: com menorproporo de candidatos que foram selecionados porvotos do que a diferena entre o esperado e o observadopara os outros partidos.

    J o PT foi o nico partido que apresentou resduospositivos (3,4) acima do valor crtico para a percepode que seus candidatos chegaram at a lista final de

    candidatos pelo voto. E ao mesmo tempo, apresentouresduos significativamente negativos (-2,7) para asindicaes de candidaturas. A oposio entre tais valoresno bvia, como vimos no caso do PMDB. Osresduos nos ajudam a enxergar aquilo que pode estarmascarado pela distribuio das freqncias relativasentre os partidos. O fato de termos uma larga diferenaentre votao e indicao no caso petista poderia norefletir numa diferena em relao aos seus pares naseleies de 2010, por exemplo. Portanto, podemosafirmar com segurana que o PT foi o partido queapresentou melhores indicadores de democracia

    interna.Sistemas nos quais predominam indicaes tendem

    a garantir maior coeso das escolhas do partido comoum todo. Esse caso s violado quando prevalecemindicaes de um lder nico do partido, o que noocorreu nas eleies apresentadas neste artigo.Mudanas no sentido de sistemas de voto so encaradascomo processos de democratizao da seleo de

    candidatos e um bom indicador de democracia internados partidos polticos (RAHAT, 2009). Porm, issono garante que encontremos maior representatividadequando os candidatos so escolhidos dessa forma.Hazan e Rahat (2010) afirmam que processos em que

    lderes controlam a seleo tendem a garantiroportunidades melhores para a insero de minorias.Segundo Rahat, Hazan e Katz (2008), isso ocorre emgrande medida, pois o voto secreto, tido como normademocrtica, tende a desconsiderar a preservao deminorias, revertendo-se numa ditadura da maioria.

    VII. CONCLUSO: AS CONSEQUNCIAS DOPROCESSO DE SELEO PARA ADEMOCRACIA INTERNA NOS PARTIDOSPOLTICOS.

    Para auferirmos democracia interna, levaremos em

    conta as quatro dimenses analisadas: requisitos paracandidatura,selectorate,descentralizao e forma deescolha. O quadro abaixo sumariza, comscoresparacada dimenso, os dados encontrados para cadapartido. Apenas para descentralizao adotamos ocritrio de 0 para descentralizado e 1 para centralizado.Para as dimenses de forma de escolha e requisitospara candidatura, atribumos 0 quando a dimenso erano inclusiva e 1 para dimenses inclusivas. Para oselectorate, utilizamos uma escala mais detalhada, quefosse capaz de captar as diferenas entre os partidos.Assim, atribumos 0 para seleo majoritariamente

    conduzida por lideranas e/ou lder nico e com baixaou nenhuma ausncia de participao de instnciasintermedirias ou de base; 1 para selees majorita-riamente dominadas por lderes, mas com baixa pre-sena de lder nico e com alguma presena de lderesintermedirios; e 2 para selees com ausncia do plomais exclusivo e majoritariamente dominadas por sele-o realizada por instncias intermedirias e de base.

    QUADRO 2 - SUMARIZAO DE SCORES PARA DEMOCRACIA INTERNA NOS PARTIDOS POLTICOS

    Requisitos para Selectorate Descentralizao Forma de Score TotalCandidatura Nominao

    DEM 1 0 1 0 2

    PMDB 1 0 1 0 2

    PSDB 1 1 1 0 3

    PT 0 2 1 1 4

    FONTE: o autor.

    Como podemos ver no quadro acima, o PT opart ido que contou com maior score dentre os

    analisados. Isso se d, em grande medida, pela diferenasignificativa que o partido apresenta em relao aosselectoratesdos seus pares. A atribuio destes valores

    tem, claro, um elemento circunstancial. O fato de oselectoratedo PT receber pontuao dobrada em

    relao ao PSDB, por exemplo, no deve ser entendidocomo um peso dobrado ao contar com procedimentosmais democrticos. Os valores atribudos referem-se

  • 7/23/2019 A SELEO DE CANDIDATURAS NO DEM, PMDB, PSDB E PT NAS ELEIES LEGISLATIVAS FEDERAIS BRASILEIRAS DE

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    REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLTICA V. 21, N 46: 45-68 JUN. 2013

    no predomnio ou no de certa caracterstica, comona forma de nominao, ou uma distribuio maisequnime das propores apresentadas pelos partidos.Por outro lado, todos os partidos foram classificadoscomo tendo selees descentralizadas. Dessa forma,

    o PT o partido com melhores nveis gerais dedemocracia, seguido pelo PSDB e partilhando nveisiguais aos do PMDB e do DEM.

    Como dissemos na introduo deste artigo,apresentamos abaixo as conseqncias do processode seleo essencialmente para o critrio derepresentao de minorias. Os dados que temos disposio nos permitem falar acerca da participaodas mulheres nas listas eleitorais de cada partido. Ahiptese de trabalho era que partidos com processosde seleo de candidatos mais democrticosapresentariam tambm conseqncias maisdemocrticas, ou seja, maiores indicadores derepresentatividade. Nos estudos de recrutamentopo l ti co , in st it ui es s o cons ideradas maisrepresentativas se conseguem refletir minimamente acomposio social de seus membros. J na literaturasobre partidos e sistemas eleitorais, a representaoest ligada capacidade que o sistema eleitoral tem deconverter votos em cadeiras legislativas. Num pontoideal possvel, os partidos deveriam dar oportunidadespara que mulheres disputassem posies que serevertessem em cadeiras. Assim, as duas condies

    (social e institucional) estariam cumpridas.Para medir a representatividade, utilizamos o caso

    das mulheres num indicador adaptado de Hazan e Rahat(2010). O indicador criado pelos autores, chamado deIndex of Representation (IR), foi inicialmente forjadopara sistemas de seleo de candidatos que utilizamlistas fec