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0 Universidade de Brasília - UnB Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciências da Informação e Documentação - FACE Programa de Pós-Graduação em Administração FABIO VIANA FERNANDES DA SILVEIRA VALDECI DA SILVA REIS A SINDICÂNCIA ADMINISTRATIVA À LUZ DA LEI Nº 8.112/90: PROCEDIMENTO INVESTIGATIVO OU PUNITIVO? Brasília (DF) 2007

A SINDICÂNCIA ADMINISTRATIVA À LUZ DA LEI Nº 8.112/90 ... · A Lei 8.112/90, em seu art. 143, estabeleceu que a autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público

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Universidade de Brasília - UnB Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciências da Informação e Documentação - FACE Programa de Pós-Graduação em Administração

FABIO VIANA FERNANDES DA SILVEIRA

VALDECI DA SILVA REIS

A SINDICÂNCIA ADMINISTRATIVA À LUZ DA LEI Nº 8.112/ 90:

PROCEDIMENTO INVESTIGATIVO OU PUNITIVO?

Brasília (DF)

2007

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FABIO VIANA FERNANDES DA SILVEIRA

VALDECI DA SILVA REIS

A SINDICÂNCIA ADMINISTRATIVA À LUZ DA LEI Nº 8.112/ 90:

PROCEDIMENTO INVESTIGATIVO OU PUNITIVO?

Monografia apresentada no curso de Desenvolvimento Gerencial do Programa de Pós-Graduação em Administração da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade, Ciência da Informação e Documentação – FACE da Universidade de Brasília - UnB, como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Desenvolvimento Gerencial. Orientador: Prof. M.Sc. Mamede Said

Brasília (DF)

2007

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Dedicamos nosso pequeno ensaio

doutrinário aos colegas servidores da

Universidade de Brasília, acreditando que

nosso estudo possa servir como reflexão

na condução dos futuros procedimentos

de sindicância.

Dedicamos, em especial, às nossas

esposas (Mara e Kênia) e filhos (Felipe,

Carolina e Pietra), por serem a verdadeira

razão e motivação na busca constante

pelo aprimoramento profissional.

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AGRADECIMENTOS

Os agradecimentos fazem parte de um ritual de um trabalho que exige

muito da pessoa que o realiza. Para esta tarefa vou citar alguns nomes que de certa

forma não só contribuíram para o sucesso desta empreitada, como também nos

incentivaram nos momentos de dificuldades, souberam privar de nossa companhia e

acreditaram em nossa capacidade de realização.

Em primeiro lugar, jamais poderíamos deixar de manifestar nosso

agradecimento a Deus, que além de iluminar nossos passos, nos deu força,

coragem e sabedoria para vencer essa exaustiva caminhada.

Agradecemos também às nossas esposas e filhos, que compreenderam a

necessidade de nossa ausência, em face da longa carga horária noturna exigida

pelo curso.

Por fim, agradecemos ao nosso querido orientador, Professor Mamede,

que assumiu a dolorosa tarefa de coordenar nosso ensaio doutrinário, ao amigo

Antônio Veiga, que colaborou no trabalho de revisão de nossa monografia corrigindo

com maestria nossa redação, e aos nossos colegas de trabalho, em especial à

equipe da Secretaria do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília e à

equipe do escritório Gallotti e Advogados Associados, que, além de incentivarem

pela busca de um contínuo aprimoramento profissional, compreenderam a

necessidade de nossa ausência e colaboraram sobremaneira com a conclusão de

mais uma etapa de nossa vida acadêmica.

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RESUMO

A Lei 8.112/90, em seu art. 143, estabeleceu que a autoridade que tiver ciência de

irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua apuração imediata,

mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada ao acusado

ampla defesa. Partindo desse prisma e confrontando diferentes entendimentos

doutrinários, nosso trabalho teve como objetivo debater a verdadeira acepção do

termo “sindicância” tentando desmistificar a verdadeira finalidade da sindicância

administrativa, criada pelo legislador ordinário na Lei nº 8.112/90, ao nominar de

“sindicância” o que na verdade seria “processo administrativo disciplinar” sumário,

diante de seu nítido caráter punitivo e não apenas investigativo.

Palavra-chave : sindicância, processo administrativo disciplinar, servidor público

federal.

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1: Terceirizados – HUB – PRC e FUBRA / Bolsa Técnica / Estagiários e SICAP.................................................................... 36

GRÁFICO 2: Servidores do quadro permanente por área de atuação ............. 36

GRÁFICO 3: Ocorrências registradas em 2005 ............................................... 38

GRÁFICO 4: Ocorrências registradas em 2006 ............................................... 39

GRÁFICO 5: Ocorrências por área em 2005 ................................................... 39

GRÁFICO 6: Ocorrências por área em 2006 ................................................... 40

GRÁFICO 7: Processos não instaurados/processos concluídos no ano de 2005 ............................................................................................ 40

GRÁFICO 8: Processos não instaurados/processos concluídos no ano de 2006 ............................................................................................ 41

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .........................................................................................................................................7

1 Do surgimento do instituto ...................... ..........................................................................................9

1.1 ORIGEM DA SINDICÂNCIA ....................................................................................................................9 1.2 DA ETIMOLOGIA DA PALAVRA “SINDICÂNCIA” ..................................................................................... 11 1.3 IMPORTÂNCIA DA SINDICÂNCIA NO SERVIÇO PÚBLICO ....................................................................... 12 1.4 DA RELEVÂNCIA DO INSTITUTO NO ORDENAMENTO JURÍDICO PÁTRIO ................................................. 12 1.5 DA INOVAÇÃO TRAZIDA PELO DIREITO PORTUGUÊS .......................................................................... 13

2 Da normatização do instituto .................... ...................................................................................... 14

2.1 DEFINIÇÃO TÉCNICA DE SINDICÂNCIA ............................................................................................... 14 2.2 DA SINDICÂNCIA ADMINISTRATIVA E DO PROCESSO ADMINISTRATIVO ................................................. 15 2.3 DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR ................................................................................. 16 2.4 DO INQUÉRITO ADMINISTRATIVO ..................................................................................................... 17 2.5 DO PROCESSO DISCIPLINAR PRINCIPAL........................................................................................... 18 2.6 DO VALOR DA SINDICÂNCIA ADMINISTRATIVA .................................................................................... 19

3 Do aspecto formal da sindicância ................ .................................................................................. 20

3.1 O OBJETO DA SINDICÂNCIA ............................................................................................................. 20 3.2 REQUISITOS DA SINDICÂNCIA .......................................................................................................... 22 3.3 RAZÕES PARA ABERTURA DE SINDICÂNCIA ...................................................................................... 22 3.4 DA COMISSÃO SINDICANTE .............................................................................................................. 23 3.5 CONDUÇÃO DO PROCESSO DE SINDICÂNCIA .................................................................................... 24 3.7 DA PUBLICIDADE DOS ATOS NA SINDICÂNCIA .................................................................................... 25 3.8 DAS FORMALIDADES DA SINDICÂNCIA ............................................................................................... 25 3.9 DO ENCERRAMENTO DA SINDICÂNCIA ............................................................................................... 26

4 Do posicionamento da doutrina ................... .................................................................................. 28

4.1 DO POSICIONAMENTO DE CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO ...................................................... 28 4.2 DO POSICIONAMENTO DE DANIEL MACHADO DA ROCHA ................................................................... 28 4.3 DO POSICIONAMENTO DE HELY LOPES MEIRELLES ........................................................................... 29 4.4 DO POSICIONAMENTO DE MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO ............................................................ 29 4.5 DO POSICIONAMENTO DE LÉO DA SILVA ALVES ................................................................................ 30 4.6 DO POSICIONAMENTO DE MAURO ROBERTO GOMES DE MATOS ........................................................ 30 4.7 DO POSICIONAMENTO DE DÊNERSON DIAS ROSA ............................................................................. 31 4.8 DO POSICIONAMENTO DE DIOGENES GASPARINI .............................................................................. 31 4.9 DO POSICIONAMENTO DE JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO ........................................................ 33

5 Estudo de caso .................................. ............................................................................................... 36

5.1 DO UNIVERSO DE SERVIDORES DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA ........................................................ 36 5.2 DADOS ESTATÍSTICOS DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA E ANÁLISE CRÍTICA ......................................... 37

CONCLUSÃO ......................................... .............................................................................................. 42

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 46

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INTRODUÇÃO

A sociedade tem cada vez mais voltado seus olhos para a fiscalização do

serviço público, em decorrência de variados acontecimentos que têm sido trazidos à

tona pela atuação do Ministério Público Federal e pela Polícia Federal. Estas ações

têm levado os gestores públicos a reestruturar o modus operandi dos órgãos

governamentais, principalmente no que concerne à atuação e punição de

irregularidades cometidas por administradores ímprobos.

Na esfera funcional, o direito brasileiro prevê o instituto do processo

administrativo disciplinar como competente para apurar e punir as faltas praticadas

pelos servidores públicos, sem, contudo, retirar do Poder Judiciário o controle

jurisdicional sobre essas questões. No entanto, tem sido usualmente confundido o

processo administrativo disciplinar com a figura da sindicância, utilizada para aplicar

punições, quando somente poderia fazê-lo por meio do devido Processo

Administrativo Disciplinar.

Todavia, em razão da perpetuação do errôneo vício de linguagem, a

expressão sindicância tem sido utilizada equivocadamente para apuração e punição

de irregularidades administrativas, deixando a Administração Pública de observar

princípios constitucionais basilares, como o contraditório e a ampla defesa.

A sindicância no serviço público brasileiro veio a ser regulamentada com o

advento do Regimento Jurídico Único, a partir da publicação da Lei 8.112, de 11 de

novembro de 1990. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, no Ato

das Disposições Constitucionais Transitórios, estabeleceu-se prazo para que os

Estados, Municípios e Distrito Federal adequassem suas constituições e leis

orgânicas à Lei Maior.

Atendida a premissa constitucional, verificou-se que a sindicância passou

a ter interpretações diferenciadas no que diz respeito à sua aplicabilidade e à

doutrina. Logo, objetivando observar a eficácia no estabelecimento da norma

vigente, procurou-se na literatura atualizada definir as distorções e ampliar o debate

sobre o tema, de forma a colocar na pauta do dia, para reflexão dos gestores, a

melhor e mais eficiente forma de assegurar a apuração de fatos relevantes no

serviço público brasileiro, por meio de processo de sindicância.

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A sindicância é mero procedimento investigativo, sendo incabível a

apresentação de defesa, visto que somente pode existir defesa após a formalização

de acusação. Esta, por sua vez, somente se formaliza quando da instauração do

processo administrativo disciplinar, sendo afrontante ao direito brasileiro a utilização

da sindicância como procedimento sumário para aplicação de penalidades, mesmo

de menor monta.

Na correta acepção da palavra “sindicância”, o instituto tem por objetivo

definir as bases da investigação administrativa, semelhante ao inquérito policial,

sendo sua natureza inquisitorial, haja vista que sua finalidade é instruir um possível

Processo Administrativo Disciplinar ou identificar o não cometimento do delito.

Diante da problemática estabelecida entre o texto legal e a verdadeira

finalidade do instituto, o presente trabalho tem por objetivo conflitar posicionamentos

quanto à correta utilização da sindicância (inquérito administrativo x processo

administrativo disciplinar), partindo da análise que apresenta a Lei nº 8.112/90, e as

posições doutrinárias de autores renomados sobre o assunto.

O estudo confrontará normas, técnicas e práticas inerentes à condução do

procedimento de sindicância, observando as orientações dos autores que

discorreram sobre o tema, tendo como base os princípios consagrados na

Constituição Federal, sem deixar de analisar os aspectos legais consignados na Lei

nº 8.112/90.

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1 DO SURGIMENTO DO INSTITUTO

1.1 Origem da sindicância

Rosa (2001), ao escrever seu ensaio sobre “Sindicância e o Processo

Administrativo Disciplinar”, ensina que, na época colonial, Portugal, para estimular o

povoamento, o cultivo e a exploração das terras brasileiras, utilizou-se do instituto

das sesmarias, distribuindo aos donatários grandes extensões de terras, mas não

submeteu os povoamentos ao controle dos donatários. Foi estabelecido governo

local relativamente “autônomo”, dirigido por um chefe municipal ou procurador e por

um conselho ou câmara, composto de habitantes locais, que se incumbia das

questões “judiciais”, empregando procedimentos semelhantes ao adotado, à época,

em Portugal.

Segue o autor esclarecendo que no início do desenvolvimento das

colônias, foram estabelecidas, entre outras normas, a função jurisdicional no Brasil,

com a instituição, em meados do século XVI, de um corpo judicial composto de

juizes ordinários, com jurisdição municipal ou de nomeação régia (juiz-de-fora), e, a

partir de 1609, dos tribunais de apelação. Nessa época, de um modo ainda

rudimentar, existia no Brasil Colonial uma unidade de jurisdição, posto que as

decisões administrativas eram passíveis de submissão ao crivo do Poder Judiciário.

Com a reforma decorrente da Lei de 22 de dezembro de 1761, o Marquês

de Pombal instituiu os primórdios do que posteriormente viria a ser denominado de

processo administrativo, mediante procedimentos da Administração de revisar e

julgar seus próprios atos. Contudo, segundo o autor, após a Declaração de

Independência e influenciado por profundas mudanças políticas e institucionais que

ocorriam no mundo, decorrentes do liberalismo provocado pela Revolução Francesa,

o Imperador D. Pedro I extinguiu, em 1827, todos os órgãos responsáveis por

processos administrativos, recriando-os tão-somente em 1831.

Em 1841, influenciado pelo recém-criado contencioso administrativo

francês, o Imperador, mais do que simplesmente manter a existência do contencioso

administrativo, estabeleceu no Brasil a dualidade de jurisdição, instituindo o

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contencioso administrativo para todas as causas relacionadas com a atuação do

Poder Executivo.

Em meados de1859, foi atribuída forma de sentença judicial às decisões

do contencioso administrativo, no sentido de que somente pudessem ser anuladas

pelo Conselho de Estado, em sistema similar ao previsto na Lei Francesa número

16, de 24 de maio de 1870, que estabelecia que as funções judiciais são distintas, e

permanecerão separadas das funções administrativas. Não poderão os juízes, sob

pena de prevaricação, perturbar, de qualquer maneira, as atividades dos corpos

administrativos.

O autor explica que o sistema geral do contencioso administrativo

brasileiro não tinha coordenação e uniformidade. Devido também ao fato de o

Conselho de Estado não exercer suas funções com independência e hegemonia, o

contencioso administrativo distanciou-se tanto do paradigma francês, que o

Visconde do Uruguay chegou a afirmar que, à exceção do contencioso do Ministério

da Fazenda, o restante era um verdadeiro caos.

Com a queda do Imperador, em 1889, e sob a franca inspiração da

democracia norte-americana, foi promulgada, em 24 de fevereiro de 1891, a

“Constituição da República dos Estados Unidos do Brazil”, que consagrou o regime

republicano e federativo, bem com instituiu a separação dos poderes, seguindo as

linhas traçadas por Montesquieu, na França, publicada na obra “O Espírito das Leis”.

Nesse momento, segundo do autor, o Brasil se afastou do sistema de

justiça francês, e adotou o sistema de jurisdição única, que deu competência ao

Poder Judiciário inclusive as situações anteriormente atribuídas ao contencioso

administrativo, à semelhança do que fora feito no sistema norte-americano, quando

da promulgação da 5ª Emenda, em 1878, que estabeleceu o due process of law.

Rosa (2001) ensina que, apesar de o contencioso administrativo ter

continuado a existir no direito brasileiro, foram-lhe retiradas suas funções

jurisdicionais. Viu-se este, a partir de então, com atribuições tão-somente de controle

interno da Administração. Mas, por falta de organização e sistematização, continuou

havendo grande sobreposição de procedimentos e repetição de fases processuais

entre ele e o processo judicial.

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Em 1969, por força dos artigos 110 e 111 da Constituição,

institucionalizou-se a coexistência do processo administrativo disciplinar com o

processo judicial. Todavia, quando da promulgação da Emenda Constitucional

número 7, de 13 de abril de 1977, que alterou o parágrafo 4º, do artigo 153 da

Constituição de 1969, dando-lhe nova redação, foi restabelecida, ainda que de forma

limitada, a dualidade jurisdicional, ao prever-se que o Poder Judiciário somente

poderia ser acionado após serem exauridas as instâncias administrativas.

Concluindo, o autor esclarece que, com a promulgação da Constituição

de 1988, retornou o instituto do contencioso administrativo a simples procedimento

de controle interno da Administração, extinguindo-se a necessidade de sua

existência prévia para o ingresso em juízo, visando extinguir os abusos por vezes

ocorrentes nos órgãos contenciosos administrativos.

1.2 Da etimologia da palavra “sindicância”

Para Octaviano e Gonzalez (1995), a palavra sindicância deriva de

síndico, em grego súndikos, antigo procurador de uma comunidade helênica.

Já para do professor Cretella Júnior (2006), segundo os estudiosos do

vernáculo da língua portuguesa praticada no Brasil, sindicar significada “tomar

informação judicial do procedimento de algum juiz ou magistrado, ou qualquer

pessoa, que teve ofício, mando ou governo por el-Rei, a quem se tira residência; ou

tirar devassa sobre algum caso” ou “tomar informações de (alguma coisa) por virtude

de ordem superior; inquirir” ou ainda “tomar informações; fazer inquérito; inquirir”.

Por sua vez, segundo o autor, o substantivo paralelo sindicância tem o

sentido usual de inspeção feita numa repartição ou associação para se inquirir dos

atos dos empregados e do modo como é feito o serviço; inquérito.

O autor, continuando seu estudo acerca da origem do vocábulo

sindicância, descobriu que sua origem seria grega, passando para o português

através do latim, língua, aliás, em que as palavras forjadas sobre a mesma raiz,

como síndico, tiveram escassíssimo emprego.

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Por fim, aduz o autor que o vocábulo “sindicância” significa, em português,

a letra ou a operação cuja faculdade é trazer à tona, fazer ver, revelar ou mostrar

algo que se ache oculto.

1.3 Importância da Sindicância no Serviço Público

Segundo Lima (1994), a sindicância como negócio jurídico de direito

administrativo reveste-se de grande importância, haja vista sua significativa

utilização para a manutenção da disciplina do seu pessoal e a regulação do

funcionamento de suas repartições e órgãos, merecidamente reconhecidos.

O autor fala também que as provas insofismáveis do valor e da

importância desse instituto jurídico são os resultados conseguidos com o próprio

alcance do seu objetivo principal e de suas finalidades acessórias para as quais é

empregado no âmbito do Governo.

Para que a sindicância tenha sucesso e atinja seus objetivos, esclarece o

autor que ela deverá estar ligada aos seus próprios requisitos e à particularidade de

ser instaurada com imediatidade à denúncia da falta ou à sua consumação, e dentro

do próprio local em que se deu.

Na visão do professor Gasparini (2006), a sindicância é como o processo

sumário de elucidação de irregularidades no serviço público, para bem caracterizá-la

ou para determinar seus autores, para a posterior instauração do competente

processo administrativo.

1.4 Da relevância do instituto no ordenamento juríd ico pátrio

Na visão de Cretella Júnior (2006), se por um lado, no moderno direito

administrativo do Brasil, o singular instituto da sindicância assume valor

incontestável, seja pela extraordinária freqüência com que ocorre, seja pelas

próprias notas características se reveste — como auxiliar das autoridades

administrativas interessadas na apuração de fatos que possam causar, ou

causaram, entraves à continuidade perfeita do serviço público —, por outro lado, é

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desolador o panorama que se oferece ao cientista do direito que procura fazer

levantamento sistemático a respeito, diante da indigência quase completa de dados

jurisdicionais, doutrinários ou mesmo do direito positivo.

Nessas condições, ante os milhares de exemplos práticos de nossa vida

administrativa, esclarece o autor que o doutrinador terá de proceder indutivamente,

colhendo elementos aqui e ali, valendo-se, depois, da escassa contribuição

doutrinária e normativa existente para sistematizar, em suas linhas mestras, o

instituto da sindicância administrativa ou simplesmente sindicância, “meio sumário”

ou “processo sumário”, possível base para o verdadeiro processo administrativo.

Concluindo, o autor observa que, “sindicância administrativa” não é

sinônimo de “processo administrativo”. Por isso, não é formada pelo princípio da

ampla defesa. Sindicância é uma medida cautelar, é procedimento prudente da

Administração para apurar irregularidades eventualmente existentes.

1.5 Da inovação trazida pelo Direito Português

Na lição de Cretella Júnior (2006), com as notas singulares que o matizam

dentro de nosso sistema administrativo, o instituto da sindicância não encontra símile

no direito alienígena, merecendo, pois, ampla divulgação, pelos benefícios que traz

ao Estado e ao direito público na investigação da verdade, sem prejudicar o

sindicado, quer moral, quer patrimonialmente.

Para o autor, a sindicância administrativa, inspirada no direito

administrativo português desenvolveu-se entre nós, tratando-se de contribuição

brasileira, sobremaneira útil, quando conduzida com equilibrado critério e poderá ser

adotada por outros países com inegáveis benefícios para o bom andamento dos

serviços públicos.

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2 DA NORMATIZAÇÃO DO INSTITUTO

2.1 Definição técnica de sindicância

Segundo entendimento de Lessa (2006), transportado para o âmbito do

direito administrativo, o vocábulo sindicância, de feliz criação, confirma, na

terminologia técnica do direito público, o sentido que os elementos lingüísticos, em

que se decompõe já na língua de origem, emprestavam ao conjunto.

Ainda segundo o autor, a sindicância administrativa ou, abreviadamente,

sindicância, é o meio sumário de que se utiliza a Administração do Brasil para,

sigilosa ou publicamente, com indicados ou não, proceder à apuração de

ocorrências anômalas no serviço público, as quais, confirmadas, fornecerão

elementos concretos para a abertura do processo administrativo contra o funcionário

público responsável. Não confirmadas as irregularidades, o processo sumário é

arquivado.

Na ótica de Cretella Júnior (2006), não se trata de procedimento temerário

da Administração, consistindo, ao contrário, em operação preliminar, realizada ad

cautelam, que inúmeras vezes poupam ao Estado processos demorados e

dispendiosos, ao mesmo tempo em que livra o servidor público de envolver-se,

gratuitamente, nas malhas de processo administrativo, dentro do qual teria de

defender-se, quer fosse ou não o envolvido na irregularidade.

O autor, ao refletir acerca da obra escrita pelo professor Tito Prates da

Fonseca1, discorreu com grande segurança sobre o assunto, verbis:

O Estatuto ordena à autoridade, que tiver ciência ou notícia da ocorrência de irregularidades, promova a sua apuração imediata. Ora, notícia não quer dizer certeza. Por isso, o direito administrativo, sob a denominação de inquérito ou de sindicância, distinguindo um de outra, ou tendo-os como sinônimos, estabelece um procedimento preliminar, para chegar à certeza suficiente da existência de faltas disciplinares, quando essa certeza ou forte probabilidade não exista.

“Pela sindicância ou inquérito a autoridade procura apurar, em determinado serviço público, ou em um conjunto deles, a existência de irregularidades, determinarem os fatos irregulares e a pessoa ou pessoas envolvidas”.

1 FONSECA, Tito Prates. Lições de Direito Administrativo. 7. ed. 1943.

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A sindicância pode ser instaurada sem indiciado, objetivamente, para se verificar a existência de irregularidade. Apurada a veracidade dos fatos, deve a sindicância apontar seus prováveis autores ou responsáveis. Nessa forma preliminar, não há necessariamente defesa, porque não conclui por uma decisão contra ou em favor de pessoas, mas pela instauração do processo administrativo ou pelo arquivamento da sindicância.

É aconselhável que, em casos de certa gravidade, pela natureza da falta e suas conseqüências para o funcionário e para o serviço público, a sindicância termine pela audiência dos possíveis responsáveis.

Evitam-se, assim, processos inúteis e danosos, e nenhum prejuízo poderá resultar para o serviço público, desde que não haja probabilidade de ocultação de provas.

Pode a sindicância terminar pelo pedido de nomeação de uma comissão disciplinar para a imposição da pena de disponibilidade.

2.2 Da sindicância administrativa e do processo adm inistrativo

Nunca será demais frisar que sindicância não se confunde com processo

administrativo. Estabelecendo-se paralelo, mais ou menos aproximado, entre o

âmbito penal e a esfera administrativa, seria possível dizer que a sindicância está,

para o processo administrativo, do mesmo modo que o inquérito policial está para o

processo penal.

Há sindicância sem processo, há processo sem sindicância. No primeiro

caso, a denúncia foi arquivada, nada se apurou de positivo contra quem quer que

seja; no segundo caso, pela natureza da falta cometida e pelas circunstâncias

especiais que cercam o fato, a Administração iniciou logo o processo administrativo,

sem passar pela sindicância.

Para o Professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de São

Paulo Cretella Júnior (2006), deve ficar consignado, no entanto, que, por questão de

economia, bem como por força de comedimento administrativo, uma Comissão de

Inquérito só deve funcionar depois da realização de uma sindicância administrativa,

instrumento eficaz para que se conheça o mérito das denúncias, no campo da

Administração Pública; e, se adotada com maior regularidade, poderá servir para

fortalecer a confiança pública no instituto do inquérito administrativo.

Por fim, cumpre destacar a opinião de Rocha (2006), que corrobora a tese

de que a sindicância, em sua acepção pura, é uma das modalidades de processo

administrativo, caracterizada pelo rito sumário e pelo caráter instrumental e

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probatório, posto que funciona como meio de instrução e averiguação de fatos

ensejadores da aplicação das penalidades aos servidores públicos.

2.3 Do Processo Administrativo Disciplinar

Na lição de Carvalho Filho (2007), o Processo Administrativo Disciplinar é

o instrumento formal através do qual a Administração apura a existência de infrações

praticadas por seus servidores e, se for o caso, aplica as sanções adequadas.

Quando uma infração é praticada no âmbito da Administração, é

absolutamente necessário apurá-la, como garantia para o servidor e também da

Administração. Segundo o autor, o procedimento tem que ser formal, para permitir

ao agente público o exercício do direito de ampla defesa, procurando eximir-se da

acusação a ele oferecida.

O fundamento do processo em foco está abrigado no sistema disciplinar

que vigora na relação entre o Estado e seus servidores. Para o autor, cabe à

Administração zelar pela correção e legitimidade da atuação de seus agentes, de

modo que, quando se noticia conduta incorreta ou ilegítima tem a Administração o

poder jurídico de restaurar a legalidade e de punir os infratores. A hierarquia

administrativa, que comporta vários escalões funcionais, permite esse controle

funcional com vistas à regularidade no exercício da função administrativa. A

necessidade de formalizar a apuração através de processo administrativo é

exatamente para que a Administração conclua a apuração dentro dos padrões da

maior veracidade.

Carvalho Filho (2007) ensina ainda que o processo disciplinar se regula

por bases normativas diversas. Incide para esse tipo de processo o princípio da

disciplina reguladora difusa, isso porque suas regras, a tramitação, a competência,

os prazos e as sanções se encontram nos estatutos funcionais das diversas pessoas

federativas. Contrariamente sucede nos processos judiciais, sujeitos à disciplina

reguladora concentrada, porque todo o sistema básico se situa num só diploma legal

e apenas os ritos especiais se alojam em leis especiais.

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Concluindo, o autor esclarece que a averiguação de faltas funcionais

constitui um dever da Administração. Não se pode conceber qualquer

discricionariedade nessa atuação, porquanto o princípio da legalidade é de

observância obrigatória para todos os órgãos administrativos. A apuração é o objeto

precípuo do processo disciplinar. Mas o resultado do processo pode levar a duas

condutas administrativas. Uma delas é a aplicação da sanção ao servidor que tiver

cometido a falta funcional. A outra é o arquivamento do feito, no caso de ficar

demonstrada a ausência da infração.

2.4 Do Inquérito Administrativo

Em relação ao inquérito administrativo, Carvalho Filho (2007) entende que

essa é outra expressão que, por sua imprecisão, tem provocado diversos sentidos.

Em primeiro lugar, devemos atentar para o fato de que a expressão inquérito

administrativo (ao contrário da sindicância) deve indicar a natureza jurídica de um

processo administrativo, e não sua denominação. Isso é que desde logo precisa ser

observado. Mas nem sempre tem sido assim.

Para o autor, há três sentidos para a expressão inquérito administrativo:

a) O primeiro é o que traduz a natureza jurídica da sindicância. Em outras

palavras, pode dizer-se que a sindicância, em sua concepção tradicional e técnica,

tem a natureza jurídica de um inquérito administrativo. O sentido aqui leva em conta

a noção de inquérito, de inquirição, de interrogatório. Ou seja, considera o aspecto

inquisitivo, próprio da sindicância, que é, como vimos, processo administrativo

preparatório.

b) O inquérito administrativo tem ainda sido empregado como indicativo

do processo disciplinar principal, o que já retrata uma distorção de seu sentido

técnico. É nesse sentido que comumente se ouve a afirmação de que fulano ou

beltrano estão respondendo a um inquérito administrativo. Só que nesse inquérito há

contraditório, ampla defesa, produção de provas e aplicação de pena. Obviamente

não é inquérito, mas sim processo administrativo principal.

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c) Finalmente pode o inquérito administrativo significar uma das fases do

processo disciplinar principal, ou seja, aquela em que a prova é produzida. É

exatamente esse o sentido adotado pela Lei nº 8112/90, o Estatuto federal, ao dispor

que o processo disciplinar se desenvolve em três fases (instauração, inquérito

administrativo e julgamento).

Por fim, visando evitar dúvidas, é importante observar o múltiplo sentido

da expressão inquérito administrativo no exame do contexto em que é empregada:

tanto serve como natureza jurídica da sindicância, ou como processo disciplinar

principal ou, finalmente, como a fase de instrução do processo disciplinar principal.

2.5 Do Processo Disciplinar Principal

Na ótica de Carvalho Filho (2007), o processo disciplinar principal, ou

simplesmente processo disciplinar, é todo aquele que tenha por objeto a apuração

de ilícito funcional e, quando for o caso, a aplicação da respectiva sanção, seja qual

for a expressão adotada para denominá-lo.

Para o autor, no processo disciplinar principal, a definição é que este é um

processo administrativo litigioso, acusatório e definitivo que exige a incidência do

princípio da ampla defesa e do contraditório e do devido processo legal. Este, e

somente este, é que, ao seu final, permite ao administrador aplicar a penalidade

adequada quando tiver sido efetivamente verificada a ocorrência de infração

funcional.

Uma vez instaurado o processo disciplinar principal, a sindicância

preliminar fica superada, de modo que nada mais há a impugnar nesse

procedimento, sabido que o interessado terá direito ao contraditório e ampla defesa

no feito principal. Por isso, segundo Carvalho Filho (2007), já se decidiu que,

instaurado o processo administrativo disciplinar, não há que se alegar mácula na

fase de sindicância, porque esta apura as irregularidades funcionais para depois

fundamentar a instauração do processo punitivo, dispensando-se a defesa do

investigado nessa fase de mero expediente investigatório.

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Por fim, leciona o autor que o processo disciplinar principal é autônomo e

terá inteira legitimidade se observar as regras reguladoras. Por isso, não depende do

processamento de sindicância prévia como condição para sua instauração. Tal

condição só se afigura admissível se a lei disciplinadora do processo expressamente

o exigir, o que é raro de ocorrer. Caso a autoridade já tenha elementos suficientes

para realizar o processo principal, dispensável, no silêncio da lei, será a instauração

de prévia sindicância.

2.6 Do valor da sindicância administrativa

A sindicância bem conduzida, orientada por autoridade emocionalmente

equilibrada, justa, honesta, independente, pouco sugestionável, constitui a melhor

garantia para o Estado e para o agente público.

Cretella Júnior (2006), ao discorrer sobre a necessidade da sindicância,

recomenda que a autoridade determine previamente uma sindicância, ou mesmo

uma simples averiguação por alguém de sua confiança pessoal, podendo ouvir

diretamente as partes, os subordinados ou colegas que tenham conhecimento dos

fatos, com o que formará juízo sobre se a falta é ou não grave que justifique a

abertura de inquérito ou possa ser, de pronto, punida com penalidade menos

rigorosa.

Continuando, o autor assim discorre, verbis:

Assim como, antes das operações de grande envergadura do exército, uma patrulha de sapadores, realiza preliminar trabalho de “sapa”, fazendo sondagens prudentes, examinando o terreno suspeito, para que não caminhem os técnicos em campo duvidoso, do mesmo modo, a Comissão Sindicante, através de diligentes pesquisas indagatórias prepara o terreno para a futura Comissão Processante. (CRETELLA JÚNIOR, 2006, p. 67)

Nesse ponto, discordando do posicionamento do professor Carvalho Filho

(2006), anteriormente abordado, Cretella Júnior (2006), entende que o êxito do

processo administrativo disciplinar depende, necessariamente, de sindicância

anterior, realizada com todos os requisitos técnicos que devem caracterizá-la.

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3 DO ASPECTO FORMAL DA SINDICÂNCIA

3.1 O objeto da sindicância

De acordo com o Gasparini (2006), o objeto da sindicância é a apuração

de uma infração não perfeitamente conhecida para apurar delito cometido por

servidor público perfeitamente conhecido ou, ainda, apurar infrações e descobrir

autores de infrações cometidas. Este seu objeto, em tais circunstâncias, não pode

ser aplicada pena ao sindicado. Contudo, costuma-se chamar de sindicância o que

na realidade é processo administrativo disciplinar. Desta forma se designou a

sindicância, mas a ela foi designado o rito de processo administrativo disciplinar e

garantido o contraditório, a ampla defesa e o devido processo legal. Neste caso, a

pena aplicada é válida, como ocorre no bojo da Lei nº 8.112/90.

Na própria acepção da palavra, segundo o autor, o termo sindicância é

sempre utilizado para designar a apuração de qualquer fato supostamente ocorrido

acerca de qualquer matéria de que trate a Administração Pública, não

necessariamente disciplinar, de que se teve conhecimento de forma genérica e sem

prévia indicação de autoria (ou ocorrência). Nessa acepção, o termo refere-se a

procedimento administrativo investigativo (ou preparatório), discricionário (sem o rito

previsto em norma, à margem do devido processo legal) e de natureza inquisitorial

(sem a figura de acusado a quem se conceder ampla defesa e contraditória). A

sindicância inquisitorial pode ser instaurada por meio de ato de desnecessária

publicidade, designando apenas um sindicante ou uma comissão com número de

integrantes a critério da autoridade competente.

Há dois procedimentos para a sindicância, quais sejam: sindicância

investigativa (ou preparatória) inquisitorial e sindicância contraditória (ou acusatória)

disciplinar, que tem como fundamentação a Lei nº 8.112/90.

Segundo o autor, a sindicância inquisitorial poderá ser instaurada por

qualquer autoridade administrativa, não prevista na Lei nº 8.112/90 e, como tal, não

se confunde com a contraditória, prevista nos artigos 143 e 145 da mesma lei e que,

de forma excludente, somente pode ser instaurada por autoridade competente para

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o material correcional. Não obstante, a sindicância inquisitorial, por falta de rito

definido em qualquer norma, pode adotar, extensivamente, no que for cabível, os

institutos, rito e prazos da sindicância contraditória.

Ressalte-se que, além de servir, em regra, como meio preparatório para o

processo disciplinar, pode ser aplicada em qualquer outra circunstância que

comprometa a regularidade do serviço público. Desta forma, segundo Gasparini

(2006), seu relatório tanto pode recomendar instauração de processo disciplinar,

como também pode esclarecer fatos, prestar orientações preventivas, propor

rescisão de contratos, instauração de tomada de contas especial, adoção de

medidas gerenciais, alteração do ordenamento e criação ou aperfeiçoamento de

rotinas e de sistemas internos de controle.

Na sindicância contraditória, o legislador empregou a expressão

“processo administrativo disciplinar”, mas também o termo “sindicância”. Ou seja,

sem prejuízo da manutenção daquele uso genérico para o termo “sindicância”, acima

descrito, com fim meramente investigativo preparatório. O fundamento legal,

expressamente passou a prever a específica sindicância autônoma contraditória (ou

acusatória), de índole disciplinar. O autor conclui aduzindo que o legislador teve a

intenção de dotar a Administração Pública de um instrumento rápido para apurar

fatos irregulares de menor gravidade.

Na visão de Gasparini (2006), enquanto o processo administrativo

disciplinar é meio formal, solene, de apuração das infrações cometidas pelos

servidores e, conseqüentemente, há aplicação da pena administrativa, a sindicância

é processo sumário de elucidações de irregularidades no serviço público, praticado

por servidores, não servindo, portanto, para aplicação de qualquer pena.

Segundo Mello (2003), a sindicância é um processo de investigação, cujo

prazo de conclusão não deve exceder a 30 (trinta) dias. Entretanto, este prazo

poderá ser prorrogado por igual período, se a conclusão não for pelo arquivamento

do processo ou pela aplicação de pena de advertência ou suspensão de até 30

(trinta) dias, assegurada ampla defesa. Será instaurado o processo disciplinar

sempre que o ilícito praticado ensejar sanção mais grave.

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3.2 Requisitos da sindicância

Há certos requisitos que não podem deixar de ser observados na abertura

de um processo de sindicância. Assim, segundo Octaviano e Gonzalez (1995) a

sindicância somente será levada a bom termo, constituindo-se num documento

realmente informador, se observados certos requisitos próprios e indispensáveis à

sua efetivação ,brevidade, clareza e exatidão.

A brevidade possível, na coleta de informações, conduz certamente à

precisão das normas. Averiguações morosas implicam a deturpação dos fatos pelo

decurso do tempo, acabando por influir negativamente nos elementos formadores de

convicção.

A clareza é outro requisito indispensável ao procedimento sindicante.

Eivada de luz os fatos, fornece segurança, favorece a elaboração do relatório

conferindo-lhe objetividade própria, legal e administrativamente exigível. Informações

obscuras conduzem ao erro e à dúvida, incutindo temeridade no apreciador dos

autos, ao ensejo da solução do problema.

Por fim, esclarece o autor que não bastam, porém, à sindicância os

requisitos da brevidade e da clareza. Com efeito, a sindicância pode ser breve sem

ser clara e pode ser clara sem ser exata nos seus elementos informativos. A

exatidão é, assim, outro requisito importante.

3.3 Razões para abertura de sindicância

Octaviano e Gonzalez (1995) recomendam à autoridade competente usar

de muita cautela ao determinar a abertura de uma sindicância, pois uma atitude

precipitada, além de acarretar sérios problemas, pode implicar o desprestígio da

própria autoridade.

Nesse liame, os autores entendem que, para abertura da sindicância,

devem-se observar os seguintes elementos:

a) tenha ocorrido um ato ou fato de certa e ponderável gravidade;

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b) não haja elementos capazes de provar, suficientemente, a existência

ou a autoria dos mesmos.

Segundo Octaviano e Gonzalez (1995) não se abrirá sindicância para a

apuração de ato ou fato que não represente um dano, uma turbação, um

desprestigio a empresa ou aos seus serviços.

Recomenda-se não abrir um procedimento de sindicância quando,

embora grave o ato ou fato irregular, esteja clara ou suficientemente provada a sua

autoria. Pelo fato de a sindicância ser um meio de averiguação, não se justifica sua

abertura na hipótese de flagrante conhecimento da autoria. Nestes casos, ou a

autoridade adota, de pronto, se da sua competência, as medidas cabíveis ao caso,

ou providência, a respeito do mesmo, a instauração do competente processo

administrativo disciplinar.

3.4 Da comissão sindicante

Para realizar a sindicância administrativa, será designada uma Comissão

Sindicante de três membros. Mas a natureza da irregularidade poderá reduzir esse

número a dois ou, conforme o caso, a um só funcionário para o trabalho de

investigação preliminar.

Segundo Cretella Júnior (2006), a sindicância poderá ser conduzida

sumariamente, mediante simples averiguação por funcionário de confiança da

autoridade ou por meio de comissão, quando a gravidade ou complexidade dos fatos

narrados aconselharem maiores formalidades, para que a autoridade possa formar

juízo sobre os mesmos.

Todavia, consoante lição de Silva (2004), é desaconselhável que a

sindicância seja realizada por apenas um funcionário, devido ao grande número de

atribuições que são afetas ao sindicante, que podem influir de forma prejudicial ao

sindicado. No momento de opinar pela eventual medida punitiva, o sindicante será

colocado numa posição muito incômoda.

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Para o autor, embora não previsto em lei específica, é importante que a

realização de sindicância seja feita mesmo por uma Comissão, composta por dois ou

três membros.

Silva (2004) conclui, esclarecendo que nada impede que a Comissão seja

integrada pelo chefe da repartição ou pelo chefe do indiciado. Todavia, não se

recomenda tal prática, por uma questão de cautela e de ética profissional, pois o

resultado da sindicância acabará deixando marcas incontornáveis no relacionamento

da chefia com o servidor sindicado.

3.5 Condução do processo de sindicância

O processo de sindicância sumário de elucidação de irregularidade no

serviço público, de acordo com Gasparini (2006), é formado pelas fases de abertura,

da instauração e do relatório, salvo no que concerne ao servidor federal. A essas

fases valem as considerações que tecemos, quando delas tratamos no processo

administrativo.

Para o autor, o relatório não deve fazer menção à aplicação de qualquer

pena ao sindicado, salvo em relação ao servidor público federal. Deverá ser

concluído com indicações de infrações cometidas e o sindicado deverá ser

submetido ao processo administrativo disciplinar.

No tocante ao rito processual, apesar de alguns doutrinadores

compreenderem que qualquer rito processual poderá ser adotado, o Autor orienta

para que seja acolhido o mesmo procedimento adotado no processo administrativo

disciplinar. Para Gasparini (2006), a sindicância deve sempre observar rito

processual, mantido pelo processo disciplinar, podendo apenas diminuir-lhe os

prazos e também alguns termos não essenciais. Nesta linha de raciocínio, ressalta

que no âmbito federal é indispensável a observância do rito processual adequado,

haja vista as características e finalidades estabelecidas na Lei 8.112/90, para a

sindicância.

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3.7 Da publicidade dos atos na sindicância

Para Gasparini (2006), dada sua natureza, finalidade e objeto, a

sindicância pode realizar-se sigilosamente. Para Meirelles (2004), a sindicância

dispensa publicidade no seu procedimento, por tratar-se de simples expediente de

verificação de irregularidade e não para punição, salvo no que diz respeito à

sindicância instituída e regulada pela Lei nº 8.112/90.

A sindicância, como meio investigativo, poderá receber da autoridade

competente dois tratamentos, pública ou sigilosa, consoante o interesse do serviço.

Para Octaviano e Gonzalez (1995), será sigilosa a sindicância assim declarada, na

portaria de instauração, lavrada pela autoridade competente. O que implica dizer

que se do referido documento não constar essa cláusula restritiva, a sindicância será

pública, para todos os fins de direito.

Para os autores, em observância ao princípio da publicidade, paradigma

de todos os atos administrativos, deve sê-lo, também, e por maiores razões, dos

procedimentos administrativos, como a atividade sindicante. Mesmo porque, nos

dias atuais, a sindicância tem sido usada sob a forma de um pequeno inquérito, para

esclarecimento breve de um fato ou de uma autoria ou, ainda, para apuração e

apensamento de faltas disciplinares não muito graves.

Ressalte-se, ainda, que se a atividade sindicante se exercesse, como no

passado, somente como meio de verificação, preparatório do processo, a

publicidade dos seus atos até que poderia ser dispensada. Entretanto, como

reconhece Octaviano e Gonzalez (1995), a sindicância tem sido desvirtuada como

instrumento de punição de pequenas faltas, o que impõe, no nosso entender, a

publicidade de seus atos, nos casos em que não se justifique administrativamente a

declaração de sigilo.

3.8 Das formalidades da sindicância

Para que preencha os fins a que se destina, deve a sindicância reunir,

além de outros secundários, os seguintes requisitos principais: rapidez, objetividade,

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precisão. Desse modo, o relatório, elaborado por membros de Comissão receptiva,

prudente, discreta e concisa, refletirá o resultado exaustivo de elementos colhidos no

próprio local em que se teria verificado a ocorrência que o originou e formará peça

básica e insubstituível para o futuro processo administrativo.

Alguns doutrinadores, a exemplo do administrativista Lessa (2006),

corroboram a tese de que, apesar de a Lei nº 8.112/90 não estabelecer para a

sindicância a exigência contida no artigo 151, nada obsta que tais regramentos

sejam adotados pelo administrador na sua condução da sindicância.

Contudo, torna-se imperioso destacar que, para o autor, o não

atendimento das exigências contidas no artigo 151 da Lei nº 8.112/90 não acarretará

qualquer nulidade do ato administrativo praticado.

3.9 Do encerramento da sindicância

Na lição de Cretella Júnior (2006), designado pela autoridade competente,

o funcionário único (ou os membros da Comissão Sindicante) inicia seus trabalhos,

investiga e, no fim, chega a uma das conclusões seguintes:

a) nada de positivo foi apurado, não há irregularidade alguma, nenhum

funcionário cometeu qualquer ação que causasse embaraços ao serviço público;

b) algo foi positivado, houve realmente anomalias na esfera

administrativa, a investigação sindicante chegou ao fato e ao autor da anomalia.

No primeiro caso, tudo se encerra, arquiva-se ou morre o processo

administrativo, antes de nascer.

Para o autor, no segundo caso, a autoridade competente tomará

imediatas providências para, com base na sindicância, diligenciar a imediata

abertura do verdadeiro processo administrativo. O tipo de irregularidade positivada

condicionará a modalidade respectiva do processo administrativo quanto ao objeto

disciplinar, funcional ou penal.

Consoante lição de Silva (2004), com a designação da Comissão

Sindicante, ou de apenas um servidor de confiança, a sindicância tem início,

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desenvolve seus trabalhos investigatórios, junta as provas e, ao final dos trabalhos,

chega a uma conclusão que pode ser pela procedência da notícia que deu origem à

sindicância ou pela improcedência e, então, requer seu arquivamento.

Cretella Júnior (2006) conclui que, caso não tenha havido nem crime, nem

quebra de disciplina, mas anomalia ou infração grave a dispositivo estatutário ou

desobediência a dever funcional, será aberto processo administrativo, sem atributo.

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4 DO POSICIONAMENTO DA DOUTRINA

4.1 Do posicionamento de Celso Antônio Bandeira de Mello

Para Mello (2003), a sindicância é um procedimento investigatório, com

prazo de conclusão não excedente há 30 dias (prorrogáveis por igual período),

sendo que, no final, na hipótese de a conclusão não opinar pelo arquivamento do

processo ou pela aplicação da penalidade de advertência ou suspensão de até 30

dias, assegurada a ampla defesa, será instaurado respectivo processo administrativo

disciplinar, o qual é obrigatório sempre que o ilícito praticado ensejar a sanção mais

grave (artigos 145 e 146 da Lei nº 8.112/90).

Se ao término da sindicância, o relatório da Comissão concluir que a

infração praticada configura ilícito penal, além de ser instaurado imediatamente o

processo administrativo disciplinar, a autoridade competente remeterá cópia dos

autos ao Ministério Público Federal para apuração e oferecimento de denúncia, se

for o caso.

4.2 Do posicionamento de Daniel Machado da Rocha

Segundo Rocha (2006), o legislador ordinário, mantendo coerentemente

uma imprecisão terminológica na redação da Lei nº 8.112/90, estabeleceu

expressamente duas modalidades de processo administrativo disciplinar, logrando

tamanho êxito na confusão criada que conseguiu consagrar a palavra “sindicância” a

dois procedimentos absolutamente diversos, decorrendo de tal homonímia grande

equívoco perpetrada no uso do poder disciplinar da Administração.

Pela redação do artigo 145 da Lei nº 8.112/90, da sindicância pode

decorrer tanto a aplicação de penalidades brandas, como advertência e suspensão

por, no máximo, 30 dias, como o arquivamento do processo ou a instauração de

processo disciplinar.

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Todavia, para o autor, é flagrante sua incongruência, eis que, para a

aplicação das penalidades de advertência e suspensão previstas no inciso II do

artigo 145, é necessário o processo administrativo disciplinar, previsto no inciso III.

4.3 Do posicionamento de Hely Lopes Meirelles

Na ótica de Meirelles (2004), a sindicância administrativa é o meio

sumário para a elucidação de irregularidades no serviço para a subseqüente

instauração de processo de punição ao infrator.

A sindicância pode ser iniciada com ou sem sindicado, bastando que haja

a indicação da falta a apurar. Não tem procedimento formal, nem exigência de

Comissão Sindicante, podendo realizar-se por um ou mais funcionários designados

pela autoridade competente.

De modo geral, a sindicância dispensa defesa do sindicado e publicidade

no seu procedimento, por se tratar de simples expediente de verificação de

irregularidade e não de base para punição equiparável ao inquérito policial em

relação à ação penal. É o verdadeiro “inquérito administrativo” que precede o

processo administrativo disciplinar.

No entanto, segundo o autor, a sindicância tem sido desvirtuada e

promovida como instrumento de punição de pequenas faltas de servidores, caso em

que deverá haver oportunidades de defesa para validade da sanção aplicada.

4.4 Do posicionamento de Maria Sylvia Zanella Di Pi etro

Segundo Di Pietro (2005), a sindicância administrativa é o meio sumário

de que se utiliza a Administração Pública para, sigilosa ou publicamente, com

indiciados ou não, proceder à apuração de ocorrências anômalas no serviço público,

as quais, conformadas, fornecerão elementos concretos para a imediata abertura de

processo administrativo contra funcionário responsável. Nesse conceito, a

sindicância seria uma fase preliminar à instauração do processo administrativo;

correspondendo ao inquérito policial, que se realiza antes do processo penal.

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4.5 Do posicionamento de Léo da Silva Alves

Na lição de Alves (2006), a sindicância, a princípio, é o expediente para

identificar fatos que ainda não estão devidamente esclarecidos e para identificar o

leque de autores. Portanto, é uma medida preparatória para um processo.

A sindicância deverá, objetivamente, responder e provar as sete questões

do chamado “Heptâmetro de Quintiliano”: quem? o quê? quando? onde? como? com

que auxílio? e por quê?

Para o autor, a sindicância investigatória deve ser instaurada em torno de

fatos e não deve ter referência a pessoas no ato instaurador. A Comissão Sindicante

precisa ficar livre para fazer uma apuração completa e identificar tantos quantos

estiverem envolvidos na ocorrência. Se no processo a identificação da autoria é

obrigatória na instauração, na sindicância ela não deve ser mencionada.

É possível um modelo de sindicância híbrido, pelo qual, na primeira fase,

respondem-se às questões do “Heptâmetro de Quintiliano”; na segunda fase,

tratando-se de infração leve, elabora-se um despacho de indiciação, que representa

uma síntese do que foi apurado, com a classificação jurídica da infração. A partir daí,

o funcionário é citado para apresentar defesa escrita, e os demais passos se

desenrolam tal qual o processo disciplinar.

4.6 Do posicionamento de Mauro Roberto Gomes de Mat os

Para Mattos (2006), a sindicância é o meio para verificar se existem

elementos concretos para o prosseguimento ou o aprofundamento das

investigações, por meio do processo administrativo disciplinar.

Da sindicância poderá resultar: o arquivamento do procedimento ou a

aplicação de penalidade de advertência/suspensão de até 30 (trinta) dias.

Segundo o autor, o arquivamento do processo será sugerido quando não

houver indícios ou justa razão para o prosseguimento das investigações. A

autoridade administrativa não é obrigada a promover o processo administrativo

disciplinar, pois o que se exige no exercício de seu cargo é que ela honre a função

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investida, pois o poder que lhe é outorgado não é absoluto, exigindo um mínimo de

responsabilidade, o que significa dizer que fica vedada a perseguição, o abuso ou o

excesso de poder do direito de acionar.

4.7 Do posicionamento de Dênerson Dias Rosa

Para Rosa (2001), na esfera funcional, o direito brasileiro atual prevê a

figura do Processo Administrativo Disciplinar como competente para apurar e punir

faltas praticadas pelos servidores públicos, sem, contudo, retirar do Poder Judiciário

o controle jurisdicional sobre estas questões. Entretanto, tem sido freqüentemente

confundido o processo administrativo disciplinar com a figura da sindicância,

utilizando-se a Administração desta para aplicar punições, quando somente por meio

do competente processo administrativo disciplinar poderiam estas ser aplicadas.

Dada a necessidade de orientar suas decisões, as cortes judiciais, em

diversas oportunidades, manifestaram-se sobre a matéria e se posicionaram de

forma clara sobre a essência da sindicância e a sua distinção com o processo

administrativo disciplinar.

Segundo o autor, diante das reiteradas decisões proferidas pelos

Tribunais brasileiros, o legislador ordinário percebeu a necessidade de regulamentar

a matéria em questão, incluindo o instituto da sindicância administrativa no corpo da

Lei nº 8.112/90, dentro do capítulo destinado ao processo administrativo disciplinar,

o que tem gerado inúmeras discussões pelos doutrinadores administrativistas.

4.8 Do posicionamento de Diogenes Gasparini

Na ótica de Gasparini (2006), enquanto o processo administrativo

disciplinar é meio formal, solene, de apuração das infrações cometidas pelos

servidores e conseqüente aplicação da pena administrativa, a sindicância é

processo sumário de elucidações de irregularidades no serviço público, praticadas

por servidores, não servindo, portanto, de base para a aplicação de qualquer pena.

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32

Entende o autor que o procedimento de sindicância será necessário

sempre que não houver elementos suficientes para se concluir pela existência de

falta ou de sua autoria e quando não for obrigatória a instauração de processo

administrativo. Esta última razão, a seu ver, já não procede, dado o amplo direito de

defesa que a Lei Maior assegura ao acusado em processo administrativo e judicial.

Quando não definida bem a infração, mas justificadamente presumida a

sua existência, e quando, mesmo neste caráter ou, ainda, conhecida perfeitamente a

sua existência, é desconhecida a autoria, instaura-se a sindicância. Precisadas

essas informações, promove-se o competente processo administrativo disciplinar.

Não apurados os fatos irregulares ou, ainda, que estes tenham sido apurados, não

se chegou à sua autoria, promove-se o arquivamento da sindicância.

Ainda para o autor, outra razão constantemente invocada pelos autores

para a instauração da sindicância é o trauma que o processo administrativo

disciplinar causa ao meio administrativo, quando aberto para apurar fatos irregulares

que se sabe existirem, mas deles não se tem o perfil completo ou quando há

infrações perfeitamente conhecidas, mas de autoria desconhecida. A sindicância,

por independer de publicidade, pode ser promovida sigilosamente, evitando, assim,

esse constrangimento.

Gasparini (2006), ao estudar o instituto da sindicância e sua ocorrência na

esfera federal, concluiu que a sindicância é, na realidade, processo administrativo

disciplinar, uma vez que, nos termos do artigo 143 da Lei do Regime Jurídico dos

Servidores da União, presta-se para promover a apuração de irregularidades no

serviço público, assegurada ao acusado ampla defesa. Ademais e segundo o artigo

146 dessa lei, o processo administrativo disciplinar somente é obrigatório sempre

que o ato do servidor ensejar a imposição de pena de suspensão por mais de trinta

dias, de demissão, de cassação de aposentadoria ou disponibilidade ou de

destituição de cargo em comissão. De sorte que para a aplicação das demais penas

(advertência, suspensão por tempo inferior a 30 dias e destituição de função

comissionada) pode ser utilizada a sindicância, dado o regime de processo

administrativo que essa lei lhe atribuiu.

Nesta visão, pode-se definir a sindicância como o processo sumário de

elucidação de irregularidades no serviço público, para bem caracterizá-las ou para

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determinar seus autores para a posterior instauração do competente processo

administrativo. Nesse liame, torna-se oportuno salientar que essa definição, por

certo, não inclui a sindicância instituída e regulada na Lei nº 8.112/90.

Na ótica do autor, sua finalidade é servir de peça preliminar e informativa

do processo administrativo disciplinar, sendo utilizada no processo administrativo

disciplinar da mesma forma que o inquérito policial está para o processo criminal.

Em termos teóricos e práticos, o autor conclui que a sindicância não é

peça essencial à instauração do processo administrativo disciplinar. Este pode ser

instaurado sem aquela, o que, aliás, comumente acontece. De sorte que não será

nulo o processo administrativo disciplinar que não estiver escorado numa

sindicância. Sendo assim, é notório que a sindicância não se presta para fundar a

aplicação de qualquer pena ao sindicado, salvo se for federal.

Por fim, Gasparini (2006), esclarece que a sindicância pode ser aberta

com ou sem sindicado; exige-se somente a indicação ou descrição da falta a apurar.

É dispensada a defesa do sindicado e até a publicidade, visto tratar-se de simples

meio de apuração de irregularidades ocorridas no serviço e não servir de suporte

para a aplicação de pena aos seus autores. Enfim, é verdadeiro processo

administrativo de natureza inquisitorial, bem diferente da sindicância praticada e

regulada na Lei federal nº 8112/90.

4.9 Do posicionamento de José dos Santos Carvalho F ilho

Para o professor Carvalho Filho (2007), seguindo no mesmo caminho

trilhado pelo professor Cretella Júnior (2006), a sindicância seria o meio sumário de

que se utiliza a Administração Pública, no Brasil, para, sigilosa ou publicamente, com

indiciados ou não, proceder à apuração de ocorrências anômalas no serviço público,

as quais, confirmadas, fornecerão elementos concretos para a imediata abertura de

processo administrativo contra o funcionário público responsável.

O autor classifica a sindicância como denominação usualmente

dispensada ao procedimento administrativo que visa a permitir uma apuração

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preliminar sobre a existência de ilícito funcional. É através da sindicância que se

colhem os indícios sobre:

a) a existência da infração funcional;

b) de sua autoria; e

c) do elemento subjetivo com que se conduziu o responsável.

Corroborando com o entendimento manifestado por Gasparini (2006),

Carvalho Silva (2007) também compreende que seu caráter é inquisitório, porque é

processo não-litigioso; como conseqüência, não incide o princípio da ampla defesa e

do contraditório. Caracteriza-se por ser procedimento preparatório, porque objetiva a

instauração de um processo principal, quando for o caso, obviamente. Por esse

motivo, o princípio da publicidade é aqui atenuado, porque o papel da Administração

é o de proceder à mera apuração preliminar, sem fazer qualquer acusação a

ninguém. Decorre daí que a autoridade que presidir o procedimento não tem

poderes para intimar terceiros a prestar depoimento, porque tais poderes são

próprios das autoridades judiciais ou policiais, por força da lei.

Outro aspecto que merece observação na visão do autor, principalmente

em virtude da profunda confusão que costuma ser feita, é o de que a sindicância

também é um processo administrativo, como tantos outros que tramitam pela

Administração. Desse modo, pode haver dois processos administrativos interligados:

a sindicância e o processo disciplinar principal.

A despeito de terem a mesma natureza, é simples apontar a distinção

fundamental: enquanto a sindicância é o processo administrativo preparatório,

inquisitório e tem por objeto uma apuração preliminar, o processo disciplinar principal

é definitivo, contraditório e tem por objeto a apuração principal e, quando é o caso, a

aplicação de sanção.

O autor observa que o termo sindicância indica apenas a denominação

usualmente dada a esse tipo especial de processo preparatório. Lamentavelmente,

para aumentar a confusão, nem sempre os processos preliminares e preparatórios

são nominados de sindicância, e, o que é pior, há alguns casos em que processos

denominados de sindicância não têm a natureza clássica desse procedimento

preparatório.

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35

Como enfrentar essa dúvida? Para Carvalho Filho (2007) a questão é

bastante simples, basta dar maior relevo ao aspecto da natureza do processo, e não

ao de sua denominação. Quer dizer, mesmo que o processo seja denominado de

sindicância, deverá ser tratado como processo disciplinar principal, no caso de ter o

mesmo objeto atribuído a esta categoria de processos.

Estatuto federal contém um bom exemplo do que consideramos. Dispõe,

primeiramente, que a apuração de irregularidade no serviço público se formaliza

mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar (artigo 143). Mais

adiante, consigna que da sindicância poderá resultar aplicação de penalidade de

advertência ou suspensão de até trinta dias (artigo 145, II). Para o autor, pela

simples análise do texto legal é possível verificar que a sindicância só tem o nome

de sindicância, mas sua natureza é a de processo disciplinar principal, porque

somente dessa categoria pode resultar aplicação de penalidades. Assim, nesse tipo

de sindicância, que tem caráter acusatório, há repercussão do princípio da ampla

defesa e do contraditório, sendo inconstitucionais quaisquer dispositivos estatutários

que dispensarem essa exigência. Repita-se, contudo, que esse processo não

corresponde à noção clássica da sindicância.

Ainda na visão do autor, conclui-se que a jurisprudência tem diferenciado

os dois tipos de sindicância. Quando se trata da verdadeira sindicância, como

processo preliminar, tem sido dispensado o princípio da ampla defesa e do

contraditório. Ao contrário, quando o nome é de sindicância, mas a natureza é de

processo disciplinar principal, a exigência tem sido considerada impostergável e sua

dispensa decidida como nula.

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Professores Visitantes / Substitutos

4%

Terceirizados - FUBRA

2%

Terceirizados - HUB11%

Terceirizados Empresa Privada

16%

Bolsistas Técnicos3%

Estágiários7%

SICAP8%

Docentes 19%

Técnicos-administrativos

30%

Terceirizados EmpresaPrivadaTerceirizados - HUB

Terceirizados - FUBRA

Bolsistas Técnicos

Estágiários

SICAP

Docentes

Técnicos-administrativos

Professores Visitantes /Substitutos

Docentes e Tecnicos - Área

Acadêmica49%

Docentes e Técnicos - Área Administrativa

51%

Docentes e Tecnicos - ÁreaAcadêmica

Docentes e Técnicos - ÁreaAdministrativa

5 ESTUDO DE CASO

5.1 Do Universo de Servidores da Universidade de Br asília

Gráfico nº 01: Terceirizados – HUB – PRC e FUBRA / Bolsa Técnica / Estagiários e SICAP

Gráfico nº 02: Servidores do quadro permanente por área de atuação

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37

5.2 Dados estatísticos da Universidade de Brasília e análise crítica

Neste trabalho foram utilizados os critérios fins e meios para definição da

pesquisa bibliográfica e documental. A bibliográfica refere-se ao estudo

sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros, redes

eletrônicas, revistas jurídicas, dissertações, teses e outros materiais que nos foram

disponibilizados. Para a pesquisa documental utilizou-se o acervo da Comissão de

Sindicância e da Secretaria de Recursos Humanos.

Para identificar os resultados coletados junto às unidades citadas e com

base no enfoque acima, foram gerados 08 (oito) gráficos que sintetizam o universo

de servidores da Fundação Universidade de Brasília em diferentes situações, o

gráfico de numero 1 representa o total de 7581 servidores lotados nos diversos

setores da Instituição, assim distribuídos por categoria: 19% de servidores docentes

ativos, 30% de servidores técnico-administrativos ativo, 16% de servidores

terceirizados de empresa privada, 11% de servidores terceirizados do HUB, 8% de

servidores terceirizados do SICAP, 7% de estagiários de nível médio e nível

superior, 3% de bolsas técnicas e 2% de terceirizados pela Fundação Universitária

da Brasília/FUBRA. O gráfico número 2 refere-se aos servidores do quadro

permanente ativo, onde se observa 51% de docentes e técnico-administrativos

lotados na área acadêmica, enquanto que 49% referem-se a docentes e técnico-

administrativos lotados na área administrativa.

Os gráficos seguintes, no total de seis, estão relacionados diretamente ao

trabalho, pois dizem respeito às de ocorrências registradas nos anos de 2005 e

2006, que correspondem o último ano da Administração Superior da Universidade

de Brasília e o primeiro ano da atual Administração.

Objetivando oportunizar aos leitores deste trabalho os resultados do

estudo de caso, os gráficos de números 3 a 4 representam o total de ocorrências

registradas na Instituição nos anos em estudo. Os gráficos de números 5 e 6

representam o total de ocorrências por área (acadêmica e administrativa) e os

gráficos 7 e 8 representam o total de processos não instaurados e processos

concluídos.

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No contexto geral em relação aos anos objeto deste estudo, observa-se

que houve uma redução do número de 46 ocorrências em 2005 para 41 ocorrências

de 41 em 2006. Quanto às ocorrências por área, houve uma variação bastante

significativa, já que o número de ocorrências em 2005 registrou um total de 15 para

a área administrativa e 31 para a área acadêmica. Nos dois últimos gráficos de

números 7 e 8 podem ser observados, também, uma variação bastante significativa

quanto os processos instaurados não concluídos e processos concluídos, já que no

último ano da administração apenas 11 processos foram concluídos, enquanto que

35 não foram instaurados. Na atual administração 30 processos foram concluídos

enquanto de 11 não foram instaurados.

O estudo conclui que as variações dos números devem-se basicamente

as melhores condições de vigilância ofertada à Coordenação de Patrimônio da

Prefeitura do Campus, com contratação de novos vigilantes/porteiros, aquisição de

novas viaturas, contratação de serviço vigilância eletrônico e serviço de inteligência.

Com relação à celeridade dos julgamentos dos processos, seguramente este fato

deve-se as melhores condições de trabalho disponibilizado, incluindo espaço físico,

equipamentos e recursos humanos mais qualificados.

Gráfico nº 03: Ocorrências em 2005.

Do total de 46 ocorrências registradas no ano de 2005, observa-se que

37%, refere-se a furtos, enquanto que 63%, dizem respeito a abandono de cargo,

vandalismo no campus, reparação de danos materiais, agressões físicas e verbais,

quebra de dedicação exclusiva de professor, uso indevido de viaturas da UnB,

17 37%

29 63%

Furtos Outros

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assédio moral, assédio sexual, ou improbidade administrativa, desvio de recursos,

acumulação de cargos, inobservância de normas legais, desentendimento entre:

docentes, técnicos-administrativos e alunos, entre outros.

Gráfico nº 04: Ocorrências em 2006

Para as mesmas ocorrências, furtos e outras, registradas no ano de 2006,

houve uma pequena variação dos números, já que 41% referem-se a furtos,

enquanto que 59% dizem respeito às demais ocorrências.

Gráfico nº 05: Ocorrências por área em 2005

Neste gráfico, foi registrado um total de 36 ocorrências, sendo que 33%

na área administrativa, enquanto que 67% na área acadêmica.

17 41%

24 59%

Furtos Outros

31 67%

15 33%

Acadêmica

Admministrativa

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40

Gráfico nº 06: Ocorrências por área em 2006

Neste gráfico, foi registrado um total de 41 ocorrências, sendo que 49%

na área administrativa, enquanto que 51% na área acadêmica.

Gráfico nº 07: Processos não Instaurados / processo s concluídos no ano de 2005

O gráfico mostra um total de 46 ocorrências registradas no ano de 2005.

Deste número, observa-se que 24% referem-se ao processo que foram instaurados

e concluídos, enquanto que 76% foram instaurados e não concluídos.

35 76%

11 24%

Processos não Instaurados Processos Concluídos

21 51%

20 49% Acadêmica

Admministrativa

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41

Gráfico nº 08: Processos não Instaurados / Processo s Concluídos no ano de 2006

O gráfico mostra um total de 41 ocorrências registradas no ano de 2006.

Deste número, observa-se que 73% referem-se ao processo que foram instaurados

e concluídos, enquanto que 27% foram instaurados e não concluídos.

30 73%

11 27% Processos não

Instaurados Processos Concluídos

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CONCLUSÃO

O Estado tem o dever e o direito de punir a agente que pratique um ilícito

administrativo, mais isso não significa que possa deixar de observar os preceitos e

garantias fundamentais disciplinados na Constituição da República.

O acusado em processo administrativo possui o direito de exercer o

contraditório e a ampla defesa com todos os recursos a ela inerentes, sem os quais

jamais poderá perder os seus bens ou ter a sua liberdade cerceada.

Em relação ao procedimento administrativo denominado de sindicância,

quando esta tiver o caráter punitivo e não investigativo, deverá ser assegurado ao

agente público, civil ou militar, o direito de exercer a ampla defesa e o contraditório,

na forma preceituada na Constituição Federal.

Ao discorrer sobre o instituto da sindicância e traçar os seus elementos

característicos, impõe-se necessariamente, para que equívocos e distorções não

acorram, chamar a atenção para o fato de que as legislações estaduais e municipais

nem sempre tratam do assunto com a mesma orientação que atualmente vem sendo

adotada pela legislação federal.

A Lei 8.112/90, ao abordar o tema em seu artigo 143, estabeleceu que a

autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a

promover a sua apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo

disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa.

Para que nenhuma dúvida surja quanto à natureza punitiva da

sindicância, estabeleceu no artigo 145 do mesmo texto normativo, que da

sindicância poderá resultar não só o arquivamento do processo, como também a

aplicação de penalidade de advertência ou suspensão por até 30 dias, quando não

se verificar a necessidade de instauração de processo disciplinar, para aplicação de

penalidade mais grave.

Sob o enfoque das disposições referidas e discutidas no corpo do

presente trabalho, é possível definir a sindicância como o meio sumário de que se

vale a Administração Pública Federal para realizar a apuração de fatos irregulares,

podendo dela resultar o arquivamento da investigação, a aplicação de penalidades

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leves, ou, ainda, a instauração de processo disciplinar, passando ela, nesse último

caso, a ser mera peça informativa da instrução, semelhante ao “inquérito policial”.

Nesse liame, percebe-se que além de servir como instrumento para o

levantamento de dados, encerrando de pronto a apuração por não se haver

detectado qualquer falta punível, poderá servir para a punição de servidor ou ao

aprofundamento da investigação, quando se referir a fato de maior gravidade. Nessa

hipótese, é possível observar claramente as duas espécies básicas de sindicância:

INVESTIGATÓRIA e PUNITIVA.

A sindicância no âmbito federal, via de regra, é investigativa, sendo um

procedimento onde não há necessidade de garantir o contraditório e a ampla defesa,

pois serve apenas para investigar os fatos, não existindo qualquer acusação,

podendo resultar no seu arquivamento ou na abertura de processo administrativo

disciplinar.

O legislador ordinário, ao estabelecer na Lei 8.112/90 que da sindicância

poderia resultar penalidade de advertência ou suspensão de até 30 dias, criou uma

nova acepção para o termo sindicância, que é a sindicância punitiva, ou também

conhecida como acusatória.

A definição do tipo de sindicância (investigativa ou punitiva) somente se

dará no transcorrer dos trabalhos, quando a Comissão Sindicante, após apuração

dos fatos, terá ou não indício de materialidade e autoria do delito.

Não sendo encontrado durante a investigação qualquer causa ou motivo

para punir o agente administrativo ou chegando a Comissão Sindicante à conclusão

de que o ato praticado do não tipifica qualquer delito, o processo será arquivado,

resultando a sindicância em mero procedimento investigativo.

Se da apuração dos fatos, a Comissão Sindicante concluir que a falta

cometida pelo agente público é de natureza grave (pena de suspensão superior a 30

dias ou demissão), o que implicaria necessariamente na abertura de processo

administrativo disciplinar, entendemos que sua natureza também permanecerá

investigativa, sem a necessidade de contraditório e ampla defesa, o que

obrigatoriamente ocorrerá na instrução do processo administrativo disciplinar, sob

pena de nulidade.

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Durante a realização do trabalho de apuração dos fatos, caso a Comissão

de Sindicância identifique indícios de materialidade e de autoria do delito, e sendo a

falta praticada passível de punição com pena de advertência ou até 30 dias de

suspensão, ou seja, dentro da esfera punitiva da Comissão Sindicante, essa,

atendendo ao princípio da eficiência e da economicidade no serviço público,

converterá a sindicância originalmente investigativa em sindicância punitiva.

A Comissão Sindicante, ao concluir que seu relatório final poderá ter

caráter punitivo, garantirá ao servidor a ampla defesa e o contraditório (citação,

intimação para comparecer, por si por advogado constituído, em todas as audiências

de inquirição de testemunhas e perícias, se ocorrerem, e para apresentar defesa

escrita, antes do relatório, e nomeação de advogado dativo para realizar tal defesa,

caso nenhuma tenha sido feita no prazo legal).

Em termos práticos, a Comissão de Sindicância, na sindicância punitiva,

deverá obedecer aos regramentos do processo administrativo disciplinar, exigindo-

se uma maior formalidade, diferente do praticado na sindicância meramente

investigativa.

Na conversão da sindicância investigativa para punitiva, é imperioso

destacar que esta não poderá ser formada por apenas um servidor, e nem ter como

presidente um servidor com nível escolar ou hierárquico inferior ao servidor acusado,

pois isto seria desproporcional e irrazoável, acarretando grave ofensa ao princípio da

hierarquia, que é base para a Administração Pública.

Vale dizer, portanto, que embora instaurada a sindicância com função

meramente investigativa, poderá ser aplicada ao servidor as penalidades de

advertência ou de suspensão por até 30 dias, desde que, no curso do procedimento

de sindicância, tenha sido oportunizada o contraditório e a ampla defesa, bem como

adotado os ritos e garantias inerente ao processo administrativo disciplinar.

Se durante a instrução processual da sindicância punitiva a Comissão

Sindicante perceber que o fato investigado é mais grave do que inicialmente

imaginava-se, a Comissão deverá em seu relatório remeter os autos à autoridade

administrativa competente visando a abertura de processo administrativo disciplinar,

independente de ter ocorrido durante a instrução processual da sindicância o

contraditório e a ampla defesa.

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A remessa dos autos à autoridade administrativa competente, objetivando

a abertura de processo administrativo disciplinar, é requisito indispensável para a

validade do futuro ato administrativo punitivo ou absolvitivo.

Vistos e discutidos tais aspectos, é possível concluir no sentido de que as

maiores dificuldades encontradas em relação ao regular processamento da

sindicância, resultam diretamente do fato de não dispor a Lei 8.112/90 de um rito

específico que se preste a reger os seus atos, nada obstando, todavia, a

observância de regras e atos alusivos ao procedimento disciplinar comum, cabendo

ao administrador público, na condução da sindicância investigatória ou punitiva, agir

com lógica, raciocínio e bom senso, sempre em busca da verdade real, sem perder

de vista os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência.

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