Click here to load reader
Upload
vandieu
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
A SOBERANIA NACIONAL NA
AMAZÔNIA LEGAL SOB A ÓTICA DA
DOUTRINA INTERNACIONALISTA
PÁTRIA
Danielle Costa de Souza
(Uninorte)
Monica Nazaré Picanço Dias
(Uninorte)
Resumo Debates a cerca da relativização da soberania em prol de uma
entidade supranacional despertam o interesse de defensores
nacionalistas e daqueles que vêem a Amazônia como patrimônio
mundial. Não é difícil imaginarmos o motivo de tanto intereesse,
sobretudo internacional, na região Amazônica, a crescente escassez
dos recursos ambientais naturais, contribui sobremaneira para que as
pressões e as teses de defesa em relação a mitigação da soberania se
fortaleça. Neste sentido, buscamos investigar até que ponto a
mundialização da Amazônia é benéfica ao Brasil, analisando os efeitos
de uma possível ingerência internacionalista no que tange ao
compartilhamento da soberania na referida região.
Palavras-chaves: Globalização - Soberania Nacional - Amazônia
Legal - Direito Internacional
12 e 13 de agosto de 2011
ISSN 1984-9354
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
2
INTRODUÇÃO O presente trabalho detém-se a investigar o posicionamento da doutrina
internacionalista pátria no que tange às teses de mitigação da soberania nacional
em prol de uma entidade supranacional.
Demonstrando os modos pelos quais as teses favoráveis à relativização
da soberania podem influir na massificação do ideário de que a Amazônia é um bem
pertencente à humanidade, contrariando, deste modo, o que se entende
hodiernamente por soberania nacional. Sem deixar de considerar, no entanto, o
posicionamento dos que são desfavoráveis à possibilidade de supressão da
soberania em favor de entidades supranacionais.
Partiremos de questionamentos como: qual o enfoque ou posicionamento
predominante na doutrina internacionalista pátria e os modos pelos quais as teses
de globalização convergem para reforçar a quebra de barreiras, inclusive as
jurídicas, nas questões relativas à soberania dos Estados, são algumas das
questões que servirão como cerne da presente pesquisa.
Num contexto global de grandes questionamentos a cerca da relativização
da soberania, insere-se a Amazônia, detentora de características e bens ambientais
imprescindíveis à vida, ao progresso tecnológico e ao desenvolvimento sustentável,
sendo portanto, evidente objeto de interesses e estratégias geopolíticas, a priori,
veladas, mas também expressas, inclusive no plano ideológico.
Todas essas raras peculiaridades concorreram para suscitar, em
diferentes épocas, pressões externas variadas sobre a região, reeditando-se nos
dias atuais através de projetos internacionais para mundializá-la.
Verificaremos a articulação existente entre os conceitos de soberania,
Amazônia Legal, globalização e direito internacional, visando alcançar os
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
3
posicionamentos doutrinários quanto às teses que visam defender a relativização da
região objeto de estudo da presente pesquisa.
1. INFLUÊNCIAS DO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO NO
ENFRAQUECIMENTO DA SOBERANIA
A globalização é resultado de um processo deflagrado pelas grandes
navegações que ainda permanece em progressiva expansão. De acordo com os
conceitos mais recentes é caracterizada pelo movimento no qual a economia-mundo
encontra identidade com a economia mundial.
Segundo o que leciona Fernand Braudel, o termo economia-mundo, usado
atualmente, reflete o processo pelo qual o espaço mundial se unifica.
O sociólogo inglês Anthony Giddens a definiu como “um adensamento em
todo o mundo de relações que têm por conseqüência efeitos recíprocos
desencadeados por acontecimentos tanto locais quanto muito distantes”
Há também uma internacionalização do capital. Neste sentido, o autor
Octavio Ianni afirma que:
Essa internacionalização teria na sua base a formação, o desenvolvimento, a diversificação do que chamaríamos de fábrica global [...] e as características básicas do Estado – Nação passam a se modificar devido ao processo de globalização.³
1.
A globalização pode ser entendida ainda, como um processo de integração de
economias e sociedades de vários países, especialmente no que se refere à
produção de mercadorias e serviços, aos mercados financeiros, e a difusão de
informações.
³ . IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. 4. FREITAS, Marcilio e Marilene Correa: Manaus: EDUA : Edições Governo do Estado : Universidade
do Estado do Amazonas, 2003. 5. Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988, Art. 4º, Parágrafo Único.
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
4
Marcílio de Freitas e Marilene Corrêa da Silva dizem que:
“O processo de globalização da sociedade não elimina diferenças, contrastes, contradições e desigualdades. Ao contrário, é possível que os agentes da nova ordem global sejam àqueles selecionados pelas forças econômicas, políticas e culturais anteriores, por terem adquirido, por dominação ou por convencimento as circunstâncias históricas, condições de mobilidade, velocidade de deslocamento, superação de fronteiras físicas e políticas, uma linguagem de fácil comunicação e condições de organização que não sejam impeditivas de flutuar no ritmo, na intensidade e na direção das tendências das forças globais”.
4
Entende-se a globalização não apenas como um processo de integração, mas
como meio efetivo de se possibilitar que Estados mais influentes, no sentido
econômico, possam penetrar em Estados menos influentes, podendo-se assim,
deixar que estes últimos fiquem em situação ainda menos independente, uma vez
que a globalização traz não apenas proximidades, mas deixa enormes abismos
entre os que não são por ela absorvidos.
O Brasil é um país que luta pela manutenção de sua soberania através de
tratados e acordos internacionais, porém tem evitado se integrar à economia
mundial, limitando-se à América Latina e à América do Sul, ou seja, tende ao
regionalismo que é muitas vezes analisado como empecilho ä globalização.
A Constituição Federal de 1988 menciona um desejo de integração, visando à
formação de uma comunidade latino-americana, o que pode ser observado em seu
artigo 4º, Parágrafo Único5 .
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
(...)
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.
2. AMAZÔNIA LEGAL
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
5
A legislação ocupou-se em determinar o espaço que esta região compreende.
Previsão externada na lei 1.806 de 6 de janeiro de 1953, no ato das disposições
constitucionais transitórias e na legislação ambiental lei 4.771/65 em seu artigo 1º
inciso VI:
Art. 1o, VI – Amazônia Legal: os Estados do Acre, Pará, Amazonas,
Roraima, Rondônia, Amapá e Mato Grosso e as regiões situadas ao norte do paralelo 13
o S, dos Estados de Tocantins e Goiás, e ao oeste do
meridiano de 44o W, do Estado do Maranhão.
A definição de Amazônia legal se fez necessária para que o objetivo
governamental da época, de planejar e promover a região se efetivasse, não sendo,
portanto, fruto puro e simples de um imperativo geográfico.
A Amazônia, reunindo essa diversidade de recursos naturais e ecossistemas,
além de vasta diversidade social, forma concretamente um subcontinente que
consiste, nessa perspectiva, como diz Márcio Souza, num “território multinacional e
pluricultural formado por bilhões de anos de mutações geológicas e que abriga
milhares de espécimes vegetais, animais e muitos povos” (SOUZA; 2001: 15).
Em face do crescente interesse externo pela Amazônia e à progressiva
escassez de recursos ambientais no planeta, surgiu no final da década de setenta
do séc. XX, o Tratado de Cooperação Amazônica, visando promover a aproximação
e o desenvolvimento dos territórios dos países amazônicos:
Ferreira Reis assevera que:
“Motivados por esta crescente cobiça internacional, foi que os países amazônicos reuniram-se recentemente, 1978, para firmarem o Pacto Amazônico, uma espécie de tentativa de política de unificar interesses e objetivos no processo de exploração da região.”
O Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), instrumento jurídico de
multilateral de Direito Internacional Público, firmado entre os países amazônicos
(Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela), espelha,
efetivamente, essa preocupação, inclusive quando reafirma o princípio da soberania
nacional em seus territórios amazônicos, ao estabelecer que:
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
6
Artigo IV - As Partes Contratantes proclamam que o uso e aproveitamento exclusivo dos recursos naturais em seus respectivos territórios é direito inerente à soberania do Estado e seu exercício não terá outras restrições senão as que resultem do Direito Internacional.(Grifo nosso)
Demonstrando deste modo que, a razão pela qual se busca fazer do
TCA um meio de integração e desenvolvimento de seus territórios, situa-se
justamente, no fato da Amazônia assumir posição-chave frente às prioridades
econômicas e geopolíticas, tanto internas como externamente. Evidenciando-se
ao estabelecer-se que:
Artigo I - As Partes Contratantes convêm em realizar esforços e ações conjuntas, a fim de promover o desenvolvimento de seus respectivos territórios amazônicos, de modo que a essas ações conjuntas produzam resultados eqüitativos e mutuamente proveitosos, assim como para a preservação do meio ambiente e a conservação e utilização racional dos recursos naturais desses territórios.(Grifo nosso)
Parágrafo Único - Para tal fim, trocarão informações e concertarão acordos e entendimentos operativos, assim como os instrumentos jurídicos pertinentes que permitam o cumprimento das finalidades do presente
Tratado.
Não é difícil compreendermos a razão pela qual a Amazônia é tão cobiçada.
Esse interesse inicia-se na sua extensão territorial. A Amazônia Legal estende-se a
nove Estados e ocupa 61% do território brasileiro sua área equivale à metade do
continente europeu e nele cabem doze países, incluindo-se Alemanha e França.
Além disso, a Amazônia faz fronteira de onze mil quilômetros com países como
Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname, Venezuela,
e ainda possui um quinto da água doce existente no planeta.
O cenário de escassez, cada vez mais crescente, de recursos naturais entre
as potencias hegemônicas, particularmente de recursos hídricos, minerais e
florestais, torna a Amazônia alvo de interesse ainda maior pelos países poderosos
que demandam por esses recursos, fazendo-nos retomar as palavras de advertência
de Noberto Bobbio:
“Existe situação de conflito, sempre que as necessidades ou os interesses de um indivíduo ou de um grupo não podem ser satisfeitos senão com dano
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
7
de outro indivíduo ou grupo: um caso típico é o da concorrência de vários indivíduos ou grupos à posse de um bem escasso.” (BOBBIO; 1992: 912)
Conforme leciona Samuel Benchimol
“A internacionalização da Amazônia é um processo de transferência da soberania política nacional em prol de uma entidade supranacional que passaria a exercer o domínio político - jurídico, sobre uma área em
nome de um grupo ou comunidade de nações”.
De acordo com idéias defendidas por Ferreira Reis ao esquecer-se a
soberania que se exerce sobre um determinado espaço físico seja em sua totalidade
ou parcialmente, estar-se assim, perdendo a consciência de que não poderia
despojar sem comprometer a segurança de seu futuro e continuidade.
3. SOBERANIA NACIONAL
O texto constitucional é contundente e taxativo ao tratar do princípio da
soberania nacional enquanto fundamento da República federativa do Brasil,
impondo-se, por conta disso, o primado da ordem jurídica nacional sobre qualquer
outra ordem, inclusive a internacional, sendo a regra de direito externo admitida no
ordenamento interno somente após o processo de seu reconhecimento e aprovação:
Art. 1o A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania;
(...)
Jean Bodin sintetiza a idéia de que em toda sociedade política deve haver
uma esfera última de decisão livre de qualquer intervenção, que imponha normas
aos membros dessa sociedade de maneira exclusiva e de acordo unicamente com a
sua vontade.
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
8
Deste modo, conforme leciona Bodin, a soberania é vista como
verdadeiro eixo sobre o qual se move o Estado de uma comunidade política e do
qual dependem todos os magistrados, leis e ordenanças. Ela é que reúne as
famílias, os corpos e os colégios num corpo perfeito.
A etimologia da palavra soberania vem do latim medieval, através das formas
superamus ou superanitas, ou ainda supremitas, no sentido de “aquele que supera”6.
Neste mesmo sentido, acredita-se que o termo também derivara de super omnia7.
No Francês, souveraineté, qualidade ou situação de ser souverain, aquele que
impôs aos suseranos medievais pela supremacia de que estava investido o seu
poder.8
Durante o decorrer da história, desenvolveram-se várias teorias referentes à
Soberania e quanto a sua fonte. Dentre elas deve-se observar, lato senso, a título de
classificação, as teorias carismáticas do direito divino, correntes do fundo
democrático e teoria da soberania estatal.
Rosseau defendia que a Soberania seria Una, Indivisível, Inalienável e
Imprescritível conforme afirma Luigi Ferrajoli ao fazer uma análise sobre o tema9.
Assim, Pode-se afirmar que o conceito, no sentido material, arraigado nos
subconscientes, mudou devido à globalização e mundialização do capital. Como
afirma Edson Luiz Tortola:
“verifica-se que a soberania foi sendo reconstruída, ao longo do tempo, na medida em que o fenômeno da globalização e mundialização do capital impuseram ao Estado a adoção e integração de normas jurídicas, oriundas de ordenamento jurídico internacional, rompendo, por conseguinte, o conceito de Rosseau de soberania caracterizada como sendo um poder uno, inalienável e indivisível.”
10
As pressões e discursos referentes à globalização, reforçado pelos interesses
econômicos em determinadas localizações do globo terrestre, faz com que os
conceitos de Soberania sejam atacados com certa freqüência.
4. DOUTRINAS INTERNACIONALISTAS PÁTRIAS
O direito internacional público trata das relações entre os Estados, aplicando
regras princípios e costumes internacionais.
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
9
A constituição federal de 1988 define claramente a posição do país no que diz
respeito às suas relações internacionais quando dispõe que:
Art. 4o A República Federativa do Brasil, rege-se em suas relações
internacionais pelos seguintes princípios:
I- independência nacional; II- prevalência dos direitos humanos; III- autodeterminação dos povos ; IV- não-intervenção
(...)
Neste sentido, vemos que a constituição buscou resguardar sua
independência e não intervenção por entidades externas, ratificando mais uma vez o
princípio da soberania como corolário basilar onde se funda.
A carta da ONU diz em seu artigo 2°, § 1º, que a organização é baseada no
princípio da igualdade soberana de todos os seus membros. A carta da OEA estatui
em seu art. 3º, “f”, que a ordem internacional é constituída essencialmente pelo
respeito à personalidade, soberania e independência dos Estados. De modo
convergente, a jurisprudência internacional sendo neste aspecto compreendida a da
Corte da Haia, é carregada de afirmações relativas à soberania dos Estados e da
igualdade soberana que rege a sua convivência.
Em se tratando do direito internacional mais recente, especialmente após a
segunda-guerra, nota-se a sua influência e integração em diversas questões
reservadas à ordem interna dos Estados soberanos, penetrando em suas fronteiras
rumo ao ambiente interno, alargando o papel do ordenamento da comunidade
internacional nas ordens jurídicas internas, introduzindo valores da cidadania
planetária, ampliando o leque de eficácia dos direitos humanos, difundido a
aspiração ao respeito à pluralidade cultural, fomentando a construção de regimes
democráticos e, cada vez mais, em que pese certas intervenções circunstanciais que
evidenciem retrocessos, alargando os princípios e o alcance do próprio direito
ambiental internacional.
Muito mais do que antagonizar, a comunidade internacional através do direito
internacional interage complementarmente com a soberania nacional, traçando as
direções do presente e do futuro em termos de integração dos membros da própria
comunidade internacional, alcançando feições multilaterais e globais como também
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
10
dimensões bilaterais e regionais, principalmente mediante as forças e as pressões
da globalização neoliberal.
Tais interações entre direito internacional e soberania nacional nos possibilita
compreender a razão pela qual a grande maioria dos cientistas de direito, incluindo-
se os brasileiros e os juristas do direito relativo ao meio ambiente, entendem a
soberania como um dos elementos caracterizadores do Estado, relevante e ainda
imprescindível como o fazem os professores Hidelbrando Accioly e Geraldo Eulálio,
em seu Manual de Direito Internacional Público, quando postulam que:
“Em outras palavras, é necessária a existência de um governo soberano, isto é, de um governo não subordinado a qualquer autoridade exterior e
cujos únicos compromissos sejam pautados pelo próprio DI¹¹”(ACCIOLY e
NASCIMENTO E SILVA; 2002:84)
Rezek afirma que a soberania não é apenas uma idéia doutrinária fundada na
observação da realidade internacional existente desde quando os governos
monárquicos da Europa pelo século XVI, escaparam ao controle centralizante do
Papa e do Sacro Império romano-germânico. Ela é hoje, uma afirmação do direito
internacional positivo, no mais alto nível de seus textos convencionais.
A doutrina internacionalista entende não ser suficiente, para que o Estado
seja identificado como pessoa jurídica de direito internacional, a condição de estar
sobre um território bem definido, ter população estável e sujeita a autoridade de um
governo, mas, observa como questão sine qua non, o fato de ter como atributo
fundamental, a Soberania, sendo esta por sua vez, àquela que confere ao Estado a
capacidade de ser titular de suas competências.
Essas competências que o Estado possui por ser soberano, não implicam em
poderes ilimitados, por sua vez, asseguram que nenhuma outra entidade possui
outros superiores.
O art. 12 da Carta da Organização dos Estados Americanos dispõe que:
“A existência política do Estado é independente do seu reconhecimento pelos outros Estados. Mesmo antes de ser reconhecido, o Estado tem direito de defender a sua integridade e independência, de promover a sua conservação e prosperidade, e, por conseguinte, de se organizar como melhor entender, de legislar sobre seus interesses, de administrar os seus serviços e de determinar a jurisdição e a competência dos seus tribunais. Os exercícios desses direitos.”
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
11
O art. 13 da Carta da Organização dos Estados Americanos diz em seguida
que:
“O reconhecimento significa que o Estado que o outorga aceita a personalidade do novo Estado com todos os direitos e deveres que, para um e outro, determina o direito internacional.”
No que diz respeito ao meio ambiente, os teóricos internacionalistas
defendem que os Estados, na administração de seus territórios e enquanto fazem ou
deixam que se faça nos espaços comuns, subordinam-se as normas convencionais
do meio ambiente. Encontramos a origem dessas normas na interdependência: o
dano ambiental decorrente de negligência ou a defeituosa política de determinado
Estado tende de modo crescente a repercutir sobre os outros, não raro sobre o
inteiro conjunto, e todos têm a ganhar com algum planejamento comum. Além disso,
essas normas prestigiam um daqueles direitos humanos de terceira geração, o
direito a um meio ambiente sustentável.
É imprescindível ressaltarmos ainda, a Conferência das Nações Unidas sobre
o meio ambiente e o desenvolvimento reunida no ano de 1992 no Rio de Janeiro,
deixou evidente a importância do empenho da comunidade internacional em efetivar
medidas protetivas às questões ambientais. Da conferência resultaram duas
convenções (sobre mudanças climáticas e diversidade biológica), duas declarações
(uma geral e uma sobre florestas) e um amplo plano de ação que se chamou
agenda 21. Essas normas consolidadas no Rio de Janeiro, tiveram como traço mais
marcante o fato de que não se deve buscar o desenvolvimento à custa do sacrifício
ambiental, até mesmo por que ele não será durável, por outro lado, a preservação
não deve representar um obste ao desenvolvimento das nações pobres ou daquelas
que ainda não alcançaram um desenvolvimento significativo. Surge deste binômio o
conceito de desenvolvimento sustentado, sendo este entendido como àquele que
não sacrifica seu próprio cenário e neste sentido, não compromete suas próprias
condições de durabilidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
12
A soberania é constantemente questionada em prol de uma entidade
supranacional que, atrelada à discursos de medidas protecionistas ao meio
ambiente, busca de certo modo, invadir a esfera de competência soberana de
países detentores de riquezas naturais como o Brasil, especialmente no que se
refere à região amazônica.
As teses defensoras da mitigação da soberania baseiam-se principalmente
nas questões concernentes à globalização. Os partidários da relativização da
soberania afirmam que o processo de globalização exige a eliminação de barreiras,
neste sentido, não há porque a Amazônia manter restrições em suas fronteiras,
consideram-na ainda, como patrimônio mundial que deve estar sob a égide dos mais
capacitados a geri-la, sendo estes, as entidades internacionais.
O fato de a região Amazônica compreender riquezas deveras cobiçadas,
especialmente num contexto de extremo interesse global decorrente da escassez
vertiginosa, aguça de forma ainda mais veemente as teses de consolidação da
relativização da mesma. Porém, o Brasil tem buscado manter-se soberano,
demonstrando essa perspectiva através de leis e projetos como, por exemplo, o
Tratado de Cooperação Amazônica, que pôs em voga, o interesse do Estado em
efetivar sua postura soberana.
Neste sentido, os defensores da manutenção da soberania, que se
constituem como corrente majoritária, e até mesmo seguindo o que dispõem as
legislações constitucionais pátrias, afirmam que a soberania deve ser resguardada,
sobretudo por que as normas internacionais não podem sobrepor-se as existentes
no plano interno de um Estado. Embora o poder dos Estados não seja ilimitado,
nenhuma outra norma pode sobrepujar-se a ela. Nesta toada, constata-se que no
embate entre normas internacionais e normas nacionais, a soberania é o bem a ser
protegido e que, portanto deve prevalecer.
REFERÊNCIAS
ACCIOLY, Hidelbrando e NASCIMENTO E SILVA, Geraldo Eulálio. Manual de Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva, 2002.
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
13
AZAMBUJA, Darcy. Teoria Geral do Estado. 41ª ed. Porto Alegre: Globo, 2001. BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Teoria Geral do Estado e Ciência Política. 3a.ed. São Paulo: Saraiva, 1995. BAUMAN, Zigmunt. Globalização: conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. BENCHIMOL, Samuel. Amazônia – Formação Social e Cultural. Manaus: Valer e Editora da Universidade do Amazonas, 1999. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992. BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a História. 2ªed. São Paulo: Perspectiva, 1992 _----Civilização material, Economia e Capitalismo. 3v. São Paulo: Martins Fontes,1998. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 1979. FERRAJOLI, Luigi. A Soberania no Mundo Moderno: nascimento e crise do Estado nacional. São Paulo: Martins Fontes, 2003. FREITAS, Marcilio e Marilene Correa: Manaus: EDUA : Edições Governo do Estado : Universidade do Estado do Amazonas, 2003. GIDDENS, Anthony. (1991) As conseqüências da modernidade. São Paulo: Unesp. HANS, Kelsen. Teoria Geral do Direito e do Estado. 3a. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. IANNI, Octavio. Teorias da globalização. 5ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. IHERING, Rudolf Von. A Luta pelo Direito. 18a. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. MALUF, Said. Teoria Geral do Estado. 25 ed. São Paulo: Saraiva, 1999. REIS, Arthur C. Ferreira. A Amazônia e a Cobiça Internacional. 5ª ed. Civilização Brasileira,1982.
REZEK, Antônio. Amazônia e a cobiça do imperialismo. www.mhd.org/artigos/rezk-amazonia.html. São Paulo, 2000.
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
14
REZEK, Prefácio de José Sette Câmara – 10 ed. revista e atualizada – São Paulo: Saraiva: 2005.
RISCAL, Sandra Aparecida. O Conceito de Soberania em Jean Bodin. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. São Paulo: Abril Cultural, 1978. SALAZAR, Admilton Pinheiro. Amazônia Globalização e sustentabilidade. 2ª edição. Manaus: Editora Valer, 2004.
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 2a ed. São Paulo: editora Saraiva, 2003.
TEUBNER, Gunther. A Bukowina Global sobre a Emergência de um Pluralismo Jurídico Transnacional. In: Impulso: direito e globalização. Revista de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Metodista de Piracicaba. Piracicaba: Unimep. Vol 14, nº 33, jan./abr. 2003
TORTOLA, Edson Luiz. A internacionalização da Amazônia. Monografia apresentada ao curso de Direito do Centro Universitário da Várzea Grande – UNIVAG. Várzea Grande, 2006.