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A SOBERANIA NACIONAL NA AMAZÔNIA LEGAL SOB A ÓTICA DA ... · IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. 4. ... “O processo de globalização

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A SOBERANIA NACIONAL NA

AMAZÔNIA LEGAL SOB A ÓTICA DA

DOUTRINA INTERNACIONALISTA

PÁTRIA

Danielle Costa de Souza

(Uninorte)

Monica Nazaré Picanço Dias

(Uninorte)

Resumo Debates a cerca da relativização da soberania em prol de uma

entidade supranacional despertam o interesse de defensores

nacionalistas e daqueles que vêem a Amazônia como patrimônio

mundial. Não é difícil imaginarmos o motivo de tanto intereesse,

sobretudo internacional, na região Amazônica, a crescente escassez

dos recursos ambientais naturais, contribui sobremaneira para que as

pressões e as teses de defesa em relação a mitigação da soberania se

fortaleça. Neste sentido, buscamos investigar até que ponto a

mundialização da Amazônia é benéfica ao Brasil, analisando os efeitos

de uma possível ingerência internacionalista no que tange ao

compartilhamento da soberania na referida região.

Palavras-chaves: Globalização - Soberania Nacional - Amazônia

Legal - Direito Internacional

12 e 13 de agosto de 2011

ISSN 1984-9354

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INTRODUÇÃO O presente trabalho detém-se a investigar o posicionamento da doutrina

internacionalista pátria no que tange às teses de mitigação da soberania nacional

em prol de uma entidade supranacional.

Demonstrando os modos pelos quais as teses favoráveis à relativização

da soberania podem influir na massificação do ideário de que a Amazônia é um bem

pertencente à humanidade, contrariando, deste modo, o que se entende

hodiernamente por soberania nacional. Sem deixar de considerar, no entanto, o

posicionamento dos que são desfavoráveis à possibilidade de supressão da

soberania em favor de entidades supranacionais.

Partiremos de questionamentos como: qual o enfoque ou posicionamento

predominante na doutrina internacionalista pátria e os modos pelos quais as teses

de globalização convergem para reforçar a quebra de barreiras, inclusive as

jurídicas, nas questões relativas à soberania dos Estados, são algumas das

questões que servirão como cerne da presente pesquisa.

Num contexto global de grandes questionamentos a cerca da relativização

da soberania, insere-se a Amazônia, detentora de características e bens ambientais

imprescindíveis à vida, ao progresso tecnológico e ao desenvolvimento sustentável,

sendo portanto, evidente objeto de interesses e estratégias geopolíticas, a priori,

veladas, mas também expressas, inclusive no plano ideológico.

Todas essas raras peculiaridades concorreram para suscitar, em

diferentes épocas, pressões externas variadas sobre a região, reeditando-se nos

dias atuais através de projetos internacionais para mundializá-la.

Verificaremos a articulação existente entre os conceitos de soberania,

Amazônia Legal, globalização e direito internacional, visando alcançar os

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posicionamentos doutrinários quanto às teses que visam defender a relativização da

região objeto de estudo da presente pesquisa.

1. INFLUÊNCIAS DO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO NO

ENFRAQUECIMENTO DA SOBERANIA

A globalização é resultado de um processo deflagrado pelas grandes

navegações que ainda permanece em progressiva expansão. De acordo com os

conceitos mais recentes é caracterizada pelo movimento no qual a economia-mundo

encontra identidade com a economia mundial.

Segundo o que leciona Fernand Braudel, o termo economia-mundo, usado

atualmente, reflete o processo pelo qual o espaço mundial se unifica.

O sociólogo inglês Anthony Giddens a definiu como “um adensamento em

todo o mundo de relações que têm por conseqüência efeitos recíprocos

desencadeados por acontecimentos tanto locais quanto muito distantes”

Há também uma internacionalização do capital. Neste sentido, o autor

Octavio Ianni afirma que:

Essa internacionalização teria na sua base a formação, o desenvolvimento, a diversificação do que chamaríamos de fábrica global [...] e as características básicas do Estado – Nação passam a se modificar devido ao processo de globalização.³

1.

A globalização pode ser entendida ainda, como um processo de integração de

economias e sociedades de vários países, especialmente no que se refere à

produção de mercadorias e serviços, aos mercados financeiros, e a difusão de

informações.

³ . IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. 4. FREITAS, Marcilio e Marilene Correa: Manaus: EDUA : Edições Governo do Estado : Universidade

do Estado do Amazonas, 2003. 5. Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988, Art. 4º, Parágrafo Único.

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Marcílio de Freitas e Marilene Corrêa da Silva dizem que:

“O processo de globalização da sociedade não elimina diferenças, contrastes, contradições e desigualdades. Ao contrário, é possível que os agentes da nova ordem global sejam àqueles selecionados pelas forças econômicas, políticas e culturais anteriores, por terem adquirido, por dominação ou por convencimento as circunstâncias históricas, condições de mobilidade, velocidade de deslocamento, superação de fronteiras físicas e políticas, uma linguagem de fácil comunicação e condições de organização que não sejam impeditivas de flutuar no ritmo, na intensidade e na direção das tendências das forças globais”.

4

Entende-se a globalização não apenas como um processo de integração, mas

como meio efetivo de se possibilitar que Estados mais influentes, no sentido

econômico, possam penetrar em Estados menos influentes, podendo-se assim,

deixar que estes últimos fiquem em situação ainda menos independente, uma vez

que a globalização traz não apenas proximidades, mas deixa enormes abismos

entre os que não são por ela absorvidos.

O Brasil é um país que luta pela manutenção de sua soberania através de

tratados e acordos internacionais, porém tem evitado se integrar à economia

mundial, limitando-se à América Latina e à América do Sul, ou seja, tende ao

regionalismo que é muitas vezes analisado como empecilho ä globalização.

A Constituição Federal de 1988 menciona um desejo de integração, visando à

formação de uma comunidade latino-americana, o que pode ser observado em seu

artigo 4º, Parágrafo Único5 .

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

(...)

Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

2. AMAZÔNIA LEGAL

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A legislação ocupou-se em determinar o espaço que esta região compreende.

Previsão externada na lei 1.806 de 6 de janeiro de 1953, no ato das disposições

constitucionais transitórias e na legislação ambiental lei 4.771/65 em seu artigo 1º

inciso VI:

Art. 1o, VI – Amazônia Legal: os Estados do Acre, Pará, Amazonas,

Roraima, Rondônia, Amapá e Mato Grosso e as regiões situadas ao norte do paralelo 13

o S, dos Estados de Tocantins e Goiás, e ao oeste do

meridiano de 44o W, do Estado do Maranhão.

A definição de Amazônia legal se fez necessária para que o objetivo

governamental da época, de planejar e promover a região se efetivasse, não sendo,

portanto, fruto puro e simples de um imperativo geográfico.

A Amazônia, reunindo essa diversidade de recursos naturais e ecossistemas,

além de vasta diversidade social, forma concretamente um subcontinente que

consiste, nessa perspectiva, como diz Márcio Souza, num “território multinacional e

pluricultural formado por bilhões de anos de mutações geológicas e que abriga

milhares de espécimes vegetais, animais e muitos povos” (SOUZA; 2001: 15).

Em face do crescente interesse externo pela Amazônia e à progressiva

escassez de recursos ambientais no planeta, surgiu no final da década de setenta

do séc. XX, o Tratado de Cooperação Amazônica, visando promover a aproximação

e o desenvolvimento dos territórios dos países amazônicos:

Ferreira Reis assevera que:

“Motivados por esta crescente cobiça internacional, foi que os países amazônicos reuniram-se recentemente, 1978, para firmarem o Pacto Amazônico, uma espécie de tentativa de política de unificar interesses e objetivos no processo de exploração da região.”

O Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), instrumento jurídico de

multilateral de Direito Internacional Público, firmado entre os países amazônicos

(Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela), espelha,

efetivamente, essa preocupação, inclusive quando reafirma o princípio da soberania

nacional em seus territórios amazônicos, ao estabelecer que:

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Artigo IV - As Partes Contratantes proclamam que o uso e aproveitamento exclusivo dos recursos naturais em seus respectivos territórios é direito inerente à soberania do Estado e seu exercício não terá outras restrições senão as que resultem do Direito Internacional.(Grifo nosso)

Demonstrando deste modo que, a razão pela qual se busca fazer do

TCA um meio de integração e desenvolvimento de seus territórios, situa-se

justamente, no fato da Amazônia assumir posição-chave frente às prioridades

econômicas e geopolíticas, tanto internas como externamente. Evidenciando-se

ao estabelecer-se que:

Artigo I - As Partes Contratantes convêm em realizar esforços e ações conjuntas, a fim de promover o desenvolvimento de seus respectivos territórios amazônicos, de modo que a essas ações conjuntas produzam resultados eqüitativos e mutuamente proveitosos, assim como para a preservação do meio ambiente e a conservação e utilização racional dos recursos naturais desses territórios.(Grifo nosso)

Parágrafo Único - Para tal fim, trocarão informações e concertarão acordos e entendimentos operativos, assim como os instrumentos jurídicos pertinentes que permitam o cumprimento das finalidades do presente

Tratado.

Não é difícil compreendermos a razão pela qual a Amazônia é tão cobiçada.

Esse interesse inicia-se na sua extensão territorial. A Amazônia Legal estende-se a

nove Estados e ocupa 61% do território brasileiro sua área equivale à metade do

continente europeu e nele cabem doze países, incluindo-se Alemanha e França.

Além disso, a Amazônia faz fronteira de onze mil quilômetros com países como

Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname, Venezuela,

e ainda possui um quinto da água doce existente no planeta.

O cenário de escassez, cada vez mais crescente, de recursos naturais entre

as potencias hegemônicas, particularmente de recursos hídricos, minerais e

florestais, torna a Amazônia alvo de interesse ainda maior pelos países poderosos

que demandam por esses recursos, fazendo-nos retomar as palavras de advertência

de Noberto Bobbio:

“Existe situação de conflito, sempre que as necessidades ou os interesses de um indivíduo ou de um grupo não podem ser satisfeitos senão com dano

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de outro indivíduo ou grupo: um caso típico é o da concorrência de vários indivíduos ou grupos à posse de um bem escasso.” (BOBBIO; 1992: 912)

Conforme leciona Samuel Benchimol

“A internacionalização da Amazônia é um processo de transferência da soberania política nacional em prol de uma entidade supranacional que passaria a exercer o domínio político - jurídico, sobre uma área em

nome de um grupo ou comunidade de nações”.

De acordo com idéias defendidas por Ferreira Reis ao esquecer-se a

soberania que se exerce sobre um determinado espaço físico seja em sua totalidade

ou parcialmente, estar-se assim, perdendo a consciência de que não poderia

despojar sem comprometer a segurança de seu futuro e continuidade.

3. SOBERANIA NACIONAL

O texto constitucional é contundente e taxativo ao tratar do princípio da

soberania nacional enquanto fundamento da República federativa do Brasil,

impondo-se, por conta disso, o primado da ordem jurídica nacional sobre qualquer

outra ordem, inclusive a internacional, sendo a regra de direito externo admitida no

ordenamento interno somente após o processo de seu reconhecimento e aprovação:

Art. 1o A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel

dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I – a soberania;

(...)

Jean Bodin sintetiza a idéia de que em toda sociedade política deve haver

uma esfera última de decisão livre de qualquer intervenção, que imponha normas

aos membros dessa sociedade de maneira exclusiva e de acordo unicamente com a

sua vontade.

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Deste modo, conforme leciona Bodin, a soberania é vista como

verdadeiro eixo sobre o qual se move o Estado de uma comunidade política e do

qual dependem todos os magistrados, leis e ordenanças. Ela é que reúne as

famílias, os corpos e os colégios num corpo perfeito.

A etimologia da palavra soberania vem do latim medieval, através das formas

superamus ou superanitas, ou ainda supremitas, no sentido de “aquele que supera”6.

Neste mesmo sentido, acredita-se que o termo também derivara de super omnia7.

No Francês, souveraineté, qualidade ou situação de ser souverain, aquele que

impôs aos suseranos medievais pela supremacia de que estava investido o seu

poder.8

Durante o decorrer da história, desenvolveram-se várias teorias referentes à

Soberania e quanto a sua fonte. Dentre elas deve-se observar, lato senso, a título de

classificação, as teorias carismáticas do direito divino, correntes do fundo

democrático e teoria da soberania estatal.

Rosseau defendia que a Soberania seria Una, Indivisível, Inalienável e

Imprescritível conforme afirma Luigi Ferrajoli ao fazer uma análise sobre o tema9.

Assim, Pode-se afirmar que o conceito, no sentido material, arraigado nos

subconscientes, mudou devido à globalização e mundialização do capital. Como

afirma Edson Luiz Tortola:

“verifica-se que a soberania foi sendo reconstruída, ao longo do tempo, na medida em que o fenômeno da globalização e mundialização do capital impuseram ao Estado a adoção e integração de normas jurídicas, oriundas de ordenamento jurídico internacional, rompendo, por conseguinte, o conceito de Rosseau de soberania caracterizada como sendo um poder uno, inalienável e indivisível.”

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As pressões e discursos referentes à globalização, reforçado pelos interesses

econômicos em determinadas localizações do globo terrestre, faz com que os

conceitos de Soberania sejam atacados com certa freqüência.

4. DOUTRINAS INTERNACIONALISTAS PÁTRIAS

O direito internacional público trata das relações entre os Estados, aplicando

regras princípios e costumes internacionais.

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A constituição federal de 1988 define claramente a posição do país no que diz

respeito às suas relações internacionais quando dispõe que:

Art. 4o A República Federativa do Brasil, rege-se em suas relações

internacionais pelos seguintes princípios:

I- independência nacional; II- prevalência dos direitos humanos; III- autodeterminação dos povos ; IV- não-intervenção

(...)

Neste sentido, vemos que a constituição buscou resguardar sua

independência e não intervenção por entidades externas, ratificando mais uma vez o

princípio da soberania como corolário basilar onde se funda.

A carta da ONU diz em seu artigo 2°, § 1º, que a organização é baseada no

princípio da igualdade soberana de todos os seus membros. A carta da OEA estatui

em seu art. 3º, “f”, que a ordem internacional é constituída essencialmente pelo

respeito à personalidade, soberania e independência dos Estados. De modo

convergente, a jurisprudência internacional sendo neste aspecto compreendida a da

Corte da Haia, é carregada de afirmações relativas à soberania dos Estados e da

igualdade soberana que rege a sua convivência.

Em se tratando do direito internacional mais recente, especialmente após a

segunda-guerra, nota-se a sua influência e integração em diversas questões

reservadas à ordem interna dos Estados soberanos, penetrando em suas fronteiras

rumo ao ambiente interno, alargando o papel do ordenamento da comunidade

internacional nas ordens jurídicas internas, introduzindo valores da cidadania

planetária, ampliando o leque de eficácia dos direitos humanos, difundido a

aspiração ao respeito à pluralidade cultural, fomentando a construção de regimes

democráticos e, cada vez mais, em que pese certas intervenções circunstanciais que

evidenciem retrocessos, alargando os princípios e o alcance do próprio direito

ambiental internacional.

Muito mais do que antagonizar, a comunidade internacional através do direito

internacional interage complementarmente com a soberania nacional, traçando as

direções do presente e do futuro em termos de integração dos membros da própria

comunidade internacional, alcançando feições multilaterais e globais como também

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dimensões bilaterais e regionais, principalmente mediante as forças e as pressões

da globalização neoliberal.

Tais interações entre direito internacional e soberania nacional nos possibilita

compreender a razão pela qual a grande maioria dos cientistas de direito, incluindo-

se os brasileiros e os juristas do direito relativo ao meio ambiente, entendem a

soberania como um dos elementos caracterizadores do Estado, relevante e ainda

imprescindível como o fazem os professores Hidelbrando Accioly e Geraldo Eulálio,

em seu Manual de Direito Internacional Público, quando postulam que:

“Em outras palavras, é necessária a existência de um governo soberano, isto é, de um governo não subordinado a qualquer autoridade exterior e

cujos únicos compromissos sejam pautados pelo próprio DI¹¹”(ACCIOLY e

NASCIMENTO E SILVA; 2002:84)

Rezek afirma que a soberania não é apenas uma idéia doutrinária fundada na

observação da realidade internacional existente desde quando os governos

monárquicos da Europa pelo século XVI, escaparam ao controle centralizante do

Papa e do Sacro Império romano-germânico. Ela é hoje, uma afirmação do direito

internacional positivo, no mais alto nível de seus textos convencionais.

A doutrina internacionalista entende não ser suficiente, para que o Estado

seja identificado como pessoa jurídica de direito internacional, a condição de estar

sobre um território bem definido, ter população estável e sujeita a autoridade de um

governo, mas, observa como questão sine qua non, o fato de ter como atributo

fundamental, a Soberania, sendo esta por sua vez, àquela que confere ao Estado a

capacidade de ser titular de suas competências.

Essas competências que o Estado possui por ser soberano, não implicam em

poderes ilimitados, por sua vez, asseguram que nenhuma outra entidade possui

outros superiores.

O art. 12 da Carta da Organização dos Estados Americanos dispõe que:

“A existência política do Estado é independente do seu reconhecimento pelos outros Estados. Mesmo antes de ser reconhecido, o Estado tem direito de defender a sua integridade e independência, de promover a sua conservação e prosperidade, e, por conseguinte, de se organizar como melhor entender, de legislar sobre seus interesses, de administrar os seus serviços e de determinar a jurisdição e a competência dos seus tribunais. Os exercícios desses direitos.”

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O art. 13 da Carta da Organização dos Estados Americanos diz em seguida

que:

“O reconhecimento significa que o Estado que o outorga aceita a personalidade do novo Estado com todos os direitos e deveres que, para um e outro, determina o direito internacional.”

No que diz respeito ao meio ambiente, os teóricos internacionalistas

defendem que os Estados, na administração de seus territórios e enquanto fazem ou

deixam que se faça nos espaços comuns, subordinam-se as normas convencionais

do meio ambiente. Encontramos a origem dessas normas na interdependência: o

dano ambiental decorrente de negligência ou a defeituosa política de determinado

Estado tende de modo crescente a repercutir sobre os outros, não raro sobre o

inteiro conjunto, e todos têm a ganhar com algum planejamento comum. Além disso,

essas normas prestigiam um daqueles direitos humanos de terceira geração, o

direito a um meio ambiente sustentável.

É imprescindível ressaltarmos ainda, a Conferência das Nações Unidas sobre

o meio ambiente e o desenvolvimento reunida no ano de 1992 no Rio de Janeiro,

deixou evidente a importância do empenho da comunidade internacional em efetivar

medidas protetivas às questões ambientais. Da conferência resultaram duas

convenções (sobre mudanças climáticas e diversidade biológica), duas declarações

(uma geral e uma sobre florestas) e um amplo plano de ação que se chamou

agenda 21. Essas normas consolidadas no Rio de Janeiro, tiveram como traço mais

marcante o fato de que não se deve buscar o desenvolvimento à custa do sacrifício

ambiental, até mesmo por que ele não será durável, por outro lado, a preservação

não deve representar um obste ao desenvolvimento das nações pobres ou daquelas

que ainda não alcançaram um desenvolvimento significativo. Surge deste binômio o

conceito de desenvolvimento sustentado, sendo este entendido como àquele que

não sacrifica seu próprio cenário e neste sentido, não compromete suas próprias

condições de durabilidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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A soberania é constantemente questionada em prol de uma entidade

supranacional que, atrelada à discursos de medidas protecionistas ao meio

ambiente, busca de certo modo, invadir a esfera de competência soberana de

países detentores de riquezas naturais como o Brasil, especialmente no que se

refere à região amazônica.

As teses defensoras da mitigação da soberania baseiam-se principalmente

nas questões concernentes à globalização. Os partidários da relativização da

soberania afirmam que o processo de globalização exige a eliminação de barreiras,

neste sentido, não há porque a Amazônia manter restrições em suas fronteiras,

consideram-na ainda, como patrimônio mundial que deve estar sob a égide dos mais

capacitados a geri-la, sendo estes, as entidades internacionais.

O fato de a região Amazônica compreender riquezas deveras cobiçadas,

especialmente num contexto de extremo interesse global decorrente da escassez

vertiginosa, aguça de forma ainda mais veemente as teses de consolidação da

relativização da mesma. Porém, o Brasil tem buscado manter-se soberano,

demonstrando essa perspectiva através de leis e projetos como, por exemplo, o

Tratado de Cooperação Amazônica, que pôs em voga, o interesse do Estado em

efetivar sua postura soberana.

Neste sentido, os defensores da manutenção da soberania, que se

constituem como corrente majoritária, e até mesmo seguindo o que dispõem as

legislações constitucionais pátrias, afirmam que a soberania deve ser resguardada,

sobretudo por que as normas internacionais não podem sobrepor-se as existentes

no plano interno de um Estado. Embora o poder dos Estados não seja ilimitado,

nenhuma outra norma pode sobrepujar-se a ela. Nesta toada, constata-se que no

embate entre normas internacionais e normas nacionais, a soberania é o bem a ser

protegido e que, portanto deve prevalecer.

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