A. t. Jones o declínio de um lídeR

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    Resumo: Este artigo apresenta umadetalhada anlise da personalidade etrajetria de A. T. Jones, um dos maisproeminentes personagens da Assem-bleia de 1888. Segundo o autor, Jones

    sempre teve tendncias autossucinciae superioridade em relao s demaispessoas, e essa foi a principal causa deseu declnio espiritual. J em 1888, eleteve srios conitos pessoais com UriahSmith e outros. A grande popularidade deJones na dcada de 1890 contribuiu parao desenvolvimento de sua arrognciae extremismo teolgico. Havendo sido

    rejeitadas suas propostas sobre a reor-ganizao da Igreja e no sendo eleitopresidente da Associao Geral, Jonespassou a manifestar crescente amargu-ra pela Igreja. Mesmo aps reiteradastentativas feitas por lderes adventistas(inclusive Ellen G. White), Jones afastou-se nalmente da organizao adventista

    e tornou-se um crtico dela.

    AbstRAct: This article presents adetailed analysis of the personalityand trajectory of A. T. Jones, one ofthe most important characters in the1888 General Conference session.According to the author, Jones alwayshad tendencies to auto-sufciency and

    superiority in relation to other people,and this was the major reason for hisspiritual decline. Yet in 1888, he had

    Amin A. RodoR, th.d.

    Professor de Teologia Sistemtica na Faculdade Adventista de Teologia, Unasp-EC

    A. t. Jones: odeclniodeumldeR

    severe personal conict with UriahSmith and others. The great popular-ity of Jones in the 1890s contributedto the development of his arroganceand theological extremism. After his

    suggestions for Church reorganiza-tion and the fact that he was not electpresident of the General Conference,Jones manifested growing bitternesstoward Church. Even after repeated at-tempts by Adventist leaders (includingEllen G. White), Jones moved himselfaway from Adventist organization, andbecome its critic.

    intRoduo1

    Heris? Quem no os tem? Quemno precisa deles? Das pirmides doEgito, da quarta dinastia em Giz, Antiga Grcia, onde Homero chama-va seus homenageados de heris,de-

    nidos como homens de fora sobre-humana ou favorecidos pelos deuses.Da catedral de Palermo, onde umimenso bloco de mrmore negro co-bre o ltimo lugar de repouso do maisformidvel de todos os reis ingleses,Henrique VI, aos tmulos dos angevi-nos, na abadia de Fountevrault, ondedescansa o grande rei legislador Hen-

    rique II, sua esposa Eleanora da Aqui-tnia e o lho Ricardo Corao deLeo. Das Escrituras Sagradas, onde

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    apresentada uma verdadeira galeriade heris sagrados, at a Abadia deWestminster, onde jazem reis, almi-rantes, generais e outras celebridades

    nacionais. A tornou-se costume en-terrar-se tambm poetas e escritores.Esses heris no tinham que necessa-riamente ser crentes cristos da f daabadia pois at Charles Darwin, osanto padroeiro do atesmo, est l.2

    O captulo 11 da carta aos He-breus uma lista de chamada dosgrandes vultos das Escrituras Hebrai-

    cas, reconhecidos como heris da f.A introduo do captulo 12 relembraaos cristos envolvidos na grandemaratona da f que eles esto cerca-dos por uma grande nuvem de teste-munhas. Esta nuvem no seno amemria, o testemunho dos grandesheris do passado, mencionados nocaptulo anterior. Aqueles que, apesarde enormes limitaes, correram beme que terminaram o curso proposto.Agora, como se, num estdio anti-go, eles se erguessem nas arquiban-cadas, em longas las, uma multidode rostos do passado, parecendo, aoatleta, que, antes da partida, levan-ta rapidamente o olhar, uma nuvem,

    que observa atentamente os que par-tilham da mesma maratona.

    Toda cultura e toda subculturatm seus heris. Os adventistas dostimo dia no so uma exceo. Detempos em tempos, nomes sobrevi-vem ao anonimato. De tempos emtempos, nomes permanecem imor-talizados, coroados com um tipo deaura que parece pairar sobre ante-passados ilustres. Pessoas que, umdia, foram julgadas notveis por seus

    contemporneos e por geraes futu-ras! evidente que muito do que cha-mamos de biograa pode no passarde hagiograa, ou os escritos sobre

    a vida de santos, cujas verdadeirashistrias foram retocadas pela mani-pulao do passado. E assim, essasbiograas podem facilmente se con-verter em mitos, feitos maiores quea realidade, em lugar de apresentara histria real, de pessoas reais, quedesesperadamente necessitaram deJesus Cristo como Salvador, mesmo

    depois de se terem tornado crists.

    oshomensde minneApolis

    Da clebre 27 Assembleia da As-sociao Geral dos Adventistas doStimo Dia, ocorrida em Minneapo-lis, em 1888, emergem vrios rostos,no bojo da histria adventista. A es-

    tes, George Knigth chama de os ho-mens de Minneapolis.3 Alguns dosquais ganham especial destaque pelopapel que desempenharam na consi-derada mais importante e controver-sa sesso j reunida4 na histria doadventismo. Minneapolis, alm doconito interpretativo e doutrinrio,5representou tambm um colossal con-

    ito de personalidades. De um ladoencontramos os campees da velhaguarda, os defensores da ortodo-xia adventista, as chamadas forasdo Leste, representadas, sobretudo,por George Butler, ento presidenteda Associao Geral eUriah Smith,editor da Review and Herald, reco-

    nhecida autoridade na Igreja em in-terpretao proftica. As foras daoposio, por outro lado, o grupo doOeste, foram representadas por Ellet

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    J. Waggoner e Alonzo Trvier Jones,cujas ideias teolgicas foram percebi-das pelos representantes da ortodoxiacomo uma ameaa a alguns aspectos

    da doutrina adventista e da interpre-tao tradicional das Escrituras.George Butler, o conhecido pre-

    sidente de ferro, 6 presidente da As-sociao Geral em dois perodos: de1871-1874, e de 1880-1888. Curiosa-mente, por questes de sade, Butlerno esteve sicamente presente nahistrica Assembleia de Minneapolis.

    Dizemos sicamente, porque de ou-tra forma Butler estava l, colocandoo peso de sua inuncia e posio dolado conservador. Butler, para enten-dermos algo do homem, tinha uma vi-so consideravelmente orgulhosa doseu papel como presidente da Asso-ciao Geral. Em 1873, ele escreveraum artigo sobre liderana, claramentepara dar sustentao ao presidente daAssociao Geral e aos White (Tiagoe Ellen) em particular:

    Grandes movimentos neste mundo nopodem existir sem um lder. [...] Como anatureza concede aos homens uma varie-dade de dons, segue-se que alguns tmviso mais clara do que outros, o que

    melhor serve ao interesse da causa. E o[seu] melhor bem e interesse [...] seroalcanados por inteligentemente seguiro conselho daqueles melhor qualicados

    para guiar.7

    Nesse artigo, ele arma que a li-derana do pastor White e esposa eraincontestvel. E que era dever de to-

    dos adventistas, em questes da Igre-ja, dar preferncia ao julgamento dopastor White (ento presidente da As-sociao Geral, que ele interinamen-

    te substitua), e alegremente imple-mentar tal julgamento como se fosseo deles mesmos. Fazer o contrrio,continuava Butler, seria equivalente

    a usurpar a posio que fora indicadapor Deus.8

    As teorias de Butler sobre lideran-a incomodaram consideravelmenteos White. Em um artigo na Signs of theTimes, Tiago White observou, contr-rio a Butler, que Jesus nunca indicaraum discpulo especco para dirigir asquestes da Igreja. Alguns meses de-

    pois, Ellen G. White acrescentaria:

    Agradaria a Satans que a mente e o dis-cernimento de um homem controlasse amente e o discernimento daqueles quecreem na verdade presente.

    Nesse incidente, alm do extraor-dinrio bom senso do casal White, ob-

    servamos algo a respeito de Butler quenos ajuda a entender seu papel na cri-se de 1888. luz dos desdobramentosposteriores, parece conrmar-se queButler adotara essa alta compreensoda liderana para si mesmo, vendo-seno apenas como um lder forte, quedeveria governar verticalmente, mascomo o guardio da teologia denomi-

    nacional. Um pouco antes da Assem-bleia de Minneapolis, em carta paraEllen G. White, ele expressa sua visovaidosa do cargo que ocupava per-guntando retoricamente: Anal nodetinha ele a mais alta posio que onosso povo poderia atribuir?10

    Ellen G. White no pareceu nem um

    pouco impressionada pela posio ocu-pada por Butler, ou por sua compreen-so dela. Alguns dias antes do incio dahistrica sesso, ela lhe escreveu:

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    Eu no vejo em sua carta o tom correto.[...] Voc no deve pensar que o Senhor ocolocou na posio que voc ocupa ago-ra [juntamente com Uriah Smith], comoos nicos homens que devem decidir se

    qualquer outra luz e verdade viro sobreo povo de Deus.

    Na mesma carta,ela ainda repre-ende Butler por ter misturado os seusprprios traos de carter com aobra, e por possuir falsas ideias dasua posio na denominao, tornan-do a mente deles (Butler e Smith)

    condutos errados, e ainda por sereferirem a Jones e Waggoner comoeditores novios.11 Deploravel-mente, tais conselhos no consegui-ram mudar a mente do emocional-mente exausto presidente, ou faz-lomudar sua trajetria.

    Quase no nal de 1888, Ellen G.White, com coragem e independncia,escreveu palavras pouco elogiosas so-bre a liderana de Butler:

    O pastor Butler j est no ofcio [comopresidente] por trs anos, e agora todahumildade e despretenso de mente jo deixaram. Ele pensa que sua posiod a ele tal poder, como se sua voz fosseinfalvel.12

    Compreendendo a atitude monr-quica da liderana de Butler, nos per-guntamos se isso no predisps Jonese Waggoner, mais tarde, a se rebelaremcontra o formato da organizao deno-minacional, especialmente contra osistema presidencialista.13

    O segundo vulto que se distingue

    entre os heris de Minneapolis UriahSmith, homem em grande medida damesma ndole de Butler. Alm de se-

    cretrio da Associao Geral, nesseperodo, ele j estava como editor daReview and Heraldpor aproximada-mente 25 anos, e de muitas maneiras

    ele se via mais como proprietrio dapublicadora do que como um editordela. Smith tambm se via como oguardio da ortodoxia teolgica. com esse esprito que ele escreveriade Jones, posteriormente:

    Depois de longo estudo e anos de obser-vao, na obra, tornei-me estabelecidoem certos princpios, e no estou prepa-rado para me entusiasmar com a sugestode cada novio que aparea.14

    De fato, por aquilo que vemos doesprito desses dois pioneiros, pode-mos armar sem muita margem deerro, que eles no estavam dispostosa engolir os dois jovens da Califr-

    nia, ou, pelo menos, considerar o queeles estavam propondo. A despeitodas advertncias de Ellen G. White,Butler e Smith se consideravam comoum tipo de lees de chcara da orto-doxia adventista. Discordar deles, nacompreenso de que tinham da impor-tncia de suas funes e experincia,era discordar da Igreja, ou talvez, pior

    ainda, discordar do prprio Deus.Por outro lado, E. J. Waggoner

    pertencia ao partido do Oeste. Aos33 anos, ele era um dos maiores con-testadores em Minneapolis. Rece-bera seu diploma em medicina, emNova Iorque, em 1878. Tornou-seinsatisfeito com a prtica mdica einteressou-se no ministrio, depoisde uma experincia profundamenteespiritual, numa reunio de acampa-mento. Em 1884, foi chamado para

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    assistir seu pai, J. H. Waggoner, napoca, editor do Signs of the Times,na Pacic Press. Seu maior foco deateno foi a lei em Glatas, diver-

    gindo dos intrpretes adventistas emgeral, nesse perodo.Mas o foco da nossa discusso

    neste artigo o quarto heri de Min-neapolis: Alonzo Trvier Jones. Elefoi uma das mais fascinantes persona-lidades a adornar o plpito adventistano sculo 19. A curiosidade de muitostem sido despertada quanto ao caris-

    mtico Jones, que de forma metericaelevou-se eminncia denominacio-nal, e que, quase to rapidamente mer-gulhou na obscuridade e apostasia, noincio do sculo 20. George Knight,bigrafo de Jones, em seuFrom 1888to Apostasy: The Case of A. T. Jones,15na prpria capa do livro, como se nopudesse esperar para apresent-lo, odescreve como um poderoso lder,pregador e escritor, acrescentando,Jones quase tornou-se presidente daAssociao Geral. [...] Ento, uma fa-lha fatal no seu carter o fez voltar-se contra a Igreja. Mas, talvez, essaseja apenas uma parte da histria real.No que ele simplesmente se vol-

    tasse contra a Igreja. A questo real que os anos posteriores da sua vidaparecem destruir a imagem do ho-mem que encontramos no incio desua ascenso. Ou nos perguntamos:ser que, realmente, ele nunca tenhasido o heri que pareceu ser de in-cio? Ao contrrio, como explicar seudesvio to bizarro, seno entendendo

    que no centro de sua vida, na essnciado seu ser, ele j levava as sementesde sua prpria destruio!

    Quemfoi Jones?

    Os dados biogrcos de Alonzo T.Jones so consideravelmente conhe-cidos. O movimento ainda estava em

    seu perodo formativo, quando Jonesnasceu em Ohio, em 1850. Aos 20anos, alistou-se no Exrcito Ameri-cano tendo chegado ao posto de sar-gento de fronteira. Jones sempre foiorgulhoso do seu passado militar e,provavelmente, a disciplina da vidamilitar tivesse acentuado seus tra-

    os de autoritarismo. Tal tendncia,combinada com uma certa atitude deexagerada autoconana, beirando oslimites da arrogncia e noo de queele estava sempre certo, fez mui-to para criar o esprito negativo emMinneapolis. Tenaz na defesa de suasconvices e nunca intimidado, Jo-nes representou tambm um extraor-

    dinrio patrimnio para a Igreja, nosconitos sobre a liberdade religiosa,nesse perodo agitado.

    Sua dedicao ao estudo e leitura,ainda no seu estgio militar, estabele-ceu os fundamentos de slido conhe-cimento, de certa forma preparando-opara os desaos de sua vida posterior.

    Seu interesse, como campo de estudo,estava na rea da Histria. Foi batiza-do em 1873, iniciando suas atividadescomo pregador na Costa Oeste dosEstados Unidos pouco tempo depois.Jones era descrito, do ponto de vistafsico, como um homem alto, ou, naspalavras de H. Holand, um homemforte e impressivo. De fato, 1m85 de

    altura e bem apessoado de porte.Como frequentemente acontece a

    jovens pregadores, em seu primeiro

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    sermo, Jones disse tudo o que sa-bia em 20 minutos, e algum teveque terminar o sermo por ele. Masesse no o homem que encontramos

    mais tarde, em seus tempos ureos,sendo capaz de manter o interesse demultides, com longos sermes quechegavam durar 2 horas e meia. Al-guns desses sermes foram publica-dos, contendo entre 60 e 100 pginas.No de admirar que Ellen G. Whiteo tivesse aconselhado posteriormentea reduzir seus sermes pela metade:

    Metade do material traria melhor re-sultado, diria ela a Jones.Jones casou-se em abril de 1877,

    com Frances E. Patten. A despeito dosseus planos de concluirum curso deestudo formal em Battle Creek, issofoi frustrado por outras emergncias,fazendo-o continuar na Califrniapor muitos anos mais. O nascimento

    de sua primeira lha, em 1883, comseveras limitaes mentais, colocouum enorme fardo sobre a famlia Jo-nes. Alm de trazer tenses no casa-mento e diculdades no relaciona-mento dele com sua esposa, causouentre eles certo distanciamento. Emmaio de 1885, Jones tornou-se editorassistente da Signs of the Times, naPacic Press, e alguns meses depois,juntamente com E. J. Waggoner, tor-nou-se editor. Essa posio ele queassumiu at 1889. Alm de suas ati-vidades como editor da Signs, Jonesfoi indicado pastor do HealdsburgCollege. Tido como o homem cer-to para o cargo, e amado por todos

    os irmos, como diria Daniells, emcarta para Ellen G. White. Waggo-ner manteve uma amizade duradouracom Jones, amizade de toda a vida,

    para o melhor ou para o pior. Jonesfoi o pregador no funeral de Waggo-ner, em 1916.

    os

    desdobRAmentos

    de

    minneApolis

    Waggoner e Jones, os dois ho-mens que agitaram a Assembleia emMinneapolis (1888), com sua prega-o sobre a justicao pela f, eramos enviados da comisso executivada Associao Geral por vrios anosdepois, para pregar sobre o tema em

    toda a nao, em acampamentos e emqualquer grande concentrao, emconclios de pastores e em institutosministeriais, alm das instituiesadventistas. Ellen G. White os acom-panhou em muitos desses lugares, atsua partida para a Austrlia, em 1891.LeRoy E. Froom, em seu livroMove-ment of Destiny, dedica todo um ca-

    ptulo para analisar as mudanas queocorreram no adventismo do perodoposterior a 1888,16 sob a inunciadesses mensageiros. A Igreja Adven-tista no seria mais a mesma!

    Jones, Waggoner, posteriormen-te W. W. Prescott,17 juntamente comEllen G. White, aparecem como osincansveis campees da justicaopela f e responsveis pelo poderosoreavivamento que tomou lugar entreadventistas nos anos que se seguirama Minneapolis. Como Knight obser-va, Cristo recebeu uma nfase nosescritos e na pregao adventista queele nunca havia recebido antes.18 El-len G. White, de fato, esperava que

    a cruz se tornasse o ponto focal e ocontexto para cada ensino adventis-ta, tanto em termos de estilo de vidacomo em doutrina. No de estranhar

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    que a Assembleia em Minneapolis te-nha se tornado central em desdobra-mentos posteriores, considerando-seque ela gerou essa enfase desespera-

    damente necessria entre o povo doadvento, que havia se tornado seco erido pela pregao da lei.

    Em outubro de 1892, W. A. Col-cord, secretrio da Associao Geral,estava convencido de que o alto cla-morhavia iniciado,19 tendo Jones comoo seu mais importante proponente.Jones pregava com veemncia sobre

    os tpicos escatolgicos da chuva se-rdia e do alto clamor. Em Michigan,mais de 500 fazendas adventistas fo-ram colocadas venda na medida emque os crentes buscavam estar prontospara os ltimos eventos. O Battle Cre-ek College passou a oferecer cursosde preparo para a ao missionria, nobreve tempo que restava. Jones, comoKnight indica, era o ponta-de-lanado movimento da chuva serdia20 quehavia se desencadeado. Na prximaAssembleia da Associao Geral, em1893, Jones apresentaria 24 sermestratando da terceira mensagem angli-ca, mais que o dobro de apresentaesem relao a qualquer outro pregador.

    Na poca, A. F. Ballenger insistia empedir ao presidente Olsen e ao secre-trio Colcord, que as mensagens deJones fossem publicadas no GeneralConference Bulletin fossem lidas emcada congregao adventista.21 Joneslogo estaria pregando que o tempo doselamento havia chegado. Sua nfaseera intensicada pelo explosivo tpico

    das leis dominicais que, naquele tem-po, pairavam no ar,22 como um solenesinal para os adventistas.

    No se pode, contudo, deixar deperceber as tendncias extremistasde Jones em meio a esse ambiente deagitao. Provavelmente sincero, mas

    ainda assim extremista, Jones liderouum movimento de xodo de BattleCreek, chegando mesmo, juntamentecom Prescott, a conduzir classes depreparo para aqueles que se prepara-vam para a retirada. Mas, como Kni-ght observa, Ellen G. White, nessetempo, tinha se tornado grandementepreocupada com o entusiasmo de Jo-

    nes e Prescott. Embora ela tivesse,por outras razes, defendido a sadade Battle Creek pelos crentes adven-tistas, ela advertia sobre os perigos dapressa, que poderiam trazer pesarese desiluso, em lugar de vitria. Elaescreveria:

    Sinto-me preocupada ao considerar que

    pode haver alguns dos nossos professo-res [referindo-se a Jones e Prescott] quedeveriam ser mais equilibrados, com um

    julgamento correto.23

    A referncia a equilbrio certa-mente deve ter sido vista, no mnimo,como problemtica para a maioriados adventistas, que tinham uma con-

    ana ilimitada no julgamento desseslderes.Ellen G. White ainda escreveria,

    nesse mesmo contexto, que o povono deveria ouvir as recomendaesapressadas dos seus conselheiros.Suas palavras sugeriam, sobretudo,que Jones e Presccott deveriam evi-tar extremos e julgamentos afoitos,

    o que parece ter sido a principal fra-queza deles. De fato, o tesoureiro daAssociao Geral, na poca, esperou

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    que as declaraes de Ellen G. Whitealiviasse a presso que Jones e Pres-cott estavam colocando sobre os ad-ventistas em Battle Creek, mas isso

    realmente no aconteceu.24

    As adver-tncias feitas a Jones, em geral, ter-minavam tendo o efeito e a duraode um risco na gua.

    O esprito de arrogncia e auto-conana de Jones persistiam. Certode estar sempre certo. Esse era omesmo esprito que se manifestarana Assembleia de Minneapolis, em

    sua afetada declarao de que eleno poderia ser responsabilizadopela ignorncia de Uriah Smith emrelao a certos detalhes histricos einterpretativos de Daniel 7,25 o quesem dvida fora uma sria agravante,para aprofundar a hostilidade entreos dois. Nessa poca, Ellen G. Whitechegara a armar que o orgulhoque possuam parecia completamen-te fora de lugar para dois homens tojovens. Em relao a atitude dos doisjovens, ela dissera, em 1887, que aWaggoner faltava humildade e man-sido, enquanto Jones necessitavacultivar a bondade prtica.26 Pareceque tal esprito o acompanharia at o

    m de sua carreira, e em muito de-terminaria sua diculdade de aceitarconselhos e repreenses.

    J no nal de 1892, Jones se tor-nara a voz mais ouvida no adventismonorte-americano. Orgulho e sucesso,contudo, formam uma combinaoperigosa, porque sabemos que apenasa mo que no treme pode levar emsegurana a taa do xito. Raros soos que no se deixam afetar pelo som-bra fugidia do poder. E, frequente-

    mente, como Salomo, o velho rei deJerusalm, concluiu, a soberba pre-cede [antecede] a runa (Pv 16:18).Sucesso e poder, como geralmente

    entendidos por aqueles que se dei-xam seduzir por tais vaidades, comfrequncia se transformam nos dem-nios que cegam os homens. Jones es-tava em rpida ascenso e, nesse tem-po, ningum, seno o Todo-Poderoso,poderia antecipar que bifurcao naestrada ele haveria de tomar.

    nARotAdAAscenso

    Deve-se lembrar que a agitaode se criar uma legislao quanto observncia do domingo estava empauta na dcada de 1880 e incio dadcada de 1890, o que colocara Jo-nes no centro da controvrsia.27 Em1889, Jones foi convidado para falar

    diante do comit do senado ameri-cano, em Washington, em oposio Breckinridge Bill, uma emendaque intencionava forar a obser-vncia do domingo no Distrito deColumbia. A emenda constitucionalfoi derrotada e Jones logo foi reco-nhecido como o mais proeminenteorador da denominao em questes

    ligadas liberdade religiosa. Nessetempo, Jones estava servindo comoo editor da revista American Senti-nel(ou Sentinel for Christian Liber-ty), a revista precursora da atualLi-berty. Jones escrevia copiosamentepara outras revista adventistas e foiautor de vrios livros, alguns deles

    tratando com a questo da liberdadereligiosa. Ele se tornara o campeodenominacional nas batalhas legis-lativas estimuladas pela questo do

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    domingo. Jones era o centro dasatenes, particularmente desde asua nfase na formao da imagemda besta, no perodo de grande rea-

    vivamento adventista nos primeirosanos da dcada de 1890.Dois eventos na vida de Jones ser-

    vem para lanar luz sobre sua perso-nalidade complexa. O primeiro delesajuda a elucidar o elemento funda-mental do seu legado aos seguidorescontemporneos de sua cristologiaps-lapsariana. Durante a primeira

    parte dos anos 1890, Jones concluiuque existe uma ntima relao entre anatureza humana de Cristo e o tema dajusticao pela f. Na Assembleia daAssociao Geral de 1895, ele pregoudiante dos delegados que a naturezade Cristo precisamente a nossa natu-reza. Em sua natureza humana no huma partcula de diferena entre ele e

    ns.28 Em outras palavras, Cristo tema mesma natureza que ns 100%igual. Contudo, quando confrontadocom uma citao de Ellen G. White ele [Cristo] um irmo em nos-sas necessidades, mas no em possuirpaixes identicas29, Jones apresentauma soluo desconcertante e contra-

    ditria, para se dizer o mnimo.Defensivo, ele objetou com umaexplicao desconexa, fazendo umaridcula diferena entre a carne deCristo e a sua mente.30 Segundo Jo-nes, a mente de Cristo no como anossa mente, por isso chamada amente de Cristo. Ele advogara queentre Cristo e ns no h uma part-

    cula de diferena, mas agora, na ten-tativa de harmonizar sua teoria comuma clara armao de Ellen G. Whi-

    te, Jones conclui que tal semelhanano inclui a mente de Cristo. Paraaqueles familiarizados com a histriada teologia, Jones se aproxima aqui

    da noo hertica do apolinarianis-mo, a qual fazia uma diferena entrea mente de Cristo (nous), ocupadapelo Logos (o Verbo eterno), e o seucorpo (soma), que era como o corpodos demais homens. A precarieda-de da teologia de Jones evidente.Como qualquer criana da escola pri-mria saberia dizer, nossa mente no

    apenas uma parte integral da nossanatureza, mas a parte mais importan-te dela. Como, ento, poderia JesusCristo ser exatamente como ns,100% igual, mas ser diferente de nsprecisamente num ponto absoluta-mente crucial? Esse tipo de evasiva,historicamente acabou se tornando,talvez, o principal legado de Jonesaos seus seguidores contemporneos,que mesmo diante das mais compe-lentes evidncias, preferem continuarcom seus argumentos.

    Como foi dito, h outro episdioque ajuda a lanar luz sobre a per-sonalidade de Jones. Por volta domesmo tempo, a Anna Rice Phillips

    comeou a escrever testemunhos,pretendendo o dom proftico. EllenG. White estava, nesse tempo, naNova Zelndia. O curioso que Jonesestava encorajando a srta. Rice e len-do os testemunhos dela em pblico,comparando-os com os de Ellen G.White, e perguntando congregaose eles no ouviam a mesma voz em

    cada uma deles. Ellen G. White escre-veu-lhe uma carta da Austrlia, quechegou precisamente no domingo,

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    depois do sbado em que Jones leu ostestemunhos de Anna Rice Phillips.Nesse evento, o extraordinrio apreciso do tempo, num tempo em

    que o correio era absolutamente in-certo. A carta fora escrita mais de umms antes do evento, e chegou preci-samente um dia depois. Ainda no cor-reio, Jones leu o testemunho de EllenG. White reprovando sua conduta.Imediatamente, ele entregou a car-ta a A. O. Tait, para que esse a lesse.Jones perguntou a Tait: Quem disse

    irm White, um ms atrs, que euiria pregar este sermo acerca da srta.Phillips, como uma profetisa? Vocsabe quem, disse-lhe Tait, Deus sa-bia que voc iria fazer isso e impres-sionou Ellen G. White a escrever-lheum ms antes do seu sermo.31

    No prximo sbado, Jones pre-gou outra vez na tabernculo emBattle Creek, e leu pores do tes-temunho de Ellen G. White que re-cebera no domingo anterior. Essa uma das raras vezes que temos regis-tro, em que o encontramos dizendo:Eu estou errado, e confesso isso...32Curiosamente, Ellen G. White foimuito cuidadosa em tratar com essa

    pretensa profetisa. Ela escreveu: Airm Phillips no deve ser condenadaou denunciada.33 Contudo, ela nopodia entender por que Jones encora-jara a moa e ao mesmo tempo no secomunicara com ela (Ellen G. White)sobre a questo. Seria mais uma evi-dncia da autossucincia de Jonese de seu julgamento individualista

    das coisas? Provavelmente! Jones, oprincipal gurante desse contrapontoda histria adventista, saiu, para mui-

    tos adventistas, com sua credibilida-de arranhada.

    o cAminhoinveRso: odeclniode

    A. t. Jones

    Durante os quatro anos decorridosentre 1897 e 1901, houve o perodo depoder ocial de Jones. nesse pontoque o encontramos naquilo que Ge-orge Knight denomina pinculo dopoder.34 Por volta de 1897, Jones ha-via alcanado o clmax de sua carreira

    denominacional. Nesse tempo, ele eraa pessoa de maior inuncia e a maisouvida no adventismo, depois de El-len G. White. Mas devemos observar: precisamente na sua visibilidade enas possibilidades inerentes de sua po-sio que testemunhamos com tristezao incio de um processo inexorvel,que apressaria o seu declnio e morte

    como um lder adventista de primeiragrandeza. Sua natureza impetuosa, suapena sempre imersa na tinta custicada ironia e da crtica, seu tratamentorude com as pessoas, sua irresistvelinclinao ao extremismo, sua incapa-cidade de, na maioria das vezes, admi-tir erros e aceitar correes, so traosque vo se tornando mais evidentesem sua personalidade e o colocam narota inversa do perodo anterior.

    Nesse perodo, Jones exerceria suaenorme inuncia na tentativa de levara efeito reformas na denominao. Ob-servamos, em 1897, seus esforos deimplementar mudanas naReview andHeraldpor meio de prticas descritas

    por Ellen G. White como manifestan-do falta geral de princpios cristos.35Jones no se intimidou diante do po-

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    a. t. Jones: odeclniodeumlder/ 91

    deroso grupo da Review, denuncian-do que seus administradores haviamsido para usar uma linguagem maisbranda que a dele desonestos, no

    pagando direitos autorais justos a au-tores que haviam sido lesadospelasprticas da editora, insistindo que, deacordo com os Testemunhos (os es-critos de Ellen G. White), deveria serfeita uma mudana.36 Jones seria aindaum poderoso advogado em defesa dareforma no sistema educacional ad-ventista nesse perodo,37 sobretudo no

    Battle Creek College, que apresentavasrias distores. Jones defendia algonobre e sua personalidade forte pode-ria ser um poderoso fator de mudana.Ellen G. White chegou a admitir queele estava fazendo a coisa certa, masela no podia concordar com os mto-dos de Jones em tratar com essas ques-tes e pessoas.38 Em 1903, em carta aArthur G. Daniells, George A. Irwin,ex-presidente da Associao Geral,observaria a respeito do abrasivo estilode Jones como um reformador, e suaspalavras so reveladoras:

    Eu sempre pensei que ele [Jones] eramais um destruidor do que um real re-formador, pela maneira radical e nocrist com que trata com as coisas, detal forma que ele destri o propsito quetem em mente.39

    Devemos observar ainda que, du-rante grande parte da dcada de 1890,Jones dividia a posio de autoridadeem interpretao proftica e outrasquestes de erudio bblica com oveterano Uriah Smith. Mas a popula-ridade de Smith, j por algum tempo,estava em declnio devido crescente

    ascenso do carismtico Jones. Em1897, Smith sofreu uma sria derrota.Num revs brutal, Jones foi indica-do editor doReview, enquanto Smith

    foi feito o editor assistente de Jones.Uma terrvel inverso dos dados. Ob-servamos tambm, que nesse perodo,as foras da oposio, que haviam semanifestado vigorosas em Minnea-polis, estavam praticamente extintas.Butler estava, j h algum tempo,afastado na Flrida por questes desade, primeiro dele, depois da espo-

    sa; e Smith, agora deposto de sua po-sio de poder. Assim, Jones pareciaerguer-se supremo no adventismo donal do sculo 19.

    Contudo, progressiva e paralela-mente Jones havia construdo a imagemde um homem voluntarioso, inclinadoa tomar posies extremadas e incapazde fazer a leitura correta em situaesdelicadas. Tais traos tornaram, anal,impossvel que ele mantivesse a credi-bilidade tanto com a liderana da Igre-ja, como com os membros em geral.Alguns dos mesmos atributos que con-triburam para seu sucesso como umafora de impacto na Igreja acabaramse transformando em anjos vingadores.

    Aquilo que Jones alcanara pelo exer-ccio da liderana carismtica no seriapossvel alcanar pelo uso do poder, e a que, provavelmente, localizamosa chave para os seus confrontos admi-nistrativos e a pista para sua posterioraliana com o dr. John Harvey Kello-gg, que haveria de ajudar a cultivar oseu ressentimento e rusgas contra a

    denominao. Certo de estar sem-pre absolutamente certo, ele tentariaimplementar reformas na Igreja e no

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    podia entender porque a denominaoadventista no poderia segui-lo em seuprograma de mudanas. Cedo, no novosculo, ele se envolveria num amargo

    conito com Daniells e com a nova li-derana da Igreja homens cujas ideiasdiferiam radicalmente das suas.

    Como indicado anteriormente, em1897 Jones foi feito editor daReviewand Herald. Tal indicao deve tersignicado para ele uma esmagadoravitria sobre Smith. A tarefa de Jo-nes, lhe fora indicada claramente: seu

    mandato era pregar a mensagem emum tom denitivamente novo. Emlugar de falar a relativamente poucosdo nosso povo, em nossos encontrosanuais, ele dever dirigir-se a todos,cada semana.40 Como se poderia es-perar, Jones apreciou muito sua novaposio. Com sua modstia caracte-

    rstica, ele reinvidicou que tinha sidodivinamente apontado para a tarefa.Por alguns anos ele disse ao comit daAssociao Geral que estava conven-cido que fora destinado para ser o edi-tor doReview and Herald. Ele viu talposio como a base do poder de ondeele poderia reformar a Igreja. Evi-dentemente, nem todos estavam feli-

    zes com a mudana no editorial. Issodesencorajou Ellen G. White e, maistarde, ela exultaria de alegria quandoSmith reassumiu o ofcio em 1901.41

    Em seu perodo como editor daReview and Herald, os temas mais co-muns dos editoriais de Jones tinhamque ver com a recepo do EspritoSanto, para conferir poder vida cris-t. Esse era o sonido novo daReview.Essa, como ele diria, era a mensagempresente. Isso o levaria diretamente

    a outra de suas ideias extremistas: omovimento da santidade. Jones co-meou a enfatizar a relao entre suaideia de justicao pela f com o ba-

    tismo do Esprito Santo. As portas es-tavam abertas para sua aproximaodo fanatismo do movimento da carnesanta. Um tipo de semente fertilizada,com a constante mensagem de Jones:Recebei o Esprito Santo.

    Como Knight indica, Jones pas-sou a ensinar uma noo exageradada santidade da carne atravs dos seus

    editoriais noReview and Herald. Noeditorial daReview, de 22 de novem-bro de 1898, ele escreveria:

    Perfeita santidade envolve a carne bemcomo o esprito: inclui o corpo como aalma. [...] No vedes que em todas essascoisas, quer nos princpios de sade para ocorpo, ou na justicao para a alma, am-

    bos so trabalhados pelo Esprito Santo deDeus [e que] o Senhor est preparando um

    povo de santidade perfeita, de tal formaque eles possam encontrar com o Senhorem paz e v-lo em Sua santidade?

    signicativo observar que mui-tas das ideias extremistas de Joneseram resultado direto de uma exagera-da e distorcida compreenso da justi-

    cao pela f.Com isso, entretanto, no deve-

    mos concluir que Jones, apesar dassimilaridades, aceitasse as ideias domovimento da carne santa. E a prin-cipal razo para essa rejeio, apesardo relacionamento essencial com osseus ensinos, sem qualquer dvida

    encontra-se no fato de que os princi-pais advogados daquele movimentodiscordavam frontalmente da ideiade Jones quanto pecaminosida-

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    de da humanidade de Cristo. Jones,portanto, no rejeitou as noes dacarne santa primariamente pelo exci-tamento pentecostal. E isso podemos

    armar, considerando que, depois queele abandonou movimento adventista,a ltima liao religiosa de Jones foicom um grupo de pentecostais guar-dadores do sbado que falavam emlnguas estranhas.42

    Em meio a tudo isso no de ad-mirar que Jones, em sua leitura dosmanuscritos do livro de Kellogg, The

    Living Temple (O Templo Vivo), noencontrasse nada substancialmente er-rado. Stephen N. Haskell, que haviaretornado aos Estados Unidos depoisde longa ausncia, cou chocado aoencontrar vrios movimentos fanticosem todo o pas. Mais chocado aindacou ao descobrir que alguns prega-dores adventistas estavam ensinandoque era pecado matar insetos e queningum receberia o selo de Deus setivesse cabelos brancos, ou que pesso-as deformadas seriam logo completa-mente curadas, se fossem parte dos 144mil. Haskell constata que essas ideiashaviam levedado o pensamento de al-guns homens em posio de liderana

    na igreja e em instituies adventis-tas. Os proponentes dessa nova luzreivindicavam que Jones e Waggonertambm criam nessas noes. Haskelllduvidou que eles tivessem alcanadotal estgio extremista, mas admitiu queisso parecia ser o resultado nal dosargumentos que eles utilizavam.

    A voz proftica aos adventistas

    fez ento soar uma longa clarinadacontra o movimento da carne santa, eseus alhados fanticos, todos vistos

    como uma falsa aplicao da justi-cao pela f. Para Ellen G. White,

    todos ns podemos alcanar coraessantos, mas incorreto julgar que tere-

    mos nesta vida, carne santa. [...] Se todosos que falam to livremente sobre a per-feico da carne pudessem ver as coisassob luz verdadeira, eles se recolheriamcom horror de suas ideias presunosas.

    Ellen G. White acrescenta: Atra-vs do sacrifcio feito em nosso favor,os pecados podem ser perfeitamente

    perdoados, e podemos alcanar san-tidade da alma.43 A coluna dorsal dofanatismo dos ltimos anos do sculo19, seria partida, nalmente, nos pri-meiros anos do sculo 20, quando aateno foi chamada para uma formamais sosticada dessas ideias: o pan-tesmo do dr. Kellogg. A esse ensino,Jones e Waggoner estavam alinhados.

    Iniciamos esta seo armando queos quatro anos entre 1897 e 1901 foio perodo ureo de Jones na denomi-nao adventista. Contudo, depois de1901, ele j no seria uma fora maiorno adventismo, embora isso no queiradizer que ele tenha perdido sua inu-ncia da noite para o dia. Mas, como jindicado, precisamente esse perodode ascenso que ocorre a vitrine de vi-sibilidade e exposio de Jones, que ohavia elevado ao pinculo do podere que tragicamente esconde as razesde seu declnio vertiginoso.

    emconflitocomA igReJA

    No incio do sculo 20, a hostili-

    dade de Jones contra lderes adven-tistas comeava a se intensicar, co-locando-o na linha de coliso com a

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    administrao da Igreja. Tal contextoconduziu Jones perigosa associaocom Kellogg, contrrio s fortes ad-vertncias de Ellen G. White. Kello-

    gg, a essa altura, iniciara uma campa-nha para colocar Jones na presidnciada Associao Geral. Mas as forasde Jones e Kellogg sofreram uma der-rota maior na sesso da AssociaoGeral de abril de 1903. As esperanasde Jones eram altas, mas o presiden-te eleito foi Danniells. Esse ltimoadotou imediatamente novas normas

    para a administrao das instituiesadventistas, colocando, inclusive ossanatrios, sob direta tutela e pro-priedade denominacional. O veteranoJones tentou ainda manipular uma re-ao contra as novas regras, mas foiderrotado. Daniells diria depois que aderrota de Jones nos votos foi o su-premo momento em sua vida.44

    Jones deixou a sesso da Associa-o Geral derrotado, sentindo-se rejei-tado, e como tal, um homem amargo.Tal derrota o feria mais e era-lhe maisofensiva, por causa do seu orgulhosensvel. Logo ele, que estava acostu-mado apenas a vitrias, desde 1888.45Deploravelmente permitiu que a amar-

    gura sedimentasse em seu corao emente. Passou, ento, aberta e publi-camente a trabalhar para desacreditarDaniells, e fez isso at sua prpriamorte em 1923. Tendo sido rejeitadopara a posio de liderana no maisalto posto na Igreja Adventista, Jones,ao contrrio de Waggoner,46 tornou-seo mais agressivo opositor pblico da

    denominao e de Ellen G. White.Como Knight observa, numa srie defolhetos e pequenos livros, ele atacava

    o sistema do presidencialismo adven-tista, alm de incluir em seus ataquesEllen G. White e sua obra.47

    De fato, sua amargura posterior-

    mente o levaria a concluir que todaa denominao, inclusive Ellen G.White, se haviam apostatado e queele era o nico verdadeiro adventis-ta. Esses pareciam os frutos de suastendncias arrogantes, que permane-ceram irretocveis atravs dos anos.Tendncias das quais, os seus maiscorajosos associados, Ellen G. White

    inclusive, haviam tentado dissuadi-lo. Posteriormente, quando algumapelava para que voltasse para agrandiosa e antiga mensagem ad-ventista, invariavelmente sua respos-ta insistia que ele estava na mensa-gem, enquanto a denominao haviaabandonado seus antigos ensinos.48

    Jones, como j sugerido, era umhomem de extremos, trao que emer-ge frequentemente em sua trajetriaturbulenta. Entre outras noes, eletinha ideias exageradas sobre a san-tidade, resultado direto de exagerosna sua teoria da presena de Cristo nocrente, alm de tores na doutrina dajusticao pela f. Ainda no incio

    da dcada de 1890, ele havia chega-do a extremos quanto noo da curapela f relacionadas noo de santi-dade, linhas de raciocnio que foramrepreendidas por Ellen G. White.49Em 1894, juntamente com Waggoner,Jones apresentava ensinos confusosquanto organizao da Igreja. ParaJones, toda organizao humana er-

    rada e a nica organizao da Igrejacorreta aquela em que cada indiv-duo diretamente governado pelo Es-

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    prito Santo.50 Ele ensinara tambm asnoes da f da trasladao, con-ceito sobre o qual o movimento dacarne santa estava construdo. Em

    meados de 1897, Jones acabou sen-do levado ao pantesmo, uma conse-quencia lgica de sua nfase exagera-da na doutrina da presena de Cristono crente. Em 1891, Jones acabaraadotando ideias exageradas quanto aorelacionamento entre a Igreja e o Es-tado, ideias consideradas por Ellen G.White como fogo estranho.

    A partir de 1901, encontramos Jo-nes em descida rpida para o desas-tre descida quase to rpida comosua ascenso proeminncia no nalda dcada de 1880. Ellen G. White oadvertira dos perigos de sua associa-o com o Dr. Kellogg. Numa carta,no vero de 1903, Kellogg lisonjeava

    o esprito vaidoso de Jones, agrade-cendo ao Senhor que nos deu voc[Jones] como nosso campeo, con-trastando Jones com Prescott, A. W.Spicer e Daniells. E, segundo Kello-gg, tal contraste era como a meia-noi-te comparada com o brilho do sol aomeio-dia. Mas, obviamente, o discur-so de Kellogg pode ser considerado

    como um tipo de enterro de luxo.Sob o fascnio de Kellogg, Jones

    aceitou a presidncia do Battle Cre-ek College, que j por algum tempoestava fechado. Novamente Ellen G.White insistiu com ele para que noaceitasse o convite de Kellogg:

    Irmo Jones, no empreste sua inunciapara a reconstruo de algo como o col-gio em Battle Creek, [...] isso no deveriaser feito em nenhuma circunstncia.51

    Para Ellen G. White, isso seriacomo voltar ao Egito. Ela disse cla-ramente a Jones que o dr. Kellogg eracontrolado pelo esprito do diabo52 e

    que ele, Kellogg, estava rindo triun-fante que Jones havia cado em suaarmadilha. Contudo, Jones continuoucativo pelas foras da apostasia.

    Jones rejeitou todas as advertnciasargumentando ser da vontade de Deusque ele fosse para Battle Creek, sob aideia de que l ele trabalharia para aconverso de Kellogg. Em um encon-

    tro nal com Ellen G. Whte, pouco an-tes de seu retorno para o antigo berodo adventismo, ela lhe disse:

    Em viso eu o vi sob a inuncia do dr.Kellogg. [...] Finas teias estavam sendotecidas ao redor dele, at que ele estives-se completamente imobilizado, mos e

    ps, [...] sua mente e seus sentidos ha-viam se tornados cativos.53

    O resultado nal foi que Jones,como Waggoner, tomou o lado deKellogg em Battle Creek, no cismade 1903, tornando-se o presidente donovo Battle Creek College, que agorapertencia ao dr. Kellogg.

    A reabertura do colgio em Battle

    Creek, e o papel de Jones nisso, deixouperplexo o corao de muitos adventis-tas, que por muito tempo tinham vistoa Jones como uma luz reformadora. Oorgulho ferido de Jones o guiara ao lu-gar onde agora ele se encontrava. Aoescolher ir para Battle Creek e trabalharcom Kellogg, Jones tomou a maior de-ciso de sua vida. Embora parea que

    Jones no tenha se tornado um pante-sta no mesmo sentido que Kellogg eWaggoner, ele certamente utilizava a

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    mesma linguagem e simbolismo emharmonia com a teologia do famoso li-vro de Kellogg, The Living Temple. E,obviamente, os dois passaram a formar

    um harmonioso dueto em oposio denominao e sua liderana.Em 1905, foram feitas algumas

    tentativas para recuperar Jones e salv-lo de seu avano no caminho da apos-tasia. Ellen G. White foi a primeira atentar resgat-lo. Sua estratgia eratraz-lo de Battle Creek para Washing-ton, onde estava agora a sede da orga-

    nizao, para assistir s atividades deliberdade religiosa da qual ele fora oprincipal campeo. Essa era uma boarazo para arrancar Jones de Batle Cre-ek. Ela apelou a Daniells, dizendo quea liderana da Igreja poderia tirar Jonesdo terreno encantado onde ele estava.Alguns foram favorveis estratgia,mas Daniells e Prescott inicialmentese opuseram. No fora Jones, elespensaram, que havia feito tudo paradesacreditar a Associao Geral? Semdvida, eles tinham suas razes!

    Mas isso no desencorajou a El-len G. White. Em 13 de fevereiro de1905, ela escreveu a Jones a respeitode uma viso que tivera, aconselhan-

    do-o a se unir a Daniells e Prescott emWashington. Ellen G. White enviouuma cpia da carta a Daniells. Este fa-lou sobre sua diculdade em entendera instruo para trabalhar com Jones.Mas a grandeza de Daniells como l-der adventista o levaria a deixar delado seus sentimentos pessoais e opi-nies diante da vontade revelada doSenhor. Sem novas objees, emboraele no a entendesse, Daniells armouque daria boas-vindas de corao a

    Jones. Naquela noite, Daniells es-creveu a Jones estendendo a ele oseu convite para vir trabalhar emWashington, de acordo com a voz

    de Deus revelada a Ellen G. White.Jones informou a Ellen G. Whi-te que aceitaria a oferta, embora eleprprio estivesse perplexo a respeitodisso. Com sua chegada a Washing-ton, reacendeu-se a esperana de re-viver a dupla Jones/Prescott que nopassado deixara fortes impressesnos crentes adventistas. Mas, no -

    nal da primeira semana, Jones reuniuos lderes da Associao Geral anun-ciando seu retorno a Battle Creek: elealegou que sua esposa necessitavadele para ajud-la com a lha maisvelha, que s vezes tornava-se vio-lenta. O curioso que essa a nicavez em que Jones alega questes fa-

    miliares tendo um impacto em seusplanos. A Associao Geral sugeriuque ele trouxesse sua famlia paraWashington. Ento a razo real veio tona: Jones nunca planejara deixarsuas atividades em Battle Creek.

    Daniells escreveu a WilliamWhite que seus esforos haviam sidofrustrados. O conito entre Jones e a

    administrao da Igreja aprofundou-se em amargura e revolta. Jones pas-sou a acusar a denominao de pa-pismo, questionando a autoridadede Ellen G. White e ridicularizandotanto o ttulo como o ofcio de pre-sidente, embora ele mesmo tivessesido presidente de vrios setores daIgreja.54 Pregando em Washington, naPeoples Church, em abril de 1907,Jones armou que a Associao Ge-ral no tinha qualquer futuro e, se-

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    gundo ele, nada dela iria sobrar.55Jones passou a defender o congrega-cionalismo e pensou-se nesse tempoque algumas igrejas adventistas se-

    riam perdidas.56

    Em suma, seu orgu-lho ferido e amargura acabaram ce-gando Jones, tornando-o incapaz dever suas prprias contradies.57 Emnovembro de 1906, Ellen G. White jhavia concludo, em mensagem a ele:Voc apostatou e torna-se necessrioadvertir o nosso povo a no ser in-uenciado por suas apresentaes.58

    Suas credenciais foram, anal, re-movidas em 1907. Os ltimos vncu-los de Jones com a Igreja Adventistaforam cortados em 1909. E, em 26 deabril desse ano, ele enviou duas cartasimportantes. Uma para a idosa profeti-sa, com 19 pginas imersas em crtica,expondo as razes pelas quais ele notinha conana no trabalho dela. A ou-tra foi enviada a Daniells, solicitandouma audincia pblica, diante de umasesso plenria que se reuniria emmaio. Jones, como ele mesmo arma,no tencionava pedir que suas creden-ciais lhe fossem devolvidas, porque,segundo ele, em seu tom tradicional,nenhuma credencial verdadeira fora

    tirada dele. Ele pediu o encontro comoum ato de justia crist.59

    Por trs vezes um comit da As-sociao Geral se reuniu com Jones,em um perodo de quatro dias. Em 31de maio, antes que a comisso tomas-se uma ao nal, Daniells fez umadeclarao ao grupo reunido fazen-do referncia aos muitos anos do el

    servio de Jones. Ento, voltando-separa o irmo Jones, um participanteescreveria mais tarde:

    Daniells fez o mais compassivo e tocanteapelo a Jones para que ele esquecesse o

    passado e voltasse para se colocar, ombroa ombro, com os seus irmos, no serviodo Senhor. Ele assegurou a Jones que to-

    dos o amvamos e que desejvamos queele viesse conosco na marcha para o rei-no de Deus. Estendendo a mo atravs damesa, Daniells disse com voz embarga-da: Venha irmo Jones, venha... Nesse

    ponto, o irmo Jones se levantou e come-ou a estender sua mo para Daniells, dooutro lado... apenas para retir-la. Vriasvezes o irmo Daniells continuou seuapelo dizendo, com lgrimas em sua vozVenha irmo Jones, venha. O irmoJones, hesitantemente estendeu a momais uma vez, at a metade da distncia,e ento a encolheu novamente. Mais umavez ele quase tocou na mo estendida

    para ele. Mas, ento, encolheu sua mo eexlamou: No, nunca, e se assentou.

    Depois desse episdio, o comitvotou rearmar a deciso da Associa-o Geral de 1907. O conhecido jor-nal, Washington Post, chegou a espe-cular que em Washington surgiria umanova religio, uma rival da Igreja Ad-ventista, liderada por Jones. O artigocaracterizava Jones como um dos maishbeis pensadores da denominao.Em 1916, como j mencionado, Jo-nes pregaria no funeral de Waggoner,

    descrevendo-o como irmo de san-gue... no sangue da aliana eterna.60E os ltimos atos no drama da vida deJones representam apenas um m me-lanclico e imerso em densa aura detristeza. Sua apostasia aprofundou-see ele afastou-se mais e mais.

    Qualquer tentativa ou esperana dereconciliao j havia cessado h mui-to. Ainda em 1908, estando na Califr-nia, Jones foi casa de Ellen G. Whi-te, onde tambm estavam Danniells e

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    precisamente o ponto onde ele falhou.Ele, nesse aspecto, tinha a teoria cor-reta sobre a verdade, mas falhou naprtica dela. Jones tinha a teologia,

    mas falhou na dimenso concreta dareligio. Ele falhou no teste bsico: aescolha que todo lder espiritual devefazer entre inuenciar e impressionar.A escolha errada nesse ponto crucial,inevitavelmente, chega a corromper ocarter e a prostituir as possibilidades,impedindo que Deus opere as mudan-as indispensveis ao discipulado.

    O irnico da histria dos herisde Minneapolis que quando a cor-tina desce, como na parbola do -lho prdigo do evangelho de Lucas,o lho que estava fora termina dentroe aquele que estava dentro, terminafora. Butler e Smith, os perdedoresde Minneapolis, so os que, anal,terminara se arrependendo e voltan-do plena submisso voz profticaaos adventistas.62 Paradoxicalmente,Jones e Waggoner, os vitoriosos naAssembleia de 1888, aqueles que ha-viam recebido o endosso da profeti-sa, so os que terminaram rompendocom a Igreja e com sua mensageira,preferido manter suas opinies, rejei-

    tando o convite divino ao arrependi-mento e transformao.Butler e Smith tiveram vrios dos

    mesmos traos de carter de Jones eWaggoner, mas aqueles caram sobrea Rocha e permitiram que o eu fossedespedaado, enquanto estes, tantoquanto sabemos, preferiram permane-cer distantes, intocados. Jones, com a

    sade debilitada, tendo sobrevivido aSmith (falecido em 1903), Waggoner(em 1916) e Butler (em 1918), fale-

    William White. William faz refernciaao apelo e emotiva orao de sua mepor Jones. Mas, quando pareceu quehavia esperana para Jones, Ellen G.

    White no foi otimista. Como indica-do por Knight, ela notou que ele notinha qualquer senso de sua verdadeiracondio, e ela no vira nada que pu-desse encoraj-la a esperar que ele sas-se de suas trevas.61

    Jones, que pregara tanto sobre oEsprito Santo, no aprendera a sub-meter sua vida inuncia do Espri-

    to. Mais tarde, depois do falecimentode Jones em 1923, Daniells dizia teresperana de encontrar Jones no reinoeterno de Deus, apesar do seu amar-gor, desencorajamento e diferenascom a Igreja. Essa deciso, eviden-temente, ca para ser tomada por umtribunal mais alto do que as opinieshumanas. Mas, evidentemente, a opi-nio humana relevante para enten-dermos a complexidade desse homemque ascendeu e brilhou no rmamen-to do adventismo do sculo 19 paraento mergulhar em vertiginoso de-clnio no incio do prximo sculo.

    Um estudo cuidadoso da vida deJones chega a levar-nos a uma nica

    concluso: seu orgulho, sua teimosia,autossucincia e esprito arrogante,sua tendncia ao extremismo, sua for-ma descorts de tratar com as pessoas,sugerem a chave para o nal de suacarreira. E conclumos, ento, que o -nal no poderia ser diferente. A chavedo seu futuro ainda encontrada na-quilo que fez parte to importante de

    suas mensagens: permitir que o poderdo Esprito Santo transforme a vidaatravs da f e da submisso. Esse foi

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    RefeRnciAs

    1 Palestra da Semana Acadmica da Fa-culdade Adventista de Teologia (FAT) doUnasp-EC (A mensagem da justicao pelaf na IASD: Minneapolis, 120 anos depois),

    proferida em 2 de junho de 2008.

    2 Paul Johnson, Heroes (So Francis-co: Harper Collins Publishers, 2007), in-troduo.

    3 George Knight, The Men of Minne-apolis,Ministry, fevereiro de 1988, p. 10.

    4 A. V. Olson, 1888- 1901: Thirteen Cri-sis Years (Washington, DC: Review and Her-ald, 1981), p. 37.

    5 Como abordado por outros artigos nestelivro, a Assembleia de Minneapolis, em seu

    aspecto conitivo, gravitou em torno de doistemas bsicos. Primeiro, a questo da lei emGlatas, discutida primariamente por E. J. Wa-ggoner, defendendo que o aio em Glatas re-feria-se lei moral, contrrio a posio de Bu-tler/Smith, que defendiam ser unicamente umareferncia lei cerimonial. Segundo, a questotinha que ver com a interpretao de Daniel 7.Jones ousara desaar a interpretao tradicio-nal de Uriah Smith sobre um dos dez chifres nacabea da besta de Daniel 7. Enquanto Smith

    defendia a incluso dos hunos, os estudos deJones favoreciam aos alamanos. Uriah Smithno considerou algo pouco importante que asua interpretao fosse desaada pelo fran-gote da Califrnia. Uma ampla discussodas questes reais envolvidas na histrica As-sembleia de Minneapolis aparece em GeorgeR. Knight,From 1888 to Apostasy: The Caseof A. T. Jones (Hagerstown, MD: Review andHerald, 1987), principalmente os captulos O

    conito em Minneapolis (p. 35-45), Expan-dindo a zona da batalha (p. 46-60) e O signi-cado de Minneapolis (p. 61-74).

    6 Carta de George I. Butler a Ellen G. Whi-

    te, 24 de dezembro de 1886, citado em GeorgeR. Knigth, AMensagem de 1888 (Tatu, SP:Casa Publicadora Brasileira, 2004), p. 24. Estecognome foi resultado da prpria autodeni-o de Butler, na carta a Ellen G. White: Eu[...] tenho [...] em minha natureza, muito doferro e no o suciente do amor de Jesus.

    7 George I. Butler, Leadership (BattleCreek, MI: Seventh-day Adventist Publish-ing Association, 1873), p. 1.

    8 Ibid., p. 1, 2, 11, 13. O artigo de Butlerfoi ocialmente aprovado pela AssociaoGeral e publicado em forma de paneto. Se-gundo R. W. Schwarz, a inteno de Butlerera repreender os crticos dos Whites. Veja Ri-chard Scharz e Foyd Greenleaf, Portadoresde Luz: histria da Igreja Adventista do S-

    timo Dia (Engenheiro Coelho, SP: ImprensaUniversitria Adventista, 2009), p. 268. Doisanos mais tarde, a Associao Geral votariaocialmente revogar as pores do artigo deButler, sugerindo que a liderana na Igreja es-tava connada ao julgamento de um nico ho-mem. Foi decidido ento que a mais alta au-toridade entre os adventistas do stimo dia, encontrada na vontade do corpo de membros,como expresso nas decises da AssociaoGeral, quando agindo dentro de sua prpria

    jurisdio (Review and Herald, 25 de feve-reiro de 1875, p. 70-71;Review and Herald,26 de agosto de 1875, p. 59;Review and He-rald, 4 de outubro de 1877, p. 105-106).

    9 James White, Leadership, Signs ofthe Times, 4 de junho de 1874, p. 4; Ellen G.White, Testemunhos Para a Igreja (Tatu, SP,Casa Publicadora Brasileira, 2002), v. 3, p.501. Essas palavras de Ellen G. White foramescritas originalmente em 1875.

    10 Carta de George I. Butler a Ellen G.White, 1 de outubro de 1888.

    11 Ellen G. White, carta a George I. Bu-tler, 14 de outubro de 1888.

    ceu em 1923, depois de longo per-odo de enfermidade. A permanenteadvertncia e lio da vida de Alon-zo Trvier Jones, que ter Deus do

    nosso lado no garante que ns este-

    jamos do lado dele. Fidelidade hojeno garante, em si mesmo, delidadeamanh. E, anal, como todos sabe-mos, as crises no transformam o ca-

    rter, apenas o revelam.

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    20/22

    100/ Parousia - 1 e 2 semestresde 2009

    12 Idem, carta a Mary White, 4 de novem-bro de 1888.

    13 Logo aps a histrica sesso de Minne-apolis, Butler afastou-se do trabalho denomi-nacional, com a sade debilitada. Embora ele

    tenha se recuperado em pouco tempo, sua es-posa tornou-se invlida. Como resultado, elepermaneceu por aproximadamente 12 anosna Flrida, cultivando laranja. Com a mortede sua esposa, em 1901, aos 67 anos, ele vol-tou s atividades na denominao, tornando-se presidente da Associao da Flrida. De1902 a 1907, ele serviu como presidente daSouthern Union Conference. Surpreendene-mente, Butler permaneceu ativo no trabalhoda Igreja, at sua morte em 1918. Aparente-mente, ele no mudou de forma substancialsua posio sobre a lei em Glatas. A apos-tasia de Jones e Waggoner, no incio do novosculo, apenas o consolidou em sua posio.Veja carta de A. G. Daniells a W. C. White,21 de janeiro de 1910, em Knight, The Menof Mineappolis, p. 14.

    14 Carta de Uriah Smith a A. T. Robinson,21 de setembro de 1892.

    15 Knight,From 1888 to Apostasy.16 LeRoy Edwin Froom, Movement of

    Destiny (Washington, DC: Review and Her-ald, 1971), p. 357-374. Tais mudanas inicia-ram com uma mudana radical na lideranada Igreja do perodo pr 1888. O presidente,o secretrio e o tesoureiro da Associao Ge-ral foram todos substitudos j na sesso de1888. George I. Butler, Uriah Smith e A. R.Henry cederam lugar para O. A. Olsen, DanT. Jones e Harmon Lindsay, respectivamente.

    Froom atribui a mudana de clima, no pe-rodo ps 1888, principalmente lideranaespiritual do novo presidente da AssociaoGeral, O. A. Olsen (p. 358-359). Froom ain-da aponta o decisivo papel de Ellen G. White,quanto mensagem da justicao pela f (p.360-361). Para Froom, embora Ellen G. Whi-te nunca tivesse assumido posio ocial outtulo de liderana entre os adventistas, seusconselhos foram vistos pelos lderes de nossaIgreja como uma luz guiadora (p. 361).

    17 Provavelmente, os melhores estudossobre Prescott sejam as obras de Gilbert M.Valentine, The Shaping of Adventism: TheCase of W. W. Prescott(Berrien Springs, MI:

    Andrews University Press, 1992); idem, W.W. Prescott: Forgotten Giant of Adventisms

    Second Generation (Hagerstown, MD: Re-view and Herald, 2005).

    18 Knight, From 1888 to Apostasy, p.

    133.19 Carta de O. A. Olsen a Asa T. Robin-son, 17 de outubro de 1892, cf. carta de A. T.Jones a Ellen G. White, 8 de outubro de 1892,citados em Knight, From 1888 to Apostasy,

    p. 90.20 Knight,From 1888 to Apostasy, p. 91.21 Veja todo o captulo, The Great Revi-

    val of 1983, em ibidem, p. 89-103.22 Ibid., p. 101 e bibliograa relaciona-

    da.23 Ellen G. White, carta a W. W. Prescott

    e esposa, 22 dezembro de 1893; cf. carta deL. T. Nicola a Isaac D. Van Horn, 31 janeirode 1894, em Knight,From 1888 to Apostasy,

    p. 102.24 Knight, From 1888 to Apostasy, p.

    102-103. O prprio Jones havia vendido suapropriedade em Battle Creek, no incio de1894. Veja carta de F. M. Wilcox a Ellen G.White, 31 janeiro de 1894. L. T. Nicola a Ole

    A. Olson, 5 janeiro de 1894. Entre muitos ou-tros que foram movidos pelos sermes de Jo-nes, que zeram vultosas doaes, o prprioPrescott deu uma oferta de US$5.000, o que,segundo um ocial da Associao Geral, eratudo o que ele possua neste mundo. Vejacarta de W. H. Edwards a O. A. Olsen, 4 de

    janeiro de 1894; carta de L. T. Nicola a O. A.Olsen, 5 de janeiro de 1894.

    25 Veja A. T. Robinson, Did Seventh-day

    Adventist Denomination Reject the Doctrineof Righteousness by Faith? (manuscrito nopublicado, 30 de janeiro de 1931).

    26 Carta de Ellen G. White a E. J. Waggo-ner e A. T. Jones, 18 de fevereiro 1887.

    27 Para uma introduo s questes rela-cionadas s leis dominicais, veja o captuloThe National Sunday Law and the Image ofthe Beast, em Knight,From 1888 to Apos-tasy, p. 75-88; e Dennis Pettibone, TheSunday Law Movement, em Gary Land,ed., The World of Ellen G. White (Hager-stown, MD: Review and Herald, 1987), p.113-128.

    281895 General Conference Bulletin, p.

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    a. t. Jones: odeclniodeumlder/ 101

    231, 233, 436, citado em Knight,From 1888to Apostasy, p. 138.

    29 Ellen G. White, Testemunhos para aIgreja (Tatu, SP: Casa Publicadora Brasilei-ra, 2005), v. 2, p. 202. Sobre a cristologia ps-

    lapsariana, da qual Waggoner e Jones so ossantos padroeiros, veja Amin Rodor, Cristoe os Cristos, emParousia 7/1 (1 semestrede 2008): 45-73. Toda a citada edio dePa-rousia dedicada a esse tpico.

    30 Veja Knight, From 1889 to Apostasy,p. 138-139.

    31 Ellen G. White, carta 103, 1894.32 Arthur L. White, Ellen G. White: The

    Australian Years, 1891-1900 (Washington,DC: Review ant Herald, 1983), p. 129.

    33 Ellen G. White, carta 4, 1893.34 Veja todo o captulo At the Pinacle of

    Power, em Knight,From 1888 to Apostasy,p. 159 em diante.

    35 Carta de Ellen G. White a A. T. Jones,19 de junho de 1895. Veja extensa biograaem Knight, From 1888 to Apostasy, p. 171-174, particularmente as notas de referncia.

    36 Veja Ibid., p. 172-174.37 Veja Ibid., p. 175-177.38 Veja Ibid., p. 173. Mas a profetiza o

    repreendeu.39 Carta de George A. Irwin a A. G. Da-

    niells, 3 de novembro de 1903.40Review and Herald, 5 de outubro de

    1897.41 Ellen G. White, carta a S. N. Haskell e

    esposa, 5 de fevereiro de 1902.42 Cf. Knight, From 1888 to Apostasy, p.

    170.43

    Veja Ibid., p. 171.44 Carta de A. G. Daniells a George A.Irwin, 5 de outubro de 1904, em Knight,

    From 1888 to Apostasy, p. 206.45 Mas, como Knight sugere, o vencido

    Jones no era um homem sem poder. Em1903 ele ainda era reconhecido em crcu-los adventistas e sua reputao ainda estariaefetiva por alguns anos mais. Anal, dizKnight, no era este o homem, que segundoEllen G. White, havia sido enviado por Deuscom uma mensagem do Cu? (From 1888to Apostasy, p. 207). Em meados de 1903,ele ainda podia ser considerado o lder maisinuente entre amplos setores dos membros

    e dos ministros adventistas. Jones ainda pres-tou um valioso servio a organizao, inter-mediando a paz entre Kellogg e Daniells, emum encontro legal entre o Medical Missiona-ry e a Benevolent Association (ibidem).

    46

    Embora Waggoner tivesse se separadodas atividades denominacionais durante a cri-se de Kellogg, em 1903, ele nunca se tornouagressivo em sua oposio Igreja ou a seusensinos. Contudo, como Knight observa, ain-da que Waggoner tenha retido suas convic-es sobre a justicao pela f, at o tempode sua morte, em 1916, ele tinha abandonadovrias das doutrinas distintivas dos adventis-tas. Um pouco antes de sua morte, em um do-cumento bem escrito, ele arma que abando-nara a compreenso adventista do santuriodesde 1891. Isto , no muito tempo depoisde 1888. Veja E. J. Waggoner, The Confes-sion of Faith of Dr. E. J. Waggoner, p. 14;em Knight, The Men of Minneapolis, p.14. Sobre Waggoner, talvez o melhor tra-

    balho escrito at o momento seja a recentebiograa escrita por Wooddrow Whidden,E. J. Waggoner: From The Physician of the

    Good News to Agent of Division (Hagersto-

    wn, MD: Review and Herald, 2008).47 Knigth, From 1888 to Apostasy, p.

    226-256.48 Ibid., p. 224.49 Ellen G. White, Testemunhos para Mi-

    nistros, p. 94.50 Veja Knight, From 1888 to Apostasy,

    p. 178-193.51 Ellen G. White, carta a A. T. Jones, 2

    de agosto de 1903, em Knight,From 1888 to

    Apostasy, p. 209.52 Veja Knight, From 1888 to Apostasy,p. 209.

    53 Ellen G. White, carta a W. C. White, 8de outubro de 1903.

    54 De fato, neste tempo ele ainda era pre-sidente do Battle Creek College, e no muitoantes ele havia pretendido a presidncia daAssociao Geral.

    55 Veja Knigh,From 1888 to Apostasy, p.242.

    56 Veja Ibidem.57 Veja Ibid., p. 245.58 Ellen G. White, carta a A. T. Jones, 26

    de outubro de 106.

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    59 Veja A. T. Jones,An Appeal for Evan-gelical Christianity, p. 9, 69.

    60 A. T. Jones, The Gathering Call, no-vembro de 1916, p. 7-8.

    61 Knight, From 1888 to Apostasy, p.

    246.62 Butler e Smith eventualmente confes-saram seu erro nem relao justicao

    pela f. Primeiro foi Uriah Smith. Depoisde uma semana de orao, com leituras detextos escritos por Ellen G. White enfatizan-do o arrependimento, ele pediu uma reuniocom a profetisa, junto com outros lderesdenominacionais. E l, neste encontro, eleconfessou muitos dos erros que ele haviacometido em Mineapneapolis. Tomando amo do veterano lder, ela lhe disse que emsua consso ele dissera tudo o que poderiater dito. Pouco tempo depois se seguiu a

    consso de J. H. Morrison, que tinha re-presentado Butler como a principal voz emfavor da interpretao tradicional de Gla-tas, em Minneapolis. Butler foi o ltimo re-

    presentante da velha guarda a confessar seus

    erros sobre a justicao pela f, escrevendoque ele livremente endossava [nalmente]aquilo que anteriormente ele havia resisti-do (G. I Butler, Review and Herald, 13 de

    junho de 1893, p. 377). Depois da morte desua esposa, Butler, com a idade de 67 anos,voltou s suas atividades denominacionais,em 1901 e tornou-se presidente da Associa-o da Flrida. De 1902 a 1907, serviu aindacomo presidente da Southern Union Confe-rence, permanecendo surpreendemente ativono servio da Igreja at sua morte, em 1918.Veja Knight, The Men of Minneapolis, p.13-14.